IPEA 2018 CapsVI VII
IPEA 2018 CapsVI VII
IPEA 2018 CapsVI VII
1 INTRODUÇÃO
A fase de implementação da política pública é caracterizada por processos estruturados que
articulam diversos atores e tipos de recursos (materiais, humanos, financeiros, informacionais
e institucionais) para o alcance de seus objetivos e a execução das metas físicas das ações
propostas. É nessa fase que são produzidos os resultados concretos da política pública.
A estratégia de implementação descreve quais os instrumentos disponíveis ou a serem
constituídos, e a forma de execução (direta, descentralizada para estados, Distrito Federal e
municípios e transferências) para atingir os resultados pretendidos (Brasil, 2009).
Parte-se aqui da explicitação do modelo lógico, ou do “modelo lógico em ação”, descre-
vendo a relação entre os meios disponíveis para a realização dos produtos e dos resultados
almejados. A descrição dos atores envolvidos e de suas responsabilidades nas ações da política
e nos produtos considerados necessários e suficientes para o atingimento das finalidades
declaradas permite uma análise de consistência dessa estratégia em relação aos objetivos
e resultados pretendidos.
Também fazem parte dela as relações existentes entre as pessoas, as instituições vigen-
tes (regras formais e informais), os recursos financeiros, materiais, informativos e políticos
(capacidade de influência). Ao se referir ao conjunto de pessoas e organizações, e às rela-
ções que se organizariam para implementar uma política, estamos na definição do arranjo
institucional proposto pela estratégia de implementação.
No caso da avaliação ex ante da fase de implementação, a intenção é identificar inconsis-
tências, insuficiências ou desperdícios de maneira antecipada. Para minimizar os problemas
futuros, recomenda-se o envolvimento dos atores desde a fase inicial das ações, incluindo
a construção conjunta da estratégia, ou plano, de implementação da política pública, que
deverá ser composto por:
• definição do modelo de gestão e de governança, explicitando os mecanismos de
liderança, estratégia e controle que serão postos em prática para avaliar, direcionar
e monitorar a política;
• análise das atribuições e dos incentivos dos atores envolvidos na execução da política,
verificando se o arranjo institucional proposto é adequado;
• análise da base legal da política e da espécie de instrumento que será utilizado para
constituir as obrigações e avenças necessárias à sua consecução e dos seus pro-
gramas e ações;
• definição do plano de comunicação a ser executado durante todas as etapas da
política; e
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6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
• análise de riscos eventuais ao longo da execução da política pública, com sua identifi-
cação, elaboração de estratégias de mitigação, administração e controle, compatível
com a matriz Swot (do inglês, strengths, weaknesses, opportunities and threats).1
É fundamental identificar os riscos à política a ser implementada, determinando-se fa-
tores com alta probabilidade de influir sobre seu processo de execução e caracterizando-os
em detalhe suficiente para que se possa desenvolver uma estratégia para sua mitigação.
Nessa linha, o plano de implementação deve vir acompanhado de um plano de gestão de riscos.
Para melhor explorar esses instrumentos, este capítulo se divide em quatro partes
principais. Primeiramente, serão destacados modelos de gestão e governança. Em seguida,
serão discutidos arranjos de implementação, nos quais se destaca o tratamento da questão
federativa na implantação dos programas. A terceira parte é dedicada ao plano de comuni-
cação. Por fim, a última parte é dedicada ao plano de gestão de riscos.
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
Ela também se debruça sobre os aspectos que foram especificados no modelo lógico,
organizando soluções técnicas e tecnológicas capazes de garantir as entregas dos produtos
com qualidade e no tempo esperado. Liderança empreendedora, capacitação de pessoal,
estruturação de sistemas informatizados de “entrada” (registro de demandas) e “saída”
(respostas, produtos), controle da execução orçamentária e financeira, compras, análise e
gestão de riscos, entre outros, são aspectos próprios da gestão, pois é ela que define também
os procedimentos de monitoramento, avaliação e controle que dirão se uma política está indo
bem ou mal e que ajustes são necessários.
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6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
Esses modelos de governança não são excludentes entre si, pois uma mesma política
pode combinar competências, atribuições e ações centralizadas com outras descentralizadas,
processos de articulação em rede, pactuação hierárquica e solução desconcentrada de con-
trovérsias. Não existe fórmula única e ideal para o sucesso de uma política. O fundamental é
que se deixe explícito como se pretende organizá-la e se encontre a forma mais adequada
para atender aos seus objetivos e aos interesses dos beneficiários.
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
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6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
• o número mínimo de pessoas físicas beneficiárias a serem atendidas em cada município contemplado pelas ações do Programa Cartão
Reforma, ou no Distrito Federal.
Assim, por meio de portarias, caberá ao MCidades:
• o estabelecimento dos procedimentos e das condições necessárias à adesão ao programa, incluídos os parâmetros para enquadramento
nos critérios estabelecidos por decreto;
• a distribuição regional dos recursos do programa;
• a definição dos critérios para a seleção dos projetos de melhorias habitacionais apresentados pelos entes apoiadores;
• a definição dos procedimentos para cadastramento e verificação da elegibilidade e para seleção das pessoas físicas beneficiárias do programa;
• a fixação do valor da parcela de subvenção a ser concedida às pessoas físicas beneficiárias para aquisição de materiais de construção,
observados os limites estabelecidos e as características dos projetos de melhorias habitacionais a serem executados no âmbito do programa;
• a fixação do valor da parcela da subvenção a ser concedida aos entes apoiadores para as ações de assistência técnica;
• a operacionalização, o acompanhamento, o controle e as avaliações gerenciais do desempenho do programa;
• a divulgação, na internet, do rol de entes apoiadores e de pessoas físicas beneficiárias inscritas no programa, incluídos os dados cadastrais
e os benefícios recebidos, observado o disposto na Lei no 12.527, de 18 de novembro de 2011;
• as condições para complementação do valor da subvenção econômica pelos entes apoiadores e por instituições privadas;
• a vistoria de unidades habitacionais que receberam intervenções do programa, a partir de plano amostral, com seleção aleatória de unidades
habitacionais e de municípios, a ser elaborado com base nas referências estatísticas usuais; e
• as ações que devam ser prestadas pelos entes apoiadores, como assistência técnica.
Na execução final do produto principal, qual seja, as obras de melhoria habitacional atendidas pelo programa, as famílias beneficiárias terão
a gestão nas decisões operacionais de como realizar essas melhorias, na escolha dos materiais a serem comprados e no layout dessas obras.
Com isso, uma parte do processo decisório será por autogestão. Destaca-se que a aplicação indevida dos recursos da subvenção econômica sujeita
os beneficiários às penalidades legais sem prejuízo de outras sanções civis, administrativas e penais cabíveis.
Serão publicados manuais e orientações aos órgãos e técnicos envolvidos na gestão e execução da política nos estados e municípios, para subsidiar
e padronizar o cadastramento dos entes e de seus projetos de intervenção, para a realização de licitação de contratação de assistência técnica,
bem como para o cadastramento dos grupos familiares interessados em receber o benefício.
BOXE B.1
Gestão e governança do exemplo B
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
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Um componente relevante da governança da política seria implementado por meio do modelo de avaliação da proposta. Isso porque a formulação
inicial da política contemplou a instituição da CTDF, instituída por meio do Decreto nc 7.711/2012, e que foi composta por dezoito membros, seis
ligados ao Executivo, seis ligados aos representantes de entidades patronais e seis ligados aos representantes dos trabalhadores. No âmbito da
CTDF, a liderança coube ao MF, responsável pela presidência da comissão tripartite. Competiria à CTDF realizar avaliações, sob a ótica de cada um
dos representantes, e reunir subsídios para o redesenho da política.
Outro aspecto da governança seria referenciado no monitoramento fiscal da medida. Assim, o Decreto no 7.828/2012 e a Portaria Conjunta Receita
Federal (RFB)/Secretaria do Tesouro Nacional (STN)/Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)/Ministério da Previdência Social (MPS) no 2/2013
explicitam as atribuições da Secretaria da Receita Federal e do Tesouro Nacional quanto à compensação ao Fundo do Regime Geral da Previdência
Social – FRGPS em virtude da política de desoneração da folha. À Receita Federal do Brasil caberia:
• avaliar o impacto fiscal do programa na redução das receitas da contribuição à previdência; e
• monitorar a arrecadação da contribuição incidente sobre o faturamento.
Até 2015, a adesão das empresas beneficiadas pela política era compulsória. Assim, deveriam aderir à nova contribuição sobre a receita bruta desde
que suas atividades e/ou produtos estivessem listados na lei. A partir de 2015, a política de desoneração da folha de pagamentos estabeleceu a
possibilidade de escolha entre a base folha e faturamento para os beneficiários.
Na governança da política, os parâmetros em vigor sugerem lacunas relevantes, atinentes à divulgação dos seus resultados e à necessidade de
prestação de contas e responsabilização. Esses aperfeiçoamentos institucionais pressupõem a participação ativa do MF e do MP, além da Casa
Civil. Isso para dar maior segurança jurídica aos critérios adotados, bem como para estabelecer as competências e os limites da gestão dos
ministérios setoriais.
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6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
políticas que distribuem parcos benefícios e cobram exigências muito custosas aos parceiros,
em termos de controles e penalidades, elevam a aversão ao risco e produzem baixo interesse
em aderir à sua implementação.
O equilíbrio ideal só pode ser encontrado na medida em que os propositores sejam capazes
de identificar e articular todos os atores interessados na superação daquele problema que
motivou a criação da política. A articulação implica uma oferta de incentivos à cooperação,
por parte de quem propõe, como forma de induzir ações coordenadas. Os limites sujeitam
os beneficiários a regras de controle e a exigências pactuadas que reforcem os objetivos
pactuados. Tais controles e exigências requerem clareza sobre os aspectos que indicam a
qualidade da entrega, a transparência e lisura dos processos, o uso adequado dos insumos,
além da imprescindível aderência ao público-alvo.
A modulação a ser encontrada entre incentivos e limites é o cerne do que se denomina pac-
tuação. O pacto em torno da política é firmado quando as ofertas e expectativas do propositor se
ajustam às capacidades, aos interesses e às ideias dos parceiros de implementação e avaliação.
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
Da mesma forma, para que as políticas tenham seus efeitos ou impactos (ex post) re-
vertidos em alcance de metas estabelecidas e em responsabilidades de avaliações por parte
dos entes federativos, é preciso incorporar as diferentes e heterogêneas especificações da
demanda social, bem como as distintas construções de políticas a serem conduzidas de forma
compartilhada ou coordenada entre os três níveis de governo no contexto federativo nacional.
BOXE A.2
Arranjo institucional e federativo do exemplo A
BOXE B.2
Arranjo institucional e federativo do exemplo B
4 INSTRUMENTOS NORMATIVOS
4.1 Importância da apresentação da base legal
A política pública e os programas e as ações dela decorrentes são executados, ao menos em
parte, por agentes que atuam em nome do Estado no desempenho da função administrativa,
objetivando atender concretamente os interesses coletivos. Essa atuação da administração
pública é informada pelo princípio da legalidade, que para a esfera pública assume uma in-
terpretação distinta à aplicada em relação aos cidadãos. Enquanto a esses são asseguradas
a livre-iniciativa e a autonomia da vontade, podendo realizar as atividades e condutas não
vedadas juridicamente, ao administrador público, só é permitido regular e legitimamente
adotar as condutas determinadas ou autorizadas pelo ordenamento jurídico.
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6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
A justificativa de relevância para a matéria ser tratada em medida provisória está nos alarmantes números e indicadores apresentados nos boxes
A.5 e A.6 apresentados no capítulo 2, presentemente referenciados, que justificam a criação de instrumentos jurídicos de emergência pela União,
os quais se revelem dotados de amplo espectro de atuação, abrangendo todo o território nacional, e orientados à redução do deficit de qualidade
habitacional no país. Eis a funcionalidade precípua da subvenção econômica veiculada por meio do Programa Cartão Reforma.
A urgência da implantação do Programa Cartão Reforma está fundamentada na sua execução em caráter de projeto-piloto do governo federal.
A constatação do diagnóstico de precariedade da condição das habitações instaladas, de sua associação com indicadores de saúde e de educação
bem justificam, ademais, sua instituição em caráter emergencial. A ação governamental justifica-se, portanto, à realização do direito social à moradia
digna (art. 6o, CF/1988), associado à promoção de melhoria da qualidade de vida da população brasileira de baixa renda.
BOXE B.3
Base legal e normativo para a implementação da política do exemplo B
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6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
e deve ser classificada segundo os seguintes conceitos, de acordo com o MTO 2018
(Brasil, 2017, p. 43-44, grifo do original):
a) Direta: ação orçamentária executada diretamente pela unidade responsável, sem
que ocorra transferência de recursos financeiros para outros entes da Federação
(estados, Distrito Federal e municípios) ou para entidades privadas.
b) Descentralizada/delegada: atividade ou projeto, na área de competência da União,
executado por outro ente da Federação (estado, município ou Distrito Federal), com
recursos repassados pela União.
c) transferência:
• obrigatória: operação especial que transfere recursos, por determinação consti-
tucional ou legal, aos estados, Distrito Federal e municípios.
• outras: transferência de recursos a entidades públicas ou privadas sem fins lucra-
tivos, organizações não governamentais e outras instituições, que não decorram
de determinação constitucional ou legal.
d) linha de crédito: ação realizada mediante empréstimo de recursos aos beneficiários
da operação. Enquadram-se também nessa classificação os casos de empréstimos
concedidos por estabelecimento oficial de crédito a estados e Distrito Federal,
municípios e ao setor privado.
Cumpre destacar que as formas de implementação descentralizada/delegada e as trans-
ferências, obrigatórias ou não, são formas de implementação indireta. Elas se distinguem pela
competência, responsabilidade ou propriedade dos bens ou serviços gerados em decorrên-
cia da transferência, entrega ou repasse de recursos financeiros: na forma descentralizada/
delegada é do transferidor (União), e nas transferências é do recebedor (estado, município,
Distrito Federal, consórcios públicos, entidades privadas sem fins lucrativos, entidades pri-
vadas com fins lucrativos).
É oportuno observar ainda que a classificação da ação como direta ou descentralizada
não é mutuamente exclusiva, pois em alguns casos é possível que determinadas ações sejam
implementadas tanto de uma forma quanto de outra.
Aqui é relevante fazer uma distinção entre a forma de implementação direta, que tem por
característica a execução orçamentária direta, sem transferência, e os conceitos de execu-
ção direta e indireta de obra ou serviço da Lei de Licitações e Contratos, na qual a execução
direta caracteriza-se pela realização da obra ou do serviço pelos próprios meios da adminis-
tração, e a execução indireta, pela realização da obra ou serviço mediante contratação da
administração com terceiros. Também cabe uma distinção em relação ao que é contratação
direta, que ocorre nos casos em que a licitação é legalmente dispensada, dispensável ou
inexigível.
A lei é a primeira nascente normativa ligada à forma de implementação direta. Temos por
exemplo o servidor público efetivo que, em geral, não celebra um contrato de trabalho com a
administração. Seus direitos e obrigações estão definidos em lei. Já o contrato administrativo
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
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5 PLANO DE COMUNICAÇÃO
Quando da formulação da proposta, os gestores e técnicos envolvidos devem elaborar
plano de comunicação a ser executado durante todas as etapas da política, considerando
os modelos lógicos estabelecidos (é possível consolidar mais de um modelo lógico em uma
mesma estratégia de comunicação).
Um plano de comunicações voltado para uma política pública tem o objetivo de descre-
ver como os processos de comunicação serão gerenciados a partir de sua fase de criação,
perpassando sua implementação, monitoramento e avaliação. Deverá ser construído por
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
meio de uma visão integrada sobre diversas variáveis envolvidas, tais como: identificação
das partes interessadas, respectivos interesses em relação à política e à capacidade de
interferência, disponibilidade de meios de comunicação e seus custos, dinâmica das ações
envolvidas, cronogramas, dentre outros.
Uma das maiores referências modernas em gestão, Kotler (2000) considera cinco passos
indispensáveis para o desenvolvimento de um plano de comunicação eficiente. Essa base
referencial teórica, associada aos resultados advindos da utilização de outras ferramentas
como o “5W2H” – um conjunto de sete perguntas e respostas sobre a ação que será desen-
volvida2 – e a análise Swot, vista em detalhe no capítulo 4, enriquece e sedimenta o plano
de comunicação.
Cinco passos de Kotler:
• identificação dos públicos-alvo e partes interessadas;
• definição dos objetivos da comunicação;
• desenvolvimento da mensagem;
• escolha dos meios de comunicação; e
• mensuração dos resultados da comunicação.
De acordo com as melhores práticas, um plano de comunicação deve ser um documento
de fácil entendimento e conter minimamente as seguintes informações:
• requisitos de comunicação das partes interessadas;
• relatório/informação (formato, conteúdo, nível de detalhe, modelos);
• propósito;
• responsável;
• destinatários;
• meios de comunicação ou tecnologia;
• frequência;
• início e término; e
• modelos e diretrizes para reuniões, e-mail etc.
Aliando os cinco passos preconizados por Kotler às orientações citadas nas melhores
práticas, é possível definir que seja necessária a construção de planos de comunicação
que se iniciem com a identificação dos envolvidos (partes interessadas e/ou público-alvo),
contenham o objetivo de cada tipo de informação, o formato, o meio que será utilizado, a
periodicidade e os destinatários.
É oportuno, portanto, que os planos de comunicação contemplem minimamente uma
matriz de comunicação que utilize a ferramenta “5W2H” e um detalhamento do processo
de comunicação. A finalidade dessa ferramenta administrativa é auxiliar na elaboração do
plano de comunicação. Nesse caso específico, a depender da fase na qual se encontra a po-
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6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
lítica pública (criação, em andamento, expansão, aperfeiçoamento) pode não ser necessário
(ou conveniente) estabelecer todos os pontos exigidos pela ferramenta, que sugere os se-
guintes questionamentos para sua construção:
• Qual informação? (What?);
• Quem é o responsável? (Who?);
• Por que deve ser informado? (Why?);
• Onde as informações serão armazenadas? (Where?);
• Quando e/ou qual a periodicidade? (When?);
• Como a informação será transmitida? (How?); e
• Quanto custa armazenar e transmitir a informação? (How much?).
O plano de comunicação, bem como todos os demais planos de estruturação das polí-
ticas públicas, não deve ser um documento estático. Ao contrário, o referido plano deve ser
passível de atualizações e implementações a serem realizadas pelos gestores envolvidos
ao longo da condução da política pública. Avaliações periódicas devem ser realizadas com
o objetivo de verificar se a gestão da comunicação, como foi planejada, funciona e agrega
valor à implementação da política pública, realizando-se os ajustes que se façam necessários.
Além disso, é de suma importância que as informações sejam armazenadas e possam
ser recuperadas quando necessário, em especial com o propósito de permitir o acúmulo de
lições aprendidas, transformando conhecimento tácito em explícito e, por consequência, ala-
vancando a curva de aprendizado da Administração em relação a políticas públicas similares.
Cabe ressaltar que o plano de comunicação de uma política pública deve ter foco na
dinamização da rede de comunicação, suporte permanente às lideranças, escalonamento
de riscos e problemas, reporte de indicadores, tomada de decisão e divulgação para a socie-
dade. Desse modo, visando maior efetividade na divulgação para a sociedade, é importante
que o plano de comunicação seja elaborado com a participação das assessorias de comu-
nicação dos órgãos em observância das diretrizes da Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República (Secom), podendo inclusive dispor do suporte da Empresa Brasileira
de Comunicação (EBC).
Por fim, destaca-se a regulamentação do direito constitucional de acesso às informações
públicas com a vigência da Lei de Acesso à Informação (Lei no 12.527/2011), que normatiza
que todas as informações produzidas ou sob guarda do poder público são públicas e, por-
tanto, acessíveis a todos os cidadãos, ressalvadas as informações pessoais e as hipóteses de
sigilo legalmente estabelecidas. Essa norma passou a obrigar os órgãos e as entidades a dar
publicidade a informações referentes ao recebimento e à destinação dos recursos públicos
por eles geridos.
A partir de agora, segue o exemplo de um possível plano de comunicação para a proposta
de nova política voltada à melhoria habitacional e para a proposta de expansão da redução
da alíquota de contribuição previdenciária.
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
BOXE A.4
Plano de comunicação do exemplo A
BOXE B.4
Plano de comunicação do exemplo B
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6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
6 GESTÃO DE RISCOS
Ainda na etapa de formulação, os órgãos e as entidades envolvidas precisam explicitar como
será estruturado o processo de gestão de riscos da política pública proposta, cuja finalidade
é garantir a existência de mecanismos que permitam a consecução dos resultados almeja-
dos. Considerando a dimensão de uma política pública e os aspectos citados, sugere-se o
aproveitamento da utilização da matriz Swot como insumo, pois tal ferramenta irá auxiliar
na definição do contexto e na própria identificação primária dos riscos à boa execução da
política, como apresentado anteriormente no capítulo 4.
Com base nesse processo, devem ser fornecidas informações quanto aos principais riscos
envolvidos na implementação da política pública, bem como dos meios a serem utilizados
para o seu tratamento.
Todos os órgãos e as entidades, assim como as políticas planejadas e executadas por
eles, são criados para atender a determinados objetivos. Fatores internos e externos, no
entanto, frequentemente geram incertezas que podem afastá-los desses objetivos, gerando
ineficiência, ineficácia, desperdícios, prejuízos e, consequentemente, a prestação de serviços
de baixa qualidade aos cidadãos. O efeito dessas incertezas sobre os objetivos, segundo
define a ISO 31000, é o que chamamos de risco.
São relevantes fatores de risco tanto internos ao programa ou à instituição quanto exter-
nos, contextuais. A natureza do programa e dos produtos a serem entregues por ele influi dire-
tamente sobre os tipos de riscos a serem considerados, devendo-se levar em conta o impacto
destes sobre os custos e cronograma do projeto. Outros insumos a serem considerados para
a identificação de riscos são arranjos institucionais específicos das instituições envolvidas,
lições acerca de intervenções da mesma natureza, sejam documentadas ou provenientes
do conhecimento da equipe gestora, bem como condições de mercado, políticas e sociais.
Uma vez identificados os riscos ao projeto, deve-se elaborar uma relação de suas fontes,
ou seja, todos os eventos identificados que possam vir a afetar o projeto, independentemen-
te da frequência ou probabilidade de que ocorram e a escala do impacto que possam ter
sobre a execução do programa. Adicionalmente, é importante identificar possíveis sintomas
da concretização de riscos a serem reconhecidos caso os riscos estejam de fato afetando
o projeto, de modo que se possa empregar as estratégias de mitigação planejadas a tempo
de minimizar impactos negativos.
É importante que à identificação de riscos se siga a sua quantificação com a maior pre-
cisão possível. A partir de tal quantificação torna-se possível planejar diferentes respostas
para cada risco. Grosso modo, pode-se escolher evitar o risco, agindo preventivamente para
eliminar sua fonte; mitigá-lo, tanto por meio da redução da probabilidade de sua ocorrência
(com ações preventivas) quanto do valor de seu impacto (por exemplo, com a aquisição de
um seguro); ou, por fim, assumi-lo, aceitando suas consequências ativamente (com um pla-
no de contingência) ou passivamente (com inação). Deve-se determinar quantos recursos
e esforços vale a pena gastar na resposta a um risco a depender do tamanho do impacto
sobre os resultados do programa esperados a partir de sua concretização. Um plano de ges-
tão de riscos deve documentar as respostas planejadas para cada um, bem como designar
responsáveis por sua implementação e pela identificação de sintomas.
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6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
É preciso salientar que podem existir riscos com resultados positivos sobre os objetivos,
também chamados de oportunidades, além daqueles com impactos negativos, conhecidos
como ameaças. Neste guia, para fins de estratégia de implementação de uma política pública,
considera-se possível utilizar apenas o risco negativo, sendo facultado ao órgão demandante
incluir ou não os positivos no gerenciamento de riscos de implementação da política pública
proposta.
Idealmente, o órgão ou a entidade responsável pela política pública deve implantar a
gestão de riscos na organização, conforme estabelece a Instrução Normativa MP/Controla-
doria-Geral da União (CGU) no 01/2016 (IN Conjunta). As práticas preconizadas na IN Con-
junta são capazes de fornecer subsídios para a avaliação de riscos da política específica a
ser implantada, tendo em vista que a gestão de riscos da unidade permite identificar, avaliar
e administrar as principais ameaças e oportunidades passíveis de serem enfrentadas, pos-
sibilitando garantia razoável de alcance dos seus objetivos, entre os quais devem estar os
resultados das políticas públicas conduzidas.
Existem vários frameworks disponíveis que podem auxiliar na gestão de riscos. A seguir
serão elencados alguns exemplos.
1) ISO 31000 – citada anteriormente, cujas diretrizes estão sendo aqui utilizadas. Criada
em 2009, ela estabelece um número de princípios que precisam ser atendidos para
tornar a gestão de riscos eficaz.
2) COSO ERM (Gerenciamento de Riscos Corporativos – Estrutura Integrada) – ferra-
menta desenvolvida para auxiliar gestores, divulgada em 2004.
3) Orange Book (“The Orange Book Management of Risk – Principles and Concepts”
– Gerenciamento de Riscos – Princípios e Conceitos) – produzido e publicado pelo
HM Treasury do Governo Britânico). O Orange Book foi amplamente utilizado como a
principal referência do Programa de Gerenciamento de Riscos do Governo do Reino
Unido, iniciado em 2001.
Para o gerenciamento de riscos no âmbito da implementação da política pública, pode
ainda ser utilizado como referência o Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos
(Guia PMBOK), o qual contém capítulo específico sobre gerenciamento de riscos passível
de fornecer insumos para a fase de implementação da política.
Este guia especifica o planejamento do gerenciamento de riscos como a primeira
etapa desse processo, o qual deve definir como as atividades serão conduzidas nas eta-
pas subsequentes.
No planejamento, devem ser definidos, entre outros aspectos considerados relevantes
pelo órgão ou pela entidade gestora da política pública:
• os responsáveis pela execução das atividades;
• as ferramentas e técnicas a serem utilizadas;
• como os riscos serão categorizados, analisados e priorizados;
• os tipos ou as formas de resposta aos riscos;
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
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Estabelecimento
dos contextos
Análise de riscos
Avaliação de riscos
Tratamento de riscos
Elaboração: CGU.
De acordo com a estrutura proposta pela ISO 31000, antes de ser iniciada a concepção
de como será realizado o gerenciamento de riscos, deve haver entendimento do contexto da
política pública. O contexto pode ser definido como a soma dos ambientes interno e externo
nos quais ela estará inserida. Deve considerar, no âmbito interno, questões como a estrutura
de gestão prevista, com seus diversos atores, bem como os recursos envolvidos (humanos,
143
6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
materiais, tecnológicos etc.). No âmbito externo, é preciso levar em conta a clientela que
forma o público-alvo, os agentes que atuam na área em que se insere a política, o panorama
socioeconômico e a legislação. Devem ainda ser considerados os demais agentes (públicos
ou privados) envolvidos na implementação e na execução da política. Entretanto, a lista aqui
apresentada é apenas exemplificativa, não esgotando as possibilidades a serem consideradas
no entendimento do contexto.
Segundo a ISO 31000, a finalidade da etapa de identificação de risco é gerar uma lista
abrangente de riscos baseada em eventos que possam criar, aumentar, evitar, reduzir, acelerar
ou atrasar a realização dos objetivos. Trata-se, portanto, de uma identificação abrangente,
pois as ameaças que não forem identificadas não serão incluídas nas fases seguintes dentro
do mesmo ciclo de avaliação.
O responsável pela identificação dos riscos deve utilizar ferramentas e técnicas que sejam
adequadas aos seus objetivos e capacidades e aos riscos enfrentados. Por esse motivo, é
importante que as pessoas envolvidas nesse processo tenham um conhecimento adequado
sobre a política e sua proposta de implementação, bem como sejam incentivadas a não se
restringirem aos acontecimentos do passado.
Existem algumas técnicas para identificação de riscos. As técnicas que serão utilizadas
devem ser definidas na estratégia de gestão de riscos a ser adotada. Dentre as ferramentas
mais utilizadas estão as seguintes.
1) Brainstorming: obtenção de uma lista dos riscos a partir de uma reunião com equipe
multidisciplinar representando setores e competências diferentes da organização,
com o apoio de um facilitador, com o objetivo de identificar riscos.
2) Entrevistas: entrevistar as partes interessadas e os especialistas com o objetivo de
identificar riscos.
3) Análise de listas de verificação de riscos: verificar as listas de riscos previamente
identificadas pelo gestor sobre processos ou programas similares. Utilizar lições
aprendidas e informações já catalogadas pelo gestor.
4) Técnica Delphi: um facilitador distribui, entre especialistas em riscos, um questionário
para identificar riscos importantes à política pública. As respostas são resumidas
e redistribuídas aos especialistas, para que estes façam comentários adicionais,
processo este que pode se repetir algumas vezes. Os participantes são mantidos
no anonimato, com o fim de reduzir a parcialidade e de evitar que alguém possa
influenciar indevidamente o resultado. O objetivo é que se chegue a um consenso
sobre quais são os riscos importantes para aquela política pública.
Considerando a dimensão de uma política pública e os aspectos citados, sugere-se o
aproveitamento da utilização da matriz Swot da implementação da política pública como
insumo, pois tal ferramenta irá auxiliar na definição do contexto e na própria identificação
primária dos riscos de implementação. Normalmente as fraquezas e ameaças revelam riscos
internos e externos, respectivamente. Desta maneira, ocorreria a identificação dos riscos e
a primeira classificação possível deles (internos ou externos).
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
Após essa identificação primária, os riscos podem ainda ser agrupados pelos tipos es-
tabelecidos pela IN Conjunta:
• riscos operacionais;
• riscos de imagem/reputação;
• riscos legais; e
• riscos financeiros/orçamentários.
Cabe ressaltar que a lista trazida na referida IN é apenas exemplificativa, pois os tipos
de riscos podem variar em cada caso, cabendo ao gestor definir qual a melhor forma de
agrupá-los dentro da realidade da política e do órgão ou da entidade.
A análise de riscos envolve desenvolver sua compreensão, servindo de insumo para sua
avaliação e a consequente decisão sobre a necessidade ou não de tratamento. Nesta etapa,
busca-se identificar as causas e as fontes de riscos, internos e externos, suas consequências
positivas e negativas, e a probabilidade de que essas consequências possam ocorrer.
Segundo a ISO 31000, fonte (fator) de risco é um elemento, que, individualmente ou
combinado, tem o potencial intrínseco para dar origem ao risco, podendo ser tangível ou
intangível. São exemplos de fatores de risco: i) internos: infraestrutura, pessoas, processos,
tecnologia; e ii) externos: econômicos, meio ambiente, político, social etc.
Existem algumas formas de realizar a análise dos riscos identificados. Uma das mais co-
muns é determinar o grau do risco a partir da combinação da probabilidade (P) de ocorrência
do risco e do impacto (I) (consequência) na política pública, caso o risco se concretize (grau
do risco equivale a PxI). Para tal análise, normalmente é utilizada uma matriz de Probabilidade
X Impacto, conforme exemplo da figura 2.
FIGURA 2
Exemplo matriz de probabilidade versus impacto
Legenda:
Elaboração: CGU.
145
6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
Mais uma vez, considerando que, por vezes, as políticas públicas possuem uma dimensão
ampla e também a incipiência de tais políticas no momento da apresentação da proposta,
existe possibilidade de utilização subsidiária da matriz GUT – Gravidade, Urgência e Ten-
dência, a partir dos riscos oriundos das ameaças e fraquezas constantes na matriz Swot. Tal
ferramenta foi desenvolvida originalmente para o tratamento de problemas organizacionais,
porém, é possível sua utilização também na avaliação de riscos, uma vez que é voltada exa-
tamente para a tomada de decisão.
A utilização da matriz GUT também se justifica em função de os riscos poderem
diferir em nível de urgência. Isto irá variar com relação ao tempo de antecedência com
que precisam ser tratados e também ao tempo necessário para respostas. Dois riscos de
mesma probabilidade e impacto podem ter níveis de urgência de tratamento diferentes.
Além disso, vale ressaltar que as escalas devem permitir diferenciação significativa para
fins de priorização. Uma escala de cinco pontos produz uma melhor dispersão do que uma
escala de três pontos.
No contexto da análise de riscos, em geral, utilizam-se definições como as apresentadas
a seguir.
1) Gravidade: diz respeito ao impacto potencial, de menor efeito (1) a maior efeito (5)
indesejado, que exija uma ação devido a sua gravidade.
2) Urgência: diz respeito ao tempo, prazo, de algo que não tem pressa (1) até aquelas
situações que exigem respostas imediatas (5). Neste ponto, avalia-se a possibilidade
da gravidade do impacto ou da tendência de ocorrência de o risco aumentar ao longo
do tempo (em conjunto). Quanto maior a urgência, menor será o tempo disponível
para resolver o problema.
3) Tendência: no contexto da gestão de risco, a tendência pode ser tratada como a
avaliação de que a probabilidade de ocorrência do risco permaneça estável (1) até
um aumento imediato e inaceitável da probabilidade de ocorrência (5). A análise da
tendência tenta capturar o grau de dinamicidade do risco envolvido devido as suas
características intrínsecas e do ambiente.
Qualquer uma das técnicas sugeridas irá proporcionar o estabelecimento do nível de
cada um dos riscos identificados. Desta maneira, sua análise fornece a base para avaliação
e para decisões sobre o tratamento de riscos.
A finalidade da avaliação de riscos é auxiliar na tomada de decisões, com base nos re-
sultados de sua análise, sobre quais necessitam de tratamento e a prioridade para a imple-
mentação do tratamento. A avaliação de riscos envolve comparar o nível de risco encontrado
durante o processo de análise com os critérios estabelecidos quando o contexto foi observado.
Com base nesta comparação, a necessidade do tratamento pode ser considerada.
O tratamento de riscos envolve a seleção de uma ou mais opções para atuar em suas
causas ou consequências e a implementação dessas opções. Uma vez implementado, o
tratamento fornece novos controles ou modifica os existentes.
146
ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
A escolha da resposta adequada para cada risco depende do apetite ao risco do órgão
ou da entidade pública, que é um aspecto que deve, preferencialmente, ser decidido pelos
responsáveis pela governança da organização. Ao defini-lo, a organização poderá mostrar
em seu diagrama de risco qual a zona de aceitação ou não aos riscos de implementação.
Na definição do apetite ao risco, devem ser levadas em consideração suas contribuições
individuais, bem como a visão em conjunto.
As várias técnicas de avaliação de risco apresentadas anteriormente são muito impor-
tantes na definição do apetite ao risco, uma vez que elas apresentam visões distintas de
implementação da política.
De acordo com a ISO 31000, a seleção da opção do tratamento que será dado a cada
risco deve levar em consideração os custos e os esforços de implementação, os benefícios
decorrentes relativos a requisitos legais, regulatórios ou quaisquer outros, tais como o da
responsabilidade social e o da proteção do ambiente natural. Dessa forma, tem-se que a
medida a ser adotada, como resposta ao risco, deve ser proporcional a este, evitando-se
ações demasiadamente dispendiosas quando não se fizer necessário.
As respostas a riscos podem envolver um ou mais dos tipos a seguir apresentados.
1) Aceitar (ou tolerar) o risco.
2) Mitigar os riscos, isto é, tratá-los de forma a restringi-los a um nível aceitável, reduzindo
as chances de ocorrência (probabilidade). Para tanto, devem ser implementados os
controles internos da gestão, os quais constituem um conjunto de regras, procedi-
mentos, diretrizes, protocolos, rotinas de sistemas informatizados, conferências e
trâmites de documentos e informações, entre outros, operacionalizados de forma
integrada para enfrentar os riscos.
3) Contingenciar os impactos, isto é, reduzir a níveis aceitáveis, as consequências ne-
gativas caso o risco ocorra.
4) Transferir o risco para terceiros, levando em consideração os trade-offs associados
a essa transferência.
5) Eliminar o risco, alterando o plano ou processo, ou terminar a atividade que lhe
deu origem.
As respostas definidas para os riscos, devidamente documentadas, podem conter, entre
outras, as seguintes informações:
• resposta selecionada (mitigar, transferir etc.);
• ações específicas para implementar a estratégia de resposta definida;
• orçamento/cronograma da ação; e
• responsável pela implementação das respostas.
Após o tratamento dado ao risco, tem-se o risco residual, que é aquele que continua a
existir mesmo após as respostas ao risco terem sido implementadas, e que sempre deve ser
considerado no processo de gerenciamento de riscos.
147
6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
BOXE B.5
Plano de Gerenciamento de Riscos do exemplo B
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6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
Avaliação de risco
Controles internos
Risco Resposta ao risco Área responsável
Probabilidade Impacto Grau do risco (mitigação)
(P) (I) (P x I)
7 CONCLUSÃO
Sugere-se que os planos de riscos das políticas públicas a serem apresentados contenham
os riscos identificados, suas descrições, priorização, classificação, resposta selecionada e
responsável por sua implementação. Além disso, é esperado que tais planos contenham a
descrição do procedimento de monitoramento e controle dos riscos.
Cabe ressaltar ainda que o processo de gerenciamento de risco deve ser parte integrante
do plano de gestão da política pública à qual se refere e deve considerar a estrutura de gover-
nança estabelecida para tal política, levando em conta inclusive sua eventual transversalidade.
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
151
6 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
ANEXO
1. Self-rule é o conceito associado à autonomia de governo. Shared-rule é o conceito associado à interdependência de governo.
2. Na realidade, o Distrito Federal pode ser considerado um ente próprio, com características muito peculiares, por abrigar a capital federal e lhe ser
vedada a municipalização.
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ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
6
3. O princípio de reciprocidade e da equivalência fiscal trata a distribuição de responsabilidades entre os níveis de governo como um problema de
alocação estática, ou seja, o objetivo é atingir a maximização de bem-estar por meio de provisão de bens e serviços públicos coincidente aos limites
geográficos da ação pública.
153
7 ESTRATÉGIA DE CONSTRUÇÃO DE CONFIANÇA
E SUPORTE1
1 INTRODUÇÃO
Além dos elementos relacionados ao desenho de uma política e à sua estratégia de imple-
mentação, outro elemento importante para que uma política seja efetivamente implementada
e atinja seu impacto esperado é seu grau de confiança e suporte. O relatório Fundamentos
do impacto público (CPI, 2016) mostra a relação direta entre alto grau de confiança de uma
política e suas chances de sucesso. Confiança e suporte são entendidos como o apoio subja-
cente que a política pública tem para ser implementada em três planos: no plano da população
como um todo; entre as partes diretamente interessadas; e entre as lideranças políticas.
A questão da construção de confiança e suporte é, muitas vezes, ignorada ou tratada
com menor prioridade por muitos formuladores de políticas. Entretanto, os mais de duzentos
estudos de caso analisados pelo referido relatório produzido pelo Centre for Public Impact
(CPI) mostram que confiança e suporte são fundamentos tão importantes quanto o desenho
da política ou sua estratégia de implementação para explicar sua capacidade de efetivamente
atingir seus objetivos. Muitas vezes, a falta desses elementos é uma das causas do insucesso
de políticas bem desenhadas.
2 CONFIANÇA E SUPORTE
Confiança e suporte são o apoio a um objetivo de governo e a uma maneira específica de
alcançá-lo. Esse apoio deve ser construído em três grupos: entre a população em geral, entre
as partes diretamente interessadas e entre as lideranças políticas. Qualquer um desses gru-
pos tem poder para afetar o impacto da política, seja de maneira positiva, ao reduzir custos
e entraves à implementação, seja de forma negativa, ao vetar determinada política ou gerar
obstáculos operacionais e jurídicos. Assim, podemos dizer que confiança e o suporte possuem
três elementos: a confiança pública, o envolvimento dos interessados e o compromisso político.
Confiança pública
É o apoio dos cidadãos a uma política. A maneira mais direta de avaliar a confiança pública
de uma política é por meio de pesquisas de opinião que questionem se os entrevistados (ci-
dadãos comuns) aprovam ou não uma proposta de política. As dimensões a seguir sintetizam
diversos aspectos subjacentes à confiança pública.
1) Confiança de que o problema é relevante e deve ser combatido.
2) Confiança de que a política proposta contribui para resolver o problema.
1. Este capítulo foi elaborado em parceria com o Centre for Public Impact (CPI).
155
7 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
3) Confiança de que as instituições responsáveis por levar a cabo a política vão agir de
modo competente. Isso diz respeito tanto à capacidade operacional da instituição
quanto à percepção de sua solidez moral.
4) Confiança de que a proposta é de interesse coletivo. Uma política pode perder a
confiança se o público entender que ela beneficia interesses individuais em oposição
a interesses coletivos.
Envolvimento dos interessados
No debate sobre a elaboração, o desenvolvimento e a implementação da política, o en-
volvimento dos interessados é crucial para a produção de bons resultados. São partes
interessadas todos aqueles indivíduos e grupos afetados pela política ou com interesses
em jogo com a política. O envolvimento eficaz das partes interessadas começa com um
objetivo claro para consulta, seguido pela identificação de pessoas e organizações com
interesses afetados pela iniciativa. Posteriormente, os técnicos e os gestores elaboradores
da política devem tentar entender as necessidades e as intenções das partes interessadas
em maior profundidade.
Compromisso político
É a disposição dos líderes políticos para gastar capital político para apoiar os objetivos da
política pública. Por um lado, os líderes políticos podem aproveitar sua influência para obter
consenso a favor de um objetivo e, por meio da decisão de se engajar numa política, aumen-
tar sua probabilidade de sucesso. Por outro lado, se lideranças políticas de peso se opõem a
uma política, há um risco de diminuição da confiança nessa ou uma falta de suporte para as
organizações encarregadas de implementá-la. Muitas políticas públicas podem demandar
a análise do compromisso político das lideranças locais, seja para a aprovação da proposta,
seja para a sua efetiva implantação.
BOXE A.1
Confiança e suporte esperados para o exemplo A
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ESTRATÉGIA DE CONSTRUÇÃO DE CONFIANÇA E SUPORTE
7
BOXE B.1
Confiança e suporte esperados para o exemplo B
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7 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
Razoável O público não aprova nem desaprova, não confia nem desconfia da política.
158
ESTRATÉGIA DE CONSTRUÇÃO DE CONFIANÇA E SUPORTE
7
QUADRO 3
Compromisso político
Nota
Após fazer a autoavaliação, os resultados permitem visualizar quais dos três elementos
possuem maiores deficiências. Com essa informação, é possível elaborar um plano de ação
específico para reverter a situação naquele elemento. A seguir, estão listadas algumas solu-
ções que podem compor os planos de ação de uma estratégia de construção de confiança.
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7 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
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ESTRATÉGIA DE CONSTRUÇÃO DE CONFIANÇA E SUPORTE
7
2. Exemplos são Blumenau (SC), Porto Alegre (RS), Bady Bassit (SP), Teresina (PI), entre outros.
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7 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: GUIA PRÁTICO DE ANÁLISE EX ANTE
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