7382-Texto Do Artigo-37266-1-10-20171031
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Resumo
Inspirado nas ideias de Paulo Freire, o LEFREIRE – Diálogos em Paulo Freire e Educação
Popular – Grupo de Extensão da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN, realiza círculos de cultura, atividades de caráter popular através
das quais busca interpretar e compreender, alguns dos principais conceitos desvelados pelo
autor. Fundamentado em Freire(2016), Kossy(2002) e Nascimento(2011), este artigo objetiva
discutir sobre quais as aproximações e os distanciamentos entre a nossa prática e a
epistemologia freireana. Apresentamos dois círculos de cultura realizados na comunidade da
Gangorra, Município de Tibau, Rio Grande do Norte, apontando a utilização da imagem com
dispositivo de resgate da memória dos participantes e ferramenta de problematização dos
saberes nela presentes. Percebemos que o distanciamento entre o que queremos e o que
podemos fazer no tempo disponível academicamente para a pesquisa e a extensão induz à
definição de recortes para olhar uma determinada situação.
Palavras-chave: Círculos de cultura. Paulo Freire. Educação Popular.
Abstract
Inspired by the ideas of Paulo Freire, the Lefreire – discussions about Paulo Freire and
Popular education – an extension group from the Education Faculty from the University of
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação – POSEDUC/UERN; especialista em psicopedagogia
e gestão escolar; professora aposentada; membro do Grupo de Pesquisa Educação e Linguagens. E-mail:
erenice.barbosa001@gmail.com
2
Professora do POSEDUC/UERN; doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(2011); tutora do PET Pedagogia da UERN; coordenadora da atividade de extensão Diálogos em Paulo Freire e
Educação Popular e líder do Grupo de Pesquisa Educação e Linguagens. E-mail:
hostinanascimento@hotmail.com.br
3
Mestrando do POSEDUC/UERN; especialista em educação ambiental e geografia do semiárido; professor do
ensino médio; membro do Grupo de Pesquisa Educação e Linguagens. E-mail: caninde.c@hotmail.com
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CÍRCULO DE CULTURA DO LEFREIRE/UERN: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS DO SABER E DO FAZER
state of Rio Grande do Norte – UERN, performes culture circles, activities of popular
character through wich seeks to understand and interpret, some of the main concepts unveiled
by the author. Based on Freire(2016), Kossy(2002) and Nascimento(2011), this article aims to
discuss approaches and estrangements between our practice and the freirean epistemology.
We presented two circles of culture performed at Gangorra community, district of Tibau, Rio
Grande do Norte, indicating the use of images as devices to rescue participant's memories and
a problematization tool of the knowledje presented. We noticed that the distance between
what we want to do and what we can do in the academically available time for research and
extension induces the definition of the clippings in order to look at a particular situation.
No círculo, o olhar vai de encontro a todos, pois todos se olham, todos se veem, como
numa imagem de uma “espiral ascendente”, em que cada círculo da espiral, num movimento
de progressão ascendente retorna ao mesmo ponto, mas sempre num nível mais alto; assim
acontece o círculo de cultura, num diálogo coletivo, como fio condutor para ajudar os sujeitos
a emergirem das suas situações limites, não sozinho, mas com o outro, afinal, como diz Freire
(2016, p. 120), “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam
entre si, mediatizados pelo mundo”.
Nas ideias de Freire, o círculo de cultura rompe com conceitos fortemente enraizados
da educação bancária. A figura do professor como detentor do conhecimento, com aulas
discursivas para transmitir um conteúdo descontextualizado, dá lugar ao diálogo, à
participação, à programação feita a partir de uma investigação temática, ou seja, os temas a
serem debatidos no círculo de cultura partem da realidade dos educandos. Nesse processo,
surgem os temas geradores, extraídos da problematização da prática de vida dos educandos.
Dessa forma, os conteúdos de ensino são resultados de uma metodologia dialógica. Assim, o
círculo de cultura é um espaço de circulação, horizontalidade dos saberes.
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CÍRCULO DE CULTURA DO LEFREIRE/UERN: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS DO SABER E DO FAZER
Percebemos ainda nossa situação-limite quando vimos que o tempo da academia não
coincide com o tempo real para a pesquisa. Há um distanciamento entre o que queremos e o
que podemos fazer num curto espaço de tempo, o que nos leva a realizar recortes para olhar
uma determinada situação. Ainda assim, o conhecer não se torna tão imerso, mas possível de
compreensões que nos possibilitam agir na tentativa de interpretá-las embora, digamos de
passagem, interpretar essa realidade ainda deixa lacunas, pois dentro das nossas limitações é
possível chegar até um determinado ponto, deixando tantas outras construções em aberto para
outras pesquisas.
E, por fim, no círculo de cultura, com a participação dos lefreireanos, o grupo e/ou a
comunidade, articulam teoria e prática. Esse processo de articulação é uma das ações do
projeto de extensão LEFREIRE. Quinzenalmente, o Grupo se encontra para discussão e
compreensão dos conceitos freireanos, de suas principais obras, bem como o diálogo com
outros autores e a socialização da produção de conhecimentos acerca das ideias do autor e da
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Embora cada círculo de cultura, por seu caráter de ação-reflexão-ação, tenha suas
particularidades, a presença do pensamento freireano é a chave do processo para que eles
aconteçam. Dos que aconteceram, abordaremos de forma sucinta dois realizados na
comunidade da Gangorra-Tibau/ RN.
espaço de encontro todos ensinam, todos aprendem e as atividades dão-se num processo de
colaboração mútua.
Nesse espaço de problematização, acreditamos que ainda há lacunas visto que o tempo
limita nossa ação. Embora por meio do diálogo identifiquemos os problemas da realidade,
ainda não foi possível imergir tão significativamente para descobrir suas causas e
potencializar as possibilidades de superação.
Vale ressaltar que, mesmo com limitações no nosso fazer pedagógico, através do
diálogo, nos aproximamos da realidade, identificamos algumas situações limites que nos
chamam a atenção, como por exemplo: a falta de atuação do poder público na Comunidade
com relação à questão agrária, uma vez que a maioria dos pequenos agricultores vende ou
aluga a preços inferiores suas terras para grandes empresas de fruticultura e deixa de produzir
para prestar serviços a essas empresas que, quando as terras estão desgastadas, as abandonam,
deixando o pequeno agricultor à mercê da própria sorte.
Cremos ainda que os limites do nosso fazer tendem a ser reduzidos, visto que os
círculos de cultura caminham para a problematização dessas situações limites, servindo de
espaço de conscientização, que poderá mobilizar a comunidade para superação de alguns
problemas. Como diz Freire, um processo de conscientização através do qual os sujeitos
transitem da “curiosidade ingênua” para a curiosidade “epistemológica”. Nesse sentido, esse
espaço de problematização tornar-se-á real, pois quando a teoria e prática se entrelaçam, dão
significado ao fazer coletivo.
Reinvenção, para nós, significa que, embora tenha algumas características comuns que
atendem à proposta do Grupo, cada círculo é único. Ao planejar, pensar a ação coletivamente,
o LEFREIRE procura abrir espaços que possibilitem renovar, rever, avaliar e deixar em
evidência os resultados para retomar as ações posteriormente. Assim, três momentos são
importantes: o planejamento coletivo, a reinvenção e a avaliação de cada círculo. Esta
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A educação bancária não foi capaz de dar de conta da educação formal, bem como
alfabetizar esses sujeitos. Assim, eles encontram, naquela escola um espaço educativo de
aprendizagem que leva em consideração os saberes, a formação humana, o diálogo e o ponto
de encontro do aprender.
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Nas palavras de Kosoy (2002, p. 36), “toda e qualquer imagem fotográfica contém em
si, oculta e internamente, uma história: é sua realidade interior, abrangente e complexa,
invisível fotograficamente e inacessível fisicamente”. Nesse contexto, vimos que a técnica
utilizada no círculo se aproxima da teorização do autor. As fotografias servem como
documento iconográfico para representar a realidade nos momentos de interação, servindo
ainda de testemunho dos acontecimentos e das ações do grupo, seja nas vivências na escola,
seja nos afazeres da comunidade, trazendo à tona as histórias vividas, a emoção, ou seja, a
realidade interior e exterior dos participantes, de forma abrangente. Nesses termos, a
complexidade das lembranças, aparentemente invisível fotograficamente, torna-se real quando
o sujeito a descreve ou deixa transbordar a emoção. E inacessível fisicamente, pois o que resta
são a imagem e as lembranças dos seus autores sobre um momento que literalmente não volta
jamais, mas que permanece na memória de cada participante.
caso da comunidade da Gangorra, o inédito viável ocorre pela iniciativa das professoras, parte
da mobilização da comunidade, para a construção de um espaço educativo. A diferença é que
nesse espaço a educação popular é a base do fazer pedagógico e do encontro entre
professoras, alunos e suas famílias.
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Por esse viés, os círculos de cultura, por sua possibilidade de produzir informações,
constitui um importante procedimento da pesquisa qualitativa, pois,
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com ajuda de uma equipe (lefreireanos) e a gravação das discussões. E, por fim, a terceira
etapa, a construção do conhecimento através da transcrição das gravações e das análises
individuais e coletivas das discussões dos círculos.
Considerações Finais
Cada círculo de cultura tem suas peculiaridades, seja na dinâmica do encontro, seja ao
acolher novos participantes, mas o certo é que deixa aprendizagens diferentes e significativas.
O LEFREIRE, enquanto programa de extensão, aporta três contribuições significativas: a
pessoal, a acadêmica e a social. A pessoal porque cada integrante enquanto sujeito
cognoscente traz e leva para si conhecimentos, seja na interação, na amizade, na emoção. É
um processo de construção intrapessoal e interpessoal de base sólida que poderá permear toda
a vida de seus participantes. A acadêmica porque vê-se na realidade que teoria e prática não se
dissociam, uma alimenta a outra. Os estudos e discussões realizados nas rodas de conversa
(círculos) são imprescindíveis para a produção de um conhecimento fundamentado na
realidade. A social porque ao problematizar, ao olhar o sujeito e ao dialogar com a
comunidade, também possibilita sair da situação limite, da consciência ingênua e promover o
SER MAIS.
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Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 53. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
______. Pedagogia do oprimido. 60. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
KOSSY, Boris. Realidades e ficções na Trama Fotográfica. 2. ed. Cotia - São Paulo: Ateliê
Editorial, 2002.
<https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/14362/1/HostinaMFN_TESE.pdf>.
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