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Análise do monitoramento
da qualidade do ar no Brasil
EVANGELINA DA MOTTA P. A. DE ARAÚJO VORMITTAG,I
SAMIRYS SARA RODRIGUES CIRQUEIRA,II
HÉLIO WICHER NETO III e PAULO HILÁRIO N. SALDIVAIV
Introdução
E
m 2019, ano em que as Academias Nacionais de Ciências e Medicina da
África do Sul, Alemanha, Brasil e Estados Unidos da América lançaram
uma iniciativa política-científica para a redução da poluição atmosférica,
a Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu a poluição atmosférica
e a mudança do clima, juntas, como o principal tema de atenção à saúde. Lide-
ranças das nações foram convocadas a se comprometerem com a Iniciativa Ar
Limpo (Assaf et al. 2019; ONU, 2019), visando alcançar uma qualidade do ar
segura para a saúde de seus cidadãos e a alinhar as suas políticas de redução da
poluição do ar e mitigação das emissões associadas às mudanças climáticas até
2030.
Monitoramento da qualidade do ar e os seus efeitos para saúde
O monitoramento de qualidade do ar é relevante, pois mensura as concen-
trações dos poluentes atmosféricos, gera dados sobre as condições atuais da qua-
lidade do ar, constrói um histórico de dados e habilita os tomadores de decisão a
planejar ações e políticas públicas no sentido de assegurar a boa qualidade do ar.
Eventos extremos de poluição do ar – tal qual o nevoeiro que cobriu a ci-
dade de Londres em 1952 e causou o número estimado de 12 mil óbitos (Bell;
Davis, 2001) – despertaram gestores públicos e legisladores para a preocupação
com os efeitos adversos da poluição do ar para a saúde, levando-os ao desenvol-
vimento de políticas e legislações relevantes, como a lei federal americana – o
Clean Air Act, em 1963 (EPA, 1990).
No Brasil, o Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar (Pronar)
foi criado mais tarde, em 1989, pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente,
como um dos instrumentos básicos da gestão ambiental para “proteção da saú-
de e bem-estar das populações com o objetivo de permitir o desenvolvimento
econômico e social do país de forma ambientalmente segura...”.
Os dados de monitoramento propiciaram, nas décadas de 1980 e 1990,
uma série de estudos epidemiológicos (Dockery et al., 1993; Pope et al., 1995;
Saldiva, 1995) que revelaram os conhecimentos acerca dos efeitos adversos para
a saúde humana aos poluentes do ar – e que culminou no Guia de Qualidade do
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AC: Acre; AL: Alagoas; AM: Amazonas; AP: Amapá; BA: Bahia; CE: Ceará; DF: Dis-
trito Federal; ES: Espírito Santo; GO: Goiás; MA: Maranhão; MG: Minas Gerais; MS:
Mato Grosso do Sul; MT: Mato Grosso; MT: Mato Grosso; PA: Pará; PB: Paraíba; PE:
Pernambuco; PI: Piauí; PR: Paraná; RJ: Rio de Janeiro; RN: Rio Grande do Norte; RO:
Rondônia; RR: Roraima; RS: Rio Grande do Sul; SC: Santa Catarina; SE: Sergipe; SP:
São Paulo; TO: Tocantins.
Obs.: Os estados em negrito (AM, BA e MT) responderam “sim” ao questionário, po-
rém não foram considerados na análise, explicadas as razões a seguir no texto.
Comunicação pública
Outro grupo de perguntas avaliou a comunicação pública das informações
monitoradas: i) se são compilados relatórios de qualidade de ar anuais e divulga-
dos; ii) se há comunicação dos dados de monitoramento em tempo real; e, iii) se
o estado possui um boletim diário. As respostas foram também verificadas nos
websites dos órgãos estaduais ambientais.
Em relação à pergunta sobre a elaboração dos relatórios anuais de quali-
dade do ar (Tabela 4) 10 dentre os 11 estados que realizam o monitoramento
o elaboram – a única exceção é o MS. No entanto, na checagem dos websites
dos respectivos órgãos ambientais, não foi encontrado nenhum relatório de PE.
Ainda assim, relevante notar que uma parte dos estados estão com seus relató-
rios atrasados. Apenas DF, ES, SP (publicados em 2019), e AC (publicado em
2020) estão em dia com os relatórios. Já PE não elabora seus relatórios desde
2007; MG e PR, desde 2013 e, RJ, desde 2015.
Sobre a pergunta se há comunicação pública dos dados de monitoramen-
to de qualidade do ar em tempo real (Tabela 4) apenas quatro estados – AC,
MS, RJ e SP, relataram disponibilizar as informações de qualidade do ar em
tempo real. No entanto, durante a checagem nos websites não foi encontrada a
Total 10 9 4 5 7 5
Discussão
Completando trinta anos de existência do Pronar, os dados apresentados
apontam que a Rede Nacional de Monitoramento de Qualidade do ar é consti-
tuída por onze estados e parte deles realiza o monitoramento de forma diminuta
em termos territoriais, inapropriada em termos de objetivos e propriedade das
Notas
1 O GT Qualidade do Ar foi instaurado pela Portaria 4ª CCR n.17, de 6 de julho
de 2017.
2 O Sisam é uma plataforma do Inpe em parceria com o Ministério da Saúde, e a Organi-
zação Pan-Americana da Saúde (Opas), entre outros. Disponível em: <http://queima-
das.dgi.inpe.br/queimadas/sisam/v2/dados/download/>. Acesso em: 12 set. 2020.
3 ADI 6148 disponível <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5707157>.
Acesso em: 16 dez. 2020.
Referências
ASSAF et al. Academy of Science of South Africa. Air Pollution and Health – A Science-
-Policy Initiative. Annals of Global Health, v.85, n.1, p.140, 1–9, 2019. DOI: https://
doi.org/10.5334/aogh.2656.
ARTAXO, P. et al. Fine mode aerossol composition at three long-term atmospheric
monitoring sites in the Amazon Basin. Journal of Geophysical Research, v.99, n.D11,
p.22, p.957-22, 868, 1994. Paper number 94JD01023.
BELL, M. L.; DAVIS, D. L. Reassessment of the lethal London Fog of 1952: no-
vel indicators of acute and chronic consequences of acute exposure to air pollution.