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RAFFESTIN - Por Uma Geografia Do Poder

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RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. Editora Ática.

Capitulo I:

O que é o território?

I – Do espaço ao território

Espaço e território não são termos equivalentes.

O território se forma a partir do espaço, é resultado de uma ação conduzida por um ator
sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço,
concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o espaço.

p. 143

Território é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por
conseqüência, revela relações marcadas pelo poder.

Marxismo: espaço só tem valor de uso, uma utilidade. É preexistente a qualquer ação, o
espaço é “dado”, como se fosse uma matéria prima.

O território é uma produção a partir do espaço. A produção, por causa de todas as relações
que envolve, se inscreve num campo de poder. Produzir uma representação revela a imagem
desejada de um território, de um local de relações.

Todo projeto é sustentado por um conhecimento e uma prática, isto é, por ações e ou
comportamentos que, é claro, supõem a posse de códigos, de sistemas sêmicos. É por esses
sistemas sêmicos que se realizam as objetivações do espaço, que são processos sociais. O
próprio sistema sêmico é marcado por toda uma infra-estrutura, pelas forças de trabalho e
pelas relações de produção, em suma, pelos modos de produção.

p.144

A imagem ou modelo, ou seja, toda construção da realidade, é um instrumento de poder e isso


desde as origens do homem.

p. 145

Não se trata pois do “espaço”, mas de um espaço construído pelo ator, que comunica suas
intenções e a realidade material por intermédio de um sistema sêmico. Portanto, o espaço
representado não é mais o espaço, mas a imagem do espaço, ou melhor, do território visto
e/ou vivido. O ESPAÇO QUE SE TORNOU O TERRITÓRIO DE UM ATOR.

O espaço só existe em função dos objetivos intencionais do ator.

II – O sistema territorial

Todos os povos dividiram cuidadosamente o espaço a fim de se distinguir de seus vizinhos.


Não se trata somente de separa, mas diferenciar. Toda prática espacial, mesmo embrionária,
induzida por um sistema de ações ou de comportamentos se traduz por uma “produção
territorial” que se faz intervir tessitura, nó e rede. É interessante destacar a esse respeito que
nenhuma sociedade, por mais elementar que seja, escapa à necessidade de organizar o campo
operatório de sua ação.

p.150

Tessituras, nós e rede = podem ser muito diferentes de uma sociedade para outra, mas estão
sempre presentes. Quer seja formado a partir do principio da propriedade privada ou coletiva,
nós os encontramos em todas as práticas espaciais.
Esse conjunto se manifesta para qualquer grupo indica que, apesar das formas que possa
tomar, é assinalável na passagem da interioridade à exterioridade.

p. 151

As “imagens” territoriais revelam a produção e consequentemente as relações de poder, e é


decifrando-as que se chega à estrutura profunda.

O Estado está sempre organizando o território nacional por intermédio de novos recortes, de
novas implantações e de novas ligações. O mesmo se passa com as empresas ou outras
organizações, para as quais o sistema precedente constitui um conjunto de fatores favoráveis
e limitantes.

p.152

Todos nós elaboramos estratégias de produção, que se chocam com outras estratégias em
diversas relações de poder.

Toda tessitura implica a noção de limite. Definir, caracterizar, distinguir, decidir, agir implicam
a noção de limite: é preciso delimitar.

Falar de território é fazer uma referência implícita à noção de limite, que mesmo não sendo
traçado, como em geral ocorre, exprime a relação que um grupo mantém com uma porção
espaço.

Delimitar é, poi, isolar ou subtrair momentaneamente ou, ainda, manifestar um poder numa
área precisa. O desenho de uma malha ou de um conjunto de malhas é a conseqüência de uma
relação com o espaço e, por conseguinte, a forma mais elementar da produção de território.

p.153

A tessitura exprime a área de exercício dos poderes ou a área da capacidade dos poderes.

p.154

Tessituras de origem política, criada pelo Estado, têm uma permanência maior.
Limites políticos e administrativos são mais ou menos estáveis, enquanto os limites
econômicos são bem menos, pois são bem mais dinâmicos, isto é, se adaptam às mudanças de
estruturas e de conjunturas.
A grande diferença entre malha política e malha econômica está no fato de que a primeira
resulta de uma decisão de um poder ratificado, legitimado, enquanto a segunda resulta de um
poder de fato.

p. 155

Toda rede revela, da memsma forma que as tessituras e a implantação dos pontos, um certo
domínio do espaço, um domínio do quadro espaço-temporal, na realidade. -> O sistema
territorial é, portanto, produto e meio de produção.

III – Territorialidade

A territorialidade adquire um valor bem particular, pois reflete a multidimensionalidade do


“vivido” territorial pelos membros de uma coletividade, pela sociedade em geral. Os homens
“vivem”, ao mesmo tempo, o processo territorial e o produto territorial por intermédio de um
sistema de relações existenciais e /ou produtivistas.

Todas são relações de poder, visto que há interação entre os atores que procuram modificar
tanto as relações com a natureza como as relações sociais. Os atores sem se darem conta
disso, se automodificam também.

p. 158

A vida é tecida por relações, e daí a territorialidade pode ser definida como um conjunto de
relações que se originam num sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo em vias de
atingir a maior autonomia possível, compatível com os recursos do sistema.

p.160

A territorialidade aparece então como constituída de relações mediatizadas, simétricas ou


dissimétricas com a exterioridade.

A territorialidade se inscreve no quadro da produção, da troca e do consumo das coisas.

Toda produção do sistema territorial determina ou condiciona uma consumação deste.


Tessituras, nodosidades e redes criam vizinhanças, acessos, convergências, mas também
disjunções rupturas e distanciamentos que os indivíduos e os grupos devem assumir.

Sistema territorial segrega sua própria territorialidade, que os indivíduos e as sociedade vivem.

p. 161.

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