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Controle de Natalidade: A Aplicação Das Teorias E Políticas Populacionais Lorena Pinto Gonçalves Miriam Olivia Knopik Ferraz

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CONTROLE DE NATALIDADE: A APLICAÇÃO

DAS TEORIAS E POLÍTICAS POPULACIONAIS

Lorena Pinto Gonçalves 1

Miriam Olivia Knopik Ferraz2

Resumo: O objetivo do presente trabalho é o mapeamento das


teorias de controle de natalidade e como elas são vislumbradas
hoje. A metodologia utilizada é a lógico-dedutiva por meio do
estudo bibliográfico e multidisciplinar, por meio da interação
entre teorias jurídicas, demográficas e econômicas. Para tanto
subdividiu-se a presente pesquisa em: 1. histórico e teorias de
controle de natalidade, no qual aborda-se as seguintes teorias: i)
Teoria Malthusiana; ii) Teoria Neomalthusiana; iii) Teoria mar-
xista; iv) Teoria da transição demográfica; 2. Controle de nata-
lidade e políticas populacionais, em que se aborda-se os seguin-
tes pontos: i. Políticas populacionais e sua dinâmica geográfica;
ii. Políticas populacionais e seu ritmo de crescimento; iii. Políti-
cas populacionais e seu nível de aplicação; iv. Políticas popula-
cionais públicas e privadas; v. Políticas populacionais explícitas
e implícitas; vi. Políticas populacionais intencionais e não-inten-
cionais; vii. Políticas populacionais proativas ou reativas; viii.
Modelos de políticas populacionais. Por meio dessas aborda-
gens, é possível traçar relações entre as teorias de controle de
natalidade e as políticas populacionais.

Palavras-Chave: controle de natalidade; controle demográfico;

1
Graduanda em Direito. Diretora de Desenvolvimento Acadêmico do Centro Acadê-
mico Professor Petrus Tybur Junior da UNIFACEAR – Centro Universitário.
2
Doutoranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - Brasil (bol-
sista PROSUP), Mestre e Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica
do Paraná. Professora da Universidade Positivo, FAE Business School e da UNIFA-
CEAR.

Ano 7 (2021), nº 3, 1145-1182


_1146________RJLB, Ano 7 (2021), nº 3

políticas populacionais

Abstract: The aim of this paper is to map birth control theories


and how they are envisioned today. The methodology used is
logical-deductive through bibliographic and multidisciplinary
study, through the interaction between legal, demographic and
economic theories. To this end, this research was subdivided
into: 1. history and theories of birth control, in which the follow-
ing theories are addressed: i) Malthusian Theory; ii) Neomalthu-
sian Theory; iii) Marxist theory; iv) Theory of demographic
transition; 2. Birth control and population policies, in which the
following points are addressed: i. Population policies and their
geographic dynamics; ii. Population policies and their growth
rate; iii. Population policies and their level of application; iv.
Public and private population policies; v. Explicit and implicit
population policies; saw. Intentional and unintended population
policies; vii. Proactive or reactive population policies; viii. Mod-
els of population policies. Through these approaches, it is possi-
ble to trace relationships between birth control theories and pop-
ulation policies.

Keywords: birth control; demographic control; population poli-


cies

1. INTRODUÇÃO

uem controla o crescimento populacional? Ou


ainda, é necessário este controle? Diversos pes-
quisadores de diferentes áreas já construíram teo-
rias sobre como e por que este controle deve ser
realizado. Nesta pesquisa, busca-se compreender
historicamente essas teorias e a relação que elas contêm com as
políticas populacionais, realizadas atualmente. A metodologia
utilizada é a lógico-dedutiva por meio do estudo bibliográfico e
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multidisciplinar, por meio da interação entre teorias jurídicas,


demográficas e econômicas. Por meio do mapeamento histórico
é possível realizar a aproximação com as políticas utilizadas atu-
almente.
Nesse sentido, subdividiu-se a presente pesquisa em: 1.
histórico e teorias de controle de natalidade, no qual aborda-se
as seguintes teorias: i) Teoria Malthusiana; ii) Teoria Neomal-
thusiana; iii) Teoria marxista; iv) Teoria da transição demográ-
fica. Posteriormente, adentra-se no tópico: 2. Controle de nata-
lidade e políticas populacionais, em que se aborda-se os seguin-
tes pontos: i. Políticas populacionais e sua dinâmica geográfica;
ii. Políticas populacionais e seu ritmo de crescimento; iii. Políti-
cas populacionais e seu nível de aplicação; iv. Políticas popula-
cionais públicas e privadas; v. Políticas populacionais explícitas
e implícitas; vi. Políticas populacionais intencionais e não-inten-
cionais; vii. Políticas populacionais proativas ou reativas; viii.
Modelos de políticas populacionais.
Dessa forma, traça-se uma relação entre as teorias histó-
ricas de controle de natalidade e das políticas populacionais atu-
ais.

2. HISTÓRICO E TEORIAS DE CONTROLE DE NATALI-


DADE

A preocupação com o crescimento populacional não é


algo novo na ciência e possui um desenvolvimento em extensivo
a partir de teorias e vertentes sobre o assunto. A compreensão
destas em sua origem é essencial para se vislumbrar como elas
são aplicadas e estudadas hoje. Este tópico está subdivido em
um breve histórico dessa temática para posteriormente o apro-
fundamento das principais teorias.
A partir do pensamento de que as famílias deveriam apli-
car uma autorregulação em suas vidas reprodutivas para evitar a
miséria e a fome de Thomas Malthus (1766-1834), surgiram
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outros estudiosos que fizeram comentários sobre o assunto,


exemplos são Marie-Jean Nicholas Caritat, Marquês de Condor-
cet (1743-1794), William Godwin (1756-1836) e Adam
Smith (1723-1790), os quais em resumo já tinham exposto seus
ideais quanto aos riscos que um crescimento em excesso da po-
pulação poderia trazer (GALVÊAS, 1996, p.7-16).
Considerando esses pensamentos, o momento de discus-
sões em específico sobre o assunto “controle de natalidade”, se
iniciou em 1798, onde Thomas Malthus ao escrever seu livro
Ensaio sobre o Princípio da População, argumentou sobre os
resultados futuros do não controle da população quanto ao seu
crescimento acelerado e incontrolável. (BHERING, 2014, p.31).
Ressalta-se, entretanto, que durante a Revolução Fran-
cesa, as primeiras menções sobre o tema foram trazidas pelo
Mârques de Condorcet em 1794. Ocorre que, sua visão quanto
ao crescimento populacional se referia a um resultado com im-
pactos positivos no desenvolvimento humano, sendo contrário
as considerações de Malthus, que foram trazidas quatro anos de-
pois (ALVES, 2002, p. 6-7).
Malthus transmitia a ideia de que quando não há o con-
trole da população, seu crescimento ocorrerá em proporções di-
ferentes se compararmos com os recursos necessários a subsis-
tência humana. Sendo assim, estas proporções – o crescimento
populacional e o crescimento dos recursos alimentícios – deve-
riam ser mantidas em uma escala uniforme, com a necessidade
de um monitoramento da população para que a problemática
quanto a subsistência seja resolvida (GALVÊAS, 1996, p.4-5).
Seu objetivo era expor basicamente que a sociedade contém o
extinto de crescer em uma velocidade não compatível com o
crescimento das matérias-primas essenciais a subsistência hu-
mana, fazendo com que o seu desenvolvimento fosse uma utopia
a sociedade, ou seja, um sonho inalcançável (CORRÊA; AL-
VES; JANNUZZI, 2006, p.30).
Durante o século XIX, o livro A Era das Revoluções de
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Eric Hobsbawm, expressou o grau de influência desses pensa-


mentos que foram mencionados, demonstrando que os princí-
pios relacionados a economia política inglesa, por exemplo,
junto as estatísticas da época, foram o fundamento para que o
Estado e a burguesia considerassem que os problemas sociais se
relacionavam ao aumento da população pobre no país (HOBS-
BAWM, 1986, p.185-186).
Para solucionar uma situação como está, seria necessário
então a implantação de políticas sociais à esta parcela da popu-
lação, com a intenção de reduzir a sua procriação. Em vista
disso, criou-se a Lei dos Pobres em 1834, que dentre outras dis-
posições, destaca-se a exigência do Estado à população sobre ao
seu ingresso nas “workhouses”. Neste ambiente, além dos indi-
víduos prestarem sua mão de obra, nele o controle de natalidade
poderia ser aplicado mais facilmente, ao passo que os trabalha-
dores deveriam residir e trabalhar nessas casas, evitando assim
o contato com seus cônjuges e consequentemente a sua reprodu-
ção (HOBSBAWM, 1986, p.185-186).
Na metade do século XIX, outra definição de controle
surgiu com o neomalthusianismo, nesta vertente as formas de
controle passaram a ser relacionadas com com um controle de
natalidade baseado em uma promoção de contraceptivos. Betsy
Hartmann realizou algumas considerações na Revista Internaci-
onal de Ciências da Saúde sobre, e explicou que o crescimento
populacional tinha uma associação com a pobreza, sendo que,
para corrigir essa situação, deveria se utilizar da contracepção
para que se evitasse a reprodução desta porcentagem da popula-
ção (HARTMANN, 1997, p.525).
De forma diversa daqueles com pensamentos antipopu-
lacionais, não se pode afirmar que todos os estudiosos dessa área
trazem sugestões referentes a um controle de natalidade, a partir
disso, consolidou-se na história alguns pensamentos otimistas de
diversos demógrafos. Um exemplo são as primeiras abordagens
da “transição demográfica”, que surgiu devido as quedas das
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taxas de mortalidade e natalidade nos países desenvolvidos no


período do século XIX e XX. Neste momento da história, visu-
alizava uma relação mútua entre a população e o desenvolvi-
mento, onde este segundo, seria o responsável em equilibrar as
taxas de mortalidade e natalidade, fazendo com que mudanças
surgissem para auxiliar o crescimento econômico, ou seja, a su-
gestão em relação ao controle nesta visão é que o próprio desen-
volvimento econômico seria o suficiente para alterar as taxas que
o Estado estava almejando (CORRÊA; ALVES; JANNUZZI,
2006, p.30).
Ocorre que, os países subdesenvolvidos receberam ajuda
dos países industrializados após a Segunda Guerra Mundial com
as importações de tecnologias médicas, as quais possibilitaram
uma redução na taxa de mortalidade – em especial na mortali-
dade infantil – mesmo sem existir um desenvolvimento econô-
mico de fato nesses países. Devido a isso, na segunda metade do
século XX, estes países e, principalmente, aqueles que tinham a
predominância de mão de obra agrária e rural, se renderam ao
crescimento demográfico com altas taxas de mortalidade e fe-
cundidade. (CORRÊA; ALVES; JANNUZZI, 2006, p.31).
Nos estudos de Hartmann, evidenciou-se um momento
na história referente a ativista Margaret Sanger que em 1921 fun-
dou a chamada American Birth Control League, em New York,
nos Estados Unidos da América, organização esta que promoveu
o controle de natalidade em clínicas, defendendo a esterilização
de inaptos, como por exemplo os insanos, débeis mentais e pes-
soas de baixa renda, buscando sempre um suposto progresso
aparente na sociedade sem esta parcela da população. Esta orga-
nização teve maior destaque durante o período pós-segunda
guerra mundial, devido à explosão populacional, motivo que le-
vou a fundação em 1948 em conjunto com Sociedade Americana
de Eugenia a chamada International Planned Parenthood Fede-
ration (IPPF). Esta tinha um objetivo ligado a princípios eugê-
nicos, ou seja, buscava-se a seleção da genética da população
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através da contenção da parcela populacional considerada infe-


rior, surgindo assim, o modelo de família estadunidense (HART-
MANN, 1997, p.525-530).
Por intermédio dessas considerações, diversas estatísti-
cas entre os anos de 1950 e 1960 foram consideradas o ápice do
crescimento demográfico. Dentro deste cenário encontra-se uma
grande fundamentação ao neomalthusianismo, pois, os demó-
grafos defensores do controle populacional se utilizaram dessa
situação para demonstrar a necessidade de políticas que tivessem
o objetivo de reduzir a fecundidade, sendo utilizado até mesmo
a coerção se necessário (CORRÊA; ALVES; JANNUZZI, 2006,
p.31).
Nessa toada, iniciou-se as primeiras conferências mundi-
ais de “População e Desenvolvimento” pela Organização das
Nações Unidas (ONU) com apoio da União Internacional para o
Estudo Científico da População (IUSSP), chegando as primeiras
definições dos conceitos de direitos a saúde sexual e reprodutiva,
bem como sobre maneiras que impedissem a fecundação. Essas
conferências, totalizadas em cinco, ocorreram nos seguintes lo-
cais: Roma, em 1954; Belgrado, em 1965; Bucareste, em 1974;
México, em 1984; e Cairo, em 1994 (CORRÊA; ALVES;
JANNUZZI, 2006, p.32).
Ao momento das conferências, visualizou-se a adoção
dos países capitalistas desenvolvidos as teorias neomalthusia-
nas, uma vez que, consideravam que o crescimento populacional
estancaria o desenvolvimento econômico. Assim sendo, vale
ressaltar algumas destas conferências, como a do ano de 1965
em Belgrado, onde os países não desenvolvidos em especial, se
dividiam tanto para o controlismo3 ou natalismo4, bem como

3
Pensamentos, discursos, e políticas públicas podem ser controlistas quanto a um
controle de natalidade, no sentido de serem a favor a redução do ritmo do crescimento
populacional (ALVES, 2006, p.12).
4
Se refere a pensamentos, discursos e políticas públicas que são a favor de um expan-
sionismo populacional ao invés de controlar o ritmo do crescimento populacional
(ALVES, 2006, p.12).
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para a consideração de que a população era um elemento neutro


para o desenvolvimento. No entanto, estes países na conferência
de 1974 em Bucareste, manifestaram que o crescimento seria
uma forma de “afirmação nacional”, pendendo para o estímulo
a natalidade (CORRÊA; ALVES; JANNUZZI, 2006, p.32).
Com todas estas discussões, durante a Conferência Mun-
dial sobre o Meio Ambiente o Estado brasileiro em 1992, houve
uma grande pressão principalmente por diversas potências mun-
diais para que o Brasil se utilizasse das políticas controlistas,
tendo em vista haver um tamanho desejo nos recursos do país,
deveria cuidar tanto do seu meio ambiente quanto do cresci-
mento da população, que tendia a crescer de forma desenfreada
(STEPHAN-SOUZA, 1995, p.409). Na história brasileira, nota-
se que há indícios das políticas de controle de natalidade durante
o período colonial à república, entretanto, especialmente durante
o segundo período mencionado, as políticas pró-natalistas se
destacaram com o surgimento dos salários-família e auxílios na-
talidade (COSTA et al., 2013, p. 77).
Cabe ainda dizer, os direitos acima mencionados, após o
surgimento da Guerra Fria, novas conferências surgiram ao re-
dor do mundo, os quais, a partir da Declaração Universal da
ONU de 1948, passaram a ser classificados como direitos de na-
tureza universal, indivisível, interdependente e inter-relacionada
(CORRÊA; ALVES; JANNUZZI, 2006, p.40 e 46).
Após esta breve contextualização histórica, adentra-se no
aprofundamento das teorias de controle demográfico encontra-
das, quais sejam: i) Teoria Malthusiana; ii) Teoria Neomalthusi-
ana; iii) Teoria marxista; iv) Teoria da transição demográfica.

I) TEORIA MALTHUSIANA

Como relatado anteriormente, o mundo se desenvolveu


em alguns períodos históricos de uma maneira muito rápida,
desse modo, na Grã-Bretanha em 1750, quando se iniciava a
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Revolução Industrial, possuía mais de 5 milhões de pessoas.


Neste contexto, o pesquisador Thomas Robert Malthus em 1798
lançou uma teoria chamada “Teoria sobre o Crescimento Popu-
lacional”, que consistia basicamente em ideias populacionais re-
ducionistas (controlistas), ao passo que observou uma despro-
porção no crescimento populacional em comparação ao cresci-
mento de alimentos e matérias primas (FONTANA et al., 2015,
p. 115).
Isto posto, o progresso dessa nova ciência encantou di-
versos pesquisadores, os quais se dividiram entre populacionis-
tas e antipopulacionistas durante esta época. De modo que, no
mesmo ano supramencionado, Malthus lançou a primeira edição
chamada “Ensaio sobre o Princípio da População”, para de-
monstrar seus conhecimentos e disseminar ao mundo essa teoria
populacional controlista (BANDEIRA, 1996, p. 8).
Basicamente, Malthus entendia que o mundo dependia
exclusivamente de comportamentos individuais para um indiví-
duo se manter vivo. Observou então, que seria necessário apenas
um “controle moral” para controlar a desproporção entre cresci-
mento populacional e de alimentos, o qual os casais deveriam se
autorregular, na esfera da sua própria reprodução e vida sexual,
como também, deveriam aplicar em suas vidas os casamentos
tardios para evitar uma taxa de natalidade excessiva. Entretanto,
dois argumentos fortes de Malthus para tornar esse pensamento
viável tiveram fundamentação no princípio da população e sua
posição estigmatizadora de controle sobre os pequenos grupos
sociais (BANDEIRA, 1996, p. 9 e 10).
Essa exclusão, que em suma permitia que aqueles consi-
derados sem recursos não teriam o direito à vida e nem mesmo
de reprodução, foi atualizada pelo pesquisador, achando assim
mais oportuno retirar esse fundamento das próximas edições de
seus livros, porém continuou ressaltando a cada edição o princí-
pio da população (BANDEIRA, 1996, p. 11). Este termo por sua
vez consistia em uma relação de condição de progressão
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aritmética e geométrica, ou seja, ritmo de crescimento de recur-


sos comparado com o ritmo de crescimento populacional (FON-
TANA et al., 2015, p. 115 e 116).
Segundo Fontana et al (2015, p.116), a Teoria Malthusi-
ana foi defendida por diversos pesquisadores, mas no entanto,
apresenta uma falha, tendo em vista que houve previsão de que
o mundo duplicaria a quantidade de indivíduos em um prazo de
25 anos se estes não limitassem a reprodução. Até porque, per-
cebe-se que ao longo do tempo um grande avanço social se ini-
ciou, qual seja, a agricultura empírica, cuja proporcionou aos
agricultores algumas práticas que trouxeram um aumento signi-
ficativo na produção de alimentos, por exemplo. Com este
exemplo, pode-se observar que que existe um avanço tecnoló-
gico sobre a produção alimentícia, outro exemplo, é a possibili-
dade de produção de subsistências em locais menores, que
ocorre devido a grande extensão da área urbana. Além do mais,
verifica-se então que a ciência e a tecnologia acabam por trazer
mais um desafio para aplicação desta teoria (MAIRESSE, 2006,
n.p.).
Assim, baseando-se em dados demográficos e científicos
mencionados acima, não houve concretização das previsões. No
entanto, de acordo com o que foi exposto, esta é uma teoria po-
pulacional controlista, que utilizava do controle a moral do ho-
mem, do casamento tardio e abstinência sexual ao invés de
meios contraceptivos.

II) TEORIA NEOMALTHUSIANA

Retoma-se nesta teoria o que mencionou-se na primeira


Teoria Populacional proveniente do “Ensaio sobre o Princípio
da População” de Thomas Malthus que prega a incompatibili-
dade entre o ritmo de crescimento de reprodução humana e os
meios de sobrevivência destes, de tal modo que devido a não
introdução de controle neste fator biológico estaria presente os
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fatores já relatados quanto ao crescimento geográfico e aritmé-


tico. A partir desses fatores, com o passar dos anos o crescimento
foi encoberto devido existência de causas ditas como repressivas
e preventivas (MENDONÇA, 2014, p.360).
Segundo Marina Gusmão de Mendonça (2014, p. 360),
as causas repressivas consistiam nas epidemias e nas doenças
causadas pela fome por exemplo, tendo em vista que tais causas
levam a mortalidade em massa em algumas situações, dimi-
nuindo assim uma porcentagem populacional. Por outro lado, as
causas preventivas seriam o controle de natalidade de forma vo-
luntária, onde o homem escolheria se relacionar apenas se ti-
vesse condições mínimas de sustentação para constituir uma fa-
mília, devendo assim recorrer ao celibato, por exemplo, que se-
ria a condição de pessoa permanecer solteira ou até mesmo re-
correr a castidade se observarmos os fatos se voltados sobre
Malthusianismo.
Considerando a procriação uma escolha pessoal do casal
relacionada a situação econômica e social destes, se diz que a
superpopulação apenas é um fator existente devido a uma con-
dição desproporcional, em que a riqueza que é distribuída glo-
balmente, acabam trazendo como consequência a miséria e a
fome mundial, resultados que seriam causados pelo próprio ho-
mem. Ocorre que, esta teoria tinha o interesse de influenciar de
forma mais excessiva a classe operária, ou seja, o proletariado,
de tal modo que para atingir este interesse, farmacêuticos men-
tores desta tese distribuíam à sociedade propagandas e métodos
contraceptivos caseiros em jornais e revistas por entenderem que
esses tipos de método seriam mais eficaz do que somente um
controle moral (CABELEIRA, 2013, p.82 - 86).
O neomalthusianismo foi um movimento tido como uma
intervenção social nas vidas familiares, sendo que, posterior-
mente esta teoria inclusive passou de fato a ser reconhecida
como controle de natalidade, onde Margaret Sanger foi a princi-
pal impulsionadora (CABELEIRA, 2013, p.89), a qual defendia
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a implantação de meios de contenção da reprodução de uma


forma invasiva, se utilizando por exemplo da esterilização em
inaptos, como os doentes mentais e os mais humildes. O motivo
disso, como mencionado acima na parte histórica, era porque ba-
sicamente o objetivo era fazer uma seleção na população para
que estes indivíduos considerados inferiores, não se reproduzis-
sem (HARTMANN, 1997, p.525-530).
À vista disso, o neomalthusianismo aparenta ser uma te-
oria populacional com sugestões mais invasivas do que a teoria
malthusiana, que apenas pregava em suma, uma autorregulação
do homem, ao contrário desta, que defende a aplicação de meios
invasivos e que contém uma promoção de métodos contracepti-
vos de forma excessiva sobre determinados grupos da popula-
ção, os quais, segundo Margaret Sanger, eram seres inferiores
que não deveriam se reproduzir.

III) TEORIA MARXISTA

Os defensores desta teoria demográfica são conhecidos


como reformistas ou marxistas e apresentam um pensamento
contrário àqueles seguidores do Malthusianismo e Neomalthusi-
anismo. Estudada por Karl Marx, seu fundamento é que o cres-
cimento populacional não faz referência a nenhum crescimento
de ritmo geográfico, ou seja, o homem não estaria ligado a uma
relação social ou a um extinto natural histórico de reprodução,
mas sim a uma submissão a uma lei abstrata ligada a metafísica
(VIANA, 2006, p.91).
Contrário de Malthus que entende existir um fator ex-
terno para impedir o problema da produção dos meios de subsis-
tência, Marx rebate este crescimento aritmético, dizendo que
todo esse debate estaria ligado ao capitalismo. O motivo disso,
é que a dinâmica populacional na realidade seria alterada pela
força de trabalho, a partir de uma produtividade crescente pela
própria população. Devido a isso, a população considerada
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excedente era tida como um exército industrial capaz de estrutu-


rar cada vez mais o capitalismo (VIANA, 2006, p.93 -96).
No mais, esta superpopulação existiria em decorrência
dos países subdesenvolvidos, os quais, Marx ao analisá-los seria
a origem do crescimento demográfico excessivo, onde os res-
ponsáveis por esta situação seriam os países desenvolvidos
quando exploraram aqueles de forma extrema, trazendo assim, a
pobreza e a fome. A partir disso, considerou que a reforma seria
uma alteração socioeconômica a esses países com dificuldades,
onde a consequência seria a diminuição de reprodução com a
melhoria das condições de vida, ao momento que ao comparar
as classes econômicas existentes, nota-se a diferença da repro-
dução das famílias quando estas contém uma condição econô-
mica favorável (FONTANA et al., 2015, p. 118).
A sugestão da teoria marxista quanto a um controle de
natalidade não se refere a aplicação de meios contraceptivos ou
autorregulação como as duas teorias estudadas anteriormente.
No entanto, os valores dos estudos de Marx são bem mais com-
plexos do que a aplicação dessas sugestões, entendeu-se que na
realidade, sua perspectiva era que para resolver este crescimento
excessivo que trazia como consequência a miséria e a fome, um
novo modelo socioeconômico deveria ser implantado, pois, sub-
tende-se que para Marx, a problemática seria o sistema capita-
lista, ao momento que nele, a distribuição de renda era despro-
porcional. A partir disso, verifica-se que sob a sua visão, ao
adaptar o sistema econômico, o resultado seria a melhoria da
condição de vida dos indivíduos, e, com isso, as famílias decidi-
riam naturalmente sobre ter ou não filhos, o que acabaria influ-
enciando na taxa de natalidade.

IV) TEORIA DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

No ano de 1929 o teórico Warren Thompson, fundamen-


tou a primeira ideia sobre a transição demográfica. Para ele
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deveria existir equilíbrio entre o crescimento e os meios essen-


ciais a vida, trazendo duas situações novas em relação a Malthus:
a classificação da população em diferentes estados e a utilização
da natalidade e a mortalidade para diferenciar estes estados
(BANDEIRA, 1996, p.12).
Esses estados eram divididos em três fases: a primeira
quando a taxa de mortalidade abrange uma queda simbólica e
consequentemente a taxa de natalidade cresceria e a sociedade
se desenvolveria cada vez mais rápido; a segunda fase estaria
classificada quando ocorresse o contrário, ou seja, a taxa de na-
talidade diminui e em conjunto seu crescimento populacional; a
terceira se realizaria quando os dois índices alcançassem pata-
mares iguais, tendo como resultado, o crescimento populacional
lento (ALVES, 2002, p.28).
Logo após, em 1945, Frank Wallace Notestein confir-
mou esta teoria a partir da análise de três padrões existentes no
crescimento, chamados de “estádios de desenvolvimento da po-
pulação”, sendo estes high growth potential, transicional
growth e incipiente decline: o primeiro é quando uma determi-
nada sociedade não iniciou de fato um crescimento transacional,
existindo um controle da mortalidade e da fecundidade; o se-
gundo padrão poderia ser considerado como uma “explosão”,
pois, há um grande crescimento populacional e as taxas de mor-
talidade e fecundação devem estar equilibradas para poder atin-
gir esse crescimento; no último a sua evolução teria seus índices
de crescimento menores e a idade da população se tornaria mais
avançada, devendo a fecundidade ser estimulada para evitar pro-
blemáticas futuras voltadas ao envelhecimento dos indivíduos 5
(ALVES, 2002, p.28 e 29).
Portanto, a teoria da transição demográfica poderia ser
compreendida como uma transição histórica, que é basicamente
impossível de se evitar a passagem pelas situações existentes

5
Exemplos de países que sofrem com os índices de crescimento: Rússia, Itália, França
e Suécia (BBC NEWS, 2020, n.p.).
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decorrentes do crescimento populacional. Assim, em seu teor se


destaca a relação entre as taxas de mortalidade e fecundidade,
como também as transições até alcançar a diminuição da fecun-
didade, bem como, a maior porcentagem na taxa de envelheci-
mento (RIGOTTI, 2012, p. 469).
Dessa forma, consolida-se a compreensão das teorias de
controle populacional e o seu desenvolvimento científico.

3. CONTROLE DE NATALIDADE E POLÍTICAS POPULA-


CIONAIS

Atualmente a ideia de controle populacional se desenvol-


veu enquanto política pública em diversos países, contrariando
perspectivas leigas de que as teorias anteriormente aprofundadas
teriam sido enterradas no passado. Para a compreensão do con-
trole de natalidade e políticas populacionais, subdividiu-se a pre-
sente pesquisa em: teoria sobre políticas populacionais e a clas-
sificação das políticas populacionais.
Segundo José Eustáquio Diniz Alves (2006, p. 8) em seu
estudo acerca das políticas populacionais, alguns conceitos são
muito importantes para a definição do controle de natalidade.
Primeiramente, segundo Benedicto Silva, no Dicionário de Ci-
ências Sociais (1985, p. 923) define que na maioria das vezes a
política populacional é o conjunto de medidas que contém o in-
tuito de alterar o estado pela qual a população se encontra de
acordo com determinados interesses sociais. Sendo que essa al-
teração na matéria da população, poderá se referir a mudança do
seu volume e no seu ritmo de crescimento, podendo ser positivo
ou negativo, relacionando ainda a sua distribuição e quantidade
em um território em específico. Se relaciona ainda a sua estrutu-
ração qualitativa e quantitativa em atividades específicas. En-
quanto aos interesses sociais seria a possibilidade em fazer a
maior participação possível de grupos sociais majoritários nos
benefícios relacionados ao desenvolvimento econômico e social.
_1160________RJLB, Ano 7 (2021), nº 3

Desse modo, entende-se que uma política populacional


se refere a medidas adotadas pelo Estado com o interesse de al-
terar sua natureza quantitativa e até mesmo qualitativa da popu-
lação de maneira negativa ou positiva. Considerando o conceito
acima, observa-se que o pensamento controlista nesse conceito
seria visto como uma contenção sobre a população acerca da sua
reprodução, devido ao seu ritmo acelerado nas taxas demográfi-
cas, que são capazes de interferir nos interesses sociais e no de-
senvolvimento econômico, sendo necessário a adoção de deter-
minadas ações estatais conhecidas como políticas populacionais.
Com estas primeiras considerações o Novíssimo Dicio-
nário de Economia (SANDRONI, 1999, p.478) traz outro con-
ceito quanto a política populacional, qual seja, que seria um con-
junto de procedimentos e ações que tem por objetivo alterar ele-
mentos da dinâmica populacional, sendo estas, as taxas de nata-
lidade, mortalidade e migração. O seu objetivo em suma, foca-
liza no tamanho da população, bem como em sua distribuição
etária e geográfica, buscando integrar estes nos objetivos pesso-
ais dos países para seu desenvolvimento. Segundo o mesmo di-
cionário esta política na maioria das vezes está ligada controle
da natalidade, em relação a questão do crescimento demográfico
acelerado em algumas regiões, em especial as regiões subdesen-
volvidas. Ressalta-se ainda que no Brasil, não existe uma polí-
tica populacional explícita, mesmo com a existência de projetos
pró-natalista como o salário-família, por exemplo.
Ao analisar o conceito acima citado, percebe-se nova-
mente que a natureza da política populacional tem como princi-
pal objetivo alterar a chamada dinâmica populacional, até
mesmo nas taxas de migração, item não mencionado no primeiro
conceito. Analisa-se ainda, a menção de que as políticas popula-
cionais na maioria das vezes fazem menção ao controle, devido
ao tamanho da população e seu desenvolvimento desenfreado na
reprodução, situação esta presente nos países subdesenvolvidos.
Verifica-se assim, frente a estes conceitos de política
RJLB, Ano 7 (2021), nº 3________1161_

populacional, de que não há uma referência direta ao controle de


natalidade, tendo em vista a diferença nas suas naturezas. A par-
tir disso, considera-se que esses dois fenômenos não são sinôni-
mos, haja vista que no primeiro é realizado uma comparação en-
tre taxas, estas sendo de natalidade, mortalidade e fecundidade,
enquanto o controle de natalidade segundo as considerações de
Alves, seria um “um direito do ponto de vista individual, que se
torna uma forma coercitiva de planejamento familiar se for ado-
tado como exigência do Estado.” (2006. p.07).
Resumidamente, o que pode-se extrair então de forma
geral desses conceitos mencionados, é que o controle de natali-
dade seria simplesmente o modo pelo qual se equilibraria essas
taxas, por meio de políticas públicas a partir de uma redução ou
aumento na taxa de natalidade. A partir disso, Marcos Jungmann
Bhering (2014, p.25-35) informa em seus estudos que Mathew
Connley, considera o controle de natalidade uma “necessidade
de se controlar as populações”, bem como que ao analisar a his-
tória, as tecnologias reprodutivas, são especialmente para esse
fim.
No mais, Luiz Carlos Bresser Pereira (1978, p.45) in-
forma que o controle populacional ou de natalidade seria “uma
intervenção impositiva do Estado” diferente do planejamento fa-
miliar, que muitas vezes podem ser confundidos, este último não
seria uma imposição e sim um sistema de orientação garantido
as famílias para que livremente e conscientemente decidam
acerca das suas estruturas familiares. Além disso, esclarece
ainda que, o controlismo engloba questões ideológicas como re-
ligiosa, sexual, econômica, ecológica e de poder.
Outra perspectiva é de Costa et al (2006, p. 376), que
considera que o controle da reprodução esta redirecionado ao
corpo da mulher ao verificar fatos históricos. Nesse sentido, se-
ria um modo de controle social e até mesmo importante no que
condiz à reordenação de classes sociais e às diversidades de ra-
ças, visto a existência de desigualdade de gênero e classe.
_1162________RJLB, Ano 7 (2021), nº 3

Considerando as referências teóricas apresentadas, é pos-


sível constatar que o controle de natalidade abrange uma deter-
minada generalidade, devido a sua relação com a política popu-
lacional e ao planejamento familiar, os quais não são considera-
dos sinônimos. Desse modo, com a existência dessa relação en-
tre esses conceitos, pode-se dizer que a definição do controle de
natalidade é parte de uma política estatal particular de um país,
de acordo com as necessidades de um determinado Estado. Este
por sua vez, a partir de ações coercitivas implícitas ou não, in-
terferirão no direito do livre planejamento familiar, tendo assim,
a intenção e necessidade de controlar o índices demográficos de
uma sociedade em específico, influenciando ainda por alguns fa-
tores marcantes, como a classe social, a raça e a cor dos indiví-
duos e seu gênero, bem como as metas dos países quanto a ques-
tões econômicas e desenvolvimento.
Prossegue-se neste momento do estudo com as conside-
rações de José Eustáquio Diniz Alves, pesquisador mencionado
no início do capítulo, que por sua vez, traz um conceito mais
detalhado sobre políticas populacionais, que será destrinchado
ao longo do capítulo. O objetivo de realizar esse estudo mais
aprofundado se tem pelo intuito de compreender melhor como
as teorias populacionais agem na prática de acordo com o que
foi entendido com as conceituações realizada anteriormente,
como também com o que se conseguiu compreender de acordo
com o parágrafo supramencionado.
Assim, as políticas populacionais podem ser definidas
como ações do Estado de cunho proativo ou reativo, realizadas
através de instituições tanto públicas ou privadas que tendem a
alterar as questões referentes a forma cuja a população é de fato.
A estrutura da população cientificamente falando é conhecida
como dinâmica populacional que contém a função de verificar a
mortalidade, natalidade e migrações nacionais ou internacionais.
As políticas distribuem melhor a população de modo espacial e
suas ações podem ser classificadas em: intencionais ou não-
RJLB, Ano 7 (2021), nº 3________1163_

intencionais; explícitas ou implícitas; democráticas ou autoritá-


rias, podendo ainda, serem consideradas a um nível macro-ins-
titucional ou micro-institucional. Suas ações são preventivas ao
bem público, e abrangem objetivos como melhorar as condições
de procura de trabalho, educação de qualidade e melhores pro-
gramas de saúde (ALVES, 2006, p.8-9).
Desse modo, a partir do momento que se observa a exis-
tência de diversas formas em que a dinâmica populacional pode
transparecer, deve-se realizar algumas considerações quanto as
suas classificações para a compreensão do controle de natali-
dade, desta forma subdivide-se a análise em: i. Políticas popula-
cionais e sua dinâmica geográfica; ii. Políticas populacionais e
seu ritmo de crescimento; iii. Políticas populacionais e seu nível
de aplicação; iv. Políticas populacionais públicas e privadas; v.
Políticas populacionais explícitas e implícitas; vi. Políticas po-
pulacionais intencionais e não-intencionais; vii. Políticas popu-
lacionais proativas ou reativas; viii. Modelos de políticas popu-
lacionais (ALVES, 2006, p.9-10).

I. POLÍTICAS POPULACIONAIS E SUA DINÂMICA GEO-


GRÁFICA

A princípio, verifica-se as políticas públicas ou privadas


que objetivam reduzir a mortalidade, como exemplo prático será
analisada a mortalidade infantil sob o âmbito das políticas públi-
cas brasileiras. A partir disso, é interessante expor, que a morta-
lidade infantil é um dos principais problemas sociais existentes,
tendo em vista a vulnerabilidade dos envolvidos, em especial,
àqueles menores de um ano de idade. Destaca-se que a taxa de
mortalidade infantil é medida pelo coeficiente de mortalidade
infantil (CMI) e é bastante utilizada para classificação dos índi-
ces das condições de vida, saúde e desenvolvimento de um país
(DUARTE, 2007, p.1511).
Por este motivo, com o desenvolvimento na área de
_1164________RJLB, Ano 7 (2021), nº 3

saúde, benefícios sociais e com a existência de novas tecnolo-


gias, bem como a redução de fecundidade, há a consequente di-
minuição do índice do CMI. Exemplo dessa situação, é quando
se analisa detidamente os índices do continente americano na
década de 1950, em que sua média era de 90,34 óbitos a cada
1.000 nascidos vivos, enquanto na década de 1990 a média de
óbitos diminuiu para 31,31 a cada 1.000 nascidos vivos. Fato
semelhante ocorreu também no Brasil, tendo em vista que, na
década de 1970, o CMI era equiparado aos países da África e da
Ásia, conseguindo ultrapassar uma média de 90 óbitos por 1.000
nascidos vivos (MOREIRA, 2012, 48-49). De acordo com esse
fato, encontrou-se um comparativo realizado pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC, 2016, n.p.) quanto a mortali-
dade infantil entre o ano de 2003 e o ano de 2013, conforme
figura 1 e figura 2, veja-se:
FIGURA 1 -Taxa de mortalidade infantil, neonatal e pós-neonatal (por 1.000 nascidos
vivos), Brasil, São Paulo e Goiás, 2003.

Fonte: UFSC, 2016, s.p.


RJLB, Ano 7 (2021), nº 3________1165_

FIGURA 2 -Taxa de mortalidade infantil, neonatal e pós-neonatal (por 1.000 nascidos


vivos), Brasil, São Paulo e Goiás, 2013.

Fonte: UFSC, 2016.


De acordo com os dados acima expostos, nota-se uma
considerável alteração da taxa de mortalidade infantil brasileira
e nos estados utilizados como paradigma, dados estes que foram
possíveis somente através das intervenções e estratégias realiza-
das por estas políticas. Além desta demonstração de como as po-
líticas podem intervir de maneira benéfica na população, pode-
se expor alguns exemplos que auxiliaram essa alteração signifi-
cativa (MOREIRA, 2012, p.50):
i. Em 1970 ocorreu a primeira tentativa de diminuição de
mortalidade tanto infantil quanto materna pelo Programa Ma-
terno Infantil;
ii. Em 1981, o Programa Nacional de Incentivo ao Alei-
tamento Materno (PNIAM) trouxe o incentivo as mães a prati-
carem o aleitamento materno com o intuito em evitar o chamado
desmame precoce;
iii. Em 1984, o Ministério da Saúde criou o Programa de
Atenção Integral à Saúde da Criança (PAISC), para prevenir a
saúde das crianças de zero a cinco anos, bem como, as auxili-
ando em suas recuperações;
iv. Em 1988, houve criação do Sistema Único de Saúde;
v. Em 1990, entrou em vigor o Estatuto da Criança e do
_1166________RJLB, Ano 7 (2021), nº 3

Adolescente (ECA);
vi. Em 1996, existiu a Estratégia de Atenção Integrada às
Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), proposta por diversas
organizações como a Organização Mundial de Saúde (OMS); e
vii. Em 2000, houve discussão pela Organização das Na-
ções Unidas (ONU), a qual delimitou no total de oito objetivos,
um deles sendo a redução da mortalidade infantil.
Quanto a esse último exemplo, a partir de dados colhidos
do IBGE referente a este período de tempo em que foi delimitado
os oito objetivos para que houvesse diminuição da mortalidade
infantil, percebe-se que este índice no brasil teve uma grande
diminuição por 1.000 nascidos vivos quando analisamos o perí-
odo do ano de 2000 até 2015, conforme a figura 3 a seguir:
FIGURA 3 -Taxa de mortalidade infantil por 1.000 nascidos vivos Brasil 2000 a 2015-
Projeção da População do Brasil.

Fonte: IBGE, 2013


Considerando que as políticas públicas estabelecidas no
Brasil tiveram o intuito de evitar a mortalidade infantil, entende-
se, portanto, que a sua intervenção refletiu em diversas esferas,
RJLB, Ano 7 (2021), nº 3________1167_

como a sanitária, social, política e econômica. Sendo assim,


nota-se que houve ainda uma determinada atitude preventiva
para evitar os óbitos pelos programas e projetos leis, como tam-
bém, na proteção das crianças e da saúde materna.
Outra dinâmica demográfica é a relacionada a migração,
esta por sua vez é chamada de processo migratório, onde aqueles
residentes em áreas rurais, por exemplo, devido à crise econô-
mica existente no Brasil buscam novas perspectivas de trabalho
e vida em outros locais. A princípio, as regiões do Centro-Sul
foram as mais buscadas, logo, após diversas migrações para es-
sas localidades, novas rotas destas migrações surgiram ao Norte
e Centro-Oeste. Essa questão, é um dos principais motivos de
aumento das taxas de crescimento populacional, outro exemplo
sobre, seria a população de Roraima que aumentou 9,63% de-
vido a busca de trabalho na garimpagem (MORAIS, 2010, p.
10).
Ocorre que, este processo migratório também poderá ser
internacional, entretanto, os indivíduos interessados nesta mu-
dança de residência são chamados de imigrantes. Exemplo para
tanto é a criação de incentivos estatais por parte do Brasil após
o término da escravidão para que imigrantes europeus e japone-
ses buscassem pela residência no país (ALVES, 2006, p.11).
Quanto as políticas que buscam o crescimento da natali-
dade, nota-se a referência a teoria populacional da transição de-
mográfica, a qual, como mencionada em tópico anterior, as taxas
de demográficas se alteram de forma natural em uma sociedade
em específico, instigando assim, a aplicação de mudanças pelo
Estado para sua sobrevivência. Devido a isso, o resultado foi que
no brasil as taxas de natalidade apenas decaem (WONG; CAR-
VALHO, 2012, p.10).
Em consequência disso, em análise ao site do IBGE
(2020, n.p.), verifica-se que de 2010 até o final do ano de 2020,
aproximadamente 16, 865,01 milhões brasileiros serão integran-
tes a população, entretanto, junto a esta informação, observa-se
_1168________RJLB, Ano 7 (2021), nº 3

que as taxas negativas existiram em conjunto, tendo em vista que


aqueles indivíduos com idade abaixo de 25 anos irão diminuir
em uma quantidade aproximada de 5 milhões. A partir do
mesmo estudo, se extrai a informação de que as mulheres entre
15 a 35 anos, atualmente são as responsáveis por mais de 90%
dos nascimentos, da mesma forma, porém dentre o período de
2010-2050 essa taxa de nascimentos em nível negativo será ex-
trema (WONG; CARVALHO, 2012, p.10).
Todavia, embora essa transição pareça ser benéfica ini-
cialmente, o envelhecimento poderá estimular crescimento eco-
nômico devido grande quantidade de indivíduos de idade ativa,
porém, quanto maior a proporção, eventualmente essa questão
poderá gerar uma ameaça no que se refere ao envelhecimento
caso as políticas públicas não forem suficientemente adequadas
(WONG; CARVALHO, 2012, p.13).
Resta dizer que as políticas relacionadas a natalidade ten-
dem a se moldar com o interesse do governo, dessa forma, pode
ser uma política (explícita ou implícita) que objetiva o aumento
da natalidade ou até a redução desta taxa (ALVES, 2006, p. 11).
Por fim, a nupcialidade é outra dinâmica demográfica, no
entanto, ela se refere a quantidade de matrimônios, os quais aca-
bam interferindo na questão de natalidade, tendo em vista que, a
partir do momento que se analisa a existência de novos arranjos
familiares observa-se que há uma considerável diminuição desta
figura, exemplo prático é o casamento homoafetivo no que con-
cerne a capacidade reprodutiva (ALVES, 2006, p. 12).
Nesse sentido, verifica-se que há políticas de controle de
mortalidade, migratórias, natalidade e de nupcialidade, as quais
são parecidas no que se refere as suas finalidades. Primeira-
mente, ao momento que a taxa de mortalidade é controlada,
pode-se dizer a taxa de natalidade terá um índice favorável, onde
o país provavelmente estará no rumo do desenvolvimento eco-
nômico, social e político equilibrado, a partir dos resultados das
políticas populacionais.
RJLB, Ano 7 (2021), nº 3________1169_

Ocorre que, a quando a taxa de natalidade não se altera


positivamente ao longo dos anos, a taxa migratória auxilia no
que se refere a dificuldade do país de buscar uma taxa de natali-
dade equilibrada, visto que, pode ocorrer por exemplo que de-
terminado país esteja com os índices de envelhecimento altos.
Assim, ao estimular a migração, o desenvolvimento do país con-
sequentemente cresce, devido as ofertas de emprego, além da
intenção de aumento no índice através da reprodução e afins. Por
fim, a taxa de nupcialidade também seria basicamente uma taxa
auxiliar a taxa de natalidade, entretanto, possibilita observar os
interesses dos casais atuais quanto a formação de novos arranjos
familiares e consequentemente suas vidas reprodutivas.

II. POLÍTICAS POPULACIONAIS E SEU RITMO DE CRES-


CIMENTO

A política populacional poderá ainda ser natalista (ou ex-


pansionista), em resumo, seus objetivos eram contrários daque-
les que tendiam evitar a reprodução. Em 1896 na França, com a
criação de uma associação chamada de Aliança Nacional pelo
Crescimento da População Francesa, vários demógrafos como
Jacques Bertillon, fundador da aliança, junto a médicos e políti-
cos lutaram contra os movimentos da chamada “desnatalidade”
(MATOS, 2003, p.202-205).
A partir disso, se extrai um exemplo de política natalista,
onde estes defensores franceses para combater os ideais contro-
listas, construíram um programa que evoluiu para lei, que por
sua vez considerava como crime em 1920, ações que contraria-
vam a natalidade em que a maternidade era classificada como
um dever da mulher. Além disso, a referida lei trazia em seu teor
que em caso de descumprimento do dever de maternidade, de
forma simples, as mulheres eram perseguidas. Sendo proibidas
a utilizar métodos contraceptivos, as mulheres que tinham a in-
tenção de abortar e que abortavam, bem como aqueles que
_1170________RJLB, Ano 7 (2021), nº 3

faziam os procedimentos eram encarcerados (MATOS, 2003,


p.202-205).
Após essa corrente, os teóricos controlistas (ou reducio-
nistas) surgiram, os quais ao invés de objetivar o aumento da
população, tendiam controlá-la quanto a sua capacidade repro-
dutiva. Da mesma forma que as políticas natalistas contiveram
políticas públicas, as controlistas também tiveram aplicações na
vida da sociedade, das quais, destacam-se as campanhas nas dé-
cadas de 1950 e 1960 na América Latina. Como exemplo, pode-
mos citar o ocorrido no México, em 1974, em que a sua missão
era regular a população quanto ao seu volume, estrutura, dinâ-
mica e distribuição no território, surgindo assim, Conselho Na-
cional de População (CONAPO) (ALVES, 2006, p. 18).
Segundo a CONAPO (CONAPO, 2014, n.p.), o objetivo
do país através de uma política populacional controlista é auxi-
liar a sua população (os mexicanos) a uma busca justa e equita-
tiva quanto aos benefícios do desenvolvimento econômico so-
cial, através de um controle e regularização de fatos que afetam
a população em volume, estrutura, dinâmica e distribuição terri-
torial, como citado anteriormente.
Existe ainda, a chamada política populacional neutra,
esta seria aquela adotada por um país que não tem uma meta
populacional a se atingir nem mesmo leis sobre a demografia
expressas, e a partir do momento que isso não existe, essa não-
política é a utilizada. Exemplo é o Brasil, cujo não tem em seus
textos legais políticas referentes a demografia populacional seja
com um aspecto natalista ou controlista, assim, mesmo não ade-
rindo a uma política de forma expressa, esta atitude por si só já
seria classificada como uma (ALVES,2006, p.13).

III. POLÍTICAS POPULACIONAIS E SEU NÍVEL DE APLI-


CAÇÃO

Sua aplicação poderá ser a nível institucional, para


RJLB, Ano 7 (2021), nº 3________1171_

auxiliar as instituições públicas ou privadas, regulamentando o


sistema de ensino e os programas de saúde pública, por exemplo;
a nível familiar, que contém a intenção medir o tamanho da fa-
mília, tendo como ideal a seguinte frase: “a família pequena
vive melhor”; e por fim, políticas que atingem a população de
modo individual, essas, além de atingir o nível institucional e
familiar abrangem também a individualidade do indivíduo, in-
terferindo no número de filhos (ALVES, 2006, p.13).

IV. POLÍTICAS POPULACIONAIS PÚBLICAS E PRIVA-


DAS

As políticas públicas podem ser definidas com a frase


“Estado em ação”, de forma mais detalhada, seria quando o Es-
tado faz a implantação de um projeto criado pelo seu governo,
realizado através de programas e ações de acordo com o objetivo
do seu projeto (HOFLING, 2001, p.31). Exemplo de política pú-
blica segundo o Manual Técnico do Ministério da Saúde (2002,
p.7) é a criação em 1996 do projeto de lei regulamentador do
planejamento familiar que quando aprovado constou as garan-
tias as mulheres, homens e casais, quanto a assistência à concep-
ção e contracepção, através do Sistema Único de Saúde (SUS),
por exemplo.
Assim, pode-se dizer que políticas populacionais públi-
cas são aquelas em que as ações são totalmente relacionadas com
o Estado, no entanto, pode haver também intervenção do âmbito
privado dependendo da situação, visto que além do SUS que é
um sistema público de saúde que coloca em prática a política
pública do planejamento familiar existe outros meios para os ca-
sais conseguirem o mesmo auxílio, exemplo são clínicas priva-
das que prestam o mesmo serviço que o Estado. Desse modo,
entende-se que a possibilidade de realização do mesmo serviço
por empresas privadas, o que constitui então as políticas priva-
das, como por exemplo a Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar
_1172________RJLB, Ano 7 (2021), nº 3

no Brasil (BEMFAM). O que se tem a dizer sobre a BEMFAM,


é que em suma esta tendia a expor as vantagens de uma família
reduzida, como também as questões do uso dos anticonceptivos
modernos, todavia, tinha como apoiador o governo, ou seja,
mesmo que a política seja privada a intervenção do governo po-
derá ocorrer em determinados casos, porém a aplicação poderá
ser unicamente privada também (SILVA, 2000, p.3).

V. POLÍTICAS POPULACIONAIS EXPLÍCITAS E IMPLÍCI-


TAS

Enquanto as políticas explícitas estão presentes em do-


cumentos e discursos oficiais, a política implícita surge através
de decisões de política econômica, comercial e industrial (FUR-
TADO, 2004, p.1), que não se vislumbra em um papel, mas sim
em ações.
Dessa forma, as políticas populacionais explícitas ocor-
rem quando há documentos sobre, como exemplo é a lei citada
anteriormente referente ao país do México, que tem o intuito de
regular a população. Diferentemente das políticas populacionais
implícitas, exemplo seria a decisão liminar em 2017 onde Jana-
ína Aparecida Querino, moradora de rua na cidade de São
Paulo, passou pelo procedimento de esterilização, para impe-
dir sua reprodução (BRASIL, 2018, n.p.).

VI. POLÍTICAS POPULACIONAIS INTENCIONAIS E NÃO-


INTENCIONAIS

As políticas populacionais intencionais segundo Celina


Souza (2006, p.36) “são aquelas que contém objetivos a serem
alcançados", enquanto a política populacional não intencional
segundo Alves (2006, p.4) se refere a um resultado não esperado,
como por exemplo a consequência de uma diminuição das taxas
de fecundidade em virtude do investimento em educação sexual,
RJLB, Ano 7 (2021), nº 3________1173_

esta não era um objetivo, ao contrário da primeira política que


pode conter como meta a estabilidade das taxas de mortalidade.

VII. POLÍTICAS POPULACIONAIS PROATIVAS OU REA-


TIVAS

As políticas proativas agem com o objetivo de prevenir


algo, como a da redução da mortalidade a partir das campanhas
de vacinação e prevenção de doenças, enquanto as políticas rea-
tivas contêm a intenção de minorar os problemas já existentes.
Um exemplo de política reativa é o combate a uma doença que
já se espalhou como a epidemia da AIDS que contém o poder de
aumentar consideravelmente a taxa de mortalidade, no entanto,
a cura abrange um custo maior do que se fossem utilizadas poli-
ticas preventivas, ou seja, antes que o resultado tivesse aconte-
cido (ALVES, 2006, p.15).

VIII. MODELOS DE POLÍTICAS POPULACIONAIS

Existem dois modelos de políticas populacionais, o pri-


meiro é o modelo Sueco, que foi imposto de forma participativa
no ano de 1930, de acordo com as considerações de Carlos A. P
Faria (1997, p.75-91), as taxas de fecundidade na Suécia sofre-
ram extrema diminuição devido as Guerras Mundiais apesar de
toda a estrutura do welfare state. Posto isso, o Estado recorreu
as políticas populacionais ou as chamadas “políticas para a fa-
mília” devido a este declínio das taxas de natalidade. Entendidas
como políticas populacionais natalistas ou como políticas de
bem-estar, as medidas adotadas para a solução do problema fo-
ram por exemplo, a realização de empréstimos aos recém-casa-
dos, auxílios para construção, manutenção dos centros de saúde
para auxiliar as crianças e as gestantes, e por fim, alimentação
gratuita.
Com este objetivo, Alves (2006, p.16) explica que as
_1174________RJLB, Ano 7 (2021), nº 3

políticas distribuídas desta forma resultaram em uma melhora da


condição de vida dos cidadãos, sendo que devido a isso, estas
políticas com essas intenções passaram a se denominadas como
“pró-natalismo de esquerda”, não se utilizando de medidas co-
ercitivas e sim consensuais e democráticas, o que significa que
há contrariedade a pensamentos pró-natalistas autoritários da di-
reita nazi-fascista.
O outro modelo, é o modelo chinês da China, país que
por sua vez é considerado como o mais populoso do mundo. Em
resumo, este modelo teve origem junto com o início do Partido
Comunista, em 1949, além do mais, durante um período de
queda na taxa de mortalidade, as altas taxas de natalidade passa-
ram a ser frequentes, sendo interessante expor que o aborto e a
esterilização eram proibidos, o que resultou de forma rápida no
aumento na população. Devido a isso, em 1960, as políticas de
controle de natalidade começaram a ser utilizadas, permitindo o
livre aborto e as esterilizações, bem como inauguração de clíni-
cas para auxiliar as famílias no seu planejamento familiar (AL-
VES, 2006, p.15).
Em um breve período de tempo, a Revolução Cultural
em 1966 teve como resultado um “baby boom”, o qual, por volta
de 1970 teve origem da política “mais tarde, mais longe”, em
que os casais deveriam casar em uma idade avançada e o inter-
valo de nascimento entre os filhos deveriam ser maiores. No
entanto, após a morte de Mão Tse Tung a política populacional
“um casal, um filho” passou a ser adotada, nesta era exigido dos
casais um certificado do filho-único. Esta política estava pautada
em incentivar a população a utilizar os métodos contraceptivos,
realizar esterilização, aborto e a aplicar punições para aqueles
que violassem a lei. Dessa forma, a China foi o país que utilizou
o modelo controlista de modo mais coercitivo e autoritário,
sendo este o motivo de ter recebido o nome de modelo chinês
(ALVES, 2006, p.15).
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4. CONCLUSÃO

Posto que o objetivo geral é compreender a existência de


uma relação entre as teorias históricas e as políticas populacio-
nais, cabe-se dizer que se alcançou uma conclusão acerca desta
condição diante as situações práticas discriminadas ao decorrer
do tópico anterior.
O primeiro objetivo específico que foi uma análise da
história dessas teorias populacionais, o que possibilitou elencá-
las. Vista essa possibilidade alcançada e como expresso no tó-
pico em questão, as teorias podem ser mais invasivas como tam-
bém menos invasivas, sendo que na primeira modalidade, se
compreende que a mais agressiva seria a teoria neomalthusiana,
que se baseia em procedimentos invasivos e discriminatórios.
Sabendo que as teorias populacionais podem ser variá-
veis, na segunda parte do trabalho, percebeu-se que as teorias
tem mais proximidade do que imaginávamos sobre as políticas
populacionais, ao passo que, na realidade estes estudos realiza-
dos, são nada mais que sugestões aos Estados quanto as suas ati-
tudes frente aos resultados da sua demografia.
Entendeu-se assim, que estas sugestões quando direcio-
nadas especificadamente a necessidades específicas do Estado
de direito é que se nota a relação entre as teorias e políticas po-
pulacionais. O motivo é simples, a política pública ao atender a
sugestão de controle de natalidade, por exemplo, trazida pela te-
oria neomalthusiana, ela acaba por ser específica para acatar as
necessidades populacionais, tornando-se assim, uma política po-
pulacional.
Além de existir essa relação, ao decorrer da pesquisa em
busca de entender esta relação, discriminou-se a conceituação de
políticas populacionais. A partir dessa discriminação, buscou-se
também efetuar uma relação entre a parte teórica com casos prá-
ticos e exemplos.
Por fim, através desses exemplos trazidos, esclarece-se
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ainda mais o alcance ao objetivo geral da pesquisa, tendo em


vista que se há casos práticos de políticas populacionais, signi-
fica que o Estado adotante acatou as sugestões das teorias popu-
lacionais construídas ao longo da história.

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