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Modulo A Teria de Poder

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A TEORIA POLÍTICA DE JEAN-JACQUES ROUSSEAU: UMA MEDITAÇÃO SOBRE

A PROBLEMÁTICA DA DESIGUALDADE SOCIAL EM MOÇAMBIQUE”A TEORIA


POLÍTICA DE JEAN-JACQUES ROUSSEAU: UMA REFLEXÃO SOBRE A
PROBLEMÁTICA DA DESIGUALDADE SOCIAL EM MOÇAMBIQUE

Elias Mouzinho João Walata


freliasmouzinho307@gmail.com
Sacerdote e Formador
Formado em Filosofia (USTM) e Teologia
(Pontifica Facultas Theologica Teresianum)

INTRODUÇÃO

A nossa presente investigação insere-se no âmbito de conclusão do módulo sobre o “A teoria de


Poder”. Neste estudo, pretende-se, em linhas fundamentais, reflectir sobre “A Teoria Política de
Jean-Jacques Rousseau: uma reflexãomeditação sobre a problemática da desigualdade Ssocial
em Moçambique”. O artigo tem por objectivo analisar a questão do fundamento da desigualdade
social entre os homens. Acredita-se que as teorias de Rousseau1 poderão ajudar a compreender a
gênese génese dos tais problemas vividos e seu impacto na situação actual em Moçambique e seu
impacto na situação actual.

É notório que o processo deprocesso de modernização em civilização em Moçambique decorre


em profundas mudanças, e levam a sociedade ao desenrolar de um processo de modernização, a
partir do qual nota-se uma exacerbação do individualismo, . A na busca pelo bem estarbem-estar
e pela ampliação do desenvolvimento rumo as novas conquistas, onde os conceitos que tinham
como objectivo principal nortear acções que garantissem garantir a melhoria na qualidade de
vida, acabaram transformando-se em acções que provocaram o aumento dos índices de
desigualdade social, onde muitos não têm acesso aos bens mais essenciais a vidapara a
sobrevivência. A pobreza, entendida como principal consequência da desigualdade social é uma
problemática histórica que acompanha as formas de relações sociais. Porém, com o exacerbado

1
Nasceu em Genebra, na suíça em 1712 e morreu em 1778.
individualismo que se vive em Moçambique, os interesses do povo ficam à margem das
expectativas de poucos que fazem parte da elite.

Para Jean-Jacques Rousseau, “a desigualdade social pode ser compreendida a dois níveis; a
primeira é a física ou natural, que é estabelecida por factores como força física, idade, condições
de saúde e até mesmo a qualidade de espírito do indivíduo. E A segundaa desigualdade é moral
e política, que é uma espécie de senso comum entre a sociedade, que é uma convenção
autorizada e consentida pela maioria das pessoas”2. Além do mais, para Rousseau, “a
desigualdade nasce com a propriedade, quando alguém se apodera de alguns bens e diz, isto é,
meu”3. sSegundo a teoria Rousseana, tudo que a terra produz é para o bem de todos e não para o
beneficio benefício de alguns, pois a terra é de todos, e ninguém tem o direito de se achar dono,
a ponto de a cercar e dizer que é seu. Isso mostra, sem dúvidas, um nível elevado de
egocentrismo.

Apesar da relevância que estas teorias apresentam, elas não respondem todas as situações actuais
da humanidade, . dDiante dessa constatação referida, o presente artigo pretende responder ao
seguinte problema: de que caminhos podemos nos servir para a superação da desigualdade
social em Moçambique? Destarte, para concretizar o objectivo geral, formularam-se os seguintes
objectivos específicos: primeiro, compreender o percurso e contornos da desigualdade social
como um problema geral. Segundo, discutir o pensamento de Rousseau sobre a desigualdade
social. Terceiro, avaliar criticamente a desigualdade social em Moçambique à luz da conjugação
das teorias lidas e a realidade vivida. Em termos metodológicos, a reflexão foi conduzida com
base na pesquisa bibliográfica e análise documental, assim como no estudo hermenêutico.
Ademais,Em termos de tipologia optou-se por pela pesquisa qualitativa.

A escolha do tema em estudo enquadra-se no âmbito de aprofundamento do módulo. Onde


Neste módulo foram lançadas as bases sobre as teorias do poder, que gerem o processo politico
político nacional e internacional. Todavia, olhando para a igualdade social como um bem
precioso e universal que se encontra ameaçada e posta em causa no nosso panorama
politicopolítico moçambicano, sob o risco de ficar esquecida na mente dos cidadãos, como um
valor inatingível, torna-se, deste modo, pertinente reflectir em torno da desigualdade social que
2
ROUSSEAU, Jean-Jacques., Discurso sobre as ciências e as artes, Edição Ridendo Castigat Mores, 1974, p.
38
3
GEQUE, Eduardo, & BIRIATE, Manuel., Filosofia 12ª, Ed. Longman, Maputo, p. 87
tem se instalado em Moçambique, . Efectivamente, a abordagem para procura rebuscar os
valores humano-universais soterrados pela mesmaegoísmo humano. Na perspectiva da menor
observância desse bem primordial que a é de todos homens, julga-se que a reflexão poderá
contribuir como mais um instrumento de análise e manifestação de preocupação nessa busca da
igualdade social ou pelo menos na reflexão deste assunto actual. Deseja-se proporcionar a todos
homens o valor que lhes é devido e tornar consciente a possibilidade de uma sociedade de
harmonia, equidade e de justiça social. Por conseguinte, a reflexão foi feita considerando três
pontos: (i) aborda-se sobre percurso histórico da desigualdade social. (ii), aborda-sereflecte-se
sobre a teoria da desigualdade social em Jacques Rousseau. (iii), debate-se sobre avaliação a
situação critica crítica da desigualdade social em Moçambique.

1. O PERCURSO HISTÓRICO DA DESIGUALDADE SOCIAL

A preocupação pela desigualdade social é um assunto discutido em todas as épocas da história


da humanidade. Na Antiguidade, Aristóteles acreditava que a igualdade pode serera entendida
como ideia de justiça. “A justiça é Aaquela disposição de carácter que torna as pessoas
propensas a fazer, agir e desejar o que é justo”4. Já os medievais, convidam-nosmedievais
convidam-nos a optarmos pelo amor recíproco como uma forma de superação da desigualdade.
Para os modernos, a igualdade só poderia ser efectiva na base de um contrato social. Assim
sendo, para uma melhor compreensão da desigualdade social em Rousseau é importante o
estudo de alguns conceitos- chaves.

1.1. Desigualdade Social


Segundo Abbagnano a “desigualdade é a falta de equilíbrio entre duas ou mais partesmais
partes”5. Contrariamenteiamente, a palavra societas, implica a ideia de comunhão para o bem
estarbem-estar de todos, através de ligações de dependências recíprocas entre os seres
humanos (GALLINO, 2005:569). Na concepção de Karl Marx a (1998:112) “), “desigualdade
sSocial é algo causado pelapela divisão de classes, dentre os as que tem têm os meios de
produção, conhecidos por burgueses e aqueles que contêem apenas com a sua força de trabalho

4
ARISTOTELES, Ética a Nicômago, São Paulo 2003.2003, p. 87.
5
ABBAGNANO, Nicola., Dicionário de Filosofia, São Paulo, Fonte Martins, 1998, p. 98.
para garantir sua sobrevivência, conhecidos por seu torno como proletariado”6. Rousseau
cConcebe na espécie humana duas espécies de desigualdades:

uma, natural ou física, porque é estabelecida pela natureza, e que consiste na diferença das idades, da saúde, das
forças do corpo e das qualidades do espírito, ou da alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou
política, porque depende de uma espécie de convenção, e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo
consentimento dos homens. Consiste em esta nos diferentes privilégios de que gozam alguns com prejuízo dos
outros, como ser mais ricos, mais honrados, mais poderosos do que os outros, ou mesmo fazerem-se obedecer por
eles. Assim a desigualdade social nasce com a instauração da propriedade privada 7.

1.2. Do Estado de natureza à desigualdade sSocial

Para melhor compreender-se compreensão melhor da teoria politica política de Rousseau, é


preciso que se examinemos a condição natural dos homens, ou seja, um estado em que eles sejam
absolutamente livres para decidir das suas acções, dispor dos seus bens e das suas pessoas
como bem entenderem, dentro dos limites do direito natural e sem pedir a autorização de nenhum
outro homemomem.

Segundo Carlos Barracha (ano?), se na concepção de Thomas Hobbes (1588-1679) o estado de


natureza é determinista e mecânico. , “Ssendo todos iguais, , este estado seria
anárquico, no sentido em que haveria uma luta permanente entre os homens;
uma guerra de todos contra todos e não se conheceria os princípios básicos debásicos de justiça
e direito”8. A característica do estado da natureza é de insegurança geral e de medo no qual
também o mais forte não está de modo algum seguro da sua vida perante o mais fraco. Dai Daí
que a institucionalização da sociedade tem como finalidade assegurar e manter a paz. Hobbes,
afirmaHobbes afirma que, não se pode viver numa sociedade sem leis e onde todos são
iguais e livres, pois sendo eles iguais disputariam pelos mesmos bens. “Dai Daí o acordo é
último caminho para a sobrevivência. Assim, o contrato, evitaria que o ciúme, a ambição e as

6
MARX, Karl., O Capital. Rio de Janeiro, 1998, p. 112.
7
Rousseau, Jean-Jacques., Discurso sobre A Origem da Desigualdade, Ed. Ridendo Castigat Mores, Brasil,
2011, p. 12.
8
BARRACHA, Carlos., Temas e ideais em ciências politicas, a questão do poder, Ed. Clássica, 2011, p. 51.
tragedias tragédias (guerras) não sejam fossem a regra interminável”9.

Por seu lado, o inglês Jonh Locke (1632-1704), defende estado da natureza, porque lá, os
homens são livres, iguais e independentes. Para este filosofo filósofo inglês, os homens não
querem apenas estar segurosestar seguros da violência, querem, sim, também poder
desdobrarem-sese desdobrarem em seus direitos naturais à vida, à liberdade e à
prosperidade. Por isso, quando o homem deixa de viver em paz, e os seus bens ameaçados
é justo entrar no contratoo. Assim sendo, “esta ausência de organização, que
salvaguardem salvaguarda as pessoas e os bens é que vai conduzir, o fim do estado de natureza 10.
Desta forma, a lei civil , que se substitui à lei natural, tem
como objectivo último a preservação dos direitos individuais, . Pportanto, um
governo que não vai respeitar e proteger os interesses do seu povo deve ser
destituído.

Já Rosseau, é adverso quer da opulência, quer à privação. Para ele, “o estado de natureza, é umm
estado feliz. O homem era bom, ingénuo, puro, inocente, sem noção do bem e do mal, vivem
livres, iguais e independentes . eEntrado em contacto com as leis e a sociedade torna-os perverso
e egoísta” 11. Para eEle, a competitividade entre os seres humanos, aumentou a
desigualdade, fez com que eles perdessem seu estado de
natureza. A desigualdade se tornou presente no nosso dia a dia e suas consequências são muito
assombrosas do que se poderia imaginar.

Breve, da compreensão dos contratualistas, o Estado de Natureza é regido que se impõe a todos,
e com respeito à razão, que é este direito, toda a humanidade aprende que, sendo todos iguais e
independentes, ninguém deve lesar o outro na sua vida, na sua saúde, na sua liberdade ou nos
seus bens; todos os homens são obra de um único criador. Assim sendo, não se pode conceber
que exista entre nós uma hierarquia que nos autoriza autorize a estruirinstruir-nos uns aos outros,
pois a desigualdade é quase nula no Estado de Natureza.
9
Ibidem, p. 52.
10
LOCKE, Jonh., Ensaios sobre a verdadeira origem, extensão e fim do Governo Civil, Ed. 70, Lisboa, 1999,
p.105.
11
Ibidem, p. 71.
A vista disso, é compressível a partir do Estado da Natureza reflectir em torno da evolução da
desigualdade social em Rosseau.

Revisitado o percurso histórico da desigualdade social constatou-se que no estado de natureza


todos viviam livre e com direitos iguais. Todavia, esta igualdade não os conduziu a paz, e com a
ambição dos homens instalou-se a desigualdade social. e…………

2. A DESIGUALDADE SOCIAL EM JEAN-JACQUES ROUSSEAU

Segundo Rousseau (1974:38-39), foram três os factores que deram origem as às desigualdades
entre os homens: O o surgimento da propriedade privada, que divide os homens entre ricos e
pobres. ; O o surgimento de governos, que dividem os homens entre governantes e governados. ;
Finalmentefinalmente, o surgimento de estados despóticos que dividem os homens entre
senhores e escravos.

Assim, qual foi, então, o momento que melhor caracterizou o rompimento total do homem com a
natureza? Sabe-se que o processo de “desnaturação” aconteceu paulatinamente no percurso da
humanidade com a evolução humana, mas houve um acontecimento que Rousseau considera
como o ponto mais alto do progresso. É justamente com o nascimento da propriedade privada. É
com ela que o homem rompe totalmente com o Estado de Natureza e funda a sociedade civil. A
terra, que antes era de todos, passa a ter um único dono. Os objectos passam a ter um preço. O
ser é substituído pelo ter. A tranquilidade da vida simples é substituída pela ganância e a
competitividade da vida civil. A liberdade natural desaparece totalmente.

2.1. Da Propriedade Privada à Desigualdades Social


Para Rosseau, a desigualdade social manifestou-se quando o o primeiro que, tendo cercado um
terreno, lembrou-se de dizer, isto é, meu e encontrou pessoas suficientemente simples para
acreditá-lo. 12
. Os pronomes possessivos “seu” e “meu” começaram a ser conjugados. A
propriedade privada altera a alma e as paixões humanas, transformando definitivamente a
igualdade inscrita na natureza humana. Com a agricultura, os homens se fixam na terra,
permitindo assim uma maior continuidade em suas relações: “as ligações se estendem e os laços
se apertam. Os homens habituaram-se a reunir-se”13.

Se, por um lado, houve aqueles que argumentaram ser a terra um bem pertencente a todos os
homens que a habitavam; por outro, haviam aqueles que justificavam sua posse em virtude do
trabalho e do tempo empreendido no cultivo. “A despeito de se imaginar a abundância de terras,
houve ocasiões de escassez, e, aqueles que ficaram sem terra, não tiveram outra alternativa para
prover sua subsistência senão roubar ou trabalhar para os que foram mais previdentes”14. Dessa
situação nasceu a primeira grande desigualdade, dividindo os homens em duas classes: ricos e
pobres”15.

Ademais, com a propriedade privada, nasceu também a lei do mais forte. Na verdade, para
Rosseau, a desigualdade social está directamente ligada à relação de poder, estabelecida desde o
princípio dos tempos. Aqui o homem começa a ser escravo de si mesmo e dos objetos. . “A ânsia
de ter sempre mais torna os homens mais gananciosos. Uns cultivam melhor do que os outros e
por isso ficam mais ricos”16. Logo, os ricos exploram os pobres, e estes se submetem, por
necessidade, aos ricos. Assim se forma o cenário de escravidão . Por outro lado, “o homem, de
livre e independente que antes era, devido a uma multidão de novas necessidades passou a estar
sujeito, por assim dizer, a toda natureza e, sobretudo, a seus semelhantes dos quais num certo
sentido se torna escravo, mesmo quando se torna senhor: rico tem necessidade de seus serviços;
pobre, precisa de seu socorro, e a mediocridade não o coloca em situação de viver sem eles”17.

Para Dussel, “foi na primeira tentativa do progresso, que se percebeu a consciência corrompida
do homem. Pode-se dizer que, neste momento, solidifica-se a exploração propriamente dita do

12
Rousseau, J. J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Ed. Athena,
Porto, 2016, p. 72.
13
Ibidem, 269.
14
Ibidem, p. 73.
15
Ibidem, p. 73.
16
Ibidem, p. 258.
17
Ibidem, p. 259.
homem pelo homem”18. Os ricos compram a força do trabalho dos pobres para ficarem cada vez
mais ricos e, os pobres saqueiam a riqueza dos ricos em benefício próprio.

2.2. A ambição devora a humanidade. O sentimento de ter leva o homem a uma guerra
constante com o seu semelhante. O desejo de lucrar sempre mais faz da vida uma eterna
competição.
2.3. O Contrato Social como Principio Princípio da Igualdade
É com uma frase emblemática e impactante que Rousseau inicia o debate sobre o Contrato
Social: “o homem nasceu livre e por toda parte está agrilhoado” 19. Na sua obra Discurso sobre as
ciências Ciências e as artesArtes, diz que, “no estado de natureza, o homem tinha uma vida boa,
pois suas paixões eram basicamente as necessidades de comer, de repousar e de fazer sexo” 20.
Todas essas necessidades eram facilmente satisfeitas. Diferente do homem civil, o homem
natural vivia isento de grandes preocupações, por isso tinha uma vida pacífica e feliz. Segundo
Rousseau, a natureza era a moradia mais perfeita do homem primitivo, pois nela ele encontrava
todos os subsídios necessários para a sobrevivência. Porém, “a capacidade de aperfeiçoar-se
permitiu-lhe evoluir. Entretanto, essa evolução foi negativa, pois ele perdeu a sua ingenuidade
natural, construiu o progresso e as desigualdades sociais” 21. Para Rousseau, todas essas
transforações mudaram a realidade do homem. A essência foi substituída pela aparência. A
verdade da realidade que antes era facilmente notada foi substituída pela obscuridade.

Rousseau reconhece, assim como o fez Hobbes o fez, que a ordem social é um direito que advém
da convenção humana, não se fundando na natureza. Ou seja, o corpo político é entendido como
umacomo uma criação voluntária, artificial e não natural. Sua criação envolve indivíduos
dispostos a promover uma comunidade que ocorre graças à arte, e não a atributos naturais.

Para o nosso autor, o início desse contrato social dá-se na medida em que o povo se unem, com o
objectivo de superar obstáculos que não conseguiam em seu estado natural. Na passagem do
estado de natureza para o estado civil, o homem muda. O instituto é substituído pela justiça.
Portanto, o pacto social supõe um processo que garante à a igualdade a todos regida por leis e
fundada em num acordo universal e invariável, que beneficia todos igualmente a todos. Quer

18
DUSSEL, Enrique., 20 Teses de política, Ed. Popular, São Paulo, 2007.
19
ROUSSEAU, Jean-Jacques, O Contrato Social. Princípios do direito político. Ed, Martins Fontes, São Paulo,
2006, p. 19.
20
ROUSSEAU, Jean-Jacques, Discurso sobre as ciências e as artes. Ed, Ridendo Castigat Mores, 1974, p. 264.
21
Ibidem, p. 281.
dizer, este contrato para ser legítimo, deve ser fruto do consentimento de todos os membros da
sociedade.

No esquema de Rousseau, o soberano é o povo. “Este acordo entre o Governo e o Povo, não é
para tirar os direitos do povo, mas sim para os defender: o direito a à vida, liberdade e a
propriedade. Então, para que haja igualdade entre os homens, esses sacrificam a sua liberdade
natural, para adquirir a liberdade civil22. Não obstantes, na segunda parte do Discurso sobre a
desigualdade, Rosseau diz que, “o Estado, as leis e os magistrados, os governos e os
governantes, foram criados especialmente para justificar e assegurar a riqueza e,
consequentemente, proteger os ricos e poderosos”23.

O filosofo filósofo moçambicano Severino Ngoenha chama a atenção para este pacto, o que ele
caracteriza como um “pacto dos poucos”, e esses poucos são os que mais posses, mais riquezas e
bens possuem”24. DaiDaí que, se o contrato não for fundamentado na vontade geral, vai-se então
surgir o despotismo. O despotismo é o resultado inevitável de um governo mal constituído. “Sem
ideias e com politicas políticas afastadas do povo. Estes que são combatentes das misérias, das
garantias de segurança, do atendimento médico, dum ensino com qualidade”25.

Breve,Ora, de acordo com Rosseau, a desigualdade tende a se acumularaumentar, . Llogo,


determinados grupos de pessoas de classes sociais e econômicas económicas mais favorecidas
têm acesso a boas escolas, boas faculdades e, consequentemente, a bons empregos. Vivem,
convivem e crescem num meio social que lhes está disponível. É um círculo vicioso: esses
grupos se mantêm com seus privilégios e num ambiente restrito, relacionando-se social e
economicamente por gerações. Quem é de uma família pobre tem menos probabilidades de ter
uma excelente educação e instrução; assim, com baixo nível de escolaridade, terão destinados a
si certos empregos sem grande prestígio social e com uma remuneração modesta, mantendo seu
status social intacto.

3. AVALIAÇÃO CRITICA CRÍTICA DA DESIGUALDADE SOCIAL EM

22
LOCKE, Jonh, Ensaios sobre a verdadeira origem, Extensão e fim do governo civil, Ed. 70, Lisboa, 1999, p.
105.
23
Ibidem, p. 269
24
NGOENHA, Severino Elias., terceira questão, Ed, UDM, Maputo, p. 14.
25
Ibidem.
MOÇAMBIQUE.

O sistema social e político moçambicano, é marcada marcado pelas por várias crises. Essas crises
são apresentadas pelo carácter egoísta da política, pelo desrespeito ou instabilidade das leis
constitucionais e por uma democracia enferma, mergulhada na injustiça social. A razão
distoNesse contexto, o Estado assume-se a à imagem de uma vaca leiteira que deve ser
excessivamente ordenhada ou de uma galinha que põe ovos de ouro que devem ser escondidos e
mantidos para o bem exclusivo de seu dono e de seus familiares. EstamosEstá-se, portanto,
perante uma política que visa apenas encher a “barriga para si” a todo o custo e sob todas as
formas. O concreto dessa situação é captado pelo desvio de fundos, a corrupção erigida como
técnica operacional em todos os níveis da administração, ou seja, os processos dos gabinetes
administrativos não são tratados em função das necessidades e da competência dos cidadãos, mas
sim pelo gesto que se toma para apressar ou motivar o procedimento. Em suma, esta crise
política está na raiz de vários problemas sociais, incluindo a pobreza, a corrupção, a injustiça, as
divisões étnicas. Outrossim, o conflito político-militar, a crise económica que se vivemos hoje,
denuncia que os nossos rostos não são decentes como diz Levinas, se o fossem, não nos
mataríamos uns aos outros, nem permitiríamos essas crueldades de injustiça e desigualdade que
vivemos. O sistema social e político do nosso País país nega a imagem do outro.

3.1. A questão de geração de riquezas e distribuição de renda em Moçambique


O economista moçambicano Nuno Castel-Branco explica que o núcleo extractivista da
economia moçambicana é responsável por 75% dos investimentos privados, 90% das
exportações e 50% da taxa de crescimento do PIB mostrando onde residem as extremas
fragilidades do sistema e de como a “bolha económica” pode, a qualquer momento,
destruir quase totalmente as expectativas de futuro para todos que não fazem parte dos
rendeiros da extracção, nacionais e internacionais. Por estas razões pode se continuar a
dizer-se que, a maioria dos moçambicanos vê os palácios, os resorts, todo o luxo diante dos
seus olhos como se tudo fora fosse um mau sonho. Do seu lado, este país muito rico já é dos
outros. Tem vindo a ser concessionado, concedido, realocado por uma elite que há muito
tempo não se pergunta de que lado está. Já se foi dali, da pátria amada, para os paraísos
fiscais e para os empreendimentos que mais dinheiros lhes dão.
Segundo as profecias do FMI, Moçambique estaria a viver um ciclo de crescimento
económico inédito, um futuro animador para o país. Mas, a realidade em que a maioria dos
moealidade em que a maioria dos pae crescimento econirorealocado por uma elite que
htodos que nma e de como a ormaior parte da população, a miséria da maioria é justificada
pela usurpação e riqueza de uma minoria. É facto que, hoje em dia, a maioria da população
moçambicana vive uma extrema contradição: serem miseráveis num país com riquezas
minerais, energéticas, culturais, linguísticas, de florestas, rios e mar fartos e de uma terra
que dá frutos incontáveis. Tais riquezas são lhes usurpadas, exploradas vezes sem conta.
Tudo em nome de um crescimento económico que afinal, não é mais, senão a vida de quase
todos em troca da ganância de alguns.

Tristemente, diz Castel Bbranco, são dezenas de milhares de camponeses despossuídos


desapossados das suas terras e dos seus territórios, impedidos de viver a sua vida; são
dezenas de milhares de pessoas deslocadas à força por causa dos minérios e das condutas
de gás e que ficam confinadas em territórios escassos e inférteis26, outrossim, são milhões de
moçambicanos sem meios de subsistência e, muito menos, sem capacidade de pensar como
podem resistir mais um dia a todas as dificuldades. Intelectuais, jornalistas e lideranças de
movimentos populares são agredidos e assassinados sem que se apurem responsabilidades
nem se apliquem as garantias constitucionais.

Ngoenha entende que “em primeiro lugar é a liberdade que deve se conquistar e preservar. Esta
liberdade pode se manifestar sob diversas facetas: psicológica ou de pensamento, económica, de
imprensa, a religiosa, etc. é fundamental a construção de uma sociedade ideal, porque ela está
ligada à historicidade do homem” 27. Moçambique podia alinhar-se nos princípios de justiça
de Rawls que são também inspiração do contrato social que Ngoenha propõe em defesa da
inclusão e regimento dos bens primários que garantiriam em a a segurança e a igualdade
para todos, .

26
BRANCO, Carlos Nuno Castel., Dilemas Da Industrialização Num Contexto Extractivo De Acumulação De
Capital. Desafios para Moçambique, Maputo: IESE. 2016
27
NGOENHA, S. Elias., Filosofia Africana - das independências às liberdades, Ed, Paulinas, Maputo, 2014, p.
131.
2.2. Inclusão social

Moçambique é um Estado democrático no qual os problemas da monopolização do poder


e da propriedade pública têm gerado o aniquilamento de indivíduos, por causa da manifestação
dos seus direitos com o intento de promover a inclusão social a partir do seu pensar e reduzir as
desigualdades sociais. Ademais, os dirigentes moçambicanos envolvidos no seio da política
neoliberal agravam sobremaneira as desigualdades sociais, esquecendo-se da lei assente sobre o
princípio da universalidade e igualdade patente na Constituição da própria República
moçambicana, segundo a qual “deve existir a igualdade entre os cidadãos perante a lei, seja em
direitos ou em deveres, sem se olhar para a condição social, genérica, étnica, religiosa, grau de
instrução, posição social, profissão ou opção política” 28. Portanto, em torno deste agravamento
da desarmonia social gerado pelos governantes por causa dos interesses individuais, Rousseau já
advertia: “nada mais perigoso que a influência dos interesses privados nos negócios públicos”29.

Para Dussel, a reabilitação do sistema social e político pela inclusão entre os cidadãos pressupõe
reconhecer o outro e dar-lhe o seu espaço sem pôr em causa os seus direitos. O lugar do outro é
aquele de que gozam todos os homens enquanto sujeitos contemplados dentro daquelas que são
as directrizes traçadas pelo próprio Estado, onde as diferenças naturais são até certo ponto
necessárias para compreender que o outro é diferente e a sua diferença deve ser aproveitada para
o bem da sociedade. O dar espaço ao outro é também dar liberdade e protecção para que ele se
sinta envolvido dentro do seu próprio país, afastando-se da perspectiva de John Locke que leva o
cidadão a “consentir a autoridade do Estado, estabelecendo como que um contrato social com os
outros, em que todos aceitam limitar a sua liberdade, em troca de sua segurança e da segurança
dos seus bens”30.

3.2. Possíveis Soluções para igualdade

Olhando para a esfera político-social, nota-se que, os serviços públicos de saúde, educação,
electricidade, água potável e saneamento ainda não chegam cabalmente a todos os estratos
sociais e onde existem são de qualidade deplorável. O sistema de justiça funciona de forma
28
CF. CRM, artigo nº 35.
29
ROUSSEAU, Jean-Jacques, O Contrato Social. Princípios do direito político. Ed, Martins Fontes, São Paulo,
2006, p. 82.
30
LOCKE, J., Ensaios sobre a verdadeira origem, extensão e fim do governo civil, Ed. 70, Lisboa, 1999, p. 83.
deficitária e com pouca transparência. As leis são constantemente violadas em defesa das elites
políticas e económicas no poder. A corrupção no sector público e nas empresas controladas pelo
Estado é endémica. As liberdades de pensamento e de expressão estão a deteriorar-se face às
perseguições e assassinatos a intelectuais e líderes de opinião críticos ao actual sistema de
governação. E poderíamos nos questionar de que igualdade os moçambicanos gozam segundo o
artigo 35 da CRM? Como perceber que a organização económica do País visa a satisfação das
necessidades essências da população a promoção do bem-estar social, como esta plasmando no
artigo 97?

As soluções a médio e longos prazos passam pela redução do controlo político das instituições
pelas elites políticas dominantes. Em primeiro lugar há necessidade de reduzir os poderes da
figura do presidente Presidente da República31. Segundo, para que Moçambique seja uma
sociedade verdadeiramente assente na igualdade, não basta a confiança na riqueza, é necessário
sim, reconhecer o outro como um sujeito moral, como uma pessoa com sentimentos e
valores; reconhecer que o País não pertence a um determinado grupo, ou partido, mas sim
a todos os moçambicanos e que cada um tem espaço e direitos neste vasto território.
Terceiro, a escola deve ser um espaço democrático e formador da democracia, Para John
Dewey, “há uma necessidade de uma transformação da consciência educacional. E isto porque
um governo que se funda no sufrágio popular não pode ser eficiente se aqueles que o elegem e
lhe obedecem não forem convenientemente educados”32. Quarto, os modelos económicos devem
respeitar uma ética de desenvolvimento integral e sustentável, baseada em valores que ponham
no centro a dignidade da pessoa humana, os seus direitos fundamentais, os seus valores culturais,
etc33. E, por fim, as instituições governamentais devem garantir o bem-estar dos cidadãos
partilhando com honestidade os recursos e oportunidades. Num estado ameaçado pela concreta
criminalidade, corrupção e considerável lacuna de justiça34.

31
Cf. CRM, artigo nº 158. (e, f, g e h).
32
DEWEY, John., Democracia e educação: breve tratado de filosofia de educação. São Paulo: companhia
editora nacional, 1936, p. 143.
33
Cf. Vida Nova, março-2018: 6; Vaticano II, 1992: DH nº1.
34
MAZULA, 2015:179).
Conclusão

A investigação concentrou-se em responder à seguinte pergunta “que caminhos podemos nos


servir para a superação da desigualdade social em Moçambique? No primeiro ponto, ficou claro
que, Rousseau ao criar o estado de natureza pretendia demostrar que a desigualdade presente nas
relações humanas não é legitimada pelas leis naturais. No seu discurso sobre a desigualdade
entre os homens, duas ideias gerais são destacadas. A primeira, é de que existe uma bondade
original na natureza humana. Bondade essa que é corrompida, com a evolução da sociedade.
Segundo, todos os homens nascem iguais perante a natureza. No entanto, a diferença física
presente em cada ser humano destitui a igualdade natural, produzindo assim as desigualdades
sociais através da propriedade privada.

No segundo ponto, ficou claro que, o objetivo da sociedade criada pelo contrato rousseauniano é
alterar a constituição do homem, substituindo a sua existência física e independente, típica do
estado natural para o qual o retorno é impossível, por uma vida moral e dependente, não de
outros indivíduos, mas do Estado. Já no terceiro ponto, ficou claro que, os nossos sistemas
políticos e económicos, devem visar na distribuição económica equitativa, e no reconhecimento
do outro. Outrossim, fica mais claro que a estabilidade económica e a redução da desigualdade
em Moçambique passam necessariamente pela redução do controlo das instituições por elites
politicas e económicas e introduzir reformas profundas e medidas que possam garantir uma boa
repartição dos bens. Dai é preciso refletir na questão do nosso viver juntos a partir dos
problemas que muitos moçambicanos são confortados.

Como resultado da reflexão infere-se que a desigualdade social é consequência da má


distribuição de riqueza. Ela é também concebida como uma forma de dominação duma minoria
que detém o poder (politico e económico), contra a maioria que nada tem. Acredita-se que com
a igualdade social é possível edificar uma sociedade onde as diferenças; económicas, politicas e
socias, não sejam motivos para romper a unidade, mas sirvam como base para o surgimento de
novas ideias que, possam contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Em fim, A
expectativa é de que o trabalho tenha agregado valor para o campo de estudo no nosso sistema
politico e social. Assim sendo, sugere-se que a academia, a sociedade e o mundo politico
continuem na busca sobre as melhores formas de reduzir a desigualdade no seio do povo.

Bibliografia

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Fontes, São Paulo, 2006.

____________________., Discurso sobre A Origem da Desigualdade, Ed. Ridendo Castigat


Mores, Brasil, 2011.

_____________________., Discurso sobre as ciências e as artes, Ed. Ridendo Castigat Mores,


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BARRACHA, Carlos., Temas e ideais em ciências politicas, a questão do poder, Ed. Clássica,
2011.

BRANCO, Carlos Nuno Castel. Dilemas Da Industrialização Num Contexto Extractivo De


Acumulação De Capital. Desafios para Moçambique, Maputo: IESE. 2016.

DEWEY, John., Democracia e educação: breve tratado de filosofia de educação. São Paulo:
companhia editora nacional, 1936.

DUSSEL, Enrique., 20 Teses de política, Ed. Popular, São Paulo, 2007.


HOBBES, Thomas ., Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil.
Tradução de João Paulo Monteiro e Maria da Silva. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2002.
LOCKE, Jonh., Ensaios sobre a verdadeira origem, extensão e fim do Governo Civil, Ed. 70,
Lisboa, 1999.

MARX, Karl., O Capital. Rio de Janeiro, 1998.

MAZULA, Brazão., Ética, Educação e Criação da Riqueza: uma Reflexão Epistemológica. Ed.
Texto Editores, Maputo, 2015

NGOENHA, Severino Elias., Terceira questão, Ed, UDM, Maputo, 2015. Conclusão?

Referências Bibliográficas?

Estes dois elementos são indispensáveis num trabalho.

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