1846-Texto Do Artigo-26831-1-10-20201109
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1846
A REGULAMENTAÇÃO DABIOECONOMIA
PELA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
Virgínia Ramos Castilho1
Universidade de Marília (UNIMAR)
Resumo
Este artigo tem como objetivo estudar Na sequência, foi estudada a regula-
a regulamentação dada pelos instru- mentação da bioeconomia no Brasil e
mentos jurídico-normativos nacionais a legislação brasileira em vigor acerca
e internacionais aos temas correlatos da matéria. O presente trabalho se jus-
à bioeconomia, especialmente no que tifica, especialmente em decorrência da
tange à sua preocupação com a prote- necessidade atribuída ao direito de pre-
ção aos direitos humanos. O estudo venir os seres humanos dos potenciais
foi construído por meio de pesquisa malefícios da exploração dos recursos
bibliográfica, nos referenciais pertinen- biológicos bem como da necessidade
tes, e documental, nos instrumentos de regulamentação da bioeconomia, es-
normativos nacionais e internacionais pecificamente, sob o exemplo alemão e
aplicáveis à espécie. No que concerne demais instrumentos internacionais re-
à escrita, optou-se por utilizar o proce- lacionados à bioeconomia para preser-
dimento dedutivo. O trabalho foi di- vação e atenção aos direitos humanos.
vidido em três partes. Na primeira, fo-
ram tratados conceitos basilares acerca Palavras-chave: bioeconomia; diretos
do conceito de bioeconomia. A seguir, humanos; recursos biológicos; regula-
foram estudados os instrumentos inter- mentação.
nacionais relacionados à bioeconomia.
1 Mestranda em Direito pela UNIMAR. Especialista em Gestão Pública pela Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS). Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-5917-9151 / e-mail: virginia.mestrado@gmail.com
REGULATION OF BIOECONOMY BY
BRAZILIAN LEGISLATION
Abstract
This article aimed to study the regulation were studied. Following, the regulation of
given by national and international the bioeconomy in Brazil and the current
legal-normative instruments to themes Brazilian legislation on the subject were
related to the bioeconomy, especially studied. The present work is justified,
regarding its concern with the protection especially due to the need attributed to
of human rights. The study was built the right to prevent human beings from
through bibliographic research, in the the potential harms of the exploitation
relevant references, and documentary, in of biological resources as well as the need
the national and international normative to regulate the bioeconomy, specifically,
instruments applicable to the species. under the German example and other
With regard to writing, we chose to use international instruments related to
the deductive procedure. The work was the bioeconomy for preservation and
divided into three parts. In the first, basic attention to human rights.
concepts about the concept of bioeconomy
were treated. Next, the international Keywords: bioeconomics; biological
instruments related to the bioeconomy resources; human rights; regulation.
Introdução
O objetivo do presente trabalho é estudar a regulamentação dada pelos ins-
trumentos jurídico-normativos nacionais e internacionais aos temas correlatos à
bioeconomia, especialmente no que tange à sua preocupação com a proteção aos
direitos humanos.
O estudo é construído por meio de pesquisa bibliográfica, nos referenciais
pertinentes e documentais, nos instrumentos normativos nacionais e internacio-
nais aplicáveis à espécie. No que concerne à escrita, optou-se por utilizar o proce-
dimento dedutivo.
O trabalho divide-se em três partes. Na primeira, serão tratados conceitos ba-
silares acerca do conceito de bioeconomia, sua origem e suas diferenças em relação à
chamada economia de base biológica, assim como o antropocentrismo no contexto
da exploração do patrimônio biológico.
Além disso, abordar-se-á a necessidade de regulamentação da bioeconomia,
especificamente no exemplo alemão. São estudados os instrumentos internacio-
nais relacionados a esse conceito, bem como a necessidade de preservação e de
atenção aos direitos humanos.
No mesmo sentido, serão abordadas a Convenção sobre Diversidade Bioló-
gica de 1992 e as decisões da Convenção sobre Diversidade Biológica de 2002.
Na sequência, serão estudadas a regulamentação da bioeconomia no Brasil e a
legislação brasileira em vigor acerca da matéria, tendo em vista a importância que
vem ganhando no âmbito jurídico, pois suas consequências refletem diretamente
na esfera dos direitos humanos, dos direitos individuais e na economia.
Ainda nesse tópico, será estudada uma agenda jurídica para a bioeconomia
brasileira. O presente trabalho justifica-se, pela necessidade atribuída ao direito de
prevenir os potenciais malefícios da exploração dos recursos biológicos aos seres
humanos.
genético, bem como às necessárias limitações dessas práticas, nas searas preventiva
e repressiva.
Nesse sentido, o termo bioeconomia foi criado pelos professores Juan En-
riquez e Rodrigo Martinez. Volta-se a analisar as ciências da vida, especialmente
a genética, a biologia molecular e celular, que afetam e transformam produtos,
negócios e a indústria mundial (CNI, 2013). Muitas das vezes, essas alterações
causam problemas de saúde, quando o ser humano é exposto por muito tempo
a determinado tipo de produto, sem que ele perceba a origem desses malefícios.
Trata-se de um setor da economia que, de acordo com a Organização de
Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE), movimentará, no ano de
2030, 300 bilhões de euros. Seu maior mercado atual é o de biocombustíveis,
bioquímicos e bioplásticos, nesta ordem (CNI, 2013).
Nota-se, assim, tratar-se de um ramo da economia mundial que cresce rapi-
damente e que abocanha significativa fatia do capital em circulação no mundo.
Desse modo, o conceito é tratado por estudiosos ao redor do mundo que, inclusi-
ve, criam definições pareadas.
Imperioso salientar que o conceito de bioeconomia é recente. Surgiu a partir
das discussões sobre as mudanças climáticas, a partir do século XX. Com diversos
estudos relacionados ao meio ambiente, recursos naturais, mudanças climáticas e
como essas questões impactam diretamente na economia e no desenvolvimento
de tecnologias alternativas capazes de aumentar a produção e manter a capacidade
de maneira sustentável, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs o termo
“desenvolvimento sustentável”, apresentando um relatório elaborado pela Comis-
são Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
Nesse relatório, o termo ficou assim definido: “desenvolvimento sustentável é
aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades
de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades” (ONU, 1963). Nesse
contexto, a bioeconomia começa a ser delineada como uma ciência que almeja
o desenvolvimento econômico de maneira sustentável. Embora recente, vem se
mostrando como uma ciência transdisciplinar.
Uma ciência transdisciplinar é capaz de produzir uma interação entre dis-
ciplinas, relacionando várias disciplinas e promovendo sua interação, diferen-
te de uma ciência interdisciplinar que apenas atinge duas disciplinas diferentes
(TRANSDISCIPLINAR, 2018).
Um dos primeiros estudiosos a observar a relação entre a economia e a bio-
logia foi Nicholas Georgescu-Roegen, chamando a atenção para o crescimento
desordenado e insustentável e apontando que os recursos naturais disponíveis na
Terra não seriam suficientes para o padrão que vinha sendo estabelecido (GEOR-
GESCU-ROEGEN, 1971).
Nota-se, aqui, uma maior preocupação com a proteção aos seres humanos,
inclusive, com questões relacionadas à soberania dos países em desenvolvimento
e, até mesmo, naquilo que concerne à igualdade entre os povos do mundo, em
consonância, portanto, com o direito internacional dos direitos humanos.
Conclusão
A definição de bioeconomia é historicamente recente. Surgiu para se adequar
a questões relacionadas à biotecnologia e à exploração do patrimônio genético em
geral, assim como para explicar a necessidade de limitações preventivas e repressi-
vas a tais práticas.
Trata-se de um ramo da ciência econômica em escala mundial, que evolui
rapidamente e que se apropria de gigantesca fatia do capital mundial, de maneira
que o conceito é trabalhado por estudiosos de todo o mundo que, inclusive, cons-
troem definições que se relacionam.
Por ser um relevantíssimo ramo da economia mundial, diversas questões re-
lacionadas ao patrimônio biológico e genético se refletem nos estudos, nos do-
cumentos oficiais e instrumentos normativos a ele concernentes, de maneira que
conceitos similares podem surgir.
Uma definição para a economia de base biológica foi dada pela União Euro-
peia, com um conceito um pouco mais específico do que o de bioeconomia, que
se relaciona às ciências da vida, notadamente à genética e à biologia molecular e
celular, bem como ao modo como atingem e modificam produtos, negócios e a
indústria global.
Mesmo se relacionando à vida como um todo, por ser um conceito notada-
mente econômico, a bioeconomia é estudada e trabalhada de maneira dirigida ao
progresso e ao aumento da riqueza, concentrando-se, desse modo, no homem e
em suas necessidades e desejos.
Assim, são indispensáveis seus conhecimento e tratamento por governos lo-
cais e pela comunidade internacional sejam aliados a questões diversas condizentes
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modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança
– CTNBio, dispões sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a
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agosto de 2001, e os arts. 5º, 6º, 7º, 8º, 9º, 10 e 16 da Lei n. 10.814, de 15 de
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versidade Biológica, promulgada pelo Decreto n. 2.519, de 16 de março de 1998;
dispões sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao co-
nhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para a conser-
vação e uso sustentável da biodiversidade; revoga a Medida Provisória n. 2.186-16,
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