Educação Infantil: Caderno de Orientações Pedagógicas de Rondônia
Educação Infantil: Caderno de Orientações Pedagógicas de Rondônia
Educação Infantil: Caderno de Orientações Pedagógicas de Rondônia
Caderno de Orientações
Pedagógicas de Rondônia
Rondônia/2020
EDUCAÇÃO INFANTIL
Caderno de Orientações
Pedagógicas de Rondônia
Regime de Colaboração:
FICHA TÉCNICA
REALIZAÇÃO:
GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA
UNIÃO DOS DIRIGENTES MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO – UNDIME/RO
3
AUTORAS
REVISORA
ORGANIZAÇÃO
ARTICULADORA UNDIME/RO
Terezinha Ferreira da Silva – Secretária Executiva da UNDIME/RO
4
Carta
Educação Infantil
Atividades permanentes 26
A criança e a investigação 28
O espaço externo 83
Recomendações 151
Agradecimentos 152
Referências 154
Apresentação
Professores e Professoras,
Este Caderno de Orientações Pedagógicas foi elaborado com o propósito de ampliar e apoiá-los na
ressignificação e reinvenção das práticas pedagógicas destinadas aos bebês, crianças bem pequenas e crianças
pequenas, compreendidas na faixa etária de 0 a 5 anos e 11 meses de idade, público da Educação Infantil.
As propostas aqui registradas orientam-se pela consideração à consolidação das concepções e princípios
estabelecidos nos principais documentos normativos da Educação Infantil: Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil – DCNEI (2009), Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2017) e Referencial Curricular de
Rondônia – RCRO (2018).
Propomos uma viagem, por meio deste caderno, que o leve a refletir sobre as concepções que devem permear
todas as práticas pedagógicas na Educação Infantil, considerando a criança como centro do processo educativo,
compreendendo-a como sujeito potente, competente, capaz de criar e recriar conhecimentos, culturas e transformar o
mundo, dando-lhe e compreendendo-lhe os sentidos, crescendo e descobrindo por meio das interações e brincadeiras o
encantamento que há na grande aventura que é viver.
Pensamos em um Caderno de Orientações Pedagógicas que dialoguem com as intencionalidades destrinchadas
no RCRO, aprofundando sentidos e significados para práticas educativas que atendam às especificidades do trabalho
destinado à primeira infância em consonância com as concepções deste documento.
Esperamos que esse caderno dê condições de, assim como as crianças, se encantar com as descobertas do
mundo da infância, que proporcione a (re)invenção de vivências inovadoras, propiciadoras de experiências de
encantamento e prazer para todos os que fazem parte deste universo que é a Educação Infantil e, principalmente, para
as crianças rondonienses.
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Dialogando com os Termos
Heurístico - A arte de descobrir e inventar.
Brincar Heurístico - Envolve oferecer a um grupo de crianças uma grande quantidade de objetos para
que elas brinquem livremente sem a intervenção dos adultos.
Arte Heurística - Permite as criações das crianças nas infinitas possibilidades de produzir arte.
Projeção - Projetar a organização dos espaços e materiais no cotidiano para as experiências das
crianças.
Experiência - Segundo Larrosa (2002), experiência não é algo que se transmite, se vive. Experiências são
aquelas que nos atravessam e sensibilizam, que marcam e transformam.
11
Os Fundamentos Pedagógicos na Prática
12
Neste contexto, isso se dá em situações do Educação Integral, o que é? Como se faz?
cotidiano como:
em local que dê condições de observar uma criança que pensa, que explora, que constrói
conhecimento, que tem cultura própria e hipóteses sobre as
a ação do outro, que permita a troca de
coisas, uma criança que é, capaz e potente.
experiências e diálogo;
Trata-se de uma educação que propicia diversas
cuidar de si mesmo em situações de possibilidades de experiências contempladas nos campos de
autocuidado como lavar as mãos e experiências e que garanta os direitos de aprendizagem e
limpar o nariz; desenvolvimento, considerando todos os aspectos da
organizar o ambiente e o espaço após integralidade humana, ou seja, não somente o cognitivo, mas
principalmente o físico, social , emocional e cultural.
determinada brincadeira;
cuidar de uma planta ou de um animal.
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Porque tudo o que acontece na Educação
As Interações e Brincadeira Infantil é sustentado pelas interações e
brincadeira.
Dialogam de forma muito clara e precisa, veja: 4. Comunicação – A instituição de educação infantil é
espaço de comunicação da criança que é motivada a se
comunicar. E comunicar é sempre preciso, para brincar,
para participar, para explorar, para interagir, etc.
2. Pensamento científico, crítico e criativo – fortemente brincadeiras e os espaços para brincar, na autonomia e na
propiciado através dos projetos investigativos. liberdade de fazer escolhas, considerando a valorização
da diversidade dos saberes e vivências culturais.
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7. Argumentação – A criança que descobre, que explora, que
constrói sentido sobre o mundo e suas coisas possui
competência para argumentar e defender um ponto de vista,
Você, professor, professora, consegue
uma ideia. As situações para o desenvolvimento dessa
perceber as Competências Gerais nos Campos de
competência precisam acontecer. Aparece muito forte no
Experiências e Objetivos de Aprendizagem e
campo de experiência Escuta, fala, pensamento e imaginação.
Desenvolvimento?
8. Autoconhecimento e autocuidado – Competência que
tende a ser desenvolvida nas situações pertinentes ao Campo
de Experiência “O eu, o outro e o nós” que, como todas as
outras situações pertinentes aos outros campos, precisam de
Resumindo: as 10 Competências Gerais
intencionalidade pedagógica.
estão presentes o tempo todo nas situações de
crianças estão em constante interação com o outro, se estão crianças, na interrelação entre os campos de
a desempenhar ações coletivas, se estão realizando vivências experiências e seus objetivos de aprendizagem e
em grupo? desenvolvimento.
16
Princípios Éticos, Direitos de Aprendizagem e
Políticos e Estéticos Desenvolvimento
Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da Os direitos garantem uma concepção de criança
solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio como ser observador, questionador, capaz de levantar
ambiente e às diferentes culturas, identidades e hipóteses, concluir, julgar e assimilar valores. Isto contribui
singularidades. para que possa construir seus conhecimentos e apropriar-
Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da se deles de forma sistematizada “por meio da ação e nas
criticidade e do respeito à ordem democrática. interações com o mundo físico e social” (RCRO, 2018).
Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento
ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes devem ser garantidos no contexto das instituições
manifestações artísticas e culturais. rondonienses como parte na implementação de uma
educação que respeita o protagonismo e a primeira infância.
PARTICIPAR deve ser garantido não só nas explorar, participar e conhecer-se devem guiar as
17
Os Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento
Ação,
Manipulação, Como podemos propor
contextos de aprendizagens
Observação, e desenvolvimento para as
crianças com os campos de
Exploração,
experiências?
Investigação,
Descoberta ,
Escolha,
Tomada de decisão, Fonte: paralapracá
Negociação e...
... a expressão de seus sentimentos e valores.
Questionamentos como esse pairam na cabeça de muitos professores e professoras da Educação Infantil na
ressignificação da prática pedagógica. Afinal, quais vivências podem ser significativas às crianças?
Vamos ampliar essas reflexões nas páginas seguintes.
19
A Organização do
Trabalho Pedagógico
Os Caminhos da Ressignificação da Prática
20
O Trabalho Docente para a Primeira Infância
O trabalho docente para a primeira infância é de vida das crianças que, nesse período, descobrem o mundo
suma importância para o desenvolvimento integral da à sua volta e desenvolvem a curiosidade que lhes é
criança pois constitui uma etapa fundamental para o intrínseca, despertando os seus potenciais investigativos,
desenvolvimento dos seres humanos nos diversos aspectos: questionando sempre o porquê das coisas e apreendendo
socioemocionais, cognitivos e físicos. o mundo por meio das interações e brincadeira.
A primeira infância compreende a fase do o aos 6 Assim, o professor dessa etapa tem o
anos e é um período crucial no qual ocorre o compromisso de ampliar o universo de conhecimentos,
desenvolvimento de estruturas e circuitos cerebrais, bem saberes, experiências e potencialidades das crianças e
como a aquisição de capacidades fundamentais que bebês, com olhares para ações mediadoras no campo da
permitirão o aprimoramento de habilidades futuras mais criatividade, socialização, criticidade e expressividade
complexas. Crianças com desenvolvimento integral saudável humana.
durante os primeiros anos de vida têm maior facilidade de se É imprescindível que as ações do professor da
adaptarem a diferentes ambientes e de adquirirem novos primeira infância estejam fundamentadas nas
conhecimentos, contribuindo para que, posteriormente, intencionalidades educativas e sejam coerentes com as
obtenham um bom desempenho escolar, alcancem realização necessidades e interesses das crianças, explicitando no
pessoal, vocacional e econômica e se tornem cidadãos planejamento um olhar reflexivo para a criança como
responsáveis. centro do planejamento didático.
Dessa forma, a docência para a primeira infância é
fator de preponderante atenção, carrega em si uma grande
responsabilidade, podendo impactar de diversas maneiras na
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SÃO TAREFAS DO COTIDIANO: a entrada e o
acolhimento das crianças na instituição; as ações voltadas à higiene e
ao autocuidado (lavar as mãos, ir ao banheiro, escovar os dentes,
banho, troca e, no caso dos bebês, ajudar a arrumar as coisas); ao
A tarefa não é encontrar (e ensinar) bem-estar (sono, descanso); à alimentação (café da manhã, almoço,
uma série específica de regras, ou apresentar lanche) e a saída. Essas tarefas do cotidiano existem em maior ou
certas proposições organizadas em fórmulas menor grau, de acordo com a idade das crianças, do período de
que podem ser facilmente aprendidas, ou permanência da criança na escola, se parcial ou integral, e dos
mesmo ensinar um método que possa ser acordos estabelecidos com os pais. As ações iniciadas pelas crianças,
replicado sem modificações. como definimos, são aquelas em que a criança determina o que, como,
A competência do educador é definida com o que, com quem brincar e por quanto tempo se engajar em
mais em termo de entendimentos do que de alguma ação de seu interesse, no limite estipulado para aquele
conhecimento puro. Isso indica familiaridade segmento de tempo.
com fatos críticos, de modo a permitir que As crianças pequenas possuem muitas ideias para colocar em
aqueles que têm essa familiaridade digam o prática. Quando são capazes de concretizar as suas intenções com
que é importante e levantem hipóteses em sucesso, desenvolvem o sentido de iniciativa e de empreendimento.
cada situação, isto é, o que tem utilidade para Todas as ações em pequenos e grandes grupos precisam ser
aquele que aprende em uma situação projetadas pelo(a) professor(a) de forma que as ações iniciadas pelo
particular (RINALDI, 2019). professor(a) representem um contraponto com as iniciadas pela
criança e possibilitem um equilíbrio de poder entre crianças e adultos,
enquanto as ações iniciadas pelas crianças caracterizam-se pelo seu
percurso de investigação, explorações, descobertas, começos e
recomeços nas aprendizagens e desenvolvimento. (PERCURSO
FORMATIVO).
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Estratégias que os Professores podem Colocar em Ação para Apoiar as Aprendizagens
e Desenvolvimento das Crianças:
Desafiar: oferecer oportunidades para que as crianças Explicar: tornar ideias e pedidos claros para as
ampliem suas habilidades e ideias no contexto de crianças. Essa intervenção é útil quando as crianças
relações seguras. Os professores avaliam quando querem ou precisam entender um conceito ou ideia.
oferecem desafios e oportunidades que ampliam o
pensamento das crianças por meio de provocações e Identificar: chamar a atenção das crianças para
reflexões. novas ideias e temas. Apontar coisas interessantes
que podem gerar áreas para exploração e
Colaborar: permitir que as crianças assumam a investigação.
liderança em uma investigação ou ideia ao trabalhar ao
Imaginar: criar um ambiente onde as crianças são
lado delas ao invés de dominar a direção da experiência.
encorajadas a usar a imaginação e criatividade para
A colaboração também pode incluir o envolvimento de
investigar, criar hipóteses e expressar-se. Projetar
outras pessoas, como membros da família e da
contextos de aprendizagens nos quais as crianças
comunidade, com a intenção de que tragam
têm oportunidades e liberdade para se envolver em
conhecimentos específicos ou informações importantes
experiências sem expectativas definidas de
para a aprendizagem.
resultados e nos quais possam explorar suas próprias
possibilidades.
Instruir: uso de abordagens que envolvam as crianças e
sejam respeitosas com suas ideias. Os professores
Encorajar: apoiar a criança por meio de comentários
usam instrução direta quando outras estratégias podem
que as motivem e as encoragem a persistir,
não ser apropriadas. Por exemplo, cuidados com a rua
particularmente quando elas estão fazendo um
em uma situação de saída coletiva pelo bairro.
esforço maior para realizar a ação.
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Escutar: incentivar as crianças a liderar conversas,
participando com uma escuta atenta e reflexiva sobre o
que elas estão dizendo. Ao responder ativamente às
contribuições das crianças, os professores criam
oportunidades para trocas autênticas e sustentadas.
25
A Organização do Trabalho
Pedagógico
Atividades Permanentes
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A atividade permanente ocorre com certa regularidade podendo ser diária, semanal ou quinzenal. Tem como
objetivo oportunizar experiências de aprendizagens significativas às crianças, propiciar a construção de atitudes, o
desenvolvimento de hábitos, o desenvolvimento da autonomia, investigações e a exploração de diversos materiais que
serão contemplados na organização do tempo e do espaço, tanto os internos (sala referência) quanto os externos
(RCRO, 2018).
A Criança e a Investigação
28
Projetando na Educação Infantil
Então, como é projetar investigações com crianças?
Saber sobre projetar boas propostas
É compreender que os conhecimentos não são únicos,
pedagógicas ajudará os professores e professoras a
são plurais e não obedecem uma hierarquia;
olhar os projetos como uma ferramenta que possibilita
Transcender os currículos prescritivos, no qual
a participação das crianças, abrindo espaço para que
desconsidera as histórias pessoais das crianças, suas formas
hipóteses, descobertas, investigações e
de constituir aprendizagem e desenvolvimento;
conhecimentos sejam produzidos numa parceria entre
Trabalhar com a ideia do imprevisível, ou seja,
adultos e crianças.
compreender que os temas dos projetos investigativos serão
O ato de projetar contribuirá para refletir que
construídos e determinados pelos tempos, espaços e sujeitos
planejar, na perspectiva da investigação das crianças,
em questão.
diferencia-se das demais formas de trabalho.
Como surgem as investigações?
De repertórios ofertados para as crianças: espaços
Considerando que as crianças estão sempre
interativos e de criação de enredos, materiais desafiadores e
investigando o mundo a sua volta, perguntando,
diversificados, informações diversas; da interpretação do
explorando, construindo, levantando hipóteses,
professor de situações do cotidiano; das diversas
experimentando… muitas inquietações surgem nas
manifestações das crianças.
cabeças dos professores e professoras sobre como
projetar boas vivências com elas.
Uma boa investigação deve ter clara uma boa pergunta
Logo, algumas questões devem ser compreendidas... O questionamento base da investigação deve partir de
uma situação problema originada na realidade do grupo, isto é,
emerge de uma situação que envolva uma criança, um grupo, a
______________________________________
professora, os pais ou a comunidade e mantém uma
Fonte: Horn e Fochi, 2012. perspectiva de trabalho globalizado, ou seja, intercampos. 29
Projetando as investigações
Para projetar as investigações é preciso aprender a planejar. As crianças aos poucos vão aprendendo a manejar as
diferentes variáveis que envolvem uma projeção de aprendizagem como onde podemos encontrar certas informações, como
podemos registrar, como podemos aplicar um conhecimento novo, que os conhecimentos são provisórios e que as vias de
informação são muitas.
Durante as investigações
Neste momento é preciso registrar de diferentes formas os percursos desenvolvidos pelas crianças: fotos,
amostragem das produções das crianças, anotações de falas, anotações de observações realizadas, folders, objetos...
Novas perguntas, novos caminhos e retorno à pergunta inicial. Trabalhar com projetos investigativos não é um caminho
reto, é ziguezaguear.
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Planejamento do Grande Contexto Semanal
Grupo Etário: crianças de _______ anos
Projetando o grande contexto das vivências com direitos de aprendizagem e desenvolvimento: conviver, explorar, brincar,
expressar, participar e conhecer-se
Arranjos coletivos (interação com faixas etárias diferentes: qual espaço, materiais e Quais os potenciais de
tempo?). aprendizagem e
desenvolvimento?
Quais ou qual
O que será observado e objetivo de
Dia da semana Intencionalidades educativas de vivências
registrado? aprendizagem e
Tempo de cotidianas em contextos de aprendizagem e
Perguntas guias de desenvolvimento a
Duração desenvolvimento
observação ser observado e
registrado?
Segunda-feira
Terça-feira
Quarta-feira
Quinta-feira
Sexta-feira
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Projetando o grande contexto das Trata-se do planejamento, ou seja, o guia das intencionalidades
vivências com direitos de aprendizagem e
educativas pensado no contexto escolar e suas pequenas transições
desenvolvimento: conviver, explorar,
brincar, expressar, participar e (refeitório, banheiros, parques, espaço externo, entre outros) que as
conhecer-se.
crianças fazem durante a jornada diária na instituição, considerando sua
organização a partir dos campos de experiências e direitos de
aprendizagem e desenvolvimento.
Arranjos coletivos (interação com faixas Os arranjos coletivos são a projeção de momentos em que crianças
etárias diferentes: qual espaço, materiais
de grupos etários e/ou turmas diferentes irão interagir nos mesmos
e tempo?).
espaços organizados intencionalmente com diversidade de materiais.
Geralmente esses arranjos ocorrem em curto período de tempo, em torno
de 1h de duração, podendo ocorrer semanalmente, a critério da instituição.
1º Desdobramento\sessão
2º Desdobramento\sessão
3º Desdobramento\sessão
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É o relato das observações do contexto, ou seja, de situações que
Contexto observado e refletido
(Fato e reflexão). provocaram o início da investigação (interesses das crianças ou uma proposta
feita pelo docente). Deve ficar claro que a investigação é proposta às crianças
pelo professor ou professora a partir da observação.
Perguntas generativas das crianças Aqui descrevemos as perguntas que as crianças fizeram na roda de
(perguntas que geram). conversa que deram origem ao assunto a ser investigado. São essas perguntas
que irão orientar a organização dos desdobramentos.
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É a descrição de como iremos organizar a proposta de forma que as
Desdobramentos/sessões da crianças possam investigar. Observemos o exemplo a seguir de um
intenção investigativa.
desdobramento/sessão de investigação do corpo humano:
“Será feita uma roda de conversa sobre o que as crianças acham que tem
dentro do nosso corpo. Faremos uma lista e deixaremos fixada na parede, serei a
escriba das crianças.”
38
Aqui elencamos os objetivos de aprendizagem e
Objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento. desenvolvimento que poderão ser construídos pelas crianças. Não
há necessidade de escrever os nomes dos campos de experiências,
pois eles já foram postos anteriormente, porém é importante a
escrita de cada objetivo, antecedido pelo código alfanumérico.
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Vamos Analisar como a Educadora Organizou o Interesse de Investigação das Crianças
Animais que botam ovo. Coelhos botam ovos? O eu, o outro e o nós O que as crianças já sabem
Professora, coelho bota ovo? E dinossauro? Pato, cachorro, Corpo, gestos e sobre os animais que botam
O questionamento surgiu desde a época da dinossauro, borboleta movimento ovo?
Páscoa quando uma criança nos disse na roda da e cavalo botam ovos?
conversa que o coelho botou ovos de chocolate e Escuta, fala, pensamento Como as crianças
levou na casa dele. Conversamos sobre esta Quais são os animais e imaginação investigam?
questão naquele dia, mas de vez em quando me que botam ovos?
perguntavam ou falava que tal animal botava ovo. Traços, sons , cores e As crianças identificam
Foi então que surgiu a idéia de fazer este formas possíveis fontes de
projeto. Fizemos uma roda da conversa e informação?
perguntei pra cada criança qual animal que elas Espaços, tempos,
queriam saber se botava ovo. No primeiro quantidades, relações e Quais palavras as crianças
momento iriam expor somente os que botavam transformações acrescentarão no seu
ovos, mas percebi que não seria tão desafiador vocabulário?
quanto ao que eles escolheriam, propiciando
assim a construção de novos conhecimentos. O
desenvolvimento das crianças na Educação
Infantil depende das oportunidades de
aprendizagem oferecidas pelo mundo que as
cerca e, pensando nisso, o intuito deste projeto é
proporcionar experiências que sejam
significativas para as crianças a fim de propiciar
o conhecimento de diferenças e semelhanças
entre os animais. 40
Os Caminhos Percorridos (desdobramentos da Intenção investigativa)
Essa investigação foi feita pelo grupo de crianças do maternal “A” (crianças
bem pequenas) da professora Simone Brasil, no CMEI Profª. Mirian Trajano Lopes,
no município de Ji-paraná/RO, no ano de 2019.
42
Ampliando Conhecimentos Sobre os
Processos Investigativos das
Crianças
43
44
45
46
47
Os dois últimos textos (Fio 19 e fio 16)
apresentam a experiência de uma escola da
Argentina, retirados do livro “Os fios da infância,
2018” das autoras: Ángeles Bardanca Abelheira.
Isabel Bardanca Abelheira.
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Organização do Trabalho
Pedagógico
Avaliação
Os Caminhos da Documentação Pedagógica na
Educação Infantil
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Documentando a Trajetória das Crianças nas suas Hipóteses,
Interações, Brincadeiras, Investigações e Descobertas
Estamos em processo de ressignificação da Garantir escutar e ser escutado é uma das funções
avaliação na Educação Infantil no estado de Rondônia. mais primordiais da documentação (produzir
Porém, ainda temos um longo caminho a percorrer até que traços/documentos que testemunhem e tornem visíveis os
efetivemos práticas de avaliação da aprendizagem e modos de aprendizado dos indivíduos e do grupo), assim
desenvolvimento das crianças como preconiza a Lei de como a segurança de que o grupo e cada criança,
Diretrizes e Bases para a Educação Básica (LDB) para individualmente, tenha a possibilidade de observar a si
esta etapa de ensino. mesmo, de um ponto de vista externo, enquanto estão
Mas como fazer uma avaliação com crianças aprendendo (tanto durante quanto após o processo)
pequenas? Esse questionamento ronda os pensamentos de (RINALDI, p.129 e 130, 2019).
muitos educadores rondonienses e não se tem uma receita
a se seguir, somente uma uma Lei e várias orientações. O
importante é a decisão de iniciarmos o processo de
implementação da avaliação de forma que garanta todos Um dos grandes valores atribuídos à documentação
os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, as pedagógica é sua capacidade de tirar as práticas
interações e brincadeira e o protagonismo infantil. pedagógicas do anonimato, tornando-as visíveis. Permite,
A documentação pedagógica permite, mesmo que assim, colocar em diálogo culturas e identidades: a cultura
parcialmente, a visibilidade do percurso de aprendizagem e da criança e a cultura do adulto, a identidade da criança e a
desenvolvimento, assim como torna visível o trabalho de identidade do educador (FORMOSINHO e PASCAl,
mediação dos educadores nas construções, descobertas, p. 50 e 51, 2019).
investigações, questionamentos, argumentações e os
sentimentos da criança. Reflitamos as palavras de Rinaldi,
Formosinho e Pascal.
50
[...] Pode-se dizer, inclusive, que a
documentação pedagógica abre toda uma nova
paisagem da infância. Quando os professores
cruzam esse novo território, eles assumem um tipo
de desenvolvimento profissional [...] até pela ideia
de que o professor e a criança podem ser ambos
vistos como aprendiz e pesquisador (EDWARDS,
GANDINI E FORMAN, 2016, p. 231).
51
As Finalidades e Sentidos da Documentação Pedagógica:
★ Tornar visível (embora de maneira parcial e, assim,
“partidária”) a natureza dos processos de aprendizado,
as estratégias utilizadas por cada criança e transformar
os processos subjetivos e intersubjetivos em patrimônio
comum.
criança.
Retirado do livro: Tornando visível a aprendizagem - crianças que aprendem individualmente e em grupo - Project Zero Reggio Children (2014)
54
Construtividades
Paralelamente à pesquisa com cilindros, as crianças puderam explorar também a argila. Primeiro com as mãos,
aproveitando a materialidade do insumo e tudo o que pudesse oferecer. Depois, também com tampinhas plásticas, já
velhas conhecidas do grupo, de forma a estimular uma pesquisa mais cuidadosa. Construiriam algo também nesse
suporte? O encantamento inicial com o novo material foi dando lugar a uma pesquisa brincante, simbólica e objetiva que
trouxe novamente elementos preferenciais: construções, jogos simbólicos e carros.
Maya, 2 anos e 3 meses, pega um pequeno pedaço de argila. Usando as pontas de seus dedos, explora a textura,
espalhando a argila pelo papel.
55
Ravi, 3 anos e 1 mês, aproveitou que nesse momento
as outras crianças deixaram de utilizar a argila, e está
modelando com o bloco quase inteiro. Ele usa as três partes
e as empilha.
56
A exploração de Gustavo, 3 anos e 5 meses, se
transforma aos poucos. Ele passa a se esforçar para
retirar a maior quantidade possível de argila, utilizando
as duas mãos e tanta força quanto pode.
Sua expressão facial evidencia o esforço e a
entrega.
57
As crianças foram convidadas a criar a escultura que
desejassem. Tinham disponíveis materiais que já lhes eram
familiares: argila e tampinhas.
58
Maya explora a argila com a ponta dos dedos,
manuseando-a até formar uma bola e observa seu feito. Maya,
que costuma mamar, finaliza sua obra dizendo: “É um mamá! Igual
mamãe!” (MAYA).
Isadora, 3 anos e 4 meses, decidiu fazer uma bicicleta igual a que seu pai
usa para trazê-la até a escola. Ela junta duas tampinhas para serem as rodas,
narrando:
“Vou fazer a roda e depois a cadeirinha minha”.
(ISADORA).
Para essa, ela coloca uma tampinha em cima e continua:
“E depois, aqui na frente, vou fazer o banco do papai, que chama selim”
(ISADORA)
Posiciona mais uma tampinha utilizando a argila como cola. Quando
perguntamos se fará alguém na bicicleta, explica:
“Não tem Pessoas em cima. É só uma obra de arte”. (ISADORA)
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Para que as esculturas ganhem vida, as crianças são convidadas a pintá-las. Dessa forma, revisitam suas obras e
continuam a brincadeira: o bolo ganha calda; o carro, cor e o castelo, vida.
(ENZO)
“Praia.” (SAMUEL)
“É um mamá”. (Maya)
Retirado do livro: Arquiteturas fantásticas: ideias, teorias e narrativas de crianças de 2 e 3 anos\Ateliê Carambola Escola de Educação Infantil.
60
Sentimentos e Teorias
A seguir, um fragmento do processo documental da escola Ateliê Carambola em teorias preciosas sobre o
sentimento - que vira sujeito - e as metáforas das emoções, como “água velha”, para falar de lágrimas.
Para uma melhor compreensão, uma breve contextualização: este é um grupo no qual as relações são vividas entre si
com muita força e curiosidade, com identidade própria e emoções.
Observemos como a professora vai dando visibilidade às emoções, sentimentos e narrativas das crianças.
Pensando na continuidade da pesquisa de autorretrato, propusemos tirar fotos com expressões. Com as fotos
impressas, Matheus se interessa pelas imagens de Luísa e os dois iniciam uma conversa:
“Esse aqui é chorando. Esse aqui é careta, careta e feliz.”
61
Leslie: “O que você estava sentindo nessas duas fotos (caretas)?”
Matheus: “dor.”
65
As Escutas
A escuta pelos(as) educadores(as) na Educação Infantil é fundamental para proposições que consideram os
interesses e escolhas das crianças. Para ampliarmos nossos saberes sobre a escuta, seguem trechos citados por
Edwards, Gandini e Forman, 2016.:
Escutar não é fácil. Exige uma profunda A escuta precisa ser aberta e sensível à
consciência e suspensão dos nossos julgamentos e necessidade de ouvir e ser ouvido e à necessidade de
preconceitos, abertura à mudança. Exige que escutar com todos os sentidos, não só com os ouvidos.
valorizemos o desconhecido e superemos os
A escuta deve reconhecer as muitas linguagens,
sentimentos de vazio e precariedade quando nossas
os muitos símbolos e códigos que as pessoas usam para
certezas são questionadas.
se expressar e comunicar.
Escutar é base de qualquer relação. Por meio da
Escutar, demanda tempo. Quando você realmente
ação e da reflexão, a aprendizagem ganha forma na
escuta, você entra no diálogo e na reflexão interna, um
mente do sujeito e, por meio da representação e da
tempo interior que é composto do presente, mas também
troca, torna-se conhecimento e habilidade.
do passado e do futuro, e, portanto, está fora do tempo
A escuta produz perguntas e não respostas. cronológico. É um tempo cheio de silêncios.
66
O que Relatar das Aprendizagens Os relatórios de avaliação devem captar as diferentes
e Desenvolvimento? dimensões envolvidas nas experiências das crianças no grupo, ou seja,
eles devem trazer a integralidade das crianças enquanto seres
dotados de sentimentos, afetos, emoções, movimentos e cognição.
O que deve ficar evidente nos relatos: A referência para elaborá-los deve ser a própria criança e
não critérios previamente estabelecidos aos quais se espera que ela
❏ as conquistas das crianças;
corresponda. ( Hilda Micarello).
❏ as intervenções do professor;
❏ os caminhos percorridos para se chegar a
determinadas conquistas; Algumas sugestões sobre o que observar para relatar:
❏ o olhar e escuta atenta do professor.
❏ Como a criança e a família vivem o momento de chegada à
instituição?
69
Relatório Individual de Aprendizagem e Desenvolvimento
O presente relatório é um instrumento de avaliação que visa compartilhar o processo de desenvolvimento e aprendizagem da Amanda
durante o ano letivo, baseando-se nas observações e registros diários de suas vivências e experiências.
O processo de adaptação da Amanda à creche foi tranquilo No primeiro dia ao deixar a mão da mãe e me abraçar ela chorou. Ainda
abraçada eu disse que não precisava se preocupar, pois sua mãe logo a buscaria na hora da saída das crianças e que ela faria muitas amizades
e que viveria muitas experiências legais no CMEI, então logo se interessou em conhecer a sala e se enturmou com os colegas parando de
chorar.
No primeiro semestre Amanda apresentou desafios com relação a expressar os seus sentimentos. Assim, quando algo não era realizado
de acordo com suas expectativas ela chorava muito e não falava o que estava sentindo e/ou acontecendo. Percebendo a situação, intervi
realizando rodas de conversas onde falávamos sobre sentimentos e diálogo e promovemos a “semana dos sentimentos”, onde levei em uma folha
sulfite uma face de um boneco que não sabia se expressar e precisava da ajuda das crianças. Junto com a folha tinha uma caixa com olhos e
bocas que exprimiam diferentes sentimentos. Assim, a cada dia da semana elas deveriam dizer como ele estava se sentindo e colar as
expressões faciais que correspondessem à emoção, dizendo o porquê de ele estar se sentindo assim.
Aos poucos Amanda passou a também expressar os seus sentimentos e não mais ficar chorando sem dizer o porquê, iniciando o
segundo semestre compartilhando suas emoções e ainda incentivando as outras crianças a falarem quando algo não lhe agradava.
Outro desafio apresentado ainda no primeiro semestre foi com relação a aceitar alguns combinados como compartilhar os brinquedos
com as outras crianças, ou seguir combinados e regras, devido a mesma não expor seus sentimentos, ela se fechava e não queria voltar a
participar dos momentos propostos e, quando se tratava de jogos, ela sempre dava um jeitinho de fazer as suas próprias regras durante as
jogadas de forma que a favorecesse para não perder, mostrando sua criatividade em resolver conflitos, o que me levou a valorizar e promover
sua criatividade nas rodas de conversas incentivando o diálogo e provocando respostas a diversas situações propostas, valorizando e
promovendo o seu percurso criativo também nas experiências com as diferentes linguagens da arte. Mas, com relação às regras dos jogos, eu
precisei intervir conversando sobre o porquê elas existem e porque precisam ser seguidas, repassando as regras do jogo ela foi compreendendo
as dinâmicas dessas regras e a importância de serem cumpridas independente se estivermos ganhando ou perdendo, pois o importante era a
cooperação, o envolvimento e a diversão que aquela brincadeira e/ou jogo poderia proporcionar a quem estivesse participando.
70
Para o encerramento do primeiro semestre foi realizado uma festa para a comunidade com apresentações das turmas sobre o
projeto Profissões que as crianças estavam trabalhando e fizemos uma apresentação de uma paródia da cantiga “Passa, Passa gavião” onde
cantaram e ritmaram usando os instrumentos da bandinha. Para tanto, cada criança deveria ir caracterizada de uma das profissões que mais
gostaram de pesquisar durante o projeto. Amanda disse: “prô, eu vou ir de cozinheira que é o que eu mais gosto de brincar na escola e vou
cantar bem alto para todo mundo me escutar e bater o tambor ainda mais altão, desse tamanho (fazendo movimentos para cima com as
mãos) porque eu também gosto muito de música.”
Ainda com relação ao primeiro semestre os seus desenhos eram garatujas e ao longo das atividades propostas ela foi avançando nas
representações gráficas, criando formas e explorando mais as cores, fato esse que foi observado pela própria criança ao olhar o livro de
registros de interferência gráfica que trabalhamos em sala, onde as atividades foram sendo grampeadas juntas formando um “livro” e foi
entregue a criança agora no segundo semestre. Amanda ao folhear o seu disse: “nossa prô, eu desenhava igual uma bebê agora eu sou uma
artista eu faço meus desenhos tão bonitinhos” – Amanda, 4 anos e 11 meses.
Ela conquistou muita autonomia no segundo semestre indo ao banheiro sem precisar de auxílio na higienização e/ou se vestir, dirige-
se ao bebedouro de sala sozinha, pegando água e bebendo na quantidade desejada, lembrando sempre de lavar as mãos antes do lanche e
escolhendo qual dos espaços ambientados da sala quer brincar e interagir com os colegas. Com relação ao lanche servido na escola, teve boa
aceitação, experimentando tudo e solicitando mais quando finaliza a sua refeição. Tem como brincadeiras preferidas as que exploram as
diferentes qualidades e dinâmicas do movimento, como força, velocidade, resistência, flexibilidade e as de musicalização.
É uma menina ativa, gosta de estar sempre em movimento, deslocando-se bastante pelos espaços de sala e escola. Tem preferência
por desenvolver atividades de grupo, onde se sente mais segura e desenvolve as atividades com mais autonomia, mas, nas atividades individuais
também se destaca desenvolvendo a maioria com muita independência, não necessitando da minha presença constante.
Muitas foram as conquistas de Amanda durante o ano, onde foram proporcionadas diferentes experiências de interação com crianças,
adultos, objetos e situações diversas que fortaleceram e enriqueceram seu processo de desenvolvimento e aprendizagem de forma
significativa.
Amanda, 4 anos e 11 meses
Professora Angélica Cesconetto
71
Relatório Individual de Aprendizagem e Desenvolvimento
Este é o segundo ano de Laura nesta instituição, logo, o período de adaptação para ela foi super tranqüilo. Conheci Laura esse ano, não
fui sua professora no ano anterior, portanto, conhecer Laura foi um desafio para mim, pois ela demonstrou-se meio reticente comigo, estava
muito habituada à professora anterior, então, ganhar a confiança de Laura foi processual, pois apesar de ser uma criança participativa nas
vivências propostas é um pouco reservada, algo que vem se efetivando em sua personalidade em formação, o que considero uma qualidade.
Considerando as características comportamentais de Laura, dei-lhe especial atenção neste semestre, observei como era a sua interação
com as outras crianças, como ela se envolvia nas brincadeiras propostas e como lidava com as situações desafios do cotidiano da instituição, pois
sua timidez e seu jeitinho peculiar me chamaram a atenção. Observei-a em inúmeros momentos e constatei que Laura, apesar de ser reservada,
tem poder de liderança considerável, o que me deixou satisfeita, pois realizei algumas ações para que as crianças interagissem e resolvessem, com
autonomia, algumas problemáticas a partir de situações de brincadeiras e jogos, logo, a liderança nos grupos de crianças foi algo necessário e
dentro dos próprios grupos foram surgindo democraticamente os líderes, dentre eles Laura.
Como toda criança, Laura gosta muito de brincar, os jogos simbólicos são os mais apreciados por ela, o faz de conta de casinha é onde
ela se realiza, é muito imaginativa, nessas situações ela se expressa muito bem, percebo que interage mais no mundo da imaginação, da fantasia
que no mundo real, sua capacidade de interpretar personagens no brincar é bastante viva, o que me encanta como professora investigadora da
infância.
Nas situações propostas para exploração de objetos da cultura, como a língua escrita, por exemplo, Laura demonstra incomparável
interesse, está numa fase de escritas autônomas e de leituras não convencionais, brincar de ler e de escrever tem sido o alvo das intenções de
escrita de Laura, interessa-se por saber de letras, de palavras, de iniciais de palavras que quer escrever.
O seu vocabulário está se ampliando a cada dia, busco sempre trazer no contexto da fala e das leituras de histórias novas palavras,
percebo que Laura está agregando ao seu vocabulário palavras novas. Nesse sentido, tenho a observado nas proposições de rodas de leitura de
história e a apreciação por esses momentos é evidente; observo que o seu comportamento leitor vem se desenvolvendo, o olhar de Laura sobre o
texto escrito, o dedo abaixo da escrita, a “leitura” do texto com apoio da imagem são provas dessa evolução.
72
É observável o encantamento de Laura pelo livro, pelas histórias contadas por mim e, até mesmo, por seus colegas. Como criança muito
observadora que é, demonstrou crescente desenvolvimento e aprendizagem em todas as vivências propostas no semestre, o respeito ao seu
tempo, a sua forma peculiar de lidar com as situações problemas sempre foram minhas intenções pedagógicas ao mesmo tempo em que me
preocupei em trazer desafios para lhe oportunizar vivências que a desafiasse a aprender e a se desenvolver, as situações de interação com as
outras crianças foram o meu foco nas intervenções que realizei para que ela evoluísse nesse aspecto. Constato que a resposta de Laura aos
estímulos e intenções pedagógicas foi positiva.
73
Refletindo sobre os Relatórios Os relatos trazem de forma acolhedora, as
experiências da criança, evidenciando que não existe uma
perspectiva classificatória ou homogeneizadora no ato de
avaliar, mas um esforço para compreender como é
É possível perceber o olhar atento do adulto possível proporcionar à criança experiências mais ricas
sobre a criança, buscando captar seus interesses, suas que favoreçam seus avanços e um desenvolvimento pleno
ações e reações para, a partir delas, planejar novas de suas potencialidades.
intervenções?
25 de março
24 de julho
13 de novembro
77
As Crianças e a Educação Especial
Para as crianças com deficiência devem ser garantidos os mesmos direitos de aprendizagem e desenvolvimento
que são garantidos às crianças típicas, considerando, porém, a necessidade de atenção às suas singularidade, sendo
ação preponderante dos professores pensarem em situações que incluam todas as crianças, prevendo condições para
que elas, independentemente de suas condições físicas, motoras, altas habilidades/superdotação e/ou intelectuais,
usufruam de todas as possibilidades de interações, brincadeiras, cuidado e educação. Portanto, propiciar experiências
de aprendizagem e desenvolvimento que contemplem as flexibilizações curriculares é de suma importância para a
inclusão das crianças.
As experiências oportunizadas às crianças com deficiência não podem ser respaldadas em compensar faltas,
mas pensar em como valorizar, explorar e potencializar a forma singular da criança ser e como reage aos desafios
propostos (RCRO).
Escola Stagium
Escola Bakhita Inspirados em Reggio Emilia 80
A Criança e a Natureza
As crianças têm muita curiosidade sobre a natureza, desde
bebês ficam fascinados quando vêem pequenos insetos se movendo,
tentam pegar e, às vezes, tentam até comê-los como forma de
sentir e conhecer o mundo, de forma que as vivências com a
natureza na Educação Infantil são fundamentais para conhecimento
de mundo e de si.
É comum atualmente os espaços de educação para infância
ser cada vez mais ausentes de natureza, tornando a escola um local
cimentado, parecendo que não estamos inseridos no contexto
amazônico. Vale ressaltar que faz parte do trabalho das
instituições possibilitar as relações entre a criança e a natureza.
Dois dos indicadores de qualidade para a Educação Infantil
aborda sobre a interação da criança com a natureza:
Os professores têm possibilitado o contato e brincadeiras
Porém, uma análise mais profunda do processo
das crianças com animais e com elementos da natureza como água,
educacional aponta a necessidade de refletirmos e
areia, terra, pedras, argila, plantas, folhas e sementes?
requalificarmos as práticas, a organização, as
A instituição leva as crianças a conhecer e a
rotinas e o tempo escolar, reconhecendo no valor
explorar, de forma planejada, os diferentes espaços naturais,
do brincar e do aprender com a e na natureza um
culturais e de lazer da sua localidade?
dos elementos centrais de uma educação vinculada
É fundamental que a instituição e o professor(a) pense em
com a própria vida (Desemparedamento da infância: a escola
possibilidades de exploração, experimentação, interação e cuidado como lugar de encontro com a natureza, 2018).
da criança com o mundo natural.
81
Alimentação - Momentos para Conviver e Conhecer-se
As experiências de alimentar-se e servir-se precisam ter um
olhar atento da instituição de educação infantil, percebendo este
momento e espaço do refeitório como local e oportunidade para as
experiências e vivências infantis, deixando de ser uma ruptura com outras
experiências e espaços da instituição e passando a ser um momento bem
organizado e intencional, com espaço e tempo cuidadosamente pensados
para que as crianças possam se servir com autonomia, bem como
Fonte: Padrões básicos de qualidade da Educação Infantil Paulistana
organizar seu prato em local próprio, após a refeição, considerando
sempre a faixa etária nessas proposições de organização.
Essas situações constituem-se em momentos significativos de
trocas de experiências entre as crianças quando têm a possibilidade de
vivenciarem mais uma prática social e de compartilharem com seus pares
e adultos da significância que existe no ato de alimentar-se na companhia
de outras pessoas.
Fonte: internet
fonte: CMEI Primavera Ji-Paraná\RO
82
Organização do Trabalho
Pedagógico
O Espaço Externo
83
Organização que Convida e Provoca
O espaço externo permite às crianças múltiplas
oportunidades de ação, de interação, socialização,
experimentação de outras habilidades motoras, de brincar, de
investigar, de construir, tornando-se indispensável sua
organização para as várias possibilidades de aprendizagens e
desenvolvimento, sendo planejado pela equipe escolar e pelas
crianças. Uma boa organização convida as crianças à
exploração e provoca infinitas possibilidades para experimentar
e investigar.
O Espaço Externo, como lugar para montar
Ao organizá-lo,, deve-se pensar em alguns critérios:
contextos, se apresenta como um universo infinito de
★ Segurança - cuidado com as condições de segurança
possibilidades.
das crianças;
O pátio pavimentado, a caixa de areia, o espaço
★ Atratividade estética - em como a organização dos
com barro, o caminho de cimento rodeado de gram e ,os
materiais vão atrair e convidar para a exploração;
locais com pedras oferecem às crianças oportunidades
★ Possibilidades de manipulação, construção, exploração e
de exploração e de manipulação. É a oportunidade de
de criatividade que esses contextos oferecerão;
experimentar situações mutáveis, dadas pelo clima, pelo
★ Participação - em como as crianças vão participar da
calor, pelos raios de sol, pelas coisas que acontecem no
organização dos materiais após a exploração do
ambiente, como os ruídos vindos do exterior, o canto
contexto e quais ideias darão para os próximos
dos pássaros, o encontro com os insetos, o escavar da
contextos.
terra ou da areia, a sombra cambiante das árvores
Seguem algumas possibilidades de organização de espaços (Dubovik e Cippetelli, 2018).
externos:
84
Fonte: Internet
85
86
87
Possibilidades de Organização e Materiais para Ateliê
Essas possibilidades podem ser organizadas também no
espaço externo. É importante que as equipes sejam criativas nas
possibilidades de organização e materiais, utilizando
principalmente materiais da cultura local.
As famílias podem ser convidadas como parceiras nessas
organizações que tornam as experiências significativas para as
crianças.
Essa experiência apresenta relatos da supervisora pedagógica do CMEI Pedro Gonçalves, Karine Crisoni, que conta
a busca de ressignificação da prática do grupo de professores.
Após algum tempo de intensos estudos, tentativas e ousadia para gerar a compreensão da importância dos espaços
ambientados na sala referência, o desafio foi superado por todos que estavam envolvidos na ação educativa (docentes,
gestão e coordenação). Nesse sentido, ampliou-se o olhar para os demais espaços físicos da escola.
“Apartir das reflexões sobre a infância e a escola de educação infantil, percebemos que nossos muros não revelavam
essas crianças. O espaço externo não convidava, não encantava, não desafiava para construção, brincadeira, interação ou
faz de conta, tão próprio das crianças dessa faixa etária.” (Karine).
90
Com a intenção de trazer vida brincante e dar visibilidade às
crianças do CMEI, nos mobilizamos para organizar esse espaço,
buscando em equipe suas possibilidades e potencial. Espaço esse que
apresentava vários desafios como qualquer outra escola (pequeno,
quente, sem verde e com pouca vida). Aconteceu então a mobilização da
equipe e parceria com as famílias na construção e doação de materiais
para os espaços.
Construímos nossos painéis em palets no pátio da escola para
tornar visível para toda a comunidade as produções das crianças e seus
docentes. No corredor externo, construímos um jardim suspenso com
plantas, no qual as crianças deram nomes às belas plantas, as quais
trouxeram um verde especial aquele local.
As cozinhas, os fogões, a marcenaria, as mesas e os bancos
rústicos construídos para as crianças, tornaram-se grandes aliados à
ação docente e um convite constante à brincadeira.
Ao final, compreendemos que tudo isso aconteceu porque a
equipe percebeu que a escola pode se tornar cada dia mais viva. Ela
precisa encantar, convocar e comunicar. O espaço externo se tornou
mais atraente do que o parque para muitas crianças por possibilitar as
reinvenções.
Esses espaços têm convocado esses meninos e meninas a
aprender e se desenvolver em todos os sentidos.
91
Pensando nos Bebês
Chamamos de bebês as crianças de até 18 meses de idade. Esse período etário representa a primeira fase da vida
do ser humano. Assim, os bebês necessitam de muito cuidado e acolhimento dos adultos para sobreviverem nesses
primeiros meses de vida.
Contudo, pesquisas contemporâneas revelam que os bebês são exímios investigadores que exploram,
experimentam e se comunicam com o mundo de uma forma peculiar e individual.
A organização do trabalho para com os bebês se dá na criação de uma vida cotidiana com práticas sociais que
possibilitam alargar horizontes, ampliar vivências com as linguagens, para que os bebês experienciem saberes e
experiências vivenciadas principalmente com o corpo.
92
Brincar para ser eu e conhecer o outro
Ao organizar espaços e materiais para que os bebês vivam suas experiências, o olhar observador para as
descobertas e conquistas das crianças é fundamental. A escuta dos gestos, dos olhares, dos balbucios, o silêncio e
reações orientam a documentação pedagógica para os bebês. Observemos a experiência acima e analisemos a quantidade
93
★ Conviver, brincar, explorar, participar, expressar, e
Direitos de aprendizagem e desenvolvimento conhecer-se.
garantidos.
★ RO.EI01EO02.d.02 Identificar e brincar com sua própria
imagem no espelho.
Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento no ★ RO.EI01CG01.d.04 Observar-se no espelho, explorando
entrelaçamento entre os campos de experiências. expressões e movimentos.
★ RO.EI01ET04.d.01 Explorar elementos presentes no
espaço percebendo suas características e possibilidades.
96
❏ Organizar o espaço e preparar os materiais com
antecipação;
❏ pensar em suportes e outros recursos adequados
Possibilidades de ações dos professores e
professoras aos bebês;
❏ Construir suas perguntas guias de observação;
❏ Observar e registrar as crianças em suas interações
e descobertas.
97
Outras Intencionalidades...
Fonte: Internet
Fonte: Internet
Fonte: Práticas comentadas para inspirar
98
Organizando o Espaço, Materiais e Tempo para os Bebês
O berçário, espaço em que geralmente os bebês permanecem o maior período do tempo quando estão na creche, deve
ser planejado a partir de seus interesses, em como aprendem e se desenvolvem. A organização do tempo bem planejado
propõe momentos que valorizam o jeito de cada bebê pensar e de se expressar; é um incentivo ao protagonismo individual.
Organizar um ambiente que seja acolhedor, seguro e, ao mesmo tempo, que possibilite explorações e descobertas para bebês é
fundamental no trabalho pedagógico.
Espaços
O espaço deve ser organizado para que os bebê se sintam acolhidos,
seguros e motivados a explorar e interagir com outras crianças e com objetos.
Assim, precisa:
O melhor é manter a disposição dos
★ De mobiliário adequado à altura e ao desenvolvimento da criança;
materiais nos mesmos lugares. Assim, dará
★ De amplitude espacial para os diversos deslocamentos;
aos bebês senso de segurança e
★ De local de descanso individual para quando precisarem;
competência (Goldshmied e Jackson,
★ De revestimento de piso adequado;
2006, p.44).
★ De trocador;
★ De espaço para o banho e sono;
★ De locais com jardim, areia e terra;
★ De ambiente iluminado e arejado;
★ De espelho de qualidade, com proteção, adequado às explorações possíveis.
Fonte: internet
Fonte: internet
100
Fonte: internet
101
Materiais O adulto e outra criança são
considerados os primeiros
recursos (brinquedo) de
Possibilidades de materiais para bebês que ficam deitados exploração para os bebês.
102
Possibilidades de materiais para bebês que
engatinham
Fonte: Vídeo Ateliê carambola, o brincar está na escola Fonte: Vídeo exploração de materiais não estruturados
escola.
Fonte: Brincadeira de criança - brinquedos e
brincadeiras para crianças pequenas\UNICEF
103
Possibilidades de materiais para bebês
que andam
Tais brinquedos fazem parte da construção, o que oportunidades para crianças que estão iniciando
implica em montar. No entanto, o grau de complexidade é o os primeiros passos. O carrinho de madeira serve,
empilhamento sem derrubar. Costuma-se oferecer “peças” ao mesmo tempo, para empurrar e puxar.
Brinquedos de empurrar
São aqueles utilizados para auxiliar no aprendizado e
desenvolvimento motor do andar. Eles devem ser capazes de
sustentar o peso da criança e ter resistência suficiente para
Fonte: Internet
Encaixes e quebra-cabeças com poucas peças Crianças pequenas gostam de imitar as pessoas,
são ótimos para criar desafios para as crianças especialmente as situações que lhes chamam a atenção.
pequenas experimentarem como encaixar a peça Apreciam pegar a colher e dar de comer ao seu ursinho ou
correta. colocar panos na cabeça. É indispensável favorecer tais
iniciativas e dispor de áreas ou cestos com tecidos e
Brincadeiras com materiais diversos roupas.
Brincadeiras com o próprio corpo, com
movimentos, explorando a sensibilidade para produção Brincadeiras com água e tinta
de sons, experiências com argilas, tintas e materiais Crianças pequenas gostam de brincar com água e
para vivenciar formas, cores e texturas; organização de fazer pinturas, portanto, é importante criar ambientes
cenários e ambientes mais estruturados que para essas experiências. Brincar com canecas dentro de
possibilitem a exploração, a socialização e a solução de bacias nos dias quentes, banhos de mangueira, pintar
problemas que envolvam e ampliem as experiências das muros de azulejos, pintar papéis de diferentes tamanhos,
Brincadeiras de exploração
Criação de ambientes de exploração com
materiais pendurados no teto: tiras de jornal, papel
laminado e celofane ou objetos que produzam sons e
que criem ambientes sonoros para a exploração
musical, os quais resultam em brincadeiras coletivas
com muita interação da criança .
Fonte: Vídeo exploração de materiais não estruturados
Fonte: Brincadeira de criança - brinquedos e
brincadeiras para crianças pequenas\UNICEF
105
Possibilidades para o fazer docente com relação aos bebês
Fonte: http://liberdadeparaosbebes.com.br/
106
Pensando nas Crianças
Bem Pequenas
As crianças bem pequenas são compreendidas entre a idade de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses. São
crianças que se locomovem com mais habilidade, pois além do brincar heurístico, brincam de jogos simbólicos. As
situações que vivenciam lhes permitem aprender a perceber como agem em diversas situações, a expressar suas
intenções, pensamentos e sentimentos de modo mais claro e com autoconfiança, capazes de comunicar as próprias
É preciso lembrar que cada criança é diferente da outra e que a idade não é o único critério
para verificar seus interesses e necessidades individuais. As crianças continuam gostando dos
brinquedos e brincadeiras que conhecem, mas ampliam suas experiências e a complexidade do brincar.
Assim, as sugestões para os menores podem servir para os maiores e vice-versa, ( Brincadeira de criança -
brinquedos e brincadeiras para crianças pequenas\UNICEF).
107
As Experimentações
108
Sugestão de intencionalidade educativa do campo Exploração de possibilidades e limites da movimentação
de experiência corpo, gestos e movimento. do corpo nas diferentes ações do cotidiano.
É
importante
compreender que as
intencionalidades educativas
surgem da vida cotidiana das
crianças por meio da
observação de seus
interesses.
110
Aconchego para Nossas Leituras
experiência escuta, fala, pensamento e imaginação. nos livros que lhe são lidos e seus personagens.
113
As Sutilezas do Cotidiano
Uma prática corrente com crianças pequenas é a exploração externa de materiais diversificados e interação com
crianças de faixas etárias diferentes. Nas imagens acima é possível observar que o espaço foi organizado contendo várias
propostas com água, mas a lavagem de roupa ganhou centralidade. As crianças lavavam, esfregavam e faziam esforço
para torcer as roupas, construindo a simbolização com a lembrança da mãe lavando roupa em casa.
Observem a tentativa da criança para colocar a roupa no varal com o pregador. enquanto faz suas tentativas, o
colega observa atentamente. Para a criança do maternal é muito desafiador segurar a roupa, colocar no varal e pregar,
pois exige certa competência motora.
As crianças, nas experiências significativas, testam seus limites corporais, principalmente os manuais, elaborando
estratégias lhes permitam vencer seus desafios.
114
Sugestão de intencionalidade educativa do campo de Explorem as possibilidades e limites da movimentação
experiência corpo, gestos e movimento. do corpo nas diferentes ações do cotidiano.
115
❏ Observar como as crianças se relacionam e se
comunicam nas situações propostas e como exploram
Possibilidades de observação. os espaços, objetos e materiais ao organizar suas
brincadeiras.
❏ Atentar como utilizam o conhecimento que possuem
vindos de observação e vivências com adultos nas
situações de brincar e significar o mundo do adulto
através do brincar.
116
Possibilidades de Ampliação da Qualidade do Brincar e Interagir
Não basta um ambiente estruturado, com mobiliário, ● Modelos acompanhados de orientação verbal
brinquedos e materiais adequados para o tema da auxiliam a criança a compreender o roteiro da
brincadeira. A ação do adulto é fundamental para ampliar a brincadeira. A criança pode ampliar ou modificar o
qualidade do brincar, observando os interesses da criança e roteiro inicial, introduzindo novas experiências, que
as práticas do universo profissional da comunidade, de modo tornam a brincadeira mais rica e complexa, com
a criar outras brincadeiras de faz de conta ou fazer vários personagens e diálogos mais longos. A
mediações. criança não nasce sabendo brincar, mas aprende
● Quando a criança está encenando o papel de “médico”, com adultos e outras crianças .
para dar maior complexidade ao brincar, pode-se entrar ● No brincar livre, as crianças sozinhas
na brincadeira oferecendo um lápis para usar como experimentam e ensaiam diferentes formas de
termômetro para medir a febre da boneca e dizer: “está brincar, mas é o brincar em ambientes
com febre”. Depois, oferecer um bloco de papel para estruturados, com a participação do adulto e das
que o “médico” possa fazer uma receita médica para a outras crianças, que proporciona maior
“mãe” (outra criança) providenciar os remédios. complexidade ao brincar e qualidade à educação. A
● O adulto pode oferecer orientações verbais e ação do adulto como parceiro de brincadeira,
procedimentos para outros “médicos” cuidarem do observador atento, para atender necessidades que
ouvido, da garganta, da perna ou do braço quebrado, surgem, para reorganizar o ambiente, substituir um
indicando outras especialidades médicas para dar papéis objeto e incluir um novo é o que faz a diferença .
diferentes às crianças .
Espaço
O espaço da sala de referência deve ser organizado a partir dos interesses e necessidades das crianças bem
pequenas. Segundo Horn, esta sala deverá contemplar três organizações espaciais distintas: repouso, higiene e
atividades diversificadas.
Essa organização da sala referência tem que permitir a livre locomoção das crianças, assim como suas escolhas.
Assim, elencamos possibilidades dos seguintes espaços:
★ Espaço para repouso;
★ Espaço para o jogo simbólico;
★ Espaço para construção;
★ Espaço para expressões estéticas;
★ Espaço para jogos dramáticos e música;
Fonte: paralapracá
★ Espaço para leitura e audição de histórias.
Algumas instituições que têm seu espaço físico mais amplo, podem organizar uma sala para as expressões
estéticas, dramáticas e musicais.
Fonte: paralapracá
121
Fonte de inspiração: Horn, 2017.
Possibilidades de Organização do Espaço da Sala de
Referência
122
Pensando nas Crianças
Pequenas
Crianças pequenas abrange o grupo de crianças na faixa etária entre 4 anos e 5 anos e 11 meses. Cada vez
mais as crianças de 4 e 5 anos aprendem a brincar e desenvolver pesquisas e investigações em grupo, a cuidar de si e
dos outros, a organizar seus pensamentos, a ter iniciativa e buscar soluções para problemas e conflitos, a conhecer
suas necessidades, preferências e curiosidades, procurando respostas a suas perguntas sobre o mundo. As
possibilidades de vivências para crianças dessa faixa etária devem ser ampliadas e desafiadoras, partir de seus
interesses, oportunizando que construam significações às suas experiências na vida cotidiana.
123
As folhas que Caem
Podemos concluir que a professora propôs experiências sob a aconchegante sombra de uma árvore. As
crianças exploraram suas folhas no chão, as amassaram, deitaram sobre elas, sentindo suas texturas, ao passo que
puderam perceber que algumas estalavam com a pressão de seus corpos e outras não. Observemos que o simples da
vida cotidiana pode iniciar uma deliciosa investigação das sensações. Vamos refletir sobre essa proposta?
124
Sugestão de intencionalidade educativa do campo Organizar e oportunizar a expressão de sensações
de experiência corpo, gesto e movimento.
conforme exploram objetos ou materiais com texturas diversas.
125
Observar:
❏ como as crianças se expressam diante das situações de
Possibilidades de observação.
exploração.
❏ O que conversam entre si enquanto exploram.
❏ O que manifestam fisicamente diante do ato de explorar.
❏ Quais sensações manifestam.
❏ Que movimentos realizam.
❏ Que brincadeiras criam com o material e no espaço.
126
Experiências com Água
128
❏ Observar e registrar as descobertas das crianças.
❏ Quais estratégias utilizam para resolver o
Possibilidades de observação. problema.
❏ Quais objetos buscam para auxiliar.
❏ O que lhes impulsiona a buscar estratégias para
resolver o problema manifesto.
❏ Como se comunicam durante a experiência.
129
Missão Espaço
Observamos nas imagens que foi proporcionado às crianças um telescópio para observação do espaço,
introduzindo-as ao saber científico. Puderam examinar o céu e, a partir daí, começam a elaborar hipóteses sobre o
que perceberam durante a observação. Perguntas como “Por que o sol não cai do céu? ”, “Para onde ele vai durante
a noite?” e “Por que a lua às vezes aparece de dia?” Permitem que as crianças possam manifestar suas hipóteses
sobre esses fenômenos.
A professora, na roda de conversa, incentiva as crianças a relatarem sobre a experiência, mostrando alguns
elementos do espaço, realizando intervenções para ajudá-las a validar suas hipóteses, explicitando seus
entendimentos e saberes por meio de comentários, questionamentos e diálogos com seus pares e adultos etc.
130
Sugestão de intencionalidade educativa do campo de Organizar e mediar observação de fenômenos e
Possibilidades de perguntas guias de observação. ❏ Como faz o relato da experiência descrevendo com
detalhes?
❏ Elabora hipóteses explicativas?
❏ A curiosidade aumentou?
❏ ficou satisfeita com o que viu?
❏ Faz relações e comparações?
132
Das Experiências Estéticas
134
❏ Expressões demonstradas pelas crianças durante a
Possibilidades de observação. exploração.
❏ Envolvimento do corpo, das mãos no manuseio e
interação com os materiais.
❏ Produções que elaboram com o material.
❏ Diálogos que desenvolvem durante a exploração.
135
As Arquiteturas da Infância
136
Possibilitar a exploração de objetos de diferentes
Sugestão de intencionalidade educativa do campo de formatos e tamanhos e que utilizem o conhecimento de suas
experiência espaços, tempos, quantidades, relações e propriedades para explorá-los com maior intencionalidade.
transformações. Por exemplo: empilhar objetos do menor para o maior e vice
e versa.
Possibilidades de ações dos professores e professoras. crianças interajam com a cultura escrita.
❏ Favorecer situações significativas e de função
social para as escritas espontâneas.
❏ Valorizar as produções escritas das crianças,
considerando suas hipóteses.
140
❏ Em que as crianças se apoiam para escrever?
Possibilidades de observação. ❏ Quais hipóteses levantam durante a escrita?
❏ O que conversam enquanto escrevem?
❏ Quais referèncias usam para sua escrita?
❏ Distingue letras de números?
❏ Conhecem a direção da escrita?
141
Nossas Legendas
142
Sugestão de intencionalidade educativa do campo
Possibilitar que imitem comportamentos de escritor ao
de experiência Escuta, fala, pensamento e
escrever não convencionalmente.
imaginação.
144
Organizando o Espaço, Materiais e Tempo para
as Crianças Pequenas
Fonte: internet
145
O Tempo
❏ Para brincar individualmente e coletivamente;
O tempo da criança de 4 e 5 anos é
❏ Para interagir;
diferente das demais faixas etárias. Elas
❏ Para higienizar-se;
constroem hipóteses mais elaboradas sobre si
❏ Para alimentar-se;
e sobre o mundo.
❏ Para explorar;
❏ Para pesquisar e investigar;
❏ Para construir, etc.
O Espaço
O espaço da sala de referência deve ser organizado a partir dos interesses e necessidades das crianças
pequenas de forma que possibilite livre locomoção, interação, investigação individual e em grupo e escolhas.
Assim, elencamos as possibilidades dos seguintes espaços:
- Espaço para jogo simbólico;
- Espaço para Construção;
- Espaço para expressões estéticas;
- Espaço para jogos dramáticos e música;
- Espaço para leitura e audição de histórias. Escola Stagium
Ressaltamos que algumas instituições que têm seu espaço físico mais
amplo podem organizar uma sala para as expressões estéticas, dramáticas e
musicais.
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Possibilidades de materiais para construção
Possibilidades de materiais para jogo simbólico
Materiais de construção, grandes blocos ocos,
Utensílios de cozinha, cestos com frutas
tacos e blocos de diferentes tamanhos, jogos de
e legumes de cera, ferro de passar, vassoura,
encaixar, material para empilhar, cubos de espuma e
rodo, telefone, computador, bolsas e bijuterias,
madeira, caixas grandes e pequenas, canos de pvc,
apetrechos para pentear, maleta de médico, caixa
troncos de madeira, funil, cones, bobe de cabelo,
de carpinteiro (martelo, chave de fenda e outras
entre outros.
ferramentas), espaços ambientados com
características locais, entre outros.
Possibilidades de materiais para jogos dramáticos e
experiências sonoras
Instrumentos musicais convencionais e não
Possibilidades de materiais para leitura e audição
convencionais, microfone, máscaras, fantasias, etc.
de livros
Livros infantis com histórias de diferentes
Assim, as experiências vividas no
gêneros, revistas em quadrinho, jornal, livros de
espaço de Educação Infantil devem
receitas, revistas informativas.
possibilitar o encontro de explicações
pela criança sobre o que ocorre à sua
volta e consigo mesma, enquanto
desenvolvem formas de sentir, pensar e
solucionar problemas.
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Possibilidades de materiais para expressões
estéticas
❏ Papéis de diferentes formas, tamanhos e texturas;
❏ Tintas (guache, tinta para tecido, aquarela, tintas
caseiras, várias melecas, tintas naturais, etc.);
❏ Pincéis convencionais e não convencionais
(gravetos, galhos, esponjas, seringas, garrafas,
Carlene's Cubbyhouse Family Day Care
folhas, barbante, canudos, etc.);
❏ Lápis de cor, giz de cera, canetas hidrográficas,
lápis grafite, etc.;
❏ suportes (madeira, papel, telas, tecidos, jornal,
parede, chão, etc.);
❏ Colas (branca, colorida, com gliter).
escola Bakhita
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Possibilidades de Organização do Espaço da Sala de Referência
149
150
Recomendações
Recomenda-se que este Caderno de Orientações Pedagógicas seja utilizado na reflexão da práxis de professores
e professoras, a fim de implementar práticas pedagógicas para as crianças alinhadas ao Referencial Curricular de
Rondônia (RCRO) e à luz da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ressalta-se a importância da formação
continuada de professores e professoras em serviço para revisitação e ressignificação das concepções de Educação
Infantil, convergentes com os documentos normativos, em busca de efetivar uma educação que garanta todos os direitos
de aprendizagem e desenvolvimento das crianças de Rondônia.
❏ Reorganização dos berçários rondonienses para possibilitar a movimentação segura, a interação entre bebês, com
adultos, objetos e brinquedos;
❏ Reorganização das espaços e materiais convergentes com os direitos de aprendizagem e desenvolvimento das
crianças;
❏ Reorganização da rotina sem tempo de espera e que atenda ao protagonismo infantil;
❏ Implementação de práticas de investigação com crianças;
❏ Reorganização da avaliação para a primeira infância;
❏ Foco nas intencionalidades educativas para o protagonismo infantil;
❏ Projeção de intencionalidades com a participação das crianças, acolhendo suas necessidades e interesses;
❏ Ressignificação da vida cotidiana das crianças na instituição educacional;
❏ Possibilidades para que as crianças vivam experiências significativas de aprendizagem e desenvolvimento;
❏ Educadores ativos nas vivências com as crianças;
❏ Protagonismo das crianças e educadores;
❏ Ações construídas na coletividade para a reorganização da instituição educativa.
151
Agradecimentos
COLABORADORES
SEMED Ariquemes
CMEIs Sonho de Criança, Criança Feliz, Arikem e Madre Tereza de
Calcutá
SEMED Ji-Paraná
CMEIs: Profª Mirian Trajano Lopes, Primavera, Pedro Gonçalves,
Nosso Lar, Felipe Anselmo Abreu de Souza e
Centro Educacional Grilo Falante
152
Para saber mais...
Sites e páginas
https://reggiochildrenfoundation.org/attivita/fare-scuola/ http://paralapraca.org.br/
https://www.reggiochildren.it/atelier/ http://liberdadeparaosbebes.com.br/
https://blog.wpensar.com.br/pedagogico/abordagem-pikler-educacao-infantil/ https://territoriodobrincar.com.br/
https://innovarteinfantilesp.wordpress.com/ https://criancaenatureza.org.br/
https://www.escolaateliecarambola.com.br/ https://lunetas.com.br/
http://escolacasaamarela.com/ https://www.obeci.org
https://www.graodechao.com.br/ https://avisala.org.br/
https://tempodecreche.com.br/ https://ocomecodavida.com.br/
https://www.facebook.com/carlenescubbyhouse/?epa=SEARCH_BOX https://www.facebook.com/escolastagium/?epa
https://www.facebook.com/mapainfanciabrasileira/ =SEARCH_BOX
https://www.facebook.com/groups/315318389267593/?epa=SEARCH_BO https://www.facebook.com/escolabakhita/?epa=
X SEARCH_BOX
https://www.pedagogiasubjetividade.com/
https://www.escoladavila.com.br/
Livros
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Referências
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edwards, Carolyn; Gandini, Lella; Forman, George. Tradução: Marcelo de Abreu. Revisão técnica; Maria Carmen
Silveira Barbosa. Porto Alegre: Penso, 2016.
BARBOSA, Maria Carmem. Especificidades da ação pedagógica com os bebês. Anais do I seminário nacional:
Currículo em movimento – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010.
BARDANCA, Ángeles Abelheira. BARDANCA, Isabel Abelheira. Os fios da infância. tradução Tais Romero. São
Paulo: Phorte, 2018.
________.Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação
infantil /Secretaria de Educação Básica. – Brasília: MEC, SEB, 2010.
BEM VINDO MUNDO!: Criança, cultura e formação de educadores. Organizadoras: Silvia Pereira de Carvalho,
Adriana Klisys, Silvana Augusto. São Paulo: Peirópolis, 2006.
Desemparedamento da infância: A escola como lugar de encontro com a natureza. Organização: Maria Isabel Amando
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GODSCHMIED, Elinor. JACKSON, Sonia. Educação de 0 a 3 anos: o atendimento em creche. Tradução: Marlon
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GANDINI, Lella. Espaços Educacionais e de Envolvimento Pessoal. In: EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella;
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HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, Cores, Sons, Aromas - A Organização dos Espaços na Educação Infantil.
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________. Brincar e interagir nos espaços da escola infantil. Porto Alegre: Penso, 2017.
HORN, Mario da Graça. FOCHI, Paulo Sergio. A organização do trabalho pedagógico na educação infantil. VI
Simpósio do curso de formação de docentes – normal em nível médio conteúdo, 2012.
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Reggio Emilia em transformação;tradução: Marcelo de Abreu Almeida; revisão técnica: Maria Carmem Silveira
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