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Informativo Nº 779

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Número 779 Brasília, 20 de junho de 2023.

Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência

RECURSOS REPETITIVOS

PROCESSO REsp 1.959.550-RS, Rel. Ministra Regina Helena Costa,


Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 14/6/2023
(Tema 1136).

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA Seguro-desemprego do trabalhador formal. Prazo


máximo para requerimento. Fixação em ato normativo
infralegal. Legalidade. Tema 1136.

DESTAQUE

É legal a fixação, em ato normativo infralegal, de prazo máximo para o trabalhador formal
requerer o seguro-desemprego.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em definir se há legalidade na fixação, por ato normativo


infralegal, de prazo máximo para o trabalhador requerer o seguro-desemprego e apresentar a
documentação necessária.

1
Explica a doutrina que "o seguro-desemprego é um benefício previdenciário que tem por
finalidade promover a assistência financeira temporária do trabalhador desempregado em virtude
de ter sido dispensado sem justa causa, inclusive a indireta", além de se destinar "a auxiliar os
trabalhadores na busca de emprego, promovendo, para tanto, ações integradas de orientação,
recolocação e qualificação profissional".

Quanto à regulamentação do benefício, a normatização não se exaure no plano legal,


considerando que a legislação autoriza o exercício do poder regulamentar da Administração para
edição de atos normativos derivados.

A Lei n. 7.998/1990 atribuiu expressamente ao Conselho Deliberativo do Fundo de


Amparo ao Trabalhador - CODEFAT a competência para regulamentar seus dispositivos, sendo
ínsito a tal poder a possibilidade de complementar o diploma legal relativamente a situações
procedimentais necessárias à sua adequada consecução.

Nesse sentido, a fixação, por ato normativo infralegal, de prazo máximo para o trabalhador
formal requerer o seguro-desemprego, não extrapola os limites da outorga legislativa; antes,
mostra-se razoável e proporcional, considerando a necessidade de se garantir a efetividade do
benefício e de se prevenir - ou dificultar - fraudes contra o programa, bem como assegurar a gestão
eficiente dos recursos públicos.

Deveras, a dispensa sem justa causa do trabalhador deflagra, para o empregador, a


obrigação de comunicá-la oficialmente, momento a partir do qual o órgão responsável pelo controle
e processamento dos requerimentos terá ciência formal da potencial solicitação - itinerário
procedimental, aliás, que justifica a previsão legal de prazo mínimo para se efetuar o requerimento.

Logo, a prescrição de prazo máximo para se requerer a habilitação ao benefício permite à


Administração otimizar o gerenciamento e a alocação dos recursos para o custeio da despesa,
previsibilidade essa que ficaria prejudicada sem a definição de um limite temporal, comprometendo,
em último plano, a adequada execução da lei.

Assim, conclui-se que o estabelecimento de termo final em sede infralegal confere maior
flexibilidade e capacidade de adaptação do sistema de seguro-desemprego às demandas e mudanças
do contexto socioeconômico, na medida em que torna possível, eventualmente, ajustar o prazo
conforme as necessidades e a realidade do mercado de trabalho, equilibrando, dessa forma, a
proteção ao trabalhador formal desempregado e a sustentabilidade do sistema.

Ademais, o transcurso do prazo fixado sem a manifestação do potencial beneficiário não


extingue o direito ao benefício, que poderá ser novamente requerido quando implementadas as

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condições para um novo período aquisitivo (art. 4º, § 1º, da Lei n. 7.998/1990).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 7.998/1990, art. 4º, § 1º

PROCESSO REsp 1.901.638-SC, Rel. Ministro Herman Benjamin,


Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
14/6/2023. (Tema 1184).

RAMO DO DIREITO DIREITO TRIBUTÁRIO

TEMA Contribuição sobre a folha de salários. Contribuição


Substitutiva sobre a Receita Bruta (CPRB) instituída pela
Lei n. 12.546/2011. Exclusão pela Lei n. 13.670/2018 de
determinadas atividades econômicas do regime
substitutivo. Irretratabilidade da opção para o exercício
de 2018. Art. 9º, § 13, da Lei n. 12.546/2011. Direito
adquirido à desoneração. Inexistência. Irretratabilidade
que se aplica apenas ao contribuinte. Ausência de
condição onerosa e prazo certo na desoneração. Tema
1184.

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DESTAQUE

(I) A regra da irretratabilidade da opção pela Contribuição Previdenciária sobre Receita


Bruta (CPRB) prevista no § 13 do art. 9º da Lei n. 12.546/2011 destina-se apenas ao beneficiário do
regime, e não à Administração; e (II) a revogação da escolha de tributação da contribuição
previdenciária pelo sistema da CPRB, trazida pela Lei n. 13.670/2018, não feriu direitos do
contribuinte, uma vez que foi respeitada a anterioridade nonagesimal.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em saber se a irretratabilidade prevista no § 13 do art. 9º da Lei n.


12.546/2011 é dirigida apenas aos contribuintes ou se também vincula a Administração Tributária,
bem como se a revogação da escolha de tributação da contribuição previdenciária pelo sistema da
Contribuição Previdenciária sobre Receita Bruta (CPRB), trazida pela Lei 13.670/2018, feriu
direitos do contribuinte.

Verifica-se que a CPRB é contribuição substitutiva, facultativa, em benefício do


contribuinte, instituída como medida de política fiscal para incentivar a atividade econômica, cuja
renúncia fiscal é expressiva e da ordem de 83 bilhões de reais, no período de 2012 a julho de 2017.
Contudo não há direito adquirido à desoneração fiscal.

O mesmo raciocínio deve ser aplicado à desoneração por lei ordinária. A desoneração
prevista na Lei n. 12.546/2011 não era condicional nem por prazo certo, de modo que a sua
revogação poderia ser feita a qualquer tempo, respeitando-se a anterioridade nonagesimal, o que
ocorreu, porquanto a Lei n. 13.670/2018 foi publicada em 30 de maio de 2018 e seus efeitos apenas
começaram a ser produzidos em setembro de 2018.

Dessa forma, não prospera a alegação de que a irretratabilidade da opção ao regime da


CPRB (art. 9º, § 13, da Lei n. 12.546/2011) também se aplicaria à Administração. Isso porque seria
aceitar que o legislador ordinário pudesse estabelecer limites à competência legislativa futura do
próprio legislador ordinário, o que não encontra respaldo no ordenamento jurídico, seja na
Constituição Federal, seja nas leis ordinárias.

Assim, a alteração promovida pela Lei n. 13.670/2018 não caracteriza violação à


segurança jurídica, mas sim a exclusão de uma das opções de regime de tributação que a lei
disponibilizava ao contribuinte.

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De outro lado, a jurisprudência consolidou-se no sentido de que não se revoga isenção tão
somente nas hipóteses de prazo certo ou onerosidade pré-determinada em forma de condição.

Dessa forma, a regra da irretratabilidade da opção pela CPRB descrita no § 13 do art. 9º, da
Lei n. 12.546/2011 destina-se apenas ao beneficiário do regime, e não à Administração, também não
fere direitos do contribuinte, pois foi respeitada a anterioridade nonagesimal.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 12.546/2011, art. 9º, § 13

Lei n. 13.670/2018

SAIBA MAIS
Informativo de Jurisprudência n. 5 - Edição Especial

Informativo de Jurisprudência n. 768

5
PROCESSO REsp 2.049.327-RJ, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,
Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 14/6/2023
(Tema 1189).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA Violência doméstica contra a mulher. Ameaça. Pena de


multa. Aplicação isolada. Impossibilidade. Art. 17 da Lei
n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Tema 1189.

DESTAQUE

A vedação constante do art. 17 da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) obsta a


imposição, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de pena de multa
isoladamente, ainda que prevista de forma autônoma no preceito secundário do tipo penal
imputado.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em definir se a vedação constante do art. 17 da Lei n. 11.340/2006


(Lei Maria da Penha) obsta a imposição, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,
de pena de multa isoladamente, ainda que prevista de forma autônoma no preceito secundário do
crime de ameaça.

Essa norma dispõe que "é vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar
contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa".

A intenção do legislador ao impedir a aplicação exclusiva da pena de multa foi a de ampliar


a função de prevenção geral das penas impostas nos casos de crimes cometidos nesse contexto.
Dessa forma, pretende-se demonstrar à sociedade que a prática de agressão contra a mulher

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acarreta consequências graves para o autor, que vão além do aspecto financeiro.

Tal interpretação implica na compreensão de que a proibição legal também se aplica à


hipótese de multa estabelecida como uma pena autônoma na parte secundária do tipo penal, como é
o caso do crime de ameaça (art. 147 do Código Penal). Com efeito, a imposição desse tipo de
penalidade (multa) em crimes cometidos de acordo com o artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 só pode
ocorrer de forma cumulativa, nunca de maneira isolada.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), arts. 5º e 17

Código Penal (CP), art. 147

SAIBA MAIS
Informativo de Jurisprudência n. 772

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TERCEIRA SEÇÃO

PROCESSO CC 188.135-GO, Rel. Ministra Laurita Vaz, Rel. para


acórdão Ministro Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção,
por maioria, julgado em 8/2/2023, DJe 23/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Conflito negativo de competência. Organização


criminosa. Produção de medicamentos sem registro no
órgão competente. Art. 273, §§ 1º e 1º-B, I, III e V, do
Código Penal. Transnacionalidade. Existência de indícios
concretos. Competência federal.

DESTAQUE

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes de produção de medicamentos sem


registro no órgão competente, mesmo na ausência de prova incontestável sobre a
transnacionalidade das condutas, contanto que haja indícios concretos de que as matérias-primas
foram adquiridas do exterior.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em definir se a competência para o processamento e o julgamento


do crime de produção de medicamentos sem registro competente é da Justiça federal ou da estadual,
na hipótese em que a organização criminosa adquire matérias-primas clandestinas oriundas do
exterior.

No caso, embora a investigação não haja demonstrado seguramente que houve a


importação dos produtos ou das matérias-primas - a ponto de justificar a imputação penal dessa
conduta na denúncia - também não foi possível desprezar o fato de que houve o reconhecimento da
existência de fortes referências concretas à aquisição de insumos no Paraguai.

Para efeitos de imputação penal, o local exato em que eram adquiridas as matérias-primas

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não teria relevância se consideradas as elementares indicadas (falsificar, corromper, adulterar, ter
em depósito e comercializar produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais, desprovidos do
registro devido no órgão de vigilância sanitária competente), motivo pelo qual a denúncia não se
esmerou em apontar essa localidade. Evidentemente que essa circunstância implica consequências
no âmbito da fixação da competência, motivo pelo qual deve ser avaliada a partir das investigações.

Contudo, a orientação desta Corte não exige prova inconteste acerca da


transnacionalidade das condutas para a fixação da competência federal, mas tão somente a
existência de indícios concretos de que isso haja ocorrido. Tais indícios até podem ser insuficientes
para lastrear a denúncia na modalidade de importação, mas podem ser suficientes para a fixação da
competência.

Ademais, a existência desses indícios pode ser também reforçada pelo fato de que a
própria representação formulada pelo Ministério Público, durante as investigações, para a quebra
do sigilo bancário e de bloqueio de bens dos acusados, lastreou-se na possível prática de
contrabando de anfetaminas inibidoras de apetite oriundas do Paraguai. Ou seja, todos os indícios
indicavam que esses produtos viriam do Paraguai.

Portanto, ainda que a denúncia não indique a origem das matérias-primas utilizadas pela
organização criminosa para a produção de medicamentos clandestinos, isso não impossibilita -
diante dos indícios concretos de que elas tenham sido adquiridas no exterior - que seja reconhecida
a competência federal para o processo e julgamento do feito.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Art. 273, § 1º, e § 1º- B, I, III e V, do Código Penal (CP)

SAIBA MAIS
Informativo de Jurisprudência n. 391

Informativo de Jurisprudência n. 487

Informativo de Jurisprudência n. 504

Pesquisa Pronta / DIREITO PENAL - TEORIA GERAL DO CRIME

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PRIMEIRA TURMA

PROCESSO AREsp 2.031.414-MG, Rel. Ministro Gurgel de Faria,


Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
13/6/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA Improbidade administrativa. Responsabilidade política e


criminal. DL n. 201/1967. Agentes políticos. Aplicação.

DESTAQUE

Os agentes políticos municipais se submetem aos ditames da Lei de Improbidade


Administrativa, sem prejuízo da responsabilização política e criminal estabelecida no DL n.
201/1967.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Segundo entendimento pacífico do STJ, os agentes políticos municipais se submetem aos


ditames da Lei de Improbidade Administrativa, sem prejuízo da responsabilização política e
criminal estabelecida no DL n. 201/1967.

Nesse sentido, confira-se: [...] 2. A orientação desta Corte Superior firmou-se no sentido de
que os Prefeitos Municipais, apesar do regime de responsabilidade político-administrativa previsto
no Decreto-Lei 201/67, estão submetidos à Lei de Improbidade Administrativa, em face da
inexistência de incompatibilidade entre as referidas normas. [...] (AgRg no REsp n. 1.425.191/CE, rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 16/3/2015).

A propósito do tema, a Suprema Corte, em 13/9/2019, quando do julgamento do Tema


576, submetido ao regime de repercussão geral, firmou a tese de que o processo e o julgamento de
prefeito municipal por crime de responsabilidade (Decreto-lei 201/1967) não impedem sua
responsabilização por atos de improbidade administrativa previstos na Lei n. 8.429/1992, em
virtude da autonomia das instâncias (RE n. 976.566/PA, rel. Ministro Alexandre De Moraes,

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Plenário, DJe 25/9/2019).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

DL n. 201/1967

SAIBA MAIS
Informativo de Jurisprudência n. 295

Informativo de Jurisprudência n. 405

Informativo de Jurisprudência n. 418

Jurisprudência em Teses / DIREITO ADMINISTRATIVO - EDIÇÃO N. 40: IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA - II

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SEGUNDA TURMA

PROCESSO REsp 2.060.919-SP, Rel. Ministro Herman Benjamin,


Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 6/6/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Fornecimento de medicamento. Honorários advocatícios.


Arbitramento. Equidade. Aplicação. Proveito econômico
inestimável.

DESTAQUE

Nas ações em que se busca o fornecimento de medicamentos de forma gratuita, os


honorários sucumbenciais podem ser arbitrados por apreciação equitativa, tendo em vista que o
proveito econômico, em regra, é inestimável.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Em demanda voltada ao custeio de medicamentos para tratamento de saúde, o STJ possui


entendimento reiterado de que a fixação da verba honorária com base no art. 85, § 8º, do CPC/2015
estaria restrita às causas em que não se vislumbra benefício patrimonial imediato, como, por
exemplo, as de estado e de direito de família. Nessa linha, veja-se: [...] "(II) Apenas se admite
arbitramento de honorários por equidade quando, havendo ou não condenação: (a) o proveito
econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório; ou (b) o valor da causa for muito
baixo" (REsp 1.850.512/SP, relator Ministro Og Fernandes, Corte Especial, por maioria, julgado em
16/3/2022). 6. Na referida assentada, a maioria dos Ministros considerou nítida a intenção do
legislador em correlacionar a expressão inestimável valor econômico - prevista no § 8º do art. 85 do
CPC - somente para as causas em que não se vislumbra benefício patrimonial imediato, como, por
exemplo, nas causas de estado e de direito de família, não se devendo confundir o termo "valor
inestimável" com "valor elevado". [...] (AgInt nos EDcl nos EREsp 1.866.671/RS, relator Ministro
Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 21/9/2022, DJe de 27/9/2022).

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INFORMAÇÕES ADICIONAIS

DOUTRINA

Código de Processo Civil (CPC/2015), art. 85, § 8º

SAIBA MAIS
Informativo de Jurisprudência n. 730

Informativo de Jurisprudência n. 756

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TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 1.837.425-PR, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
13/6/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Ação demarcatória. Usucapião. Termo inicial do prazo.


Teoria da actio nata. Viés subjetivo. Afastamento.

DESTAQUE

O termo inicial da prescrição aquisitiva é o do exercício da posse ad usucapionem, não da


ciência do titular do imóvel da violação ao seu direito de propriedade, ainda que constatada
somente após ação demarcatória, devendo ser afastada a aplicação da teoria da actio nata em seu
viés subjetivo.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia a definir se a teoria da actio nata é aplicável à prescrição


aquisitiva, notadamente quando a violação ao direito de propriedade é constatado somente após
ação demarcatória.

De acordo com o art. 189 do Código Civil (CC/2002), o prazo prescricional é contado, em
regra, a partir do momento em que configurada a lesão ao direito subjetivo, independentemente do
momento em que seu titular tomou conhecimento pleno do ocorrido e da extensão dos danos.

Entretanto, a referida regra é excepcionada quando a própria lei estabeleça o termo inicial
da prescrição de forma diversa, como no caso do art. 200 do CC ou quando a própria natureza da
relação jurídica torna impossível ao titular do direito adotar comportamento diverso da inércia, haja
vista a absoluta falta de conhecimento do dano.

A compreensão conferida à teoria da actio nata sob o viés subjetivo encontra respaldo em

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boa parte da doutrina nacional e é admitida em julgados do Superior Tribunal de Justiça, justamente
por conferir ao dispositivo legal sob comento interpretação convergente à finalidade do instituto da
prescrição, isto é, o surgimento da pretensão reparatória dá-se no momento em que o titular do
direito violado detém o pleno conhecimento da lesão, termo em que sua pretensão passa a ser
efetivamente exercitável.

Entretanto, a perspectiva subjetiva da teoria da actio nata deve ser aplicada com muita
prudência, sob pena de se subverter o escopo da teoria e do desígnio da própria prescrição, qual
seja, instituir segurança jurídica e estabilidade às relações jurídicas, já que, se aplicada de forma
inadvertida, poderá gerar injustiças não desejadas.

Na hipótese em análise, não se vislumbra a excepcionalidade necessária para sua


aplicação, pois, não obstante a ação demarcatória tenha demonstrado a existência de demarcação
irregular entre os lotes, a violação do direito dos recorrentes era passível de constatação desde o
momento em que as cercas foram estabelecidas irregularmente entre os imóveis.

O proprietário do imóvel invadido teria condições de, a todo tempo, constatar a


irregularidade e manifestar oposição à manutenção da posse, principalmente por possuir o título de
propriedade do bem, mas não cuidou de confirmar a correção da área demarcada dentro do prazo
fatal, não podendo se considerar que o pleno conhecimento da lesão e possibilidade de efetivamente
exercer sua pretensão se deram apenas com a ação demarcatória.

Especificamente quanto à propriedade e a sua perda, pode-se afirmar que não há sua
perda pelo seu desuso ou a prescrição em promover a ação reivindicatória, havendo, na verdade, o
surgimento de um direito em favor de um terceiro quando preenchidos os requisitos necessários à
usucapião.

Em contraposição aos direitos pessoais, que decorrem das relações humanas mediante o
exercício do direito pelo credor contra o devedor, os direitos reais recaem sobre bens corpóreos,
mediante o exercício de poderes imediatos e diretos sobre os bens, em caráter permanente e com
direito de sequela.

Assim, não se verifica a prescrição dos direitos reais do titular sobre o bem ou o direito de
reaver a coisa, independentemente do período de tempo em que ficou afastado da posse ou do
simples uso. O que se verifica, na verdade, é a perda do bem diante do surgimento de algum direito
em favor de uma terceira pessoa perante o mesmo bem, como é o caso da usucapião.

A usucapião é um modo de aquisição originária da propriedade, tornando irrelevante


quaisquer direitos que terceiros tenham sobre o bem, bastando estar demonstrada a posse contínua,

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mansa e pacífica durante o prazo legal, com animus domini e sem contestação, independentemente
do conhecimento ou não da posse pelo antigo proprietário, não havendo discussão quanto ao
elemento subjetivo das partes.

Desse modo, não se está a afirmar que houve a prescrição do direito de ação dos autores
para demarcar ou reivindicar bem de sua propriedade, mas, na verdade, é que o decurso de
determinado prazo para sua manifestação ou oposição deu ensejo ao surgimento do direito à
usucapião dos ora recorridos, pois o reconhecimento do seu direito na ação demarcatória não tem o
condão de fazer nascer sua pretensão.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Civil, art. 189

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QUARTA TURMA

PROCESSO AgInt nos EDcl no REsp 1.491.537-MT, Rel. Ministro Raul


Araújo, Quarta Turma, por maioria, julgado em
16/5/2023, DJe 23/5/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Contrato de compra e venda de safra. Preço indexado a


cotação futura na Bolsa de Mercadorias de Chicago.
(CBOT). Determinabilidade do preço. Indicação de data e
local de aferimento da cotação. Necessidade.

DESTAQUE

Para atender a determinabilidade do preço, em contrato de compra e venda com eleição


de cotação em operação em bolsa de valores, é imprescindível a indicação de data e local de
aferimento da cotação.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

No caso dos autos, o preço de venda não constou do contrato de compra e venda de safra,
que se limitou a apontar que sua fixação teria por base a cotação da Bolsa de Chicago (CBOT).

Tratando-se de título extrajudicial que se pretende executivo, é imprescindível sua


liquidez, que se traduz, na lição doutrinária, na simples determinabilidade do valor mediante
cálculos aritméticos. Para tanto, o título deve conter todos os critérios objetivos para apuração do
valor, a exemplo do marco temporal e espacial, no caso de adoção de cotação em bolsa.

Não havia nos contratos de compra e venda referência precisa quanto à data da cotação
em bolsa que seria utilizada para determinação do preço. Nessa trilha, meros cálculos aritméticos
não seriam suficientes para a determinação do preço.

Assim, a eleição de cotação em operação em bolsa como critério para fixação do preço não

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é suficiente para afastar a liquidez do título. Entretanto, para atender a determinabilidade do preço,
é imprescindível a indicação de data e local de aferimento da cotação em bolsa. Sem esses critérios,
o título não gozará de plena liquidez, não podendo ser satisfeito por meio de execução, mas objeto
de ação de cobrança, procedimento que será o adequado para a fixação de todos os critérios
essenciais para a determinação do preço da transação.

SAIBA MAIS
Informativo de Jurisprudência n. 108

PROCESSO REsp 2.029.240-SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti,


Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 16/5/2023,
DJe 23/5/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, RECUPERAÇÃO JUDICIAL

TEMA Recuperação judicial. Representante de seguros. Prêmios


não repassados à seguradora. Não sujeição à recuperação
judicial. Lei n. 11.101/2005. Art. 49.

DESTAQUE

Os valores dos prêmios securitários não repassados à empresa seguradora não se sujeitam
à recuperação judicial.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O presente caso discute a possibilidade de submeter os prêmios de seguro - pagos à


representante de seguros e não repassados à seguradora - aos efeitos da recuperação judicial.

Nos termos da Resolução do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) n. 431/2021,

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que disciplina as operações das sociedades seguradoras por meio de seus representantes de
seguros, "Os representantes de seguros são responsáveis pelo repasse dos valores de prêmios por
eles arrecadados às sociedades seguradoras, nos termos estabelecidos no contrato de representação
firmado entre as partes". O mesmo diploma dispõe que "O pagamento do prêmio ao representante
de seguros considera-se feito à sociedade seguradora". No mesmo sentido, dispunha o art. 7º, §§ 1ºe
2º, da Resolução CNSP n. 297/2013.

O contrato travado entre a empresa seguradora e o representante de seguros tem


natureza peculiar, na medida em que permite que o bem fungível - quantia recolhida do consumidor
a título de prêmio de seguro - esteja em posse da representante, até que seu repasse seja realizado.

Em situação análoga, a Segunda Seção desta Corte concluiu que o inadimplemento da


obrigação de devolver bens fungíveis, no caso de contrato de depósito regular em armazém, não
ensejava a constituição de crédito, para os fins da legislação falimentar. A razão de decidir deste
julgado foi o fato de que a propriedade dos bens fungíveis depositados não havia sido transferida
para a empresa em recuperação judicial.

Na hipótese da representação securitária, como visto na regulação transcrita acima, a


propriedade dos prêmios não é do representante, pois se considera que o pagamento é feito à
própria empresa seguradora. Desde o momento da emissão dos bilhetes de seguro e recebimento do
prêmio pela representante, em nome da seguradora, o contrato se aperfeiçoa e a seguradora passa a
ser responsável pelo risco que lhe é transferido.

Assim, a intermediação não torna a representante proprietária dos valores


momentaneamente sob a sua posse, assim como não é responsável pela cobertura do risco. Conclui-
se, pois, de forma similar aos produtos agropecuários depositados em armazém, aos créditos
consignados e ao dinheiro em poder do falido, recebido em nome de outrem, que os prêmios de
seguro não são de propriedade da empresa recuperanda.

Logo, os valores que deveriam ser repassados à seguradora não estão abrangidos pela
recuperação judicial, deles não se podendo servir a recuperanda no giro de seus negócios ou para
pagar credores.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Civil (CC), art. 757

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Lei n 11.101/2005 (Lei de Recuperação e Falência - LRF), art. 49

Resolução do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) n. 431/2021, art 14, parágrafo único

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QUINTA TURMA

PROCESSO AgRg no AREsp 2.222.146-GO, Rel. Ministro Reynaldo


Soares Da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidde,
julgado em 9/5/2023, DJe 15/5/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL, EXECUÇÃO PENAL

TEMA Execução da pena de multa de ofício pelo magistrado.


Impossibilidade. Inteligência dos arts. 164 e seguintes da
LEP. Competência prioritária do Ministério Público.
Competência subsidiária da Fazenda Pública.

DESTAQUE

Não cabe a determinação do pagamento da pena de multa, de ofício, ao juízo da execução.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito
estabelecido pelo art. 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal, a multa, ao lado da privação de
liberdade e de outras restrições - perda de bens, prestação social alternativa e suspensão ou
interdição de direitos -, é espécie de pena aplicável em retribuição e em prevenção à prática de
crimes.

Com base nessa premissa, a legitimidade para a execução da multa resultante de uma
condenação criminal transitada em julgado, devido à sua natureza penal, recai prioritariamente
sobre o Ministério Público, ainda que não de forma exclusiva. Por outro lado, a Fazenda Pública tem
a legitimidade subsidiária para propor a execução fiscal, somente em caso de omissão do órgão
ministerial dentro do prazo estabelecido de 90 dias a partir da intimação para a execução da
penalidade.

Em síntese, conforme entendimento do STF, (i) o Ministério Público é o órgão legitimado


para promover a execução da pena de multa, perante a Vara de Execução Criminal, observado o

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procedimento descrito pelos arts. 164 e seguintes da Lei de Execução Penal; e (ii) caso o titular da
ação penal, devidamente intimado, não proponha a execução da multa no prazo de 90 (noventa)
dias, o Juiz da execução criminal dará ciência do feito ao órgão competente da Fazenda Pública
(Federal ou Estadual, conforme o caso) para a respectiva cobrança na própria Vara de Execução
Fiscal, com a observância do rito da Lei n. 6.830/1980. Dessa forma, a determinação do pagamento
da pena de multa não cabe, de ofício, ao juízo da execução.

No mesmo sentido é o entendimento da Quinta Turma desta Corte, que já decidiu que
"[i]ncumbe ao Ministério Público a execução da pena de multa, o qual, atento às disposições contidas
nos arts. 164 e seguintes da Lei de Execução Penal, deverá promovê-la, não cabendo ao juízo da
execução a determinação, de ofício, do respectivo pagamento" (AgRg no AREsp 2.092.616/GO,
relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 2/8/2022, DJe de 10/8/2022).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 6.830/1980

Constituição Federal (CF), art. 5º, inciso XLVI

Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal), art. 164

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RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.043.826-SC, Rel. Ministro Mauro


Campbell Marques, Corte Especial, por maioria, julgado
em 13/6/2023, DJe 20/6/2023. (Tema 1201).

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA A Corte Especial acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.043.826/SC, 2.043.887/SC, 2.044.143/SC e
2.006.910/PA ao rito dos recursos repetitivos, a fim de
uniformizar o entendimento a respeito da seguinte
controvérsia: "1) Aplicabilidade da multa prevista no § 4º
do art. 1.021 do CPC quando o acórdão recorrido baseia-
se em precedente qualificado (art. 927, III, do CPC); 2)
Possibilidade de se considerar manifestamente
inadmissível ou improcedente (ainda que em votação
unânime) agravo interno cujas razões apontam a
indevida ou incorreta aplicação de tese firmada em sede
de precedente qualificado".

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