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Direito Civil Pablo Stolze

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DIRETO CIVIL PABLO STOLZE AULA 15/03/2011

DOMICILIO Domiclio domus (no direito romano significa casa), a importncia do conceito de domiclio refere-se a segurana jurdica, pois em regra geral o foro de domicilio do ru fixa a competncia territorial daquele processo. Primeiramente deve-se entender o que residncia e o que morada. *Morada: o lugar em que a pessoa se estabelece, temporariamente. Ex.: ficar no Rio para fazer um curso de 6 meses. *Residncia: o lugar onde a pessoa se estabelece com habitualidade, com freqncia. Ex.: passar todo fim de semana na Serra. Residncia mais do que morada, pois o lugar que a pessoa fsica encontrada com habitualidade. Obs. Pode ter mais de uma residncia. O plus da residncia em relao a morada a habitualidade. *Domiclio: mais do que a residncia, porque nele, no termos do artigo 70 do CC, o lugar em que a pessoa fixa residncia com nimo definitivo, transformando-o em centro da sua vida jurdica. Esse nimo definitivo de ficar = animus manendi o elemento psicolgico do domiclio. Obs. Moradia no desloca seu domicilio. Mas para ser domicilio preciso que haja inteno de permanecia, transformando aquele local um centro de vida jurdica daquela pessoa. Deve haver animus manendi. Conceito de domicilio: o lugar onde a pessoa fsica fixa residncia com animus definitivo transformando em centro da sua vida jurdica (art70 do CC).
Art. 70. O domiclio da pessoa natural o lugar onde ela estabelece a sua residncia com nimo definitivo.

O sistema brasileiro seguindo o direito alemo admite pluralidade de domiclios, nos termos do art. 71 do CC, ou seja, pode acontecer de um sujeito ter residncia, famlia e vida jurdica negocial em uma em outra cidade tambm. Na forma do artigo 71 do CC, se uma pessoa tiver residncia e vida jurdica em cidades diferentes, ser considerado como seu domiclio QUALQUER DELAS. E para efeitos de competncia territorial tambm.
Art. 71. Se, porm, a pessoa natural tiver diversas residncias, onde, alternadamente, viva, considerar-se- domiclio seu qualquer delas.

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OBS.: Vale lembrar que, por influencia do art. 83 do Cdigo de Portugal, o art. 72 do nosso CC, PARA EFEITOS EPECFICOS, consagrou o domiclio profissional da pessoa fsica. Trata-se de um domicilio especfico para aspectos da profisso, ou seja, apenas para aspectos concernentes vida profissional do indivduo (artigo 72 do CC).
Art. 72. tambm domiclio da pessoa natural, quanto s relaes concernentes profisso, o lugar onde esta exercida. Pargrafo nico. Se a pessoa exercitar profisso em lugares diversos, cada um deles constituir domiclio para as relaes que lhe corresponderem.

Ex.: Mdico que tem domiclio em Curitiba, mas, trabalha alguns dias da semana, em Cascavel, que fica no extremo oposto do Estado do Paran. Esse domiclio profissional serve apenas para aspectos concernentes profisso. Se ele tem uma ao de investigao de paternidade (o foro s da criana quando cumulada com alimentos), ela dever ser proposta no domiclio geral, ou seja, em Curitiba. Agora, se ele tem uma ao que envolva questes de sua profisso, ela dever ser proposta em Cascavel. OBS.: No que tange mudana de domiclio, ver o art. 74, CC, possvel de ser cobrado em prova objetiva. Questo especial de concurso: O que se entende por Domicilio Aparente ou Ocasional? R: Matria que foi desenvolvida pelo civilista belga Henri de Page, prevista no artigo 73 do CC, segundo o qual, por fixao jurdica, pessoas que no tenham residncia habitual so consideradas domiciliadas onde forem encontradas. Ex.: ciganos, trabalhador de circo, caixeiros,...
Art. 73. Ter-se- por domiclio da pessoa natural, que no tenha residncia habitual, o lugar onde for encontrada.

OBS.: No que se refere ao Domiclio da Pessoa Jurdica regulado no artigo 75 do CC, vale observar que tal temtica dever ser especialmente desenvolvida no Direito Processual Civil, sobretudo pelas implicaes no mbito da competncia. (REsp. 723194)
Art. 75. Quanto s pessoas jurdicas, o domiclio : I - da Unio, o Distrito Federal; II - dos Estados e Territrios, as respectivas capitais; III - do Municpio, o lugar onde funcione a administrao municipal; IV - das demais pessoas jurdicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administraes, ou onde elegerem domiclio especial no seu estatuto ou atos constitutivos. 1 Tendo a pessoa jurdica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles ser considerado domiclio para os atos nele praticados. 2 Se a administrao, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se- por domiclio da pessoa jurdica, no tocante s obrigaes contradas por cada uma das suas agncias, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

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CLASSIFICAAO DO DOMICILIO a) DOMICILIO VOLUNTARIO: o domicilio comum, fixado por simples ato de vontade cuja natureza jurdica ato jurdico em sentido estrito. (tambm chamado de ato no negocial) b) DOMICILIO ESPECIAL OU DE ELEIAO: o estipulado pela vontade das partes na clausula especial de contrato segundo a autonomia privada (art. 78 do CC e art. 111 do CPC).
Art. 78. Nos contratos escritos, podero os contratantes especificar domiclio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigaes deles resultantes. Art. 111. A competncia em razo da matria e da hierarquia inderrogvel por conveno das partes; mas estas podem modificar a competncia em razo do valor e do territrio, elegendo foro onde sero propostas as aes oriundas de direitos e obrigaes. 1o O acordo, porm, s produz efeito, quando constar de contrato escrito e aludir expressamente a determinado negcio jurdico. 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes.

OBS.: Vale lembrar que nos termos do pargrafo nico do art. 112 do CPC nos contratos de adeso especialmente de consumo, a clausula de foro de eleio prejudicial ao consumidor ou aderente nula de pleno direito. O juiz pode declarar de oficio de sua competncia quando verificar o prejuzo ao consumidor. Esse art. se justifica pelo interesse pblico L. 11.280/06 em respeito ao princpio da dignidade da pessoa do contratante. (REsp. 201195/SP)
Art. 112. Argi-se, por meio de exceo, a incompetncia relativa. Pargrafo nico. A nulidade da clusula de eleio de foro , em contrato de adeso, pode ser declarada de ofcio pelo juiz, que declinar de competncia para o juzo de domiclio do ru.

digno de nota ainda, que o STJ por sua 3 turma, entendeu que o foro competente para julgar aes sobre hipoteca no necessariamente o local onde o imvel est situado. c) DOMICILIO LEGAL OU NECESSARIO: Decorre do prprio ordenamento jurdico. arts. 76 e 77 (dir. internacional) do CC.
Art. 76. Tm domiclio necessrio o incapaz, o servidor pblico, o militar, o martimo e o preso. Pargrafo nico. O domiclio do incapaz o do seu representante ou assistente; o do servidor pblico, o lugar em que exercer permanentemente suas funes; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do martimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentena. Art. 77. O agente diplomtico do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no pas, o seu domiclio, poder ser demandado no Distrito Federal ou no ltimo ponto do territrio brasileiro onde o teve.

Obs. Servidor pblico temporrio no gera domicilio legal. BENS JURDICOS:

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Com base no pensamento de Agostinho Alvin e Orlando Gomes, podemos definir Bem Jurdico como toda utilidade fsica ou ideal que seja objeto de um direito subjetivo. Orlando Gomes sustenta que bem jurdico gnero e coisa espcie (seguindo a linha germnica). Mas, a matria polmica, porque Maria Helena e Silvio Venoza entendem o inverso. Washington de Barros Monteiro j entende que eles so sinnimos. E o que Patrimnio Jurdico? R: Caiu na prova do MPF. A sua natureza jurdica de uma universalidade de BENS, DIREITOS e OBRIGAES. Ex.: quando a pessoa morre, os seus bens se transformam em herana. No entanto, a doutrina tradicional dizia que patrimnio era a representao econmica da pessoa. Mas, se consultarmos as obras de Carlos Alberto Bittar, Srgio Severo, Clayton Reis e Rodolfo Pamplona Filho, eles avanaram dizendo que no s isso. Pois, levanto-se em conta o conceito de patrimnio acima, o conjunto de direitos da personalidade tambm so integrados, que se chamam de patrimnio MORAL. E ainda, forte e crescente na nossa doutrina a idia de que cada pessoa possui um nico patrimnio. O que Instituto Jurdico do Patrimnio Mnimo? R: Trata-se de tese desenvolvida por Luiz Edson Faquim, segundo a qual, em uma perspectiva civil constitucional, as normas da legislao ordinria devem resguardar, a cada pessoa, um mnimo de patrimnio para que tenha vida digna. (NO FALE EM SUBSISTNCIA!!!!! PREFIRA DIGNIDADE) Ex.: Em nome do Princpio da Dignidade da Pessoa Humana no se permite a doao universal (art. 548 do CC), ou seja, aquela em que no se respeita a Reserva de Patrimnio Mnimo para se ter uma vida digna. Isso tambm configura a aplicao da Repartio Horizontal dos Poderes. (ver o nome na aula de constitucional)
Art. 548. nula a doao de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistncia do doador.

Ex.: As normas do Direito de Famlia tambm aplicam esta Teoria do Patrimnio Mnimo. Obs.: Dolo de Aproveitamento = a inteno existente no dolo daquele que quer causar prejuzo com abuso. Bem de famlia Histrico: A fonte histrica mais importante do Bem de famlia o HOMESTEAD ACT - TEXANO do longnquo ano de 1839.

BENS JURDICOS E BENS DE FAMLIA No precisa anotar porque o material est todo no site do LFG. BENS IMVEIS

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BENS MVEIS Obs.: Bem imvel o solo ou tudo aquilo que se incorporar natural ou artificialmente. Mas, ainda se consideram imveis os bens incorporados por acesso intelectual? Ex.: escada de incndio, material de obra, tudo aquilo que voc deixa no quintal da sua casa. R: A doutrina clssica, baseada no cdigo de 1916, tradicional no Brasil, admitia a categoria de bens imveis por acesso intelectual (ex.: o maquinrio agrcola empregado na fazenda). No entanto, a despeito da polmica, a doutrina moderna no aceita mais esta classificao a luz do novo CC/2002 (ver Enunciado n 11 da 1 Jornada de Direito Civil). 11 Art. 79: no persiste no novo sistema legislativo a categoria dos bens imveis por acesso intelectual, no obstante a expresso tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente, constante da parte final do art. 79 do CC. - Art. 80, I, CC direitos reais so considerados bens imveis. - Art. 80, II, CC o direito sobre a herana tem a natureza imobiliria.
Art. 80. Consideram-se imveis para os efeitos legais: I - os direitos reais sobre imveis e as aes que os asseguram; II - o direito sucesso aberta.

Quer dizer que se a herana envolver 3 carros, essa herana continua ter natureza imobiliria? R: Sim! Porque a doutrina brasileira forte no sentido (Francisco Cahali) de que por ter natureza imobiliria, a renncia dos direitos hereditrios cercada de formalismos (escritura pblica, outorga uxria do cnjuge do renunciante que no for casado em separao de bens). - Art. 83 do CC consideram-se mveis as energias que tenham valor econmico (energia eltrica, smen do boi que energia biolgica).
Art. 83. Consideram-se mveis para os efeitos legais: I - as energias que tenham valor econmico; II - os direitos reais sobre objetos mveis e as aes correspondentes; III - os direitos pessoais de carter patrimonial e respectivas aes.

- Quanto aos bens singulares e coletivos, outra classificao dos bens: Bem Singular. Ex.: Um lpis. Bens Coletivos: Ex.: rebanho, biblioteca, herana,... A classificao mais importante o que vem agora: - Dos Bens Reciprocamente Considerados (que estudado na Parte Geral e na Parte de Reais): So eles os Bens Principais. Ex.: a vaca com relao ao bezerro. E os Bens Acessrios.

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Ex.: os frutos com relao rvore. Frutos so bens renovveis!!!! Ex.: caf, laranja, ... eles podem ser naturais, civis, industriais... Fruto totalmente diferente de Produto! Os produtos so utilidades e NO se renovam. Ex.: o carvo extrado de uma mina. Porque medida que voc vai extraindo, a fonte vai se esgotando. As Pertenas so bens acessrios. Elas no se integram ao bem principal. um bem apenas ACOPLADO. Ex.: Ar condicionado so pertenas. Assim como as caixas de som da sala de aula. As Benfeitorias (cai muito em prova!) trata-se de toda obra realizada pelo homem... arts. 96 e 97 do CC. Veremos melhor este tema na aula de reais.
Art. 96. As benfeitorias podem ser volupturias, teis ou necessrias. 1 So volupturias as de mero deleite ou recreio, que no aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradvel ou sejam de elevado valor. 2 So teis as que aumentam ou facilitam o uso do bem. 3 So necessrias as que tm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. Art. 97. No se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acrscimos sobrevindos ao bem sem a interveno do proprietrio, possuidor ou detentor.

Obs.: Para saber se uma determinada obra benfeitoria ou no, lembre que ela deve ser ARTIFICIAL! No existe benfeitoria natural. Toda ela feita pelo homem. E ela serve para melhorar, embelezar ou otimizar o seu bem principal, mas no visa a aumentar o valor do bem principal. Porque quando para aumentar o valor dele, acesso. Bens Pblicos e Bens Particulares - veremos em Direito Administrativo. Mas, quanto aos bens pblicos, o Enunciado n 287 da 4 Jornada de Direito Civil, segundo o qual, a classificao do CC (bens de uso comum, de uso especial e dominial) no esgota os bens de domnio pblico, considerando que tambm tem natureza publicista os bens pertencentes Pessoa Jurdica de Direito Privado, que estejam afetados prestao do servio pblico. 287 Art. 98. O critrio da classificao de bens indicado no art. 98 do Cdigo Civil no exaure a enumerao dos bens pblicos, podendo ainda ser classificado como tal o bem pertencente a pessoa jurdica de direito privado que esteja afetado prestao de servios pblicos.
Art. 98. So pblicos os bens do domnio nacional pertencentes s pessoas jurdicas de direito pblico interno; todos os outros so particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.

BENS DE FAMLIA: Quanto ao histrico dos bens de famlia, foi denominado Homestead Act Lei Texana de 1839. Foi um dos piores anos do EUA, porque vrios bancos faliram nesta poca. Ento, as pessoas tinham medo de fazer emprstimo (j que os bancos no tinham condies disso) porque poderiam perder as suas casas.

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Neste momento, baixaram esta lei garantindo a impenhorabilidade dos imveis. Essa proteo, traduzida, hoje o nosso Bem de Famlia, no artigo 70 do CC.
Art. 70. O domiclio da pessoa natural o lugar onde ela estabelece a sua residncia com nimo definitivo.

H duas modalidades de bens de famlia: 1.Bem de Famlia Voluntrio Art. 1.711 do CC: Conceito: Trata-se do bem de famlia institudo por ato de vontade do casal, da entidade familiar, ou de terceiro (como o solteiro), mediante escritura pblica e registro no cartrio de imveis, resultando em uma impenhorabilidade limitada e uma inalienabilidade relativa. Ele produz esses 2 efeitos acima: IMPENHORABILIDADE E INALIENABILIDADE.. Obviamente, s quem vai poder instituir o bem de famlia voluntrio o solvente, porque se no fosse, ele estaria fazendo fraude contra credores. Analisando o artigo 1.711 do CC este valor limitado a 1/3 do patrimnio liquido do casal ou famlia ou terceiro. E ele voluntrio porque exclusivo do titular do bem.
Art. 1.711. Podem os cnjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pblica ou testamento, destinar parte de seu patrimnio para instituir bem de famlia, desde que no ultrapasse um tero do patrimnio lquido existente ao tempo da instituio, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imvel residencial estabelecida em lei especial. Pargrafo nico. O terceiro poder igualmente instituir bem de famlia por testamento ou doao, dependendo a eficcia do ato da aceitao expressa de ambos os cnjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.

Obs.: Visando a evitar fraude a credores, o art. 1.711 do CC limita o valor do bem de famlia voluntrio ao patamar de 1/3 do patrimnio lquido do instituidor. Como o escrevente vai saber se o bem do instituidor de R$ X, para poder apurar esses 1/3 de patrimnio? Por declarao do IR? No... Porque para o casal, muito interessante instituir o seu bem como de famlia, porque ele gera esses 2 efeitos protetivos. Veja que o art. 1.715 fala que a impenhorabilidade do bem limitada, porque, por exemplo, se houver execuo de taxa de condomnio do prdio e tributos, este tipo de dbito no est a salvo. E ainda o art. 1.717, sobre a inalienabilidade, ressalta que o bem de famlia serve para ser MORADIA. No d para instituir o bem de famlia e transforma-lo em uma quitanda. E o art. 1.712 prev que para ser alienado ele tem que ter autorizao e ouvir o MP.
Art. 1.712. O bem de famlia consistir em prdio residencial urbano ou rural, com suas pertenas e acessrios, destinando-se em ambos os casos a domiclio familiar , e poder abranger valores mobilirios , cuja renda ser aplicada na conservao do imvel e no sustento da famlia. Art. 1.715. O bem de famlia isento de execuo por dvidas posteriores sua instituio, salvo as que provierem de tributos relativos ao prdio, ou de despesas de condomnio. Pargrafo nico. No caso de execuo pelas dvidas referidas neste artigo, o saldo existente ser aplicado em outro prdio, como bem de famlia, ou em ttulos da dvida pblica, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra soluo, a critrio do juiz.

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Art. 1.717. O prdio e os valores mobilirios, constitudos como bem da famlia, no podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministrio Pblico.

O NCC permite que ao instituir o Bem de Famlia Voluntrio, possam ser afetados tambm valores mobilirios (art. 1.712 do CC) na mesma escritura de instituio. Voc pode escriturar o seu imvel e tambm valores vinculados a ele, que so valores mobilirios. Ou seja, incluir no valor do imvel os gastos que voc tem para manter o apartamento, por exemplo: condomnio, taxas, impostos (IPTU), ... Obs.: Nos termos da recente corrente jurisprudencial do STJ (RESP 439920-SP e RESP 315979-RJ) tem-se admitido, inclusive, ser impenhorvel a renda proveniente de aluguel de nico imvel residencial locado. (ex: o aluguel depositado na poupana). s instituir o imvel alugado como bem de famlia e inserir nesta instituio, no limite de 1/3, o valor do aluguel. Esse 1/3 se tornar impenhorvel e inalienvel (com limites), porque est protegido pelo bem de famlia, mesmo que o titular do imvel no more nele, mas viva exclusivamente da renda deste imvel (o aluguel). O art. 1720 vai cuidar da administrao do bem de famlia.
Art. 1.720. Salvo disposio em contrrio do ato de instituio, a administrao do bem de famlia compete a ambos os cnjuges, resolvendo o juiz em caso de divergncia. Pargrafo nico. Com o falecimento de ambos os cnjuges, a administrao passar ao filho mais velho, se for maior, e, do contrrio, a seu tutor.

Os arts. 1721 e 1722 cuidam da extino do bem de famlia.


Art. 1.721. A dissoluo da sociedade conjugal no extingue o bem de famlia. Pargrafo nico. Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cnjuges, o sobrevivente poder pedir a extino do bem de famlia, se for o nico bem do casal. Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de famlia com a morte de ambos os cnjuges e a maioridade dos filhos, desde que no sujeitos a curatela.

Essas regras do bem de famlia voluntrio no vingaram no Brasil, por isso em 1990 surge a Lei 8.009, que consagrou o bem de famlia legal. Esta lei revolucionou ao consagrar o bem de famlia. Obs: A smula 205 STJ admite a aplicao retroativa da lei 8009/90, ou seja, aplica a penhora anterior a sua vigncia, ela consagra a impenhorabilidade legal do bem de famlia, independentemente de inscrio voluntria em Cartrio. A penhora do bem de famlia: A Lei n 8.009/90 aplica-se penhora realizada antes de sua vigncia. Bem de famlia voluntario no foi revogado, ambos convivem juntos. Se pessoa tem 2 imveis residenciais, a impenhorabilidade recai no Imvel de menor valor a no ser se a pessoa inscreveu o de maior valor como bem de famlia voluntrio. Obs: as pessoas em geral no fazem essa inscrio. O bem de famlia legal decorre da lei, independe de registro, no tem limite de valor.
Art. 1 O imvel residencial prprio do casal, ou da entidade familiar, impenhorvel e no responder por qualquer tipo de dvida civil, comercial, fiscal, previdenciria ou de outra

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natureza, contrada pelos cnjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietrios e nele residam, salvo nas hipteses previstas nesta Lei. Pargrafo nico: A impenhorabilidade compreende o imvel sobre o qual se assentam a construo, as plantaes, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou mveis que guarnecem a casa, desde que quitados.

obs: a despeito do que dispe o nico do art. 1 da Lei 8009, o STJ tem admitido o desmembramento para efeito de penhora (RESP 510643 do DF, RESP 515122 do RS). Se o imvel for imenso admite-se o desmembramento, construo pretoriana no Brasil. Ex: de bens mveis quitados protegidos pelos bens de famlia, (maquina de lavar, maquina de secar, televiso, ar condicionado, antena parablica) e segundo o RESP (teclado musical). Excees a essa proteo legal:
Art. 2 Excluem-se da impenhorabilidade os veculos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. Pargrafo nico - No caso de imvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens mveis quitados que guarneam a residncia e que sejam de propriedade do locatrio, observado o disposto neste artigo.

1.3.1 - As excees as protees legais ao bem de famlia:


Art. 3 A impenhorabilidade oponvel em qualquer processo de execuo civil, fiscal, previdenciria, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: I - em razo dos crditos de trabalhadores da prpria residncia e das respectivas contribuies previdencirias; II - pelo titular do crdito decorrente do financiamento destinado construo ou aquisio do imvel, no limite dos crditos e acrscimos constitudos em funo do respectivo contrato; III - pelo credor de penso alimentcia; IV - para cobrana de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuies devidas em funo do imvel familiar; V - para execuo de hipoteca sobre o imvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execuo de sentena penal condenatria a ressarcimento, indenizao ou perdimento de bens.

Essas protees aplica por extenso ao bem de famlia voluntrio. Onde h a mesma razo h de haver o mesmo Direito Art. 3 I cobrana de crdito de trabalhador da prpria residncia, no pode alegar que bem de famlia , no recolheu o INSS no tem a defesa do bem de famlia. A melhor Hermenutica do inciso I do art. 3 no sentido que empregados meramente eventuais, (ex: pintor, eletricista, diarista, pedreiro, etc.) no se subsumam ao previsto em lei, no esto na exceo. RESP 644733 SC. Esses trabalhadores no podem penhorar seu apartamento. 2 exceo: Financiando um apartamento, caso no pague v. No pode alegar bem de famlia, isso de uma clareza meridional, se no pagar o Imvel a casa

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retoma ao Imvel. No pode opor bem de famlia legal a CEF que financiou o apartamento. 3 exceo: No pode opor para o credor da penso alimentcia. 4 exceo: no paga obrigaes tributarias referente a imveis no pode opor bem de famlia. Obs: O STF j entendeu que interpretando o IV do art. 3 que despesas condominiais, tambm vencem a proteo legal do bem de famlia (RE 439 003 SP), despesas de condomnio se no pagou vencem o bem de famlia, seu apartamento pode ser penhorado. 5 Exceo: No pode opor a exceo do bem de famlia se o processo foi movido vai contrair um emprstimo em um Banco, este pede a garantia de hipoteca, e segundo a lei se por ato de vontade v. Hipotecar o seu Imvel no pode opor depois bem de famlia. O STF tem dito que a simples indicao do bem da penhora, o devedor pode nos embargos alegar o bem de famlia, a simples indicao no renuncia ao bem de famlia, obs: a mera indicao do bem a penhora, segundo o STJ,no impede a futura alegao de bem de famlia (AgRg (Agravo regimental) no Resp 813543 do DF). 6 Se bem for produto do crime, ou precisar indenizar a vitima do crime. 7 O fiador do contrato de locao no pode opor bem de famlia, o devedor mesmo comprando uma casa. Essa matria est pacificada: O STF pacificou o entendimento no sentido de que o fiador em contrato de locao no goza da proteo do bem de famlia de maneira que a penhora do seu Imvel residencial considerada Constitucional (RE 352940-4 SP). Obs: Vale lembrar, nos termos do art. 1647 CC, que o cnjuge casado em regime que no seja, de separao de bens, necessita da autorizao do outro para prestar fiana.
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cnjuges pode, sem autorizao do outro, exceto no regime da separao absoluta: I - alienar ou gravar de nus real os bens imveis; II - pleitear, como autor ou ru, acerca desses bens ou direitos; III - prestar fiana ou aval; IV - fazer doao, no sendo remuneratria, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meao. Pargrafo nico. So vlidas as doaes nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada.

-Questo: O devedor solteiro goza da proteo do bem de famlia? Primeiramente tem se que saber que o que d base ao bem da famlia o principio da dignidade da pessoa humana traduzido no direito constitucional da moradia, da podemos concluir que o solteiro tem a proteo do bem de famlia. RESP 450989 RJ que o Ministro lavrou em um momento de inspirao. A interpretao teleolgica do art. 1, da Lei 8.009/90, revela que a norma no se limita ao resguardo da famlia. Seu escopo definitivo a proteo de um direito fundamental da pessoa humana: o direito moradia. Se assim ocorre, no faz sentido proteger quem vive em grupo e abandonar o indivduo que sofre o mais doloroso dos sentimentos: a solido.

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Ag Rg Res- 1024652 rs trata sobre a necessidade de transferncia do veiculo para afastar a solidariedade passiva. BEM JURIDICO toda utilidade fsica ou ideal que seja objeto de um direito subjetivo. COISA X BEM JURDICO: MARIA HELENA E VENOSA entendem que coisa gnero. WOSHITONG DE BARROS afirmam poder haver uma sinonmia. ORLANDO GOMES e STOLZE bem jurdico gnero e coisa espcie. -No direito alemo em seu cdigo civil, Art. 90 que coisa somente bem material, palpvel. Questo: MPF: o que se entende por patrimnio jurdico? R: a doutrina clssica costumava afirmar que o patrimnio seria a representao econmica da pessoa. Modernamente o conceito de patrimnio foi alargado para compreender tambm o que se denomina de patrimnio moral (conjunto de direitos da personalidade). Quanto a natureza jurdica o patrimnio uma universalidade de direitos e obrigaes. E forte a corrente doutrinaria que cada pessoa tem um patrimnio ainda que esse bens tem origens diversas. Obs: Patrimnio mnimo: consagra uma teoria da lavra do Prof. Luiz Edson Fachin, segundo a qual em respeito a dignidade da pessoa humana a normas, devem resguardar um mnimo de patrimnio para cada um tenha vida digna. 2 PRINCIPAIS CLASSIFICAES DE BENS JURIDICOS a) Imvel por fora de lei: Art. 80 CC: - forte a corrente doutrinaria(FRANCISCO CAHALI) no sentido de que, por conta da natureza imobiliria do direito a herana, a cesso deste direito exige autorizao conjugao, nos termos 1.647 CC. b) Bem mvel por fora de lei: Art. 83 CC: - as energia que tenham valor econmico: smen do boi, energia eltrica. -frutos so utilidades renovveis, que no esgotam a coisa principal. Ex: fruto natural, fruto civil -produto uma utilidade que no se renova, de maneira que sua percepo esgota a coisa principal.ex: ouro, petrleo. -pertenas: espcie de bem acessrio, sendo a coisa que se integra ao bem principal, facilita a sua utilizao, pertena o contrario de parte integrante do bem principal, e sim esta justa posta para servir ao bem principal. Ex: aparelho de ar condicionado uma pertena e tubulao de esgoto pare integrante do bem principal -benfeitorias: a benfeitoria toda obra realizada pelo homem na estrutura de uma coisa, com propsito de conserv-la (necessria), melhor-la (til) ou proporcionar prazer (volupturia). Acesso quando aumento na coisa principal ultrapassa o conceito de benfeitoria.

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En. 11 da 1 JDC: o CC no contemplou a categoria de imvel por acesso intelectual (aquilo que o proprietrio intencionalmente emprega na coisa principal, a ex. maquinrio agrcola). FATO JURIDICO 1 CONCEITO: todo acontecimento natural ou humano apto a criar, modificar ou extinguir relaes jurdicas. AGUSTIN ALVIN fato jurdico fato relevante para o direito. 2 CLASSIFICAO a) fato jurdico em sentido estrito: todo acontecimento natural, que deflagra efeitos jurdicos. a1)ordinrio: so os comuns. Ex: nascimento, morte natural, chuva de vero, decurso do tempo. a2)extraordinrio: so os fatos inesperados. Ex: tsunami. Obs.: nesta primeira categoria no h plano de validade do fato. b) ato-fato jurdico (PONTES DE MIRANDA): comportamento que embora derive do homem e produza efeitos jurdicos desprovido de conscincia ou voluntariedade em sua realizao. Ex: menino acha uma pepita de ouro. c) aes humanas: c1) lcitas: no sistema jurdico brasileiro se chama de ato jurdico. c1.1) ato jurdico em sentido estrito: tambm chamado de ato no negocial, traduz um comportamento humano, voluntario e consciente, cujo os efeitos jurdicos esto previamente determinados na lei. No h liberdade negocial ou autonomia privada na escolha dos efeitos perseguidos. Ex: adquirir propriedade por especificao: o arteso que faz vaso com argila alheia adquire a propriedade por fora de lei, mas indeniza o proprietrio da matria prima. NEGOCIO JURDICO OBS.: Mesmo nos contratos por adeso haver uma margem, ainda que mnima, de autonomia privada no que toca liberdade de aderir ou no ao fora proposto. (A Regra Moral nas Obrigaes Civis George Ripert). Na teoria geral do contrato a autonomia ser retomada na perspectiva de autores como Judith M. Costa e Luigi Ferri, que bem demonstram os parmetros de conteno que a liberdade negocial deve experimentar c1.2) negocio jurdico: consiste em declarao de vontade, segundo a qual o agente movido pela autonomia privada e pela liberdade negocial, persegue e escolhe, respeitando parmetros de ordem pblica, determinados efeitos jurdicos. c2) ilcitas: se convencionou tratar como ato ilcito. *Na opo feita pelo legislador (Art. 186 e 187 CC) o ato ilcito uma categoria prpria, e no faz parte do ato jurdico, como dizem alguns autores. TEORIAS EXPLICATIVAS DO NEGOCIO JURIDICO

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1. Teoria ou corrente voluntarista ou Teoria da vontade (Willens theorie): a teoria mais antiga e sustenta que a pedra fundamental, a matriz explicativa, o ncleo do negocio jurdico a prpria vontade interna ou a inteno do declarante. Tal teoria influenciou especialmente o nosso CC conforme art. 112. 2. Uma segunda teoria ou corrente objetivista ou da declarao (Erklrungstheorie): Sustenta que o que explica, o que justifica o prprio negocio no a inteno do declarante, mas sim, a sua prpria vontade externa ou declarada. Essas teorias se complementam, pois o negocio jurdico deve ser explicado segundo a conjugao da vontade interna com a vontade que se declara, ou seja, precisa das duas vontades. Questo: O que teoria da pressuposio? R: Trata-se de uma teoria desenvolvida por (Windscheid), que sustentava a invalidade do negocio jurdico quando a certeza subjetiva do agente se modificasse na execuo do contrato. O negocio jurdico perde fora se vontade do declarante se modifica no decurso do tempo. Ex: O CC adotou a teoria dualista nos lembra FACHIN, pois regulou separadamente o ato jurdico em sentido estrito (Art. 185) e o negocio jurdico (Art. 04 e ss). *Esquema para entender o negcio jurdico: PLANOS DO NEGOCIO JURDICO O negcio jurdico pode ser subdividido em trs planos de anlise: 1. PLANO DE EXISTNCIA OU PLANO SUBSTANTIVO: Neste plano feita anlise dos elementos/pressupostos existenciais que compem o negcio. Se faltar qualquer pressupostos do negocio jurdico ele inexistente: a) Manifestao de vontade: compreende a vontade interna e externa. Se no houver manifestao de vontade o negocio jurdico inexistente. b) Agente (emissor da vontade): em geral, este agente emissor da vontade uma pessoa fsica ou jurdica podendo tambm ser um rgo c) Objeto (do negocio jurdico): O objeto o bem da vida, sem o objeto o negcio no existe. d) Forma: o necessrio meio pelo qual a vontade se manifesta na linha de Vicente Ro, traduz o revestimento exterior do prprio negcio. # O negocio jurdico em geral, para existir, pressupe a observncia de uma determinada forma de exteriorizao da vontade que poder ser escrita, verbal ou at mmica. OBS.: Lembra-nos Caio Mario que, normalmente, o silncio o nada, de maneira que no serviria para completar a estrutura existencial do negocio. Todavia, na vereda dos sistemas belga, francs, alemo e suo, e tambm a teor do art. 218 do cdigo de Portugal, o art. 111 do CC admite que em determinadas situaes o

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silncio forma de manifestao da vontade, como no caso da doao pura (art. 539, CC). 2. PLANO DE VALIDADE: So os pressupostos de existncia qualificativos do Negcio Jurdico. Previsto no art. 104, CC. a) Manifestao de vontade = tem que ser totalmente livre e de boa f; b) Agente = deve ser capaz e legitimado; c) Objeto = deve lcito, possvel e determinado (vel); d) Forma = deve ser livre ou prescrita/expressa em lei. Se existirem os pressupostos mas no existir a qualificao o negocio nulo. OBS.: Autores como Orlando Gomes observam que licitude no apena legalidade, mas tambm subsuno ao padro mdio de moralidade. * Defeitos do negocio - vcios de vontade: erro, dolo e coao atacam o plano de validade, pois impedem a vontade livre, de boa-f. OBS.: Nos termos do art. 107 CC, vigora no Brasil o princpio da liberdade da forma para os negcios jurdicos. Todavia, em algumas situaes, a prpria lei exige ou prescreve determinada forma para efeito probatrio (negocio ad probatio-nem art. 227) ou prescreve determinada forma como pressuposto de validade do prprio negcio (negocio ad solemnitatem art. 108). Em algumas situaes, portanto, como se l no art. 108, a inobservncia da forma prescrita em lei poder resultar na prpria invalidade do negcio. Negcios imobilirios cujo valor seja superior a 30 salrios mnimos exigvel a forma publica (escritura pblica) exigvel como pressuposto de validade. OBS.: Independentemente do valor no se exige escritura publica para contratos de promessa de compra e venda imobiliria (art. 1417 e 1418 CC forma particular), bem como naqueles garantidos por meio de alienao fiduciria de imveis (art. 38 da L. 9514/07) ou que tenham por objeto aquisio de imvel sujeito ao SFH (art. 61, da L. 4.380/64). PLANO DE EFICCIA (ser visto detalhadamente em aula especifica) So os elementos acidentais (pois podem ocorrer ou no) do negocio jurdico. a. Condio b. Termo c. Modo encargo DEFEITOS OU VICIOS DO NEGOCIO JURDICO a) ERRO OU IGNORNCIA: (art. 138, CC) Teoricamente, afirma-se que o erro uma falsa percepo/representao positiva da realidade, um equivoco na atuao do agente, ao passo que a ignorncia traduz um estado de esprito negativo, completo desconhecimento a respeito do fato. Na pratica, entretanto, existe uma sinonmia.

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Para o que mais nos interessa, importante frisar que o erro defeito do negocio jurdico que o invalida (causa de anulao), desde que, na linha da doutrina tradicional (Clovis Bevilacqua), e segundo julgado do prprio STJ (REsp. 744.311/MT), dois requisitos concorram: 1) o erro deve ser essencial e substancial e; 2) segundo o erro deve ser escusvel ou perdovel. Os autores mais modernos, conforme notamos da leitura do prprio Enunciado 12 da I JDC, corretamente, at pelo acentuado grau de abstrao, entendem dispensvel o requisito da escusabilidade do erro segundo o principio da confiana em respeito boa-f. ESPCIES DE ERRO Na linha da doutrina de Roberto de Ruggiero, luz do art. 139 do CC, fundamentalmente, temos 4 tipos de erro: a) Erro sobre o objeto: aquele que diz respeito s caractersticas essenciais do prprio objeto/bem do negocio jurdico; b) Erro sobre negcio: incide na prpria declarao negocial da vontade; c) Erro sobre pessoa: incide nas caractersticas essenciais de um dos declarantes, com especial aplicao no Direito de Famlia, no campo da anulabilidade do casamento. (art. 1.556). Na jurisprudncia ver TJRS - AC. 7001.680.7315 d) Erro de direito Questo: O que se entende por erro de direito? Ele admitido no Brasil? O Cdigo civil de 1916, por influencia de Clovis Bevilacqua, no aceitava a categoria do erro de direito, omisso esta contornada pelo art. 139, III, NCC.
Art. 139. O erro substancial quando: III - sendo de direito e no implicando recusa aplicao da lei, for o motivo nico ou principal do negcio jurdico.

N alinha de pensamento de autores como EDUARDO ESPINOLA, CARVALHO SANTOS, CAIO MARIO podemos concluir pela admissibilidade do erro de direito que, sem traduzir intencional recusa ao imprio da lei, incide no mbito de atuao permissiva da norma, ou seja, o declarante, ao celebrar o negocio, imagina permitido o que proibido. Obs.: Em teoria geral do contrato, dever ser feita distino entre erro e vicio redibitrio. No se pode confundir erro com negocio redibitrio: Erro subjetivo, uma vez que incide na psique do agente, enquanto o vicio redibitrio objetivo, traduzindo-se como defeito oculta na prpria coisa. Vale lembrar ainda, nos termos do art. 144, CC, que ausente o prejuzo, no h que se falar no erro.
Art. 144. O erro no prejudica a validade do negcio jurdico quando a pessoa, a quem a manifestao de vontade se dirige, se oferecer para execut-la na conformidade da vontade real do manifestante.

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O erro de direito no traduz intencional recusa a aplicao da lei, mas consiste em equivoco justificvel de interpretao normativa, em outras palavras um erro sobre a ilicitude do ato. O CC em Art. 139, III, consagrou o erro de direito como causa tambm de anulao do negocio jurdico. Questo: o que erro imprprio? Segundo a doutrina de na Magalhes, a teoria do erro imprprio, derivada do pensamento de SAVGNY, sustentava que esta categoria de erro (erro imprprio ou erro obstculo) incidiria apenas na vontade externa ou declarada do agente, no na sua inteno. (Ex.: Ao celebrar o negocio em vez de dizer venda o declarante usa a palavra errada e diz locao). O sistema jurdico brasileiro, dado o alto grau de abstrao da tese, no se ocupa com essa distino. DOLO Segundo Clovis o dolo o artifcio astucioso empregado para induzir uma das partes do negocio jurdico a realizar o ato de forma prejudicial ao seu prprio interesse. Vale dizer, o dolo, causa de anulao do negocio jurdico, defeito carregado de m-f, nada mais do que um erro provocado. O dolo pior que o erro no plano axiolgico (na essncia), porque ele carregado de m-f, de peonha, vil, soez. Ento, no conceito valorativo, pior. Ele o artifcio, ardil, que induz uma das partes a incorrer em erro. Ele mais grave porque ele o erro provocado. Mas, se por um lado, se no plano valorativo o dolo mais grave, no plano da produo dos efeitos validantes o erro e o dolo, neste ponto, so iguais. Ambos so causas de ANULAO DO ATO JURDICO. *O prprio direito romano de certa j conhecia o instituto ao consagrar e reconhecer o chamado dolus malus, que se contrape ao chamado dolus bonus, este sim socialmente admitido, e atualmente muito empregado como tcnica de publicidade e propaganda. No mercado de publicidade, o anunciante reala as caractersticas do seu produto. Isso no um defeito, no gera defeito no negcio dos outros. Ex.: O hambrguer da foto e o hambrguer que voc compra para comer. Ex.: O xampu da TV e os cabelos maravilhosos que aparecem na tela. Ex.: O creme dental que aparece na TV onde as pessoas tm os dentes na cor da parede. Ex.: O brinquedo mirabolante na TV que no nada disso quando se leva para casa. Isso tudo dolus bnus, aceitvel. No entanto, ns temos comerciais que esto muito prximos ao dolus malus. Ento, haver dolo mal na publicidade enganosa, ou na prtica comercial abusiva, quando o declarante alterar ou mascarar espuriamente as caractersticas do objeto ou os termos do negcio.

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Esse tipo de tcnica abusiva a MENSAGEM SUBLIMINAR. As mensagens subliminares, aquelas que no podem ser captadas diretamente pelos sentidos humanos, mas que so inconscientemente percebidas, resultando muitas vezes em comportamento no desejado, traduzem atuao dolosa e ilcita, carregada de m-f vedada pelo nosso ordenamento jurdico. E realizada com o escopo de induzir o declaratrio a realizar comportamento no refletido no seu plano crtico e consciente. (ver PL n 4.068/08 e PL n 4.825/09). Ex.: Tela do cinema que mostra, sem que voc perceba, vrias vezes, o saco de pipoca e a garrafa da coca-cola. bom lembrar que a mensagem subliminar pode ser auditiva ou visual. E esse dolo mal, invalida o negcio. O dolo para invalidar o negocio jurdico, deve ser principal, ou seja, atacar a prpria causa do negocio (art. 145, CC); no entanto, se o dolo for meramente acidental (art. 146, CC), por atacar aspectos secundrios do negocio, este ser mantido, impondo apenas a obrigao de pagar perdas e danos.
Art. 145. So os negcios jurdicos anulveis por dolo, quando este for a sua causa. Art. 146. O dolo acidental s obriga satisfao das perdas e danos, e acidental quando, a seu despeito, o negcio seria realizado, embora por outro modo.

dolo negativo Na perspectiva do principio da boa-f objetiva, a omisso ou o silncio intencional a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado poder resultar tambm na invalidade do negocio jurdico. o chamado dolo negativo (art. 147, CC).
Art. 147. Nos negcios jurdicos bilaterais, o silncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omisso dolosa, provando-se que sem ela o negcio no se teria celebrado.

Dolo bilateral Vale observar ainda que o art. 150, CC impede que o dolo bilateral seja oficialmente amparado.
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode aleg-lo para anular o negcio, ou reclamar indenizao.

Dolo de terceiro Nos termos do art. 148, a regra geral de que o dolo de terceiro somente anular o negocio se a parte beneficiaria dele soubesse ou tivesse como saber.

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Art. 148. Pode tambm ser anulado o negcio jurdico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrrio, ainda que subsista o negcio jurdico, o terceiro responder por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.

COAO Temos duas espcies de coao: Fsica (vis absoluta): Negocio inexistente - ausncia da manifestao de vontade, o contrato inexistente; Moral (vis compulsiva): Negocio anulvel A coao, causa de anulao do negocio jurdico, consiste na violncia pscologica ou ameaa dirigida a vitima para que celebre um negocio jurdico que a sua vontade interna no deseja realizar (art. 151, CC). Este conceito o da coao moral.
Art. 151. A coao, para viciar a declarao da vontade, h de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considervel sua pessoa, sua famlia, ou aos seus bens. Pargrafo nico. Se disser respeito a pessoa no pertencente famlia do paciente, o juiz, com base nas circunstncias, decidir se houve coao.

Ao apreciar a coao, nos termos do art. 152, CC, no se deve levar em conta a figura do homem mdio, mas sim, as caractersticas pessoais em concreto.
Art. 152. No apreciar a coao, ter-se-o em conta o sexo, a idade, a condio, a sade, o temperamento do paciente e todas as demais circunstncias que possam influir na gravidade dela.

Obs.: No se pode confundir, nos termos do art. 153, a coao com a ameaa do exerccio regular de direito nem com o simples temor reverencial. O TJRJ, julgando a AC. 2.004.001.34437, assentou que a ameaa da negativao legitima do nome do devedor no traduz coao.
Art. 153. No se considera coao a ameaa do exerccio normal de um direito, nem o simples temor reverencial.

Coao de terceiro Em sntese, nos termos dos arts. 154 e 155, a coao de terceiro anular o negocio somente se o beneficirio soubesse ou tivesse como saber, caso em que RESPONDER SOLIDARIAMENTE pelas perdas e danos.
Art. 154. Vicia o negcio jurdico a coao exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responder solidariamente com aquele por perdas e danos. Art. 155. Subsistir o negcio jurdico, se a coao decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coao responder por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.

LESO Esse vcio do negcio jurdico o mais prximo da nossa realidade. A leso, posto j conhecida pelo direito romano (quando diferenciava a leso enorme da leso enormssima, no fora tratada pelo Cdigo Civil de 1916, razo

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pela qual criticas forma feitas por tal omisso, mormente em se considerando que este instituto encontra terreno frtil nas sociedades de massa do sec. XX. Em verdade, a necessidade de reconhecimento da leso estava na razo direta dos crescentes abusos do poder econmico e que se concretiza quando em face do abuso, da necessidade ou inexperincia, onde uma das partes assume prestao excessivamente onerosa, em franco desrespeito ao Princpio da Equivalncia Material. A leso, causa de invalidade do negocio jurdico (art. 157, CC), deriva da desproporo entre as prestaes pactuadas, em virtude da necessidade ou inexperincia de uma das partes a quem se impe uma obrigao excessivamente onerosa. Obs.: O tratamento legal desse importante vicio tem o seu ponto de partida a Lei n 1.521/1951(Lei de Economia Popular),passando pelo CDC (arts. 6, V , 39, V e 51, IV), para finalmente tambm ser reconhecido pelo nosso CC (art. 157).
Art. 6 So direitos bsicos do consumidor: V - a modificao das clusulas contratuais que estabeleam prestaes desproporcionais ou sua reviso em razo de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; Das Prticas Abusivas Art. 39. vedado ao fornecedor de produtos ou servios, dentre outras prticas abusivas: V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; Das Clusulas Abusivas Art. 51. So nulas de pleno direito, entre outras, as clusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e servios que: IV estabeleam obrigaes consideradas inquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatveis com a boa-f ou a eqidade; Art. 157. Ocorre a leso quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperincia, se obriga a prestao manifestamente desproporcional ao valor da prestao oposta. 1 Aprecia-se a desproporo das prestaes segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negcio jurdico. 2 No se decretar a anulao do negcio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a reduo do proveito. ( o Princpio da Conservao do Negcio)

Vale observar que o CDC trata a leso como causa de nulidade absoluta do negocio; Ao passo que o CC trata a leso como causa de anulabilidade. Obs.: Quando o desequilbrio do contrato oriundo de taxa e juros bancrios, o STF costuma no entender que seja leso. Obs.: Caio Mrio diz que o milionrio pode at no sofrer leso com freqncia, mas pode ocorrer em razo da sua inexperincia (e no por conta de necessidade) em determinado ramo de um negcio desconhecido por ele. Mas, frequentemente, quem vtima de leso o pobre, o necessitado, e por conta dele, que se deve usar o Princpio da Funo Social do Contrato. Alis, a leso tem ntima relao com este princpio. H um caso inclusive, que chegou ao STJ onde o tribunal no invalidou o contrato, mas recalculou a atualizao da dvida do autor devedor. No posso confundir a leso, vicio invalidante do negocio jurdico, em que a desproporo entre as prestaes nasce com o prprio negocio com a teoria da

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impreviso, uma vez que esta doutrina pressupe um contrato que nasce valido e somente se desequilibra depois. Ex.: Contrato de compra de um som onde a parte compradora vai assumir uma prestao excessivamente onerosa por pura inexperincia. Do conceito da leso podemos extrair dois elementos ou requisitos: a) Elemento material ou objetivo: a desproporo entre as prestaes do negocio; b) Elemento imaterial ou subjetivo: necessidade ou inexperincia da parte prejudicada. **O Princpio da Conservao orienta o magistrado sempre que o juiz for avaliar a validade do negcio. Mas, num contrato de negcio envolvendo consumidor, neste caso, causa absoluta de nulidade do contrato. Portanto, o juiz deve analisar bem o contrato, porque se for oriundo do CC, caso de ANULAO DO NEGCIO JURDICO. LESO CONTRATO BASEADO NO CDC NEGCIO NULO LESO CONTRATO BASEADO NO CC CASO DE ANULAO ESTADO DE PERIGO Assim como a leso, o estado de perigo no fora tratado pelo CC de 1916, merecendo reconhecimento tardio no art. 156 do NCC. Trata-se de uma aplicao do estado de necessidade no Direito Civil, podendo este vicio ser conceituado da seguinte maneira: O estado de perigo, causa de anulabilidade do negocio jurdico, ocorre quando uma das partes premida da necessidade de salvar-se ou a pessoa prxima de grave perigo de dano, conhecido pela outra parte, assume prestao excessivamente onerosa.
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando algum, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua famlia, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigao excessivamente onerosa. Pargrafo nico. Tratando-se de pessoa no pertencente famlia do declarante, o juiz decidir segundo as circunstncias.

Obs.: O prprio STJ j reconheceu REsp. 918.392/RN, a despeito de criticas da doutrina (Gustavo Nicolau), que, no estado de perigo exigisse o dolo de aproveitamento, ou seja, a parte contraria tem conhecimento desse perigo. (O dolo de aproveitamento da parte que se beneficia (isso para a doutrina clssica) a necessidade ou a inexperincia da parte que se prejudica). *O Dolo de Aproveitamento o dolo especfico de aproveitar, de explorar. a inteno de realizar o ilcito. Embora a doutrina entenda que no negcio em que haja leso deva ter o dolo de aproveitamento da parte que se beneficia e a necessidade ou a inexperincia da outra parte que se prejudica, tanto o CC quanto o CDC, para auxiliar a parte que se prejudicou, dispensam a prova do dolo de aproveitamento.

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Perfeita aplicao do instituto poder se dar em face da absurda e ilegtima exigncia do cheque cauo como condio para atendimento emergencial em clinicas e hospitais (REsp. 796.739/MT, REsp. 918.392/RN, Ap. 833.355-7/TJSP) **A Resoluo 412 da ANS, nas condies estabelecidas por ele, probe esse tipo de cobrana de garantia, podendo tal pratica resultar em Representao perante o MPF. Espcies de dolo: 1.Dolo Invalidante (ou dolo principal) ou seja, o dolo somente invalida o negcio se ele atacar a causa, a substncia do negcio.
Art. 145. So os negcios jurdicos anulveis por dolo, quando este for a sua causa.

O dolo que invalida o negcio o dolo mal. Obs.: No posso confundir o dolo principal, invalidante do negcio, com o dolo simplesmente acidental, que diz respeito apenas s caractersticas secundrias do negcio. (art. 146 do CC) 2.Dolo Acidental (ou secundrio):
Art. 146. O dolo acidental s obriga satisfao das perdas e danos, e acidental quando, a seu despeito, o negcio seria realizado, embora por outro modo.

Esse dolo acidental no anula o negcio. Ele apenas gera a obrigao de indenizar por perdas de danos. Ex.: Trouxe um celular dos EUA. Eu sei que ele no funciona aqui no Brasil, porque ele no compatvel com nenhuma operadora. E o vendo. Esse negcio ilegal. Ele ser invalidado. ( o dolo invalidante) Ex.: Vendo um celular cujo acessrio no funciona. Eu sabia, mas vendi assim mesmo. Ainda que o dolo tenha atingido um aspecto secundrio, isso no invalida todo o negcio, mas d direito s perdas e danos por aquele acessrio. o dolo acidental. J o dolo acidental s d direito s perdas e danos mesmo. (porque no atine todo o negcio) Obs.: o dolo pode derivar da atuao de um terceiro (art. 148 do CC)
Art. 148. Pode tambm ser anulado o negcio jurdico por dolo de terceiro,/ se a parte a quem aproveite dele/tivesse ou devesse ter conhecimento;/ em caso contrrio, ainda que subsista o negcio jurdico/, o terceiro responder por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. (= cumplicidade)

Explicao: havendo dolo de terceiro, o negocio s anulado se houver cumplicidade entre o 3 e o beneficiado. A prova de concurso tem que dizer isso, que o beneficirio sabia ou devia saber dessa m-f existente no negcio por parte do 3. Se este beneficiado comprovar que no sabia, o negcio fica mantido, e o 3 quem vai responder por perdas e danos ao prejudicado. Se no houve cumplicidade do 3 com o beneficiado, o beneficiado no tem que indenizar nada. Mas, se houve cumplicidade entre os dois, ambos arcaro com as

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perdas e danos, no de maneira solidria (porque a lei nada prev sobre a solidariedade), mas sim, respondendo de acordo com a sua atuao dolosa. Ex.: Um Corretor de Gado, movido pela m-f, se prope a comprar umas cabeas de gado do Fazendeiro Y, porque ele sabe que o gado est doente e j vai morrer. Por conta disso, ele comprou o gado por preo baixo, e os revendeu a uma Fazendeira X, por um bom preo, e sem que ela soubesse que o gado estava fadado a morrer em breve. Segundo a interpretao deste art. 148, se o corretor estiver em conluio com o Fazendeiro Y, o negcio anulvel e os dois ainda respondem por perdas e danos, na medida das suas participaes. No entanto, se o Fazendeiro Y nada sabia sobre as ms intenes do corretor, o negcio permanece vlido (at porque o Fazendeiro Y no tem nada a ver com a malandragem do corretor, e no pode ter prejuzo) e s quem vai responder por perdas e danos ser o corretor. Em suma: Dolo de 3 + conluio do beneficiado = anulao do negcio + perdas e danos sobre os dois. Dolo de 3 - conluio do beneficiado = no anula o negcio + perdas e danos do terceiro. Perguntas: 1. O que DOLO NEGATIVO? (caiu na prova de TJGO) 2. O que DOLO BILATERAL? 1. O Dolo Negativo, previsto no art. 147 do CC, traduz uma omisso dolosa, violadora do Princpio da Boa-F Objetiva. O dolo negativo uma omisso de informao, que viola o Princpio da Eticidade.
Art. 147. Nos negcios jurdicos bilaterais, o silncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omisso dolosa, provando-se que sem ela o negcio no se teria celebrado.

2. O Dolo Bilateral resulta da situao de m-f das duas partes do negcio. (art. 150 do CC)
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode aleg-lo para anular o negcio, ou reclamar indenizao.

a torpeza existente entre as duas partes, e por isso, no se compensa nada. nulo o negcio. COAO: Ns temos 2 espcies de coao: 1. A Coao Fsica (vis absoluta) NEGCIO INEXISTENTE 2. A Coao Moral (vis compulsiva) NEGCIO ANULVEL Ex.: O lutador de sum que pegou o brao da senhorinha e a fez assinar um contrato, um negcio inexistente. inexistente porque no houve qualquer manifestao de vontade da senhorinha.

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Ex.: A coao moral uma coao psicolgica. Aqui, a vontade de se manifestar no deixa de existir, mas ela mitigada, deixando, porm, uma margem para a REAO. Ns veremos aqui que a coao moral torna o negcio jurdico anulvel, e o seu conceito est no artigo 151 do CC.
Art. 151. A coao, para viciar a declarao da vontade, h de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considervel sua pessoa, sua famlia, ou aos seus bens. Pargrafo nico. Se disser respeito a pessoa no pertencente famlia do paciente, o juiz, com base nas circunstncias, decidir se houve coao.

Ex.: Se voc no celebrar um negcio comigo, eu vou matar a sua namorada. Neste caso, o juiz vai avaliar se houve coao ou no. Obs.: A figura do homem mdio a figura do homem de existncia comum. Nunca use essa expresso em sua prova no caso de coao, porque o que conta para a coao so as condies do art. 152 do CC (como SEXO, IDADE, CONDIO, SADE, TEMPERAMENTO...). Vale lembrar que, por fora de norma explcita, art. 152 do CC, a coao sempre ser analisada em concreto. Por isso, no se invoca a figura do homem mdio. E mais, na forma do art. 153, fica claro que a coao no se confunde com a ameaa do Exerccio Regular do Direito, nem com Simples Temor Reverencial.
Art. 152. No apreciar a coao, ter-se-o em conta o sexo, a idade, a condio, a sade, o temperamento do paciente e todas as demais circunstncias que possam influir na gravidade dela. Art. 153. No se considera coao a ameaa do exerccio normal de um direito, nem o simples temor reverencial.

Ex.: Colocar o nome de algum no Serasa no ameaa, exerccio regular de direito. Assim entende a jurisprudncia. Ex.: O Temor Reverencial, que o respeito autoridade constituda ou reconhecida, tambm no representa ameaa. Ex.: Autoridade eclesistica, os pais, os sogros, o militar,... eles no ameaam ou coagem ningum (a no ser que atuem com ameaas mesmo). caso de RESPEITO, e no de ameaa. COAO EXERCIDA POR TERCEIRO: (Art. 154 e art. 155 do CC) Ex.: o mesmo exemplo do dolo acima, s que caso de coao de terceiro. Aqui, havendo cumplicidade entre o coator e o beneficirio, este responder SOLIDARIAMENTE com o coator.
Art. 154. Vicia o negcio jurdico a coao exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responder SOLIDARIAMENTE com aquele por perdas e danos.

Esta solidariedade no dolo NO EXISTE. At porque, a solidariedade no se presume. L, cada um vai responder segundo a sua atuao dolosa.
Art. 155. Subsistir o negcio jurdico, se a coao decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento (o beneficirio); mas o autor da coao responder por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.

Neste artigo, o negcio persiste, mas neste caso, haver indenizao por perdas e danos. Ex.: O Corretor de Gado far ameaas fazendeira (ou voc compra o gado ou te mato). E o negcio s ser anulado se no houver cumplicidade entre o coator e

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o beneficiado. Se havia cumplicidade entre eles, o beneficiado responder pela indenizao integral ou solidria com o coator (porque ele sabia ou devia saber das ameaas feitas pelo terceiro). Assim, se o beneficiado sabia ou devia saber (era cmplice), ele responde por perdas e danos em solidariedade com o 3. Enquanto que se o beneficiado no sabia de nada, ele no responde por nada. O negcio no ser anulado, porque para ele, tudo foi feito em conformidade. AULA 20/04/2011 SIMULAO Na simulao, celebra-se um negcio jurdico que tem aparncia de negcio normal, mas que, em verdade, no pretende atingir um efeito que juridicamente deveria produzir. A doutrina clssica a classifica como um vcio muito grave. uma declarao falsa da vontade, visando aparentar negcio diverso do efetivamente desejado. A simulao diferente do dolo, porque neste, uma das partes sempre vtima. Enquanto que na simulao, as partes no se comunam para prejudicar um terceiro. A simulao produto de um conluio entre os contratantes, visando obter efeito diverso daquele que o negcio aparenta conferir. Difere do dolo, porque neste a vtima participa da avena, sendo induzida em erro, porm. Na simulao, a vtima lhe estranha. chamada de vcio social porque objetiva iludir terceiros ou violar a lei. No CC de 1916, a Simulao era causa de anulao do negcio jurdico, enquanto a Simulao no CC/2002 causa de nulidade. No que tange a validade do negcio, voc tem que aplicar a lei da poca em que foi celebrado o negcio. Espcies de simulao: Ambas geram a nulidade do negcio. a) Simulao absoluta: As partes criam um negocio jurdico destinado a no gerar efeito jurdico algum. Verdadeiro jogo de cena. Nesta simulao, as partes no realizam nenhum negcio. Apenas fingem, para criar uma aparncia, uma iluso externa, sem que na verdade desejem o ato. Em geral, destina-se a prejudicar terceiro, subtraindo os bens do devedor execuo ou partilha. Ex.: a falsa confisso de dvida perante amigo, com concesso de garantia real, para esquivar-se da execuo de credores quirografrios. Ex.: Um sujeito est apavorado com a sua separao, porque sua mulher advogada. Ele ento chama um amigo para celebrar uma simulao absoluta. Ele quer transferir o seu patrimnio para o seu amigo sob a falsa criao da quitao de uma dvida. Essa a simulao absoluta.

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b) Simulao Relativa (tambm chamada de Dissimulao): Por sua vez as partes criam um negocio jurdico destinado a encobrir outro negocio que produzir efeitos vedados por lei. Obs.: Poder haver simulao relativa tambm quando o ato simulado praticado mediante interposta pessoa. O CC/02, rompendo tradio legislativa, passou a considerar a simulao causa de NULIDADE ABSOLUTA do negcio jurdico, diferentemente de outros defeitos do negocio jurdico que geram anulao do negcio. (Art. 167, caput , CC)
Art. 167. nulo o negcio jurdico simulado, mas subsistir o que se dissimulou, se vlido for na substncia e na forma.

Obs.: Na simulao relativa, luz do principio da conservao em sendo possvel, o juiz poder aproveitar o negcio dissimulado (2 parte do art. 167). Obs.: O art. 103 do CC/16 dispunha que a simulao inocente (desprovida da inteno de prejudicar) no invalidaria o negocio; j o CC/02 no traz esta distino (En. 152 da III JDC). Obs.: Considerando-se que a simulao passou a ser causa de nulidade absoluta do negcio jurdico, qualquer pessoa poder aleg-la, inclusive um simulador em face do outro (En. 294 da IV JDC). Questo: O que contrato de vaca-papel? R.: Na linha de pensamento do prof. Marco Pissurno, trata-se de um contrato simulado que pretexto de traduzir uma parceria pecuria, em verdade, encobre um emprstimo a juros abusivos. O prprio STJ tem reconhecido a invalidade deste tipo de negcio simulado (REsp. 595.766/MS). Questo 2: O que reserva mental? (Alguns autores a chamam de reticncia) R.: A reserva mental se configura quando o agente emite uma declarao de vontade, resguardando o intimo propsito de no cumprir a finalidade projetada. Qual conseqncia jurdica que decorre da reserva mental? Correntes: 1 corrente: Parte da doutrina (Carlos Roberto Gonalves) entende que se a outra parte toma conhecimento da reserva mental, o negcio jurdico deveria ser invalidado. (Por dolo ou simulao); a correta para Pablo; 2 corrente: Na linha da doutrina do Min. Moreira Alves, o art. 110 do CC aponta no sentido de que o negcio se tornaria inexistente a partir do momento em que a outra parte toma conhecimento da reserva. (adotada) TEORIA DA INVALIDADE A invalidade um gnero do qual derivam a nulidade absoluta (negcio nulo) e a nulidade relativa (negcio anulvel). A nulidade absoluta (negocio nulo) mais grave que a nulidade relativa (negocio anulvel), pois aquela viola norma de ordem pblica. Toda nulidade absoluta ou

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relativa pressupe um texto de lei. Os artigos que prevem a nulidade so os 166, 167 (absoluta) e o 171 (relativa). NULIDADE ABSOLUTA (negcio nulo)
Art. 166. nulo o negcio jurdico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilcito, impossvel ou indeterminvel o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilcito; IV - no revestir a forma prescrita em lei; (como as portas abertas no casamento) V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prtica, sem cominar sano. Art. 167. nulo o negcio jurdico simulado, mas subsistir o que se dissimulou, se vlido for na substncia e na forma. 1o Haver simulao nos negcios jurdicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas s quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declarao, confisso, condio ou clusula no verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou ps-datados. 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-f em face dos contraentes do negcio jurdico simulado.

Obs.: O inciso III do art.166 do CC deve ser interpretado no sentido de considerar nulo o negcio jurdico quando a sua causa for considerada ilcita. Causa a finalidade do prprio negocio, ou na linha do direito italiano, a funo do negcio jurdico. Quando o legislador diz que motivo comum a ambas as partes no o motivo psicolgico de cada um, mas sim, a finalidade objetiva ou a funo do prprio negcio. Ex.: Contrato de locao onde as partes tm por finalidade instalar uma casa de prostituio. Questo: O que reduo do negcio invlido? R.: Opera-se a reduo quando o juiz, podendo, extirpa determinada ou determinadas clusulas invlidas mantendo o restante do negcio (Art. 184, CC)
Art. 184. Respeitada a inteno das partes, a invalidade parcial de um negcio jurdico no o prejudicar na parte vlida, se esta for separvel; a invalidade da obrigao principal implica a das obrigaes acessrias, mas a destas no induz a da obrigao principal.

Caractersticas da nulidade absoluta: a) A nulidade absoluta do negcio jurdico dada a sua gravidade poder ser alegada por qualquer interessado, pelo MP (quando lhe couber intervir) ou at mesmo reconhecida de oficio pelo juiz (Art. 168).
Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministrio Pblico, quando lhe couber intervir.

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Pargrafo nico. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negcio jurdico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, no lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.

b) O negcio nulo no admite confirmao, nem convalesce pelo decurso do tempo, nos termos do art. 169, embora eventuais efeitos patrimoniais sejam prescritveis, ou seja, embora a nulidade absoluta no tenha prazo para ser declarada, o seus efeitos patrimoniais prescrevem - uma vez nulo sempre nulo;
Art. 169. O negcio jurdico nulo no suscetvel de confirmao, nem convalesce pelo decurso do tempo.

c) a sentena que declara a nulidade absoluta, produz efeitos ex tunc atingindo o negocio nulo ab initio. NULIDADE RELATIVA (negcio anulvel)
Art. 171. Alm dos casos expressamente declarados na lei, anulvel o negcio jurdico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vcio resultante de erro, dolo, coao, estado de perigo, leso ou fraude contra credores.

Obs.: Vale lembrar que o art. 171 no esgota todas as hipteses de anulao do negcio jurdico, uma vez que outras situaes podem ser encontradas a exemplo da prevista no art. 496, CC que considera anulvel a venda de ascendente a descendente sem o consentimento dos demais herdeiros. Caractersticas na nulidade relativa ou do negcio anulvel: a) A anulabilidade somente poder ser argida pelo legtimo interessado, mediante ao anulatria, no podendo o juiz reconhec-la de oficio. (art. 177)
Art. 177. A anulabilidade no tem efeito antes de julgada por sentena, nem se pronuncia de ofcio; s os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade.

b) Diferentemente da nulidade absoluta, o negcio anulvel convalesce pelo decurso do tempo, de maneira que a ao anulatria deve ser proposta dentro do seu prazo decadencial (arts. 178 e179).
Art. 178. de quatro anos o prazo de decadncia para pleitear-se a anulao do negcio jurdico, contado: I - no caso de coao, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou leso, do dia em que se realizou o negcio jurdico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato anulvel, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulao, ser este de dois anos, a contar da data da concluso do ato.

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Obs.: O art. 179 conjugado com o art. 496 nos leva a concluso da perda de eficcia da Smula 494 do STF, uma vez que, no atual sistema, o prazo de anulao da venda de ascendente a descendente passaria a ser de dois anos. c) diferentemente do negcio nulo o negocio anulvel admite confirmao pela vontade das partes (arts. 172 a 174)
Art. 172. O negcio anulvel pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro. Art. 173. O ato de confirmao deve conter a substncia do negcio celebrado e a vontade expressa de mant-lo. Art. 174. escusada a confirmao expressa, quando o negcio j foi cumprido em parte pelo devedor, ciente do vcio que o inquinava

d) A despeito de certa polmica adequado o raciocnio de autores como Maria Helena Diniz e Humberto Theodoro Junior, com base no art. 182 do CC, no sentido de que, por exceo, a despeito da sua natureza desconstitutiva a sentena anulatria do negcio jurdico tambm tem eficcia ex tunc (retroativa). uma sentena especial, uma exceo, pois este tipo de sentena no pode ser ex nunc, como falado por todos, e sim tem que retroagir os efeitos ao status quo ante.
Art. 182. Anulado o negcio jurdico, restituir-se-o as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, no sendo possvel restitu-las, sero indenizadas com o equivalente.

Obs.: Lembra Pontes de Miranda que enquanto a sentena anulatria no proferida o negcio anulvel surte efeitos eficcia interimstica. Questo: possvel a nulidade superveniente? R.: Parte da doutrina, a exemplo de Martinho Garcez Neto observa que em determinadas situaes cabvel a tese da nulidade superveniente. Questo 2: O que converso do negcio jurdico invalido? R.: Trata-se de uma das poucas medidas sanatrias de um negcio nulo (conferir Rachel Schmiedel, Saraiva). Foi no Cdigo Civil alemo em seu 140 (Umdeutung) que tratou de forma pioneira da conversibilidade do negcio jurdico invalido, no que foi seguido por outros cdigos, a exemplo do art. 293 do CC de Portugal e do art. 170 do nosso CC. Essa medida se aplica tanto a nulidade absoluta quanto a relativa. Conceito: Trata-se de uma medida sanatria, por meio da qual aproveitam-se os elementos materiais de um negcio invalido, segundo a vontade das partes, convertendo-o em outra categoria de negcio vlido e de fins lcitos.
Art. 170. Se, porm, o negcio jurdico nulo contiver os requisitos de outro, subsistir este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.

*Para que haja esta converso, alm do aproveitamento do negcio invalido (requisito material), deve ficar claro que se as partes houvessem previsto a nulidade teriam celebrado o negcio convertido (requisito imaterial ou subjetivo). Um bom exemplo a conversibilidade de uma compra e venda por vicio de forma em promessa de compra e venda

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Aplicao do princpio da conservao: o Reduo do negocio jurdico: a operao em que o juiz afastando as clusulas invalidadas do negocio, podendo, conserva o restante do ato. o Toda invalidade pressupe previso legal e prejuzo. Aula on-line FRAUDE CONTRA CREDORES Conceito: A fraude contra credores, vcio do negocio jurdico, caracteriza-se pela prtica de um ato negocial que diminui o patrimnio do devedor insolvente ou a beira da insolvncia, prejudicando credor preexistente. o Ex.: Devedor que deve ao Banco R$ 200.000,00 (passivo) tendo uma casa no valor de R$ 50.000,00 (patrimnio remanescente ativo). Por meio de contrato transfere gratuitamente este imvel, que poderia honrar parte da obrigao, ao filho tornando-se insolvente caracterizando assim fraude contra credores. Obs.: No confundir fraude contra credores e simulao. Na fraude no h simulao, no h disfarce. Alm disso, a doutrina predominante entende que a vtima da fraude sempre especfica: o credor preexistente. A fraude contra credores pressupe para sua caracterizao dois elementos: a) Consilium fraudis conluio fraudulento (m-f); b) Eventus damni: prejuzo ao credor preexistente que descobre que o devedor dilapidou seu patrimnio em detrimento da obrigao. Obs.: Maria Helena Diniz e Marco Bernardes de Mello afirmam que em negcios de transmisso gratuita de bens a fraude to grave que se dispensa a prova da m-f, ou seja, esta presumida. Ex: Doao fraudulenta Hipteses legais de fraude contra credores: 1) Negcio gratuito de transmisso fraudulenta de bens - Art. 158, CC: Ex: doao fraudulenta;
Art. 158. Os negcios de transmisso gratuita de bens ou remisso de dvida, se os praticar o devedor j insolvente, ou por eles reduzido insolvncia, ainda quando o ignore, podero ser anulados pelos credores quirografrios, como lesivos dos seus direitos. 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. 2o S os credores que j o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulao deles.

2) Remisso fraudulenta de dvidas (perdo fraudulento) Art. 158; 3) Contratos onerosos celebrados pelo devedor insolvente, quando a sua insolvncia for notria ou houver motivo para ser conhecida pela outra parte (art.159):

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o Para se provar a fraude neste caso, alm dos requisitos gerais (dano e m-f) o credor dever provar que a insolvncia era notria ou que havia motivo para ser conhecida pela outra parte (parentesco prximo). o Pode haver a fraude at mesmo em contratos onerosos do devedor insolvente.
Art. 159. Sero igualmente anulveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvncia for notria, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.

4) Antecipao fraudulenta de pagamento feita a um dos credores quirografrios, em detrimento dos demais - Art. 162, CC. o Credor quirografrio o credor sem preferncia de garantia.
Art. 162. O credor quirografrio, que receber do devedor insolvente o pagamento da dvida ainda no vencida, ficar obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.

5) Outorga fraudulenta de garantia de dvida dada a um dos credores, em detrimento dos demais - Art. 163: Ex.: Hipoteca
Art. 163. Presumem-se fraudatrias dos direitos dos outros credores as garantias de dvidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.

Obs.: Fraude contra credores no se confunde com fraude execuo. A fraude execuo mais grave, uma vez que alm de afronta o credito desrespeita a administrao da justia, na medida em que j existe contra o devedor demanda capaz de oficialmente reduzi-lo ou reconhecer sua insolvncia. (REsp. 684.925/RS). o Em tal caso, resguardado o direito de ampla defesa, o juiz poder reconhecer de plano a nulidade do ato fraudulento. A ao judicial por meio da qual o credor impugnar o ato fraudulento a Ao Pauliana que uma ao revocatria especfica e que tem prazo decadencial de 4 anos para a sua propositura. Ao Pauliana ao pessoal que no exige outorga conjugal e tem prazo decadencial de quatro anos, a contar de quatro anos a contar da concluso do ato. Observaes especiais a luz do STJ sobre o tema: o CC 74.528/SP 14/05/08: O STJ firmou a idia de que competncia da justia comum analisar fraude contra credores, ainda que se trate de crdito trabalhista. o Smula n 195/STJ lembra-nos que fraude contra credores exige ao especfica, no podendo ser argida em embargos de terceiro. A legitimidade ativa para propor a Ao Pauliana do credor preexistente. Obs.: O NCC no 1 do art. 158 lembra que mesmo o credor com garantia pode ter interesse na Pauliana se a mesma se tornar insuficiente. A legitimidade passiva em face do devedor insolvente, da pessoa que com ele contratou e eventualmente o terceiro de m-f. (Art.161, CC). No caso do bem ter sido transferido a terceiro caber a este provar boa-f. Se tiver de

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boa-f no integra o plo passivo e nem devolve o bem alienado. Neste caso o credor dever procurar outros bens dos legitimados passivos.
Art. 161. A ao, nos casos dos arts. 158 e 159, poder ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulao considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de m-f.

Natureza jurdica da sentena na Ao Pauliana 1 corrente: Corrente dominante (Nelson Neri Jr., Min. Moreira Alves) seguindo pensamento tradicional, e amparado no prprio CC nos termos do art. 165, sustenta que a sentena na Pauliana desconstitutiva anulatria do negcio fraudulento.
Art. 165. Anulados os negcios fraudulentos, a vantagem resultante reverter em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Pargrafo nico. Se esses negcios tinham por nico objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importar somente na anulao da preferncia ajustada.

2 corrente: minoritria (Yusef Said Cahali, Alexandre Cmara, Frederico Pinheiro, Nelson Hanada), mas tem amparo em julgado do STJ. Esses autores sustentam quem em verdade a sentena na Pauliana no de invalidao do negcio, mas apenas declaratria da ineficcia do negcio fraudulento em face do credor prejudicado. (REsp 306.512/MS). Esse julgado, afastando-se da literalidade do CC, adotou a corrente da ineficcia. jurisprudncia contra legem, mas de melhor doutrina. No REsp. 1.092.134/SP o STJ entendeu por relativizar a exigncia do credor preexistente para a caracterizao da fraude sob o argumento de se buscar a eficcia social do direito.

Invalidade do negcio jurdico Nulidade absoluta: Torna o Negcio nulo mais grave, pois ofende norma de ordem pblica, ou norma cogente.
Art. 166. nulo o negcio jurdico quando: I celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II for ilcito, impossvel ou indeterminvel o seu objeto; III o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilcito; IV no revestir a forma prescrita em lei; V for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prtica, sem cominar sano. Art. 167. nulo o negcio jurdico simulado, mas subsistir o que se dissimulou, se vlido for na substncia e na forma. 1 Haver simulao nos negcios jurdicos quando: I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas s quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declarao, confisso, condio ou clusula no verdadeira; III os instrumentos particulares forem antedatados, ou ps-datados. 2 Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-f em face dos contraentes do negcio jurdico simulado.

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Obs.: o inciso III do Art.166, refere-se a motivo determinante comum a ambas as partes, est em verdade, fazendo meno a causa do negocio jurdico. Causa finalidade negocial, ou na linha do direito italiano, a funo do negocio jurdica. Quando o legislador diz que motivo comum a ambas as partes no o motivo psicolgico de cada um, e sim a finalidade negocial. 2.1.1 Caractersticas da nulidade absoluta: a) pode ser alegada por qualquer pessoa, pelo MP (quando lhe couber intervir) ou at mesmo reconhecida de oficio pelo juiz[Art. 168] b) o negocio nulo no admite confirmao [Art. 169 1 parte] c) a nulidade absoluta no convalesce pelo decurso do tempo, ou seja, imprescritvel [Art. 169 2 parte] obs.: embora a nulidade absoluta no tem prazo para ser declarada, o seus efeitos patrimoniais prescrevem. d) a sentena que declara a nulidade absoluta, produz efeitos ex tunc.

2.2 Nulidade relativa (anulabilidade) Torna o Negcio anulvel


Art. 171. Alm dos casos expressamente declarados na lei, anulvel o negcio jurdico: I por incapacidade relativa do agente; II por vcio resultante de erro, dolo, coao, estado de perigo, leso ou fraude contra credores.

Podem existir outros casos alem dos elencados, o rol exemplificativo. Como por exemplo a compra e venda entre pai e filho que necessita de outorga filial dos irmos e conjugal, sem os mesmos, pode o negocio ser anulvel. [Art. 496] 2.2.1 Caractersticas na nulidade relativa: a) a anulabilidade deve ser argida pelo legitimo interessado, mediante ao anulatria, no podendo o juiz declar-la de oficio. b) a ao anulatria no imprescritvel, submetendo-se aos prazos decadenciais de lei.[Art. 178 e179] -combinando o Art. 179 e 496 conclumos: que o prazo para anular venda de ascendente a descente dois anos, e no mais de vinte anos, estando prejudicada a s. 494 do STF. c) o negocio anulvel pode ser confirmado pela vontade das partes [Art. 172 a 174] d) a despeito da polemica (MARIA HELENA DINIZ X HUMBERTO THEODORO JUNIOR) conclumos que a sentena anulatria tem eficcia ex tunc. uma sentena especial, uma exceo, pois este tipo de sentena no pode ser ex nunc, como falado por todos, e sim tem que retroagir o efeitos ao status quo ante. [Art. 182]

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Obs: o ato anulvel gera efeitos at a sentena (PONTES DE MIRANDA chama de eficcia interismstica). Aplicao do princpio da conservao: -reduo do negocio jurdico: a operao em que o juiz afastando as clausulas invalidadas do negocio, podendo, conserva o restante do ato. - toda invalidade pressupe previso legal e prejuzo. Plano de eficcia Neste terceiro plano de anlise do negcio jurdico, ser estudado os elementos acidentais ou modalidades, que se dividem em trs:

1) Encargo ou Modo o elemento acessrio do negcio jurdico traduz um nus imposto ao beneficirio de negcio gratuito em prol de uma liberalidade maior. O encargo apenas um nus que se suporta em troca de uma liberalidade maior. O encargo tpico de negcios gratuitos. Ex.: Doao
Art. 136. O encargo no suspende a aquisio nem o exerccio do direito, salvo quando expressamente imposto no negcio jurdico, pelo disponente, como condio suspensiva. Art. 137. Considera-se no escrito o encargo ilcito ou impossvel, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negcio jurdico. (Plano de validade).

Obs.: A regra geral no sentido de que ilcito ou impossvel o encargo, este ser considerado inexistente, mantendo-se o negcio puro; todavia, se restar demonstrado que o encargo ilcito ou impossvel a prpria finalidade do negcio, todo este ser invalidado. 2) Condio A condio elemento acidental do negcio jurdico o acontecimento futuro e incerto que interfere na eficcia jurdica do negcio. Parte de dois requisitos ou elementos: o Futuridade: traduz acontecimento futuro, no existe condio no passado; o Incerteza: incerto quanto ocorrncia do fato. Obs.: A morte, regra geral, no condio, uma vez que h certeza quanto a sua ocorrncia trata-se de termo de data incerta. Todavia, podemos figurar hiptese em que a morte condio quando se estipula um perodo de tempo para sua ocorrncia. *A lei probe o pacta corvina contrato que tem por objeto herana viva. A exemplo, no se pode negociar herana de quem ainda no morreu. Obs.: Vale lembrar, nos termos do art.121 do CC a clusula que estipula a condio deriva sempre da vontade das partes, no deriva da lei (no h espao para a condio estipulada por lei - condiciones jris).

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Art. 121. Considera-se condio a clusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negcio jurdico a evento futuro e incerto.

2.1) Classificao das condies: a) Quanto ao modo de atuao: o Suspensiva: o acontecimento futuro e incerto que suspende o incio da eficcia jurdica do negcio, assim como os direitos e as obrigaes dele decorrentes. (art. 125, CC). Obs.: Nos termos do art.125 do CC podemos concluir que a condio suspensiva enquanto no implementada impede inclusive os direitos e obrigaes decorrentes do negcio.
Art. 125. Subordinando-se a eficcia do negcio jurdico condio suspensiva, enquanto esta se no verificar, no se ter adquirido o direito, a que ele visa.

Ex: Diretor de partido poltico e diretor de empresa de confeco de camisas publicitrias celebram contrato de 10.000 camisas, caso o candidato do partido vena as eleies. Assim, conforme o art. 125 do CC enquanto o candidato no vencer no h direitos e obrigaes recprocas. CAIO MARIO: Em regra, o pagamento antecipado de uma obrigao derivada de contrato subordinado a condio suspensiva no implementada permite a exigncia da devoluo do indbito para evitar enriquecimento sem causa. Ou seja, enquanto no implementada a condio suspensiva no h direitos e obrigaes recprocos, razo pela qual cabvel restituio de eventual pagamento antecipado. o Resolutiva: quando implementada, resolve os efeitos jurdicos que at ento estavam sendo produzidos pelo negcio celebrado. (art. 127 e 128, CC)
Art. 127. Se for resolutiva a condio, enquanto esta se no realizar, vigorar o negcio jurdico, podendo exercer-se desde a concluso deste o direito por ele estabelecido. Art. 128. Sobrevindo a condio resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se ope; mas, se aposta a um negcio de execuo continuada ou peridica, a sua realizao, salvo disposio em contrrio, no tem eficcia quanto aos atos j praticados, desde que compatveis com a natureza da condio pendente e conforme aos ditames de boa-f.

Ex.: Pai d mesada a filho at que este passe em concurso pblico. b) Quanto licitude art.122, CC
Art. 122. So lcitas, em geral, todas as condies no contrrias lei, ordem pblica ou aos bons costumes; entre as condies defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negcio jurdico, ou o sujeitarem ao puro arbtrio de uma das partes.

o Lcita: aquela que no for contrria lei, a ordem pblica e aos bons costumes. o Ilcita: contrria lei, ordem pblica e os bons costumes. Consideram-se tambm ilcitas a condio perplexa e a condio puramente potestativa. *condio perplexa: aquela contraditria em seus prprios termos e que culmina por privar o negcio jurdico de seus efeitos. Ex.: contrato de locao sob a condio do locador no morar no imvel.

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*puramente potestativa: aquela subordinada ao exclusivo arbtrio ou capricho de uma das partes; condio caprichosa, tirnica e ilcita. Ex: o negcio estar realizado, se no dia do pagamento eu quiser faz-lo. Obs.: A condio simplesmente potestativa, admitida pelo ordenamento jurdico, no arbitraria, na medida em que embora dependa da vontade de uma das partes relativizada pelas prprias circunstncias. Ex: contrato prmio para centroavante tornar-se artilheiro do campeonato depende da vontade do jogador, mas depende de outras situaes. Excepcionalmente, todavia, o ordenamento jurdico admite situaes de aparente arbtrio da vontade, mas que se justificam por interesses superiores. Ex: Art. 509 do CC e art. 49 CDC, (RAQUEL)
CC Art. 509. A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condio suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e no se reputar perfeita, enquanto o adquirente no manifestar seu agrado. CDC Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou servio, sempre que a contratao de fornecimento de produtos e servios ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domiclio. Pargrafo nico. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer ttulo, durante o prazo de reflexo, sero devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.

Questo: O que condio promscua? R: aquela que nasce simplesmente potestativa e, dado um fato superveniente, impossibilita-se depois. Ex: o centroavante quebra a perna. Obs.: Quando uma condio estipulada num negocio jurdico for ilcita contamina todo o negcio jurdico invalidando-o.
Art. 123. Invalidam os negcios jurdicos que lhes so subordinados: (...) II - as condies ilcitas, ou de fazer coisa ilcita;

c) Quanto origem: o Casual: aquela que se refere a um acontecimento da natureza. Ex: celebrao de contrato de transferncia de recursos a uma lavoura se chover no prximo ms. o Mista: que deriva da vontade de uma das partes e tambm da vontade de terceiro ou circunstancia exterior. Ex: celebro contrato com x se este celebrar sociedade com y. o Potestativa: deriva da vontade da parte. Obs.: Nos termos do Art.123 c.c Art.167 CC, conclumos que condio ilcita ou de fazer coisa ilcita, invalida todo o negcio. 3) Termo: tambm elemento acidental do negcio jurdico o acontecimento futuro e certo (quanto a sua ocorrncia) que interfere na eficcia jurdica do negcio. 3.1) Caractersticas: o Futuridade;

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o Certeza (quanto ocorrncia do fato). O exemplo mais difundido de termo a data. O termo que marca o incio da eficcia jurdica do negcio chamado termo inicial e o que marca o fim termo final. O perodo de tempo entre dois termos chamado prazo.

Obs.: O termo poder se convencional (estipulado pelas partes), legal (estipulado pela lei) e de graa (estipulado pelo juiz). Nos termos do art. 131, vale observar, diferentemente da condio suspensiva, o termo apenas suspende a inexigibilidade do negcio e no os direitos deles decorrentes.
Art. 131. O termo inicial suspende o exerccio, mas no a aquisio do direito.

Acrescentando: o pagamento antecipado em caso de negcio a termo juridicamente possvel, uma vez que, os termos fixados, no impedem a aquisio dos direitos e obrigaes correspondentes. Obs.: O Banco Central decidiu que a chamada TLA Tarifa de liquidao antecipada foi vedada a cobrana a partir de dezembro 2007 para operaes de crdito e arrendamento mercantil financeiro pactuada com pessoas fsicas, microempresas e empresas de pequeno porte. AULA 26/04/2011

PRESCRIO E DECADNCIA A prescrio e a decadncia so institutos jurdicos umbilicalmente ligados noo do tempo, enquanto fato jurdico. Prescrio (segundo a doutrina clssica): A prescrio extingue a ao. A ao est prescrita Para Pablo estas afirmaes encontram-se superadas pela Teoria Geral do Direito, entendendo que a prescrio jamais extingue o direito de ao. Somente com o amadurecimento da Teoria geral do processo, ao longo do sec. XX, e o abandono da teoria imanentista da ao, a prescrio passou a ser melhor compreendida, para permitir, mormente aps os estudos de Agnelo Amorim Filho, concluir-se que a ao, em verdade, no prescreve. Portanto trata-se de dogma equivocado: a prescrio extingue a pretenso ataca a ao. O direito de ao direito pblico processual, e nunca prescreve; a qualquer tempo a pessoa pode exercer o direito de ao. Os alemes chamam de ANSPRUCH = PRETENSO esta prescreve, no o direito de ao ou direito material. Pretenso nasce no dia em que o direito prestao violado e morre no ltimo dia do prazo prescricional.

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A pretenso que deve ser exercida dentro do lapso prescricional traduz o poder jurdico conferido ao credor de, coercitivamente exigir o cumprimento da prestao violada. Obs.: A prescrio consumada de interesse do prprio devedor, que poder manej-la como uma defesa indireta de mrito. O art. 189 do CC, reafirmando o que at aqui foi dito, deixa claro que a prescrio ataca a pretenso e no o direito de ao. Obs.: No CC brasileiro, os prazos prescricionais extintivos esto apenas em dois artigos: 205 (que traz o prazo prescricional mximo de 10 anos) e 206 (que traz os prazos prescricionais especiais). Vale lembrar ainda que os prazos prescricionais no so convencionais, ou seja, esto sempre previstos na lei.
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretenso, a qual se extingue, pela prescrio, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. Art. 205. A prescrio ocorre em dez anos, quando a lei no lhe haja fixado prazo menor. Art. 206. Prescreve: 1 Em um ano: I a pretenso dos hospedeiros ou fornecedores de vveres destinados a consumo no prprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos; II a pretenso do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que citado para responder ao de indenizao proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuncia do segurador; b) quanto aos demais seguros, da cincia do fato gerador da pretenso; III a pretenso dos tabelies, auxiliares da justia, serventurios judiciais, rbitros e peritos, pela percepo de emolumentos, custas e honorrios; IV a pretenso contra os peritos, pela avaliao dos bens que entraram para a formao do capital de sociedade annima, contado da publicao da ata da assemblia que aprovar o laudo; V a pretenso dos credores no pagos contra os scios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicao da ata de encerramento da liquidao da sociedade. 2 Em dois anos, a pretenso para haver prestaes alimentares, a partir da data em que se vencerem. 3 Em trs anos: I a pretenso relativa a aluguis de prdios urbanos ou rsticos; II a pretenso para receber prestaes vencidas de rendas temporrias ou vitalcias; III a pretenso para haver juros, dividendos ou quaisquer prestaes acessrias, pagveis, em perodos no maiores de um ano, com capitalizao ou sem ela; IV a pretenso de ressarcimento de enriquecimento sem causa; V a pretenso de reparao civil; VI a pretenso de restituio dos lucros ou dividendos recebidos de m-f, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuio; VII a pretenso contra as pessoas em seguida indicadas por violao da lei ou do estatuto, contado o prazo: a) para os fundadores, da publicao dos atos constitutivos da sociedade annima;

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b) para os administradores, ou fiscais, da apresentao, aos scios, do balano referente ao exerccio em que a violao tenha sido praticada, ou da reunio ou assemblia geral que dela deva tomar conhecimento; c) para os liquidantes, da primeira assemblia semestral posterior violao; VIII a pretenso para haver o pagamento de ttulo de crdito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposies de lei especial; IX a pretenso do beneficirio contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatrio. 4 Em quatro anos, a pretenso relativa tutela, a contar da data da aprovao das contas. 5 Em cinco anos: I a pretenso de cobrana de dvidas lquidas constantes de instrumento pblico ou particular; II a pretenso dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorrios, contado o prazo da concluso dos servios, da cessao dos respectivos contratos ou mandato; III a pretenso do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juzo.

Decadncia ou caducidade: Para se entender a decadncia necessrio saber sobre direito potestativo: inicialmente, cumpre observar que o direito potestativo um simples direito de interferncia, sem contedo prestacional, pelo qual o seu titular, ao exerc-lo, interfere na esfera jurdica alheia, sem que esta pessoa nada possa fazer. Existem direitos potestativos sem prazo para o seu exerccio, a exemplo do direito de divrcio, no entanto, sempre que houver prazo para o exerccio de um direito potestativo, ESTE PRAZO SER DECADENCIAL. Conclui-seque o prazo decadencial e o prazo para exercer um direito potestativo e so todos aqueles previstos no Cdigo com exceo dos arts. 205 e 206 (que so prescricionais). Os prazos decadenciais podero ser legais (a exemplo do prazo para se exercer o direito potestativo de anular um contrato, art. 178) ou, vale acrescentar, os prazos decadenciais tambm podem ser convencionais, ajustados pelas prprias partes (a exemplo do prazo previsto no contrato para se exercer o direito potestativo de se desistir do negcio). Causa impeditivas, suspensivas e interruptivas da prescrio: Sabe-se que o devedor o que tem maior interesse no prazo prescricional. Uma causa que impede o prazo prescricional obsta o incio da fluncia do prazo. A mesma causa quando incidente em um prazo que j est em curso, suspende-o (torna-se, portanto, uma causa suspensiva, que, uma vez superada, permite que o prazo volte a correr). As causas impeditivas e suspensivas esto prevista nos arts. 197 a 199 do CC. ** (Art. 26 CDC)
Art. 197. No corre a prescrio: I entre os cnjuges, na constncia da sociedade conjugal;

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II entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela. Art. 198. Tambm no corre a prescrio: I contra os incapazes de que trata o art. 3o; II contra os ausentes do Pas em servio pblico da Unio, dos Estados ou dos Municpios; III contra os que se acharem servindo nas Foras Armadas, em tempo de guerra. Art. 199. No corre igualmente a prescrio: I pendendo condio suspensiva; II no estando vencido o prazo; III pendendo ao de evico.

** Embora pouco frequente, prazos decadenciais tambm podem sofrer a incidncia deste tipo de causa, como podemos ver no art. 26 do CDC, ou seja, em geral aplicam-se prescrio, causas impeditivas, suspensivas e interruptivas; para decadncia a aplicao excepcional. As causas interruptivas da prescrio (art. 202), para desespero do devedor, fazem com que o prazo prescricional recomece a contar do zero. Para se evitar abuso o CC estabeleceu que essa causa s poder acontecer uma nica vez.
Art. 202. A interrupo da prescrio, que somente poder ocorrer uma vez, dar-se-: I por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citao, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II por protesto, nas condies do inciso antecedente; [protesto cautelar, no protesto de cartrio] III por protesto cambial; IV pela apresentao do ttulo de crdito em juzo de inventrio ou em concurso de credores; V por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; [notificao e interpelao] VI por qualquer ato inequvoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Pargrafo nico. A prescrio interrompida recomea a correr da data do ato que a interrompeu, ou do ltimo ato do processo para a interromper.

O inc. III do art. 202 prejudicou a Smula 153 do STF: Simples protesto cambirio no interrompe a prescrio. Obs.: Na letra da lei, notificao simplesmente extrajudicial (por AR) no teria fora jurdica para interromper o prazo prescricional, razo pela qual tramita no CN o PL 3.293/08 que pretende alterar o CC para, expressamente, admitir como causa interruptiva da prescrio a notificao extrajudicial.

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Obs.: Na grade de direito processual civil, tomarei contato com o instigante tema prescrio intercorrente, de ampla aplicabilidade no direito tributrio e trabalhista, e que segundo o professor Arruda Alvim aquela prescrio que ocorre dentro do prprio processo, quando a pretenso j tenha sido deduzida em juzo. Em geral, no processo civil, esta tese no vista com bons olhos, na medida em que a demora processual imputvel ao prprio poder judicirio (AgRg no Ag 618.909/PE, REsp 827.948/SP), embora em determinadas situaes, como em fase de execuo ou procedimento de rescisria a tese pode ser aplicada. Obs.: Ver no material de apoio artigo escrito em co-autoria com o professor Arruda Alvim a respeito do direito intertemporal e da contagem de prazos (art. 2.028 do CC) Aspectos fundamentais da prescrio e decadncia a) Os prazos prescricionais por derivarem da lei, no podem ser alterados pela vontade das partes (art. 192), assim como, pela mesma razo prazos decadenciais legais tambm no podero, ressalvada a hiptese de o prazo decadencial ser convencional.
Art. 192. Os prazos de prescrio no podem ser alterados por acordo das partes.

b) A prescrio, nos termos do art. 193, pode ser alegada em qualquer grau de jurisdio, pelo interessado, valendo lembrar inclusive, que o prazo decadencial convencional, nos termos do art. 211, tambm poder ser alegado em qualquer instncia. Mas, por obvio em instncias superiores dever haver prequestionamento (STJ, Edcl no REsp 1.104.691/RS).
Art. 193. A prescrio pode ser alegada em qualquer grau de jurisdio, pela parte a quem aproveita.

Questo: A prescrio pode ser reconhecida de ofcio pelo juiz? R: A Lei 11.280/06, modificando o CPC, tambm alterou o prprio CC (revogando o art. 194) para expressamente permitir que o juiz pudesse reconhecer de ofcio a prescrio. (art. 219, 5 CPC - o juiz pronunciar, de oficio, a prescrio). O art. 191, CC ainda em vigor, admite com razo compreensvel que o devedor possa, querendo, RENUNCIAR alegao de prescrio. Ora, se a prescrio uma defesa do prprio devedor, porque no poderia a ela renunciar? O enunciado n 295 da IV JDC inclusive deixa claro que esta faculdade de renncia no foi retirada do devedor.
Art. 191. A renncia da prescrio pode ser expressa ou tcita, e s valer, sendo feita, sem prejuzo de terceiro, depois que a prescrio se consumar; tcita a renncia quando se presume de fatos do interessado, incompatveis com a prescrio.

Respeitando o princpio da cooperatividade, dever o juiz, para os processos em curso, abrir prazo ao credor (para eventualmente demonstrar que prescrio no h) e, especialmente, ao prprio devedor (para que possa exercer a faculdade de renncia prescrio), antes de se pronunciar. Caso o devedor permanea silente, a sim, pronunciar de ofcio a prescrio.

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Questo: Qual o prazo prescricional para se formular pretenso de reparao contra o Estado? R.: Atualmente, a jurisprudncia do STJ encontra-se dividida entre o prazo de 3 anos (previsto no art. 206, 3, V, CC) e o prazo de 5 anos previsto no Decreto 20.910/32. Para se ter uma idia da polmica compare-se o REsp. 1.215.385/MG com o Edcl no REsp. 1.205.626/AC. Razovel, em nosso sentir, a tese no sentido da prescrio trienal, por ser um prazo menor que favorece ao Estado. DIREITO DAS OBRIGAES Os direitos das obrigaes conjunto de normas que disciplina a relao jurdica patrimonial entre credor e devedor, impondo a este ultimo uma prestao de dar, fazer ou no fazer. Existe um tipo de obrigao de natureza hibrida, ou seja, trata-se de uma relao jurdica, com caractersticas pessoais e reais: entre a relao obrigacional e relao real (homem a coisa), so chamadas obrigaes (propter rem ou ob rem). Conceitualmente trata-se de uma obrigao que se une a uma coisa, acompanhando-a. deve estar previsto em lei. Obs:. No confundir obrigaes propter rem com a obrigao de eficcia real, esta traduz uma prestao com oponibilidade ERGA OMNES, (ex: locao registrada no cartrio de imveis, Art. 8 da lei 824591)

Consideraes terminolgicas: Obrigao tem dois sentidos: a) Estrito: dever jurdico: de dar, fazer ou no fazer; b) amplo: traduz a prpria relao jurdica obrigacional que vincula credor e devedor. HAFTUM - responsabilidade SCHULD dbito ou dever Estrutura da obrigao Para melhor doutrina o fato que constitui a relao obrigacional no integra sua estrutura. O fato jurdico que faz nascer de ato negocial [contrato] ou ato nonegocial[vizinho], ato ilcito[responsabilidade civil]. A classificao clssica de Gaio, no pode ser esquecida, no mais usada, mas deve ser citada. Assim classificava as obrigaes: contrato, quase contrato, delito (doloso), quase-delito (culposo). Estrutura: a) elemento ideal: vinculo abstrato que une o credor ao devedor. b) elemento subjetivo: so os sujeito da relao obrigacional, devem ser determinados ou ao menos determinveis. [credor e devedor] Obs.: a indeterminabilidade dos sujeitos da relao obrigacional sempre relativa, ou seja, a indeterminabilidade do sujeito temporria. Ex:

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indeterminabilidade do credor: ttulos ao portador; promessa de recompensa\ indeterminabilidade do devedor: obrigaes proptem rem. c) elemento objetivo: a prestao, um elemento objetivo da relao obrigacional, o ncleo. A prestao atividade do devedor, satisfativa do direito de crdito do credor, que consiste em prestao de dar, fazer e no fazer. o A prestao par ser validade deve ser: licita, possvel, determinada ou determinvel. Questo: A patrimonialidade caracterstica essencial da prestao? R. No, pois existem prestaes que no necessitam ter patrimonialidade. Ex: o testador que impem a prestao aos herdeiros das formalidades de seu funeral,como condio de receber o seu legado. o O Art. 398 CC patrimonialidade. portugus, adepto da possibilidade da no

Interferncia do princpio da eticidade (boa-f objetiva) na relao obrigacional. DUTY TO MITIGATE: dever de mitigar: sob influxo do princpio da boa-f na relao obrigacional impem-se ao credor o dever mitigar o dano, sob pena de perda da indenizao correspondente. DROIT DE SUITE: direito de seqncia: reconhece ao artista plstico e seu sucessores um crdito [participao], no aumento do preo nas sucessivas revendas da obra de arte. No Brasil no existe legislao especifica sobre o assunto. Classificao das obrigaes: 1) Bsica a) positiva: o Obrigao de dar: pode significar trs sentidos pode significar transferir propriedade\ entregar a posse\ restituir a posse e propriedade. Em qualquer desses sentidos, a obrigao de dar significa prestao de coisas. a1) dar coisa certa: a obrigao de dar coisa determinada e especificada.
Art. 233. A obrigao de dar coisa certa abrange os acessrios dela embora no mencionados, salvo se o contrrio resultar do ttulo ou das circunstncias do caso.

A partir do Art. 234 CC o codificador regulou a responsabilidade, pela perda ou deteriorao da coisa na obrigao de dar coisa certa.
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradio, ou pendente a condio suspensiva, fica resolvida a obrigao para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responder este pelo equivalente e mais perdas e danos.

Na forma da primeira parte do artigo acima, operada a perda da coisa por caso fortuito ou fora maior a obrigao simplesmente resolvida. No entanto o artigo em sua parte final dispe que havendo culpa do devedor, respondera pelo preo mais perdas e danos.

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Art. 235. Deteriorada a coisa, no sendo o devedor culpado, poder o credor resolver a obrigao, ou aceitar a coisa, abatido de seu preo o valor que perdeu. Art. 236. Sendo culpado o devedor, poder o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenizao das perdas e danos.

a2) dar coisa incerta a3) fazer A obrigao de fazer traduz uma prestao de um fato pelo devedor. Podendo se dividir em personalssima [infungveis], e no personalssima [fungveis].
Art. 247. Incorre na obrigao de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestao a ele s imposta, ou s por ele exeqvel. Art. 248. Se a prestao do fato tornar-se impossvel sem culpa do devedor, resolver-se- a obrigao; se por culpa dele, responder por perdas e danos. Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, ser livre ao credor mand-lo executar custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuzo da indenizao cabvel.

b) negativa: b1) no fazer: Tem por objeto a absteno de um fato. [obrigao de no concorrncia]. Lembra-nos o prof. Guilherme Gama, a obrigao de no fazer, pode ser temporria. Como, por exemplo, a de no concorrncia por cinco anos.
Art. 250. Extingue-se a obrigao de no fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossvel abster-se do ato, que se obrigou a no praticar. Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja absteno se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaa, sob pena de se desfazer sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. Pargrafo nico. Em caso de urgncia, poder o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorizao judicial, sem prejuzo do ressarcimento devido.

Aula on-line Classificao especial (ver no material de apoio todas as classificaes apresentadas) a) Obrigaes solidrias: existe solidariedade, quando na mesma obrigao, concorre uma pluralidade de credores ou devedores, cada um com direito ou obrigado a toda dvida, nos termos do art. 264, CC.
Art. 264. H solidariedade, quando na mesma obrigao concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, dvida toda.

I.

Existem dois tipos bsicos de solidariedade: Solidariedade passiva: o Est a forma mais comum de solidariedade. a que se da entre devedores. Est prevista no art. 275 do CC.
Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dvida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

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Pargrafo nico. No importar renncia da solidariedade a propositura de ao pelo credor contra um ou alguns dos devedores.

o Se prevista a solidariedade passiva o credor poder frao da dvida de cada um dos devedores, como tambm pode cobrar parcela de cada devedor, que nesse caso, ter direito de regresso quanto aos outros devedores.
Art. 282. O credor pode renunciar solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Pargrafo nico. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistir a dos demais. Art. 283. O devedor que satisfez a dvida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no dbito, as partes de todos os codevedores.

o Vale observar o quanto dispe os arts. 279 e 281 do CC, a respeito da responsabilidade civil dos devedores e da oposio de defesas.
Art. 279. Impossibilitando-se a prestao por culpa de um dos devedores solidrios, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos s responde o culpado.

Ex. do art. 279: Trs devedores em solidariedade passiva, prevista no contrato, obrigaram-se a entregar um cavalo ao credor. Se antes da entrega a prestao se inviabiliza por culpa de um dos devedores, por ter dado rao estragada, e o animal morre, continuar o credor a ter direito de receber de todos os devedores, contudo as perdas e danos sero pagas apenas pelo culpado.
Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as excees (defesas) que lhe forem pessoais e as comuns a todos; no lhe aproveitando as excees pessoais a outro co-devedor.

O art. 281, em sntese, impede que um dos devedores solidrios utilize defesa pessoal e exclusiva de outro devedor, ou seja, o devedor demandado pode opor em face do credor defesa comuns a todos os devedores, e a que lhe so pessoais. O que no pode alegar defesa pessoal de outro devedor em seu nome. Questes especiais 1) Vale lembrar que o STJ j decidiu, julgando o REsp. 775.565/SP, que existe solidariedade passiva, na obrigao alimentcia, em favor de credor idoso. o No campo do parentesco a obrigao de pagar alimentos conjunta e complementar, ou seja, h uma ordem de pagamento de alimentos elencadas pelo CC: primeiramente se pede aos pais, depois aos avs, filhos e por ltimo, irmos. Se o credor de alimentos for pessoa idosa ela poder demandar qualquer dos parentes legitimados, pois existe entre os devedores na obrigao de pagar alimentos solidariedade passiva. 2) O STJ tem entendimento no sentido de que existe solidariedade passiva entre o proprietrio do veculo e o terceiro que o conduzia, em caso de acidente automobilstico. (REsp. 577.902/DF)

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3) No confundir a remisso (perdo) da dvida com a renncia a solidariedade. (Arts. 277e 282 do CC, bem como os Enunciados ns. 349 e 350 da IV JDC)
Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remisso por ele obtida no aproveitam aos outros devedores, seno at concorrncia da quantia paga ou relevada. Art. 282. O credor pode renunciar solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Pargrafo nico. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistir a dos demais.

o Quando o credor perdoa um dos devedores este est desobrigado para com a dvida, remanescendo o restante da dvida em face aos demais devedores. o Se o credor renuncia a solidariedade em face de um dos devedores s poder cobrar deste devedor a quota devida. Quanto aos demais devedores o credor poder cobrar o restante da dvida em solidariedade. o Existe tendncia na doutrina, conforme Enunciado n 349, no sentido de que ainda que s haja renncia da solidariedade em face de um dos devedores, o credor s poder cobrar dos demais o valor remanescente. II. Solidariedade ativa: o a que se da entre credores, ou seja, tem mais de um credor com direito a toda a dvida. o Pode acontecer devedores. na mesma obrigao solidariedade de credores e

o A disciplina da solidariedade ativa feita a partir do art. 267 CC. Vale lembrar, nos termos do art. 272 CC que qualquer dos credores pode tambm perdoar a dvida.
Art. 267. Cada um dos credores solidrios tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestao por inteiro. Art. 272. O credor que tiver remitido a dvida ou recebido o pagamento responder aos outros pela parte que lhes caiba.

Obs.: Embora no muito comum, a solidariedade ativa (entre credores) pode derivar da prpria lei, a exemplo do art. 2 da Lei 8245/ 91 (Lei do Inquilinato) e do art. 12 da Lei 209/48. o O contrato de abertura de conta corrente conjunta frequentemente prev solidariedade ativa entre os correntistas, como inclusive j entendeu o STJ no REsp. 708.612/RO:
EMENTA: DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAO. REGISTRO EM CADASTRO DE RESTRIO AO CRDITO. CHEQUE SEM PROVISO DE FUNDOS. CONTACORRENTE CONJUNTA. O co-titular de conta-corrente conjunta detm apenas solidariedade ativa dos crditos junto instituio financeira, no se tornando responsvel pelos cheques emitidos pelo outro correntista.

Obs.: Ver aplicao atpica da matria no REsp. 1.229.329/SP:


EMENTA: EXECUO FISCAL. PENHORA ON LINE. CONTA CORRENTE CONJUNTA. TERCEIRO NA EXECUO. IRRELEVNCIA. POSSIBILIDADE DE SE PENHORAR A TOTALIDADE DA CONTA CORRENTE. 1. No caso de conta conjunta, cada um dos correntistas credor de todo o saldo depositado, de forma solidria. O valor depositado pode ser penhorado em

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garantia da execuo, ainda que somente um dos correntistas seja responsvel pelo pagamento do tributo. 2. Se o valor supostamente pertence somente a um dos correntistas estranho execu...

Obs.: Nos termos do art. 265 do CC a solidariedade no se presume nunca: Resulta da lei ou da vontade das partes.
Art. 265. A solidariedade no se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

Questes especiais: Obrigao in solidum: o Na linha de pensamento de alguns autores (Silvio Venosa e Guillermo Borda) este tipo de obrigao no se confunde com obrigao solidria. o Obrigao in solidum aquela em que devedores esto vinculados pelo mesmo fato sem que exista solidariedade entre eles, ou seja, um mesmo fato obriga dois ou mais devedores, mas no existe solidariedade entre eles. Ex.: Terceiro ateia fogo contra imvel segurado. Poder ser demandado tanto o terceiro quanto a seguradora. b) Obrigaes alternativas: o So aquelas que contm objeto mltiplo ou composto em que as prestaes so conectadas pela partcula OU, ou seja, o seu objeto so prestaes excludentes entre si.
Art. 252. Nas obrigaes alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa no se estipulou. 1 No pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestao e parte em outra. 2 Quando a obrigao for de prestaes peridicas, a faculdade de opo poder ser exercida em cada perodo. 3 No caso de pluralidade de optantes, no havendo acordo unnime entre eles, decidir o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberao. 4 Se o ttulo deferir a opo a terceiro, e este no quiser, ou no puder exerc-la, caber ao juiz a escolha se no houver acordo entre as partes. Obs.: Ver no material de apoio regras e comentrios referentes impossibilidade total ou parcial na obrigao alternativa. (Art. 253 a 256)
Art. 253. Se uma das duas prestaes no puder ser objeto de obrigao ou se tornada inexeqvel, subsistir o dbito quanto outra. Art. 254. Se, por culpa do devedor, no se puder cumprir nenhuma das prestaes, no competindo ao credor a escolha, ficar aquele obrigado a pagar o valor da que por ltimo se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar. Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestaes tornar-se impossvel por culpa do devedor, o credor ter direito de exigir a prestao subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestaes se tornarem inexeqveis, poder o credor reclamar o valor de qualquer das duas, alm da indenizao por perdas e danos. Art. 256. Se todas as prestaes se tornarem impossveis sem culpa do devedor, extinguir-se- a obrigao.

c) Obrigao facultativa: o H diferena entre obrigao alternativa (que nasce mltipla) e facultativa (nasce com objeto nico). Na alternativa se uma das prestaes se impossibilita a outra pode ser cumprida. Na facultativa se a obrigao

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principal se impossibilitar a obrigao acaba, no podendo o credor exigir a outra. o A obrigao facultativa aquela que, embora tenha objeto nico, faculta ao devedor cumprir uma prestao subsidiria. Mas, lembra Orlando Gomes: o credor no pode exigir o cumprimento da prestao facultativa, e, caso a prestao principal se impossibilite sem culpa do devedor, a obrigao extinta. d) Obrigao natural: o aquela relao jurdica obrigacional desprovida de exigibilidade jurdica. Costumeiramente diz-se que uma obrigao natural uma obrigao de honra. o Exemplos: arts. 814 e 882 do CC:
Art. 814. As dvidas de jogo ou de aposta no obrigam a pagamento; mas no se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente menor ou interdito. Art. 882. No se pode repetir o que se pagou para solver dvida prescrita, ou cumprir obrigao judicialmente inexigvel.

Embora desprovida de coercibilidade jurdica, a obrigao natural tem um efeito fundamental a soluti retentio, ou seja, a reteno do pagamento. O devedor no obrigado a pagar, mas se o fizer o credor pode reter o pagamento. e) Obrigaes divisveis e indivisveis o Divisveis so aquelas que admitem cumprimento fracionado ou parcial da prestao;
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigao divisvel, esta presume-se dividida em tantas obrigaes, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

o Indivisveis: s podem ser cumpridas por inteiro. o Em doutrina costuma-se dizer que a indivisibilidade pode ser natural (obrigao de entregar um cavalo); pode ser legal quando a prpria lei, em geral por razo de ordem econmica, considera o bem indivisvel; pode ser convencional (as partes podem estabelecer no contrato a indivisibilidade da obrigao).
Art. 258. A obrigao indivisvel quando a prestao tem por objeto uma coisa ou um fato no suscetveis de diviso, por sua natureza, por motivo de ordem econmica, ou dada a razo determinante do negcio jurdico. Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestao no for divisvel, cada um ser obrigado pela dvida toda. Pargrafo nico. O devedor, que paga a dvida, sub-roga-se no direito do credor em relao aos outros coobrigados.

Diferena entre indivisibilidade e solidariedade: A diferena est no fato de que a solidariedade olha para o sujeito e a indivisibilidade olha para a coisa. Na obrigao solidria por culpa de um

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dos devedores a coisa se impossibilita, todos devolvem o preo mais s o culpado responde pelas perdas e danos e se todos forem culpados todos respondem pelas perdas e danos em solidariedade. No caso da obrigao indivisvel se a coisa se impossibilita cada um responde na proporo de sua culpa. Contudo, se o contrato prev que alm de ser indivisvel h solidariedade passiva respondero todos em solidariedade. o Ex.: Devedores proprietrios de cachorro de raa (obrigao indivisvel) credor paga R$ 100.000,00. O devedor que entrega o animal ter direito com relao aos demais. Pagamento da obrigao indivisvel: art. 260 do CC o O devedor da obrigao indivisvel se exonera pagando a todos os credores em conjunto ou se pagar a um s credor este dever apresentar um documento chamado cauo de ratificao confirmando que ele pode receber sozinho. Cauo de ratificao a garantia do devedor em pagar a um dos credores em obrigao indivisvel.
Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poder cada um destes exigir a dvida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigaro, pagando: I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este cauo de ratificao dos outros credores. Art. 261. Se um s dos credores receber a prestao por inteiro, a cada um dos outros assistir o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.

f) Obrigao de meio e de resultado. A obrigao de meio aquela que o devedor se obriga a empreender uma atividade, sem garantir o resultado esperado. A obrigao de resultado o devedor se obriga tambm a produzir o resultado esperado pelo credor, ou seja, aquela cujo cumprimento se torna perfeito, quando a meta proposta alcanada. Obs: Em geral, a obrigao do advogado e do mdico de meio, ressalvada a decorrente da cirurgia plstica embelezadora, em que o STJ j reconheceu ser obrigao de resultado (AgRg no Ag 1.132.743/RS ). *A cirurgia de miopia a laser tambm obrigao de meio. TEORIA DO PAGAMENTO Significa o adimplemento voluntrio da obrigao de dar, fazer ou no fazer. Sujeito ativo do pagamento o devedor e credor o sujeito passivo do pagamento. Natureza jurdica do pagamento: fato jurdico Roberto de Ruggiero, Caio Mrio fato jurdico, mas um ato negocial. Questo: o que adimplemento substancial? Derivado do direito ingls, sustenta que no se deve considerar resolvida a obrigao, quando a atividade do

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devedor, posto, no tenha atingido, plenamente o fim proposto, aproximasse consideravelmente do seu resultado final. Condies do pagamento 1) Subjetivas Quem deve pagar: [Art. 304, 305]
Art. 304. Qualquer interessado na extino da dvida pode pag-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes exonerao do devedor. Pargrafo nico. Igual direito cabe ao terceiro no interessado, se o fizer em nome e conta do devedor, salvo oposio deste. Art. 305. O terceiro no interessado, que paga a dvida em seu prprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas no se sub-roga nos direitos do credor. Pargrafo nico. Se pagar antes de vencida a dvida, s ter direito ao reembolso no vencimento.

a) Devedor b) Terceiro: b.) interessado: o terceiro que interesse jurdico no pagamento. Ex: fiador, avalista. b.) no interessado: esse terceiro no tem interesse jurdico, um interesse meta jurdico. Ex: pai, o namorado. O terceiro no interessado paga em seu prprio nome tem o direito de cobrar o que pagou, mas quando o terceiro pagar no nome do prprio devedor, no ter direito a nada.

Questo: o devedor pode opor ao pagamento feito por terceiro? R: sim, pode se opor o pagamento na forma do Art. 306 CC.
Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposio do devedor, no obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ao.

A quem se deve pagar


Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de s valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. Art. 309. O pagamento feito de boa-f ao credor putativo vlido, ainda provado depois que no era credor.

a) credor b) terceiro: pagamento feito a terceiro s ter eficcia, deve observar: b.) credor ratificar o pagamento b.) o devedor comprova que o pagamento reverteu em proveito do credor Questo: O que credor putativo? A teoria da aparncia que da base ao credor putativo. Trata-se da situao em que, a luz do princpio da boa-f, o devedor paga a credor aparente, reputando-se eficaz o adimplemento da obrigao, a teor do Art. 309 CC.

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AULA 17/05/2011 Condies objetivas a) Objeto: Obs: o princpio do nominalismo, tradicional regra do direito brasileiro, sustenta que o devedor, se libera do pagamento pagando a mesma quantidade de moeda prevista no contrato ou no ttulo negocial. Este princpio por conta especialmente do surto inflacionrio, passou a ser relativizado por mecanismo de correo monetria. [foi a lei 6899/81 que consagrou a correo monetria no Brasil, estabelecendo-a para restries judiciais].
Art. 322. Quando o pagamento for em quotas peridicas, a quitao da ltima estabelece, at prova em contrrio, a presuno de estarem solvidas as anteriores. Art. 323. Sendo a quitao do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos. Art. 324. A entrega do ttulo ao devedor firma a presuno do pagamento. Pargrafo nico. Ficar sem efeito a quitao assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento.

O artigo 316, ao fazer referencia ao aumento progressivo de prestaes estaria se referindo ao mecanismo de correo monetria. Tabela price (Ver texto A tabela price e ilegal) Tambm chamada de Sistema Francs de Amortizao. o sistema de financiamento por prestaes fixas, ou seja, que incorpora juros compostos nas amortizaes de emprstimos e financiamentos. Entidades ligadas aos consumidores conforme noticirio do prprio STJ de 21.09.09, alegam a abusividade da tabela imputando-lhe anatocismo (capitalizao de juros sobre juros), todavia os bancos defendem a aplicao da tabela, considerando-a legal.

Segundo o STJ conforme firmado em diversos julgados, a exemplo do Ag Rg no Ag 963.285/DF a legalidade ou no da tabela price e questo de matemtica financeira a ser solucionada no caso concreto. O STJ adota postura de neutralidade jurdica. Adimplemento substancial: A doutrina do adimplemento substancial sustenta que, luz dos princpios da equidade e da confiana, no se deve considerar resolvida a obrigao quando a atividade do devedor, posto no haja sido perfeita ou atingido plenamente o fim proposto, aproxima-se consideravelmente do seu resultado final. (ver enunciado 361, IV JDC). O prprio STJ j apontou no sentido da aceitao da teoria, nos termos do REsp. 415.971/SP e do REsp. 469.577/SC, teoria esta que tem especial aplicao nos contratos de seguro. b) Prova

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A prova do pagamento opera-se nos termos do art. 319, CC, por meio de um ato jurdico denominado de quitao.
Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitao regular, e pode reter o pagamento, enquanto no lhe seja dada.

Obs.: O devedor a quem se negue a quitao regular poder recorrer a consignao em pagamento, tema do processo civil.
Art. 320. A quitao, que sempre poder ser dada por instrumento particular, designar o valor e a espcie da dvida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Pargrafo nico. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valer a quitao, se de seus termos ou das circunstncias resultar haver sido paga a dvida. (Conexo com o principio da funo social)

Obs.: Os arts. 322 a 324 consagram situaes de presuno de pagamento. Essas presunes so relativas e beneficiam o devedor, j que cabe ao credor fazer a contraprova.
Art. 322. Quando o pagamento for em quotas peridicas, a quitao da ltima estabelece, at prova em contrrio, a presuno de estarem solvidas as anteriores. Art. 323. Sendo a quitao do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos. Art. 324. A entrega do ttulo ao devedor firma a presuno do pagamento. Pargrafo nico. Ficar sem efeito a quitao assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento.

c) Tempo Em geral o tempo do pagamento o vencimento da prpria dvida.Todavia existem obrigaes sem vencimento certo, caso em que devem ser observados os arts. 331 e 332 do CC.
Art. 331. Salvo disposio legal em contrrio, no tendo sido ajustada poca para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente.

Obs: no caso de emprstimo de dinheiro (mutuo de dinheiro), nos termos do Art. 592, II CC, no tendo sido fixada poca para pagamento, o credor no pode exigi-lo de imediato pois o devedor tem pelo menos 30 dias para pagar.
Art. 332. As obrigaes condicionais cumprem-se na data do implemento da condio, cabendo ao credor a prova de que deste teve cincia o devedor.

Vale acrescenta que no art. 333 consagra hipteses de antecipao do vencimento da dvida.
Art. 333. Ao credor assistir o direito de cobrar a dvida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Cdigo: I no caso de falncia do devedor, ou de concurso de credores; II se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execuo por outro credor; III se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do dbito, fidejussrias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a refor-las. Pargrafo nico. Nos casos deste artigo, se houver, no dbito, solidariedade passiva, no se reputar vencido quanto aos outros devedores solventes.

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d) Lugar: A regra geral do direito brasileiro, nos termos do art. 327, e no sentido de que as dvidas devem ser pagas no domiclio do devedor (dvida quesvel ou qurable o credor procura o devedor em seu domicilio). Todavia, excepcionalmente, poder a dvida ser paga no domiclio do prprio credor, caso em que passa a se denominar dvida portvel ou portable. (trata-se de exceo)
Art. 327. Efetuar-se- o pagamento no domiclio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrrio resultar da lei, da natureza da obrigao ou das circunstncias. Pargrafo nico. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.

Obs.: O pargrafo nico do art. 327 traz norma especfica no sentido de que, designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.
Art. 328. Se o pagamento consistir na tradio de um imvel, ou em prestaes relativas a imvel, far-se- no lugar onde situado o bem. Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renncia do credor relativamente ao previsto no contrato.

Obs.: O art. 330 exemplifica a aplicao da rega proibitiva do venire contra factum prprio, podendo tambm ser compreendida nas perspectivas das noes de supressio e surrectio, ou seja, dispe que o credor reiteradamente, recebendo o pagamento em lugar diverso do previsto no contrato, renunciou o seu direito, de maneira que depois no pode voltar atrs luz do princpio que veda o comportamento contraditrio. FORMAS ESPECIAIS DE PAGAMENTO Transao e arbitragem no integram a grade do Intensivo I. E as formas mais simples de pagamento: remisso, imputao e confuso encontram-se detalhadamente explicadas no material de apoio. Pagamento com sub-rogao O pagamento com sub-rogao (substituio), forma especial de cumprimento da obrigao, disciplinado a partir do art. 346 do CC, traduz a idia do pagamento feito por terceiro, caso em que sai o credor originrio, ingressando um novo credor, ou seja, um pagamento com substituio de credores. A sub-rogao, por sua vez pode ser de duas espcies: a) Pagamento com sub-rogao legal (art. 346):
Art. 346. A sub-rogao opera-se, de pleno direito, em favor: I do credor que paga a dvida do devedor comum; II do adquirente do imvel hipotecado, que paga a credor hipotecrio, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para no ser privado de direito sobre imvel;

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III do terceiro interessado, que paga a dvida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. (Ex.: fiador, avalista)

b) Pagamento com sub-rogao convencional (art. 347)


Art. 347. A sub-rogao convencional: I quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; II quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dvida, sob a condio expressa de ficar o mutuante (aquele que empresta) sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

O art. 347, do CC, luz do principio da autonomia privada, consagra situaes em que a substituio de credores pressupe um necessrio acordo de vontades. Obs.: A hiptese prevista no inc. I do art. 347 confunde-se com o instituto da cesso de crdito. Efeitos do pagamento com sub-rogao: No pagamento com sub-rogao convencional, em tese, eis que deriva da vontade das prprias partes, razovel concluir-se no sentido da mitigao do art. 349, CC.
Art. 349. A sub-rogao transfere ao novo credor todos os direitos, aes, privilgios e garantias do primitivo, em relao dvida, contra o devedor principal e os fiadores.

Questo: No pagamento com sub-rogao legal, pergunta-se: o novo credor tem o direito de cobrar apenas o que desembolsou ou o valor original da dvida? O art. 350 do CC, na linha do art. 593 do Cdigo de Portugal, estabelece que a cobrana limitada ao valor efetivamente desembolsado. Na sub-rogao convencional depende do contrato.
Art. 350. Na sub-rogao legal o sub-rogado no poder exercer os direitos e as aes do credor, seno at soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor.

DAO EM PAGAMENTO: A dao em pagamento (datio in solutum) uma forma especial de cumprimento da obrigao, regulada a partir do art. 356 do CC, pela qual, na mesma relao obrigacional o credor aceita receber prestao diversa da que lhe devida.
Art. 356. O credor pode consentir em receber prestao diversa da que lhe devida.

ANTUNES VARELLA lembra-nos que ao aceitar a prestao diversa, em virtude da dao em pagamento, a obrigao imediatamente satisfeita. No confundir a dao em pagamento ora tratada (datio in solutum), que satisfaz efetivamente o direito do credor com a mera DAO PRO SOLVENDO, tambm chamada dao por causa ou em funo de pagamento, uma vez que esta ltima figura no satisfaz imediatamente o credor, ou seja, no extingue diretamente a obrigao, tratando-se apenas

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de um meio facilitador do pagamento. Ex: dao de um ttulo de crdito, para pagar uma dvida. (art. 358)
Art. 358. Se for ttulo de crdito a coisa dada em pagamento, a transferncia importar em cesso.

Requisitos: A dao somente possvel quando o credor aceita a prestao diversa da que pedida. Questo: O devedor de alimentos pode dar imvel em pagamento? Obs.: O HC 20.317/SP aceitou, para beneficiar o paciente, a dao de um imvel para pagamento de penso alimentcia. AULA 24/05/2011 EVICO Traduz idia de perda. Ser vencido. Perder. Conceitualmente ocorre a evico quando o adquirente de um bem vem a perder sua posse e propriedade em virtude de ato judicial ou administrativo que reconhece direito anterior de outrem. Pessoas da evico: o Alienante; o Adquirente ou evicto; o Terceiro ou evictor.

Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se- a obrigao primitiva, ficando sem efeito a quitao dada, ressalvados os direitos de terceiros.

o Ex: O contrato prev que o devedor deve pagar um carro ao credor. O devedor prope ao invs do carro um barco (dao em pagamento) que foi aceito pelo credor. Uma semana depois o credor perde o barco reclamado por terceiro. A divida permanece sem quitao, sendo o devedor obrigado a pagar o carro, se no for possvel, a obrigao primitiva em perdas e danos. o Obs.: Nos termos do art. 359 se o credor for evicto da coisa dada em pagamento, a obrigao primitiva e restabelecida. No entanto, isso no ser possvel se houver prejuzo a terceiro de boa-f, caso em que o credor resolver em perdas e danos. Compensao A compensao uma forma de extino da obrigao em que as partes so, ao mesmo tempo, credora e devedora uma da outra. Em geral compensao matria de defesa, ou seja, dever ser alegada pela parte interessada.

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Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigaes extinguem-se, at onde se compensarem.

Obs.: No confundir com a confuso, uma vez que na confuso as qualidade de credor e devedor renem-se na mesma pessoa. (ver resumo no material de apoio) Espcies de compensao:

a) Legal: aquela em que reunidos os requisitos da lei, uma vez alegada pelo interessado, dever o juiz reconhec-la. b) Convencional ou facultativa: aquela que, segundo a autonomia privada, independe dos requisitos da lei. c) Judicial ou processual: aquela reconhecida pelo juiz no prprio processo (art. 21, CPC). Ex.: Art. 21. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, sero recproca e proporcionalmente distribudos e compensados entre eles os honorrios e as despesas. o Requisitos da compensao legal:

a) Reciprocidade das obrigaes/dvidas: as partes devem reciprocamente ser (ao mesmo tempo) credora e devedora uma da outra. o obs: O art. 371 do CC, relativizando este requisito, admite que o fiador, que no parte e sim um simples terceiro, possa alegar compensao de crdito do afianado em sua defesa ou seja quando demandado opor ao credor (demandante) crdito prprio.
Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dvida com a de seu credor ao afianado.

b) Liquidez das dvidas: para que haja compensao legal as dvidas tero que ser certas e determinadas; c) Vencimento das obrigaes/dvidas recprocas/exigveis: ambas as dvidas tero que ser vencidas. d) As dvidas devem ser homogneas: para que haja compensao legal as dvidas devem ser da mesma natureza nos termos do art. 370, CC. o Obs.: No que tange a homogeneidade das dvidas o art. 370, estabelece que no haver compensao legal se, posto do mesmo gnero, distingamse na qualidade.
Art. 370. Embora sejam do mesmo gnero as coisas fungveis, objeto das duas prestaes, no se compensaro, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato.

o Obs.: Nada impede, que as partes por meio de acordo de vontades, afastem os requisitos da lei, para, por exemplo, compensar dinheiro com soja ou caf com chocolate (compensao convencional). o Vale lembrar a revogao do art. 374 pela Lei n 10.677/03 (ver tambm En. n 19 da I JDC).

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Em regra, a causa dos dbitos recprocos no importa para a compensao, com as excees do art. 373 que estabelece hipteses legais, de impossibilidade da compensao, considerando a causa que determina a dvida.
Art. 373. A diferena de causa nas dvidas no impede a compensao, exceto: I se provier de esbulho, furto ou roubo; II se uma se originar de comodato*, depsito ou alimentos; III se uma for de coisa no suscetvel de penhora.** * Comodato: emprstimo de coisa infungvel. ** A exemplo do salrio.

o Obs.: A despeito de a dvida alimentcia, por sua natureza, no admitir compensao, o STJ j aceitou a tese em circunstncia especial. (Resp. 982.857/RJ). o Obs.: No AgRg 353.291/RS firmou-se a impossibilidade de bloqueio automtico de crdito salarial ttulo de compensao. Novao Tem origem na expresso latina novatio, que traz a idia de novo. Opera-se a novao quando, por meio de uma estipulao negocial, as partes criam uma nova obrigao, destinada a substituir e extinguir a obrigao anterior. A doutrina consagrou como verdadeiro dogma a idia de que a novao sempre negocial, ou seja, por meio de um novo negcio as partes criam uma obrigao nova destinada a substituir e extinguir a obrigao anterior. Obs.: O art. 59 da Lei 11.101/05 (Lei de Falncias) estabelece uma forma anmala de novao legal (imposta por lei). Trata-se de uma figura excepcional e j reconhecida pelo prprio STJ. (AgRg no CC 110.250/DF). Para saber se houve ou no novao

Obs.: No se pode confundir a novao que cria obrigao nova para substituir e liquidar a anterior, com a dao em pagamento em que h apenas mudana de objeto na mesma obrigao. Requisitos da novao: a) existncia de obrigao anterior Obs.: Nos termos do Art. 367, se a obrigao primitiva for nula ou extinta, no poder haver novao, mas se for simplesmente anulvel poder, pois se esta pode ser ratificada, no poder ser novada.
Art. 367. Salvo as obrigaes simplesmente anulveis, no podem ser objeto de novao obrigaes nulas ou extintas.

Questo: a obrigao natural pode ser novada? R: a doutrina divide-se quanto a possibilidade de se poder novar uma obrigao natural. Autores como Barros Monteiro e Clovis Bevilacqua so contra. J Marcel

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Planiol, Serpa Lopes, Silvio Rodrigues e Guilherme da Gama so a favor. A tese favorvel e mais convincente nos termos do 1 do art. 814, pois est no campo da autonomia privada. (dvida de jogo).
Art. 814. As dvidas de jogo ou de aposta no obrigam a pagamento; mas no se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente menor ou interdito. 1o Estende-se esta disposio a qualquer contrato que encubra ou envolva reconhecimento, novao ou fiana de dvida de jogo; mas a nulidade resultante no pode ser oposta ao terceiro de boa-f.

b) Pressupe a criao de obrigao nova, substancialmente diversa da primeira, ou seja, deve ficar demonstrado ter sido criada uma obrigao nova, com elemento novo (aliquid novi). Obs.: Lembrando Orlando Gomes mudanas secundrias como a reduo de uma multa ou a concesso de um prazo, no traduzem necessria novao. Isso porque para haver novao necessrio que tenha sido criada uma obrigao nova, um elemento novo, e NO SIMPLESMENTE que tenha havido a renegociao da mesma dvida. c) Animus novandi (inteno de novar): Para haver novao, necessrio que fique demonstrada a inteno que as partes tiveram de novar. Obs.: Diferentemente do que dispe o art. 2.215 do Cdigo Civil do Mxico, a inteno de novar, no Brasil, pode ser expressa ou tcita. Espcies de novao:
Art. 360. D-se a novao: I quando o devedor contrai com o credor nova dvida para extinguir e substituir a anterior;[ob]

a) Objetiva (art.

Trata-se da novao em que as mesmas partes criam uma obrigao nova destinada a substituir e extinguir a anterior; b) Subjetiva (art. 360, II e III):
II quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor; (sub passiva) III quando, em virtude de obrigao nova, outro credor substitudo ao antigo, ficando o devedor quite com este. (sub ativa)

A premissa desta novao : ocorrida a mudana de sujeitos considerase criada a partir da obrigao nova. b) Subjetiva ativa: quando um novo credor sucede ao antigo, considerandose criada uma obrigao nova. b) Subjetiva passiva: aquela em que um novo devedor substitui o antigo, considerando-se criada uma obrigao nova. Na novao subjetiva passiva com o ingresso do novo devedor, considera-se criada obrigao nova. Esta mudana de devedores pode ser dar de duas maneiras:

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Por delegao: em que todos os envolvidos ajustam o ato novatrio, ou seja, o devedor primitivo e novo participa do ato novo.
Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, no tem o credor, que o aceitou, ao regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por m-f a substituio.

Expromisso: Caso em que o antigo devedor sequer ouvido, ou seja, haver mudana de devedor, sem que devedor primitivo aceite a novao.
Art. 362. A novao por substituio independentemente de consentimento deste. do devedor pode ser efetuada

Efeitos da novao: Liberatrio - No que se refere s garantias, ver os arts. 364 e 366 do CC, os quais trazem a regra geral e bvia de que as garantias primitivas, se no forem ressalvadas, cairo.
Art. 364. A novao extingue os acessrios e garantias da dvida, sempre que no houver estipulao em contrrio. No aproveitar, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que no foi parte na novao. Art. 366. Importa exonerao do fiador a novao feita sem seu consenso com o devedor principal.

Obs.: O STJ j assentou o entendimento no sentido de que mesmo que tenha havido renegociao ou at mesmo novao da obrigao, possvel a reviso do contrato e impugnao de clusula abusiva (Ag Rg no Ag 801.930/SC e Smula 286) em respeito ao prprio princpio da funo social. O STJ, no (Ag Rg no REsp 640.448/SC), interpreta a adeso REFIS como novao. AULA 23 ON-LINE TRANSMISSO DAS OBRIGAES Introduo: O professor Clvis do Couto e Silva na sua obra A obrigao como um processo, demonstra que uma relao obrigacional um ente dinmico como se fosse um processo, ou seja, atos que vo sendo realizados at que se chegue ao resultado final para satisfao do credor. I. Cesso de crdito: Prevista no Cdigo velho e tambm no novo. A Cesso de credito a ser tratada a derivada de negcio jurdico. Conceito: A Cesso de crdito, forma de transmisso da obrigao, configura-se quando o credor originrio (cedente) transmite total ou parcialmente o seu crdito a um terceiro (cessionrio), mantendo-se a mesma relao jurdica com o devedor (cedido). No existe obrigao nova na cesso de crdito, como o na novao subjetiva ativa.

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Na hiptese do novo credor pagar pelo crdito h uma cesso onerosa, assim como, um pagamento com subrogao convencional. No quer dizer que pagamento com subrogao a mesma coisa que cesso de crdito, apenas se confundem na cesso onerosa.
Art. 286. O credor pode ceder o seu crdito, se a isso no se opuser a natureza da obrigao, a lei, ou a conveno com o devedor; a clusula proibitiva da cesso no poder ser oposta ao cessionrio de boa-f, se no constar do instrumento da obrigao.

Em regra, todo crdito pode ser cedido. Em determinadas situaes, dada a natureza do prprio direito, este no poder ser cedido, a exemplo de um direito personalssimo ou do direito aos alimentos; Tambm a lei pode proibir a cesso de um crdito (art. 1.749, III, CC);
Art. 1.749. Ainda com a autorizao judicial, no pode o tutor, sob pena de nulidade: III - constituir-se cessionrio de crdito ou de direito, contra o menor.

Finalmente, tambm pode haver estipulao do credor originrio com o devedor proibindo a cesso do crdito (pacto de non cedendo), que s ter eficcia em face de terceiro de boa-f se constar do prprio instrumento da obrigao, no podendo ser verbal, pois, garante o conhecimento a um terceiro eventual interessado em adquirir o crdito. indispensvel, como condio de eficcia, luz do princpio da boa-f objetiva e do prprio dever de informao, que o devedor seja notificado da cesso operada (art. 290, CC).
Art. 290. A cesso do crdito no tem eficcia em relao ao devedor, seno quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito pblico ou particular, se declarou ciente da cesso feita.

A notificao do devedor to importante, especialmente sob o prisma de se saber a quem pagar (art. 292, CC). Alm disso, nos termos do art. 294 (com regra semelhante no art. 1.474 do Cdigo Civil argentino), uma vez notificado poder opor ao novo credor (cessionrio) as defesas que tinha contra o credor antigo.
Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cesso, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cesso notificada, paga ao cessionrio que lhe apresenta, com o ttulo de cesso, o da obrigao cedida; quando o crdito constar de escritura pblica, prevalecer a prioridade da notificao. Art. 294. O devedor pode opor ao cessionrio as excees que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cesso, tinha contra o cedente.

Obs.: A cesso de direitos hereditrios, a ttulo de curiosidade, estar regulada no art. 1.793 e ss. do CC. Responsabilidade pela cesso do crdito: Regra geral, nos termos dos arts. 295 a 297 do CC, o cedente deve garantir apenas a existncia do crdito que cedeu (cesso pro soluto); Todavia, caso tambm se responsabilize pelo pagamento, a cesso ser pro solvendo.
Art. 295. Na cesso por ttulo oneroso, o cedente, ainda que no se responsabilize, fica responsvel ao cessionrio pela existncia do crdito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cesses por ttulo gratuito, se tiver procedido de m-f.

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Art. 296. Salvo estipulao em contrrio, o cedente no responde pela solvncia do devedor. Art. 297. O cedente, responsvel ao cessionrio pela solvncia do devedor, no responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cesso e as que o cessionrio houver feito com a cobrana. Art. 298. O crdito, uma vez penhorado, no pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, no tendo notificao dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro.

II. Cesso de dbito (assuno de dbito/dvida) Esta cesso passou a ser prevista apenas no Novo Cdigo Civil. Conceito: Consiste em um negcio jurdico por meio do qual o devedor (cedente), com expresso consentimento do credor, transmite a um terceiro a sua dvida. (art. 299, CC).
Art. 299. facultado a terceiro assumir a obrigao do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assuno, era insolvente e o credor o ignorava. Pargrafo nico. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assuno da dvida, interpretando-se o seu silncio como recusa.

o A cesso de dbito pressupe necessariamente a anuncia do credor. o Se o credor for notificado em 15 dias e permanecer em silncio considera-se recusa deste. No confundir a cesso de dbito com a novao subjetiva passiva, pois nesta, no momento que se opera a mudana de devedor, considera-se uma obrigao nova, e na cesso a relao jurdica obrigacional a mesma. III. Cesso de posio contratual (cesso de contrato) Introduo Este tipo de transmisso de obrigao no foi previsto no Cdigo antigo e nem foi regulado no NCC; Todavia, amplamente aceito pela jurisprudncia. Segundo o jurista italiano Emilio Betti, a cesso de contrato realiza a forma mais completa de transferncia da relao obrigacional, pois, em um nico ato o sujeito assume um dos plos da prpria obrigao. Vale dizer, diferentemente da simples cesso de crdito ou de dbito, transfere-se a prpria posio contratual, como um todo, mediante a anuncia da outra parte. (ver art. 424 a 426 do Cdigo de Portugal). Uma vez que, na cesso de contrato transmite-se a prpria posio contratual como um todo, razo assiste Teoria Unitria (Pontes de Miranda, Silvio Venosa), e no Teoria Atomstica ou da Decomposio (Ferrara), que no aceitava a transferncia global e unitria da prpria posio do contrato.

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Obs.: Ao se passar um contrato adiante condio de validade e eficcia da cesso que a outra parte seja ouvida. O denominado contrato de gaveta traz em seu bojo, salvo situaes excepcionais, grande risco ao cedente, a par de uma inequvoca irregularidade. Risco porque o cedente continua com seu nome formalmente no contrato e irregularidade porque a outra parte no foi ouvida. o No mbito do Sistema Financeiro de Habitao, a regra geral no sentido de que a instituio financeira, deve anuir na cesso de contrato. (REsp. 1.102.757/CE, REsp. 783.389/RO), excepcionada a especial situao prevista no art. 20 da Lei n 10.150/00 (REsp. 653.415/SC).
Lei 10.150/00 Art. 20. As transferncias no mbito do SFH, exceo daquelas que envolvam contratos enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei no 8.692, de 28 de julho de 1993, que tenham sido celebradas entre o muturio e o adquirente at 25 de outubro de 1996, sem a intervenincia da instituio financiadora, podero ser regularizadas nos termos desta Lei. Pargrafo nico. A condio de cessionrio poder ser comprovada junto instituio financiadora, por intermdio de documentos formalizados junto a Cartrios de Registro de Imveis, Ttulos e Documentos, ou de Notas, onde se caracterize que a transferncia do imvel foi realizada at 25 de outubro de 1996.

A denominada cesso de contrato imprpria ou cesso legal uma figura esdrxula em que a cesso da posio contratual decorre da prpria lei independentemente da anuncia da outra parte. (Ex. art. 31 da Lei n 6.766/79 Lei de parcelamento do solo urbano). AULA 31/05/2011 TEORIA DO INADIMPLEMENTO A relao obrigacional dinmica, como lembra o Prof. Clvis do Couto e Silva podendo desembocar no adimplemento (pagamento) ou no inadimplemento absoluto ou relativo da obrigao. O inadimplemento absoluto traduz o descumprimento total da obrigao, podendo ser fortuito (art. 393) ou culposo (art. 389). Neste ltimo caso a obrigao poder ser resolvida em perdas e danos (responsabilidade civil), tema especialmente desenvolvido na teoria do contrato.
Art. 389. No cumprida a obrigao, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualizao monetria segundo ndices oficiais regularmente estabelecidos, e honorrios de advogado. Art. 393. O devedor no responde pelos prejuzos resultantes de caso fortuito ou fora maior, se expressamente no se houver por eles responsabilizado.

Obs.: Em responsabilidade civil, veremos noes de caso fortuito e fora maior e situaes de descumprimento fortuito da obrigao em que inexiste a obrigao de indenizar ( o caso do assalto mo armada em nibus REsp. 402.227/RJ). O inadimplemento relativo caracterizado pelo instituto da mora. Mora

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Ocorre a mora, que tanto pode ser do devedor como do credor, quando o pagamento no feito no tempo, lugar ou forma convencionados. (art. 394)
Art. 394. Considera-se em mora o devedor que no efetuar o pagamento e o credor que no quiser receb-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a conveno estabelecer.

A mora pode ser: 1) Do Credor (credendi ou accipiendi): Se d quando, sem motivo justificado, o credor se recusa a receber o pagamento nos termos da lei. O art. 813 do Cdigo Portugus define bem o que seja mora. Obs.: Silvio Rodrigues lembra que a mora do credor independe da investigao de sua culpa. O art. 400 do CC estabelece quais so os efeitos da mora do credor:
Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo responsabilidade pela conservao da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conserv-la, e sujeita-o a receb-la pela estimao mais favorvel ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivao.

2) Do devedor (debendi ou solvendi): A mora do devedor se da, em linhas gerais, quando ele culposamente retarda o cumprimento da obrigao, ainda vivel para o credor. Na linha do pensamento de Clovis Bevilacqua a mora do devedor teria os seguintes elementos ou requisitos: a) Existncia de uma dvida lquida e certa; b) Vencimento da dvida: Quando a dvida tem vencimento certo, salvo eventual disposio legal em contrrio, a mora automtica, pois o prprio dia do vencimento interpela pelo credor (dies interpellat pro homine): fala-se em mora ex re (art. 397). Caso o credor precise comunicar ao devedor a sua mora, especialmente na hiptese de no haver sido ajustado termo de vencimento, a mora passa a se denominar ex persona. (par. do art. 397).
Art. 397. O inadimplemento da obrigao, positiva e lquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Pargrafo nico. No havendo termo, a mora se constitui mediante interpelao judicial ou extrajudicial.

Obs.: O STJ j firmou entendimento no sentido de que, em sede de alienao fiduciria a mora do devedor automtica, ou seja, ex re, de maneira que a notificao por ele recebida apenas comprobatria da mora que j existia. (AgRg no Ag 997.534/GO; REsp 1.041.543/RS) c) Culpa do devedor: A mora do devedor pressupe um fato imputvel a ele. (art. 396)
Art. 396. No havendo fato ou omisso imputvel ao devedor, no incorre este em mora.

d) Viabilidade do cumprimento tardio da obrigao:

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o Vale dizer, se em virtude da mora, no h mais interesse objetivamente til do credor, tecnicamente no houve simplesmente mora, mas sim inadimplemento total da obrigao a ser resolvido em perdas e danos. (sem prejuzo de tutela especfica). o Para que se possa diagnosticar se ainda h interesse para o credor, importante ter como referencia o pargrafo nico do art. 395 e o Enunciado 162 da III JDC.
Art. 395. Responde o devedor pelos prejuzos a que sua mora der causa, mais juros, atualizao dos valores monetrios segundo ndices oficiais regularmente estabelecidos, e honorrios de advogado. Pargrafo nico. Se a prestao, devido mora, se tornar intil ao credor, este poder enjeit-la, e exigir a satisfao das perdas e danos.

o O enunciado 162 da III jornada Direito civil, estabelece que a viabilidade no cumprimento da prestao deve ser aferida de forma razovel, luz do princpio da boa-f em anlise objetiva pelo juiz. o Sinalgma: a prestao de uma parte corresponde a de outra Efeitos da mora do devedor: a) Responsabilidade civil pelo prejuzo causado ao durante a mora: o ressarcimento ao credor decorrente do atraso do pagamento. (Art. 395)
Art. 395. Responde o devedor pelos prejuzos a que sua mora der causa, mais juros, atualizao dos valores monetrios segundo ndices oficiais regularmente estabelecidos, e honorrios de advogado. Pargrafo nico. Se a prestao, devido mora, se tornar intil ao credor, este poder enjeit-la, e exigir a satisfao das perdas e danos.

b) Perpetuatio obligationis: em outras palavras a responsabilidade do devedor pela integridade da coisa devida, ainda que por caso fortuito ou fora maior nos termos do Art. 399 CC, responder, durante a mora pela integridade da coisa devida.
Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestao, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de fora maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar iseno de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigao fosse oportunamente desempenhada.

o O devedor em mora, caso a prestao se impossibilite durante o atraso, poder se defender, alegando: 1. Iseno de culpa na mora (ex.: quis pagar no vencimento, mas o credor no apareceu); 2. Que o dano sobreviria ainda que a obrigao fosse oportunamente desempenhada (poder o devedor provar que a mesma enchente que matou o animal matou todos os animais da fazenda do credor) Obs.: A despeito do que dispe o enunciado 284 diversas decises monocrticas do STJ, mais recentes, com base no REsp. 767.227/SP, aps o advento da Lei n 10.931/04, tem apontado no sentido de que o devedor, pagando a integralidade do dbito remanescente poder evitar a perda do bem independentemente de ter pagado 40% do preo financiado. Consultar tambm o REsp. 145.660/SP.

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Smula 284. A purga da mora nos contratos de alienao fiduciria s permita quando j pagos 40% do valor financiado.

Obs.: Havendo mora simultnea (do credor e do devedor) segundo Washington de Barros elas se compensam ficando tudo como estar. CLSULA PENAL Conceito: A clusula penal, tambm chamada pena convencional, consiste em um pacto acessrio pelo qual as partes fixam previamente a indenizao devida em caso de descumprimento total da obrigao (clusula penal compensatria) ou ainda em caso e descumprimento de determinada clusula do contrato ou de mora (clusula penal moratria).
Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na clusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigao ou se constitua em mora. Art. 409. A clusula penal estipulada conjuntamente com a obrigao, ou em ato posterior, pode referir-se inexecuo completa da obrigao, de alguma clusula especial ou simplesmente mora.

A natureza da clusula penal tipicamente indenizatria, visa previamente liquidar os danos, configurando antecipao processual. Multa tem natureza sancionatria, difere assim de clusula penal. Na linha do art. 1.152 do cdigo da Espanha e de jurisprudncia do STJ (Ag Rg no AG 788.124/MS) o art. 410 do CC, estabelece que a clusula penal compensatria traduz alternativa ao credor, que poder exigi-la ou exigir o cumprimento da obrigao principal pela via adequada, ou seja, no se pode cumular a execuo da clusula penal e pedido indenizatrio autnomo, pois configuraria bis in idem (enriquecimento sem causa). Por bvio, trata-se de uma faculdade conferida ao credor.
Art. 410. Quando se estipular a clusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigao, esta converter-se- em alternativa a benefcio do credor.

Sob pena de enriquecimento sem causa, nos termos do art. 412, a clusula penal no pode ter valor superior ao da obrigao principal.
Art. 412. O valor da cominao imposta na clusula penal no pode exceder o da obrigao principal.

Obs.: O pargrafo nico do art. 416 admite expressamente a indenizao suplementar, se tal possibilidade houver sido prevista no prprio contrato, ou seja, fixada a clusula penal se o prejuzo do credor for superior ao valor fixado, a indenizao suplementar s ser possvel se houver previso expressa no contrato.
Art. 416. Para exigir a pena convencional, no necessrio que o credor alegue prejuzo. Pargrafo nico. Ainda que o prejuzo exceda ao previsto na clusula penal, no pode o credor exigir indenizao suplementar se assim no foi convencionado. Se o

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tiver sido, a pena vale como mnimo da indenizao, competindo ao credor provar o prejuzo excedente.

A Prof. Judith Martins-Costa lembra que o juiz, nos termos do art. 413, poder reduzir o valor de uma clusula penal, mas no suprimi-la. A doutrina clssica entende que esse reconhecimento no pode ser de ofcio. Para a doutrina moderna luz do principio da funo social e nos termos do Enunciado 356 da IV JDC, o juiz nas hipteses do art. 413, dever reduzir a clusula penal de ofcio.
Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqitativamente pelo juiz se a obrigao principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negcio.

Obs.: Ler os Enunciados 355 a 359 da IV JDC e o artigo com o prof. Salomo Viana sobre a Smula 381 do STJ. Obs.: Jurisprudncia anterior ao CDC j aceitou como vlida clusula penal que estabeleceu a perda de todas as prestaes pagas (REsp. 399.123/SC), mas posies contrrias tambm existiam (AgRg no REsp. 479.914/RJ). O fato que com a entrada em vigor do CDC a corrente que sustentava a abusividade deste tipo de clusula ganhou muito mais fora. No que diz respeito aos consrcios, vale lembrar que estes tm regramento prprio (Lei n 11.795/08) e que o STJ admite que o consorciado desistente receba as parcelas pagas, abatida a taxa de administrao e aps o encerramento do grupo. AULA 07/06/2011 RESPONSABILIDADE CIVIL Segundo Jose de Aguiar Dias toda manifestao humana traz em si o problema da responsabilidade. o A responsabilidade jurdica ampla e no se esgota na responsabilidade civil. Conceito: o A responsabilidade civil, espcie de responsabilidade jurdica, deriva da transgresso de uma norma jurdica preexistente, impondo ao causador do dano a conseqente obrigao de indenizar. Obs.: Vigora no mbito da responsabilidade civil o princpio do neminem laedere, segundo o qual a ningum dado causar prejuzo a outrem, sob pena de reparao integral vtima. A premissa da responsabilidade civil a existncia de norma jurdica anterior que foi quebrada. A depender da norma jurdica violada, a responsabilidade civil pode ser contratual (quando a norma preexistente violada derivar de um contrato) e

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extracontratual ou aquiliana (quando a norma preexistente violada derivar da prpria lei). Contratual: teremos a responsabilidade civil contratual (art. 389 e 402);
Art. 389. No cumprida a obrigao, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualizao monetria segundo ndices oficiais regularmente estabelecidos, e honorrios de advogado. Art. 402. Salvo as excees expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, alm do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

Questo - Neste campo o que se entende por violao positiva do contrato? R: esta expresso traduz o descumprimento do deveres anexos (nebenpflichten dever de proteo) a exemplo ao dever de informao ou de sigilo no contrato. b) Extracontratual [aquiliana]: A regra geral esta no Art. 186 pois define ato ilcito. -Arts. 43, 398, 927 e seguintes deste Cdigo. -Art. 49 da Lei no 5.250, de 9-2-1967 (Lei de Imprensa). -Smulas nos 28, 492 e 562 do STF. -Smulas ns. 37, 43, 221 e 281 do STJ. A regra geral da responsabilidade civil encontra-se no art. 186 do CC que define o ato ilcito. Este dispositivo, por inspirao do Cdigo Civil da Frana, consagra, nos termos da sua redao, uma ilicitude subjetiva (baseada na culpa ou no dolo).
Art. 186. Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito.

Sucede que o sistema legal de responsabilidade civil tambm consagra hipteses de ilicitude objetiva, independentemente da aferio de culpa, como se l no art. 187 (definidor do abuso de direito) e no pargrafo nico do art. 927 (que define a atividade de risco)
Art. 187. Tambm comete ato ilcito o titular de um direito que, ao exerc-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econmico ou social, pela boa-f ou pelos bons costumes. Art. 927. Aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo. Pargrafo nico. Haver obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

o Quanto ao abuso de direito, o art. 187 nitidamente afasta as noes de culpa e dolo para optar pelo elemento finalstico ou teleolgico na caracterizao do abuso. o Em direitos reais devo ficar atento ao aparente conflito entre o art. 187 e o 2 do art. 1. 228, que, ao definir o abuso do direito de propriedade (ato emulativo), desastradamente consagra uma ilicitude subjetiva, na medida em que exige a prova da inteno de prejudicar.

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Elementos da responsabilidade civil 1) Conduta humana: A conduta humana traduz o prprio comportamento humano marcado pela voluntariedade, quer seja comissivo, quer seja omissivo; Obs.: Embora no seja regra, autores como Garcez Neto, Von Thur, Paulo Lobo lembram que excepcionalmente pode haver responsabilidade civil decorrente de ato lcito. Ex.: Desapropriao; Passagem forada (art. 1.285, CC). 2) Nexo de causalidade: o liame que une o agente ao prejuzo por ele causado: o Previsto no art. 403 do CC:
Art. 403. Ainda que a inexecuo resulte de dolo do devedor, as perdas e danos s incluem os prejuzos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuzo do disposto na lei processual.

o Fundamentalmente, trs teorias se digladiam para explicar o nexo de causalidade: a) Teoria da equivalncia de condies (conditio sine qua non): desenvolvida pelo filsofo Von Buri, sustenta no haver diferena entre os antecedentes fticos do resultado danoso, de maneira que tudo o que concorra para o resultado considerado causa (No aceita pela maioria dos civilistas); b) Teoria da causalidade adequada: Para esta teoria, causa no qualquer antecedente ftico que concorra para o resultado, mas sim, lembra Cavalieri Filho, causa somente aquele antecedente ftico adequado ou abstratamente idneo consecuo do resultado. o Para a teoria da causalidade direta, defendida por autores como Gustavo Tepedino e Carlos Roberto Gonalves, causa o comportamento antecedente que determina o resultado como uma conseqncia sua direta e imediata. (anlise da causa no resultado) Obs.: Arrisca-se dizer que a maioria da doutrina brasileira na linha de autores franceses como Carbonnier, Mazeaud-Tunc, como vemos em Cavalieri Filho prefere a teoria da causalidade adequada, contra a opinio de juristas como Tepedino e Gonalves. c) Teoria da causalidade direta e imediata: sustenta que causa apenas o antecedente ftico que determina o resultado danoso como conseqncia sua direta e imediata. O STJ no REsp. 686.308 ao decidir que a suspenso de medicamento determinou diretamente e imediatamente a perda do rim de um paciente. Abraa esta teoria. (RE 130.764/STF). 3) Dano ou prejuzo: Elemento da responsabilidade civil, traduz uma leso a um interesse jurdico tutelado material ou moral. o Requisitos do dano indenizvel:

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a) Violao a interesse jurdico material ou moral: No qualquer dano que justifica responsabilidade civil. o O simples fim do afeto no traduz interesse jurdico violado, portanto no dano indenizvel. b) Subsistncia do dano: Se o dano j foi reparado naturalmente no h o que indenizar; c) Certeza do dano: No se indeniza o dano incerto, abstrato ou hipottico. Obs.: A teoria da perda de uma chance de origem francesa, desenvolvida por autores como Srgio Novaes Dias e Fernando Gaburri, admitida pelo prprio STJ (Noticirio de 21/11/10), relativiza este requisito na medida em que admite que a vtima seja indenizada pela perda de uma provvel situao ou direito que lhe seria conferido. Vale dizer, a perda de uma chance pode ser indenizvel por afastar uma expectativa favorvel ao lesado. Ex.: Maratonista que esta na ponta e atrapalhado por cidado. o *Silvio Venosa lembra que para muitos autores a perda de uma chance uma categoria especial de dano que no se confunde com o dano emergente (prejuzo efetivo sofrido) nem com o lucro cessante (o que se deixa de ganhar em razo do dano). o Emblemtico o REsp. 788.459/BA em que a teoria da perda de uma chance foi acatada em programa televisivo de perguntas e respostas. Questo: O que dano reflexo ou em ricochete? R.: Desenvolvido tambm na Frana, e acatado pelo STJ (noticirio de 10/04/11), dano reflexo ou em ricochete aquele sofrido pela vtima indireta ligada vtima direta do ilcito causado (REsp. 1.208.949/MG). Ex.: Filho que teve o pai baleado. Obs.: No confundir dano reflexo com dano indireto. Fernando Gaburri lembra que a expresso danos indiretos caracteriza outra situao: a hiptese em que a mesma vtima sofre um dano imediato e outros danos indiretos ou sucessivos. Ex.: Voc compra uma vaca com febre aftosa, que contamina o seu rebanho. A anlise do nexo causal no dano indireto mais complexa. Questo: O que dano bumerangue? R.: Salomo Resed defende o dano bumerangue como sendo aquele em que a vtima, titular do direito indenizao reage ilicitamente causando um indevido dano de retorno ao seu agressor. O que dano in re ipsa? R.: aquele que dispensa prova em juzo, ou seja, aquele que traduz um prejuzo presumido, a exemplo da assentada situao de inscrio indevida no SPC ou no Serasa.
(Ler editorial 15 do site do Prof. Pablo Teoria do Thin Skull Rule e editorial 24 sobre o mtodo bifsico da indenizao por dano moral).

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AULA 14/06/2011 RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIRO As hipteses de responsabilidade por ato de terceiro esto previstas no art. 932 do CC e, em virtude do quanto disposto no art. 933, consagram a responsabilidade objetiva, afastando as antigas presunes de culpa.
Art. 932. So tambm responsveis pela reparao civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condies; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviais e prepostos, no exerccio do trabalho que lhes competir, ou em razo dele; IV - os donos de hotis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educao, pelos seus hspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, at a concorrente quantia. Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que no haja culpa de sua parte, respondero pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

o O empregador responde objetivamente pelo ato do empregado, mesmo que no tenha culpa na escolha deste. Quanto s relaes externas, a exemplo, um acidente de trnsito, apesar de o empregador no poder alegar que no o escolheu poder dizer que o empregado no teve culpa no acidente. Responder tambm, mesmo que o empregado no esteja a trabalho ou em razo dele como no caso do empregado que vai com o carro da empresa para casa no final de semana. o Os donos de escola so responsveis pelo educando menor nos termos do inc. IV, pois a entrega do filho escola configura transferncia do poder de comando do pai a esta. No caso de escola pblica a responsabilidade do Estado. Obs.: O bullying traduz uma forma de constrangimento psicolgico, fsico e moral, que tem como principal vtima o educando, podendo, em tese, justificar a responsabilidade civil do dono da escola por omisso fiscalizatria e eventualmente dos prprios pais. o Lembram Barros Monteiro e Rui Stoco que o inc. V em verdade, nada mais faz do que consagrar uma regra para a devoluo da coisa, evitando o enriquecimento ilcito. Obs.: O direito de regresso na responsabilidade por ato de terceiro existe nos termos e nas condies do art. 934.
Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.

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o O CC de 1916, em seu art. 156, equiparava os menores relativamente incapazes aos maiores pelos ilcitos praticados, considerando, por outro lado, o absolutamente incapaz inimputvel, o que levantou crticas da doutrina. (Era considerado menor relativamente incapaz o individuo de 16 a 21 anos). o O NCC, nos termos dos art. 932 incs. I e II c/c o art. 928, revolucionou o tratamento da matria ao admitir a responsabilidade, ainda que subsidiria, do relativa ou absolutamente incapaz. Significa que algum responde na frente desse, ou seja, primeiro se responsabiliza o representante dele.
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuzos que causar, se as pessoas por ele responsveis no tiverem obrigao de faz-lo ou no dispuserem de meios suficientes. Pargrafo nico. A indenizao prevista neste artigo, que dever ser eqitativa, no ter lugar se privar do necessrio o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

Ao adolescente infrator a medida scio-educativa da obrigao de indenizar prevista no ECA isenta os pais de faz-lo. Se o representante for pobre tambm responder somente o incapaz.

Obs.: Interpretao literal do inc. I do art. 932 conduziria a idia de afastar a responsabilidade do genitor que no detivesse a guarda e por conseqncia no tivesse o menor em sua companhia, havendo deciso do STJ nesse sentido (REsp. 540.459/RS); Todavia, julgando o REsp. 1.074.937/MA, o STJ entendeu que a responsabilidade pode ser de ambos uma vez que, o dever de orientao recair tanto no pai como na me (ver art. 1.583, 3 do CC).
Art. 1.583. A guarda ser unilateral ou compartilhada. 3o A guarda unilateral obriga o pai ou a me que no a detenha a supervisionar os interesses dos filhos.

Passando em revista a responsabilidade civil na jurisprudncia brasileira 1. Responsabilidade civil mdica: O noticirio STJ de 09/11/2008 anota que nos ltimos 6 anos a quantidade de processos envolvendo erro mdico que chegou a Corte aumentou 200%. o Erro mdico o dano injusto imputvel ao profissional da medicina, o qual nos termos do art. 14, 4 do CDC e art. 951 do CC, tem responsabilidade baseada na culpa profissional.
Art. 14. O fornecedor de servios responde, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos prestao dos servios, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua fruio e riscos. 4 A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais ser apurada mediante a verificao de culpa.

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Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenizao devida por aquele que, no exerccio de atividade profissional, por negligncia, imprudncia ou impercia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe leso, ou inabilit-lo para o trabalho.

Obs.: A par da responsabilidade do mdico basear-se na culpa profissional, admite-se a inverso do nus da prova, nos termos do CDC. (Ver REsp. 171.988/RS). Quanto ao cirurgio plstico, a situao dele mais delicada, na medida em que, se a cirurgia plstica esttica assume obrigao de resultado, de maneira que a responsabilizao mais facilitada, havendo quem sustente ser objetiva. O cirurgio-chefe responde pela sua equipe, mas no responder pelo erro do anestesiologista, que tambm mdico. o O STJ ainda no firmou jurisprudncia unssona quanto natureza jurdica da responsabilidade do hospital pelo erro na prestao do servio mdico, havendo deciso que a entende subjetiva (REsp. 258.38/SP), bem como deciso que a entende objetiva (REsp. 696.284/RJ). o O STJ tem decises admitindo a responsabilidade da seguradora de plano de sade pelo erro do mdico credenciado (REsp. 328.389/RJ). Obs.: Existe divergncia na doutrina quando a possibilidade de um mdico intervir para salvar a vida do paciente, mesmo contra a sua vontade, em razo da aparente colidncia entre o direito a vida e a liberdade de conscincia e crena filosfica e religiosa. o Termo de consentimento esclarecido ou informado (art. 15 do CC) o documento entregue pelo mdico ao paciente pelo qual luz da boa-f objetiva e do dever de informao, lhe dar conhecimento das consequncias e riscos do procedimento clnico.
Art. 15. Ningum pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento mdico ou a interveno cirrgica.

o Vale acrescentar que a Teoria da Perda de uma Chance, lembra Julio Meireles, tambm pode ser aplicada a atividade mdica, justificando indenizao, ainda que reduzida. Obs.: Quanto responsabilidade do cirurgio-dentista, por ser profissional liberal, tambm se baseia na culpa profissional valendo mencionar o texto de Ricardo Zart (www.jus.com.br) o Quanto ao advogado ver a obra responsabilidade civil do advogado pela perda de uma chance. (Srgio Novaes Dias - LTR) 2. Responsabilidade das locadoras de veculos: A Smula n 492 do STF estabelece ser solidria a responsabilidade da locadora de veculos com o locatrio pelos danos causados no uso do carro locado.
A empresa locadora de veculos responde, civil e solidariamente com o locatrio, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado.

3. Responsabilidade pelo transporte de mera cortesia (carona):

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O STJ editou o enunciado n 145 que admite a responsabilidade civil do transportador (em transporte desinteressado com o carona), somente se tiver havido de sua parte dolo ou culpa grave.
En. 145. No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador s ser civilmente responsvel por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.

Obs.: O pargrafo nico do art. 944 tambm traz situao em que o juiz, analisando o grau da culpa, pode reduzir a indenizao a ser paga pelo ru (este redutor, nos termos do enunciado n 380 da IV Jornada, tambm poderia ser aplicado s hipteses de responsabilidade objetiva).
Art. 944. A indenizao mede-se pela extenso do dano. Pargrafo nico. Se houver excessiva desproporo entre a gravidade da culpa e o dano, poder o juiz reduzir, eqitativamente, a indenizao.

Sobre a responsabilidade civil do transportador aeronutico, vale conferir o noticirio STJ de 05/07/2009. Sobre o tema, para concurso destacamos alguns aspectos: Sobre extravio de bagagem, aps o advento do CDC, a responsabilidade do transportador subordina-se ao princpio da ampla reparao, afastando-se indenizao tarifada, inclusive da Conveno de Varsvia (AgRg no Ag 1.230.663/RJ). O REsp. 797.836 sustentou a tese de que, em geral, as agncias de viagem no podem ser responsabilizadas por atrasos em vo quando ela vende as passagens, muito embora o mesmo tribunal tambm haja decidido que haver responsabilidade pelo mal servio vendido em pacote turstico com vo fretado (783.016). Quanto ao over booking (quando a companhia emite mais passagens do que tem assento) o STJ tambm j decidiu tratar-se de uma prtica ilcita que s v a convenincia da prpria companhia area podendo gerar responsabilidade civil (REsp. 211.604/SC).

4. Responsabilidade civil e condomnios: Sobre o tema, ver noticirio STJ de 10/05/2009. o O STJ j consolidou entendimento de que possvel a utilizao de rea comum em carter exclusivo por condmino, desde que haja autorizao da assemblia. (REsp. 281.290) o No que tange a furtos em garagem ou cometimento de atos ilcitos em reas comuns, entende o STJ que a responsabilidade do condomnio s existir se estiver expressamente prevista na conveno. (REsp. 268.669, 618.533) AULA 04/07/2011 DIREITO DE FAMLIA A CF/88, em seu art. 226, consagra um sistema jurdico de direito de famlia aberto, inclusivo e no discriminatrio.

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Art. 226. A famlia, base da sociedade, tem especial proteo do Estado. 1 - O casamento civil e gratuita a celebrao. 2 - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 3 - Para efeito da proteo do Estado, reconhecida a unio estvel entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua converso em casamento. 4 - Entende-se, tambm, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. 5 - Os direitos e deveres referentes sociedade conjugal so exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 6 O casamento civil pode ser dissolvido pelo divrcio. (Redao dada Pela Emenda Constitucional n 66, de 2010) 7 - Fundado nos princpios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsvel, o planejamento familiar livre deciso do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e cientficos para o exerccio desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituies oficiais ou privadas. 8 - O Estado assegurar a assistncia famlia na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violncia no mbito de suas relaes.

Vale dizer, o nosso sistema constitucional, alm do casamento, reconhece tambm como entidades familiares a unio estvel e o ncleo monoparental (formado por qualquer dos pais e sua prole). A doutrina mais abalizada (Paulo Lobo, Luiz Edson Fachin, Maria Berenice Dias) reconhece, por sua vez, que outros arranjos familiares, ainda que no explicitamente previstos merecem a devida tutela jurdica e constitucional, como o caso da Unio homo-afetiva. Outros arranjos tais como irmo mais velho que cria irmo mais novo ou madrinha que cria afilhado, devem ser reconhecidos por se tratar de um sistema aberto. Conceito de famlia: Sem pretender esgotar a definio, entendemos que a famlia, base da sociedade (art. 226, CF) um ente despersonificado moldado pelo vinculo da socioafetividade, dotado de estabilidade e merecedor da tutela jurdica. Obs.: A doutrina costuma reconhecer superada a tese defendida por Savatier e Carbonnier no sentido de a famlia ser uma pessoa jurdica. Principais caractersticas do moderno conceito de famlia A famlia : a) Socioafetiva: Significa que o conceito de famlia moldado, no pela tcnica legal, mas sim, pela afetividade (exemplo disso foi o reconhecimento da unio estvel homo-afetiva, unanimidade, pelo STF, ao julgar a ADI 4.277 e a ADPF 132); b) Eudemonista: Significa que, luz do princpio da funo social, toda famlia deve servir de ambincia para que os seus membros realizem os seus projetos pessoais de vida e felicidade. c) Anaparental: Significa que a entidade familiar pode inclusive ser formada por pessoas que no guardem entre si estrito vnculo de consaguinidade.

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Obs.: O art. 5 da Lei Maria da Penha consagra essas caractersticas moderna do conceito de famlia especialmente a anaparentalidade. Principio da interveno mnima do direito de famlia Este princpio desenvolvido por inmeros autores como Rodrigo da Cunha Pereira sustenta no poder o Estado invadir a esfera ntima da famlia sufocando-a ou oprimindo-a. Casamento Nos termos do art. 1.511 do CC, lembrando a doutrina de Van Wetter, podemos definir o casamento como uma instituio oficial, solene, que firma uma comunho plena devida entre os cnjuges, na perspectiva do princpio constitucional da igualdade.
Art. 1.511. O casamento estabelece comunho plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cnjuges.

Natureza jurdica do casamento: Corrente Publicista: Esta corrente sustentava que o casamento seria instituto de direito pblico, em outras palavras um ato administrativo; Corrente Privatista: Sustenta que o casamento um instituto de direito privado, regula por ordem pblica: i) No-contratualista: Alguns entendem que o casamento no um contrato um negcio complexo, outros que o casamento no contrato acordo, outros que dizem que um ato-condio (Leon Diguit) - Ato condio aquele que quando praticado coloca a parte em uma situao impessoal. ii) Contratualista: Respeitvel parcela da doutrina, desde Clvis Bevilacqua chegando a Orlando Gomes, afirma por sua vez, que o casamento um contrato especial de direito de famlia. O ncleo do casamento o consentimento das partes. Pressupostos existenciais do casamento: a) Consentimento: o ncleo do casamento art. 1.538, I, CC.
Art. 1.538. A celebrao do casamento ser imediatamente suspensa se algum dos contraentes: I - recusar a solene afirmao da sua vontade;

b) Celebrao por autoridade materialmente competente: Logicamente, faltando autoridade celebrante competncia legal ou material para o ato, o casamento ser inexistente, ressalvada a hiptese prevista no art. 1.554, que consagra a boa-f dos contraentes.
Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competncia exigida na lei, exercer publicamente as funes de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil.

c) Diversidade de sexos: Tradicionalmente, diversidade de sexos pressuposto existencial do casamento, por princpio amplamente consagrado (Caio Mrio). Inclusive, em reforo a este raciocnio, vale lembrar que, diferentemente da unio estvel o casamento instituto formal e que gera estado civil, recomendando, por segurana jurdica, a edio de lei que passasse a admitir

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o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, como se deu por meio da lei espanhola de 1/07/05. Todavia, a despeito da ausncia de lei especfica, pioneira deciso da 2 Vara de Famlia de Jacare/SP admitiu a converso da unio estvel em casamento civil. Assim, a evoluo jurisprudencial poder superar este terceiro requisito. d) Capacidade para o casamento (nbil): Nos termos do art. 1.517 do CC, homem e mulher podem se casar a partir dos 16 anos completos. Entre 16 e 18 anos e necessrio uma autorizao de ambos os pais ou do representante legal.
Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorizao de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto no atingida a maioridade civil. Pargrafo nico. Se houver divergncia entre os pais, aplica-se o disposto no pargrafo nico do art. 1.631. Art. 1.518. At celebrao do casamento podem os pais, tutores ou curadores revogar a autorizao. Art. 1.519. A denegao do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz.

o possvel o casamento abaixo da idade nbil, conforme dispe o art. 1.520.


Art. 1.520. Excepcionalmente, ser permitido o casamento de quem ainda no alcanou a idade nbil (art. 1517), para evitar imposio ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.

Obs.: O Cdigo Penal em sua atual redao, considera o estupro de vulnervel (com menor de 14 anos) crime que se processa mediante ao penal pblica incondicionada. Assim sendo, em regra, no teria cabimento uma autorizao para casamento entre a menor e o ru, ressalvada situaes excepcionais em que a maturidade da vtima e a estabilidade da relao possam indicar a inequvoca ausncia de justa causa para a ao penal. Obs.: Ainda a ttulo de introduo, vale lembrar que existem dois tipos bsicos de casamento: o casamento civil e o casamento religioso com efeitos civis (admitido pela Constituio de 1934). O Tribunal de Justia da Bahia em deciso pioneira (MS n 34.739-8/05) admitiu o casamento esprita com efeitos civis (ver no material de apoio referncia a parecer do jurista Dalmo Dalari). Vale acrescentar ainda, que so formas especiais de casamento: a) O casamento por procurao (art. 1.542): A procurao tem que ser pblica e no pode ultrapassar 90 dias.
Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procurao, por instrumento pblico, com poderes especiais. 1o A revogao do mandato no necessita chegar ao conhecimento do mandatrio; mas, celebrado o casamento sem que o mandatrio ou o outro contraente tivessem cincia da revogao, responder o mandante por perdas e danos. 2o O nubente que no estiver em iminente risco de vida poder fazer-se representar no casamento nuncupativo. 3o A eficcia do mandato no ultrapassar noventa dias. 4o S por instrumento pblico se poder revogar o mandato.

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b) Nuncupativo ou in articulo mortis ou in extremis (art. 1540): aquele da pessoa que est com iminente perigo de morte no havendo tempo para formalizar a habilitao nem tempo de chamar o juiz devendo porm ser celebrado na presena de seis testemunhas.
Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, no obtendo a presena da autoridade qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poder o casamento ser celebrado na presena de seis testemunhas, que com os nubentes no tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, at segundo grau.

c) Em caso de molstia grave (art. 1.539): aquele em que j houve a habilitao e h tempo de chamar a autoridade competente para celebrar o casamento.
Art. 1.539. No caso de molstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato ir celebr-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. 1o A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se- por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato. 2o O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, ser registrado no respectivo registro dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.

Promessa de casamento, noivado ou esponsais: O noivado traduz a promessa de casamento que, quando injustificadamente descumprida, poder, por quebra de boa-f objetiva resultar em responsabilidade civil por dano material e moral. A jurisprudncia brasileira tem mais de uma deciso admitindo a responsabilidade civil por ruptura de noivado, como se v na AC n 282.469-5, TJ/PR, bem como no prprio STJ no REsp. 251.689/RJ. INTENSIVO II AULA 1 16/08/2011 SEPARAO E DIVRCIO JUDICIAIS A promoo da dignidade da pessoa humana, na perspectiva do princpio da afetividade, torna necessria a implementao de meios, no de incentivo, mas de facilitao democrtica de acesso ao divrcio. A matemtica das pesquisas em torno do tema no engana: Somente em 2006 contabilizaram-se cerca de 162.000.000 divrcios, segundo dados do IBGE. A despeito de respeitvel parcela da doutrina defender o fim da separao judicial, a partir da Emenda n 66/2010, cuidaremos de analisar o instituto da separao, em virtude da polmica ainda existente e de no haver ainda pronunciamento judicial definitivo do STF. Conceito: A separao judicial, outrora denominada de desquite, medida que fora prevista a partir do art. 1.571 do CC, e que visava a dissolver a sociedade conjugal (art. 1576) mantendo-se o vnculo matrimonial.

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Na prtica a separao judicial apenas dissolve alguns deveres do casamento, mas os cnjuges continuam proibidos de casar com terceiro, at que haja o divrcio ou um deles morra.
Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: I - pela morte de um dos cnjuges; II - pela nulidade ou anulao do casamento; III - pela separao judicial; IV - pelo divrcio. 1o O casamento vlido s se dissolve pela morte de um dos cnjuges ou pelo divrcio, aplicando-se a presuno estabelecida neste Cdigo quanto ao ausente. 2o Dissolvido o casamento pelo divrcio direto ou por converso, o cnjuge poder manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrrio a sentena de separao judicial. Art. 1.576. A separao judicial pe termo aos deveres de coabitao e fidelidade recproca e ao regime de bens. Pargrafo nico. O procedimento judicial da separao caber somente aos cnjuges, e, no caso de incapacidade, sero representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmo.

Espcies de separao: A separao judicial observava algumas espcies (para Pablo no existe mais separao depois da emenda do divrcio, contudo o STF ainda no se pronunciou sobre o assunto): a) Separao consensual ou amigvel: Art. 1.574 do CC
Art. 1.574. Dar-se- a separao judicial por mtuo consentimento dos cnjuges se forem casados por mais de um ano e o manifestarem perante o juiz, sendo por ele devidamente homologada a conveno. Pargrafo nico. O juiz pode recusar a homologao e no decretar a separao judicial se apurar que a conveno no preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cnjuges.

b) Separao litigiosa: Art. 1.572 do CC: No h pedido e sim demanda. Era dividida em separao falncia e separao remdio ( 1 e 2 do art. 1.572) onde havia uma demanda, todavia nessas duas espcies falncia e remdio no se discutia a culpa, se dava por causa objetiva segundo alguns autores;
Art. 1.572. Qualquer dos cnjuges poder propor a ao de separao judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe grave violao dos deveres do casamento e torne insuportvel a vida em comum. 1o A separao judicial pode tambm ser pedida se um dos cnjuges provar ruptura da vida em comum h mais de um ano e a impossibilidade de sua reconstituio. 2o O cnjuge pode ainda pedir a separao judicial quando o outro estiver acometido de doena mental grave, manifestada aps o casamento, que torne impossvel a continuao da vida em comum, desde que, aps uma durao de dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvvel. 3o No caso do pargrafo 2o, revertero ao cnjuge enfermo, que no houver pedido a separao judicial, os remanescentes dos bens que levou para o casamento, e se o regime dos bens adotado o permitir, a meao dos adquiridos na constncia da sociedade conjugal.

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Obs.: O CC brasileiro, segundo parcela da doutrina, teria banido, por falta de previso legal, a clusula de dureza, oriunda do direito francs, e prevista no art. 6 da Lei 6.515/77, a qual impedia o juiz de decretar a separao falncia ou remdio, se resultasse em prejuzo do outro cnjuge ou da prole. Alm da separao falncia e remdio tinha a separao sano que era uma forma de separao que discutia o elemento culpa, ou seja, por causa subjetiva. Tinha seu fundamento no caput do art. 1.572 (complementado pelas hipteses do art. 1.573). Neste tipo de separao, segundo as normas do CC, no bastava o desafeto, necessrio seria, para o decreto de separao, que restasse provada a culpa do ru, por violao de dever conjugal ou prtica de conduta desonrosa. Vale acrescentar que, pelo direito anterior, o culpado na separao tambm sofreria efeitos colaterais condenatrios, como a obrigao do pagamento de penso, a perda do uso do nome e at mesmo da guarda dos filhos;
Art. 1.572. Qualquer dos cnjuges poder propor a ao de separao judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe grave violao dos deveres do casamento e torne insuportvel a vida em comum. Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunho de vida a ocorrncia de algum dos seguintes motivos: I - adultrio; II - tentativa de morte; III - sevcia ou injria grave; IV - abandono voluntrio do lar conjugal, durante um ano contnuo; V - condenao por crime infamante; VI - conduta desonrosa. Pargrafo nico. O juiz poder considerar outros fatos que tornem evidente a impossibilidade da vida em comum.

Obs.: O maior inconveniente, sem dvida, da separao judicial litigiosa (caput do art. 1.572), a exigncia da discusso da culpa no bojo da demanda, quando, em verdade, o moderno direito de famlia aponta no sentido de ser suficiente o desafeto, a falncia da afetividade, para a dissoluo do casamento, e da prpria sociedade conjugal, como inclusive decidiu o STJ no emblemtico REsp. 467.184/SP. Com isso, percebe-se que a supresso do sistema de separao, a par da sua inutilidade, marca um passo de evoluo pelo banimento da culpa no juzo de famlia. c) Divrcio: O Brasil talvez haja sido um dos nicos Estados no mundo em que as prprias constituies traziam em seu bojo a regra da indissolubilidade do matrimnio. Com isso, fora necessria a edio da conhecida Emenda n 9/77, que, modificando a Constituio Federal ento vigente, permitiu assim a edio da Lei n 6.515/77. De acordo com essa lei, o divrcio em geral, para a esmagadora maioria dos casos, exigia que primeiramente o casal se separasse e, somente aps o prazo de mais de trs anos poderia pretender a condio em divrcio (art. 175 da prpria Constituio Federal de 1967).

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A CF/88, por sua vez, reescreveria o divrcio para permitir que o divrcio indireto ou por converso fosse obtido respeitado o prazo de um ano (art. 1.580, CC), e, alm disso, facilitou o divrcio direto, exigindo, todavia, um prazo de separao de fato por mais de dois anos. Divrcio indireto: Era necessrio separao judicial pelo perodo de um ano para poder converter em divrcio; Divrcio direto: Era aquele que dispensava prvia separao judicial, exigindo apenas, nos termos da redao original do 6 do art. 226 da CF/88, comprovada separao de fato por mais de dois anos. Obs.: Outro marco importante na histria do divrcio no Brasil foi a aprovao da Lei n 11.441/07 que, respeitados os termos da CF/88, passaria a admitir o divrcio e a separao administrativos, desde que consensuais, e ainda, dada a ausncia de filhos incapazes (art. 1.124-A, CPC).
Art. 1.124-A. A separao consensual e o divrcio consensual, no havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, podero ser realizados por escritura pblica, da qual constaro as disposies relativas descrio e partilha dos bens comuns e penso alimentcia e, ainda, ao acordo quanto retomada pelo cnjuge de seu nome de solteiro ou manuteno do nome adotado quando se deu o casamento. (Includo pela Lei n 11.441, de 2007).

O CNJ disciplinou administrativamente a referida Lei n 11.441 por meio da sua Resoluo n 35. Vale ainda acrescentar o interessante e polemico PL 464/08 do Senado que pretende instituir o divrcio on-line ou eletrnico. O PEC denominado de PEC do amor, e que resultaria na EC n 66/10, por iniciativa do IBDFAM, fora originariamente apresentado pelo Deputado Antnio Carlos Biscaia, e posteriormente pelo Deputado Srgio Barradas Carneiro. Em sua redao original, a PEC dizia: o casamento civil pode ser dissolvido pelo divrcio consensual ou litigioso, na forma da lei. Note-se: no fazia mais meno a separao judicial, nem aos prazos para o divrcio. Para evitar indevido espao de atuao do legislador ordinrio, a emenda aprovada, respeitando o princpio da interveno estatal mnima no direito de famlia, intencionalmente suprimiria a referencia separao judicial, banindo o instituto (posio de autores como: Paulo Lobo, Rodrigo da C. Pereira, Maria Berenice Dias, Flvio Tartuce, etc.), bem como suprimiria os prazos para obteno do divrcio. A corrente abolicionista, a despeito de respeitveis autores em contrrio (Mrio Delgado, Luis Felipe Brasil) afirma que a nova norma constitucional deve ser interpretada, no apenas na sua literalidade, mas em uma perspectiva histrica e, sobretudo social, que tem no banimento da separao e da discusso da culpa um marco de evoluo que respeita o princpio da vedao ao retrocesso desenvolvido por Canutilho. Obs.: A jurisprudncia encontra-se dividida, com decises favorveis supresso da separao judicial (TJMG, 0315694-50.2010.8.13.0000; ver tambm Boletim n 179 do IBDFAM e Enunciado aprovado na I Jornada dos

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Juzes de Famlia de Salvador), havendo tambm pronunciamentos contrrios (AC 70040844375, TJRS). O PL 7661/2010 expressamente dispe pelo fim da separao judicial. Com a supresso dos prazos para o divrcio, este se tornou um direito potestativo no condicionado e sem causa especfica. AULA 23/08/2011 EFEITOS JURDICOS DA NOVA EMENDA DO DIVRCIO A partir da Emenda, correto dizer que a medida cautelar de separao de corpos, que tem o condo de especialmente suspender o dever de coabitao, continua em vigor. Assim como, logicamente, as medidas protetivas da Lei Maria da Penha. 1. A Emenda do divrcio e a guarda de filhos No existem empecilhos para a acumulao de pedidos na ao de divrcio, ou seja, a acumulao de pedido de divrcio com pedido de alimentos, guarda de filhos e partilha de bens juridicamente possvel. Pode ser encontrado posicionamentos isolados discordante. Prima-se pela economia processual, pois se formulado pedidos em separado poder ocorrer reunio por dependncia ou no. Obs.: Em tese, com base no 6 do art. 273 do CPC, nada impede que o juiz decrete o divrcio em sede de antecipao dos efeitos da tutela, liminarmente.
Art. 273. O juiz poder, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequvoca, se convena da verossimilhana da alegao e: (Redao dada pela Lei n
8.952, de 1994)

I - haja fundado receio de dano irreparvel ou de difcil reparao; ou


n 8.952, de 1994)

(Includo pela Lei

II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propsito protelatrio do ru.

6o A tutela antecipada tambm poder ser concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso. (Includo pela Lei n
10.444, de 2002)

De acordo com a nova ordem constitucional, recomendvel e adequado que as corregedorias dos tribunais de justia orientem os cartrios de registro civil a tambm averbarem a deciso antecipatria que acolhe o pedido incontroverso de divrcio (at porque a Lei 6.015/73 fora editada no sistema constitucional anterior). Quanto guarda de filhos, a emenda do divrcio no altera a sistemtica constitucional que consagrou o interesse existencial dos filhos (Pietro Perlingieri, na obra Perfis de Direito Civil Constitucional), em lugar da criticada e superada utilizao do critrio da culpa. Na mesma linha, os artigos 1.583 e ss. do CC, a serem visto em aula prpria, no cuidam de utilizar a culpa como vetor de definio da guarda, e sim, o melhor interesse da criana ou do adolescente.

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Fundamentalmente, temos quatro modalidades bsicas de guarda: a) Guarda unilateral ou exclusiva: art. 1.583 e 1.584 do CC matematicamente a mais utilizada. Neste tipo de guarda, um dos pais detm exclusivamente poderes de guardio (aquele que direciona a vida da criana), cabendo ao outro direito de visitas (sem a perda do poder familiar); b) Guarda conjunta ou compartilhada: art. 1.583 e 1.584 do CC. J a guarda compartilhada, incentivada pela prpria ordem jurdica, melhor atende a construo da maturidade psicolgica do filho, na medida em que estabelece um exerccio bilateral ou conjunto da guarda, num parmetro civilizado de coresponsabilizao, evitando inclusive com isso os efeitos nocivos da alienao parental. c) Guarda alternada: apesar de no estar previsto no CC, assenta-se no princpio constitucional da isonomia. aquela em que o pai e a me revezam perodos exclusivos de guarda, cabendo ao outro direito de visitas; d) Aninhamento ou nidao: idem letra c. Espcie pouco comum em nossa jurisprudncia, mais ocorrente em pases europeus. Para permitir que a criana no sofra dano na disputa de custdia, abandonando o meio m que vive, ela permanecer no mesmo domiclio em que vinha sendo criada, revezando-se os pais em sua companhia a emenda do divrcio no alterou esse sistema apresentado, permanecendo em vigor o art. 1.579 do CC;
Art. 1.579. O divrcio no modificar os direitos e deveres dos pais em relao aos filhos. Pargrafo nico. Novo casamento de qualquer dos pais, ou de ambos, no poder importar restries aos direitos e deveres previstos neste artigo.

2. Uso do nome: Teoricamente, a despeito de no haver pacificidade, razovel concluir-se que: a) No divrcio consensual, o uso do nome de casado depender dos termos do acordo; b) No divrcio judicial, entendemos que a regra o retorno ao nome de solteiro, ressalvados os excepcionais casos previstos no revogado art. 1.578, CC; 3. Alimentos e a nova emenda do divrcio: Um dos grandes inconvenientes na mantena do instituto da separao precisamente a discusso da culpa em sede de alimentos, conforme se pode ver nos arts. 1.702 e 1.704, CC.
Art. 1.702. Na separao judicial litigiosa, sendo um dos cnjuges inocente e desprovido de recursos, prestar-lhe- o outro a penso alimentcia que o juiz fixar, obedecidos os critrios estabelecidos no art. 1.694. Art. 1.704. Se um dos cnjuges separados judicialmente vier a necessitar de alimentos, ser o outro obrigado a prest-los mediante penso a ser fixada pelo juiz, caso no tenha sido declarado culpado na ao de separao judicial.

Na prtica da jurisprudncia inegvel que, mesmo antes da emenda do divrcio, essa discusso da culpa j havia sido flexibilizada, preocupando-se

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muito mais o juiz, luz do princpio da proporcionalidade, com o binmio necessidade/capacidade, do que propriamente com a busca de um culpado. A partir da nova emenda como se delineia o panorama doutrinrio em torno dos alimentos? A doutrina brasileira, no pacfica aps a emenda n 66/2010, quanto discusso da culpa em sede de alimentos. Uma primeira corrente na linha de Paulo Lobo e Leonardo Moreira Alves sustenta que, com a supresso da separao, a partir da nova emenda, no se deve mais discutir culpa, atendose ao binmio capacidade/necessidade. Outros autores como Jos Fernando Simo admitem a discusso da culpa restrita ao autnoma de alimentos. E uma terceira corrente como Flvio Tartuce continua admitindo a discusso da culpa para a fixao dos alimentos em sede do prprio divrcio. 4. Regime de bens: A nova emenda do divrcio no alterou a sistemtica dos regimes de bens, lembrando que, luz do art. 1.581, (que revogou o art. 43 da Lei do Divrcio, n 6.515/73) partilha pode ser deixada para depois do prprio divrcio;
Art. 1.581. O divrcio pode ser concedido sem que haja prvia partilha de bens.

Obs.: Acrescente-se ainda que ser de separao obrigatria o regime de bens do divorciado que se casa sem prvia partilha (art. 1.523); Aspectos processuais da emenda: a) Competncia: (Ver nota no site de Pablo sobre novo CPC - salomao.viana@terra.com.br) b) Legitimidade: art. 1.582, CC.
Art. 1.582. O pedido de divrcio somente competir aos cnjuges. Pargrafo nico. Se o cnjuge for incapaz para propor a ao ou defender-se, poder faz-lo o curador, o ascendente ou o irmo.

c) Tentativa de reconciliao: Quando h pedido de divrcio cumulado com outros pedidos a audincia de instruo se torna necessria. Se o pedido for somente de divrcio no necessria audincia prvia, mas no h nulidade se o juiz julgar necessria. Porm, a citao indispensvel, mesmo no havendo mais matria de mrito na resposta do ru. Direito intertemporal: Em respeito garantia do ato jurdico perfeito as pessoas judicialmente separadas antes da emenda no estariam automaticamente divorciadas (Paulo Lobo). Ser necessrio pedido de converso em divrcio independentemente do prazo. Nessa ordem de idias luz de todo o exposto, em respeito ao princpio da efetividade e da economia processual, dever o juiz exarar despacho assinando ao autor do pedido de separao prazo para a adaptao ao novo sistema constitucional, convertendo-o em pedido de divrcio, sob pena de extino do processo sem resoluo do mrito por perda de interesse processual superveniente.

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Obs.: O art. 264 do CPC no bice, na medida em que no houve simples mudana de pedido ou causa de pedir, mas sim alterao na prpria ordem constitucional.

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