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Meu Vizinho Do 202

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Copyright © 2020 Gisa SR

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Capa: Dri Hadara

Revisão: Barbara Pinheiro

Diagramação Digital: Jack A. F.

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta


obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital ǀ Criado no Brasil

Pará - PA 1º Edição

Novembro de 2020
Sobre esta obra
Aviso Importante
Playlist
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Epílogo
Agradecimentos
Outras obras
Sobre a autora
Esta é minha primeira comédia romântica. Quem já leu outras obras
minhas, sabe que gosto bastante de uma boa dose de drama, é minha zona de
conforto, mas neste livro, em especial, eu quis sair da caixinha e tentar algo
novo.
A ideia eu já tinha, estava pronta na cachola há tempos, só não
imaginava que desenvolvê-la cobraria tanto de mim, tanta doação. Não foi
fácil como pensei, andou bem longe, na verdade, mas foi igualmente
gratificante poder compor esta trama, acompanhar esses personagens que
foram nascendo e se mostrando a mim de uma forma realmente linda.
Cada personagem tem sua especial importância e peculiaridade, só
espero que faça você rir, como me fizeram nos últimos dias.
Entre e divirta-se...
A proposta aqui era construir uma comédia romântica leve,
desprendida, aquele livro que chamamos de: cura ressaca literária. Ao menos
foi o que me propus a fazer e espero imensamente ter alcançado o objetivo,
que cada personagem entre em seu coração com sua particularidade.
Não espere grandes dramas, a proposta não é essa, mas espere boas
risadas, suspiros e corações quentinhos. Pois acredite, foi o que senti a cada
capítulo escrito.
“Os clichês só viram clichês por um motivo: eles funcionam.”
(Grey’s Anatomy)
Para ouvir a playlist de Meu vizinho do 202 clique aqui
https://link.tospotify.com/497ySvJ2Dbb
Uma noite, um engano e um delicioso desastre.
A vida de Mônica Maria era perfeita ou, pelo menos, era isso o que
pensava. Romântica de carteirinha, ela sonhava com o casamento dos sonhos,
a casa perfeita e, claro, o marido dos contos de fadas.
Essas eram suas metas, até que o destino lhe prega uma peça e ela é
obrigada a crescer e encarar sua realidade nem um pouco cor-de-rosa. Desde
então, Mônica decide deixar as emoções de lado e focar em preocupações
maiores.
Mas o destino apronta outra vez e ela encontra Benjamin, seu vizinho
pervertido, que parece tentá-la vinte e quatro horas por dia, atraindo-a para o
pecado e despertando sensações há muito adormecidas.
A bela morena só queria amizade, no máximo um passatempo
divertido, uma ajuda mútua, mas uma noite muda tudo e agora os dois vão
aprender que com fogo não se brinca!

Comédia romântica para maiores de dezoitos anos!


O casamento, o santo matrimônio!

― Anda, Mon. Vai caber, encolhe as costas...


Como alguém encolhe as costas? Maluca!
― Não vai, eu comi demais esses dias, estava ansiosa, engordei quase
cinco quilos ― desabafo, frustrada. O que eu queria comer tanto? ― Desisto
de vestir isso, Bella, não vou me enfiar nesta porcaria e morrer asfixiada no
meu casamento, sem nem chagar a lua de mel. ― Assim que as palavras
saem, eu contemplo a palavra: meu casamento. Está mesmo acontecendo. ―
Cara, eu vou me casar! Puta que pariu. ― Eu estou eufórica.
Pego a rir desesperadamente e Isabella, minha melhor amiga e
madrinha, faz o mesmo, ainda que sem entender nada. Gargalhamos em alto e
bom som, eu estou feliz, radiante, mesmo que o espartilho, escolhido há
meses, não coubesse mais em mim, com conforto. Eu não me importo, longe
disso... está tudo pronto, tudo planejado nos mínimos detalhes, há meses e
dará certo, pois me casarei com o homem que amo. Eu achei mesmo o meu
príncipe.
― Anda, vamos colocar o vestido ou vai borrar a maquiagem se
começar a chorar de rir! ― Isa tenta, não conseguindo conter seu excesso de
riso.
Minha melhor amiga e companheira de desastres é a melhor. Uma
mulher bonita, alta de pele clara e cabelos extremamente negros, longos e
repicados. Corpo magro, formas bem-feitas e um sorriso perfeito, capaz de
acalmar qualquer pessoa. Ah, e um fato importante sobre ela: é louca,
completamente louca.
Concordo com o diz, vendo-a ir até a cama e pegar o vestido de noiva
de modelo sereia, branco, todo em pedrarias, o que me custou uma fortuna.
Sim, eu comprei, não quis alugar, quero-o para guardar de lembrança, um
pedacinho do meu dia. Mostrar para minha mãe que eu estava certa o tempo
todo.
Sei que é bobagem falar que sonhei com meu casamento, que planejei
esse dia muito cedo, que era um dos meus sonhos. Parece fútil, eu sei, ainda
assim, eu o idealizei por anos. Talvez por influência da minha mãe, esse
desejo tenha se tornado ainda mais pungente, junto ao meu desejo, está
também a vontade de a agradar.
Uma batida na porta nos assusta e ela é aberta em seguida, me dando o
vislumbro de Neto, meu futuro marido.
― Não, não, não. Não entra, Neto, não pode me ver antes da hora, dar
azar ― grito, me referindo a me ver de meias, ligas e espartilho transparente
na cor branca, que eu vesti exatamente para a lua de mel. Toda a peça dando
um belo contraste com minha pele negra.
Levo as mãos aos seios, uma bobagem àquela altura do campeonato e
ele tapa os olhos com ambas as mãos, e contrariando o que eu disse, entra de
vez no quarto.
― Preciso falar com você, Maria. ― Seu tom não é dos melhores,
ainda mais para o dia do nosso casamento e ignoro.
― Agora? Pelo amor de Deus, Neto, vai ter o tempo todo pra falar
comigo, após esta noite. Só me deixa me arrumar, amor, e vai se arrumar.
Caramba Neto! Não está nem vestido na calça do terno. Tem que chegar
primeiro, amor, não eu ― falo, em busca de lhe arrancar um sorriso. Sentindo
algo de errado no ar.
― Nos dê licença, Isabella ― Neto pede, tirando a mão dos olhos e me
fitando. ― Não dá para esperar, Maria, tem que ser agora. ― Ele é o único
que me chama assim: só de Maria.
― Pode ir, Bella, já te chamo de volta! ― Minha amiga não tem uma
boa expressão no rosto ao sair e nos deixar a sós. Para ser sincera, nem
mesmo eu tenho, algo parece estar prestes a acontecer.
Espero-a sair e quando estamos sozinhos, me aproximo do homem de
estatura baixa, meio gordinho. Não, não gordinho... digamos que apenas com
uma barriguinha pouco proeminente.
Neto é bonito, apesar de que nunca gostei de homens baixinhos, mas
também ele não é tão baixinho assim, eu só não posso usar um salto e a essa
altura, eu já não me importo com sua barriguinha de cerveja. O rosto
angulado e liso é bonito e bem emoldurado por uma boca carnuda, vermelha,
uma barba escura, bem-feita, olhos caramelos lindos e nariz certinho. Eu amo
esse homem.
Sorrio ao enlaçar sua nuca, tentando dispersar a nuvem escura que se
instaurou com sua chegada, mas ele não faz o mesmo e sai do meu abraço,
logo depois, sem deixar que lhe beije e um arrepio sobe por minha espinha.
― Nossa, Neto, que sério. O que foi? Vai dar para trás? ― brinco, mas
ele não ri e vejo meu corpo todo esfriar.
Não, não é isso. Nós nos amamos, ele não seria capaz!
― Maria, ontem... saí com a galera. Eu não queria ir, mas acabaram me
convencendo de que seria só uma bebida rápida e...
― Ah, pelo amor de Deus, Neto. É isso? Não precisa se explicar, amor.
Você saiu, se divertiu, falou merda com os rapazes e pronto! Agora anda, vai
se arrumar, que eu farei o mesmo, e aí? Gostou? ― pergunto, dando uma
voltinha. ― Tenho uma surpresa para você hoje à noite... ― Sorrio, faceira, e
o vejo se virar de costas para mim e quando, enfim, se volta, sua expressão
não é boa, é como se estivesse engasgado com um sapo ou um caroço de
abacate.
― Eu te traí, Maria, e não quero mais me casar com você. Percebi
ontem que isso não vai dar certo, não estou pronto. Você não deveria ter
insistido tanto nesse casamento e eu não deveria ter cedido, ainda tenho
muito pra viver. É isso, me desculpa, mas não dá!
E o mundo parece ter sido partido…
Uma fuga, um latido.

Mais de um ano depois

O banco está lotado, um inferno!


Todos os dias isso aqui é um inferno, mas hoje está pior por ser uma
sexta-feira, sendo segunda, feriado.
Feriado, como eu preciso de um feriado, santo Deus. Vou emendar tudo
e hibernar, me jogar em minha cama hoje e só volto à vida na terça, pela
manhã, para trabalhar. Não tem compromisso, não tem chantagem emocional
da minha mãe, problemas, não terá nada que me faça sair de casa este final de
semana, isso já é certo.
Faço planos felizes e me despeço do meu cliente, um senhor idoso, que
acaba de fazer um depósito alto comigo. Pela graça divina, o banco já está
fechado, mas permanecemos com os últimos clientes a serem atendidos
ainda.
Antes que eu chame a próxima senha, minha atenção é dispersada.
― Mônica. ― Levanto o rosto e vejo Rômulo, meu chefe horroroso me
olhando. ― Venha à minha sala ― diz, sem muito esperar e eu apenas aceno.
Bem, horroroso não no sentido de beleza, não. Ele é um homem bonito,
um desses que cuida do corpo, essas coisas. Estatura média, rosto bonito...
aceitável. Mas um temperamento ridículo, principalmente conosco,
funcionários, o que o torna podre.
Levanto-me, arrumo minha saia e olho para André, meu colega de
trabalho, também caixa, além de meu melhor amigo, sentado ao lado e ele
sorri de canto, desenhando um “boa sorte” sem emitir som algum.
Meu limite está batendo a mil com as atitudes dele aqui dentro. Rômulo
é aquele tipo de gerente que não está junto de sua equipe e, sim, aquele que
caminha sozinha roubando méritos dos seus funcionários e esse tipo de
pessoa me incomoda profundamente. Porém, amigos, quem sou eu na fila do
pão para exigir algo dele? Nada!
Quando me aproximo de sua sala, dou uma leve batida, entrando em
seguida, sem esperar permissão. Encontro-o encostado em sua mesa, de
cabeça baixa e, assim que entro, ele me olha, um olhar que diz exatamente o
que sou para ele: nada.
― Chefe, no que posso te ajudar? Algum problema? ― Friso o
“chefe”, ele adora ser chamado assim.
― Não, nenhum... ― Rômulo parece despreocupado e afrouxa a
gravata azul-claro, parecendo confortável. ― Mas quero falar sobre a vaga de
Elizeu com você. Sabe que ele pediu transferência? Creio que em um mês irá
sair ou menos, até.
― Sim, todos sabemos, inclusive, estamos organizando uma despedida
para ele.
― Sei, sei. E eu soube que se inscreveu para a vaga dele também.
― Sim, é uma oportunidade, algum problema? ― O silêncio
permanece por poucos segundos, seu olhar vazio não me diz nada.
― Não, você já está desbloqueada mesmo. ― Dá de ombros. ― Mas
aparentemente o fato de não ter terminado o nível superior pode interferir,
sempre tem outros candidatos mais qualificados para o cargo, falo com
relação a nível superior.
Merda, eu sabia que ia me foder largando a faculdade dois períodos
antes de terminar, e por quê?
― Bem, se serve de algo, eu reabri a matrícula, já voltei a cursar... ―
falo, cheia de mim.
Balela... não voltei, mas posso fazer isso hoje mesmo, se ele disser que
tenho chances reais. Não estou bem no quesito dinheiro, mas daria um jeito.
― Hum... talvez sim. Recebi uma ligação do superintendente estadual,
uma ligação não muito boa. Cobranças, não estamos batendo nossas metas
anuais, como sabe, estamos longe e o ano já está se findando. O que quero
dizer, é que caso consiga a vaga, não sei se posso contar com você para
elevarmos o nível da agência.
Chego a apertar os olhos, tentando entender aonde quer chegar.
― Eu não entendi, chefe! Geralmente, não fazemos um tipo de
entrevista, antes de tomar posse de qualquer novo cargo.
― Sei que não e não encare isso dessa forma. Você já está aqui, na
agência, seria bom para a equipe ver alguém crescer, porém, está mesmo
pronta?
― Sim, claro que estou. Antes de vir para cá, como caixa, exercia a
mesma função de Elizeu na agência anterior. Conte comigo. ― Tento meu
melhor comercial, sei do meu potencial.
― Sei que precisa do cargo, Mônica, e quero ajudar, mas antes vou
pensar, junto a Marcelo, quem será melhor para o nosso crescimento, espero
que entenda, caso não seja escolhida.
Fico estática, buscando palavras.
― Chefe, me desculpe, mas isso é algum tipo de intimidação?
― Não, de forma nenhuma, não veja assim. Só estou sondando. Tomei
a responsabilidade de elevar o nível desta agência e irei trabalhar para isso, só
quero uma equipe que faça o mesmo.
― Claro... eu espero, chefe, que acreditem no meu potencial, sei que
posso fazer muito ― falo, sentindo um frio na barriga, como se já soubesse
que não serei escolhida.
Rômulo tomou posse na agência como gerente geral, não tem muito
tempo, pegou uma agência mal das pernas, pequena e quer mostrar serviço,
até entendo, mas essa conversa parece ter sido para me preparar para quando
outro alguém tomar posse do lugar de Eliseu. Troco o peso de uma perna para
outra, esperando uma resposta em seu rosto impassível.
― Bom, é isso. Pode voltar ao trabalho e boa sorte.
― Obrigada, chefe, conte comigo para o que precisar.
Dou-lhe as costas e saio, apressada, de sua sala, o salto alto
reverberando na cerâmica branca.
Droga, droga. Eu não vou conseguir, não é? E eu preciso muito de um
aumento de salário.
Fiquei feliz quando Eliseu foi transferido para outro banco, para uma
vaga melhor, feliz por ele e sua família, também pela pequena chance que
surgia para mim. Me inscrevi para preencher sua vaga assim que pude, acho
que fui a primeira. Rio sozinha, que piada!
Bufo, impaciente, inconstante. Estava contando que conseguia, já estou
aqui, tenho experiência, por que não? Só não esperava que o gerente pudesse
embaçar o meu caminho, porque convenhamos, depois dessa conversa sem
sentido, é claro que não vai rolar.
Sinto-me cansada, resultado do trabalho, de dias desgastantes,
estressantes. Trabalho, é assim que tenho tentado passar o meu tempo e não
pensar no passado, mesmo que seja impossível esquecer, não lembrar.
Passo a mão em meus cabelos e sei que estão bagunçados, os cachos
revoltos caindo até abaixo do meio das costas, me fazendo suar em bicas.
Prendo-o, querendo mais ar, respirar.
Vou direto à minha mesa e, com pressa, coloco minhas coisas na bolsa
caramelo, já surradinha e olho André ao meu lado, meu melhor amigo,
também caixa.
― André, já terminou o atendimento?
― Já sim, tá a fim de ir comigo tomar um cappuccino na esquina, antes
de ir pra casa?
Ao ouvir, sinto até o gosto da bebida em minha boca, mas hoje não é
um bom dia. Quero casa.
― Hoje não, amigo. Fica para a próxima.
― Como assim? Não acredito que vai dispensar um convite desse? Eu
pago, menina... ― oferece, gentil, mas seu sorriso minimiza quando me olha.
― Por que essa cara? Não vai me dizer que é porque hoje, completariam
nove anos de namoro, se ainda estivessem juntos, né?
Nego com veemência.
― Não, não é ― minto, ao menos em partes, a data mexe, sim, comigo.
― Quer dizer, o dia de hoje não deixa de ser um lembrete dos anos que perdi,
estando ao lado de um homem que não me amava. Não dá pra esquecer
disso.
― Para, Mon. Já faz um ano, amiga, supera.
― Já superei, mas isso não quer dizer que esqueci e não quero falar
disso, nem aqui é o lugar. ― Até suspiro, um tanto decepcionada com a
conversa há pouco. ― Só tô a fim de chegar mais cedo em casa e descansar,
só isso, amigo.
― Tá, sendo assim, tudo bem. Vou te deixar ir embora e se cuida. ―
Recebo um beijo seu, retribuindo seu carinho, saindo em seguida em direção
às portas giratórias, me despedindo de um ou outro pelo caminho.
O vento quente me pega em cheio quando alcanço a calçada e me
permito enfim respirar, aliviada, mais uma semana cheia acabou.
Olho para ambos os lados da rua, e neste momento, eu daria tudo para
ter meu carrinho comigo agora, poder ir para casa sem precisar ver mais
ninguém hoje. Enquanto isso, vou passando em minha cabeça toda a conversa
que acabei de ter com Rômulo. Ele parecia querer me intimidar, ou é coisa da
minha cabeça.
Talvez eu ainda tenha chances, essa conversa não quer dizer nada, não
define nada.
Bom, nem tudo é perfeito, quer dizer, faz um tempo que não o é, mas
não é o fim do mundo, também não posso ser tão pessimista, não é?
Atravesso a rua e vou pela calçada em busca do metrô, ainda assim, me sinto
incomodada quando desço as escadas da estação, sentindo certa decepção
comigo mesma, por ter procurado estar nessa situação, por não ter sido mais
paciente.
Espero na fila da estação e não deixo de pensar que talvez, se eu tivesse
continuado na minha cidade, eu já teria pegado uma gerência ou ao menos
teria continuado no mesmo cargo de antes, com o mesmo salário. Sem estar
em situação crítica financeiramente.
Chega disso, não adianta chorar pelo leite derramado, fiz uma escolha,
vou arcar com as consequências da minha covardia.
Dou graças aos céus pelo horário e pela rapidez que pego o metrô,
relaxando ao estar longe de todos.
Fecho os olhos e me recosto na cadeira, segurando firme minha bolsa
em meu colo. Respiro fundo. Há um ano e meio, quando fui deixada
praticamente no altar, eu não quis mais continuar na cidade em que morava,
por N motivos. Não pensei, só agi, e acabei vindo parar aqui, ganhando
menos, endividada e tendo que me refazer. Não me arrependo, foi o melhor,
porém, às vezes se torna tão difícil, tão pesado.
Abro os olhos ao chegar à minha estação, dei sorte de encontrar um
apartamento próximo ao trabalho, bem localizado e de bom valor, dez
minutos de metrô e já estou quase em casa.
Ando mais um pequeno pedaço até chegar ao meu prédio, me sentindo
aliviada, estou em casa. Cumprimento o porteiro com um aceno rápido, sem
ânimo para uma usual conversinha e vou em direção às escadas. Geralmente
sou dessas que gosta de jogar conversa fora, mesmo morando há pouco
tempo aqui, mas hoje não é um desses dias.
Subo as escadas, dando graças ao divino por morar no segundo andar,
já que não temos elevador, e vou em direção à minha porta no fim do
corredor estreito, já tirando meus sapatos.
Um latido!
Levanto a cabeça com rapidez, procurando de onde isso saiu e me
deparo com um monstro.
Um monstro grande, da raça pitbull me olhando, babando e passando a
língua na boca, como se estivesse frente a uma gostosa refeição. Paraliso,
olhando o bicho branco com pintas pretas pelo corpo gordo, que começa a
andar em minha direção, se balançando todo como se fosse se desmontar
inteiro em minha frente.
Tremulo.
Emudeço!
― Calma, cachorrinho! ― falo, colocando minha bolsa à frente do
corpo, como se para me defender do cachorro dinossauro.
Outro latido!
Mais baba!
O medo vem e me viro com rapidez, abandonando os sapatos pelo chão
e correndo, tentando chegar à minha porta. Me atrapalho por conta da saia
lápis e a ouço rasgar, mas não paro até que...
Sou lançada para frente, o golpe vem às minhas costas e caio como
uma abóbora madura no chão, me despedaçando e indo de cara, ou melhor,
de nariz na superfície dura. Urro de dor, urro mesmo, sim, pois isso não foi
nada feminino.
Meu nariz lateja, líquido escorre por entre meus dedos e me viro, me
contorcendo com a dor.
Não tenho tempo para nada, quando sinto a coisa peluda sobre mim,
fuçando e parecendo procurar o melhor lugar para morder. Me encolho e
cubro meu rosto com meus braços, gritando e me esperneando para que o
monstro não me mate, enquanto parece que meu nariz está sendo arrancado.
Quanto mais eu tento, mais ele gruda os dentes em minha bolsa.
― Gamora! Pare, Gamora, vem já aqui! Puta que pariu. ― Uma voz
grossa, rouca, reverbera e eu choro. De alívio e dor, muita dor.
Sento-me o mais rápido que consigo quando o bicho é arrancado de
cima de mim com força, e tenho os cabelos sobre a cara, a saia quase em
meus seios, desgrenhada e rasgada. Não enxergo nada direito e me levanto,
fungando, o sangue vindo à minha garganta e escorrendo por meus dedos,
quando tento parar o sangramento, melando a camisa branca social, agora
rasgada.
Movimentos, briga, latidos e uma porta batendo. Mal vejo, olhos
lotados de lágrimas.
Devo ter jogado pedra na cruz, na cruz não, em Jesus...
Pego a bolsa que escorrega de minha mão. Merda!
A pobre está estraçalhada, nem existe mais alça. Volto a segurar em
torno dela, a vontade de chorar sendo insuportável, o nariz latejando e
alguma parte do meu corpo ardendo.
Praticamente corro até minha porta, ouvindo barulho em algum lugar e
não paro para descobrir. Tateio o bolso de fora do farrapo que era minha
bolsa, em busca de minha chave.
― Vizinha. Vizinha, me desculpa, foi um minuto de distração minha e
ela saiu. Gamora é dócil, provavelmente quis brincar. ― A voz rouca, vem se
aproximando às minhas costas e não me viro, tento abrir minha porta com
ainda mais rapidez. Quero fugir, me esconder. ― Por Deus, você está
sangrando?
― E o que esperava? Aquele monstro queria me devorar, seu idiota,
seu descuidado. Ela quebrou o meu nariz com aqueles dentes de leão, dócil só
se for com você ― esbravejo, me segurando para não chorar, sem querer
olhá-lo. Eu não choro, não na frente de ninguém. ― E deixe esse animal
raivoso longe de mim, ou farei a reclamação à polícia ou ao caralho a quatro
― falo e consigo enfim abrir minha porta.
― Desculpa, me deixa ao menos...
Não espero, entrando em casa e batendo minha porta.
Jogo a bolsa no chão e busco o banheiro. Eu só quero me esconder,
aquele monstro quebrou o meu narizinho perfeito!
Meu refúgio.

Um final de semana perfeito, com direito a guloseimas, Netflix e


hibernação. Ah, e claro, um nariz quase fraturado, essa parte não está incluída
no “perfeito” é claro.
Não, não chegou a quebrar, como eu imaginei, mas machucou e muito
com o tombo, devido ao cachorro dinossauro. Mas não custa nada exagerar
um pouco, sangrou para burro.
Tive, inclusive, que usar, pela primeira vez, meu kit primeiro-socorros,
enquanto o troglodita dono do dragão batia em minha porta, chamando-me,
enquanto eu ia me esvaindo em sangue.
Exagero? Talvez, mas qual é, me deixem exagerar, quase fiquei sem
nariz.
Após os primeiros cuidados e de conseguir estancar o sangramento, fui
para debaixo do chuveiro tentando me acalmar, estava tremendo como vara
verde e não era para menos.
Passei minutos de dor, desânimo e humilhação que escorreram pelo
ralo e, por fim, com o nariz um tanto inchado e latejando, após o banho eu
voltei para o quarto e me joguei em minha cama, tentando entender o que
tinha acontecido. Toda aquela sucessão de merda em um único dia.
Já ele, o vizinho, sem ter atenção não voltou a bater ou a me chamar,
graças a Deus, ou teria eu mesma saído e dado com o resto da minha bolsa
em sua cabeça.
Em compensação, no dia seguinte, achei uma caixa de chocolate,
dessas caras, suíços, deixados em minha porta quando saí para comprar pão e
sorvete.
Pensei em jogar fora quando vi o perfeito embrulho, não nego, mas
tinha um cartão com um: “Sinto muito”, e eram chocolates. Não que eu tenha
perdoado a ele ou ao monstro que me atacou, mas o chocolate deixou meu dia
mais doce, confesso.
E no decorrer do fim de semana, ao devorar cada um dos chocolates
deliciosos, sozinha, não pude deixar de olhar para o dia horrível que tive
naquela sexta, a começar pela apelação lastimável do meu gerente filho da
puta e ao terminar o dia com um quase nariz quebrado.
Quanta sorte. Desde então, apenas me permiti me afundar sozinha em
meu sofá, com um belo e delicioso pote de sorvete e, claro, chocolates.
Por falar nisso, tenho que começar minha dieta na segunda, ou melhor,
na terça, pois ninguém começa uma dieta no feriado.
Suspiro e jogo as pernas para cima, pendurando no encosto do sofá,
pegando mais um chocolate e jogando na boca, mudando enfim de posição
enquanto assisto a mais um episódio de Outlander. Chego a suspirar ao ver o
protagonista, quase como uma apaixonada adolescente.
Estou tão presa ao que assisto, que quando um barulho seco ecoa pelo
meu apartamento, salto no lugar, me sentando, alerta. É alguém batendo à
porta. Mas quem diabos é?
Dou de ombros, não importa. Posso simplesmente fingir que não tem
ninguém, certo? Perfeito.
Volto a me deitar e quase suspiro.
― Pode parar, vaca, a gente sabe que você tá aí! ― Ouço a voz
histérica de Isabella soar alto no corredor e me ponho sentada novamente.
Mas que inferno, ela não estava de plantão?
E contra ela, minha melhor amiga, eu não posso lutar, digo, fingir que
não tem ninguém. Eu não contava com companhia, mas em todo caso, vai ser
bom ter alguém para assistir comigo a série que está se tornando umas das
minhas favoritas, além de poder fofocar.
― Anda, garota. Não adianta fugir, a gente não vai sair daqui, enquanto
não abrir essa porta.
Ela disse: a gente?
Não tenho tempo de pensar sobre essa fala, pois ao abrir a porta me
deparo com uma Isabella linda, montada em um vestido de noite colado ao
corpo, perfeito, maquiada e em cima de um salto 15, dourado, e ao seu lado,
um André vestido em estilo pop, de cor verde-militar. Ambos me olhando
com um sorriso de orelha a orelha.
― Que invasão alienígena é essa? ― Mal falo e sou quase carregada
por uma Isabella que sai me arrastando pelo braço, me soltando apenas
quando enfim estamos dentro do meu quarto.
Não que seja algo difícil me arrastar até aqui, dado que meu
apartamento é uma sala conjugada com o que chamam de cozinha, com
apenas dois metros de largura ao qual mal cabe minha geladeira. O outro
cômodo é meu quarto e banheiro. E não estou reclamando, na verdade, é
ótimo para limpar.
― Vamos sair, uma boate nova ― anuncia ela, com a corda toda. ―
Não tão nova assim, uma reinauguração para ser exata e arrumei três convites
na área vip para nós. Olha que sorte ― fala, jogando o cabelo longo, negro,
de lado.
Reviro meus olhos, enquanto ela não me dá moral alguma, indo em
direção ao meu guarda-roupa pequeno, no canto do quarto, abrindo e já
vasculhando em meio às minhas roupas.
― Você não estava de plantão, Bella?
― Estava, mas troquei. Hum... esse é legal, né, Dé? ― pergunta, com
um vestidinho de festa vermelho em mãos. Fingindo que nem estou aqui.
― Ah, vai ficar divino com aquela sandália de tiras, lembra? A que te
dei no teu último niver, Mon.
― Gente espera. ― Paro os dois, que me olham já esperando uma
negativa. Eles me conhecem. ― Bella e André, eu agradeço, mas hoje não
tem quem me tire de casa e falo sério. Tirei este final de semana para mim,
apenas comida, séries e cama.
Ela nem me olha, tem os olhos agora em uma saia tule, curtinha,
analisando a peça em suas mãos.
― Como em todos os finais de semana, né? Há quanto tempo não sai?
Um ano? Desde que o idiota te deixou quase no altar? ― Bingo!
Delicadeza não é bem o seu forte.
― Isso não vem ao caso, Isa.
― Vem sim, senhora ― André acusa. ― É isso, ou nos contar por que
saiu daquele jeito da agência, na sexta, e não me atende pra dizer o que
aconteceu.
E lá vamos nós.
― André, era pra me ajudar e não, não quero falar disso! ― peço e ele
nega.
― Desculpa, amiga, mas não dá, estamos preocupados e Isabella tem
razão.
― Eu estou bem, passei mal na sexta e vim embora, só isso.
― Ah, para. Vamos sair, isso aí no meio das suas pernas deve ter
criado teias de aranha! Precisa desapegar, procurar uma rola pra sentar e se
satisfazer, sair deste apê. Pelamor, amiga!
― Gente, estão se esquecendo que eu saí, sim. Fui à confraternização
da nossa agência, por exemplo. ― Os dois nem ao menos me levam a sério.
― E teve o almoço na casa da sua mãe, Isa.
― Não conta, não tinha macho pra te pegar de jeito e fazer você
esquecer o pau murcho do Neto!
― Isso eu concordo ― André se mete. ― Ah, Deus não dá asa a cobra,
se eu tivesse uma periquita... meu amor...
Isabella gargalha, jogando a saia sobre a cama e pescando um cropped
caramelo em minha gaveta.
― Esse look vai ficar ótimo. Cadê aquela clutch preta que te dei, no
seu aniversário?
― Gente, para. Para um minuto. Eu não vou sair daqui! ― Estou
decidida, porém, aparentemente, há uma Isabella bem mais decidida que eu
neste quarto!
Ela chega a suspirar, joga a bolsa sobre a cama e vem até mim, que
estou parada próxima à porta do meu quarto. Isa abandona qualquer nuance
de humor, séria e segura meus ombros, me olhando bem de perto.
― Escuta o que eu vou te dizer, Mônica Maria, pois eu não vou repetir.
Eu achei que seis meses, seis meses seria suficiente para eu ter a minha amiga
de volta, aquela garota feliz, pra cima, que adorava uma baladinha de final de
semana, festa na casa dos amigos, fosse um simples almoço, claro, isso antes
de conhecer o traste do Neto. Mas não, já se passou mais de um ano desde
que você se livrou daquele verme e eu apenas assisto a você se afundar mais
e mais em autocomiseração por causa de um homem que sequer chegou a te
merecer isso aqui. ― Ela mostra metade da unha do dedo mindinho. E minha
amiga não está errada e me desestabiliza. ― Você mudou, e não acho isso
ruim, pois por partes você amadureceu, nós duas amadurecemos e você
aprendeu uma dura lição, mas se fechar pra vida assim, como está fazendo,
com medo do amor, não é certo. Chega, amiga.
― Não é medo do amor, Isa.
― Não? Já disse isso olhando pra si mesma, frente ao espelho?
Engulo em seco e olho de relance André, agora sério, sentado em
minha cama.
― Há quanto tempo não fica com alguém, Mon? Que seja apenas sexo?
Um ano e alguma coisa... e meu último homem foi exatamente o meu
ex-noivo. Não voltei a tentar nenhum relacionamento após o rompimento do
noivado, nem mesmo apenas sexo, não me abri novamente para ninguém e
nem pretendo. Não sei se é medo do amor ou simplesmente decepção, só não
tive vontade de sair, conhecer pessoas, nada. Assim que tudo acabou, eu me
mudei para o Rio e me afundei no trabalho e em casa, deixei a faculdade, pois
nem mesmo isso eu conseguia mais pagar e estou assim até o atual momento.
Estagnada!
E, sim, já pensei nisso muitas vezes. Pois sou humana, sinto carência,
às vezes me sinto sozinha demais, já chorei a noite sem nem saber ao certo o
porquê o fazia, apenas por solidão. Mas não me sentia pronta para voltar a
sair, dançar, conhecer gente nova, transar, e vendo Isa falar dessa forma, da
ótica que todos veem a situação, é desesperador o buraco em que me enfiei.
― Eu não tenho grana, Isa. ― Busco, por fim, uma desculpa aceitável.
Não é mentira, não tenho mesmo. Tenho sorte por meu trabalho me dar
direito a um bom vale-alimentação, que dá conta da minha despesa mensal.
Pois parte do meu salário vai para pagar um empréstimo que fiz para a festa
do casamento, que não aconteceu, e a outra parte uso para manutenção da
casa. Por isso, busco subir de cargo, para que eu consiga ganhar um pouco
mais, a fim de voltar para a faculdade.
― Pare, amiga. Eu pago. Ou melhor, os boys pagam... O que não vai
faltar é bebida, acredite. Agora anda, tome um banho e coloque essa roupa
matadora que eu escolhi pra você. Hoje vamos te livrar das suas teias de
aranha! Além do que, daqui há dois dias estarei de férias, irei viajar e ficar
longe de vocês uns dias, portanto, vem, vamos passar um tempo juntos, nós
três, como nos velhos tempos.
Eu sorrio de forma amarela, me convencendo e tentando ter o mínimo
de animação, além de aceitação, para a mudança de planos.
Chego à conclusão de que sim, Isa tem razão. Eu não era assim,
gostava de sair, me divertir, dançar, conhecer pessoas, por que isso mudou?
Deveria ser o contrário. Após ser deixada quase no altar, eu deveria ter dado a
volta por cima e ter saído por aí, tentando esquecer aquele infeliz, não dando,
mas distribuindo e obtendo ao menos prazer.
Vamos mudar isso.
― Vocês venceram. ― Saio pegando a toalha próximo à cama e vou
para o banho, ouvindo-a bater palmas atrás de mim.
― Não se esquece de bater o barbeador no azulejo, amiga, deixa a
periquita preparada! ― André se faz ouvir e chego a gargalhar, fechando a
porta do banheiro.
Uma transa, gozar gostoso, não seria nada mal. Seria o início de uma
vida promíscua de diversão e prazer. Já que nem mesmo um vibrador solo eu
tenho para momentos de estresse.
Quer saber, hora de mudar isso!

Gente bonita, ambiente gostoso e bebida, muita bebida e esse é um


resumo perfeito das últimas horas em que passei aqui na boate.
Começo a imaginar que não foi uma ideia tão ruim assim ter vindo, na
verdade, não foi ruim de jeito nenhum. Ou é a bebida falando, o que seria
mais assertivo. Fato é que estou me divertindo com esses dois, e muito.
Estou em pé próximo ao parapeito da área vip, segurando a grade com
uma mão, enquanto tenho uma taça transparente na outra, com um líquido
azul ardido, não sei o nome, sei que é muito bom. E aproveito a vista
privilegiada que o lugar me dá, observando as pessoas dançando na pista,
deixando a música levar meu corpo ao som de Glória Groove e a essa altura
me sinto muito leve.
― Menina, vê se disfarça. ― André gruda em meu ouvido, a mão em
minha cintura. ― Olha, aquele deus de grego de camisa preta ali do lado, um
pão, e não para de olhar tua bunda.
Eu rio, provavelmente o álcool já está a mil em minha cabeça. Foram
quantos desses drinks azulzinhos? Nem sei mais, mas teve muitos, além da
caipirinha. Estou mais solta que pipoca.
Busco a direção em que meu amigo disse que eu encontraria o homem
e é fácil saber de quem fala, já que só ele usa preto junto aos outros três caras
e assim que o olho, seu olhar encontra o meu. Sendo sincera, seria fácil de
percebê-lo em qualquer situação, não é exagero dizer que o homem é um
verdadeiro deus grego...
Não me faço de rogada, vamos colocar a culpa disso na bebida, e
passeio meu olhar por seu rosto, em um interesse minucioso.
Agora, sabe aquele cara com expressão de macho? Macho alfa, safado?
Pois é, é esse o exemplar que tenho à frente, minhas amigas, chega a dar
siricutico no meio das pernas.
E o que o faz ser tão perfeito? Bem, o alfa delícia tem rosto quadrado,
perfeito, marcado por uma barba bem aparadinha, reta, que emoldura uma
boca rosada carnuda, bonita, chegando ao ponto de me fazer imaginar mordê-
la. Eu poderia gemer só de imaginar. Como complemento tem um nariz reto,
médio e os olhos, não sei bem a cor, mas não são escuros e o cabelo é cortado
curto, quase militar, e mãe da misericórdia... quando ele sorri, olhando
diretamente para mim, sinto minha calcinha molhar, sinto tesão, tesão mesmo
e sabem há quanto tempo não sinto isso?
Não demoro a retribuir o sorriso, mudando meu foco, descendo meu
olhar por seu tórax, por seu corpo.
E uau.
O homem deve ser piolho de academia, o que me faz pensar que talvez
lhe falte um pouco de cérebro.
Ok, é até preconceito dizer isso, não é regra e isso pouco me importa
agora, ele só precisa ter um pau e saber usá-lo. E não perco tempo em
admirá-lo mais um pouco. Seus ombros são largos, com um peitoral marcado
pela camisa de malha preta, assim como a calça deixa bem à vista suas pernas
musculosas.
Puta que pariu!
Deixo de olhá-lo, sentindo o rosto esquentar e volto a focar a pista de
dança, tomando um gole da bebida ao buscar Isabella que saiu há pouco para
ir ao banheiro. Sei, banheiro...
― E aí? Gostou do gostoso?
― Bonito... muito bonito ― respondo a André, quase sem fôlego, após
babar em cima do moço
― Me poupe, garota. Bonito? O cara é um tesão. Vai lá, menina, caí
em cima, amiga. Tipo: opa, escorreguei em cima da sua rola, desculpa, tá?
Mas pode me comer?
Eu não aguento e gargalho alto, ainda mais por ver a cara que ele faz,
deliciado, ao falar sobre cair em cima de uma rola. Ele não existe.
André é gay, com muito orgulho como deve ser, também meu melhor
amigo e confidente, além de Isabella. E ele é uma das melhores pessoas no
mundo.
Ele não é alto, uma estatura média, magro e careca, desistiu do cabelo
há algum tempo, pois não suportava as entradas. Dono de um sorriso lindo e
de dentes perfeitos, meu amigo foi quem me estendeu a mão no meu pior
momento, junto à Isa. Foi na casa dele que fiquei quando deixei tudo para
trás e vir embora para o Rio, pegando uma vaga de caixa na agência que
trabalho hoje, tudo para fugir de Neto.
Mas não vamos por esse caminho agora, não é?
― Você não existe, Dé.
― Eu sei. Ah lá, olha o boy vindo ― fala em cochicho e eu congelo. ―
Fica aí e cai em cima. Vou arrumar um pra mim agora, tô de olho em um
carinha logo ali.
― Não, André. Eu não disse que queria. ― Seguro seu braço, quase
implorando com o olhar.
― E precisa? Olhou pra ele direito? Tá implícito, vaca. Agora é tarde,
cai de boca ou de boceta e seja feliz, você que sabe!
Pega de surpresa, no mesmo instante que o vejo sair, sinto alguém se
aproximar às minhas costas, na mesma medida que um perfume forte e
amadeirado me alcança e um arrepio gostoso sobe por minha coluna, quando
lábios roçam minha orelha de leve, sem encostar de fato. Paraliso.
― Boa noite, morena. Acompanhada? ― A voz grossa, rouca,
reverbera bem no meio das minhas pernas, apesar de estar falando em meu
ouvido e causar uma pulsação deliciosa. Tinha me esquecido do quanto é
bom.
Que bicho da safadeza tinha nessa bebida que tomei?
Viro-me e o encaro, minhas amigas, posso ver a cor dos seus olhos e
são verdes, perfeitos e é muito mais bonito assim, de pertinho.
― Boa noite e não, não estou acompanhada, vim apenas com meus
amigos ― respondo, um tanto animada demais para o meu próprio gosto.
Vamos culpar a bebida novamente e não os olhos verdejantes aqui,
parado à minha frente, fazendo minha libido molhar toda a minha calcinha. O
gostoso sorri, charmoso, e sua mão segura a barra de ferro ao lado da minha,
enquanto ele se aproxima para falar em meu ouvido, acima da música.
― Então posso te fazer companhia?
― Fique à vontade. ― E tem tanto tempo que não faço isso, que fico
até sem jeito.
Mudo meu olhar, tentando algo para me ocupar que não seja seu belo
rosto e noto que até mesmo minha taça já está vazia e ele também percebe,
pegando a taça da minha mão e pedindo outro drink, não demorando a voltar
sua total atenção para mim novamente.
― Me chamo Benjamin e você?
Abro minha boca para falar Mônica, mas por que dar nomes se será só
uma noite? Pois se algo realmente acontecer, será apenas isso, então, melhor
que não tenha nomes, não o verdadeiro.
― Erica, me chamo Erica.
Uma sobrancelha grossa é erguida ao me ouvir e um sorriso sedutor é
aberto. Eu poderia julgar por esse olhar desconfiado que fui pega na mentira,
mas sua expressão suaviza aos poucos.
― Gostei do nome, combina com você.
Sorrio, nunca fui muito boa nessa de flertar, sempre falava demais,
mostrava sentimento demais e o cara acabava correndo.
Tive namoricos na adolescência para tirar a prova, uns pegas no meio
de baladinhas na escola, mas daí veio Neto. Ele foi o meu primeiro em tudo.
Pasmem.
Ou seja, na arte da sedução, eu deixo a desejar. E isso dá trabalho, a
julgar pela forma que Benjamin me olha. Será que é mesmo esse seu nome?
Ele parece esperar que eu diga algo, que claro, não vem e minha taça
com o líquido azulzinho me é entregue e eu bebo, disfarçando minha total
falta de trato, sabendo que já passa da hora de parar também de beber. Afinal,
nunca fui forte para bebida.
Volto a ficar de costas para ele, deixando meu corpo pegar o embalo da
música novamente, estando ciente do homem atrás de mim e procuro
displicente por meus amigos lá embaixo.
André está ensandecido em meio à pista de dança e ao olhar de forma
mais minuciosa, vejo Isa espremida em uma parede, sendo beijada por um
cara que mais parece um polvo. Quantas mãos ele tem?
E por falar em mãos, dou um pulinho quando uma mão, bem grande,
permeia minha cintura e um tórax forte, musculoso pra caramba se cola às
minhas costas, sua boca alcançando a pele atrás da minha orelha.
― Fiquei parte da noite me perguntando se notaria minha presença,
enquanto te observava se mover assim, no ritmo da música, estava extasiado
te olhando. ― E ao dizer, a barba arranha minha pele, enviando um arrepio
até minha coluna e mordo meu lábio instintivamente. ― Quero sair daqui
acompanhado por você esta noite.
Fico surpresa e não me seguro, me viro para ele, e buscando um
atrevimento que não sei de onde vem, enlaço seu pescoço, sorrindo de uma
forma que acredito ser sensual.
― Direto, gosto disso.
― Sempre, não gosto de rodeios, Erica. Se quero, vou lá e pego, isso,
se você também quiser, é claro. O que acha? A única pessoa que me interessa
esta noite é você.
Gosto do que diz e, talvez, movida por uma falsa segurança, dado que
não lhe dei meu nome, encosto meus lábios nos seus e, sim, tomo a iniciativa.
De início, sinto apenas uma pequena corrente elétrica passar por meus
lábios ao tocar os seus, para, em seguida, senti-lo degustar minha boca com o
toque suave de sua língua em meus lábios. Sua mão alcança minha nuca,
como para me segurar no lugar e sua língua passeia com mais deleite pela
minha, testando, até se afundar em minha boca.
Eu gemo, perdida em seus lábios e chupo sua língua, minhas mãos
procurando os fios curtos dos seus cabelos, tentando mais contato, mais
aproximação, estando no limite.
Benjamin diminui o contato, me dá um beijo cálido e então se afasta, os
olhos agora meio escurecidos, talvez de desejo.
― Vem comigo?
― Agora?
― Eu não tenho por que esperar mais.
Rio, e olho em volta, vendo André no mesmo lugar na pista de dança.
Eu iria? Agora, sem nem ao menos conhecê-lo? A resposta não demora a
pular da minha boca.
― Vamos, temos só que avisar meus amigos.
― Por mim, tudo bem. ― Dá de ombros e eu apenas sorrio, me
achando louca.
Saímos juntos, ele na frente, segurando minha mão e nos guiando entre
as pessoas, até chegarmos à pista de dança.
― André ― chamo, pegando em seu ombro e ele para, parecendo
surpreso e então sorri em puro deboche, com uma pitada de orgulho ao ver o
homem ao meu lado. ― Estou saindo com o Benjamin.
― E vão pra onde? Ah, não deve saber ainda, mas assim que chegar,
me liga e passa o endereço ― pede ao meu ouvindo e eu confirmo, enquanto
ele não tira os olhos do meu acompanhante. Também pudera. ― Arrasa,
bandida.
― Tá bom, avisa a Isa. Te passo uma mensagem assim que chegar lá.
Despeço-me e, gentil, Benjamin me coloca à frente de seu corpo,
enquanto vamos passando pelas pessoas aglomeradas, em uma junção de
corpos suados sendo envolvidos pela dança, tentando alcançar a porta de
saída. Sua mão sem deixar de acariciar minha barriga por um momento
sequer.
Sigo com minhas costas coladas ao seu peito e é impossível não sentir
um certo volume roçando minha bunda. O que me faz imaginar coisas, minha
vagina chega a pulsar em excitação, afinal, esse será o segundo pau que eu
vou me sentar na vida e parece ser de um tamanho bem satisfatório.
Deus do céu, o que a bebida pode fazer com um ser humano?
Sinto-o beijar meu pescoço e fico mole, quase ao ponto de tropeçar e ir
ao chão, se não fosse sua mão em minha cintura, me amparando, sua boca se
arrastando por minha pele, alcançando minha orelha, mordendo-a. Quase
gemo.
É com a calcinha encharcada que saímos pela porta e o ar frio da noite
nos brinda de forma bem-vinda e, antes que eu dê mais um passo para o
estacionamento, sou puxada e prensada contra parede da boate.
De olhos arregalados, vejo Benjamin me olhar com certo sarcasmo e
sorrir, convencido, cheio de si, para em seguida seus lábios tomarem os
meus, intenso, apressado, com paixão e eu retribuo na mesma medida,
sentindo-o resvalar sua virilha em mim, mostrando parte do que me espera e
me excitando ao extremo, fazendo com que eu até mesmo anseie por tê-lo.
Quase reclamo quando ele se afasta, abrindo meus olhos devagar e
mergulhando em seu olhar.
Isso é perigoso, certo? Sei que é, afinal, não nos conhecemos. Porém
todos nos viram há pouco juntos, inclusive, meus amigos e assim que eu
chegar aonde iremos, passarei a localização para André. Então, tudo certo ou
assim espero.
― Vem, vamos sair daqui.
Muda, apenas concordo, vendo-o segurar minha mão e me guiar até
onde seu... Opa. Paro, sem dar mais um passo quando ele me solta e vai em
direção a uma moto. Dessas grandes e robustas, de cor verde com preto.
― O que foi? ― pergunta e parece divertido com minha expressão.
― Você está de moto?
― Estamos, na verdade, já que irá comigo.
― Não vou, não. Não vou montar nisso aí, ainda mais porque você
bebeu! ― acuso, mesmo não o tendo visto fazer isso.
E minha negativa não parece causar nenhum efeito no gigante, que tira
um segundo capacete que não sei de onde saiu e se aproxima de mim.
― Não sou tão irresponsável quanto pensa, morena, ou quanto minha
cara pareça, mas eu não bebi. Um redbull apenas, pois vim pilotando.
Prometo ir devagar e com cuidado. Juro, está segura comigo ― fala, calmo,
quase cuidadoso.
Olho dele para a moto, umas três vezes, fazendo um sorriso aberto
nascer em seu rosto, deixando o infeliz lindo de morrer.
Gente, eu nunca andei de moto. Como que pode?
Não, eu não vou... Se bem que o cara está aqui, não parece ter bebido, é
bonito, cheiroso, gostoso... quer dizer, ao menos beija bem e tem pegada.
Então, acho que vale a pena arriscar, não é?
― E para onde vamos?
― Um motel, não fica longe ― responde, confiante, colocando o
capacete em minha cabeça e o abotoando, sem margem para erros ou
desistência.
Algo me incomoda em sua fala, minhas pernas bambeiam e quase nego,
mas me mantenho firme. Talvez seja por ele saber que o tal motel não fica
longe, o que indica que já fez uso do local.
Mas foda-se, uma noite apenas, não foi o que eu disse? Pois, bem.
Benjamin monta na moto e a liga, fazendo o motor zunir alto,
estendendo a mão para trás, para me auxiliar a montar. Aceito, e a
discrepância de tamanho e como fico totalmente apoiada em suas costas ao
me sentar é desconcertante e, ao mesmo tempo, providencial.
― Pronta? ― pergunta, antes de colocar seu capacete.
― Completamente.
E hoje teremos, sim, uma noite quente de sexo!
Um doce engano

Frio, sinto frio e puxo o lençol que está abaixo da minha cintura,
resmungando por ele ser muito fino, por sinal, cobrindo até meu pescoço e
me empoleiro no calorzinho bom que sinto ao fazer isso.
Colo-me ainda mais ao corpo quente ao meu lado, sentindo o peso de
um braço sobre minha cintura, o perfume amadeirado a encher o ambiente,
enquanto o aperto que recebo funciona de forma protetora ao meu redor, por
assim dizer.
Deixo um suspiro escapar, tentando me entregar de volta ao sono, uma
delícia de sono, aliás.
É quando um alarme acende em minha cabeça, como um grande e
medonho botão vermelho florescente em uma sirene e abro meus olhos, me
arrependendo em seguida pela dor que sinto e voltando a fechá-los com certa
força.
E me dou conta de várias coisas ao mesmo tempo.
Minha cabeça lateja.
Eu não estou em meu quarto, em minha casa.
Tem um homem ao meu lado.
E estou completamente nua.
Ah... também estou de ressaca, a julgar pelo gosto ruim que toma
minha boca. Flashes da noite de ontem disparam em minha mente,
lembrando-me de que bebi todas e agora, não é só ressaca da bebida que
sinto, mas também uma grande ressaca moral. Que droga eu fiz?
Volto a abrir meus olhos, piscando várias vezes, sentindo poucas
lágrimas nascerem nos cantos devido à claridade, mas tentando me situar. De
forma mais imóvel possível, levanto meu rosto, devagar, sem querer, de
maneira alguma, acordar o homem deitado ao meu lado.
Eu transei ontem? Com esse cara?
Meu senhor... tapo meu rosto com as mãos, guardando a imagem do
braço forte agarrado a mim, tentando me lembrar de como vim parar em um
quarto de motel com um estranho.
Tiro a mão do rosto e fixo meu olhar no homem ao meu lado, não
querendo acreditar que me deixei levar pela bebida e pela ideia idiota dos
meus amigos.
Olhando-o, balanço a cabeça de um lado para o outro, como se
estivesse processando algo e, ao menos, ele é bonito...
Porra nenhuma, isso nem conta, eu não conheço esse cara, nunca o vi
na minha vida e em uma noite, em uma balada e alguns drinques, eu decido ir
embora com ele para um... olho ao redor... motel, ou seria um hotel? Eu sei
lá.
Como fui descuidada. Não tiro os olhos do homem ao meu lado, que
nem se mexe, apenas respira compassadamente e me dou ao trabalho de olhar
cada detalhe seu.
Ele está meio de lado, virado para mim e, sim, estamos quase
abraçados, com um de seus braços sobre mim, apertando minha cintura e o
outro, sobre seus olhos, deixando aparente apenas parte do nariz, boca e
mandíbula.
O lençol fino tapa até sua cintura, ficando assim, gostoso, que chega a
perturbar, com o peitoral marcado por músculos bem esculpidos à mostra,
partes que são cobertas por tatuagens. Muitas, que começam de seu peito e
descem por seus braços, até suas mãos.
Algumas formam imagens exatas, outras, tribais e símbolos que não
identifico, já que me aproveito da pouca luz do quarto para observá-lo. Já em
seu peito, de um lado tem um felino e do outro, um gorila ou um macaco, não
sei ao certo e nem deveria querer saber, muito menos tocar, mas minhas mãos
formigam por circular cada uma das suas tatuagens, cada linha delas.
É quase como um efeito hipnótico.
Busco então em minha mente as peripécias sexuais que eu possa ter
feito com o estranho, dormindo ao meu lado, durante a noite e nada, não há
nada em minha cabeça senão um grande espaço em branco. Sem nenhuma
lembrança sequer.
Como está tudo em branco? Não tem como.
Massageio a têmpora, sentindo latejar, querendo lembrar, mas nada faz
sentido. Que droga!
Com cuidado, levanto um pouco o lençol, apenas para confirmar o que
eu já sei, estou nua em pelo, sem nada. Totalmente pelada e não deixo de
olhar, de relance, que ele também está nu. Puta que pariu e não tem como
não ver, gente, não tem. Ele está meio virado para mim e com o mastro a
meio caminho e, Pai da misericórdia!
A coisa está a meio mastro e em um tamanho invejável, rosado, bonito
e... deixo o lençol cair de volta e fecho meus olhos, me policiando e sentindo-
me excitada apenas por admirar, escondida, o pau do meu acompanhante. E o
que eu estou fazendo? O que eu fiz ontem à noite?
Sim, porque olha o perigo que foi isso... Saí ontem com meus amigos, a
fim de me divertir, apenas, e por algum motivo insano, decidi que desviar
minha rota e terminar a noite transando com um cara totalmente
desconhecido, em um motel qualquer, seria uma ótima escolha. Foi
irresponsável, não foi? Claro que foi.
Olho ao redor do quarto, me dando conta das nossas roupas jogadas
pelo chão, minha calcinha não muito longe da beirada da cama e quase gemo
em desgosto ao tentar mais uma vez me lembrar de algo e nada vir à minha
mente. Nada!
Como eu posso ter transado com um cara desse e não me lembrar de
nada? Olha para ele, o cara é lindo, lindo e eu simplesmente me esqueci?
Sim, porque a julgar pelas roupas jogadas para tudo que é lado, a gente fez
alguma coisa aqui.
Inconformada, me dou conta de que nem o nome dele me lembro, para
falar a verdade, da noite de ontem lembro apenas de algumas partes. Como
chegar à boate, começar a beber, olhar o bonitão que estava me secando. Mas
entre essas, nenhuma inclui sair com o gostoso musculoso da balada e vir
para um motel ou sei lá o quê.
E agora? O que eu faço?
Ele se mexe ao meu lado e eu paraliso, nem respiro, voltando a colocar
minha cabeça no travesseiro ao senti-lo arrastar a mão por minha barriga, a
tirando de cima de mim, enquanto se vira para o outro lado da cama, soltando
um gemido meio rouco, que faz meus pelos se eriçarem.
Espera, nós usamos camisinha?
Devagar, para não o acordar, me levanto e testo a umidade entre
minhas pernas, tentando adivinhar se usamos camisinha ou não e... nada,
minha vagina está sequinha, nada dolorida também, apesar de meu corpo em
peso ter reclamado quando me levantei.
Okay, isso quer dizer que após um sexo gostoso, provavelmente
tomamos banho, ao menos isso, já que em nada amanheci parecendo alguém
que passou a noite transando ao ponto de acordar pregada com o próprio suor
e gozo entre as pernas.
Mas e se não usamos camisinha?
Fico parada próximo à cama, olhando o homem na cama, de costas para
mim, costas largas que me lembram aqueles nadadores sarados, perfeitos. Ele
deve pegar mesmo pesado na academia.
Qual é, Deus? A primeira vez que transo com um cara, que não seja o
babaca do meu ex-noivo, eu não vou me lembrar do que fizemos? Por favor,
ajuda aqui.
Desisto de tentar lembrar qualquer coisa sobre a noite passada e saio
catando minhas roupas pelo chão do lugar, indo para o banheiro e fechando a
porta devagarinho, me encostando na madeira e respirando, aliviada, ao estar
sozinha.
Busco também pelo banheiro indícios de sexo, não há nada, mas sei
que estivemos aqui. Por exemplo, há alguns saquinhos de xampu e sabonete
jogados no chão e um sabonete aberto e usado no boxe, além de toalhas
penduradas, ainda meio úmidas e a julgar pelo meu cabelo extremamente
seco, eu devo ter mesmo o lavado ontem aqui, de qualquer jeito, enquanto
fazíamos sexo.
Mas não há nada de camisinha usada ou qualquer embalagem no chão
ou na lixeira. Merda!
Lavo meu rosto, agora um tanto preocupada, olhando meu cabelo
revolto, em um emaranhado que mais parece um ninho de passarinho. Mãe da
misericórdia, esse homem deve ter me virado do avesso.
Jogo os cachos bagunçados para cima e faço um nó seguro, vestindo
minha roupa em seguida, dando uma última olhada pelo banheiro antes de
abrir uma fresta na porta e conferir se ele continua dormindo, soltando o ar ao
perceber que ele, ao menos, se mexeu.
Pelo menos, de uma coisa estou certa: não usamos camisinha.
Recrimino-me, mas isso também agora não adianta, não depois do leite
derramado. Que péssima metáfora para se usar agora.
Chega, agora eu só tenho que ir para casa, é só sair de fininho para o
gostosão não acordar e depois penso direito na merda que fiz.
O gigante continua ressonando baixinho e saio do banheiro, dando uma
última vasculhada pelo chão em busca de vestígios de que usamos
camisinhas.
Não é possível que fomos tão irresponsáveis assim!
Desisto, não querendo mais esperar e ter que olhar para sua cara e falar
algo, tampouco conversar sobre ontem à noite, dado que nem ao menos
lembro seu nome.
Uma puta sacanagem, diga-se de passagem. Como eu me sentiria se
fosse ele a não lembrar o meu nome?
Eu ficaria puta, muito puta!
Pego minha bolsa sobre a mesinha ao lado da cama e vou nas pontas
dos pés até a porta, levando minhas sandálias na mão para não fazer barulho.
Saio do quarto, fecho a porta e enfim me permito respirar, aliviada, e
não, não estamos em um motel. Ele me trouxe para um hotel, espaçoso, limpo
e arrumadinho.
Nego o pensamento, buscando meu celular na bolsa e tento me
localizar no maps para poder chamar ao menos um Uber para ir embora.
Chego a rir com a ironia da vida, enquanto chamo o Uber e atravesso o
corredor do hotel, após calçar minhas sandálias, sendo observada por duas
senhorinhas que aparentemente acabaram de tomar o café da manhã. Finjo
não as ver e marcho um tanto sem graça até a recepção.
Fico disfarçando meu infortúnio, olhando o celular e pedindo que o
grandão acorde só quando eu estiver longe, de preferência em casa. Aliviada,
vejo o Uno branco parar frente à entrada do hotel e apressadamente, após
confirmar a placa, entro no carro, deixando um suspiro audível escapar.
Pronto, acabou.
― Mônica, isso? ― Ouço-o perguntar, de forma gentil, o senhor
sentado atrás do volante.
― Isso mesmo. O senhor pode por gentileza passar em uma farmácia?
― Claro, só marque na rota, por favor, moça.
Faço isso de imediato, melhor prevenir do que remediar, pois é claro,
que como não sei se usamos ou não camisinha, vou comprar uma pílula do
dia seguinte, além de alguns remedinhos que possam me prevenir de qualquer
mal-estar futuro.
No fim, eu só queria mesmo era me lembrar de como foi. Droga!

Enfio a lasanha no forno, esperando alguém bater a qualquer momento


em minha porta, já que André prometeu que viria almoçar comigo. Fiz até a
comida que ele tanto gosta, lasanha de frango ao molho branco, arroz e batata
palha.
Fecho a porta do forno e em dois passos estou na sala, a TV ligada e
conectada com o Youtube, Legião Urbana ecoando no apartamento.
― Cheguei, abre a porta! ― Ouço seu grito característico e reviro os
olhos. Como se eu precisasse abrir.
Sempre deixo a porta aberta quando sei que ele vem e, sabendo disso,
André já chega com a mão na maçaneta.
Olho-o, vestido em um desses shortinhos de praia, coberto de abacaxis
e camisa regata preta, tendo as bochechas vermelhas, com cara de quem
acordou há pouco e quando, por fim, foca sua atenção em mim, ele abre um
sorriso de puro deboche.
― Cara de piranha saciada... olha ela!
Eu rio, de nervoso claro. Se ele souber...
Sento-me no sofá e ele se joga ao meu lado, espalmando a mão aberta
em minha perna e deixando um beijo em meu rosto.
― Gente, estou um caco. Bebi demais ontem, me lembra de não fazer
mais isso. Não, melhor, não me deixa mais fazer isso. Tenho dezoito anos
mais não, nem fígado para isso, garota. Eu, hein... ― fala e me mexo ao seu
lado.
Deito-me no sofá, jogando as pernas para cima do encosto, deixando
minha cabeça meio pendurada no assento, preciso que o sangue volte a
circular aqui dentro da minha cabeça.
― Como se alguém te segurasse, André. Quando você quer, não tem
quem te segure. E Bella, não vem?
― Ih, gente. Olha o veneno da cobra pingando da presa. Nem parece
que passou a noite sentando naquela tora de amarrar onça, pelo amor de
Deus, melhora essa cara, mulher. E não, ela não vem, vai trabalhar à noite e
passará a tarde arrumando as malas pra viagem. Só terá a mim.
Não deixo de rir, ainda mais ao me lembrar da tora. Porque ao menos
isso eu vi, não muito bem e em plena forma, porém... se meio dormindo
estava daquele jeito, imagina aquilo a pleno vapor?
Deu até calor.
E quer saber? Confesso que depois de chegar em casa e vasculhar na
mente por qualquer lembrança da transa que tivemos, eu me peguei
imaginando como teria sido se eu tivesse ficado, se teríamos sexo matinal
antes de cada um voltar para sua casa e rotina, pois desse, sim, eu lembraria.
Certeza!
― Aí é que tá, Dé. Eu não lembro se transei, não me lembro de nada,
de absolutamente nada do que aconteceu, após sair com o... sei lá quem,
daquela maldita boate. Não lembro nem o nome dele ― deixo escapar em
forma de muxoxo, desacreditada.
Meu amigo me olha, em choque e se ajeita ao meu lado, buscando meu
rosto.
― Como é? Tá maluca, mulher? Me mandou até a localização de onde
estavam ontem. E quero dizer que achei um máximo ser um hotel e não um
motel, se bem que, eu preferiria a casa dele, porque mostraria sei lá... um
interesse a mais.
― O que isso tem a ver?
― Ué. Não é um motel, e isso deixa antever que o bofe não queria só
meter.
― Nunca achei que fosse algo diferente, mas foco na situação, André,
eu não estou brincando. Foda-se se foi em um motel, hotel ou na casa dele,
porque eu simplesmente não me lembro nem de que horas saímos da boate,
como chegamos ao hotel, nada, acredite.
― Pare, amiga. Não brinca assim comigo, não é possível. Será que ele
te drogou? ― André adquire sua pose de detetive do FBI.
― Para quê? Não acordei estuprada, sem um rim ou qualquer órgão
faltando, meus bens pessoais todos comigo e mais, ele estava lá, dormindo
tranquilamente, tomando conta de metade da cama, totalmente pelado.
― Meu Senhor... ― E ele até se abana. ― Não brinca, Mon. Para tudo
e vasculha essa cabeça. Deve ter algo guardado aí, mulher, não me diz que
vim aqui saber da fofoca e a única coisa que vai me contar é que não se
lembra da transa? Me poupe, garota, não me faz dar nessa tua cara sonsa. ―
Ele chega a me mostrar a mão grande aberta e sinto desgosto por não
lembrar.
― Mas é o que é, amigo, e acredite, eu já quis dar na minha cara,
também. Porra, Dé, foi meu primeiro homem depois do...
― Ah, nem fala, não vem ao caso. Mas peraí, e hoje pela manhã? Teve
ao menos o sexo matinal, não teve? ― Sua curiosidade é genuína, junto à
sobrancelha arqueada, em expectativa de uma resposta.
― Aí, migo, nem sequer me lembro da voz do homem. Não o esperei
acordar, acordei primeiro, catei minhas coisas e vim embora.
André parece atônito, sem palavras enquanto eu fecho os olhos,
começando a me arrepender de ter vindo embora tão rápido.
― Mulher, mulher... gente, que vontade de dar nessa tua cara, Mônica.
Meu Senhor. Me diz que tu tens o número do homem, pelo menos.
― Só se ele pegou o meu e me ligar, pois eu não peguei.
― Que inferno de coma alcoólico foi esse, criatura? Me fala o nome
desse infeliz, bora achar o perfil dele no Facebook, Instagram, FBI, sei lá.
Agora é pessoal. ― Fico sem graça e tapo meu rosto. ― O que foi agora,
Mônica?
― Eu já falei, não sei o nome dele. ― E penso que ele vai ter um troço.
― Olha, eu não tô bem, inconformado aqui, gente. Não, eu não tô bem.
Mas o que passou pela tua cabeça, sua famigerada, pra sair assim?
― Era só sexo, não era? E eu acordei e não me lembrei de nada, nada,
nem o nome do homem. Como que eu ia esperar ele acordar?
A essa altura André chega a estar vermelho.
― Gente, e só pode acordar do lado homem se souber o nome do
infeliz? Que merda, hein, viada! Minha filha, você precisa de uma aula,
urgente. Meu Pai amado, como que transa com um deus daquele e não se
lembra de nada?
Eu gemo, inconformada, e o despertador que marquei o tempo da
lasanha apita, me fazendo suspirar.
― Agora estou arrependida e é tarde. Porra, e se foi tipo uma transa
digna de um filme pornô? Tipo a melhor da minha vida, mas eu nem ao
menos vou saber? ― falo, vencida e me levanto.
― E não é para menos, né, querida. Olha... que decepção, você é a
vergonha da classe, garota. Onde que a gente vai achar outro homem daquele
pra tu?
― Ah... fala isso porque você não viu o abdômen dele. Quando
acordei, o lençol havia descido, sabe? Tudo de fora, Dé, e o infeliz é todo
tatuado. Gente... se arrependimento matasse.
― Nós duas estaríamos mortas, queridinha. Porque olha, ele pode não
gostar da fruta, mas se eu soubesse que você prestaria esse papelão, eu teria
era me jogado em cima daquele homem. Eu, hein?!
Rio, colocando a lasanha na mesa.
― Agora já era, vamos ao menos comer. Amanhã prometi que começo
minha dieta e talvez, uma academia. Vai que encontro outro boy por lá.
― Hum... igual aquele, eu duvido, mas não custa sonhar, né, meu bem?
Mas gostei de ver, seguindo em frente. Parece que a noite de ontem serviu
para acordar a piranha em você.
Abro a geladeira e pego o refrigerante, dois copos e me sento próximo
à bancada.
― Vocês estavam certos, Dé. É hora de deixar o passado para trás, não
quero um relacionamento, mas quero minha vida de antes. Me alegrar com
coisas banais, ser feliz de forma simples, sem esperar que isso venha de
alguém ― falo, realmente decidida.
Sinto sua mão buscar a minha em cima do balcão e levar aos seus
lábios, a beijando.
― Conte comigo, tá? Eu tô aqui para o que precisar. Mas se ficar com
outro boy daquele e esquecer, eu dou na tua cara!
Gargalho, servindo um pedaço generoso de lasanha para ele.
― Pode deixar... eu vou lembrar.
Ao menos, é o que eu espero.
― Viada ― chama, seu sorriso morrendo aos poucos ao me olhar de
forma estranha, séria. ― Sobre sexta, o que Rômulo queria contigo...
Mudo meu foco para a janela ao lado, pensando no que falar e opto por
omitir certas situações.
― Nada de mais, ele queria uma informação sobre um cliente, só isso.
― Não vou com a cara daquele homem, sinceramente.
Encosto minha cabeça em seu ombro como um pequeno afago.
Agradeço a Deus todos os dias por tê-lo.
― Nisso, concordamos, amigo, não tenha dúvidas.
Mentira tem perna curta

O barulho do meu punho batendo contra o saco de areia é a única coisa


que escuto desde que cheguei, o som ecoando na academia vazia, devido ao
feriado. Esmurro essa porcaria até a exaustão, sentindo o suor escorrer por
minhas costas e têmporas.
Eu não precisava vir mais cedo do que combinei com ela, minha
campeã, porém, eu estou precisando gastar a energia presa em meu corpo, de
alguma forma, sendo assim, corri para cá assim que cheguei em casa. Socar
algo sempre me faz bem.
Ouço uma porta bater em algum lugar e nem me dou ao trabalho de
olhar, sei que é ela.
― Ora, quanta devoção em rasgar o saco ― caçoa, a voz contente
demais para esse horário, um tanto rouca para uma voz feminina, que se
sobrepõe aos meus golpes e eu paro, ofegante, me virando para vê-la. ― Pra
que tanto? E que cara é essa? A última vez que te vi socar o saco de areia
assim, foi por ser impedido pelo nosso professor de bater em Rafael, por ele
ter me derrubado. E como pode ver, dessa vez eu tô inteira, sendo assim... por
que quer rasgar o saco?
Pronto, virou analista. Sophie é uma mulher magra, de pele clara, olhos
negros e cabelos castanhos, musculosa na medida certa para seu peso, está
parada a meia distância de mim, me analisando, vestindo um short curto lilás,
usual para seu treino, um top preto e de pés descalços.
― Isso é tesão reprimido, já ouviu falar?
Pego a garrafa de água ao lado e tomo um gole, jogando-a para ela logo
depois, e começo a tirar a proteção da minha mão para começarmos seu
treino.
― Você? Conta outra, Ben. Sabemos que o que não te falta é mulher
para aplacar esse tesão todo aí.
― Sabemos, mas hoje não comi nenhuma e estou com as bolas roxas e
doloridas.
E puto, isso eu não vou dizer e a desgraçada gargalha. Esse é o
problema de quando se conhece alguém há tempo demais, não te respeitam,
principalmente irmãos.
― Quanto mau humor. Para de reclamar, saindo daqui você arruma
uma e acaba com esse tesão todo aí.
― Não é tão simples ― falo e vou para os fundos da academia, em
direção ao ringue, secando meu pescoço com uma toalhinha com a logo da
academia e ela me segue.
― E desde quando não o é, Benjamin? Que história é essa? O que
andou aprontando?
Não quero falar disso e meu mau humor dos infernos me faz querer
voltar a socar o saco de areia, até esquecer que quero comer uma boceta bem
específica, agora fora do meu alcance.
Estou puto, puto pra caralho!
― Nada, aí é que está. Imagina só, você dormir com um corpo quente,
certo de que ao acordar, vai fodê-lo muito, uma foda matinal gostosa, se
enterrar até o talo em uma boceta quente e aí, nada. Não tem ninguém ao seu
lado.
― Você sonhou, foi isso? ― Não confirmo e a tenho gargalhando
novamente, nós dois já dentro do ringue. A infeliz me conhece. ― Espera,
não me diga que acordou gozado?
― Não, não foi. Foi pior, foi real e ela foi embora! Acordei sozinho no
caralho do hotel.
Sophie até para de rir, os olhos vidrados em mim, notando algo que eu
disse. Taí, outra coisa que me arrependo, de levar a morena para um hotel.
― Espera, hotel? Como assim? E o matadouro?
Mulheres...
― Não quis levar ela para lá.
― Por que não? ― pergunta, mais que surpresa.
― Isso nem eu sei responder. Fiquei admirando tanto a infeliz dançar
na boate, horas, para ser exato, que por fim fui falar com ela. Algo nela era
diferente, não sei explicar, não era como se ela fosse... enfim, não quis ir a
um motel. ― Vejo que estou explicando demais, explicando e me
complicando. ― Para de fazer pergunta difícil, Sophie.
A miserável, que deveria dizer algo para aplacar minha raiva, por ser
feito de otário, não para de rir, chega a se dobrar no meio. Jogo nela a toalha
em meu ombro, que nega com um aceno, desacreditada.
― Palhaça.
― Eu não tô acreditando.
Nem eu, para ser sincero.
Sophie é minha sócia e irmã adotiva, juntos temos uma rede de
academias e somos, ambos, educadores físicos. No meu caso em específico,
sou o treinador dela, já que minha sócia é também lutadora de boxe. Uma
campeã em sua modalidade, além de também ser uma grande amiga.
― Porra, você não ajuda, Sophie!
― Acha que vou perder essa chance? Eu já tinha desistido de que
alguma santa alma feminina tocaria algo além do seu pau.
― Não viaja.
― Não mesmo, tá maluco? Queria encontrar essa garota e dar os
parabéns a ela. Mas e aí? Não ligou pra ela ainda?
― Como se eu tivesse o número. ― Deixo escapar a contragosto e ela
sorri, adorando a situação. ― E mesmo se eu tivesse, não ia me dar ao
trabalho de ligar. Ela foi embora, um claro sinal de desinteresse.
― Sei, não vejo por que não ligaria, tá aí quase rasgando o saco de
areia, louco, querendo a mulher.
― Não estou louco querendo nada, Sophie. Isso aqui, é tesão reprimido
e bolas roxas. Não por causa dela em específico e, sim, falta de trepar.
E não é mesmo, ela foi só mais uma mulher com quem saí, passei a
noite e, no dia seguinte, ambos seguiram caminhos diferentes. A diferença é
que essa foi embora primeiro.
― Argh, tá, beleza, não preciso imaginar suas bolas a essa hora da
tarde. Já me diverti o suficiente com sua aventura noturna, agora vamos
treinar ― pede e enquanto ela começa a alongar o corpo, pego as luvas ao
lado, descansando na lona.
― Vem, me dê suas mãos aqui. ― Ela as estende para que eu as
enfaixe. ― Voltou a sentir dor na perna? Algum desconforto que eu deva
saber?
― Não, nada. Relaxa, a dor no ombro deve ter sido só a posição em
que dormi, nada de mais. Já passou.
― Tem certeza ou está mentindo pra mim?
― Preciso?
― Depende, temos um histórico grande de mentiras sobre estar bem.
Lembro-me de uma mandíbula quebrada e, ainda assim, não me deixou parar
a luta, segurando a dor e mentindo estar ótima. Podia ter terminado de uma
forma bem ruim esse episódio.
― Às vezes, me pergunto até quando se lembrará dessa luta, que não
terminou tão mal assim e acabei com ela, não foi? Aquela mandíbula
fraturada teve gosto especial de vitória e para de ser cricri.
― Maluca!
― Não finja que não me entende.
― Pior é que entendo, mesmo sendo eu a limpar a tua bunda no
hospital depois. ― Rio e ganho um soco no ombro, seu rosto ficando um
pouco rubro.
― Foi só uma vez.
― Duas. Duas, minha cara. Jamais esquecerei da sua bunda branquela.
Muito bonita, a propósito.
― Vai à merda, Ben, e deixa minha bunda em paz.
Gargalho, agradecendo por ela esquecer o que lhe contei há pouco,
assim, também posso esquecer essa merda.
― Vem, bora testar essa direita. Precisa estar ok para a luta.
― Vamos. Mas e você, estudou a guria? ― pergunta, em relação à sua
adversária na próxima luta.
― Claro, fiz o dever de casa e ela gosta de golpe baixo. Se bem que no
caso dela, não é caso de gostar e, sim, porque é pequena, quase uma cabeça
menor que você. Ela vai socar aqui ― falo e toco suas costelas e depois
embaixo do seu queixo. ― E aqui. Temos que fechar a defesa e te deixar
mais rápida no ataque. Tem que ser pra derrubar, não vamos para um terceiro
round, sem chances para isso, entendeu?
― Beleza.
― Mas ela também quer assim, e vem pra cima, terá que ser agressiva.
Ela vai usar o tamanho e rapidez que tem na direita para te acertar.
― E não vai conseguir.
― Não, não vai, você vai continuar intacta.
Ela anui, concentrada, focada. Adoro isso nela, minha garota de ouro
tem foco, enquanto eu, agora, tenho o foco em um par de olhos negros como
a noite e um cheiro suave de sândalo. Morena feiticeira.
Levanto o aparador de socos em minha mão e Sophie começa seu
treino, uma série de soco, intercalando entre chutes.
― Bora, mais força, quero mais força. ― Peço.
― Não vem descontar tua decepção em mim. Não tenho culpa de a
moça te deixar na mão, literalmente! ― provoca e finjo não ouvir!
Hoje, quando acordei pela manhã, achei até mesmo que a mulher com
quem cheguei ontem à noite no hotel, estivesse pegando o café da manhã, ou
ido sei lá onde, mas que logo voltaria.
Fiquei na cama, a esperando, depois me levantei, tomei banho e fiquei
de toalha andando de um lado para o outro no quarto, esperando que ela
pudesse passar pela porta a qualquer momento.
Uma merda, pois me dei conta tardiamente que sua bolsa não estava no
quarto, no lugar onde tinha deixado ontem à noite e comecei a sentir meu
sangue esquentar no mesmo instante, estando ainda de pau duro feito uma
barra de ferro, cheio de tesão por me enterrar nela em um bom sexo matinal
de despedida.
Não houve nada disso.
― Lembra que tua oponente é mais baixa, mais rápida, soca aqui e
quero mais força no chute. Gira o corpo junto com o golpe e aproveita pra
derrubar a pequena! — peço e ela anui, focada, o vinco em suas sobrancelhas
se aprofundando!
Tenho os olhos em Sophie, mas a cabeça está no que aconteceu ontem.
Quando minutos depois me peguei na recepção do hotel, recebendo a
informação de que minha acompanhante tinha ido embora cerca de uma hora
atrás e aí sim eu fiquei muito puto. Como que a infeliz me apronta uma
dessa? Ainda mais, depois de uma noite como a que tivemos...
Vim do hotel até em casa xingando tudo que era palavrão embaixo do
capacete, inconsolável e ainda de o pau duro. Cheguei em casa e fui direto
para o banho, pois enquanto não bati uma punheta, fazendo porra banhar o
azulejo do banheiro, não tive paz e, pior, só consegui bater o caralho da
punheta pensando nela. Desgraçada, e agora aqui estamos!
― Bora, desaprendeu a bater? Tá batendo como uma mocinha,
caralho. Mete o cacete ― incentivo.
— Mocinha é o caralho, aquela luta vai acabar no primeiro round,
anota isso!
Sorrio, gostando da certeza que vejo em seus olhos.
Essa provocação sempre dá certo com Sophie e dado que estamos
sozinhos, não tenho que me policiar ao provocá-la.
O que digo funciona como combustível e Sophie começa uma sucessão
de golpes, incansável, com sangue nos olhos. No ringue, ela se transforma e
deixa a fera enjaulada que guarda em algum lugar dentro dela sair. É onde se
permite isso.
― Isso, levanta a guarda no chute. Isso, muito bom. O cinturão já é
teu!
— Já é meu! — concorda, ganhando novo fôlego.
Agora, voltando para a feiticeira fugitiva... porra estou com sede dessa
infeliz. Sede de foder com ela até minhas pernas não aguentarem mais, até
que ela peça arrego. E não vou mentir, cheguei a procurar por ela nas redes
sociais, não nego.
Nem tenho vergonha disso, já que ninguém nunca saberá do fato, mas
não encontrei nada, absolutamente nada. Apenas um milhão de Erica, mas
nenhuma de pele escura cor e cabelos negros cacheados, com olhos
marcantes que me deixaram louco.
Ela jogou sua rede e o caralho grudou em mim. Mas vou me livrar, isso
é só o efeito de querer fodê-la, até estar saciado, falando. Não dura além da
primeira boceta que eu encontrar esta noite, depois disso, ela vai ser só uma
lembrança.
― Porra! ― gemo alto, movido pelo susto.
O barulho da luva socando carne e osso ecoa no ringue e chego a ir
para trás com a força do golpe que levo, segurando o lado acertado por ela.
― Puta que pariu, Benjamin. Onde está com a cabeça?
― Caralho! ― E não xingo a ela, mas a mim mesmo. Onde estou com
a cabeça? Na mulher que me deixou a ver navios hoje de manhã. É nisso que
estou com a cabeça, as duas, me deixe esclarecer. ― Me distraí. Ao menos
agora vai servir pra eu acordar de vez. Puta que pariu, coitada da baixinha
com essa tua direita.
Paro o treino e me sento na lona, deitando e sentindo meu queixo doer
para porra. Não demora e o rosto de Sophie aparece sobre o meu, sua mão
procurando o lugar que me acertou em cheio.
― Merda, vai inchar. Tá sentindo gosto de sangue?
― Cortou a bochecha, mas foi pouco.
― Peraí, vou lá nos fundos pegar gelo para a gente colocar.
― Precisa não, vamos continuar.
― Claro que não. Podia ter sido sério, caramba, se tivesse pegado mais
embaixo... Fica aqui, vou lá e já volto!
Nada digo, escutando seus passos ficando cada vez mais distantes. O
quanto uma mulher é capaz de foder o psicológico de alguém?
Olha o que ela ainda me deu, estando sabe-se lá Deus onde. Tenho que
procurar alguém para comer hoje à noite e tirar aquela tentação da cabeça,
isso já é certo.

― Por quê?
― Sei lá, toma.
Estico o braço e pego a caneca de café que Sophie me entrega,
enquanto a vejo se jogar ao meu lado no sofá, trazendo uma caneca com café
e leite também nas mãos para si. Estamos agora em meu apartamento,
acordamos há pouco.
― Mas talvez abrir uma filial naquele bairro seja uma boa.
― É um bairro bom. Podemos pedir pra sondarem, o que acha? Vamos
cotar volume de pessoas, academias abertas nas proximidades, enfim, estudar
o mercado como sempre fazemos.
Sophie concorda, com a mão afagando a cabeça grande e peluda de
Gamora, que jaz preguiçosamente próxima aos nossos pés. Minha cachorra é
o pitbull mais preguiçoso e doce que já conheci, uma farsa para a raça.
Isso, tirando um episódio um tanto trágico e cômico que tivemos com a
vizinha de corredor, semana passada. Mas não foi por mal, provavelmente
Gamora queria brincar e foi má interpretada pela moça, que foi um tanto mal-
educada.
― Claro, isso sim. Mas será que tá na hora de investir em mais uma?
Tem só três meses que compramos a Dominus, temos capital, mas pode ser
cedo.
― Isso, eu concordo ― falo, tomando o café, talvez sirva para ajudar a
me manter de pé hoje. ― Só compensa se tivermos uma boa proposta com
relação ao valor de compra, pois caso não queiramos investir o capital agora,
podemos esperar um ou dois meses.
― Estava pensando nisso.
― Ótimo. Podemos falar com Oscar mais tarde, o que acha? ― Oscar é
nosso contador, um cara competente que ganhou nossa confiança há bons
anos.
― Pode ser. Ben, sei que não gosta de falar disso e respeito seus
sentimentos, essa palhaçada toda. — Pula o discurso e espero o que vem por
aí. — Mas... pensou no assunto pai?
— Qual pai? Eu não tenho um.
— Benjamin.
— Se respeita mesmo meus sentimentos como acabou de dizer, esquece
esse assunto — peço, evitando olhá-la.
— Acho que... esquece, tudo bem. Sendo assim, vamos lá?
― Quer treinar agora cedo? ― pergunto, mudando o foco
desnecessário dessa conversa, pois estava pensando em tentar dormir esta
manhã, aproveitando que não marquei nenhum compromisso.
― Não, mas podemos pegar os moleques de rua treinando lá a essa
hora. — Sei que queria uma resposta minha, mas nunca falo do meu pai.
― Então bora. Os moleques vão me deixar ligado, preciso estar ligado.
― Me levanto, buscando os tênis em algum lugar do meu apê, encontrando
junto deles uma calcinha de renda azul.
Ontem, quando saí da academia, passei em Nirvanna, minha lanchonete
favorita aqui próximo ao meu prédio e pedi um bom sanduíche de frango para
o jantar.
Enquanto comia, dei uma folheada na agenda do celular e, por fim,
acabei ligando para Débora, aluna antiga da academia. Já transamos uma vez,
uma segunda rodada não me parecia ruim. Sexo, puro e bom, que serviria
para aplacar meu tesão.
O problema é que não foi bem assim que ela interpretou.
Não sei que inferno me deu ontem que, ao invés de ir para um motel, eu
a trouxe para cá, minha casa. E esse foi o segundo erro, o primeiro foi tentar
uma segunda rodada com ela. Começamos bem, muito bem, até que enquanto
a loira gostosa cavalgava meu pau, não era mais Débora comigo e, sim, Erica.
O inferno pareceu congelar, pois tive que lutar para meu pau não broxar
em plena ação com a loira e, no fim, não foi nada satisfatório.
Fiz questão de fazer minha parceira gozar, gozar gostoso, não só uma
vez. Mas aquela, foi a primeira transa em que eu senti prazer por sentir, por
me obrigar a sentir.
Desabei na cama ao lado dela em seguida, suado e assustado, algo
assim nunca tinha me acontecido.
Para piorar minha confusão, logo em seguida, Débora se enrolou em
mim e chegou a ressonar baixinho, fazendo meu peito de travesseiro,
enquanto eu, queria apenas ficar sozinho e entender o que estava acontecendo
comigo. Foi uma puta situação fodida.
Naquele momento, talvez por intervenção divina, alguém tocou minha
campainha e eu dei graças a Deus por quem quer que fosse que estivesse em
minha porta às duas da manhã, mesmo a mulher ao meu lado acordando e me
olhando como se quisesse me exonerar com um laser, se o tivesse em mãos.
Para minha sorte, era Sophie, que saiu para dar uma volta de moto no
meio da noite e acabou em minha porta, colocando Débora para fora de forma
educada, não que a loira tenha engolido bem a situação.
Sophie batendo em minha porta na madrugada não é incomum. Em
noites em que ela não consegue dormir, sempre acabamos aqui, no meu
apartamento, tomando cerveja e conversando qualquer assunto, menos o que
a fez sair da cama no meio da madrugada. Falar não é algo que ela costume
fazer com frequência.
No fim, me livrei de Débora e acabamos jogando conversa fora e
adormecendo em seguida. Essa sim, é a única mulher que tem acesso total à
minha cama, nada demais, só prezo por minha privacidade e por ter espaço
livre em meu colchão.
― Estamos indo, Gamora. Vê se não come o sofá de novo ― reclamo,
vendo a cachorra me olhar tristonha e acaricio sua cabeça, pronto para sair,
com pena de deixá-la sozinha.
― Não dormiu muito essa noite, né? Senti você se mexendo como se
tivesse formiga na cama, me acordou algumas vezes com sua mexilanga ―
Sophie comenta, saindo para o corredor.
― Não, não dormi como gostaria, estava inquieto, apesar de exausto.
― Saio logo em seguida, com o capacete na mão, fechando a porta atrás de
mim e passando meu braço por seus ombros.
O barulho de saltos no piso faz nós dois olharmos para a direita, vendo
minha vizinha, a que tive um incidente de dias atrás, fechando sua porta, se
virando segundos depois. O vestido social vinho, colado ao corpo indo até
abaixo dos joelhos, deixando a mulher de tirar o fôlego.
Paraliso quando meu olhar sobe por suas pernas, passando por sua
cintura bem esculpida, fixando-se em seu rosto.
Acontece duas coisas ao mesmo tempo. Primeiro, ela abre um sorriso
gentil para cumprimentar Sophie, que segue parada ao meu lado e, em
seguida, tenta direcionar o mesmo cumprimento a mim, mas ao me olhar, seu
sorriso morre, aos poucos e ela intercala entre mim e Sophie, um vinco se
formando entre suas sobrancelhas e posso ouvir um “merda”, sair baixinho de
seus lábios.
Te peguei, pequena fugitiva.
― Bom dia, Erica! ― falo, dono de mim, parecendo ganhar novo
fôlego, deixando um riso preguiçoso escapar da minha boca.
Ah, vizinha. Então você esteve o tempo todo aqui, na minha cara? Que
sorte a minha!
Erros nos perseguem

Pai da eternidade, só pode ser brincadeira!


Parada, em frente à montanha de riso sensual em minha frente, estou
com o coração quase a saltar pela boca, uma sensação estranha de déjà vu,
mesmo que seja uma situação única estar aqui, frente a esse homem, no
corredor do meu prédio.
Um frio cruza minha espinha, junto a um tremelique e temo que meus
olhos pulem em suas mãos, de tão arregalados. Nem ao menos consigo
responder ao seu cumprimento, abobalhada, o olhando e é mesmo ele, ainda
que tivesse qualquer dúvida, as tatuagens me dariam a certeza. Esse, é
exatamente o cara gostoso da boate, gostoso e lindo, mais lindo do que me
lembrava.
Puta merda, André estava certo, onde mais eu arrumaria um homem
lindo desses, com cara de macho fodedor? Santo Deus, eu preciso me lembrar
dessa transa.
Mas espera...
― Do que me chamou? ― pergunto, apertando meus olhos e só então,
colocando a mulher que me observa, com cara de: tira o olho do meu macho,
na equação.
Me diz que não é o que estou pensando.
― Erica, é esse o seu nome, certo? Foi como disse que se chamava.
Nego, sem graça.
Por que eu diria que meu nome é Erica para ele? Fico mais deslocada
ainda pelo medo de que a mulher ao seu lado seja sua namorada ou sei lá o
quê, e queira saber de onde nos conhecemos. Mas um raio não cai duas vezes
no mesmo lugar, um dia traída e no outro a amante… não é possível!
Meu Deus, será que ele mora aqui com ela? É casado? Busco seu dedo,
o dos dois, na verdade, e respiro, aliviada, ao menos não são casados em vias
de fato, não tem aliança. Mas isso faz diferença?
Olha a hora que estão saindo juntos de casa, abraçados e o que foi que
ouvi mesmo, há pouco?
“Senti se mexendo como se tivesse formiga na cama.”
Foi o que ela falou. A frase destoa em minha mente e não deixa dúvida,
me policio para não fazer uma careta. Nego, dando-me conta que divago e
gaguejo sem saber bem o que lhe dizer.
― Não, acho que está me confundindo. Me chamo Mônica, Mônica
Maria. Muito prazer. ― Forço naturalidade, uma que passo longe de sentir.
Tento me recuperar do susto que deixou meu corpo alerta, sem
conseguir focar minha atenção ao rosto da mulher a qual dormi com seu
namorado, marido, ou sei lá o quê. Se não fossem nada, não dormiriam
juntos, em seu apartamento, menos ainda sairiam a essa hora, abraçados.
Por isso o infeliz me levou para um hotel. Desgraçado!
― Sério, é esse o seu nome? ― Sou pega na mentira, mas pouco me
importo, o traidor filho da puta mereceu.
― Sim, e bom dia para os dois, tenho que ir trabalhar. Creio que são
meus vizinhos, certo? ― Ele confirma, já ela nada diz. ― Ótimo, foi bom
conhecer os dois, ainda não tinha tido esse prazer. — Eu sou uma farsa.
A mulher me dá um sorriso, desses, meio amarelo, sem emoção, e ele
parece alerta, preso em mim. Filho da mãe.
― Ela foi a vizinha a quem Gamora derrubou, Sophie ― explica e me
dou conta de que ele não é apenas o tatuado gostoso da outra noite, mas
também o troglodita dono do dinossauro que quase quebrou meu nariz,
semana passada.
Podia ficar pior?
Sim, pode, pode sim, pois sabe aquelas mulheres de dá inveja em
qualquer mulher? Magra, mas não uma magra comum e, sim, uma com corpo
perfeito, musculosa, toda dura, e o rosto? Intocável. Oval, bonito, pele limpa
e macia sem nenhum esforço.
― Sério? Temos que dar um jeito nela, Gamora é incontrolável. Nos
desculpe.
Tento um sorriso, e por mais que eu queira sair daqui, junto à minha
desculpa de ir trabalhar, pareço estar presa no lugar.
Sinto-me idiota agora, muito idiota e o vejo se virar para ela.
A mulher tenta, mas a gargalhada que ela segura está deixando-a
vermelha. Tomara que se engasgue com o próprio veneno. Vaca.
― Sugiro ter mais cuidado e não deixar seu cão sair sozinho pelo
corredor do prédio. ― A resposta saí da minha boca sem que eu pudesse
conter e a mulher sorri, simpática, os olhos negros brilhando em um tipo de
expectativa que desconheço.
― Tem toda razão. Já disse a esse teimoso, que Gamora precisa de
mais espaço, ela não aguenta mais ficar presa no apartamento e quando tem
uma chance, saí correndo, assustando os vizinhos. — Simpática, ela chega a
revirar os olhos, dando uma cotovelada no idiota ao seu lado.
Evito olhar o homem, que mesmo frente à namorada, parece me comer
com os olhos e sinto raiva. Dele e de mim. Chega, hora de ir, já estou para lá
de atrasada e chega de perder tempo aqui com esses dois.
Dariam modelos perfeitos de academia, vestidos com essas roupas, um
casal realmente adorável. Seria lindo, se o seu macho não saísse por aí
comendo todo mundo que ele encontra em boates noturnas
― Imagino. De novo, bom dia para vocês.
― Pra você também. Estamos descendo agora mesmo, vamos juntos
― ela sugere. Pai, e ela ainda parece ser gente boa.
Olha que situação e saia justa eu me meti, e que cara de pau esse
homem tem.
― Sim, estávamos descendo também. Foi ótimo te ver, Erica. Ah, digo,
Mônica. ― Isso foi uma provocação? Claro que sim, feita em puro deboche.
― Igualmente, mas tenho que correr, estou realmente atrasada esta
manhã. Até mais.
Passo pelos dois, apressada, meu salto fazendo toc toc no assoalho do
corredor, enquanto sinto-me ferver com sua recém-provocação. Aperto o
passo, sabendo que estão vindo logo atrás de mim e olho o celular.
O Uber já está lá embaixo me esperando e agradeço. Geralmente não
uso esse serviço para ir trabalhar, já que fica mais caro, porém, hoje eu
realmente acordei atrasada.
― Bom dia, seu Dialindo ― cumprimento o porteiro, que mal tem
tempo de me ver, dado que passo como uma bala por ele, saindo do prédio e
entrando no Fox prata, com um senhor bigodudo atrás do volante.
Já me sentindo segura dentro do carro, olho para trás, a fim de ver o
safado traidor junto à sua namoradinha perfeita, o homem com quem cheguei
a sonhar essa noite. Isso mesmo, sonhei o encontrando, mas em nada ele
estava com uma mulher a tira colo no meu cenário perfeito e romântico.
Sem conseguir ver nenhum dos dois, o carro sai para o meu destino e
me deixo relaxar.
Que filho da puta. O cara tem namorada, ou moram juntos, a julgar
pelo horário que estavam saindo de casa, além da intimidade entre ambos.
Falando da noite mal dormida. Puta que pariu.
Será que ela percebeu algo? Bom, no mais, se tiver de achar que ele me
conhece de algum lugar, será do incidente com o cachorro dinossauro. Menos
mal, não é?
Mas como vou viver com esse homem morando aqui do lado? Sabendo
que ele traiu a mulher comigo? Infâmia.
Desde que o vi, já devo ter cometido vários pecados, se contarmos
quantas vezes falei o nome de Deus em vão.
De repente, me vejo agradecida por não me lembrar da noite que
tivemos. Já foi constrangedor o suficiente ter que rever o homem e descobrir
que além de uma transa, fui a outra da relação. Gente, será que eu usei
camisinha? E a pobre da mulher, será que confia nele ao ponto de não usar
camisinha e ele, por fim, sair por aí comendo todas sem proteção?
Filho da puta, desgraçado, sem escrúpulos. E sinto vontade de chorar.
Fui deixada praticamente no altar há pouco mais de um ano, e quando
enfim resolvo molhar meu biscoito, descubro que eu fui o caso sujo de
alguém. Pô, Deus, bate menos que tá ficando osso aguentar aqui embaixo.
― Moça, moça. Chegamos, é aqui, não é? ― Assinto, voltando à
realidade.
Fiquei tão perdida em pensamentos que nem ao menos vi quando o
motorista parou em frente ao banco.
―Claro, será no cartão, por favor ― falo, esperando-o encerrar a
corrida, saindo do carro tão logo que posso.
Entro no banco e o guarda, um homem simpático de uns quarenta anos,
me recebe com um sorriso caloroso. Meu Pai Amado, quem acorda nessa
alegria toda, numa terça pós-feriado?
Se bem que eu acordei muito bem esta manhã, mesmo acordando
atrasada, mas aquele idiota acabou com o meu dia. Ele e a namorada perfeita.
Bruaca linda de morrer.
― Bom dia, Norberto. André já chegou?
― Bom dia, moça bonita. Já sim, tá na cozinha. Hoje vai ser um dia
daqueles, descansou bem no fim de semana?
— Sim, sim. Vou pra cozinha, bom dia para o senhor:
Mal respondo, entrando como um foguete, passando pela sala de
atendimento do banco e marchando para a pequena cozinha nos fundos da
agência. Antes mesmo de entrar, já posso ouvir meu amigo rindo com
Lourdes, a tia da limpeza, e não ligo em interromper.
Adentro o lugar como um furacão revolto, preciso dele.
― Bom dia, bom dia, dona Lourdes. Como foi o fim de semana? ―
falo rápido, direcionando a ela, mas com os olhos em André.
Sempre lhe faço essa pergunta todas às segundas e sempre ouço com
carinho sobre seu fim de semana, hoje, infelizmente estou agitada demais
para os detalhes. E já grudo no braço de André, encostado no micro-ondas,
falando abobrinha de boca cheia.
― Eita, foi muito bom. Descansei com meu velho e meu netinho.
Em outra ocasião, eu me sentaria, tomaria café e dividiríamos o que
fizemos no fim de semana, hoje não dá.
― Que bom, quero detalhes depois. André, vem comigo. A gente já
volta, dona Lourdes.
― Fico esperando.
Saio arrastando um André entalado com um pedaço de pão e entro no
banheiro com ele, fechando a porta atrás de mim, olhando antes se não tem
ninguém para nos ouvir.
Aqui, nesta agência, adoram uma boa fofoca.
― Bicha ousada. Que foi? Acordou com a periquita ardendo?
― Não, pior. Senta que vem chumbo grosso.
Ele parece notar em meu semblante minha confusão e se senta sobre a
tampa do sanitário, todo em seu estilo gay social, impecável e pronto para a
fofoca.
― Conta logo, que tô assustado já.
― Lembra o cachorro dinossauro que quase quebra meu nariz, na
sexta?
― Sei, o que tem? Estava te esperando hoje na porta?
― Não, pior, sabe o dono?
― Ai, para, pelamor. Odeio quando faz isso, vá direto ao ponto, que
inferno. Tenho nervo pra isso não, eu hein.
― Tá, tá bom, sabe o cara gostoso da boate? Pois é, ele é o meu
vizinho, dono do cachorro ― despejo e vejo-o arregalar os olhos, o pão com
manteiga em sua mão ficando esquecido.
― Meu Deus! ― André parece ponderar, para em seguida e sorri de
orelha a orelha. ― A coisa mudou pro teu lado, vadia, olha que sorte! Deus
não dá mesmo asa à cobra, ah, eu com um homem daquele como vizinho. ―
Com isso ele faz cara de nojo e eu reviro meus olhos.
Ele não sabe o tamanho da “sorte”.
― Sorte é o caramba, Dé. O cara tem namorada, dei de cara com ele e
ela esta manhã, quando saí de casa. O filho da puta não me levou para casa
dele, porque tem na-mo-ra-da. ― Dou ênfase para ver se ele entende meu
desespero e decepção.
― Não, para. Conta isso direito, Mon.
― Isso mesmo. Hoje, ao sair de casa, dei de cara com os dois, ambos
montadinhos em roupas estilosas de academia, abraçados como um casal
feliz, prontos para irem malhar juntos. Uma fofura ― esnobo, sem me conter.
Ai, que ódio!
― Menina, oh, tô todo arrepiado. E ele, disse o quê? Fingiu que não te
conhecia, aposto.
― Pior, me cumprimentou usando meu nome. Meu nome não, o nome
falso que eu dei a ele na boate. Por sorte, ele mesmo disse para a mulher que
eu era a vizinha que foi atacada pelo cachorro dos dois. As suspeitas ficaram,
então, que nos conhecemos aí, nessa ocasião.
― Gente, passado... e a mulher, como ela é?
Chego a suspirar de desgosto com essa pergunta.
― Perfeita, sem uma única gordura fora do lugar, um corpo escultural.
Posso apostar que ela não sabe nem o que é uma celulite na vida, nada. Sabe
aquelas mulheres de TV? Tipo Kelly Key? Perfeita mesmo? Musculosa,
durinha, com pele de princesa? É ela...
André parece mais bestificado que eu, levando a mão ao queixo e
soltando um suspiro.
― Ao menos, sabemos que apesar de ser bonita, ela não deve dar conta
do boy na cama. ― E eu queria concordar, porém, meu lado traído não deixa.
― Olha o veneno, Dé, me lembro bem que Neto mal dava conta de
mim na cama e comeu outra, na véspera do casamento, também muito antes.
A coitada não tem culpa de ter um namorado filho da puta e de ser perfeita.
Homens, por que não dão valor ao que tem?
Um estalo de língua é o suficiente para me fazer olhá-lo e ver a piedade
estampada em sua cara.
― Oh, amiga, você tá certa. Perdão, Senhor, pelo veneno de cascavel.
Saiu na maldade para defender uma amiga. Mas poxa... que droga, cara.
Encontramos o deus grego pra você e descobrimos que é o deus da traição.
Homens... oh raça esculhambada. Por isso mudei de time, eu, hein. Mas e
você, como se sente com isso?
― Mal, né? Sei bem como é ser traída... acreditar tanto em alguém e
ser passada para trás. Fiquei, não, estou decepcionada, mesmo sabendo que
desde o início era só uma noite. O encanto por toda aquela beleza caiu por
terra e tinha que ver como ele foi cínico e me comia com os olhos, na frente
dela.
― Filho da puta. Ela é antipática, pelo menos?
― Pior que não... tem um sorriso lindo, só é mal-encarada. Aí que
ódio!
Esfrego minha testa com a mão e ele se levanta, compadecido com
minha revolta e segura meu ombro.
― Fica assim não, amiga. Se bem que, pior que a gente sabe que não
tem como fugir de vê-lo uma vez ou outra, né? Querendo ou não vai dar de
cara com o safado gostoso. Seja forte, amiga.
― Serei, ele morreu pra mim, estou dando graças a Deus que nem
sequer me lembro o que fizemos naquela noite. Quer saber? Deve ter sido
péssimo. Mas você tem razão, não tenho como fugir dele, nem alugar outro
apê. Santo Deus, o que eu faço, migo?
Estou perdida, perdida. Nunca, nunca mesmo me imaginei nessa
situação.
― Ué, esquece isso, se bem que você nem lembra mesmo. No fim, isso
nos serviu de alguma coisa, ao menos você acordou pra vida e vai sair por aí
garimpando novas pirocas. Esquece, menina, foca em arrumar outra rola pra
sentar e mandar o dito para a puta que o pariu, só isso. Não ia entrar na
academia? Pois bem, entre, para não ficar aí, toda recalcada dos músculos da
outra. Joga esse ódio todo em uns agachamentos e tá tudo certo.
Mordo o canto da unha, arrancando a cutícula.
― É, tem razão. Tenho limite no cartão para pagar a mensalidade da
academia, ao menos. Inclusive, vi o outdoor de uma promoção em uma perto
do prédio. Um combo de musculação e aeróbica, perfeito para o que eu
quero. ― André confirma, tentando me animar e algo me passa pela cabeça, e
seguro seu ombro. ― Vamos comigo, vai, Dé.
Faço o convite, apreensiva, e ele chega a se afastar para longe.
― O quê? Eu? Tenho nem roupa pra um evento desse, criatura, eu,
hein?!
― Poxa, Dé, vamos, vai me ajudar... Imagina, alguém para ir comigo
para que eu não perca o foco. A gente se ajuda e incentiva um ao outro. Vai,
Dé. ― Junto as mãos frente ao corpo em súplica e ele aperta o canto dos
olhos.
― Piranha chantagista...
— Por favor, por favor. Só esse primeiro mês.
Meu amigo aperta os olhos, apoiando o queixo na mão, querendo me
fuzilar.
— Pensa bem, gente nova, Boys gostosos… o que acha?
— Hum… se bem que, em academia tem um monte de macho alfa que
adora uma ruela e não saí do armário, né? Quem sabe não arrumo uns
contatinhos enquanto aumento a bunda?
― Isso, podemos arrumar nós dois uns contatinhos.
― Não é má ideia, sabia? Vamos amadurecer isso aí, hein? Agora,
bora voltar pra lá, já, já que as portas deste inferno se abrem e vai sair gente
até do esgoto. Ih, só pra te preparar logo, Norberto disse que Rômulo chegou
com cara de cu hoje.
― É a cara dele de sempre, não sei qual a novidade.
Rimos os dois, enquanto passo a mão no meu vestido, esticando o
tecido e abrindo a porta. Finjo um sorriso, mas no fundo, estou mais do que
decepcionada, mas para quem superou um chifre, o que é uma desilusão?
Logo irá passar, mesmo dando de cara, vez ou outra, com o meu vizinho
gostosão.
Uma grande contradição

― Para, pode parar ― advirto, montando em minha moto, olhando


torto para Sophie ao meu lado.
― O quê? É ela, não é?
― É ela o quê?
― A garota que te deixou sozinho no hotel. ― Sophie sorri, divertida.
― Ela mentiu o nome, que sorrateira! ― E cai na gargalhada, segurando o
corpo que chega a se curvar, enquanto se apoia no guidom da moto.
― Vocês não valem nada e depois dizem que somos nós, homens, os
crápulas da situação ― resmungo, inconformado. É, a pilantra mentiu o
nome.
― Ora, com certeza aprendemos com vocês, homens. Garota esperta
essa... Soube se livrar muito bem de você e, pela sua cara e a dela, acabaram
de se dar conta que são vizinhos. Mano, que viagem!
― Chega, espertalhona ― peço, quase um sussurro, e visto o capacete
esportivo, esperando que ela monte em sua GSX e dê partida. Faço o mesmo,
agora realmente puto.
Garota esperta é o caralho, ninja, dissimulada. E eu que pensei que a
mulher destoava no ambiente noturno, agitado demais para sua imagem quase
angelical. Achei até que fosse alguém reservada, por assim dizer, diferente
das mulheres com quem realmente saio. Um caralho!
― Monta na porra da moto e vambora, Sophie ― falo, já sem
paciência, enquanto Sophie não consegue parar de rir.
― Quanto mau humor, logo agora que estou me divertindo tanto. Mas
me diz, a ficha de que ela é sua vizinha já caiu? Olha a coincidência, cara...
― Palhaçada, isso sim.
Fico olhando enquanto Sophie coloca o capacete, e ela está certa. Ver
Erica aqui, em um primeiro momento me causou uma surpresa boa, muito
boa até, pois de imediato imaginei que poderia, de mansinho, terminar com
ela em minha cama e saciar o desejo que venho sentindo por ela.
O mesmo que não me deixou dormir nada essa noite. Esse pensamento
durou até ouvir de sua boca, que, na verdade, se chama Mônica Maria, pior
ainda, que eu a estava confundindo.
Dissimilada, mentirosa.
Sem humor, observo a debochada, ainda rindo, abaixar a viseira e
colocar a moto em movimento, saindo da garagem. Faço o mesmo, indo logo
atrás dela, com uma mistura de decepção e raiva por Mônica Maria... Mônica
Maria é o caralho. Eu estou puto!
A filha da mãe mentiu o nome e para quê? Nego, sentindo o vento bater
em meu corpo ao pegar velocidade, inconformado.
Não precisamos cortar asfalto por muito tempo para ver a fachada da
academia despontar, o prédio de quatro andares se avolumar, estando o
último ainda em construção.
De forma proposital, o lugar não fica longe de onde moro, na verdade,
foi pensando na localização da matriz que me mudei para aquele mesmo
apartamento, há cerca de três anos, onde agora divido o corredor com a
mentirosa fujona.
Na época que o aluguei, por conta de Gamora, cogitei uma casa, mas
sou sozinho, ficaria perdido em algo grande, apesar de prezar pelo conforto
da minha cachorra. Mas agora...
Ainda voltando para a minha mais nova vizinha, talvez ela temesse que
eu fizesse exatamente o que fiz, procurasse por ela nas redes sociais. Sua
mentira não adiantou muito, já que estamos morando quase de frente um para
o outro e pensar que Gamora quase quebrou seu nariz, dias atrás.
Ao menos, sei que é orgulhosa, pois após o acidente ela não deixou que
eu me aproximasse, nem mesmo para pedir desculpas e reclamou com o
síndico sobre o ocorrido, que foi bater em minha porta na tarde seguinte,
pedindo que tomasse mais cuidado com meu animal de estimação. Ela que
não seja louca!
Mas Sophie está certa, é muita coincidência sermos vizinhos.
Soube que o apartamento ia ser ocupado há uns três meses. Assim
como que, quem o ocuparia se mudaria no mês retrasado, mas até agora, só a
tinha visto de relance duas vezes. Quando Gamora pulou em cima dela e a
derrubou; e assim que se mudou, entrando na recepção, acredito que voltando
do trabalho.
Na primeira ocasião, cheguei a apertar o passo ao sair da garagem,
estava curioso por conhecer a deusa negra que acabara de se mudar, segundo
boatos. Apelido dado pelo porteiro, que aparentemente cai de amores pela
moça muito educada, gente fina, que mora no 204. Uma mentira, apesar de
concordar que ela é realmente linda.
Só que, sejamos sinceros, gente fina não sai por aí mentindo o nome.
Estaciono frente à academia na minha vaga ao lado de Sophie e nem ao
menos lhe dou atenção. Meu humor não está bom para piada.
Entro no galpão, entregando o capacete à Denise, a recepcionista da
manhã, a saudando com um aceno e passando pela catraca após o
reconhecimento da minha digital, indo direto para os fundos sem dar atenção
para ninguém em especial, apenas um aceno de cabeça para um e outro.
Aqui, temos o que há de mais moderno em tecnologia para academias,
nos orgulhamos disso em especial. Talvez por esse motivo, temos um público
seleto.
Mas queremos mais, todos os públicos, oferecer um serviço de
qualidade que todos possam pagar. Por isso, optamos por algumas estratégias,
bolando planos com combos a longo prazo, pacotes e tudo o mais.
O foco é em nosso maior público, musculação, aeróbica, modalidades
de lutas, dança e depois, uma infinidade de possibilidades. Hoje a academia
conta com três andares em atividade. No primeiro, concentramos em especial
o boxe, nosso carro-chefe dado que Sophie é uma campeã e dona de uma
marca que faz toda a diferença, ela é a cara do lugar, não que ela goste muito
disso, mas foi algo natural, dado que após alguns títulos, ela não pôde se
esconder dos holofotes.
Junto, ainda no primeiro andar, temos também o espaço reservado ao
crossfit, além do espaço para exercícios em espaço aberto, nos fundos, com
direito à piscina com hidro e quadra esportiva.
O segundo andar é todo para a musculação, onde temos nosso maior
público, além de uma parte ser reservada para lojas de artigo fitness, com
nossa marca própria. Temos também uma lanchonete e um consultório
nutricional, os dois últimos sendo terceirizados, cedemos apenas o espaço.
Já para o terceiro andar, dividimos todo o espaço em salas para judô,
muay thai, jiu jitsu e dança, além de outros. Oferecemos o pacote completo
ao cliente, além de querer ampliar ainda mais para incluir também, com a
área de beleza e estética. Sim, um salão ou spa, ainda não decidimos,
primeiro estamos construindo o quarto andar, depois veremos exatamente o
que queremos para o lugar.
E, na parte de trás, na lateral da piscina, ainda tem o pequeno antro de
Sophia, ela não abriu mão do quartinho dos fundos, nem quando teve
condições de comprar uma casa, um apartamento ou o que quisesse.
Continuou aqui, pois também não quis ir morar comigo. Não a culpo.
Você deve estar se perguntando como chegamos a isso tudo, como essa
parceria, que tem dado mais que certo, começou e eu explico, aproveito para
tentar não pensar em minha vizinha fujona.
Minha mãe, uma mulher ao qual tenho muito orgulho, sendo um
membro ativo na igreja católica e sendo contadora, um belo dia recebeu um
pedido do padre de sua paróquia, para dar uma ajuda ao orfanato do bairro,
ligado diretamente com a paróquia em questão. O lugar estava passando por
problemas financeiros, ao ponto de quase fechar as portas, já que a merda do
governo em nada servia.
Claro, dona Célia não negou ajuda. Tentando uma forma de cortar
gastos, sem prejudicar ainda mais o local, tentando também ações de
arrecadações financeiras.
O problema é que minha mãe é muito humana, sensível a tudo ao seu
redor e o que viu no orfanato mexeu com ela, que apesar de amar crianças, só
pôde ter a mim de filho.
Eu sempre soube que isso a decepcionava, ela queria mais filhos. Não
conto as vezes que a vi chegar em casa chorando, triste e decepcionada com
os seres humanos, decepcionada em principal com o ser humano com quem
se casou, meu pai.
Só que, um dia, ela não voltou para casa chorando, tampouco triste,
não, voltou com uma garota de treze anos, bruta como o demônio, uma fera
no corpo de uma criança, um bicho enjaulado, mesmo meu pai dizendo que
se ela entrasse com qualquer criança daquele orfanato pela porta da frente da
nossa casa, ele sairia pelas portas dos fundos. Como se no fim, ela precisasse
daquele pedaço imundo de merda para algo.
Mas meu pai não vem ao caso e, sim, minha mãe e como Sophie entrou
em minha vida.
Para terem ideia da fera que habitava no corpo magricela da garota,
ainda hoje trago em meu braço a marca de uma mordida sua, que ganhei no
dia que Sophie chegou à minha casa, ao tentar mostrar a ela como abrir a
jarra de suco.
Isso mesmo, a garota que minha mãe trouxe para casa naquele dia foi
Sophie, uma menina abusada, mal-humorada e sem nenhuma educação.
Segundo o que mamãe me disse ao fazer um curativo em meu braço,
enquanto a meliante se trancou no banheiro, é que a menina sofreu maus
tratos ao passar por um lar de apoio, essas famílias que se habilitam a dar
suporte para algumas crianças até serem adotadas, ganhando uma ajuda
miserável do governo.
Com isso, de alguma forma, a quebraram e minha mãe quis consertá-la,
mesmo vendo seu casamento ruir naquela mesma noite.
Após a termos em casa, por vezes acordávamos com seu quarto vazio
no meio da noite. Sophie não queria um lar e sempre voltava para o orfanato
à noite, sozinha. Vivia brigando com garotos que davam três dela, com
garotas, com todos, era um verdadeiro inferno. Mas a mesma força que ela
tinha em sempre ir embora, minha mãe tinha em ir buscá-la, sem sequer
pensar em desistir, com toda paciência e amor existente no mundo. Todos já
tinham desistido dela, dona Célia não. Sophie ia embora e, no dia seguinte, lá
estava minha mãe, buscando-a.
Eu a odiava, odiava mesmo, pois via minha mãe sofrendo por ela,
chorando e eu nada podia fazer, só abraçá-la à noite. Por vezes, não sabia se o
choro dela era pelo abandono conjugal do meu pai, por Sophia, ou ambos.
Mas eu estava lá para o que ela precisasse, mesmo não engolindo a garota
insuportável. Ainda assim, não a julgava, isso não, exatamente por saber, ou
melhor, por não saber pelo o que passou e o que a transformou naquilo.
Como medida para melhorar a vida dela e incluir normalidade à sua
rotina, mamãe tentou fazê-la estudar, na mesma escola que eu, assim eu
mantinha um olho nela.
É claro, não deu muito certo. Foram aulas matadas, assassinadas,
expulsões e brigas. Na terceira expulsão, que seria a última, minha mãe fez
com que a aceitassem de volta. Até aí, mal nós nos falávamos, ou não nos
falávamos de jeito nenhum, até o dia em que vi um garoto, maior do que ela,
levantar a mão e acertar o seu rosto na quadra da escola.
Eu a vi se levantar, voar em cima do moleque e o acertar com toda
força. Mas ele era grande, ela não dava conta e, de novo, ele a derrubou. Meu
sangue ferveu, pois na cabeça da minha mãe, ela era a minha irmãzinha e o
pior, na minha também, mesmo ainda a odiando. Mas irmão é isso, não é?
Nunca os tive, mas sempre ouvir falar que se odeiam na mesma medida que
se amam.
Ainda não a amava, mas marchei em sua direção e segurei o moleque,
ainda me lembro do momento exato:
“Os olhos pretos ― bonitos em um rosto arranhando, inchado e com o
lábio cortado ― me olharam amedrontados, raivosos, quando me viu
segurando o moleque. Eu estava com o sangue fervendo, com raiva da
covardia que assisti, tanto do garoto como dos moleques ao redor.
― Vem, bate. Bate nele ― bradei e o garoto se assustou, tentando se
soltar. ― Anda, bate, mete o cacete, porra! ― pedi e ela olhava para mim
como se eu fosse algo de outro mundo.”
Chego a sorrir. Sophie não esperou outro comando, soltando um grito
doloroso preso em sua garganta, a menina se levantou e então o socou com
toda a força que tinha. De início, em seu rosto, mas depois se perdeu na raiva
e não tinha lugar certo. O soltei quando achei que bastava, sem causar
maiores danos que pequenos arranhões, deixando o moleque cair no chão, se
contorcendo.
Um merda medroso e covarde.
Foi a primeira vez que Sophie me olhou diferente. Não tinha muito a
dizer e o inferno já estava montado ao nosso redor. Fomos os dois para a
secretaria, calados, cúmplices, unidos por algo que aconteceu naquela tarde.
Foi ali, que percebi que eu amava a garota rabugenta, infernal, como
irmã. Eu poderia falar qualquer coisa, berrar com ela, xingar e dizer o quanto
era insuportável sua presença em minha casa, mas apenas eu e ninguém mais.
Minha mãe foi chamada, nós fomos expulsos, sem chances de retorno,
mas naquele dia, algo mais aconteceu. Após aquele episódio, depois de um
ano e meio lutando para que ela nos aceitasse e após minha mãe passar por
um divórcio sofrido, Sophie parou de fugir de nós, ao menos, e começou a
nos ver como um porto seguro, pois ela parou de fugir para voltar ao
orfanato.
Fomos mandados para outra escola no dia seguinte e dessa vez, não
houve briga, opressão, ou castigo da parte da minha mãe, apenas
compreensão e talvez um pingo de orgulho por eu tê-la protegido como
ninguém nunca fizera.
Ainda assim, ela não falava muito, nem depois disso. Foi quando em
uma noite, enquanto caía uma tempestade torrencial, eu acordei com a
sombra de alguém ao meu lado da cama, no meu quarto. Tomei um puta
susto e me pus sentado na hora, o coração a querer saltar pela boca.
Era ela, o rosto em lágrimas, sofrido, amedrontado e não me lembro de
jamais ter sentindo dor por outra pessoa como a que senti por ela naquele
instante. E enquanto eu estava sentado à beira da cama, à meia luz, ainda
paralisado, Sophie se sentou ao meu lado, limpando o rosto sem querer
mostrar sua dor, levando os joelhos ao peito e os abraçando.
Eu estava paralisado.
“― Tive um pesadelo, tá chovendo, posso ficar aqui?”
Foi o que disse, apenas, e não precisou de mais nada.
Eu só me afastei para o lado, na cama de solteiro, lhe dando o máximo
de espaço possível, dando lugar a ela, que se deitou comigo, se agasalhou e
ficou ali, até pegar no sono. A partir de então, minha cama virou seu refúgio
e começamos a criar amizade, a conversar, falar de tudo e de nada ao mesmo
tempo. Eu me tornei o seu protetor, amigo, confidente e ela a minha.
Quando mamãe descobriu o que fazíamos, em um primeiro momento
ela se preocupou de que eu estivesse me aproveitando da menina, de forma
romântica, mas se tranquilizou quando garanti a ela que jamais tocaria Sophie
dessa forma, que não a via assim, e sim, como uma irmã mais nova que eu
queria e ia proteger.
Sua desconfiança virou felicidade e meu quarto ganhou um beliche
desses que tem um tipo de gaveta com colchão embaixo, para quando ela
quisesse se refugiar comigo, pois descobrimos que seus pesadelos eram
recorrentes.
Funcionou muito bem, passamos a dormir juntos quase todas as noites,
inseparáveis, unidos como um só. O tipo de conexão que não se precisa falar,
entendemos um ao outro com o olhar, terminamos um a frase do outro,
sabemos exatamente o que um pensa e precisa, sem que ao menos nós
mesmos déssemos conta. Desde então, somos irmãos por opção e escolha.
Ela não carrega meu sobrenome, mas carrega parte de mim com ela.
A partir daí ela mudou também dentro de casa com minha mãe, mas
não fora dela, com outras pessoas. E mamãe viu no esporte uma forma de
ajudá-la a extravasar o que guardava só para si, ao menos assim incentivou a
psicóloga.
Claro, ela escolheu o boxe e eu acompanhei, deu certo, tanto que fez
disso sua paixão e profissão. Aos dezoito, tendo que sair do abrigo que ela
não mais morava, foi morar permanentemente conosco e claro, a essa altura
minha garota de ouro já era da família, minha mãe a idolatrava e ambos
víamos no esporte uma forma de vida.
Mamãe não tinha condições de bancar muito, porém, aos sete anos,
Sophie chegou a ser adotada, mas antes do período de teste acabar, sua mãe
adotiva faleceu e seu pai adotivo a devolveu e quão surpreendente foi,
quando descobrimos que ao morrer, o homem que a abandonou deixou toda
sua fortuna para ela?
Não uma quantia exorbitante, mas daria para ela arrumar a vida. A essa
altura, cursávamos Educação Física, tínhamos planos, em especial o de fazê-
la campeã, junto ao nosso antigo mestre.
Na época, ela ficou em dúvida se realmente aceitava o dinheiro, tinha
raiva do homem que a abandonou, apesar de guardar boas lembranças da
época que passou com ele e sua esposa e, por fim, após muito pensar, aceitou.
Ela tinha o capital, mas nós tínhamos zero cabeça e conhecimento para
qualquer negócio que fosse, nem idade, para ser sincero. Ainda estávamos
estudando.
Então focamos na carreira dela com o boxe, nos estudos, enquanto o
dinheiro ficava guardado. Um dia, jogados no tatame, suados e exaustos a
ideia de termos um negócio surgiu, mas claro, até então apenas ela possuía
verba de fato. Venho de uma família de classe média e sem muitas condições.
E quando falo em família, me refiro unicamente à minha mãe.
Na época, poderia ter pedido ajuda ao meu pai, mas preferia ficar de
fora da sociedade e trabalhar para ela, se fosse o caso.
A solução foi o Impala que herdei do meu avô. Uma relíquia, que valia
uma pequena fortuna, suficiente para um investimento meio a meio com
Sophie, para abrir nossa primeira academia, em um galpão alugado, com foco
no boxe. Deu muito certo, como podem ver, e recuperei o carro do meu avô
tempos depois, que hoje está muito bem guardado na garagem do prédio.
Meu único carro, até então.
E hoje temos isso tudo, montado do zero, com erros e acertos, uma
quase falência e muita cumplicidade de ambas as partes. Na atual conjectura,
além da matriz, temos mais quatro filiais espalhadas pela cidade, uma marca
e um modelo de vida saudável a oferecer, e queremos ainda muito mais.
Dou-me conta de que divaguei demais ao estar aqui nos fundos da
academia, perdido em meus pensamentos, o sol banhando meu rosto e nem
sei por que me aprofundei tanto. Talvez pelo motivo de que não tem como
dizer como isso tudo aqui começou, sem contar como minha história com a
senhora marrenta se deu início.
Observo com mais atenção os moleques brincando, rindo e se
divertindo no espaço aberto, próximo à piscina. Permaneço a meia distância,
sem querer atrapalhar Jadson, o professor, e os moleques.
A aula é gratuita, voltada para crianças e adolescentes e acontece aqui
duas vezes por semana, com foco em um projeto que criamos para crianças
carentes, seja do bairro ou de orfanatos próximos. Aprendi que o esporte
pode salvar vidas, muda o foco de uma mente perdida e reconstrói pessoas
que estão quebradas. Ele fez isso com Sophie, minha garota de ouro, e fará
também por essas crianças.
Por falar nela, sinto sua presença às minhas costas.
― Olha, o número parece maior.
― Se continuar assim, teremos que aumentar os dias, ou as aulas. De
manhã e à tarde por exemplo, o que acha? ― respondo.
― Sim, por mim, ótimo. Este espaço passa quase toda a semana vazio
mesmo. A não ser pelo grupo do Bope que aluga pra jogar bola.
― Exato.
― E aí, ainda com a cabeça na mulher? ― pergunta, abandonando o
tom de sarcasmo.
― Não. ― Sim, algo grita na minha cabeça, sabendo que uma cabeça
em especial não a esquece. ― Passou. Foi tesão, agora que sei que ela mentiu
até o nome, não faz mais sentindo.
Uma mentira, é óbvio, e ela sabe disso. Tenta, sem sucesso, disfarçar o
risinho de lado, ficando com as bochechas coradas.
― Ah, estão aí! ― Olho por cima do ombro, vendo Bruno, um amigo e
aluno assíduo da academia, se aproximar, enquanto Sophie revira os olhos ao
meu lado. ― Como os moleques estão se saindo? ― pergunta, interessado,
ele faz parte desse projeto também.
O projeto nasceu enquanto estávamos Alex, nosso amigo; Sophie; ele e
eu treinando no ringue. Na verdade, estávamos mais brincando que realmente
treinando e, depois, jogados na lona, tomando cerveja, a ideia surgiu. Um
projeto para crianças carentes, que Sophie abraçou no mesmo instante.
― Muito bem, estão interessados em ser como a campeã aqui ― falo,
passando o braço pelos ombros femininos.
Bruno, um cara de quase dois metros de altura, para ao nosso lado e
mede Sophie, que não lhe dá um segundo olhar. Os dois parecem cão e gato,
ela não o suporta, ele, por outro lado, não é diferente.
― Bom dia, Maria Sophie. Como dormiu? ― Só ele a chama assim,
ela odeia o nome completo.
― Não entendo em que minha noite te interessa, Bruno. Tem uns
bandidos por aí pra prender, não?
Ele gargalha a provocando e ela sempre cai, pavio curto como
ninguém. A menção de bandidos para prender, é que o cara ao meu lado é
capitão do BOPE, Batalhão de Operações da polícia militar do Rio de
Janeiro. Um bom amigo, o famoso pau para toda obra e ótimo para subir no
ringue. Quando preciso descarregar algo, socar alguém que seja do mesmo
nível que eu, acabamos os dois no ringue.
― Qual teu treino hoje? ― pergunto, interessado. Preciso descarregar
essa raiva que está aqui, inconsciente em meu peito. Junto à vontade de
segurar uma certa mulher pela nuca, grudá-la na parede e foder sua boceta
com força. ― Quer subir no ringue?
― Só se for agora. Faz dias que não soco tua cara feia.
― Vai sonhando, bora lá. Vem assistir, Sophie?
― Não, podem ir. Vou ficar por aqui namorando os moleques
treinarem mais um pouquinho. Mas ainda chego a tempo de ver Bruno babar
na lona ― provoca, ganhando um olhar de deboche dele antes de sairmos.
― Beleza, te esperamos lá.

O dia de ontem foi pauleira, por começar com o sexo ruim e a noite
péssima de sono. Porém, hoje não foi diferente, já que também dormi pouco à
noite. Devo estar ficando velho, é a única explicação para essa insônia
descabida. Olho o relógio e depois para a mulher dentro da piscina, imersa
embaixo da água, usando peso nos pés e nos punhos, socando o nada à sua
frente.
Trinta segundos.
― Bora lá, bora, pega os cinquenta... ― falo sozinho, já que ela não
pode me ouvir ―... 45, 46, 47, 48, 49... ― Comemoro, quando o ponteiro
bate cinquenta e dois segundos, ao tempo que a vejo despontar com esforço e
cuspir água, buscando ar, tentando não voltar a afundar com os pesos nos pés.
Paro o cronometro e vou para beirada, lhe estendendo a mão e ela me olha,
esperando que diga quanto tempo atingiu. ― Cinquenta e dois, porra! ―
comemoro.
Ela sorri, segurando minha mão e a puxo para fora da água, lhe
entregado uma toalha seca.
― Qual a meta agora?
― Primeiro manter os 52, nada de voltar aos 45 e depois tentar 55, mas
isso a longo prazo, vamos com calma.
Na última luta, tivemos uma costela fraturada, o que trouxe problemas
para seu pulmão. Desde então, tentamos recuperar o mesmo fôlego que ela
tinha antes.
― Tá, 52, por ora, me basta. ― E sua alegria me lembra uma criança
contente quando ganha algum brinquedo.
― Por hoje encerramos. Vai descansar ou volta para academia?
― Hoje o pessoal tá treinando, vou aparecer, dar uma força. Mas não
fico muito, acabou comigo hoje. O que te deu para chegar aqui às 4h da
manhã?
― Nada. Tá chegando o dia luta ― minto, foi um sonho erótico,
seguido de insônia por pau duro ao imaginar que a infeliz mentirosa estava a
poucos passos de mim. Mas isso não vem ao caso. ― O que foi? Tá ficando
mole, é?
― Tua bunda. Me respeita. Falou com sua mãe hoje?
― Nossa mãe? ― pergunto e ela anui, mas muda seu olhar de direção.
― Falei, quer a gente lá no sábado.
― Tá bom, não tenho nada para fazer sábado, mesmo.
― E mesmo se tivesse, iríamos do mesmo jeito. ― Ela sorri. ― Bora
assistir a um filme lá em casa mais tarde? Podemos comemorar a marca dos
52.
― Nem a pau, Ben, não é possível que não queira sair daqui e ir
dormir. Porque eu vou capotar logo depois do treino das nove, tenho certeza.
Nada de insônia hoje.
Sorrio, na verdade, não queria mesmo era ficar sozinho, também não
quero outra companhia feminina. Poderia implorar para que fosse dormir
comigo, ou ficar aqui, mas não quero atrapalhar seu descanso.
― Tá, vai lá pôr uma roupa seca, te espero lá fora. Vou ver se tem
alguma aluna nova precisando de atenção profissional.
Ela nega e me bate com a toalha.
― Toma vergonha, Benjamin.
― Ué, como proprietário, estou cuidando para que possamos dar o
melhor atendimento aos nossos alunos.
― Deveria era ir atrás da vizinha gostosa. ― Fecho minha expressão
na hora com sua menção.
Por falar nela, não tornei a vê-la.
― Não viaja, sibita. Agora vai se trocar, antes que pegue um resfriado.
Dou-lhe as costas, sem estar a fim de continuar no assunto “vizinha”,
pegando meu cronômetro e a garrafa de água que descansa ao lado. Passo
pelas portas de vidro, voltando ao galpão, ouvindo a batida da música, a
agitação, vozes a ecoar, alguns gritos animados que vêm da aula de dança lá
em cima e o cheiro costumeiro que se mistura ao de ferro, perfumes diversos
e suor. E, quer saber, eu amo isso aqui, essa animação, a vida que isso parece
ter.
― Dou conta disso aí não, gente, eu hein! ― Ouço alguém dizer e viro
meu pescoço por instinto, pronto para ajudar o rapaz que fala isso, que não
está longe de onde estou.
Paraliso, ouvindo também uma gargalhada feminina alta, gostosa,
escandalosa e única, ser solta ao ouvir o rapaz moreno falar, olhando dois
caras no ringue lutando.
Não pode ser...
Um raio sempre pode cair duas vezes no mesmo lugar

Observo André olhar dois homens em um ringue, lutando. Meu amigo


parece admirado, embasbacado, apesar de assistir e gostar bastante desse tipo
de luta, só que olhando assim de perto, ele parece realmente apavorado.
― Bicha, eu sou fã de UFC, mas acho que quero continuar um
gordinho gostoso mesmo. Tenho estrutura pra isso não. Ah lá, o gostoso
acabou de quebrar a costela do outro, certeza. Me jogar num negócio desse
assim, perco até as pregas do cu, eu, hein.
Não consigo controlar o riso escandaloso que me arremata e trago a
mão à boca, tentando me conter ao ver duas mulheres malhadas, com cara de
nojo, me olharem.
― Para, vai, não me faz rir como uma galinha aqui. Sem falar que
escolhemos o combo musculação mais aeróbica, nada de luta. Sendo assim,
nada de pânico.
― Sei... é, tem razão. Porque agora também, é questão de honra, né,
meu amor? Afinal, gastei todo meu limite de crédito em roupa para malhar e
esses tênis lindos aqui. Deus ajude que venha uma APL gorda, bem gorda,
este mês, porque olha, precisamos.
Concordo, ainda rindo. E, sim, estamos mesmo na academia. Como eu
disse antes, realmente me matriculei. Claro, arrastei ele comigo, mas não
antes de ser arrastada, ontem, por ele a um shopping e vê-lo se esbaldar em
compras de roupas esportivas.
Confesso que após chegar morta de cansaço do trabalho hoje, pensei
em desistir, não nego. Quem chega do trabalho e tem pique para malhar?
Animação? Eu não tenho, vim me arrastando mesmo.
Ganhei um tantinho de coragem ao chegar e sermos muito bem
atendidos pela recepcionista, já conhecemos até mesmo o primeiro andar da
academia e confesso, gostei muito do que eles oferecem.
Agora, estamos aqui, esperando um personal nos atender, pois antes de
qualquer coisa precisamos fazer uma avaliação física, para depois começar o
treino pesado. Enquanto isso, cá estamos nós, assistindo a uma luta de ego
entre dois gostosões em cima de um ringue.
Os caras lutando boxe são puros músculos, bombados além da conta e
me lembram alguém, gostoso para caralho, e no instante que esse
pensamento me toma, vergonha vem junto. Qual é, Mônica, ele tem
namorada.
Sai da minha cabeça, sai da minha cabeça, sai da minha cabeça. Esse
é o meu novo mantra, que venho cantando desde que descobri que o cara é
meu vizinho e que tem alguém. E quem sabe não é agora que começo a
minha vida superfitness? Aproveitando minha mais nova motivação, a força
do ódio. Nunca se sabe...
― Tá demorando, não? Se bem que não posso reclamar da vista, né,
Mon? Olha pra aquilo, cheguei aqui cego vou sair com visão de raio-X, meu
amor ― fala, disfarçando seu atual fascínio por um cara com mais músculos
que sua estrutura óssea possa carregar, babando no pobre homem.
― Cuidado, ele não me parece gay, nada de sair dando em cima de
qualquer um, controle-se. ― Rio, ouvindo-o resmungar.
― Ficaria surpresa com esses héteros enrustidos, no fundo doidos por
uma ruela.
― Cara, você não existe, sabia?
Deixo-o de olho nos gostosões, resmungando o quanto queria ser
rasgado por um deles e procuro ao redor a moça que nos atendeu, é quando
sinto André segurar meu braço de supetão, chamando minha atenção.
― Jesus, olha quem tá ali... e está vindo. Puta que pariu, disfarça,
criatura.
Sigo seu olhar e o sorriso congela em meu rosto ao ver nada mais nada
menos que o meu vizinho, barra, gostoso traidor, se aproximando de onde
estamos. Trazendo consigo um sorriso debochado no rosto e a recepcionista,
que nos atendeu, a tiracolo. Fico estática, a roupa apertada agora parecendo
me sufocar, um certo calafrio subindo por minha espinha e meu sorriso vai
morrendo aos poucos.
― Boa noite. E olha só, uma segunda coincidência para nós dois. É um
prazer ter você aqui, Mônica Maria.
― Obrigada. ― É André que se faz ouvir, já que minha língua
congelou na boca.
― Espero que tenham sido muito bem recebidos em nossa academia.
Eduarda me disse que é o primeiro dia dos dois, certo?
Espera, o que está acontecendo aqui? Para completar, a recepcionista
tem uma expressão mais que simpática em seu rosto, confirmando o que ele
diz.
― Sim, nosso primeiro dia ― André confirma e, sendo sincera, acho
que é o primeiro e o último, pelo andar da carruagem.
― Onde está o personal? ― Saio da minha sutil paralisia, o ignorando,
olhando diretamente para Eduarda ao perguntar isso, querendo me livrar da
droga da coincidência que ele citou.
― Ah, me desculpe a confusão, mas Benjamin disse que se conhecem e
faz questão de te atender. Não é ótimo?
Olho para o cara de pau à minha frente, como quem diz: contou
também que transamos e descobri depois que você não vale nada?
Mas o recepcionista volta a falar:
― É uma sorte que ele esteja disponível, pois hoje estamos lotamos e
com falta de funcionários. Estão na mão de um dos melhores personal,
acreditem.
Meu sangue gela e eu tenho a impressão, ao olhar para ele, que está
adorando essa situação. Não bastava morar no mesmo prédio que eu, tinha
que trabalhar também na mesma academia que irei malhar? Ou melhor, iria...
― Posso guiá-los hoje, isso, se não se importar, é claro, Mônica ―
fala, cínico, aquele risinho de lado, perfeito, decorando seu rosto. ― Mas
creio que não, certo? Fique tranquila, Duda, Mônica é minha vizinha. ― E ao
dizer isso para a recepcionista, ele usa de uma naturalidade ímpar, enquanto
estou muda, apática e seu olhar apreciativo passa de mim para André, lhe
estendendo a mão. ― Você, eu me lembro, mas não nos apresentamos na
boate naquela noite, certo?
Se eu tivesse a pele mais clara, certeza que estaria vermelha como
pimenta e sinto um desconforto descomunal quando ele fala daquela noite,
mesmo não me lembrando do que aconteceu entre nós, mas lembrando bem
que ele tem uma namorada.
― Sou o André. ― Meu amigo até engrossa a voz, bestificado com a
beleza do homem, mas sem querer dar o braço a torcer, devido ao meu ódio.
Nosso, virou um ódio coletivo, após meu desabafo no banheiro.
Para piorar minha situação, eu não consigo não olhar e a tentação
ambulante está usando um desses shorts masculinos molinho, que vai até os
joelhos e uma regata, cavada até suas costelas, dando para ver parte de ambas
as tatuagens em seu peito e braços, agora eu posso com muita, muita clareza.
Benjamin tem um leão no peito esquerdo, todo em tinta preta e um
gorila no direito também em preto e nem toda a raiva do mundo me impediria
de apreciar o infeliz. Forte, com braços musculosos e... Chega!
Esse é um caminho sem volta, Mônica Maria, para.
― Mas, neste caso, como é feita essa avaliação? ― pergunto, já
tentando achar uma forma de fugir disso.
― Coisa rápido. São informações que preciso sobre o seu corpo, seus
objetivos, como está sua curvatura, sua saúde etc., para poder depois montar
sua série. Hoje, por exemplo, só faremos sua avaliação, pois ainda irei
elaborar os treinos após ter suas medidas. ― Até parece profissional falando
assim, conhecer meu corpo...
Tremo só com essa frase, não impedindo o duplo sentindo, nem o
calafrio que se apossa da minha virilha. Chego a fechar os olhos e apertar as
pernas.
Tantos dias sem sentir tesão por alguém e quando enfim sinto... Droga!
― Vixe, minha condição física é podre, vou avisando logo,
completamente podre. Tem que pegar 0 pesado comigo de início, tenho trinta
anos, com coluna de sessenta, bonitão.
― André ― corto e Benjamin ri, sem jeito, mostrando dentes brancos
perfeitos e alinhadinhos. Infeliz, tem algo nele que não seja perfeito?
Custava ser mais feio? Ao menos ia facilitar para mim, ao não desejar o
homem da próxima.
Não que eu deseje, depois de saber da sua pilantragem, eu cortei
qualquer desejo por ele ou tentei.
― Fique tranquilo, não terá nada que não aguente, cuidaremos disso. E
como são dois, deixa só eu... ― Pausa e olha para os lados, chamando
alguém.
Procuro quem é e quase gemo.
A poucos passos de nós, está ela, que agora vem em nossa direção,
perfeita, a pele iluminada, nada fora do lugar, nem uma gordurinha, vestida
em um macacão preto, colado ao corpo e tênis, com os cabelos soltos e
molhados, linda. Pensando bem, os dois combinam.
Chego a sentir dor de barriga e André nota meu desconforto,
procurando o motivo.
― Meu Deus, é ela? ― pergunta, os olhos arregalados e sua pergunta
faz Benjamin o olhar.
― Ela o quê? ― Nego, totalmente desconfortável.
― Essa é Sophie, também proprietária da academia ― Eduarda
esclarece, parecendo orgulhosa.
Também proprietária? Ambos são donos disso aqui? Está de
brincadeira!
Não é difícil imaginar o porquê de todos ao redor a olharem enquanto
ela vem em nossa direção, a mulher realmente chama atenção, até André está
vidrado nela, quando, por fim, nos alcança com um sorriso mais que
simpático no rosto.
― Sophie, esses são nossos novos alunos ― apresenta, com
naturalidade, enquanto acho que meus olhos pularão das órbitas.
Seu sorriso é direcionado em especial para mim ou é coisa da minha
cabeça. Talvez seja paranoia de amante ver coisa onde não tem.
Só quero cavar um buraco e me enterrar nele, desintegrar. Mais de um
ano sem uma rola e quando, enfim, acho uma, ela é comprometida. Poderia
ser algo aleatório, o cara ser comprometido, eu nem saber disso quando
ficamos e nunca mais encontrá-lo na vida, mas não, o desgraçado bonito
tinha que ser meu vizinho.
― Meu Deus, me belisca!
― O que foi? ― pergunto, estranhando sua animação.
― Ela, bicha, é minha lutadora favorita! Campeã peso médio no UFC.
Ai, meu Deus! ― Não entendo nada e, como uma gazela no cio, André
começa a pular no lugar e quase sobe em cima da mulher. ― Dá licença aqui,
querido, que é o meu momento tiete de brilhar ― fala, empurrando Benjamin
para o lado.
Minha desolação só cresce, assim como a raiva e revolta. Sério que
perdi até mesmo meu amigo para essa mulher também? Uma coisa que era
para me ajudar... Espera, mas ele falou UFC? Lutadora, é isso?
Está explicado tanto músculo e perfeição, além de mal-encarada,
quando não está com esse riso perfeito na cara. Pronto, além de tudo corro o
risco de ser espancada quando ela se der conta de que dormi com o namorado
bosta dela.
― Mais um fã, Sophie. ― É Benjamin a dizer, risonho e orgulhoso.
Embuste.
― Tá brincando? Não perco uma luta dessa diva. Menina, que prazer
imenso te conhecer, mas me conta, como tá a costela? Quase morro de
preocupação quando soube que tinha quebrado. ― André desanda a falar e
ela faz certo esforço para acompanhar o que ele diz e, apesar de não parecer
muito à vontade com o assédio, Sophie não banca a antipática, tentando um
sorriso enquanto a observamos.
― Cem por cento recuperada, pronta para outra, e obrigada por sua
preocupação. Mas por que me chamou?
― Nada de outra, Sophie ― Benjamin a corta, enquanto ela tem o
braço encostado em seu ombro e eu me sinto sobrar, de forma humilhante. E
seus olhos não demoram a encontrar os meus. ― Sophie, pode atender
André? Hoje estamos apenas com Jack e Paulo, que já estão sobrecarregados,
e esses dois precisam de avaliação, eu fico com Mônica.
― Claro que sim.
― Claro que não ― corto, pigarreando em seguida, tentando disfarçar.
― Digo, digo... posso ser atendida por ela. ― Tento, querendo morrer.
― Nem pensar, minha chance aqui, Mon. Vai com o bonitão aí, que
vou aproveitar o meu momento. Vai lá, vai...
Eu quero afundar a cara dele.
― Ótimo. A sala de avaliação está pronta, Ben?
― As duas, Duda já agilizou. Vamos lá, então? ― Benjamin se dirige a
mim e faço uma careta sem jeito, olhando para os quatro cantos, querendo ir
embora.
― Talvez seja melhor voltar amanhã, com tempo de fazer a avaliação e
já o treino, o que acha, Dé? ― Tento, olhando de forma suplicante para
André, para que entenda minha súplica, mas meu amigo parece querer me
mandar calar a boca.
― Tá louca? Nem pensar... vou fazer uma avaliação com a deusa do
UFC, meu amor, quiçá ganhar até um autógrafo. Agora vai, que a gente se
encontra aqui quando acabar.
Ainda tento um olhar, ficando sem graça em tentar ir embora, medo de
que ela perceba algo e, por fim, sorrio sem jeito para ela, que me olha
parecendo me estudar e me volto para Benjamin, tirando o sorriso da cara.
― Vamos lá, então.
Sinto minhas pernas bambearem. Já fiz isso, avaliação, primeiro dia na
academia, só nunca fiquei por mais de dois meses. Quem nunca? E com isso,
sei como funciona.
― Por aqui. ― Sem demora, ele faz um sinal com a mão, indicando o
caminho e meus pés não querem ir.
Benjamin passa à minha frente e eu espero que Sophie e André façam o
mesmo, para ir logo atrás e dar uns tapas na cara de André, para ver se ele se
toca. Mas o meu futuro ex-amigo, que deveria estar aqui para me defender,
parece encantado demais em uma conversa com a tal Sophie para me
entender.
Será que esse é o nome dela mesmo? Para que americanizar tanto um
nome? Seria mais fácil um simples Sofia. Deus do céu! E olha o meu
veneno...
Mas, poxa, sou humana, gente. Está bem, o nome também é lindo.
― Por aqui! ― Ouço-o novamente e chego a dar um pulinho no lugar
ao me ver parada, aérea e fora do ar por tempo demais. Acabo por segui-lo,
desistindo de chutar André.
― Já apresentaram toda a academia para você?
― Não, só o primeiro andar.
― Ótimo, faremos isso enquanto subimos, então.
E, no subir, ele quer dizer escalar uma escada íngreme até demais,
cansa só de olhar. Logo, estamos tendo acesso a um espaço aberto de
musculação, com incontáveis aparelhos, desde esteiras até alguns aparelhos
invocados que nem sei para que servem.
― Este é o espaço destinado à musculação, é aqui que acontecem os
treinos. Ali atrás, como pode ver, é a lanchonete, e deixe-me indicar, eles têm
um ótimo cardápio, tudo natural, é claro.
― Eles? Não é sua também? ― deixo escapar, de repente curiosa.
― Não, cedemos o espaço quando nos apresentaram a ideia de
cardápios, além de marketing.
― Hum, entendi. ― Cedemos, o que dá a entender que não faz nada
sozinho.
― Nas laterais, são lojas de artigos esportivos, tudo o que precisar
encontrará aqui.
Uau. Olho as vitrines que aponta, vendo a mesma logo que tem na
academia lá fora.
― Tem uma marca própria?
― Sim, exatamente isso.
― Hum... ― murmuro apenas, o desconforto crescendo.
O quão rico esse cara é? Sim, porque a julgar seu estilo até aqui e o
apartamento no prédio modesto em que mora, eu jamais diria que é dono
disso tudo.
― Aqui, vamos subir mais alguns degraus.
― Tem mais?
― Mais um andar, que abriga a sala de dança, judô, jiu jitsu, muay thai,
entre outros.
Eu me dou conta de que o lugar é enorme, bem maior do que deixa
antever quando olhamos de fora. A cada passo fico mais impressionada e em
um silêncio incômodo, entramos em mais um corredor, este, com várias salas
de vidro divididas, com tamanho substanciais.
Uma delas está ocupada com aula de dança e assim que passamos por
ela, olhares femininos se voltam para nós, ou melhor, para ele. Algumas
chegam a cutucar a colega ao lado, enquanto ele parece alheio a toda essa
atenção. Oferecidas.
Tento não olhar, seguindo-o e há mais uma sala funcionando com aula
de alguma luta, que, obviamente, não sei distinguir e uma última que está
vazia. A cada passo, imagino estar indo para um matadouro, com medo,
ansiosa, com aquele frio insuportável no estômago. Por que não podia ser
mais fácil?
Nego o pensamento, estando ao final do corredor, vendo três portas e
me pergunto quando vamos voltar lá para baixo, afinal, ele só está me
mostrando a academia, certo? Errado. Pois Benjamin abre uma delas,
esperando que eu entre. Estanco.
― Não vou entrar aí! ― nego, de supetão, e ele me olha com um vinco
entre as sobrancelhas, como se eu estivesse falando uma besteira, incrédulo.
― É aqui que faço a avaliação, Mônica. É minha sala, não há outro
lugar.
A cada segundo me sinto mais idiota, envergonhada até para sustentar
seu olhar. O que diabos esse homem faz comigo? O que diabos estou
fazendo, mal pensando ao sentir tanto nervosismo.
Parece que desde que o conheci, venho sentindo muito isso, essa
revolta e inquietação, sem saber como agir em relação a ele e o que realmente
aconteceu entre nós. Essa seria a hora de tirar as coisas a limpo, certo?
Errado, pois não quero nem tocar no assunto.
― Vai entrar? ― pergunta, já que não saio do lugar.
Entro, calada, com medo de abrir a boca e passar vergonha novamente.
Olho ao redor, buscando me ocupar com algo que não seja ele. Sua sala é
pequena e prática, tem apenas uma mesa, dessas simples de escritório, com
duas cadeiras e ao fundo um armário cinza, com cinco gavetas, e só. Sobre a
mesa tem um notebook, alguns papéis, canetas e um porta-retratos com uma
fotografia.
Tanto trabalho para fugir do homem por nada.
Hoje cedo, por exemplo, passei bons dez minutos olhando pelo olho
mágico, até conseguir sair de casa, passando correndo frente à sua porta com
medo de encontrá-lo. Vergonha no mais alto grau, a começar por ele ter me
transformado em uma amante. Foi por uma noite, mas foi e essa sua
naturalidade toda está me matando.
Meu coração, que estava a todo vapor, parece ganhar um gás e vem à
boca, ao ver na foto: ele, Sophie e uma senhora mais velha, loira de cabelos
na altura dos ombros.
― Minha mãe ― fala, como se tivesse ouvido meus pensamentos,
dando de ombros. Talvez seja por me pegar com olhos presos na foto.
― Uma senhora bonita ― elogio, sem saber ao certo o que dizer.
― Concordo. Pode se sentar, tenho algumas perguntas a fazer, vamos
nos conhecer melhor.
Conhecer melhor... ele me conhece muito bem, deve saber até a
circunferência da minha boceta, já eu... nada.
― Nome completo e idade? ― Benjamin não me olha ao perguntar,
focado na tela do notebook e eu agradeço.
― Mônica Maria Silveira, vinte e seis anos.
― Trabalha com o que, Mônica?
― Sou bancária, caixa, para ser exata. ― Enquanto respondo, não paro
de bater o pé, um tique nervoso incontrolável.
― Bancária está bom. Passa muito tempo sentada, então?
― O dia inteiro.
― E a postura? Tem uma boa postura durante esse tempo?
― Claro, o de corcunda de Notre Dame ― solto, na inocência, e ele ri,
bonito, sensual, um pecado.
Fico aqui, sem graça, olhando para qualquer lugar menos para sua cara
bonita de enganador tarado. E em seguida vem uma sucessão de perguntas,
desde doenças na família até o que eu espero com os exercícios, como qual
peso quero alcançar.
Pelo amor de Deus, o que pode ser mais broxante que isso?
Ah, claro, descobrir que ele tem namorada, uma namorada que é sócia
dele em tempo integral, linda, independente e uma lutadora profissional.
― Perfeito. Levanta e vai até aquela parede, tira a blusa e os tênis,
Mônica, por gentileza.
― Oi? ― Paro de morder o canto da boca e o encaro.
― Vou fazer sua pesagem, medir sua circunferência.
― Tá de sacanagem, né?
― Nunca fez uma avalição física? ― pergunta sério e eu confirmo. ―
Não sei o que está passando por sua cabeça, mas estou sendo profissional
com você, apenas, e deve saber disso, já que acaba de dizer que não é sua
primeira avaliação. É um pedido comum, não seria preciso tirar suas medidas
por cima de uma blusa folgada como a sua. Se podemos continuar, tire o que
pedi e suba na balança, por favor.
Coro, sem falar uma palavra, e me levanto. Tiro meus tênis,
permanecendo de cabeça baixa, meu coração a querer rasgar meu peito de
tamanha pressa. Ele se levanta também, pegando algo no armário, enquanto
subo na balança — meio diferente — próxima à parede, e tiro a merda da
blusa, ficando apenas com meu top vermelho e o short.
Poucos segundos e Benjamin está à minha frente, se agachando,
pegando um tipo de pedal preso na balança por um fio e me entregando.
― Estique os braços e segure por alguns segundos, sem se mexer. ―
Faço o que pede e ele volta para a mesa, digitando algo no note. ― Ótimo,
pode descer. Agora preciso que se sente no chão, encoste sua coluna na
parede e mantenha sua postura reta, vamos testá-la. ― Ele retorna para perto,
muito perto, enquanto sigo seus comandos. ― Perfeito, tente tocar as pontas
dos pés. ― E faço tudo o que pede sem dizer uma palavra, sentindo minha
pele formigar a cada toque. ― Ótimo, agora se levanta e estique os braços. ―
De forma cavalheira, ele me estende as mãos, a fim de me ajudar.
Constrangedor, é exatamente o que é e só piora quando, com um tipo
de pagador de macarrão, parecido com esses de cozinha mesmo, ele vem
segurando minhas gordurinhas entre os dedos e as medindo com o utensílio.
Nada passa por ele, que vai desde as costas, braços, pernas, barriga,
coxas até a bunda, tudo. E só quero me afundar em um poço. O pior? É que
ainda paguei por essa merda.
Fico olhando para cima, para o lado, para qualquer lugar que não seja
seu rosto, já que vez ou outra sinto seus olhos em mim. Já com o pescoço
dolorido, olho para baixo, um erro. Puta merda, antes tivesse focado o teto e
dado torcicolo no pescoço.
O short fino, agora tem um volume avantajado à frente. Não está duro,
em pleno vapor, não, está mais para o estilo meio mastro. Meu Jesus... E ele
parece notar para onde olho, se afastando com certa brusquidão, virando de
costas, indo para sua mesa e eu me sinto mole.
― Pode se vestir, por favor. ― Ouço-o arranhar a garganta, de costas
ao guardar algo, estralando o pescoço para um lado e para outro, demorando
um tico a se virar.
Sento-me, sem graça, terminando de vestir a blusa, desconfortável,
querendo chorar e ir embora para nunca mais voltar, foda-se o dinheiro.
― Terminamos?
― Quase, só vou finalizar sua ficha. ― Ele volta a se sentar e quase
gemo. ― Seu objetivo não está tão longe do seu alcance, pelo contrário, seu
percentual de gordura não é alto, um bom treino e logo alcançamos seu
objetivo, Mônica. Sem muito esforço, você já tem um belo corpo, vamos
apenas acentuar isso.
Confirmo, muda, sem querer dizer: nunca mais coloco os pés aqui.
― Droga, me esqueci de medir sua altura. Me desculpe, isso nunca
acontece. Pode ficar de costas para a parede, na medida, é a última coisa e já
terminamos. Amanhã, quando voltar, sua ficha estará pronta na recepção.
― Claro, sem problemas. ― Só mais um pouco e está acabando.
Dou graças a Deus por já estarmos terminando e ele não ter tocado no
assunto: noite na boate, uma segunda vez.
Fico rente à parede como me pede, pescoço alongado e ele se
aproxima, de novo, desta vez, sem o volume evidente a querer saltar frente ao
short. O problema é que Benjamin está muito próximo, olhando acima da
minha cabeça.
Desta vez, não sei se é por sentir seu perfume tão perto, mas eu não
consigo desviar meus olhos quando, devagar, seu olhar cai sobre meu rosto e
um calafrio, gostoso demais, sobe por minha espinha, sem controle nenhum.
É por instinto que aperto minha perna uma na outra, o que diabos esse
infeliz faz comigo?
Ambos parecemos suspensos, presos nos olhando. Seus olhos são
verdes, inesquecíveis, eu diria.
― Por que mentiu seu nome pra mim? Por que saiu daquele jeito? ―
pergunta, rouco, predador, espalmando as mãos uma de cada lado da minha
cabeça, perto, muito perto.
― Co-co-co-como?
― Naquela noite, por que me deu o nome errado?
― Não sei do que está falando e não está sendo profissional agora.
Um sorriso desponta nos lábios bem-desenhados, prendendo a minha
atenção quando sua língua umedece seus lábios e me sinto derreter.
― Não sabe? ― Nego e sua cabeça se abaixa, em direção ao meu
pescoço, sua barba correndo por minha pele sensível atrás da orelha,
alcançando meu lóbulo e mordiscando, enviando um sinal de puro tesão ao
meu sexo. ― Quer que eu seja profissional? ― Nada digo e não consigo
esconder um gemido que me escapa. Inferno. ― Então me conta, por que
mentiu pra mim?
Menti...
Eu não menti, ele sim. Pior, enganou a mim e a droga da namorada
dele, que neste momento está em algum lugar lá embaixo, podendo entrar
aqui a qualquer momento. Com isso, pareço acordar de um transe composto
de puro tesão, espalmando minhas mãos em seu peito, empurrando,
afastando-o de mim, impondo uma distância segura entre nós.
Saio de seu alcance, indo até próximo à cadeira que eu estava sentada
há pouco, pegando meus tênis.
― Faz isso com todas as suas alunas? Não tem vergonha ou escrúpulos,
seu, seu, seu... aproveitador? Faça um favor a nós três, fique longe de mim,
respeite a mulher que está com você, idiota! ― despejo, meu corpo de
repente tremendo de raiva.
Raiva de mim, dele, já nem importa.
Ainda vejo-o arregalar os olhos, abrindo a boca, dando um passo em
minha direção, mas não espero, saio da sala, batendo com força a porta atrás
de mim.
Não importa quanto paguei, mas não volto aqui, nunca mais!
Coincidências realmente acontecem
Saio apressada pelo corredor, como se o diabo estivesse atrás de mim,
até meu corpo está frio, minhas mãos suando em bicas de tanto nervoso e
antes mesmo de alcançar o primeiro andar, já avisto André, parado quase
onde estávamos antes, encostado em uma pilastra, derretido pela boxeadora
adorável à sua frente.
Vendido esse!
― Oi, e aí já terminaram? ― chamo a atenção dos dois ao me
aproximar, parando meio afoita, cansada por quase ter descido as escadas
correndo.
― Ah, já sim. Foi perfeito, Mon, essa mulher é uma diva!
Olho-o, queria poder disfarçar o meu ranço, pois não é difícil ver que
André está completamente apaixonado por ela, só vi ele assim uma vez, no
show da Ivete Sangalo, ele é louco por ela.
― Que bom, então vamos? ― Estou nervosa e com isso fico trocando
o peso do corpo de uma perna para outra, como um tique, inquieta.
― E como foi, Mônica? ― Essa mulher vai perceber e vai fazer de
mim seu saco de pancadas, certeza.
Tento disfarçar, mas meus olhos voam para ela, que parece curiosa,
avaliativa, talvez por ver a confusão estampada em minha testa, em letras
garrafais.
― Foi bom, foi... prático. Sem toques ou conversas paralelas, nada
disso, muito profissional ― cuspo tudo de uma vez e tenho vontade de tapar
minha boca quando André me olha com cara de: tá falando do quê, criatura?
Deus, eu sou uma farsa!
― Agora preciso mesmo ir, precisamos. Foi um prazer rever você,
Sophie. Vamos, Dé?
― Ah, mas já? ― Isso sai quase como um muxoxo e olho-o, quase
suplicante. E até que enfim ele parece me entender. ― Gente, não é que
fiquei tão absorto, que esqueci? Claro, vamos, tem nosso compromisso. ―
Ri, bobo, ao confirmar minha mentira e sinto alívio quando ele se vira para a
mulher que não perde um detalhe sequer da nossa interação. ― Minha diva,
muito obrigado por toda atenção. Realizou um dos meus sonhos de puta,
juro! Estou com o coração partindo em já ter que ir, mas o dever me chama.
― Ele a faz rir com tanta babação, enquanto está todo derretido como uma
criança em um carrossel.
― Que bom que gostou do nosso espaço, agradeço por escolherem a
Tribus e, espero você amanhã para o treino, os dois, na verdade.
― Sim, com toda certeza.
― Isso, toda certeza. Boa noite ― minto, descaradamente, e puxo um
André derretido direto para a saída deste lugar.
Sigo, aliviada, e como se eu estivesse sendo puxada por um ímã, meu
olhar é atraído para o parapeito do segundo andar, direto para o homem
grande que me observa. Benjamin está parado lá em cima, braços sobre o
encosto de ferro, meio curvado, olhando diretamente para mim de forma
indecifrável, me causando algo que não sei explicar, mas que faz meu
coração querer saltar pela boca.
Que baita confusão eu me meti.
Mudo meu olhar, tentando fugir, parando apenas na catraca da
recepção, para uma Eduarda que se despede de nós risonha, exalando
simpatia. Mal ouço, quero só estar livre e saio para a rua, só então me
sentindo segura suficiente para segurar o peso do meu próprio corpo.
― Menina, o que foi isso? Tu surtou ou o gostosão fez alguma coisa
contigo? Porque se fez, sinto muito, mas não dou conta de dar uns sopapos
nele não, eu, hein. Pessoa louca!
― Droga, Dé, não é isso. Não se deu conta ainda? É ela... ela é a
namorada traída, caramba. Foi com essa mulher que ele saiu abraçado do
apartamento, ontem ― solto tudo tão rápido, que fico em dúvida se ele
entendeu.
Sei que sim, pois André me olha estatelado, parecendo em choque por
segundo, para então começar a rir descontroladamente, me deixando
perdidinha.
― Tá maluca, bicha? Claro que não. Ela é solteira, surtou? Alguns
dizem que é até lésbica, está surtada, garota?
Nego, certa de que está enganado, muito enganado, eu vi!
― Talvez não conheça tão bem sua diva assim, porque eu sei o que vi,
André. Foi ela quem estava no apartamento dele, naquela manhã, são sócios,
cheios de intimidade. Se liga, vai dizer que não notou aquela intimidade?
André para de andar quando já estamos próximo do seu carro,
ponderando e me olha, mudando o foco para a academia logo depois.
― Não, não, não. Ele é o treinador dela, já vi várias lutas e em todas
ele estava com ela, mas nada de relação amorosa. Houve um engano aí,
bicha.
― Claro que ele estava ao lado dela, pois também é o namorado. Por
que diabos ela estaria na casa dele, logo cedo, reclamando por ele não ter
dormido? Treinando se sentar em cima dele, só se for.
Sinto até uma pontada de algo aqui dentro, que aviso logo, não é ciúme,
e balanço a mão no ar, em desdém, e sem nada a dizer, vou em direção ao
Gol prata velhinho de André, que ele cuida como cuidaria da própria mãe.
― Não sei não, hein... isso tá estranho. Você viu algo mais íntimo?
― Não, isso não. Só ela dizendo que o sentiu passar a noite toda se
mexendo na cama e ele com o braço em seus ombros, abraçadinhos. Quer
mais que isso?
Entramos no carro, os dois, ele em silêncio, pensativo, eu ainda
tentando acalmar meu coração e fazer minhas pernas pararem de tremer.
― Espera, bicha, isso não me convence. Ali não tem fogo de pica, não,
gata. Não viu? Os dois juntos é tipo... eu e você, desde a escola, os nerds.
Mas com relação ao relacionamento, nada a ver com romantismo.
― Foco, Dé, não tá vendo o que realmente rola e esquece a escola ―
peço, vendo-o ligar o carro.
― Mas se essa paranoia aí for verdade...
― É verdade.
― Sim, partindo do ponto de que as suas desconfianças são
verdadeiras, não fui um bom amigo hoje contigo, né? Acabei focando na
diva... quer dizer, na Sophie e te esqueci, te entregando aos lobos. Ou melhor,
ao lobo delícia lá dentro.
― É, e eu senti vontade de chutar sua bunda.
Rimos, enquanto ele coloca o carro em movimento. Mas em nada o riso
remete ao que sinto por dentro, um misto estranho de sentimentos. Mágoa,
culpa, raiva.
― Desculpa, meu chuchu. Não foi por mal, é que eu acompanho aquela
mulher, não perco uma luta, eu tinha que tietar. Mas agora é sério, ela nunca,
jamais demonstrou estar em um relacionamento com ninguém, menos ainda
com o treinador dela, sendo assim, jamais poderia imaginar que era dela que
falamos aquele dia.
― É, pois é.
― Bem que, naquela noite quando o vi, eu sabia que conhecia aquele
cara de algum lugar, só não conseguia lembrar. Mas agora conta, o que
aconteceu lá?
Solto um muxoxo, tapando o rosto com as mãos.
― Não começou mal, ele estava profissional até chegar perto demais,
cheiroso demais, gostoso demais e perguntar por que eu menti meu nome na
tal noite. Eu cheguei a amolecer, Dé, estraguei minha calcinha de tanto tesão
e saí correndo em seguida. Nunca mais piso aqui. ― Mais calma, fecho meus
olhos, encostando minha cabeça no banco do carro.
― Ficou maluca? Deixou teu último centavo aqui hoje. Vai voltar, sim.
― Não vai rolar e meu coração tá doendo com isso, mas não dá. Eu
tremi inteira só de ver a mulher e olha que eu nem me lembro do que fiz com
o macho dela. Se eu voltar, eu vou me entregar, sei disso e vou acabar toda
quebrada em alguma vala por aí.
― Não viaja, bicha. Teu problema é esse nervosismo besta que te faz
falar demais e agir como maluca, na maioria do tempo, nas piores situações.
Tem que se controlar. Provável que sequer confrontou o cara.
― Não mesmo. E precisa? Conheço um galinha quando vejo um.
― Nem tanto, né... se julgar pelo...
― Foi esse infeliz mesmo quem me deixou escaldada, aprendi a lição.
Nem pensar, não vou correr riscos, já basta o infeliz morar ao lado do meu
apartamento, está decidido, não vou voltar ― falo, convicta, enquanto André
nega, sentado atrás do volante.
Ficamos calados por instantes e não deixo de voltar no tempo, um ano e
meio atrás, para ser mais exata, no meu quarto, na casa dos meus pais, vestida
em uma lingerie branca, própria para minha lua de mel.
No momento em que Neto dissera que me traiu e que não iria mais se
casar, eu ri, desesperadamente, sem conseguir controle algum, quase me
dobrando ao meio, um riso que não demorou a virar um choro descontrolado
ao me dar conta de tudo.
Ele tentou me tocar, me consolar e lembro bem da sensação de nojo
que senti ao imaginar que, horas antes, as mesmas mãos que queriam me
tocar passeavam em outro corpo que não o meu. Me odiei, o odiei, pois eu
tinha passado a viver para ele, para o nosso relacionamento, um erro imbecil,
mas foi algo que nem percebi acontecer.
Fui me fechando aos poucos, deixando as amizades, os barzinhos, me
restringindo a André e Bella, me apegando em pequenas críticas que ele
fazia.
Você é simpática demais!
Dá conversa demais paras estranhos!
Sorri demais e de forma muito escandalosa, que chama muita atenção!
Essa roupa é muito curta!
Tem que ser menos periguete, se dê mais o respeito!
Para que sair, se eu não posso ir?
Aos poucos, fui deixando o que eu gostava de fazer, sem nem me dar
conta e, por fim, quando dei por mim, estava sendo deixada na véspera do
meu casamento. Eu surtei.
Deixei Neto plantado no quarto, tentando arrumar desculpas ao que não
tinha desculpa e saí pela porta, de lingerie, pegando apenas um roupão caído
ao lado. Eu só queria distância.
Desci as escadas, correndo, ouvindo alguém me chamar, mas eu não
parei, não consegui. Busquei qualquer lugar no mundo que não fosse estar
perto de quem quer que fosse e fui para onde ninguém me acharia.
Não durou muito, claro, fui encontrada no dia seguinte pelo meu pai, na
casa da minha falecida avó, deitada no tapete da sala, sem me dar conta de
quanto tempo tinha se passado, sozinha.
Estava no limbo, não era eu.
Voltei com papai para casa naquela tarde, aérea, sem chão. Nem tanto
por ser deixada no altar, mas pelo arrependimento por jogar anos da minha
vida fora.
Ainda tive que ouvir minha mãe discutir comigo, com meu pai, com
todos e dizer que eu não servi nem mesmo para segurar um homem no dia do
casamento. O grande partido, que ela tinha arrumado para mim, o filho do
ilustre prefeito da cidade e que esfreguei sua cara na lama, que todos estavam
falando de mim, da nossa família.
Foi a pior semana da minha vida.
A verdade é que mal ouvi, ignorei e apenas subi para o meu quarto,
ficando lá, jogada na cama, sem querer ver absolutamente ninguém. Como se
estivesse de luto... mas sim, Neto tinha morrido naquele dia para mim.
No dia seguinte, bem cedo, eu estava com as malas prontas. Todos na
cidade, que não era lá grande coisa, já sabiam o que havia acontecido e, como
eu tinha tirado férias para aproveitar a viagem de lua de mel, peguei meu
carro e vim para cá, aceitando o convite de André.
Não queria ficar na casa dos meus pais, não queria ver minha mãe,
ninguém, menos ainda Neto.
Caso eu tivesse ficado, acabaria nos esbarrando, pois para meu azar,
sua empresa prestava serviço para o banco ao qual eu trabalhava e sua
presença era constante, além de tudo tinha toda a fofoca à minha volta.
Tive um mês para organizar minha transferência e peguei a vaga de
caixa na primeira agência que encontrei, sem pensar direito, fazer as contas
de que meu salário diminuiria em no mínimo, dois mil e quinhentos reais,
líquidos.
Nada me preparou para todo o perrengue que passei, ainda estou
passando, na verdade. Tudo se acumulou e a conta do casamento chegou.
A festa gigante ao qual eu sempre sonhei, que custou o que eu não
tinha, muito dinheiro que foi jogado no lixo. Não recuperei nada do valor,
dado o cancelamento da festa na data escolhida, não teve jeito.
Acho que esse é o preço para a garota idiota, que passa toda sua vida
sonhando com um lindo casamento para sua vida. Estamos no século 21, eu
poderia ter sido mais inteligente.
Afundei em dívidas por causa de um sonho sem sentindo e não aceitei
ajuda. Minha família não tem uma condição ruim, porém, eu não iria jogar
essa conta para eles, nada disso. Ainda mais com minha mãe jogando em
minha cara o tempo todo o fiasco que sou. Para ela, a culpa foi minha.
Fiquei na merda, literalmente. Me desfiz do meu carro, tranquei a
faculdade e, até o momento, tento um cargo que me permita ganhar mais no
banco para colocar minha vida financeira em dia.
Toco minha têmpora, talvez isso, o que aconteceu no passado, com
Neto, esteja mexendo comigo agora, quando sem querer, me coloquei entre
um casal.
Quer dizer, foi só uma noite, mas isso me causa um mal-estar que não
sei explicar. Pois sei, que não fui a primeira e a bela mulher, lá na academia,
deve ter mais chifres na cabeça do que poderia contar e sei bem a dor que
isso causa quando se ama alguém.
Para piorar, querendo ou não, sempre irei esbarrar com ele, ou melhor,
com eles nos corredores do prédio...
Meu casamento desastroso é a única explicação para que eu me sinta
assim, tão mal. Talvez, no fundo, me sinta tão mal, pois mesmo sabendo que
tem alguém, sinto uma puta atração por ele e me odeio por isso.
Sim, porque mesmo sem me lembrar da noite que passamos juntos, ele
não sai da minha cabeça, vira e mexe ele entra em meus pensamentos e me
causa calafrios. Coloco a culpa em estar no escuro com relação ao que
aconteceu entre nós dois, mas sabemos que, na verdade, eu queria mesmo era
repetir o que fizemos naquela noite.
Suspiro, me ajeitando no banco quando André estaciona frente ao meu
prédio e me olha de lado, parecendo entender o que se passa aqui dentro.
― Aí, para com essa cara, Mon. Passou, foi uma noite, você não sabia,
não tinha como prever que era comprometido, não é sua culpa. Além do
mais, não estou convencido de que eles tenham mesmo um relacionamento.
― O que não tem? Algo realmente sério, você quer dizer? Porque
sabemos que ao menos dormir juntos, eles dormem, além de passar os dias
juntos, serem sócios, além de ter uma foto na sala dele com ela e a mãe. Uma
foto família mesmo, perfeita.
― Sério?
― Sim...
― Eu poderia dizer que talvez são primos ou irmãos, mas ela é órfã,
uma história de vida realmente linda, precisa ver.
― Ai, meu Deus! ― Pronto, tudo que eu precisava saber.
― Não surta, Mônica Maria, não se desespera ou dou na tua cara. Olha,
vou te mandar a real. Vou dar uma de bicha conselheira agora, então
aproveita. ― E ele parece incorporar o momento. ― Esquece isso, toca pra
frente, como se aquela noite não tivesse existisse, tente deixar isso de lado.
Pois pensa, você vai topar com ele às vezes e não pode ficar como um
estivesse vendo a um fantasma, assustada, sempre que isso acontecer. Se
aproveite da sua amnésia alcoólica e esquece ele, de vez.
― Eu sei, eu sei...
― Então começa agora.
Suspiro, vencida.
― Tá bom... vou esquecer, prometo. ― Sendo sincera é o que
realmente preciso fazer, de preferência começar agora mesmo. ― Quer subir?
Podemos pedir pizza... ― Tento meu melhor sorriso e ele faz cara de esnobe.
― E a dieta?
― A gente come e amanhã recomeça. Não vou mais para academia
mesmo, não este mês, já que a verba acabou. Mês que vem tento achar outra
por aqui.
― E se eu pagar pra você?
Ah... agora diz se ele não é a melhor pessoa do mundo?
― Claro que não, não surta. Dia vinte e um já está bem aí e terei limite
novamente. Faz um seguinte, continua lá este mês, você fez um investimento
muito maior que eu comprando todas essas roupas. Mês que vem a gente
procura outra.
― Não vai ficar chateada?
― Claro que não. ― Talvez enciumada, mas chateada, jamais.
Ganho um tapinha na perna, ele todo contente e com um sorriso no
rosto, saímos do carro e sei bem que ele não quer continuar pelo investimento
e, sim, por sua diva. Tiete barata.
― E prometo tentar controlar o meu ciúme de você com a senhora
perfeita.
André gargalha, acionando o alarme do carro e se aproxima, me
abraçando pelos ombros e me trazendo para si, beijando meu rosto, enquanto
vamos em direção à entrada do prédio.
― Bora que minhas tripas grossas estão fazendo aperitivo das finas.
Palhaço!
Meus pensamentos não estão realmente aqui. Queria só dormir e
esquecer aquela noite de vez, que o conheci, esse homem é um perigo para
minha sanidade.
Malucos também amam?

Maluca!
É a única explicação posso dar para o que acabou de acontecer dentro
daquela sala, enquanto ainda estou aqui, no segundo andar, vendo Mônica
sair apressada, balançando a bunda para lá e para cá, como se estivesse
fugindo de uma tempestade. Não perco um movimento sequer.
Mas a dúvida que me assalta é: do que ela estava falando quando saiu?
Por que se comporta dessa forma nas duas vezes que nos encontramos?
Também fui uma besta de me aproximar tanto, mas não consegui
segurar.
De início, eu não ia tentar nada, não ia tocar no assunto, ela parecia
querer fingir que nada aconteceu e eu faria o mesmo. O problema foi aquele
olhar e o desejo que senti.
Aproximei-me sem muito medir, sem controle parar dissimular que eu
não já a tinha beijado, tocado seu corpo. Assisti, com prazer, ela ficar
ofegante, mole com minha aproximação, nada indiferente a mim, para, no
minuto seguinte, parecer ter sido possuída por um demônio, um sem noção
alguma.
Para ser sincero, não soube nem o que responder quando as mãos
delicadas tocaram meu peito e me afastaram para longe, enquanto sua boca
cuspia sua revolta com minha aproximação.
Talvez, eu tenha interpretado os sinais do seu corpo errado. Poderia ser
apenas nervosismo com o fato de estar desconfortável sozinha na sala
comigo. Eu só queria saber o que passa por sua cabeça maluca, pois de todos
os sinais e atitudes que espero dela, nada vem como o esperado.
Aquela mulher é uma incógnita.
Mônica não faz nada do que eu espero. Não que eu esperasse muito,
não esperava nem a ver mais e olha só. Na primeira noite, por exemplo, eu
não imaginava um boquete tão logo que estávamos no quarto do hotel, que,
de forma idiota, eu escolhi.
Primeiro, ela ficou meio sem graça, deslocada, olhando todos os lados
ao redor do quarto, com os olhos meio sonolentos. Fui ao banheiro, para dar
tempo a ela, nem sei o porquê, ela só não se encaixava ali comigo, para uma
noite de foda quente, apenas. Não sei explicar o porquê dessa percepção.
Só que mal abri a porta do banheiro para sair e lá estava ela, perfeita,
pronta e quando me empurrou contra a parede, quase nos derrubando e me
beijou, sedenta, apressada, foi como pegar fogo.
A mulher passou as mãos com unhas bem-cuidadas no meu peito,
fazendo um arrepio gostoso subir por minha espinha, enquanto eu espalmava
a mão em sua bunda e foi descendo de forma sensual, se agachando devagar,
olhos nos meus, a calcinha rosa de renda transparente aparecendo, molhada e
eu cheguei a sorrir com a imagem tentadora que era ela à minha frente. E
quando segurou meu...
― Ben. ― Pareço sair em queda livre dos meus pensamentos, excitado,
quando ouço meu nome ser chamado por Sophie.
Não chego a me virar, só a olho por cima do ombro, sentindo a boxer
mais apertada, meu pau ganhou vida ao pensar na infeliz, assim como há
pouco, lá dentro, ao vê-la naquele top. Tentação do inferno.
― Fala.
― O que fez a ela? ― pergunta, sem nenhuma sombra de dúvida.
― Eu? Por que eu faria algo? ― Sei que não tenho a ficha mais linda
do mundo, mas desta vez, desta vez, sou inocente.
Sophie se aproxima, se encostando ao meu lado, sem me tocar ao me
olhar, risonha, batendo seu ombro no meu.
― Porque é você...
― Besteira.
― Acha? Ela parecia fugir do purgatório.
― Acho que está assistindo a sobrenatural demais, é o que acho e quer
mesmo saber? Ela só é louca, isso sim.
― Não seja idiota.
Errada ela não está, estou mesmo sendo idiota ou só confuso com o que
acabou de acontecer.
― Ah, quer saber, não quero falar disso. ― E com isso ela ganha a
resposta que queria.
Sou famoso na família por fugir de assuntos importantes, não costumo
falar de coisas que me incomodam. Meu pai é um exemplo claro disso, não
toco no assunto, ele deixou de existir ao sair de casa. E sobre minha vizinha,
não quero dar mais importância do que já dei para a fujona. Já fiz isso além
da conta.
― Se não quer falar, tudo bem. Mas ela não volta, isso eu tenho
certeza.
― Problema é dela! Se pagou com cartão, peça para cancelar. Não é
difícil.
― Duda vai surtar, isso dá um trabalhinho.
― Ela que se vire, esse é seu o trabalho!
Ela bufa com impaciência ao meu lado, finjo não ver.
― Ih, já vi que não quer conversar. Odeio quando está de mau humor.
― Sério? Talvez com isso você melhore seu temperamento, já que vive
com o cu na cara. ― Cutuco a fera, que levanta as mãos em pedido de paz.
― Tá, entendi, pare com isso ou vai falar merda. Fique aí se
engasgando com o que quer que seja, eu vou indo. Preciso dormir. ― Não
estranho, ela não é de adular muito, menos ainda quando jogo a bola para ela
e com isso, sei que não irá insistir, por ora, ao menos.
― Melhor e não esquece, vamos almoçar com mamãe no fim de
semana.
― Tinha me esquecido completamente.
― Sorte a sua que estou aqui para te lembrar.
― Merda!
Procuro o que a faz praguejar, os olhos em algo lá embaixo e não vou
muito longe para achar o motivo. É Bruno, acabando de entrar na academia.
Sorrio, talvez subir no ringue com ele me ajude, preciso jogar fora essa
energia presa em meu corpo.
― Deveria parar com essa implicância com o cara.
― Meu ovo! Bruno é insuportável, odeio homens desse tipo. Sabe que
só suporto o cuzão por causa de Lanna e Alex. ― Claro que sei, foi como se
conheceram, através de dois amigos em comum e por serem casados, Sophie
e Bruno acabaram por terem que se comportar frente aos amigos.
― Você odeia todos os homens, Sophie, conta uma novidade. ― Ela dá
de ombros.
― Isso não é verdade, eu não odeio você, por exemplo ― fala,
tentando esconder o carinho. Toco sua testa, quase um peteleco.
― Foi obrigada a me amar, não pode fugir de mim, me empurraram
goela abaixo como seu irmão.
― Bobão, vou aproveitar a deixa e descansar, aproveitar a chegada do
insuportável e me esconder no quarto.
― Vai lá, amanhã recomeçamos.
― Não apareça às quatro novamente ou esmago sua cabeça com os
alteres.
― Boa noite, marrenta, não se esqueça de comer alguma coisa.
― Vou até a lanchonete e boa noite pra você também. ― Assisto-a
sair, mas para por algum motivo, me olhando por sobre o ombro. ― Sobre a
vizinha, acho que deveria conversar com ela. Sentem atração, é nítido até
para um cego.
― Não enche. ― Nada de nítido, só uma maluca. Só isso.
Volto a olhar lá para baixo, mas sem conseguir sair do lugar. Me
contento apenas em observar a movimentação, deixando a ideia do ringue de
lado.
Nem ao menos tenho vontade de descer e oferecer ajuda às novas
alunas, a fim de levar alguma para uma foda gostosa depois daqui. Acabo
voltando a visitar os minutos que estive com a fujona na sala. Não entendo
seu comportamento, nós três, ela disse, mas de quem diabos ela estava
falando?
Mas o que importa? Ao menos, não deveria importar.
Melhor esquecer isso, não vai me levar a lugar algum. Não quero uma
maluca em minha vida, menos ainda uma que more a alguns passos de mim.
Isso está fora de cogitação.
Está decidido e ao enumerar minhas pendências para hoje, volto a
passos apressados para a sala que estava há pouco com ela e ao entrar, ainda
posso sentir seu perfume, talvez nem seja o perfume em si, é algo suave
demais para isso, creme de pele talvez?
Balanço a cabeça, como se isso a jogasse para o canto dos meus
pensamentos. Esquecer, não deve ser tão difícil assim, é só focar em outra
coisa, só isso. Abro o notebook e busco algo para fazer, começar a colocar o
que está atrasado em ordem pode ser uma boa...
Após um tempo que me parece infinito, finalizo tudo e pelo o horário,
tenho que ir. Pego a bolsa jogada no canto, fecho a sala e desço, tendo o
terceiro andar já vazio, assim como o segundo, exceto por um senhor que está
finalizando seu treino ao se alongar. Já é hora de fechar. Duda até já se
adiantou, está só terminando de guardar suas coisas na mochila e me
aproximo do balcão.
― Bora lá? Acho que falta só aquele senhor descer, certo?
― Isso e vamos, sim, estou morta, preciso da minha cama. ― Ela
parece mesmo derrotada, eu mais que entendo.
― Sophie não voltou a descer?
― Não, não mais.
― Beleza, ah, olha o cara vindo aí. Me passa meu capacete aí atrás, pra
agilizar, vou deligar o interruptor.
Deixo-a fechando o balcão e sigo até a lateral da academia, esperamos
que o último aluno saia para em seguida apagar tudo e saímos juntos para o
estacionamento. Aciono o alarme, checo ao redor e respiro fundo ao sentir o
ar frio da noite.
Esse é o melhor horário para pilotar, à noite, o vento, a temperatura...
tudo me traz calma. Por isso passei a entender Sophie, o porquê de às vezes
sair em um longo passeio de madrugada, quando não consegue dormir. Com
o tempo a entendi, a velocidade, o vento, o cheiro... acalmam.
― Até amanhã, Duda.
― Até.
Ligo a moto, o ronco do motor fazendo barulho, o leve cheiro da
descarga, a adrenalina. Coloco o capacete e em seguida pego a via, talvez dar
uma volta na praia... Péssima ideia! Preciso chegar em casa e tentar dormir,
nas últimas noites não tenho feito muito isso.
Minha cabeça já lateja pela falta de sono excessiva, preciso tentar
desligar, meu corpo está no limite. Sempre durmo muito bem, rápido até, e
quando algo me tira isso, o que é difícil, meu corpo sente o efeito no dia
seguinte.
Enquanto atravesso a rua, um rosto vem à minha cabeça, e me pego
tendo a vontade de que o acaso faça sua parte e que, por coincidência, eu a
veja ao chegar ao prédio, seja onde for.
Ao caralho com isso, com essa fascinação, isso não sou eu.
Já me basta não conseguir controlar meu corpo, enquanto eu tentava
fazer sua avaliação física e, deixo claro, foi uma péssima ideia. Quando a vi
mais cedo, eu deveria ter dado meia-volta e me afastado, mas como todo bom
homem idiota, vidrado em uma boceta, fui até ela como uma mosca no mel.
Um erro.
Preciso logo deixar de lado essa fixação e arrumar uma mulher para
trepar, uma que não more próximo de mim.
Mas vamos por partes, hoje, uma boa noite de sono; amanhã, uma boa
foda e desta vez, minha vizinha estará fora dos meus pensamentos. Aquela
ninfa dos infernos.
Desacelero, entrando na garagem do prédio, sentindo de súbito a
vontade de olhar ao redor, com a esperança de uma coincidência em vê-la,
não sei.
Estou sendo excessivamente contraditório, ao tempo que me acho um
paspalho, fico com a esperança de vê-la pelos corredores ao chegar ao prédio.
Deixo a moto estacionada na vaga e subo as escadas, apressado,
cumprimento de longe o porteiro. Quase me desconheço ao atravessar o
corredor e não gosto do que sinto.
Incomodado com os pensamentos, entro em casa, bufando, achando
ridículo essa vontade de passar direto por minha porta e bater em sua porta.
Pedir que me explique por que saiu correndo hoje, falando coisas que mal
entendi e por que fugiu naquele dia, na nossa noite.
Nossa noite, que piada.
Não esperava muito daquela noite, porém, acordar sozinho em um
quarto de hotel, após ter passado a noite com uma mulher deliciosa, nunca me
aconteceu.
O contrário, sim, já dei muitas desculpas para não pernoitar com
alguém. Mas o inverso, foi a primeira vez e entendi o ódio que algumas
mulheres demonstram depois disso. É realmente desconcertante, quase
humilhante. Lembrarei de não mais fazer isso, agora sei qual o sentimento.
Será que sentem essa fixação no cara, depois que ele se manda também,
ou só raiva mesmo? Ao caralho com essa merda.
― Ei, garota ― falo, com a voz mansa ao entrar em casa, recebendo as
patas grandes e pesadas de Gamora em meu peito quando fica em pé, alegre
ao me ver. Aliso sua cabeça em resposta a suas lambidas carinhosas. ―
Como passou o dia, hein, garota? ― Ela geme, dengosa, se desmanchando ao
se deitar no chão de pernas para cima, a fim de um carinho na barriga.
Sou recebido dessa forma todas as noites e em todas elas, fico rindo
como bobo. Me agacho e faço o que ela tanto quer, olhando para a sacada,
confirmando se há comida em sua vasilha que fica no cantinho próximo à
porta.
― Tem comida, grandona? ― Rio ao vê-la levar as patas ao rosto,
tapando. ― Garota esperta.
Levanto-me, para dar comida a ela, mas vozes me fazem parar no lugar,
ainda próximo à porta e o barulho de passos vem em seguida.
Depressa, vou até a porta e me colo no olho mágico, tentando ver quem
é. Me decepciono ao ver apenas o tal amigo, o que estava com ela mais cedo
na academia, passar no corredor.
Afasto-me depressa quando ele olha em minha direção, como se
pudesse me ver aqui, bisbilhotando. Perdi totalmente o orgulho, é a única
explicação para um papelão desses.
O que diabos eu faria se fosse ela saindo de casa? O que eu falaria? Oi,
estava de plantão te esperando e tenho um interrogatório para fazer.
Inferno de feitiço, mas ele acaba hoje!
Um dia ruim, é só mais um dia ruim.
Esse é o mantra que entoo em minha cabeça, atendendo ao meu último
cliente do dia, sorrindo ao me despedir, tentando parecer gentil e disfarçar
minha dor de cabeça.
Hoje foi um dia lotado, aquele em que a prefeitura libera o pagamento e
a agência fica abarrotada de gente. Dinheiro, dinheiro, dinheiro.
Já passei tanta cédula, que se eu fechar meus olhos agora mesmo, posso
ver o símbolo do real piscar frente aos meus olhos e o TRIM, TRIM, tilintar
em minha mente. Não aguento mais. Sorte que o dia não vai demorar a
acabar, falta pouco.
Se bem que, de certa forma, foi bom esse dia cheio, me serviu para tirar
o foco de ontem à noite, da academia, isso, para não citar nomes.
Sinto alguém cutucar meu braço, suspiro com medo de ser mais
problemas, olhando por cima do ombro e vendo Martins, gerente de
negócios, ao meu lado, com expressão tristonha.
― Que cara é essa, homem? O homem loiro, gentil, de uns trinta e
poucos anos, é um amor e me olha de forma estranha.
― Desculpa, não quis te assustar. Só vim dizer que sinto muito por
você não pegar a vaga de gerente.
Eu não entendo o que diz e fico olhando-o, tentando ligar as pontas do
que diz.
― Oh, me desculpa, ainda não sabe? A vaga do Eliseu foi preenchida
― fala, sucinto, comprimindo os lábios e sinto o olhar de André, que trabalha
ao meu lado, sobre nós.
Meu coração vem à boca, meus pés suam dentro do scarpin e arregalo
meus olhos, para murchar em seguida ao vê-lo olhar o chão.
Então aconteceu... não serei eu a preencher a vaga.
― Ah, entendi. ― A ficha me cai e meu rosto esquenta, queima de
ódio. ― Tudo bem, Martins, não era o momento.
― Não concordo. Acho injusto, o cara novo vem do Sul, você está aqui
e tem feito um excelente trabalho.
― Então é homem?
― Sim, e era caixa, como você, Mônica. Não entendi bem isso ―
cochicha, buscando a sala de Rômulo com o olhar.
― Eu agradeço sua consideração, de verdade, mas é assim. Consigo na
próxima. Só continue torcendo por mim. ― Tento um sorriso, sentindo um
bolo na garganta, vontade de chorar.
Um aperto no ombro, um apoio mudo e observo Martins sair,
cabisbaixo.
Não olho para os lados, para ninguém, nem mesmo André. Se o fizer
irei chorar. Eu estava contando com isso, com a vaga, eu sei que é errado, sei
mesmo, pois não se confia em coisas incertas ou que não dependem de você
para acontecer, mas poxa, eu estava bem aqui, pronta para preencher a vaga,
precisando demais.
Trabalhei para ascender aqui dentro, buscando ser impecável no meu
trabalho para ser notada. Óbvio, não faço mais que minha obrigação em dar o
meu melhor, porém, preciso de um salário mais alto.
Em outro caso, comum, eu não poderia pegar a vaga, pois precisaria de
dois anos após uma transferência para assumir outra, mas recentemente o
banco passou por mudanças, planos de aposentadorias e, com isso, abriram-se
muitas oportunidades e muitos funcionários foram desbloqueados e puderam
mudar de cargos, incluindo a mim.
Uma pena eu não ter conseguido, era uma oportunidade perfeita.
Minha maior revolta é porque sei, não é falta de competência. Não sou
perfeita, ando longe, mas eu tento o meu melhor. Talvez o meu melhor não
tenha sido suficiente.
Tento focar na tela do computador, para não chorar. Só mais meia hora
e estou livre. E não vou chorar, não mesmo. Minutos se passam até que, por
fim, posso fechar meu caixa. Guardo o dinheiro e suspiro. Acabou por hoje.
― Eu acho...
― Não, Dé, hoje não, amigo. Sei o que vai falar, sou competente e blá-
blá-blá, que vou achar algo melhor. Mas isso não apaga a raiva que sinto pelo
boicote.
― Que boicote?
E não, eu ainda não contei nada a ele.
― Nada, modo de falar. Deixa para lá, vai.
Sinto-o tocar meu ombro e estalar em seguida um beijo em minha
bochecha de forma afetuosa.
― Não sei o que dizer, mas, vou te dar carona para casa e, vamos parar
para um lanche. Ajuda?
Meu coração fica cheio com seu carinho, aquele bolo querendo vir.
Nego.
― Não precisa, me deixar em casa vai te tirar do seu caminho.
― Só poucas quadras e estou faminto. Anda, vem.
Sorrio, cansada demais para negar uma carona ou comida, sendo
puxada por ele pela mão. Saímos juntos e sorrio de algo que diz.
― O último cliente demorou, não é? Parece que a cada dia tem mais
gente, Pai Amado. Ei, bora ao shopping? Amo a pizza de lá, vamos?
Mal o ouvi, estou vidrada demais na rua lá fora, com pensamentos
demais em mente.
― Claro, para onde quiser ir.
Mal saímos do estacionamento e meu celular toca. Solto o ar, é papai, e
chego a rir, talvez falar com ele alivie esse aperto de revolta e raiva em meu
peito.
― Oi, papai ― atendo, tentando soar feliz, ele notaria qualquer
diferença em minha voz.
― Não é seu pai, filha. ― Tenho que fechar os olhos e respirar fundo,
evitando o palavrão que vem na ponta da língua. ― Veja o que tenho que
fazer para falar com a filha ingrata que pus no mundo, é preciso pegar o
celular do seu pai, pois o meu, você não atende. Por que isso, Mônica Maria?
― ela grita ao celular, chego a afastar o aparelho do ouvido.
― Mamãe... ― Tento, mas como sempre, ela nem me deixa falar.
― Nem precisa se dar ao trabalho, não esperava nada diferente de
você. O que foi? Esqueceu que tem família?
― Mãe.
― Sim, porque é o que parece, um ano que sumiu, que não nos visita.
― Não é verdade, mamãe, vocês me visitaram há quatro meses e...
― Exatamente, visitamos, porque se depender de você ― mais uma
vez ela me corta.
― Mãe, hoje não é um bom dia, podemos nos falar amanhã? Prometo
ligar.
― Nunca é um bom momento, Maria, nunca é. Mas eu estou farta, acha
que mãe também não cansa? ― Ela nem se deu ao trabalho de perguntar
como estou. ― Mas enfim, você é mesmo minha decepção particular, sendo
assim, eu já deveria ter aprendido.
As lágrimas ardem meus olhos, geralmente isso não me abala mais,
mas hoje não.
― Acho melhor parar por aqui, mãe.
― Nada disso, escute, precisamos falar sobre João Neto.
― Para, se me ligou para falar do meu ex, é melhor parar.
― Ou o quê? Vai desligar na minha cara? ― E ela parece ofendida.
Busco o teto do carro, pedindo forças ao Ser superior.
― Continuando... ele está solteiro outra vez.
― Mãe.
― Só achei que ia gostar de saber, talvez tentar fazer algo certo desta
vez.
― Não dá, não dá mãe. Hoje eu não estou bem, menos ainda pra que
fale de Neto, como se ele fosse a melhor pessoa do mundo, como se fosse eu
que tivesse o deixado no altar. Hoje não. Eu preciso ir, depois nos falamos.
― Mônica Maria...
― Até amanhã, mamãe, mande um beijo para o papai e eu te amo.
Um soluço me vence, e trato de engolir o choro em seguida, limpando a
lágrima solitária que desce por minha bochecha. Ela nada diz e eu desligo o
celular, olhando depressa para a janela, sem querer falar. Se eu falar, eu vou
chorar, sei que vou e eu cansei de fazer isso.
Neto. Ele que vá para puta que o pariu, solteiro ou casado.
Minha mãe sempre amou isso, jogar em mim que sou sua decepção,
acho que sua maior felicidade era dizer o quanto odiava o fato de eu ser tão
diferente dela. O motivo dessa raiva? Desconfio ser porque teve de se casar
com meu pai ao engravidar de mim.
Uma vez achei sua certidão de casamento, as datas não batem. Se
comparar, ela se casou com quatro meses de gestação e acho que me culpa
pela vida infeliz. Perguntei isso a ela certa vez, se havia se casado grávida.
Ganhei apenas um tapa na cara em resposta por mexer em suas coisas.
Não voltei a tocar no assunto, nem mesmo com papai. Suspiro e sinto a mão
de Dé em minha perna, macia, quase um carinho.
― Amiga... não liga pra cobra, digo, sua mãe.
Engulo o bolo em minha garganta. Não vou chorar.
― Vamos, vamos ao shopping. Comida me fará bem, aproveito e
compro um grande pote de sorvete, só dirige, amigo ― peço, não falar no
momento é minha melhor solução.
Uma hora dará tudo certo, é só ter paciência.
Esse é o meu novo mantra: uma hora dará tudo certo.
Um dia é da caça, outro do caçador

Cansado demais para ficar até tarde da noite na Tribus, decidi vir para
casa um pouco mais cedo, preciso descansar e, mais uma vez, tentar uma boa
noite de sono, já que ontem não tive muito sucesso.
Ontem, tive mais uma noite cansativa em que perdi o sono na
madrugada, com um tesão do caralho, tentando por bons minutos controlar o
desejo, dormir sem imaginar a cada minuto que a razão de todo o meu tesão
estava a poucos metros de mim.
Entrei madrugada afora com o pau duro, as bolas doendo e com raiva
da infeliz que está fazendo meu corpo responder dessa maneira ao pensar
nela.
Após bom tempo na cama acordado, desisti de ficar rolando de um lado
para o outro, dormir não era mais opção e interrompi meu caso de bolas azuis
ao bater uma boa punheta, como um moleque ansioso, tentando pensar em
qualquer outra mulher no mundo, mas por fim, perdi a batalha, era apenas em
Mônica que eu pensava, seu corpo, sua boceta cor de ameixa, sua boca.
Imagine, puto, mas batendo punheta para a mulher dona da minha
confusão. Não dá mais, tenho ao menos que falar com ela, entender por que
não para de fugir de mim e tirá-la da minha mente, não deve ser tão difícil.
Solto um suspiro ao descer da moto e tirar o capacete, enfim em casa,
ou quase. Passo pelo portão de acesso lateral no hall e levanto a mão em
cumprimento a Dialindo, o porteiro, tentando algo rápido, para subir logo, já
que sei que ele adora jogar conversa fora. Eu também gosto, em principal
porque sou flamenguista, ele vascaíno. Mas não hoje, não estou para a
conversa, porém, sem êxito em fugir.
― Seu Ben.
Paro, ainda no primeiro degrau da escada, me virando, segurando a
careta.
― O senhor sabe que é mais velho que eu pra me chamar de senhor,
certo? ― brinco, ajeitando o capacete em meu braço.
O velho sorrir um senhor simpático, idoso. Daria a ele uns cinquenta e
cinco anos, mas sei que tem sessenta, adora esbanjar que apesar da idade,
ainda dá conta de muita coisa. Velho tarado!
― Eu já disse, é questão de respeito, seu Ben.
― Bobagem homem, mas o que manda?
― Aqui, as correspondências do senhor.
― Claro, obrigado. ― Pego os envelopes e vou passando um a um.
Luz, telefone, nada novo.
― Nada. Perguntei pra princesa morena se ela podia levar e entregar
pro senhor, hoje a artrite está matando meu joelho, mas acho que ela não me
ouviu. Passou apressada há pouco.
― A princesa é a do 204?
― Isso mesmo. Moça gente fina, um amor, precisa conhecer.
Claro... passe a noite com ela e verá o quão adorável é, um demônio no
dia seguinte, que foge como o inferno.
― Espera, disse que ela passou há pouco?
― Sim, um minuto atrás.
Travo a mandíbula, se eu apertar o passo...
― Sei, muito obrigado e não se preocupe em subir as escadas com
minha correspondência, ou o que quer seja levar pra mim. Eu desço pra
pegar, descansa esse joelho.
― Mas é meu trabalho, seu Ben ― diz, movendo a boca para um lado,
não dando importância.
Sorrio condescendente, subindo as escadas, agora com pressa.
― Sabe como é, tenho mania de eu mesmo pegar as correspondências,
um tipo de tique que não suporto que quebrem, entende? Então deixe minha
correspondência aí, que eu mesmo pego.
O velho sorri, achando graça e entendendo. Não quero que digam por aí
que ele não faz o trabalho e acabe com o síndico no seu pé. Conheço o
babaca, um mané de primeira.
― Obrigado, seu Ben.
― Pare com isso. Vou indo!
Subo as escadas de dois em dois degraus, sentindo uma leve dor de
cabeça aparecer, torcendo para ainda a encontrar no corredor.
Vamos tirar essa confusão a limpo e logo. Desde ontem me pergunto
quais lembranças ela tem daquela noite, por que prefere agir como se nada
houvesse acontecido. Primeiro, finge não me conhecer, em seguida, foge
como se eu a queimasse.
Só quero encontrar a teia que ela jogou em mim e cortá-la. Acho que
esse interesse se deve a querer tê-la em minha cama, o que faz com que eu
acredite na palhaçada do tesão reprimido, de querer o que me é negado.
É a única explicação, já que tive muitas mulheres, mas nenhuma
vontade de repetir uma noite com nenhuma com tanto afinco e tesão como a
lembrança de Mônica, dormindo nua em minha cama, me faz sentir. A
mulher faz minhas bolas doerem sem nem chegar perto.
Termino o último e bingo! Olha a fujona logo ali, em sua porta em
meio a uma bagunça do caralho. Paro e a observo, agachada próxima à porta,
vasculhando sua bolsa, procurando por algo e falando baixinho consigo
mesma.
Aproximo-me e sequer sou notado e consigo ouvir o que diz.
― Maravilha, Mônica Maria, ótimo, agora vou ficar fora de casa,
porque perdi a droga das chaves. Inferno, inferno.
― Se quiser, empresto o meu apartamento.
Seguro a vontade de gargalhar que tenho quando a mulher se assusta,
ao ponto de se sentar ao chão, me olhando com cara de quem quer me matar,
linda. Me adianto, e a seguro pelos ombros, a puxando a contragosto e a
colocando de pé.
― O que disse?
― Esqueceu suas chaves, posso te deixar ficar no meu apartamento,
enquanto consegue uma forma de entrar em casa. ― Um gesto cavalheiro da
minha parte, eu diria, mas nela tem o efeito contrário.
Mônica me olha com raiva, um vinco no meio das sobrancelhas,
enquanto se abaixa e começa a enfiar suas coisas dentro da bolsa, apressada,
inconformada.
― Pra você eu sou o quê? Um jogo, é isso? Me deixa em paz, cara,
finge que eu não existo, tá legal? ― ela fala com rapidez, embolado, chega a
ser confuso.
Fico mais confuso ainda, pois pelo o que me lembro, não há motivos
para isso.
― O que foi? Não vai mais fazer nenhuma piadinha?
― Não era piada, foi uma gentileza, se não percebeu.
― Ah, claro, enquanto isso, vai enfiar sua mulher onde? Ela não está
em casa?
― Não entendi, tá falando do que exatamente?
― De você, de você e da sua namorada, ou seja lá o que ela for.
― Namorada? Que... ― E a ficha vem caindo. ― Espera aí, Mônica!
Esse tempo todo está agindo como maluca, porque acha que Sophie é minha
mulher, namorada ou o que quer que esteja passando por sua cabeça maluca?
― Vai negar? ― Ela é inacreditável e está cheia de si ao praticamente
afirmar que sou comprometido. Maluca, linda, mas maluca.
Sinto vontade de sorrir ao entender tudo, ao tempo que sinto alívio por
sua loucura não ser algo comigo diretamente, ou algo relacionado à noite que
estivemos juntos, mas seguro o riso, o terreno não é nada seguro para isso.
― Negar? ― E como fiz ontem, colo ambas as mãos uma de cada lado
da sua cabeça, me aproximando. ― Mônica, não pira, Sophie é minha irmã.
Ela bufa, irracional, balançando a cabeça, fazendo um bico de puro
desdém. Isso é ciúme?
― Acha mesmo que vou acreditar nisso? André me contou sobre a
história dela, Sophie é órfã.
― Mônica, Sophie é minha irmã, não de sangue, mas adotiva!
Ela congela e isso me dá uma puta satisfação, vê-la assim, calada por
não ter palavras, arregalando os olhos quando o óbvio parece fazer sentido.
A ponta do seu nariz fica vermelha, confusão toma seu olhar, assim
como vergonha. Eu rio, sem controle desta vez, gostando disso,
principalmente, gostando do fato de que sua rejeição, nada mais era que por
achar que, na verdade, tenho uma namorada e que enganei as duas.
― Espera aí, o que disse? ― pergunta e me divirto com sua confusão.
― Que Sophie, a mulher que viu sair do meu apartamento outro dia, a
mesma da Tribus, é minha irmã ou assim a considero.
― Considera... ― Torna a repetir, talvez para ganhar tempo para
conseguir digerir isso. ― Eu... eu...
― O que foi? Sempre tão falante, perdeu a língua? ― provoco, mas ela
parece perdida demais na própria confusão que fez todo esse tempo.
― Não pode ser, tem certeza?
Sorrio, perdendo a batalha em ficar longe, após saber seus motivos.
Maluca. E quando diminuo nossa distância e a beijo, sem nem pensar, ando
longe de ter coerência, sou só desejo.
Encosto meus lábios nos seus, testando, sentindo, mordendo o lábio
inferior e sentindo sua textura ao passear minha língua por ele, como um
carinho após mordê-la, começando pelo cantinho de sua boca, contornando-a
sem nem aprofundar o beijo e voltando a olhá-la.
― Acho que resolvemos a confusão, não é? Agora creio que podemos
aproveitar melhor o fato de sermos vizinhos. Amanhã cedo, na academia, e
não aceito não como resposta. ― E a deixo ainda mais confusa, me afastando
aos poucos, indo de costas em direção à minha porta. ― Ah, e a chave do seu
apê tá na sua mão. Boa noite, vizinha.
Viro-me, sabendo que continua parada no mesmo lugar, me olhando,
aturdida. Não quero forçar uma situação, por hoje, um beijo está ótimo, mas
amanhã... a quero em minha cama.
Traumas, eles existem

Eu queria dizer que não fiquei parada no corredor, olhando a chave


bem em minha mão, enquanto ele saía a passos largos em direção ao seu
apartamento, mas foi exatamente o que eu fiz, não, o que ainda estou
fazendo.
Irmã, ela é sua irmã adotiva?
Sem ainda acreditar, pego celular dentro da bolsa, entrando em casa e
já jogando o nome dela no Google, tentando entender toda a confusão que eu
fiz. Esquecendo a notícia de poucos minutos atrás, não pode ser, não posso
ter sido tão idiota a esse ponto. Caio do cavalo no estante seguinte ao abrir
uma matéria, que conta sua biografia.
Meu Deus, ele deve estar me achando uma maluca. E não o culpo, me
comportei com uma, fui ridícula em um nível inimaginável. Sempre imaginei
coisas, falei demais ao estar nervosa, mas dessa vez, ultrapassei qualquer
limite aceitável, vendo coisas onde não tinha.
Estava ali, na minha frente o tempo todo. Claro, tinham dicas que
alimentaram minha tese, porém, montada em que de sólido? Absolutamente
nada e agora tudo faz sentido. Nem um beijo sequer, algo que fundamentasse
um relacionamento além de palavras mal interpretadas, nada, só minha atual
loucura.
Será que Neto ferrou tanto a minha cabeça, minando minha confiança a
tal ponto, que uma frase mal dita, faz com que eu crie toda uma situação, já
imaginando uma traição onde não tem?
Ele mexeu tanto comigo a esse ponto?
A resposta é óbvia: claro que sim. Neto minou minha confiança nas
pessoas, minou parte da minha autoestima, da minha autoconfiança e me
deixou mais dura. Algum dia, vou conseguir confiar em outro alguém?
André, no fim das contas, estava certo, pelo jeito os dois são como ele e
eu. Amigos, não, irmãos.
Ainda assim, mesmo com minha confusão, ele me beijou, e o que quer
dizer isso?
Tenho apenas o silêncio no apartamento em resposta e, após estar
sozinha novamente, o peito aperta, me lembrando que algo mais me
incomoda.
Passo a mão no cabelo, desmanchando o coque e deixando os cachos
caírem bagunçados. Vou para o quarto e me sento na cama, deixando a bolsa
na mesinha, olhando a parede à minha frente e solto a respiração, caindo de
costas na cama, tentando relaxar, me entender e arrumar minha confusão.
Porque, se Benjamin não tem ninguém, quer dizer que... nada me
impede de aceitar suas investidas, não é?
“Amanhã cedo, na academia...”
Eu disse que sim, mas o que ele quis dizer?
O homem permeou meus pensamentos por todo o dia, aquela
aproximação, seu cheiro, o modo como me olhou ontem. Junto a isso tem o
trabalho, minha mãe.
Bom, ao menos sei que tudo continuará na mesma, em relação ao
trabalho. Uma hora terá que dar certo, nem que para isso eu tenha que mudar
de cidade, pegar outra agência, não me importo. Uma hora dará tudo certo,
sei disso. Só tenho que colocar minha cabeça no lugar, voltar a ser a Mônica
confiante de sempre.
Meu ex-noivo me tirou algo, no dia em que tudo acabou e eu vou
descobrir o que foi e vou recuperar o que quer que seja, preciso disso.

O barulho de alguém derrubando minha porta me faz saltar da cama,


com o coração a querer sair do peito, e buscar o celular para ver as horas,
enquanto já me levanto tonta de sono.
Em plena cinco da manhã, quem diabos está na minha porta? Deus,
algo aconteceu com alguém da minha família?
Às pressas, vou em direção à porta do apartamento, ainda bêbada de
sono e ao abrir, quase esbaforida, dou de cara com uma montanha tatuada à
minha frente, com um sorriso lindo, de dentes perfeitos, abertos para mim.
Como consegue ser tão bonito a essa hora?
E me dou conta, devo estar uma bagunça.
― Mas o quê? ― Não consigo terminar a frase, Benjamin não deixa,
ele passa por mim como um trem de carga, entrando no apartamento e me
entregando um copo grande, com algo verde dentro.
― Bom dia, morena. ― E com isso ele me mede dos pés à cabeça,
vagarosamente, o sorriso aumentando ao me ver imóvel. ― Você acorda
linda e esse pijaminha então... uma delícia, mas, pra malhar não dá para ir
assim. Vai lá se trocar, que espero, eu trouxe vitamina de abacate pra você.
Não pode malhar de estômago vazio.
― Você bebeu? ― pergunto, me sentindo realmente atropelada por um
trem, meu coração se acalmando pouco a pouco, após o susto.
― Não, não bebo em meio de semana, às vezes nos finais de semana,
apenas. Vai lá, eu espero. Mas antes...
Arregalo meus olhos ao vê-lo se aproximando, perto, muito perto e
perco o ar quando, como ontem, seus lábios tocam os meus, lentamente, de
forma deliciosa, não se demorando em se afastar e me deixando tonta.
― Pronto, um bom dia melhor, agora vai lá.
― Não pode fazer isso sempre que tiver vontade, sabia? ― Ah, ele
pode, pode sim, só estou tentando ser difícil.
― Não? Quer que eu pare?
Ele é surtado e eu começo a gaguejar.
― Olha, olha, Benjamin, eu agradeço a vitamina que teve a boa
vontade de me trazer, mas, eu vou voltar para minha cama quentinha e
aproveitar o meu sono, não vou malhar a uma hora dessa, tá maluco? ―
acuso, cruzando os braços frente ao corpo, me dando conta da fina blusa que
não esconde muito bem meus seios.
― Você disse sim, quando falei sobre a academia.
― Eu disse.
― Então... aqui estou eu. Não quis dizer que nos veríamos lá, quis
dizer que ia comigo.
― Eu não entendi mesmo e, de qualquer forma, eu não vou uma hora
dessas e nunca disse que ia com você.
― Um detalhe apenas. Agora toma a vitamina e deixa de ser
preguiçosa e ranzinza. Sophie não vai poder pegar pesado agora pela manhã,
então, você vem comigo mocinha ― fala e olha o relógio. ― E se demorar
mais, vai acabar me atrasando.
― Quando isso te passou pela cabeça? ― Ele não estende e eu aponto
de mim para ele. ― Eu ir com você, sem aviso prévio.
― Eu avisei, você que não entendeu. O que foi bom, admita, se eu te
falasse que viria aqui hoje pela manhã, você não ia abrir a porta pra mim.
Ele se senta no meu sofá, bem à vontade e apesar do sono ele acaba me
fazendo rir.
― Cara, eu não tô psicologicamente pronta pra ir malhar a essa hora.
― Bom, tem o tempo de se arrumar e de chegarmos lá até estar pronta
psicologicamente e veja só, serei seu personal hoje, você tem sorte. Agora
toma a vitamina e vai se trocar ou vou me atrasar.
Mas que filho da puta. E por que merda eu não o ponho daqui para fora
e volto a dormir?
Porque sou idiota, claramente, e bem cadelinha dele, após descobrir que
está livre, leve e solto para fazer me lembrar do que fizemos, dias atrás.
― E beba a vitamina.
Reviro meus olhos, lhe dando as costas e voltando para o quarto, para
fazer exatamente o que ele pede, tomando um gole da vitamina que me deu.
― Argh, a vitamina está sem açúcar.
― Não, tá na medida certa e você tem dez minutos.
― Abusado!
― Mal-humorada.
Entro no quarto e fecho a porta, rindo com uma idiota vendida. Cara, o
sol nem apareceu, como que ele quer ir malhar? Benjamin está de sacanagem,
só pode ser.
Bebo mais um gole da vitamina sem graça e abro o guarda-roupa,
pegando a primeira roupa de malhar que vejo e me vestindo. Prendo o cabelo
ao ir para o banheiro e após estar pronta, saio do quarto terminando de tomar
o agrado que me trouxe, preocupado em não me deixar malhar de estômago
vazio.
Seria lindo, se não fosse às cinco da matina. Ao menos o abacate está
ótimo, mas quase sem açúcar algum.
Encontro em meu sofá um exemplar perfeito de um modelo atlético em
pé, próximo ao meu aparador de madeira escura, que fica perto da pequena
janela, olhando as fotos sobre o móvel.
― Estou pronta! ― falo, ao pegá-lo despercebido olhando minhas
fotos. Umas nada atrativas, mas significativas.
Sem ter nenhuma vergonha ao ser pego bisbilhotando, ele se vira, um
pequeno sorriso no rosto e sei que tenho que tocar no assunto de ontem, ou ao
menos me desculpar.
― Então vamos.
― Acorda sempre com esse bom humor irritante?
― Apenas quando tenho uma ótima noite de sono. É sua família nas
fotos? ― pergunta, enquanto passa pela porta que seguro aberta.
― Sim, meu pai e mãe, algumas quando era mais nova. Na outra é
André, que você já conhece, e ali é a Isabella, uma amiga de infância.
― Você era uma gracinha mais nova.
― Não era nada e anda logo, não estava apressado? ― Ele finge nem
me ouvir.
― E moram onde, seus pais?
― Próximo, a umas três horas de viagem.
Fecho a porta, me perguntando se vamos caminhando até a academia,
já que não fica nada longe de onde moramos. Mas minha pergunta logo é
respondida, antes mesmo de ser feita, quando Benjamin pega dois capacetes
em frente à sua porta, no chão. Ele olha-me e eu fico com as mãos na cintura,
aturdida.
― Vamos de moto?
― Sim. ― Ele me olha e abre um sorriso. ― O que foi?
― Tinha tanta certeza de que eu viria com você assim?
Convencido, o sorriso continua estampado em seu rosto e ele apenas
pisca, me entregando um deles.
― Tenho minhas armas. Desfaz essa cara de medo. Não pode mais
falar que nunca andou de moto, já o fez comigo.
E não me lembro. Mas isso eu não digo, enquanto começamos a descer
as escadas.
― Não é isso, é que não é bem seguro... e como você mesmo disse, a
única vez que já andei de moto foi com você e não é parâmetro.
Ele gargalha, aquela gargalhada gostosa e com vontade, parecendo bem
moleque, solto, leve e bonito, incrivelmente bonito.
― Que sorte a sua, terá uma segunda chance.
Ele desvia o olhar e eu balanço a cabeça ao me livrar desse último
atrativo, ao ser transportada para o exato momento que acordei naquele
quarto de hotel e levantei o lençol para ver seu corpo, tendo um vislumbre de
toda sua pele tatuada, perfeito. E agora, ao saber que não há nada de um
compromisso em sua vida, minha amiga aqui embaixo pisca, querendo
atenção.
Isso é hora de ficar excitada? Vamos pôr a culpa no tempo ao qual não
transo e nesse caralho de homem bonito do caramba.
― Ainda está com aquela cara.
― Que cara?
― De que vai andar em uma espaçonave. Fique tranquila, morena, irei
com cuidado e é aqui pertinho.
― Espero que vá mesmo, não tenho seguro de vida.
― A propósito, a agência em que trabalha fica longe? ― pergunta,
parecendo curioso, enquanto coloca o capacete e espera que eu faça o mesmo
ao chegarmos próximo à sua moto estacionada na garagem.
― Sim. Não fica muito longe.
― Que bom. ― Benjamin fica de pé em minha frente, bem perto e
substitui minhas mãos no fecho do capacete, olhos nos meus enquanto o
fecha e me diz, como que isso pode parecer sexy e responder direto na minha
libido? Sem contar o beijo. ― Prontinho.
Saio dos meus devaneios, me afastando um passo e deixo de reparar na
moto dele, aquele modelo estilo esportivo, grande, alta, robusta e que vai me
deixar quase deitada sobre ele. Pai amado.
Ele monta na coisa e começo a achar até mesmo engraçada, na mesma
medida que acho estranho, essa interação. Não é todo dia que um personal
bate em sua porta para te levar para malhar, menos ainda um ao qual fiz tanta
confusão e que já transei.
O ronco do motor me desperta, enquanto ele espera que eu monte.
Seguro em seu ombro e me coloco sobre a moto, seu cheiro tomando conta de
mim.
― Pode segurar em mim, não mordo... a não ser que peça. ―
Sugestivo e safado.
Sinto-o o rir quando minhas mãos abraçam sua cintura, sendo
inevitável que eu esteja com o corpo colado em suas costas.
Apreensiva, assisto a Benjamin acelerar a moto e logo estamos em
movimento, saindo da garagem do prédio e pegando a rua. Meu coração salta
no peito e me agarro mais a ele, como se isso fosse possível e fecho os olhos.
A melhor parte é que com essa proximidade, posso sentir cada músculo, cada
gominho de seu abdômen. Puta que pariu.
Foco, Mônica, foco, não precisa parecer uma louca gamadona,
controle, tenha controle.
Como ele prometeu, vamos mesmo devagar, apesar de sair
ultrapassando todos os carros à nossa frente e quando eu começo a gostar,
confesso, me aproveitando para apalpar sua barriga, já estamos em frente à
academia que está aberta e quase murcho por ter que quebrar o contato,
notando um detalhe.
― Ué, disse que ia se atrasar, achei que viria abrir a academia ― falo,
ao descer da moto e tirar o capacete.
― Eu disse? Não me lembro... ― Sua resposta vem carregada de
sarcasmo e um sorriso, sem se preocupar em esconder sua mentira.
― Cara de pau.
― Esquecido, talvez, só isso. Anda, vem. Ou é você quem vai se
atrasar para o trabalho.
― Você não conhece limites, Benjamin, não mesmo. ― Ele nada diz,
seu sorriso já diz muito e faz estragos em minha calcinha.
Entramos e a normalidade da interação tão natural entre nós, traz um
gosto bom à boca, não sei explicar e sinto sua mão espalmar em minhas
costas, trazendo um frisson congelante em minha barriga.
O sentimento que tenho é de que hoje é um daqueles dias em que você
tem tudo para sentir o coração pesado, em que algo insiste em te trazer para
baixo, mas de alguma forma, você acorda com a certeza de que tudo vai dar
certo.
Já sentiu algo assim? É muito bom.
― Bom dia, Dani.
― Oi, bom... ― E a resposta do rapaz atrás do balcão morre, ao nos ver
juntos. Uma sobrancelha se ergue e me pergunto o que pode ser tão estranho.
― Bom dia. Vai dar aula?
― Sim, mas só para a Mônica. Viu Sophie?
― Não. Eu abrir a academia hoje.
― Certo, vem, morena. ― Benjamin passa pela catraca e faço o
mesmo, após cumprimentar o recepcionista, me perguntando o que fez com
que fechasse o semblante descontraído de pouco.
― Não dá aulas?
― Não. Ajudo quando precisam, nosso público está crescendo, mas
meu foco é levar Sophie, com a melhor forma possível, aos ringues dentro e
fora do país. ― O orgulho que ele sente dela está em toda a frase, e tenho a
impressão de que sua expressão se deve ao fato de Dani dizer que não a viu
hoje aqui. Mas por quê?
Passo o olhar pelo local, notando que já está bem lotado para o horário,
com vida, música alta e alguns instrutores sendo prestativos com alguns
alunos. Começo a ficar sem jeito, conforme vamos entrando.
― O que foi? ― Não aguento calada a curiosidade em saber o porquê
de sua mudança.
― Por quê?
― Tem um vinco em meio às sobrancelhas e ele não estava aí quando
chegamos.
Ele nega, tentando um sorriso.
― Nada de mais. Só não sei onde Sophie está, é só preocupação de
irmão.
― Ué, talvez ela esteja na casa de algum namorado? ― Tento e parece
que falei um absurdo.
Primeiro ele me olha como se tivesse lhe dado um soco, em seguida ele
ri, não, ele gargalha.
― Sophie? Não, isso não. Agora vem, vamos começar com
alongamento e esteira. Vamos ocupar o meu tempo.
Minha língua coça para perguntar o porquê isso pode parecer tão
surreal a ele, mas não faço, apesar da curiosidade. Sigo apenas suas
instruções, me posicionando ao me alongar, vez ou outra ele tendo que me
tocar para me posicionar de forma correta.
Estou queimando ao subir na esteira a pedido dele, que saiu dizendo ir
pegar minha ficha de treino e posso garantir, essa quentura não tem nada a
ver com a droga da caminhada que começo e, cá entre nós, o homem é
gostoso pra caramba.
Ao chegarmos, eu esperava algumas cantada, sei lá. Mas não veio nada
além da simpatia que parece ser comum dele. Ah, teve apenas o morder, caso
eu peça, quando estávamos saindo. Poderia ter respondido que queria, né?
Tipo, na brincadeira e dando uma corda. Já que realmente eu quero mesmo.
Mordo o lábio e o vejo descendo as escadas, parando para conversar
com uma aluna quando alcança o chão. Meço a mulher que está bem próxima
dele, uma bem estilo paniquete, perfeita, com uma bunda invejável e, para
piorar, tem a mão em seu peito, alisando-o e parando em seu abdômen,
parecendo estar mole por ele e quem não estaria?
Benjamin me olha e me pega no flagra, observando-o. Ainda assim,
não consigo desviar e o pego segurando o pulso da senhora bunda perfeita, a
afastando, ao vir em minha direção.
― É muito assediado? ― Puta merda, não era para sair assim, às vezes
não consigo segurar certas coisas, sai sem nem perceber.
― Oi?
― Tipo, você é um cara bonitão e tal, parece legal, deve ser bem
assediado por aqui.
― Ah, isso? ― Ele parece divertido ao responder. ― Talvez, às vezes
sim, nada demais. ― Mordo o lábio, analisando seu rosto. ― Vem, já está
aquecida. Vou pegar leve hoje, na verdade, por alguns dias, ou não vai
conseguir nem se sentar. ― Olho-o, pegando um brilho diferente nos olhos
levemente verdes.
Eu devo estar perturbada, porque a frase não tem nada de mais, mas
tudo que eu visualizo sou eu, me sentando nele.
― Nada, sentar... e eu agradeço se pegar leve, eu preciso mesmo me
sentar. Digo, eu passo o dia todo sentada, no banco, não em cima de
ninguém. ― E começo a gesticular como uma maluca. ― Digo, na cadeira,
sentada na cadeira, na minha mesa.
― Eu entendi, Mônica ― me interrompe, claramente se divertindo e
entendendo o que minha mente poluída pensou.
― Que bom, que bom, então vamos?
Acabo me atrapalhando ao desligar a esteira, quase tropeçando ao
descer. Esse homem ainda vai me causar uma contusão, inferno de homem
bonito.
Sou forçada a começar um intenso treino, sim, porque de leve não tem
nada, uma mentira e cada toque, a cada olhar, sinto que vou perder minha
calcinha.
Parece que saber que Benjamin não tem ninguém em sua vida, foi o
combustível que precisava para soltar toda a libido presa há mais de um ano,
ainda por cima com essa sua simpatia e a forma que está me tratando. O pior
é que sempre tive certa aversão por esse seu jeito de: sou o cara... mas agora,
poxa, ele parece ser ótimo.
― Vem, vamos alongar.
― De novo? ― pergunto, exausta, sem querer sair da cadeira ao qual
exercitava minhas pernas, segundos atrás.
Pernas essas que me falham no momento.
― Claro. Lembre-se, sempre antes e depois do treino, deve se alongar.
― Eu estou morta, Ben, não dá ― falo, sem fôlego e ele sorri, um riso
satisfeito. ― O que foi?
― Me chamou de Ben.
― E o que tem?
― Gosto de como fica em sua boca. Vem, deita aqui, te ajudo a se
alongar enquanto descansa um pouco.
Fico sem saber o que dizer, vendo-o se aproximar, bem perto ao me
ajudar a levantar. Mas que inferno de perfume é esse?
Deitada, suada e exausta, observo-o se ajoelhar ao meu lado, pedindo
um braço, depois uma perna, fazendo movimentos que relaxam os meus
músculos e quando, por fim, fica meio por cima de mim, segurando minha
perna e a trazendo por cima da outra, sou obrigada a fechar os olhos ou vou
pedir que me beije, de novo. Pai amado.
E isso mais parece um jogo de sedução, mesmo que não seja nada mais
do que vi os outros personal trainers fazendo com seus alunos. Talvez seja o
olhar, aquele brilho ou simplesmente coisa da minha cabeça. Eu devo estar
viajando.
― Mônica. Mônica?
Então, me dou conta de que devo ter ido para o país das maravilhas, por
poucos segundos, pois, ao abrir os olhos, já o tenho de pé.
― Acabou? Dessa vez foi até relaxante. Que pena. ― E espero ouvir
dele um: podemos repetir mais tarde, se quiser, mas Benjamin apenas sorri.
― Ótimo que tenha gostado do seu treino ― fala e olha no relógio. ―
Vou te deixar em casa.
Levanto-me com sua ajuda, negando a carona.
― Ah, não. Não precisa. Eu vou andando. É pertinho.
― Eu derrubei sua porta pela manhã para trazê-la comigo e farei agora
o pacote completo, te levando de volta.
Pacote completo seria... paro, aterrissa, Mônica. Me repreendo e olho o
relógio, decidindo aceitar sua oferta. Já está tarde.
― Benjamin, antes de irmos, eu queria falar sobre ontem, me desculpar
por toda a confusão que fiz e agradecer por fingir que nada aconteceu.
― E não aconteceu. Você se enganou e eu entendo o porquê, me viu
saindo com Sophie naquela manhã do meu apartamento. É compreensível,
não precisa se desculpar. Deveria, mas por outro motivo, como sair fugindo
pela manhã e me deixar a ver navios. ― Passa a bola e abro a boca, mas não
sei o que dizer. ― Gosto quando te deixo sem palavras, sabia? ― Engulo em
seco, assistindo-o colocar uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. ― Mas
vamos falar disso outra hora ou vai se atrasar, vem.
Da mesma forma como entramos, ele insiste em espalmar a mão,
incrivelmente grande demais, em minhas costas enquanto me guia até a saída.
Um arrepio gostoso percorre meu corpo com um contato, meu estômago
revirando com o simples toque.
É, eu estou muito precisada de um consolo humano, puta que pariu!
― O bonitão te quer. Aceita e deixa de fogo! ― Sorrio ao falar com Isa
pelo celular.
Sinto sua falta e como ela está a milhas de quilometro de mim, o jeito é
apelar para uma ligação.
― Sei não, fiz uma confusão do caramba. Fiquei com tanta vergonha,
Bella.
― E, ainda assim, ele te beijou, aproveita, faça como André sempre diz
e cai sentada no homem.
― Vocês não existem. Mas conta, como está a viagem?
― Bem legal, mas nenhum gostoso que me cause muito interessante.
― Sério? Ninguém.
― Ninguém. Mas deixa eu contar, encontrei o filho do chefe de
cirurgia aqui, o Dr. Guilherme, acredita?
― Sei, é bonito?
― Sim, bonito, aquele tipo certinho demais sabe? ― desdenha, mas a
conheço bem.
― Isso é um interesse que vejo em tua voz?
― Pelo amor de Deus. Não vim para a Argentina pegar brasileiro,
Mon, ainda mais colega de trabalho, tá louca?
― Mas ele nem é médico, falou uma vez que o homem era o que
mesmo? Doutor em administração?
― E economia, mas dá no mesmo. Ele está sempre lá pelo hospital, não
adianta, nem vem. Vou me esbaldar numa piroca argentina, isso sim. Agora
você, tá bom de se esbaldar na piroca brasileira aí ao lado.
Me esbaldar... E como já me imaginei fazendo uns agachamentos no
meu vizinho gostoso.
― Mais cedo falei com André, ele disse que sua mãe ligou.
― Sim, ligou, fiquei de retornar hoje, mas não sei se devo. Talvez me
dar mais dois dias antes de fazer isso. ― Convenhamos, ouvir minha mãe
falar do meu ex, não é algo que eu queira.
― Sério que ela falou de Neto?
― Sim, falou. Ela é louca por ele, sempre o adorou, tem esperança de
que voltaremos. Parece que ela não faz ideia dar dor que ele me causou.
― Eu sinto muito, Mon.
― Uma hora essa fixação dela passa, tem de passar.
Bater ou não bater, eis a questão

Feito uma estátua, em frente à porta de madeira, encaro o número 204,


a mão coçando por bater na madeira, ao tempo que seguro uma grande caixa
de pizza na outra. Desde ontem, após arrastar Mônica para a academia, que
não mais nos vimos, quando voltei para casa já passava da meia-noite e
apesar da vontade de vê-la, claro, não fiz a loucura de bater em sua porta
novamente.
Agora estou aqui, amarrado entre bater ou voltar para minha casa. Nem
chego a precisar decidir, a porta é aberta e Mônica se mostra, parecendo que
vai sair, apesar da simplicidade de suas roupas.
― Benjamin.
― Oi, não quero atrapalhar, parece que está de saída ou estava
esperando alguém? ― Aguardo uma resposta, que demora a vir.
― Estava mesmo de saída, ia comprar um caldo que vendem aqui
embaixo. Mas o que faz aqui?
― Um convite, espero que goste de pepperoni. ― Ela parece demorar a
entender, olhando de mim para caixa em minha mão. ― E então, gosta?
― Sim, gosto sim.
Os olhos negros me avaliam, olhando de mim para caixa de pizza em
minhas mãos e aproveito para admirar a bela mulher que ela é, ao estar à
vontade demais para alguém que ia sair, o cabelo jogado para cima, preso
meio bagunçado, o rosto livre de maquiagem, ainda assim, bonita pra
caralho. E o convite para entrar não vem, talvez prefira tomar o caldo.
― Ok, já que vamos comer aqui no corredor, vou me sentar e tentar
ficar o mais confortável possível.
― Oh, não, não, não. Desculpa, entra, pode entrar. Me pegou de
surpresa, só isso, mas vem, entra.
Paro de descer meu olhar pelo seu corpo ao notar os bicos dos seus
seios marcando a fina blusa creme, apesar de não ser transparente. Entro logo
atrás dela em seu apartamento, o lugar ao qual passei bons minutos
observando ontem, enquanto ela se vestia para sairmos para a academia.
― Fica à vontade, senta onde achar melhor. Vou pegar os pratos.
― Pode deixar. ― Mas não me sento, deixo a pizza em cima do balcão
e puxo-a pela mão, antes que entre na pequena cozinha, trazendo-a para mim,
fazendo com que bata contra meu peito.
― O que tá fazendo?
― Mônica, acho que não preciso fingir que não te quero novamente,
preciso? Eu quero, sinto um tesão sem nenhum controle por você, quero
terminar o que começamos naquela noite, só preciso saber se você também
quer.
Os olhos dela parecem ganhar ainda mais cor, abertos como pratos, me
ouvindo com atenção. Sinto meu coração retumbar no peito, ansioso por
ouvir sua resposta, perdendo o controle ao sentir seu cheiro, seu corpo.
Não planejava que fosse assim, iríamos comer e quem sabe depois...
foda-se, a quero e agora, não faço rodeios.
Eu não tenho dela uma resposta, não em palavras. Os braços delicados
envolvem meu pescoço e com um risinho nos lábios ela me beija, essa é a
melhor resposta que poderia me dar.
Tem algo que sinto neste momento que nunca senti com mulher alguma
e, é realmente estranho, é alívio. Não sei o porquê, talvez por conseguir o que
tanto queria, por tê-la agora em meus braços e é como me lembrava, quente,
receptiva, gostosa pra caralho.
Não quero perder tempo, quero-a agora e com pressa, coloco Mônica
sentada sobre o balcão de mármore, derrubando sei lá o que, a fazendo
procurar o que faz barulho ao cair, olhando para trás com um sorriso de
moleca nos lábios, a coisa mais linda que já vi.
Por alguns instantes eu paro, só para observá-la, deixando de lado por
instantes a pressa, o desejo, excitação, apenas para observar a pequena
covinha que se forma em suas bochechas quando ela sorri, a forma como seus
olhos se aperta, a ponta do nariz treme, a pele negra reluzindo sobre a luz.
― O que foi? ― pergunta, tentando entender por que a olho como um
paspalho.
― Você é linda, Mônica, linda.
O riso volta ao seu rosto e cubro seus lábios novamente, sentindo suas
mãos em minhas costas, puxando minha camisa. Sugo sua língua, como se
estivesse sugando seu clitóris e sinto o exato momento que sua excitação
aumenta, seu corpo se esfregando em mim com mais pressa, mais tesão e
urgência.
Deixo sua boca apenas para deixar que tire minha camisa e subo minha
mão por sua coluna, agarrando seu cabelo, puxando sua cabeça para trás para
ter acesso ao seu pescoço de pele macia e cheirosa.
― Benjamin. ― E ela parece apressada ao sussurrar meu nome.
― Está com pressa, morena? Eu estava, mas agora... tudo que eu quero
é degustar teu corpo com calma, te dar prazer.
― Você tem alguma noção do quanto isso é sexy?
Sorrio da sua espontaneidade, tenho a impressão de que às vezes nem
pensa no que diz e gosto disso, gosto da sua falta de filtro que me permite
saber o que pensa exatamente.
― Não, mas sabe o que pode ser ainda mais sexy? ― Não perco tempo
em explicar, prefiro mostrar.
Abaixo sua blusa com o dedo, tendo o vislumbre perfeito do seu seio,
empinado, o bico durinho de tesão. Não perco seu olhar, que por um
momento parece envergonhado, mas não se nega a olhar o que faço ao
engolir seu seio pequeno, o tamanho perfeito.
― Isso aqui, morena, pode ser bem mais sexy do que apenas falar, não
pode? ― Não espero realmente uma resposta, quando busco o outro seio,
sugando com certa força, assistindo-a quando joga a cabeça para trás, se
entregando ao prazer que lhe dou.
Ouvir seu gemido traz ondas de prazer ao meu corpo, que param
exatamente em meu pau e quero muito sentir seu sabor mais íntimo, sugar
sua boceta como faço com o peitinho suculento.
Tiro sua blusa, voltando a sugar seu seio, não perdendo tempo em
desabotoar sua última peça, até tê-la apenas com uma calcinha de algodão,
branca, normal e me afasto, quero vê-la exatamente assim, exposta, enquanto
me olha sem graça, um tanto envergonhada ao dar de ombros.
― Calcinha confortável, não imaginei que acabaria transando esta
noite.
― Está perfeita. ― Ela nega e levo minha mão para dentro da sua
calcinha, encontrando uma boceta molhada, quente, receptiva. ― Sua boceta
é perfeita.
Agacho-me, minha cabeça ficando na altura perfeita com sua boceta,
salivo por tê-la em minha boca. Não tiro sua calcinha, apenas a afasto para
lado, abrindo bem suas pernas e devo dizer, adoro ameixa, é essa a fruta que
sua boceta me lembra e a abocanho, enchendo minha boca, ouvindo seu
gemido em resposta.
O som me dá um estímulo a mais e sugo, deixando seu clitóris e indo
até sua entrada, a penetrando com a língua, preparando-a para me receber
aqui.
― Benjamin, não para, não.
― Parar? Eu nem comecei. ― O gosto salgado preenche minha boca,
os lábios macios sendo massageados por minha língua, fazendo Mônica se
segurar a bancada.
Adoro cada movimento que faz, levada pelo prazer. Volto a lamber seu
clitóris, sentindo sua mão vir de encontro à minha cabeça, tentando se segurar
ou garantir que eu não saia daqui.
Lambo e sugo sua boceta, deixando-a inchadinha, dando uma palmada
leve e a fazendo pular na bancada.
― Hum... vai...
Mais uma palmada leve e volto a chupá-la, lambendo com leveza em
seu clitóris e colocando um dedo dentro dela. Sinto-a apertar meu dedo e sei
que está ao ponto de gozar e não paro, até ter Mônica gritando, tremendo e se
esfregando em minha cara, apertando meu dedo com sua boceta, prendendo
minha cabeça entre suas pernas, gozando e me melando inteiro.
Sinto tanto prazer ao vê-la gozar que seguro para não jorrar porra na
cueca como um adolescente inexperiente. Vou gozar, gozar gostoso, mas
dentro dessa boceta e só paro de chupá-la quando a tenho mole, quase sem
forças.
― Já molinha assim? ― Me levanto, a segurando pela cintura, minha
boca melada com sua excitação, assim como suas pernas e eu adorei seu
gosto, seu cheiro.
― Não, quero mais, Benjamin, quero você dentro de mim. Desde que
fui embora, naquele dia, eu quis isso, quis saber como era ter você dentro de
mim. ― Vencido, vou como um cachorrinho fazer o que pede, já me livrando
da minha bermuda e boxer.
Seguro meu pau em minha mão e olho Mônica, ainda sentada na
bancada da cozinha, linda ao ter os olhos presos em minha mão.
― Quer ele dentro de você?
― Quero, quero muito ― fala, descendo da bancada, me beijando.
Seguro sua cintura, faminto, com pressa, virando-a de costas para mim,
para que se apoie no mármore onde estava sentada segundos antes.
Estalo um tapa em sua bunda, puxando seu cabelo, dando-me a lateral
do seu rosto livre, beijando sua boca. Desço por seu pescoço e vou descendo
por sua coluna, até sua bunda. Dou uma pequena pausa, deslizando minha
mão por suas costas, sua bunda e tiro sua calcinha. Agora sim, ela está
completamente nua.
Beijo e lambo sua bunda, uma, depois a outra e a abro para mim, tento
uma visão perfeita. O tesão faz com que eu queira estar logo dentro dela,
possuí-la e pensando bobamente se um dia ela me deixará entrar aqui. Passo a
língua ao redor do seu cuzinho e desço até sua boceta novamente, molhando-
a para mim.
Levanto-me, colocando a camisinha e, por fim, pincelo meu pau desde
seu clitóris até sua bunda, indo e vindo, a excitando mais e mais, meu tesão
me levando ao limite.
― Benjamin, não me tortura, por favor.
― Calma, mal começamos.
Faço o que me pede, a penetrando, devagar, sentindo cada centímetro
da sua boceta apertar e moer meu pau, vendo Mônica arquear as costas,
olhando para trás, por cima do ombro. É minha perdição e me atolo de vez
dentro dela, fazendo-a gemer.
― Apertadinha, Mônica, uma delícia. ― Sou obrigado a fechar os
olhos, me segurando ao senti-la.
― É, então me come, vai.
Nego, ela não sabe o quanto me custa segurar o gozo. Movo-me dentro
dela, sentindo como a deixei molhada, quente, receptiva. Seguro seus quadris,
começando devagar, querendo sentir, me acostumar a estar dentro dela.
É exatamente como imaginei que seria, perfeita, gostosa e percebo que
poderia me viciar em Mônica, no seu jeito, no seu sorriso, não apenas no
sexo.
Não gosto do rumo dos meus pensamentos e a viro de frente para mim,
segurando seus joelhos e a tirando do chão, fazendo-a montar meu pau.
Colo sua boca na minha, entrando com ela onde acredito ser seu quarto,
a colocando na cama, sem me afastar um segundo sequer.
Volto a sugar seu seio, a penetrando mais fundo, a olhando, sem querer
perder nenhum detalhe. Seguro seu rosto com a mão, pedindo sua atenção,
que segue gemendo com olhos fechados.
― Eu preciso de mais, Ben, porque sinto que vou... Deus, eu vou
explodir.
― Vai é? Quer assim? ― Vou devagar, provocando-a. ― Ou assim. ―
E começo a ir depressa, o barulho dos nossos sexos se chocando ecoando no
quarto.
― Assim, isso, continua.
E não quero mesmo parar.
Seguro suas pernas, me dando mais espaço e soco em sua boceta com o
máximo que posso, indo até o fundo, arrancando dela qualquer prazer que
seja, querendo senti-la gozando em meu pau. Não demora, ela já está
estimulada e alcança o gozo de forma rápida ao me ter de joelhos entre suas
pernas, massageando seu clitóris.
Sinto cada movimento e espasmo e não seguro, não consigo mais e o
gozo explode no látex, meu corpo entrando em combustão, um prazer
ensurdecedor castigando meu corpo, me jogando no escuro.
Minhas bolas se contraem, meu pau pulsa dentro dela e acabo cedendo
sobre seu corpo, ouvindo e sentindo seus últimos gemidos e tremores,
segurando parte do meu peso em meus antebraços para não a esmagar.
Beijo seu pescoço, pequenos beijos, agora também em seu rosto e
observo, aos poucos, ela abrir os olhos de forma preguiçosa, quase sonolenta.
Um olhar, depois um sorriso e, por fim, ela me puxa para um beijo
lento, sua língua querendo a minha com paciência, como se fosse o nosso
primeiro beijo.
― Perfeita... ― elogio, sentindo sua mão em meu rosto, um carinho
leve.
― Eu não me lembro de como foi a primeira vez, mas dessa vez foi...
incrível.
Afundo meu rosto em seu pescoço e inalo seu cheiro, tentando entender
do que fala.
― Como assim, primeira vez?
― A primeira vez que transamos. Oh, desculpe te falar assim, é que
naquela noite acabei bebendo demais e não me lembrava de como... de como
foi, sabe? Me desculpe.
Consternado com o que diz, começo a sorrir, segurando uma
gargalhada ainda estando com meu pau dentro dela.
― Nem poderia lembrar, Mônica, porque não transamos naquela noite.
― E sua expressão parece perdida.
― Como é?
Como tudo aconteceu

Aqui embaixo eu tenho um ótimo vislumbre de seu rosto divertido,


depois de me dar o melhor orgasmo da minha vida, quer dizer, os dois
melhores orgasmos da minha vida e me deixar confusa, dizendo que essa é,
na verdade, a primeira vez que transamos.
― Não sei bem o que se lembra sobre aquela noite, Mônica, mas não
transamos.
Movo meu corpo ainda preso pelo seu e ele se afasta, sentando,
completamente nu, aos pés da cama, colocando um travesseiro de apoio sobre
seu membro semiereto. Puxo o lençol para tapar meu corpo, tentando
entender o que diz, os detalhes do sexo delicioso ficando em segundo plano,
após o que disse.
― Não, não, não. E por qual motivo eu acordaria nua em uma cama
com você?
Um sorriso largo se amplia em seu rosto e eu fico perdida, tentando me
lembrar de qualquer coisa que seja, algum detalhe.
― Morena, não transamos. O máximo que aconteceu entre nós foi
alguns beijos, muito gostoso, por sinal, além de um quase boquete e um coma
alcoólico, nesse caso, o seu coma alcoólico.
E eu só posso negar.
― Não, como, como... eu... não! ― continuo, acreditando em minha
negação e ele parece achar o máximo.
― Então... espera aí, já volto, você sugou minhas forças.
Benjamin me deixa no quarto e, sem vergonha nenhuma, vai nu até a
sala, voltando com a caixa de pizza nas mãos, se sentando ao meu lado e
puxando um pedaço do meu lençol para se cobrir.
― Como eu ia dizendo. ― Dá uma pausa, pega um pedaço de pizza e
me oferece uma fatia. ― Chegamos ao hotel, escolhemos um quarto,
estávamos animados, excitados, entramos e eu fui ao banheiro para te dar
tempo. Não sei, você parecia meio desconcertada e quando voltei, nos
beijamos, você muito sensual fez um belo ensaio para um bom boquete e
quando a coisa esquentou, a bebida te pegou de jeito e você passou mal,
quase vomitando e mim. ― Ele me olha, comendo um pedaço de pizza
enquanto se diverte com a minha cara. ― Passamos parte da noite no
banheiro, enquanto eu cuidava de você. Acabou molhando sua roupa quando
tive que te dar banho e por isso acordou nua, em minha cama. Já eu acordei
nu porque não durmo com roupa.
― Eu não acredito...
― É, pode acreditar. Come aí vai, pra disfarçar a cara de horror ―
zomba, na maior cara de pau.
― Benjamin. Esse tempo todo, eu fiquei tentando me lembrar da noite
que transamos, sabia? ― Bato em seu ombro, sem acreditar que isso
realmente aconteceu. ― Quer vergonha, meu Deus!
Eu fugi desse homem porque achei que tínhamos transado, tomei até
pílula do dia seguinte, com medo de não termos usado camisinha, que agora
sei, nem chegamos a precisar usar. Que vergonha e eu só vomitei e dormi,
pior, ele teve que cuidar de mim, tirar minha roupa. Meu senhor!
Tenho vontade de enterrar minha cara debaixo da cama, apenas para
não ver esse seu risinho vitorioso nos lábios.
― Eu, eu... deveria ter me contado, sabia?
― Queria que eu fizesse o que, morena? Não tive como contar, até
tentei, mas você estava fugindo de mim como o diabo da cruz.
Errado ele não está, fugi, fiz confusão, passei vergonha... puta que
pariu!
― Obrigada.
― Pelo o quê?
― Cuidou de mim, não deve ter sido muito legal passar a noite
cuidando de uma desconhecida. ― Sou sincera, fiz um puta papelão.
― Nada de mais, foi até divertido, falou algumas besteiras enquanto
estava abraçada ao sanitário.
Tapo meu rosto, eu só quero esquecer de novo.
― Agora, já que estamos falando daquela noite, me diz, por que foi
embora?
Eu olho-o, tentando me decidir se conto a ele, comendo a pizza para
ganhar tempo, adiando passar mais vergonha.
― Desespero do momento. Não me lembrei de nada quando acordei e
tinha um cara nu ao meu lado, nem seu nome eu sabia, isso já é suficiente o
bastante pra surtar e ir embora, não acha? ― Ele ri.
― Não, claro que não.
― Fala sério, claro que é. Fui noiva por sete anos, ia me casar e, até
então, só tinha transando com o babaca do meu ex, você é o meu segundo e
nem seu nome eu me lembrava, nada. Isso é motivo suficiente para fugir, sim.
― Sei que falei demais quando termino e pego Benjamin me olhando
estático, olhos avaliativos, o pedaço de pizza parado no ar, o riso morrendo.
― O que foi, Benjamin?
― Nada. Já foi noiva?
― Já, acabou há cerca de um ano e meio. Essa pizza tá boa, né? ―
Tento mudar de assunto, mas pela sua cara, não vai rolar.
Ele parece surpreso com o que lhe conto.
― Espera, tem um ano e meio que não transa? ― Ele é inacreditável.
― Foi a única parte que ouviu?
― A única que me interessa, mas vou chegar ao motivo também ―
brinca, tentando trazer leveza para a conversa. ― E acabou por quê?
― Quer mesmo saber?
― Fui seu segundo, acho que mereço, ainda mais depois de uma
performance como a minha.
― Convencido.
― Gostosa. Agora vai, conta aí. Tem o tempo de comer essa pizza para
me contar, pois depois, vou te levar pra aquele banheiro e transar com você
embaixo do chuveiro.
― Você sabe mesmo como convencer alguém, não é?
― Tenho minhas armas. ― E ele parece falar do tempo, uma
naturalidade como se fôssemos amigos de décadas, enquanto tenta tirar de
mim detalhes da minha vida.
― Tá, é simples. Começamos a namorar bem cedo, nossas famílias
eram amigas, tínhamos o mesmo círculo de amizade, foi natural me
apaixonar. Noivamos depois de quatro anos de namoro e no dia do tão
sonhado casamento, após sete anos juntos, ele me traiu e, decidiu terminar o
noivado, horas antes do casamento.
― Que filho da puta! ― Benjamin parece mesmo indignado, o
engraçado é que ele parece ser exatamente esse tipo de cara, aquele que não
se envolve, que trai.
― Pois é, e foi só. ― Termino meu pedaço de pizza, ganhando um
beijo em meu pescoço que me arrepia os pelinhos do braço.
― Só? Por isso se mudou para o Rio?
― É, também. Cidade pequena, erámos conhecidos, crescemos naquela
cidade, sabe? Tinha a minha mãe, que o adorava, adora. Enfim, foi
necessário, nem cheguei a pensar.
― Entendi.
Um pequeno silêncio se segue e corto essa pausa.
― O que foi?
― Nada, sua história. Sete anos de namoro e tudo acaba de um dia para
o outro. Ainda o ama?
Olho Benjamin como se fosse um et, após essa pergunta, negando com
veemência.
― Não, claro que não. Deixei de amá-lo e respeitá-lo naquele dia. Mas
acho que relacionamentos são assim, confusos e podem machucar.
― É, tem razão, por isso prefiro deixar os sentimentos longe. Vamos
pro banho?
Vejo Benjamin deixar a caixa de pizza de lado e se levantar, me
estendendo a mão. Mas algo em sua fala me incomoda, talvez por já deixar
explícito para que eu não espere dele nada mais que sexo.
― Agora? Já?
― É só banho.
― Sei... claro que é. ― Aceito sua mão, mas não vamos longe, ele me
empurra na primeira parede mais próxima, apertando meu corpo com o seu.
Cá para nós, o homem não está errado em ser cheio de si, ele realmente
é isso tudo. O sexo foi... uau.
― Posso me viciar em você, Mônica. ― Seus olhos me dizem que isso
pode ser verdade, mas a mim parece extremamente contraditório.
Não se envolve em um momento e no outro... posso me viciar em você.
Será que ele pensa que, por ser o meu segundo, irei cair de amores por ele?
Por isso disse aquilo?
Ah, mas ele está muito enganado.
― Eu diria. ― Beijo seus lábios, descendo por seu queixo, mordendo-o
e sentindo seu membro ficar mais duro contra a minha virilha. ― Caso se
vicie, podemos repetir isso aqui outra vez, sem compromisso, apenas sexo. É
só o que quero de você, Benjamin.
Ele me olha, sério, para em seguida, um sorriso delinear seus lábios.
― Isso é um convite para uma amizade colorida?
― É, preciso de cor em minha vida e de sexo...
― Sempre que der vontade?
― Uhum...
― Que delícia, morena. ― Ele me beija.
Eu posso lidar com isso, apenas sexo, sem nenhum compromisso,
amizade colorida. Assim, eu protejo meu coração.
Um pé na paixão e outro na razão

― Nossa... parece muito feliz.


Olho Sophie por cima do ombro, tentando não dar atenção a essa frase,
mas um sorriso se abre de forma automática ao pensar no motivo de estar tão
relaxado. Feliz já é um pouco de exagero.
― Impressão sua, estou como em todos os dias.
― Não está, não. ― Ela não se dá por satisfeita, se joga na lona e, após
deixar as luvas em um canto do ringue, faço o mesmo ao me deitar ao seu
lado. ― Está com um sorrisinho sacana desde que chegou, os olhos aí,
brilhantes, parecendo as princesinhas de conto de fadas. ― Ela ri. ― Ai, isso
dói ― reclama, não segurando o riso frouxo quando lhe dou uma cotovelada
marota.
Não, não tem nada de olhos brilhantes aqui, apenas um homem de
bolas vazias ao qual passou a noite fodendo uma bela mulher, uma mulher
que se mostrou diferente do que eu esperava.
Mônica.
A impressão que tive enquanto estive com ela, era que, ao ponto que eu
ia tentando descobrir como lhe dar prazer, acabava por mostrar onde ter
prazer. Parecia que nós dois estávamos desbravando, juntos, seu corpo.
Trago o braço sobre o rosto, fechando os olhos ao pensar na noite que
tivemos. Mônica, apesar do olhar faceiro e desprendido, pareceu inexperiente
em vários momentos, diferente do que seu corpo dizia. Talvez isso se deva ao
fato de passar anos com um babaca que acabou enfiando os pés pelas mãos.
Como alguém perde uma mulher como Mônica?
Enquanto estivemos juntos, nada foi fingindo, nenhuma sensação foi
escondida e eu adorei cada segundo do que tivemos. E quando citou o ex-
noivo, ela tentou não dar importância, mas o brilho dos seus olhos não estava
mais presente. Estou aqui, agora mesmo, doido para voltar para casa e bater
em sua porta.
Começar o que dissemos um ao outro ontem, sexo bom sempre que der
vontade. Um acordo excelente.
Não imaginei que após essa noite eu iria querer estar com ela tão logo,
achei até que essa fixação que carreguei por dias, tão logo, passaria ou ao
menos diminuiria. Mas transamos, passamos a noite juntos, algo inusitado, e
estou agora mesmo louco para estar com ela outra vez, voltar a mergulhar em
seu corpo, afoito para voltar para casa e bater em sua porta.
Afinal, o convite foi feito, e por ela. Sexo bom sempre que der vontade,
sem compromisso. Um acordo excelente, apesar de ela não me parecer
alguém que faça sexo só por fazer.
― Ei! ― Sophie chama. ― Não vai mesmo me contar o motivo desses
suspiros?
Olho para ela, suada, bagunçada, me observando enquanto segura seu
peso nos cotovelos.
Não sei do que está falando. Não tem nada de anormal comigo, menos
ainda essa felicidade toda que insiste em ver em mim.
― Seu filho da puta! ― fala e se senta, olhos grudados em mim e
sorrio. ― Por isso se atrasou, não, se atrasou não, simplesmente não veio,
chegou aqui já às sete da manhã.
Gargalho, pegando a toalha suada que ela joga em mim.
Isso foi verdade. Passei a noite quase toda acordado, descobrindo cada
parte do corpo de Mônica e quando já estávamos ambos exaustos, suados e
sem fôlego, fechei os olhos ali mesmo ao seu lado e acabei dormindo,
dormindo demais, eu diria.
Culpo o cansaço que a morena me causou e não de me sentir tão bem
ao seu lado ao ponto de não querer sair correndo após o sexo. Sendo a
segunda vez que durmo com a mesma mulher.
Por isso acordei tarde, bem tarde para quem pretendia estar aqui às
4h30 da manhã. Mas quando despertei nesse horário, já atrasado, e a vi ali,
nos meus braços, em um sono tranquilo... não deu simplesmente para levantar
e sair.
Ao contrário do que faria no habitual, acabei pegando-me cagando para
a hora, deixando tudo de lado, fazendo um pequeno carinho em seu rosto,
olhando-a por tempo demais, mesmo sabendo que estava muito atrasado e,
por fim, acabei voltando a dormir.
― Já pedi desculpas pelo atraso, mas sim, estava com ela e dormi
demais. ― E isso acende o rosto de Sophie com algo que não reconheço,
tanto que a faz me olhar com cara... feliz?
― Oi? Dormiu? Dormiu com ela? Não se atrasou por estar fazendo
sexo até o sol raiar e, sim, porque dormiu, tipo, abraçadinhos? Espera e quem
é ela?
― O que quer dizer exatamente, Sophie?
― Da sua regra ridícula. Nunca durma com nenhuma mulher, não dê
esperança que seja algo mais, algo além do que sexo. Você se lembra disso?
― E com isso ela tenta imitar minha voz.
― Está sendo ridícula.
― Estou, cuzão? Eu não acho e fala logo, quem é ela?
― Não começa, trepamos como coelhos, Sophie, estava cansado, morto
e por isso acabei cochilando e perdendo a hora ― falo, nem mesmo certo de
que foi mesmo por isso.
Afinal, eu poderia ter levantado, catado minhas roupas após vê-la
dormir exausta ao meu lado e ter ido embora. Mas não... simplesmente
porque eu não quis. Eu quis ficar, quis ter mais dela, mais do seu cheiro.
― Sei. ― Ela se joga novamente na lona.
― Ainda estou morto, para dizer o mínimo.
― Imagino... e como foi?
Olho para a magrela deitada ao meu lado, que tem cara de quem me
pegou na mentira. Não entendo essa sua cara de deboche.
― O quê?
― Com a tal “ela”, como foi?
Fico calado por segundos, estranhando a pergunta. Em todas as minhas
noitadas e casos aleatórios, em que eu tentei contar à Sophie como foi ou
convencê-la de que uma vida sexual ativa até mesmo nos ajuda a
desestressar, ela nunca quis ouvir e agora, está me perguntando.
― Ora, nunca quis saber detalhes da minha vida sexual, por que isso
agora? ― pergunto, me divertindo.
― Talvez porque em todo esse tempo, não me lembro de te ver suspirar
como uma mocinha apaixonada durante os treinos, tão aéreo ao ponto de que
se eu quisesse, teria te acertado em cheio e te levado à nocaute.
― Para... ― peço, eu não estou suspirando. ― Não viaja.
― É sério, não é brincadeira. E então, como foi? Foi diferente com ela?
E eu vou fingir que essa ela, não é sua vizinha gostosa e linda.
Espertinha, penso por instantes e, sim, foi muito, muito diferente, foi
perfeito.
― Não, foi como todas as outras e eu não disse que passei a noite com
Mônica ― minto, de forma descarada e me levanto. ― Posso até mesmo ter
passado a noite com duas garotas, por isso estou tão esgotado. Já pensou
nessa possibilidade?
Rio, lhe estendendo a mão, vendo-a fazer cara de nojo.
― É um cuzão mesmo e um detalhe, você nunca aprendeu a mentir,
Benjamin, não pra mim.
― Isso é você quem diz. Agora vamos, temos um almoço com mamãe
ou já estava se esquecendo de novo?
― E ela nos deixa esquecer? Vamos lá, use o banheiro da academia,
que vou usar o do quartinho. Em vinte minutos estou pronta.
― Não duvido.
Ela ri, saindo do ringue, enquanto pego algumas coisas jogadas para
guardar.
Foi diferente?
Claro... apenas por ser com Mônica.

Largado no sofá da casa tão familiar, fico com os olhos focados no


forro branco de gesso, com a mente solta. Ouço a voz de minha mãe soar
animada em algum lugar da casa ao falar com Sophie, mas não dou muita
atenção para o que quer que seja.
Minha atenção está longe daqui, lá em meu prédio, no apartamento ao
lado, para ser mais sincero.
Uma noite e me sinto como um viciado, louco por mais, meu pau
ficando duro apenas por imaginar estar com ela, nua, e está difícil controlar a
porra do tesão.
E não faço ideia do porquê me pareceu ser diferente com ela, foi só
sexo. O encaixe foi perfeito, seu corpo, seu sorriso, o fato de ouvir dela que
fui seu segundo companheiro sexual, causou algo em mim, uma
possessividade que sinceramente não gosto. Talvez tenha sido a demora em
tê-la, isso pode ter aumentado o tesão a um nível que apenas uma noite, não
aplacou em nada o desejo que sinto.
Suspiro. É... Sophie estava certa. Estou mesmo suspirando. Caralho.
Abro o aplicativo de mensagens pela milésima vez e a vejo on-line, já
quase duas da tarde. Olho novamente sua foto de perfil, babando como um
lobo idiota, não me reconhecendo quando o assunto é mulher, ou melhor,
essa mulher.
Digito um “Bom dia”, apenas para apagar em seguida, desistindo de
mandar qualquer coisa. Essa de mandar mensagem no dia seguinte não é para
mim. Que diabos estou fazendo? Droga.
E mesmo dizendo isso, torno a digitar um:
“Bom dia, morena!”
Penso até mesmo em inserir um emoji, me recriminando em seguida e
como um imbecil, eu envio, sem conseguir me conter, esperando que ela
responda em seguida, de olho na tela. Mônica visualiza, sai do aplicativo e
não responde. Que infeliz... ela não vai responder?
Pela primeira vez me vejo esperando, esperando e esperando uma
resposta de uma mulher, chego a notar o coração mais acelerado, mas finjo
não ligar isso ao fato de esperar um bom dia da mulher com quem fiz um
sexo mais que delicioso ontem à noite.
Nunca senti tanta urgência por alguém, não desde os meus dezoito
anos. Logo, um digitando aparece ao lado de sua foto e chego a sorrir.
“Bom dia, vizinho. Como está?”
Continuo sorrindo como um belo idiota.
“Bem, afinal de contas, dormi muito bem e você?”
Espero, espero, digitando...
“Ótima, acordei há pouco, cansada, mas muito bem, além de saciada.”
Safada gostosa do caralho e a informação faz meu pau pulsar. Outra
mensagem chega, antes que eu possa responder.
“Estou só um pouco dolorida. Creio que por conta do treino que o meu
personal gostosão me deu, além do tratamento especial ontem à noite.”
Sorrio, na verdade, desde que ela começou a responder estou sorrindo.
“Seu personal está agora almoçando com a família, louco de tesão,
tentando esconder uma ereção dolorida que a senhorita está me causando.”
“Rsrsrs, você que é insaciável.”
“Mal começamos.”
Posso imaginá-la morder o lábio ao ler isso, do mesmo jeito que fez
quando a penetrei fundo ontem à noite, a levando ao seu limite.
“Hum...”
“Até mais tarde e bom almoço.”
“Obrigada, para você também.”
― Eu disse.
Sento-me num pulo quando ouço a voz risonha de Sophie e abaixo o
celular ao vê-la, junto com minha mãe, me observando. Estou virando
chacota em minha própria casa.
― Será que dessa vez uma mulher te segurou pelas bolas, Benjamin?
Desajeitado, me levanto, agradecendo a camisa um tanto comprida que
estou vestindo.
― Sophie! ― nossa mãe repreende pelo linguajar, não que vá adiantar
muito.
― O quê? Ele tem bolas e, pela cara, estão ficando bem amarradinhas.
― Dá de ombros, fazendo mamãe rir.
― Mas então, filho, se apaixonou por alguma moça? Conta pra
mamãe.
― Mãe. ― Passo por elas na porta, indo para a cozinha que tem a
mesa posta para o almoço. ― Sei que sonha com isso, mas não. Nenhuma
mulher pegará seu nego pelas bolas. Imagine só que crime seria? Afinal,
privaria outras damas de ter seu filho.
― Seu palhaço. ― Ela gargalha, batendo em meu ombro com o pano
que tem nas mãos, certa de que fui laçado. Não fui, é só tesão, muito tesão
acumulado.
Dona Célia é uma senhora já com seus cinquenta anos. Baixinha, com
feições cansadas pelo o que já passou e pelo o caos que ainda sente dentro de
si. Tudo o que meu pai lhe causou durante o casamento resultou em uma
quase depressão, além de muita ansiedade.
É por ver diariamente o que ela passa, que não consigo perdoá-lo.
Hoje, minha mãe está bem, tem consultas regulares com psicólogo e
psiquiatra, toma algumas medicações e estamos bem com isso, já consigo
enxergar alegria em seus olhos, mas a mágoa que sinto pelo infeliz que fez
isso com ela... é surreal.
― Conta como foi sua semana, mãe?
― Muito bem. Fiz o meu retorno com o doutor Francisco e ele me
disse que estou ótima. Inclusive, diminuiu uma dose do remédio. Achei
ótimo, estava dormindo até demais.
― Olha só, isso é perfeito, Célia ― Sophie fala e mamãe a olha. ―
Mãe, digo mãe ― conserta e minha mãe volta a enfiar um pedaço generoso
de lasanha em seu prato.
Sophie talvez nunca tenha se acostumado de fato que tem uma mãe,
que dona Célia aqui tenha realmente tomado esse papel para si. Não a julgo,
no fundo, só ela mesma sabe o que já passou. Só podemos estar aqui, ao seu
lado, como família.
― Sim, isso é mesmo muito bom, mãe. E já que reclama tanto de
dormir demais, agora poderá dormir menos.
― Nem diga, continuo dormindo demais. Acordei tarde que só hoje,
acredita? Perdi a hora. Ainda bem que vocês nunca chegam para almoçar
cedo mesmo, senão, teriam topado sua mãe dormindo.
― Sendo sincero, eu não acharia ruim, lembro o quanto a insônia lhe
fazia mal. ― Enfio um pedaço da lasanha na boca, para ser recriminado em
seguida.
― Esqueceu os modos? A oração.
― Claro, desculpe, mãe ― peço, levando um chute de Sophie por
baixo da mesa, enquanto me olha sibilando um: cuzão.
A oração é sagrada antes das refeições e junto as mãos, esperando
minha mãe agradecer o pão de cada dia e nossa presença na mesa. Ao sermos
liberados, volto a comer e um curto silêncio toma a mesa. Por um instante,
mínimo que seja, imagino Mônica aqui conosco.
Que loucura, nego com veemência, tentando tirar isso da cabeça, uma
ponta de preocupação enchendo minha cabeça com esse pensamento. Uma
intimidade, de trazê-la aqui não é algo que eu goste, tampouco que eu queira.
― Mas diga, Ben, quem é a moça?
― Oi? ― Quase engasgo.
― A moça que tá te deixando com esse sorriso bobo, eu te conheço,
filho.
Olho para Sophie, linguaruda!
― O que andou contando? ― pergunto e mesmo se ela tentasse, não
conseguiria fazer cara de inocente. Ela é um demônio e nem tenta disfarçar.
― Nada, nada... só que anda suspirando como uma mocinha na
adolescência. ― Faz chacota a descarada e melo meu dedo com molho de
tomate em meu prato, passando em seu nariz.
― Não, não, ah, seu merda! ― ela xinga, levando na brincadeira.
Espero sua retribuição, mas mamãe é mais rápida.
― Parem os dois e Sophie, não xingue na mesa ― mamãe ralha e
prendemos o riso, enquanto sou salvo e a vejo limpar os dedos sujos que
vinham parar em minha cara.
― Desculpa, mãe. Mas ele começou ― diz, limpando também o nariz
arrebitado.
― E parem, as duas, não tem ninguém, não entendo essa fixação, por
que acha que tem alguém? ― Tento o meu melhor ar de desinteresse.
― Tudo bem, filho... se diz não ter ninguém, veja, eu acredito...
― Ótimo e parem de ser fofoqueiras.
― Agora comam a sobremesa que fiz e me digam, irão passar a tarde
comigo? ― desconversa, trocando um olhar cúmplice com Sophie, que não
disfarça a cara abusada.
― Sim... temos filmes de terror para a senhora.
― Um bom? O último não gostei muito.
Mamãe adora filmes de terror e eu amo isso. Quando mais novo,
sempre ouvi os moleques reclamarem de terem que assistir a filmes de terror
escondidos, pois os pais não gostavam, já eu, sempre tive companhia.
― Sim, saiu A freira no Telecine. Aquele que não conseguimos assistir
com a senhora no cinema, irá gostar.
― Maravilha, mais tarde vou preparar uma boa pipoca, inclusive,
aquela doce que tanto gosta, Sô, com leite ninho.
― Hum, que delícia...
Confirmo, mas meu olhar vai para o celular, procurando se há alguma
outra mensagem de Mônica, não tem nada e de repente, sinto até mesmo
urgência de voltar para casa. Olho Sophie, que sorri ao meu lado, vendo-me
bisbilhotar o aplicativo em busca de mensagens.
Curiosa!
Bufo. Minha sede por Mônica sequer diminuiu, pelo contrário, e mal
posso esperar voltar para casa.
— Filho — minha mãe me chama e tem minha atenção, enquanto pega
uma travessa de doce na geladeira. — Seu pai, por um acaso, te ligou?
Travo, olhando dela para Sophie, que parece saber de algo.
— Não entendi, por que ele ligaria?
— Benjamin...
— O que foi, mãe? Ele já está morrendo?
— Ben, não fala assim, meu amor, é o seu pai.
Sorrio com sarcasmo, não tenho o coração tão bom quanto minha mãe,
nunca o perdoei, nem mesmo quando apareceu na academia no mês passado,
insistindo em me contar que está doente. Mesmo depois de dias, não consigo
explicar o que senti ao vê-lo.
Ele esperava o que de mim?
— Não me interessa, mãe. Não tenho nada para dar a ele, nem mesmo
perdão.
— Ele irá passar por uma operação, filho, não tem ninguém.
Finjo que isso não me importa. É o que venho fazendo, bloqueando
todo e qualquer sentimento ou pensamento sobre ele. Não quero me importar,
não mesmo.
— E a culpa disso é de quem?
— Ben...
— Por favor, mãe, não. Não me peça isso, não quero ter que te negar
nada.
A cozinha é tomada por silêncio, nada é dito. Passei a vida vendo
aquele homem maltratar minha mãe, com isso ele matou todo, qualquer
respeito e amor que eu deveria sentir por ele. Não tenho pai, não o vejo como
um e não posso, nem quero perdoá-lo, tampouco pensar nele.

Estaciono a moto na garagem e passo pela recepção acenando para o


porteiro, com pressa, tentando bloquear a nuvem carregada sobre minha
cabeça desde que saí da casa da minha mãe. Bloqueando o assunto pai. Sei
que a chateei, mas não consigo fingir sentimentos. Com isso, minha fuga tem
sido pensar em Mônica.
Isso até parece romantismo.
Passo direto por minha porta fechada no corredor, querendo somente
ela. O que inferno essa mulher fez comigo?
Noto, parado frente à sua porta, que talvez esteja afobado demais,
dando importância demais, que seria melhor ir para casa, tomar um banho,
ver minha menina e só depois, caso ela dissesse algo, nos encontraríamos.
Ou era assim que eu deveria agir, porque antes mesmo de me dar conta,
estou batendo em sua porta.
Quanta resistência essa a minha.
Não tenho resposta alguma lá dentro e mais uma vez, bato, a chamando
também e recebendo o silêncio em resposta. Espero alguns instantes e bato
mais algumas vezes, impaciente, sacando o celular do bolso e indo direto
para a agenda.
Espera.
Olho seu nome na tela. Não, não vou ligar. Ela deve ter saído. Ainda
assim, tento mais uma vez ao bater em sua porta e sem resposta, coloco o
rabo entre as pernas e volto para casa.
Não posso continuar com isso, essa fixação. Foi bom, foi ótimo estar
com ela, mas preciso de controle sobre meu corpo e sentimentos. Lidei com
meus problemas sozinho, até então, continuarei assim. É para ser sexo, nada
mais, não precisamos de toda essa afobação, detalhes sobre nossas vidas e
falta de controle, não preciso estar preso pelas bolas, como Sophie mesma
disse.
Vou esperar que ela dê o primeiro passo.
Nesse caso, já que ela não está, eu poderia aproveitar para sair e
procurar outra diversão, desanuviar a mente. Sim, é uma boa ideia.
Nem chego a girar a chave na minha fechadura, voltando a descer as
escadas ao ligar para Bruno. Preciso de companhia para beber, além de
controlar essa obsessão.
Um substituto

“A sensação é única quando sua língua molhada, macia e deliciosa


passou por minhas dobras, causando arrepios e me levando à loucura, de
forma literal mesmo. Me contorci como uma lagarta em meio a um asfalto
quente, gritando seu nome, ensandecida. Eu pude sentir cada leve
movimento, cada sensação, o sorriso sacana em seus lábios quando me olhou
e...”
― Pela periquita assanhada, Mônica, tô falando contigo!
Quase caio da cadeira quando André praticamente grita comigo, me
fazendo engasgar com um pedaço de broa, por estar mais uma vez, longe
demais em meus pensamentos. Tudo por causa daquela língua deliciosa que o
gostoso do meu vizinho tem.
― Desculpa, eu estava longe, o que estava falando?
― Claro que estava longe, deu pra perceber. Estou perguntando se
você já se deu conta de que teu aniversário está chegando?
― Ah, isso? Nem me lembrava. É só mais um ano. Nada de mais.
Esquece.
Ele até tenta e eu nego, não gosto de aniversários. Digo, dos meus
aniversários, afinal, amo as festas dos outros. Para que comemorar que você
está ficando mais velha? Completo vinte e sete anos em breve e passa tão
rápido que, após os quinze, é só ladeira abaixo.
André revira os olhos, ele já tentou me convencer tantas vezes que acho
que começou a desistir. Mas independente disso, essa é realmente uma data
que não me anima muito.
Segundo Isabella e sua sabedoria de psicóloga, isso se deve ao fato de
que certa vez, quando completava nove anos, minha família esqueceu meu
aniversário. Aparentemente guardei essa mágoa e jogo-a para fora todos os
anos.
― Eu não me conformo, sabia? ― brada, parecendo mesmo
inconformado. ― Nunca vou aceitar essa de não me deixar preparar um
aniversario pra você. Sou traumatizado com isso. Bella não está aqui, mas
podíamos sair, sei lá, qualquer coisa.
Nego, não me importo mesmo com meus aniversários. Para ser sincera,
até agora, nem estava me lembrando de que amanhã fico mais velha.
― Desculpa, amigo, sei que é paranoia minha, que ama preparar
festinhas surpresas, mas não me sinto bem com elas. Aceito os seus sinceros
parabéns, um beijo um abraço, ficarei muito feliz com eles, mas é só.
― Jamais vou me conformar, mas se assim que quer. Conta aí, no que
estava pensando antes?
Sorrio, me achando idiota pelo o que vou falar.
― No meu vizinho, desde sexta que não tiro ele da minha cabeça.
― Também, se fosse eu a transar com aquele gostoso, estaria bobo
assim, aéreo. Eu, hein?!
― É, o problema é que ele sumiu, né?
―Não pira, não teve troca de mensagem depois da transa? ― pergunta,
todo curioso, enquanto estamos na agência vazia, após o atendimento.
― Sim, teve. Nada de mais, nem sei como ele conseguiu meu número,
mas mandou mensagem no sábado e só. Nem o vi depois disso, nem mesmo
no prédio. Parece ter tomado chá de sumiço.
― Hum... mas ele dormiu com você?
― Sim, dormiu ― confirmo e chego a suspirar enquanto vejo meu
amigo rir. ― Mas isso não é nada de mais.
― Eu acho que não. Não é o padrão dos homens que não tem mais
interesse mandar mensagem logo no dia seguinte. ― Ouço-o, mas acho que
ele está tentando me deixar melhor com a situação. ― Mas de toda forma, se
o bonitão estiver pensando que te deu um chá de rola e que por isso você caiu
de quatro, ele tá enganado.
Só que não... pois ficar pensando em como transamos, está me levando
à loucura, literalmente, me deixou de quatro, sejamos sinceros. O que não
quer dizer que ele precise saber disso. Só preciso transar de novo ou vou
acabar lacerando meu clitóris, não aguento mais ficar na mão.
― Sim, claro ― concordo, não querendo dizer que só de imaginar o
infeliz fico com a calcinha encharcada. Mordo o canto da unha, deu até calor.
― Para com essa cara de lobo desconsolado, Mônica, eu, hein. O cara é
gato, gostoso, um tesão? É, mas não é pra gamar, não, garota, pelo amor de
Deus, não é OLX, mas desapega.
― Não estou gamada, não exagera. Mas desde sexta à noite que estou
com um tesão dos infernos e com a imagem dele pelado, lindo, na cabeça,
não sei nem explicar. Mas não tem a ver com sentimentos, pois não tem mais
essa de sentimentos, meu coração tá fechado e vai continuar assim.
― Já as pernas estão bem abertas, né, fofa?
― Dé, será que tem essa de ser fácil demais? Dei rápido demais e ele
perdeu o interesse? ― Mal solto a frase e já me arrependo pela cara com que
ele me olha.
― E o caso é mais sério do que eu imaginava, tá louca, Mônica? Que
pensamento mais ridículo, esquece essas porcarias que tua mãe falava, eu,
hein.
Nego, ele está certo, é ridículo.
― Bom, ele não é a única piroca do mundo, né?
― Não mesmo, meu bem, é isso aí. Não se prenda só a uma rola, não, é
loucura, a gente acaba emocionado e apaixonado depois. Sai dessa. Se nesses
últimos quatro dias ele não entrou mais em contato, desapega, procura outro.
― Já saí.
― Tira essas paranoias da cabeça.
― Já tirei.
― Ótimo. Mas vem cá, por que não aceita de uma vez o convite do
médico bonitão que atendeu ontem? Ele é gato, muito gato. Viu aquelas
mãos? Um sonho...
Paro um segundo, pensando no tal bonitão que ele fala, ponderando
sobre a ideia.
Realmente, o cara é mesmo bonito, se bem que, bonito é pouco. Além
de ser médico, gostoso, simpático e parecer ter uma queda por mim, ou só
adora meu atendimento. Quem sabe aceitar o convite que ele fez, pela
segunda vez ontem, seria uma boa.
― Pra que pensar tanto, gente? Aceita e acaba logo com essa coceira
na boceta.
― É uma opção... seria estranho se eu mandasse mensagem, aceitando
o convite que ele fez? Ou posso mandar pro vizinho?
― Não, claro que não, tá doida? Esquece o gostoso e passa para o
próximo, de preferência o médico. Ele é gato e se deixou o número, foi
exatamente para isso, pra ter um retorno seu. Vai, responde e aceita logo.
― É, acho que posso fazer isso e dar início à minha nova vida
promíscua. ― Tento brincar, ainda ponderando se aceito ou não.
― Isso aí, porque agora você não vai dar, vai é distribuir, meu amor.
Decido-me e, ainda rindo, pego o celular e procuro o nome do médico
bonitão, deixando de lado a broa que estava comendo.
― Vou fechar meu caixa, que preciso sair. Espero novidades e boa
sorte, ou deveria dizer, boa transa?
― Bobo e espero que seja boa mesmo.
― Olha só, não é que se decidiu? Fica aí que já volto.
Ele gargalha e quando fico sozinha, chego a me perder, na dúvida se
respondo ou não o médico bonitão. Enrolo o tempo, olhando a xícara de café
em minha mão, aérea, igualmente passei todo o final de semana. E por quê?
Porque estava pensando no infeliz gostoso do meu vizinho e no que fizemos,
em como fizemos. No quanto foi bom.
Mesmo agora, olhando a foto do moço lindo que me convidou pela
segunda vez para sair, beber alguma coisa e conversar, meus pensamentos
viajam para o cara musculoso e tatuado que me deu os melhores orgasmos da
minha vida. Se bem que não posso tomar por parâmetro, qualquer um com
um pouco de esforço pode ser melhor que Neto, meu ex traste.
Cheguei a esperar que Benjamin batesse em minha porta pela manhã de
hoje, me obrigando a ir com ele malhar, mas nada, não teve nada. Ele
simplesmente sumiu, depois de deixar aquele perfume maldito no meu
travesseiro, sala e quarto.
E claro, eu não ia dar o braço a torcer e procurá-lo, cheguei a apagar
seu contato apenas para não correr esse risco, pois eu sabia, eu cederia. O
pênis dele pode ser lindo, perfeito e o infeliz sabe mesmo como usar, o que
não quer dizer que fiquei viciada naquela perfeição cheia de veias, rosa e
grossa.
Chega disso, balanço a cabeça, tentando prestar atenção em Miguel, na
foto do seu contato, negando pensar no vizinho cretino do 202.
Miguel é um homem realmente bonito, pele clara, cabelos escuros,
meio cacheados e olhos claros, que não sei dizer se são verdes ou azuis, além
de ter um tipo físico bonito. Vez ou outra ele vem aqui e sou a atendê-lo,
trocamos algumas palavras e, como isso, rolou alguns convites para sair, que
eu não aceitei e que agora, estou muito inclinada a aceitar.
Depois do seu sumiço, ficou claro que era só transa. Esclarecemos os
fatos, transamos e pronto, o interesse acabou. O que eu esperava? Flores pela
manhã?
Me poupe, Mônica Maria, aterrissa. Era só desejo, acabou, passou.
Agora é só encontrar outra rola para sentar, novas experiências, apenas.
Agora decidida, respiro fundo e começo a digitar:
“Olá, Miguel. Sobre o convite que me fez ontem, ainda é tarde para
aceitar?
Olho a mensagem que escrevi, leio e releio, mas sem coragem de
realmente enviar.
Mas convenhamos, não dá para ficar com Benjamin e a noite perfeita,
cheia de orgasmos, na cabeça, dá? Não, claro que não. Se foi só uma noite
para ele, será para mim também. Amizade colorida... que bobagem.
Mais confiante, leio uma última vez a mensagem que escrevi e envio, o
coração em um bumbo desesperado no peito, com a dúvida se fiz certo. Bom,
ao menos se eu enfartar, vou estar com um médico. Menos mal. Não demora
para sua resposta vir.

Olho-me no espelho pela décima vez, jogando o cabelo de lado,


tentando decidir se fica melhor para direita ou esquerda, vendo também se o
vestido está bom, se não está curto ou ousado demais, já que tem as costas
nuas.
Também, acho que já não dá mais tempo de trocar e, bom, Isa disse que
está perfeito, então, por que essa insegurança e esse frio na barriga? Que
droga.
Penso em desistir, inventar uma desculpa, sei lá, mas nesse minuto o
celular resolve vibrar sobre a cama e uma mensagem de Miguel, dizendo que
está lá embaixo, aparece na tela.
― Merda, vamos lá, Mônica, vamos lá, você consegue ― falo a mim
mesma, em frente ao espelho, me enchendo de coragem, ou não.
Pego a pequena bolsa e olho ao redor, tentando ver se esqueci algo, mas
não, tudo que preciso está aqui, comigo, incluindo preservativos. Passo pela
sala e quando estou fechando minha porta, ouço outra se abrir e um arrepio
sobe por minha espinha, o cheiro de madeira molhada chega até mim e a
tensão é imediata. Simplesmente sei, sei que ele está logo ali na porta ao lado.
Respiro fundo, dando de cara com Benjamin ao me virar, estático,
parecendo me avaliar e sair de um transe quando foca sua atenção em meu
rosto.
De novo, ele está perfeito, vestido em calça jeans, camisa vermelha
agarrada ao corpo e jaqueta preta, o capacete na mão. Olha, alguém também
vai sair.
― Boa noite, vizinha. ― A voz rouca parece ser dita próximo à minha
orelha e me seguro para não fechar os olhos, não me jogar sobre ele.
― Vizinho ― saúdo e guardando a chave em minha bolsa, passo por
ele, seguindo para as escadas, querendo ignorar. Mas por que é tão difícil?
Não demoro a ouvir seus passos atrás de mim e a tensão, o desejo e o
tesão se apossam do meu corpo. Que inferno é isso? Ele me jogou algum
feitiço?
― Vai sair? ― E só me faltava essa.
― Vou, sim.
― Uma festa? ― Tenta mais uma vez e disfarço meu descontento.
Olho-o por cima do ombro, não é tarde demais para ter interesse?
― Não, um barzinho com um amigo. ― Ah... e como sinto prazer ao
vê-lo abrir a boca para falar e nada sair, um pequeno vinco em meio às
sobrancelhas se formar ao me ouvir.
― Claro, entendo. O final de semana foi...
― Foi ótimo, obrigada. Descansei bastante ― corto, antes mesmo que
termine a pergunta, sem nenhuma intenção de devolver a pergunta. Benjamin
deve ter passado o final de semana dentro de alguma boceta por aí. Idiota.
Alcançamos o hall do prédio e quando vou me despedir, apenas por
educação, sua mão segura meu antebraço, me fazendo parar e olhá-lo.
― Sobre o fim de semana, Mônica, eu não entrei em contato depois do
sábado, acho que...
Mais uma vez não deixo que termine.
― Ah, relaxa. ― Balanço a mão no ar, como não dando importância ao
fato, mas sentindo meu coração dar piruetas no peito. ― Eu não esperava
nada mais que isso, não se preocupe. Agora preciso mesmo ir, boa noite, Ben.
Sem esperar uma resposta, lhe dou as costas, desfazendo seu toque que
queima meu braço, sentindo seu olhar em minhas costas. Filho da mãe.
Cumprimento o porteiro e não é difícil saber onde Miguel estacionou,
pois ele não faz segredo com sua Dodge gigante estacionada na porta do
prédio, estando ele parado ao lado, encostado no capô, tipo aqueles caras de
filmes de comédia romântica, pronto para impressionar. Minhas pernas quase
bambeiam com o nervosismo e não é mais por sair com ele.
― Uau ― fala, quando me aproximo e ganho um beijo demorado no
rosto, quando se desencosta do carro. Sua simpatia sendo perfeita. ― Você
está linda. ― E gentil.
― Obrigada, você também está muito bonito, você é muito bonito. ―
Travo, sem jeito, me obrigando a não falar demais.
― Vamos?
Como um perfeito cavalheiro, ele até abre a porta do carro para mim,
esperando que eu entre. Algo parece me segurar no lugar, não sei explicar,
sendo levada a olhar para trás. Me deparando com Benjamin ainda parado
próximo à escada, olhos em mim, parecendo... decepcionado.
Bobagem minha e, tentando mostrar um sorriso para um Miguel
esbanjando simpatia, entro no carro, esperando que tome seu lugar ao volante
e me tire daqui. Não antes de olhar mais uma vez para trás, mas não há mais
ninguém ali me olhando. Chego a respirar fundo, o que ele deve estar
pensando?
― Aqui próximo, não muito longe tem um barzinho ótimo, é bem
aconchegante, íntimo, podemos ir lá, o que acha?
Mal ouvi o nome do bar, ainda assim, confirmo.
― Claro, onde achar melhor. ― Vamos combinar, minha cabeça não
está mesmo aqui e o silêncio toma o carro, chega a me incomodar.
Balanço a perna, ele escolhe uma música, noto o trânsito e tudo está, de
alguma forma, errado.
― Parece estar distante, Mônica, algum problema?
Xeque-mate.
― Não, impressão sua, apenas um pouco cansada ― minto, assim, caso
não me sinta à vontade com ele, posso dar essa desculpa para ir embora.
― Claro, claro, e seu dia, como foi?
― Corrido, começo do mês sempre temos muita gente para atender,
agência sempre cheia, como pôde ver ontem. E o seu, muitos pacientes?
― Nada de mais, ontem fiquei de plantão à noite, então hoje estou de
folga. Aproveitei para resolver algumas coisas. ― Recebo dele um sorriso,
algo perfeito, com dentes alinhados enquanto volta sua atenção para o
trânsito.
― Em qual hospital trabalha mesmo? ― Finjo interesse, tentando uma
conversa confortável.
― São Salvador, estou no terceiro ano de residência.
― Ah, que interessante. ― Volto a olhar a rua lá fora, as pessoas
passando nas calçadas, o movimento, enquanto o silêncio nos brinda
novamente por bons minutos.
― E chegamos, Mônica ― fala, enquanto estaciona o carro em uma
vaga.
Olho ao redor, estudando para onde ele me trouxe e não parece nada
mal. O lugar é um pub, que se divide entre um estilo rock e o clássico.
Estranho, mas bonito, íntimo e aconchegante. Gostei.
Sinto a mão de Miguel em minhas costas quando para ao meu lado, e
aquele arrepio gostoso que senti com Benjamin? Eu não sinto com ele. Mas é
só o começo, não é? Ainda posso sentir.
Decidida a dar uma chance ao belo homem ao meu lado, vamos juntos
em direção ao pub com paredes de vidro, as cores do local chamando minha
atenção.
― Espero que goste, é bem legal.
― Frequenta muito?
― Quando posso. Além de muito bom, fica quase em frente ao
hospital. ― Sigo seu olhar, encontrando o grande prédio do outro lado da rua,
me dando conta de que é um dos melhores hospitais da cidade, ou do estado.
― Nossa, trabalha nele?
― Sim. ― Ele ri, talvez estranhando, pois já havia me falado o nome
do hospital antes, eu só não tinha ligado os fatos, tampouco prestava atenção
no que dizia.
Miguel me guia entre as mesas, o lugar já estando bem cheio e nos
sentamos no canto, à meia-luz, propício a casais. Sinto um arrepio, o mesmo
que senti ao estar na presença de Benjamin, algo que em nada tem a ver com
Miguel e me incomoda ao ponto de me fazer olhar ao redor. Paraliso.
Pois, duas mesas depois da nossa, encaro olhos verdes me fitando com
intensidade, olhos que eu conheço bem, que estão presos em minha memória
de uma forma bem excitante.
Não, não, não!
É coincidência demais, não pode ser, não pode. Não aqui...
Mas de alguma forma é, Benjamin está aqui e não está sozinho. O mais
estranho? É que em meio à surpresa e desconforto, fico aliviada quando
mudo meu foco e me dou conta de que não é uma mulher com ele, mas sim
um homem, falando algo que ele nem parece ouvir.
― Tudo bem, Mônica? ― Olho Miguel, bonito e preocupado, à minha
frente, sendo obrigada a sair do transe e tento um sorriso, vendo um garçom
se aproximar.
Isso não vai dar certo, não vai. Estou tentando sorrir vezes demais em
uma única noite.
― Sim, é só... uma queda de pressão? ― minto novamente, pois não
dá, não vai dar para continuar aqui. Não mesmo.
Não quando sinto minhas costas serem queimadas pelo olhar do
demônio gostoso do meu vizinho, sentado atrás de mim. Será que ele me
seguiu?
Miguel alcança minha mão por sobre a mesa, preocupado, pedindo ao
rapaz parado próximo à mesa uma água para mim. Me sinto mal por isso.
― Está com as mãos frias. Costuma ter queda de pressão? Comeu bem
hoje?
― Ah não, não se preocupe, uma água e logo passa.
Ou não, já que me sinto incomodada ao extremo com a presença do
homem às minhas costas. Foco o olhar à frente, tentando fugir e quase pulo
no lugar ao ver sua imagem refletir no espelho na parede, me dando conta de
que se eu o vejo, ele também me vê. Tanto que levanta o copo com chope em
uma saudação, fazendo seu amigo me olhar também.
Levanto-me, quase em um salto, pelo susto ou sei lá o quê, fazendo
meu acompanhante se assustar com meu rompante.
― Eu vou ao banheiro, se importa?
― Não, claro que não, mas você está bem?
― Sim, sim, vou ficar.
Sem esperar, mais que depressa, ganho o corredor que tem uma placa
indicando o banheiro feminino, como se estivesse fugindo do próprio
demônio. Entro apressada, encontrando uma moça já de saída e bato as mãos
no mármore da pia, cabeça baixa, respirando fundo ao estar sozinha.
Francamente, quanta falta de costume.
Não consigo. Não é por ele, é pela sensação, é estranha demais, é...
A porta do banheiro é aberta e aprumo o corpo, pensando ser outra
mulher entrando, me empertigo, pronta para entrar em uma das cabines.
Talvez me sentar e me acalmar o suficiente até poder voltar para a mesa, mas
meu susto só aumenta ao ter uma mão grande em meu braço, me puxando
para dentro da primeira cabine vazia.
― Meu Deus. Você enlouqueceu? ― pergunto, pasma, ao ver
Benjamin fechar a porta.
― Quem é o babaca?
― Oi? ― Estou perdida e ele me olha sério, as narinas se abrindo, o
vinco entre as sobrancelhas se aprofundando e isso me tira do prumo.
― Quem você pensa que é? Surtou?
― Talvez, talvez eu esteja fora de mim. ― Sem nenhuma explicação,
ele me joga contra a parede, me espremendo com seu corpo, não dando
tempo ou espaço para nada, quando começa a devorar minha boca.
Sua língua enfurecida procura a minha, sugando, testando e chego a
sentir o gosto da bebida em sua boca, seu perfume me deixando mole e meus
braços, que estavam rentes ao corpo, não demoram a se embrenhar por seus
ombros, se prendendo em sua nuca.
Bruto, seco e gostoso, é como o tenho agora, como o sinto.
Não me controle e me esfrego contra ele, sentindo sua mão agarrar um
maço cheio do meu cabelo, puxando com certa pressão, me fazendo gemer.
Isso é errado, mas perco qualquer coerência quando sua outra mão desce pela
lateral do meu corpo, segurando minha perna e amparando-a sobre o
sanitário, para ter acesso à minha boceta, já encharcada.
Perco-me.
Delicio-me em sua boca ao sentir sua mão entrar em minha calcinha,
até estar esfregando-a em minhas dobras, em meu clitóris, que é beliscado
sem delicadeza e quase grito ou protesto, quando sua boca deixa a minha, sua
mão não parando sua carícia sem vergonha.
― Quem é o cara lá fora? ― pergunta, mas não deixa de massagear
meu sexo.
Mal estou pensando, mesmo sabendo que estou na droga de um
banheiro feminino.
― Um amigo, eu já falei ― digo, sem fôlego, querendo muito, muito
gozar.
― Um amigo que você pretende dar pra ele mais tarde?
Perco o ar, não pela pergunta, mas pelos movimentos que se
intensificam aqui embaixo e quase reviro meus olhos ao senti-lo introduzir
um dedo em mim, massageando meu ponto mais sensível com a palma da
mão.
Meu deus!
― Responde, Mônica.
― Não é da sua conta.
Posso estar à beira do orgasmo, mas não perco a chance de incomodá-
lo. Sei que o incomoda ou não estaria aqui, comigo. Não dou o braço a torcer,
mesmo estando disposta a deixá-lo fazer o que quiser comigo, aqui, no
banheiro de um pub.
― Não? ― pergunta, antes de novamente me beijar, sem delicadeza,
me enchendo de prazer, me deixando à beira do abismo. ― Goza, Mônica,
goza pra mim e grita meu nome quando alcançar o prazer. Quero te ouvir
gozar.
Eu me seguro, é loucura.
― Não posso, as pessoas...
― Que se fodam, só goza, só tem eu e você aqui. Vai, mela minha
mão.
― Benjamin... não faz isso ― peço, mas me perco de desejo, me
agarrando aos seus ombros. ― Isso, não para, assim... Benjamin, eu vou...
― Isso, vai e grita de prazer pra mim.
E o faço, perdendo totalmente a razão, a noção de onde estou, com
quem estou, tudo... só há, prazer, um que é elevado ao máximo pela
adrenalina que sinto, o medo de ser pega ou ouvida por alguém.
Os tremores se espalham por todo o meu corpo, minhas pernas
bambeiam, meu corpo perde a tensão e tombo a cabeça em seu ombro,
deliciada, sendo amparada por ele, ainda sentindo os últimos tremores, me
sentindo saciada, exausta.
Abro os olhos, as pálpebras pesadas, buscando seu rosto,
envergonhada. Benjamin tem aquele sorriso no rosto, prepotente, tirando os
dedos de mim e sob o meu olhar, os chupando, um após o outro, o rosto
suado, uma expressão suja, vitoriosa.
― Agora, Mônica ― fala e me beija, mordendo meu lábio ao se afastar
e se agachar à minha frente, tirando minha perna com delicadeza de cima da
tampa do sanitário. Devagar, ele sobe as mãos por minhas pernas até
encontrar as laterais da minha calcinha, descendo-a aos poucos e eu pareço
paralisada em seu olhar, as pernas trêmulas. ― Eu vou sair. ― E seu rosto
chega próximo à minha boceta, agora sem calcinha e a lambe, me levando a
fechar os olhos e segurar seus ombros para não ceder. ― E ficar lá fora, no
estacionamento. ― Outra pausa, novamente me lambendo, dessa vez
segurando meus joelhos, pedindo que eu abra mais minhas pernas, buscando
todo o líquido do meu orgasmo e me dando tanto prazer quanto poderia com
isso. ― Enquanto você dá uma desculpa qualquer para o babaca lá fora e me
encontra do lado direito do estacionamento, pois vou te esperar.
Abro meus olhos, vendo algo totalmente erótico à minha frente,
Benjamin, agachado, olhos nos meus, seus lábios melados com meu orgasmo.
― Eu não... ― me perco, enquanto mais uma vez ele me chupa,
sugando meu clitóris.
― Pode, quer mais disso, não quer? Quer meu pau aqui? ― pergunta,
seu dedo passeando em minha entrada.
Benjamin joga sujo, muito sujo. Claro que eu quero, quero muito, quero
desde sábado, quando acordei sozinha no meu apartamento.
― Responde, Mônica!
― Quero, eu quero, inferno! ― Faço o que pede, ao ponto da
insanidade, ouvindo-o rir ao se levantar, guardando minha calcinha no bolso
e me dando um beijo rápido nos lábios, acompanhado de um sorriso de
moleque.
― Boa menina, te espero lá fora.
Ouço-o, sentindo agora meu próprio gosto em minha boca e vendo-o
sair, batendo a porta da cabine.
― Boa noite, moças. ― Arregalo meus olhos ao ouvir suas palavras,
me sentando na tampa do sanitário.
Deus, tem gente aqui. Sinto meu rosto esquentar ao ouvir risadinhas
femininas e afundo meu rosto em minhas mãos, sorrindo da loucura que
acaba de acontecer, o que foi isso?
Droga, e ainda tem Miguel...
Devo ir?

Sentado na moto, na parte mais escura do estacionamento, logo atrás de


uma Mercedes preta, espero que ela saia do pub a qualquer momento, mas
isso não acontece e essa demora começa a me incomodar. Faz com que eu
comece a imaginar se ela sair mesmo de lá, se me encontrará aqui fora.
A coisa desce ladeira abaixo, pois me dá tempo também para pensar
mais a fundo em quem é o babaca que está com ela, que entrou com a porra
da mão espalmada em suas costas, como se fossem íntimos. Cogito, de forma
patética, se já saíram antes, antes de nós.
Porra, não tem nós, caralho. É sexo, só foder gostoso.
Qual é, o cara até abriu a porta do carro para ela. Mas a pior parte não
foi essa, não, a pior parte foi ela passar por mim com uma síndrome de
indiferença astronômica. Como se a noite em que ficamos, tivesse sido
apagada, e conseguiu me golpear com isso.
Nesse instante meu subconsciente diz que a culpa disso é minha, pois
mesmo morrendo de tesão por ela, eu não liguei, não bati em sua porta, não
chamei, tudo isso para não dar razão ao que Sophie e minha mãe disseram no
almoço. Achando errado querer estar perto.
Ainda tem mais, porque hoje eu esperava que viria para cá com Bruno
e sairia daqui com alguém. Uma mulher que não fosse Mônica, que me
fizesse esquecê-la em especial.
Sendo assim, não faz sentindo essa revolta ao ponto de encurralar
Mônica no banheiro feminino por estar com outro. Foi babaquice. Ainda
tenho seu gosto em minha boca. É, foi burrice, mas também foi uma delícia,
pois não tem nada mais lindo, erótico e prazeroso que ver Mônica gozar.
Para isso, tive só que tomar uma decisão e foi fácil, não conseguiria ir
embora e deixá-la com ele, ou me afundar em outra boceta que não fosse a
dela. A filha da mãe se tornou um vício, pois até ter outra ficou difícil,
Mônica não sai da minha cabeça.
Um exemplo? Andressa se enfiou em minha pequena sala hoje, e
adivinhem só? O guerreiro não apareceu, mesmo com a mulher quase tirando
a roupa em minha frente e esfregando os peitos siliconados em minha cara.
Como se fosse pouco, tive que aguentar as piadinhas de Bruno há
pouco, algo a ver com paixão. Que enfie essa paixão que insinuou na bunda,
isso é só tesão, porra!
Vai passar… nem que eu precise me afundar nela mais vezes do que
imaginei!
Levanto a cabeça ao ouvir o barulho de saltos baterem no piso do
estacionamento e encaro o corpo perfeito, curvilíneo, rebolando ao vir em
minha direção. Sem desviar o olhar, meio envergonhada, parecendo meio
arrependida ao olhar para trás e conferir algo, talvez alguém. Sorrio.
Continuo esperando que se aproxime mais e mais, podendo já sentir o
perfume gostoso dela, maluco de tesão, ainda de pau duro e não espero que se
aproxime de vez. Um passo comprido e a tenho em meus braços, segurando-a
pela nuca e a colando ao meu corpo.
— Boa, menina. — Testo seu humor, um erro, não está muito bom.
— Não sou sua cachorra para falar assim comigo, só estou aqui porque
nem precisei usar uma desculpa para sair, ligaram do hospital e Miguel teve
que ir atender a um paciente. — Dá de ombros. Sei que é mentira, ela viria de
toda forma, mas a frase mexe com meu ego.
— É mesmo?
— Claro, só vim pela carona.
— Hum... o carinha é médico?
Nego em deboche, meu nariz quase tocando o seu, minha cabeça
brincando comigo ao imaginar que ela poderia mesmo não vir. Enfio a mão
livre entre suas pernas, alcançando sua boceta melada, escorregadia, gostosa
e a ouço suspirar, fechando os olhos enquanto solta o ar junto a um
gemidinho tímido. O hálito doce batendo em minha boca.
— Benjamin, aqui…
— Não viria, Mônica? Sério?
— Hum…
— Não é bem o que a sua boceta e seu corpo dizem agora, morena. Não
te ensinaram que é feio mentir?
Ela geme quando belisco seu clitóris, suas mãos se amparando em
meus ombros e eu rio do seu estado.
— Você é sujo!
— Eu sou, sou muito sujo. E sabe o que vou fazer, morena? Vou te
foder gostoso e muito, muito sujo e aqui.
Beijo sua boca com devoção, seu gemido morrendo, seu corpo quase se
fundindo ao meu. Sem conseguir segurar mais, Mônica se esfrega em meu
pau, me levando à loucura.
Meu pau pulsa, minhas bolas estão ao ponto da dor, o desejo me
comendo e seguro sua bunda, a levando para trás, para perto da moto, até tê-
la sentada no banco, arfante ao soltar um gritinho, olhando para os lados, para
ver se tem alguém nos olhando, quando me tem entre suas pernas. Não tem
ninguém.
Isso aumenta a adrenalina. O fato de poder me atolar nela aqui, quase
em público, podendo ser visto por qualquer pessoa, eleva o êxtase de cada
sensação.
— O que acha, Mônica? Se excitou quando te fiz gritar no banheiro?
Sabendo que poderia ser pega ou ouvida por qualquer um? — pergunto,
mordendo a pele do seu pescoço, resvalando meu pau em sua pélvis
descoberta. — Vai, responde! — peço, enfiando um dedo dentro dela,
vendo-a jogar a cabeça para trás, me dando todo o seu pescoço.
Beijo seu colo, subindo até sua mandíbula, mordendo e alcançando sua
orelha.
— Quer isso de novo? Bem aqui?
Ela paralisa, o corpo mole, o olhar me queimando.
— Tarado pervertido de uma figa.
Rio, preso em seu rosto, em seu hálito, em seu cheiro, maluco por estar
dentro dela, atolado até as bolas. Seguro suas pernas, a prendendo em minhas
costas e ao contrário da inibição que espero ou até mesmo da sua negativa, ao
ver que vai mesmo acontecer aqui, o que vejo é uma Mônica sem nenhum
pudor. Suas mãos alcançando meu jeans, apressada, com a mesma urgência
que eu sinto.
Eu a quero, aqui, agora, mesmo tendo a necessidade doentia de saber
quem é o infeliz que estava com ela há pouco. Algo possessivo que, até
então, eu não tinha sentido por uma mulher.
Deixo que abra minha calça, segurando sua cabeça e tomando sua boca
em um beijo ansioso, urgente, puxando seu cabelo, dando livre acesso ao seu
pescoço, para que eu o beije e chupe até alcançar seu seio por cima do
vestido.
A desgraçada não usa sutiã. Inferno de mulher.
Mordo o bico por cima do tecido, olhando em seu rosto, cada detalhe
do seu prazer funcionando como fogo em mim. Abaixo o decote do vestido e
tenho seus seios livres, sem nada, empinados, durinhos.
Observo seus olhos em expectativa, esperando que os chupe.
— Quem era lá dentro, Mônica? — E o lado possessivo fala mais alto.
Um brilho passa por seu olhar, uma certa revolta, mas perde a fala
quando introduzo mais um dedo nela.
— Responde — peço baixo, minha língua circulando o mamilo
sensível, fazendo ela arquear as costas, entregue, perfeita.
— Era um amigo. — Ela quase perde a fala.
— Não rolou nada?
—Hum… não deu tempo.
Paro, olhando para ela, meus dedos sentindo sua quentura e excitação.
Que porra é essa de não deu tempo?
— Por sua causa, se lembra? Agora para com isso e me come logo,
antes que alguém apareça, Ben — pede, enfiando a mão em minha cueca,
acariciando meu pau.
Pela primeira vez, me sinto impelido a negar comê-la e querer saber
detalhes dessa merda de “não deu tempo”. Ela estava mesmo com ele?
Puto e cego de tesão, mesmo sabendo que a culpa é parte minha, coloco
meu pau para fora, fazendo Mônica rir, assistindo-a substituir minhas mãos,
começando a me masturbar na porra de um estacionamento.
Adoro cada toque e quando observo sua boceta molhada, aberta para
mim, esqueço qualquer coisa e busco no bolso de trás a carteira, a fim de
pegar a camisinha e paro.
— Inferno — praguejo, com vontade de socar minha cara.
Mônica me olha sem entender e nego, me odiando.
— Minha carteira, esqueci quando sair. Caralho! — Ela ri, um sorriso
cheio de deboche e, sorrateira, abre sua bolsinha, me mostrando uns três
pacotes diferentes de camisinha.
— Eu tenho, pode escolher.
Filha da...
— Que porra é essa, Mônica Maria? Ia mesmo transar com aquele
babaca? Por isso trouxe quase o caralho da caixa de camisinha?
Mônica não se intimida, pelo contrário, escolhe ela mesma e me
entrega a camisinha, desce da moto e se vira de costas para mim, se apoiando
no banco, coluna arqueada, bunda empinada e para me matar, ela olha para
trás e ri. Filha da puta!
— Como eu disse, não deu tempo… agora vem, me fez uma promessa.
Está demorando muito a cumprir.
Ela quer me matar, é a única explicação.
Rasgo o preservativo, mesmo estando um tanto fora de mim, odiando
essa demonstração do que quer que seja, desenrolando o preservativo em meu
pau e dando um tapa em sua bunda, fazendo-a pular antes de penetrá-la.
— Ah, que delícia, Benjamin.
Gemo, sem nem me mexer, quase gozando ao sentir seu calor.
— Como fez falta! — sibilo, minha mão seguindo a linha de sua
coluna.
E fez mesmo, uma que ainda não me permiti sentir por ninguém.
Seguro seu queixo e pescoço, trazendo-a para mim, colando-a ao meu peito e
beijando sua boca de forma rápida, dura, possessiva. Ela geme e eu a
acompanho, sentindo sua quentura e aperto.
Mônica é deliciosa, mas aqui, assim, em cima da minha moto, entregue,
com a adrenalina em volta, é surreal.
Meu tesão aumenta, como se fosse possível, seus gemidos ficam mais
altos e busco ao redor, ainda não há ninguém. Vou mais fundo, segurando seu
cabelo e deitando seu torso na moto, socando com mais força e vontade.
— Não vai usar essa porra com outro, ouviu, morena? — Ela não
responde e enrolo uma mecha do seu cabelo em minha mão, puxando. — Me
entendeu?
— Sim… desde que não me deixe na mão. Ah, isso, Ben.
Filha da puta gostosa do caralho!
Tiro-a de cima da moto, a virando para mim e a levantando em meus
braços, beijando sua boca e montando na moto, colocando-a sentada em meu
colo, encaixada em meu pau.
Mônica me abraça, gemendo e quicando, buscando seu prazer e me
perco nela. Seguro sua bunda e a impulsiono, querendo que vá além, mais
rápido.
— Eu vou... aí, só não para, Ben.
— Eu não vou. — Vou mais fundo, mais rápido, mais gostoso.
Talvez a falta de boceta, o tesão ao pensar nela e essa vontade insana de
foder essa mulher 24 horas do meu dia, esteja causando tanto prazer. É
insano, um tesão sem limite algum.
— Isso, isso… Ben.
Beijo sua boca, sentindo seu gosto, quase ao ponto de poder machucá-
la, batendo em sua bunda e me enfiando todo dentro dela, rápido, fundo. Sua
boceta aperta meu pau, sua boca deixa a minha, jogando seu pescoço para
trás. Deixo que se deite no tanque da moto, tendo uma fantasia sexual perfeita
aqui, disposta para mim. Um banquete.
Sugo seu seio, suas mãos apertando minha cabeça, suas pernas minha
cintura, sua boceta o meu pau e me leva ao limite.
Entrego-me ao prazer, calando Mônica em minha boca ao beijá-la.
Gastando o pingo de sanidade que me resta ao pensar que podemos acabar
presos por atentado ao pudor, caso ela continue gritando quando alcança seu
orgasmo, engolindo, esmagando meu pau.
Não seguro mais o gozo, me deixando levar junto a ela, controlando o
instinto de rugir como um animal, ainda preso em sua boca. Deixo-a,
tensionando o meu corpo e seguro meu peso, amparando minha cabeça em
seu busto ao esvaziar minhas bolas, suado e saciado.
Segundos se passam do mais puro silêncio e ainda com a cabeça em seu
peito, sinto-a balançar e logo a ouço rir, levantando minha cabeça e a
olhando, tentando ter certeza do que faz, seguindo seu sorriso bonito.
— O que foi? — pergunto, me sentando e trazendo para mim.
— Você é maluco.
— Não, nós dois somos. Eu estava aqui — a beijo —, um cavalheiro
inocente, pronto para levar uma bela dama para casa, uma cortesia, foi você
que veio me entregando a camisinha. Lembra?
Ela ri ainda mais, de forma leve e brincalhona. Um traço que descubro
adorar nela.
— Você não vale nada, sabia?
— Sei, sei sim. E agora, vamos para casa?
— Vamos, preciso fazer um miojo quando chegar. Nossas peripécias
sexuais me deixaram faminta, além do que, você não me deu tempo para
comer lá dentro.
— Sei. — Ajudo-a a descer da moto, fazendo o mesmo e me livro do
preservativo, fechando minhas calças e pegando sua calcinha em meu bolso.
— O que é isso?
— Sua calcinha. Vista, pode precisar dela para onde irei te levar.
— Ah, é? Que mandão. Aonde iremos?
— Gosta de hambúrguer? — E porque até esse sorriso aberto, gentil
que está me dando, mexe comigo?
— Quem não gosta de hambúrguer? — pergunta, vestindo a calcinha
sobre o meu olhar aguçado, fazendo com que eu sinta tesão, mesmo após o
gozo.
— Vou te levar para comer então e depois vamos pra casa. O que
acha?
— Que é o mínimo que pode fazer, após me tirar do meu encontro.
E, sim, isso muda meu humor.
— Você parecia estar pedindo socorro… fui o cavaleiro de armadura
brilhante que te salvou! — falo, segurando sua mão enquanto monta na moto,
agarrando-se à minha cintura.
O motor ronca e espero que esteja firme na garupa.
— Então meu cavaleiro de armadura brilhante, me leva para comer e
depois vamos provar a sobremesa!
Sorrio, ela não poderia me fazer proposta melhor, ainda assim, quero
detalhes sobre ela e o babaca metido a médico!
Intimidade começa com um sorriso

Sinto um beijo leve em meu rosto, nariz, e boca, enquanto pés grandes
alisam os meus, indo do meu joelho ao meu pé em uma carícia deliciosa,
vagarosa, íntima, ainda que inocente. É tão bom que me permito ficar de
olhos fechados, apenas sentindo-o cheirar meu pescoço, continuando a
lamber meu rosto.
Espera, ele me lambeu?
Abro meus olhos e me assusto com a cara grande do cachorro à minha
frente, me afastando, batendo contra o peito de Ben, ao passar a mão em meu
rosto, limpando a baba canina e ouvindo a risada rouca e alta do homem a
minhas costas. O cachorro me encara, com a língua rosada para fora,
parecendo rir, babando e ainda solta um latido que me assusta.
— Benjamin — chamo, imóvel, para ter certeza de que ele está mesmo
acordado, sem nem respirar ao olhar o pitbull em minha frente. — Tira o
cachorro daqui, estou com a impressão de que ele quer me comer.
Sua risada é minha única resposta. Não tiro os olhos de seu cachorro ao
estarmos deitados em sua cama, nus, minhas costas grudadas ao seu peito,
tentando fugir dos olhos azuis, nada ameaçadores, apesar da cara de mau do
cachorro dinossauro. Como ele entrou no quarto?
Benjamin, por outro, lado não parece nada preocupado, enfiando o
rosto em meu pescoço, me cheirando, fazendo meus pelos se arrepiarem, me
tirando o foco por segundos.
— É ela, é fêmea e vai ter que fazer as pazes com a Gamora, uma hora
ou outra. — Com isso ele bate a mão grande sobre a cama e a pitbull não
demora a subir, toda feliz, balançando o rabo grosso para lá e para cá, se
deitando ao meu lado, enquanto ele alisa sua cabeça enorme.
— Ela quase quebrou o meu nariz, sabia?
— Olha pra ela, esses olhinhos brilhantes, é só carência. Esquece o
passado e faz um carinho nela. Além do mais, ela gostou de você. Olha pra
ela, osso é quase um pedido de desculpas, morena. No outro dia, ela não fez
por mal, é brincalhona, só queria um carinho a fujona. Desculpa ela, vai —
pede e beija meu ombro, enquanto pega minha mão, meio trêmula, para alisar
as costas peludas da coisa preguiçosa ao meu lado e tento deixar o medo, que
seu ataque me causou no outro dia, de lado.
Seu tamanho engana, porque ela mais parece aqueles cachorrinhos de
madame, pequeninos, todo para frente, brincalhão, virando a barriga branca
para cima, querendo chamego e Benjamin ri, alisando-a. Talvez tenha razão,
ele, digo ela, só é grande demais, mas é inofensiva. E até gosto do contato e
chego a rir quando ela tenta lamber meu rosto.
— O que nos diz?
— É, não é tão mal assim...
— Claro que não. É bem adestrada e calma, só adora brincar e parece
que também gosta de te beijar.
— Beijar?
— Sim, essas lambidas são beijos carinhosos, morena. O que foi?
Nunca teve um cachorro quando criança?
Suspiro com a pergunta. Não fui lá uma criança que teve suas vontades
feitas.
— Não, nunca. Nem cachorros e nem gatos. Minha mãe não é muito fã
de animais.
— Bom, agora pode aproveitar a Gamora, já que ela parece te venerar.
Sorrio, gosto da ideia, apesar de ainda sentir medo, enquanto o cara
grande, gostoso e tatuado, se coloca sobre mim, comprimindo meu corpo
contra o colchão, me fazendo sentir cada músculo seu e eu adoro a sensação.
Em principal, a de passar a noite toda ao seu lado, mesmo sabendo que isso
pode ser minha perdição.
E que droga, ele parece lindo demais para alguém que acabou de
acordar, enquanto eu, devo estar como uma bruxa de tanto que esse homem
puxou e bagunçou o meu cabelo durante toda a noite. Pois dormir, foi o que
menos fizemos.
Benjamin me beija, de forma rápida, enchendo meu rosto de pequenos
selinhos, seguindo por minha bochecha, descendo pelo meu pescoço e
encontrando o bico do meu seio, durinho de desejo.
Por que eu sempre estou pronta para ele?
— Quanto tempo temos até que precise ir trabalhar?
Rio, olhando o relógio na mesinha ao lado.
— Temos uma hora e quinze minutos, mais ou menos.
— Sério? Então uma hora e meia, considerando que irei te levar? —
Ele não perde a chance de esfregar sua ereção em meu sexo, totalmente nu.
— Vai me levar? Sério?
— Claro, afinal, quero tomar metade desse tempo para mim.
— Hum, que delícia. — Rio, adorando essa intimidade. — Vou
precisar só de trinta minutos para me arrumar, só isso — falo rápido,
querendo dar cada segundo desse tempo para ele.
— Eu posso fazer muito em 45 minutos, sabia? — Ah, eu sei que sim, e
Ben me beija, lento, gostoso e eu me derreto inteira, me abrindo para ele.
— Pode é?
— Posso, a começar aqui embaixo.
Arqueio minhas costas, seus beijos descendo por meu pescoço, minha
barriga, lambendo minha pele e me arrepiando, me excitando. Não acredito
que ele vai me chupar a uma hora dessa. Sexo matinal já é bom, mas... céus,
sexo oral matinal é... o próprio céu.
— Benjamin...
Aqui está ele, de cara para minha amiguinha, olhando para ela como se
fosse um doce delicioso que estivesse prestes a engolir por inteiro e eu quero
muito que ele faça isso.
— Você é perfeita, sabia? — E seu dedo passa por meus lábios
vaginais quando diz isso, se enfiando em mim e sua língua circula meu
clitóris, enquanto afundo meus dedos no colchão, à procura de qualquer
apoio. — Seu gosto também é perfeito.
— Céus... — sussurro, arqueando minhas costas quando sua língua
quente e macia entra em mim. Não é o momento, mas logo agora noto a
presença de sua cachorra no quarto, entretida com um brinquedo qualquer. —
Ben, a Gamora — aviso, sem conseguir me concentrar em nada e ele ri.
— Ela entende que o papai precisa ser feliz, agora me deixa te chupar,
mulher, só tenho poucos minutos, lembra?
— Hum... puta que pariu, que língua deliciosa — Me entrego em cada
movimento que sua língua habilidosa faz, fechando os olhos, sua mão
segurando meu queixo e chamando minha atenção.
— Abra os olhos, morena. Olhe pra mim.
Isso é minha perdição.

— Claro que não, peguei só sua camisa emprestada porque não vou me
enfiar nesse vestido apertado só para atravessar o corredor — respondo a sua
provocação, atravessando o quarto e alcançando a porta.
— Eu não estou reclamando, longe disse. Ficou melhor em você.
Rio, quando suas mãos me alcançam antes que possa abrir a porta, seu
rosto se afundando em meu pescoço, fazendo todos os meus pelinhos se
arrepiarem.
— Sabe que eu tenho horário para trabalhar, não sabe?
— Sei, mas estou meio que viciado em você.
Ignoro-o ou tento, já que o que quero é voltar para a cama e fazer dele
meu cavalinho particular, e abro a porta, ainda rindo, sentindo-o colado a
mim e paraliso ao vislumbrar sua sala e ver que não estamos sozinhos. Ele
parece também perceber e suas mãos deixam minha cintura, é instintivo.
— Mãe!
Ouço-o dizer e, perdida, olho dele para a senhora parada atrás da
banqueta de sua cozinha, estando também paralisada na mesma medida, nos
olhando, até que um sorriso curva seus lábios.
— Mãe? — pergunto, quase um sussurro.
— Bom dia. E quem é essa moça linda, Benjamin? Vai ficar parado aí e
não vai nos apresentar? — O riso continua em seu rosto, enquanto ela enxuga
suas mãos em um pano, saindo de trás do balcão, nos esperando.
A vergonha me toma e tento, sem sucesso, fazer a blusa criar mais pano
ao puxá-la para baixo, estando perplexa. Mais perdida que cego em tiroteio.
Um empurrão leve, é o suficiente para me tirar do choque e me fazer sair da
porta, a mão de Benjamin espalmada em minhas costas, enquanto dá três
passos em direção à senhora simpática que parece me analisar.
Meu Senhor, ela é a mãe... não poderia ser mais constrangedor.
— Bom dia, mãe. Não me avisou que viria.
— Bobagem, desde quando preciso avisar. Me chamo Célia, é um
prazer.
Ouço-a, mas pareço ter perdido a língua.
— Mônica, essa é a Mônica, mãe. Minha vizinha e...
— Amiga. Somos amigos — interponho, sem querer deixá-lo
incomodado ao nos dar nome, tentando minimizar tudo. Mas que droga. — E
é um prazer, dona Célia.
— Ah, a vizinha... Amigos? — fala, risonha, e me alcança, me
apertando em um abraço e eu não sei como reagir, apenas retribuo.
Ele falou sobre mim para ela?
— Essa juventude é mesmo engraçada. No meu tempo, isso era no
mínimo namoro.
— Mamãe!
— Mas era, ué. Estou contente em te conhecer e gostei de você. Aceita
um café?
— Mãe. — Ele torna a repreendê-la e, por fim, começo a relaxar, ao
menos ela não é como minha mãe.
— Veja só? Com a idade são os filhos a nos repreender, um exagero. E
então, aceita o café?
— Não, não. Estou atrasada para o trabalho, tenho que ir. Mas foi um
prazer imenso conhecer a senhora e obrigada por oferecer café.
— Espera um segundo — fala, minimizando o que digo com um aceno
de mão, se apressando em alcançar a cafeteira e encher uma xícara de café,
trazendo para mim. — Aqui, leva o café já que não tem tempo de tomar aqui.
Deus do céu, por que tenho a impressão de que a qualquer momento ela
começará a bordar as roupinhas dos nossos nenéns?
— Que gentil, muito obrigada. — Olho para Benjamin que tem um
sorriso imenso no rosto, parecendo troçar de mim. Que infeliz.
— Eu te acompanho.
Como se precisasse, mas não nego, só quero sair daqui. Calados, vamos
até a porta e não satisfeito, ele me acompanha até meu apartamento.
— Podia ter me ajudado lá, sei lá.
— Por quê? Estava divertido — debocha e acerto seu ombro, que ri
ainda mais, enquanto eu, sigo com tremelique nas pernas.
— Ela intimida com toda aquela simpatia.
— Relaxa, morena. Ela deve estar encabulada, é a primeira mulher que
vê aqui em casa — fala de forma natural, segurando meu rosto entre mãos e
me beijando. Só que algo a mais me chama atenção.
— Nenhuma mulher?
— Não. Nenhuma. Agora vai lá ou vai se atrasar, vou voltar e aguentar
os planos dela incluindo você no Natal.
Arregalo meus olhos, a xícara a meio caminho da boca, estática.
— Tá de sacanagem, não é?
Ele ri, bonito, leve, o cabelo ainda molhado do banho.
— Talvez...
Um beijo, gostoso e molhado, que me deixa de pernas bambas, é o
suficiente para ele se despedir, me deixando aqui no corredor, com uma boa
xícara de café na mão, imaginando se fala sério.
Não, é amizade colorida e em uma amizade colorida, coisas como Natal
na casa dos pais não existem, não é mesmo?
Nenhuma mulher... foi o que ele disse.
Não seja idiota, Mônica Maria. Não se deixe iludir pelo primeiro cara,
ou a primeira mãe. Isso aqui pode dar certo, sexo sem compromisso e só. Eu
só não posso me apaixonar.
Um recomeço

— Assustou ela, mamãe.


— Ah, eu a amei, certeza de que não assustei. Que moça linda,
Benjamin, que moça linda. Educada, viu só? Ficou envergonhada comigo...
que bobagem. Vocês estão namorando? — Ela não perderia essa chance de
fazer essa pergunta uma hora ou outra.
Primeiro enche de elogios, para em seguida... dar sua cartada.
— Mãe, sei o que quer ouvir e adianto, não é esse o caso. — Não ainda,
porque depois da noite de ontem, ficou claro que a quero mais do que
imaginava, que não consigo nem cogitar ver Mônica com outro.
Ontem foi como ter pequenos espinhos alfinetando minha pele quando
a vi entrar com o playboy a tira colo, com aquela mão grande em suas costas,
a reivindicando. Fez com que me sentisse mal com minha decisão de dar um
tempo, não atropelar as coisas e quis estar no lugar dele. A filha da puta
ainda fez piada, dizendo que só não ficou com o almofadinha porque eu a
atrapalhei.
O pior é que acredito nela, ninguém sai de casa com uma caixa de
camisinha na bolsa, se não tem intenção de transar. Isso é certo
— Não? Uma pena. Moça linda, rosto de anjo, adoraria ter ela como
nora.
Aproximo-me, rindo de sua simpatia, ela é uma figura. Passo meu
braço por seu ombro e beijo sua testa, não é de hoje que ela me cobra uma
nora.
— Não inventa, dona Célia. É só amizade.
— E ela sabe disso? Benjamin, eu vi como ela te olha, não machuque
essa moça, filho, aquele sorriso não merece chorar.
Abro minha boca para responder algo, mas me lembro do olhar de
Mônica ao me dizer que foi deixada quase no altar, de como seu olhar perdeu
o brilho ao tocar no assunto. Meu peito aperta, uma simples frase me
trazendo um gatilho de que não posso magoá-la, tampouco deixá-la ir.
— Não a farei chorar, mamãe. Essa é a última coisa que quero, fique
tranquila. Estamos só nos conhecendo, curtindo um ao outro. Não temos um
compromisso, mas também, quero ela perto.
Mamãe sorri, fazendo um carinho em meu rosto, me entregando uma
xícara de café.
— Acredito, oh como acredito — zomba. Sophie poderia realmente ser
filha dela, ambas adoram rir de mim. — Só faça um favor a si mesmo, se
achar, em algum momento, que essa coisa entre vocês pode ser algo mais,
não a deixe escapar.
— Sei que quer uma nora, mas não será desta vez... — brinco e ganho
um tapa em meu ombro.
— Você é teimoso igual ao seu pai.
Afasto-me, pegando a camisa que deixei no chão ao entrar com Mônica
ontem à noite.
— Não me compare a ele, mãe.
— Benjamin... já faz tanto tempo, filho, e ele é seu pai e está doente.
— Não pra mim, mamãe. Vou me arrumar, fiquei de levar Mônica ao
trabalho, para não se atrasar.
Parada, me olhando com certo pesar, ela sorri, muda o foco da
conversa, voltando para Mônica.
— Olha... levar ao trabalho?
— Não viaja, mãe, e amei te ver logo cedo.
— E eu amei conhecer sua namorada.
Sorrio, entrando no quarto.
— Ela não é minha namorada.

Mordo a barra de cereal, andando pela calçada ao voltar do passeio com


Gamora. Com Geração Coca-Cola de Legião Urbana tocando no volume
máximo no fone de ouvido. Ao menos duas vezes por semana saio com ela
para passear, deixando que fique à vontade nesse tempo, me sentindo culpado
por deixá-la sozinha e presa por tempo demais. Ela vai acabar sendo o motivo
que me fará comprar uma casa maior.
Sorrio com sua inquietação ao tentar desviar a entrada do prédio, ela
sabe que o passeio já está acabando.
— Quieta, menina. O passeio tem de acabar.
Entro em meu prédio, no mesmo minuto que uma caixa um tanto
grande está sendo deixada na recepção, parece embrulhada para presente. Me
aproximo de Dialindo, que tenta, sem muito sucesso, arrastar a caixa para o
canto da recepção.
— Eu te ajudo, Diá.
— Já voltou, seu Ben?
— Já, a moça cansou rápido hoje. — Tento junto com empurrar a
caixa, que é mesmo pesada. — Mas pra quem diabos é isso?
Dialindo sorri.
— Pra princesa do 204. Acabei de receber, o pai dela que mandou.
Parece que hoje é o aniversário da moça.
— Como é?
— Isso mesmo, o pai dela queria se certificar de que o presente seria
entregue hoje, acabou de ligar, parecia ansioso pra menina receber. Deve ser
um presente muito bom, não acha?
Hoje é o aniversário de Mônica? Por que ela não me falou?
— Bom pra ela e, pelo tamanho, deve mesmo ser algo muito bom. Vou
subindo, boa tarde, Diá.
Deixo o velho sozinho, puxando uma Gamora que, claramente, não
quer voltar para casa.
A morena está aniversariando hoje? E por que escondeu isso? Quer
dizer, tem uma semana que estamos... digamos, juntos, eu deveria saber que
ela está de aniversário hoje, não é?
Claro que sim. Ainda essa manhã estávamos na cama, jogando
conversa fora, teria sido legal se de repente ela tivesse dito: ah, hoje é meu
aniversário.
Inquieto com o que acabei de saber, entro em meu apartamento tirando
a guia da minha cachorra, a deixando ir tomar água. Eu não deveria me
importar, não mesmo. O fato de ela não ter falado nada sobre isso, só ressalta
a pouca importância que temos um na vida do outro.
Mas sendo sincero? Eu gostaria que tivesse me contado, assim poderia
ter lhe comprado algo, não sei, talvez a levado para sair.
Qual é... esse pensamento é bobagem. Não tenho que comprar nada. Na
verdade, para Mônica, nem mesmo sei que é seu aniversário. E se terá
alguma comemoração ou coisa do tipo, não fui convidado.
Pronto, decidido.
Abro a geladeira, tomo um bom copo com água, mas ela não me sai da
cabeça. Aniversários são datas especiais, ainda mais para mulheres, que
guardam datas muito bem.
O fato de ela não ter me contado, não quer dizer que eu não possa
aparecer, mais tarde, com algo simbólico para lhe dar.
O problema é que geralmente sou péssimo em escolher presentes,
sempre opto por um vale-presente, assim, não preciso escolher e não deixo a
pessoa sem jeito caso não goste. Mas Mônica merece mais que um simples
vale.
Droga.
Silencio a música, pensando em pedir opinião sobre presentes para
alguém, algo que seja pequeno, simbólico, que combine com ela.
Mas me recrimino no caminho, não tem nada a ver eu querer fazer isso.
Sexo sem compromisso não inclui presentes de aniversário, intimidade. Mas
temos nos aproximado nos últimos dias, gosto dela, conhecê-la melhor tem
sido minha perdição e querendo ou não, Mônica ganhou importância em
minha vida.
Qual é, tenho dormido com a mulher todos os dias, se isso não é
intimidade... o que mais pode ser?
Desisto de seguir a lógica e ao invés de ligar para Sophie, ligo para
Bruno, minha irmã em matéria de dicas para presentes é péssima e ele não
demora a atender o celular.
— Preciso de ajuda com uma parada.
— Desde que não seja assaltar um banco, tudo bem. — Não, é um
pouco pior.
— Seguinte, hoje é o aniversário de Mônica e eu...
— A morena gostosa do pub, a mesma da academia?
— Mais respeito, porra, a mulher é minha caralho!
Não é bem minha, mas isso é só um detalhe.
— Jura? Achei que tinha ouvido você falar que o que rolava entre
vocês não era nada de mais.
Debochado filho da puta!
— Não cria problema, preciso de ajuda com o presente. Mulheres
geralmente gostam dessas coisas.
— Aí depende, quer agradar pra continuar comendo? Ou quer agradar
a nível você é minha?
— Porra, Bruno...
— Tô tentando entender, cara.
Fico mudo na linha, é isso o que quero fazer? Só continuar comendo?
Não, pior que não. Quero agradá-la apenas para ver aquele sorriso
bonito despontar covinhas em seu rosto, o brilho em seus olhos. Inferno, eu
estou de quatro.
— Benjamin, taí ainda ou já posso voltar pro meu batalhão?
— Tô aqui, não... quer dizer, é, é também.
— Porra, tá apaixonado, mané?
Engasgo, o sim preso na garganta.
— Não interessa. Seguinte, eu não sei o que dar. Não conheço ela há
tanto tempo para saber seus gostos, mas quero algo que ela vá se lembrar.
— Flores. Funciona com Cristine.
— Hum, romântico demais, não? — Cristine é sua melhor amiga, se
não o conhecesse, diria que passou parte da vida apaixonado por ela, mas
não, Bruno a ama como irmão.
— Nunca vi falhar. As comédias românticas provam isso, sempre.
— Sei... e desde quando assiste a comedia romântica?
— Quando sou obrigado.
E uma ideia me passa pela cabeça, estúpida, ainda assim, válida.
— Beleza, obrigado. Tenho que sair agora, vou comprar as tais flores.
Valeu...
— Disponha... só cuidado pra não quebrar a cara, esse negócio de se
apaixonar machuca.
— Não enche, caralho.
Desligo o celular, com Gamora sentada no tapete da sala, me olhando.
— É, menina, papai tem uma missão.
Uma surpresa inesperada

Um baby doll confortável, TV, sorvete e silêncio, tem coisa melhor do


que isso em um aniversário?
Sexo.
Minha mente grita em negrito, mas meu objeto de desejo disse que
ficaria até tarde na academia hoje e, sendo assim, o sorvete tem que servir.
Enfio uma colher cheia na boca, fechando os olhos ao me deliciar com o
sabor de trufas de chocolate, me afundando mais no sofá.
Que delícia...
Melhor que isso só tendo companhia, seguido de um sexo gostoso... Pai
Amado, como estou. Culpo Benjamin por isso.
Encho a colher novamente, mas antes de levá-la à boca, paraliso, ao
ouvir uma batida na porta, fechando meus olhos.
“Que não seja André, que não seja André com balões e bolo, que não
seja. Já me basta a mini festinha que fizeram na agência hoje, uma festinha
particular a essa hora não, por favor.
Peço baixinho, mas uma voz rouca, bem mais grave que a de André e
que eu não esperava tão cedo, me dá a certeza de que Deus me ouviu.
— Mônica, se tiver em casa, acho bom abrir logo, sério, bem rápido.
Sorrio, meu desejo de aniversário prestes a ser realizado.
— Estou sim, só um minuto, Benjamin.
Levanto-me em um salto, deixando o sorvete sobre a mesinha ao lado
do sofá, arrumando minha roupa e conferindo se tá tudo em ordem para
receber alguém. Meu coração saltita no peito, como uma criança contente
apenas por poder vê-lo mais cedo.
Corro para a porta, mas ao abri-la perco o ar, completamente. Minha
boca se abre, meus olhos se arregalam e fico presa na figura masculina parada
em minha porta, nu, completamente nu, a não ser, pelo buquê de rosas
vermelhas frente ao quadril.
— Deus do céu...
E um sorriso, aquele de lado, bonito e safado está presente em seu rosto
e é a minha perdição. O que... como... meu Deus.
— Não vai me convidar pra entrar? — pergunta e apesar de ele ser a
coisa mais sexy que já vi na vida, não consigo gesticular uma palavra sequer,
tampouco sair do lugar. Porque, neste momento, ele é a coisa mais engraçada
do mundo, e não tenho controle nenhum sobre mim. Começo a rir de forma
descontrolada, evoluindo para uma gargalhada alta, escandalosa até, quando a
realidade me assalta.
Os vizinhos.
— O que, o que é isso Benjamin? — Tento parar de rir, mas é
impossível, ele não pode ter feito isso.
— Seu presente de aniversário. Gostou?
Minha surpresa aumenta, minha barriga dói e só quero me jogar sobre
ele. Como ele soube?
— Você é maluco? — Consigo dizer, dividida entre rir e apreciar seu
corpo, conseguindo dar espaço para que entre e saia logo do corredor.
Ele é, sim, um belo espetáculo, mas não quero dividir esse monumento
com nenhum dos nossos vizinhos.
Fecho a porta, tentando entender essa loucura, mas isso fica difícil,
porque não consigo pensar com coerência olhando Benjamin nu, em minha
sala, segurando rosas. Ainda mais quando ele se aproxima, perto, muito
perto, tendo um sorrisinho prepotente nos lábios.
— Feliz aniversário!
Eu não sei dizer bem o que sinto quando ele me entrega o buquê. Isso,
esse gesto, eu não esperava. Era amizade colorida, não era? Não incluía um
homem lindo, nu, me trazendo rosas. Ainda assim, meu coração dá
cambalhotas em meu peito.
Ele está estragando tudo, nós estamos, pois desde aquele dia, no pub,
que estamos dormindo juntos todos os dias. Sempre com um programinha
diferente à noite. Jantamos juntos, às vezes saímos, malhamos juntos, e
depois acabamos em seu apartamento, transando e dormindo de conchinha,
conversando, rindo, nos conhecendo. Droga, Ben.
O pior, ou o melhor, não me decidi ainda, é que a cada dia eu gosto
mais disso e nesse momento, essa data comemorativa passa a ter outro
significado para mim, um muito divertido.
— Obrigada, seu maluco!
— Queria fazer algo que fosse se lembrar, achei que isso funcionaria. O
que achou? — Ele dá uma voltinha, a bunda durinha e perfeitinha me fazendo
rir.
Esta é a primeira vez que ganho um buquê e, com certeza, não irei me
esquecer, nunca. Com o coração quente por seu gesto, me aproximo dele e
jogo meus braços em seu pescoço, me aproximando, tendo cuidado com
minhas rosas, que são lindas, e me sentindo incrivelmente feliz com seu
gesto.
— Pode ter certeza, eu nunca vou me esquecer e, quanto as flores, são
perfeitas. Eu amei.
Ganho um beijo seu, lento, profundo, diria até apaixonado, se nós,
estivéssemos em outro contexto. Não é o caso.
— Esse é o melhor presente que poderia me dar, mas agora, quero
você.
— Você me tem, estou aqui pra você. Esta noite você é minha, morena,
toda minha.
― Hum... ― É minha única resposta antes de ele voltar a grudar sua
boca na minha, enquanto me leva para trás, me depositando de costas no sofá,
tomando o buquê de rosas e colocando em algum lugar que não quero saber
neste momento.
Sinto meu coração querer sair pela boca, minhas mãos pinicam por
tocá-lo, mas ele não vem, fica em pé logo à minha frente, ao meu alcance e
me dá a bela visão do seu corpo, nu e tatuado, perfeito. Uma tentação em
todos os sentidos, com um sorriso sacana nos lábios, uma cara de macho alfa,
safado e delicioso e a melhor parte? Hoje ele é todo meu.
Apoio-me em meus cotovelos, arregalando meus olhos ao notar o
volume que seu membro toma, ereto. Me deliciando ao me lembrar de como
é tê-lo dentro de mim, o prazer que sinto em cada minuto que estamos juntos.
Sua risada é minha resposta para cara que me pega fazendo ao olhar seu
membro.
— Está me olhando como o Frajola olha para o Piu-Piu preso na gaiola.
— Minha sorte é você não estar em uma gaiola, pra que eu possa
pegar.
Algo em Benjamin me deixa solta, à vontade, sem nenhum pudor e
usando minha melhor cara de sedução, me ajoelho aos seus pés, tocando seu
abdômen, passando as unhas nos gominhos aparentes em sua barriga,
descendo ao V exposto em sua pélvis, que causaria loucura em qualquer
mulher.
— Mônica...
— Sabe, uma das coisas que mais gosto de comer quando estou sozinha
em casa, Ben?
— Não faço ideia. — E ele não perde um movimento meu.
— Sorvete, amo comer sorvete, estava fazendo isso mesmo, há pouco.
Como será que fica como recheio do seu pau?
— Mônica! — Ele nega, eu não me importo.
— Ah, não, relaxa, não tá tão gelado assim, já está derretendo e é meu
aniversário, não vai me negar isso, não é?
— Você é impossível...
Rio e pego a colher de sorvete ao meu alcance, pegando a parte
derretida e, olhando bem para Benjamin, passo a colher suja em seu pau.
Seguro seu membro, o masturbando e espalho a calda derretida, adorando ao
vê-lo inclinar a cabeça para trás e chamar meu nome, dessa vez em forma de
gemido.
Lambo-o e faço uma nota mental de que fazer sempre boquete com
sorvete, é muito melhor. Masturbo a base do seu pau, passando a língua na
glande e tentando engoli-lo o máximo que consigo. Não tenho tanto sucesso,
ele é grande e sinto-o preencher minha garganta.
Molho-o bem, um boquete bem molhado é mais gostoso, assim ele
mesmo me disse e me delicio com as reações do seu corpo.
Sua mão agarra meus cabelos e eu adoro quando faz isso, usando de
certa força, isso me excita a um nível inimaginável e começo a engoli-lo mais
rápido, sugando seu pau e amando seus gemidos, sua mão sem soltar o meu
cabelo.
— Você, você...
— Hum... O que foi, Ben, quer que eu pare?
— Você é uma peste.
— Ui — grito, sentindo a antecipação do prazer que me espera, quando
suas mãos seguram meus cabelos e me puxa para ele, descendo por meus
ombros e já trabalhando em tirar minha blusa, expondo meus seios.
— Eu adoro sua boca no meu pau, mas neste momento, quero sua
boceta. Meu foco hoje é você, só você.
Fico apenas olhando, ansiosa, molhada e volto para o sofá, Benjamin se
aproximando como um felino, engatinhando e se pondo sobre mim, o pau
grande e ereto apontando em minha direção, bonito, grande e rosado.
Sua boca alcança a minha em um beijo molhado e lascivo, sua mão se
embrenhando por debaixo do meu short, o pijama folgadinho e molinho
facilitando bastante sua vida.
Gemo em sua boca, satisfeita ao notar em seus olhos o efeito que causa
nele o fato de eu estar sem calcinha.
— Sério? Sem calcinha, morena?
— Fica mais fácil assim... — Fecho os olhos quando sinto suas mãos
descerem de encontro ao meu seio, apertando e chupando-o.
Chego a arquear as costas. Benjamin não é gentil, longe disso, mas é
perfeito e seu chupão causa reboliço em minha pélvis. Busco atrito com seu
pau, tentando diminuir que seja, um pouco, meu tesão, inebriada, e seus olhos
em nenhum momento deixam os meus.
Com satisfação e expectativa vejo-o se ajoelhar no chão ao lado,
olhando meu corpo com lentidão, a parte desnuda em especial. Estar com ele
é diferente, é surreal, é... apaixonante.
Tento ajudá-lo a tirar meu short, mas ele me detém.
― Não, eu tiro ― comanda e como um cachorrinho bem adestrado,
volto a me jogar no sofá, esperando seu próximo movimento.
Será que ele não vê que tenho pressa? Estou morrendo de tesão.
Meu short é arrastado por minhas pernas e Benjamin abre meus
joelhos, me arreganhando completamente e olhando minha boceta, como se
ela fosse seu prato favorito.
― Eu disse que hoje, meu foco era você.
Espero ansiosa, mas antes que faça qualquer movimento, ele só me
cheira. Isso mesmo, Benjamin inala meu cheiro e eu me perco ao sentir sua
língua molhada em minha pele, seus dentes me arranhando e eu me contorço
de desejo.
Infeliz gostoso...
Minhas mãos voam de encontro ao estofado quando sinto sua língua,
procurando apoio, me segurando para não gozar depressa demais. Benjamin
me abre inteira, mais até do que eu poderia e explora cada dobra com seus
dedos, vagarosamente, como se estivesse me torturando, sabendo a merda de
reação que me causa.
Perco-me em reações, me entrego de bandeja, gemendo seu nome,
pedindo por clemência. Arquejo e chamo por ele, quando enche a boca com
minha boceta, mamando como se estivesse fazendo isso em meu seio.
Não tenho mais como segurar o que sinto, a tensão sexual e o desejo se
construindo a um nível que não tenho nenhum controle, que não quero ter.
Sua língua macia desce por minha vulva e voltando ao meu clitóris,
lentamente, lambendo e me tirando qualquer sanidade.
Fazia tanto tempo que não tinha um contato sexual antes de Benjamin,
que após enfim transarmos, parece que minha libido destrancou a porta e
jogou a chave fora.
Ensandecida, sinto seus dedos dentro de mim, enquanto sua língua
desce até minha entrada, subindo para o meu clitóris devagar, molhado,
gostoso.
Mas ele para.
Que merda ele está fazendo?
Abro os olhos, chateada, a fim de dar com as flores em sua cara e
encontrando-o rindo.
― Não me olha assim, morena. Sua boceta é deliciosa, mas quero que
goze em meu pau. ― E enquanto isso ele veste a camisinha, com aquela cara
de lobo, que tanto amo.
— Eu ficaria puta, se o teu pau não fosse tão gostoso quanto tua língua,
sabia?
― Não feche os olhos, quero que veja meu pau entrar nessa tua boceta
deliciosa.
Engulo em seco, vendo-o segurar seu pau e esfregá-lo em meu clitóris,
indo até minha entrada lambuzada, voltando e causando um arrepio em
minha espinha.
Uau...
Pouco a pouco, vou sentindo-o me penetrar. Gemo, gemo alto ao sentir
sua grossura abrir passagem e me entrego a cada sensação que sinto, fazendo
o que antes me pediu, olhando cada centímetro entrar e sair.
Puta que pariu.
Sinto-o sair devagar de dentro de mim para depois se enterrar mais
rápido.
Saindo e entrando.
Entrando e saindo.
Estou a ponto de pedir por mais, quando ele se ajoelha entre minhas
pernas, colocando o dedão em minha boca para que eu chupe, para em
seguida começar a massagear, levemente, meu clitóris. Adeus, sanidade.
Fico mole, sem fala, perdida em sensações.
― Tão gostosa assim, minha.
― E sou toda sua hoje. ― Me ouço falar, levada pelo desejo.
― Só hoje? ― pergunta, um sorriso sacana enquanto me penetra com
força, indo fundo com vigor e me fazendo gritar, sem deixar de estimular
meu clitóris.
Sem que espere, seu braço passa por minha cintura e me levanta, me
colocando sentada em seu colo, sobre ele, sem por um instante tirar seu pau
de mim.
― Estou te machucando? ― pergunta, cuidadoso ao notar que o olho.
― Não, claro que não. Só não pare e cumpra sua promessa, me faça
gozar em seu pau. ― Suas mãos agarram meus quadris, me fazendo quicar
cada vez mais rápido.
Tomo meu ritmo, sua mão já não precisando me guiar, uma mão
estimulando meu clitóris, enquanto a outra segura meu cabelo, sua boca em
meu mamilo.
É algo diferente a sensação de ser preenchida e alcançar o prazer ao
ponto de sentir o gozo se aproximar. Me deixo levar, jogo a cabeça para trás e
grito seu nome, me agarrando ao seu pescoço quando o prazer me arrebata,
vindo como um furacão.
Abraço-o e espasmos tomam meu corpo, sua boca buscando a minha,
mordendo, sugando, suas mãos segurando minha bunda.
Por Deus, desta vez parece durar tempo demais, fazendo com que eu
aproveite cada segundo. Deixo sua boca e mordo seu ombro quando já estou
quase mole, sendo jogada no sofá com zero delicadeza, minha perna indo
parar em seus ombros.
― Minha vez ― fala. Se movendo de forma invejável.
Para mim, era impossível, mas acontece. O prazer retoma mais brando,
talvez mais rápido, mas está aqui, enquanto sinto sua mão em minha nuca,
segurando-a com força bem calculada, me prendendo embaixo de si, em seu
olhar quando chama por mim, como uma súplica.
Não perco um segundo sequer, nem quando os meus espasmos pedem
para que eu feche os olhos ao gozar de novo, pois quero assistir ao prazer que
estampa o rosto de Benjamin, que me faz querer emoldurar essa lembrança
como uma das melhores da minha vida sexual.
É sublime. E é só sexo, mas é com ele e a forma como me faz sentir ser
a mulher mais desejada do mundo para ele, paralisa meu universo.
Sou abraçada por ele, seu corpo sobre mim, seu rosto se afundando em
meu pescoço e só então, me permito fechar meus olhos e puxar uma
respiração profunda, me sentindo esgotada...
Segundos, minutos se passam em que nada é dito, ouvimos apenas
nossas respirações descompassadas.
Por um instante, uma bobagem passa por minhas cabeça, uma vozinha
lá no fundo, me perguntando até quando isso vai durar. Benjamin se move,
saindo de mim e suspiro, suada e exausta, tentando entender para onde ele
vai.
― Meu Deus. ― Abro os olhos de súbito quando seu braço forte
envolve minha cintura e me traz para cima de seu corpo, deitado
confortavelmente sobre meu tapete.
― Estava com medo de te machucar com meu peso ― fala, relaxado, e
eu? Bom, estou a ponto de apagar, me aconchegando em seu ombro.
― Não estava, mas gostei da ideia do tapete.
Ele ri e olho-o, ficando nós dois parados por segundos um no outro.
Eu poderia me acostumar com ele, não, eu estou me acostumando com
ele e depois dessa surpresa, não sei se conseguirei manter o muro em volta do
meu coração.
Um coração acolhido é um coração apaixonado

Deitados no chão sobre seu tapete, tenho uma Mônica relaxada,


fazendo um desenho imaginário em meu peito com as pontas dos dedos,
quietinha, a respiração compassada e eu, só quero o resto da noite com ela.
― Obrigada. ― A voz macia se faz ouvir e pego um cacho do seu
cabelo, enrolando meu dedo nele,
― Pelo o quê?
― Por se importar, digo, pelas flores e o sexo delicioso.
Sorrio, satisfeito, parecendo até ter sido eu a ganhar um presente e
ainda nem acabou.
― Como soube, que era hoje?
― E sobre isso, achei péssimo não ter me contato, pra deixar claro. ―
Ela levanta seu rosto, apoiando o queixo em meu peito, rindo bonita.
― Achou, é?
― Bastante, e respondendo a sua pergunta, foi Dialindo quem me
disse. Tinha um grande pacote para você na recepção quando cheguei, mais
cedo. Por um acaso, ele me disse que era seu
― Que fofoqueiros. ― Recebo um tapinha, negando e beijando seu
nariz.
― Por uma boa causa... ― Seguro sua cintura e colocando-a de costas
no tapete, podendo olhar seu rosto com calma, ter mais acesso ao seu corpo.
― Senão, como eu poderia aparecer aqui, apenas com um buquê.
Mônica começa a rir, os braços em volta do meu pescoço, linda,
bagunçada e perfeita. Dizendo a verdade, não acredito que fiz isso.
― Mas não é só isso, digo, seu presente. Me empresta uma toalha?
Tenho algo mais pra te dar.
― Ah, não, não precisa me dar mais nada, por favor.
― Ei, quem decide isso sou eu.
― Não acredito que fez isso, já trouxe as flores.
Não me importo com sua negativa e a ajudo a levantar, fazendo um
gesto para que faça o que peço, vendo-a, a contragosto, sumindo pela porta
do quarto, voltando segundos depois de roupão e com uma toalha para mim.
― Já volto. ― Beijo sua boca e sigo porta afora, até mesmo ansioso
por lhe dar outro presente que comprei.
Hoje à tarde, quando fui atrás das benditas flores, algo em uma vitrine
ao lado da floricultura me chamou atenção. Era uma bolsa, que me fez
lembrar que Gamora estragou a sua, dias atrás. Então pensei, não seria uma
ideia tão ruim assim, ela poderia gostar.
Entrei na loja, perdi horas tentando achar algo que eu imaginava
combinar com ela, enchi o saco da vendedora pra caralho, optei pela bolsa
mais cara da loja e, depois, voltei para casa, com uma bolsa, rosas e
cupcakes.
Talvez, até tenha exagerado com os cupcakes, mas por algum motivo
eu queria que fosse especial, que ela realmente gostasse. Entro, aliso a cabeça
da cachorra contente ao me ver.
― Ei, menina, já, já volto com sua nova ídolo. ― Pego o pacote, o
doce com uma pequena velinha em cima do chantilly e volto apressado para o
seu apartamento.
Quando entro, vejo ela próxima a uma mesa que antes não estava ali,
dessas de estudo, extremamente bonita e delicada. Agora, com o jarro de
flores sobre ela, as mesmas que lhe dei. Agora já não sei se essa foi uma ideia
tão boa assim, não, tenho a certeza de que realmente exagerei e me sinto
idiota por isso.
― Mesa nova?
― Oh, sim. Era o grande pacote lá embaixo. Acho que meu pai quer
que eu volte a estudar.
― E você vai?
― Estou pensando. Quero cursar os últimos dois períodos em
Administração que me falta terminar... e estou pensando em estudar, para
tentar Direito. Preciso ter opções, para isso, preciso estudar.
― Olha só, gostei. Vai conseguir, sei que sim. ― Ela se mantém ainda
de costas e uma coisa que aprendi sobre Mônica, ela não lida bem com
elogios.
― Passei no concurso bem cedo e me acomodei, sabe? Comecei uma
faculdade só um tempo depois de já estar trabalhando e não cheguei a
terminá-la. ― Ela para de falar ao se virar e ver o grande pacote que seguro
em minha mão, e meu estado de apreensão parece piorar. ― Isso tudo é pra
mim?
― Este aqui, a Gamora te deu e esse, é só... quero cantar parabéns pra
você.
― Com um cupcake? Que fofo. ― Um sorriso se abre em seus lábios e
incrivelmente, esqueço qualquer dúvida se fiz certo ou não.
― Um bolo poderia ser exagero. ― Foi exatamente o que pensei
quando olhava a vitrine da doceria, o cupcake seria menos... teatral. ―
Anda, me traz um isqueiro.
― Tá falando sério?
― Estou, minha mãe sempre faz uma grande festa em meus
aniversários, até hoje, aprendi que isso é o certo, quero fazer isso contigo. Só
não imaginei que te encontraria aqui hoje, sozinha, sem bolo, amigos,
festinhas. O que houve? ― Mônica deixa o riso morrer, olhando para o jarro
de flor ao seu lado.
― Nada, meus amigos estão viajando.
― Está explicado. ― Apenas segundos e ela está ao meu lado, me
entregando os fósforos.
Sorrio, acendo a velinhas e olho para ela, aquele brilho iluminando seu
olhar, um sorriso ameaçando aparecer.
― Vamos lá, faça um pedido e assopre as velinhas.
― Não sabia que fazia o tipo de fada dos desejos.
― Só pra você, vai lá, assopra. ― Assisto, com ansiedade, ela fechar
os olhos, demorar alguns segundos, para enfim, abri-los e apagar a velinha.
― Parabéns, que essa data se repita muitas vezes em sua vida. ― E que eu
esteja ao seu lado. Essa parte eu omito, confuso comigo mesmo.
― Obrigada, Ben, de verdade, obrigada e eu menti.
― Mentiu com o quê?
― Meus amigos não estão viajando, quer dizer, Isabella até está, mas...
André não e ele adoraria me fazer uma festa.
― Mas? ― pergunto, interessado.
― Mas eu não gosto de aniversários. Não sou adepta a festas, parabéns,
acho até um dia enfadonho e não é por nada em especial, é apenas paranoia
minha, sabe? Algo que aconteceu há tanto tempo que não deveria importar.
Além do mais, as pessoas esperam demais desse dia, presentes, festas,
parabenizações especiais e eu só fujo disso tudo.
Algo morre um pouco aqui, imaginando ter feito tudo o que ela não
gosta. E tem que ter um motivo para isso, ainda não tinha conhecido alguém
que não gostava de aniversários.
― Entendi.
― Não, não. Não é isso, não é, o que quero dizer, digo, aonde quero
chegar é que eu gostei da surpresa, gostei de ter vindo e por isso não quero
mentir, dizendo que meus amigos viajaram. Na verdade, você conseguiu
superar qualquer expectativa e deu um novo significado a este dia, trouxe
uma nova lembrança... que eu vou gostar de guardar pelo resto da vida.
Sempre vou rir quando me lembrar de você em minha porta, segurando um
buquê de rosas.
Não sei o que dizer a ela, fico sem saber também como agir.
― Agora toma, espero que goste. ― Continuo como um bocó, rendido
ao ver sua euforia ao abrir o pacote dourado.
― Não acredito... Benjamin! Você me comprou uma bolsa!
E, sim, eu acertei, os olhos dela brilham com o presente em mãos.
― Sim, lembrei que minha pitbull estragou a sua e, caso queira trocar...
― Claro que não, é perfeita, eu amei, não vou trocar, eu amei.
A bolsa é deixada em segundo plano, seu abraço apertado me pegando
desprevenido, e seu beijo me deixa ver o quanto gostou do presente.
― Se continuar, vou te presentear mais vezes.
― Bobo.
Segundos, talvez minutos que passo preso em seu olhar, seu sorriso,
sem nada realmente a ser dito. Não posso negar, ela é importante e está
chegando aonde nunca, ninguém jamais chegou.
― Mônica, eu acho que... ― Paro de falar quando o celular, que acabei
de trazer, toca em algum lugar e fecho meus olhos, agradecendo, não sei bem
o que ia falar.
Procuro o celular, me sentando e atendendo, sem nem olhar o número.
― Oi.
― Boa noite, eu falo com o Benjamin? ― uma voz educada, até
profissional, pergunta e afasto o celular da orelha, olhando o número. Não o
conheço.
― Sim, é ele. Com quem falo?
― Seu Benjamin, falo do hospital regional. O senhor Joaquim deu
entrada há pouco no hospital, e o senhor é seu contato de emergência,
confere?
Por alguns segundos, sequer respiro, olhando o rosto de Mônica
enquanto come seu doce, alheia à minha aparente surpresa.
― Como é?

― Não precisava ter vindo. Não queria que nossa noite acabasse assim,
me desculpe.
― Besteira, Ben, estou aqui por você para o que precisar ― fala,
enquanto permanece sentada ao meu lado na sala de espera do hospital, a
mão pequena na minha, como um alento e no fundo agradeço por ter vindo
comigo.
― Obrigado.
Mesmo não considerando o homem internado neste hospital como meu
pai, não poderia dar as costas à ligação que recebi, horas atrás, ainda mais
quando me pediram pressa, pois seu estado era urgente.
Mas a pergunta de um milhão de dólares é: por que ele me colocou
como contato de emergência? Até quando soube, ele estava casado. Com uma
mulher da minha idade, diga-se de passagem. Então, cadê ela? Inferno!
― Calma, Ben, vai dar tudo certo. ― Olho Mônica, alheia à confusão
que tenho aqui, queria que fosse tão fácil.
― Morena, nunca falamos disso, não é algo que faço muito, mas... não
tenho uma boa relação com meu pai. Ele não era, como posso dizer, um pai,
ou um bom marido. E depois do divórcio, bom, não nos falávamos há anos.
Desde que foi embora de casa.
Mônica fica estática e não sei decifrar o que pode estar pensando e
volto a fitar o chão.
― Sente mágoa. ― Não é uma pergunta, ela afirma.
― Sinto, principalmente porque ele não a queria, Sophie. Quando
minha mãe a trouxe, ele pediu que fizesse uma escolha. Sophie, ou um
casamento de merda que tinha com ele. Meu pai foi embora no dia que ela
chegou. Já nem éramos mais uma família.
― Nossa, e sua mãe? Como ficou?
― Melhor sem ele, com certeza. Hoje ela está bem, mas a separação, a
solidão, dois adolescentes em casa, trouxe uma carga e a decepção se
transformou em depressão. Mas isso já não importa, hoje ela está bem. Não
se preocupe.
― Eu não fazia ideia, eu, ah, Ben, eu sinto muito. ― Sei que sente, está
presente até mesmo em sua voz. Beijo sua testa e depois sua boca, agradecido
por tê-la comigo.
― Senhor Benjamin?
Encaro a mulher morena de uniforme verde em minha frente e me
levanto, apreensivo, e sinceramente? Em dúvida se fiz certo em vir.
― Sim, sou eu.
― O senhor pode vir comigo?
Confirmo, tomando a mão de Mônica na minha, mas a enfermeira nos
faz parar.
― Desculpe, só posso liberar uma pessoa por vez.
― Certo, claro. Me espera?
― Sim, sim, não vou sair daqui sem você. Vá tranquilo, fico esperando.
Sem mais poder esperar, deixo Mônica sozinha na recepção, seguindo
com a enfermeira por um corredor branco repleto de quartos, o cheiro
asséptico me dando enjoo ou talvez, estou nervoso demais.
― É aqui, o senhor pode entrar, ele está te esperando.
― Obrigado. ― Eu deveria entrar, mas ao invés disso, permaneço
olhando a porta, respiro fundo.
Nego lembranças da minha infância e abro de uma vez a porta do
quarto, sentindo urgência de correr daqui, do homem deitado na maca
hospitalar, com uma máscara de oxigênio no rosto.
Fico imóvel, o observando por algum tempo. Ele já não é o homem de
antes e se transformou em alguém franzino, apático, parecendo sem fôlego.
São segundos em que ele não percebe minha presença no quarto, até que seus
olhos vagam pelo cômodo.
― Você veio.
Não o respondo, não de imediato e me aproximo, braços cruzados
frente ao corpo como se pudesse me proteger dele, não preciso mais.
― Sim, me ligaram, parece que sou seu contato de emergência.
Ele só tem tempo para um sorriso, trazendo a máscara de volta para o
rosto.
― É, só me sobrou você.
― Sua esposa? ― pergunto e me policio, de nada adianta chutar
cachorro morto.
― Mulheres novas não querem um velho doente, com câncer na
próstata. Ela me deixou, assim que tive o diagnóstico.
Eu queria dizer que sinto o mínimo de satisfação com isso, em saber
que o destino tratou de devolver a ele o mal que fez para as pessoas ao seu
redor, na mesma moeda, mas não estou. Na verdade, depois de ver meu pai,
sinto até pena, algo aperta meu peito, trazendo em minha mente momentos
em que jogávamos bola no quintal, quando eu não tinha mais que oito anos.
― Entendi. ― Me sento na cadeira próximo à cama. ― O que irão
fazer? Com relação à doença?
― Eu demorei a vir, garoto, já é tarde demais. E me escute, Benjamin,
tenho que te alertar, para que aprenda com meus erros. O exame de próstata,
para prevenção, não é frescura, nem é vergonhoso. Achamos que é, sentimos
um carocinho e, ainda assim, fugimos da tão temida dedada. ― Volta a sorrir,
mas não tem graça. ― Mas não é besteira, é um exame necessário e sabe
como eu descobri isso? Quando já não tinha mais jeito, vim ao médico só
para descobrir que o câncer estava avançado demais para ser retirado.
― E, neste caso, o que pretendem fazer? ― Me pego curioso, tentando
entender.
― Comecei a quimioterapia, radioterapia e, na semana que vem, irão
retirar minha próstata, minha masculinidade vai descer pelo ralo. O que é um
homem sem... chega, não é? Me diga, como você está?
― Vou bem, como sempre. ― Quero fazer mais perguntas, quero
entender, será que não tem mesmo jeito?
― Sua mãe? ― Me abstenho de responder, esse direito ele não tem. ―
Entendi, entendi. Eu os deixei, não é? Não preciso saber como ela vai. Você
está certo.
― Estou?
― Claro, é teimoso como eu, tem o meu temperamento, somos
parecidos.
― Não, não somos parecidos. ― Nego, com veemência. ― Eu jamais
teria uma família e faria com ela o que fez a nós.
― De novo, você está certo. E fica fácil ver isso hoje, garoto, mas
naquela época.
― Chega, Joaquim, não quero voltar para aquela época, não quero
desculpas ou falar disso. ― Não preciso, não quero saber seus motivos.
O velho se cala, voltando a respirar na máscara, enquanto continuo a
olhar a janela ao meu lado, não consigo sequer encarar seu rosto por muito
tempo.
― Será um bom homem, Benjamin, será sim. Aprendeu bem vendo os
meus erros, não creio que irá repeti-los.
― Eu não irei.
― Bom, muito bom, filho. Senti sua falta. ― Sua voz sai baixa,
compassada, a falta de ar lhe impedindo de falar, me dando mais tempo de
pensar. ― Pode não parecer, mas eu senti. É o meu único filho e, caso eu não
saia vivo daquela sala de cirurgia, em alguns dias, eu quero que saiba disso.
Peço desculpas por não ser um bom pai, por não mostrar a você como é ser
um homem honrado, pela sua mãe. Me desculpe. Você nem consegue me
olhar nos olhos e a culpa disso é minha.
Ele tem razão, eu não consigo, assim como não consigo chamá-lo de
pai.
― Não se preocupe, de alguma forma eu aprendi, vendo os seus erros.
― Soa ruim, eu sei, não era bem como eu queria dizer. ― Olha, se me
chamou aqui porque quer... perdão, eu te dou. Não sou bom nisso, é verdade,
tanto que até hoje eu nunca consegui te perdoar. Mas agora, te vendo assim,
percebo que não te perdoar, não faz mal a você e, sim, a mim mesmo. Não
quero isso.
― Você é um bom garoto, um bom garoto...
Levanto-me, preciso sair daqui.
― Benjamin?
― Oi.
― A cirurgia, será no domingo, daqui a umas duas semanas, às 16h.
Não era só perdão, é seu jeito de pedir que eu retorne.
― Certo e boa sorte.
― Obrigado, filho, por tudo.
Confirmo e deixo seu quarto, voltando pelo mesmo corredor ao qual
vim, perdendo a passada e parando, sem conseguir ir adiante. Me agacho,
encostando na parede, trazendo minhas mãos à cabeça, perdido, tentando
lembrar se em algum momento, nossa família funcionou, se em algum
momento fomos felizes.
E fomos, acredito que até os meus nove anos, fomos felizes. Foi
quando as traições começaram, as brigas e a violência, certa vez até física.
Ainda assim, se fizer um esforço, consigo me lembrar de alguns bons
momentos na infância.
Em mais da metade da minha vida ele não foi um pai, mas em algum
momento ele esteve lá.
Meu perdão eu dei, ou assim acredito, e foi de forma verdadeira, apesar
de não esperar nada disso. Sendo sincero, após vê-lo não tenho certeza se ele
irá sobreviver à cirurgia. O senhor naquele quarto não tem nada do homem
que um dia meu pai foi.
Aprumo meu corpo, sentindo meus olhos lacrimarem.
Não sou igual a ele, não quero ser, preciso e vou ser melhor. Meus
passos pesam quando saio do corredor, encontrando uma Mônica ansiosa na
recepção, batendo o pé e se mexendo sem conseguir se conter. E pensar que
está assim por mim.
― Ben. Como foi? ― Ela vem até mim e eu a abraço apertado, seu
cheiro aliviando minha confusão.
― Foi... doeu. Foi isso, doeu. Eu não quero me aproximar, nunca quis,
mas vê-lo assim... ― Nego, confuso demais para falar. ― Eu o perdoei, só
isso. E, Mônica, obrigado, obrigado por estar aqui. ― Seguro seu rosto entre
minhas mãos, tendo seus olhos nos meus, selando nossos lábios.
― Estarei sempre aqui quando precisar, Benjamin. Sempre...
― Eu acho que... não, nada, só obrigado. Agora vamos, vamos pra
casa, conversamos melhor na cama.
A revanche

Estou aqui, sentada na cama do belo homem que dorme ao meu lado,
com sua cachorra sentada do outro lado da cama, ao alcance da minha mão
para ter um carinho. Como eu pude ter medo dessa coisinha? Afago sua
cabeça enorme, voltando a olhar para Benjamin, que continua seu sono
tranquilo.
Aquela conversa, que ele disse que teríamos ao estar em casa, não
aconteceu realmente. Ele fugiu dela ao chegarmos. Viemos para sua casa,
pedimos algo para comer e depois, ele se enterrou em mim com loucura e
paixão, enquanto me olhava como se eu fosse o seu bote salva-vidas, sua
fuga.
Eu jamais poderia supor que alguém como Ben, teria problemas com a
família, com seu pai. Não poderia imaginar.
Seu jeito é sempre solto, sempre fala da irmã e da mãe com tanto
carinho, que cogitar que tivesse problemas com o pai, nunca me passou pela
cabeça. Se bem que, olhe para mim, meu relacionamento com meu pai é
ótimo, já com minha mãe...
Nunca fomos tão próximas quanto eu gostaria. Talvez porque queria
uma menininha perfeita, uma princesinha, uma extensão sua, e eu estava mais
para uma moleca desenfreada. Isso sempre pesou em nosso relacionamento.
A única coisa que já a vi aprovar em mim foi meu noivado com Neto.
Mas no caso de Benjamim, tudo vai muito além de expectativas
quebradas, é mágoa. O que vi ontem, vai além, de apenas dor e não sei como
falar sobre isso com ele, não sei se devo.
Para começar, nem sei mais o que somos um para o outro, não tenho
certeza do que estamos fazendo. A amizade colorida parece ter perdido o
sentido, algo mudou, eu sinto. Olho-o, o rosto relaxado, totalmente sem
defesas e, sendo sincera, não sei como me sentiria se amanhã, ele dissesse
que acabou. Que cansou dessa nossa brincadeira.
Paraliso quando ele se mexe ao meu lado, tentando não o acordar. Seu
braço me procurando na cama ao seu lado. Pouco a pouco seus olhos se
abrem e focam em mim, sentada abraçando meus joelhos.
— Bom dia, morena. Acordou cedo...
Volto a me deitar ao seu lado, deixando que seu braço me puxe para
mais próximo de si.
— Bom dia... Gamora queria brincar, me acordou com beijinhos. —
Sorrio, e ela parece nos ouvir, pulando na cama à procura de seu dono.
— Às vezes ela tem dessas, desculpa.
— Tá louco? Foi meu melhor bom dia. — Beijo seus lábios, me
deitando em seu peito, sentindo sua respiração compassada tocar minha pele.
— Não dormiu muito bem essa noite, né? — Tento começar essa conversa e
ele me olha, por tempo demais, sem nada a falar. — Se não quiser falar...
— Tudo bem, eu disse que conversaríamos.
— Mas não quer dizer que precise, né?
— Por que não? Estava lá comigo, o tempo todo, merece saber e não,
eu não dormir bem.
— E por que não?
— Eu odiei aquele homem por muito tempo, Mônica. Odiei meu pai,
sentindo uma mágoa que chegava a me machucar. Mas todo esse tempo,
odiei um homem saudável, forte, sem caráter ou escrúpulos, não o homem
que eu vi ontem, deitado naquela maca, não era o mesmo homem que odiei
por tanto tempo. Era o que restou dele.
— Ah, Ben.
— E agora não sei se faz sentindo continuar com toda essa mágoa,
rancor. Eu disse que o perdoei e acho que realmente fiz isso, mas ele me disse
o dia da cirurgia e senti que talvez, ele me queira lá.
— E você quer ir?
— Não, eu não quero.
Volto a me sentar, olhando em seus olhos e busco suas mãos.
— Eu sei que é difícil, eu entendo, procuro entender. Mas, Ben, e se ele
entrar na sala de cirurgia e não sair... com vida? Vai conseguir lidar com isso,
meu bem? Vai conseguir se olhar no espelho, sabendo que se enganou, que
não perdoou, que não estava lá? E eu sei, sei que acha que não quer estar
presente, e talvez não queira mesmo, mas Ben, ele pode não sair com vida
daquela cirurgia, pelo o que o médico nos disse, ontem.
Suas mãos deixam as minhas, esfregando seu rosto com certa força,
como para se livrar de pensamentos difíceis, se sentado ao meu lado,
entrelaçando nossas mãos.
— Eu não perdoei, não é?
— Não, não perdoou. Você acha que sim, mas se tivesse feito, teria
conseguido dormir à noite.
Ele não me olha, focando seus olhos em nossas mãos unidas parecendo
viajar para longe. Queria poder dividir o que sente, ajudar de alguma forma.
— Quando era criança, jogávamos bola sempre aos finais de semana.
Essa é uma das poucas coisas boas que me lembro de fazermos juntos. E,
desde ontem, sempre que eu digo a mim mesmo, que não estarei lá, que não
vou voltar àquele hospital, essas memórias voltam e não sei o que fazer.
— Esteja lá com ele, segure sua mão, o perdoe realmente, Benjamin, ou
tente. No fim, quando ele sair daquela cirurgia, você poderá decidir se o quer
em sua vida ou não, porque sei que é um bom homem, Ben, tem um bom
coração, eu sei. Você não vai se perdoar se algo acontecer e você não estiver
lá.
Sua expressão é indecifrável.
— Obrigado, acho que era o que eu precisava ouvir.
— Hum, eu sei um jeito melhor de você me agradecer — provoco,
montando em seu colo.
— Sabe, é?
— Uhum... sei sim e será bem prazeroso.
Eu não sei quanto tempo isso entre nós irá durar, não sei por quanto
tempo teremos esse interesse mútuo, mas até lá, eu vou aproveitar o máximo
que eu puder.

— Menina, onde tu estava? Te liguei umas quatro vezes.


Nem olhei para os lados ao entrar na agência, estou para lá de atrasada
e André parece ter sentido minha falta, a julgar pela cara que me olha.
— Me atrasei, né? É que dei um pulo no hospital, Benjamin passou a
noite com o pai dele, que foi operado ontem. Ele quis estar lá — descarrego,
esbaforida, olhando o relógio e conseguindo respirar ao perceber que ainda
tenho dez minutos, antes de a agência abrir e finjo não ver a cara de interesse
que André me olha com minha última informação de onde estava.
— Hum... indo ao hospital ver o sogro, é? ― Nego e agilizo meu
tempo ao ligar o computador. Me atrasei além do comum hoje, acabei
perdendo o metrô.
— Não, nada disso, nem cheguei a ver o pai dele. Fui ver Benjamin.
Comida do hospital é ruim, fui levar um lanche pra ele.
— Nunca foi boa em mentir, Mon. — Sua risada é debochada em
resposta e reviro meus olhos, com medo do que realmente sinto.
— Tá, tá bem, eu confesso, fui até lá dar um beijo nele, porque fiquei a
noite toda virando na cama, sem conseguir dormir, porque ele não estava
comigo. Satisfeito?
— Muito melhor. E me conta, como ele está? Digo, o pai e o filho, né?
Respiro fundo, feliz por ambos estarem bem, sabendo que um peso saiu
dos ombros de Benjamin.
— O pai, segundo os médicos, está evoluindo bem no pós-operatório,
inclusive já acordou. Já Benjamin, o relacionamento deles não mudou muito,
mas Ben está tentando, ao menos está lá. Acho que está superando a mágoa,
tentando realmente perdoar.
— E a mãe dele, como está com tudo isso? — pergunta, interessado,
como um fofoqueiro de primeira.
— Está bem com tudo, aparentemente feliz até. Dona Célia não gostava
da ideia de ver Benjamin com tanta raiva pelo pai. Então, estão indo bem.
E se estão se perguntando como sei disso, simples, ela foi em minha
casa, no sábado. Isso mesmo. Abri minha porta e dei de cara com a senhora
loira simpática, me convidando para almoçar com ela. Eu neguei em primeira
mão, claro, mas fui muito bem persuadida por ela e acabei cedendo.
Acabei em uma mesa de jantar, de cara com Benjamin, Sophie e dona
Célia, um belo arremedo de confusão. O pior? Foi uma surpresa para
Benjamin também, ainda assim, após o susto, foi uma das tardes mais
divertidas que já tive em meses. Tomei verdadeira paixão pela alegria
daquela senhora, também por Sophie e entendi, o porquê de Benjamin sentir
tanta devoção por ela.
Volto a mim quando recebo um pequeno tapa em minha perna, dando
um pulinho na cadeira.
— Ah, sim, sim. Benjamin não queria, mas como ela mesma disse, ele
não manda nela.
— Ah, que bonitinho isso, gente.
— O quê?
— Você, se envolvendo com ele, com a família, dando apoio... acho
fofo. Mas cuidado, Mon, o que era amizade colorida pode virar namoro,
hein?
— Não surta, não é para tanto. — E é sim, pois o que acaba de dizer,
não sai da minha cabeça e, nos últimos dias, o que menos tenho feito é
proteger meu coração. — E conta logo, Dé, por que essa pressa para que eu
chegasse, essa cara de medo? — mudo de assunto, porque não quero mentir
dizendo que não quero isso.
— Primeiro, que não tô sendo bem comido igual a você, nem indo
visitar o sogrinho no hospital, pra chegar numa segunda-feira com essa cara
de puta satisfeita. — Rio, isso eu não posso negar. — Segundo, o
superintende, ao contrário do que pensávamos, não veio só fazer uma visita
de cortesia na quinta-feira. Ele ainda está aqui e acho que denunciaram o
Rômulo por alguma coisa, viu?! O negócio aí tá pegando fogo. — Sua cara é
a melhor, desentendido e venenoso.
— Como assim, mas pelo o quê? — E meus olhos estão quase para
pular das órbitas.
— Aparentemente fraude em alguns processos para aprovação de
empréstimos. Levando uma propina por fora, direto com o cliente.
Paro o que estou fazendo, me sentando na cadeira, bestificada. Como
ele pôde ter feito isso?
— Falaram em processo e sabe o carinha que veio sabe-se lá de onde
ocupar a vaga de Eliseu? Então, estava enfiado nessa até o talo, também foi
afastado.
— Gente, mas como, como... — Nem consigo gesticular a pergunta.
— Menina, por isso ele não te queria no cargo, viada. Sorte a tua não
ter pegado a vaga, vai que entrava no bolo de gaiata.
Por essa eu não esperava, que ele não prestava como gestor, eu já sabia,
mas aí à fraude?
— Puta que pariu. E ele, tá aí, o Rômulo?
— Aí é que tá, ele veio cedo buscar algumas coisas e saiu sem dizer
nada a ninguém, o outro não veio foi de jeito nenhum e Marcelo tá aí. Mas
minha pressa, é porque ele chegou e pediu para falar com você.
— Comigo? — Paraliso, nem sei bem o que dizer. — Será que meu
nome rolou no meio disso?
— Eu não sei, mas acho que não, o que uma caixa pode ter a ver com
isso?
Sinto um arrepio subir por minha espinha e um frio se instalar em meu
estômago, puro medo. Não posso perder esse emprego, não posso sujar meu
currículo. Que merda, o que o superintendente pode querer comigo?
— Para com essa cara e vai logo lá. Não deve ser nada, deixa de ser
boba. Vai que ele quer falar com todo mundo e querem começar por você.
Relaxa e vai logo, tô curioso.
E mesmo me sentindo apreensiva, com medo até, sorrio de sua pressa.
— Tá, segura as pontas aí que já volto.
— Pode deixar e boa sorte.
Quase duas semanas que tudo estava para lá de bem, mas claro, não
dava para durar para sempre, não é?
Com as pernas bambas e, após sussurrar um “obrigada”, me levanto e
vou em direção à sala da gerência, que agora está aparentemente a cargo de
Marcelo, nosso superintendente.
Saber que Rômulo não prestava como pessoa, isso é claro que eu sabia,
ele demonstrava isso todo dia com a equipe, agora fraude? Isso ultrapassa
qualquer achismo sobre seu caráter, ele pode ser preso.
Inflo bem os meus pulmões e dou uma pequena batida na porta
entreaberta e ao ouvir sua voz, entro em sua sala, mal conseguindo me manter
em pé sobre o salto alto. As pernas moles, meu coração a querer saltar do
peito o ar chega a faltar.
— Com licença. Mandou me chamar?
E o senhor na casa dos cinquenta anos se levanta, bem apresentado em
seu paletó azul-marinho, com cara de poucos amigos. Claro que estaria
assim, se essa merda tomar proporções grandes o suficiente, até mesmo ele,
pode rodar.
— Claro, quero conversar com você. Sente-se, por favor, tenho uma
proposta a te fazer.

Este foi um dia que irá, definitivamente, entrar para minha história,
nem acredito realmente que ele está sendo real.
Esta foi realmente uma segunda excelente. Após um final de semana
muito bom, cheguei ao trabalho e recebi a proposta de assumir o cargo de
gerente geral da agência, de forma provisória inicialmente, podendo se tornar
permanente, caso me saia bem.
Acordei como caixa e estou finalizando o dia como gerente.
Eu podia esperar tudo, menos isso e mesmo que não seja permanente,
isso vai dar um up no meu salário, ao menos, no próximo mês, o que vai ser
ótimo e se as coisas estiverem enfim dando certo, eu posso, sim, ficar de
forma permanente no cargo, e... Deus, obrigada!
Suspiro, sentada onde antes era a cadeira de Rômulo.
É, o cara cometeu fraude e não uma qualquer, e ao que tudo indica, isso
vai feder muito ainda nos próximos meses. Eu sequer acredito em tudo que
aconteceu hoje, para ser sincera.
Fico pensando que a qualquer momento eu irei acordar em minha
cama, mal-humorada e tendo que enfrentar uma segunda estressante. Não que
não tenha sido estressante, mas andou longe de ser como imaginei. Parece até
surreal.
Mas sabem a parte estranha? É que tudo o que eu quero agora é
chegar em casa e correr para Benjamin, contar tudo o que aconteceu hoje,
compartilhar com ele a grande novidade.
Sorrio, estando sozinha, me recostando na cadeira e dando um giro de
360 graus nela, comemorando, bem típico de falta de costume.
Dou uma olhada na sala, já passa do horário de ir. E como Benjamin
disse que hoje não vai passar a noite no hospital, então, acho que o pego em
casa, ou espero ansiosa ele chegar.
Sei que deveria ter mais prudência, mas ele se tornou alguém realmente
especial, não é mais só sexo, por mais que eu não queira admitir, Benjamin
ganhou um espaço bem grande em meu coração, como amigo e amante. Os
últimos dias têm sido ótimos em sua companhia, em que acredito que
também o ajudei de certa forma, lhe dando apoio.
Além do mais, jamais vou me esquecer do seu jeito inusitado de me dar
flores, além de ter tornado a noite do meu aniversário mais que especial,
mesmo que tenhamos finalizado no hospital.
O hospital. Aquele dia me mostrou um pouco do que Benjamin guarda
embaixo da capa de um homem aparentemente inabalável. Ele me deu espaço
para que eu entrasse, se abriu, me permitiu vê-lo mais humano, amigo,
alguém que eu quero manter por perto. Ele é realmente um homem
apaixonante.
Droga.
Sexo, é apenas sexo, Mônica Maria. É o que ando repetindo a mim
mesma ao passar todas as últimas noites em sua cama.
Desligo o computador e pego minha bolsa, a mesma que ganhei há
poucos dias, a qual amei.
Restamos apenas o segurança do turno da noite e eu e rapidamente
deixo minha nova sala, hora de ir embora. Cumprimento-o ao passar pela
porta e sair, já à noite, respiro fundo, me segurando para não me beliscar.
Ainda parece mentira.
— Maria! — Assusto-me ao ouvir essa voz, me virando no automático.
Dou de cara com o homem ao qual jamais imaginei ver aqui, me olhando
com... entusiasmo.
— Neto! — Seu nome não passa de um sussurro em meus lábios. Perco
qualquer coerência, a euforia pelo dia de hoje ficando em segundo plano.
— Oi, tudo bem? — Sua naturalidade é algo invejável e minha voz
simplesmente não sai. — Demorou a sair, estava há algumas horas te
esperando.
Nesse momento pareço recuperar minha voz, junto à revolta por vê-lo
aqui.
— Não sei se escutei bem. Você está me esperando para que
exatamente?
Ele sorri, e bem aqui, está o homem que me deixou há mais de um ano
e meio. Tenho a impressão de que Neto deve ter caído e batido a cabeça em
algum lugar, esquecendo os últimos meses. Não vejo outra explicação para
que ele esteja aqui, em minha frente.
— Tentei te ligar nas últimas semanas, mais de uma vez, também
mandei mensagem, mas acho que você me bloqueou.
— Esperava algo diferente disso?
— Não, não esperava, tenho pensado muito nisso, por isso estou aqui.
Será que podemos conversar? Posso te levar até sua casa, se quiser.
Eu não posso acreditar na sua cara de pau.
— Você está maluco, João Neto? Você nem deveria estar aqui e acha
que vou entrar em um carro com você?
— Mônica. — Ele tenta se aproximar e dou um passo para trás,
tomando uma distância novamente segura. O que esse infeliz quer aqui?
— Vai embora, Neto. Não quero falar com você, não, na verdade, não
tenho nada a falar com você. Só vai embora.
— Mas eu tenho, só me escuta. Preciso mesmo conversar, pedir...
desculpas. — Ele nem sequer consegue me olhar e quer pedir desculpas?
— Perdão? Você está de brincadeira comigo? Surtou? Pedimos
desculpas quando esbarramos em alguém na rua, quando derramamos água
em alguém, quando pisamos no pé de um estranho, mas não quando
deixamos uma pessoa no altar, às portas do casamento — cuspo as palavras e
ele nega.
— Eu estava confuso, só precisava de tempo, Mônica. Vem comigo,
vamos conversar em um lugar mais reservado?
Essa hipótese nem passa por minha cabeça, mas me faz lembrar que
estou no meio do estacionamento do banco, a vistas de todos. Ainda assim,
não preciso ir para um lugar reservado, só me livrar dele.
— Tempo? Eu te dei sete anos da minha vida, queria mais tempo que
isso? Você não existe.
— Eu estou aqui agora, para você!
— E acha que adianta de algo? O que esperava, Neto? Achou que eu
estaria chorando as pitangas até agora, morrendo de amores por você? Só
pode estar maluco. — Sinto lágrimas em meus olhos com sua hipocrisia, mas
me nego a derramá-las.
— Eu só pedi um tempo, só isso. Não queria que se mudasse para outra
cidade ou que arrumasse emprego em outro lugar, só queria um tempo.
Começamos a namorar jovens, Maria, e eu não sabia se realmente estava
pronto para me casar, mas agora eu sei, eu te quero.
— Decidiu isso quando? Depois de pegar meia cidade? Me poupe.
Não quero sequer ouvi-lo, lhe dando as costas, mas não vou longe
quando sua mão segura meu braço. Sinto nojo com seu toque, tanto que me
debato, até me livrar de sua mão imunda.
— Maria, sei que está magoada, mas...
— Magoada? Magoada? — praticamente grito, sorrindo ao mesmo
tempo, um riso que em nada traz algo bom. — Pelo amor de Deus, Neto.
Magoada eu estive antes, quando me deixou, hoje não, hoje eu só sinto pena.
Pena de mim, no caso, por ter perdido tanto tempo amando alguém que não
me merecia, que não se importava. Não é mágoa, por você só sinto... nada,
você deixou de existir para mim. De você só restaram cicatrizes.
— Eu não acredito nisso, está tentando me punir. Sua mãe me disse que
ainda me ama.
Sinto-me traída, sempre soube do seu desejo de que voltássemos, mas
isso já é demais. Sinto um vazio que não posso narrar, sabendo que ela se
importa mais com status do que com minha felicidade. Não sei como ainda
me assusto com suas atitudes.
— Minha mãe disse o quê? Eu não acredito nisso.
— Sua mãe torce por nós, sabia?
— Foi ela que te deu esse endereço? — E ele nem precisa responder.
— Achou mesmo que eu ia continuar te amando depois de tudo?
— Foram sete anos, sete anos não se apagam de um dia para o outro.
— Não, não se apagam, mas não foi de um dia para o outro. E você
tratou de matar o amor que um dia eu senti por você. Foi isso o que você fez
naquele dia.
— Eu não acredito em você.
— Não me importa, nada que vem de você importa. Faça um favor a
nós dois e vá embora.
— Não, não sem antes conversamos como eu quero. Sei que se me
ouvir...
— Morena! — A palavra, dita em uma voz grave, preocupada,
reverbera o ambiente e chego a fechar meus olhos, aliviada até, reconhecendo
o dono dessa voz. — Está tudo bem? Vim te buscar.
Luto para controlar o bolo que se forma em minha garganta, me
virando para vê-lo, alívio tomando cada célula do meu corpo, notando que a
pergunta foi feita para mim, mas seus olhos estão em Neto.
Sorrio, agradecida.
— Sim, agora está tudo bem.
— Então, vamos?
E, por uma segunda vez, uma mão em meu braço me impede de ir
adiante com Benjamin.
— Aonde pensa que vai? E quem é esse cara, Maria?
Isso é ciúme? E não tenho tempo de responder, pois Benjamin corta
nossa distância em dois passos, a mão grande me segurando pela cintura,
como se quisesse me proteger com isso.
— Fala de mim? Sou o cara que vai quebrar a tua cara, se continuar
apertando o braço dela desse jeito. É melhor soltá-la. — É um aviso claro,
que Neto não paga para ver, ambos se encarando.
Levo minhas mãos ao peito de Benjamin, pedindo sua atenção,
tentando ainda acalmar meu coração que saiu a galope desde que o viu aqui.
Meu passado e presente frente a frente.
— Você tem outro, é isso?
— Para ter outro, eu precisaria ter mais alguém e esse não é o caso.
Volte para casa, Neto, já é tarde demais para me demonstrar amor. Seu tempo
foi há um ano e meio, quando estava disposta a me casar com você. Sonhei
com aquele dia, eu o queria tanto e você simplesmente jogou fora. — E não
seguro uma lágrima ao jogar cada palavra em sua cara, palavras que guardei
todo esse tempo. — Eu te amava, te amava tanto, que achei que meu coração
sangraria naquele dia, no nosso dia. Você destruiu esse amor, você minou
qualquer sentimento que eu poderia sentir e me causou feridas. Feridas que
eu não sei se um dia me livrarei delas. Acha que pode vir aqui agora e me
pedir desculpas e tudo ficará bem? — Sorrio, mas é puro sarcasmo, me
sentindo amparada pelo homem ao meu lado, sua mão apertando minha
cintura. — Não ficará, porque você me machucou como nunca, ninguém fez.
— Vem, Mônica, vamos pra casa — ele me chama, seus lábios tocando
de leve minha orelha.
— Eu nunca quis te machucar assim, me deixa consertar?
Nem ao menos consigo responder a isso, enquanto Benjamin tenta me
soltar, querendo ir para cima de Neto, que dar um passo atrás. Meu coração
acelera, meu corpo reage por instinto e sou mais rápida ao impedi-lo, minhas
mãos em seu peito, e tudo o que me resta, após jogar tudo isso em sua cara, é
leveza e agora só quero terminar logo com isso, lavar minha alma.
— Não vale a pena, Benjamin — peço a ele, que me olha insatisfeito,
com o maxilar cerrado, tentando se controlar. Volto a olhar para o homem
que não reconheço mais. — Não tem mais conserto. Hoje tenho até mesmo
traumas por sua causa. Hoje, eu duvido das pessoas, não consigo mais confiar
como antes, duvidando se posso voltar a amar, a me relacionar. E tenho
medo, medo de não conseguir, de ainda estar tão remendada, ao ponto de não
mais acreditar. Eu te amei, mas acabou, eu me curei. Sei que as cicatrizes não
vão embora, sei disso — soluço —, mas eu vou tentar, vou sim, porque em
todo esse tempo, eu trabalhei para isso, para seguir em frente e hoje eu sei,
você não me quebrou por completo, eu voltei a sentir novamente.
— Maria...
— Espera, eu não terminei. Foi difícil, mas eu consegui, sabe? Eu me
reergui e sou alguém melhor, muito melhor sem você. Adeus, Neto, e eu
espero, do fundo do meu coração, que você seja feliz.
Agora sim, eu terminei e dou-lhe as costas, agora sem ser impedida,
aceitando a mão grande que me é estendida, com um sorriso gentil a tentar
me garantir que vai ficar tudo bem, um sorriso pelo qual eu me apaixonei.
Deixo Neto para trás, sentindo em meu coração alívio, alívio por
encerrar um ciclo da minha vida, por saber que eu precisava dessa conversa
para seguir adiante. Eu só sinto... liberdade.
Não olho para trás, não preciso mais.
— Cadê sua moto? — pergunto, fungando e tentando controlar o choro
que quer irromper, um choro de alegria.
— Não vim de moto, resolvi tirar o carro da garagem hoje, nunca uso,
mas senti vontade de dirigir.
— Você tem carro? — pergunto, surpresa.
— Tenho, e está logo ali.
Sorrio, olhos ainda molhados enquanto, de forma gentil, Benjamin abre
a porta do carro para que eu entre e seu carro não é nada menos que um
Impala.
— Você é uma caixinha de surpresas, sabia?
— Vem, vou te levar a um lugar.
Como começar a falar?

Seguimos calados, para onde quer que ele esteja me levando e por bons
minutos me sinto perdida no limbo, enquanto vamos deixando ruas paras trás,
os vidros do carro abertos, enquanto o vento bate em meu rosto.
Fecho meus olhos, sendo tomada por paz, calma e liberdade,
sentimento que não achei que sentiria, após ver Neto. Caso me perguntassem,
se em algum momento nesse último ano eu imaginei a cena que aconteceu há
pouco, com Neto, eu diria sim, já imaginei várias e várias vezes, tantas que
não seria capaz de contar.
Em principal nos primeiros dias, em que a ficha não tinha caído e a dor
era insuportável.
Sete anos com alguém e depois, sem nenhum aviso, sem nenhuma
pista, essa pessoa te dizer adeus, deixa um vazio sem precedentes, algo que
em um primeiro momento, achamos que não dar para superar. Foi assim que
me senti. Em um dia eu estava noiva, imaginando que um novo ciclo
começaria e no outro, eu não tinha nada. Então vem a confusão, as perguntas
sem respostas e você tem uma certeza, a de que nunca conheceu a pessoa que
estava ao seu lado todo aquele tempo.
Foi umas das situações mais difíceis que já me vi passar, então sim,
nesses momentos eu o imaginei voltando, me pedindo perdão, dizendo que
estava arrependido e que me queria de volta, só a mim. Pior que na época, eu
o perdoaria, eu só queria tapar aquele buraco, sarar aquela dor.
E pensar que hoje, só de pensar nisso sinto asco de mim mesma, da
minha fraqueza ao me agarrar a esse tipo de esperança.
Com o tempo você se levanta, o choro fica mais ameno, a dor se
esvaindo e enfim, conseguimos, pouco a pouco, nos reerguer. Mas agora, o
gosto é bom, é leve, livre e me sinto realmente completa. Encerrei de vez o
assunto Neto e estou muito bem com isso.
Meses antes, após um encontro como esse, eu teria ido para casa, me
enterrado em minha cama e chorado. Hoje choro, mas são lágrimas de alívio,
ao sentir ter mais um ciclo quebrado, encerrando de vez o passado.
O que me incomoda é apenas minha mãe. Eu deveria saber que sua
ligação ontem, sem acusações, cobranças, nada, era um prenúncio de algo
muito errado e aqui está. Me pergunto quando ela me deixará viver minha
vida, quando irá entender que minhas escolhas, em nada irá interferir nas
suas, que não sou um joguete para lhe trazer status.
É isso o que ela quer, sempre quis e em sua cabeça de vento, não há
forma melhor de conseguir isso, se não, me casar com alguém que detém
parte de uma cidade como patrimônio. Só que para mim, isso pouco me
importa.
Estou feliz agora, como estou. Cheia de dívidas, mas feliz.
Sinto o carro ir parando aos poucos e abro meus olhos, procurando me
localizar, buscando Benjamin ao meu lado, que se manteve calado por todo o
caminho desde que saímos.
— Onde estamos, Benjamin?
— Comunidade Santa Marta. Venho aqui sempre que preciso pensar.
— Ele não espera mais nada, saindo do carro em seguida.
Não o sigo de imediato, apenas o observo por alguns segundos, parado
em frente ao carro, com braços cruzados, imponente, olhando o horizonte à
sua frente. Me dou conta então da altura em que estamos, as luzes da cidade
ao longe.
Curiosa, saio do carro, alcançando-o próximo ao morro que nos permite
ver parte da cidade lá embaixo. É perfeito.
— Meu Deus, é lindo...
— Sim, é lindo como você. Queria te mostrar este lugar há alguns dias,
este é meu refúgio particular, achei que seria bom te trazer aqui hoje. — Ele
me olha, mas não me toca, não ainda, e isso me incomoda, tanto que sou eu a
me aproximar, querendo qualquer contato que seja. Pois sei que seu silêncio é
pela cena que presenciou e não sei como começar a falar.
— Ficou calado por todo o caminho. — Quebro o silêncio, querendo
ouvir qualquer coisa que seja, pois acho que não estamos bem.
Suas mãos me trazem para perto, me colocando à sua frente, seus
braços circulando minha cintura, seu rosto afundando em meu pescoço, me
permitindo sentir sua respiração em minha orelha e, só então, solto a
respiração que estava prendendo.
— É, eu sei...
O silêncio volta a reinar e eu recosto a cabeça em seu ombro. Entendo
seu silêncio, a situação há pouco não era nada comum.
— Me diz, Mônica, você está bem? — pergunta, talvez por me ver
chorar, agora livremente e eu me viro para ele.
— Estou sim. Estou me sentindo... livre. — Emocionada, minha voz
chega a tremer ao dizer isso e engulo em seco. — Eu estou livre, Ben. Não
que eu não estivesse antes, mas... era como se eu ainda carregasse um peso
em minhas costas, como se estivesse presa ainda àquele dia. Parecia... enfim,
agora acabou.
Ele sorri, bonito, mas seus olhos não refletem alegria e me preocupo se
isso se deve realmente ao que presenciou há pouco ou se tem algo a ver com
seu pai.
— Seu pai, ele está bem?
— Sim, está sim, não se preocupe. Mas é que... — Se cala, parecendo
procurar palavras. — Mônica, eu... quero agradecer o apoio que me deu todos
esses dias com meu pai, você foi... incrível.
Afrouxo meus braços ao redor do seu pescoço, me afastando um pouco,
sem saber o que esperar do que vem a seguir.
— Não precisa agradecer, Ben.
— Preciso, sim, e sobre o que você disse, lá atrás, de não ser capaz de
se envolver, eu entendo. Se caso não quiser continuar, caso sinta-se...
Busco o que falei lá atrás, me perguntando se ele realmente ouviu
mesmo.
— Benjamin... não entendeu nada, não é?

Sim, eu entendi, tive a exata dimensão de como essa mulher foi


machucada pelo filho da puta do seu ex, de como ele brincou com ela, tendo
a coragem de ainda aparecer aqui, depois de tanto tempo, lhe pedindo perdão.
E eu quis socá-lo, quis afundar aquele nariz e lhe ensinar como tratar uma
mulher, ao menos lhe dar respeito.
Odiei o que vi, sua mão nojenta em cima da minha mulher, implorando
algo que com certeza, ela não lhe deve. Foi um teste para a minha sanidade.
Fui buscá-la hoje porque tinha planos para esta noite e ela estava
demorando a chegar, imaginei que pudesse ter acontecido algo e por isso fui
até a agência, pois precisava muito lhe dizer o que sinto ou iria acabar
explodindo.
Mas depois do que presenciei, temo que suas feridas ainda estejam
abertas, de que não esteja pronta e não quero estragar o que temos. Afinal, na
noite em que me contou ter sido noiva e ter sido deixada, não demonstrou o
quanto isso a feriu, mas há pouco...
Cancelei qualquer plano ao ver seu estado quando saímos do
estacionamento, como chorou no carro, e acabei vindo para cá. Conheço bem
o lugar, venho sempre aqui quando preciso me acalmar, pensar, achei que o
lugar poderia ajudá-la.
— Eu entendi, Mônica. Entendi que não está pronta.
— Pronta? Benjamin, eu acho mesmo que você não me entendeu.
— Mônica, eu vou ser direto com você. Eu estou me envolvendo e
quero muito me envolver ainda mais, mas se você acha que é cedo, que não
dá, que não consegue, não agora... — Não prossigo, seu sorriso grandioso me
cala e seu beijo me impede de continuar por poucos segundos.
— Só me deixa falar. Tá legal? — pede, não, ordena. Adoro esse seu
temperamento. — A verdade é que você não entendeu nada do que eu disse.
Hoje eu fui promovida, sabe? — Não entendo a mudança de assunto, mas
fico surpreso pelo o que diz, feliz por ela, sei que era o que queria. —
Aconteceu o que eu menos esperava e ao menos provisoriamente, serei a
gerente geral da agência, podendo ser permanente, se tudo correr bem.
Acredita? — Sua pergunta é retórica, ela não me deixa responder. Seu sorriso
se acende e me faz sentir algo que até então, só senti por Sophie: orgulho. —
Mas o importante nem é isso, Ben.
— Não? — Estou confuso e suas mãos delicadas tocam meu rosto, um
carinho ao qual me acostumei a ter e não quero, não posso abrir mão.
— Não, porque percebi que em todo o tempo, tudo o que eu quis foi
correr e ir contar tudo para você, comemorar a novidade em seus braços. Isso
me causou medo, porque depois disso, eu não podia mais mentir para mim
mesma que não estava me apaixonando por você. E eu sei, Ben, sei que no
início, fui eu a sugerir a coisa da amizade colorida, mas...
— Eu não quero — corto-a, sem conseguir mais esperar. — Gosto da
cor que você trouxe pra minha vida, gosto de como consegue me influenciar,
sem nenhum esforço, a fazer loucuras como aparecer pelado em sua porta
com um ramo de flor em frente ao meu pau, gosto disso tudo, mas quero
mais.
— Quer?
— Quero. Quero você, Mônica. Não sei no que vai dar, não sei nem se
você quer o mesmo que eu, mas quero um namoro colorido com você. Quero
tentar, quero que seja minha primeira namorada — jogo de uma vez,
imaginando o que pode vir pela frente, ao seu lado.
Ela sorri, tão bonita que me pergunto como pude viver sem seu sorriso,
até então, a quero como nunca quis nenhuma outra. Descobri isso ainda
naquele dia, no hospital, quando voltei do quarto do meu pai e seu abraço me
trouxe uma calma que não sei explicar, fazendo com que eu me sentisse
capaz de enfrentar o mundo. Mônica foi capaz de me fazer amá-la em tão
pouco tempo, que me fez duvidar dos meus sentimentos.
— Estou apaixonado por você, Mônica. Me deixa te fazer feliz, te
ajudar a voar. Seja livre, continue exatamente assim, mas faça isso ao meu
lado.
— Foi você quem me fez sentir de novo, Benjamin, você trouxe cor ao
meu coração. E eu aceito ser sua namorada colorida. Não sei se dará certo,
mas quero muito saber, e quero com você.
Sorrio, era tudo o que eu precisava ouvir.
A resolução

― Hum, tirou o carro do vovô da garagem. Deve ser algo importante.


Olho para ela de relance, sentada de forma despreocupada no banco do
carona, como uma criança pirracenta porque me neguei a dizer para onde
iríamos. Ela não se conformou quando lhe disse que era uma surpresa. Desde
então, não para quieta.
― Nada de mais, de vez em quando preciso esquentar o motor.
― Sei, e não vai mesmo me contar para onde vamos?
― Não, já disse que é surpresa. Deixa de ser curiosa.
Espero aquele biquinho, que ela sempre faz quando é contrariada e ela
não me decepciona. Sorrio.
Meses de namoro e tenho a constatação de que ela me pegou mesmo
pelas bolas. O que me assusta é que a cada dia gosto mais disso, mais dela.
Mônica me ensinou a amá-la. Foi de forma sorrateira, com pequenos gestos,
pequenas palavras e quando dei por mim, eu não podia e não quero fugir.
A surpresa de hoje é prova viva disso.
Estou há dias preparando isso, procurando, cotando, vendo e revendo e
depois de um mês, acho que encontrei o que estava procurando e estou
ansioso para mostrar a ela.
― Vem cá, e se eu fizer greve de sexo, você me conta?
Gargalho, ela não tem jeito.
― Não vai querer fazer greve de sexo depois de ver o que preparei.
― Convencido. Se estiver me levando para um motel...
― Não é um motel.
― Não?
― Não e é só o que vou dizer. ― Mônica até faz um esforço, mas não
consegue ficar brava. ― Relaxa, já estamos chegamos.
― Hum, já estamos chegando, é? ― pergunta, olhando a rua, tentando
achar uma pista. Nunca conheci alguém mais curiosa.
― Já, Mônica, já estamos chegando. ― Toco sua perna, mas ela não
me dá moral, olhando a rua ao seu lado.
Os dias ao seu lado conseguem ser diferentes sempre, com Mônica,
nada, nunca é a mesma coisa. Tenho uma mulher maravilhosa ao meu lado e
com sua ajuda, consegui conhecer realmente o sentido da palavra perdão, de
ter o coração livre de qualquer rancor e parte disso, devo a ela.
Meses atrás, quando meu pai estava doente eu tomei uma decisão.
Decidir ficar e apoiar o homem que meteu o pé e abandou nossa família, anos
atrás, decidi estar presente para saber o que seria dele, se conseguiria passar
por uma doença como aquela.
Não, não é como se eu tivesse esquecido o passado, longe disso. Não
nos tornamos melhores amigos da noite para o dia, tampouco pai e filho, mas
consegui ver que de nada adiantou carregar todo esse ódio por tanto tempo.
Não fiz mal a ninguém ao cultivar esse sentimento, se não a mim mesmo e
isso, era algo que eu não queria mais sentir.
Fiquei ali ao seu lado, cheguei a segurar sua mão em certos momentos
e no final, eu estava lá quando ele não resistiu e partiu. Sua primeira cirurgia
foi um sucesso, achei que ele daria a volta por cima, porém, a doença já tinha
se espalhado pelo fígado, pulmão, pâncreas e ele já não podia lutar.
Sua dor foi ao menos amenizada e, no final, quando me pediu perdão
novamente, pude lhe dar um adeus verdadeiro, um perdão sincero e Mônica
esteve lá esse tempo todo, ao lado, me apoiando.
Afasto os pensamentos e estaciono o carro ao lado da calçada, bem em
frente ao portão preto. Volto meus olhos para Mônica, não quero perder
nenhuma expressão do seu rosto enquanto olha a rua de forma curiosa,
confusa, até.
― O que estamos fazendo aqui? É aquela rua atrás da academia, não é?
― Sim, é sim. Vamos?
Assisto com diversão ela sair do carro e parar na calçada, me olhando
como se eu tivesse duas cabeças ao me ver abrindo o portão pequeno.
― Deu para invadir propriedades agora?
― Não é invasão se eu tiver a chave, é?
― Mas o que... Benjamin, de quem é esta casa?
― Anda, curiosa, confia em e entra. Pertence a um conhecido. ― O
que não é mentira e a contragosto, a cara amarrada obedece, parando ao dar
de cara com a bela casa que se avoluma bem à sua frente.
― Nossa... parece até casa de boneca.
― Não é?
E realmente, parece mesmo. Aparentemente quem a construiu quis
trazer um pouco do conceito americano para a estrutura e assim saiu uma
casinha de boneca. Não exagerada em tamanho, mas perfeita em detalhes, de
tom azul e janelas brancas, com uma pequena garagem lateral e telhado
arqueado.
― Sim, é perfeita.
― Precisa ver lá dentro.
― Nós vamos entrar?
― Claro que vamos, viemos para isso.
Seguro sua mão, guiando-a até a porta de entrada, que já está
destrancada e seus olhos se ampliam ao ver a sala em conceito aberto, com
uma cozinha pronta, em móveis planejados na cor marfim.
― Meu Deus, olha essa cozinha, Benjamin. Um sonho...
― Achei bem versátil e a sala tem um bom tamanho, não é? Uma mesa
de jantar aqui, por exemplo, focaria ótima.
― Sim, claro, é perfeita.
― E ali, tem um banheiro e atrás, é a área de serviço. Quer ver?
― Claro que sim. ― Seu sorriso é quase igual ao de uma criança, me
pergunto se imagina por que a trouxe aqui.
Não nos demoramos em ver o banheiro, lavabo e a área de serviço,
nenhum dos três deixando a desejar.
Agora com a mão em sua cintura, vou até o primeiro quarto, lhe dando
passagem. O cômodo tem o tamanho médio, nem muito grande nem pequeno,
ideal para quem sabe, crianças?
― O outro, ao lado é igual, também mesmo tamanho
― Não acredito que uma casa deste tamanho não tenha suíte.
― Tem sim, é que deixei o melhor por último, por aqui.
Quando vim aqui, semana passada, sozinho, a parte que mais gostei foi
a suíte, pois fica na parte de cima, como um sobrado, que olhando a
propriedade de frente, não dá para ver. É uma escada ao lado do lavabo,
pequena em formato de caracol, que nos dá acesso a ele.
― Uau, no segundo andar, com direito a privacidade?
― Com toda certeza.
Ao chegarmos ao fim da escada, damos de cara com uma porta, a da
suíte. Faço um pequeno suspense ao abrir a porta, ganhando um tapa em meu
ombro e deixando enfim que passe. Acendo a luz e posso ver que estar
vidrada em cada detalhe do quarto, parece ter me deixado em segundo plano.
Apenas a observo rodopiar pelo cômodo, correndo até o banheiro e depois,
indo para o closet.
― Meu Deus, que perfeição ― fala, ao sair do closet, me encontrando
ainda próximo à porta. Algo me denuncia, pois seu sorriso se desfaz e sua
expressão passa de feliz a confusa. ― Benjamin, por que estamos aqui? Vai
se mudar?
― Então, tem um tempo que eu penso em fazer isso, de preferência
para uma casa onde Gamora tenha bastante espaço.
― Sei, então esta casa...
― É uma opção.
― Não pensou em me falar isso antes?
― Estou falando agora, não a comprei ainda, para isso dependo de
você.
― De mim? ― Uma risadinha sarcástica é o suficiente, estou me
enrolando aqui.
― Sim, de você. ― Me aproximo, mas ela não parece muito disposta a
me tocar. ― Sempre disse a mim mesmo de que um dia, minha cachorra
seria o motivo pelo qual eu acabaria comprando uma casa, mas agora, não é
só ela que me motiva, morena.
― Não? ― Sua resistência cede, talvez entendendo aonde quero chegar
e toco sua cintura com ambas as mãos, buscando seu olhar.
― Não, eu não precisaria de uma casa tão grande morando sozinho,
não é? Agora, se a minha vizinha, a gostosa do 204 topasse morar comigo...
me daria um motivo perfeito para fechar negócio e me mudar para esta casa.
― Ben, você está fazendo o que acho que está?
― Te chamando pra morar comigo? ― Ela anui e começo a ficar
nervoso. ― Claro que sim. Aceita?
Enxergo a dúvida em seu olhar, é fácil, ela é transparente e começo a
imaginar que posso ter ido depressa demais.
― Benjamin, isso, isso, não é só assim, nós...
― Calma, morena, não é casamento, não ainda, veja como um convite.
Não mudaria muita coisa, só o endereço, já que temos praticamente morado
juntos nos últimos meses. Estamos sempre juntos quando dá, fora que,
dormimos na mesma cama todas as noites, a única coisa que faríamos
diferente, seria dar nomes aos bois.
― Espera, lá em cima, você disse: não ainda?
Sorrio, um dia irei levar essa mulher ao altar, só que antes, irei minar
qualquer falta de confiança que seu relacionamento passado lhe deixou.
― Claro, um dia vou querer oficializar as coisas, certo?
― Meu Deus, Benjamin. ― Ela se afasta, a mão na boca, olhando o
quarto novamente.
― Só depende de você, diga sim e fecho o negócio. ― Dou de ombros,
com medo de ter me precipitado, colocado a carroça na frente dos bois.
Ela me olha e não consigo saber o que pensa, já não tão transparente
como estava há minutos antes, até que, um sorriso imenso toma conta de seus
lábios.
― Eu iria amar dividir esta casa com você, eu amo você, sabia?
Isso era tudo o que eu precisava ouvir.
Um conto de fadas, ou quase isso, é como venho me sentindo, bem
estilo gata borralheira.
Meu mantra realmente funcionou, as coisas estão mesmo dando certo,
tanto na vida pessoal quanto na profissional e em nada posso reclamar.
Continuo como gerente, agora de forma permanente, e já consegui quitar,
praticamente, todas as minhas dívidas. Além do mais, realmente mantenho
uma dieta saudável, regada a exercícios físicos, com a ajuda dele, é claro.
Obviamente que sorvete é permitido, mas apenas como recheio para
seu pau.
E não vamos esquecer, também encontrei um novo amor, foi o que
restou da tal amizade colorida. Nem acredito que estou mesmo indo morar
com esse homem. Ainda parece mentira ou loucura, podem escolher. Sorrio,
fechando a última caixa com utensílios da cozinha.
― Amor, o que é isso? ― Levanto meu rosto e fico sem fôlego ao ver
Benjamin com meu pequeno vibrador em mãos. ― É o que eu tô pensando?
― Se está pensando em um vibrador, então sim, é. ― Finjo não dar
importância, mas sinto o meu rosto queimar, junto a tesão, apenas por vê-lo
segurar o pequeno objeto.
Estamos em meu apartamento, arrumando minhas coisas, já
começamos, inclusive, a levar algumas caixas para a casa nova. Na verdade,
segundo o ranzinza ali, estamos atrasados em fazer isso, pois ele já entregou
até seu apartamento, enquanto eu, protelei por quase um mês, ainda em
dúvida se era o certo a se fazer, se não estávamos indo depressa demais.
― E pode me dizer o porquê de nunca termos usado ele? ― pergunta,
se aproximando com aquele olhar de lobo, que eu adoro.
Dou um passo atrás, porque se começarmos, não vamos querer parar.
― Nem vem, não é hora para isso, Benjamin.
― Nunca tem hora certa pra isso, Mônica, é quando der vontade e
agora me deu muita vontade de usar isso em você.
Rio, nervosa, sem me conter até que, alguém bate à porta, nos
obrigando a parar o que estávamos prestes a fazer. Salva pelo gongo, ou
não...
― Estava esperando alguém? ― pergunta, parecendo chateado ao ser
interrompido.
― Não, e você?
― Também não. Talvez seja o carregador.
Vou até a porta, abrindo-a sem esperar uma segunda batida. Acreditem,
me arrependo amargamente de não ter conferido pelo olho mágico quem
estava batendo, ao dar de cara com minha mãe, impecável, me olhando de
cima do seu pedestal.
― Mãe? ― O que ela faz aqui?
Não, não, não, hoje não. Estava indo tão bem...
― Olá, Mônica Maria. Posso entrar?
Não respondo, simplesmente estou perplexa demais com sua presença
para articular qualquer coisa. De qualquer forma, ela não precisa de
permissão, pois antes mesmo que eu possa sair do meu estado de paralisia,
minha mãe já está entrando em meu apartamento.
― Acho que é isso o que uma mãe tem que fazer para ver a filha, não
é? ― pergunta, seu olhar vagando pelas caixas espalhadas no chão, parando
em Benjamin, sem camisa, encostado no balcão. ― E quem é esse? ― E em
cima do seu salto quinze, ela destoa em meio ao apartamento bagunçado,
olhando Benjamin como se ele fosse um mosquitinho, seu desgosto estando
estampado em seu rosto. Eu deveria imaginar que seria assim, pois a essa
altura, Neto já contou a ela sobre a visita que me fez e sobre Benjamin. ―
Ah, não precisa responder, só nos dê licença rapaz, preciso conversar com
minha filha.
― Mãe... ― Eu diria não, que ele não precisa sair, mas sendo sincera,
não quero ele aqui, quando essa conversa começar. ― Benjamin, pode...
― Claro, já estava indo pegar umas caixas vazias com Dialindo ― fala,
enquanto veste a camisa, parando ao passar por ela, lhe devolvendo o mesmo
olhar que reservou a ele. ― É um prazer, senhora, a propósito, sou Benjamin,
namorado da sua filha e, por favor, fique à vontade. ― Ele nunca a viu antes,
mas parece saber lidar com minha mãe. ― Já volto, morena.
Apenas confirmo, ganhando um beijo leve, vendo-o sair. Eu fugi muito
dessa conversa, tanto que nem poderia contar, mas parece não ter adiantado
muito.
― Olha o que faz comigo. Tive que viajar por três horas para poder
falar com você e ainda te encontro nesse estado lamentável. O que que está
fazendo com você, Mônica?
― Nada de mais, apenas me mudando, mãe.
― E vai para onde, outra cidade?
― Claro que não, consegui há poucos meses a gerência geral da minha
agência, nem passa por minha cabeça me mudar de cidade tão cedo, estou só
mudando de apartamento.
― Com aquilo?
― Não, porque ele não é aquilo, mãe. Ele tem nome e é Benjamin. É
bom ir se acostumando, porque sim, eu vou morar com ele. Ah, e, mãe, eu
estou bem, obrigada por perguntar. ― E não nego, gosto da sua cara de
surpresa ao saber das novidades.
― Está brincando comigo?
― Não. Por que estaria?
― Você é minha...
― Sim, sua decepção, eu sei, eu sei e sinceramente? Não me importa
mais, mãe. Troca o disco e vamos direto ao assunto, o que veio fazer aqui?
― Colocar juízo na sua cabeça, pelo visto. Morar com esse homem?
Assim, sem casar? Há quando tempo estão juntos? Quem realmente ele é?
― Fazem muito isso no século 21, mãe, é bom se acostumar ― falo e
continuo arrumando minhas coisas, agora guardando os porta-retratos sobre o
aparador, sem deixar que o que diz, tenha efeito sobre mim. ― Olha, mãe, eu
não quero discutir com a senhora, tá legal? Agradeço sua visita, mas não
estou interessada em sermões, já está na hora de me aceitar como sou. Se não
pode fazer isso, me amar sem tantas expectativas, acho melhor a senhora ir.
― Está me expulsando?
― Não, não estou, mas cansei. Em todos esses anos que a ouvi, foi
sempre a mesma coisa. Eu quero uma coisa, a senhora não concorda, briga,
diz o quanto sou decepcionante, faz com que me sinta mal comigo mesma,
com minhas escolhas e eu acabo cedendo e fazendo exatamente o que quer.
― Porque sei o que é melhor pra você.
― Não, não sabe e essas suas artimanhas não vão funcionar. Eu
realmente sinto que cresci, mãe, cortei as teias que me ligavam à senhora,
deixei de me importar. Então isso ― gesticulo entre nós duas ― não vai
rolar.
― O que quer dizer?
― Que estou cortando o cordão umbilical. Apenas isso. Chega, está na
hora de a senhora entender que não pode viver a minha vida, fazer minhas
escolhas por mim, que não nasci para suprir suas expectativas. Se quiser
ficar, conversar como pessoas normais, ótimo, ficarei feliz em lhe contar tudo
o que vem acontecendo nos últimos meses, em construir com a senhora uma
nova relação, mas se quer brigar, fazer drama e tentar me arrastar de volta
para sua cidade, esquece. Não vai rolar. Estou feliz aqui, muito feliz, para ser
sincera.
Talvez eu esteja sendo dura, eu sei... Não, eu não estou, está na hora de
realmente crescer.
― Isso é injusto, Mônica. Eu só quero o seu bem, sou sua mãe.
― Em partes, sim, mas também, essa é a desculpa que a senhora dá a si
mesma, de que quer o meu bem, mas o que a senhora realmente quer, é se
realizar em cima de mim, quer que eu realize os seus sonhos. Fique
orgulhosa, mamãe, sou agora gerente geral de um nível quatro agora, voltei
para a faculdade, que estou quase terminando agora e, encontrei o amor. Isso
deveria lhe bastar.
― Amor, só amor não basta.
Sorrio, me aproximando dela e tocando suas mãos.
― Mãe, sei que de alguma forma deturpada, acredita que realmente faz
isso pelo meu bem, eu entendo e eu só queria que tentasse me entender
também, me conhecer como realmente sou. O cara que saiu daqui há pouco,
ele se importa comigo, acho que até me ama e sabe quanto tempo demorou
para que eu aceitasse esse sentimento? ― Ela não responde, apenas me olha.
― Bastante, mas eu consegui, fique feliz por mim ao menos uma vez, mãe.
― Ah, Mônica.
― Sei que queria que eu estivesse morando no mesmo lugar, embaixo
de suas asas, que eu tivesse voltado para Neto, mas não é o que quero, não é
o que farei.
― Você é como seu pai, sempre se satisfaz com tão pouco.
― Não, mãe, a senhora que sempre quer demais. Se suas expectativas
para os outros não fossem sempre tão altas, se decepcionaria menos e seria
mais feliz. E sim, eu estou indo morar com Benjamin, porque o amo, e às
vezes, só às vezes o amor basta.
Vejo-a engolir em seco, pela primeira vez sem saber o que dizer, seus
olhos marejando conforme tenta controlar o que acho ser o choro.
― Ah, Mônica. ― Mamãe me puxa para seu abraço, o primeiro depois
de muito, muito tempo e me permito aproveitá-lo. ― Eu só quero que seja
feliz e tenho certeza que do seu jeito...
― Shiu... mãe ― interrompo-a. ― Não precisa achar, só torça por mim
e esteja lá, caso eu quebre a cara, sem julgamentos, apenas com um abraço
quente.
― Isso é tão difícil para uma mãe, sabia?
Não, eu não sei, mas não deveria ser. Os pais podem ir até certo ponto,
mas a partir dali, são os filhos que devem seguir adiante.
Sinto um perfume conhecido e nem mesmo preciso me virar para saber
que ele está de volta.
― Interrompo?
Meus olhos estão lacrimejando e os limpo, antes de me virar para ele.
― Não, entra. Conseguiu as caixas?
― Algumas, sim ― fala, seus olhos estando em minha mãe, parecendo
querer entender o que está acontecendo. ― A equipe para a mudança está lá
embaixo, já chegaram.
― Que ótimo. ― Bato palmas, fungando, tentando não chorar. ― Se
tivesse me ligado, mamãe, teria pedido para vir em um dia mais ameno, seria
melhor.
― Tudo bem, vim com seu pai, ele viria de qualquer jeito, aproveitei a
ocasião. ― Isso porque há pouco veio só me ver. ― Podemos jantar esta
noite, o que acha? Voltaremos amanhã e seu pai quer muito te ver.
― Claro que sim, tinha planos de tentar arrumar tudo isso, mas as
caixas podem esperar. ― Fui eu que pedi uma trégua, não foi? Então, vamos
tentar.
― Você também está convidado, rapaz, quer dizer, Benjamin.
― Obrigado, mas acabaria me autoconvidando de qualquer forma,
estava mesmo curioso para conhecer os pais de Mônica. ― Suas mãos
serpenteiam minha cintura, me colando em seu peito, perto, muito perto.
― Claro que estava. Estamos combinados, então, vamos nos falando,
Mônica.
― Por mim ótimo, mãe. Obrigada por vir.
― Até mais tarde.
Sua máscara está de novo em seu rosto, enquanto passa por nós em
direção à porta, altiva, sem demonstrar que se deixou abalar, minutos antes.
Nem eu consigo imaginar que vi lágrimas em seus olhos.
― E então, como foi? ― E nessa hora eu só quero o seu abraço e me
enterro em seu peito.
― Foi esclarecedor. Acho que ela finalmente entendeu.
― Sério? Isso é bom. Mas acho que ela não foi com minha cara.
― Ela não vai com a cara de ninguém, Ben, não é com você. Ao menos
ela não te chamou mais de rapaz.
Rimos os dois, como bobos. Essa era uma conversa que eu deveria ter
tido há muito tempo, mas acabei confundindo respeito com submissão.
Quando sai às pressas da minha cidade, eu também fugia dela.
― Mas isso não importa, posso escolher quem amar.
― Hum... e quem seria esse sortudo?
― Ninguém demais, só o meu vizinho do 202. Cara gostoso...
― Sério?
― Uhum... uma delícia.
E seu sorriso vai morrendo aos poucos à medida que me olha de forma
profunda, amorosa, cuidadosa.
― Eu te amo, sabia? Amo demais.
― Eu também, meu namorado colorido. ― É exatamente aqui, em
seus braços que eu quero estar.
Agora vai

— Encolhe essa barriga aí, postura, que ele vai fechar.


Tento fazer o que diz, me sentindo pouco feliz neste momento, quando
o vestido está parecendo apertado.
— Tá bom, só não pega o coro das minhas costas com o zíper.
Bella, gargalha, enquanto André está sentando em minha antiga cama, à
nossa frente, tomando champanhe com muita classe.
— Gente do céu, um segundo casamento e tu não aprendeu que não
pode se acabar no doce às vésperas do grande dia, criatura? Eu, hein.
— Não começa, eu estava ansiosa, tá legal. Ainda mais com todos os
imprevistos que tivemos. É difícil organizar uma festa de última hora, sabia?
E é verdade, agora mesmo, aqui em pé, estou morrendo de ansiedade e
apreensão, querendo atacar os docinhos que estão em cima do aparador, mas
se fizer isso, certeza que meu vestido vai explodir.
— Pode a até ter sido de última hora, mas, bicha, tá muito melhor que a
outra.
— Tirando um detalhe — Bella se faz ouvir. — Desta vez, Mon não
deve o cu ao banco em empréstimos.
Sorrimos, isso também é verdade. Mas tem outra diferença, não estou
usando o espartilho que, na outra ocasião, me apertava até minhas tripas.
Mas chega, não é? Esse não é o dia de pensar no passado, é o dia de
escrever o futuro.
— Gente... que diferença de homem, isso sim. Meu Deus do céu. Que
sorte, bicha. Tomara que tenha restado outros exemplares pra que eu possa
fisgar um.
— Você não existe. — Rio, hoje eu realmente estou rindo para as
paredes. — Mas agora, agiliza aí que eu tô atrasada.
— Relaxa, noivas sempre se atrasam. — André parece já estar alto,
muito pouco preocupado, já eu... vou ter um piripaque a qualquer momento.
— Mas não quero me atrasar muito, é falta de educação fazer os
convidados esperarem demais, sabia?
— E pronto. Subiu, meu Deus, Mônica, você tá linda, amiga.
Dou uma voltinha em frente ao espelho do meu antigo quarto, na casa
dos meus pais, revivendo um dia tão igual e tão diferente ao mesmo tempo.
Outro ano, outro homem, outro amor e outro vestido. Esse último mais
simples, mais leve e com uma corzinha.
Continua sendo branco, claro, mas traz algumas pedrinhas rosinhas,
sobre o bordado da renda fina, soltinha. Sem muitos babados, e com um
decote em V, que o deixa até ousado. Esse foi o máximo que consegui em
uma festa de última hora.
Primeiro optei por algo simples, rápido, só ir ao cartório e pronto,
estaríamos casados, mas depois... Benjamin me convenceu e me
proporcionou o casamento dos sonhos.
Eu não sei narrar como foi nossa estrada até aqui. Tivemos erros, mais
também, muitos acertos, acertos que me fizeram amá-lo cada dia mais e
esquecer de vez o passado, querendo apenas um futuro ao seu lado.
Benjamin é o homem dos meus sonhos.
— Ah, para, né? Não me borra essa maquiagem abrindo essa torneira
no dia do teu casamento, criatura, não vou ser madrinha de noiva borrada. Se
controla. — Sim, André é também minha madrinha de casamento e minha
mãe quase enfarta com a novidade.
Uma batida na porta chama a atenção de nós três e não demora para um
Benjamin adentrar o quarto, sem esperar permissão, criando um pequeno
alvoroço. Sua presença faz Bella e André ficarem à minha frente, como uma
parede humana para que ele não veja meu vestido. O que ele quer aqui?
— Morena, podemos conversar?
Paraliso, vendo-o todo trajado em um fraque preto, camisa branca e
gravata borboleta preta. Tão lindo... meu coração retumba no peito, meus
olhos ardem e de repente, é como ter um déjà vu.
— Isso não é hora, né, querido? — André começa e busco seus olhos
por cima do ombro de Isabella. — Ela já vai descer, volta pro altar que é o
teu lugar
— É rápido, prometo, por favor, amor — pede, seus olhos presos nos
meus.
— Tudo bem, Bella e Dé. Podem ir.
— Mas ele vai ver o vestido, dá azar, gente.
— A essa altura não sei se a sorte pode ajudar. — Meus amigos
entendem o que quero dizer e fulminam meu noivo com o olhar e antes que
André diga algo, eu interponho. — Podem ir, confiem em mim, vou ficar
bem.
Ambos hesitam, mas acabam cedendo em nos deixar sozinhos. Estou a
ponto de desmaiar, o medo me preenche, medo de que tudo se repita e, por
segundos, nada é dito, apenas nos olhamos. Fico aqui estática, enquanto
Benjamin tapa a boca com a mão, olhos brilhando de expectativa, voltados
para mim.
— Pode falar, Benjamin.
— Você está... meu Deus. Eu...
— Benjamin... não me diz que...
E parece que a realidade chega também para ele, do que essa cena me
lembra e seus olhos parecem que irão pular para fora.
— Não, não. Nada disso, meu Deus, eu poderia passar o resto da tarde
e noite aqui te olhando. — Não, não poderia porque estou a ponto de colocá-
lo daqui para fora. Aparentemente meu olhar não parece tão assassino assim,
já que ele se aproxima, suas mãos tomando meu rosto, seu nariz a roçar o
meu. Começo a relaxar. Ninguém acaba um casamento com tanto carinho
assim, não é? — Eu te amo e você não vai se livrar de mim, se é isso o está
pensando. Vamos começar hoje nossa vida a dois. Esqueceu?
— Então, o que faz aqui?
— Não aguentei esperar no altar, estava surtando. Esta gravata parece
estar me sufocando, a espera estava me deixando louco e aquelas pessoas me
olhando daquele jeito... simplesmente não deu para esperar lá fora. — Sorrio,
tadinho, ele está nervoso? — Pra completar, escolhi os piores padrinhos da
história do mundo. Bruno e Sophie estavam me deixando ainda mais louco e
ansioso. Aqueles dois não são bons padrinhos, deixo isso bem claro. E eu vim
logo te ver, porque fiquei com medo de enfartar, se continuasse lá no altar e,
acredite, eu precisava te ver assim.
— Tá de brincadeira, né?
— Não, eu pareço estar brincando?
Não, não parece. Ele sua em bicas, gotículas escorrendo por suas
têmporas.
— Benjamin.
— Não me repreenda, só quis dar um beijo em minha noiva. Faz uma
semana que veio pra cá e que não te vejo, estava morrendo de saudade e
muito, muito nervoso. — Ele me beija, rapidinho como para matar a saudade.
— Eu disse para fazermos algo pequeno.
— É, e eu insisti em algo grande, porque sei que sempre quis isso.
Sendo assim, tenho direito.
— Eu não tô acreditando nisso.
— Acredite e te amo, me lembre de não passar mais uma semana longe
de você, meu pau reclamou bastante. — Gargalho, que romântico.
— Eu também te amo, e guarde esse pau para a noite de núpcias. Agora
dá para descer?
— Sim, agora eu consigo. — Mas ele não sai, continua aqui, me
olhando de forma apaixonada. — Eu vou te fazer feliz, Mônica, a mulher
mais feliz do mundo, porque é assim que me sinto.
— Eu sei e vai me fazer chorar se continuar aqui, me falando essas
coisas.
— Certo, estou indo então e não demora.
— Bobo. Agora vai.
Ele se vai, não antes de me beijar e no segundo em que ele sai, dois
furacões entram no quarto.
— O que ele queria? Conta logo, garota.
Eu sorrio como boba, completamente apaixonada.
— Me prometer que me faria feliz...

Respiro fundo, estando em pé no jardim da casa dos meus pais, frente


ao tapete branco, estendido entre as cadeiras bem ornamentadas, ocupada
com meus convidados. Fecho meus olhos, tentando tomar coragem para ir de
encontro ao amor da minha vida, me esperando no altar.
Solto o ar, seguro firme o buquê em minha mão, enquanto com a outra,
procuro apoio no braço do meu pai, que beija minha mão e chama minha
atenção.
— Você está linda e estou feliz por sua escolha. Vocês têm minha
benção, escolheu um bom homem, filha.
— Escolhi, não é?
— Sim, escolheu.
Olho para o homem em questão, olhando e esperando por mim. Sorrio
e não seguro mais a lágrima que me escapa, sentindo borboletas no estômago,
me sentindo realmente feliz. Balanço a cabeça, dando sinal para que o
adestrador solte Gamora, que é nossa daminha de honra, a coisa mais linda.
Meu choro piora quando, ao olhar para Benjamin, ele também chora,
olhando para cima, tentando se controlar. Deus do céu.
No fim das contas, o casamento não era o meu maior sonho, não, o meu
maior sonho é ser verdadeiramente amada, respeitada, honrada, adorada,
assim como me sinto agora. O gosto não poderia ser melhor.

E como eu sempre digo, caro leitor... Ah, o amor.

Fim?
Não, este não é o fim. Nossos personagens
continuarão vivos, em seu coração.
Bom, se eu for listar, daria bem mais que um livro de agradecimentos,
pois Deus foi e é generoso demasiadamente comigo ao colocar anjos em
forma de pessoas em minha vida.
Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre comigo nessa
caminhada, nada sou sem sua força.
Também à minha família e amigos, meu muito obrigada. Vocês são o
meu suporte, meu amor maior e mãezinha, aqui vai um agradecimento todo
especial para a senhora, minha maior fã, gente. Eu te amo, luz da minha vida.
Amo muito e sou o ser mais grato por ter uma pessoa iluminada como a
senhora em minha vida. Se eu pudesse ter escolhido, não teria o feito tão
bem, a senhora é o meu maior presente.
Aos meus leitores, o meu muito obrigada. Eu não tenho palavras para
agradecer o carinho e o amor que me dão sempre, em doses homeopáticas.
Amo vocês. Por embarcarem comigo em cada loucura, e me impulsionar
sempre a ir além. Vocês fazem toda a diferença.
Seguindo... às minhas amigas autoras, meus anjos, obrigada. Durante a
escrita, deste livro tive imprevistos que me fizeram duvidar se conseguiria
mesmo terminá-lo e lá estava Lucy Foster para me empurrar junto à Jack A.
F, vocês são demais, amo vocês. Ainda assim, o que seria de mim sem uma
revisora para embarcar nesta loucura de última hora? Barbara Pinheiro, você
tem o meu amor e gratidão. Obrigada por me aguentar.
Agradeço também à Tali e Bia, vocês são meus xuxus mais lindos,
aquelas que aguentam meus surtos, e olha que não são poucos.
Sempre digo que a caminhada até aqui é árdua, porém, me sinto
blindada com vocês, são meus anjos amados.
Obrigada a todos novamente e a você, que chegou aqui agora e está
conhecendo a Gisa pela primeira vez, tenha o meu muito obrigada.
Esta sou eu, uma apaixonada muito louca pela escrita, pela vida e
encantada com novos mundos. Obrigada por sua leitura e espero muito que
gostem desta história.
Acho que é isso. Serei eternamente grata e até a próxima!
Conheça também o primeiro livro da Série Amores Reconstruídos:

Uma Escolha Perfeita (Adquira aqui)


Sinopse:
Desejos, segredos e mentiras…
Um médico orgulhoso que não acredita no amor. Deixando as marcas
do passado entrarem em sua alma, Augusto se vê desistindo de amar,
expurgando qualquer lembrança dolorosa deixada por ela.
Já Cristine, uma mãe solteira que esconde segredos perigosos, decide
seguir em frente a todo custo, tentando sempre não olhar para trás, cuidar de
sua filha e manter uma única regra em mente: não se envolver.
Os destinos dos dois se cruzam, bagunçando suas vidas. E nesse
impasse, Cristine quer só uma noite de prazer, se sentir mulher uma única
vez, e Augusto é um meio delicioso para esse fim.
Ambos não contavam que o desejo iria evoluir e tomar conta deles,
nem que uma menininha de olhos doces tocaria o coração duro de um ogro
buscando redenção.
Neste jogo de amor e mentiras, eles irão descobrir que o passado nunca
se mantém onde deveria ficar, ele pode assombrar o futuro e apagar o
presente, condenando o amor mais puro.

Capítulo 1
A vida é feita de escolhas, porém, elas cobram um preço. E não importa
qual é a sua opção. Mais cedo ou mais tarde, a vida cobrará a conta...
— Eu não tenho nada contra, Silvy, só acho que não consigo. Olhe bem
para mim — falo para Silvy, minha tia postiça, como ela mesma faz questão
de lembrar.
— Não seja boba, Cristine. Só preciso lhe passar algumas dicas, e essa
sua cara de virgem fará o resto. O serviço é fácil, sem falar que ele irá te
pagar uma nota preta para tirar a sua virgindade, e você precisa de dinheiro.
— Silvy! — repreendo-a, sentindo a bile subir a garganta.
— Abra os olhos, Cris! Se olhe no espelho! Você possui uma beleza
exótica e tem que se aproveitar disso.
— Eu ainda não sei...
E não sabia mesmo. Eu era apenas uma menina magricela de cabelos
claros sem graça e rosto quadrado, sem nenhum atrativo a não ser os olhos.
— Pelo amor de Deus! Eu garanto que Maurício é um homem rico,
lindo e cheiroso. E ele me prometeu que será gentil com você.
Bufo com a fala, como se isso importasse no fim das contas e ela
continua:
― Eu sinto muito por isso Cris, sinto muito mesmo. Meu coração está
apertado aqui, menina, mas essa é a saída mais rápida.
Apenas aceno, sabendo que ela tem razão...
Estamos no quarto de Silvy conversando, pois, depois de muito relutar,
estou prestes a aceitar a coisa mais absurda que já cogitei fazer em minha
vida.
— Eu sempre imaginei que seria diferente, sabe? ― falo, como se
estivesse desabafando comigo mesma, sentindo que estou perdendo algo
especial. ― Achei que seria com alguém que eu realmente amasse. Um
namorado, algo assim!
— Ah, meu bem! Estes sonhos e quem você é neste momento não
podem mais coexistir. Isso não faz mais parte de você. A vida te derrubou
cedo demais, meu amor, e quando isto acontece, a gente não pode mais
sonhar. Agora é a vida real, Cristine.
Sinto meus olhos encherem de lágrimas.
— Meu Deus! Há alguns dias, eu era só uma garota que tinha passado
no vestibular de Medicina... ― Levanto-me, sentindo o desespero de dias
atrás tomar posse de mim outra vez.
— Você tá precisando de dinheiro, ou não? — Ela parece enfim se
cansar de me convencer a achar uma saída.
— Sabe que preciso disso mais do que qualquer coisa no mundo...
— Sendo assim, meu bem, posso te garantir que não conseguirá isso,
trabalhando meio período na biblioteca! A não ser que você tenha um plano
para assaltar um banco ou pretenda ganhar na Megasena, essa é a melhor
saída. Se depois não quiser mais, tudo bem, é só parar. ― Seus olhos estão
em mim, apreensivos e pesarosos.
Respiro fundo, tentando aceitar o que estou prestes a dizer:
— Tudo bem, irei fazer!
Silvy arregala os olhos, estalando a língua em concordância.
— Ótimo! Não precisa se preocupar com nada, ele irá saber exatamente
o que fazer. Você só precisa relaxar. Se você quiser desistir na hora, lembre-
se de Cate!
— Certo — falo, sem muita certeza, sentindo-me vazia.
— Agora temos que encontrar um nome de trabalho para você.
Acredite: ter um nome de trabalho, ajuda muito! — fala e olha para cima,
parecendo pensar em algo, e depois me fita.
— Melhora essa cara, garota. Sexo não é ruim! Ainda mais quando se
recebe um cheque gordo no final. E o seu, meu bem, será obeso! Acredite em
mim.
É ridículo, eu sei. Mas que escolha eu tenho? Acredite, nenhuma.
— Agatha?! — falo, rápido.
— Como é? — Ela me olha sem entender.
Silvy já é uma senhora na casa dos 50 anos, baixa e de cabelos
vermelhos escuros — pintados, é claro. Eu a considero uma segunda mãe,
pois a conheço e convivi com ela desde que nasci. Apesar da idade, ela
aparenta ser mais jovem por ser vaidosa e sempre andar bem arrumada. Uma
boa pessoa, apesar dos pesares.
— O nome, quero Agatha ― falo de novo e, dessa vez, com mais
certeza.
— Certo! É você quem decide. Maurício virá te pegar as oito e faz
questão de passar a noite toda com você. Fique tranquila, isso não é um bicho
de sete cabeças, menina. ― Ela afaga meus cabelos e sorrir, gentil. ― Ele
fará praticamente tudo e dirá o que quer de você. Vai gostar dele, tenho
certeza!
Dou um suspiro cansado, não querendo acreditar nisso e com medo de
estar cometendo um erro.
— Silvy, e se eu não conseguir? O que farei?
— Vai conseguir. Acredite em si mesma!
Respiro fundo, tentando ter a mesma fé, que ela aparenta ter em mim.
— Certo...
Não estava certa do que estava prestes a fazer, mas não me julguem por
favor. Preciso muito da grana e se esse é o preço, eu pago. Preciso fazer
escolhas a partir de agora, e elas não são nada ortodoxas, mas é preciso.
Depois dessa conversa, Silvy me ajudou a me arrumar e às 19:50h,
estou pronta — e muito nervosa por sinal. Sentia minhas pernas tremerem e
duvidava que elas me obedeceriam quando fosse a hora.
Tentei pensar que isso seria passageiro e que logo me livraria de toda
aquela droga. Claro que eu ainda não sabia o que a vida me reservava, mas,
posso lhe adiantar que não foi bem o que planejei. Eu achava que a maior
desgraça da minha vida já havia passado. Doce ilusão, o meu tormento estava
apenas começando!

O segundo livro da Série Amores Reconstruídos

UMA CHANCE PERFEITA (Adquira aqui)

Sinopse
Alice foi uma jovem doce, desinibida e de bem com a vida, que
gradativamente se viu cair de amores pelo primo boa pinta. Ela o via como
um herói, de forma romântica, apaixonada. Já ele a via apenas como a caçula
da família Ribeiro, a prima maluquinha que ele vivia tirando de encrencas!
Um desentendimento!
Bastou isso para criar uma rachadura extensa no relacionamento e na
amizade de ambos. Dois caminhos separados por desentendimentos e culpas.
Anos depois, Alice está de volta, só que mais mulher, dona de si, trazendo
também marcas profundas na alma e no corpo.
Pedro faz o tipo sensato, protetor, centrado em sua carreira e
apaixonado pelo campo, aquele cara famoso por não deixar suas emoções
tomarem conta de si. Ou assim ele imaginava, pois ao vê-la todo esse
controle se vai. E Pedro queria que não tivesse tantos sentimentos guardados
por aquela mulher, indo do amor ao ódio, mas, ainda assim, querendo fazê-la
sua. Há apenas um impedimento: a própria Alice.
Uma mentira foi contada, um falso noivado é montado e pode
desencadear sentimentos há muito guardados, trazendo segredos que podem
vir à tona e soterrar qualquer resquício de amor!
"Ela não está disposta a ceder, ele não está disposto a desistir...

Outras obras do autor:

CAPITU (Adquira aqui)


Sinopse
ROMANCE PARA MAIORES DE 18 ANOS. PODE CONTER
GATILHOS, LEMBRANDO QUE ESTE NÃO É O INTUITO DO LIVRO!
Uma mente confusa, no corpo de uma jovem mulher de feições gentis e
sorriso doce, que esconde em seu íntimo uma dor profunda. Romântica,
Capitu procura um amor igual ao das páginas dos romances que devora, mas
falha em sua busca.
Abandonada em um momento difícil e infeliz, ela não vê mais solução
para sua vida e toma uma atitude drástica que mudará seu destino para
sempre.
Tiberius é um homem de várias facetas, um leitor de romances
inveterado, que tem a vida bem arquitetada e minuciosamente planejada.
Médico dedicado, vai precisar pôr todo o seu conhecimento à prova para
ajudar Capitu, a mulher que serpenteava seus sonhos, morava em seus
pensamentos.
Dois caminhos diferentes, que se cruzam por acaso. Duas almas
quebradas, mas que juntas encontram um no outro a sua redenção...

LUZ DA MINHA VIDA - UM MILAGRE DE NATAL. (Adquira


aqui)
Série, família Dangelo. Livro 1
Sinopse:
Como aceitar que acabou e que você irá perder o amor da sua vida?
Como lidar com a dor e a culpa que parecem corroer sua alma por dentro?
Dean ainda não aceitou e não sabe lidar com tantos sentimentos e com
a impotência, ele não é capaz de aceitar.
O homem com a vida perfeita, toda planejada, se vê perdendo tudo que
lhe é mais caro em uma fração de segundos preciosos, assistindo a seu mundo
desmoronar, ruir à sua volta e apenas uma pequena criatura é capaz de lhe
trazer paz. Sua Cecília, a menina de 4 anos que passou a ser a luz do seu
mundo, mas nem mesmo a doce criança é capaz de aplacar todo aquele
sentimento preso em seu peito, apesar de ser o motivo do homem continuar a
lutar.
"A culpa é sua..."
Era? Ele acreditava que sim, se culpava dia após dia, só resta saber se
há esperanças para um homem quebrado!

CONSEQUÊNCIAS DE UMA NOITE (Adquira aqui)


Série, família Dangelo. Livro 2
Sinopse:
Uma noite de prazer, uma mulher mascarada e um homem apaixonado.
Nicolas, o caçula da família Dangelo, não está procurando um
relacionamento, mas uma noite inesquecível de prazer acaba mudando isso.
Uma mulher misteriosa desperta-lhe sentimentos incontroláveis e, como
mágica, desaparece. Por meses, ele a procura, querendo ter mais um pouco
daquilo que experimentaram juntos. O que ele não espera é que o amor esteja
tão perto dele e que aquela noite trará consequências irreversíveis, das quais
ele não pode fugir.

UM CEO DE PRESENTE (Adquira aqui)


Sinopse:
Tendo seu coração destroçado às vésperas do Dia dos Namorados,
Emilly, uma bibliotecária e estudante de enfermagem de 21 anos, luta para
juntar seus caquinhos. Ela só não esperava encontrar ajuda para isso tão
rápido.
Uma ajuda deliciosa, diga-se de passagem!
Enrico Borges surge em seu caminho quase de forma planejada, rouba
a cena e, talvez, seu coração com uma promessa nada velada: esquecer o
passado. O CEO acredita ser capaz de fazê-la se desprender e trazê-la para
um jogo de sedução sem amarras, porém nenhum deles imagina que uma
paixão avassaladora pode surgir.
Venha conhecer o lobo mau e seu cordeirinho.
Biografia
Gisele Sousa Rocha, paraense, nascida na cidade de Rondon-PÁ em
30.07.1993, solteira, sem filhos. Com um grande amor por sua família,
acredita que esse é o seu principal alicerce.
Seu pseudônimo nasceu do apelido pelo qual o avô a chama, sempre
com muito carinho, e por quem tem imensa admiração e amor. Ele é o
responsável por forjar parte do seu caráter e tem esse homem íntegro como
seu maior exemplo.
Costuma dizer que a escrita a completa, a faz viajar por lugares
inimagináveis e, com ela, pretende espalhar amor, paixão, fé e emoções a
quem puder alcançar…
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