Ética - Ir. Walter Celso de Lima
Ética - Ir. Walter Celso de Lima
Ética - Ir. Walter Celso de Lima
ÉTICA
A ética também não deve ser confundida com a lei, embora, com certa
frequência, a lei tenha (ou deveria ter), como base, princípios éticos. Ao contrário do
que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por
outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção, do Estado,
pela desobediência a estas normas éticas. Nem tudo que é legal é ético, e nem tudo
que é ético é legal.
Voltando à definição de ética: ética envolve juízos de apreciação, i.e., envolve
julgamento, envolve uma decisão. Logo, envolve consciência. Consciência é o
atributo pelo qual o homem toma em relação ao mundo e ao seu estado interior.
Conclusão primeira: juízos de apreciação (portanto ética) envolvem um julgamento
que pressupõe consciência.
A ética estuda os juízos de apreciação referentes à conduta humana, i.e.,
procedimentos morais, comportamentais. Um julgamento ético pode, portanto, basear-
se num código de moral. Ética é susceptível de qualificação do ponto de vista do bem
e do mal; é, portanto, subjetivo, porque depende do julgamento consciencioso de cada
um.
A ética se refere à determinada sociedade ou, de modo absoluto, à sociedade
em geral. Como as sociedades são dinâmicas, os julgamentos de valor do
comportamento também são dinâmicos, i.e., são mutáveis. Ética, portanto, é variante
no tempo (dinâmica) e no espaço (determinada sociedade).
Ética é, pois, viver bem. Viver bem numa determinada sociedade depende dos
outros cidadãos viverem bem. Aqui, está o primeiro problema filosófico estudado
por Sócrates1, Platão2 e Aristóteles3: ética é intrínseco ao homem ou adquirido,
ensinado? Viver bem, sozinho, é fácil e intrínseco ao homem, desde que,
mentalmente são. Viver em sociedade é adquirido do meio, é ensinado. É
conhecimento (Chaui, 2006).
Abordando algo mais pragmático, é importante levar em conta que a ética se
refere à determinada sociedade. Assim, existem éticas de diversos grupos religiosos
(cristãos, islâmicos, etc.), de sub-grupos religiosos (católicos, calvinistas; sunitas,
xiitas, etc.) e a ética profissional de grupos de profissões. O médico grego
Hipócrates4 foi pioneiro em definir um código de moral médica (o juramento de
Hipócrates), cujo texto original apresenta-se, hoje, bastante modificado e com
significativas diferenças em diversos países. É a constatação de que um código de
moral é variante no tempo (c. 400 a.E.V. e hoje) e no espaço (diferença, hoje, entre os
diversos países). Cada profissão reconhecida tem seu código próprio de ética (na
verdade preceitos profissionais morais).
central, comum a todos os idiomas mencionados: esta pessoa pode ser, ao mesmo
tempo, um bom professor e um mal tradutor. Isto leva a pensar que “bom” possa ser
“eficaz”. Esta pessoa ensina de maneira eficiente e traduz de maneira ineficiente.
“Bom” e “eficaz” têm, ambos, sentidos atributivos. O “bom” é um atributo subjetivo
que depende, basicamente, da consciência de cada um. Isto é, depende da cultura e da
educação de cada um. Não é possível determinar um sentido único e estático, do
ponto de vista ético, do que seja bom.
E o que se pode dizer sobre ética e moral na Maçonaria? E no Rito Moderno?
A Maçonaria não tem um código de ética ou de moral explícito, simplesmente, por ser
Universal. Mas tem uma série de preceitos, práticas e normas, consubstanciados nos
Landmarks, nas Constituições, nos Regulamentos e, especialmente, nos rituais. E
mantendo uma tradição centenária, algo moral perdura e permanece nas Constituições
de Anderson (1723) e nas Antigas Obrigações (“Old Charges”) da Idade Média, na
Constituição de York (926 E.V.), bem como, em outros documentos medievais
conhecidos como Constituições Góticas (Poema Regius, Manuscritos de Cook,
Manuscrito de Watson, etc). Estes têm caráter disciplinar e moral para a época e local
em que foram escritos. Implicitamente, hoje, há um código moral, especialmente nos
rituais, embora, não seja expresso formalmente, nem mesmo manifestamente e
tacitamente declarado. Por ser adogmático, o Rito Moderno motiva seus membros a
procurar uma ética de forma racional e consciente; um constante julgamento pessoal e
consciencioso do que é bom e do que é mal.
Como considerações finais: abaixo, o pensamento de Morin5 : “La morale non
complexe obéit à un code binaire bien/mal, juste/injuste. L'éthique complexe conçoit
que le bien puisse contenir un mal, le mal un bien, le juste de l'injuste, l'injuste du
juste ” (Morin, 2004). Em português : a moral não complexa obedece a um código
binário bem/mal, justo/injusto. A ética complexa concebe que o bem pode conter um
mal, o mal um bem; a justiça, uma injustiça; a injustiça, uma justiça.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Chaui, M. “Convite à Filosofia” 13ª ed., S.Paulo: Ática, 2006. “A existência ética”,
Unid. 8, Cap. 5, pp: 305-309.
- Comparato, F. K. “Ética”. S.Paulo: Cia. das Letras, 2006.
- ERC - Ethics Resource Center. “Advancing High Ethical Standards and
Praxtices”, 2010. http://www.ethics.org/ Acessado em 28.mai.2011.
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Morin (Edgar Morin, nome verdadeiro Edgar Nahoum, )נחום, filósofo judeu-francês nascido em
1921.
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