Educação Escolar Indígena E Diversidade Cultural: Francisco Edviges Albuquerque Severina Alves de Almeida (Sissi)
Educação Escolar Indígena E Diversidade Cultural: Francisco Edviges Albuquerque Severina Alves de Almeida (Sissi)
Educação Escolar Indígena E Diversidade Cultural: Francisco Edviges Albuquerque Severina Alves de Almeida (Sissi)
)
COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR
PROGRAMA DO OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA EDUCAÇÃO
e Diversidade Cultural
Educação Escolar Indígena
Francisco Edviges Albuquerque
Severina Alves de Almeida (Sissi)
organizadores
EDITORA
2012
Educação Escolar Indígena
e Diversidade Cultural
Reitor: Márcio Antônio da Silveira
Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários - PROEX: George França dos Santos
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - PROPESQ: Waldecy Rodrigues
Diretor do Campus de Araguaína: Luiz Eduardo Bovolato
Coordenação do Projeto de Educação Escolar Apinajé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural: Francisco Edviges Albuquerque
Diretor de Educação Básica Presencial/DEB/CAPES: Carmem Moreira de Castro Neves
Coordenação Geral da CGV/DEB/CAPES: Helder Eterno da Silveira
Coordenadora de Apoio à Inovação e Pesquisa em Educação (CINPE/CGV/DEB/CAPES): Fernanda Litvin Villas Boas
Equipe Técnica/CAPES: Carine Pereira Mariani, Janaína Cássia Carvalho e Sílvia Helena Rodrigues
Coordenação Regional/FUNAI/ Palmas: Cleso Fernandes de Moraes
Chefe do NPPDS/FUNAI/ Palmas: Corina Maria Rodrigues Costa
Coordenação Técnica da FUNAI/ Tocantinópolis: Bruno Aluísio Braga Fragoso
Diretoria Regional de Ensino de Tocantinópolis/DRET: Luciana Gomes de Souza Pimentel
Supervisor Pedagógico Indígena/DERET/Tocantinópolis: João Joviano de Medeiros Neto
Grão Chanceler
Dom Washington Cruz, CP
Reitor
Prof. Wolmir Therezio Amado
Conselho Editorial
Aidenor Aires Pereira - Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás
Edival Lourenço - União Brasileira de Escritores
Getúlio Targino - Presidente da Academia Goiana de Letras
Heloísa Helena de Campos Borges - Presidente da AFLAG
Profa. Heloísa Selma Fernandes Capel - UFG
Profa. Dra. Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante - Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Profa. Dra. Márcia de Alencar Santana - PUC Goiás
Maria Luiza Ribeiro - Presidente da AGL
Profa. Dra. Regina Lúcia de Araújo - Pesquisadora
Prof. Ms. Roberto Malheiros - PUC Goiás
Francisco Edviges Albuquerque
Severina Alves de Almeida (Sissi)
o r g a n i z a d o r e s
Goiânia
2012
Projeto: A Educação Escolar Apinajé
na Perspectiva Bilíngue e Intercultural
Esta publicação foi viabilizada com recursos do Programa do
Observatório da Educação Escolar Indígena/ CAPES/SECADI/INEP -
Edital 001/2009 - Projeto 014.
Apoio:
ISBN 978-85-9921-883-9
Todos os direitos reservados aos organizadores: Proibida a reprodução total ou parcial, por
qualquer meio de processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos,
reprográficos, fonográficos, videográficos, internet, notebook. A violação dos direitos autorais
é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal, cf. Lei no 6.895, de 17/12/80)
com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (art.
102, 103 parágrafo único, 104, 105, 106 e 107 itens 1, 2 e 3 da Lei nº 9.610 de 19/06/98. Lei dos
Direitos Autorais).
Professores Indígenas Rosana Dias Apinayé, José Durico Dias Apinayé,
Apinayé colaboradores Fernanda R. Apinayé, Maria dos Reis Pandy
do Projeto: Corredor Apinayé, Davi Wamimen. Apinayé, Ana
Rosa Ribeiro Salvador Apinayé, Edvaldo Ribeiro
Apinayé, Itamar Kant Apinayé, Silivam Oliveira
Apinayé, Iramar Dias de Sousa Apinayé, Jurandy
Pereira Ribeiro Katàm, Diana Apinayé, José
Eduardo Dias Pereira Apinayé, Maria Célia Dias
de Souza Apinayé, Josué Dias de Sousa Apinayé,
Moacir Xerente, Vilson Corredor Ribeiro Apinayé,
Francisco Ribeiro da Costa Apinayé, Valdir Hopor
Dias Apinayé, Juan Apinayé, Ivam Corredor Dias
Apinayé, Fernanda R. Apinayé, Eloíza Gretxo Dias
Pereira Apinayé, Maria Cipand Apinayé, Emílio
Dias de Sousa Apinayé, Júlio de Sousa Apinayé,
Júlio Kamêr Apinayé.
Professores Indígenas Isaias Cripô Krahô, Roberto Krahô, Ovídio Krahô,
Krahô colaboradores do Gelma Krahô, Célia Cukre Kurjj Krahô, Simone
Projeto: Croulay Krahô, Ataúlio Krahô, Júlio Inxicaprêc
Krahô, Cornélio Kõc Krahô, Paulinho Rõrhy
Krahô, Carlito Rõpar Krahô, Carlito Ajtá Krahô,
Elton Hiku Krahô, Simão Cajcar Krahô, João Lucas
Cahhi Krahô, Crimo Krahô, Edivaldo Wake Krahô,
Ivonete Y. R. Yows Krahô-Kanela, Aguinaldo Vieira
Hàka Krahô, Rogério Cõtetet Krahô, Augusto
Pruxum Krahô, Tais Rôcuhtô Krahô, José Dilson
Krahô, Anízio Capej Krahô, Marciana Amxykuyj
Krahô, Sara Crerõ Krahô, Ovídio Krahô, Carlito
Rõrpàr Krahô, Carlito Ajtà, Krahô, João Lucas
Cahli Krahô, Cornélio Kóc Krahô, Guimo Parhy
Krahô, Aguinaldo V. H Krahô, Elton Hiku Krahô,
Ely Kujj Tep Krahô,
Anízio Capej Krahô, Edivaldo Wake Krahô, Fábio
Inscycaprec Krahô, Tais Pocuhto Krahô,
Simão Cajcar Krahô, Guilherma Krahô, Rogério
Cotetel Krahô, Dilson Krahô, Dioclides, T. Krahô,
Marciana Krahô, Rubens Txuwo Krahô, Ariel P.
Krahô, Ataúlio Wathur Krahô, Roberto K. Krahô,
Gregório Huhte Krahô, Iramar Irroia Wew Krahô,
Edivaldo Paraty Krahô, Gilvan Hitopo Krahô, Ariel
Pepha Krahô, Otamir Kaxêt Krahô, Jucilene Muxà
Krahô, Edinaldo Krahô.
Assessoria Linguística: Francisco Edviges Albuquerque.
Equipe do Projeto:
Coordenação: Francisco Edviges Albuquerque.
Professores Miguel Pacífico Filho e Thelma Pontes Borges.
Colaboradores:
Bolsistas De Graduação: Ayrton Alves Brauna, Leilane Pereira da Costa,
Tatiane Pereira de Oliveira, Thais de Souza
Carvalho, Welison Portugal de Souza.
Bolsista de Mestrado: Jane Guimarães Sousa.
Professoras de Educação Ana Rosa Ribeiro Salvador Apinayé e Maria Célia
Intercultural Dias de Sousa Apinayé.
Bolsistas de graduação: Leilane Pereira da Costa
Ayrton Alves Brauna
Tatiane Pereira de Oliveira
Thais de Souza Carvalho
Welison Portugal
Capa: Félix de Pádua - Ed. da PUC Goiás
Diagramação e Wagner José Pires e Rhondhynele Alves Pereira
Digitação: Costa
Revisão: Francisco Edviges Albuquerque.
Adaptação Gráfica: Félix de Pádua - Ed. da PUC Goiás
Prefácio
Esta obra auxiliará professores, pesquisadores e alunos envolvidos com
a questão da Educação Escolar Indígena, contribuindo com a ampliação de
seu repertório, de modo crítico, criativo e autônomo, ao mesmo tempo em
que vem preencher uma lacuna, pois é a primeira publicação divulgando
a Diversidade Cultural do Estado do Tocantins, tendo como foco os povos
indígenas. É um produto do Projeto “A Educação Escolar Apinayé
na Perspectiva Bilíngue e Intercultural” viabilizado com recursos
do “Programa do Observatório da Educação Escolar Indígena/
CAPES/SECAD/INEP - Edital 001/2009 - Projeto 014”.
O Projeto faz parte de um Projeto maior denominado “Projeto de
Apoio Pedagógico à Educação Escolar Apinayé”, iniciado em 2000,
desenvolvido com o intuito de investigar fatores preponderantes na educação
escolar do povo Apinayé, e também oferecer apoio pedagógico às práticas
educativas das escolas de Mariazinha e São José, bem como construir e
organizar material didático com a participação efetiva de professores, alunos
e comunidade indígenas Apinayé.
Os trabalhos aqui apresentados foram produzidos por professores
indígenas e não-indígenas, alunos de graduação, pós-graduação,
pesquisadores e colaboradores envolvidos com o Projeto, e estão de acordo
com os objetivos do “Programa do Observatório da Educação Escolar
Indígena”, que é fomentar o desenvolvimento de estudos e pesquisas em
educação, que explorem ou articulem as bases de dados do Instituto Nacional
de Pesquisa em Educação INEP, visando a estimular a produção acadêmica e
à formação de recursos pós-graduados stricto sensu (mestrado e doutorado), bem
como fortalecer a formação de profissionais da Educação Básica Indígena,
Intercultural e Diferenciada, alcançando professores e gestores, tendo em
vista à implementação dos Territórios Etnoeducacionais.
Resumo
Neste artigo, fazemos uma reflexão sobre a Educação Escolar Indígena
Bilíngue das escolas indígenas das aldeias de Mariazinha e São José, tendo
como objetivo descrever a situação atual do ensino de língua materna nas
escolas Tekator e Mãtyk. Para tanto, partimos de uma pesquisa bibliográfica
buscando estabelecer detalhadamente as bases teóricas e legais da Educação
Escolar Bilíngue e Intercultural, indispensável para análise de nosso estudo.
Para isso, consideramos os aspectos socioculturais e linguísticos dos Apinayé,
onde o trabalho se desenvolveu. Posteriormente, foi realizada uma avaliação
diagnóstica voltada para o domínio e uso da língua materna escrita pelas
crianças indígenas matriculadas na Primeira Fase do Ensino Fundamental.
Após os estudos, foram levantados alguns questionamentos quanto à formação
dos professores indígenas, contemplando também aspectos metodológicos, pois
foram encontrados indícios de dificuldades de aprendizagem, principalmente
em relação à língua materna, a primeira língua falada pelas crianças das
comunidades Apinayé.
Palavras-chave: Educação Escolar Apinayé; Crianças Apinayé;
Professores Indígenas; Língua Materna.
1. Professor Adjunto da UFT – Universidade Federal do Tocantins e Coordenador do Projeto do Observatório da
Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural. email: fedviges@uol.com.br.
2. Professora Indígena da Escola Mãtyk da Aldeia Apinayé São José e bolsista do Projeto do Observatório da Educação
Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural.
3. Professora Indígena da Escola Tekator da Aldeia Apinayé Mariazinha e bolsista do Projeto do Observatório da
Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural.
Referências
Resumo
O presente estudo tem como objetivo compreender como as crianças
Apinayé da Escola Mãtyk, da Aldeia São José, são alfabetizadas de
forma bilíngue. Igualmente, buscamos e identificar as dificuldades dessa
alfabetização no processo de aquisição da aprendizagem. Mediante esses
objetivos, traçamos algumas metas importantes para a presente reflexão, tais
como: conhecer o processo histórico do Povo Apinayé; apreciar o universo
infantil da criança Apinayé e suas relações sociais com a comunidade a partir
de um olhar sobre a educação bilíngue e como elas aprendem os conteúdos
escolares; estudar o processo e os efeitos que a alfabetização bilíngue produz
nas práticas sociais das crianças Apinayé. Os resultados apontam para uma
realidade onde a apropriação do português se configura oralmente na relação
sociais dentro e fora da aldeia, principalmente no contato com os meios
de comunicação e no convívio com os não indígenas. Já a codificação da
escrita é função da escola que vem sendo feita, de forma ainda precária, por
todos os fragmentos educacionais. Porém, na medida em que se compreende
4. Pedagoga formada pela UFT – Universidade Federal do Tocantins, Campus Tocantinópolis.
5. Professor Adjunto da UFT – Universidade Federal do Tocantins e coordenador do Projeto do Observatório da
Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural e orientador do trabalho. email: fedviges@uol.
com.br.
6. Pedagoga, Mestre em Letras, curso de Mestrado em Língua e Literatura MELL – pela UFT - Universidade Federal
do Tocantins, Campus de Araguaína. Doutoranda em Teoria e Análise Linguística de Línguas Indígenas na UnB –
Universidade de Brasília e co-orientadora do trabalho. e-mail: sissi@uft.edu.br.
Introdução
Neste trabalho realizamos um estudo sobre a Alfabetização Bilíngue
no contexto da educação indígena, que se direciona para uma abordagem
“pedagógica” de como esse ensino vem sendo aplicado com as crianças da
Escola Estadual Indígena Mãtyk da Aldeia São José. Partindo do pressuposto
de que alfabetização se define não só como código de comunicação, mas
como parte constitutiva de valores e práticas culturais, entendemos que a
alfabetização bilíngue é um processo próprio de aquisição de conhecimento
multicultural que se materializa na apropriação e transmissão dos
conhecimentos indígenas e não indígenas por meio da escola.
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é observar como esta prática
educacional bilíngue e, consequentemente, a alfabetização bilíngue vem
sendo desenvolvida na sala de aula, e de que forma as crianças Apinayé vêm
recebendo esta educação.
Com isso, estabelecemos algumas metas nos seguintes objetivos
específicos: 1) Refletir sobre o processo histórico do Povo Apinayé; 2)
Conhecer o universo infantil da criança Apinayé e suas relações sociais com
a comunidade a partir de um olhar sobre a educação bilíngue; 3) Estudar o
processo e os efeitos que a alfabetização bilíngue produz no aprendizado das
crianças Apinayé; 4) Identificar as principais dificuldades enfrentadas pelas
crianças no processo de aprendizado.
7. A área ocupada pelos Apinayé é de 141.904ha, e foi demarcada e homologada em 14 de fevereiro de 1985, pelo
Decreto da Presidência da República Nº 90.960 (ALMEIDA, 2011, p. 26).
8. Cacique da Aldeia São José em depoimento, para manter o anonimato dos entrevistados não citaremos nomes.
9. Na sociedade Apinayé existem dois tipos de família, a nuclear, formada pelos pais e filhos, e a extensa, que comporta
também o marido que se agrega à família da esposa, e sua “parentela” – (NIMUENDAJÚ, 1983; DA MATTA, 1976)
apud (ALMEIDA & MOREIRA, 2009).
Aspectos linguísticos
No Brasil, além do Português, são faladas regularmente cerca de 180
línguas nativas (RODRIGUES, 1986), muitas línguas faladas por povos
minoritários já foram extintas pelo contato com o português. Os indígenas
Apinayé falam a língua designada com o próprio nome, “Apinayé” pertencente
à Família Linguística Jê, e ao Tronco Macro Jê (RODRIGUES, 1986). Dados
do relatório técnico da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2010) apud
(ALMEIDA, 2011, p. 20) informam que a população Apinayé atual é de
aproximadamente 1.847 indígenas, distribuídos em 24 (vinte e quatro) aldeias.
Aspectos culturais
Ao falar da cultura indígena, nos referimos aos modos de ser, de viver, de
se organizar, próprio dos indígenas brasileiros que, de uma forma ou outra, se
misturam aos costumes da sociedade envolvente. São heranças indígenas que
não só a mandioca, milho, guaraná, palmito, o biju identificam. Eles também
estão entre outros, nos objetos, no vocabulário, nos hábitos diários como
11. Dignidade- “direito de ser distinto” de acordo com seus valores étnicos e de seu grupo.
12. Aculturação é um termo criado inicialmente por antropólogos norte-americanos para designar as mudanças que
podem acontecer em uma sociedade diante de sua fusão com elementos culturais externos, geralmente por meio de
dominação política, militar e territorial (SILVA, 2006).
Cultura Espiritual
De acordo com Nimuendaju (1983) a riqueza cultural dos povos
Apinayé é muito grande, entre outras ele destaca a Cultura Espiritual:
Comentado esta citação, Almeida (2010, p. 37), discorre que, o que esses
autores estão demonstrando através do quadro apresentado, e que encontra
17. “Educação Rural” tem um sentido amplo e complexo, portanto, não deve ser entendido apenas como sinônimo
de ensino. Este conceito fundamenta-se na prática educativa que se tem desenvolvido nos movimentos sociais, nas
diferentes organizações que atuam com educação.
Considerações finais
Procurou-se neste trabalho, fazer uma descrição e análise da forma
como a alfabetização bilíngue vem sendo trabalhada na educação escolar,
bem como do processo de ensino bilíngue na aquisição do português para as
crianças Apinayé da Escola indígena da aldeia São José.
Ademais, buscamos explorar os aspectos históricos dos Apinayé, a
formação da criança neste contexto de construção de uma identidade e na
formação dos conhecimentos a partir de um convívio diário, percebendo
durante o desenvolvimento da pesquisa a necessidade de um olhar mais atento
às relações sociais acerca da construção desse sujeito bilíngue, considerando o
processo político relacionado a uma educação indígena e bilíngue.
Diante dos dados constata-se que no processo histórico dos Apinayé em
contato com a sociedade não indígena, há um modelo cultural não indígena que
vem sendo imposto socialmente, apresentando-se mesmo muito preocupante,
o fato dessa história originária de raiz Apinayé estar guardada nas memórias
dos poucos velhos, ainda existente, e que infelizmente essa cultura não está
mais sendo passada de forma necessária às crianças e adolescentes, pois não
BALDUS, Hebert. Tapirapé Tribo Tupi no Brasil Central. São Paulo: Nacional,
São Paulo, 1970. P. 286-287.
FERREIRO, Emilia. Alfabetização em Processo- Ed. 18ª. São Paulo: Cortez, 2007.
GONÇALVES, José R. Santos. A luta pela identidade social: o caso das relações
entre índios e brancos no Brasil Central. Rio de Janeiro: UFRJ museu
Nacional, 1981. 139 p. (Dissertação de Mestrado).
______; NUNES, Ângela. O lugar das crianças nos textos sobre sociedades
indígenas brasileiras. In: LOPES DA SILVA, Aracy. MACEDO, Ana Vera
L. da Silva, NUNES, Ângela. (Org). Crianças Indígenas Ensaios Antropológicos.
São Paulo: FAPESP. Ed. Global, 2002.
PRIORE, Mary del (Org.). História da Criança no Brasil. São Paulo: Contexto,
2006.
Resumo
Neste trabalho são realizadas considerações acerca dos indígenas
Apinayé, habitantes na região do Bico do Papagaio, estado do Tocantins,
em terras homologadas no ano de 1985, totalizando, atualmente, 24 aldeias,
e uma população de aproximadamente 1.847 indígenas. O objetivo é
apresentar os resultados de nossa participação no Projeto do Observatório
da Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural UFT/
CAPES, enquanto bolsistas. Os procedimentos metodológicos contemplaram
pesquisa bibliográfica e de campo, bem como nossa participação no grupo de
estudos do Laboratório de Línguas Indígenas LALI/UFT. A discussão versa
18. Graduada em Letras pela Universidade Federal do Tocantins, campus de Porto Nacional. Mestranda no Ensino de
Língua e Literatura do PPGL – Programa de Pós Graduação em Letras da UFT – Universidade Federal do Tocantins.
Bolsista do Projeto do Observatório da Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural UFT/
CAPES. e-mail: jainegs@yahoo.com.br.
19. Estudante de Graduação e Bolsista do Projeto do Observatório da Educação Escolar Apinayé na Perspectiva
Bilíngue e Intercultural UFT/CAPES leilane.thegirl@hotmail.com.
20. Estudante de Graduação e Bolsista do Projeto do Observatório da Educação Escolar Apinayé na Perspectiva
Bilíngue e Intercultural UFT/CAPES ayrton.brauna@hotmail.com.
21. Estudante de Graduação e Bolsista do Projeto do Observatório da Educação Escolar Apinayé na Perspectiva
Bilíngue e Intercultural UFT/CAPES tatianegata.oliver_@hotmail.com.
22. Estudante de Graduação e Bolsista do Projeto do Observatório da Educação Escolar Apinayé na Perspectiva
Bilíngue e Intercultural UFT/CAPES thaizinha--carvalho@hotmail.com.
23. Estudante de Graduação e Bolsista do Projeto do Observatório da Educação Escolar Apinayé na Perspectiva
Bilíngue e Intercultural UFT/CAPES welison_portugal@hotmail.com.
Introdução
Neste artigo apresentamos as impressões e apreensões de nossa
pesquisa enquanto alunos bolsistas do projeto “Educação Escolar Apinayé
na Perspectiva Bilíngue e Intercultural”, a partir dos encontros realizados
no Laboratório de Línguas Indígenas LALI/UFT Campus de Araguaina.
Esses encontros acontecem semanalmente e conta com discussões a respeito
da língua, cultura e educação escolar indígena do povo Apinayé. O projeto
do Observatório da Educação Escolar Indígena é desenvolvido e coordenado
pelo professor Dr. Francisco Edviges Albuquerque, e tem como objetivo
apresentar os aspectos econômicos, políticos, culturais e principalmente
educacionais dos indígenas Apinayé.
Neste projeto participam professores universitários (UFT), acadêmicos
de graduação dos Cursos de Gestão de Cooperativas, Licenciatura em Letras
e Matemática, bem como, uma aluna de mestrado responsável pela discussão
dos estudos. As habilidades específicas, e os saberes adquiridos por cada
integrante bolsista do Observatório, formam um conjunto de saberes para
tornar-se ferramenta contributiva na educação escolar Apinayé na perspectiva
bilíngue, intercultural e diferenciada.
As aldeias Apinayé, num total de 24, estão localizadas no norte do
estado do Tocantins nas proximidades das cidades de Tocantinópolis-TO e
Referências
ALBUQUERQUE. Francisco Edviges. Os Apinayé: informações sócio-
históricas Revista de Estudos e Pesquisas, FUNAI, Brasília, v.4, n.2, p.199-
219, dez. 2007.
Resumo
Este artigo faz parte do projeto de Trabalho de Conclusão de Curso
– TCC do Curso de Pedagogia do Campus de Tocantinópolis. Tem como
objetivo maior fazer uma discussão sobre a educação escolar indígena Apinayé
de São José, mas levando em consideração também a implantação das escolas
de outras aldeias que fazem parte da escola desta aldeia, que é considerada
como a referência para as demais aldeias Apinayé. Igualmente, discutimos
também a situação escolar Apinayé e a educação indígena repassada para
os mais novos, pelos mais velhos, através dos saberes tradicionais, visto que
esses conhecimentos são de suma importância para a formação das crianças,
enquanto povo pertencente a uma sociedade minoritária.
Palavras-chave: Educação Escolar Indígena; Situação Escolar
Apinayé; Sociedade Minoritária.
Introdução
Não se sabe exatamente a data precisa de quando foi implantada a
escola para os Apinayé. Dizemos isso por que temos conhecimento de que
não existe nenhum documento oficial que comprove a época da implantação
da educação escolar em nosso território. A informação que temos, através
de pequenos relatos de alguns indígenas mais velhos como: Moisés Apinayé
27. Nimuendajú, Curt (1883-1945), etnólogo brasileiro de origem alemã, um dos pioneiros nos estudos relacionados
às comunidades indígenas no Brasil. Nasceu Curt Unkel, em Jena, Alemanha, em 1883. Sem formação acadêmica,
chegou ao Rio de Janeiro, em 1903. Dois anos depois, fixou residência em São Paulo e começou a dedicar-se às
pesquisas sobre os povos indígenas (ALMEIDA, 2011).
Escolas Apinayé:
uma retrospectiva histórica
Nesta abordagem, trazemos um breve histórico de cada escola que se
encontra regularizada pela SEDUC/TO, com a Lei de criação, o quadro
funcional, o número de alunos e as modalidades por cada turma, conforme
os dados a seguir.
Escola Mãtyk
A Escola Estadual Indígena Mãtyk, localizada na Aldeia São José, no
município de Tocantinópolis, existe aproximadamente há 50 anos. A princípio
não se tem nenhum documento reconhecido que comprove isso, como já
relatamos anteriormente. A partir dos anos 1970, a escola recebeu o nome
Escola Katàm
A Escola Estadual Indígena Katàm, situa-se na localidade da Aldeia
Palmeiras, no município de Tocantinópolis. Criada pelo Decreto 1.196, de 31
de março de 2008, e até esse período não era legalizada pelo Estado, só com
a Portaria da SEDUC, nº 0653 de 28 de abril de 2011, é que a escola iniciou
suas atividades e se transformou em uma escola legalmente reconhecida.
A escola conta com 59 alunos matriculados, 02 professores indígenas, 02
não indígenas e 01 merendeira indígena, todos são contratados. Modalidade
oferecida é de 1ª e 2ª Fases do Ensino Fundamental, com horário de
funcionamento em dois turnos: matutino e vespertino. Segundo a Diretoria
Regional de Educação (DRE) de Tocantinópolis, está previsto a implantação
de pelo menos 1ª ano do Ensino Médio e a reivindicação dos indígenas já foi
encaminhada, só que está em fase de análise pela Secretaria da Educação.
Escola Amnhimykô
A Escola Estadual Indígena Amnhimykô, situada na localidade Aldeia
Bacabinha, no município de Tocantinópolis, ainda não tem o seu prédio
próprio, mas funciona em uma casa de palha construída pela comunidade.
No entanto, não foi possível encontrar um documento que comprove a data
de criação, mas já foi solicitada a construção do prédio e a regularização da
escola.
A escola conta com 13 alunos do Ensino Fundamental 1ª e 2ª Fases,
tendo 01 professor indígena contratado. Existem alguns alunos que estão
cursando o ensino médio, que funciona como extensão da Escola Estadual
Indígena Mãtyk da Aldeia São José (DRE DE TOCANTINÓPOLIS, 2012).
Escola Katàmkaàk
A Escola Estadual Indígena Katàmkaàk, situada na Aldeia Prata, no
município de Tocantinópolis, foi criada pelo Decreto 3.331 de 31 de março de
Escola Kaxware
A Escola Estadual Indígena Kaxware, na localidade Aldeia Serrinha,
município de Tocantinópolis, foi criada por Decreto governamental 3.331 de
31 de março de 2008. Posteriormente iniciou suas atividades como escola
regularizada e reconhecida pela Resolução nº 197, de 27 de outubro de 2009.
O prédio foi construído com o recurso do Estado, a partir da necessidade da
comunidade indígena.
Atualmente a escola conta com 17 alunos matriculados, 02 professores
contratados, sendo 01 indígena e 01 não indígena. A modalidade oferecida é
a 1ª fase do ensino fundamental, funcionando em dois turnos apenas: manhã
e tarde (DRE, DE TOCANTINÓPOLIS, 2012).
Escola Gôhkruk
A Escola Estadual Indígena Gôhkruk, localizada na Aldeia Boi Morto,
no município de Tocantinópolis, funciona em local improvisado, numa casa
palha cedida pelo cacique, com a estrutura mais precária das escolas Apinayé.
Não foi possível encontrar um documento oficial que data a criação e a
Escola Tekator
A Escola Estadual Indígena Tekator, situada na localidade da Aldeia
Mariazinha no município de Tocantinópolis, foi criada pelo Decreto
governamental 1.196 de 28 de maio de 2001, e posteriormente regularizada
pela Resolução n° 79, de 17 de junho de 2003, com o início de suas atividades.
Em 2007 houve ampliação do prédio com o recurso do MEC, através da
Secretaria da Educação do Estado o mesmo já existia, na época em que esta
educação estava sob a responsabilidade da FUNAI.
A Escola Tekator é a segunda maior escola da área Apinayé, com 218
alunos matriculados, composta por 15 funcionários, sendo: 01 diretor indígena
efetivo, 09 professores não indígenas, todos contratados, 05 professores
indígenas, três efetivos e dois contratados, 01 auxiliar de secretário, 01
coordenador, 02 vigias, 02 merendeiras.
Modalidade oferecida: 1ª e 2ª Fases do Ensino Fundamental e Ensino
Médio completo, funcionando em três turnos: matutino, vespertino e noturno.
Escola Pepnhõrik
A Escola Estadual Indígena Pepnhõrik da Aldeia Riachinho encontra-
se, no momento, inativa devido à falta de alunos em idade escolar. O motivo é
que a maior parte das famílias se transferiu para Aldeia Girassol, por conflitos
internos, e restaram duas famílias apenas. Em função disso, esta escola não
consta no senso escolar.
Escola Tàmgàk
A Escola Estadual Indígena Tàmgàk está localizada na Aldeia Bonito,
no município de Tocantinópolis. Criada por Decreto: 1.196, de 28 de maio
de 2001 e posteriormente regularizada pela Resolução: n°189, em 18 de
dezembro de 2009, a escola tem o seu prédio construído, com o recurso do
MEC, através da Secretaria da Educação do Estado. Esta escola possui 33
alunos matriculados, 01 professora indígena, 03 professoras não-indígenas
e 01 merendeira indígena, todas são contratadas. Modalidade oferecida: 1ª
Fase do Ensino Fundamental. Funciona em dois períodos: manhã e tarde.
As turmas do Ensino Médio são lançadas na Escola Tekator da Mariazinha
(DRE, TOCANTINÓPOLIS, 2012).
Escola Kagàpxi
A Escola Estadual Indígena Kagàpxi está localizada na aldeia Brejão, no
município de Tocantinópolis. Criada por Decreto 3.331, de 31 de março de
Escola Pẽpkror
A Escola Estadual Indígena Pẽpkror, está situada na Aldeia Botica,
no município de Maurilândia, mas pertence à jurisdição da DRE de
Tocantinópolis. Criada pelo Decreto 1.196 de 28 de maio de 2001 e só
recentemente legalizada pela Resolução nº 06 de janeiro de 2010. A escola
possui prédio próprio, com 20 alunos matriculados, 02 professores indígenas
sendo um efetivo e um contratado, 01 professora não-indígena, 01 merendeira
indígena, as duas contratadas. Modalidade oferecida: 1ª Fase do Ensino
Fundamental e funciona em dois turnos: matutino e vespertino. Os alunos
que estão cursando Ensino Médio são lançados na Escola Tekator da Aldeia
Mariazinha (DRE, TOCANTINÓPOLIS, 2012).
Escola Katàmjaka
A Escola Katàmjaka da Aldeia Mata Grande, no município de
Maurilândia, não está legalizada. Neste caso, a escola também se encontra
inativa, por falta de alunos, e as duas turmas foram transferidas para a Escola
Estadual Indígena Pepkror da Aldeia Botica.
Considerações finais
Neste artigo relatamos parte de uma pesquisa realizada visando ao
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC do Curso de Pedagogia do Campus
da UFT Campus de Tocantinópolis. O objetivo foi discutir a educação escolar
indígena Apinayé de São José, bem como a implantação das escolas das
demais aldeias, que estão vinculadas à escola desta aldeia, que é considerada
como a referência para as demais aldeias Apinayé.
Discutimos também a situação escolar Apinayé e a Educação indígena
repassada para os mais novos, pelos mais velhos, através dos saberes
tradicionais, visto que esses conhecimentos são de suma importância para
a formação dessas crianças, enquanto povo pertencente a uma sociedade
minoritária.
Resumo
Este trabalho faz parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica – PIBIC, através do projeto intitulado, “Aspectos morfológicos
da Língua Apinayé”, visando a contribuir com as práticas pedagógicas nas
escolas indígenas Apinayé, através de estudos dos aspectos morfológicos da
língua materna. O objetivo foi auxiliar, não somente os professores indígenas
nos suas práticas pedagógicas, mas também os professores não indígenas,
utilizando a interdisciplinaridade e a interculturalidade como subsídio
nas ações docentes em sala de aulas das escolas indígenas Apinayé. Nesse
sentido, os estudos dos aspectos morfológicos também se configuram como
o reconhecimento da língua e cultura indígenas, bem como pelo incentivo
à valorização e manutenção da língua indígena na escola, como forma de
fortalecimento das políticas linguísticas do povo Apinayé.
Palavras chave: Língua Apinayé; Morfologia; Educação Escolar
Indígena.
Introdução
A pesquisa que originou este trabalho teve como objetivo principal
contribuir com as práticas pedagógicas nas escolas indígenas Apinayé, através
de estudos dos aspectos morfológicos da língua materna falada por esse grupo
Objetivo geral
A pesquisa teve por objetivo geral analisar e descrever os Aspectos
Morfológicos Apinayé, como subsídios para a análise e avaliação do ensino
de aspectos gramaticais dessa língua, permitindo aos alunos e professores
Apinayé o conhecimento, de forma mais acurada, destes aspectos e refletir
sobre o uso dos mesmos no processo de análise morfológica da língua materna
e seu uso em sala de aula das escolas das aldeias Apinayé.
Objetivos específicos
Como objetivos específicos, elencamos:
1. Trabalhar na construção conjunta de material didático-pedagógico,
levando em consideração a sistematização das regras morfológicas
no uso da língua materna escrita em sala de aula.
2. Fazer um levantamento dos aspectos morfológicos da Língua
Apinayé, tais como estrutura dos nomes, verbos, formas longas
e formas curtas dos verbos, marcadores de plural e marcadores
de grau, para verificar todos esses aspectos nessa língua,
posteriormente, serem aplicadas nos conteúdos programáticos nas
escolas de suas aldeias pelos professores de língua materna;
3. Auxiliar o professor pesquisador, na organização da gramática
pedagógica da Língua Apinayé, numa perspectiva didática,
levantando em consideração as características morfológicas dessa
língua, bem como contribuir com os usos e funções da escrita da
língua indígena, pelas crianças nas escolas de suas comunidades.
Material e métodos
Através de uma abordagem comparativa, procuramos analisar e
descrever termos referentes à morfologia Apinayé, depois de termos feito um
levantamento bibliográfico contemplando autores que trabalham os aspectos
gramaticais dessa língua, especialmente, Ham e Albuquerque. Para Sautchuck
(2003, p.18) “a escrita não é um simples sistema de transcrição do oral, mas
Flexão
a) Gênero
Segundo Mattoso Câmara (1986), no português a flexão de gênero é
exposta de uma maneira incoerente nas gramáticas tradicionais, pelo fato, de
serem associadas intimamente ao sexo dos seres. Lembrando que o gênero,
no português, abrange todos os nomes substantivos, quer se refiram a seres
animais, providos de sexo, quer designem apenas coisas, como casa, ponte
(femininos) ou pente, sofá (masculinos).
Entretanto, em Apinayé, isso se dá de forma diferente, pelo fato de
as palavras não variarem em gênero e muito menos terem artigos como
indicadores de gênero. Em Apinayé, o artigo apenas define e indefine. Nessa
língua temos apenas marcadores como mostra adiante:
a) Masculino: Segundo Albuquerque (2011), em Apinayé, pertencem
ao gênero masculino as palavras que vierem acompanhadas da palavra my
(masculino / macho), bem como os nomes próprios de pessoas.
Ex.: Rop my (cachorro), kagãmy (cobra macho), tepmy (peixe macho).
b) Feminino: pertencem ao gênero feminino em Apinayé, os substantivos
que vieram acompanhados da palavra ni (feminino / fêmea), bem como os
nomes personativos. Ex: Rop ni (cachorra), kagãni (cobra fêmea), karàni (veado
fêmea), hagrôni (porca).
Classificação
Na língua Apinayé, o adjetivo pode ser classificado em primitivo,
derivado e simples. O adjetivo primitivo é aquele que não deriva de verbo
ou substantivo. Exemplos: jakry (frio), mex (bonito/bom), omnuj (feio/ruim), grà
(seco), hi (magro), karo (frouxo), kaxà (podre). O adjetivo derivado é o adjetivo
que provém de verbo ou substantivo ou adjetivo: Exemplos: hitỳx (forte), mexre
(bonitinho/bonzinho), mexti (bonitão/bonzão), twỳmrax (gorduroso), kuxware
(cheiroso), àne (doente), kamãmrytwỳmrax (oleoso), nokre (cego). Já o adjetivo
simples é o adjetivo formado por um só radical: Exemplos: nyw (novo), grãgrã
(verde), prĩre (baixo), rerek (mole), grire (pequeno).
Flexão
O adjetivo pode variar em gênero, número e grau.
a) Gênero
Herculano de Carvalho (1974) argumenta que a flexão de gênero, no
português, só ocorre nos adjetivos. Única classe em que é possível caracterizar
a relação de concordância (substantivo no masculino ou no feminino =
Locução adjetiva
Em Apinayé, existem expressões que equivalem a adjetivo (genitivo),
Considerações finais
Segundo Santos (2006), a língua indígena é um elemento cultural
importante para a autoestima e a afirmação identitária do grupo étnico, ao lado
de outros elementos culturais, como a relação com a terra, a ancestralidade,
cosmologia, as tradições culturais, os rituais e as cerimônias. É inegável a
importância da língua para um povo indígena e foi sabendo disso que fizemos
um breve levantamento dos aspectos morfológicos da língua Apinayé, para,
dessa forma, podermos contribuir com o fortalecimento linguístico desse povo.
Ainda de acordo com Santos (2006), o indivíduo que conhece sua
língua e sua cultura também se desenvolve melhor como pessoa, como
cidadão e como membro de uma coletividade, e mais facilmente conhece
o seu lugar e a sua responsabilidade na sociedade. Línguas, como formas
de vida, recortam o mundo, produzem e comunicam valores e constroem
perspectivas e sociedades. Elas expressam e organizam cosmologias,
racionalidades, temporalidades, valores, espiritualidades. Uma língua funda
e organiza o mundo, pois desta forma, é material constituído de culturas, de
sujeitos culturais, políticos e humanos.
Referências
ALBUQUERQUE, Francisco Edviges. Interdisciplinaridade x Intercultura-
lidade: uma prática pedagógica Apinayé. In: Revista cocar/Universidade do
estado do Pará v. 3, n. 6. Belém: EDUEPA, jul./dez.2009.
SANTOS, L. G. S.O índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas
no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/ Museu Nacional, 2006.
Resumo
Este trabalho é o relato de um Projeto vinculado ao Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC, intitulado “Aspectos
Sintáticos da Língua Apinayé”. O objetivo foi realizar uma descrição dos
aspectos Sintáticos da Língua Apinayé, que faz parte do tronco Linguístico
Macro-Jê e da Família Linguística Jê, falada por aproximadamente 1847
indígenas. Esse trabalho também tem como meta contribuir significativamente
na organização de material didático, voltado para os aspectos morfossintáticos
dos Apinayé, especificamente, destinado para o ensino da língua materna
nas escolas desse povo. Busca também colaborar para a construção de uma
educação escolar bilíngue, intercultural e específica no processo ensino-
aprendizagem das crianças indígenas, numa tentativa de promover o
fortalecimento e a manutenção da língua e da cultura indígenas nas escolas
de suas aldeias.
Palavras-chave: Língua Apinayé; Sintaxe; Educação Escolar
Indígena.
Introdução
Neste trabalho apresentamos os resultados de uma pesquisa que teve
como objetivo descrever os aspectos Sintáticos da Língua Apinayé, atualmente
falada por aproximadamente 1.847 indígenas distribuídos em 24 aldeias,
Objetivos específicos
1. Elaborar e organizar material didático-pedagógico, com a
participação dos professores indígenas, levando em consideração a
sistematização dos aspectos gramaticais, no uso da língua Apinayé
escrita em sala de aula.
2. Fazer um levantamento dos aspectos sintáticos da Língua Apinayé,
tais como: estrutura de orações, simples, complexas e negativas;
3. Descrever os aspectos sintáticos dessa língua, para posteriormente
serem aplicados em sala de aulas pelos professores Apinayé, como
forma de fortalecimento da língua materna na escola desse povo.
Materiais e métodos
O trabalho se realizou com o povo Apinayé, de modo que foram
selecionados autores diferentes que trabalharam/trabalham com a língua
em estudo, para verificarmos os aspectos sintáticos no estado sincrônico
dessa língua. Ademais, temos participado efetivamente da pesquisa sobre os
aspectos Sintáticos da Língua Apinayé, de acordo com as atividades propostas
no cronograma do projeto, tais como:
Sintaxe Apinayé
A sintaxe estuda as relações que as orações estabelecem entre si, formando
períodos, procurando detectar a maneira como as partes da linguagem se
estruturam para formar os enunciados comunicativos (INFANTE NICOLA,
1991).
Para Albuquerque (2011), a ordem gramatical da língua Apinayé é SOV
(Sujeito, objeto e verbo), diferente do Português que é SVO (Sujeito, verbo,
objeto). A ordem mais produtiva nessa língua é: Sujeito + Complemento +
Verbo. Como podemos constatar no exemplo:
Na pa pixô ku - eu comi banana.
A oração em Apinayé
De acordo com Han e Koopma (1979) e Albuquerque (2011), há dois
tipos principais de orações em Apinayé: diretas e oblíquas. As orações diretas
referem-se, geralmente, a uma ação específica como as atividades do dia-a-
dia:
Diretas Oblíquas
Pa ma pur mã tẽ – eu vou à roça Inhmã kaga – estou com preguiça
VTD VTI
Apy – pegue Inhmã haprô – compre (o/a)
Ama - escute Kãm hkuxô – descasque (o/a)
Sujeito
Esse é o termo sobre o qual recai uma determinada declaração,
conforme exemplo: Na pa pixô haprô - Eu compro banana. Pa é sujeito
Predicado
O predicado, nessa língua, também pode ser classificado em: verbal,
nominal e verbo-nominal.
Predicado verbal
O predicado verbal é aquele construído com verbos de ação, com no
caso de:
Na apkahti – o dia amanheceu.
Na gwara ho prõt - ele correu com a tora.
Predicado nominal
O predicado nominal é constituído por um verbo de ligação ou
estativo (cópula). Em Apinayé os verbos estativos têm forma simples, não são
conjugados e são regidos pelos prefixos relacionais. Um exemplo desse tipo de
construção tem-se nas orações:
Inhmã kry - estou com frio
Inhmã kaga - estou com preguiça.
Sobre os verbos estativos, é necessário destacar uma especificidade
dos verbos transitivos. Pode-se dizer que os seus objetos podem se apresentar
de duas maneiras distintas: explícita ou implícita. A forma longa ocorre
quando o verbo vier seguido de outras palavras (objeto implícito) e a forma
curta que aparece com objeto explícito. Geralmente na forma longa o verbo
Predicado verbo-nominal
O predicado verbo-nominal é aquele que apresenta dois núcleos
significativos, sendo um verbo, que indica ação e um nome que indica
qualidade ou estado do sujeito ou do objeto (ALBUQUERUE, 2011).
Na à nẽ pôj – Ele/ela chegou doente
Complemento nominal
O complemento nominal tem função de completar o um nome. Como
é o caso de:
Kãm ropkror pyma – medo de onça.
Agente da passiva
O agente da passiva, como próprio nome já diz, é agente da voz passiva.
Ocorre no caso de:
Ni na menh nhy guj rax - a mulher foi atacada pelas abelhas.
Adjunto adverbial
O adjunto adverbial modifica o sentido do verbo dentro da oração.
Geralmente o adjunto adverbial está associado a um verbo intransitivo,
conforme o exemplo:
Kuwênh na prãm kupĩ - o pássaro morreu de fome
Aposto
O aposto tem função explicativa em relação a um termo da oração.
Podemos citar como exemplo:
Kâmer, pahihti, na ma krĩ rax mã tẽ - Kamêr é o cacique da aldeia.
Vocativo
O vocativo pode ser definido como um chamamento, ou seja, funciona
como evocação de algum elemento a quem se dirige, conforme exemplo:
Pahihti amnẽ tẽ - Cacique venha cá.
Considerações finais
Neste artigo, apresentamos o resultado parcial das discussões de nossa
pesquisa, visto que ainda está em andamento, mas que, com certeza, trará uma
grande contribuição para as escolas indígenas Apinayé, bem como para as
Referências
ALBUQUERQUE, Francisco Edviges. Português intercultural. Fortaleza-CE-
Printcolor, 2008.
Resumo
Parte integrante de um projeto de pesquisa que visou a elaboração de
uma Dissertação de Mestrado, este artigo delineia os trâmites metodológicos
na condução de um trabalho realizado nas aldeias Apinayé de São José e
Mariazinha. Os Apinayé habitam em 24 aldeias situadas no extremo
norte do estado do Tocantins, numa zona de transição entre o Cerrado e a
Amazônia, numa região conhecida como “Bico do Papagaio”, e são falantes
da Língua Apinayé, pertencente à Família Linguística Jê e ao Tronco Macro
Jê. O objetivo da pesquisa foi estudar, descrever e analisar o processo de
formação dos professores indígenas de alfabetização intercultural e bilíngue
das escolas “Mãtyk e Tekator”, com ênfase no Professor de Língua Materna.
Através de uma proposta metodológica Interdisciplinar, tomamos por base
os pressupostos teóricos que tratam das pesquisas qualitativas e da etnografia
com observação participante, tanto no contexto da antropologia social quanto
da etnografia educacional. Discorremos sobre a pesquisa etnográfica, suas
32. Pedagoga, Mestre em Letras, curso de Mestrado em Língua e Literatura MELL – pela UFT - Universidade
Federal do Tocantins, Campus de Araguaína. Doutoranda em Teoria e Análise Linguística de Línguas Indígenas na
UnB – Universidade de Brasília. Apoio Financeiro: CAPES. e-mail: sissi@uft.edu.br.
33. PHD. Professor Adjunto da Universidade Federal do Tocantins – Campus de Araguaina orientador da pesquisa.
e-mail: fedviges@uol.com.br
34. Formada em Letras e Mestranda no MELL – Mestrado em Língua e Literatura do PPGL – Programa de Pós
Graduação em Letras da Universidade Federal do Tocantins – UFT – Campus Araguaina.
Introdução
A década de 1990 veio consolidar os dispositivos da Constituição
Federal (CRFB/88) quando foi promulgado um Decreto Lei que delegou ao
MEC - Ministério da Educação - a execução de políticas públicas voltadas
para a educação escolar indígena em substituição à FUNAI – Fundação
nacional do Índio, órgão responsável pelo setor até então no País, delegando
sua organização aos Estados e Municípios, a qual passa a figurar nos
documentos educacionais posteriores: LDB - Lei de Diretrizes e Bases para
a Educação Nacional (1996); PDE - Plano Nacional de Educação (1998) e no
RCNEI - Referencial Nacional para as Escolas Indígenas (2002).
Nesse sentido, e considerando a importância de se estudar a
educação escolar no contexto indígena Apinayé, bem como a necessidade de
compreender a ação e as práticas pedagógicas de professores bilíngues das
escolas Mãtyk e Tekator das aldeias São José e Mariazinha, em consonância
com o desenvolvimento de um projeto interdisciplinar que auxilie no processo
educativo intercultural, realizamos a pesquisa que originou este artigo, o qual
tem por objetivo descrever as bases metodológicas que norteiam a investigação.
O texto está estruturado da seguinte forma: primeiro fazemos uma
apresentação dos passos metodológicos, identificando seu teor. Em seguida
fazemos uma análise teórica da pesquisa etnográfica e da observação
Os fundamentos da etnografia
Segundo Ezpeleta & Rockwell (1989), a etnografia tem seus indícios no
final do século XIX e início do século XX e tem sua origem na abordagem
qualitativa em pesquisa. Para as autoras, sua aplicabilidade na educação se
justifica pela constatação de que os métodos de investigação próprios das
Etnografia e educação
Não obstante os primeiros registros etnográficos terem surgido no
período que compõe as ultimas décadas do século XIX e os primeiros anos
do século XX, (Ezpeleta e Rockwell, 1989), é só na década de 1970 que os
pesquisadores em educação começam a se interessar pela aplicabilidade da
etnografia na dinâmica que compõe o trabalho do professor na sala de aula.
Para André (2004, p. 36), tais estudos são realizados a partir de fundamentos
da psicologia comportamental, apresentando-se mesmo como “análises de
interação” e, nesse caso, objetivavam estudar as interações da/na sala de
36. Projeto de Pesquisa de Iniciação Científica CNPQ/UFT “Educação, Cultura, Infância e Ludicidade: Um estudo
da Cultura Apinayé”, desenvolvido entre agosto de 2008 e julho de 2009.
37. Projeto de Pesquisa do Mestrado: “Interculturalidade e Educação Escolar Apinayé: uma experiência bilíngue nas
escolas das aldeias São José e Mariazinha”, a partir do qual foi escrita a nossa Dissertação.
38. “Projeto de Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural do Programa do Observatório de
Educação Indígena/CAPES”, sob coordenação de nosso orientador Prof. Dr. Francisco Edviges Albuquerque.
Microanálise etnográfica
Um dos momentos de maior preocupação no transcorrer da pesquisa
foi quando foi necessário determinar qual procedimento metodológico seria
utilizado para a análise e interpretação dos dados. Nesse sentido, encontramos
na “microanálise etnográfica” uma possibilidade. Sendo assim, buscamos em
Mattos (2001) as bases teóricas necessárias. Para essa autora, a microanálise
etnográfica é um instrumento da etnografia frequentemente utilizado nos
estudos sobre educação e linguagem, e é recorrente seu uso em estudos
sobre sociolinguística, análise de contexto, análise de discurso, análise da
conversação, etc., aplicados ao contexto educacional. “É considerada como
micro porque enfatiza particularmente um evento ou parte dele, ao mesmo
tempo em que se dá ênfase ao estudo das relações sociais em grupo como um
todo, holisticamente” (MATTOS, 2001, p. 5).
Em microanálise, ao mesmo tempo em que a ênfase incide sobre o
significado das formas de envolvimento das pessoas como agentes/atores,
exige-se do pesquisador um detalhamento criterioso na descrição do
comportamento através da transcrição linguística verbal e não verbal de
Referências
ALBUQUERQUE, Francisco Edviges. Contato dos Apinayé de Riachinho e
Bonito Com o Português: Aspectos Da Situação Sociolinguística. Dissertação
de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras e
Linguística da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás.
Goiânia: 1999.
ANDRÉ, Marli Eliza D. A de. Etnografia da prática escolar. São Paulo: Papirus,
1995.
______. Etnografia da prática escolar. 11ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2004.
FILHO, José Camilo dos Santos e GAMBOA, Silvio Sánchez (Org). Pesquisa
Educacional: quantidade-qualidade. São Paulo: Cortez, 2009.
Resumo
O povo Krahô vive em uma reserva indígena que ocupa uma área
de aproximadamente 3.200 km². Esta reserva situa-se entre os municípios
de Itacajá e Goiatins. Os Krahô são remanescentes dos Timbira e falantes
da língua Krahô, integrante da Família Linguística Jê vinculada ao Tronco
Linguístico Macro-jê. A proposta do nosso trabalho é produzir um pequeno
vocabulário bilíngue Krahô–Português, com algumas unidades lexicais da
língua Krahô. Estas unidades estão presentes em um mito de origem Krahô,
o “Mito de Tyrkrẽ”, que é também o corpus do nosso trabalho. Esse vocabulário
foi elaborado com o intuito de auxiliar os professores indígenas Krahô em suas
aulas de língua portuguesa, bem como os alunos indígenas Krahô aprendizes
dessa, que é uma segunda língua ensinada na escola. O intuito é contribuir
para um ensino diferenciado, bilíngue e intercultural dessa sociedade
indígena. O glossário apresentado neste trabalho compreende 19 entradas
39. Graduada em Letras pela Universidade Federal do Tocantins, campus de Porto Nacional. Mestranda no Ensino de
Língua e Literatura do PPGL – Programa de Pós Graduação em Letras da UFT – Universidade Federal do Tocantins.
Bolsista do Projeto do Observatório da Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural UFT/
CAPES. e-mail: jainegs@yahoo.com.br.
40. Professor Adjunto da UFT – Universidade Federal do Tocantins e coordenador do Projeto do Observatório da
Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural. email: fedviges@uol.com.br.
Introdução
Este artigo apresenta um estudo das lexias41 da língua Krahô, da
Família Linguística Jê pertencente ao Tronco Linguístico Macro jê, a
partir de um vocabulário bilíngue Krahô–Português. O intuito é auxiliar
os professores indígenas no ensino da língua portuguesa e alunos indígenas
Krahô, aprendizes de uma segunda língua, nesse caso, o português. Para a
elaboração desse glossário bilíngue Krahô-Português foram extraídas as lexias
presentes no mito de Tirkrẽ, destacando os termos da fauna e de parentesco
(pai, mãe, sogra, nora e irmão, pássaros e peixes).
Inicialmente abordamos brevemente a história do povo Krahô
e descrevemos de forma sucinta o mito de Tyrkrẽ que constitui o corpus do
nosso trabalho. Realizamos também algumas considerações a respeito da
lexicografia e do fazer lexicográfico (produção de glossários), bem como,
relatamos um pouco da trajetória dos dicionários de línguas indígenas do
Brasil.
Este artigo possui quatro tópicos, além da introdução. O primeiro
momento apresenta aspectos relacionados à história do povo Krahô e ao
mito que constitui o corpus do nosso trabalho (Mito de Tyrkrẽ). No segundo
41 De acordo com Pottier (1974), o termo lexia refere-se a diferentes tipos de palavras e conjuntos de palavras.
O Mito Krahô
Para a elaboração deste glossário bilíngue extraímos algumas unidades
lexicais presentes em um mito de origem Krahô (Mito de Tyrkrẽ42). Os mitos
Krahô geralmente são narrados pelos membros mais velhos das aldeias. Esses
mitos são retomados em seus respectivos rituais. Melatti (1978) discorre que o
mito é posterior ao rito e todo ritual remete a um mito. Assim, para podermos
entender o Rito de pẽp Cahàk é necessário conhecermos o Mito de Tyrkrẽ.
A escolha pelas unidades lexicais referentes à família e animais dá-
se pelo fato desses termos estarem mais presentes na construção do mito de
Tyrkrẽ, pois a narrativa se constrói a partir do momento em que Tyrkrẽ vai
ralar mandioca e uma formiga entra no ouvido dele. Os urubus avistam
Tyrkrẽ com dor e buscam ajuda, por meio de outros pássaros com bicos
finos e longos. Tyrkrẽ é levado para o céu pelos urubus e lá recebe poderes de
um pássaro Gavião. Ao receber poderes, Tyrkrẽ vê sua esposa tendo relações
42 Este mito foi descrito por Melatti (1978) em Ritos de uma Tribo Timbira.
Algumas observações
acerca da lexicografia
Para desenvolver nosso estudo, destacamos, neste tópico, alguns
princípios básicos acerca da lexicografia e do fazer lexicográfico.
Dapena (2000) define a lexicografia como um saber científico, uma arte
ou uma técnica de elaborar dicionários. Para esse autor, tanto a lexicologia
quanto a lexicografia são voltadas para o estudo do léxico. Barbosa (1990, p.
154), conceitua a lexicografia como ciência aplicada que tem por objetivo a
produção de dicionários, e define a prática lexicográfica, ou seja, a lexicografia,
como pesquisa fundamental, cujo objeto de estudo é as teorias e os modelos de
confecções de dicionários.
Nunes (1996, p. 42) postula que a “emergência da lexicografia no Brasil
é associada geralmente aos momentos em que os dicionários do português
passam a incorporar termos brasileiros”. Mas quais seriam esses termos?
Nunes (1996, p. 42) informa que esses termos estavam relacionados aos
termos indígenas, africanos e portugueses, modificados no Brasil. Com isso, a
lexicografia brasileira teria se iniciado com os dicionários de Moraes e Silva.
Mas e os instrumentos bilíngues produzidos no século XVI, Nunes (1996, p. 42)
postula que esses instrumentos bilíngues serviram apenas “para testar a origem
dos termos indígenas no português, favorecendo, apenas, o desenvolvimento
de estudos etimológicos”. Partindo destas premissas, nota-se que o a prática
lexicográfica bilíngue brasileira surgiu no período das colonizações e que seus
registros foram descartados por não serem considerados “língua empírica”.
Diferentemente dos dicionários gerais que englobam tanto o significado,
Questões metodológicas
As lexias que constituem o corpus do nosso trabalho foram extraídas
do livro de Melatti (1978) e estão relacionadas aos termos de: fauna (animais)
e parentesco (família). Neste tópico apresentaremos a metodologia utilizada
43. Este vocabulário foi publicado integralmente em 1938, com a edição de Plínio Ayrosa (Nunes, 2006, p. 94)
44. Obra impressa em 1618, com direção e correções do PE. Antônio de Araújo (1566-1632), na revisão desta obra
interviram outros padres Pero Correia,Leonardo do Vale e José de Anchieta (Magalhães, 1998, p. 146).
Público alvo
Zgusta, apud Caldas (2005, p. 155) relata que o tamanho da proposta de
um dicionário está relacionado a uma gama de informações básicas sobre o
léxico a ser apresentado. Assim, o levantamento de dados surge para conferir
a que público será direcionado e por mais que seja uma obra científica, em
que aspectos ela poderá atender os usuários. Com base nesses pressupostos,
seguiremos as indicações de Zgusta (1971), apresentando o público alvo do
nosso trabalho.
Este vocabulário foi elaborado para auxiliar os professores indígenas
Krahô em suas aulas de língua portuguesa, bem como os alunos indígenas
Krahô aprendizes dessa, que é uma segunda língua. As entradas foram
elaboradas na língua Krahô para facilitar a procura das respectivas lexias.
Proposta de vocabulário
Para construção deste vocabulário seguiremos o modelo de
“organização” proposto por Caldas (2009) e o adaptaremos ao nosso
Macroestrutura
De acordo com Rey- Debove (1971), macroestrutura é definida como o
conjunto das entradas. No que se refere às entradas, usamos a grafia utilizada
pelos professores das aldeias Manuel Alves e Pedra Branca. Elas são seguidas
da transcrição fonética.
Microestrutura
Para Rey-Debove (1971), microestrutura corresponde ao conjunto das
informações ordenadas de cada verbete após a entrada. A microestrutura deste
vocabulário está dividida em palavra entrada (em língua Krahô), transcrição
fonética de cada entrada para descrever a pronúncia dos itens lexicais, tradução
(em língua portuguesa) e abonações (extraídas do Mito de Tirkrẽ).
Tipografia do verbete
a) Negrito: entrada e forma fonética
b) Itálico: tradução
c) Sublinhado: abonações
d) Aspas: informação gramatical sobre o morfema mediador de posse.
Estrutura do verbete
A estrutura do verbete deste vocabulário seguirá a seguinte ordem:
ENTRADA + FORMA FONÉTICA + TRADUÇÃO +
ABONAÇÃO e (Caso haja alguma informação gramatical esta virá precedida
de aspas “ “ ) + “ “.
Vocabulário Bilíngue Krahô – Português
FAUNA ( ANIMAIS)
Axũn /a'ʧũn / Formiga ex: E Tyrkrẽ continuava com a orelha
inchada, doente, porque a formiga estava
dentro dela.
Capuhti /kapu'ʔti/ Jaó ex: O gavião pequeno chegou com um jaó
e o depenou.
Cuhkryti /kuʔkʰɾɨti/ Urubu da ex: (...) então os urubus de cabeça pelada,
cabeça disseram(...)
pelada
Hàcti: /'ɦʌkti/ Gavião. ex: Aí, o Gavião fez assim como o curador,
“fez jeito”, porque os bichos é que fazem os
curadores curarem.
Junre /'ɲunɾɛ/ Beija-flor. ex: O urubu então chamou o beija-flor(...)
Jõjẽnre /'ɲõɲẽnɾɛ/ Urubu rei. ex: Então o urubu rei falou para Tirkrẽ(...)
Mããti /mãӛti/ Ema. ex: O gavião pegou uma ema nova, pelou-
a, tirou carne e deu-a crua, outra vez, para
Tirkrẽ.
Pêphà /'Pepɦʌ / Formigão. ex: então o formigão saiu.
Tep /tɛp/ Peixe ex: Então, Tép´kriti foi buscar peixe (...)
Tutti /tutti / Pombo ex: (...) em seguida se transformou em
pombo.
Xônti /tʃonti/ Urubu ex: Os urubus aproveitaram o pus, comendo-o.
Hoxwẏjê /'ɦɔʧwɤje/ sogra dele ex: ela veio junto com sua mãe e a sogra dele
ou sogra de falou (...) (...) “H= sogra dele ou de alguém”
alguém prefixo de que representa posse.
Ihtõ /iʔtõ/ Irmão dele ex: Sua mulher “vadiava” com o irmão dele.
ou irmão de “Ihtõ = irmão dele ou de alguém” “prefixo de
alguém que representa posse”.
Considerações finais
Observando oglossário bilíngue Krahô-Português apresentado,
percebe-se que este fazer lexicográfico possibilitou o levantamento de vários
aspectos relacionados ao léxico do Krahô e do Português, além de contribuir
para o ensino e o fortalecimento dessas línguas.
Andrade (2010, p. 106) assinala que o léxico, como repositório de
unidades lexicais e reflexo da cosmovisão de uma dada realidade, é o que
mais nitidamente, na leitura de Sapir, reflete o ambiente físico e social dos
falantes. Partindo dessas considerações, fica evidente que, ao se estudar o
léxico de uma língua, pode-se também apreender a realidade do grupo que
a utiliza: cultura, história, modo de vida e visão de mundo. As palavras que
constituem o sistema lexical de uma língua são como um espelho: refletem
os aspectos do mundo real de uma realidade. Utilizando-se do léxico, o ser
humano sempre atribui nome a tudo que o cerca: às coisas, aos animais,
às pessoas, ao espaço físico em que vive. Nomear é, para o homem, uma
necessidade de organização e de orientação.
Mais particularmente, o léxico de uma língua indígena é uma forma
de registrar e apresentar o conhecimento do homem no universo em que
Referências
ALVES, Poliana M. 2004. O léxico do tuparí. UNESP, Araraquara. Maria
Tereza C. Biderman.
MELATTI, Júlio C. Ritos de Uma Tribo Timbira. São Paulo: Ática, 1978.
Resumo
O presente artigo, parte integrante de uma pesquisa em andamento,
descreve um estudo sobre a língua Krahô, pertencente à Família Linguística
Jê e ao Tronco Linguístico Macro-Jê, falada por todos os habitantes das aldeias
que compõem a Kraholândia47. O povo Krahô reside às margens dos rios
Manoel Alves Grande e Manoel Alves Pequeno, localizados nos municípios
de Goiatins e Itacajá, noroeste do estado do Tocantins. A análise da Língua
Krahô nos permitiu um conhecimento prévio sobre o nível de bilinguismo
desse povo. O objetivo aqui é apresentar um estudo de caso sobre a fala de
uma professora indígena Krahô que leciona em uma escola localizada na
aldeia Pedra Branca, situada no município de Itacajá, Tocantins. Como
procedimento metodológico, realizamos uma entrevista, ancorada por uma
pesquisa bibliográfica. Para a fundamentação teórica, consultamos autores
que trabalham com a temática indígena, com destaque para Albuquerque &
Almeida (2011), Melatti (1972), Maher (2005) e Souza (2011). Sobre a Língua
Portuguesa trabalharemos com Travaglia (2002), Antunes (2007), Possenti
(2002), dentre outros. Os resultados indicam que, levando em consideração
45. Mestranda do MELL – Mestrado em Língua e Literatura do PPGL – Programa de Pós Graduação em Letras da
UFT - Universidade Federal do Tocantins - Campus de Araguaína.
46. Coordenador do Projeto A Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural/ Programa do
Observatório de Educação Indígena, CAPES/SECAD/INEP do Edital no 001/2009.
47. Área habitada pelos indígenas Krahô que compreende as fronteiras entre os estados do Maranhão e Tocantins.
Fonte: www.wikipedia.org. Acesso em 21/03/2012.
Introdução
Esse trabalho traz parte dos resultados de um estudo sobre a língua
Krahô, que faz parte do Tronco Linguístico Macro-Jê e da Família Linguística
Jê, falada por um povo indígena de mesmo nome que habita no Estado do
Tocantins. Temos, neste artigo, o objetivo de estudar a questão do gênero a
partir da sintaxe do nome na língua Krahô.
O corpus é a fala de uma professora indígena pertencente à etnia Krahô.
Escolhemos o estudo de caso como metodologia porque, neste trabalho, nos
interessa estudar não somente a teoria, mas analisar a questão do gênero
também na prática.
A professora entrevistada mora e leciona em uma escola localizada
na aldeia Pedra Branca, situada no município de Itacajá, TO. A coleta de
dados foi realizada por meio de uma entrevista feita em Paraíso do Tocantins,
TO, durante o curso de Magistério Indígena coordenado pela Secretaria de
Educação do Estado do Tocantins.
Durante a realização da entrevista, algo que chamou muito a atenção
foi o uso variável da concordância nominal, principalmente no que diz
respeito ao gênero. Assim, buscamos investigar, por meio de um estudo de
caso, a noção de gênero no falar do povo Krahô, observando a influência da
língua portuguesa em seus discursos.
Gramática internalizada
Iniciamos esta sessão considerando o argumento de Possenti (2002)
sobre o conceito de gramática, quando diz que os estudiosos nem sempre a
definem igualmente. Na mesma obra, o autor destaca três tipos de gramática:
Considerações finais
Concluímos este trabalho ressaltando que não era nossa intenção
fazermos um estudo geral sobre a língua Krahô, tendo em vista que isto
necessitaria de pesquisas mais avançadas e aprofundadas para ser realizado.
Contudo, podemos afirmar que o estudo do gênero entre os povos indígenas
falante do Krahô, nos permitiu um conhecimento superficial da linguagem
bilíngue utilizada por esses povos.
Finalmente, levando em consideração o contato entre povos falantes de
distintas línguas, entendemos que a expressão linguística da ideia de gênero
surge como consequência de relações semânticas, que geram diversas formas
de expressão linguística. Dessa forma, supõe-se que os falantes da língua
Krahô, ao realizarem a concordância do gênero com o nome, evidenciam a
Referências
ALBUQUERQUE, Francisco Edviges. Contato dos Apinayé de Riachinho e
Bonito com o Português: Aspectos da Situação Sociolinguística. Dissertação de
Mestrado. Goiânia: UFG, 1999.
D’ANGELIS, Wilmar da Rocha. Como nasce e por onde se desenvolve uma tradição
escrita em sociedade de tradição oral. Campinas: Curt Nimuendaju, 2007.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. São Paulo: Mercado
de Letras, 2002.
SOUZA, Maria Sueli de. A sintaxe do verbo final em Krahô. Editora CRV, 2011.
Resumo
O povo Krahô vive em uma reserva indígena que ocupa uma área de
aproximadamente 3.200 km². Esta reserva situa-se entre os municípios de
Itacajá e Goiatins. A língua do povo Krahô faz parte da Família Linguística
Jê e faz parte do Tronco Macro- jê. Este povo faz parte de uma sociedade
remanescente dos Timbira e destaca-se por suas diversidades socioculturais.
Aspectos como língua, corte de cabelo, ritos, mitos, cantigas e corridas de
tora, são algumas das particularidades desse grupo indígena, e se apresentam
como elementos constitutivos da identidade e do universo cosmológico dessa
sociedade. Neste artigo, discutimos a respeito dos paradigmas educacionais,
educação escolar indígena e interdisciplinaridade. A proposta discursiva
centra-se também na perspectiva de apresentar uma sugestão de trabalho
interdisciplinar no âmbito da educação escolar indígena Krahô, com base no
ensino do rito de pẽp Cahàc, a saber: ritual de passagem de uma fase da vida
à outra fase (fase da adolescência – fase da vida adulta), também de iniciação
guerreira, onde os mais velhos repassam aos mais novos conhecimentos
guerreiros e ensinamentos sobre posturas para toda vida. Assim, para a
elaboração deste trabalho fomos sustentados pelos pressupostos teórico-
metodológicos da interdisciplinaridade. Já para a análise e constituição
57. do Programa de Pós Graduação em Letras UFT Araguaina. E-mail: jainegs@yahoo.com.br.
58. Coordenador do Projeto A Educação Escolar Apinaye na Perspectiva Bilíngue e Intercultural/ Programa do
Observatório de Educação Indígena, CAPES/SECAD/INEP do Edital no 001/2009 e Orientador da pesquisa.
Introdução
Atualmente, há um anseio evidente pela desfragmentação do saber
e, não obstante, estamos em busca de um paradigma que reforce de forma
holística os problemas relacionados à fragmentação do conhecimento e das
práticas pedagógicas. Ademais, estamos numa era de buscas, erros e acertos,
na era da globalização, da autonomia59, da emergência do ser na sociedade e
na comunidade planetária. Moraes em sua obra “O Paradigma Educacional
Emergente” (2004) faz reflexões significativas acerca da importância do
aprender a aprender, da autonomia, da valorização do conhecimento, da visão
crítica do aluno e da falta de um paradigma que mude essa realidade complexa.
Com efeito, falar sobre “um novo conceito de educação” pode ser uma
temática um pouco repetitiva, mas para nós “educadores” nada mais é que
uma busca incansável por uma educação que privilegie uma nova era, ou seja,
59. Segundo Santos (2004, p. 22) “a autonomia é uma construção dependente das condições sociais e culturais, mas,
ao mesmo tempo, é independente, devido à característica auto-organizativa do homem na construção de seu mundo
interior (autorreferencialidade), elaborando suas próprias teorias para dar sentido a vida.
Os Krahô
O estado do Tocantins se caracteriza como sociocultural e multicultural
devido à diversidade linguística e cultural dos demais povos que em seu
60. A partir de uma convenção entre linguistas e antropólogos, em 1953, ficou estabelecido que o substantivo gentílico,
referente ao nome de um povo indígena, seria grafado com maiúscula e nunca pluralizado: tal substantivo, além de
muitas vezes já estar no plural na língua indígena de referência, é designado de um povo, de uma sociedade, de uma
coletividade única – e não apenas de um conjunto de indivíduos. Daí nos referirmos aos Palikur, e não Palikures; aos
Guajajara, e não aos Guajajaras (MAHER, 2010).
61. Texto extraído do site de Melatti (http://www.juliomelatti.pro.br/artigos/a-muscra.htm), acessado em 27/01/2012
62. Os dados históricos sobre o povo Krahô mencionados neste texto foram obtidos na página eletrônica do Instituto
Socioambiental (ISA) (www.socioambiental.org), acessado em 06/01/2012.
Da disciplinarização à interdisciplinaridade
Até meados do século XVII, embora houvesse uma disciplinarização do
conhecimento, que remontava aos gregos, ainda predominava o fazer científico
regido pelo “principio da mistura” (FIORIN, 2008, p. 33), mas esse movimento
regido pelo princípio da mistura é substituído pelo principio da triagem.
Japiassu (2006, p. 21) afirma que esse movimento de triagem se firma no século
XX. Todavia, na segunda metade do século XX, surge e rapidamente se impõe
a hiperespecialização, provocando a multiplicação indefinida de disciplinas e
subdisciplinas cada vez mais focadas em reduzidos objetos de estudo.
É nesta época que:
Partindo desses fundamentos, notamos que para ser “inter” devemos ser
flexíveis, ter atitude, sair da “especialidade” e da fragmentação das disciplinas,
precisamos ser corajosos para encarar essa nova crise paradigmática, onde a
fragmentação do saber é substituída pela multiplicação do conhecimento.
Concluímos que, a interdisciplinaridade nasceu para “preencher
as lacunas de um pensamento científico mutilado por uma exagerada e
inevitável especialização e para que possam ser abordadas inteligentemente
as complexidades percebidas e exigidas pela ação” ( JAPIASSU, 2006, p. 27).
Procedimentos Metodológicos
Apresentamos o Rito de pẽp Cahàc apenas como caráter cultural do povo
Krahô, mas a partir de agora o apresentaremos como um tema transversal e
interdisciplinar que pode ser trabalhado em sala de aula. Optamos por este
ritual, porque acreditarmos que seja uma temática de “urgência”, na escola,
e na comunidade indígena Krahô, pois este ritual não é realizado há mais de
10 anos na aldeia Manuel Alves63. Os jovens alunos com pouco menos de 15
anos nunca presenciaram esta cerimônia, certa vez questionei o diretor da
escola da Aldeia Manuel Alves o porquê desta cerimônia não acontecer. O
mesmo respondeu que para o desenvolvimento deste rito é necessário certa
quantidade de pẽp Cahàc (rapazes do sexo masculino sem filhos). É importante
destacar que ano passado muitas aldeias Krahô desenvolveram este ritual e
que o mesmo continua vivo na cultura deste povo timbira.
Como já foi dito, o Rito de pẽp Cahàc é um ritual de passagem (da
63. Destacamos apenas as aldeias Manuel Alves e Pedra Branca, por serem as únicas aldeias que iremos pesquisar
durante nosso trabalho de mestrado.
Procedimentos
Nosso artigo se firma apenas em uma abordagem bibliográfica, uma
vez que não tivemos oportunidade de ir à aldeia para apresentar esta proposta
às lideranças da comunidade Krahô.
Segundo Santos (2004, p. 33), a forma de ensinar é consequência
das crenças que estruturam a mente do docente que, na sua grande
maioria assume a atividade do magistério por imitação e expressam os
fundamentos socioculturais da sociedade. Para que este trabalho “transversal
e interdisciplinar” seja realizado com êxito, deve-se em primeiro lugar
Discussão
Um trabalho interdisciplinar não significa “sem disciplinas”, mas um
trabalho “entre” disciplinas que se comunicam entre si.
Dessa forma:
Língua materna
Como não existem textos na língua indígena Krahô que descrevam
este ritual, os professores indígenas poderão pedir ajuda de algum membro
da comunidade que conheça, e que já participou desta cerimônia, para poder
narrar o procedimento deste ritual aos alunos. A partir desta atividade, os
alunos deverão escrever na língua materna o ritual narrado e assim, passar
para a atividade de tradução bilíngue.
Língua portuguesa
Os RCNEI (1998) informam que os textos produzidos em língua
portuguesa, ou para ela traduzidos, nas escolas e comunidades indígenas, têm
sido uma forma privilegiada de divulgação dos conhecimentos tradicionais
e de afirmação ética. É importante destacar que a língua portuguesa pode
ser para os povos indígenas, um instrumento de defesa de seus direitos legais,
políticos, sociais, bem como um meio para ampliar o seu conhecimento e o
da humanidade.
De acordo com Sauthier e Prochnow (2003, p. 195), “o ensino do
Português tem como objetivo propiciar ao aluno oportunidades de vivenciar a
linguagem como uma prática social. Esse ensino deve utilizar-se de textos por
meio dos quais os alunos terão acesso aos diferentes gêneros textuais”. Dessa
forma, os alunos terão acesso à tipologia textual narrativa ao gênero “rito”.
64. Tradução: festa, ritual ou cerimônia.
Geografia
De acordo com os RCNEI (1998), um dos objetivos didáticos da
Geografia é conhecer e valorizar o conhecimento tradicional de seu grupo
familiar, sua aldeia e seu povo sobre seu espaço e sua cultura (quanto às formas
de orientação espacial, à posição geográfica, aos sistemas de representação
espaciais, aos sistemas de classificação do relevo, do clima, dos solos etc.).
Diferentes espaços geográficos são apresentados no rito de pẽp Cahàc, ora
durante os ensinamentos passados, ora durante as danças, banhos e corridas
de tora. Todos esses elementos fazem parte da realização desta cerimônia.
Aqui podem ser estudados os espaços usados durante o ritual (o pátio, o rio,
a mata, os arredores das casas, dentre outros). Esta abordagem propiciará o
trabalho de orientação e conhecimento do aluno a respeito do espaço físico
onde o ritual é entoado.
História
Para os RCNEI (1998), os professores podem criar situações para que
o aluno possa recontar oralmente as narrativas sobre os outros tempos ou
informar aos seus colegas sobre os dados que obteve em uma pesquisa. Nesta
disciplina, os alunos podem realizar um estudo comparativo entre o rito
que Melatti (1978) presenciou e o rito narrado por algum membro de sua
Arte e cultura
Os RCNEI (1998, p. 288) afirmam que “nas sociedades indígenas a
arte está presente nas diferentes esferas da vida: nos rituais, na produção de
alimentos, nos locais de moradia, nas praticas guerreiras, além de expressar
aspectos da própria organização social”.
Nesse sentido, o professor de arte e cultura poderá destacar os elementos
que constituem o ritual: música, mito, dança, pintura corporal dentro outros
aspectos relacionados a esta cerimônia. Assim, os alunos poderão formar
pequenos grupos e apresentar cada um dos aspectos pertencentes a este ritual.
Considerações finais
Neste trabalho apresentamos algumas reflexões sobre a
interdisciplinaridade e educação escolar indígena, na busca por uma nova
escola que contemple a complexidade da atualidade. Apresentamos uma
proposta “transversal e interdisciplinar” que abarca algumas áreas do saber
como: Língua Materna, Língua Portuguesa, Geografia, História e Arte/
Cultura.
Esperamos que, essas abordagens apresentadas, rompam com os “muros
disciplinares” (DAMAS, 2009, p. 14) existentes na educação escolar indígena,
além de abrir uma visão ampliada para o contexto didático “interdisciplinar”.
A partir das reflexões a respeito desse campo interdisciplinar,
concluímos que a interdisciplinaridade surgiu para quebrar as barreiras dos
distanciamentos entre disciplinas e como forma de unificar o “saber e o ser” em
suas instâncias, suas realidades e suas atitudes. Afinal, a interdisciplinaridade
Referências
ALBUQUERQUE, Francisco Edviges. Contato dos índios Apinayé de riachinho
e Bonito Com o português: Aspectos da situação sociolinguística. (Dissertação
de Mestrado) Orientador: Silvia Lucia B. Braggio. Universidade Federal de
Goiás- UFG, 1999.
Resumo
Neste artigo apresentamos os resultados de uma pesquisa realizada
com os Karajá-Xambioá, grupo indígena que pertence à etnia Karajá e se
autodenomina Inỹ, e que secularmente se mantém na bacia do Rio Araguaia,
na região Norte, Estado do Tocantins, no município de Santa Fé do Araguaia.
Atualmente têm quatro aldeias: Xambioá, Kurehe, Wari Lỹtỹ e uma recém
formada, a Nova Kuherê, que ainda está em processo de reconhecimento.
Estima-se que sua população seja aproximadamente 350 indígenas. Os
Karaja-Xambioá falam o Xambioá, um dialeto específico da Língua Karajá,
pertencente ao Tronco Macro-Jê e à Família Linguística Karajá. O objetivo
foi realizar um estudo sobre as práticas pedagógicas do professor de Ciências e
de Biologia nas escolas indígenas da Reserva, com o intuito de evidenciar que
as práticas pedagógicas no contexto indígena Karajá-Xambioá promovem a
65. Licenciado em Biologia pela UFT, Araguaína – TO. É Professor de Ciências e Biologia nas escolas Karajá-
Xambioá. E-mail: luismargs@gmail.com.
66. Pedagoga, Mestre em Letras e Doutoranda em Teoria e Análise Linguística de Línguas Indígenas na UnB –
Universidade de Brasília. Apoio Financeiro: CAPES. e-mail: sissi@uft.edu.br
67. PHD. Professor Adjunto da Universidade Federal do Tocantins – Campus de Araguaina e co-orientador da
pesquisa. e-mail: fedviges@uol.com.br.
Introdução
No Estado do Tocantins atualmente vivem sete povos indígenas, a
saber: Apinayé, Krahô, Krahô-Kanela, Xerente, Karajá, Karajá-Xambioá
e Javaé. Devemos considerar que todos têm suas especificidades linguísticas e
culturais próprias, as quais devem ser levadas em consideração pelas políticas
linguísticas e educacionais, cabendo à escola respeitar essas diferenças,
contribuindo assim para a manutenção e a revitalização da língua e da
cultura indígena (ALBUQUERQUE, 2011).
Com efeito, a Educação Escolar Indígena atualmente tem se
constituído em objeto de estudo de diferentes áreas do conhecimento. É
notável sua incidência em trabalhos desenvolvidos por pedagogos, linguistas,
historiadores, antropólogos, geógrafos, etc., envolvendo categorias como
gestão, currículo, avaliação e as relações pedagógicas que ocorrem dentro
e fora da sala de aula. Tudo isso favorece a percepção de uma pedagogia
transdisciplinar, na concepção do que afirma D´Ambrósio (2009), ou seja, que
Localização69:
O povo Karajá-Xambioá, também denominado de Karajá do Norte,
reside na região Norte, Estado do Tocantins, às margens do Rio Araguaia,
no município de Santa Fé do Araguaia – TO. Atualmente têm quatro aldeias:
Xambioá, Kurehê, Wari Lỹtỹ e uma recém formada, a Nova Kuherê, que ainda
está em processo de reconhecimento. Juntas somam uma população estimada
em aproximadamente 350 indígenas.
Língua:
Os Karaja-Xambioá falam o Xambioá, um dialeto específico da
Aspectos Culturais:
Fazendo uma abordagem sobre sua cultura, os Karajá-Xambioá
possuem uma diversidade cultural, característica do universo indígena,
onde a pintura, a dança e pratos típicos, ainda são praticados. Entretanto,
apesar de terem passado por um processo de quase perda desses aspectos
tradicionais, atualmente o povo Karajá-Xambioá está lutando para revitalizar
sua cultura, pois muitas atividades que não eram realizadas até tempos atrás,
agora estão visíveis nas festividades, como a festa do peixe, onde se têm várias
manifestações voltadas para o resgate dessa importante expressão cultural.
Um exemplo imponente é a luta corporal, uma forma de ver que o
indígena do gênero masculino está apto para assumir as atribuições mais
complexas dentro da comunidade, ou seja, simboliza uma transição da vida
da fase jovem para a fase adulta, e as apresentações de lutas corporais é um
marco na tradição cultural desse povo. A pesca, além de ser uma atividade
de sustentação alimentar dos habitantes das aldeias, também é um momento
singular, pois se reúne na festa do peixe todos os indígenas, desde crianças
até os anciãos, quando todos se confraternizam, cada um exercendo uma
importante função na comunidade.
Sociedade71:
Os Karajá-Xambioá vivem em famílias extensas. Durante o verão eles
de espalham em pequenos grupos para as praias e lagos para pescar.
Religião:
As suas crenças são relacionadas com as estações do Rio Araguaia, e
diversos heróis estão associados com a enchente, vazante, e a época de praias
quando as águas estão baixas e os Karajá mudam para acampamentos para
pescar, etc. Os Karajá se consideram seus ancestrais (os ijasò) ser mestres de
todos os animais no céu, da terra e das águas. A festa do ijasò anaràky comunica
com os ancestrais através dos Pajés. Os rituais, observados corretamente,
seguram contato com os ancestrais, os mestres dos animais e peixe, e assim
garantiam a continuidade do território e do alimento. Os Karajá do Norte
mantêm as suas festas de iniciação dos rapazes no dia do Índio, dia 19 de
abril, e os espíritos do Kayapó mortos em combate com os Karajá do Norte
“visitam a aldeia” (TORAL 2001).
Material e métodos
A pesquisa que originou nosso artigo é de natureza etnográfica com
observação participante a partir das teorias de Erickson (1984), Ezpeleta
& Rockwell (1989) e Beaud & Weber (2007) apud Almeida (2011, p. 52). Os
autores advertem que a pesquisa etnográfica observacional participante,
deve obedecer a alguns critérios básicos. Primeiro precisa haver participação
intensiva e de longo prazo no contexto a ser pesquisado. Segundo, deve-se
registrar cuidadosamente tudo o que acontece no contexto analisado, através
Os Karajá-Xambioá e a educação
escolar indígena
A educação escolar entre os Karajá-Xambioá segue a tendência dos
demais povos indígenas que sobreviveram no Brasil72, ou seja, está amparada
por uma vasta base legal: Constituição do Brasil (1988); Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional - LDB 9394 (1996), Referencial Curricular
Nacional da Educação Indígena - RCNEI (1998), e se efetiva mediante os
pressupostos do sistema de ensino da sociedade não indígena (ALMEIDA,
2011), regulamentado pelo Ministério da Educação - MEC.
Com efeito, no início da década de 1970, a FUNAI adotou um
programa educacional bilíngue e intercultural para alguns grupos, entre eles,
os Karajá. Este programa, sob a orientação do Summer Institute of Linguistics
(SIL), entidade que tem também objetivos religiosos, resultou na tradução da
Bíblia na língua Karajá. Na área Karajá-Xambioá existem quatro escolas:
Escola Indígena Tainá Hacky que oferta Ensino Fundamental primeira fase
de 1º ao 5º ano; Escola Indígena Manoel Achure; Escola Indígena Waxiho Bedu
Ensino Fundamental de 1º ao 9º ano e o CEMI Centro de Ensino Médio
Indígena Karajá Xambioá.
Segundo Giraldin (2008), decorridos mais de uma década do início da
universalização do acesso ao Ensino Fundamental, o crescimento da demanda
de alunos concluintes das séries iniciais (atualmente nono ano), faz surgir em
72 Segundo Maher (2006) e Grupioni (2002; 2006) quando os europeus invadiram o Brasil a população
indígena era estimada entre 6 a 10 milhões de pessoas, falando aproximadamente 1.500 línguas. Atualmente são 243
povos somando aproximadamente 817.000 indígenas (ALMEIDA, 2011), falantes de 170 línguas (RODRIGUES,
2002).
Aula de Ciências:
Tema: A água. A escolha dessa temática é muito relevante em função
da relação histórica, geográfica, ambiental e cultural que o povo Xambioá
tem com o Rio Araguaia.
Objetivo: O objetivo é tentar construir um conhecimento amplo sobre
a água que seja de fato relevante para as comunidades Xambioá.
2° Momento: metodologia. A princípio cria-se um diálogo
pouco formal com os alunos buscando integrá-los coletivamente. Busca-se,
inicialmente, o domínio do conceito das palavras que compõe o título, que
nesse momento já está explícito no quadro (a água e seus estados físicos).
Conceituando ÁGUA: O que é? Para que serve? Onde encontramos?
Quem precisa? Por que se precisa?
Algumas respostas obtidas: “É aquilo que corre no rio”. “É o que
bebemos para matar a sede”. “Serve para tomar banho”. “Serve para os peixes
Recursos Didático-pedagógicos:
Aldeia, Rio, barco, mapas, quadro e giz, garrafas, varetas, cadernos,
criatório de tartarugas, lagoas que secam no período de estiagem, artesanatos
como: barcos, pescadores, arco e flecha, arpão, timbó, animais, etc.
Recursos Humanos:
Professores indígenas e não indígenas, alunos, anciãos, caciques,
coordenadores, pescadores, técnico em enfermagem, artesãos.
Avaliação:
A avaliação se dá de forma contínua, a partir da observação dos alunos
no desenvolvimento das práticas, do conhecimento cultural, da exposição de
ideias, semanários, atuação em campo, participação coletiva, domínio das
práticas e conteúdo, conceitualização dos objetos trabalhados, prática de
pronúncias na língua materna, atividades em grupo e individualmente.
Como podemos perceber, as práticas pedagógicas que exercemos
nas escolas instaladas nas aldeias do grupo indígena Karajá-Xambioá se
inserem na perspectiva da transdisciplinaridade. Contudo, temos observado
que na comunidade Xambioá algumas lideranças locais, bem como alguns
professores indígenas, indagam sobre o efeito que a educação escolar, oriunda
da sociedade não-indígena, pode causar no sentido de transformação social.
Por isso, estamos trabalhando em conjunto, envolvendo a comunidade que,
por sinal, tem se aproximado cada vez mais da escola, fazendo parte do
Considerações finais
É perceptível o resultado das práticas pedagógicas direcionadas ao
alunado e às comunidades do povo Karajá-Xambioá, práticas estas, que
visam, de maneira transdisciplinar e coletiva, a construir e/ou aprimorar
conhecimentos pré-existentes que caracterizam e legitimam aquele povo.
Conhecimento da própria cultura como: da língua, dos rios, das matas, dos
animais, da culinária, das histórias, das pinturas e etc., servem de base para
um currículo específico e até como material didático para as escolas locais.
Além de aproximar toda comunidade da escola, dando assim uma
contribuição ao processo de revitalização da cultura Xambioá. Uma vez
que, no passado ela foi muito desgastada pela relação com o não-indígena,
que nem sempre foi amistosa, devido à luta pela terra e pela permanência
de suas tradições. Para isso tiveram que aderir a alguns conceitos do mundo
ocidental, bem como, fazer com que as aulas sejam atrativas e prazerosas a
ponto de serem disseminadas em todo cotidiano dos alunos. Afinal, a busca
por currículos relevantes na valorização dos conhecimentos prévios, formação
dos educandos e, consequentemente, na formação de uma sociedade melhor,
Referências
ALBUQUERQUE, Francisco Edviges. No estado do Tocantins Existe Educação
Indígena Bilíngue Intercultural? Palestra proferida em Palmas, na TV Anhanguera,
dia 10 de julho de 2011. Texto cedido pelo autor. 2011.
Resumo
Este artigo tem como finalidade situar a educação escolar indígena
dentro do paradigma educacional emergente e da transdisciplinaridade.
Por meio de um sucinto histórico, este trabalho tem a intenção de explorar
concepções e teorias a respeito do paradigma educacional, sua evolução e
transformação. No âmbito dos fundamentos procuramos contribuições
em autores que trabalham com transdisciplinaridade, com paradigma
educacional e educação indígena para, então, entendermos as possibilidades
e os desafios da educação escolar indígena na perspectiva do paradigma
educacional emergente e da transdisciplinaridade. Os resultados apontam que
o grande desafio da educação escolar indígena hoje, para que ela seja, de fato,
transdisciplinar e de acordo com o paradigma educacional emergente, está
na valorização dos saberes tradicionais, da língua materna, da cultura e de
todas as suas expressões. Indubitavelmente, este é um caminho para garantia
da libertação e transformação da realidade destes povos. Na escola, várias
atividades que ultrapassem os conteúdos pedagógicos podem ser realizadas
pelos professores, por meio das experiências escolares e experiências de vida.
74 Mestranda do MELL – Mestrado em Língua e Literatura do PPGL – Programa de Pós Graduação em Letras da
UFT - Universidade Federal do Tocantins - Campus de Araguaína. E-mail martavirginia@uft.edu.br.
75 Coordenador do Projeto A Educação Escolar Apinaye na Perspectiva Bilíngue e Intercultural/ Programa do
Observatório de Educação Indígena, CAPES/SECAD/INEP. Edital no 001/2009.
Introdução
A necessidade de uma mudança na educação escolar indígena é um
assunto muito abordado ultimamente. Uma mudança que dê novas forças
às definições que contemplem ações efetivas na prática dos professores. Estas
ações devem tornar o indivíduo apto para a vida e para o mundo do trabalho,
para conviver em grupo e contribuir com o crescimento do país. Desse modo,
a educação escolar tem sido apontada como uma alternativa para que estas
mudanças ocorram.
De acordo com informações do Ministério da Educação76, a Secretaria
de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), órgão
responsável pela modalidade de ensino educação escolar indígena, vem
desenvolvendo ações que visam à garantia de um de ensino de qualidade nas
escolas indígenas. Esta modalidade de ensino tem como meta oferecer um
ensino baseado em um novo paradigma, onde se garanta a interculturalidade,
a etnicidade e o multilinguismo.
Segundo dados da Fundação Nacional do Índio FUNAI77 ,e do Censo
2010, no Brasil vivem 817 mil indígenas, que corresponde a cerca de 0,4%
da população brasileira. Estes povos habitam as 688 Terras Indígenas e
algumas áreas urbanas. A categoria escola indígena foi constituída como
integrante do sistema educacional de ensino do nosso país, em 1999, quando
o termo educação escolar indígena se tornou oficial. O funcionamento desta
Transdisciplinaridade e educação
Em 1970, Jean Piaget, psicólogo e filósofo suíço, usou pela primeira vez,
em um colóquio sobre a interdisciplinaridade, o termo transdisciplinaridade
Não obstante, cada povo indígena tem seus mitos, ritos, conhecimento
empírico, conhecimento técnico e peculiar como também um pensamento
80. Convento da Arrábida, Portugal, 2 a 7 de novembro de 1994.
Eles lutam por direito à vida, pelo direito de viver com dignidade. Há
uma luta constante por uma Educação Indígena e pelo fim da Educação para
o indígena. Segundo Meliá (1979):
Considerações finais
Finalizamos este trabalho acreditando que a educação escolar indígena
é uma modalidade de ensino que mantém a tradição oral e vai além do
sistema disciplinar. Isso porque a proposta desta educação é promover a
transdisciplinaridade e estar de acordo com o paradigma educacional emergente.
Proposta esta, que ressalta valores, princípios e especificidades, pertencentes ao
contexto indígena e que, de fato, dialoga com o novo paradigma educacional
no que concerne à interculturalidade, ao multilinguismo e a etnicidade.
Porém, muito ainda tem que ser feito para que aconteça uma educação
transdisciplinar que venha ao encontro das perspectivas dos povos indígenas.
Somente por meio de uma avaliação aprofundada, repensando as teorias da
educação que compactuam com a prática segmentada que existe na cultura
Referências
BATISTA, Hildonice de Souza. Bedzè Wò Hibatèdè – Conhecimentos
Ressonantes: Diálogos entre a educação transdisciplinar e práxis indígena Kiriri.
Dissertação de Mestrado. Salvador: UFBA, 2008.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão cientifica dos sistemas
vivos. São Paulo: Cultrioc, 1996.
MORAES, Maria Cândida. Novas Tendências para o Uso das Novas Tecnologias da
Informação na Educação. Disponível em: http://edutec.net/Textos/Alia/MISC/
edmcand2.htm, 1998. Acesso em: 20/01/2012.
Resumo
Este artigo tem por objetivo maior fazer uma análise da história da
formação dos professores indígenas do estado do Tocantins e a relevância
desta história enquanto memória para a educação escolar e a formação
de professores indígenas. Para isso, foram utilizados depoimentos orais,
recuperando elementos de história de vida, onde os professores relatam um
pouco sobre educação escolar, sobre sua formação e como esta influencia
na atuação profissional deles. A partir das entrevistas, levantamos dados
importantes sobre aspectos relacionados à educação escolar indígena e,
consequentemente, à formação dos professores indígenas no Tocantins.
Os resultados constatam que a formação de professores é um processo que
avança pela constituição do sujeito e assim retoma elementos da história,
reestruturando-os em uma visão de sentidos pessoais que orienta a prática
docente. Ao analisarmos as histórias de vida dos professores, a partir dos
depoimentos orais, pudemos perceber que esses professores se constituíram
professores, também, a partir de suas experiências de vida.
Palavras-chave: Memória; Análise do Discurso; Formação de
Professores Indígenas; Educação Escolar.
82. Mestranda do MELL – Mestrado em Língua e Literatura do PPGL – Programa de Pós Graduação em Letras da
UFT - Universidade Federal do Tocantins - Campus de Araguaína. E-mail martavirginia@uft.edu.br.
83. Coordenador do Projeto A Educação Escolar Apinaye na Perspectiva Bilíngue e Intercultural/ Programa do
Observatório de Educação Indígena, CAPES/SECAD/INEP. Edital no 001/2009.
1. Lúcia
“A escola para minha família era algo que sempre chamou
atenção, porque meu povo sofria muito e sabia que para sair desse
sofrimento era preciso estudo”;
2. Ronaldo
“Como minha mãe não teve oportunidade de estudar, o
que ela podia dar era estudo. Ela sempre pegava pesado em relação à
escola”.
1. Lúcia
“Devo tudo à minha mãe, foi ela quem mais me abraçou
nessa carreira de estudo, hoje faço faculdade de Letras. Minha família
sempre teve aquela visão que eles na época deles, se eles tivessem tido
oportunidade, eles também teriam formado”;
2. Ronaldo
“Minha mãe tem nove filhos, cinco estão na faculdade.
A gente vê que é fruto da insistência dela, fazer com que os filhos
estudassem”.
Nas sequências discursivas (3) e (4) podemos observar que a ênfase dada
à família revela a especificidade do locus familiar como sendo o primeiro grupo
que mediará os elementos da concepção de escola e importância da formação.
No ambiente familiar é onde as primeiras aprendizagens são feitas e a partir
delas o sujeito constrói a si. A família é o local afetivo que acompanha o
1. Lúcia
“Sem o estudo jamais chegaríamos onde a gente quer”;
2. Ronaldo
“A garantia que nós temos é a escola (...) para se ter uma
melhoria é preciso estudar, para ter algo no futuro”.
1. Lúcia
“Posso dizer que a escola foi tudo pra mim. o que me marcou
foi a minha primeira professora. Ela era tudo pra mim. Ela era
carinhosa”.
1. Lúcia
“Eu recebi um convite para ser professora [...] na aldeia foi
feita uma seleção de voto para saber que iria ser (o professor) e eu fui a
escolhida”;
2. Ronaldo
“Foi por acaso. O professor tinha que viajar muito [...] e os
alunos dele ficavam sem aula, então eu resolvi dar aula pra eles”.
1. Lúcia
“Traz para o meu povo algo que venha fortalecer desde
o pequeno até o adulto. Porque devido à discriminação muitos não
querem mais ser índios. É por isso que temos que esclarecer que o
branco tem a sua qualidade mas também temos a nossa. Então esse
é o motivo para continuar (o curso). Sempre buscando conhecimento
melhor para meu povo na área da educação”.
Considerações finais
Os depoimentos aqui relatados demonstram que os professores percebem
que a memória do passado não é de fato passado, pois continua dando
sentido ao presente e, como tal, algo a ser recriado, como uma possibilidade
de vida. Dessa forma, estes depoimentos destacam a importância do desafio
de construir uma escola indígena, para a vida da própria comunidade e
dos próprios professores indígenas nele engajados. Consequentemente, isso
exige deles a revisão da sua concepção de história, construída com base nas
imposições do ambiente. Compreendendo que as experiências formativas são
vivências desenhadas em sentidos pessoais advindos da História de vida deles.
O desafio de pensar uma escola que seja voltada para os interesses
do seu povo leva-os a perceber o seu passado enquanto continuidade a ser
reorganizada, buscando recuperar e repensar, com imagens e ideias de hoje,
as experiências deste passado. E isso os levou a refletir sobre as vivências,
experiências, visões, pensamentos e ensinamentos, ou seja, elementos da
história de vida que são ligados à formação e à docência.
Sobre o processo de formação desses professores e suas experiências
formativas ao longo da vida, ainda há muito que entender. Principalmente
no que diz respeito às experiências de vida, pois cada vez que fazemos
uma reflexão, novos sentidos podem ser dados e novos desenhos podem se
desenvolver.
Podemos dizer que a formação de professores é um processo que
avança pela constituição do sujeito e assim retoma elementos da história,
reestruturando-os em uma visão de sentidos pessoais que orienta a prática
docente. Neste trabalho, não intencionamos formular ou discutir como
Referências
ALBUQUERQUE, Francisco Edviges. Aspectos do Processo de Educação
Escolar Bilíngue dos Apinayé. Cadernos de Educação Escolar Indígena –. UNEMAT.
v. 6, n.1, 2008.
Resumo
Este artigo apresenta uma reflexão a partir de uma experiência
docente vivenciada com estudantes indígenas da etnia Xerente, realizada na
Universidade Federal do Tocantins, Campus de Miracema. Tal experiência foi
fundamental para perceber-se que, conforme diz Paulo Freire (1996), educar
não é um ato isolado e deve ser construído através de um vínculo afetivo e de
respeito. Metodologicamente, utilizou-se como suporte teórico e referencial
de análise, as entrevistas contidas no Diagnóstico Etnoambiental das Terras
Xerente e Funil (2000), e os estudos de Silva (1992), Schroeder (2006) e Freitas
(2008). A partir desta perspectiva, e após avaliar-se o objetivo em pauta,
ficou evidente a insatisfação deste povo diante da questão territorial, desde o
momento em que as terras foram demarcadas (1976 e 1987), até a atualidade.
Levando-se em consideração o processo vivenciado no cotidiano educacional,
a interação entre docente-discente, foi de fundamental importância e,
portanto, reveladora de aspectos outrora desconhecidos, resultando assim na
construção do saber e difusão de conhecimentos cotidianos, numa dimensão
considerada “lúdica”, porém, real segundo os ensinamentos destes povos.
Palavras-chave: Experiência Docente; Território Indígena; Cultura
Xerente.
85. Anterior à Resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CONSEPE nº 3ª/2004 para inserção de
estudantes indígenas no ensino público superior (UFT), na Universidade do Estado do Tocantins (UNITINS) já
estudavam possuía alguns estudantes indígenas.
86. Amaré é estudante da UFT/Palmas e trabalha na FUNAI.
90. Dentre os Xerente, os pertencentes aos clãs ĩsake, wahire e dói, são os que mais se inseriram na educação formal,
inclusive na universidade.
A origem dos Kraô-Canela não é muito precisa, sabe-se que são uma mistura de Kraô (Tocantins) com os Canelas (do
Maranhão), que perderam sua identidade, sendo reconhecidos recentemente em 2002, pela FUNAI.
Permanências
Durante as narrativas, descreveram sobre os Xerente num passado,
quando ainda não existiam os aldeamentos, nem tampouco as reservas, como
92. Belo Monte é um projeto de construção de uma usina hidrelétrica previsto para ser implementado em um trecho
de 100 quilômetros no Rio Xingu, no estado brasileiro do Pará. Sua potência instalada será de 11.233 MW, o que fará
dela a maior usina hidrelétrica inteiramente brasileira. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Usina >. Acesso
em 30 de julho de 2011.
Referências
ARAÚJO, Rosemary Negreiros de & SANCHES, Abmalena Santos. Proposta
de Acompanhamento Acadêmico para o PIMI 2008. UFT/Campus de Miracema,
abril de 2008.
Resumo
A capacidade dos povos indígenas brasileiros responderem a fatores
externos ao longo da História tem sido uma característica marcante
dessas sociedades. Possivelmente uma evidência mais significativa dessa
característica, seja justamente os últimos 500 anos de contato com as
sociedades não-indígena, os quais foram marcados por intensos conflitos e
relações assimétricas que exterminaram populações inteiras. Nesse artigo
discutem-se algumas questões mais recentes desse cenário, em particular, as
alternativas de ação por parte de algumas dessas sociedades indígenas frente
às novas tecnologias da informação e comunicação. Sendo assim, o objetivo
maior desse artigo é dar visibilidade a algumas iniciativas dos povos indígenas
em relação ao uso da tecnologia como instrumento de afirmação das suas
ações políticas e educacionais.
Palavras-chave: Cultura Indígena; Tecnologia; Sites Indígenas.
Introdução
Nesse artigo, pretendemos partilhar com a ampla comunidade de
educadores do país algumas de nossas inquietações decorrentes da nossa
experiência com a Educação Escolar Indígena, propondo algumas ações
93. Professor assistente da Universidade Estadual do Mato Grosso – UNEMAT e doutorando do Programa de Pós-
Graduação em Educação Matemática da Universidade Estadual Paulista – UNESP/Rio Claro.
94. Professor assistente da Universidade Federal do Tocantins – UFT e doutorando do Programa de Pós-Graduação
em Educação Matemática da Universidade Estadual Paulista – UNESP/Rio Claro.
100. Daniel Benjamim da Silva é professor da rede municipal de São Gabriel da Cachoeira AM, exercendo a função
de Assessor Pedagógico Indígena – API.
103. http://www.videonasaldeias.org.br/2009/index.php
Informações na Internet
Considerações finais
Uma questão central para a compreensão das sociedades indígenas
tem mostrado que, estas, desde a sua origem, estão desenvolvendo formas
genuínas de construir o seu conhecimento, à medida que ressignificam outros
códigos e artefatos para a manutenção das suas crenças e o equilíbrio das suas
relações com a natureza.
Referências
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999 (Coleção TRANS).
Resumo
Neste trabalho fazemos o relato das ações realizadas pelo Projeto de
Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural, através
do Programa do Observatório da Educação Escolar Indígena UFT/CAPES/
Edital 01/2009 – Projeto 014. O objetivo é registrar todas as ações e visitas
técnicas realizadas durante os três anos de implantação do Projeto nas aldeias
Apinayé de Mariazinha e São José. O projeto faz parte de um projeto maior
denominado Projeto de Apoio Pedagógico à Educação Escolar Apinayé, cuja
meta é promover a garantia de que as escolas indígenas Apinayé tenham
professores da mesma etnia que seus alunos, bem como a efetivação do
acompanhamento pedagógico às escolas, dando apoio à condução escolar
de base bilíngue, específica e diferenciada, em que os próprios professores
indígenas sejam os autores do seu material didático.
Palavras-chave: Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue
e Intercultural; Programa do Observatório da Educação Escolar Indígena;
Projeto de Apoio Pedagógico à Educação Escolar Apinayé.
106. Coordenador do Projeto A Educação Escolar Apinaye na Perspectiva Bilíngue e Intercultural/ Programa do
Observatório de Educação Indígena, CAPES/SECAD/INEP do Edital no 001/2009.
107. Projeto firmado pela UFT/ Araguaína, através do Laboratório de Línguas Indígenas, pela Coordenação de
Educação Indígena da Secretaria de Educação do Estado do Tocantins , FUNAI de Araguaína e pela Coordenação
Geral de Educação Indígena da FUNAI/Brasília.
Estratégias de Desenvolvimento
Como estratégias adotadas para sensibilizar e mobilizar parcerias
internas e externas, para implementação das ações e implantação do
projeto, elencamos o público alvo destinado ao projeto, que são os
alunos e professores indígenas Apinayé das escolas de suas aldeias, que
fazem parte do PIN -São José, Patizal, Cocalinho, Buriti Comprido,
Prata, Palmeiras, Serrinha, Boi Morto e do PIN- Mariazinha, Bonito,
Riachinho, Brejão, Botica e Girassol que são atendidos pela coordenação
do projeto, pelos professores colaboradores, alunos de graduação, de
mestrado e pelos professores de Educação Intercultural, através do
Laboratório de Línguas Indígenas da UFT Campus /Araguaína, com
apoio logístico da SEDUC-TO e FUNAI.
Assim, a estratégia do trabalho contou com dez (10) visitas, sendo duas
a cada semestre, às escolas das aldeia São José e Mariazinha, com duração de
5 dias cada, efetivando os trabalhos propostos.
Os trabalhos se desenvolveram a partir de pesquisas inseridas no
Projeto, sendo que cada pesquisa contou com metodologias próprias, a saber:
Resultados
O Projeto foi implantado em 2010, inicialmente com duração prevista
para dois anos. Entretanto, no final de 2011, ao ser avaliado positivamente,
foi prorrogado por mais um ano, e assim sua conclusão está prevista para
dezembro de 2012.
Parte dos resultados das ações do Projeto está publicada nas seguintes
produções bibliográficas:
a) Livro de Alfabetização Apinayé; Gramática Pedagógica Apinayé;
Livro de coletânea de textos resultado das experiências vivenciadas pelos
pesquisadores e professores das aldeias; Livro didático de alfabetização
Apinayé;
Outras Ações
1. Tática e sociabilidade na resistência cotidiana dos Apinayé:
subsídios para uma educação escolar bilíngue e intercultural:
No primeiro ano de trabalho, selecionamos os membros participantes
da pesquisa e realizamos diversas entrevistas e observações do
cotidiano durante as visitas nas duas aldeias. As primeiras análises
foram apresentadas no VII Encontro Macro-Jê, na Universidade de
Brasília, UnB.
Análise do Gestor
Apesar de a Universidade Federal do Tocantins ser uma Universidade
relativamente nova, está sempre preocupada em desenvolver projetos de
pesquisa e extensão, através de grupo de pesquisa e de Pós-graduação,
voltados para atendimentos aos povos indígenas do estado do Tocantins,
levando em consideração os aspectos socio-históricos, políticos, econômicos,
culturais, territoriais e linguísticos, respeitando a diversidade étnica de cada
povo, contribuindo para manutenção, revitalização da língua e da cultura
dos povos indígenas do estado do Tocantins.
Com a criação do sistema de cotas para alunos indígenas, a UFT tem
implementado essas políticas, através do sistema de Monitoria Institucional
Indígena -PIMI e dos Grupos de Trabalhos Indígenas- GTI, criando bolsas
permanentes para os alunos indígenas que ingressarem nos sues cursos, que,
atualmente, no Campus de Araguaína conta com um total de 23 alunos
indígenas matriculados nos diversos cursos.
Partindo desses pressupostos, no ano de 2004 foi criado e implantado
o Projeto de Apoio Pedagógico à Educação Escolar Indígena Apinayé,
que vem, ao longo de sua implantação, contribuindo para a elaboração
de material didático produzido pelos próprios professores indígenas como
suporte didático-pedagógico para as escolas desses povos, visto que o material
Rua Colônia, Qd. 240-C, Lt. 26 a 29, Chácara C2, Jardim Novo Mundo
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