Relatório 2009 Ponta Do Sal
Relatório 2009 Ponta Do Sal
Relatório 2009 Ponta Do Sal
Metodologia
Para o estudo realizado, foi efectuado trabalho de campo tendo em conta os seguintes
objectivos:
3. Alçado das fachadas da arriba viradas a Leste e a SW, sem sobre-elevação, com
marcação de camadas ou conjuntos de camadas importantes para o problema da
estabilidade da escarpa, falhas, filões, fracturas principais e identificação de blocos
instáveis;
Figura 2:Zona em estudo adaptada da Folha 34-C Da Carta geológica de Portugal á escala 1: 50 000
-Aluviões
-Riolito (filão/Chaminé)
• Margas de várias tonalidades (verde, cinzento escuro, amarelo, entre outras) onde o
conteúdo fossilífero varia consideravelmente de camada para camada. De um modo geral
encontram-se ostreídeos, miliolídeos, lamelibranqueos e vestígios de bioturbação;
Enquadramento Geomorfológico:
Do ponto de vista morfológico, a Ponta do Sal enquadra-se numa zona onde podemos considera
que existem três unidades principais: a Serra de Sintra, a área que se situa a Sul e Sudoeste da
referida Serra (onde está inserida a Ponta do Sal) e a área que se situa a este do meridiano de
Carcavelos (Jesus, 1995).
O elemento geomorfológico com mais importância na área é a Serra de Sintra, que se
encontra associada ao Maciço Eruptivo de Sintra.
Maciço este que é constituída na sua generalidade por granitos, dioritos, sienitos e
gabros. Esta Serra tem uma forma alongada segundo a direcção E-W, apresentando uma
altitude máxima de 528 metros e uma rede de drenagem bastante densa, encaixada e com um
padrão do tipo dendrítico (Jesus, 1995).
A Sul da Serra de Sintra, nos terrenos de idade Jurássica e Cretácica inferior, a erosão
modelou vales bastantes encaixados, colinas de topo arredondado assim como algumas
costeiras.
Os calcários que formam as costeiras estão dispostos em monoclinal, a inclinar para Sul e junto
ao litoral, entre a Ponta Alta (a norte do Cabo Raso) e Cascais, existem numerosas arribas com
perfil praticamente vertical. No topo das arribas verifica-se a existência de antigas praias, onde
por vezes se observam vestígios de depósitos de praia, cuja altitude é variável (chegando a
atingir 30 a 60 metros de altitude). Estas últimas correspondem a uma estreita plataforma que se
estende do Forte do Guincho até ao Cabo Raso; entre Cascais, S. Pedro do Estoril e S Julião da
Barra, entre outros (Ramalho et al., 1981 in Jesus, 1995).
A Este do meridiano de Carcavelos encontra-se outra unidade geomorfológica, devido
essencialmente às formações que afloram (Cretácico Superior e o Complexo Vulcânico de
Lisboa). Na área onde afloram os calcários do Cenomaniano superior (zona de Carenque)
verifica-se a existência de pequenas costeiras, no contacto destes calcários com os do
Cenomaniano inferior a médio e de vales que apresentam vertentes suaves que passam a ser
sub-verticais quando a erosão fluvial ou torrencial atingiu os calcários subjacentes (Jesus, 1995).
A zona em estudo pode ser considerada como um pequeno cabo a poente da praia de
S. Pedro, cujo topo, a cerca de 15 metros de altura, forma um planalto aproximadamente
triangular com cerca de 30000 m2.
Caracteriza-se por apresentar arribas predominantemente verticais, a arriba voltada a E
é normalmente erodida pelo mar em épocas de preia-mar e de temporal, o que origina um recuo
paralelamente a si própria, através da queda de blocos e por erosão da base da arriba.
A arriba voltada a SW possui um troço que não está a ser erodido pelo mar, e outro
troço que está a ser permanentemente erodido pelo mar, recuando paralelamente a si própria.
Uma vez que este é um litoral de arriba, as praias existentes na zona são de pequena extensão,
caracterizando-se de uma forma geral por praias encaixadas.
Tectónica:
De acordo com a notícia explicativa da folha 34-C - Cascais da Carta Geológica
de Portugal à escala 1/50 000, a área abrangida por esta folha incorpora 2 grandes unidades
estruturais: o Complexo anelar subvulcânico de Sintra e a região tabular de Lisboa. Todo este
conjunto está recortado por um sistema de falhas e filões que estão geneticamente associados.
A região tabular de Lisboa, onde se insere a Ponta do Sal, encontra-se a S e SE do
Maciço de Sintra e corresponde a um monoclinal com inclinações muito suaves para SE. Esta
estrutura é perturbada por ondulações de segunda ordem que deram origem ao anticlinal de
Cascais-Bicesse e sinclinal de Areias-Caparide, encontrando-se afectada por numerosas falhas
cujas direcções principais são NW-SE (predominante) e NE-SW. Verifica-se igualmente a
existência de um cortejo filoneano, sendo este mais desenvolvido na região oeste.
Na Ponta do Sal em São Pedro do Estoril regista-se uma série de desligamentos direitos
orientados N30°W, subverticais. Associados a estes desligamentos abrem-se outros
desligamentos do tipo Riedel com o movimento direito N15°W
Descrição das unidades cartografadas:
Camadas:
Define-se descontinuidades como uma qualquer rotura no maciço rochoso e na qual não se
consegue verificar um deslocamento significativo de um bordo em relação ao outro (Adaptado de
Rocha, 1981). Os Maciços rochosos apresentam normalmente famílias de descontinuidades que
são conjuntos de descontinuidades que tem aproximadamente a mesma direcção.
Habitualmente um maciço rochoso encontra-se fracturado por diversas famílias de
descontinuidades. (Adaptado de Rocha, 1981).
As descontinuidades nas rochas surgem associadas a anisotropia da rocha, então as
descontinuidades surgem nas zonas de menor resistência, que são frequentemente as
superfícies as superfícies de separação entre as camadas.
A dimensão da abertura e o preenchimento das descontinuidades influencia a deformabilidade e
a resistência ao corte dos maciços rochosos assim como a circulação de água nos mesmos. As
descontinuidades provocam um enfraquecimento no maciço e o preenchimento vai possuir
propriedades mecânicas inferiores a da rocha sã.
Na zona em estudo identificamos duas famílias de descontinuidades, uma com direcção (familia
1, P1 ), e outra com uma direcção Familia 2(P2)
Figura 3:Local onde foram realizados os Perfis 1 e 2 para o estudo das descontinuidades
Foram tomadas duas direcções perpendiculares entre si e com o comprimento de cerca de 20m,
e foram anotadas todas as descontinuidades que ocorriam perpendicularmente a cada direcção.
Figura 4: Rosa Vectorial das descontinuidades Figura 5: Rosa Vectorial das descontinuidades
Classe % 70
I 34,29 60 I
II 59,62 II
50
III
III 0
40 IV
IV 0
V
30
V 6,09 VI
VI 0 20
VII
VII 0 10 VIII
VIII 0 0
IX
IX 0 Classe
Classe % I
50
I 43,2 II
II 56,8 40 III
III 0 IV
30
IV 0 V
VI
V 0 20
VII
VI 0
10 VIII
VII 0
IX
VIII 0 0
Classe
IX 0
De acordo com Rocha (1981) ” Nos Calcários e nos Arenitos o espaçamento entre
descontinuidades de cada família é em geral da ordem das dezenas de centímetros (…)”.
Próximo 60-200 mm
Moderado 200-600 mm
Afastado 600-2000 mm
80
Perfil 1 70
% de Espaçamentos
Espaçamento 60
(mm) % 50
40
<20 0
30
20-60 0 20
60-200 0 10
200-600 12 0
600-2000 73 Espaçamento
Perfil 2
Espaçamento
(mm) %
<20 0
20-60 0
60-200 0
200-600 0
600-2000 50
2000-6000 50
>6000 0
Descrição da
Continuidade
continuidade
Baixa 1-3 m
Média 3-10 m
Elevada 10-20 m
Perfil 1 35
30
% de descontinuidades
Continuidade % 25
<1m 11,56 20
1-3 m 17,85
15
3-10 m 22,53
10
10-20 m 30,51
5
> 20 m 17,55
0
Continuidade
<1m 1-3 m 3-10 m 10-20 m > 20 m
50
Continuidade %
% de descontinuidades
<1m 0 40 <1m
1-3 m 45,45 1-3 m
30
3-10 m 54,55 3-10 m
10-20 m 0 20 10-20 m
> 20 m 0 > 20 m
10
0
Continuidade
Abertura de descontinuidades
As descontinuidades podem ocorrer perfeitamente fechadas, sendo por vezes difícil a
sua identificação macroscópica, ou abertas, com o aumento da profundidade existe um
decréscimo grau de meteorização e existe um do incremento do estado de compressão, a
abertura das descontinuidades diminui geralmente com a profundidade. A classificação da
abertura das descontinuidades (ISRM, 1978) pode ser feita do seguinte modo:
Classificação da abertura das descontinuidades (ISRM, 1978)
Abertura Descrições
Foi realizada a colheita dos dados no campo relativamente as aberturas das descontinuidades,
dados esses que foram tratados estatisticamente de acordo com a classificação ISRM(1978)
Perfil1 70
Abertura 60
% Descontinuidades
(mm) % 50
< 0,1 0 40
0,1- 0,25 0 30
0,25 - 20
0,5 0 10
0,50 - 0
2,5 0 Abertura (mm)
2,50 - 10 0 < 0,1 0,1- 0,25 0,25 - 0,5
> 10 0 0,50 - 2,5 2,50 - 10 > 10
10 - 100 40,14 10 - 100 100 - 1000 > 1000
100 -
1000 59,86
> 1000 0
Perfil 2
80
Abertura
% Descontinuidades
(mm) % 60
< 0,1 0
40
0,1- 0,25 0
0,25 - 20
0,5 0
0,50 - 0
2,5 0 Abertura(mm)
2,50 - 10 0
< 0,1 0,1- 0,25 0,25 - 0,5
> 10 0
0,50 - 2,5 2,50 - 10 > 10
10 - 100 72,73
10 - 100 100 - 1000 > 1000
100 -
1000 27,27
> 1000 0
Figura 14:Representação grafica da abertura das descontinuidasdes perpendiculares ao Perfil 2.
Preenchimento das descontinuidades
As descontinuidades quando abertas são normalmente preenchidas por ar, água, assim como
minerais diversos como quartzo, calcite e dolomite, ou materiais granulares, mais ou menos
argilosos, este preenchimento resulta ou da alteração da própria ou então resulta do transporte
de matéria da superfície do terreno assim como do maciço sobrejacente.(Adaptado de Rocha,
1981).As características principais do preenchimento que devem ser descritas são: natureza do
material, espessura, resistência ao corte e permeabilidade.
Parâmetro Descrição
Fenda seca mas com evidência de ter Preenchimento molhado, com gotejo
III
circulado água ocasional
Perfil 1
Aberturas (mm) Azimute (º) Preenchimento
40 134 Vazio
20 150 Vazio
90 161 Vazio
Perfil 2 –
Aberturas (mm) Azimute (º) Preenchimento
90 57 Calhaus e areia
50 32 Calhaus e areia
70 81 Seixo e areia
40 84 Calhaus e areia
90 61 Calhaus e areia
O comportamento do maciço rochoso vai ser condicionado pela dimensão dos blocos que o
constituem. O tamanho dos blocos esta condicionado pelo numero de famílias de
descontinuidades existentes no maciço, a sua orientação, espaçamento e continuidade. Tendo
isto em mente podemos classificar o maciço rochoso tendo em conta o tamanho dos blocos,sua
forma, orientação , espaçamento e sua continuidade.
O tamanho dos blocos pode ser avaliado utilizando a função da média dos espaçamentos
médios das duas famílias de descontinuidades a partir do parâmetro Ib- Índice de tamanho dos
blocos:
Índice de tamanho dos blocos
S1 + S 2
Ib =
2
Em que S1, S2 e são os espaçamentos médios de cada uma das famílias. Os valores obtidos
para o cálculo do parâmetro Ib foram os seguintes:
S1 1,25
S2 2,039
Ib 1,11
nº nº
Jv = +
m Fam.1 m Fam.2
Em que (nº/m), número de fracturas por metro, é o inverso do espaçamento modal de cada
família de descontinuidades, e Jv é o parâmetro que representa o número total de
descontinuidades que interceptam uma unidade de volume do maciço rochoso.
A partir dos valores obtidos para o parâmetro Jv é possível a descrição do tamanho dos blocos
em função do número de descontinuidades.
Descrição Jv (desc./m3)
Blocos pequenos 10 – 30
Blocos muito pequenos > 30
Família 2 0,489
Jv (desc./m3) 3,632
Comparando o valor obtido para o parâmetro Jv com o quadro 11 conclui-se que o maciço
rochoso está compartimentado em blocos de dimensão média.
Intensidade de fracturação
A intensidade da fracturação pode ser calculada utilizando o índice índice RQD (Rock
Quality Designation). A maneira que utilizamos no trabalho foi estimar o índice Jv através de uma
correlação simples.
Quadro 12
< 25 Muito má
25 – 50 Má
50 – 75 Média
75 – 90 Boa
I. Grau de alteração
Quadro 13
Relativamente ao grau de alteração do maciço rochoso em estudo conclui-se que este pertence
à classe III, pois encontra-se moderadamente alterado, isto é, menos de metade do maciço
rochoso está decomposto e/ou transformado em solo.
No local em estudo foram realizados uma série de ensaio com o martelo de Schmidt
aplicamos a metodologia que esta descrita no livro “Ingenieriá Geológica de Luis I González de
Vallejo, Editado por Pearson Educación,Madrid, 2002).
Obteve-se como média dos 5 valores mais altos 34 e 33,6 para as camadas 2 e 10
respectivamente. Para a camada 2 o martelo foi orientado na vertical de cima para baixo
enquanto que na camada 10 foi aplicado na horizontal.
A B
Obteve-se um valor de resistência à compressão uniaxial muito semelhante em ambas as camadas cerca
de 60 ± 30 MPa .
Os valores lidos no martelo podem ser convertidos em estimativas de resistência à compressão uniaxial
através da expressão: log10(𝜎𝜎𝑐𝑐 ) = 0,00088𝛾𝛾𝛾𝛾 + 1,01
Sabendo que o peso volúmico do calcário é 26, 5 kN/m3 obtiveram-se os seguintes valores para um γ de
26,5:
Deste modo podemos observar que o valor obtido para a resistência à compressão uniaxial através da
expressão analítica é semelhante ao valor obtido através do ábaco.
De modo a saber qual a resistência à compressão uniaxial de uma rocha aflorante, sem recorrer ao uso
do martelo de Schmidt, podemos usar uma avaliação qualitativa do terreno de acordo com a
classificação sugerida pela BSI (Bieniawski Strength Index):
Resistência à compressão
Designação (BSI) Avaliação no terreno
uniaxial (Mpa)
Concluiu-se no campo que as amostras das camadas 2 e 10 podiam ser partidas com um forte golpe do
martelo de geólogo. O que pela tabela corresponde a 50-100 MPa de resistência à compressão unixial
(valor próximo aos anteriores).
Instabilidade de Vertentes
De modo a se evitarem acidentes deve ser feita uma análise da instabilidade de
vertentes através do cálculo do seu factor de segurança e da definição das medidas de
estabilização a aplicar em caso de possíveis roturas.
Queda de blocos
Desmoronamentos
Desprendimentos
Abatimentos
Rotacionais
Escorregamentos Planares
Mistos
Fluência Creep
Conclusão
Este tipo de fenómenos é condicionado por elementos característicos da erosão litoral tais como
a circulação de água entre as fracturas, as termoclastia, erosão meteorológica geral e fixação da
vegetação assim como de actividade antropogénica (construção de infrastruturas).
Bibliografia
RAMALHO, M. M., REY, J., ZBYSZEWSKI, G. et al (2001) – Carta Geológica de Portugal na escala
1:50000. Folha 34-C – Cascais. Notícia Explicativa. Serviços Geológicos de Portugal.
ROCHA, M. (1981) – Mecânica das Rochas. Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa.