Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Introducao A Teologia Sistemati - Pedro Jeremyas PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 97

INTRODUÇÃO

À TEOLOGIA
SISTEMÁTICA

Pedro Jeremyas
2015
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO
A DOUTRINA DA TRINDADE
PNEUMATOLOGIA, A DOUTRINA DO
ESPÍRITO SANTO
CRISTOLOGIA, A DOUTRINA DE CRISTO
SOTERIOLOGIA, A DOUTRINA DA
SALVAÇÃO
ANGELOLOGIA, A DOUTRINA DOS ANJOS
DEMONOLOGIA, A DOUTRINA DOS
DEMÔNIOS
BIBLIOGRAFIA
APRESENTAÇÃO

Teologia Sistemática é o estudo organizado


das principais doutrinas da Bíblia, criando um
sistema coerente e enciclopédico que facilita a
compreensão das crenças cristãs.
Entre os vários assuntos da Teologia
Sistemática, os principais são a Doutrina da
Trindade, a Pneumatologia (estudo do Espírito
Santo), a Cristologia (estudo de Cristo) e a
Soteriologia (a doutrina da Salvação). Também
somamos a este conteúdo nuclear a Angelologia e
Demonologia, que tratam, naturalmente acerca de
anjos e demônios.
É recomendável acompanhar este estudo com
a Bíblia a tiracolo, a fim de conferir as diversas
referências bíblicas citadas como embasamento do
texto.
A DOUTRINA DA TRINDADE

Há um só Deus, mas este é uma Trindade.


Isto quer dizer que ele existe de modo tríplice na
forma de três manifestações pessoais: o Pai, o Filho
e o Espírito Santo. Deus é um, mas este é triuno:
três pessoas coexistem nele; uma triunidade.
A palavra Triunidade ou Trindade deriva do
latim “tres” e “unitas”, significando o estado de
existir três em um. Ao contrário desta doutrina, os
sabelianos creem que Deus é uma só pessoa e
manifesta-se de três modos; os swedenborgianos
entendem que as três pessoas da Trindade são como
três peças que se encaixam num só Deus e os
triteístas afirmam existir três deuses distintos.
A verdade sobre a Triunidade de Deus é que
ele é uno em seu ser, essência e qualidades. Isto é
comprovado pela razão e lógica de que não pode
existir mais de um ser que seja dono de toda a
perfeição, só pode haver um; e a revelação bíblica,
principalmente, atesta a unidade de Deus
(Deuteronômio 6:4; Isaías 43:10; 44:6; 45:5; 1
Timóteo 2:5; Marcos 10:18; 12:29).
Ao mesmo tempo ele é trino em sua
personalidade, possuindo três personalidades
distintas e coexistentes, referindo-se a si mesmo
como “Eu”, “Tu” e “Ele”. “Para nós, pessoas são
indivíduos que se excluem mutuamente; as Pessoas
da Divindade são mutuamente inclusivas; uma
habita mutuamente nas demais” (Peake).
A existência de um Deus triuno não é muito
clara no Antigo Testamento, mas é manifesta.
Vemos, por exemplo, a teofania do Anjo do Senhor,
que é identificado com Jeová (Gênesis 22:11,15;
31:11,13; 16:9,13; 48:15,16) e aceita adoração
devida somente a Jeová (Êxodo 3:2,4,5; Juízes
13:21,22).
Em outras passagens vemos a Sabedoria de
Deus personificada e descrita como semelhante,
distinta e coeterna com ele (Salmos 107.20; 119:89;
147:15-18). Também vemos as descrições do
Messias, como sendo um com Jeová (Miquéias 5:2;
Isaías 9:6) e, ao mesmo tempo, distinto dele (Salmos
45:6,7).
No Novo Testamento vemos o Pai
reconhecido como Deus (João 6:27; 1 Pedro 1:2;
João 8:41; 2 Coríntios 1:2; Efésios 4:6); igualmente
Jesus, pois é dotado de atributos divinos (João 14:6;
5:26; 3:16; Lucas 1:35; Mateus 28:20), obras
divinas (João 1:3; Colossenses 1:17), igualdade com
o Pai (João 5:18; Filipenses 2:6) e o ser adorado
(João 5:23; Atos 7:59; Romanos 10:9,13; Hebreus
1:6; 2 Pedro 3:1), e, da mesma forma, ao Espírito
são atribuídas características divinas (Romanos
15:30; João 16:13; Efésios 4:30).
Ao mesmo tempo vemos Cristo distinto do
Pai (João 5:32,37; 3:16; 10:36; Gálatas 4:4), o
Espírito procedente do Pai (João 15:26), do Filho
(Gálatas 4:6; João 14:26) e distinto destes (João
14:16,17; Mateus 3:16,17). Esta é a triunidade.
Vemos, também, a economia da Trindade na
Criação, atribuída ao Pai, com a cooperação do
Filho e do Espírito (Gênesis 1:1-2; Hebreus 11:2;
João 1:3; Colossenses 1:16), na Redenção, atribuída
ao Filho, com a cooperação do Pai e do Espírito (2
Coríntios 5:19; Colossenses 1:14; Hebreus 9:14) e
na Aplicação da Redenção, atribuída ao Espírito,
com a cooperação do Pai e do Filho (1 Coríntios
2:10-16; 12:3; João 14:1-3; Romanos 10:4,10,13; 1
Pedro 1:11; Romanos 15:29-33).
Entender a doutrina da triunidade é de
fundamental importância, pois concilia o
monoteísmo e a natureza triuna de Deus; explica
como Deus revelou-se em Jesus e explica a obra
redentora divina, operada de três formas: a escolha
do Pai, a ação do Filho e a consumação do Espírito.
Se compararmos as três pessoas da Trindade,
veremos que pertencem a uma só divindade,
mostrando serem, não um trio, mas uma triunidade:

Característica O O O
PAI FILHO ESPÍRITO
Deus 1 João
1 5:20 2 Co

Co 3:17
8:6
Senhor Is 2 Co
64:8 1 Co 3:17,18

12:3
Criador Gn Jo 1:3 Jó 33:4
1:1
Onipresente Jr Ef 1:23 Sl 139:7
23:24
Eterno Rm Ap Hb 9:14
16:26 22:13
Salvador Tt Tt 3:6 Tt 3:5
3:4
Onipotente Gn Ap 1:8 Rm 15:19
17:1
Onisciente Atos Jo
15:18 21:17 1 Co
2:10

Em resumo, o Deus triuno é único (Efésios


4:5-6), trino (Mateus 3:16-17) e uno (1 Coríntios
12:4-6) e esta Trindade administra-se em uma
divisão de tarefas: o Pai é a fonte, o Filho a
expressão e o Espírito Santo é a consumação (ver,
por exemplo Efésios 1:3-14; 1 Pedro 1:2; 2
Coríntios 13:13) .

Testemunhos primitivos acerca da Trindade


“E mais, meus irmãos: se o Senhor [Jesus]
suportou sofrer por nós, embora fosse o Senhor do
mundo inteiro, a quem Deus disse desde a criação
do mundo: ‘façamos o homem à nossa imagem e
semelhança’, como pode ele suportar sofrer pela
mão dos homens?” (Carta de Barnabé 5,5. Ano 74).
“Por isso vos peço que estejais dispostos a
fazer todas as coisas na concórdia de Deus, sob a
presidência do bispo, que ocupa o lugar de Deus,
dos presbíteros, que representam o colégio dos
apóstolos, e dos diáconos, que são muito caros para
mim, aos quais foi confiado o serviço de Jesus
Cristo, que antes dos séculos estava junto do Pai e
por fim se manifestou [...] Correi todos juntos como
ao único templo de Deus, ao redor do único altar,
em torno do único Jesus Cristo, que saiu do único
Pai e que era único em si e para ele voltou [...]
Existe um só Deus, que se manifestou por meio de
Jesus Cristo seu Filho, que é o seu Verbo saído do
silêncio, e que em todas as coisas se tornou
agradável àquele que o tinha enviado” (Inácio de
Antioquia, ano 110, Carta aos Magnésios 6,1; 7,2;
8,2).
“Amigos, foi do mesmo modo que a Palavra
de Deus se expressou pela boca de Moisés ao
indicar-nos que o Deus que se manifestou a nós
falou a mesma coisa na criação do homem, dizendo
estas palavras: ‘Façamos o homem à nossa imagem
e semelhança’ [...] Citar-vos-ei agora outras palavras
do mesmo Moisés. Através delas, sem nenhuma
discussão possível, temos de reconhecer que Deus
conversou com alguém que era numericamente
distinto e igualmente racional [...] Mas esse gerado,
emitido realmente pelo Pai, estava com ele antes de
todas as criaturas e com ele o Pai conversa, como
nos manifestou a palavra por meio de Salomão”
(Justino Mártir, ano 155, Diálogo com o Judeu
Trifão 62,1-2.4).
“Por isso e por todas as outras coisas, eu te
louvo, te bendigo, te glorifico, pelo eterno e celestial
sacerdote Jesus Cristo, teu Filho amado, pelo qual
seja dada glória a ti, com Ele e o Espírito, agora e
pelos séculos futuros. Amém” (Policarpo de
Esmirna, ano 155, Martírio de Policarpo 14,3).
“[O Pai] enviou o Verbo como graça, para
que se manifestasse ao mundo [...] Desde o
princípio, ele apareceu como novo e era antigo, e
agora sempre se torna novo nos corações dos fiéis.
Ele é desde sempre, e hoje é reconhecido como
Filho” (Quadrato, ano 160, Carta a Diogneto 11,3-
4).
“Portanto, não foram os anjos que nos
plasmaram - os anjos não poderiam fazer uma
imagem de Deus - nem outro qualquer que não
fosse o Deus verdadeiro, nem uma Potência que
estivesse afastada do Pai de todas as coisas. Nem
Deus precisava deles para fazer o que em si mesmo
já tinha decretado fazer, como se ele não tivesse
suas próprias mãos! Desde sempre, de fato, ele tem
junto de si o Verbo e a Sabedoria, o Filho e o
Espírito. É por meio deles e neles que fez todas as
coisas, soberanamente e com toda a liberdade, e é a
eles que se dirige quando diz: ‘Façamos o homem à
nossa imagem e semelhança’” (Irineu de Lião, ano
189, Contra as Heresias IV,20,1).
“Anatematizamos todos aqueles que seguem o
erro de Sabélio, os quais dizem que o Pai e o Filho
são a mesma Pessoa” (Concílio de Roma, ano 382,
Tomo do Papa Dâmaso, cânon 2).
“No que diz respeito ao Batismo, batizai em
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água
corrente. Se não houver água corrente, batizai em
outra água; se não puder batizar em água fria, fazei
com água quente. Na falta de uma ou outra,
derramai três vezes água sobre a cabeça, em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Didaqué
7,1-3. Ano 90).
“Um Deus, um Cristo, um Espírito de graça”
(Clemente de Roma, ano 96, Carta aos Coríntios
46,6).
“Como Deus vive, assim vive o Senhor e o
Espírito Santo” (Clemente de Roma, ano 96, Carta
aos Coríntios 58,2).
“Vós sois as pedras do templo do Pai, elevado
para o alto pelo guindaste de Jesus Cristo, que é a
sua cruz, com o Espírito Santo como corda” (Inácio
de Antioquia, ano 107, Carta aos Efésios 9,1).
“Procurai manter-vos firmes nos
ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, para que
prospere tudo o que fizerdes na carne e no espírito,
na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no
princípio e no fim, unidos ao vosso digníssimo bispo
e à preciosa coroa espiritual formada pelos vossos
presbíteros e diáconos segundo Deus. Sejam
submissos ao bispo e também uns aos outros, assim
como Jesus Cristo se submeteu, na carne, ao Pai, e
os apóstolos se submeteram a Cristo, ao Pai e ao
Espírito, a fim de que haja união, tanto física como
espiritual” (Inácio de Antioquia, ano 107, Carta aos
Magnésios 13,1-2).
“Que não somos ateus, quem estiver em são
juízo não o dirá, pois cultuamos o Criador deste
universo, do qual dizemos, conforme nos ensinaram,
que não tem necessidade de sangue, libações ou
incenso [...] Em seguida, demonstramos que, com
razão, honramos também Jesus Cristo, que foi nosso
Mestre nessas coisas e para isso nasceu, o mesmo
que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, procurador
na Judéia no tempo de Tibério César. Aprendemos
que ele é o Filho do próprio Deus verdadeiro, e o
colocamos em segundo lugar, assim como o Espírito
profético, que pomos no terceiro. De fato, taxam-
nos de loucos, dizendo que damos o segundo lugar a
um homem crucificado, depois do Deus imutável,
aquele que existe desde sempre e criou o universo. É
que ignoram o mistério que existe nisso e, por isso,
vos exortamos que presteis atenção quando o
expomos” (Justino Mártir, ano 151, I Apologia
13,1.3-6).
“Os que são batizados por nós são levados
para um lugar onde haja água e são regenerados da
mesma forma como nós o fomos. É em nome do
Pai de todos e Senhor Deus, e de Nosso Senhor
Jesus Cristo, e do Espírito Santo que recebem a
loção na água. Este rito foi-nos entregue pelos
apóstolos” (Justino Mártir, ano 151, I Apologia 61).
“Eu te louvo, Deus da Verdade, te bendigo, te
glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso eterno e
Sumo Sacerdote no céu; por Ele, com Ele e o
Espírito Santo, glória seja dada a ti, agora e nos
séculos futuros! Amém” (Policarpo, ano 156,
Martírio de Policarpo 14,1-3).
“De fato, reconhecemos também um Filho de
Deus. E que ninguém considere ridículo que, para
mim, Deus tenha um Filho. Com efeito, nós não
pensamos sobre Deus, e também Pai, e sobre seu
Filho como fantasiavam vossos poetas, mostrando-
nos deuses que não são em nada melhores do que os
homens, mas que o Filho de Deus é o Verbo do Pai
em ideia e operação, pois conforme a ele e por seu
intermédio tudo foi feito, sendo o Pai e o Filho um
só. Estando o Filho no Pai e o Pai no Filho por
unidade e poder do Espírito, o Filho de Deus é
inteligência e Verbo do Pai. Se, por causa da
eminência de vossa inteligência, vos ocorre
perguntar o que quer dizer “Filho”, eu o direi
livremente: o Filho é o primeiro broto do Pai, não
como feito, pois desde o princípio Deus, que é
inteligência eterna, tinha o Verbo em si mesmo;
sendo eternamente racional, mas como procedendo
de Deus, quando todas as coisas materiais eram
natureza informe e terra inerte e estavam misturadas
as coisas mais pesadas com as mais leves, para ser
sobre elas ideia e operação” (Atenágoras de Atenas,
ano 177, Súplica pelos Cristãos 10,2-4).
“Como não se admiraria alguém de ouvir
chamar ateus os que admitem um Deus Pai, um
Deus Filho e o Espírito Santo, ensinando que o seu
poder é único e que sua distinção é apenas distinção
de ordens?” (Atenágoras de Atenas, ano 177,
Súplica pelos Cristãos 10).
“Igualmente os três dias que precedem a
criação dos luzeiros são símbolo da Trindade: de
Deus [Pai], de seu Verbo [Filho] e de sua Sabedoria
[Espírito Santo]” (Teófilo de Antioquia, ano 181,
Segundo Livro a Autólico 15,3).
“Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo
inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos
e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai
onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo
quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de
Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito
Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de
Deus...” (Irineu de Lião, ano 189, Contra as
Heresias I,10,1).
“Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o
Filho esteve sempre com o Pai. Mas também a
Sabedoria, o Espírito estava igualmente junto dele
antes de toda a criação” (Irineu de Lião, ano 189,
Contra as Heresias IV,20,4).
“Foi estabelecida a lei de batizar e prescrita a
fórmula: ‘Ide, ensinai os povos batizando-os em
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’”
(Tertuliano, ano 210, Do Batismo 13).
“Cremos... em um só Senhor Jesus Cristo,
Filho de Deus, nascido do Pai como Unigênito, isto
é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não
feito, consubstancial com o Pai, por quem foi feito
tudo que há no céu e na terra [...] Cremos no
Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede
do Pai, com o Pai e o Filho é adorado e glorificado,
o qual falou pelos Profetas” (1º Concílio de Nicéia,
ano 325, Credo de Nicéia).

Monarquianismo, a negação da Trindade

Segundo Tertuliano (Contra Práxeas 3), o


nome “monarquianismo” deriva da expressão em
latim “Monarchiam tenemus [Conservamos a
monarquia]”. Monarquia é o governo exercido por
uma única pessoa, assim também era o governo e a
natureza de Deus: único.
O Gnosticismo foi um dos primeiros
movimentos a interpretar a natureza divina e
humana de Cristo de uma forma diferente daquela
que se tornaria o pensamento padrão da igreja. Para
os gnósticos, Jesus não é Deus com o Deus Pai.
Além disso, também não consideravam Jesus como
humano, pois a sua humanidade era apenas uma
aparência. Daí serem chamados os que pensavam
assim de “docéticos” (do grego: dokeo, parecer,
aparentar).
Os Maniqueus insistiam na ideia de dividir o
cosmo em Matéria (Mal) e Espírito (Bom),
aplicando isto a também Cristo para negar sua
encarnação. Jesus não poderia ter algo de humano,
pois humano é matéria, é impuro, o que seria
incompatível com a divina bondade do Cristo.
Os Alogoi eram contra a doutrina do Logos:
negavam a divindade de Jesus. Os Ebionitas
negavam a deidade absoluta de Cristo, embora nele
cressem como Messias.
Todas estas diferentes opiniões teológicas
acerca das pessoas da Trindade convergiram no
Monarquianismo, uma crença que enfatiza o
monoteísmo e a unidade de Deus em detrimento de
sua triunidade.
Para o monarquianismo, qualquer ideia de
Trindade divina é inconcebível. Na verdade, foi uma
demonstração de zelo para com a fé em Deus, pois
negar a Trindade era prevenir que ela fosse
confundida com um triteísmo, com três deuses, o
que seria politeísmo.
“Os monarquianos erraram por causa de seu
zelo excessivo em destacar a unidade de Deus em
oposição a qualquer tentativa de concebê-lo como
três personalidades distintas” (Earle E. Cairns).
Monarquianismo dinamista (adopcionista)

O nome “Dinâmico” vem do grego


“dynamis” (força, poder), pois, segundo eles, Deus
deu poder a Jesus, adotando-o como Filho. Isto quer
dizer que Jesus não era Deus, como na Trindade,
mas um ser que foi adotado por Deus (por isso
“adopcionismo”) e investido de grandes poderes.
Deus não é um com Jesus. Deus é um, Jesus é
outro.
Para Paulo de Samosata havia seres
fundamentais: o Pai Celestial, que criou o Céu;
Satanás, criador do mundo material, identificado
com Jeová; e Cristo, que não possuía um corpo
material, visto que seria tal corpo obra de Satanás-
Jeová. Cristo, então tinha um corpo divino,
angelical, criado pelo Pai. Este mesmo raciocínio o
levou a considerar o Antigo Testamento obra de
Satanás.
Nota-se uma evidente influência gnóstica,
uma vez que o gnosticismo assim entendia: que o
mundo material é impuro e profano e por isso não
pode ter sido criado pelo Deus puro. Quem criou o
mundo foi um falso deus, chamado no gnosticismo
de Demiurgo, muitas vezes identificado com o
próprio Satanás bíblico ou mesmo com o Jeová.

Monarquianismo modalista (patripassionista)

Segundo esta crença, o Filho era o próprio


Pai ou uma modalidade (daí o nome “modalista”)
pela qual o Pai se manifestava.
Se o Pai era o mesmo Jesus, foi o Pai quem
padeceu na cruz (por isso também são chamados de
patripassianistas. De pater, pai; e passus, padecido).
Práxeas chegou a declarar: “o Pai nasceu e o
Pai sofreu”. Em Contra Práxeas 1, Tertuliano
afirma: “O demônio tem lutado contra a verdade de
muitas maneiras, inclusive defendendo-a para
melhor destruí-la. Ele defende a unidade de Deus, o
onipotente criador do universo, com o fim exclusivo
de torná-la herética. Afirma que o próprio Pai
desceu ao seio da Virgem, dela nascendo, e que o
próprio Pai sofreu; que o Pai, em suma, foi
pessoalmente Jesus Cristo... Práxeas foi quem
trouxe esta heresia da Ásia para Roma... Práxeas
expulsou o Paráclito e crucificou o Pai”.
Segundo Sabélio, Deus se revelou de três
maneiras: como Pai, na criação e na legislação do
Antigo Testamento; como Filho, na redenção; e
como Espírito Santo, na obra de santificação dos
homens. Ele chamou cada uma dessas manifestações
de “prósopon”, palavra grega que significava
originariamente “máscara ou papel de ator de
teatro”, visto que posteriormente prósopon
significou também “pessoa”, a doutrina de Sabélio
tornou-se ambígua e conquistou muitos adeptos, que
lhe aderiram sem querer negar a trindade de Pessoas
em Deus.

Alguns adeptos do monarquianismo

Teodóto Curtidor de Bizâncio. Foi


excomungado pelo Papa Vitor I (189-198) em 190.
Também seus discípulos, Asclepiódoto e Teódoto o
jovem, quiseram organizar uma comunidade
própria.
Paulo de Samosata (200-273) foi outro
representante do monarquianismo. Pedro de Sicília,
um cronista do século IX, relatou que Paulo havia
sido educado por uma mãe maniquéia. Daí,
certamente, provém o pensamento dualista de Paulo
acerca de Cristo.
“Ele agiu demagogicamente na Igreja de
Antioquia, conseguindo, através da pregação
recheada de gestos violentos, aplausos e acenos de
lenços. Já por esta época tinha um coro feminino
para cantar louvores a ele mesmo. Por não ter
recebido nenhuma herança e nem ter negócios,
suspeitou-se dos meios pelos quais amealhou sua
grande fortuna” (Earle E. Cairns). Foi excomungado
por um Concílio em Antioquia (268), cidade onde
havia sido bispo. Mas seus discípulos, os paulanos,
continuaram divulgando o ensino de modo que o
Concílio de Nicéia os combateu novamente (325).
Bispo Fotino de Sirmio, deposto em 351 pelo
Sínodo de Sirmio.
Mignecio. Segundo este, Deus apareceu em
Davi como Pai, em Cristo como Filho e em Paulo
como Espírito Santo.
Elipando de Toledo (séc. VIII) e seu discípulo
Félix, o bispo de Urgel. Segundo ele havia dois
Filhos (o mesmo conceito de Nestorio): o Filho
Homem, adotado por Deus e o Filho Divino,
consubstancial com o Pai. Também afirmavam que
Deus havia aparecido como Pai em Davi, como
Filho em Jesus e como Espírito Santo em Paulo.
Nestorio. Desenvolveu o Nestorianismo. Uma
corrente adopcionista que afirmava existir dois
Filhos: o Jesus Filho de Deus e o Jesus homem,
adotado por aquele e elevado a um nível extra-
humano.
Noeto de Esmirna foi excomungado pelos
presbíteros de Esmirna por suas crenças
monarquianas, mas seus ensinos foram levados por
seus discípulos a Roma e Cartago (África),
originando o partido dos patripassianistas.
Em Cartago seu divulgador foi Práxeas.
Sabélio expandiu esta doutrina em Roma. Por isto o
modalismo também é chamado sabelianismo.

Alguns opositores do monarquianismo

O monarquianismo foi combatido por


Hipólito em seus livros Contra Noetus 2;6;15 e
Refutatio 9,10. Epifânio em Haereses 57.
Foi alvo dos Concílios de Nicéia I (325),
Constantinopla I (381), Segundo Concilio de Nicéia
(787) e Concilio de Francfort (794).
O Papa Zeferino (198-217), numa declaração
oficial, afirmou a Divindade de Cristo e a unidade
de essência em Deus. O Papa Calixto (217-222)
excomungou Sabélio.
Entre outros teólogos que se opuseram aos
monarquianos: Dionisio Magno (247-264), o Papa
Dionisio (259-268), Tertuliano, São Beato de
Liébana e Eterio, o bispo de Osma e discípulos
daquele. Também os Imperadores Miguel I (811-
813), Teófilo (821-843) e Basílio I (866-886).
PNEUMATOLOGIA, A DOUTRINA DO
ESPÍRITO SANTO

Os nomes e a obra do Espírito Santo

Seus nomes na Bíblia são repletos de


qualificativos e revelam aspectos de sua pessoa e
obra. O nome Espírito demostra sua natureza
espiritual, invisível, como um vento, e, ao mesmo
tempo, sua característica como sendo o fôlego e a
vida de Deus, exalada ele (João 20:22; 1 Coríntios
2:10; Gênesis 2:7; Salmos 104:30; Jó 33:4; Ezequiel
37:1-10; Atos 2:1-4; João 3:6-8).
Vejamos alguns qualificativos:
Santo (Lucas 11:13; Romanos 1:4), revela
seu caráter moral e sua natureza separada de toda
impureza; Eterno (Hebreus 9:14); de Deus (1
Coríntios 3:16); de Jeová (Isaías 11:2); do Senhor
Jeová (Isaías 61:1); do Deus vivo (2 Coríntios 3:3).
Estes quatro revelam que o Espírito procede de
Deus, os próximos mostrarão que também procede
do Filho, Jesus Cristo, sendo chamado de: Espírito
de Cristo (Romanos 8:9; Atos 2:36), de Seu Filho
(Gálatas 4:6), de Jesus (Atos 16:6,7), de Jesus
Cristo (Filipenses 1:19).
Também há qualificativos que o demostram
em relação ao homem: Espírito Purificador (João
15:26; 14:17; 16:13; 1 João 4:5,6), Espírito da vida
(Romanos 8:2), Espírito da graça (Hebreus 10:29),
Espírito da glória (1 Pedro 4:13,14; Efésios 3:16-19;
Romanos 8:16,17), Consolador (João 14:26;
15:26;16:7).
Com relação à sua obra, o vemos como
Criador e Preservador do universo (Salmos 33:6; Jó
33:4; Gênesis 1:2; Salmos 104:19,30; Isaías 40:7);
interage com os não regenerados, lutando (Gênesis
6:3), testificando (João 15:26; Atos 5:30-32) e
convencendo (João 16:8-11) acerca do pecado.
Quanto à sua obra nos e com os crentes, ele
regenera (João 3:3-6; Tito 3:5; João 6:63; 1 Pedro
1:23; Efésios 5:25,26; 1 Coríntios 2:4; 3:6), batiza
(insere) no corpo de Cristo (João 1:32-34; 1
Coríntios 12:12,13; Atos 1:5), habita (1 Coríntios
6:15-19; 3:16; Romanos 8:9), sela (Efésios 1:13,14;
4:30), proporciona segurança (Romanos 8:14,16),
fortalece (Efésios 3:16), enche (Efésios 5:18-20;
Atos 4:8,31; 2:4; 6:3; 7:54,55; 9:17,20; 13:9,10,52;
Lucas 1: 15,41,67,68; 4:1; João 7:38,39), liberta
(Romanos 8:2), guia (Romanos 8:14), comissiona
ao serviço (Atos 13:2,4), orienta no serviço (Atos
8:27-29), equipa ao trabalho iluminando (1
Coríntios 2:12,14), instruindo (João 16:13,14),
capacitando (1 Tessalonicenses 1:5; Atos 1:8; 1
Coríntios 2:1-5), produz os frutos das graças cristãs
(Gálatas 5:22,23; Romanos 14:17; 15:13; 5:5) e
garante a comunhão com Deus pela oração (Judas
20; Efésios 6:18; Romanos 8:26,27), adoração
(Filipenses 3:3; Atos 2:11) e gratidão (Efésios 5:18-
20), e, por fim, vivificará o corpo do crente
(Romanos 8:11,23).
Em Jesus o Espírito agiu: na concepção
(Lucas 1:35), unção de poder (Atos 10:38; Isaías
61:1; Lucas 4:14,18; Mateus 12:17,18), direção
(Mateus 4:1), enchimento (Lucas 4:1; João 3:34),
capacitação (Atos 1:1,2) e doação do próprio
Espírito (Atos 2:33).
Em relação às Escrituras o Espírito foi seu
autor (2 Pedro 1:20-21; 2 Timóteo 3:16; 2 Pedro
3:15,16; João 16:13) e intérprete (Efésios 1:17; 1
Coríntios 2:9-14;João 16:14-16).
A personalidade do Espírito Santo

O Espírito de Deus é dotado de uma natureza


pessoal, isto significa que ele existe como um ser
vivo, autossuficiente, dotado de emoções e vontade.
O Espírito é claramente tratado como uma pessoa
no Novo Testamento, pelo uso de pronomes
pessoais; associação com outras pessoas,
demonstração de sentimentos, inteligência, atos e
atributos.
O fato de sua personalidade chegou a ser
duvidado por alguns teólogos em virtude de o
Espírito aparecer na Bíblia algumas vezes como um
ser aparentemente impessoal. Isto se nota nas
denominações do Espírito, tais como ele sendo um
fôlego, vento, poder, fogo, azeite e água (João 3:5-
8; 20:22; 7:38,39; Atos 2:1-4; 1 João 2:20; Efésios
5:18; 1 Tessalonicenses 5:19); também por seu
nome não aparecer associado ao do Pai e do Filho
em algumas saudações das epístolas
neotestamentárias (1 Tessalonicenses 3:11) e pelo
uso neutro de seu nome grego “pneuma”. As
provas, porém, de sua personalidade são claras.
Primeiro ele é dotado de atributos
personalizantes, tais como o saber (1 Coríntios
2:10,11), o querer (1 Coríntios 12:11; Romanos
8:27), o amar (Romanos 15:30), o entristecer-se
(Efésios 4:30).
Em segundo lugar ele pratica atos próprios de
uma pessoa. Ele fala (Apocalipse 2:7), clama
(Gálatas 4:6; Romanos 8:26), ensina (João 1:12-14;
14:16), guia (João 16:12-14; Romanos 8:14; Atos
16:6), testemunha (João 15:26) e intercede
(Romanos 8:26).
Em terceiro ele é designado com um ofício de
pessoa: é o Consolador (João 14:16,17), tanto
quanto Jesus. Curiosamente, tanto Jesus como o
Espírito são chamados pelo título de Consolador, na
Bíblia. Jesus é o Consolador conosco (1 João 2:1) e
o Espírito é o Consolador em nós. Ele auxilia, ajuda,
ampara, ou seja, faz o que é peculiar a uma pessoa e
não uma coisa ou força impessoal.
O Espírito não é um ser corpóreo e
antropomórfico, dotado de olhos e nariz etc. e nem
uma mera influência como um vento ou energia. Se
isto fosse verdade ele não seria tratado como pessoa,
pois é apresentado como alguém que se contrista
(Isaías 63:10), pode-se mentir a ele (Atos 5:3) e
blasfemar contra ele (Mateus 12:31,32). Em
resumo, há, no Espírito de Deus, o comportamento
e características de um ser pessoal, que interage
conosco e com o qual devemos buscar ter
comunhão (2 Coríntios 13:13).

A divindade do Espírito Santo

O Espírito Santo é claramente chamado de


Deus. Vemos, por exemplo, que o mesmo Jeová que
falou em Isaías 6:8,9 é o Espírito em Atos 28:25,26
(comparar também Jeremias 31:33,34 com Hebreus
10:15,16) e este é referido como Deus e Senhor
claramente no Novo Testamento (ver por exemplo
Atos 5:3,4 e 2 Coríntios 3:18).
Em segundo lugar o Espírito possui atributos
divinos. Ele é criador (Gênesis 1:2), eterno (Hebreus
9:14), onisciente (1 Coríntios 2:9-11; João 14:26;
16:12,13), onipotente (Lucas 1;35) e onipresente
(Salmos 139:7-10).
Em terceiro lugar a Bíblia atribui ao Espírito
Santo obras exclusivas de Deus. Ele, por exemplo,
criou o homem e lhe deu vida (Jó 33:4), criou os
diversos seres (Salmos 104:30), ressuscitou a Jesus
(Romanos 8:11), justifica e santifica os salvos (1
Coríntios 6:11), ensina ao crente quanto à sua
conduta espiritual (Lucas 12:11,12) e concede dons
(1 Coríntios 12:8-11).
Em quarto o seu nome é associado ao do Pai
e do Filho. Por exemplo, na Grande Comissão
(“batizando-os em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo”, Mateus 28:19), na administração da
igreja (Atos 15:28; 1 Coríntios 12:4-6) e na bênção
apostólica (2 Coríntios 13:13).
Quando dizemos que o Espírito Santo é
portador de Divindade afirmamos que ele é Um com
Deus, sendo totalmente igual a Deus em suas três
pessoas, possuindo ele (o Espírito) juntamente com
o Pai e o Filho, a mesma existência eterna e a
mesma essência substancial.

A procedência do Espírito Santo

Em toda a Bíblia fica entendido que o


Espírito Santo é procedente de suas coeternas
hipóstases – o Pai e o Filho. No Antigo Testamento
o “Ruah” (sopro, vento) de Deus se move sobre a
criação do Pai (Gênesis 1:2) e é por ele soprado no
homem, dando-lhe vida (2:7); é retirado da Terra
como se lá estivesse, procedente do céu (6:3); é
enviado por Deus, contemporaneamente, por toda a
Terra (Zacarias 4:10; cf. Apocalipse 5:6) e
profeticamente sobre o Messias (Isaías 11:2) e
“sobre toda a carne” (Joel 2:28-32).
No Novo Testamento o Espírito Santo é, no
batismo de Jesus, procedente do Pai para o Filho
(Mateus 3:16-17, cumprimento de Isaías 11:2) e de
ambos (Pai e Filho) para os discípulos (João
14:16,26; 16:7; 20:22; Atos 2:33,38).
A procedência do Espírito também se nota
nos seus qualificativos, sobrenomes que denotam de
quem ele é e como é. É o Espírito: do Senhor (Atos
5:9), de Jesus (Atos 16:7), de Cristo (Romanos 8:9),
do Filho (Gálatas 4:6), de Jesus Cristo (Filipenses
1:19), do Pai (João 15:26), ou seja, é procedente
destes dois: Pai e Filho, estando, por isso, associado
a ambos (Mateus 28:19; 2 Coríntios 13:13; 1 Pedro
1:2).

A história do Espírito Santo

No Antigo Testamento ele estabeleceu a


ordem no caos da criação, “incubando” a face das
águas (tradução literal de Gênesis 1:2). Ele dá vida
ao homem (Salmos 104:28-30) e lhes concede dons
(Juízes 11:29; 14:6), especialmente aos profetas
(Êxodo 31:2-5), dando-lhes, inclusive, o poder de
conhecer e revelar a vontade de Deus (Ezequiel 2:2;
8:3). Ao Espírito é atribuído o caráter moral e
espiritual do homem (Isaías 63:10). Ele haveria de
ungir o Messias (Isaías 11:1-5; 42:1-3) e visitar os
homens futuramente (Joel 2:28-29).
Nota-se, no Antigo Testamento, que a ação
do Espírito é exclusiva a poucos homens escolhidos,
a poucas localidades e que seu raio de ação vai se
estendendo à medida que se aproxima o período
neotestamentário.
Nos Evangelhos sua atividade é centralizada
em Cristo, concebendo-o (Lucas 1:35), enchendo-o
(Lucas 3:21,22), guiando-o (Lucas 4:1,18),
capacitando-o a expulsar demônios (Mateus 12:28)
e ser aquele que prometeu batizar com o próprio
Espírito (Mateus 3:11, cumprimento em Atos 2:4),
vencer as tentações (Marcos 4:1,2), oferecer-se em
sacrifício (Hebreus 9:14) e ressuscitar (Romanos
1:4).
Ainda nos Evangelhos o Espírito já se mostra
como aquele que substituiria o Cristo após a sua
ascensão e seria, não mais o Deus conosco e sim o
Deus em nós, íntimo, habitante no interior do crente
(João 14:16,17; 15:26); também daria continuidade
à obra de Cristo (João 14:26) e convenceria o
mundo do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8-
11).
Em Atos dos Apóstolos e nas epístolas vemos
o período de maior atividade do Espírito Santo.
Tudo o que ocorreu antes do Dia de Pentecostes do
ponto de vista do Espírito foi uma preparação para a
vinda deste. No Pentecostes (Atos 2:1-7) o Espírito
vem com todo vigor, concedendo dons, poder para
testemunhar e comunhão intensa, unindo todos os
salvos em um corpo e formando a igreja (1
Coríntios 12:12,13). Jesus lançou as bases para a
fundação da igreja, mas quem a estabeleceu e
consumou foi o Espírito Santo, a partir do momento
em que batizou os regenerados no corpo místico de
Cristo.

Os dons do Espírito Santo


Podemos classificar os dons em duas escalas:
os dons ministeriais e os dons não ministeriais. A
primeira espécie consiste naqueles ligados ao
exercício de ofícios na igreja, tais como apóstolo,
profeta, evangelista, pastor, mestre, governo,
serviço, contribuição, ajuda (Efésios 4:11,12;
Romanos 12:6-8; 1 Coríntios 12:28). A outra
espécie são dons como sabedoria, conhecimento, fé,
cura, discernimento, línguas, amor (1 Coríntios
12:7-11; 13:1).
Existem, nestas escalas, graus de importância.
Vemos o apóstolo Paulo ensinando que há dons
mais importantes (1 Coríntios 12:31; 14:1), há o
dom supremo do amor (1 Coríntios 13:1) e até
reduz a importância de certo dom, o de línguas (1
Coríntios 14:19), estimulando a busca dos
“melhores dons” (1 Coríntios 12:7-11,28; 13:1;
14:1).
Segundo o apóstolo Paulo, o dom primeiro
em importância ministerial é o de apóstolo, depois o
profeta (“em segundo lugar”), depois mestres,
milagres, cura, socorros, governos e glossolalia (1
Coríntios 12:28; Efésios 4:11-12).
O uso de expressões como “primeiramente”,
“em segundo lugar”, “em terceiro lugar”, “depois”
em 1 Coríntios 12:28, revela um grau de
importância dos dons, mas convém notar que, em
Efésios 4:11-12, esta mesma ideia não fica explícita,
o que indica que, nesta passagem, talvez os dons
não estejam sendo citados em ordem de
importância.
Paulo também não se refere a graus de status,
como se um dom tivesse maior honra e não
precisasse dos outros, mas enfatiza a utilidade do
mesmo como critério para o valorizarmos.
CRISTOLOGIA, A DOUTRINA DE CRISTO
Texto principal: A carta aos Colossenses

A Divindade de Cristo já começa implícita em


seus nomes divinos: “Senhor Jesus Cristo”.

Ele é chamado de Kurios (Senhor). Antes de


examinarmos as declarações paulinas acerca da
divindade de Cristo em Colossenses, convém notar
que uma grande nuvem de testemunhas em todo o
Novo Testamento reivindica isto claramente no fato
de Cristo ser chamado exaustivas vezes de Kurios.
E, tendo em vista que o próprio Jesus declarou que
há apenas um único Senhor (Mc 12:29), este
mesmo é identificado com Cristo.
Vejamos alguns exemplos em que Cristo é
chamado de Kurios pelos quatro evangelistas
Mateus (Mateus 3:3), Marcos (Marcos 1:31), Lucas
(Lucas 3:4; 7:13,31; 10:1; 11:39; 12:42; 17:6; 18:6;
22:31,61; 24:3) e João (João 1:23; 4:1; 11:2;
13:25;2); pelos apóstolos Paulo (Romanos 1:4,7;
4:24; 5:1,11,21; 6:11,23; 8:39; 13:14; 15:6;
16:18,20; 1 Coríntios 1:2,3,7,8,9,10; 5:4; 8:6; 9:1;
12:3; 15:31,57; 16:22,23; 2 Coríntios 1:2,3,14;
4:5,14; 8:9; 11:31; 13:13; Gálatas 1:3; 6:14,18;
Efésios 1:2,3,15,17; 3:11,14; 5:20; 6:23,24;
Filipenses 1:2; 4:23; 1 Tessalonicenses 1:1,3; 2:19;
3:11,13; 4:1; 5:9,23,28; 2 Tessalonicenses
1:1,2,7,8,12; 2:1,14,16; 3:6,12,18; 1 Timóteo
1:1,12; 6:3,14; 2 Timóteo 1:2; 4:1, 22; Tito 1:4;
2;13; Filemon 3,5,25), Pedro (Mateus 14:28,30;
16:22; 17:4; 18:21), Tomé (João 14:5; 20:28),
Filipe (João 14:8), Judas (Judas 4,17, 21,25), Tiago
(Tiago 1:1;2:1), pelo autor aos Hebreus (Hebreus
13:20), por Ananias (Atos 9:10-17), Marta (Lucas
10:40), Estevão (Atos 7:59), Zaqueu (Lucas 19:8),
Isabel (Lucas 1:43), um régulo (João 4:49), um
centurião (Mateus 8:6,8), um leproso (Mateus 8:2),
dois cegos (Mateus 9:28), outros dois cegos (Mateus
20:30,31,33), outro cego (João 9:38), um paralítico
(João 5:7), o ladrão da cruz (Lucas 23:42), uma
mulher cananéia (Mateus 15:22,27), um homem
dentre a multidão (Mateus 17:15), um discípulo
(Mateus 8:21), outro discípulo (Lucas 9:57), ainda
outro (Lucas 9:59) e mais outro (Lucas 9:61), pelos
discípulos (Mateus 8:25;13:51;26:22), pela igreja
primitiva (Atos 4:26,33;5:14), pelo Concílio de
Jerusalém (Atos 15:26), é chamado de Senhor
também por um anjo (Mateus 28:6), outro anjo
(Lucas 2:11), pelos justos na eternidade (Mateus
25:31,37,40,44) e o próprio Cristo chama a si
mesmo de Senhor (Mateus 7:21,22; 12:8; 22:42-
45;João 13:13,14).
Quanto a Colossenses, Paulo abertamente
chama Cristo de Senhor em Colossenses 1:3; 2:6;
3:17,24b. Ele também fala de kurios (sem
especificar se é Cristo ou não) em Colossenses 1:10;
3:16,18,20,23,24a; 4:1,7,17.
Alguns manuscritos e versões trazem a
expressão “Senhor Jesus Cristo” em Colossenses
1:2b (Vulgata Sistina e Clementina; Codex Alfa; o
Textus Receptus etc.). Bem, não é necessário aqui
discorrer sobre a autenticidade desta passagem. O
que Paulo cita de Cristo como Kurios em
Colossenses já é suficiente para encontrarmos aí, de
forma explícita, a divindade de Jesus.

Ele é chamado de Iesous (Jesus, Salvador).


Além de “Senhor”, ele também tem por nome
“Jesus” (Colossenses 1:1,3,4,28; 2:6; 3:17). É certo
que algumas pessoas têm o nome Jesus; em
Colossenses, inclusive, Paulo fala de um judeu
cooperador de seu ministério: “Jesus, chamado
Justo” (4:11). O fato de serem nomes pessoais não
implica em que Deus não possa ser nomeado com
tais títulos divinos. Assim, há alguns “Jesus” neste
mundo, mas só um é “Jesus” no sentido que
explicarei adiante.
O nome “Jesus” se origina no hebraico. A
primeira sílaba, “Ie”, deriva-se do tetragama IHWH,
pronunciado (talvez) IeHoWaH. “Ie”, então, é uma
abreviatura para Jeová. A Segunda sílaba, “sus”,
deriva do hebraico Oséias (cf. Números 13:8), que
significa “Salvação”. Da junção de Ie com Oséias
surge, no hebraico, a palavra traduzida como Josué
(Números 13:16), ou Jesus, que significa “Jeová é
Salvação” ou “Jeová Salvador”.
Quando o anjo anunciou este nome a José
(Mateus 1:21) e a Maria (Lucas 1:31) estava
dizendo que o menino que nascia era o Emanuel
(“Deus conosco”) profetizado por Isaías (Isaías
7:14), era o “Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte,
Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6), era
o “Salvador do mundo” (João 4:42), o Jeová Elohim
que “se tornou a minha salvação”, “o Deus da minha
salvação” (Isaías 12:2).
Somente Jeová é Salvador (Isaías 43:3,11;
45:15,21b; Oséias 13:14). Quando o Nazareno é
nomeado “Jesus” (Lucas 2:21), é isto nada mais que
uma declaração de que ele é o Jeová Salvador em
carne e osso (Tito 1:3,4; 2:10,13; 3:4,6; Atos 4:12;
2 Pedro 3:18; João 1:14).
Paulo, em Colossenses, reconhece a Cristo
como o Deus Salvador (cf. 2 Pedro 1:2), “em quem
temos a redenção, a remissão dos pecados”
(Colossenses 1:14). Com certeza, aplicar a Cristo o
nome de Jesus (Salvador) é dar-lhe o nome de
Deus.
“A descrição de Deus como Salvador é
característica das Pastorais (1 Tm 2:3; 4:10; Tito
1:3; 2:10; 3:4) e fora delas é achada no N.T.
somente em Lucas 1:47 e Jd 25. Nas raras ocasiões
em que Paulo emprega o termo alhures (Fp 3:20; Ef
5:23; 2 Tm 1:10; Tito 3:16), aplica-o a Cristo... O
A.T. forneceu precedentes abundantes para chamar
Deus de “nosso Salvador” ou “meu Salvador” (e.g.
Salmos 25:5; 27:1,9; Habacuque 3:18; Isaías
12:2...” (J. N. D. Kelly).

Ele é chamado de Kristos (Cristo, Ungido). O


nome “Cristo” com que Paulo muitas vezes se refere
a Jesus (Colossenses 1:1,2,3,4,7,24,27,28; 2:2, 5, 6,
8, 11, 17,20; 3:1,3,4,11,13,16,24; 4:3,12) é um
título real. Em hebraico, Cristo é “Messias” (João
1:41; 4:25; Lucas 2:26), que significa “Ungido” .
Este título é aplicado no Antigo Testamento a reis,
sacerdotes e profetas e até a anjos e seres espirituais.
Conferir, por exemplo: Salmos 2:2; 18:50; 20:6;
28:8; 84:9; 105:15; 132:10; 1 Samuel 2:35; 16:6;
24:10; 26:9,16; 2 Samuel 1:14; 19:21; 22:51; Isaías
45:1; Ezequiel 28:14; Zacarias 4:14; Habacuque
3:13; Daniel 9:25.
A unção (derramamento de óleo sobre a
pessoa) era um símbolo de consagração e ordenação
a um cargo ou status. Um sacerdote era ungido
(Êxodo 28:41; Levítico 8:12), um rei idem (1
Samuel 9:16; 10:1; 16:3,12; 1 Reis 1:39; 2 Reis 9:3;
1 Crônicas 14:8; 19:22), assim como um profeta
(Isaías 61:1).
Jesus Cristo foi ungido por Deus Pai nestes
três sentidos: Rei, Sacerdote e Profeta (Lucas 4:18;
Atos 4:27; 10:38). Nestes três aspectos ele é o
Messias, o Cristo.
Não podemos, então, deixar de ver no título
“Cristo” implícita sua divindade, pois ele é o Sumo
Sacerdote, o Supremo Profeta, o Rei dos reis. E tal
preeminência só pode ser aplicada a Jeová.

A Divindade de Cristo é explícita em seus


atributos e obras divinos.

Por atributos entendemos as qualidades


(Romanos 1:20a), as virtudes (1 Pedro 2:9b), as
características inerentes a Deus. O conjunto de seus
atributos constitui o que poderíamos chamar de
“impressão digital” da Divindade. Assim como a
impressão digital é uma característica única e que
identifica cada ser humano, Deus é reconhecido por
características que só Ele possui plenamente. Se
Cristo é referido como possuidor destas
características, logo, ele é Deus.
Enquanto os atributos representam o ser de
Deus, o que ele é, as suas obras são aquilo que ele
faz, fará, fez ou é capaz de fazer. Existem obras que
somente Deus é capaz de executar. Alguém mais
além de Deus poderia criar o universo do nada?
Outro além de Deus pode ser o Salvador do mundo?
Estas e outras características, então, se encontradas
em Cristo são provas claras de Sua Divindade.
No Novo Testamento, Jesus é citado como
aquele que criou todas as coisas (João 1:3 -
gegonen). A mesma palavra é usada em Hebreus
11:3 para afirmar que do nada o mundo veio à
existência (gegonenai).

Ele é Deus porque é fiel. “...vossa fé em


Cristo...” (Colossenses 1:4; 2:5b). A fidelidade
perfeita só Deus possui, “só Ele, é fiel, fiel em tudo,
fiel o tempo todo” (A. W. Pink). Ele é “o Deus fiel”
(Deuteronômio 7:9). Ele se veste da verdade e da
fidelidade (Salmos 89:8; Isaías 11:5). Grande e
excelsa é a fidelidade de Deus (Lamentações 3:23;
Salmos 36:5).
Ver também, sobre a fidelidade de Deus:
Deuteronômio 32:4; Salmos 40:10; 59:1,33; 92:2;
117:2; 119:30,138; 1 Coríntios 1:9; 10:13; 1
Tessalonicenses 5:24; 2 Tessalonicenses 3:3;
Hebreus 10:23; 1 Pedro 4:19.
Se Deus é fiel podemos confiar, crer nele.
Habacuque fala da fé em Jeová como garantia de
vida (Habacuque 2:4. cf. Romanos 1:17; Gl 3:11;
Hebreus 10:38). O salmista falava da confiança em
Deus (Salmos 22:4; 28:7; 37:3,5; 55:22,23; 62:8;
84:12; 115:8). Jeremias amaldiçoou aquele que
depositasse toda a confiança em homens (Jeremias
17:5) e abençoou o que tem esperança no Senhor
(Jeremias 17:7).
No Novo Testamento a fé, esperança e
confiança são todos direcionados a Jesus (cf. Atos
3:16; 20:21; Romanos 3:26; Gálatas 2:16,20;
Filipenses 3:9), identificando-o com o fiel Jeová do
Antigo Testamento, no qual podemos ter e depositar
fé.

Ele é Deus porque é Comissionador.


“...apóstolo de Jesus Cristo... Epafras... ministro de
Cristo...” (Colossenses 1:1,7).
É Deus quem comissiona e envia seus
profetas (Isaías 9:8; 88:19; Jeremias 1:5-7). Afirmar
que Paulo é “apóstolo de Cristo” e Epafras “ministro
de Cristo” é dar a Jesus uma autoridade que só Deus
possui. Assim, quando Paulo afirma que é
comissionado por “vontade” de Deus (Colossenses
1:1; Efésios 1:1; 1 Coríntios 1:1; 2 Coríntios 1:1),
está identificando Cristo com Deus, pois ambos o
comissionaram com o mesmo grau de autoridade.

Ele é Deus porque é Rei. “...reino do Filho...”


(Colossenses 1:13). Quando Paulo fala de Cristo
como possuidor de um reino, fica implícita sua
divina majestade (isto é ainda mais claro em
Apocalipse 19:13,16 e 1 Timóteo 6:14,15).
O Antigo Testamento mostra que o reino é de
Jeová (1 Crônicas 29:11; Salmos 22:28; 45:6;
145:12; Isaías 43:15). É ele, inclusive, quem
governa sobre os espíritos celestiais (Jó 1:6). No
Novo Testamento o reino é de Cristo, que é “a
cabeça de todo o principado e potestade”
(Colossenses 2:10b). Este atributo de Governador
mostra a divindade de Cristo.
Ele é Deus porque é Redentor e Perdoador.
“...em quem temos a redenção...a remissão dos
pecados... Cristo vos perdoou...” (Colossenses 1:14;
3:13b).
Somente Deus é Salvador e perdoador, só ele
pode redimir e remir dos pecados. Cristo é autor
destas obras divinas o que o identifica com Deus (cf.
Marcos 2:5-12).

Ele é Deus porque é Imagem de Deus. “O


qual é a imagem do Deus invisível...” (Colossenses
1:15a). Embora o homem tenha sido criado à
imagem de Deus, todavia esse não é da mesma
forma que Cristo. O Senhor Jesus é a plena imagem
de Deus (2 Coríntios 4:4b) , “o resplendor da sua
glória, e a expressa imagem da sua pessoa” (Hebreus
1:3). Ver a Cristo é o mesmo que ver a Deus (João
1:14,18; 14:9).

Ele é Deus porque é Preeminente sobre a


Criação. “... o primogênito de toda criação... para
em todas as coisas ter a primazia” (Colossenses
1:15b; 18b).
Convém notar que aqui Cristo não é chamado
de “Primogênito de Deus” ou “Unigênito da
criação”. Como Filho do homem Jesus é
primogênito, pois foi o primeiro filho de Maria e
José (Mateus 1:25). Como Filho de Deus Jesus é
Unigênito (João 1:14), indicando sua singularidade
como ser divino único.
Feitas essas ressalvas expliquemos que a
palavra “primogênito” não significa apenas o
primeiro nascido, mas também o preeminente, que
ocupa lugar de destaque, de governo na família e
herdeiro principal. Cristo é o cabeça da criação.

Ele é Deus porque é Criador. “Porque nele


foram criadas todas as coisas... tudo foi criado por
ele e para ele” (Colossenses 1:16).
Comparando esta passagem com Romanos
11:36 vemos uma identificação entre o Deus Criador
e o Filho Divino. Em João 1:3 vemos que nada viria
a existir sem a ação do Verbo. Cristo criou “todas as
coisas”.

Ele é Deus porque é Eterno. “Ele é antes de


todas as coisas...” (Colossenses 1:17a).
“Antes que Abraão existisse Eu Sou” (João
8:58). Cristo nem sequer afirma que “Antes de
Abraão existir eu era” ou “eu fui”, mas sim “Eu
sou”, identificando-se com o Eterno Jeová de Êxodo
3:14. Cristo sempre foi, ele “era no princípio e... era
com Deus e... era Deus” (João 1:1), “era desde o
princípio” (1 João 1:1), é o “Rei dos séculos,
imortal” (1 Timóteo 1:17), o “Pai da Eternidade”
(Isaías 9:6), o “mesmo ontem, hoje e pelos séculos”
(Hebreus 13:8), “aquele que tem, ele só, a
imortalidade” (1 Timóteo 6:16), o qual estava junto
do Pai “antes que houvesse mundo” (João 17:5). A
eternidade de Jesus é evidência clara de sua
divindade.

Ele é Deus porque é Sustentador da criação.


“... todas as coisas subsistem por ele” (Colossenses
1:17b).
Assim como em Hebreus 1:3, o Filho
preserva o universo por seu próprio poder. É
maravilhoso saber que o Senhor não apenas criou
este mundo como também está incessantemente
zelando por sua manutenção, de maneira que é ele,
Cristo, quem, juntamente com o Pai, alimenta as
aves do céu e veste os lírios do campo (Mateus
6:26-29). A obra de sustentação realizada por Cristo
é uma obra de Providência. Em outras palavras,
afirmar que Cristo é agente da Providência é
identificá-lo com o Javé Jirê do Antigo Testamento
(Gênesis 22:8,14).

Ele é Deus porque é a Cabeça da Igreja. “E


ele é a cabeça do corpo, da igreja...” (Colossenses
1:18a).
A Igreja é de Deus (Atos 20:28); o rebanho é
de Deus (1 Pedro 5:2); o povo é de Deus (1 Pedro
2:9). Quando Paulo, em Colossenses, afirma que
Cristo é a cabeça da igreja, está identificando Jesus
como Líder, Dono, Senhor da igreja, além de órgão
vital desta.
Ele é Deus porque nele habita a plenitude da
Divindade. “Porque nele habita corporalmente toda
a plenitude da divindade” (Colossenses 2:9; 1:19).
“Foi do agrado do Pai que nele residisse toda
a plenitude” (1:19). Tal declaração ecoa Hebreus
1:3a: “O qual sendo o resplendor da sua glória, e a
expressa imagem da sua pessoa”. Na pessoa
(hypostasis) de Cristo é que a Divindade agradou-se
em habitar corporalmente, no soma, na carne (João
1:14) e revelar a Deus por meio do Filho Unigênito
(João 1:18).

Ele é Deus porque é o Reconciliador do


universo. “...por meio dele [Cristo] reconciliasse
consigo mesmo todas as coisas...” (Colossenses
1:20b).
Esta passagem nos lembra 2 Coríntios 5:18-
20. A obra de reconciliação depende essencialmente
em Deus vindicar a propiciação de sua ira e
estabelecer sua paz. Na cruz Cristo satisfez a ira
divina, reconciliou os eleitos com Deus, de modo
que aqueles que creem pode afirmar: “temos paz
com Deus” (Romanos 5:1).
Como resultado da paz com Deus surge a paz
de Deus. Esta obra reconciliatória de Cristo hoje
opera pelo gracioso meio que é o evangelho, no qual
Cristo faz a paz com os seus salvos. Futuramente a
obra se estenderá por meio de sua segunda vinda,
quando sujeitará todas as coisas e julgará os
perturbadores da paz. A participação de Jesus nesta
obra o faz um com o Pai, pois a Reconciliação no
sentido expresso acima é obra exclusiva de Deus.

Ele é Deus porque é a esperança da glória.


“... Cristo em vós, a esperança da glória”
(Colossenses 1:27b).
Cristo Jesus é “nossa esperança” (1 Timóteo
1:1). O fato de ser Cristo alvo da esperança dos
salvos remonta à sua fidelidade, somente um ser
infalível, fiel, pode ser o objeto firme de nossa fé e
esperança. Nossa fé e esperança deve estar em Deus
somente (1 Pedro 1:21).
Ele é Deus porque é nossa vida. “Quando
Cristo, que é a nossa vida...” (Colossenses 3:4).
Aqui, mais uma vez, o chama Cristo de
“nossa vida”. Sendo Deus, ele é o autor da vida, o
“príncipe da vida” (Atos 3:15).

Ele é Deus porque é a fonte da santidade e


maturidade espiritual. “...apresentemos todo homem
perfeito em Cristo” (Colossenses 1:28).
Ver também 1:22; 2:6,7,10. Jeová é o
Maccadeshkem, o Deus que santifica (Êxodo
31:13). É Deus “quem opera em vós tanto o querer
como o efetuar” (Filipenses 2:13). Em Colossenses
Paulo fez questão de afirmar que a maturidade
espiritual é obtida “em Cristo”, dando ao Senhor
Jesus uma clara obra exclusiva de Deus.

Ele é Deus porque ocupa lugar exclusivo de


Deus. “... Cristo está assentado à destra de Deus”
(Colossenses 3:1b).
Alguém pode dizer que Cristo não está no
trono, mas à direita deste. Ora, os sublimes serafins
nem sequer ousavam olhar para o trono (Isaías 6).
Quem se atreveria a sentar-se junto, ao lado de
Deus? Quem Deus permitiria que ocupasse tal
posição? Sua glória é exclusiva e Cristo goza dela
eternamente (João 17:5), está eternamente junto,
entranhado em Deus (João 1:1).

Ele é Deus porque é Autor da Palavra Divina.


“A palavra de Cristo habite em vós
abundantemente...” (Colossenses 3:16a).
A Bíblia deixa bem claro que a Palavra de
Deus é exclusivamente poderosa. Por ela Deus criou
o mundo (Hebreus 11:3); com ela Deus a tudo
sonda (Hebreus 4:12); ela é luz para o homem
(Salmos 119:105), arma contra o pecado (Salmos
119:11). Como, pois, Paulo exortaria os crentes a
ser cheios abundantemente da Palavra de Cristo se
ele não for o próprio Deus da Palavra? A resposta é
óbvia: Ele é Deus.
SOTERIOLOGIA, A DOUTRINA DA
SALVAÇÃO

Do grego “soteria” (salvação) e “logos”


(doutrina, estudo). A salvação simplesmente é o
processo de restauração do relacionamento entre
homens e Deus. Sendo Amor, Deus criou o
universo e, em particular, o homem, para ter
relacionamento com estes.
No caso do homem, quis Deus criar um ser
pudesse ter um relacionamento social. A
consequência lógica disso, é que este ser precisava
ser criado livre para decidir amar ou não a Deus,
caso contrário tal relacionamento seria ilusório.
A consequência natural dessa liberdade é o
pecado. Assim, Deus não criou o pecado, mas criou
a liberdade; e esta dá espaço para a ocorrência do
pecado. O pecado não é uma “coisa” ou “criatura”.
É uma atitude. É o uso da liberdade para se afastar
de Deus.
A salvação, então, é o meio que Deus utiliza
para aproximar o homem de si sem obrigá-lo, e
assim pôr um fim “inteligente” no problema do
pecado sem pôr fim à liberdade. A Bíblia usa uma
metáfora que parece ser a mais adequada: Deus é
como um homem apaixonado por uma mulher e
procura seduzi-la até que ela ceda aos seus encantos
e ambos tornam-se noivos e, enfim, casados.

A soteriologia e as demais doutrinas

TEONTOLOGIA (doutrina sobre Deus). Nas


palavras de Anthony Hoekema: “É óbvio que a
soteriologia está intimamente ligada à doutrina de
Deus, pois lida com o modo como Deus nos salva
dos nossos pecados. Um entendimento inadequado
de Deus resulta numa compreensão inadequada da
soteriologia. Uma ênfase unilateral e exclusiva na
soberania de Deus dá a ideia de que Deus salva seu
povo da maneira como computadores controlam
robôs. Ênfase exclusiva na responsabilidade
humana, por outro lado, produz um Deus
dependente das decisões humanas”.
CRISTOLOGIA (doutrina sobre a pessoa e
obra de Cristo). Ele é o Salvador por excelência. É
divino, de modo que sua obra salvadora tem poder
infinito; é humano, de maneira que sua salvação é
adequada para a raça humana. Dentre as pessoas da
Trindade, ele é o Sacerdote, aquele que media o
relacionamento entre homem e Deus.
PNEUMATOLOGIA (doutrina sobre o
Espírito Santo). O papel do Espírito Santo na
salvação é como o do Cupido mitológico. O Cupido
é aquele que aplica a flecha do amor no coração e
faz com que duas pessoas se apaixonem. O Espírito
Santo aplica no coração do homem o amor de Deus
e a salvação realizada por Cristo na cruz.
ANTROPOLOGIA (doutrina sobre o
homem). O homem é o alvo da salvação, por isso
conhecer a natureza humana é fundamental para
entender a necessidade da salvação. Aqui se estuda
também a história do relacionamento da humanidade
com Deus e como este relacionamento vem sendo
restaurado.
HAMARTIOLOGIA (doutrina sobre o
pecado). Conhecer a origem, o poder e a
consequência do pecado é a base para se entender a
necessidade da salvação.
DEMONOLOGIA (doutrina sobre os
demônios). Como o pecado teve início no coração
de Lúcifer e a partir dele se espalhou pelo universo,
e como os demônios exercem influência maligna
sobre os homens, no intuito de afastá-los de Deus, a
soteriologia também está contida nesta doutrina,
uma vez que a vitória sobre o pecado também inclui
vitória sobre os demônios.
ESCATOLOGIA (doutrina sobre as últimas
coisas). A salvação teve início no começo dos
tempos e percorre a história. Por fim, terá
cumprimento no futuro, nos “últimos dias”. Então, a
escatologia basicamente se ocupa em estudar a
salvação no futuro, o Dia do Senhor, no qual os
salvos serão finalmente restaurados e os demais
passarão pelo Juízo Final.

Deus e o homem na salvação

Uma vez que salvação tem a ver com


restauração de relacionamento, ela não pode ser
obra apenas de um dos lados. Quando um casal se
une, deve ser por vontade de ambos, assim também
a salvação é obra divino-humana.
Isso explica o fato de que há momentos em
que a Bíblia enfatiza somente a soberania de Deus
(cf. Provérbios 21:1; Efésios 1:11; Romanos 9:1) e
outros em que se fala na liberdade humana de
decisão (cf. João 3:36; Mateus 16:27; Apocalipse
22:21). Ainda há textos que conciliam as duas ideias
(cf. Filipenses 2:12-13; Lucas 22:22; Atos 2:23).
Veja, por exemplo, Colossenses 1:29: “E para isto
também trabalho, combatendo [tarefa humana]
segundo a sua eficácia, que opera em mim
poderosamente [tarefa divina]”.
Sobre isso, o teólogo anglicano James Packer
tem o seguinte a dizer: “A soberania de Deus e a
responsabilidade humana são-nos ensinadas lado a
lado na mesma Bíblia; algumas vezes, na verdade,
no mesmo texto. Ambas são-nos garantidas pela
mesma autoridade divina; ambas, portanto, são
verdadeiras. Segue-se que elas precisam ser
mantidas juntas e não lançadas uma contra a outra...
A antinomia que enfrentamos agora (entre a
soberania de Deus e a responsabilidade humana) é
apenas uma de um número maior que a Bíblia
contém. Podemos estar certos de que tudo encontra
conciliação na mente e no conselho de Deus, e
podemos esperar que no céu nós as entenderemos
também. Mas, enquanto isso, somos sábios ao dar
ênfase equilibrada tanto num como noutro caso de
verdades aparentemente conflitantes”.

A ordem da salvação

Em 1731, um teólogo luterano chamado


Jacob Carpov utilizou o termo em latim ordo salutis
para se referir a uma possível ordem nas bênçãos da
salvação. Uma base para esta conclusão seria
Romanos 8:30, em que uma série de eventos é
enumerada numa ordem lógica ou talvez
cronológica.
Os teólogos reformados entendem que a
ordem seja basicamente a seguinte:
Vocação – a escolha de Deus.
Regeneração – a natureza do homem é
transformada milagrosamente por Deus.
Conversão – uma vez regenerado, o homem
exerce fé e arrependimento.
Justificação – pela fé é aceito por Deus.
Santificação – seu coração é inclinado para o
bem que buscará durante sua vida.
Perseverança – tendo o Espírito Santo em seu
coração, jamais perderá a salvação.
Glorificação – no céu, será totalmente livre do
pecado.
Embora essa classificação possa ter algum
valor didático, a Bíblia não se interessa em organizar
uma ordo salutis. Em 1 Coríntios 6:11, por
exemplo, a santificação é citada antes da
justificação. Em Romanos 8:28-30, Paulo pretende
mostrar que todas as coisas cooperam para o bem
dos que amam a Deus. Ora, estas “coisas” são
simplesmente as bênçãos da salvação que ele
enumera. Então seu interesse não é criar uma
classificação ou ordem, mas citar aquilo que coopera
para o bem do salvo.
“Devemos, assim, pensar, não numa ordem
da salvação com sucessivos passos ou estágios, mas,
antes, numa só obra maravilhosa da graça de Deus –
um caminho da salvação – dentro do qual
distinguimos diversos aspectos. Esses aspectos,
entretanto, não são todos do mesmo tipo; e não
devem, portanto, ser colocados na mesma categoria.
Por exemplo, alguns aspectos desse caminho da
salvação dizem respeito ao que o homem faz,
mesmo que só possa fazer qualquer coisa segundo a
força de Deus (fé e arrependimento), enquanto
outros aspectos dizem respeito ao que Deus faz
(regeneração e justificação). Alguns aspectos são
atos judiciais (justificação), enquanto outros
aspectos dizem respeito à renovação moral e
espiritual do homem (regeneração e santificação).
Alguns aspetos são atos instantâneos (regeneração,
conversão do tipo crise, santificação definitiva),
enquanto outras fases são atos contínuos
(santificação progressiva, perseverança).
Resumindo, as diversas fases do caminho da
salvação não devem ser vistas como uma série de
passos sucessivos, cada qual tomando o lugar do
anterior, mas, antes, como aspectos simultâneos do
processo da salvação, os quais, depois de iniciados,
continuam lado a lado” (Anthony Hoekema).

Regeneração

“Nosso entendimento de regeneração está


acoplado à nossa concepção de depravação humana.
Se os seres humanos hoje não forem depravados,
regeneração ou nova vida espiritual será realmente
necessária” (Anthony Hoekema).
A necessidade de regeneração está exatamente
no fato de que o homem certamente morreu
espiritualmente (cf. Gênesis 2:17), está morto em
pecado (Efésios 2:1,4,5) e é cego para Deus (I
Coríntios 2:14). A regeneração consiste exatamente
na solução para tais problemas.
É um novo nascimento espiritual. O
regenerado é chamado de “nascido de Deus” (João
1:13; I João 5:1); “nascido do Espírito” (João 3:8);
“nascido do alto” (João 3:3,7). O termo grego para
regeneração é “palingenesia”, que quer dizer “nova
geração” (Mateus 19:28; Tito 3:5). O regenerado,
por isso, é chamado de “novo homem” (Efésios
4:24), “nova criatura” (2 Coríntios 5:17; Efésios
2:10; Gálatas 6:15).
É uma nova vida. Ele passou por uma
ressurreição espiritual (Colossenses 2:13; 3:1;
Efésios 2:5), foi vivificado e renovado (João 6:63;
Romanos 6:11,13; 12:2; Efésios 2:1; 4:23;
Colossenses 3:10; Tito 3:5b).
É uma mudança interior. O regenerado é tido
como alguém que recebeu um “novo coração”
(Ezequiel 18:31; 36:26). Em Deuteronômio o termo
usado é “circuncisão do coração” (30:6). Há uma
purificação interior, uma lavagem (Tito 3:5).
“A transformação é moral. O corpo
permanece o mesmo, e a identidade mental não é
destruída. A pessoa tem consciência de que continua
sendo a mesma pessoa que era antes; porém, uma
direção é dada às faculdades ativas na mente e novas
afeições lhe surgem no coração; o amor de Deus é
derramado em seu coração pelo Espírito Santo
(Romanos 5:5)” (John Dagg).
É um ato misterioso. “O vento sopra onde
quer” (João 3:8). O contexto claramente fala da
regeneração, o “nascer do alto” (João 3:3). O
Espírito opera a regeneração misteriosamente. Não
há como explicar de que modo ele transforma o
homem e, sendo um ato instantâneo, não dá para
precisar em que momento isso ocorre.
O agente da regeneração é o próprio Deus
(Salmos 119:36; João 1:13; Romanos 2:4; I João
4:19), na pessoa do Espírito Santo (Ezequiel 11:19;
João 3:6; Tito 3:5). A regeneração é um milagre e,
portanto, obra exclusivamente divina.
A regeneração é feita pelo Espírito sem o uso
de qualquer instrumento, mesmo da Palavra. Afinal,
a Palavra só pode produzir efeito depois que a
mente é regenerada e não antes (João 6:64,65; Atos
16:14; I Coríntios 2:12-15; Efésios 1:17-20). A
parábola do semeador mostra que a Palavra
(semente) não brota em todo solo, mas só no fértil
(o regenerado). A semente não é responsável pela
fertilidade do solo (que seria a regeneração, ato
divino), mas pelos frutos (que seria a conversão, ato
humano).
A Palavra pode não produzir a regeneração,
que é ato exclusivamente divino, mas produz a
conversão, orientando o homem na tomada de
decisão pelo bem (Romanos 10:14; Tiago 1:18; I
Pedro 1:23). Os católicos e luteranos creem que a
Palavra em si tem o poder de regenerar, o que é uma
visão sacramentalista, ou seja, creem que os
sacramentos podem produzir efeitos sobrenaturais
no homem, como a regeneração.
A regeneração produz a conversão, uma
mudança de mente (metanoia) (Salmos 42:1,2;
Mateus 5:4; 1Co 2:14; 2 Co 4:6; Efésios 1:18;
Colossenses 3:10; Filipenses 2:13; 2 Tessalonicenses
3:5; Hebreus 13:21; 1 Pedro 1:8; cf. 1Pe 3:21).

Outras visões da Regeneração


Pelagiana. É uma reforma moral, uma atitude
tomada pelo homem de deixar de pecar, uma vez
que ele, segundo o pelagianismo, nasce bom e não
tem o pecado a habitar seu coração a não ser que ele
permita. O homem pode voltar atrás e corromper
novamente sua conduta.
Romana. O batismo de água opera a
renovação espiritual e a justificação. Os adultos
podem resistir a esta graça e invalidá-la.
Luterana. O batismo e a Palavra são os meios
de produzir a renovação espiritual. Esta pode ser
perdida, mas também recuperada pelo
arrependimento.
Arminiana. O homem primeiro decide
cooperar com a influência divina, então recebe a
graça da regeneração. Se ele quiser pode perdê-la,
decidindo pelo pecado.
Liberal. O homem possui em si o potencial
para o bem. A regeneração é sua decisão em mudar
seu caráter, seguindo suas boas tendências. É uma
visão moderna do pelagianismo.

Conversão
A primeira mensagem de João Batista foi a
conversão (Mateus 3:2), igualmente a de Jesus
(4:17). O Novo Testamento termina com o chamado
à conversão (Apocalipse 3:19). Essa foi a mensagem
de Jesus após sua ressurreição (Lucas 24:46,47).
Esta é uma das mais evidentes vontades de Deus (2
Pedro 3:9).
A Bíblia não exorta os homens a serem
regenerados, pois isto é tarefa divina. Ela exorta à
conversão, tarefa humana. “A conversão pode ser
definida como o ato consciente de uma pessoa
regenerada, no qual ela se volta para Deus em
arrependimento e fé. Isso envolve um duplo retorno:
para longe do pecado e na direção do serviço de
Deus” (Hoekema).
Termos para conversão:
Nachan – entristecer-se, arrepender-se, mudar
de planos. Usado em relação a Deus (Gênesis 6:6,7;
Êxodo 32:12,14; Deuteronômio 32:36; Juízes 2:18).
Arrependimento humano (Juízes 21:6,15; Jó 42:6;
Jeremias 8:6; 31:19).
Shubh – voltar, retornar. Pode significar
afastar-se do pecado (1 Reis 8:35; Jó 36:10;
Neemias 9:35) ou aproximar-se de Deus (Salmos
51:13; Isaías 10:21; Jeremias 4:1; Oséias 14:1;
Amós 4:8).
Metanoia – mudança de entendimento (2
Timóteo 2:25), vontade (Atos 8:22), emoções (2 Co
7:10). Esta palavra é traduzida como conversão em
algumas bíblias e como arrependimento em outras.
Na verdade ela contém as duas ideias, sendo que o
termo conversão é mais abrangente, pois o
arrependimento faz parte da conversão. Algumas
versões católicas traduzem como penitência.
Epistrophe – Atos 15:3.
Metameleia – só usado 5 vezes no Novo
Testamento (Mateus 21:29,32; 27:3; 2 Coríntios
7:10; Hebreus 7:21).
Exemplos de conversão: Naamã (2 Reis
5:15); Manasses (2 Crônicas 33:12,13); Zaqueu
(Lucas 19:8,9); Saulo (Atos 9:1-19); Cornélio (Atos
10:44-48); Lídia (Atos 16:14); dos ninivitas (Jn
3:10); do eunuco (Atos 8:30).
A conversão tem ajuda divina (Jeremias
31:18; Lamentações 5:21; Marcos 9:24; Atos 11:18;
Romanos 2:4), mas é essencialmente humana.
“Abraham Kuyper mostra que a palavra
veteroitestamentária, shubh, significando “voltar
atrás”, ocorre 74 vezes como descrição da volta do
homem a Deus, mas só cinco vezes como
designativo da conversão como obra de Deus;
observa também que no Novo Testamento as
palavras para conversão são usadas 26 vezes em
relação à atividade humana, mas só duas ou três
vezes indicando a conversão como obra de Deus”
(Hoekema).
“Sem dúvida, operamos também nós, mas o
fazemos cooperando com Deus, que opera
predispondo-nos com a sua misericórdia. E o faz
para nos curar, e nos acompanhará para que,
quando já curados, sejamos vivificados; predispõe-
nos para que sejamos chamados e acompanha-nos
para que sejamos glorificados; predispõe-nos para
que vivamos segundo a piedade e segue-nos para
que, com ele, vivamos para todo o sempre, pois sem
Ele nada podemos fazer” (Agostinho).
ANGELOLOGIA, A DOUTRINA DOS ANJOS

A existência dos anjos é não somente uma


crença presente na maioria das religiões, como
também um claro ensino bíblico. “Ninguém que se
curva diante da autoridade da Palavra de Deus pode
duvidar da existência dos anjos” (Berkhof).
A Bíblia atesta o fato dos anjos ainda mais
claramente. “Do Gênesis ao Apocalipse os anjos de
Deus são mencionados com destaque; cento e oito
vezes no antigo Testamento e cento e setenta e cinco
vezes no Novo Testamento” (Gaebelein).
“Nas cinco vezes em que encontramos, no
Antigo Testamento, a expressão “filhos de Deus”,
ela se refere a esses seres sobrenaturais (Gênesis
6:2,4; Jó 1:6; 2:1; 38:7)” (E. H. Bancroft).
“Apesar de serem os anjos chamados filhos
de Deus, nunca são chamados filhos do Senhor. No
hebraico sempre aparecem como Benai Elohim
(Elohim é o nome de Deus como Criador) e nunca
Benai Jeová. Os Benai Jeová são os pecadores
redimidos e trazidos à relação filial com Deus por
meio da redenção. Os Benai Elohim são seres não-
caídos, filhos de Deus em virtude da criação. Os
anjos são os filhos de Deus da nova criação”
(Gaebelein).
A expressão “filhos de Deus” é interpretada
como referente aos anjos por judeus como Josefo,
Filo e os autores do “Livro de Enoque” e do
“Testamento dos Doze Patriarcas”. A própria
Septuaginta (primeira tradução do Antigo
Testamento para o grego) traduz o hebraico Benai
Elohim como “anjos de Deus” (Jó 1:6; 2:1) e “meus
anjos” (Jó 38:7); o códice Alexandrino faz o mesmo
em Gênesis 6:2,4.
O Novo Testamento também é claro a
respeito dos seres angelicais. Os evangelistas,
Mateus, Marcos, Lucas e João registram isto (ver,
por exemplo, Mateus 13:41; 18:10; 26:53; Marcos
8:38; Lucas 22:43; João 1: 51), igualmente as
epístolas paulinas (Efésios 1:21; Colossenses 1:16; 2
Tessalonicenses 1:7; Hebreus 1:13; 12:22 ) e as
gerais (1 Pedro 3:2; 2 Pedro 2:11; Judas 9), também
o livro de Apocalipse revela este fato (Apocalipse
12:7; 22:8,9).
Dionísio Areopagita elaborou uma
classificação em três ordens, na qual os anjos da
primeira classe iluminavam os da segunda, que, por
sua vez, isto faziam com os da terceira. Tal
classificação obteve boa aceitação na época.
Agostinho acrescentou à teologia angélica o
conceito de perseverança dos anjos que não se
rebelaram. Ou seja, depois da queda de Satanás com
parte dos anjos, aqueles que permaneceram fiéis
foram agraciados com o dom da perseverança, para
que não cometessem o mesmo erro.
O politeísmo pertencente ao passado de
alguns convertidos “contaminou” a igreja primitiva
com o culto aos anjos, o que foi combatido no
Concílio de Laodicéia (séc. IV). Na Idade Média
houve grandes polêmicas sobre o assunto, por
exemplo, se os anjos são seres corpóreos ou não; se
foram criados antes, depois ou junto do universo, de
que forma eles ocupavam o espaço, como era a
natureza do conhecimento deles, e surgiu, também,
a ideia do anjo da guarda, retirada do paganismo.
Durante a Reforma Protestante o estudo dos
anjos, de certa maneira, foi resumido e limitado a
enquadrá-lo na análise da sabedoria de Deus e ao
ministério angelical em favor do povo de Deus.
Modernamente temos várias posições: os católicos
romanos creem no “anjo da guarda” e na pureza
total destes seres. Os swedenborgianos creem que os
anjos eram homens que perderam seus corpos. Os
racionalistas negam sua existência.
Quanto aos nomes dos anjos, o vocábulo
hebraico de maior uso é “malak” (mensageiro) e a
palavra grega usual é “angelos”, referindo-se,
ambas, no Novo Testamento e Antigo Testamento
(1 Reis 19:2; Malaquias 2:7; Lucas 7:24). Há outros
nomes hebraicos aplicados aos anjos: Beneh ha
Elohim (Jó 1:6; 2:1); Beneh Elim (Salmos 89:6);
Kephoshim, os seres santos (Salmos 89:7); Sirsirim,
os vigilantes (Daniel 4:13, 17,23). Há alguns nomes
de interpretação difícil: Querubins (Gênesis 3:24;
Êxodo 25:;20), Serafins (Isaías 6:1-7), Ofanins, que
quer dizer, literalmente, “Rodas” (Ezequiel 1:15).
Quanto à natureza dos anjos são criaturas, ou
seja, seres criados por Deus (Salmos 148:2,5;
Colossenses 1:16; 1 Reis 22:19; Salmos 103:20,21).
São seres espirituais, incorpóreos (Mateus 8:16;
12:45; Lucas 7:21; 8:2; 11:26; Atos 19:12; Efésios
6:12; Hebreus 1:14; Lucas 24:39; Mateus 22:30) e
invisíveis (Colossenses 1:16). São seres racionais,
dotados de inteligência (2 Samuel 14:20; Mateus
24:36; Efésios 3:10; 1 Pedro 1:12; 2 Pedro 2:11;
Mateus 4:1-11), imortais (Lucas 20:35,36), morais
(Lucas 9:26) e poderosos (Atos 12:23; Hebreus 1:7;
Salmos 103:20).
O número dos anjos é impreciso. A Bíblia
deixa claro que são muitos (Deuteronômio 33:2;
Salmos 68:17; 2 Reis 6:15; Daniel 7:10; Marcos
5:9,15; Mateus 26:53; Lucas 2:13; Hebreus 12:22;
Apocalipse 5:11) e tal número foi fixado
definitivamente “no princípio” (Gênesis 2:1). Não se
casam nem nascem uns dos outros (Mateus 22:30),
possuem, então, um número inalterável.
Organizam-se em hierarquias, em uma
espécie de companhia (Mateus 22:30; Lucas 20:36;
1 Reis 22:19; Gênesis 32:1; Deuteronômio 4:19;
17:3; Mateus 25:41; 26:53; Efésios 2:2; Apocalipse
2:13; 16:10). Dentre elas destacamos os Querubins,
que velam pela santidade de Deus (Gênesis 3:24), os
Serafins, antropomórficos e dedicados ao louvor a
Deus (Isaías 6:2,6), Principados, Poderes, Tronos,
Domínios (Efésios 1:21; 3:10; Colossenses 1:16;
2:10; 1 Pedro 3:22).
Os únicos mencionados por nome próprio são
Gabriel e Miguel. O primeiro é uma espécie de
mensageiro especial (Lucas 1:19) e o outro um
guerreiro de alta hierarquia (Judas 9; Apocalipse
12:7; Daniel 10:13,21). O livro apócrifo de Tobias
menciona o anjo Rafael.
Possuem velocidade em suas ações (Daniel
9:21), tanto que os escritores sagrados às vezes os
apresentam, figuradamente, com asas, o que
simboliza velocidade. São muito poderosos, dotados
de poderes sobre-humanos (Salmos 103:20; 2 Pedro
2:11; Isaías 37:36; Mateus 28:2; Apocalipse 20:1-3),
o qual é delegado e controlado pelo Deus Todo
Poderoso (2 Samuel 24:16; Apocalipse 18:1,21).
Sua inteligência é superior à humana (2
Samuel 14:17,20; Mateus 24:36) e, assim como
esta, é progressiva, ou seja, eles, desde quando
foram criados até a atualidade têm aprendido e
aperfeiçoado seu nível intelectual. São seres
gloriosos (Lucas 9:26), dotados de alta dignidade e
glória à vista dos homens.
Entre suas atividades estão o louvor constante
a Deus (Jó 38:7; Isaías 6:3; Salmos 103:20; 148:2;
Apocalipse 5:11), auxílio aos salvos (Hebreus 1:14),
júbilo na conversão de pecadores (Lucas 15:10),
participação na vida da igreja (1 Coríntios 11:10; 1
Timóteo 5:21; Efésios 3:10), a ponto de
enriquecerem seu conhecimento acerca de Deus
com sua observação para com a igreja (Efésios 3:1;
1 Pedro 1:12).
O catolicismo afirma a existência de anjos da
guarda, tendo como base textos como Mateus
18:10, que dá a entender a existência de anjos que
cuidam dos pequeninos e Atos 12:15, que expõe a
crença de um grupo de cristãos.
Todos os anjos foram criados bons (Gênesis
1:31), mas alguns caíram de seu estado de santidade
(2 Pedro 2:4; Mateus 6:13; 13:19; 25:41; 1 João
5:18; Judas 6; Apocalipse 12:7,9; João 8:34) e,
embora alguns especulassem que a causa da queda
foi haverem cobiçado mulheres (baseados em
Gênesis 6:2), isto possui pouca base e contraria a
declaração de Jesus de que anjos não têm interesse
por sexo (Mateus 22:30). Os que caíram tornaram-
se demônios, falsos deuses, espíritos angelicais
rebeldes muito citados no Novo Testamento,
particularmente praticando possessões e
enfermidades.
Satanás é o Príncipe dos demônios, o
adversário de Deus, possuindo vários títulos que
identificam suas más ações: Tentador, Belzebu,
Inimigo, Maligno, Belial, Adversário, Dragão,
Sedutor, Acusador, Pecador, Pai da mentira,
Homicida, Destruidor (Apoliom). Também é citado
como possuindo certa autoridade, sendo chamado
de príncipe deste mundo (João 12:31), deus deste
século (2 Coríntios 4:4) e príncipe da potestade do
ar (Efésios 2:2). Convém, no entanto, saber que tal
poder é limitado (cf. Apocalipse 20:2).
DEMONOLOGIA, A DOUTRINA DOS
DEMÔNIOS

O sentido bíblico do termo “demônio” é


diferente daquele dado pelos povos antigos. Homero
os via como homens divinizados, semideuses. Platão
os identifica como mediadores entre os homens e os
deuses. Na Bíblia os demônios são anjos caídos e
seu nome deriva do grego “daimon” ou
“daimonion”.
Sua existência é claramente reconhecida por
Jesus (Mateus 12:27,28; 8:28-32; 10:8; Marcos
16:17) que falou a respeito deles e para eles. Os
setenta discípulos que Jesus enviou também os
reconheceram (Lucas 10:17) e, da mesma forma, os
apóstolos: Paulo (1 Coríntios 10:20,21; 1 Timóteo
4:1; Atos 16:14-18) e Tiago (Tiago 2:19).
Quanto à sua natureza essencial, vemos que
são inteligentes (Mateus 8:29, 31; Lucas 4:35, 41;
Tiago 2:19; Marcos 1:23,24; Atos 19:13,15) e
pessoais, são espirituais (Lucas 9:38,39, 42; Marcos
5:2,7-9,12,13,15) e incorpóreos (Mateus 12: 43,44;
Marcos 5:10-13).
São em grande número (cf. Marcos 5:9;
Lucas 8:30; Mateus 12:26,27), tornando, inclusive,
Satanás ubíquo por meio destes seus representantes.
Possuem um caráter altamente degenerado (Mateus
8:28; Lucas 4:33,36; 9:39), baixa conduta (Lucas
9:39; Mateus 25:22) e que servem a Satanás em
suas ações degeneradas (Mateus 12:24-27).
Com relação a suas atividades, apossam-se
dos corpos de homens ou animais (Marcos 5:8,11-
13, Mateus 4:24; 8:16, 28,33; Atos 8:7), sujeitando-
os a seu domínio perverso. Causam males mentais e
físicos nos homens (Mateus 12:22; Marcos 5:4,5;
9:32,33; Lucas 9:37-42) e produzem impureza
moral no comportamento das pessoas (cf. Marcos
5:2; Mateus 10:1; Efésios 2:2; 2 Pedro 2:10-12).
Enfim, eles propagam a contaminação e degradação
física, mental, moral e espiritual dos homens.
A Bíblia faz distinção entre possessão
demoníaca e doenças causadas por meios comuns,
de modo que nem toda doença tem origem
demoníaca (Mateus 4:24; 8:16; Marcos 1:32,34;
3:10-12; 6:13; 16:17-18; Lucas 4:40-41; 9:1;
13:32).
Satanás

“No Antigo Testamento Satanás é referido em


sete livros, sob diferentes nomes. No Novo
Testamento ele é referido por todos os escritores em
dezenove de seus livros” (George Soltau). Vejamos
o que dizem as Escrituras em João 13:2; Mateus
13:99; Atos 5:3; 1 Pedro 5:8; Efésios 6:11,12;
Zacarias 3:12; Judas 1:6; Apocalipse 12:9.
Ezequiel 28:1-19 fala sobre o príncipe de Tiro
que seria Etebaal II (v. 1-10) e sobre o rei de Tiro (v.
11-19). “É geralmente aceito, por estudantes bíblicos
conservadores, que o rei de Tiro deve ser reputado
como representante (tipo) ou encarnação de
Satanás” (Bancroft).
“Apesar de que essas palavras tenham sido
dirigidas ao rei de Tiro, sem dúvida elas visavam
Satanás, o instigador do pecado do rei de Tiro. O rei
de Tiro nunca esteve no Éden, nem qualquer outro
homem desde Adão foi dali expulso. Também pode-
se notar que o Éden referido aqui já existia antes do
Éden de Adão, sendo notório por sua beleza
mineral, ao passo que o Éden de Adão era notável
por sua beleza vegetal, onde Deus criou toda árvore
que era de autoridade, e isso por nomeação divina –
‘te estabeleci’. O versículo 15 não poderia ser
aplicado a homem algum e estar, ao mesmo tempo,
em harmonia com o resto das Escrituras. Pois, desde
a queda, todos os homens têm sido concebidos em
pecado e formados em iniquidade” (Pratt).
Interpretando alegoricamente Ezequiel 28,
sabemos que Satanás foi criado perfeito em
santidade e beleza (v. 12); estabelecido por Deus
como um querubim da guarda (v. 14); de conduta
impecável (v. 15), mas que elevou seu coração e
encheu-se de vaidade e ambição (v.17; cf. Isaías
14:12-17 e 1 Timóteo 3:6), de maneira que seu
caráter moral rebaixou-se e foi deposto de sua
posição exaltada (v.16; cf. Isaías 14:12 e Ezequiel
28:17). Nas palavras de Scofield: “Quando Lúcifer
disse: ’Eu subirei’, o pecado teve início”.
Analisando a natureza de Satanás, vemos que
é dotado de personalidade. Isto é demostrado pelo
uso de pronomes pessoais aplicados a ele (Jó 1:8;
2:12; Zacarias 3:2); a ele são aplicadas
características e ações típicas a um ser pessoal (1
Timóteo 3:6; João 8:44; 1 João 3:8; Hebreus 2:14; 1
Crônicas 21:1; Salmos 109:6: Zacarias 3:1).
Ele é dotado de caráter, e um caráter astuto,
sagaz, do tipo que o faz armar ciladas e estratagemas
sutis para enganar (2 Coríntios 2:11; Efésios 4:14;
6:11,12); utiliza-se de poder miraculoso (2
Tessalonicenses 2:9; Apocalipse 13:11,14; Mateus
24:24) e toda espécie de engano (2 Coríntios 11:14;
2 Tessalonicenses 2:9,10).
Ocupava uma posição elevada na hierarquia
celestial, de modo que até o Arcanjo Miguel o
respeitava (Judas 9). É chamado de príncipe da
potestade do ar, ou seja, alguém dotado de certa
autoridade nas regiões celestes (ver Efésios 2:2;
Mateus 12:26; Atos 26:18; Colossenses 1:13).
Também é denominado príncipe deste mundo (João
14:30; 12:31; 16:11).
A posição de Satanás como príncipe deste
mundo se nota no episódio da tentação do deserto
(Lucas 4:5-7), onde Satanás oferece a Jesus todos
os reinos do mundo. Também é chamado de deus
deste século (2 Coríntios 4:4; 2 Tessalonicenses
2:3,4) por ser objeto especial de sua atuação.
Ele originou o pecado no universo, ou seja,
foi o primeiro a pecar (Ezequiel 28:15) e induziu a
raça humana ao pecado (Gênesis 3:1-13; 2 Coríntios
11:3). E, assim como ele é a causa primária do
pecado, também é a origem do sofrimento (Atos
10:38; Lucas 13:16), responsável pela morte no
mundo (Hebreus 2:14) e pelo mal (1
Tessalonicenses 3:5; 1 Crônicas 21:1; Mateus
4:1,3,4,6,8,9; 1 Coríntios 7:5).
Satanás ilude os homens (2 Timóteo 2:26; 1
Timóteo 3:7); inspira pensamentos e propósitos
pecaminosos (João 13:2; Atos 5:3); apossa-se dos
homens (João 13:27; Efésios 4:27); cega-lhes as
mentes (2 Coríntios 4:4); dissipa a verdade de seus
corações (Marcos 4:14; Lucas 8:12; Mateus 13:19);
produz os obreiros da iniquidade (Mateus
13:25,38,39) e os capacita (2 Coríntios 11:13-15;
Apocalipse 3:9; Efésios 2:2,3); opõe-se aos servos
de Deus, impedindo-os (1 Tessalonicenses 2:18),
resistindo-lhes (Zacarias 3:1; Daniel 10:13) e
esbofeteando-lhes (2 Coríntios 12:7); põe à prova os
crentes (Lucas 22:31); acusa-os (Apocalipse
12:9,10) e capacitará o Anticristo (2 Tessalonicenses
2:9,10; Apocalipse 12:9,17; 13:1, 27).
Satanás será perpetuamente amaldiçoado
(Gênesis 3:14,15; Isaías 65:25); tratado como
inimigo derrotado de Deus (Colossenses 2:15; João
12:31; 16:8-11; 1 João 3:8; 5:18: Hebreus 2:14);
expulso dos lugares celestiais (Apocalipse 12:9);
aprisionado por mil anos no abismo (Apocalipse
20:1-3); solto por pouco tempo após o milênio
(Apocalipse 20:3b, 7-9); lançado no lago de fogo
(Apocalipse 20:10).
Diabo

A palavra “diabo” é usada 37 vezes no Novo


Testamento grego. O termo grego “diábolos” tem
suas raízes no verbo “diaballo” (“eu acuso”, “eu
denuncio”) que, por sua vez, é originado do
conectivo “dia” (“através de”, “por meio de”) com o
verbo “ballo” (“eu lanço”, “eu arremesso”).
Portanto, uma tradução literal de diábolos seria
“aquele que lança acusações”, “o acusador”.
Um sinônimo para diábolos é a palavra
“kategoros” (“acusador”, “denunciador”). Na certa
o melhor texto que deixa esta definição explícita está
em Apocalipse 12.9-10: “E foi precipitado o grande
dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo e
Satanás... foi derrubado o acusador de nossos
irmãos, o qual os acusava diante de nosso Deus de
dia e de noite”.
Outros textos em que se usa a palavra
“diabo”:
Mateus 4.1,5,8,11: “Então Jesus foi
conduzido ao deserto pelo espírito, para ser provado
[tentado] pelo diabo... então o diabo o transportou
para a cidade santa... novamente o diabo o
transportou para um monte muito alto... então o
diabo o deixou”.
Mateus 13.38-39: “O campo é o mundo e a
boa semente são os filhos do reino; o joio são os
filhos do maligno; e o inimigo que semeou o joio é o
diabo”.
Mateus 25.41: “Então ele [o Rei. v.40] dirá
aos da esquerda: Afastai-vos de mim, ó malditos,
para o fogo eterno que está preparado para o diabo
e os seus anjos!”
Lucas 4.2,3,5,6,13: “Por quarenta dias foi
[Jesus. v.1] provado [tentado] pelo diabo... e o
diabo lhe falou... e o diabo, conduzindo-o para um
monte alto... e o diabo lhe falou... e, concluindo
toda a provação [tentação], o diabo afastou-se dele”.
Lucas 8.11,12: “Portanto, esta é a parábola: A
semente é a palavra de Deus, aqueles que ficam no
caminho são os que ouvem, vindo depois o diabo e
tirando a palavra de seus corações a fim de que não
sejam salvos, crendo”.
João 6.70,71: “Respondeu-lhes Jesus: Não
selecionei a vós doze? Mas um dentre vós é diabo. E
dizia isto acerca de Judas Iscariotes, filho de Simão,
pois ele o haveria de entregar”.
João 8.44: “O vosso pai é o diabo e quereis
satisfazer os desejos de vosso pai, ele que foi
homicida desde o início e não se firmou na verdade,
pois não há verdade nele. Quando ele fala a mentira,
fala do que lhe é peculiar, pois ele é mentiroso e o
pai dos mentirosos”.
João 13.2: “E, terminada a refeição, o diabo
colocou no coração de Judas Iscariotes, filho de
Simão, a intenção de entregá-lo [a Jesus. v. 1]”.
Atos 10.38: “Como Deus ungiu a Jesus de
Nazaré com espírito santo e poder, o qual andou
fazendo o bem e curando a todos os que estavam
sob o poder do diabo”.
Nota: O Códice D (Beza) e o minúsculo 243
trazem,em Lucas 4:2, a palavra satana (Satanás) em
lugar de diabolou . Também oCódice E (Oxford)
traz, em Atos 10.38, a palavra satana (Satanás) em
lugar de diabolou . São, portanto, variantes textuais.
Todos os outros manuscritos em grego usam a
palavra diabolou.
Atos 13.10: “Disse [Paulo a Elimas. vv.8,9]:
Ó homem cheio de toda falsidade e toda malícia,
filho do diabo”.
Efésios 4.27: “Não deis lugar ao diabo”.
Efésios 6.11: “Revesti-vos da armadura de
Deus para poderdes resistir contra as insídias do
diabo”.
1 Timóteo 3.6,7: “[o epíscopo. v. 2] não seja
novato, para que não se ensoberbeça e caia na
condenação do diabo. Convém também que tenha
bom testemunho dos de fora para que não caia em
descrédito e no laço do diabo”.
1 Timóteo 3.11: “as mulheres igualmente
sejam respeitáveis, não diabólicas [maldizentes]”.
2 Timóteo 2.25,26: “Com suavidade se deve
educar os antagonistas. Porventura Deus lhes dará a
mudança de mente para conhecerem a verdade e
voltem a despertar, desprendendo-se dos laços do
diabo, que os mantém cativos à sua vontade”.
2 Timóteo 3.3: “Nos últimos dias... os
homens serão... diabólicos [maldizentes,
caluniadores]”.
Tito 2.3: “As mulheres idosas... não sejam
diabólicas [maldizentes]”.
Hebreus 2.14: “A fim de que [Jesus. v. 9] por
meio da morte aniquilasse aquele que tinha o poder
da morte, isto é, o diabo”.
Tiago 4.7: “Sujeitai-vos a Deus. Resisti ao
diabo e ele fugirá de vós”.
1 Pedro 5.8: “Sede sóbrios e vigilantes, pois o
vosso antagonista [adversário], o diabo, anda ao
vosso redor como um leão que ruge, procurando
alguém para devorar”.
1 João 3.8,10: “Quem pratica o pecado é do
diabo, pois o diabo peca desde o princípio. Para isto
se manifestou o filho de Deus, para destruir as obras
do diabo... e nisto se manifestam os filhos de Deus e
os filhos do diabo: Todo aquele que não pratica a
justiça não é de Deus, bem como aquele que não
ama a seu irmão”.
Judas 9: “E o arcanjo Miguel lutava contra o
diabo...”.
Apocalipse 2.10: “O diabo lançará alguns de
vós na prisão, para serdes provados [tentados]...”.
Apocalipse 12.9-10,12: “E foi precipitado o
grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo
e Satanás... foi derrubado o acusador de nossos
irmãos, o qual os acusava diante de nosso Deus de
dia e de noite... Ai dos que habitam na terra e no
mar, pois o diabo desceu até vós”.
Apocalipse 20.1-3,10: “E vi um anjo
descendo do céu tendo uma chave do abismo e uma
grande cadeia na mão. Ele prendeu o dragão, a
antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-
o por mil anos e o lançou no abismo... e o diabo,
que os seduzira, foi lançado no lago e fogo e
enxofre”.
No episódio da tentação de Cristo, o diabo
aparece como uma pessoa. Embora não se descreva
sua aparência, ele realiza atividades como
transportar Jesus de um local para outro e mesmo
dialogar com ele, deixando-o ao fim do diálogo
(Mateus 4.1-11; Lucas 4.1-13).
Na parábola do semeador, Jesus distingue os
filhos do reino e os filhos do maligno (poneros),
identificando este maligno com o diabo, um inimigo
(exthros) que semeou o joio na plantação de trigo
(Mateus 13.18-30, 36-43; Lucas 8.4-15).
Numa parábola sobre o fim dos tempos, o
diabo tem anjos que o seguem e para os tais está
preparado o fogo eterno (Mateus 25.13-46). Logo,
fica evidente aqui uma relação do diabo com os
seres chamados anjos. Obviamente, um grupo de
anjos rebeldes.
No Evangelho de João, a palavra “diabo” é
usada para se referir a Judas (6.70,71), significando
que ele seria o acusador, por acusar e entregar Jesus
para ser julgado. Por outro lado, no mesmo
Evangelho Jesus diz que os fariseus eram filhos do
diabo, que é o pai dos mentirosos (8.44).
O apóstolo Paulo usou os mesmos termos
para se referir a um mago chamado Elimas (Atos
13.10). A epístola de João também estabelece uma
oposição entre filhos de Deus e filhos do diabo (1
João 3.8,10). Por fim, diz o livro que o diabo
inspirou em Judas a intenção de trair Jesus (13.2).
Portanto, salvo a ocasião em que Judas é
chamado de diabo, com o sentido de acusador e
traidor, considera o Evangelho de João que o diabo
é um ser maligno, pai dos mentirosos e que tinha o
poder de inspirar intenções malignas, como fez em
Judas.
Em Atos dos Apóstolos (10.38), o apóstolo
Pedro afirma que Jesus curava pessoas que estavam
sob o poder do diabo, podendo aqui ser uma
referência aos casos de exorcismo mencionados nos
evangelhos.
Em suas recomendações aos fiéis, o apóstolo
Paulo disse para “não dar lugar ao diabo” (Efésios
4.27) e “resistir contra as insídias do diabo” (Efésios
6.11), subentendendo, portanto, que a influência do
diabo sobre uma pessoa depende de sua abertura ou
vulnerabilidade à tal.
Ao falar sobre a retidão moral dos bispos,
advertia para que não caíssem na “condenação do
diabo” e no “laço do diabo” (1 Timóteo 3.6,7). Este
texto não tem uma interpretação clara. Pode
significar não cometer o pecado da soberba que o
diabo cometeu, mas também pode se referir ao
“diabo” como a injúria ou acusação feita, por
exemplo, pelos infiéis, caso vissem um bispo
cometer alguma falta.
Por fim, pode também significar que a pessoa
caiu em poder do diabo ou “deu lugar ao diabo”
(Efésios 4.27), pois assim Paulo se refere às pessoas
que ele chama de “antagonistas”: pessoas que estão
presas nos laços do diabo (2 Timóteo 2.25,26).
Paulo também usa o termo “diabólico” para
se referir a pessoas que praticam a acusação e a
calúnia, que é o significado básico da palavra
“diabo” (1 Timóteo 3.11; 2 Timóteo 3.3; Tito 2.3).
Calúnia, mentira e enganação parecem ser as
características mais associadas ao diabo.
É possível que esta noção do Novo
Testamento acerca do diabo tenha se originado do
Satã que aparece no livro de Jó. Ali, ele é uma
criatura que comparece diante de Deus para acusar
Jó de ser um falso justo e pretende prová-lo. Nos
evangelhos, ele igualmente se apresenta como
alguém disposto a provar a justiça, agora de Jesus.
O diabo, destarte, aparece como um
descrente e acusador. Ele lança suspeitas sobre a
retidão dos justos e os acusa por meio de calúnia.
Sendo versado na mentira, também faz com que as
pessoas sob seu poder vivam na mentira, cegos e
sem conhecer a verdade.
Nota-se, portanto, que no Novo Testamento o
diabo não é meramente um monstro assustador e
sanguinolento que, como uma fera irracional, apenas
deseja destruir. Não é uma fera irracional, mas um
ser inteligente e ardiloso, que usa de estratégias,
métodos (methodeias – Efésios 6.11), cujo
propósito é cegar as mentes e mergulhar todos na
ilusão. Ou seja, ele é um opositor da evolução
espiritual do homem.
Em Hebreus, afirma-se que o diabo tinha o
poder da morte e isto foi aniquilado por meio da
morte de Jesus (2.14).
Tiago faz uma relação entre sujeitar-se a Deus
e resistir ao diabo (4.7).
Em Judas (9) o diabo lutou contra o arcanjo
Miguel, mais uma vez assemelhando o diabo a uma
espécie de ser celestial ao nível dos anjos ou
arcanjos.
No Apocalipse (12.9-10,12; 20.1-3,10) o
diabo é claramente associado à “antiga serpente”,
uma menção à história hebraica da tentação de Adão
e Eva por meio de uma serpente. Também é
chamado de “Satanás”, nome de uma criatura que
aparece no livro de Jó para prová-lo. Ainda é
chamado de “grande dragão”.
O dragão é uma criatura mítica presente em
muitas crenças antigas. O Tiamat babilônico era um
dragão marinho e foi derrotado por Marduk. É
provável que a figura do dragão tenha sido
conhecida pelos judeus quando estavam cativos na
Babilônia. Ele representa o caos e a destruição. O
livro do Apocalipse consuma a definição do diabo
como o grande inimigo a ser derrotado, dando-lhe
uma grandeza cósmica.
Nota-se que o conceito “diabo” evoluiu ao
longo do primeiro século de literatura cristã. O
Evangelho de Marcos, o primeiro a ser escrito,
sequer utiliza a palavra “diabo”. Mateus e Lucas
falam dele como alguém que tem o propósito de
semear a discórdia e tentar as pessoas ao pecado,
como fez com o próprio Jesus, mas sem êxito.
Nas cartas dos apóstolos, o diabo já aparece
como um ser invisível e ubíquo que é capaz de
seduzir e dominar as pessoas, de modo que é preciso
resistir à suas investidas para não cair em seu laço.
Por fim, no Apocalipse, o diabo adquire uma
grandeza épica. Ele desbrava uma batalha
envolvendo o mundo humano e celestial até
finalmente ser derrotado.
BIBLIOGRAFIA

A Bíblia de Jerusalém.
A Bíblia de Genebra.
A Bíblia Anotada (Charles C. Ryrie).
Êxodo, introdução e comentário (R. Alan Cole).
I e II Timóteo e Tito (J. N. D. Kelly).
Doutrinas Centrais da Fé Cristã (J. N. D. Kelly) II
Pedro e Judas (Michael Green).
Os Atributos de Deus (A. W. Pink).
O Cristianismo Através dos Séculos (Earle E.
Cairns).
Salvos pela Graça (Anthony A. Hoekema).
Teologia Elementar (E. H. Bacroft).
Teologia Sistemática (Berkhof).
Manual de Teologia (John L. Dagg).
Teologia Concisa (James I. Packer).

Você também pode gostar