3 Neuropsicologia
3 Neuropsicologia
3 Neuropsicologia
Revisão Textual:
Maria Cecília Andreo
Avaliação Neuropsicológica do Adulto
• Introdução;
• O Desenvolvimento Cognitivo do Adulto;
• Avaliação Neuropsicológica do Adulto;
• Elaboração do Relatório e Entrevista de Devolutiva.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer os principais quadros clínicos encontrados em adultos que são demandas comuns
na clínica neuropsicológica;
• Entender como escolher os testes neuropsicológicos adequados para as funções cognitivas
comumente comprometidas, a importância do trabalho em equipe multidisciplinar e da fa-
mília no processo de avaliação e diagnóstico diferencial.
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Adulto
Introdução
Existe uma grande demanda clínica de avaliação neuropsicológica de adultos. As de-
mandas são muito variadas, desde quadros clínicos de doenças crônicas, avaliação de
lesões após acidentes, como traumatismo craniano encefálico, acidente vascular cerebral,
aneurisma, uso e abuso de substâncias, transtornos psiquiátricos, entre outros (FUENTES
et al., 2018).
8
fixas ou de rastreio com protocolos definidos. Por exemplo, o ambulatório de epilepsia
pode ter protocolos de avaliação neuropsicológica específicos para aquele grupo clínico
(ZIMMERMANN et al., 2016). Contudo, a bateria flexível é ainda a mais recomendada
para uma avaliação completa e profunda do paciente (ZIMMERMANN et al., 2016;
FUENTES et al., 2018). Outro ponto importante a ser considerado é a avaliação qualitati-
va dos dados e do comportamento do paciente além dos dados quantitativos, que permite
melhor compreensão sobre o funcionamento do paciente (ZIMMERMANN et al., 2016).
Entrevista de anamnese
A entrevista de anamnese é fundamental para compreender as dificuldades do paciente
e, assim, permitir o levantamento de hipótese diagnóstica, esta que levará à escolha dos
instrumentos para compor a bateria da avaliação neuropsicológica (ZIMMERMANN et al.,
2016). Além disso, é na entrevista de anamnese que inicia a observação comportamental,
contudo, a coleta de informações e a observação não são restritas apenas ao início da
avaliação, devendo ocorrer ao longo de todo o processo (ZIMMERMANN et al., 2016).
9
9
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Adulto
Alguns testes exigem mais de uma função cognitiva, por isso, é importante avaliar
qual o melhor para mensurar a função cognitiva que deseja. Além disso, é importante
alternar tarefas que avaliam a mesma função para que, dessa forma, evite sobrecarregar
alguma função e diminuir o desempenho ou atrapalhar o desempenho em razão disso
(PINTO, 2012 apud FUENTES et al., 2018).
A seguir, as principais funções cognitivas avaliadas nos adultos, bem como os princi-
pais instrumentos utilizados.
Memória
A memória é fundamental para a constituição de um self e essencial no processo
de aprendizagem (ABREU et al., 2016). Ou seja, a memória não é somente importan-
te para conhecimentos, mas também para a constituição da personalidade. Diversos
quadros clínicos apresentam alterações de memória e, por isso, é fundamental ter um
grande conhecimento das doenças associadas às alterações de memória, bem como o
desenvolvimento esperado (OLIVEIRA, 2007 apud ABREU et al., 2016).
10
dividida em semântica e episódica, e memória implícita ou não declarativa, dividida em
memória motora, memória de procedimento e aprendizagem não associativa, memória
de condicionamento clássico e pré-ativação (priming) (FUENTES et al., 2018; ABREU
et al., 2018).
A memória não está localizada em uma única área do cérebro, cada tipo de memó-
ria e processamento recruta áreas diferentes. Por exemplo, a memória de longo prazo
precisa do hipocampo, que fica em lobo temporal, para poder armazenar e evocar infor-
mações aprendidas, experiências pessoas etc., as memórias explícitas (FUENTES et al.,
2018). Pacientes com lesões nessa área perdem a capacidade de aprender coisas novas.
Veja neste vídeo o que acontece quando o hipocampo do seu cérebro é removido.
Disponível em: https://bit.ly/3uwaMk6
11
11
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Adulto
Atenção
A atenção permite a seleção de estímulos relevantes, entre outros (FUENTES et al.,
2018). Relacionada a diversos processos básicos, a atenção é uma função muito impor-
tante no cotidiano e está ligada ao grau de alerta, à vigília, à seleção sensorial e de res-
posta, segundo Strauss, Sherman e Spreen (2006 apud ABREU et al., 2016). Definida
como responsável pelo direcionamento dos processos mentais do indivíduo na seleção
de estímulos em detrimento de outros (LURIA, 1981 apud FUENTES et al., 2018), a
atenção é dividida, segundo Fuentes et al. (2018), em:
• Atenção concentrada: é a capacidade do indivíduo de focar apenas um estímulo
diante de diversos estímulos distratores;
• Atenção dividida: é a capacidade do indivíduo de focar dois estímulos específicos
ao mesmo tempo diante de outros estímulos distratores;
• Atenção alternada: é a capacidade do indivíduo de focar diferentes estímulos ao
mesmo tempo diante de outros acontecimentos e eventos.
Com relação aos testes mais utilizados, o Teste Stroop, além de inibição, avalia seleti-
vidade da atenção (TERENERRY et al., 1989 apud COUTINHO et al., 2018). O Teste de
Atenção Concentrada é o mais utilizado para avaliar a atenção sustentada/concentrada
12
e consiste no cancelamento de três estímulos-alvo diante de estímulos distratores por um
período de 5 min. É verificada a pontuação total subtraindo o número de erros e omis-
sões (alvos não marcados) (CAMBRAIA, 2003 apud COUTINHO et al., 2018).
Funções executivas
Consideradas um conjunto de funções cognitivas guarda-chuva, as funções executi-
vas envolvem processos cerebrais complexos e muito importantes e que, geralmente,
encontram-se comprometidas em pacientes com lesões frontais (MALLOY-DINIZ et al.,
2018; FUENTES et al., 2018; MACHADO & HAERTEL, 2013 apud FUENTES et al.,
2018). De acordo com Malloy-Diniz et al. (2014 apud MALLOY-DINIZ, et al., 2018), as
funções executivas são definidas como:
Para saber mais sobre cada função cognitiva das funções executivas, leia MALLOY-DINIZ et al.
O exame das funções executivas In: MALLOY-DINIZ; FUENTES, D.; MATTOS, P.; ABREU, N. Avalia-
ção neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed, 2018.
Pacientes com lesões frontais costumam apresentar déficits nas funções execu-
tivas chamadas de síndrome disexecutiva, com manifestações distintas a depender a
circuitaria comprometida. O paciente pode apresentar apatia, desmotivação, dificuldade
13
13
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Adulto
Para avaliar flexibilidade mental ou cognitiva, o Teste de Cinco Dígitos é o mais utilizado.
Para avaliar memória de trabalho, os subtestes do WAIS III (Escala Wechsler de Inte-
ligência) fornecem informações importantes, como o subteste Dígitos de Ordem Inversa
e o Sequência Número e Letras, que exigem manipulação mental de informações.
Controle inibitório é frequentemente avaliado por meio do teste Stroop, que consiste
em inibir uma resposta automática (ler as cores escritas) para uma resposta controlada
(falar a cor que está pintada nas palavras sem as ler.
O filme O vigia retrata a história de um rapaz com disfunção executiva após acidente de
carro (traumatismo craniano encefálico). Assista e veja as dificuldades e estratégias que o
rapaz encontrou para lidar com as dificuldades decorrentes da síndrome disexecutiva.
Disponóvel em: https://youtu.be/ZMlHTW0cAko
14
• Comportamentos impensados estão presentes;
• Tendência a agir com menos planejamento em comparação a indivíduos com o
mesmo nível intelectual.
A bateria de testes, nesse caso, necessita ser flexível, uma vez que a manifestação clí-
nica é muito variável. Uma série de testes e instrumentos deve ser utilizada considerando
os resultados de exames de imagem com as respectivas lesões e os sintomas clínicos.
15
15
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Adulto
Jill Taylor é uma neurocientista que sofreu um AVC e utilizou o seu conhecimento para recu-
perar-se. Assista a sua palestra e descubra como ela identificou que estava sofrendo um AVC
e como fez para se recuperar. Disponível em: https://bit.ly/2RerB4W
Assim como nos AVCs, as manifestações clínicas são muito heterogêneas, a de-
pender do local da lesão. Entre as sequelas mais frequentes estão fadiga, visão dupla,
ansiedade e irritabilidade, déficits na memória e funções executivas, para citar as prin-
cipais (PEREIRA; HAMDAN, 2014). A Escala de coma de Glasgow é a mais utilizada
para avaliar níveis de consciência após TCE (PEREIRA; HAMDAN, 2014; TEIXEIRA
et al., 2018). Segundo Teixeira et al. (2018), as lesões são classificadas de duas formas:
as primárias, causadas no momento do trauma, e as secundárias, que seguem após o
trauma em decorrência de mudanças biomoleculares e fisiológicas, podendo ser focais
ou difusas. Como consequências do TCE, dois grupos de sintomas podem aparecer
clinicamente: sintomas somáticos e sintomas neuropsiquiátricos (BENNER et al., 2009;
RAO; LYKETSOS, 2000 apud TEIXEIRA et al., 2018).
Com relação aos sintomas neuropsiquiátricos, em torno de 15% a 30% estarão pre-
sentes em pacientes que sofreram TCE, persistindo para além de três meses, levan-
do a comprometimento social e profissional significativo (BENNER et al., 2009 apud
TEIXEIRA et al., 2018). Os quadros neuropsiquiátricos são divididos em alterações de
humor, disfunções cognitivas e comportamentais. Com relação aos sintomas somáticos,
é comum cefaleia, vertigem, náuseas, fadiga, distúrbios do sono e crises convulsivas
(TEIXEIRA et al., 2018).
Um caso famoso de TCE é do Phineas Gage, o trabalhador tranquilo e organizado que traba-
lhava na construção de via férrea que teve sua personalidade e comportamentos mudados
completamente após uma barra de ferro ter atravessado o seu córtex pré-frontal. Assista ao
curto documentário sobre esse caso clínico fascinante que revolucionou o conhecimento das
funções frontais e da neuropsicologia. Disponível em: https://youtu.be/m-m8xyoyQL8
16
Elaboração do Relatório e
Entrevista de Devolutiva
O relatório deve integrar os dados coletados por meio dos diversos instrumentos,
bem como os dados de observação comportamental e os coletados pelas diferentes
fontes por meio das entrevistas, relacionando-os às queixas apresentadas e à hipótese
diagnóstica levantada (PINTO, 2012, apud FUENTES, 2018). É necessário seguir as
orientações do Conselho Federal de Psicologia a respeito das normas de elaboração do
relatório neuropsicológico disponibilizados no site.
17
17
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Adulto
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Cientista que curou seu próprio Cérebro
TAYLOR, J. B.; ISIDORO, D. da S. G. Cientista que curou seu próprio Cérebro.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2008.
O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano
DAMÁSIO, A. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012.
Vídeos
Amnesiac – A história de Henry Molaison (H.M.)
https://youtu.be/W0TTQroCjoQ
18
Referências
ABREU, N. et al. Como montar uma bateria para avaliação neuropsicológica. In:
MALLOY-DINIZ, L.F.; MATTOS, P.; ABREU, N.; FUENTES, D. Neuropsicologia: apli-
cações clínicas. Porto Alegre: Artmed, 2016.
________. et al. Memória. In: MALLOY-DINIZ; FUENTES, D.; MATTOS, P.; ABREU,
N. Avaliação neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed, 2018.
MALLOY-DINIZ et al. Normative data of the Barrat Impulsiviness Scale 11 (BIS -11)
for Brazilian adults. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 37, n. 3, p. 245-248, 2015.
19
19