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Os Fenômenos de Segregação e Exclusão Social

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OS FENÔMENOS DE SEGREGAÇÃO E

EXCLUSÃO SOCIAL NA SOCIEDADE DO


CONHECIMENTO

JUAN CARLOS TEDESCO


Diretor do Instituto Internacional de Planificación de la Educación, Filial da Unesco–
Buenos Aires/Argentina
j.tedesco@iipe-buenosaires.org.ar

RESUMO

O artigo analisa os novos fenômenos de desigualdade e exclusão desencadeados pela utilização


intensiva do conhecimento e da informação na organização do trabalho, por um lado, e, nas
instituições políticas e culturais, pelo outro. A partir dessa análise são apresentadas algumas
conseqüências para a educação, particularmente as que se referem ao papel desta em relação
à mobilidade social, aos riscos da privatização dos circuitos nos quais se reproduz e distribui o
conhecimento socialmente mais significativo, bem como em relação às mudanças na atuação da
escola do ponto de vista do processo de socialização.
MOBILIDADE SOCIAL – DESIGUALDADES SOCIAIS – TRABALHO – EDUCAÇÃO

ABSTRACT

THE PHENOMENA OF SEGREGATION AND SOCIAL EXCLUSION IN THE KNOWLEDGE


SOCIETY. This article analyzes the new phenomena of inequality and exclusion resulting from the
intensive use of knowledge and information in the organization of work, on one hand, and in
political and cultural institutions, on the other. Based on this analysis, some consequences for
education are presented, particularly those regarding its role in relation to social mobility, the risks
of privatizing the circuits in which socially significant knowledge is reproduced and distributed, as
well as to changes in schools’ work from the point of view of the socialization process.
SOCIAL MOBILITY – SOCIALLY DISADVANTAGE – WORK – EDUCATION

Versão traduzida deste artigo está disponível em : www.mec.gov.br/semtec/escjov.shtm

Cadernos de Pesquisa, n. 117, novembro/ 2002


p. 13-28, novembro/ 2002 13
Já se disse repetidamente que o fim do século e a entrada no novo milênio
estão associados a um profundo processo de transformação social. Não estamos
vivendo uma das periódicas crises conjunturais do modelo capitalista de desenvol-
vimento, mas a aparição de novas formas de organização social, econômica e
política1. A crise atual, conseqüentemente, é uma crise estrutural, cuja principal
característica é que as dificuldades de funcionamento se produzem simultanea-
mente nas instituições responsáveis pela coesão social – o Estado-Providência –,
nas relações entre economia e sociedade – a crise do trabalho – e nos modos de
constituição das identidades individuais e coletivas – crise de sujeito (Fitoussi,
Rosanvallon, 1996).
Um dos aspectos centrais da nova organização social que se está confor-
mando a partir desta crise é que o conhecimento e a informação estariam substituindo
os recursos naturais, a força e o dinheiro, como variáveis-chave da geração e distri-
buição do poder na sociedade. Ainda que o conhecimento tenha sido sempre uma
fonte de poder, passaria a ser, agora, sua fonte principal, o que produziria efeitos
marcantes sobre a dinâmica interna da sociedade (Thurow, 1996).
As primeiras análises sobre o papel do conhecimento e da informação como
variáveis centrais do poder foram significativamente otimistas sobres suas
potencialidades democratizadoras. Alvin Toffler foi, sem dúvida alguma, o represen-
tante mais importante dessa corrente. Suas análises baseavam-se no caráter essen-
cialmente democrático que tem tanto a produção como a distribuição dos conhe-
cimentos e das informações. Segundo Toffler, o conhecimento é infinitamente
ampliável. Seu uso não o desgasta; ao contrário, pode produzir ainda mais conhe-
cimento. A produção de conhecimentos requer, além disso, um ambiente de
criatividade e de liberdade, oposto a toda tentativa autoritária ou burocrática de
controle do poder. Deste ponto de vista, a utilização intensiva de conhecimentos
produz a dissolução das formas burocráticas de gestão, porque obriga a renovar
permanentemente as linhas de decisão em razão da acumulação e do intercâmbio
de conhecimentos. Por último, a distribuição de conhecimentos é muito mais de-
mocrática que a distribuição de qualquer outro fator tradicional de poder, já que “o
fraco e o pobre podem adquiri-lo” (Toffler, 1990).
De uma perspectiva mais pedagógica, a centralidade do conhecimento tam-
bém inspirou inicialmente algumas posturas otimistas sobre o futuro da sociedade,

1 Ver, entre outros, Drucker, 1993; Minc, 1994; Toffler, 1990; Gorz, 1997; Castells, 1997;
Boltansky, Chiapello,1999.

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já que a idéia segundo a qual o desenvolvimento cognitivo tem alguma influência
nas condutas e no comportamento das pessoas esteve sempre na base das propos-
tas de mudança social. Ensinar a pensar bem, a pensar melhor, estava associado
geralmente à idéia de formar um ser mais “humano”. As últimas versões dessa
abordagem provêm de pensadores vinculados ao desenvolvimento de enfoques
interdisciplinares que permitam compreender adequadamente a complexidade dos
fenômenos. A suposição básica deste ponto de vista é que as pessoas capazes de
compreender a complexidade atuariam de maneira mais responsável e consciente.
Segundo Edgar Morin, por exemplo, a inteligência que só sabe separar atrofia
as faculdades de compreensão e de reflexão, eliminando assim as possibilidades de
um juízo correto ou de uma perspectiva a longo prazo. Uma inteligência incapaz de
perceber o contexto e o complexo planetário torna as pessoas cegas, inconscientes
e irresponsáveis (1999).
Mas o otimismo inicial desses enfoques foi substituído rapidamente por vi-
sões mais realistas e complexas sobre os efeitos democratizadores dos novos pa-
drões de organização social e econômica baseados no conhecimento e na informa-
ção. A hipótese mais geral, sobre a qual queremos apoiar nossa análise, sustenta
que uma sociedade baseada no uso intensivo de conhecimentos produz simultane-
amente fenômenos de mais igualdade e de mais desigualdade, de maior homo-
geneidade e de maior diferenciação.
Neste texto tentaremos analisar esses fenômenos, baseados no impacto da
utilização da informação e dos conhecimentos na organização do trabalho por um
lado, e nas instituições políticas e culturais por outro. Com base nessa análise, na
última parte do texto serão apresentadas algumas conseqüências do ponto de vista
da educação.

O AUMENTO DA DESIGUALDADE E DA HOMOGENEIDADE

Em primero lugar, ressalte-se que um dos fenômenos mais importantes nas


transformações sociais atuais é o aumento significativo da desigualdade social.
A evolução da distribuição de renda no mundo nas últimas décadas permite
observar que, em geral, mantêm-se altos os níveis de concentração de riqueza nos
países em desenvolvimento, e que os países ricos atravessam um processo signifi-
cativo de concentração de renda que os aproxima do perfil dos países em desen-
volvimento.
Apesar de existir um consenso quanto ao reconhecimento da complexidade
desses processos, também se admite que um dos fatores fundamentais associado

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ao aumento da desigualdade é a transformação na organização do trabalho. A esse
respeito, as informações disponíveis permitem verificar que a incorporação de no-
vas tecnologias ao processo produtivo está associada à eliminação de numerosos
postos de trabalho. Nesse contexto, a maior parte dos novos postos de trabalho
não é criada nos setores tecnologicamente mais avançados, mas nos serviços em
que o custo do trabalho representa uma proporção importante do preço do pro-
duto.
Essa diferença no ritmo de criação de postos de trabalho está associada a
diferenças salariais. Enquanto os setores de alta produtividade podem ter políticas
salariais generosas, os setores de serviços, nos quais o vínculo entre salários e em-
prego é muito alto, estão obrigados a aumentar moderadamente os salários, caso
queiram ampliar o número de empregos. Essa dinâmica, em que o emprego dimi-
nui nos setores que podem pagar bons salários e aumenta naqueles que pagam
salários modestos, explica as razões pelas quais “a recomposição do emprego em
função da evolução tecnológica aumenta a desigualdade” (Foucauld; Piveteau, 1995).
Em segundo lugar, as transformações na organização do trabalho estão pro-
vocando não só o aumento nos níveis de desigualdade como a aparição de um
novo fenômeno social: a exclusão da participação no ciclo produtivo. Nesse senti-
do, os estudos sobre as possibilidades oferecidas pelas novas formas de organiza-
ção do trabalho indicam que elas poderiam incorporar de maneira estável só uma
minoria de trabalhadores, para os quais haveria garantias de segurança no emprego
em troca de uma identificação total com a empresa e com suas exigências de
reconversão permanente. Para o resto, em compensação, seriam criadas condi-
ções de extrema precariedade, expressas por formas tais como contratos temporá-
rios, trabalhos interinos, trabalhos de tempo parcial e, no extremo destas situações,
o desemprego.
Com a exclusão no trabalho, produzir-se-ia uma exclusão social mais geral
ou, como preferem dizer alguns autores, uma “desfiliação” em relação às instâncias
sociais mais significativas (Castel, 1995).
O fenômeno da exclusão social provoca, deste ponto de vista, uma modifi-
cação fundamental na estrutura da sociedade. Segundo esse enfoque, estaríamos
vivendo um momento de transição:

a. de uma sociedade vertical, baseada em relações sociais de exploração


entre os que ocupam posições superiores, em face dos que ocupam as
posições inferiores;

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b. a uma sociedade horizontal, em que o importante não é tanto a hierarquia
como a distância em relação ao centro da sociedade.

A exclusão tende, dessa maneira, a substituir a relação de exploração. A


comparação entre ambos os modelos de relações permite notar que os vínculos
entre exploradores e explorados são completamente diferentes dos que se estabe-
lecem entre incluídos e excluídos.
Exploradores e explorados pertencem à mesma esfera econômica e social,
já que os explorados são necessários para manter o sistema. A tomada de consciência
da exploração pode provocar, além disso, uma reação de mobilização coletiva e de
conflito organizado pelas instituições representativas dos explorados, como os sin-
dicatos, os partidos políticos etc.
A exclusão, em compensação, não implica relação, mas sim divórcio. A to-
mada de consciência da exclusão não gera uma reação organizada de mobilização.
Na exclusão não há grupo contestador, nem objeto preciso de reivindicação, nem
instrumentos concretos para impô-la. Como resumiu recentemente um analista
desses fenômenos, enquanto a exploração é um conflito, a exclusão é uma ruptura
(Castel, 1995, p.147).
Mas a complexidade destes processos evidencia-se quando constatamos que
o aumento da desigualdade e a aparição da exclusão coexistem com uma significa-
tiva diminuição da importância das hierarquias tradicionais. Na organização do tra-
balho baseada na utilização intensiva de conhecimentos, tende-se a substituir as
tradicionais pirâmides de relações de autoridade, próprias do modelo fordista de
produção, por redes de relações cooperativas. Nesse esquema, todas as fases do
processo produtivo são importantes, e o pessoal, seja em que nível da hierarquia
esteja, desempenha um papel crucial.
A transformação das pirâmides hierárquicas tradicionais, no entanto, não im-
plica a desaparição da desigualdade nem das relações de poder no interior das
organizações. A maior flexibilidade está provocando a aparição de novas e mais
complexas formas de relações de trabalho, em que a tensão mais importante é a
que se produz entre as demandas de lucro em curto prazo, por parte dos acionis-
tas, e as demandas de planejamento, compromisso e confiança que reclamam as
pessoas que investem todas suas capacidades pessoais no processo produtivo.
Richard Sennett, em um livro recente sobre as conseqüências das transfor-
mações na organização do trabalho sobre a personalidade, apresentou alguns des-
ses problemas de maneira muito acentuada. A respeito do tema que mais nos

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interessa neste texto – o tema da eqüidade – Sennett sustenta que, nos atuais
processos de descentralização das unidades produtivas, o poder central age através
de outros mecanismos igualmente poderosos, mas amorfos. Um dos mecanismos
é a fixação de metas e resultados que, geralmente, são superiores às capacidades
reais e obrigam a produzir muito mais do que o habitual. A respeito da substituição
das hierarquias tradicionais, Sennett sustenta que, com as mudanças contínuas de
trabalho e de tarefas, produzem-se movimentos novos e ambíguos:

Na medida em que as hierarquias piramidais vão sendo substituídas por estruturas


mais flexíveis, as pessoas que mudam de trabalho experimentam, com grande fre-
qüência, o que os sociólogos denominaram “movimentos ambiguamente laterais”.
São movimentos em que as pessoas se movem, em realidade, para o lado, ainda
que creiam mover-se para cima na rede flexível […] Outros estudiosos da mobilida-
de social insistem nas chamadas “perdas retrospectivas” em uma rede flexível. Uma
vez que as pessoas que se arriscam a mover-se em organizações flexíveis costumam
ter pouca informação confiável sobre o que leva a uma nova posição, só retrospec-
tivamente percebem que tomaram decisões equivocadas. […] a mobilidade profis-
sional na sociedade contemporânea é, a miúdo, um processo ilegível.
[...]
A cultura moderna do risco caracteriza-se pela mobilidade, porque não se mover é
sinônimo de fracasso e a estabilidade parece quase uma morte em vida. Portanto,
o destino importa menos que o ato de partir. Imensas forças econômicas e sociais
dão forma à insistência de ir adiante; a desordem das instituições, o sistema de
produção flexível, realidades materiais que fazem água. Ficar quieto equivale a ficar
fora do jogo. […] Não é que a desigualdade e a diferença social tenham desapare-
cido; nada mais distante do que isso. Ao contrário, é como se, ao entrar em movi-
mento, de repente fosse suspensa a realidade pessoal; ninguém é tão calculista,
nem escolhe tão racionalmente, mas espera que algo surja com a mudança. (Sennett,
2000, p.89-91)

Nesse sentido, é interessante retomar uma hipótese provocativa apresenta-


da por Cohen, segundo a qual as economias de conhecimento intensivo e produ-
toras de idéias são menos eqüitativas que as economias de mão-de-obra intensiva
e fabricantes de objetos. A tendência a excluir os que não têm idéias parece ser
mais forte que a tendência a excluir os que não têm riquezas (1997). Na base dessa
situação encontra-se o comportamento inspirado na hipótese do “erro zero”. Como
se sabe, esta hipótese foi elaborada a partir do acidente da nave espacial Challenger,
em que todo o esforço e o investimento realizados nesse projeto se perderam por
uma simples falha em uma conexão secundária.

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A análise desse exemplo permite constatar que, no marco das atuais
tecnologias de produção, a menor disfunção de uma das partes ameaça a produção
em seu conjunto. Conseqüentemente, os níveis de qualidade e de qualificação dos
trabalhadores que se desempenham em um mesmo processo produtivo devem
ser semelhantes. Os melhores tendem a agrupar-se com os melhores, e os medío-
cres com os medíocres. Este fenômeno, relativamente normal e conhecido, tende
a exacerbar-se com a expansão das novas tecnologias e a possibilidade de descen-
tralizar e de tornar externos segmentos importantes da produção. Dessa forma,
cada unidade de produção transforma-se em um subconjunto homogêneo de um
processo produtivo muito mais amplo.
Como indicador dessa tendência, Cohen resume em seu livro as informa-
ções disponíveis a respeito da França onde, entre 1986 e 1992, a homogeneidade
da força de trabalho, nas empresas que ocupam mais de dez pessoas, aumentou
em mais de 20%. Nesse contexto, a segmentação e a desigualdade mudam de
sentido. Na economia capitalista tradicional, cada segmento social era uma catego-
ria e “a desigualdade se produzia entre grupos sociais”. Agora, em compensação, a
segmentação se produz dentro de cada grupo social. De acordo com os dados
apresentados por Cohen, por exemplo, mais de 70% do fenômeno da desigualda-
de americana se explica pela diferença de salários entre trabalhadores jovens, entre
graduados ou entre trabalhadores da indústria.
Em resumo, enquanto as desigualdades tradicionais eram fundamentalmen-
te intercategoriais, as novas desigualdades são intracategoriais. Do ponto de vista
subjetivo, uma das características mais importantes desse fenômeno é a dificuldade
de auto-aceitação, já que ele põe em cheque a representação que cada um tem de
si mesmo. As novas desigualdades provocam, por isso, um sofrimento muito mais
profundo, porque são percebidas como um fenômeno mais pessoal que socioe-
conômico e estrutural (Fitoussi, Rosanvallon, 1996).

A IDEOLOGIA DA DESIGUALDADE

O aumento da desigualdade, descrito sumariamente nas seções anteriores,


vem acompanhado por um aumento igualmente importante das teorias que ten-
dem a justificar o fenômeno. Enquanto no modelo capitalista tradicional a pobreza
ou a condição assalariada podiam ser percebidas como conseqüências de uma or-
dem social injusta, no novo capitalismo tendem a ser associadas à natureza das
coisas e, em última instância, à responsabilidade pessoal. Não é casual, por isso,
observar o ressurgimento de idéias que tendem a explicar a vigência de determina-

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dos padrões de conduta, dos níveis de desenvolvimento cognitivo pessoal e do
lugar na estrutura social por fatores genéticos.
Uma das versões mais difundidas deste neodarwinismo social é a do livro de
Herrnstein e Murray (1994), baseado no pressuposto de que a habilidade cognitiva
será a variável decisiva na estrutura social que se está conformando para o novo
século e, segundo o qual, essa habilidade é fundamentalmente hereditária. Alguns
cientistas sociais assumiram esse enfoque que, paradoxalmente, anula qualquer pos-
sibilidade de análise social das condutas humanas. Francis Fukuyama, por exemplo,
sustenta, em um de seus mais recentes ensaios, que os comportamentos sociais se
explicam por fatores genéticos e espera ainda que, nas próximas décadas, sejam
descobertas novas relações entre alguns outros comportamentos e o código gené-
tico. Para Fukuyama (1999), como para outros ensaístas dessa mesma corrente,
fenômenos tais como criminalidade, dependência química, alcoolismo, promiscui-
dade, separações, divórcios e outras “condutas desviadas” seriam explicados por
fatores genéticos-hereditários e, portanto, dificilmente modificáveis através de polí-
ticas sociais.
Um exemplo dessa postura pode-se ver nos seguintes parágrafos :

A compreensão do substrato natural em que as relações sociais são construídas


permite começar a elaborar conexões causais entre alguns dos fenômenos que te-
mos documentado. A mais óbvia delas é aquela entre a família desestruturada e o
abuso de crianças [...] A desestruturação familiar está também fortemente associada
à criminalidade [...] Há evidências substanciais de que, além de mais promíscuos, os
jovens de sexo masculino são significativamente mais agressivos e violentos do que
mulheres e homens mais velhos; algo que decorre mais de seu perfil psicológico do
que da cultura. (p.34-35)

A desigualdade justificada com base nos resultados da pesquisa genética é


um dos principais exemplos acerca do papel que poderá desempenhar o conheci-
mento na determinação da estrutura social. A informação genética permitirá predi-
zer trajetórias de vida com muito mais precisão do que no passado, e a utilização
dessa informação tem potencialidades enormes sobre todo o sistema de relações
sociais2 (Rifkin, 1998).

2 Uma das primeiras e mais importantes reações internacionais ante as conseqüências do de-
senvolvimento da biotecnologia constitui a Declaração Universal sobre o Genoma Humano
e os Direitos Humanos, aprovada em 11 de novembro de 1997 pela 29ª Reunião da Confe-
rência Geral da Unesco.

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Não só as companhias de seguros podem usar essa informação para definir
que tipo de tratamento oferecerão aos assegurados, como os empregadores po-
dem também aplicar esses resultados em suas políticas de recrutamento de pes-
soal, as escolas, no recrutamento de alunos etc. Abre-se, assim, a possibilidade de
uma sociedade organizada em novas e mais virulentas formas de discriminação,
baseadas no perfil genético de cada um.
A disponibilidade de informação genética diminui a possibilidade de conti-
nuar administrando justiça segundo o princípio do “véu de ignorância”, apresentado
por Rawls, (1978), em sua teoria da justiça . A justiça no Estado-Providência, e em
todas as formas de solidariedade, funciona sobre a base desse véu de ignorância
que não indaga sobre as particularidades de cada indivíduo. Essa ignorância contri-
bui para a coesão e para socialização. Ao contrário, quando as informações sobre as
particularidades de cada indivíduo se multiplicam, põe-se em marcha um mecanis-
mo de “dessolidarização”, de ruptura da coesão e de enfraquecimento do papel da
socialização (Rosanvallon, 1995; Fitoussi, Rosanvallon, 1996).
Diante dessas tendências e como resposta às ideologias neoconservadoras,
está-se gerando um novo pensamento democrático, baseado na idéia de que elimi-
nar a desigualdade não é contraditório como respeito à diversidade. De acordo
com tais postulados, a justiça e a solidariedade são elementos básicos para garantir
o caráter sustentado do desenvolvimento social.
Mas esses princípios de justiça e eqüidade já não podem ser aplicados da
mesma maneira que no passado. A justiça, por exemplo, não pode estar baseada
na idéia de tratar a todos da mesma maneira. A justiça, particularmente a justiça
social, deve tirar a venda que cobre seus olhos e que a impede de ver a quem se
dirige, e tratá-lo de maneira mais adequada a sua situação.
A maior disponibilidade de informação pode também ser a base de estraté-
gias de ações sociais mais eficazes para o sucesso da justiça e não, como sugerem os
enfoques conservadores, um fator de discriminação. Mas esse novo enfoque da
justiça social está intimamente associado ao fortalecimento da dimensão política da
sociedade e, em particular, da democracia, porque somente com um forte sentido
de pertinência coletiva é possível aceitar a idéia da redistribuição direta dos bens
(Fitoussi, Rosanvallon, 1996). Desse ponto de vista, é muito importante vincular a
análise das tendências no âmbito da organização do trabalho com as transforma-
ções no âmbito sociopolítico, em que o tema principal é o que se refere às transfor-
mações no Estado-Nação.

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A CRISE DO ESTADO-NAÇÃO

Uma das características mais importantes das mudanças na dimensão política


é a que está relacionada com os processos de “deslocação” e “realocação” das
pertinências e das identidades nacionais e culturais. Associada ao processo de
globalização econômica, há uma tendência a construir entidades políticas
supranacionais, capazes de enfrentar os desafios postos tanto em nível planetário
como multinacional, tais como volumes crescentes de transações financeiras inter-
nacionais, problemas derivados do cuidado com meio ambiente (buraco na cama-
da de ozônio, reaquecimento da crosta terrestre etc.), expansão do delito interna-
cional (narcotráfico, prostituição etc.) e expansão da Internet como veículo de cir-
culação de informações sem regulamentação possível em nível nacional.
Como resultado desses processos, o conceito de cidadania associado a Na-
ção (Schnapper, 1994) começa a perder significado. Em seu lugar, aparecem tanto
a adesão a entidades supranacionais como também, ao contrário, uma volta ao
sentido comunitário local, em que a integração se define fundamentalmente como
integração cultural e não como integração política.
Essa mudança no conceito de cidadania tem enormes implicações. A apari-
ção do local e do supranacional como novos espaços de participação social está
associada a fenômenos de ruptura da ação política tal como concebida até agora. A
construção de um conceito de cidadania mundial, de cidadania planetária, exige um
conceito de solidariedade vinculado à pertinência ao gênero humano e não a algu-
ma de suas formas particulares. Essa construção enfrenta, no entanto, enormes
dificuldades, a maioria delas vinculada a formas por meio das quais se produz o
processo de globalização.
Do ponto de vista econômico, a globalização não significa só que os capitais
podem mover-se rápida e livremente por todo o planeta. O fenômeno socialmen-
te mais importante é que, como as empresas podem instalar-se em qualquer parte
do mundo e manter-se conectadas através de redes de informação, elas tendem a
radicar-se ali onde os custos são menores. Esse fenômeno produz o que se deno-
minou “uma espiral descendente de redução de custos sociais”, que tende a debi-
litar a capacidade dos Estados nacionais para manter os níveis tradicionais de bene-
fícios sociais e de bem-estar (Castells, 1997). A globalização econômica, em sínte-
se, reduz a capacidade do Estado para definir sua política monetária, seu orçamen-
to, sua arrecadação de impostos e a satisfação das necessidades sociais de sua po-
pulação.

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Ao estar baseada fundamentalmente na lógica econômica e na expansão de
mercado, a globalização rompe com os compromissos locais e as formas habituais
de solidariedade e de coesão com nossos semelhantes. As elites que atuam em
nível global tendem a comportar-se sem compromisso com os destinos das pes-
soas afetadas pelas conseqüências da globalização. A resposta a este comporta-
mento por parte dos excluídos é o refúgio na identidade local, em que a coesão do
grupo se apóia na rejeição aos “externos”.
Nesse sentido, numerosos diagnósticos da sociedade atual mostram que a
ruptura dos vínculos tradicionais de solidariedade, provocada pelo processo de glo-
balização, gerou novas formas de exclusão, de solidão e de marginalidade. As formas
de associação e de expressão de alguns desses setores excluídos tendem a apoiar-se
em valores de intolerância, de discriminação e de exacerbação dos particularismos.
Enquanto na cúpula as elites que participam da economia supranacional criam o risco
de que seu desapego à nação estimule um individualismo “associal”, fundamentado na
falta total de solidariedade, na base observam-se fenômenos regressivos de rejeição
ao diferente, de xenofobia e de coesão autoritária.
Manuel Castells, em livro já citado, explica com clareza esse processo que dá
lugar ao aparecimento do fenômeno atual do fundamentalismo e de Estados
fundamentalistas. De acordo com sua análise, o Estado-Nação, para sobreviver à
crise de legitimidade, cede poder e recursos aos governos locais e regionais. Nesse
processo, perde capacidade para igualar os interesses diferentes e representar o
“interesse geral”. Esse processo deslegitima ainda mais o Estado, particularmente
diante das minorias discriminadas, que buscam proteção nas comunidades locais ou
em outro tipo de estruturas. Segundo Castells

... o que começou como um processo de “relegitimação” do Estado, mediante a


passagem do poder nacional ao local, pode acabar aprofundando a crise de legitimação
do Estado-nação e a tribalização da sociedade em comunidades construídas em
torno de identidades primárias. (1997, p.304)

Em síntese, tanto as mudanças nos modelos de organização do trabalho,


como as transformações nas estruturas de participação social e política estão esti-
mulando a aparição de formas novas de segmentação e diferenciação social. A ca-
racterística comum desses novos tipos de diferenciação é que se apóiam, seja em
fatores naturais, como genes, inteligência ou etnia, seja em fatores culturais de forte
conotação de adscrição, como a religião ou a língua.
Nesse contexto é possível compreender a ênfase que outorgam as análises
prospectivas, inspiradas em objetivos democráticos, ao desenvolvimento da capaci-

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dade de conviver como condição da construção de uma ordem social sustentável
(Delors, 1996). Fortalecer a coesão social sobre a base da aceitação consciente da
existência do “outro”, do diferente, converteu-se de novo no principal objetivo das
instituições responsáveis pelo processo de socialização, particularmente da escola.

A EDUCAÇÃO E OS DESAFIOS DO FUTURO

A análise efetuada até aqui permitiu apreciar a importância das transforma-


ções que estão se registrando na estrutura econômica, política e cultural da socie-
dade. As formas emergentes de organização social apóiam-se no uso intensivo do
conhecimento e das variáveis culturais de associação e participação social. Nesse
contexto, as instâncias através das quais se produzem e se distribuem o conheci-
mento e os valores culturais – instituições educacionais, educadores, intelectuais
em geral – ocuparam um lugar central não só na análise das novas configurações,
como na definição de estratégias de intervenção social e política.
Não é possível, nos limites deste documento, efetuar uma análise exaustiva
do papel da educação na sociedade. Limitar-nos-emos, então, a assinalar três pon-
tos cruciais para a discussão e a análise posterior.
Em primeiro lugar, é preciso mencionar a mudança no papel da educação
diante da mobilidade social. No capitalismo tradicional, como se sabe, a educação
estava diretamente associada às possibilidades de mobilidade social. Ascender na
hierarquia do sistema educativo significava ascender a níveis mais complexos do
conhecimento e a posições mais altas na estrutura ocupacional. Mas à medida que
a estrutura ocupacional de tipo piramidal tende a perder importância e as redes
expandem-se como modelo de organização das instituições, diminui a importân-
cia da mobilidade social vertical e aumentam, em compensação, as oportunidades
de mobilidade horizontal. A educação também modifica seu papel já que, por um
lado, será a variável mais importante que permitirá entrar ou ficar fora do círculo
no qual se definem e realizam as atividades socialmente mais significativas e, por
outro, será necessário educar-se ao longo de toda a vida para poder adaptar-se
aos requerimentos cambiantes do desempenho social e produtivo. No futuro,
paradoxalmente, será necessária uma mobilidade muito intensa para manter-se na
mesma posição.
Em segundo lugar, é preciso considerar o problema da democratização do
acesso aos circuitos nos quais se produz e se distribui o conhecimento socialmente
mais significativo. A privatização desses circuitos e sua apropriação por um grupo
reduzido da população dariam lugar a uma espécie de neodespotismo ilustrado,

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incompatível com formas políticas democráticas de participação e controle social.
Nesse sentido, as opções democráticas na política educacional deverão apoiar-se
em um alto nível de confiança na capacidade de aprendizagem de todas as pessoas.
Conseqüentemente, será necessário enfatizar mais que nunca o alcance universal
da educação. Se, no passado, o sistema podia organizar-se em níveis que
correspondiam a determinadas categorias sociais e de complexidade na organiza-
ção do conhecimento, no futuro a democratização do acesso aos níveis superiores
de análise de realidades e fenômenos complexos deve ser universal.
Esse acesso universal à compreensão de fenômenos complexos constitui a
condição necessária para evitar a ruptura da coesão social e os cenários catastrofistas
que potencialmente estão presentes nas tendências sociais atuais. Mas o acesso à
compreensão de fenômenos complexos não pode estar associado a um determi-
nado nível do sistema e, muito menos, a seus níveis superiores. A formação básica
e universal deverá ser capaz de dotar o conjunto dos cidadãos dos instrumentos e
das competências cognitivas necessárias para o desempenho de um cidadão ativo.
Em terceiro lugar, é preciso considerar a educação do ponto de vista do
processo de socialização. Já não é possível pensar, como no passado, que as regu-
lamentações virão exclusiva ou fundamentalmente de instituições como o Estado, a
Igreja ou a família. Tampouco é possível pensar que haverá uma regulamentação
espontânea baseada nos mecanismos do mercado, que assegure a coesão e a eqüi-
dade necessárias para o desenvolvimento social sustentável.
As formas tradicionais de solidariedade estão perdendo importância. Nume-
rosos testemunhos indicam a aparição e o risco de expansão rápida de uma socie-
dade atomizada, na qual o indivíduo isolado estaria em face de uma coletividade
anônima. Estão aparecendo novas formas de solidariedade e associação: associa-
ções de bairro, “tribos” urbanas, gangues juvenis etc. Mas a solidariedade gerada
por estas novas formas de agrupamento não está associada a movimentos
integradores. A desaparição das formas tradicionais de pertinência provoca a apari-
ção de uma nova obrigação, a de cada um gerar por si mesmo sua forma de inser-
ção social (Foucauld, Piveteau, 1995).
Um exemplo claro dessa transformação é o caso da família, que mantém sua
importância, mas já não é a família fixa e estável de antes. A trajetória familiar de
uma pessoa pode atravessar fases diferentes: casal estável, família monoparental,
união livre etc. Os parentes se transformam em uma combinação de laços eletivos
e de sangue. O mesmo sucede com o resto dos círculos (amigos, colegas etc.).
Nesse contexto estaria se configurando um tipo de sociedade em que há o risco da
existência de formas paralelas, duais, de pertinência social. Por um lado, âmbitos

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em que predominarão as relações eletivas e especializadas e, por outro, âmbitos
em que voltarão a se estabelecer solidariedades impostas por fatores adscritos.
Além da análise de cada uma dessas possibilidades, o certo é que o papel e as
formas de solidariedade serão o tema central na discussão sobre as alternativas de
desenvolvimento social no futuro.
A formação do sentido de solidariedade está intimamente associada à forma-
ção do sentido de pertinência. Respectivamente, o desafio educativo implica de-
senvolver a capacidade de construir uma identidade complexa, uma identidade que
contenha a pertinência a múltiplos âmbitos: local, nacional e internacional, político,
religioso, artístico, econômico, familiar etc. A essência da cidadania moderna é,
precisamente, a pluralidade de âmbitos de desempenho e a construção da identi-
dade baseada nessa pluralidade e não em apenas um eixo dominante e excludente
(Tedesco, 1995).
Em termos educacionais, o desenvolvimento desse sentido plural de
pertinência, que combine a adesão e a solidariedade local com a abertura às dife-
renças, implica introduzir maciçamente nas instituições escolares a possibilidade de
realizar experiências que fortaleçam esse tipo de formação. Relativamente a isso,
todos os diagnósticos indicam a existência de um significativo déficit de experiências
democráticas e pluralistas na sociedade. A escola é um âmbito privilegiado para o
desenvolvimento de experiências desse tipo, que possam ser organizadas com pro-
pósitos educativos.
Postular a necessidade de desenvolver esse conjunto de competências e
capacidades é necessário, mas não suficiente. O desafio para os educadores consis-
te, ademais, em definir os desenhos institucionais mais apropriados e elaborar as
ferramentas técnicas e metodológicas mais eficazes para que esses objetivos supe-
rem a fase puramente retórica e se transformem em metas concretas de aprendiza-
gem. Do ponto de vista institucional, é necessário discutir que tipo de escola e que
articulações entre ela e a sociedade são as mais apropriadas para fazer face a tais
desafìos.
A escola tradicional esteve particularmente fechada ao contato com outras
instituições e com outros atores sociais. Embora esse modelo possa ter sido o mais
apropriado no momento de construção dos Estados nacionais, em que a escola
aparecia como a instituição que devia superar os particularismos, atualmente ela já
não pode manter-se isolada, ignorando as transformações que se produziram no
âmbito da família, da empresa e dos meios de comunicação.
Em síntese, é preciso romper o isolamento institucional da escola, abrindo-a
aos requerimentos da sociedade e redefinindo seus pactos com os outros agentes

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socializadores, particularmente a família e os meios de comunicação. Qual deveria
pois, ser o papel específico da escola? No contexto da análise que efetuamos, pare-
ce necessário enfatizar a idéia de que a escola deve assumir uma parte importante
da formação nos aspetos “duros” da socialização. Isso não significa reivindicar a
rigidez, a memória, a autoridade etc., mas aceitar que sua tarefa é levar a cabo, de
forma consciente e sistemática, a construção das bases da personalidade das novas
gerações.
Em um mundo no qual a informação e os conhecimentos se acumulam e
circulam através de meios tecnológicos cada vez mais sofisticados e poderosos, o
papel da escola deve ser definido pela sua capacidade de preparar para o uso cons-
ciente, crítico, ativo dos aparatos que acumulam a informação e o conhecimento.
Neste sentido, parece que uma das pistas mais promissoras de trabalho para
a escola é a que tem a ver justamente com a sua relação com o convívio, com as
relações face a face, com a possibilidade de oferecer um diálogo direto, um inter-
câmbio com pessoas reais em que os instrumentos técnicos sejam o que são, ins-
trumentos e não fins em si mesmos. O clima das instituições escolares, diferencia-
das segundo projetos pedagógicos e dotadas de significativos níveis de autonomia
para poder conectar-se com o meio, constitui uma variável central para o desen-
volvimento de um processo de socialização eficaz.
Mas assim como o modelo institucional tradicional não pode ser mantido nas
atuais circunstâncias históricas, também é preciso advertir que um desenho
institucional baseado somente na autonomia das escolas pode aumentar os riscos
de segmentação. A autonomia deve ser um estímulo para a vinculação e não para o
isolamento. A idéia de rede constitui uma forma fértil para estimular conexões entre
as instituições escolares que superem o formalismo tradicional e permitam inter-
câmbios reais, tanto em nível local como nacional e internacional.

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Recebido em: junho 2002


Aprovado para publicação em: junho 2002

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