SUMÁRIO
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
[...] em nosso direito, assim antigo quanto moderno, não tem cabido o
usucapião entre condôminos; uma vez que não é lícito a um excluir da
posse os demais, mostra-se incompatível com esta modalidade aquisitiva
a condição condominial, que por natureza exclui a posse com animus
domini.
(PEREIRA, Caio Mário da Silva, Instituições de Direito Civil, volume IV,
Editora Forense, Rio de Janeiro, 12ª ed., 1997, p. 114)
Quanto à usucapião, tem-se que este instituto se apresenta como um meio de se transmitir a
propriedade para um possuidor, deixando de lado o domínio daquele que fora o seu
proprietário, em outras palavras é o modo de se adquirir a propriedade, com base no aspecto
temporal e na observância da lei.
A discussão que se pretende levantar neste artigo são as inovações jurídicas que
possibilitaram a usucapião conjugal no condomínio, e os entendimentos por parte dos Tribunais
Superiores que concedem a possiblidade do herdeiro usucapir as demais partes dos
condôminos, desde que observados os requisitos legais.
Segundo Caio Mário da Silva Pereira, “dá-se o condomínio quando a mesma coisa pertencer a
mais de uma pessoa, cabendo a cada uma delas igual direito, idealmente, sobre o todo e cada
uma das partes.”.
O artigo 1.314 do CC/02 dispõe que: “cada condômino pode usar da coisa conforme a sua
destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de
terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal ou gravá-la”. Quando o artigo
faculta o poder de reivindicar a coisa de terceiro, de maneira explícita, não se abrangem os co-
proprietários, pois, enquanto não se partilha o bem, inexiste quinhão concreto. Nenhum dos
sujeitos pode opor propriedade sobre a totalidade da coisa, pois ela se encontra fracionada.
Ademais, o móvel da ação é a restituição da coisa (que esteja em poder de terceiro estranho
aos condôminos), não sendo possível retirar o condômino do que lhe pertença.
No tocante às regras condominiais, o código civil e a doutrina são claros no que concerne ao
fim do condomínio. A perpetuidade do condomínio não é regra, sendo sua extinção sempre
admitida e esperada. O condomínio não é qualificado pela perpetuidade. Pelo contrário, por se
tratar de forma anômala de titularidade, a transitoriedade é de sua essência, pois o
ordenamento jurídico cuida de disciplinar a sua extinção.
A divisão é uma das formas de extinção da coisa comum, cujo desiderato é conferir a cada um
dos ex-condôminos uma área concreta e perfeitamente individualizada. Ou seja, materializa-se
em uma coisa certa aquilo que anteriormente era fração ideal, abstratamente pertencente a
cada comunheiro.
No entanto, mesmo havendo a regra do não uso do instituto da usucapião entre condôminos,
este pode ocorrer. Ao se constatar que um dos condôminos esteve na posse do bem com
exclusividade durante prazo considerável, prevalecerá a usucapião, e não se cogitará da
faculdade de divisão, pois já terá havido o falecimento do direito de propriedade dos demais
condôminos sobre a coisa comum. Haverá, portanto, a mitigação da regra de não
aplicabilidade da usucapião entre condôminos. Tal mitigação ocorrerá nos condomínios pro
indivisos, pois se um dos condôminos titulares de fração ideal da coisa permanecer na posse
da coisa de forma contínua, total e pacífica, caracterizar-se-á a usucapião.
No condomínio pro diviso (em que já há a noção das partes reais de cada condômino e não
somente uma noção de partes ideais), a usucapião pode atingir limitadamente uma parte
restrita do condomínio, mantendo-se a comunhão sobre o restante e com isso a possibilidade
de divisão.
Via de regra, portanto, não é possível a usucapião entre condôminos. Nesta esteira, segundo o
festejado doutrinador Caio Mário da Silva Pereira, o condômino não pode usucapir frente aos
demais co-proprietários, pois a condição condominial exclui a posse cum animo domini.
Todavia, frente a algumas situações factuais, a usucapião ajuizada por um dos condôminos
pode prosperar. É o caso, por exemplo, de exercício exclusivo da posse por um dos
condôminos do bem a ser usucapido (já tratado anteriormente).
Carlos Roberto Gonçalves posicionando sobre o assunto explica que por não ter ânimo de
dono, não poderia usucapir, salvo em situações excepcionais, em que o referido ânimo restar
demonstrado em razão de circunstâncias especiais, como foi dito anteriormente.
Os poderes que lhe são conferidos são os de simples administração. Não pode praticar atos
que exijam poderes especiais, tais como alienar a coisa, receber citações etc. Poderá,
entretanto, alienar bens que ordinariamente se destinam à venda, como frutos ou produtos de
propriedade agrícola. Combinando-se o dispositivo em apreço com o art. 1.323 do mesmo
diploma, que prestigia as deliberações da maioria, deve-se entender que também neste caso
deve prevalecer a vontade desta, sendo irrelevante a discordância ou oposição da minoria.
Tal fato, portanto, poderá minorar a possibilidade de usucapião por um dos condôminos, já que
haverá perfeita oposição aos atos de um só dos co-proprietários, deixando assim de configurar
uma possível usucapião.
Dispõe o artigo 1784 do Código Civil, baseando-se no principio da Saisine, que se abre a
sucessão com a ocorrência do evento morte. Diante disso, a herança será transmitida
imediatamente a todos os herdeiros, sejam eles legítimos ou testamentários. Em regra, tendo
em vista o caráter de universalidade de bens da herança, o patrimônio deixado pelo de
cujus compõe o denominado espólio, massa indivisa de bens. Nesse sentido, a herança é
indivisível até que seja prolatada a sentença judicial que determine a partilha dos bens.
O cabimento da ação de usucapião sobre bens que compõe a herança, inicialmente deve ser
analisado como uma impossibilidade, tendo em vista que não seria licita a exclusão da posse
por um condômino em detrimento dos demais. Assim, afirma o ilustre doutrinador civilista
Carlos Roberto Gonçalves:
Desta forma, é possível afirmar que é plenamente possível um dos herdeiros usucapir bem
objeto de herança, excluindo-se os demais sucessores, desde que esse herdeiro tenha (a)
exercido, de forma exclusiva, a posse do bem com animus domini e (b) cumprido os demais
requisitos legais.
Com o advento da Lei 12.424/2011, que teve por objetivo a modificação da Lei 11.977/2009,
que disciplina o programa "Minha Casa, Minha Vida", surgiu uma figura inovadora de
usucapião, inserida no Código Civil através do art. 1.240-A, com a seguinte redação:
Da análise do mencionado artigo de lei, se depreende que para configurar a usucapião familiar
é necessário: a) que o imóvel seja em zona urbana; b) que a metragem do terreno não
ultrapasse 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados); c) que o cônjuge ou companheiro
tenha abandonado o lar; d) posse ininterrupta e inconteste do bem pelo período de 02 (dois)
anos; e) propriedade única e para fins de moradia; e) que o imóvel seja de propriedade do
casal; e, por fim, g) que o beneficiário ainda não tenha se valido desta modalidade de aquisição
de propriedade.
Tendo em vista o fato de que a usucapião familiar integra o programa governamental "Minha
Casa, Minha Vida", que tem por escopo a tutela ao direito de moradia, somente os imóveis
situados em zona urbana podem ser usucapidos nesta modalidade aquisitiva. Não obstante, a
omissão do legislador na inclusão das propriedades rurais na usucapião familiar é fonte de
duras críticas pelos doutrinadores, que vislumbram no artigo de lei uma ofensa constitucional
ao direito à igualdade. Compactuando com este entendimento, Maria Vilardo leciona que “a
discriminação legal não se sustenta diante da Constituição e da necessidade de se conceder a
mesma proteção a qualquer casal, seja na cidade, seja no campo”(VILARDO, 2012).
Outro requisito polêmico do instituto é o abandono do lar pelo condômino. Alguns estudiosos
do direito de família repudiaram essa modalidade de usucapião ao reconhecer a existência de
retrocesso jurídico na análise da culpa no momento do divórcio. Nas palavras de Maria
Berenice Dias (2011, Correio Brasiliense), participante de peso da corrente crítica deste novo
instituto, da qual também participa Elpídio Donizetti,
Outra vertente, porém, entende que o abandono exigido na usucapião familiar não se coaduna
com a culpa pela separação judicial ou divórcio, sendo as duas primeiras inexistentes no
sistema jurídico atual. O abandono não é relativo aos motivos que levaram à separação, mas
unicamente sobre questões possessórias, sobre o abandono voluntário dos atos possessórios
inerentes ao proprietário, quais sejam os de uso, gozo, disposição e reivindicação.
A última reflexão acerca dos pressupostos exigidos no art. 1.240-A do CC/02 é com relação a
exigência de que o bem imóvel seja propriedade de ambos os cônjuges/companheiros. Esse
provavelmente é o ponto mais importante para o tema explanado neste estudo. Isto porque,
conforme mencionado nas considerações introdutórias, somente se configura o condomínio
quando duas ou mais pessoas detêm sobre o mesmo bem os poderes inerentes à propriedade.
Neste sentido, ensina o professor José Fernando Simão (2011, p.01):
Quando se diz que a propriedade deve ser comum, está-se falando exatamente em
propriedade certa e conhecida, já previamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis
(CRI) em nome de ambos os cônjuges/companheiros. Logo, exclui-se da possibilidade de
usucapião familiar os bens que sejam propriedade privada do cônjuge/companheiro que
abandona o lar, bem como o imóvel sobre o qual estes apenas detêm a posse conjuntamente.
É necessário o condomínio do bem imóvel urbano, de forma que o proprietário possuidor
apenas venha a usucapir a fração ideal que a ele não pertencia. Não seguindo rigorosamente
este requisito, a aquisição da propriedade poderá ser reconhecida por outra modalidade de
usucapião, mas não pela constante do art. 1.240-A, do CC/02.
CONCLUSÃO
Em conclusão, pode-se haurir do presente estudo que a usucapião, como direito descrito nas
regras da nossa Codificação Civil atravessa remodelação dos conceitos absolutos face aos
novos princípios condicionantes do Estado Democrático de Direito. Podendo se observar o
surgimento de interpretações diferentes, ou mesmo contrárias à regra vigente, as quais se
constituem nas exceções tratadas supra – caminho incontestável para evolução do
Ordenamento Jurídico e sua influência nas relações sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VENOSA. Sílvio de Salvo. Direito civil: direitos reais. (Coleção direito civil; v. 5). 9ª ed. São
Paulo: Atlas, 2009.
Ânimo de dono
De acordo com o relator, ministro Marco Aurélio Bellizze, a jurisprudência do STJ
considera que, dissolvida a sociedade conjugal, o imóvel comum do casal passa a ser
regido pelas regras do condomínio, ainda que não realizada a partilha de bens, cessando
o estado de mancomunhão anterior.
"Nesse contexto, possui legitimidade para usucapir em nome próprio o condômino que
exerça a posse por si mesmo, sem nenhuma oposição dos demais coproprietários, tendo
sido preenchidos os demais requisitos legais", afirmou o ministro, citando vários
precedentes do tribunal (REsp 668.131; REsp 1.631.859; AgInt no REsp 1.787.720).
Abandono de bens
No caso julgado, observou o relator, após o fim do matrimônio, o ex-marido abandonou
completamente a fração ideal dos imóveis pertencente ao casal, sendo que a ex-esposa
não lhe repassou nenhum valor proveniente de aluguel (nem ele o exigiu) e tampouco
prestou contas por todo o período antecedente ao ajuizamento da ação.
Diante disso, o ministro entendeu ser descabida a alegação de que a mulher apenas
administrava os bens. "O que houve — e isso é cristalino — foi o exercício da posse
pela ex-esposa do recorrente com efetivo ânimo de dona, a amparar a procedência do
pedido de usucapião, segundo já foi acertadamente reconhecido na origem", afirmou o
relator. Com informações da assessoria de imprensa do Superior Tribunal de Justiça.
MUITA GENTE AINDA NÃO SABE mas pode estar correndo grande risco de perder sua
parte no imóvel se efetivamente o outro condômino exercer sobre ele a POSSE
EXCLUSIVA, reunindo e demonstrando cabalmente os requisitos para a Usucapião…
Fonte: Julio Martins
TJ confirma usucapião especial de imóvel em que casal mora há 35 anos
O relator ressaltou que o fato de os possuidores serem proprietários de metade do imóvel não os impede de
reivindicar a usucapião especial de imóvel urbano da outra metade.
Nesta terça-feira, 27, a 3ª turma do STJ reconheceu usucapião especial de imóvel urbano por parte de casal que
vive no apartamento há mais de 35 anos. A decisão reforma acórdão do TJ/RJ que negou o pedido, pois entendeu
que os réus realizaram atos para proteger a sua propriedade, não havendo o preenchimento dos requisitos para a
declaração da usucapião. O voto condutor foi do ministro Villas Bôas Cueva.
Trata-se de ação interposta por casal contra decisão que inadmitiu recurso especial. O apelo, com fundamento no
artigo 105, III, "a", da CF/88, é contra acórdão do TJ/RJ ementado da seguinte maneira:
"Usucapião - tendo os réus demonstrado a prática de atos em busca da salvaguarda de sua propriedade, além de
incomprovados os requisitos para a aquisição do bem, nos moldes dos artigos 1.238, 1.240 e 1.242, todos do
código civil, não há que se cogitar de interversão da posse, decorrente de contrato de locação, no qual figuram
autores e réus, respectivamente, como locatários e locadores sentença de improcedência do pedido que se
mantém desprovimento do recurso."
O casal alega que reside no apartamento na qualidade de donos do imóvel desde 1984, após a falência da
administradora imobiliária responsável pelos aluguéis. Sustentam, ainda, que há mais de 35 anos arremataram
metade do apartamento e, desde então, exercem com exclusividade a posse para fins de moradia.
Sustentam que preenchem os requisitos para a aquisição por usucapião. Afirmam que "o ajuizamento de uma
medida cautelar, baseada no artigo 846 do CPC/73, que objetivava unicamente vistoriar o imóvel, não pode ser
considerada verdadeira oposição à posse dos recorrentes".
Na análise do recurso, o relator considerou que ao negar a interversão da posse sob o fundamento de que o
contrato de locação firmado em 1983 afastaria peremptoriamente o animus domini dos recorrentes, o acórdão
recorrido contrariou o entendimento do STJ.
Nesse sentido, para o ministro, a controvérsia se resumiu em definir se houve falha na prestação jurisdicional no
2º grau; se a aquisição de metade do imóvel usucapiano caracteriza a propriedade de outro imóvel, impedindo o
reconhecimento à usucapião constitucional; se o ajuizamento de ação contrária de vistoria pode ser considerado
como oposição à posse, impedindo o reconhecimento da usucapião extraordinária; por fim, se o caráter original
da posse pode ser transmudado na hipótese dos autos.
O relator ressaltou que o fato de os possuidores serem proprietários de metade do imóvel usucapiano não recai
na vedação de não possuir outro imóvel urbano contínuo no artigo 1.240 do código civil.
"É firme a jurisprudência dessa Corte no sentido de ser admissível a usucapião de bem em condomínio, desde que
o condômino exerça a posse do bem com exclusividade."
Ainda de acordo com o voto, a posse exercida pelo locatário pode se transmudar em posse com animus domini na
hipótese em que ocorrer substancial alteração na situação fática.
"Na hipótese, os possuidores permaneceram no imóvel por mais de 30 anos sem contratos de locação regular e
sem efetuar o pagamento de aluguel, realizam bem feitoria, tornaram-se proprietários da metade do
apartamento e adimpliram todas as taxas de tributos, taxas extraordinárias de condomínio, comportando-se
como proprietários exclusivos do bem. É possível o reconhecimento da prescrição aquisitiva ainda que o prazo
exigido por lei se complete apenas no curso da ação de usucapião."
Assim sendo, a turma destacou que a contestação não tem a capacidade de exprimir a resistência em demandar a
posse exercida pelo autor, mas apenas a sua discordância com aquisição do imóvel pela usucapião.
Dessa forma, a turma, por unanimidade, votou por reconhecer a usucapião especial de imóvel urbano do casal.
Veja o acórdão.
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Por outro lado, ao que tange o usucapião requerido por herdeiro, o tema
possui outras especificidades. Primeiro ponto é que a herança, pela adoção
do princípio de SAISINE ao nosso ordenamento, se transmite aos herdeiros
no momento do óbito, todavia, essa herança é considerada indivisa até a sua
partilha, por força do artigo 1.791 do Código Civil, sendo inviável que
apenas um herdeiro, isoladamente, requeira a usucapião de imóvel
possuído anteriormente pelo autor da herança, pois, com o falecimento, a
posse do imóvel é transmitida a todos os herdeiros.
Havendo herdeiros a serem contemplados numa mesma herança, não é
dado utilizar-se da usucapião, pois a herança é uma universalidade de
coisas, achando-se em comum os bens do acervo hereditário, até a
ultimação da partilha, onde teremos o condomínio de direito. Por outro
lado, esparsos julgados[viii] vêm admitindo o usucapião de bem em
herança, de igual modo ao entendimento do usucapião entre condôminos,
isto é, desde que haja intenção de ser dono exclusiva, de apenas um
herdeiro (animus domini unici).
Outro ponto, não menos interessante, é no caso da inexistência de herdeiros
até o quarto grau, ab intestato, isto é, sem deixar testamento. Caso de uma
herança jacente ocupada por terceiro. Herança jacente é aquela entendida
cujos sucessores ainda não são conhecidos, ou então renunciam a sua
vocação hereditária. Compreende-se como um período transitório, um
prazo de proteção aos herdeiros relapsos ou desconhecidos, até a sua
substituição pela vacância.
Nessa linha, em não havendo herdeiros até o quarto grau, o início da
prescrição aquisitiva do imóvel para verificação do usucapião, começa a
correr pela abertura da sucessão (art. 1.791), ou seja, com o óbito do autor
da herança[ix]. Outro entendimento consolidado é de que o terceiro na
posse do imóvel, desde que comprovados os requisitos para o usucapião é
parte interessada para figurar em embargos de terceiros para obstar a
arrecadação do bem pelo Estado de herança vacante[x].
Por fim, conclui-se que a nova ordem jurídica vigente pautada na defesa dos
interesses esculpidos na Constituição Federal torna necessária uma
remodelação dos conceitos absolutos face aos novos princípios estruturais
do Estado Democrático de Direito. Há que se observar se alguns cânones do
direito privado colidem com princípios ora atuantes, em especial o do
direito à moradia e da função social da propriedade. E nesse sentido
deverão avançar os julgamentos e as reformas legislativas ao que se referem
o usucapião como forma de aquisição de propriedade, socialização e
dignidade da pessoa humana.
[v] “Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma
exercer sobre ela atos possessórios, contando que não excluam os dos
outros compossuidores.” (Art. 1199 do Código Civil).
[vi] RIBEIRO, Benedito Silvério, Tratado de Usucapião, 2. Ed, Saraiva, São
Paulo, 1998, pag. 284; Pontes de Miranda. Tratado de Direito Privado, p.
124/128; SERPA LOPES, Miguel Maria. Curso de Direito Civil, vol. VI, 3ª
ed. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, p 286/287
[vii] "AÇÃO ORDINÁRIA. CONDOMÍNIO. USUCAPIÃO. POSSIBILIDADE.
USO EXCLUSIVO DO BEM COMUM POR UM DOS CONDÔMINOS.
COMPROVAÇÃO. A doutrina tem admitido a possibilidade de que o
condômino adquira a propriedade do imóvel comum através de usucapião,
desde que exerça a posse, com exclusividade, sobre parte determinada do
bem, ou sobre a totalidade deste. O usucapião constitui-se num modo de
adquirir o domínio da coisa ou de certos direitos reais pela posse
continuada durante certo lapso de tempo, com o concurso dos requisitos
que a lei estabelece para esse fim. Estando preenchidos os requisitos da
posse mansa e pacífica, exclusiva pelos réus, por mais de 10 (dez) anos, com
ânimo de dono e justo título, nos termos exigidos no art. 551 do CC, devem
ser julgados improcedentes os pedidos formulados pelos autores."(TJMG.
17ª Câmara Cível. Apelação nº 1.0686.00.002584-7/001. Rel. Des. Eduardo
Marine da Cunha, DJ: 29/06/06).
[viii] “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. POSSE DECORRENTE
DE SUCESSÃO. CONDIÇÕES. REQUISITOS PRESENTES. Comprovando o
condômino que tinha a posse exclusiva de parte do imóvel, com os
requisitos aptos a configurar a prescrição aquisitiva, pelo prazo suficiente,
com ânimo de dono e sem a oposição de quem quer que seja, em área
localizada e identificada, faz jus à declaração do usucapião em seu
favor."(TJMG. 18ª Câmara Cível. Apelação nº 1.0604.06.000333-1/001.
Rel. Des. Unias Silva, DJ: 22/02/08). USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO.
CONDOMÍNIO. HERDEIROS E CONDÔMINOS. NECESSIDADE DE
POSSE EXCLUSIVA" ANIMUS DOMINI UNICI ". REQUISITO
INEXISTENTE NA ESPÉCIE. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. É possível o
usucapião entre herdeiros e condôminos, comprovados, porém,
determinados requisitos, sendo imprescindível a posse exclusiva," animus
domini unici ", traduzido de modo inequívoco, com exclusão dos
demais."(RT524/210).
[xiii] STJ, RSTJ 143/370, grifamos. Tal voto foi seguido, por votação
unânime, pelos Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Aldir Passarinho Jr.,
Sálvio de Figueiredo Teixeira e Raphael Barros Monteiro. No mesmo
sentido: TJRJ: "Usucapião – Posse – Mudança do título – Admissibilidade.
Locatário que jamais pagou aluguel, ocupando a coisa como se fosse dono –
Inexistência de oposição por parte do proprietário – Animus domini
configurado – Voto vencido." (RT 690/140). Neste sentido: "Usucapião –
Interversão – Mudança do título da posse – Possibilidade – CC, art. 492."
(TJRJ, RJ 188/71); Ver também TJRJ, RT 528/189.