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Reabilitao 19 08

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Reabilitação

Baseada
em
Sistemas
Complexos

David Mascena

Fortaleza - 2020
Cadeias lineares causais, extraídas de fenômenos
que envolvem vínculos entre múltiplos fatores,
expressam uma simplicidade, que não é real.

Michael Turvey
Índice

Apresentação 9

Prefácio 11
Abordagem ecológica e a expressão
do movimento em contexto real 15

1. Lesões como um sistema complexo 17


Progressão de micro para macrolesão 20
O fator de risco individual 23

2. Forces not postures 27


Movimento depende da tarefa ou
movimento depende do contexto? 30

3. Fase de transição e reabilitação 32

4. Foco de atenção em reabilitação 36


Foco externo e resiliência da
habilidade motora 38
Affordances e seu papel central
no controle do movimento 40
5. Modelo do estressor único 43

6. Design de um programa
de reabilitação 46
Fase 1: Proteção 47
Fase 2: Mobilidade (amplitude
de movimento) 48
Fase 3: Coordenação intramuscular
(adaptações a nível de músculo) 50
Estabilidade da ação múscular,
na prática 53
A Single Leg Roman Chair é
um exercício seguro? 55
Fase 4: Ações elásticas 57
Fase 5: Transferência 60
Fase 6: Retorno ao Jogo 65
Variabilidade 66

Bibliografia 71
David Mascena | 9

Apresentação

© PowerCorePerformance

Os efeitos de treinamento são resultados de fenômenos extre-


mamente complexos, a tal ponto que se faz necessário a criação
de modelos simplificados para tratar questões sobre treinamento e
reabilitação. Normalmente, durante o processo usado para facilitar
a compreensão de fenômenos de tamanha complexidade, traçamos
pensamentos extremamente reducionistas, que consistem em prever
o comportamento do fenômeno com base na forma que suas partes
isoladas se comportam.
Na perspectiva de treinamento baseada em sistemas complexos,
partimos da premissa básica do pensamento complexo - “o todo é
maior que a soma das partes”. Através desse princípio entendemos
que fenômenos complexos como performance, movimento, lesão,
dor, fadiga e etc. são multifatoriais, dinâmicos e não lineares, sendo
assim precisamos passar a considerar os diversos contextos em que
esses fenômenos habitam e o modo pelo qual os diversos fatores
interagem entre si, determinando um comportamento.
Autores como Frans Bosch, Keith Davids, Natália Balagué, Scott
Kelso, Michael Turvey, W. Shöllhorne, entre outros, constroem um
importante corpo de evidência que demonstra um modo pratico de
entender e aplicar estratégias de treinamento e reabilitação baseado em
sistemas complexos e com isso, respeitando a natureza multifacetada
10 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

desses fenômenos, podemos compreender melhor os componentes


que os determinam e oferecer uma conduta mais eficiente e segura
para nossos alunos e pacientes.
Ao contrário do que muitos pensam, complexidade não é um
método e nem mesmo é um sistema de treinamento, complexidade
é uma filosofia, um modo de pensar que traça estratégias coerentes
com a real natureza dos fenômenos que trabalhamos, com base no
entendimento dos mecanismos de ação que vão desde fisiologia neu-
romuscular até fatores psicossociais, passando por uma forte base
biomecânica e por métodos de monitoramento e controle de carga.
Nosso objetivo, nos cursos e palestras ofertado pela PowerCore
Performance é estimular a compreensão dos mecanismos de ação que
regem os determinantes da nossa atuação profissional, apresentando
uma proposta de intervenção sistêmica nas áreas de treinamento e
reabilitação.
David Mascena | 11

Prefácio
despeito dos vários esforços da ciência e dos profissionais que

A atuam na prática, para reduzir o número das lesões, a inci-


dência ao longo dos anos não diminuiu ( AGEL et.al.,2016 e
EKSTRAND et.al.,2016) e para comprovar isso, basta uma olhada nas
estatísticas de lesões publicadas pelas principais ligas esportivas no
mundo. Devemos tentar entender, os potenciais motivos para existir,
um número crescente de lesões no esporte e porque estamos perdendo
a batalha contra as lesões, costumo dizer que seja lá o que estiverem
fazendo para previnir lesões no esporte, sem dúvida não está funcio-
nando.
Uma constante justificativa para o aumento da incidência de
lesões no futebol é o aumento da intensidade do jogo e isto, obviamente,
é verdade. Nos últimos anos, se corre mais, em maiores velocidades
e com um número cada vez maior de gestos motores executados em
alta intensidade, como saltos e aterrissagens , mudanças de direção
e etc.. Não há como negar este fato, no entanto, o aumento dessa
demanda deve ser acompanhada pelo aumento da capacidade dos
atletas e o grande problema, é que nossos métodos de treinamento e
prevenção, não estão sendo capazes de fazer isso. Métodos de trei-
namento de força, baseado em lifts ( agachamento, terra e etc.),os
exercícios corretivos do FMS ou algo do tipo, simplesmente não
são o caminho para conseguir isso, na verdade, isso é o que vem
sendo feito e, infelizmente, o número de lesões só aumenta todo
ano. Entender que a intensidade do jogo aumentou, ou seja, que a
demanda do jogo mudou, mostra, exatamente, que os métodos que
12 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

estão sendo usados no momento não são compatíveis com a atual


necessidade do esporte, tornando ainda mais urgente uma reflexão,
sobre estratégias de treinamento e métodos de triagem/ avaliação.
Os mecanismos de lesão de LCA sem contato, ocorrem normal-
mente por aterrissagem unilateral ou devido a mudança de direção
(YU et.al.,2007), além disso, o contato entre os jogadores, mesmo
que de baixa intensidade, também fornece uma contribuição impor-
tante para a lesão, pois muda subitamente a estratégia de movimento
planejada, com pouco tempo para uma ação motora corretiva ( pres-
são de tempo é um componente essencial a ser analisado) (KOGA
et.al.,2010) .
Com a necessidade de descrever em que momento ocorre essa
lesão no esporte, vários estudos tem sido feitos, em diferentes espor-
tes. As ações defensivas no basquete e no futebol aparecem, como
momentos de maior risco, além disso, no futebol o manejo da bola
parece ser outro momento de grande risco para a a ocorrência dessas
lesões. Resumidamente, podemos definir 3 momentos de risco no
futebol (DELLA VILLA et.al.,2015)

1. Pressionar o oponente durante a ação defensiva


2. Recuperar o equilíbrio após o chute ( principalmente
se houver contato, ainda que leve)
3. Aterrissagem após salto para cabecear

As situações de jogo, em cada esporte, expõem os atletas a


lesão de LCA, alem disso, os mecanismos reflexos proprioceptivos,
tão trabalhados nos programas preventivos e na reabilitação e erro-
neamente confundidos com controle motor, não podem proteger os
atletas. A lesão de LCA ocorre dentro de 50ms, após o contato com
o solo (KOGA et.al.,2010) e este tempo é menor do que o necessário
para o sistema nervoso gerar uma resposta apropriada ( 120 a 140ms
), ou seja, quando o reflexo chegar, a lesão já ocorreu. Surge aí, a
necessidade de preparar nosso atleta para lidar com grandes forças
externas, em alta velocidade e com alto grau de imprevisibilidade.
Estes fatores precisam está dentro do treinamento para otimizar
David Mascena | 13

estratégias de controle que chamamos préflexos, com um delay


reduzido e capaz de promover a devida proteção.
Programas preventivos com focos em lesão do LCA, normal-
mente tem como base relações lineares entre fatores risco e a ocor-
rência dessas lesões, no entanto, considerando a natureza complexa
das lesões esportivas, esta visão reducionista parece não fazer muito
sentido e pelo que observamos nas estatísticas, não vem fornecendo
muitos resultados reais.
A combinação de pliometria, treinamento de força, agilidade e
equilíbrio, comum nos programas preventivos (SADOGHI et.al.,2012),
também não fornece o necessário para que esses programas funcionem,
como deveriam. Normalmente se parte da premissa de que exercí-
cios universais, possam promover força e controle neuromuscular
suficiente para o atleta lidar com a imprevisibilidade e as súbitas
mudanças no planejamento de movimento, presentes no campo de
jogo, no entanto não é isso que acontece. Práticas pré planejadas de
habilidades motoras, em ambientes previsíveis com foco no alinha-
mento do membro inferior com a velha prática ditada por controle
consciente e repetições sucessivas, que formam a base de metodolo-
gias internacionais, que chegaram ao mercado nas últimas décadas,
não fornecem transferência necessárias para as demandas existentes
no jogo (BENJAMINSE et.al.,2017), além disso o treinamento de
força baseado em exercícios gerais também não cria links sensório
motores com a demanda do jogo, trabalhando os músculos fora da
situação de carga que serão submetidos no jogo, fazendo com que
esses exercícios sejam pouco efetivos.
O cenário descrito acima forma o modelo vigente de prevenção de
lesões, no entanto, evidências e uma análise nas estatísticas das ligas
esportivas, simplesmente, mostram que eles não vem funcionando,
sendo assim, cria- se a necessidade de repensar métodos de treina-
mento alternativos, que considerem fase de transição, demandas de
controle, em alta intensidade, mecanismos de controle inconsciente,
aprendizagem intrínseca e que, em última instância, considerem o
contexto da relação indivíduo - ambiente, presente no contexto real
do esporte.
14 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Não espere bons vinhos de uvas podres. A discussão que dura


décadas, sobre a efetividade ou não dos programas que prometem
reduzir riscos e a incidência de lesões no esporte, chegou a um
ponto onde a maioria das conclusões, nos leva a crer que é impos-
sível alcançar, tal objetivo, no entanto, eu não sou tão cético assim,
acredito que é possível reduzir os riscos e a incidência de lesão no
esporte, mas não com as práticas e a mentalidade reducionista, que
estamos acostumados.
Costumo dizer que as intervenções não funcionam, pelo simples
fato de não ter motivo algum para funcionar. Práticas que desconsi-
deram o contexto de onde ocorrem as lesões, que estão baseadas em
treinamento de força de baixa transferência, exercícios corretivos
com carga débil e baixa complexidade, incapazes de gerar adapta-
ções (princípio da sobrecarga), agilidade em ambiente previsível,
desconsiderando totalmente as restrições criadas por regras, presença
de adversários, limitação de espaço, esquema tático, ações coletivas
e intensidade do jogo, são uvas ruins e com certeza não produzirão
bons vinhos.
Ha uma urgente necessidade de repensar métodos de treinamento,
prevenção e reabilitação com base no contexto, precisamos rever
a utilização de testes e triagens para que eles possam nos fornecer
uma visão mais abrangente de como nosso atleta/ paciente adapta
sua estratégia motora as diversas mudanças de contexto. Além disso,
devemos modificar, nossa maneira de olhar para os fatores de risco,
nos afastando da visão baseada em relações lineares, obtidas fora de
contexto e evidenciando uma relação causa- efeito, que não é real e
passar a considerar a natureza multifatorial, complexa e não linear
das lesões e respeitar essa perspectiva, com uma prática alinhada à
ela.
David Mascena | 15

Abordagem ecológica e a
expressão do movimento
em contexto real

E
m sua essência, a abordagem ecológica gibsoniana, é caracte-
rizada pela rejeição as representações mentais, no tocante as
explicações sobre cognição incorporada. O centro fundamental
da teoria gibsoniana é a organização das propriedades ambientais (affor-
dances) e da forma como elas restringem o comportamento motor. O
mutualismo O-A é o ponto de partida para entender como os atletas se
movimentam, como eles selecionam rotas, como decidem com quem
cooperar e como competem com adversários no ambiente real.
Seleção de ações incorporadas ou cognição incorporada, significa
que ela é moldada pela habilidades e características do corpo, sendo
peça fundamental no entendimento dos efeitos online da tomada de
decisão. Para Gibson, esta decisão de como agir, não esta ligada a
uma parte do sistema O-A, como o cérebro ou as propriedades mate-
riais dos objetos, mas sim ao sistema como um todo, sendo assim,
a cognição é incorporada em um corpo e em um contexto.
A ação é influenciada pelo ambiente fisico e social, assim como
pelas próprias habilidades do indivíduo. As decisões de ação, são
transições em um curso temporal de ação, onde os processos cogni-
tivos são necessariamente limitados pelo sistema O-A em evolução
(WOODS et.al.,2020). O estado atual desse sistema é o resultado de
interações que restringem a ação imediata, isto é, o desempenho é
moldado pela memória (sem representação mental) e pela experiência
anterior.
A história motora de um indivíduo canaliza a ação para um cená-
rio de possibilidades de comportamento oferecidas por um ambiente
16 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

específico. Possibilidades de ação (affordances) são relevantes para


um indivíduo, em uma situação específica, sendo dependente da sua
história, ou seja, do seu treinamento e habilidade para uma tarefa
específica (BRUINEMBERG et.al.,2018).
A organização coordenada em sistema vivos, se da dentro e
entre, diferentes níveis de organização e em múltiplas escalas de
tempo. Esta ordem espaço- temporal, observada no movimento é
resultante de diferentes e desordenadas relações entre partes e pro-
cessos, no espaço e no tempo. A estabilidade resultante da variabili-
dade, a ordem derivada da desordem ou a coordenação derivada do
caos, tem uma importante âncora - a informação, que para Gibson
é específica para sua fonte.
O acoplamento entre as partes é derivado da troca mútua de
informação e elas são significativas e específicas para as formas que
a coordenação assume. Estas informações surgem espontaneamente
dos processos de auto organização, e por sua vez, servem para modi-
ficar, guiar e direcionar esses mesmos processos -Percepção dita
movimento.
Da informação, deriva uma oportunidade para ação (Affor-
dances), no entanto, a presença física da affordance no entorno, não
significa que ela resultará em ação. Apenas os aptos, com habilidade
necessária para agir podem perceber a affordance. Na presença da
habilidade eu abro possibilidade de percepção e isto cria sintoniza-
ção, que permite ação.
Olhe para o chão, o chão e sua configuração material, nos
permite andar (Affordance), então, andamos sobre o chão, supondo
que todos nós possuímos habilidade de andar. No entanto, o chão
também é uma affordance (possibilidade de ação) para realizar um
duplo twist carpado, porém, essa possibilidade está aberta apenas
para um número reduzido de indivíduos aptos, apenas eles, podem
perceber essa affordance.
David Mascena | 17

1
Lesões como um
sistema complexo

P
redição de lesões no esporte permanece um problema não
resolvido. Apesar da evolução na maneira de pensar, a partir
de modelos não lineares, “machine learning”, heurística e
identificação de fatores multidimensionais que aumentam o espectro
de investigação sobre o fenômeno lesão, ainda não encontramos
uma ferramenta prática consistente para lidar com esta questão.
STERN et.al, 2020 (veja figuras e vídeo no post), traz uma
perspectiva dinâmica sobre o modelo da rede de determinantes
com algumas questões bem interessantes para se discutir. Entender
a lesão como um fenômeno não linear traz a necessidade de lidar
com mudanças em escalas temporais muito reduzidas trazendo uma
maior necessidade de informação a curto prazo, testes de controle para
status diário de tolerância ao estresse e adequação do planejamento
a curto prazo podem ajudar muito nisso (algo como a proposta da
Agile Periodization) .
Outro ponto a ser discutido é o entendimento da dinâmica dessa
rede de determinantes e o que podemos considerar como determi-
18 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

nantes. Aqui vai uma crítica pessoal a esses modelos, eu acredito que
investigar coisas como valgo dinâmico, extensão torácica, força de
um músculo qualquer (paravertebrais ou isquiotibiais p.ex) e etc. com
testes indiretos e inferir sobre sua potencial causalidade no processo
da lesão é totalmente inútil. Todos esses fatores são subjugados a
técnica, não me interessa isola-los, correlaciona-los por inferência
ou soma -los para entender a lesão (em um fenômeno não linear o
todo é maior que a soma das partes).
As lesões em esportes coletivos por exemplo, tem uma grande
relação com questões relacionadas ao sprint e a desaceleração, são
esses fatores que importam, os “fatores de risco” e a performance
convergem para essas habilidades e para a forma na qual elas podem
ser adaptadas e flexibilizadas na interação com o ambiente de jogo,
sendo assim, me interessa avaliar essa habilidade e a forma como
ela se desenvolve no jogo e não se existe valgo dinâmico, extensão
torácica ou se um músculo é forte ou resistente em uma tarefa, sem
relação alguma com sprint e desaceleração.
David Mascena | 19

Figura: Relações dinâmicas entre determinantes de diferentes naturezas para


lesões no esporte. Observe as repercussões das alterações ao longo do tempo,
que permitem a transição de estado. (referência da figura: STERN et.al.,2020)
20 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Progressão de micro
para macro lesão
stabilidade do sistema músculo esquelético, define a responsi-

E vidade a adição de perturbação nos diversos níveis do sistema.


Quando o sistema músculo esquelético é estável a suscetibilidade
a lesões é baixa e a tolerância a perturbações (carga de treinamento)
é alta, sendo necessário grande contato ou força para produzir uma
macro lesão. Ao longo do tempo, a adição de carga de treinamento
gera micro lesões, que não não recuperadas adequadamente levam a
meso lesões, aquele pequeno desconforto, que quando negligenciado,
através da adição de mais carga de treinamento, torna- se uma macro
lesão. Diferentes interações entre organismo e ambiente mudam o
estado do sistema músculo esquelético e e os focos de micro lesões
(variáveis coletivas) sob certas restrições (carga de treinamento), levam
a um efeito acumulativo em diversas escalas de tempo, que possibilita
emergência do dano tecidual .
Um pequeno aglomerado de micro lesões, aumenta a sobrecarga
sobre as estruturas para manter a intensidade no treino ou nos jogos,
essa sobrecarga acumula e forma meso lesões, isto é, um técnico mais
frágil e suscetível, de onde subitamente, podem emergir macro lesões
Casos como o mostrado na foto, onde o lutador fratura o osso
sob um estresse comum para ele, são exemplos de macro lesões
que ocorrem em um tecido previamente fragilizado por acúmulo
de estresse. Esse tipo de chute é algo comum em treinos e lutas, um
osso “saudável” (estável) dificilmente sofreria uma fratura como
está, nessas condições.
David Mascena | 21

Figura: Fratura da tíbia, após um choque comum, em eventos de MMA,


situações triviais, provocam lesões, apenas em estruturas fragilizadas, pouco
estáveis e altamente suscetíveis
22 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Figura: progressão de micro para macro lesão, baseada na relação entre carga
de treinamento e recuperação. Restrições apresentadas ao longo do tempo,
modificam a estabilidade do sistema músculo esquelético e a susceptibilidade
a lesões ( referência: BALAGUÉ et.al., 2018)
David Mascena | 23

O fator de risco
individual

A
questão do fator de risco individual é um tema muito relevante
quando falamos sobre lesões no esporte. Historicamente, a
ideia de termos um fator que apresenta uma correlação com
a presença da lesão, vem sendo, não só um importante “aliado”, na
tomada de decisão clínica, como também, um tema recorrente, de
publicações científicas e discussões acadêmicas. Sobre lesões de joe-
lho, temos publicações, mostrando a correlação de lesões ligamentares,
com a perda de alinhamento do membro inferior, o conhecido “valgo
dinâmico” ou com uma maneira específica de aterrissar em um movi-
mento de salto (HEWEET et.al.,2016). A dor patelofemoral, segundo
algumas publicações tem correlação com a fraqueza dos abdutores e
roteadores externos do quadril (MEIRA e BRUMITT, 2011), enquanto
outras mostram que o aumento da força nos abdutores, aumenta sua
chance de desenvolver a dor patelofemoral (NEAL et.al.,2018). Outros
estudos focam a atenção no quadríceps, determinando que a “fraqueza”,
deste grupo muscular, como um fator determinante no agravamento da
dor no joelho (GLASS et.al.,2013 e SEGAL et.al., 2010) e definindo se
um músculo é forte ou não, com base em um dinamômetro isocinético,
uma métrica pouco válida, quando pensamos em representatividade
contextual.
Estudos como estes, normalmente trazem uma interpretação
linear para a ocorrência da lesão. Por linear, entenda, entender o
“todo”, ou seja, a lesão, a partir de uma de suas “partes”, no caso,
o fator de risco. Neste caso o raciocínio fica algo como “o fator de
risco “x”, tem correlação (estatística), com a lesão “y”, então,
se eu quero tratar ou reduzir o risco do aparecimento, desta
lesão, devo fazer alguns exercícios para lidar (fortalecer, um
determinado grupo muscular, por exemplo), com esse fator”.
Em um raciocínio linear, o fator de risco e o seu controle, ganham
uma grande importância, na decisão clínica, tomando boa parte do
24 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

tempo destinado às intervenções, enquanto outras possíveis influên-


cias relacionadas a lesão, são negligenciadas ou ficam implícitas ou
subentendidas. A não inclusão, destes outros fatores tem inúmeros
motivos, a falta de conhecimento de sua existência, a falta de exper-
tise para medi-los e para intervenções efetivas ou o distanciamento
teórico entre o profissional e a natureza do fator, como por exemplo,
os fatores sociológicos ou psicológicos, que influenciam na lesão.
Quando entendemos a lesão como um fenômeno multifatorial,
dinâmico e não linear, nosso raciocínio, não deve e não pode, funcionar
dessa forma. Em um sistema complexo, o “todo” é sempre, maior que
a soma das “partes”, neste caso o raciocínio sobre o “todo”, não pode
ser feito pela sua parte (fator de risco) e nem pela soma dessas partes,
ou seja, pela medida e soma dos fatores de risco em um raciocínio
clínico, algo como, medir os fatores de risco (ou aqueles que temos
expertise, para medir) e propor exercícios ou intervenção para cada
um dos fatores tidos como deficitários. Existem duas questões que
devem ser analisadas, nessa abordagem:

(i)A lesão como um fenômeno não linear é uma pro-


priedade emergente de um sistema de múltiplos vínculos
(muitos fatores de risco), em diferentes escalas espaciais
(estádio / time/ atleta) , diferentes escalas de tempo (que
mudam a curto, médio e longo prazo) e de diferentes
naturezas ( psicológicos, biomecânicos, fisiológico, rela-
cionados a carga de treinamento, sociais, familiares,
econômicos e etc.). A lesão é uma propriedade emergente
de um sistema onde todos esses fatores interagem e não
só os fatores que o profissional entende ou pode medir e
intervir. Não existe evidência e nem motivo para consi-
derarmos um fator psicológico menos relevante que um
fator biomecânico ou fisiológico, a não ser o fato de que
o fator psicológico, seja ausente do conhecimento e dos
métodos que o profissional domina e os biomecânicos
e fisiológicos estejam presentes, para ele. O sistema, do
qual a lesão emerge, considera todos os fatores em igual
David Mascena | 25

importância, então controlar alguns deles individualmente,


não é uma opção efetiva.

(ii) A segunda questão, com a abordagem não linear,


é relativa a um princípio da relação parte-todo, em siste-
mas complexos, conhecido como “slaving principle”. A
dinâmica que determina a lesão (todo, ou variável com-
portamental), a partir da interação não linear entre os
fatores influentes (parte, ou variáveis coletivas), muda ao
longo do tempo, como resultado da mudança em diferen-
tes influências, no entanto, a mudança em uma variável
coletiva, leva a uma nova interação, entre todos os fatores
(mesmo, nos fatores que não sofreram intervenção), pois
esta variável coletiva, que sofreu a intervenção ( parâ-
metro de controle, caso mude a variável comportamen-
tal), “escraviza” as outras e “obriga”, que todas mudem.
A mudança nas variáveis “escravizadas”, estabilizam a
variável comportamental ( no caso, a lesão), em um novo
estado, mais susceptível ou menos suscetível a lesão, de
acordo com a dinâmica entre os fatores influentes.

A própria lesão, passa a ser um fator influente na dinâmica


intrínseca desse sistema, por causalidade circular e estas interações,
por auto organização, direcionam o sistema para um novo estado.
As variáveis coletivas, fazem isso, por cooperação e neste ponto o
“slaving principle”, é um ponto fundamental, pois se alguma variável
tende a mudar seu comportamento, no sentido de se individualizar,
ela é “forçada” a se comportar de forma coletiva e manter a variável
coletiva, em torno de um valor estável, que determina seu estado
atrator (lesão/ não lesão, de acordo com as interações).
Quando um sistema complexo, atinge um estado estável (atrator),
este valor se mantém infinitamente, se os parâmetros (variáveis coleti-
vas), não forem alterados. A transição de fase (do estado de não-lesão
para o estado lesão ou vice - versa, durante a reabilitação), ocorre,
em última análise, pela presença de perturbações (Flutuações), que
26 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

disparam mudanças qualitativas exponenciais, isto é, uma pequena


mudança em um parâmetro de controle, provoca uma instabilidade,
capaz de mover o sistema de um estado a outro. Aqui temos duas
questões relevantes, uma é que essa mudança não-proporcional, se
dá, não pela mudança de um parâmetro em si, mas sim, pelo rear-
ranjo de todas as variáveis, de acordo com o “slaving principle” e da
mesma forma, que esse rearranjo pode representar o aparecimento
de uma lesão, pode também, permitir maior resiliência a lesão ou a
reabilitação, dependendo, unicamente, do atual status das interações
entre os fatores, que compõem a dinâmica intrínseca desse sistema.
Os componentes não são fracamente ligados, mas sim, total-
mente integrados, permitindo mudanças e novas formas de relações
transitórias. Em resumo, as transições de estado, dentro de um sis-
tema, não podem ser pensadas como pontos fixos, pois, dependem,
da combinação de valores dos parâmetros de controle e simetrias do
sistema. Estes valores, são formados pela combinação de restrições
naturais, que incidem sobre o sistema, isto é, a dinâmica do sistema
e as transições de estado, são guiadas pelas restrições (ver figura 1).
David Mascena | 27

Forces not postures

o momento, em que o corpo se move (mudança na postura

N corporal), as distribuições das forças internas e externas


mudam, modificando assim o tensor inercial ( matemati-
camente, o produto da massa do objeto, pela distância da empu-
nhadura ao seu eixo de rotação) . É através da percepção dessas
configurações transitórias de forças que surgem informações que
guiam novas configurações para o movimento, diante de um com-
prometimento mútuo, entre a percepção e o movimento.
Estruturas de tensegridade, pré estressadas, são altamente efi-
cientes para lidar com forças, considerando, que um caminho geo-
désico de mínimo esforço, necessita de mecanismos que anulem a
força liquida do sistema, isto é, forças internas compensando forças
externas, por isso, temos nas estruturas de tensegridade, um artifício
que se encaixa perfeitamente, a esta necessidade.
A grande questão que envolve qualidade de movimento e a
economia, gira em torno de como lidar com forças, as externas que
incidem no corpo e mudam com o movimento e a interna que é gerada
28 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

pelo sistema músculo esquelético e demanda energia metabólica,


para cumprir essa função. Aqui temos um paradoxo, como gerar uma
trajetória de mínimo custo, se para gera-la precisamos gerar força a
custo de energia metabólica?
Mais uma vez aqui, não existirá somente uma resposta para
essa pergunta, teorias representacionistas, entendem que o sistema
nervoso, armazena cópias de eferências, como memórias, vindas de
experiências anteriores e as tensões musculares definidas e previa-
mente retidas, são evocadas, sempre que for necessário manter as
configurações de equilíbrio. Enquanto que, para a a teoria ecológica,
de percepção direta, há um lugar de grande relevância, para estruturas
perceptivo - ajustadas, pré estressadas e auto suficientes para lidar
com perturbações geradas por forças externas, isto é, uma estrutura
de tensegridade.
Um sistema de tensegridade é formado por um conjunto de
membros de tensão que conectam uma configuração sem torque de
elementos compressivos. A combinação das partes, são mutuamente
controladas, de forma que os elementos compressivos não se toquem
fisicamente, mas pressionem externamente, pontos nodais, na rede
de tensão para formar uma firme, triangulada e pré estressada, uni-
dade de tensão- compressão (TURVEY e FONSECA,2015). Quando
perturbado pela ação de forças externas, um sistema de tensegridade,
prontamente e de forma autônoma, é capaz de recuperar sua confi-
guração original (solução nula) e é, esta capacidade otimizada para
lidar com forças externas que faz dos sistemas de tensegridade, um
componente tão relevante, para a nossa discussão. Através desse
processo temos, um menor custo para lidar com as forças externas,
sendo assim, temos como compensa-las, sem custo, juntamente com
uma capacidade de produção de força não proporcional (não - linear)
a perturbação, isto é, podemos ter grandes mudanças no stiffness
(otimização da capacidade de lidar com forças externas), para peque-
nas deformações ou quantidade de material recrutado (relação força/
peso otimizada).
Desta forma, um sistema de tensegridade garante resposta
ajustada a vários CDOFs ( graus de liberdade de controle), através de
David Mascena | 29

“concinidade”, isto é, um arranjo harmonioso e adaptativo, entre as


partes do sistema (membros tensionais e compressivos) e do sistema
como um todo, que nos leva a duas consequências, (a) sistemas de
tensegridade são auto organizados, isto é, são capazes de perceber e
de se ajustar aquilo que percebe, de forma autônoma e (b) seu com-
portamento é regido por um mutualismo entre graus de liberdade
e graus de restrições. Os graus de restrições, por auto organização,
determinam um caminho orientado ao resultado, para o movimento.
Função e estrutura, formam aqui, mais uma relação mútua, isto é, a
função é determinada pela estrutura, ao mesmo tempo que a estru-
tura é restrita, mudada, degradada e guiada pela função. Neste ponto,
as forças externas são informações, estas podem ser percebidas e
passam a restringir os graus de liberdade disponíveis para o movi-
mento, na direção de um caminho direcionado pelo objetivo, isto é,
uma estrutura capaz de perceber forças, como invariantes de defor-
mação tecidual, e se ajustar a essas forças através de força gerada,
compartilhada e integrada internamente, tem um papel essencial.
Em Gibson, o espaço não pré existe, ele é criado por corpos em
movimento, sendo assim, movimento cria espaço, porém movimento
é gerado e organizado, a partir de informações e estas informações
mudam com o movimento, isto é, a medida que nos movimentamos,
novas informações emergem e elas são “motores” para novas estra-
tégias de movimento, gerando ciclos contínuos entre percepção e
ação.
Para que esses ciclos se mantenham, a transferencia de informa-
ções é um fator de grande importância. No entanto, que informações
podemos perceber? A resposta parece simples, agora. Percebemos
forças, como invariantes da deformação tecidual, o que nos leva a
próxima pergunta: Que estruturas podem perceber essas forças? os
mecanoreceptores.
Fusos musculares e órgãos tendinosos de Golgi, são meca-
noreceptores capazes de perceber forças de puxar (tensão) e forças
de empurrar (contração), no entanto, essas forças (informação) são
geradas a partir do movimento dos corpos no ambiente e deformam
os tecidos corporais, podendo assim, serem percebidas como invarian-
30 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

tes pelos receptores, guiando, desta forma o comportamento motor.


Movimento cria informação e se ajusta com base na informação
criada por ele próprio. Pensando em uma estrutura integrada anato-
micamente, através de um tecido conjunto homogêneo, isotrópico e
dotado de mecanosensibilidade, precisamos atentar para a necessidade
de continuidade desse tecido integrador, isto é, o tecido conjuntivo,
tecido muscular e as articulações, assim como, toda a rede vascular
e neural, precisam esta dispostas em série. Desta forma, pensamos
em uma grande estrutura de estabilidade, integrada e apta para a
transmissão de força.
Diante dessa questão, passamos a pensar em mecanorecepto-
res, anatomicamente unidos a estrutura do sistema locomotor, capaz
de captar informações (forças) diretamente do tecido, otimizando
questões temporais entre percepção e resposta e viabilizando con-
trole de movimento sob pressão de tempo. Um bom indício que
temos disso, é a localização preferencial de receptores como o fuso
muscular, normalmente localizados nas porções mais profundas e
centrais do músculo, próximo ao trato neuro-vascular, que constitui
uma importante forma de transmissão de força miofascial, por via
extramuscular.

Movimento dependente
da tarefa ou movimento
dependente do contexto?

C
om o passar do tempo e com a popularização de abordagens
baseadas em restrições de tarefa, o termo movimento tarefa -
dependente, é constantemente cunhado, no entanto cabe aqui
uma reflexão. Baseado na ideia de acoplamento, a destreza é alcançada
acoplando algum aspecto do movimento a uma fonte perceptiva de
David Mascena | 31

informação, sendo assim, modificamos a estratégia de movimento,


sempre que uma informação externa solicita, temos então um movi-
mento dependente do contexto e não da tarefa.
Uma tarefa motora, tem suas particularidades, no entanto, a
forma dessa tarefa, isto é, sua execução real, não é baseada em uma
ideia previa da tarefa e do ajuste entre seus componentes, mas sim
do acoplamento eventual a fontes perceptivas, que guiam a tarefa,
em direção a um objetivo ou uma intenção.
A discussão sobre a diferença entre esses termos, em um pri-
meiro olhar, parece, meramente semântica, no entanto, está inserido
aí, um importante significado prático, sobre a forma que intervimos
no movimento e a ideia do “forces not postures”, do item anterior, está
fortemente ligado a isso. Quando penso em “movimento dependente
da tarefa”, eu tenho em mente, uma intervenção estática, baseado em
uma postura, previamente estabelecida para a tarefa, que ao informar,
sobre seus detalhes e permitir a repetição de seus componentes, irá
ser desenvolvida. Neste caso, meu objetivo, é ensinar uma técnica,
isto é, uma ação fixa, livre de contexto, associada a uma determinada
atividade. Em um contraponto a esta ideia, está a de “movimento
dependente do contexto”, neste caso, a palavra “contexto”, faz alusão
a existência de um “quando”, isto é, um evento no tempo e um “onde”,
um local específico, onde residem forças externas, que irão incidir
sobre o corpo do atleta e que ele, terá que lidar com elas, através de
produção de força e estratégia motora. Neste caso, estamos falando
de habilidade, isto é, envolve contexto e emerge de ocasiões, onde
soluções, se fazem, necessárias.
Em situações reais, isto é, em ambientes dinâmicos, movimento
emerge do acoplamento entre o atleta e fontes perceptivas relevantes,
por um processo, chamado calibração. Este processo é dinâmico,
baseado em relações espaço -temporais ( um “onde” e um “ quando”)
e negligenciar a informação perceptiva, durante o treinamento ou a
reabilitação é inconcebível, quando pensamos em destreza. No nosso
caso, uma das formas mais interessantes, para representar a espe-
cificidade de informação, representativa do contexto, são as forças
externas, que podem ser percebidas, via sistema háptico e guiar o
movimento orientado a um objetivo ou intenção.
32 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

3
Fase de transição e
reabilitação

A
Abordagem tradicional de reabilitação, normalmente considera
uma progressão linear e gradual, de baixa força e controle
por pequenos grupos musculares, para alta força e controle,
prioritariamente, realizado pela ação de grandes grupos musculares.
Está progressão, vem sendo contestada, baseado no conceito de fase
de transição, que consistem em uma mudança qualitativa abrupta, na
ação muscular ou no comportamento motor, em resposta a alteração
de um parâmetro de controle. A partir da alteração de um parâmetro
de controle, alguns músculos, pouco relevantes no controle de movi-
mento em baixa carga, aumentam a relevância, a partir da informação
contida, em um ambiente de alta carga.
Um caso clássico, em reabilitação, foi creditar a ação de músculos
locais, o controle do tronco em movimentos em ambiente esportivo,
que normalmente, existe em cenários de altas cargas, com grandes
quantidades de forças externas, atuando sobre o corpo do atleta. Em
contextos como estes, a influência de pequenos grupos musculares
como o transverso abdominal e o multifido, são mínimas e a maior
parte do controle é realizado a partir das propriedades mecânicas dos
David Mascena | 33

grandes grupos musculares, como os abdominais (reto abdominal,


oblíquos e transverso, em conjunto) e os paravertebrais, atuando
como uma unidade.
Outra importante questão, envolve o fato de que esses cenários,
normalmente, envolvem pressão de tempo, isto é, as ações, são rea-
lizadas em limites temporais, muito curtos e a eficácia dessas ações,
dependem de um controle preciso, com baixo delay. Considerando
este fato, algumas estratégias protetivas, também se baseiam no fato
do atleta ser capaz de produzir soluções, em tempos reduzidos. Os
tradicionais controles por feedback proprioceptivo, tão comuns na
literatura, são realizados, a partir de um sinal gerado pela captação
de informações, via fusos musculares, receptores articulares, senso-
res no tendão ou na pele, que são processados, pelo sistema nervoso,
gerando uma resposta adequada, em termos de postura e movimento,
no entanto, dependendo da via (medular ou supra espinhal), os delays,
podem está entre 25 ms (medular) a 100 ms (supraespinhal).
DeMers e colaboradores (2016), mostraram que o reflexo de esti-
ramento foi muito lento (delay = 60ms), para controlar o momentum
inversor do tornozelo, antes que o limiar para a ocorrência de uma
entorse de tornozelo, fosse atingido (delay ~ 45ms, após p toque no
solo), não podendo, portanto, ser considerada como estratégia pro-
tetiva. Hopkins e colaboradores (2009), descreveu o delay da via
proprioceptiva para o controle do joelho, em, aproximadamente,
120 a 140ms, consideravelmente maior que o delay para ocorrência
de lesões no ligamento cruzado anterior (delay = 45ms).
Considerando as necessidades, associadas a pressão de tempo,
em ambientes esportivos, as ações protetivas, devem ser baseadas,
em estratégias com o delay, inferior ao da ocorrência da lesão e as
estratégias preflexas, isto é, baseadas em co- contração, em timing
adequado, dos músculos ao redor de uma articulação, se mostram
como, uma promissora alternativa, relacionada a esse objetivo. Neste
caso, a parte aferente do sistema nervoso, não faz parte do controle,
sendo o movimento, controlado, através das propriedades estruturais
do sistema locomotor.
34 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Não há evidências, que garantam a transferência entre ativida-


des de baixa carga e atividades de altas cargas, em reabilitação ou
treinamento. A auto organização, da coordenação intermuscular, em
alta carga, é um ponto de partida interessante, a ser considerado em
estratégias de treinamento e reabilitação. Exercícios de propriocep-
ção, em baixa carga, não irá restabelecer a função do tornozelo para
controlar rápidos impactos, contra grandes forças externas, como
ocorre no esporte. A cada fase do programa de reabilitação, o atleta
deve transitar o tipo de controle no sentido do aprimoramento das
capacidades de tolerância, que permitam uma prática em intensidade,
compatível com o esporte.
A progressão de exercícios em programas tradicionais de reabili-
tação, normalmente seguem uma progressão de baixa força e muitos
graus de liberdade, para alta força e muitos graus de liberdade, no
entanto, fazendo um contraponto a essa abordagem, nossa proposta
envolve progredir de alta força e poucos graus de liberdade, para
alta força e muitos graus de liberdade, considerando a informação
contida nas forças externas, como elemento central do controle
motor e a variabilidade, como componente inerente e essencial, para
a adaptabilidade a ambientes dinâmicos.
David Mascena | 35

Figura: A alteração da velocidade da esteira, provoca uma


transição de fase, evidenciada pela mudança na trajetória arti-
culares. Cenário de baixa velocidade ( esquerda ) e cenário de
alta velocidade (direita)
36 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

4
Foco de Atenção em
reabilitação

A
discussão sobre foco de atenção, não é recente, no entanto,
alguns pontos de sua aplicação prática ainda estão confusos.
Aqui discutiremos a luz de dois conceitos “conhecimento de
performance” (KP) ou foco interno e “conhecimento de resultado”
(KR) ou foco externo.
Cada um dos tipos de foco pode te ajudar em diferentes ques-
tões relacionadas ao programa de treinamento, no entanto, para o
efeito final, eles não geram os mesmos resultados quando o assunto
é performance. Para entender isso, temos que diferenciar efeito de
aprendizagem de retenção de aprendizagem, o primeiro significa um
efeito dentro da sessão, isto é, uma aprendizagem a curto prazo, você
inicia a sessão com uma tarefa que não atinge os plenos objetivos
e sai dessa sessão realizando bem a tarefa motora. Já o segundo, se
refere ao efeito a longo prazo, isto é, o quanto você consegue reter
consistentemente o aprendizado de uma tarefa, possibilitando que
está tarefa pode te dar suporte como solução motora em contextos
David Mascena | 37

dinâmicos. A retenção é um objetivo importante para qualquer pro-


grama de treinamento.
KP ou foco interno, pode ser muito útil para resolver um pro-
blema dentro de um exercício da sessão, você pode oferecer foco
interno e imediatamente ele melhora o movimento do exercício que
ele está realizando, é uma maneira rápida de ensinar um exercício,
no entanto, a retenção não acontecerá e amanhã ele retornará com os
mesmos déficits. Já o KR ou o foco externo não é muito eficiente em
entregar um aprendizado sobre um exercício da sessão, não possibilita
que ele resolva rapidamente a questão do exercício, mas possibilita
retenção, faz com que ele, através de auto organização, encontre uma
solução consistente para a tarefa e isso promove retenção.
Imagine que você está ensinando uma tarefa de matemática
para o seu filho e você está com pressa e sem paciência, ele precisa
entregar a tarefa amanhã, então você resolve a tarefa e pede para
ele copiar, ele copia, entrega a tarefa no prazo desejado, mas não faz
a mínima ideia de como resolver essa tarefa quando você não fizer
por ele. Se você não fizer por ele, provavelmente, vai demorar mais,
ele vai errar algumas vezes, talvez até entrega a tarefa errada ou
não entregue, mas uma vez que ele ache a solução, ele estará apto a
resolver problemas semelhantes em qualquer momento, porque ele
reteve o aprendizado.
A analogia serve bem aos focos de atenção - foco interno, apren-
dizado explícito, gerando soluções imediatas, mas inconsistentes e o
foco externo ou aprendizagem implícita, não gera boas soluções de
momento, mas é consistente quanto ao que realmente é importante.
Quando você fornece foco interno, você resolve o problema dos graus
de liberdade por seleciona-los explicitamente para ele, sendo assim
não fica muito para o teu aluno tentar aprender, já que você já deu a
solução.
38 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Foco externo e
resiliência da
habilidade motora

A
s evidências que mostram, o foco externo como a melhor
estratégia de aprendizagem, no momento são bem consistentes.
Habilidades adquiridas explicitamente, isto é, através de foco
interno, são menos resistentes quando os indivíduos se encontram em
estados de fadiga fisiológica ou psicológica (BEILOCK e CARR,2001
e POOLTONet.al.2007), além disso, também são menos robustas
quando uma resposta rápida é necessária (WULF,2013).
Aprendizagem implícita, via foco externo, se mostra mais
eficiente para uma grande quantidade de atividades e condições
contextuais, sendo eficiente para melhorar tanto a eficácia (atingir
resultados satisfatórios), quanto a eficiência do movimento (atingir
resultados com o menor custo), dentre os benefícios estão: maiores
níveis de força para um determinado grau de ativação muscular
(lembrando que ativação muscular (EG) é diferente de força (dina-
mômetros), maior resiliência a fadiga, maior velocidade de ajuste
(adaptabilidade) e padrões coordenativos mais eficientes na escala
de músculo.
O modelo tradicional de ensino, claramente necessita de uma
revisão, devemos nos concentrar em desenvolver estratégias baseadas
em foco de atenção externo, direcionado a componentes relevantes
do ambiente e não nos movimentos do corpo. Wulf e Prinz, destacam
a teoria da ação restrita, que afirma que quando usamos foco interno
de atenção, isto explicitamente restringe o sistema motor, para a
interrupção da aprendizagem automática e incentivo dos processos
David Mascena | 39

conscientes de controle, enquanto foco externo de atenção, estimula


processos automáticos e inconscientes, que facilitam ações com o
mínimo de possibilidades de erro.
As abordagens ecológicas e as teorias baseadas em processa-
mento, tem visões distintas sobre o que significa esses “processos
automáticas”.
As abordagens baseadas em processamento, fazem uma distin-
ção entre processos controlados e automáticos, sendo assim, tarefas
novas ou de difícil execução requerem um foco explícito e um con-
trole consciente, relativo a memória de trabalho, que está limitada
a aproximadamente sete informações por vez (MILLER,1956),
enquanto a prática normalmente necessita que possamos lidar com
uma quantidade de informações muito maior que essa. Apertar o
acelerador, ao mesmo tempo que retira o pé da embreagem, mani-
pular o câmbio do carro, ao mesmo tempo que executa essas ações
e mantém o foco nos elementos físicos presentes na cena (largura
da garagem, distância para outros carros e etc.), com a prática todas
essas informações inicialmente isoladas, passam a formar um único
bloco, que ocupa menos espaço na memória de trabalho e este é um
dos limitantes do foco interno de atenção. Focar nas partes de um
processo, aumenta a carga cognitiva e prejudica o desempenho.
A abordagem ecológica equipara o processamento automático
a dinâmica (auto organização), promovida pelo acoplamento infor-
mativo nos movimentos de um indivíduo com os aspectos relevantes
do ambiente, que fornecem suporte a tarefa. Ao aprenderem uma
tarefa, os indivíduos se envolvem ativamente com os seus ambientes
e descobrem relações estáveis que possibilitam o desempenho da
tarefa. As relações organismo- ambiente, especificadas por variáveis
informacionais simples, selecionam os padrões de movimento que
lhe deram origem (KELSO e FUCHS,2016). Pensando sobre isso,
faz sentido que o foco interno de atenção, seja incompatível com
essa ideia, pois a informação que direciona a seleção dos padrões de
movimento está no ambiente. Se um tenista pretende interceptar uma
bola em um certo ponto da quadra e direciona o foco para os seus
movimentos corporais, ele não será capaz de acoplar seu movimento
40 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

com a variável relevante para prever onde ele deve encontrar a bola
(variável τ de tempo para contato)

Affordances e
seu papel central
no controle do
movimento
E
m sua essência, a abordagem ecológica gibsoniana, é caracte-
rizada pela rejeição as representações mentais, no tocante as
explicações sobre cognição incorporada. O centro fundamental
da teoria gibsoniana é a organização das propriedades ambientais (affor-
dances) e da forma como elas restringem o comportamento motor. O
mutualismo O-A é o ponto de partida para entender como os atletas se
movimentam, como eles selecionam rotas, como decidem com quem
cooperar e como competem com adversários no ambiente real.
Seleção de ações incorporadas ou cognição incorporada, significa
que ela é moldada pela habilidades e características do corpo, sendo
peça fundamental no entendimento dos efeitos online da tomada de
decisão. Para Gibson, esta decisão de como agir, não esta ligada a
uma parte do sistema O-A, como o cérebro ou as propriedades mate-
riais dos objetos, mas sim ao sistema como um todo, sendo assim, a
cognição é incorporada em um corpo e em um contexto.
A ação é influenciada pelo ambiente fisico e social, assim como
pelas próprias habilidades do indivíduo. As decisões de ação, são
transições em um curso temporal de ação, onde os processos cogni-
tivos são necessariamente limitados pelo sistema O-A em evolução
(ARAUJO et.al.,2019). O estado atual desse sistema é o resultado
David Mascena | 41

de interações que restringem a ação imediata, isto é, o desempenho


é moldado pela memória (sem representação mental) e pela experi-
ência anterior.
A história motora de um indivíduo canaliza a ação para um cená-
rio de possibilidades de comportamento oferecidas por um ambiente
específico. Possibilidades de ação (affordances) são relevantes para
um indivíduo, em uma situação específica, sendo dependente da sua
história, ou seja, do seu treinamento e habilidade para uma tarefa
específica (RIETVELD et.al.,2018).
A organização coordenada em sistema vivos, se da dentro e
entre, diferentes níveis de organização e em múltiplas escalas de
tempo. Esta ordem espaço- temporal, observada no movimento é
resultante de diferentes e desordenadas relações entre partes e pro-
cessos, no espaço e no tempo. A estabilidade resultante da variabili-
dade, a ordem derivada da desordem ou a coordenação derivada do
caos, tem uma importante âncora - a informação, que para Gibson
é específica para sua fonte.
O acoplamento entre as partes é derivado da troca mútua de
informação e elas são significativas e específicas para as formas que
a coordenação assume. Estas informações surgem espontaneamente
dos processos de auto organização, e por sua vez, servem para modi-
ficar, guiar e direcionar esses mesmos processos -Percepção dita
movimento.
Da informação, deriva uma oportunidade para ação (Affor-
dances), no entanto, a presença física da affordance no entorno, não
significa que ela resultará em ação. Apenas os aptos, com habilidade
necessária para agir podem perceber a affordance. Na presença da
habilidade eu abro possibilidade de percepção e isto cria sintoniza-
ção, que permite ação.
Olhe para o chão, o chão e sua configuração material, nos
permite andar (Affordance), então, andamos sobre o chão, supondo
que todos nós possuímos habilidade de andar. No entanto, o chão
também é uma affordance (possibilidade de ação) para realizar um
duplo twist carpado, porém, essa possibilidade está aberta apenas
42 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

para um número reduzido de indivíduos aptos, apenas eles, podem


perceber essa affordance.

Figura: Dentro de um exercício, um indivíduo apto, isto é, sistematicamente, exposto a


habilidade, é capaz de perceber as Affordances representadas, pela sequência de elementos
no layout, que oportunizam, especificamente, para ele, uma oportunidade de ação hábil.
David Mascena | 43

5
Modelo do estressor
único

A
reabilitação, deve ser pensada, em termos de um gradual
aumento de carga, no entanto, esses aumentos devem con-
siderar as necessárias fases de transição, isto é, as mudan-
ças qualitativas súbitas, nas escalas intra organismo, aplicadas pelas
alterações em parâmetros de controle. As perdas funcionais advindas
de uma lesão, são categorizadas como estressores, que podem ser de
naturezas diversas, dependendo do tipo de lesão e do nível de aptidão
a ser recuperado no processo de reabilitação.
Uma lesão de tornozelo, pode comprometer a amplitude de movi-
mento da articulação, a capacidade de co- contração dos músculos,
ao redor da articulação, o transporte de energia, pelos músculos
biarticulares, a distribuição de carga no eixo axial do pé, as ações
elásticas de músculos importantes para a função e as estratégias de
movimento, em termos de estabilidade e adaptabilidade. Esses fato-
res, em conjunto são os estressores, perdidos com a lesão e durante
o processo de reabilitação, devemos, restaura-los, com base nos
conceitos, anteriormente discutidos.
44 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Na programação temporal de um programa de reabilitação,


devemos evitar a influência, dos estressores, durante a primeira fase
(fase aguda, de proteção) e utilizar, todos os estressores juntos, na
última fase (em movimentos de corrida, por exemplo). A ideia básica,
e que os estressores, não devem ser treinados, todos juntos, durante
o programa de reabilitação e só devem ser totalmente dominados,
ao final da reabilitação, sendo introduzidos um a um, ao longo do
processo. O atleta sofre um aumento súbito de carga (principalmente,
qualitativa), durante a transição de um estressor para o outro (fase
de transição) e uma vez introduzido o novo estressor, a progressão
de carga, quantitativa, dentro da fase é gradual e cuidadosa.
Uma das grandes vantagens desta abordagem é que, uma vez
introduzido o primeiro estressor, aspectos relevantes do movimento
esportivo, passam a ser trabalhados, estando presentes, com segu-
rança, em fases mais precoces do programa, facilitando assim, a
transição entre a reabilitação e o retorno ao esporte. Dependendo da
mobilidade esportiva e do tipo de lesão, alguns estressores são mais
importantes que outros, devendo ter pesos diferentes, em termos de
decisões práticas. Na prática, o processo de reabilitação é fortemente
fundido, ao processo de treinamento, mantendo, na maioria dos
casos, a participação em atividades coletivas, otimizando motivação
e aderência ao programa.
Em nossa experiência pessoal, muitas vezes, ao final do programa
de reabilitação, não somente conseguimos a devida restauração fun-
cional, como, em muitos casos, temos um aumento da capacidade
do atleta, a níveis superiores ao observado pré -lesão. Apesar de
parecer incomum, isto ocorre, porque muitas vezes a intensidade
das fases tardias do programa, costumam a superar, as tradicionais
e conservadoras abordagens, que os atletas haviam sido submetidos,
anteriormente. Do nosso ponto de vista, programas de reabilitação,
devem preservar cuidados com a progressão de carga, no entanto,
devemos ser capazes de progredir a níveis compatíveis com as
exigências do ambiente real, fugindo dos tradicionais “excessos de
proteção” e preparando o atleta para o contexto de alta exigência e
imprevisibilidade, que ele será submetido.
David Mascena | 45

Os estágios finais do programa, devem está acoplados à demanda


real do esporte, com a tomada de decisão, sendo sempre, baseada em
informações representativas e obtidas em contextos reais, garantindo
que o atleta esteja apto a retornar ao jogo, com o mínimo de risco de
recidivas, novas lesões e baixa performance.
46 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

6
Design de um
programa de
reabilitação

O
programa de reabilitação, proposto aqui, tem como base o
modelo descrito por Bosch e Ranson (2016), com algumas
alterações, baseadas em nossa experiência prática, com o
modelo e com particularidades envolvidas em nossos contextos. Nossa
ideia aqui, não é oferecer um modelo fechado, mas sim, um exemplo
genérico, que é possível de ser manipulado, de acordo com as parti-
cularidades e decisões individuais. Em essência, o importante aqui é
o respeito aos princípios básicos que regem a abordagem, dentre eles,
o de formar uma ponte, entre o movimento contextual de alta intensi-
dade e a reabilitação, o mais cedo possível.
Em termos gerais, o programa inicia, no momento imediato pós-
-lesão e se encerra, no retorno do atleta ao treinamento e contempla,
desde técnicas de proteção e controle de sintomas, até uma recupe-
ração funcional, baseada em uma tríade de princípios básicos: (i) a
dinâmica coordenativa e os princípios que regem a transferência de
David Mascena | 47

performance, entre um ambiente de treino é um contexto real, (ii)


o acoplamento entre informações contidas no ambiente e as poten-
cialidades atuais do organismo e (iii) o controle e a progressão de
carga, considerando os diferentes níveis de tolerância, ao longo do
programa
Para efeitos práticos, discutiremos os diferentes estressores a
serem inseridos no programa, com as eventuais diferenças, contidas
em nossas disciplinas terapêuticas .

Fase 1: Proteção

O
primeiro momento do programa de reabilitação, envolve a
preocupação com a proteção e com os sinais e sintomas, envol-
vidos na lesão. O relato de dor, normalmente é a preocupação
e a limitação primária aqui, sendo muitas vezes, usado como parâme-
tro de decisão, sobre que estratégias podem ou não ser usadas nesse
momento. A despeito, de todas as relevantes discussões, em torno da
complexidade do fenômeno dor e de sua pobreza, quanto marcador de
dano tecidual ou progressão de carga, o relato e a visão disso, como
resultante de múltiplos vínculos, torna este parâmetro, particularmente
útil, nesse momento.
Nos primeiros momentos pós ocorrência da lesão, o atleta apre-
senta uma série de sinais característicos como aumento da tempe-
ratura local, rubor e em alguns casos, edema visível e hematomas,
associados a um relato de dor e o gerenciamento dessas questões é o
objetivo imediato. Protocolos, como o RICE, acrônimo, para repouso
(rest) - gelo (ice) - compressão - elevação e o POLICE, acrônimo, para
proteção - carga ótima (optimal load )- gelo - compressão -elevação,
são especialmente úteis em um primeiro momento. Neste momento
da reabilitação, ainda não há uma preocupação funcional envolvida,
mas sim, o objetivo, de solucionar questões imediatas, que possam
permitir, o mais cedo possível, a inserção do primeiro estressor.
48 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Fase 2: Mobilidade
(amplitude de
movimento)

A
qui reside o tópico mais controverso abordado aqui, pois
temos uma forma não - convencional de abordar essa questão,
baseada em aspectos relacionados ao controle motor. Para
início, é importante deixar claro, que em momento algum, cogitamos
negligenciar a importância da amplitude de movimento em progra-
mas de reabilitação ou para o desempenho esportivo. As diferença de
pensamento está, apenas, no pensamento metodológico e nos meios
usados, para atingir esse objetivo.
Classicamente, usamos técnicas como alongamentos ativos ou
passivos, “liberação miofascial” e técnicas passivas ou ativas, que
envolvem, mobilizar a articulação. Em nossas práticas, não usamos
nenhuma dessas técnicas, mas nem por isso, deixamos de conquistar
os precisos resultados, relacionados a amplitude de movimento.
O raciocínio que nos leva a aplicação prática aqui, possui uma
base diferente da utilizada nessas técnicas. Partimos das leis das leis
da aprendizagem, para explicarmos nossa intervenção no desafio do
ganho de amplitude de movimento. Neste ponto, já fica claro que, em
última instância, o sistema de movimento é um sistema de aprendi-
zagem e como tal, opera, através de determinadas, leis de controle.
O organismo, não retém, aspectos do movimento, como incidentes
isolados, mas, sempre que possível, como um “todo coerente”. Um
princípio de movimento irá ser aprendido e automatizado, se for
universalmente válido e puder ser aplicado a diferentes padrões de
movimento. Em um sistema de aprendizagem, aprendemos aquilo
David Mascena | 49

que nos será útil e descartamos aquilo que é incidental, isto é, que
não nos é, constantemente útil.
A amplitude de movimento é um aspecto do movimento, que
deve ser retido em um sistema de aprendizagem, no caso, nosso
sistema de movimento. Em técnicas como alongamentos, tanto pas-
sivos, como ativos, buscamos posturas e amplitudes articulares, com
baixa representatividade, normalmente baseamos, os resultados em
testes de amplitude em potencial, que tem como um “bom score”,
uma amplitude pouco representativa para padrões de movimento,
usados em contextos reais. Sendo assim, o sistema de aprendizagem,
identifica a amplitude do alongamento ou do exercício de mobilidade
(feito normalmente para atingir amplitude extrema), como algo inci-
dental e não a retém, explicando o alto índice de recalcitrancia desse
tipo de técnica. Nesse ponto, sempre surgem dúvidas, como explica-
ções sobre amplitudes de movimento de bailarinas ou lutadores de
artes marciais, no entanto, a resposta é simples, pois, nestes casos,
a amplitude extrema é representativa e universalmente aplicável, a
uma ampla gama de soluções, necessárias a estes contextos, por isso,
o sistema de aprendizagem tende a reter estas amplitudes.
Amplitude de movimento universal ou qualquer aspecto rele-
vante do movimento, não é um conceito estático e esta intimamente
envolvido com o controle dos graus de liberdade de tarefas relevantes,
em um nicho específico. Amplitudes que favorecem ações elásticas
em movimentos de alta intensidade ou que permita menor custo
energético, em tarefas de locomoção, são universais, na maioria
dos casos, no entanto, em outros, como na ginástica, nas lutas ou
na dança, amplitudes extremas podem ser, consideradas universais,
pois serão constantemente usadas, como soluções, por estes atletas.
Com um raciocínio baseado em leis que regem a aprendizagem,
e não, em mecânica clássica, obviamente, nossa intervenção frente ao
estressor de mobilidade, tem diferenças marcantes, estando sempre
associadas a interpretação dos componentes inseridos no movimento
esportivo de alta intensidade e a representação destes, no exercício.
50 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Figura: Kneeling Hip Lock. Exercício que incorpora co- contrações ao redor do quadril. A
amplitude de movimento gerada, representa uma ação motora representativa, para gestos em
alta intensidade. Um atrator intermuscular, chamado “hip lock position”, definido, como uma
co- contração, dos músculos, ao redor do quadril, que leva a uma elevação da crista ilíaca, do
lado da perna de balanço, é um sub-movimento universal, presente em vários gestos espor-
tivos, por isso o sistema de aprendizagem, tende a reter sua amplitude.

Fase 3: Coordenação
intramuscular
(adaptações a nível de
músculo)

O
estressor de coordenação intramuscular e a função dos mús-
culos biarticulares, começa com uma discussão localizada no
conceito de estabilidade de ação muscular. Neste momento, é
pertinente, que façamos uma diferença entre magnitude de contração
e estabilidade de contração. A magnitude de uma contração muscular,
normalmente é vinculada a uma grande quantidade de recrutamento
David Mascena | 51

(visto, indiretamente por eletromiografia , por exemplo) ou por uma


grande quantidade de força, produzida em uma tarefa específica é
medida, por um dinamômetro, por exemplo. Já estabilidade de ação
muscular, é um conceito, essencialmente, qualitativo e define a forma,
na qual as forças geradas por um músculo, podem ser transferidas para
o osso, para outros músculos ou para estruturas não musculares como
o trato neuro vascular. Uma maior estabilidade para a ação muscular,
pode ser medida, através de entropia de amostra e se refere a maior ou
menor regularidade do sinal, e não a, amplitude do sinal.
Os músculos não apenas encurtam durante a contração para
realizar trabalho mecânico, mas também se projetam radialmente
devido à restrição isovolumétrica das fibras musculares. O abaula-
mento muscular pode ter implicações importantes para o desem-
penho muscular. As fibras musculares, em contração, funcionam
nas direções longitudinal e ortogonal à linha de ação do músculo,
e o comprimento e a largura da aponeurose central parecem ser
uma função do encurtamento do fascículo muscular e da expansão
transversal das fibras musculares, que depende da intensidade da
contração. A estabilidade de uma contração muscular, em última
instância se refere a manutenção da forma muscular, evitando as
forças de cisalhamento e otimizando o compartilhamento da tensão,
para as estruturas adjacentes.
A pressão intramuscular ( PIM ) exerce um importante papel
na estabilidade mecânica do músculo durante a contração, tendo uma
importante relação com três fatores: a forma do músculo delimitada
pelos limites curvos da fibra e do tecido conjuntivo,a relação compri-
mento- tensão do músculo e arquitetura muscular (fibras paralelas
ou penadas).
O trabalho muscular pode ser definido como o produto da
pressão pela mudança no volume durante a contração, isto é, mate-
maticamente, TRABALHO (w)= pressão x mudança na volume, no
entanto, o volume muscular durante a contração não muda, já que,
considerando a incompressibilidade do fluido, a contração muscular
é isovolumétrica, alterando sua forma, tanto longitudinalmente como
radialmente, mas mantendo seu volume constante.
52 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Sendo assim, mantendo o volume constante, podemos traçar uma


relação de proporcionalidade direta entre trabalho e PIM. Com isso
o trabalho das fibras deve ser o mesmo do músculo todo, no entanto
isso é válido apenas para músculos paralelos, onde a pressão pode
ser distribuída uniformemente, além disso, a distribuição geométrica
do tecido conjuntivo intramuscular também é um fator que altera a
distribuição de pressão.
Nos músculos penados, a PIM é dependente d ângulo entre as
fibras e a linha de ação do músculo, o chamado, ângulo de penação
(øp) e está relação determina a forma do músculo todo, delimitada
pela curvatura da aponeurose. As diferenças na pressão intramus-
cular, são determinadas pelo efeito combinado entre a curvatura e a
forma da aponeurose externa que alonga devido às forças internas
geradas pela contração.
A aplicação desse conceito, vem do fato de que em uma contra-
ção muscular mecanicamente estável a forma da curvatura da apo-
neurose e a pressão muscular relativa precisam está completamente
linkadas, isto é, as forças que aumentam a pressão intramuscular,
são contrapostas pela mola intramuscular, formada pela aponeurose
da fibra , tendo como resultado a manutenção da forma da fibra. Na
prática, o desenvolvimento de ações musculares mecanicamente
estáveis, dependem de exercícios em comprimento ótimo, com ação
isométrica predominante e auto organização, vinda da alterações
dos parâmetros de controle, presentes na escala de músculo. Obvia-
mente, estabilidade nessa escala depende de estabilidade nas escalas
anteriores (na escala molecular por exemplo, onde a proteína Titina
exerce um papel fundamental) e forma base para o desenvolvimento
de estabilidade em escalas posteriores (intermuscular e corpo todo).
David Mascena | 53

Estabilidade de ação
muscular, na prática

M
úsculos biarticulares, são especialmente aptos a permitirem
a transferência de energia, facilitando a forma, como o atleta
lida com as forças externas. A arquitetura muscular, o ângulo
de penação e a elasticidade do tecido conjuntivo adjacente ao mús-
culo, determinam a capacidade do músculo, para tolerar perturbações,
isto é, maior estabilidade e menor variabilidade, durante a contração.
Evidências mostram que quando o movimento transita para um estado
de maior intensidade (fase de transição), pelas mudanças nas forças
externas, há uma maior tendência a regularidade e uma menor tendência
a variabilidade (evidenciado, por entropia), sendo assim, estratégias
que permitam ao músculo, uma maior capacidade de operar em força
máxima, são interessantes, neste momento.
Mecanicamente, os músculos biarticulares, são capazes de pro-
duzir o máximo de força, quando operam em comprimento ótimo,
isto é, na posição mais favorável para o acoplamento de pontes cru-
zadas, na escala molecular do sarcômero e em condições isométri-
cas. Quando observamos, as relações entre a produção de força e a
velocidade, temos uma proporção inversa, para este fatores. Sendo
assim, 100% de produção de força, ocorre quando a velocidade é
igual a zero, assim como 100% de velocidade, é alcançada, quando
a força é igual a zero. Estas relações, são explicadas pela dinâmica,
a nível do sarcômero e pela formação de pontes cruzadas, sendo
determinante na escolha dos exercícios, usados nessa fase da reabi-
litação
Para alcançarmos o objetivo de restaurar/ otimizar a transfe-
rência de energia, pelos músculos biarticulares, devemos considerar
a escolha de exercícios isométricos de alta intensidade (com tempos
de isometria, por volta de 3 segundos) e realizados em comprimento
ótimo, permitindo assim, o desenvolvimento de ações musculares
estáveis.
54 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Figura: Single Leg Roman Chair, exercício útil para desenvolver uma ação muscular
estável para os Isquiostibiais. Observe que o exercício é unilateral, sua variação bilateral,
tem função diferente.

Figura: Exercício isométrico para o desenvolvimento de uma ação muscular estável, no


quadríceps. Com caraterísticas, baseadas em auto regulação, o exercício permite a mudança
na intensidade, tanto pela inclinação do tronco, quanto pela adição de carga externa
David Mascena | 55

A Single Leg Roman Chair


é um exercício seguro?

M
uitos colegas, se assustam quando observam alguém fazendo
esse exercício, talvez seja a ideia de que carga é perigosa,
talvez seja a ideia de proteção excessiva da coluna lombar
ou talvez seja só porque querem reclamar de alguma coisa para a vida
fazer sentido. Enfim, não sei o motivo exato, mas observo que é um
exercício que causa estranheza em alguns profissionais.
O fato é que a despeito dessa estranheza, alguns elementos pre-
sentes nesse exercício, o torna seguro e eficiente.
Usamos esse exercício em um período do programa, que temos
o objetivo de oferecer, prioritariamente, sobrecarga e para que pos-
samos torná-lo seguro, a produção de força deve ser máxima.
Para que a produção de força possa ser máxima, o músculo pre-
cisa operar em uma zona de comprimento que conhecemos como
“comprimento otimo”, que essencialmente significa que o músculo
funciona em uma zona de comprimento onde há uma maior pos-
sibilidade de formação de pontes cruzadas (lattice Spacing, consi-
derando modelos 3D para contração muscular) e isso possibilita o
desenvolvimento do máximo de força possível ( propriedades F-L).
Outro fator a ser considerado é a “engrenagem muscular “ que
em músculos penados, como os Isquiostibiais (HAM), devido a
torção em torno da linha de ação do músculo durante a contração
e a consequente formação do ângulo de penação,operam em baixa
velocidade ( baixa distância de encurtamento), isto é, devido a sua
arquitetura, os HAM se tornam mais aptos e trabalham em maior
segurança em baixa velocidade e alta força ( propriedades F-V ).
No gráfico da figura, temos o cruzamento da curva comprimento-
tensão e da curva Força - Velocidade e temos um ponto vermelho em
destaque. Esse ponto, representa a forma como os HAM operam na
SLRM, eles operam em relação F/L ótima e máxima força (máxima
56 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

força, sempre vem atrelado a mínima velocidade, de acordo com a


curva, v=0, ou seja, isometria). Esta é a forma mais eficiente e segura
para oferecer sobrecarga a esses músculos, visto que exercícios como
flexora de joelho ou Nordics (linha tracejada no gráfico abaixo) ope-
ram fora da F/ L ótima e por isso abaixo do máximo de força, o que
não é o ideal quando queremos oferecer carga e segurança.

Figura: Gráfico tridimensional, mostrando as relações comprimento- tensão e força-


velocidade. O ponto vermelho na figura, representa a Single Leg Roman Chair, enquanto
a linha tracejada em azul, representa a flexão nórdica ( referência do gráfico: VAN
HOOREN e BOSCH,2017)
David Mascena | 57

Fase 4: Ações Elásticas

Q
uando os tecidos elásticos (m.m, fáscias e tendões) do corpo
são tensionados, eles armazenam energia potencial e desta,
uma parte é convertida em trabalho gerando propulsão e
outra parte é dissipada na forma de calor. O percentual de energia que
cumpre cada uma dessas funções é determinado pela qualidade do
movimento e pela forma que organizamos o movimento com base na
função desses tecidos. A hipotética perda total da capacidade do tecido
conjuntivo em armazenar energia potencial, tornaria o movimento o
custo energético de qualquer tarefa, inviável.
O calor é um subproduto da contração muscular, que demanda
mais energia para os processos termoregulatórios que irão resfriar
o corpo. A iminência de um nível crítico de aquecimento é um dos
fatores que levam a redução do desempenho. Altas velocidades
permitem uma maior quantidade da energia potencial como gerador
de trabalho devido ao uso aprimorado das propriedades do tecido
conjuntivo, em contrapartida, baixas velocidade reduzem o efeito
do recuo dos elementos elásticos e uma maior parte da energia é
convertida em calor e consequentemente um maior custo energético
relativo ao resfriamento.
Cadência, definida como o número de passos por segundo, é
uma variável extremamente influenciada por esses fatores, ritmos
mais baixos, mesmo acima da velocidade da fase de transição estão
vincularas a um estresse muscular e isso é mais exacerbado em
situações onde os tecidos responsáveis por esta função, não estão
estruturalmente aptos a realizá-la. Tendões com grau significativo
de degeneração, sedentários, indivíduos com baixa aptidão e indiví-
duos ativos mas que treinam com taxas de passadas mais altas, tem
prejuízos na capacidade de reduzir o muscle slack por coativação e
consequentemente, são menos elásticos.
58 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Ser elástico, claramente é uma vantagem, então porque nem


todos os corpos selecionam naturalmente esta estratégia? Basicamente,
o sistema de movimento evolui para selecionar estratégias de sobre-
vivência e isto inclui evitar lesão e economizar energia. Nosso corpo,
ao contrário do que muitos pensam, não se move como um sistema
de alavancas, o que ocorre é um conjunto de estruturas trabalhando
para regular, dinamicamente, o nível de tensão em resposta a uma
tarefa. Está capacidade do sistema regular a rigidez é decisiva para
a qualidade e aproveitamento do recuo elástico.
Ao tocar o solo, durante a corrida, o sistema usará qualquer
informação disponível para estabelecer os níveis de rigidez adequados
para a tarefa e sua resposta será tão boa quanto a informação que
você é capaz de perceber (percepção dita movimento). A modula-
ção da rigidez pode ser feita via teleoantecipação a nível cortical,
por células da “matriz vibratória”, por sistemas preflexos (0ms de
delay) ou por propriocepção (alto delay), no entanto, todas estas vias
funcionam tão bem quanto a informação que elas recebem.
Quando a informação percebida, é alterada por longos períodos,
as respostas automatizadas são sub ótimas, e se cria “maus hábitos”
de movimento, isso se torna um comportamento atrator para o sis-
tema e eles passam a ser preferenciais. Sistemas neurobiológicos,
são auto organizados e não “auto otimizantes”, isto é, a otimização
do comportamento é dependente da história motora do indivíduo,
sendo assim, se você quer se tornar mais eficaz (atingir o resultado)
e eficiente (atingir o resultado com mínimo custo), você precisa de
uma história compatível com isso. Treinar com baixa taxa de pas-
sada, é um exemplo de história incompatível com ensinar a utilizar
melhor os tecidos elástico, para gerar melhor trabalho de propulsão
e economia.
David Mascena | 59

Figura: Ação Elástica dos Isquiostibiais. Observe o pé empurrando para baixo,


mantendo o músculo em ação isométrica, o movimento vigoroso da anilha, favo-
rece o alongamento e o recolhimento do tendão
60 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Fase 5: Transferência

T
ransferência é o caminho pelo qual um padrão de movimento
influencia no outro. A expressão de força e potencia (consegui-
das no treino de força convencional) no padrão de movimento
não possui relação direta, por isso apresentamos altos níveis de força
em uma tarefa, ao mesmo tempo que em outras, a força não é expressa
plenamente. Somos fortes para algumas tarefas e para outras, não e o
que define esta questão é nossa capacidade de organizar o movimento
através de coordenação.
Basicamente 5 fatores influenciam o grau em que um movimento
treinado, influência um outro movimento, para o qual esperamos
transferência:

1. Similaridades de movimento dentro de sua estrutura


interna ( coordenação intra e inter muscular)

2. Similaridades de movimento dentro de sua estrutura


externa (por exemplo, vetor de força, ângulo articular
e tipo de contração)

3. Similaridades no sistema de produção de energia

4. Similaridades na resposta sensorial

5. Similaridades na intenção de movimento ( ex. posição


final do movimento)
David Mascena | 61

Figura: Clean to Box, exercício que representa a similaridade de intenção, observe o “end
point”, semelhante ao “toe off” (fase propulsiva) da corrida. Componentes como a trans-
ferência de energia joelho- tornozelo, atratores como o Hip Lock Position e o reflexo de
extensão cruzada, também estão representados no exercício

Devido a diversos fatores, as similaridades nos sistemas de


produção de energia e na resposta sensorial são difíceis de serem
representados no treinamento de força, com isso mimetizar estrutura
interna, externa e intenção de movimento formam a base do racio-
cínio sobre transferência do treinamento de força para habilidades
esportivas. Aqui fica claro, que transferencia não pode ser conseguida
através de máquinas guiadas, pois elas impossibilitam auto organiza-
ção), ao passo que a própria máquina faz o trabalho de controle dos
graus de liberdade do movimento, não sendo necessário para isso,
um processo coordenativo, deste modo, o treinamento com barras
livres a melhor opção quando pensamos no treinamento de força.
Alguns fatores devem ser considerados quando pensamos em
transferencia, dentre eles estão:

a. Sobrecarga e especificidade são dois conceitos não


complementares, a aplicação de ambos deve ser cuida-
dosamente pensada com base nas necessidades do pro-
grama de treinamento, tendo em mente que a maioria dos
62 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

esportes necessitam de co- contração, como mecanismo


prioritário para produção de força (redução do muscle
slack) e por isso, em algumas situações e em momentos
específicos do programa de treinamento, altos níveis de
sobrecarga, podem ser contraproducentes.

b. Em alguns esportes como lutas, natação e ciclismo, a


ação muscular é não especializada e com isso a melhor
abordagem é focar na estrutura externa do movimento.
Já em outras modalidades como corrida e esportes
coletivos, a ação muscular é especializada e a melhor
abordagem passa a ser, focar na estrutura interna do
movimento, já que a estrutura externa do movimento
não poderia ser mimetizada, contra resistência.

c. Em habilidades abertas como esportes coletivos,


somente os componentes relativos a habilidades fecha-
das, podem ser utilizados no treinamento de força.

d. Os tipos de treinamento de força podem trazer trans-


ferencia positiva em alguns aspectos e transferencia
negativa em outros.

Prática completa consiste em exercícios que representam total-


mente a combinação necessária entre os elementos sensorio-motores
do padrão de movimento, ampliando assim a transferencia. Já a pratica
parcial, representa somente um ou alguns poucos componentes sen-
sorio-motores do padrão de movimento e sendo assim não podemos
garantir transferencia de forma direta, sendo necessários, para isto,
considerar alguns aspectos relevantes.
Considerando as definições, obviamente a prática completa
seria sempre preferível, porém sua contraparte, algumas vezes é
necessário e a sobrecarga só é possível na prática parcial e portanto,
treinamento de força só será viável com esse tipo de prática. O trei-
namento de força (tradicional ou contextual) é sempre prática parcial,
David Mascena | 63

por isso, a transferencia não é garantida e quando ocorre, não ocorre


de forma direta, sendo assim é necessário um raciocínio adequado,
para encontrar no treinamento de força os links sensorio-motores
necessários para que haja transferencia e desta forma, o treinamento
de força possa contribuir de forma significativa para a performance.

Figura: exercício para otimização da distribuição de carga durante


a aceleração
64 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

Para ampliar a performance o padrão de movimento utilizado


no treinamento de força deve conter relações com o padrão de movi-
mento que pretendemos otimizar (corrida, por exemplo), pois será
esta conexão que irá proporcionar a ampliação das soluções motoras
para o movimento. Apenas os elementos universais (não- inciden-
tais) serão transferidos e neste caso, a variabilidade exerce um papel
fundamental para que essas relações sejam encontradas.

Figura: exercício com objetivo de otimizar a tração do solo para trás ( força Y negativa),
durante a fase de apoio, através de um atrator, chamado “Foot plant from above”
David Mascena | 65

Fase 6: Retorno ao jogo

A
última fase da reabilitação, gira em torno, da restauração
completa da capacidade do atleta, para lidar com as demandas
reais da competição. Nesta fase, grande parte das questões
relacionadas a produção de força, tanto na escala de músculo, quanto
na escala de movimento, estão resolvidas e o importante é desafiar
o atleta em condições reais. O monitoramento e o controle de carga,
devem ser feitos em todo o programa de reabilitação, mas neste ponto,
devemos ter uma atenção especial a este detalhe. A despeito das conhe-
cidas limitações, dos métodos de monitoramento e controle de carga,
alguns deles, podem ser úteis, no controle longitudinal do programa.
De acordo com o método utilizado, podemos obter diferentes
tipos de métricas, úteis para o programa. O cálculo da carga de
treinamento, a partir do produto da percepção subjetiva do esforço
( PSE), pelo tempo da sessão, em minutos, vem se mostrando muito
útil, como forma de acompanhar as variações temporais, na carga
de treinamento. Além disso, o acompanhamento de variáveis como
quantidade e qualidade do sono, relato de estresse diário e nível de
prontidão diária, são importantes métricas complementares. Em
conjunto, estas métricas formam um registro diário, sobre a forma
que o atleta lida com a carga imposta, no programa.
Contando com a disponibilidades de recursos como GPS ( Glo-
bal Positioning System), podemos obter uma grande quantidade de
dados relevantes. Normalmente, estes dados são obtidos em paralelo
e em tempo real, o que nos permite acessar valiosas informações
sobre o comportamento do atleta, no contexto real de jogo. A grande
quantidade de dados e a representatividade deles, juntamente com
ferramentas de análises de “big dates”, como, Machine Learning,
são grandes aliados, no aumento da acurácia do controle, sobre o
66 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

programa de reabilitação, facilitando a tomada de decisão e tomando


a transição mais segura e eficiente.
O restabelecimento pleno do atleta e a decisão sobre permitir
o retorno ao treino e a participação competitiva, é uma decisão que
deve ser tomada em conjunto, considerando os aspectos objetivos e
subjetivos, que vão desde questões físicas até questões psicossociais.
Devemos ter em mente, que este ponto final da reabilitação, se da
com o atleta retornando às atividades em grupo e sendo capaz de
suportar demandas em ambientes não- controlados, por isso, infor-
mações obtidas em ambientes seguros e controlados, podem não ser
suficientes para guiar essa decisão

Variabilidade

A
variabilidade é um importante componente, em programas
que tem como objetivo, reduzir o risco ou reabilitar um atleta
lesionado. Variabilidade, está, intimamente, ligada à solução
dos problemas de Bernstain, conceitos clássicos, do estudo do movi-
mento. Aqui, estamos falando sobre variar trajetórias, em busca para
a melhor solução, para a situação, como evento no tempo e isso nos
leva a uma importante e profunda discussão, no âmbito pratico.
Historicamente, variabilidade foi entendida como algo nega-
tivo, variar trajetórias, era fugir da trajetória ideal, pré estabelecida
e, quando observada, foi chamada de disfunção de movimento. Em
abordagens de avaliação de movimento, tão comum, nos últimos anos,
a busca por um alinhamento padrão, normalmente vinculado à um
score quantitativo, fazia com que, qualquer observação, fora desse
entendimento, fosse nominado como “ disfunção” ou “compensação”
e rapidamente associado ao dogma de que “ atleta que compensa,
tem mais risco de lesões”. Esta visão, traz em si, diversos pontos
discutíveis. Atletas, habitam o ambiente de prática esportiva, não
David Mascena | 67

academias ou consultórios e é, durante a prática do esporte que as


lesões ocorrem. Ambientes esportivos, são essencialmente caóticos,
desordenados, cheios de imprevisibilidades e incertezas, este é o
cenário no qual as lesões ocorrem e não o cenário, excessivamente,
controlado dos exercícios de academia e dos consultórios. O atleta
seguro, resiliente a lesão é o atleta que é capaz de ajustar o seu movi-
mento, sempre que isso for solicitado pelas demandas presentes, no
ambiente esportivo ( POL et.al,2018).
A visão idealizado do movimento, nos levou a negligências as
exigências, do ambiente esportivo e dar ênfase a o que encontráva-
mos em testes e intervenções, descontextualizadas, normalmente
vinculadas a uma prática analítica, totalmente cega, as reais neces-
sidades do atleta. A prática esportiva, o mundo real, exige ajustes e
compensações a todo instante, não se prática um esporte de forma
segura, sem que você seja capaz de reorganizar o seu movimento,
em reduzidos limites de tempo, em resposta ao caos e a imprevisibi-
lidade inerente ao ambiente real. Ouvi, por muitas vezes, que atletas
compensam e que nós devemos realizar alguns testes, avaliar essas
compensações e corrigi-las e eu discordo de cada letra dessa frase.
Esse olhar, representa uma visão idealizada, descontextualizada e que
negligência, como um todo, as necessidades do mundo real. A ideia
de avaliar, corrigir e fortalecer, é equivocada, se não formos cuida-
dos com o que estamos avaliando, com a ferramenta de avaliação,
sua validade e sua real capacidade de captação e sobre o contexto,
no qual as variáveis são realmente relevantes. Relatar desalinha-
mentos nos segmentos corporais, como disfunções ou relaciona-los
, diretamente e indiscriminadamente a lesões, é um erro grave e
comum. Na maioria das vezes, os desalinhamentos observados, são
absolutamente benignos, não justificando, qualquer preocupação ou
intervenção, assim como, muitas vezes esses achados, tidos como
catastróficos, estão perfeitamente alinhados ao contexto, definido
aqui, em função das capacidades atuais do atleta e das condições
atuais do entorno.
Outra consequência clássica da visão reducionista e idealizada,
em reabilitação, é a descrição de um mecanismo de lesão, enclausu-
68 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos

rado, no movimento articular, negligenciando totalmente a relação do


indivíduo, como o seu entorno. A ideia comum de que uma lesão de
ligamento cruzado anterior, ocorre por um mecanismo rotacional do
joelho, com o pé fixo no chão, é um exemplo, desse reducionismo que
negligência comportamentos observáveis, em escala de performance.
Obviamente, que este mecanismo articular, não é a causa da lesão,
que ocorre, em última análise, por uma incapacidade de adaptação
do atleta as demandas do ambiente esportivo. Quando ocorre uma
lesão de LCA, o atleta está inserido, no ambiente de jogo, existe
um grau de perturbação, envolvido na cena, isto é, um toque trivial,
uma aproximação, subitamente percebida ou uma imprevisibilidade,
que solicita do atleta um ajuste no seu comportamento e quando o
atleta não é capaz de realizar esse ajuste, há um risco maior da lesão
ocorrer. A causa, não está na escala intra- organismo, mas sim, na
escala onde habita uma relação entre um organismo todo e o seu
ambiente (escala ecológica).
Hamill e cols.(2012), discute a relevância do conceito de varia-
bilidade coordenativa, no controle dos riscos de lesão em corredores.
Variabilidade coordenativa, do ponto de vista prático, se refere, a
uma adaptabilidade do atleta as demandas do entorno, sendo uma
característica de “experts”, ou seja, atletas robustos, quanto às solu-
ções necessárias a seu nicho esportivo. Indivíduos iniciantes, exibem
alta variabilidade, no entanto, apresentam baixa adaptabilidade e a
grande número de graus de liberdade, para a tarefa, mostram baixa
capacidade, redução da performance e pouca resiliência a lesão. Um
atleta, em estágio intermediário, normalmente revela baixa varia-
bilidade, isto é um número reduzido de graus de liberdade e conse-
quentemente, pouca amplitude de soluções, para o nicho, tendo como
desfecho, reduzida adaptabilidade (robustez), baixa performance e
baixa tolerância a lesão. No caso, dos atletas “experts”, a elite, temos
uma alta variabilidade, no entanto, diferente dos iniciantes, aqui nos
referimos a chamada, “variabilidade coordenativa”, ou seja, estes
atletas, tendem a apresentar uma abundância de graus de liberdade
(LATASH et.al., 2007), que refletem alta robustez, ou seja, alta
David Mascena | 69

capacidade de solucionar os problemas de seu nicho, tendo como


desfecho, alta performance e um reduzido risco de lesões.
Um contexto, existe, como um estado emergente de um orga-
nismo atual e de um ambiente atual, sendo assim, esse contexto e
sua dinâmica, são altamente mutáveis, em situações reais. Um atleta
de futebol, de alto nível, plenamente atrelado a seu nicho, inicia um
jogo com alto grau de robustez, pois seu estado atual, com ausência
de fadiga o permite, soluções eficazes para o ambiente de jogo, no
entanto, com o decorrer da partida, ocorrem mudanças no orga-
nismo, a fadiga se instala, e a variabilidade coordenativa é reduzida,
aproximando o atleta do limiar de lesão. Além das condições fisio-
lógicas, as mudanças nas condições atuais do organismo, por ques-
tões psicológicas, podem levar a reinvestimento e também alteram
a adaptabilidade, aumentando a suscetibilidade do atleta a lesões.
A variabilidade coordenativa, é altamente sensível ao contexto,
pode e deve ser treinada, através de estratégias adequadas, a prática
exploratória, a pedagogia não- linear, o foco externo de atenção e
a terapia cognitiva comportamental, são algumas das estratégias
eficazes, para esta questão.
70 | Reabilitação Baseada em Sistemas Complexos
David Mascena | 71

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O Autor
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David Mascena é Diretor Técnico e docente da PowerCore


Performance, empresa pioneira na aplicação de sistemas
complexos ao desempenho e ao esporte no Brasil. Possui
10 anos de experiência como palestrantes a nível nacional
e internacional. Profissional de educação física e fisiotera-
peuta com atuação nas áreas de fisiologia e biomecânica
do movimento e preparador físico em diversos esportes
como, Atletismo, MMA e Voleibol.

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