Escatologia Judaica
Escatologia Judaica
Escatologia Judaica
A presente entrevista foi montada em cima de dois textos de autoria do Rabino Henry
I. Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista. O primeiro é a
palestra sobre Judaísmo e Messianismo, proferida no Congresso Judaico Latino-
americano, realizado em outubro de 1988. O segundo é o artigo Imortalidade,
reflexões às vésperas de Ion Kipur, publicado na revista Shalom, de setembro de
1990. Depois de tudo pronto, o Rabino Sobel examinou a exatidão do texto final e
autorizou a publicação.
Ultimato - Assim como vocês, a mulher samaritana tinha certeza de que o Messias
havia de vir (Jo 4.25). Mas, para ela e muitos samaritanos da cidade de Sicar, Jesus
foi reconhecido como o esperado Messias (Jo 4.42).
Sobel - Não aceitamos Jesus como o Messias. Acreditamos que ele foi um grande
homem, um grande mestre que pregou os ideais universais da fé judaica, um ser
humano dotado de grande sensibilidade e percepção, marcado pelo fervor
messiânico da sua época. Porém, não o aceitamos como Messias, porque o Reino
de Deus, que aguardamos com tanta ansiedade, ainda não se manifestou. É
importante frisar que não rejeitamos os conceitos de Jesus sobre Deus, pois eles são
essencialmente judaicos e derivam basicamente dos ensinamentos da Torá, com os
quais Jesus se criou. A questão crítica para os judeus é a doutrina cristã de que
Deus tornou-se homem e permitiu que seu único Filho sacrificasse a vida para expiar
os pecados da humanidade.
Ultimato - O senhor considera a morte como um ponto final ou como uma vírgula?
Sobel - Quando sofremos a perda de um ente querido, faz uma diferença enorme se
consideramos a morte um ponto final, que encerra a frase da vida, ou se acreditamos
que a morte é apenas uma vírgula, após a qual a vida se eleva a um significado
maior. Nessa hora, importa profundamente se achamos que o nosso ente querido foi
totalmente apagado do Livro da Vida, ou se acreditamos que ele é tão imortal quanto
o próprio Autor da vida.
Justamente por ser o mundo atual considerado insatisfatório, por ele estar assolado
por tantos males - a fome, a guerra, o sofrimento, o pecado, a morte - torna-se
imperioso transformar o presente em um novo tempo.
Sejam quais forem os aspectos espirituais e cósmicos da salvação, ela tem de estar
inserida no contexto histórico, político e social do mundo em que vivemos.
A maioria dos judeus ortodoxos aceita a fundação do Estado de Israel como o início
da redenção, um ato preliminar executado sob orientação divina, e que será
futuramente consumado por Deus.
A morte é uma mudança de condição, não de essência. Tiros e enfartos e cânceres
ferem o corpo, mas não destroem a alma.
Acredito que este mundo é apenas um prólogo. Há muitos outros belos atos à espera
do homem no outro mundo.