Eduardo A. F. Barata
Eduardo A. F. Barata
Eduardo A. F. Barata
COSMÉTICOS
COSMÉTICOS
EDIÇAO
2.a~
2.a~
EDIÇAO
Desde tempos imemoráveis que os cosméticos são utilizados para realçar a beleza natural através da
combinação de diferentes composições. O ideal de beleza pode ter mudado ao longo dos tempos, mas
a procura por esse ideal não esmorece, muito pelo contrário. Marcada pela evolução científica desde
meados do século XX, a cosmética transformou-se numa das maiores indústrias a nível mundial, com
tendência a crescer cada vez mais, num ambiente de cerrada concorrência entre os principais grupos
e de rigorosa regulamentação.
Numa altura em que abundam as fontes de informação sobre Cosmetologia, nem sempre credíveis,
esta segunda edição vem colmatar necessidades de uma publicação científica, em língua portuguesa,
totalmente dedicada aos Cosméticos. Segundo uma perspetiva atual, pertinente e apropriada, esta
obra pretende elucidar, completar e atualizar os leitores sobre os principais temas relacionados com
o setor. Matérias como Anatomia, Histologia e Fisiologia da pele são descritas com detalhe, numa
linguagem rigorosa mas acessível ao leitor. É também abordada a tecnologia de ponta utilizada
na produção de novos produtos, a noção dos vários setores de formulação, produção e colocação
COSMÉTICOS
no mercado dos produtos cosméticos, a legislação na formulação e fabrico, assim como alguns
pressupostos para o lançamento e comercialização de um produto cosmético nos mercados portu-
C
guês e brasileiro.
E ENQUADRAMENTO LEGAL
A COSMÉTICA, INOVAÇÕES
M
Y Cosméticos foi escrito a pensar na necessidade de fornecer informação aos iniciados na área da
cosmética, tornando-se uma ferramenta de uso diário para quem trabalha nesta área das ciências
A COSMÉTICA, INOVAÇÕES E ENQUADRAMENTO LEGAL
CM
MY
da saúde, que tem muito de ciências exatas, mas também de beleza e bem-estar. É, assim, uma
obra completa, que será muito útil a todos os que se interessam pelo tema, sejam dermatologistas,
CY
esteticistas, docentes ou alunos do ensino superior que desejem atualizar os seus conhecimentos
na área da Cosmetologia.
EDUARDO A. F. BARATA
CMY
EDUARDO A. F. BARATA
Licenciado pela Faculdade de Farmácia do Porto onde exerceu funções de docente e investigador.
Foi regente das disciplinas de Dermofarmácia e Cosmética na Faculdade de Farmácia da Universidade
de Lisboa como Professor Auxiliar Convidado. Foi Professor Auxiliar na regência da Disciplina de
Dermofarmácia e Cosmética no Instituto Superior de Saúde Egas Moniz. Especialista pela Ordem dos
Farmacêuticos em Indústria Farmacêutica e em Assuntos Regulamentares. Tem uma pós-graduação
em Cosmetologia pela Society of Cosmetics Scientists e uma pós-graduação de atualização em EDUARDO A. F. BARATA
Introdução à Investigação em Saúde pela FFUL. Foi concomitantemente empresário e formulador
na área da cosmética.
www.lidel.pt
ISBN 978-989-752-249-9
9 789897 522499
Índice
Prefácio ................................................................................................................................................................................................ VI
Introdução ....................................................................................................................................................................................... VII
1. Cosméticos: conceitos básicos e definição ................................................................................................. 1
Cosmetologia.............................................................................................................................................................................. 1
Produtos cosméticos e suas finalidades atuais......................................................................................................... 4
Enquadramento legal............................................................................................................................................................. 7
Conteúdos a incluir num relatório de segurança................................................................................................... 12
Enquadramento legal no mercado brasileiro............................................................................................................ 14
Generalidades sobre o enquadramento da cosmética e a sua implicação no mercado global.......... 15
2. A pele e as suas características ............................................................................................................................ 17
Generalidades sobre a pele................................................................................................................................................. 17
3. Tecnologia aplicada às formulações cosméticas ................................................................................. 41
Os cosméticos, suas aplicações e formas de apresentação............................................................................... 41
Composição de um produto cosmético...................................................................................................................... 41
Abordagem aos sistemas dispersos (coloides)......................................................................................................... 45
Teoria da emulsificação......................................................................................................................................................... 53
Abordagem aos agentes tensioativos e as suas características físicas......................................................... 54
Classificação geral dos tensioativos................................................................................................................................ 59
Preparação de uma emulsão.............................................................................................................................................. 59
As emulsões em cosmética................................................................................................................................................. 60
Modos de obter uma emulsão estável.......................................................................................................................... 62
Requisitos de qualidade e tipo químico (iónico ou não-iónico) do par emulsionante escolhido.... 63
Aplicação do EHL na formulação de uma emulsão.............................................................................................. 63
Método experimental para determinar a estabilidade da fórmula final................................................... 64
Determinação do valor de EHL em emulsionantes aniónicos......................................................................... 64
Método experimental empírico....................................................................................................................................... 65
Método alternativo por comparação de emulsões............................................................................................... 65
Método dos diagramas ternários..................................................................................................................................... 66
Quantidade de emulsionante a empregar na obtenção de emulsões........................................................ 66
Diferentes fases da preparação de uma emulsão simples.................................................................................. 67
As preparações emulsionadas à escala industrial................................................................................................... 69
Os emulsionantes..................................................................................................................................................................... 73
Emulsões contendo cristais líquidos.............................................................................................................................. 74
Parâmetros a seguir na produção de emulsões múltiplas................................................................................. 75
Propriedades reológicas e mecânicas (estudos de textura).............................................................................. 76
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que não é alheio o rigor colocado na exposição dos diversos temas abordados. Também por esta
razão esta obra está escrita e organizada de modo claro, permitindo uma consulta fácil.
Concluo afirmando que este livro proporciona uma excelente compreensão do vasto tema
da cosmetologia, constituindo um excelente apoio bibliográfico para profissionais da área cos-
mética, docentes e estudantes do ensino superior.
Este livro é uma nova abordagem à cosmetologia e procura responder à evolução muito
rápida de todas as ciências, em especial, na área da saúde e do bem‑estar. Tal como a anterior
edição, este é o resultado de um trabalho desenvolvido ao longo de vários anos, com recolha
de assuntos divulgados nas aulas e nas palestras, em apresentações e cursos ou colóquios.
Embora não seja o nosso propósito apresentar aqui uma informação muito específica que
vá responder com precisão científica a todas as dúvidas que possam surgir aos técnicos da for-
mulação em cosmética, pretende‑se com esta obra abarcar o máximo de temas relacionados
com o sector e ainda completar e atualizar tanto quanto possível conhecimentos relativos ao
sector.
Os vários temas que se pretendem divulgar continuam a ser, a abordagem da anatomia,
histologia e fisiologia da pele, perturbações e alterações que afetam o seu bom funcionamento,
a tecnologia dos produtos cosméticos relativamente tanto às novas matérias‑primas como à
formulação de produtos mais atuais, a noção dos vários sectores de formulação, produção e
colocação no mercado dos produtos cosméticos, a legislação tanto na formulação como no
fabrico, na garantia de qualidade e inocuidade e na eficácia e, finalmente, alguns pressupos-
tos para o lançamento e comercialização de um produto cosmético nos mercados brasileiro e
português.
Acreditamos ter, assim, contribuído para complementar de uma forma mais acessível,
uma informação que se tem banalizado muito nestes últimos tempos, fruto da apetência do
consumidor para adquirir novos conhecimentos de fontes não muito fidedignas, mas muito
bem geridas pela literatura de divulgação escrita e obtida por via da Internet.
Pensando também na necessidade de fornecer informação aos iniciados na área da
cosmética, este livro constitui uma ferramenta de trabalho para esta área da ciência da saúde
que tem muito de ciências exatas, mas também de beleza e bem‑estar, e para as quais é neces-
sário responder com saber artístico.
Ciência de ponta na área da tecnologia e ciência artística para tornar os produtos ape-
tecíveis e atrativos tanto para o utilizador como para quem os rodeia. Atualmente, acompa-
nhando a tecnologia de ponta, aparecem os cosméticos contendo substâncias na forma de
nanopartículas. A nanotecnologia, embora sujeita a vigilância pelas entidades oficiais, já per-
tence presentemente ao domínio dos cosméticos.
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COSMETOLOGIA
A área da cosmetologia é muito abrangente, pois a quantidade de produtos, os procedi‑
mentos e os locais de aplicação são enormes. Iremos procurar enquadrar as várias matérias
dentro de um percurso que nos pareceu mais acessível e coerente. Existem vários conceitos
que importa definir desde já:
� A cosmetologia é a ciência que está na base da fabricação dos produtos de beleza e per‑
mite verificar as suas propriedades;
� O cosmetologista é o técnico que estuda e aprimora as formulações e fabrica produtos
de beleza, aplicando os métodos científicos determinados pela cosmetologia;
� O esteticista é o profissional que sabe escolher os cosméticos, segundo as suas proprie‑
dades, qualidades e indicações e os aplica segundo as técnicas e métodos desta profis‑
são;
� “Cosméticos” era, originalmente, o nome atribuído às substâncias naturais destinadas a
suavizar o cabelo e dar‑lhe brilho. Depois da I Guerra Mundial, o domínio dos produtos
de beleza aumentou e o nome cosmético adquiriu um sentido mais amplo, designando
toda a substância de origem animal, vegetal e mineral utilizada para embelezar a pele e
seus anexos (cabelos, unhas, dentes).
A fabricação de produtos cosméticos e de higiene corporal obriga a requisitos de quali‑
dade. Contrariamente ao empirismo que se verificava no passado até à revolução industrial,
sucedeu‑se o recurso a técnicas científicas que permitem otimizar a aceitação cosmética,
a estabilidade, a inocuidade e a segurança na aplicação, assim como a eficácia dentro dos
padrões cosméticos.
Os cosméticos constituem um mercado em pleno desenvolvimento com um crescimento
anual de cerca de 15% segundo os dados divulgados pelas empresas da área como a L´Oréal.
Embora estejam ao alcance do consumidor sem qualquer restrição, pois são distribuídos em
todos os circuitos comerciais, constituem, juntamente com os medicamentos, um setor da in‑
dústria com uma legislação própria, tendo como organismo da tutela o Ministério da Saúde,
sob o controlo da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P. (Infarmed).
Correção
Corrigir o estado da pele significa utilizar substâncias que permitam restabelecer o equi‑
líbrio alterado, devolvendo‑lhe a beleza natural. Isto é conseguido pela utilização de cremes-
-óleo em água ou água em óleo, temas que serão tratados mais adiante (Capítulo 4). Estes
cremes contêm substâncias chamadas ativas, mas, em muitos casos, são mais o produto das
campanhas publicitárias e das imposições da moda, do que propriamente de efeitos reais.
Sobre esse assunto, teceremos os respetivos comentários no Capítulo 12.
Proteção
Proteger a pele é, antes de tudo, evitar a limpeza irracional ou não permitir que os agentes
atmosféricos, como o vento, o sol, e o frio, alterem o estado funcional da epiderme. As radia‑
ções solares constituem um dos fatores mais traumatizantes, pois originam a vasodilatação dos
capilares superficiais que provocam rosácea (couperose), o espessamento da camada córnea e a
desidratação cutânea. O vento e o baixo teor de humidade da atmosfera favorecem a evaporação
rápida da água ao nível da camada córnea, levando, igualmente, à desidratação. A pele deve ser
protegida pela permanência de uma película hidrolipídica suficientemente eficaz.
ENQUADRAMENTO LEGAL
Apesar de haver em Portugal um trabalho já muito avançado, no final dos anos 70 do
século passado, para remodelação do Decreto‑Lei n.º 375/72, com a adesão à Comunidade
Europeia, foi aprovado, em outubro de 1986, o Decreto‑Lei n.º 128/86 que transportava para
o direito interno a Diretiva n.º 76/768/CEE. Este diploma base definia a atividade na área
da cosmética quanto à definição, local e modo de ação, assim como as regras que deveriam
presidir à fabricação, comercialização e distribuição dos cosméticos e produtos de higiene.
Depois de vários anos de deliberação, as autoridades comunitárias decidiram modificar pela
sétima vez a versão original que datava de 1976. Publicou-se o Decreto‑Lei n.º 189/2008
de 24 de setembro, que foi completado pelo Decreto‑Lei n.º 115/2009, e constituído um
diploma que regulamenta toda a atividade ligada à produção, comercialização, distribuição
dos produtos cosméticos de higiene e de bem‑estar. Recentemente, por imposição comunitá‑
ria, ficou decidido que a colocação de produtos cosméticos no mercado português deve obe‑
decer aos requisitos estabelecidos pelo Regulamento (CE) n.º 1223/2009, pela Deliberação
n.º 15/CD/2013, com as disposições do Decreto n.º 189/2008 de 24 de setembro na redação
vigente, nomeadamente os artigos 10.º, 20.º, 22.º‑ 25.º e 29.º‑30.º e as correspondentes
normas sancionatórias.
A 11 de julho de 2013 entrou plenamente em vigor o Regulamento (CE) n.º 1223/2009
relativo aos produtos cosméticos. Por força da entrada em vigor deste regulamento, foi revo‑
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gada a legislação nacional que transpôs a Diretiva n.º 76/768/CEE e as sucessivas alterações,
sendo essa legislação substituída pelas disposições do referido Regulamento. Mantém‑se,
contudo, em vigor o disposto no Decreto‑Lei n.º 189/2008, de 24 de setembro, na sua reda‑
ção atual, relativamente a matérias que não são abrangidas pelo Regulamento, designada‑
mente o aplicável a:
� Idioma utilizado na rotulagem (art.º 10.º, tendo em conta o estabelecido no art.º 11.º,
n.º 5, do Regulamento);
� Unidades industriais (art.º 20.º);
Cosméticos: conceitos básicos e definição 11
Ensaios em animais
A legislação europeia tem vindo a restringir, progressivamente, a utilização de animais
nos ensaios dos cosméticos: os ensaios de cosméticos acabados em animais foram proibidos
em 2004 e os ensaios dos ingredientes cosméticos em animais foram proibidos em 2009. Foi
também em 2009 que se proibiu a comercialização de produtos cosméticos contendo ingre‑
dientes que tivessem sido ensaiados em animais.
Desde 11 de março de 2013, deixou, depois de sucessivos adiamentos, de ser possível a co‑
mercialização, na UE, de produtos cosméticos ensaiados em animais. Contudo, os cosméticos
que tenham sido objeto de ensaios mais complexos (toxicidade de dose repetida, incluindo
sensibilização cutânea e carcinogenicidade, toxicidade reprodutiva e toxicocinética) tiveram
como data limite para a comercialização a data de 11 de março de 2013.
Está incluída no Capítulo 15 a informação referente ao Decreto‑Lei n.º 189/2008 de 24 de
setembro, que constitui o diploma base e que regulamenta toda a atividade ligada à produção,
comercialização, distribuição dos produtos cosméticos de higiene corporal.
tra o envelhecimento cutâneo ou ainda a ação dos produtos com chancela “anticelulíticos”.
A legislação não se preocupa unicamente com a atuação dos cosméticos, mas igualmente
com os problemas de defesa do consumidor e da saúde pública. Assim, existem referências à
rotulagem, aos requisitos de qualidade, às atividades industriais e aos meios técnicos de pro‑
dução e controlo, com evidência para a obrigação de um responsável técnico e ainda vigilância
da publicidade.
Cosméticos: conceitos básicos e definição 15
Produtos descartáveis
Enquadram-se na categoria dos produtos descartáveis: as escovas de dentes e os produtos
absorventes descartáveis de uso externo, os produtos destinados à higiene corporal, aplicados
diretamente sobre a pele, com o objetivo de absorver ou reter excreções e secreções orgânicas,
tais como urina, fezes, leite materno e as excreções de natureza menstrual e intermenstrual.
Neste grupo inserem-se os pensos higiénicos femininos de uso externo, as fraldas para bebés,
as fraldas para adultos e os absorventes de leite materno.
que devem ter uma boa aparência, manter‑se jovens e apresentar um aspeto saudável,
pelo que recorrem com facilidade aos produtos cosméticos contra o envelhecimento,
mercado em crescimento devido ao aumento da esperança de vida da população geral.
A evolução do próprio mercado resulta de um aumento do poder de compra e de uma
oferta cada vez maior de novos produtos, em conjunto com o aparecimento de grandes su‑
perfícies, autênticas catedrais do consumo, e ainda incentivada por uma publicidade cada vez
mais agressiva.
22 Cosméticos
De uma forma sumária, podemos dizer que a camada córnea resulta de uma diferenciação
progressiva da epiderme, onde as células sintetizam elementos específicos proteicos e lipídi-
cos. Essas células transformam-se de uma forma drástica através de um processo denomina-
do queratinização, cujo resultado se traduz na formação de células mortas, muito resistentes
e que vão conferir à pele características específicas: uma espécie de envelope de proteção e de
contacto com o meio ambiente.
Derme
A derme dá solução de continuidade à camada basal, sendo constituída, na sua maior par-
te, por fibras de colagénio do tecido conjuntivo, por fibras elásticas e fibras de reticulina, numa
rede complicada, na qual estão envolvidos os vasos sanguíneos e linfáticos, os elementos ner-
vosos, os folículos pilosos, as glândulas sebáceas, os canais excretores das glândulas sudorí-
paras e os órgãos sensoriais. Todo este conjunto está envolvido pela substância fundamental e
contém ainda células específicas, como os fibrócitos geradores das fibras, elementos fagocitá-
rios, mastócitos, plasmócitos e leucócitos. Pode distinguir-se na derme, ainda que sem grande
nitidez: a derme profunda ou reticular, onde predominam os feixes colagénios espessos, com
direção paralela à epiderme, e a derme papilar que acompanha a camada basal, originando
as denominadas papilas dérmicas. Estas encerram uma fina rede de capilares que permite
as trocas metabólicas com a camada basal, parte viva da epiderme, e ainda fibras nervosas
amielíticas, que podem apresentar recetores encapsulados, os corpúsculos de Vater-Pacini, de
Ruffini e de Meissner (são pontos de sensibilidade ao frio, calor, dor e pressão).
O facto de as fibras de colagénio mais espesso (reticulina) se situarem de forma perpen-
dicular ao tecido epidérmico permite uma maior elasticidade da pele (efeito amortecedor).
A derme papilar é a mais superficial, fazendo fronteira com a parte germinativa da epi-
derme. Trata-se de tecido conjuntivo laxo, constituído por fibrilhas de colagénio do tipo I e
III, isoladas e maioritariamente orientadas no sentido perpendicular em relação à camada
adjacente.
A derme reticular mais profunda é constituída por um tecido conjuntivo mais denso, com-
posto por fibras entrecruzadas de elastina mais grossas e de reticulina mais elásticas. Estes
conjuntos de fibras apresentam uma orientação paralela à superfície da pele. A derme reticu-
lar contém menos colagénio do tipo III que a derme papilar. Na parte mais interna verifica-se
o aparecimento de uma progressiva transição de um tecido fibroso para um tecido adiposo.
A disposição dos vários tipos de fibra e a sua disposição vão condicionar a capacidade de rea-
ção às forças de compressão e estiramento a que o tecido por ser sujeito.
Como veremos no Capítulo 6, referente à senescência da pele, uma das características
mais evidentes do envelhecimento da pele está na perda da sua capacidade de retomar ao
estado inicial quando sujeita uma força de estiramento ou de pressão.
Colagénio
Os fibroblastos são células fusiformes ou irregularmente poligonais, tendo um núcleo
volumoso e um abundante aparelho de Golgi. Nos fibroblastos sintetizam-se os elementos
extracelulares, designadamente fibras de colagénio, elastina e mucopolissacarídeos.
A síntese dos aminoácidos necessários é efetuada no retículo endoplasmático rugoso,
obtendo-se o já referenciado procolagénio, que, por ação de uma peptidase, produz o tropoco-
lagénio, sob a forma de fibrilhas. Estas, agregadas em feixes, formam as fibras helicoidais de
colagénio. O colagénio é a proteína mais abundante nos vertebrados superiores, representan-
do um terço ou mais das proteínas do corpo. Cerca de 80% da massa de pele seca é constituída
por colagénio. Trata-se de uma proteína e, como tal, desde que aquecida em água a ferver,
transforma-se em gelatina – forma amorfa do colagénio.
O colagénio é um tecido fibroso, contrariamente ao tecido epidérmico que é constituído
por um tecido epitelial. As fibras de colagénio representam cerca de 70% do peso da derme e
Tecnologia aplicada às formulações cosméticas 53
TEORIA DA EMULSIFICAÇÃO
Superfície e interface. Tensão interfacial
Para reduzir a tensão interfacial entre dois líquidos é necessário modificar a qualidade da
interface adicionando elementos apropriados denominados tensioativos emulsionantes.
Apresenta‑se uma perspetiva sumária referente aos principais tensioativos ou surfactantes de
uso comum em cosmética. Existem agentes tensioativos naturais, que apresentam uma capa‑
cidade limitada e pouca estabilidade (ver Quadro 3.2), e tensioativos químicos ou de obtenção
industrial, que apresentam capacidade de ação muito mais forte e eficaz.
Um surfactante (tensioativo) é um composto químico que, quando dissolvido ou dis-
perso num líquido, vai ficar adsorvido numa interface, dando origem a uma diminuição da
superfície de contacto ou tensão interfacial. Esta ação está dependente da sua hidrofilia e
poderá desenvolver‑se de seis formas diferentes, caracterizando assim o surfactante:
� Molhante: Trata‑se de uma modificação do ângulo de contacto, sólido/líquido que
permite favorecer o contacto da água com o substrato, como nas situações seguintes:
• No caso de uma melhoria de penetração de uma substância untuosa na pele;
• No caso de facilitar a eliminação de sujidades gordas depositadas no cabelo. As partí‑
culas podem ser mais facilmente removíveis pela água de enxaguamento;
� Formador de espuma: Trata‑se da capacidade de baixar a tensão interfacial entre
a água e as bolhas de ar inclusas, tornando‑as mais persistentes. Esta propriedade é
aproveitada nos champôs e banhos de espuma, determinando a qualidade e caracterís‑
ticas destes cosméticos;
� Dispersante: Trata‑se da capacidade de facilitar a distribuição de partículas num lí‑
quido;
� Emulsionante: Trata‑se da capacidade de modificar a tensão interfacial água‑óleo, de
forma a reunir estes dois componentes e as substâncias neles dissolvidas, com a finali‑
dade de obter um preparado dermatológico ou cosmético estável denominado creme.
Este creme poderá ser do tipo O/A ou A/O consoante o valor de EHL do tensioativo e o
volume da fase externa;
� Solubilizante: Trata‑se da capacidade de manter a distribuição de uma substância
© Lidel – Edições Técnicas
INTRODUÇÃO
Existe um grande número de substâncias ou ingredientes utilizados no fabrico de cosmé‑
ticos. Podem ser divididos por quatro grandes famílias: produtos de origem animal, vegetal e
mineral, aos quais se vem juntar uma quarta família, a das substâncias denominadas sintéticas
e semissintéticas. Pensamos que, em breve, estaremos a utilizar algumas matérias‑primas vin‑
das da biotecnologia, aumentando assim ainda mais o leque de possibilidades neste domínio.
Para além desta classificação, podemos agrupar as matérias‑primas em corpos gordos ou
emolientes untuosos, e em corpos hidrófilos ou emolientes com características hidrofílicas.
Em relação aos corantes alimentares, estes embora tenham uma categoria específica não
são admitidos nas preparações cosméticas. Eles deverão estar sempre referidos nas listas pro‑
postas pela legislação dos cosméticos3.
sendo constituídas por 20 hexágonos. Adaptada pela indústria cosmética, dispersa em azei‑
te, é apresentada como tendo efeitos anti‑idade e comprovado em ensaios in vivo em ratos
(www.c60antiaging.com).
3
Nota: Diário da República, 1.ª série — N.º 185 — 24 de setembro de 2008.
De referir uma empresa fabricante de corantes dirigida diretamente à industria dos cosméticos Anstead
Ltd, Rdford Way, Billericay, Essex CM12 ODE, England.
4
Decreto-Lei n.º 245/2012. Diário da República n.º 217/2012, Série I de 2012-11-09.
Matérias-primas utilizadas nas preparações cosméticas 127
ELASTICIDADE DA PELE
É definida pela capacidade que esta tem de voltar ao estado inicial, assim que terminam
as forças que provocam essa extensão (deformação).
Esta propriedade depende das fibras elásticas e de colagénio, mas igualmente do estado
de hidratação da substância fundamental. Esta substância fundamental está dependente da
água, dos eletrólitos e dos coloides que a constituem. Esta situação vai‑se alterando com a
idade e com alguns estados fisiológicos (gravidez, menopausa).
O número de ingredientes atualmente aplicados na produção de cosméticos atinge um
tal número que dificilmente se pode acompanhar numa abordagem sucinta. Contudo, exis‑
tem bases de dados que são definidas por agências oficiais e que são de relativo fácil acesso.
Como referido no início, existe uma enorme preocupação ao nível da saúde dos vários países.
Organizações estatais e governamentais apresentam legislação muito restritiva, no sentido de
todos os ingredientes permitidos responderem aos mais criteriosos exames em todos os capí‑
tulos de defesa da saúde pública. Como exemplo, podemos referir a seguinte lista dos órgãos
federais nos Estados Unidos:
� Consumer Product Safety Commission;
� Food and Drug Administration;
� FDA Center for Drug Evaluation and Research;
� FDA Center for Food Safety and Applied Nutrition;
� The U.S. Food, Drug and Cosmetic Act;
� The U.S. Fair Packaging and Labeling Act;
� Search the U.S. Code of Federal Regulations;
� FDA Regulation of Over‑The‑Counter Drugs.4
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Esta área da estética tem sido muito seguida pela cosmetologia, que procura acompanhar
o desenvolvimento das novas técnicas com produtos cosméticos atuantes ou complementares
no processo da remoção dos pelos.
Introdução
Uma pele bronzeada é vista como mais atrativa e como reflexo de mais saúde. No entanto,
desde há alguns anos têm sido divulgados avisos e alertas de eminentes investigadores, médi‑
cos, dermatologistas e pessoas da área da saúde acerca dos malefícios de uma exposição exa‑
gerada ao sol. Estas preocupações assumem um carácter quase alarmista devido à diminuição
progressiva da proteção ambiental mais importante: a camada de ozono.
Mesmo que não sejamos diretamente influenciados pela diminuição da referida proteção,
as radiações que atingem a nossa área de permanência habitual são suficientemente agressi‑
vas para criarem justificadas preocupações.
Devido à tomada de consciência dos malefícios da exposição solar sobre a pele, têm sido
feitos esforços consideráveis, no sentido de desenvolver preparações protetoras que sejam
eficazes e seguras. Contrariamente à ideia que vigorava nos anos 1960, não existem radiações
bronzeadoras inócuas, e, curiosamente, aquelas que foram mais apreciadas são atualmente
mais visadas por constituírem um efeito prejudicial cumulativo que só se revela mais tarde, já
sem possibilidade de retrocesso.
Esta preocupação leva a que nos EUA e no Japão os produtos solares sejam considera‑
dos especialidades farmacêuticas de venda livre (over‑the‑counter – OTC), isto é, sujeitas ao
conselho de um técnico de saúde. Na Europa, os produtos solares são classificados no grupo
dos cosméticos, mas salvaguardados por restrições muito severas quanto à sua formulação,
princípios protetores utilizados e grau de proteção.
pigmentos corados e são, geralmente, mais finas em comparação com as peles escuras e, por‑
tanto, mais delicadas.
Quando uma radiação solar atinge a pele uma parte é diretamente refletida e a outra parte
penetra e é absorvida. Quanto maior for o comprimento de onda (λ) da radiação, menor será
a sua penetração (quanto menor for o comprimento de onda, maior a quantidade de energia
transportada e, logo, mais nociva será a sua ação).
Os raios infravermelhos (IV) penetram muito pouco, mas são uma fonte de calor com
uma ação benéfica e agradável. Situam‑se num comprimento de onda superior a 800 nm. Pelo
17cm x 24cm 18,1 mm 17cm x 24cm
COSMÉTICOS
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Desde tempos imemoráveis que os cosméticos são utilizados para realçar a beleza natural através da
combinação de diferentes composições. O ideal de beleza pode ter mudado ao longo dos tempos, mas
a procura por esse ideal não esmorece, muito pelo contrário. Marcada pela evolução científica desde
meados do século XX, a cosmética transformou-se numa das maiores indústrias a nível mundial, com
tendência a crescer cada vez mais, num ambiente de cerrada concorrência entre os principais grupos
e de rigorosa regulamentação.
Numa altura em que abundam as fontes de informação sobre Cosmetologia, nem sempre credíveis,
esta segunda edição vem colmatar necessidades de uma publicação científica, em língua portuguesa,
totalmente dedicada aos Cosméticos. Segundo uma perspetiva atual, pertinente e apropriada, esta
obra pretende elucidar, completar e atualizar os leitores sobre os principais temas relacionados com
o setor. Matérias como Anatomia, Histologia e Fisiologia da pele são descritas com detalhe, numa
linguagem rigorosa mas acessível ao leitor. É também abordada a tecnologia de ponta utilizada
na produção de novos produtos, a noção dos vários setores de formulação, produção e colocação
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no mercado dos produtos cosméticos, a legislação na formulação e fabrico, assim como alguns
pressupostos para o lançamento e comercialização de um produto cosmético nos mercados portu-
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cosmética, tornando-se uma ferramenta de uso diário para quem trabalha nesta área das ciências
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da saúde, que tem muito de ciências exatas, mas também de beleza e bem-estar. É, assim, uma
obra completa, que será muito útil a todos os que se interessam pelo tema, sejam dermatologistas,
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na área da Cosmetologia.
K
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Foi regente das disciplinas de Dermofarmácia e Cosmética na Faculdade de Farmácia da Universidade
de Lisboa como Professor Auxiliar Convidado. Foi Professor Auxiliar na regência da Disciplina de
Dermofarmácia e Cosmética no Instituto Superior de Saúde Egas Moniz. Especialista pela Ordem dos
Farmacêuticos em Indústria Farmacêutica e em Assuntos Regulamentares. Tem uma pós-graduação
em Cosmetologia pela Society of Cosmetics Scientists e uma pós-graduação de atualização em EDUARDO A. F. BARATA
Introdução à Investigação em Saúde pela FFUL. Foi concomitantemente empresário e formulador
na área da cosmética.
www.lidel.pt
ISBN 978-989-752-249-9
9 789897 522499