Espacos para Reflexao Intercultural Nas
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E A ESCOLA NA (TRANS)FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DE LÍNGUAS
EDITORA UNIVERSIDADE
ESTADUAL DE GOIÁS
Presidente
Haroldo Reimer (Reitor)
Vice-Presidente
Ivano Alessandro Devilla (Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação)
Coordenadora Geral
Elisabete Tomomi Kowata
Revisão Técnica
Thalita Gabriele Lacerda Ribeiro
Projeto Gráfico
Adriana da Costa Almeida
Revisão Linguística
Cristiane Ribeiro Magalhães
Michely Gomes Avelar
Capa
Equipe Cecom/UEG
Adriana da Costa Almeida
Conselho Editorial
Carla Conti de Freitas (UEG)
Elizete Beatriz Azambuja (UEG)
Flávio Reis dos Santos (UEG)
Joelma Abadia Marciano de Paula (UEG)
Juliana Alves de Araújo Bottechia (UEG)
Maria Aurora Neta (UEG)
Murilo Mendonça Oliveira de Souza (UEG)
Rezende Bruno de Avelar (UEG)
Robson Mendonça Pereira (UEG)
Vandervilson Alves Carneiro (UEG)
Carla Conti de Freitas
Giuliana Castro Brossi
Valéria Rosa da Silva
Alcides Thereza Hermes Junior
Organizadores
Anápolis | 2018
© Editora UEG – 2018
© Autoras e autores – 2018
Catalogação na Fonte
Comissão Técnica do Sistema Integrado de Bibliotecas Regionais (SIBRE),
Universidade Estadual de Goiás
E
sta coletânea, organizada por Carla Conti de Freitas, Giuliana
Castro Brossi, Valéria Rosa da Silva e Alcides Thereza Hermes
Junior, chegou até mim com o honroso convite para que eu escre-
vesse seu prefácio em um tempo em que temos vivido momentos de
certa consternação. Não dissocio cérebro e coração, razão e emoção ou
mente e corpo; por isso, viver experiências de consternação implica sentir
e compreendê-las num espiralado contínuo que não permite distinguir se
um ou outro vem primeiro, coração ou mente. Essas experiências têm
sido ocasionadas pelo espanto diante de um movimento político crescente
em torno de propostas autoritárias, reacionárias e confusas, que lançam a
educação (e outras áreas) do país, de modo geral, aos pés da ambição
mercadológica do regime neoliberal e nas mãos de um sistema ideológico
de educar para a reprodução e a manutenção de hierarquias. Para nós,
professoras/es e formadoras/es de professores/as de línguas, esse pode ser
um cenário desanimador. Por isso, ao aceitar prefaciar este livro, composto
de textos que inspiram o fazer educacional e a formação docente de
línguas numa perspectiva de transformação (como indica o próprio
título), falo aqui de experiências de consternação, mas trazendo sempre
em mente o modo como elas podem nos conduzir a uma perspectiva
dialógica e contextual de possibilidades.
PREFÁCIO
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PREFÁCIO
9
PREFÁCIO
cialmente nos de natureza social, como uma medida única que poderia
retomar o crescimento da economia. Vemos então, como argumenta
Amaral (2017, p. 24)4, a “morte do PNE”. Diante desse quadro, volta-
mos a perguntar: por que formar professores/as, como o fazem as/os
autores/as neste livro, insistindo com o compromisso de transformação,
buscando relevância para seus contextos socioculturais?
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
4 AMARAL, N. C. Com a PEC 241/55 (EC 95) haverá prioridade para cumprir
as metas do PNE (2014-2024)?.Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, v.
22, n. 71, 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1413-24782017000400200&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:
20/10/2018.
5 LOPES, Alice C.; BORGES, Veronica. 2015. Formação docente, um projeto
impossível. Caderno de Pesquisa, 45(157): 486-507.
6 MASTRELLA-DE-ANDRADE, M. R.; PESSOA, R. R. A critical, decolonial
glance at language teacher education in Brazil: on being prepared to teach. No
prelo. 2018.
10
PREFÁCIO
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APRESENTAÇÃO
E
sta coletânea registra as discussões que permearam a 14ª edição
do Encontro de Formação de Professores de Língua Estrangeira
– ENFOPLE, evento realizado pela Universidade Estadual de
Goiás (UEG), Câmpus Inhumas, instituição responsável pela
formação de professores/as de língua inglesa em Inhumas e região.
Por meio da promoção de eventos como o ENFOPLE, a UEG,
Câmpus Inhumas, tem buscado dialogar sobre aspectos relacionados
às áreas de formação docente e educação linguística, proporcionando
aos/às professores/as de inglês e aos/às professores/as-licenciandos/as
em língua inglesa oportunidades de aprimoramento da competência
linguística e metodológica. Além disso, o ENFOPLE tem se consti-
tuído em um espaço de interação e diálogo sobre a práxis entre
professores/as e pesquisadores/as de diferentes contextos, nacionais
e internacionais.
O tema dessa edição do evento, “Diálogos entre a universidade e
a escola na (trans)formação de professores de línguas”, dá título a esta
obra e é discutido pela professora e pesquisadora Elaine Mateus no
capítulo de abertura. O objetivo desse tema foi/é repensar as relações
entre os cursos de formação de professores/as e as escolas de educação
APRESENTAÇÃO
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APRESENTAÇÃO
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APRESENTAÇÃO
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Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
SUMÁRIO
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
LETRAMENTOS
7 Multiletramentos: uma experiência com professores de
línguas em formação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
Dayanny Sousa Tavares
Carla Conti de Freitas
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LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PARA CRIANÇAS
10 English for kids: ensino e pesquisa na extensão . . . . . . . . . . 227
Giuliana Castro Brossi
Marise Pires da Silva
19
Formação de professores
e ensino de línguas estrangeiras
APRESENTAÇÃO
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Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
1.
Diálogos entre a universidade
e a escola na (trans)formação
ELAINE MATEUS
A
s experiências dialógicas com a escola têm sido parte da minha
trajetória profissional desde 2002, quando iniciei os estudos de
doutorado. À época, depois de quase 10 anos atuando com super-
visão de estágio na Prática de Ensino de Inglês, com base nomo-
delo crítico-reflexivo (SMITH, 1992), eu percebia que a formação de
professores/as que eu vivenciava estava distante do projeto de transfor-
mação social com o qual a escola, os/as educadores e a sociedade deve-
riam estar comprometidos/as. O projeto da reflexão havia, na minha
perspectiva e de minhas colegas (MATEUS, et. al, 2002), esgotado sua
possibilidade de cumprir aquilo que o havia tornado prática predomi-
nante na década de 90, ou seja, o desejo de que professores/as fossem
protagonistas das mudanças sociais, por meio de seu trabalho em sala
de aula, de modo intencional, deliberado e crítico.
Isso porque, como já discuti em outras oportunidades (por ex.
MATEUS, 2010), a recontextualização da prática reflexiva na formação
de professores/as em nossos contextos locais, nem rompeu com as rela-
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De políticas e micropolíticas
Quando converso com meus/minhas colegas da universidade, com
professores/as da educação básica e com estudantes sobre sermos agen-
tes políticos há quase sempre um desconforto. Muitos equacionam essa
visão a filiações partidárias. Para alguns, posicionar-se no interior de
uma visão como essa quer dizer defender posicionamentos partidários.
Certamente isso é antagônico ao que discutimos até agora.
Em inglês, o termo“políticas” pode ser definido a partir de dois
conceitos. Politics diz respeito à ciência que trata dos fenômenos relati-
vos ao Estado, à arte de governar, à atividade ligada à governança de um
país ou território e, em especial, aos embates e conflitos, individuais ou
partidários, como objetivo de se alcançar o poder. Policy são diretrizes,
princípios, filosofia, ações implementadas por qualquer tipo de organi-
zação, incluindo o próprio governo, partido, ou indivíduo.
Mesmo ciente de que politics e policies são termos que inter-relacio-
nam, e que no campo educacional lidamos com school politics e policies,
vou me concentrar no sentido de policies, ou de políticas, com “p”mi-
núsculo, para diferenciar de politics, ou Políticas, com “p” maiúsculo.
É no campo das políticas com “p” minúsculo que eu vejo as minhas
possibilidades de agir de modo mais concreto, próximo, realizável. Por
isso, uso também o termo“micropolíticas”.
Em novembro de 2009, Stephen Ball, um eminente pesquisador
na área da sociologia educacional, esteve no Rio de Janeiro e apresentou
três categorias possíveis, a partir das quais a literatura tem tratado de
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Os problemas
A primeira coisa a ser destacada é que, historicamente, a discussão
sobre o papel das universidades e das escolas é dicotômica em sua
formulação. Existe, no campo da formação de professores e também do
ensino da língua inglesa, uma ruptura entre teoria e prática, disciplinas
de base e estágio, língua e cultura, linguagem e pensamento, reflexão e
ação, ensino e aprendizagem. Essas formulações de natureza cartesia-
nase reproduzem nos modos como entendemos a universidade e a escola
e configuram esses como dois espaços com propriedades e característi-
cas distintas, que não se misturam, não se integram, não compartilham
meios-e-fins. São, pode-se assim dizer, como água e óleo. Mesmo juntos
em uma atividade comum, não se mantêm misturados por muito
tempo, a menos que algo os coloque em movimento.
A metáfora da água e óleo é importante para essa reflexão porque
entendo que quando se fala de parceria universidade-escola deve-se ter
claro que este é um terceiro espaço, uma atividade híbrida que não deve
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As soluções
Já discuti em outras oportunidades (por ex., MATEUS, 2013), o
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) apre-
sentado como solução para o “distanciamento entre educação superior
e educação básica”; este colocado como o “problema” da formação
docente e da qualidade dos/as professores/as que deixam os cursos de
licenciatura. Também já analisei o Pibid como parte de uma conjuntura
que projeta articulações específicas que permitem articular a universi-
dade e a escola de formas novas (MATEUS, 2014b).
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2 Uso o termo “Política de governo” para me referir ao Pibid por entender que
Políticas públicas educacionais demandam um conjunto de ações abrangentes,
sistemáticas, organicamente articuladas e consistentes com projetos duradouros,
focados sobre as complexidades do sistema educacional.
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Cruzando as fronteiras
Antes mesmo que ao diálogo entre universidade e escola fosse apre-
sentado pelas Políticas de governo como uma demanda para os cursos
de licenciatura, eu já havia sentido a necessidade de organizar meu
trabalho na formação de professores de modo a resgatar a dialética
teoria-prática. Em 2002, como mencionei logo no início da nossa
conversa, apresentei para um grupo de professores/as com os quais
atuava em um curso de especialização a possibilidade de um trabalho
colaborativo. Eu não tinha muita clareza de como ele seria e tampouco
de como poderíamos nos organizar, mas, com o aceite de uma profes-
sora, mergulhei na possibilidade de vivenciar a escola e de criar, com ela
e com os/as estagiários/as que eu tinha na época, um modelo inovador
de prática de ensino. Poucos anos depois, alguns autores foram impor-
tantes para que a experiência fosse se consolidando.
O conceito de ensino colaborativo (coteaching) apresentado nas
publicações de Roth e Tobin (2001; 2002; 2004) me ajuda a explicar
uma prática de formação de professores/as em que licenciandos/as,
professores/as da educação básica e eu, como professora da universi-
dade, experimentávamos juntos/as os desafios de uma práxis voltada à
aprendizagem de crianças e jovens estudantes da escola pública. De
modo bem simples, ensino colaborativo se define fundamentalmente
pelo processo de compartilhar a responsabilidade pela aprendizagem
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significativo.
A experiência e as evidências da prática permitem formular a
seguinte representação curricular:
Fonte: A autora.
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Tendo foco nas perguntas mais do que nas respostas, nosso traba-
lho se orienta, não pela capacidade de aplicar teorias, mas por nossa
capacidade para fazer perguntas que visam maximizar as oportunida-
des de aprendizagem na escola e, coextensivamente, a nossa própria
aprendizagem.
Isso expande nossas possibilidades de ação. Como disse anterior-
mente, é por meio da nossa participação radical na prática e do nosso
Um exemplo da práxis
Uma maneira de explicar nosso trabalho de ensino-colaborativo
pode ser a partir do conceito de pedagogia como “o ensino e a aprendi-
zagem de relações que criam o potencial para construir condições de
aprendizagem que levem à participação social equânime e plena” (THE
NEW LONDON GROUP, 2000, p. 9). Tendo este desejo como hori-
zonte da nossa práxis, desde 2013, Vanessa, Fernanda, Denis e Andressa,
quatro licenciandos/as do 3º e 4º ano do curso de Letras Inglês da UEL,
Mozart, o professor regente das aulas de inglês no Colégio de Aplicação,
e eu, professora da universidade, atuávamos naquele contexto. Além da
grande heterogeneidade no campo do conhecimento linguístico-discur-
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3 http://www.norquest.ca/NorquestCollege/media/ pdf/centres/intercultural/ISE/
photovoice_HiRes.pdf
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a) os/as alunos aprendem a se posicionar, a ter voz e a agir no
processo de criar coletivamente múltiplos modos de agir-inte-
ragir-falar-ouvir-ler-pensar-sentir de forma apropriada à prática
na qual estão inseridos/as. Portanto, era essencial garantir a
sala de aula como um espaço seguro em que as diferenças
pudessem ser tratadas. O projeto foi levado à equipe pedagó-
gica da escola, discutido com a direção e apresentado por
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4 Trabalhamos a música Crazy, do grupo Simple Plan, levada em vídeo para ser
explorada em sua multimodalidade.
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De volta à reflexão
Procurei trazer nessa conversa um pouco das questões que me
tocam nas relações universidade-escola. Tanto a experiência que apre-
sento, quanto as problematizações que compartilho, devem ser
compreendidas em seus processos de acabamentos temporários, neces-
sários para que se possa sistematizar alguma forma de conhecimento
significativo.
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2.
A FORMAÇÃO DO/A PROFESSOR/A BRASILEIRO/A DE
LÍNGUA INGLESA: ALGUMAS QUESTÕES ATUAIS
A
quem pertence a língua inglesa hoje? Como podemos ensiná-la,
se considerarmos que a relação entre a língua e estados-nações
específicos não é mais algo diretamente correspondente? Há
algumas décadas já sabemos que falar do ensino de inglês na
atual conjuntura é falar do ensino de inglês em tempos de globalização,
mas o que não sabemos ao certo é o impacto e as implicações positivas
e negativas que acompanham o ensino de uma língua específica com
status de língua internacional, franca, global1.
Inúmeras questões relativas à caracterização da língua inglesa e do
seu ensino na contemporaneidade têm sido foco de pesquisas e debates,
internacionais e nacionais, com uso de diferentes vieses teóricos. São
várias as demandas que embasam os discursos que apontam a necessi-
dade de aprendizagem dessa língua para quem não a tem como nativa,
vindas de diversas áreas (EDMUNDO, 2013).
Se a posição hegemônica que o inglês vem adquirindo nos tempos
atuais de globalização afeta, de modo evidente, variados setores da
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Considerações finais
Se concordarmos com Jordão (2014), para quem algumas posturas
devem ser redefinidas para que não fiquemos para sempre na ideia de
que não há nada a ser feito, podemos pensar no ensino de inglês a partir
de desconstruções, como as abordadas por este estudo: da concepção de
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Referências
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A FORMAÇÃO DO/A PROFESSOR/A BRASILEIRO/A DE LÍNGUA INGLESA
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Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
3.
POR UMA ECOLOGIA DE SABERES: POSSIbiLIDADES
DE UMA FORMAÇÃO DOCENTE ORIENTADA PELA
PERSPECTIVA CRÍTICA NO ENSINO DE LÍNGUAS
A
epígrafe que inicia este texto ilustra bem o que me motivou a
escrevê-lo. A primazia do saber científico ainda se sobressai a
tantos outros saberes de diferentes áreas do conhecimento. Para
Sousa Santos, Nunes e Meneses (2007), a herança colonial da
monocultura epistêmica ainda é aceita nos dias de hoje e vista como
símbolo do desenvolvimento e da modernidade. Assim, para uma
mudança de perspectiva, Sousa Santos, Nunes e Meneses (2007)
propõem uma “ecologia dos saberes”. Nas palavras dos estudiosos, “[a]
ecologia dos saberes representa a possibilidade de abertura do cânone
dominante do conhecimento e o reconhecimento de saberes não cientí-
ficos ao trazer conhecimentos alternativos para o cenário” (SOUSA
SANTOS; NUNES; MENESES, 2007, p. xlix). Assim, ao refletir sobre
como os/as alunos/as de um curso de extensão de formação inicial/
continuada de professores/as de línguas perceberam possibilidades de
ressignificar uma atividade do livro didático para um contexto local,
entendi que nossos saberes mereciam ser analisados e compartilhados
com outros/as professores/as de línguas.
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POR UMA ECOLOGIA DE SABERES
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gado e calmo, com o objetivo de que mais vozes surjam, desde àquelas
mais tímidas e até as inaudíveis e que, desta forma, o cenário seja
acolhedor e inclusivo para que a pluralidade de conhecimento possa
emergir. Assim, a ecologia dos saberes é um processo grupal de produ-
ção de conhecimento que se propõe estimular as lutas pela emancipação
social. 2) A ecologia dos saberes consiste em um processo democrático,
em que, não deveria haver um/a líder, mas sim facilitadores/as do
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sentidos e novas formas de atuar, a não ser por aquelas que compõem a
identidade de cada um/a de nós.
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Desenho do estudo
Este estudo se configura como uma pesquisa-formação de viés
crítico (SILVESTRE, 2017). Devido ao caráter híbrido deste trabalho,
no qual a pesquisa e a formação ocorreram simultaneamente, especial-
mente porque acredito que na pesquisa-formação o material empírico
construído não se limita para um estudo específico, mas, também, para
o processo de formação e das vivências daqueles/as que nela participam.
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Fonte: Richards, Jack. Student’s Book – Interchanege Intro, CUP, 2005, p. 99.
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Fonte: O autor.
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Fonte: O autor.
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Últimas considerações
Neste estudo, compartilhei algumas das ressignificações de uma
atividade do livro didático elaboradas por alunos/as de um curso de
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
84
POR UMA ECOLOGIA DE SABERES
Referências
DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (Ed.) The landscape of qualitative research. 4th
ed. Thousand Oaks: Sage Publications, 2013.
85
POR UMA ECOLOGIA DE SABERES
86
4.
UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE
FORMAÇÃO CRÍTICA DE PROFESSORAS/ES DE INGLÊS:
D
urante minha trajetória no curso de Letras: Inglês da Universidade
Federal de Goiás, uma pergunta que sempre ouvi por parte dos/as
professores/as era “Qual é a noção de língua para tal autor/a?” Mais
para o final do curso, a pergunta se modificou para “Qual é a sua
concepção de língua?” Agora, na posição de mestrando e pesquisador, ao
apresentar trabalhos em eventos da área, já ouvi uma outra pergunta
“Mas e a língua? Vocês não ensinam língua?” A partir dessas três pergun-
tas, pode-se observar que há uma preocupação grande com qual concep-
ção de língua estamos adotando em nossas aulas e em nossas pesquisas.
No caso da terceira pergunta, acredito que haja uma diferença entre a
minha concepção de língua, que guia meus estudos e aulas, e a concepção
de língua de quem faz essa pergunta. Visto que tenho me envolvido com
estudos na área da Linguística Aplicada Crítica, que não enxerga a lingua-
gem como um instrumento de comunicação apenas, acredito que a
concepção de língua de quem faz essa pergunta esteja mais alinhada com
uma perspectiva mais tradicional de língua.
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DE PROFESSORES/AS DE INGLÊS
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subdesenvolvida que possuem e que aprender uma língua é
dominar a gramática em contextos pedagógicos especialmente
criados para esse fim.
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Caminho metodológico
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UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CRÍTICA
DE PROFESSORES/AS DE INGLÊS
[1]
For me language is a way to communicate. […] and a few days
later I went at the [language] course [I took when I was in Neth-
erlands] but my teacher had a problem. She sent us an email with
the explanation. It was in Nederland but I was able to under-
stand… but when I was in the street I saw my Chinese colleague.
My first thought was “RUM” but it was too late, he was beside me
and he would know why I wasn’t at the class. I took my phone
and I opened the teacher’s email. He didn’t understand. It was
terrible. I felt powerless because I couldn’t communicate with
him. But than he had the idea of use the google translate. So,
language is power too. (Magali, Narrativa inicial)2
97
UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CRÍTICA
DE PROFESSORES/AS DE INGLÊS
zações nessa situação de fala. Ela se sente sem poder por simplesmente
não falar a língua do outro, mas este fato não parece estar atrelado a
relações desiguais de poder e hierarquia.
No seguinte evento semiótico, os/as alunos/as e eu problematizáva-
mos o conceito de língua padrão e Magali cita o seguinte exemplo:
[2]
Magali: And I have an example. I was studying with a teacher
here and she asked me so many times to say the word woman in
French. She said ‘femme’ and I remember that I thought “Eu
não vou fazer esse bico”. For me it was very– How can I say?
Unbelievable. ‘Femme’. No, it’s horrible! I don’t think it’s neces-
sary all this. So, I think there’s some kind of people, especially I
think, I don’t wanna sound– How can I say preconceituosa?
Students: Prejudiced.
Magali: Yes, but all the people, they don’t wanna change some
things, and for me it was like– How can I say? Do it again, do
it again. Too-
Rita: Annoying.
Pedro: Imposed?
Magali: Imposed. It was very unnecessary, but for her it was the
way to say perfectly the ‘femme’.
(Aula 4)
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UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CRÍTICA
DE PROFESSORES/AS DE INGLÊS
[3]
Pedro: What do you think about them [neologisms], Magali?
Magali: I don’t like the way we change so many things. I think
we have to have a line to the things, but I remember that you
asked about the authority to take the language, I think right
now this power has been less concentrated. For example, if you
start to use this here, in a few time everybody here that is getting
in your class will be able to use this kind of words. So, I think
the power has changed some hands in different contexts. […]
So, I don’t know, I have a lot of things to speak about this, but,
for me, I don’t like so many changes. For example, I remember
that [a professor I had] told that she talked differently when she
is talking to her daughter, because she wants to hear an example
for language […] And I remember a charge, it was really funny,
a grandma received a letter from grandchild and the picture
shows the grandma putting on red the mistakes and I “Wow, I
think I will do the same with my child” in some kind of point
“Oh, no, this is not like this”, because I think it’s so important
to know how to write well in the world that I want her in.
(Aula 4)
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UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CRÍTICA
DE PROFESSORES/AS DE INGLÊS
nados. No excerto [2], ela menciona uma experiência em que ela estava
numa posição inferior de poder, e, por isso, utiliza a palavra imposição
para caracterizar a ação da professora ao ensinar a pronúncia tida como
correta da palavra, ao passo que, no excerto [3], ela menciona um exem-
plo em que ela ocupa uma posição de poder tida como superior e se
coloca na função de corrigir a partir da norma padrão. Essas contradi-
ções marcam as diferentes posições que ocupamos em diferentes contex-
tos e os posicionamentos que adotamos em determinadas situações.
Ao fim do curso, foi solicitado aos alunos que escrevessem uma
narrativa para exporem suas concepções de língua e comentar sobre a
experiência de formação. No excerto [4], trago a concepção de língua
discutida por Magali:
[4]
Language for me is a way to communicate my thoughts, and to
know what other people are thinking. It express identities,
culture and it mark the place where someone is or can be in the
World. Language also is power and, being power, it can begin
some unpleasure conversation. At my classroom I could see that
during the time that Pedro was there as a teacher. I won’t be
extend myself here discussing this I will just say that it was a
good experience to have Pedro these class.
(Magali, Narrativa final)
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UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CRÍTICA
DE PROFESSORES/AS DE INGLÊS
[5]
Pedro: Como você se vê enquanto professora?
Magali: Não me vejo. Só se fosse pra esses fins específicos, por
exemplo, eu pretendo que a [minha filha] aprenda inglês comigo,
pelo menos nesse começo, aquisição de vocabulário, mas no
método de gramática/tradução, que eu acredito que pra criança
pode ser uma coisa que funciona. Depois que ela tiver internali-
zado o português, ficar dando palavras pra ela, eu acho que
ajuda. [...] . Eu já vejo que ela não sabe a palavra em português,
ou a gente não entende porque ela ainda não tem um vocabulá-
rio coerente em termos de som e estruturação [...].
(Magali, Entrevista final)
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UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CRÍTICA
DE PROFESSORES/AS DE INGLÊS
Palavras finais
Este texto objetivou discutir como uma aluna em uma experiência
de formação de professores/as balizou concepções de língua durante o
curso. Na narrativa inicial, Magali se alinha com uma perspectiva de
língua tradicional ao definir língua como uma forma de comunicação.
Já em um momento durante a aula, Magali exemplifica um aconteci-
mento que se alinha a um distanciamento de perspectivas tradicionais,
por resistir à atitude impositiva de uma professora, como ela mesma
caracteriza. Subsequentemente, na mesma aula, ao citar outro evento
em que ela ocupa uma posição superior de poder, Magali se alinha a
uma perspectiva tradicional de língua ao enfatizar a necessidade de
escrever corretamente, mesmo que em um texto informal. Ao fim do
curso, na narrativa final, Magali expande a noção de língua como
poder, mesmo que muito pouco, mas ainda assim afirma que não se
estenderia muito na discussão. Por fim, na entrevista final, Magali
defende uma concepção de língua mais tradicional ao afirmar que a
abordagem de gramática/tradução é eficaz para a aquisição de lingua-
gem. A partir da discussão deste texto, percebe-se que a concepção de
língua desta aluna não é fixa ou linear, mas contingente e contextual,
visto que ela pode se alinhar a perspectivas mais tradicionais e críticas
em diferentes momentos.
102
UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CRÍTICA
DE PROFESSORES/AS DE INGLÊS
Referências
ASSIS-PETERSON, Ana Antônia; COX, Maria Inês Pagliarini. Standard English
& World English: entre o siso e o riso. Calidoscópio, v. 11, n. 2, p. 153-166, maio/
ago. 2013.
BLOMMAERT, Jan; BACKUS, Ad. Superdiverse repertoires and the individual.
Tilburg papers in culture studies, n. 24, p. 1-32, 2012.
BUSCH, B. The linguistic repertoire revisited. Applied Linguistics, v. 33, n. 5, p.
103
UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CRÍTICA
DE PROFESSORES/AS DE INGLÊS
MAKONI, Sinfree; PENNYCOOK, Alastair. Disinventing and reconstituting
languages. In: MAKONI, Sinfree; PENNYCOOK, Alastair. (Ed.). Disinventing
and reconstituting languages. Clevedon: Multilingual Matters, 2007. p. 1-41.
MERRIAM, Sharan. Case studies as qualitative research. In: MERRIAM, Sharan.
Qualitative research and case study applications in education. San Francisco, CA:
Jossey-Bass, 1998, p. 26-43.
______. Introduction to qualitative research. In: MERRIAM, Sharan. Qualitative
research in practice: examples for discussion and analysis. San Francisco, CA:
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
104
5.
O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA
VALÉRIA ROSA-DA-SILVA
CARLA JANAÍNA FIGUEREDO
ROSANE ROCHA PESSOA
Iniciando o diálogo
A
s falas das licenciandas em Letras: Português e Inglês, Oliveira e
Persona1, na epígrafe, sugerem posicionamentos conflituosos em
relação às suas construções identitárias durante o processo de
formação docente. Oliveira se sente ora aluna ora professora:
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O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
de “professora”.
Diante das práticas discursivas das duas professoras-licenciandas a
respeito do curso de Letras: Português e Inglês e, sobretudo, em relação
ao Estágio de Língua Inglesa, compreendemos que tais conflitos identi-
tários podem estar relacionados, dentre outros fatores, aos tradicionais
binarismos que comumente perpassam esses cursos, como: 1) teoria e
prática e 2) ser aluno/a e ser professor/a de línguas. Por mais que dife-
rentes estudos (BUHRER, 2012; JORDÃO; BUHRER, 2013;
RIBEIRO, 2013; BRITO, 2014) tenham mostrado que esses binaris-
mos, longe de ser produtivos, trazem implicações negativas ao processo
de formação, essa concepção dicotômica entre o saber e o fazer, o apren-
der e o ensinar parece não ter sido superada nos cursos de formação
docente e, talvez, por isso, se refletem nas práticas discursivas dos/as
professores/as-licenciandos/as.
Brito (2014, p. 119, grifo no original) argumenta que a própria
organização curricular dos cursos de Licenciatura em Letras ainda
consolida essa dicotomia, uma vez que as disciplinas de Estágio Super-
visionado, “por uma ‘ordem’ quase naturalizada, tendem a ser oferta-
das após as disciplinas de metodologia, didática geral, linguística apli-
cada, entre outras, as quais supostamente preparariam o aluno para o
momento da prática”. No curso de Letras em foco neste estudo, isso
ocorre de maneira semelhante. As disciplinas de Estágio Supervisio-
nado, tanto em língua inglesa quanto em língua portuguesa, aconte-
cem nos dois últimos anos do curso, sinalizando que os anos iniciais
são dedicados às disciplinas de cunho mais teórico, como sugere o
relato de Oliveira na epígrafe deste trabalho. Tal visão ecoa Ribeiro
(2013), que, ao analisar os efeitos de sentido em discursos de professo-
res/as-licenciandos/as em Letras sobre a relação entre teoria e prática,
106
O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
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O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
2 Texto original: “we cannot separate the teacher from teaching any more than we
can separate the dancer from dancing”.
3 Texto original: “To be means to communicate. Absolute death (nonbeing) is the
state of being unheard, unrecognized, unremembered (Ippolit). To be means to
be for another, and through the other, for oneself. A person has no internal sov-
ereign territory, he is wholly and always on the boundary; looking inside himself,
he looks into the eyes of another or with the eyes of another”.
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(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
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O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
com o outro, sem o qual não podemos ser, daí o papel essencial da alte-
ridade na constituição do eu. Isso significa que o processo de ser é
sempre atravessado pelo outro; é pelos olhos do outro que eu me enxergo
verdadeiramente; eu só existo porque o outro existe.
Uma das grandes rupturas da teoria bakhtiniana foi justamente o
deslocamento “do eixo do eu para o eixo do outro” (FREITAS, 2013, p.
198); por isso, Bakhtin pode ser considerado o filósofo da alteridade.
Esse deslocamento é compreendido por Bakhtin a partir de três catego-
rias que se inter-relacionam: o eu-para-mim, que se refere a como eu me
vejo; o eu-para-o-outro, que diz respeito a como o outro me vê; e o-ou-
tro-para-mim, que é como eu vejo o outro. Bakhtin sugere que, entre
esses dois extremos: o ser-para-si e o ser-para-o-outro, ocorre “a batalha
da identidade, eterna batalha” (PIRES; SOBRAL, 2013, p. 209) e,
nessa arena dialógica, o tornar-se, o vir a ser, tendo a constante mudança
como premissa, supera a categoria estática e fixa de ser, o que leva à
assunção de que “estamos sempre nos tornando os seres que somos”
(PIRES; SOBRAL, 2013, p. 210) com base nas relações que estabelece-
mos com os outros.
Essa concepção bakhtiniana de que estamos em constante movi-
mento, em processo contínuo e instável de transformação e, sobretudo, de
que somos construídos nas relações com os outros traz semelhanças com
os estudos sobre questões identitárias no âmbito de ensino e aprendiza-
gem de línguas. Nesse sentido, para Norton (2013), a identidade pode ser
compreendida como “o modo como uma pessoa compreende seu relacio-
namento com o mundo, como essa relação está construída no tempo e no
4 Texto original: “We teach who we are. … Viewed from this angle, teaching holds
a mirror to the soul”.
110
O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
5 Texto original: “the way a person understands his or her relationship to the
world, how that relationship is constructed across time and space, and how the
person understands possibilities for the future”.
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O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
sobre mim numa extremidade, na outra apoia-se sobre o meu
interlocutor. (BAKHTIN, 2006 [1929], p. 115).
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9 Texto original: “the self’s ability to create new opportunities in establishing one's
voice”.
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(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
Contexto da pesquisa
Este estudo tem como aporte metodológico a abordagem qualita-
tiva de pesquisa (DENZIN; LINCOLN, 2013). O material empírico
constitui-se de práticas discursivas de professores/as-licenciandos/as do
4º ano do curso de Letras: Português e Inglês de uma universidade
pública de Goiás. O ponto de partida para a geração desse material foi
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
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O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
QUESTÃO PRÉ-TEXTUAL
Durante o curso de Letras, você tem se sentido, na maior parte do tempo,
aluno/a, aprendiz de inglês, devido ao cunho teórico do curso?
professor/a de inglês, devido ao cunho prático do curso?
aluno/a e professor/a de inglês ao mesmo tempo?
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O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
para dar aula de inglês”. Antes de mais nada, cabe problematizar, aqui,
as concepções de língua e, consequentemente, de ensino e aprendiza-
gem que subjazem a essas práticas discursivas. O que seria “dominar o
conteúdo da língua inglesa”? E o que significa “estar capacitado” para
ensiná-la? Que tipo de “Eu-docente” (KUMARAVADIVELU, 2012)
Machado e Lima estão levando (ou pretendem levar) para a sala de aula?
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
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(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
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(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
suficientes pra fazer eu me sentir professora. (...) eu não passo
muita credibilidade como professora e eu ainda não me sinto
confortável nessa posição. Tem que ter muita responsabilidade
para atuar em sala de aula e eu não me sinto preparada para essa
responsabilidade. (PERSONA).
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O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
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O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
Ainda dialogando
Para uma melhor compreensão sobre a inseparabilidade de teoria e
prática, recorremos à noção de ambivalência carnavalesca de Bakhtin.
Segundo Kramer (2013, p. 37), “em oposição à unidade dos contrários,
a ambivalência carnavalesca reúne o que seria aparentemente incompa-
tível: riso e choro, sério e grotesco, profano e sagrado, vida e morte, o
homem e a besta”, colocando em cena a coexistência de opostos.
Partindo dessa dialética dialógica bakhtiniana, é possível pensar possi-
bilidades para que teoria e prática não ocupem espaços distintos durante
o curso de formação (e nem nos discursos dos/as professores/as-licen-
ciandos/as), mas que sejam levadas a assumir uma relação de coexistên-
cia no mesmo espaço. De maneira semelhante, sob essa perspectiva, os
posicionamentos identitários de professor/a e aluno/a podem ser perce-
bidos como coexistentes, habitando o mesmo corpo, o corpo do/a
professor/a-licenciando/a do curso de Letras: Português e Inglês, que,
mesmo não tendo como negar sua condição de aluno/a, acadêmico/a do
curso, aprendiz de inglês, consegue se perceber, ao mesmo tempo, como
professor/a, agente transformador/a.
Cabe ressaltar que a ambivalência, para Bakhtin, tem um sentido
crítico e não anula a presença de conflitos, “as contradições permane-
cem vivas e tensas; em vez de evolução, temos a explosão, um piscar
de olhos em que tudo permanece e ao mesmo tempo muda”
123
O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
12 Vale ressaltar, ainda que não compreendemos essa posição exotópica como exclu-
sividade do/a professor/a formador/a: o/a aluno/a pode ser um excedente de visão
para o/a professor/a também. Apesar de o/a professor/a formador/a ocupar uma
posição hierárquica superior ao/à professor/a-licenciando/a, pensamos que deve
haver uma relação colaborativa, dialógica, mais isonômica, em que um se vê pelos
olhos do outro, através do espelho do outro.
124
O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
Finalizando o diálogo
A discussão do material empírico deste estudo mostrou que os
posicionamentos identitários dicotômicos dos/as professores/as-licen-
ciandos/as durante o curso de Letras, sobretudo no Estágio Supervisio-
nado de Língua Inglesa, trouxeram implicações para a sua formação
docente, como: sensação de despreparo e insegurança para atuar como
docentes, seja por desconhecimento dos conteúdos a serem ensinados na
língua inglesa, das questões metodológicas ou até mesmo da própria
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O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
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O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
Referências
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University of Minnesota Press, 1984.
______. Para uma filosofia do ato. Trad. Carlos Alberto Faraco e Cristóvão
Tezza (tradução não revisada, exclusiva para uso didático e acadêmico) da edição
americana Toward a Philosophy of the Act. Austin: University of Texas Press, 1993.
______. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Editora Hucitec, 2006.
127
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JORDÃO, C. M.; BUHRER, É. A. C. A condição de aluno-professor de língua
inglesa em discussão: estágio, identidade e agência. Educação e Realidade, v. 38, n.2,
p. 669-682, 2013.
KRAMER, S. A educação como resposta responsável: apontamentos sobre o outro
como prioridade. In: FREITAS, M. T. A. (Org.). Educação, arte e vida em Bakhtin.
Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. p. 29-46.
KUMARAVADIVELU, B. The postmethod condition: emerging strategies for
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
128
O ESTÁGIO DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE
(RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E AGÊNCIA DOCENTE
RIBEIRO, N. B. O discurso da relação entre teoria e prática na formação do
professor de português. Signum: Estudos da Linguagem, Londrina, v. 16, n. 2, p.
271-292, dez. 2013.
ROSA, G. Grande sertão: veredas. Editora Nova Aguilar, 1994.
SILVESTRE, V. P. V. Colaboração e crítica na formação de professores de línguas:
teorizações construídas em uma experiência com o Pibid. Campinas: Pontes, 2017.
SOBRAL, A. A concepção de sujeito do Círculo. In: SOBRAL, A. (Org.). Do
129
POR UMA ECOLOGIA DE SABERES
130
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
6.
“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO
E SEXUALIDADE”: PROBLEMATIZAÇÕES REALIZADAS
Gosto de ser gente porque, como tal, percebo afinal que a cons-
trução de minha presença no mundo, que não se faz no isola-
mento, isenta de influência das forças sociais, que não se
compreende fora da tensão entre o que herdo geneticamente e o
que herdo social, cultural e historicamente, tem muito a ver
comigo mesmo. (FREIRE, 1996, p. 53).
Palavras iniciais1
Esta epígrafe diz muito sobre nosso tema, apesar do espaço de
tempo que separa esses dois estudos na cronologia da vida. Gostar de ser
gente e de se desafiar a reler o mundo tal como está, colocando sua
presença nele como possibilidade de mudar o mundo (LOPES;
BORGES, 2015) é algo que temos aprendido com cada uma das leituras
que fazemos dentro dos estudos das perspectivas críticas e agora sobre o
desafio de trazer a decolonialidade para a sala de aula de línguas. Mais
131
“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
forte ainda é a ligação dessa epígrafe com nosso tema, afinal, o ato de
mostrar-se em redes sociais pode ser visto como um ato de releitura de
si, de enfrentamento e de ressignificações a respeito de questões de
autoimagem e da própria vida, o que pode se ligar a este transformador
ato de gostar de ser gente. Por isso a escolhemos para abrir este capítulo,
que é fruto de reflexões que emergiram durante a defesa de Mestrado do
primeiro autor, realizada no ano de 2017. À ocasião, uma das professo-
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
132
“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
Contribuições teóricas
Borelli e Pessoa (2011), no esteio das reflexões de Moita Lopes
(2006a), argumentam que estudos recentes realizados no campo da LA
têm revisado seus princípios teórico-metodológicos e proposto cami-
nhos mais críticos por parte dos/as linguistas aplicados/as. Como exem-
plo, as autoras mencionam estudiosos/as que defendem a LA como
prática problematizadora (CAVALCANTI, 2006; MOITA LOPES,
2006a, 2006b, 2013; PENNYCOOK, 2001, 2004, 2006, 2012), a qual
elas alegam ter por objetivo maior “questionar tudo o que é visto como
pronto ou estabelecido, expondo as relações de poder que as subjazem e
contribuem para sua manutenção” (BORELLI; PESSOA, 2011, p. 17).
Para as estudiosas, a LA vista sob essa ótica nos provoca a pensar que
todo conhecimento é contingente, parcial e reflete historicamente os
interesses de quem o produz, o que equivale dizer em termos de ciência
tradicional, da classe dominante, que por meio de silenciamentos e
descredibilização de pontos de vista impõem sua versão de mundo, de
história e de ciência. Em outras palavras, a ciência moderna oprimiu
vozes e, com elas, subjetividades, o que tem sido chamado por Sousa
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“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
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“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
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“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
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“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
Tris: Some times it’s not that, some times it’s I don’t like it so
much, but I WANT to like it. So I SHOW the picture for the
others. Maybe, if they tell me that I’m beautiful, maybe, I’ll feel
too.
Annogle: So you wanna hear comments.
Tris: Some people, yes.
Annogle: But, what about you?
Tris: Sometimes I need it, because I don’t think that I am so…
(a participante gesticula com as mãos)
Annogle: What is that? (referindo-se ao gesto da colega)
(Tris não responde)
Don Perignon: That’s all!
141
“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
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“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
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“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
Tris relata que tira selfies quando está triste. Tal prática, a seu ver, é
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
Tris: I take selfies when I’m sad, when I have some trouble with
my self, when I’m not so good, I’ll put a make-up and I’ll tell my
self: You HAVE to be good, you have to put a make-up, to put
a lipstick and BE GOOD. Don’t look at this face. And these
kinds of photos are the most comments, and they are the
pictures that I’m most sad.
144
“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
Considerações Transitórias
Conforme apontam as nossas problematizações a respeito do curso
e de seus/suas participantes, este estudo não somente nos permitiu
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“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
Referências
ALMEIDA, R. R. Educação linguística crítica de aprendizes de inglês:
problematizações e desestabilizações. 2017. 144f. Dissertação (Mestrado
Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologia) – Universidade Estadual
de Goiás, Anápolis, 2017.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed.,
2001.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro.
Jorge Zahar Ed., 2005.
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de
Ciência Política, nº11. Brasília, maio – agosto de 2013, pp. 89-117.
BORELLI, J. D. V. P. O estágio e o desafio decolonial: (des)construindo sentidos
sobre a formação de professores/as de inglês. 2018. 222 f. Tese (Doutorado em
Letras e Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás,
Goiânia, 2018.
BORELLI, J. D. V. P.; PESSOA, R. R. Linguística aplicada e formação de
professores: convergências da atuação crítica. In: BORELLI, J. D. V. P.; PESSOA,
R. R. (Org.). Reflexão e crítica na formação do professor de língua estrangeira.
Goiânia: Editora UFG, 2011, p. 15-30.
CAVALCANTI, M. C. Um olhar metateórico e metametodológico em pesquisa
em linguística aplicada: implicações éticas e políticas. In: MOITA LOPES, L. P.
da (Org.). Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial,
2006, p. 233-252.
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letramentos
“FALAR DE ‘SELFIE’ TAMBÉM É FALAR DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
152
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
7.
MULTILETRAMENTOS: UMA EXPERIÊNCIA COM
PROFESSORES DE LÍNGUAS EM FORMAÇÃO
A
formação inicial de professores de línguas é uma etapa impor-
tante para um profissional apto a lidar não só com as competên-
cias relativas à sua formação específica, mas com conhecimentos
e habilidades relacionados às transformações tecnológicas do
mundo hodierno, transformações essas que geram impactos e mudan-
ças nas formas de se fazer educação. No entanto, o processo de forma-
ção do professor não termina ao final da formação inicial, pelo contrá-
rio, o processo de formação deve ser contínuo, sempre procurando o
aperfeiçoamento dos saberes necessários à atividade profissional e o
acompanhamento dos avanços do conhecimento e das tecnologias que
emergem em meio ao cenário social e político contemporâneo.
Sendo assim, entendemos que o professor de línguas em formação
deveria participar de experiências de ensino e aprendizagem mediadas
por diversas tecnologias e mídias digitais (internet, aplicativos em dispo-
sitivos móveis, redes sociais, jogos e etc.), de forma que tais experiências
impulsionassem, cada vez mais, práticas de ensino e de aprendizagem
de línguas relacionadas aos multiletramentos.
Posto isso, relatamos, neste capítulo, parte de uma pesquisa em
andamento que propõe como objetivo geral investigar a formação de
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MULTILETRAMENTOS
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MULTILETRAMENTOS
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MULTILETRAMENTOS
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MULTILETRAMENTOS
1 Disponível em:<http://enfople.observatorioueg.com.br/site/apresentacao.php#-
contenter> Acesso em: 15 jun. 2018.
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MULTILETRAMENTOS
Plataforma Padlet
Para viabilizar experiências com práticas de multiletramentos,
escolhemos o aplicativo Padlet como instrumento de interação, de
leitura e de produção escrita entre os participantes da pesquisa.
O Padlet foi utilizado como instrumento de produção e de coleta
de informações, por intermédio da interação online dos participantes.
Vale ressaltar que tal aplicativo não foi utilizado nesta pesquisa
somente para analisar o mero uso do mesmo como recurso tecnoló-
gico, mas sim como ferramenta que disponibiliza um ambiente virtual
capaz de proporcionar práticas de multiletramentos ao professor de
línguas. Ou seja, o Padlet foi utilizado com a finalidade de servir
como um espaço de construção e de ampliação de sentidos, que,
caracterizado pela multiplicidade de linguagens e pela possibilidade
de lidar com a diversidade cultural de maneira crítica, pode propor-
cionar aos professores de línguas o envolvimento em práticas de multi-
letramentos, por intermédio das TDIC.
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MULTILETRAMENTOS
164
MULTILETRAMENTOS
165
MULTILETRAMENTOS
• Enquete
De modo geral a entrevista pode ser considerada como o encontro
entre duas pessoas, no qual uma delas tenha a intenção de coletar infor-
mações sobre um determinado assunto, por intermédio da conversação.
Devido a uma série de fatores que dificultam o processo de entrevistas
em encontros presenciais (transcrição das entrevistas, distância geográ-
fica, apreensão do participante em responder às perguntas, inadequação
de horários e etc.) o pesquisador pode ser levado a optar pela realização
de entrevistas online uma vez que seus pretensos participantes podem
ser alcançados por e-mail ou outra ferramenta da internet.
Seguimos a organização de entrevista online assíncrona que, na
perspectiva de Flick (2009), significa que o pesquisador envia suas
perguntas aos participantes e eles enviam suas respostas após algum
tempo, não sendo necessário que ambos (entrevistador e entrevistados)
estejam online simultaneamente. Com base nesta perspectiva, vale
ressaltar que as enquetes publicadas no mural Conexão Imersão 2018
foram enviadas em três dias consecutivos (uma a cada dia) e o envio das
respostas pelos participantes foi realizado posteriormente, conforme a
disponibilidade de cada um.
Após a personalização do mural (título, descrição do objetivo do
mural, escolha do papel de parede, recursos de privacidade e etc.), foram
enviados convites de acesso ao mural via e-mail, que foram disponibili-
zados pela organização do XIV ENFOPLE. O conteúdo do e-mail
consistiu em informações importantes relacionadas ao Padlet e ao mural
Conexão Imersão 2018, bem como na disponibilização do link de
acesso aos mesmos.
A enquete, em linhas gerais, consiste
166
MULTILETRAMENTOS
3 Disponível em:<http://educacaopublica.cederj.edu.br/revista/artigos/o-que-voce
-precisa-saber-para-realizar-uma-enquete> Acesso em: 16 jun. 2018.
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MULTILETRAMENTOS
• Post
Utilizamos o post, caracterizado como “mensagem ou conteúdo
publicado numa rede social, num fórum ou num blog; publicação;
postagem”4, como instrumento de pesquisa.
Os participantes foram motivados a publicarem diferentes posts
no Padlet, uma vez que a publicação de posts é um dos recursos dispo-
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
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Figura 2 – Publicação de panfleto informativo frente
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Somente texto
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Somente fotografia
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satisfatória
insuficiente
nenhuma
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apenas nas teorias. ((Sempre achei muito vago isso.)) Este foi um
dos motivos pelo qual eu fiz uma especialização em Novas
Tecnologias na Educação, na modalidade EAD. Espero um dia
ser docente na universidade, em curso de formação de professo-
res e então, ministrar essa ou qualquer outra disciplina fazendo
a diferença, levando sempre em consideração o contexto tecno-
lógico ao qual a sociedade está inserida atualmente.” C. M.
Considerações finais
A característica dinâmica da sociedade atual coloca uma série de
desafios aos professores de línguas em formação inicial. Dentre esses
desafios se encontra a familiarização com as TDICs, com vistas aos
multiletramentos.
Durante o decorrer deste estudo foi exposto que a relação dos profes-
sores com o mundo tecnológico moderno não deve abranger somente a
aquisição e o domínio de técnicas para a utilização dos seus recursos, mas
também o desenvolvimento de diversas habilidades linguísticas que
envolvem diferentes modalidades e contextos culturais.
Ao nos reportarmos aos multiletramentos podemos, de forma
geral, dizer que este termo nasceu do anseio de pesquisadores em dar
ênfase ao desafio da diversidade cultural, linguística e midiática intro-
duzida pelas novas TDICs. Possui como característica crucial a multi-
plicidade de linguagens, semioses e mídias e a multiplicidade de cultu-
ras advindas das pessoas que dão significação a este fenômeno.
Destacamos, ainda, a relação entre a língua, as tecnologias e a
cultura, de forma que no mundo digital as formas de viver e dizer se
tornam complexas, fronteiriças, instáveis e híbridas (GARCIA
CANCLINI, 1997). Tais características do mundo hodierno refletem
179
MULTILETRAMENTOS
Referências
AGUIAR, M. J. D.; FISCHER, A. A pedagogia dos multiletramentos: uma
proposta para a formação continuada de professores. Leia Escola, Campina Grande:
v. 12, n. 2. Disponível em: <http://revistas.ufcg.edu.br/ch/index.php/Leia/article/
view/285>. Acesso em: 03 fev. 2017.
AVELAR, Michely Gomes; FREITAS, Carla Conti de; LOPES, Cristiane Rosa. As
tecnologias da Informação e da Comunicação e a formação de professores de língua
inglesa. Revelli. V. 10, n. 3, 2018, p. 174-184.
BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. João
Wanderley Geraldi (Trad.). Universidade Estadual de Campinas, Departamento de
Linguística, Revista Brasileira de Educação. Nº 19, Jan/Fev/Mar/Abr 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio. Brasília: MEC, 2006.
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MULTILETRAMENTOS
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182
8.
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE
LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA: PRÁTICAS
U
m dos anseios que têm nos acometido nas ações de pesquisa que
vimos empreendendo nas nossas salas de aulas de línguas
adicionais diz respeito a quais habilidades privilegiar nesse
contexto. Em outras palavras, a grande questão é: o que focali-
zar para que as/os educandas/os possam experienciar as demandas de
uma sociedade global?
Fabrício (2006), ao discorrer acerca do momento contemporâneo
em que vivemos, elenca os nomes de alguns estudiosos (BAUMAN,
2001; CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999; SENNET, 1999)
para destacar o fato de que eles descrevem uma multiplicidade de fenô-
menos organizados sob a denominação geral de globalização. Dentre
algumas das particularidades listadas, a autora aponta a transnacionali-
zação político-econômica e as mudanças na compreensão espaço-tempo.
Esclarece ainda que este novo cenário compõe uma “trama movente”
envolta por novas significações, sentidos, práticas, processos de subjeti-
vação e relações discursivas.
Menezes de Souza (2011) também demonstra inquietações no que
concerne ao mundo globalizado, direcionando-as, entretanto, para as
práticas docentes nesse novo contexto. Dessa maneira, o estudioso faz
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3 “Material empírico” é o termo adotado por Denzin e Lincoln (2006) para desig-
nar o que ordinariamente se conhece como “dado”.
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EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
Metodologia
Este estudo se insere no escopo das pesquisas qualitativas. Sobre
essas pesquisas, Andrade (2017, p. 21 – 22) afirma, com base em Denzin
e Lincoln (2006):
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EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
Análise
Após o estudo do material empírico, composto pelos questionários
e pelas notas de campo da primeira autora, nós estabelecemos três eixos
temáticos de análise: A) Percepções positivas sobre o tema; B) Percep-
ções negativas sobre o tema e; C) Resistências.
[1]
What’s your opinion about the activity?
In my opinion, these activities were important for raising
awareness of people and make us understand that we have to
respect the diversity of our world.
What did you learn with them?
192
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
[2]
What’s your opinion about the activity?
193
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
Outro fato que nos chama a atenção é que a maioria das repostas
parecem estar alinhadas à perspectiva de trabalho da professora,
conforme ela mesma destaca no registro de uma das notas de campo:
[3]
Hoje terminamos o projeto sobre o tema “Transsexuality” com
os alunos da turma de Produção em Áudio e Vídeo. Engraçado
que as opiniões me pareceram tão uniformes! Todos entende-
ram a necessidade de desafiar o discurso heternormativo que
impera sobre nossa sociedade. Não houve piadinhas (como é
comum acontecer), mas sim um clima de reflexão e de um
suposto respeito sobre tudo que conversamos até aquele ponto.
(Maria Eugênia. Nota de campo 6)
194
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
[4]
Acho excelente a conscientização dos alunos e a abordagem do
assunto na school, pois se a school is para learn, devemos learn a
respect the other, independently da sua sexual opinion.
(Botelho. Agro. Questionário sobre a atividade)
[5]
As aulas trouxeram uma área nova no meu ver. The classes
contributed to a better learning and brought more explanation
on the theme.
(Shaka. Agro. Questionário sobre a atividade)
195
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
[6]
Hoje vivemos uma situação embaraçosa em sala de aula.
Enquanto terminávamos de interpretar o texto sobre transexua-
lidade, Vick foi agressivo e extremamente incisivo ao dizer que
não concordava que houvesse políticas públicas que asseguras-
sem os direitos de gays e trans e que coibissem agressões ou
violências contra elas/es. Falou que o simples fato de serem gays
não podia lhes garantir o direito de ser protegidas/os. Fui dura
com ele. Disse que ele não entendia o que era sofrer em um
mundo normalizado, já que era um rapaz branco, alto e perten-
cente a uma classe social privilegiada. Os ânimos ficaram acalo-
rados e muitas/os alunas/os intervieram para que parássemos de
discutir.
(Maria Eugênia. Nota de campo 4)
[7]
Após essa discussão, Vick passou a não mais se posicionar sobre
de forma veemente. No último dia de trabalho com o projeto, o
aluno apresentou a história de uma trans que foi agredida em
um restaurante por um cliente e que foi vítima da negligência
médica no hospital após ter sido esfaqueada. Ele, inclusive,
196
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
Resistências
Ao tratar das relações de poder na perspectiva da problematização
das práticas, Foucault (1995; 2014) destaca e enfatiza a importância das
formas de oposição ao poder, ou seja, das resistências que, grosso modo,
podem ser entendidas como lutas antiautoritárias. Nesse sentido, desta-
camos o posicionamento de Sam Martins:
197
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
[8]
What’s your opinion about the activity?
Eu acho bastante importante trabalhar essas questões para criar
uma geração menos preconceituosa. É importante também para
uma boa formação de caráter.
What did you learn with them?
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
[9]
What’s your opinion about the activity?
Essa atividade colocada em sala de aula não foi legal por abordar
um tema que a maioria dos homens tem preconceito. Eu não
tenho desde que não cheguem perto de mim.
198
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Referências
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202
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS
Activity – “Transsexuality”
Warmer…
c) – if you were not the person your parents wanted you were?
_________________________________________________________________
2- Do you like soup operas? If yes, do you usually watch “A Força do Querer”?
_________________________________________________________________
Ivana is transgender. This means that she was born with the body of a woman, but
identifies herself as a man. It is almost as if there was a confusion in the factory, and
at the time of the individual’s assembling, she had received a body different from the
genre with which she identifies herself. It seems much more complicated than it is,
but Ivana’s mind thinks one thing and her body shows another. In a much simpler
comparison, think of a Brazilian man, who was born and lived in Brazil all his life,
but only speaks French when he opens his mouth. There is a conflict between what
she thinks and the body she gained at birth.
The suffering of the character is totally justifiable for this. It has nothing to do with
203
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
physical attraction – she likes men or women does not influence the way she sees
herself and identifies herself as a person.
The identification that we speak goes far beyond the discourse of learning to love
oneself. It is you to look in the mirror and not be represented by the reflection you
see. You do not recognize the person who looks at you back. She’s a stranger to you.
In this case (and elsewhere), learning to love would mean accepting that your body
does not represent who you truly are, and therefore it needs to be adapted. Think of
Thammy Miranda. Once a woman, he realized that his body did not match the image
he had of himself and made a process of sex change.
What happens is that, because of the prejudice and transphobia that these people face,
because of the lack of treatment or because they do not understand what happens to
themselves, they end up developing serious psychiatric illnesses, such as depression
itself. Data in Brazil are still poorly collected and disseminated, but we already know
that in the United States, 40% of transgender people have already attempted to commit
suicide – either because of family rejection, prejudice or lack of understanding.
The effort, then, is to recognize that transsexuality is not a disease (as it is still considered
by many), but rather a question of identity that needs attention: what these people
need is support and inclusion, in addition to their basic rights Guaranteed.
Telling this story is very important for one reason: Brazil is the country that kills
transsexuals and transvestites the world over. According to the NGO Transgender
Europe, the country has killed 868 people in the last eight years. It is more than triple
the number of murders recorded by the second in the list, released by the organization
in 2016. In Mexico were recorded 256 deaths in the same period.
Our society is chauvinistic and homophobic – the motives are many, such as historical
violence and the State’s lack of commitment to investigate these violent cases, in
addition to the culture closely linked to the Catholic religion, distorted and used to
dictate rules of behavior in society. It is a violence against what one does not know and
does not understand, with what is considered ‘different’.
Exposing this subject in a soap opera, which everyone has access to, is a way of showing
204
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
that these people already suffer many sufferings until they understand who they are
and the rejection of society only aggravates a situation that is already complicated
by itself. The goal is to promote information and try, in some way, to make people
aware that transsexuals need to be accommodated. There are no public policies that
effectively protect these people from such an old view of what is considered ‘right and
wrong’.
Ivana still has a long way to go – it is not from one day to the next that you accept that
4- True or false?
( ) Ivana is gay.
( ) Ivana is transgender.
( ) There is no problem in the relationship between Ivana’s mind and body.
( ) It’s important to talk about the theme at schools.
5- Answer in Portuguese:
a) What is transsexuality?
_________________________________________________________________
c) Give your opinion about these sentences: “Exposing this subject in a soap opera,
which everyone has access to, is a way of showing that these people already suffer
many sufferings until they understand who they are and the rejection of society only
aggravates a situation that is already complicated by itself. The goal is to promote
information and try, in some way, to make people aware that transsexuals need to be
accommodated. There are no public policies that effectively protect these people from
such an old view of what is considered ‘right and wrong’.”
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
d) Watch the video clip of the song “City” and try to make connections with Ivana’s
story.
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
205
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
206
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
During the last three classes, we have talked about “transsexuality”and violence
against trans and gay people around Brazil. So, I want to ask you 3 questions:
1. What is your opinion about the activities?
2. What did you learn with them?
3. Complete the sentence: “In the end of the discussion, I…”
207
EXPANSÕES E (RES)SIGNIFICAÇÕES EM AULAS DE LÍNGUA INGLESA NA ESCOLA PÚBLICA
208
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
9.
O USO DOS JOGOS DIGITAIS COMO PRÁTICA
DE MULTILETRAMENTO: DESAFIO NA FORMAÇÃO
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Os estudantes da sociedade contemporânea fazem parte de uma
geração conhecida como nativos digitais, uma geração alimentada pelo
fluxo contínuo de informações, de ritmo acelerado, constantemente
conectada às tecnologias. Prensky (2012, p.65) explica que “as ‘altera-
ções mentais’ ou ‘mudanças cognitivas’ causadas pelas novas tecnolo-
gias e mídias digitais levaram a uma grande variedade de novas necessi-
dades e preferências por parte da geração mais jovem, especialmente na
área da aprendizagem”.
Essa geração está habituada a lidar com diferentes semioses
advindas do ambiente virtual, tais como imagens, vídeos, áudios,
jogos e a forma como interagem com os recursos tecnológicos têm
reconfigurado as formas como se comunicam, como se relacionam e
consequentemente, como aprendem.Um dos recursos tecnológicos
expressivamente utilizado, multimodal e com grande potencial educa-
cional é o jogo digital. Os jogos são constituídos por elementos imagé-
ticos, textuais, sonoros, culturais e uma série de elementos que envol-
vem os multiletramentos.
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O USO DOS JOGOS DIGITAIS COMO PRÁTICA DE MULTILETRAMENTO
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O USO DOS JOGOS DIGITAIS COMO PRÁTICA DE MULTILETRAMENTO
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O USO DOS JOGOS DIGITAIS COMO PRÁTICA DE MULTILETRAMENTO
possibilita aprender e ter contato com outras línguas por meio dos
tantos recursos disponíveis, recursos estes que poderão ser levados às
salas de aula, mesmo em contextos desprivilegiados, e permitir que os
alunos tenham também autonomia de buscar e aprender mesmo fora da
sala de aula. Perceber que as vivências e experiências de mundo estão
atreladas à sala de aula e que os conhecimentos não devem ser isolados.
Deste modo, aspectos léxico gramaticais, sociais e culturais devem ser
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
1 https://www.pesquisagamebrasil.com.br/ https://www.pesquisagamebrasil.com.br/
212
O USO DOS JOGOS DIGITAIS COMO PRÁTICA DE MULTILETRAMENTO
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O USO DOS JOGOS DIGITAIS COMO PRÁTICA DE MULTILETRAMENTO
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O USO DOS JOGOS DIGITAIS COMO PRÁTICA DE MULTILETRAMENTO
2 When people learn to play video games, they are learning a new literacy.
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O USO DOS JOGOS DIGITAIS COMO PRÁTICA DE MULTILETRAMENTO
Level complete!
No decorrer deste trabalho, buscamos refletir sobre a realidade da
formação do professor de Língua Inglesa para o uso das tecnologias de
informação e comunicação, considerando as mudanças socioculturais e
tecnológicas que emergem na sociedade moderna. A partir da análise do
Projeto Pedagógico do Curso de Letras de uma universidade pública do
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
Referências
AVELAR, Michely Gomes; FREITAS, Carla Conti de; LOPES, Cristiane Rosa. As
tecnologias da Informação e da Comunicação e a formação de professores de língua
inglesa. Revelli. V. 10, n. 3, 2018, p. 174-184.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP 15/2017. Diário
Oficial da União, Brasília, 21dez. 2017, Seção 1, p. 146. Disponível em:<http://
portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/base-nacional-comum-
curricular-bncc>. Acesso em: 20 ago. 2018.
FREIRE, Maximina Maria. Formação tecnológica de professores:
problematizando, refletindo, buscando. In: SOTO, Ucy; MAYRINK; Mônica
222
O USO DOS JOGOS DIGITAIS COMO PRÁTICA DE MULTILETRAMENTO
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línguas estrangeiras
para crianças
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O USO DOS JOGOS DIGITAIS COMO PRÁTICA DE MULTILETRAMENTO
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Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
10.
ENGLISH FOR KIDS:
ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
E
ste capítulo tem como objetivo apresentar os cursos de extensão
“Formação Docente: ensino de inglês para crianças”1 e “English
for Kids” 2, e evidenciar o cumprimento de uma das missões da
Universidade, no que tange à integração entre ensino, pesquisa e
extensão,
Considerando a complexidade da formação docente para a área em
discussão e sabendo da importância do ensino de língua inglesa para
crianças (LIC), surgiram as seguintes inquietações: A) Em que medida
1 O curso “Formação Docente: ensino de inglês para crianças” é uma ação de exten-
são proposta e desenvolvida pela Profa. Ms. Giuliana Castro Brossi, docente da
UEG / Câmpus Inhumas. O curso tem carga horária total de 50 horas. Tal ação
atende professores em formação inicial e continuada que se interessem pela área.
2 O curso de inglês para crianças, em parceria com o centro de idiomas, visa aten-
der crianças de 7 a 10 anos. Tal modalidade de ensino teve início em 2016,
sendo desenvolvido como projeto de Iniciação Científica por uma bolsista pós-
graduanda do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Linguagem, Cultura e
Ensino, ofertado pela Universidade Estadual de Goiás – Câmpus Inhumas. Além
da oferta gratuita de ensino de LIC, o curso disponibiliza a turma para observa-
ção e prática de ensino de LIC. O curso atende cerca de vinte crianças da comu-
nidade, oferecendo semanalmente uma hora e meia de aulas contextualizadas e
embasadas em pressupostos teóricos transdisciplinares e de formação da cidada-
nia que norteiam o ensino de Inglês para as crianças.
227
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
228
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
çam a aprender inglês cada vez mais é menor por todo o mundo”. Diante
do exposto, parece-nos necessário cuidar da formação dos profissionais
que atuam nesse contexto, corroborando com Barcelos, Sá Batista e
Andrade (2004, p. 12), no ideal de que “é cuidando da formação de
nossos professores e fazendo disso uma prioridade que estamos contri-
buindo para a melhoria da educação”.
No entanto, a formação de professores para atuarem nesse contexto
229
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
ensino de inglês para crianças”, sendo reeditado por mais dois anos
(2016 – 2017). Em 2017, foi criada a disciplina de modalidade núcleo
livre “Ensino de Língua Inglesa para Crianças (LIC)”, no intuito de
buscar complementar as bases teóricas e pedagógicas, ainda que insufi-
cientemente, desse professor de LIC em formação.
Em sintonia com o que defendem Dutra e Mello (2004), o Câmpus
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
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ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
Aparato metodológico
Esta investigação configura-se como um estudo de caso (ANDRÉ,
1995) de natureza qualitativo-interpretativista (ERICKSON, 1990, apud
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
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ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
Fonte: As autoras.
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ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
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ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
Diálogos e ressignificações
Ao serem indagadas acerca de seus conhecimentos prévios referen-
tes ao ensino e aprendizagem de LIC antes de se ingressarem no Curso
de Extensão – Formação Docente: ensino de inglês para crianças, ofere-
cido pela UEG / Câmpus Inhumas, as participantes revelaram não
terem conhecimento suficiente nessa área, demonstravam várias cren-
ças, inclusive, a de que ensinar inglês para crianças era fazer desenhos
no quadro com seus respectivos nomes, e que é mais fácil ensinar para
crianças. A partir das discussões advindas das leituras, seminários,
problematizações e práticas, elas perceberam que ensinar inglês para
crianças é muito mais que isso, que as crianças podem usar a língua em
situações reais de fala, e refletir acerca de aspectos sociais, culturais e
contemporâneos, conforme o excerto abaixo:
Eu tinha pouco conhecimento, pois esse é meu primeiro curso
superior, e esse curso veio para acrescentar muito na minha vida
pessoal, mesmo com a falta de experiência espero suprir minhas
dificuldades e dar aulas para crianças. (P3)
Não tinha tantas ideias do curso, imaginava que era tratado
apenas as pequenas coisas do ensino, como cores, numerais, alfa-
beto, família. Porém, depois de conhecer me surpreendi. (P5)
239
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
da rede municipal.
240
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241
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
5 Falas dos pais e/ou responsáveis pelas crianças. No decorrer do curso, em 2017,
as famílias das crianças atendidas nesta ação responderam aos formulários de
avaliação.
242
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
243
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
Últimas considerações
Neste estudo, buscamos apresentar as contribuições dos cursos de
extensão “Formação Docente: ensino de inglês para crianças”, e “English
for Kids” na formação inicial e continuada de professores da Universi-
dade Estadual de Goiás (UEG / Câmpus Inhumas). Primeiramente,
discutimos o referencial teórico sobre o ensino e a formação crítica de
professores de LIC, e os novos contextos que se configuram. Na sequên-
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
244
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
Referências
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SP: Pontes Editores, Arte Língua. 2004, p. 11 – 29.
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BREAULT, D. A. The challenges of scaling-up and sustaining professional
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ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
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DARLING-HAMMOND, L. Constructing 21st-Century Teacher Education.
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DARLING-HAMMOND, L. Powerful Teacher Education: lessons from exemplary
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DIAS, J. K. O; BROSSI, G. C / Reflexões e inquietações acerca do ensino de língua
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DUTRA, D. M; MELLO, H. A prática reflexiva na formação inicial e continuada
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de língua estrangeira: experiências e reflexões. Campinas, SP: Pontes Editores, Arte
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University Press. 2000.
FURLONG, J.; CAMPBELL, A.; HOWSON, J.; LEWIS, S.; MCNAMARA, O.
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the Teacher Training Agency National Partnership Project. Scottish Educational
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In: COPE, B.; KALANTZIS, M.(Eds.). Mutliliteracies: literacy learning and the
design of social futures. London; New York: Routledge, 2000, p. 43-68.
246
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
247
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
248
11.
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO
NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
P
esquisadores como Lenartovicz (2013) e Leffa (2014) afirmam
que, com a globalização e a inserção tecnológica na sociedade, o
modelo tradicional de aprendizagem não é mais suficiente para
motivar alunos a construírem o conhecimento. Deste fato decorre
a necessidade de inovação e de mudanças no processo de ensino e apren-
dizagem. Assim, o objetivo principal deste capítulo é realizar um recorte
teórico sobre um software interativo e algumas reflexões que ele nos
trouxe com a sua pilotagem. Um aplicativo produzido por nós que
propõe o uso de canções para o processo de ensino e aprendizagem da
língua inglesa por crianças por meio de jogos eletrônicos. A ideia surgiu
ao observamos que crianças de seis a dez anos, do contexto que atuamos
– curso livre – apresentam facilidade na produção oral da língua inglesa,
principalmente, quando canções infantis são utilizadas como instru-
mento de ensino. Contudo, também notamos que poderia ser perti-
nente o uso de recursos tecnológicos adicionais, que pudessem permitir
aprendizagem e concomitante, motivação e prazer. Dessa forma,
mediante situações reais do nosso contexto, trouxemos para a pesquisa1
249
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
Fundamentação Teórica
rando as questões éticas acerca de coautoria, ressaltamos que, por ser fruto da
pesquisa em nível de mestrado da primeira autora, este artigo foi co-construído
pelas duas autoras a partir das reflexões durante o processo de orientação.
2 De acordo com o site Só língua inglesa, as Nursery Rhymes são canções de crianças,
ricas em rimas, que equivaleriam às cantigas de roda (ou cirandas ou brinca-
deiras de roda) e às parlendas e cantigas de ninar do folclore brasileiro. Os pais
costumam cantar essas canções para seus filhos quando eles ainda são bebês, e as
crianças normalmente aprendem logo as palavras. As rimas são populares porque
são curtas, fáceis de pronunciar e contam histórias simples, em geral divertidas.
Aprender Nursery Rhymes ainda nas fases iniciais da infância auxilia no desenvol-
vimento de vocabulário e, em alguns casos, na habilidade da contagem. Também
ajuda as crianças a desenvolverem o gosto pela música.
250
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
251
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
7 São crianças muito mais atentas e observadoras. Aparentam ser mais inteligentes,
mas essa percepção se deve por estarem inseridas em um ambiente com muito
mais estímulos sensoriais, com brinquedos criados cuidadosamente para desen-
volver sua audição, seu tato e sua visão (ALVES, 2016. Disponível em: <http://
www.marisapsicologa.com.br/geracao-alpha.html>).
252
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
8 “It is the distance between the actual development level as determined by inde-
pendent problem solving and the level of potential development as determined
through problem solving under adult guidance or in collaboration with more
capable peers” (VYGOTSKY, 1998, p. 38).
253
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
expor suas emoções e construir um mundo do seu jeito. Por essa razão,
o brincar traz diversos benefícios para o desenvolvimento infantil e para
o processo de ensino e aprendizagem.
Um dos pensadores que desenvolveu uma teoria sobre o tema foi
Vygotsky, quem sempre levou em conta a individualidade de cada
criança e o meio cultural que está inserida. De acordo com Vygotsky
(1998), para entender o desenvolvimento da criança, é preciso verificar
as necessidades e os incentivos que a colocarão em ação, até porque as
necessidades das crianças vão mudando conforme o seu desenvolvi-
mento. Dessa forma, é importante conhecê-las para entender que o seu
interesse muda conforme a maturidade, a motivação e o incentivo que
recebem no meio cultural que estão inseridas. Ao relacionarmos o
processo de ensino e aprendizagem com a leitura de Vygotsky (1998),
conclui-se que, por meio da maturação, há, sim, um percurso natural
do desenvolvimento. Contudo, é a ajuda e o contato com o outro da
mesma espécie e com o ambiente cultural que possibilita ocorrer situa-
ções propícias ao aprendizado.
A intervenção do jogo com a função de ser o instrumento media-
dor desse processo de ensino e aprendizagem pode ser um elemento-
chave para que a criança construa conhecimento em língua inglesa,
desenvolvendo, também, capacidades psicológicas ao brincar e ao
interagir com outros colegas, agindo na ZDP e proporcionando liga-
ção com o mundo real para que a aprendizagem se torne inconsciente
e significativa.
254
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
255
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
tuindo, desse modo, as novas práticas sociais de escrita (LENAR-
TOVICZ, 2013 p. 19).
256
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
[a] capacidade dos games em desenvolver a aprendizagem tem
despertado o interesse dos pesquisadores (GEE, 2004; SQUIRE,
2011; KAPP, 2012), a ponto de proporem a gamificação do
ensino, trazendo para o ambiente da escola o que tem sido feito
no mundo corporativo: assim como as empresas têm usado os
games para motivar e fidelizar os clientes, também as escolas
poderiam usar esses mesmos recursos para aumentar o interesse
9 Esse modelo começou a ser implantado por Oliveira e Barros (2013) quando se
observou a necessidade de o professor buscar estratégias para facilitar o acesso dos
alunos ao conhecimento de forma motivacional e significativa.
257
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
Metodologia
Após o desenvolvimento do aplicativo com canções infantis para
crianças com faixa etária de seis a dez anos que pudesse servir como
instrumento mediador no processo de ensino e aprendizagem da língua
inglesa, realizamos um Grupo Focal – definido por Morgan (1997)
como uma técnica de pesquisa qualitativa, derivada das entrevistas
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
10 Para que a pesquisa fosse aplicada por meio de um grupo focal, um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido foi elaborado pelas autoras e assinado por
todos os responsáveis das cinco crianças que participaram da aplicação do jogo e
da análise da pesquisa.
258
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
Conclusão
A decisão pela reflexão acerca do jogo desenvolvido ocorreu pelo
fato de querermos obter informações sobre a eficácia do produto educa-
cional mencionado. Ou seja, por meio dela, provavelmente, consegui-
ríamos visualizar se os nossos objetivos planejados seriam concretiza-
dos. Por essa reflexão notamos que a aquisição do conteúdo apresentado
nas canções não foi conquistada no primeiro acesso ao jogo, podemos
deduzir que isso se deu porque a apreensão do conhecimento é algo que
leva um longo processo de contato com a língua e o conteúdo almejado
precisa ser explorado pelo público-alvo frequentemente. Dessa forma,
há a necessidade de se pensar em como promover mais situações dentro
do jogo que deem suporte para que esses objetivos aconteçam, até
porque a motivação e o interesse foram perceptíveis.
Foi possível, também, observar que o jogo é apenas uma ferra-
menta, e somente torna-se instrumento quando a criança se apropria
259
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
Referências
ALVES, Marisa. Geração Alpha e o Futuro da Educação. Revista Tutores. Dez.
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BROTTO, Fábio. O. O Jogo e o Esporte como um Exercício de Convivência. 4. ed.
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LEFFA, Vilson J. Gamificação Adaptativa para o Ensino de Línguas. In:
CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA,
260
A CANÇÃO INFANTIL EM JOGO INTERATIVO NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA POR CRIANÇAS
INOVAÇÃO E EDUCAÇÃO. Buenos Aires. Anais… Pelotas: Universidade
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LENARTOVICZ, Tiago. Letramento Digital e Participação de Professores em
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Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá,
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MORGAN, David. Focus group as qualitative research.London: Sage, 1997.
261
ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
262
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
12.
ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO
AO CURRÍCULO PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
A
discussão sobre a educação inclusiva obteve muitos avanços nos
últimos anos, deixando de ser apenas uma proposta “no papel”
para agora habitar as práticas em sala de aula. Pode-se dizer que
muitos conflitos e tensões relacionados a ensinar alunos com
deficiências foram vencidos através do estabelecimento de propostas
educacionais que servem especificamente a esta demanda. Estas
propostas têm como centro de sua ação a utilização de transposições
didáticas e de estratégias de acesso ao currículo, as quais visam propor-
cionar boas situações de aprendizagem e alcançar resultados positivos
junto aos aprendentes.
Contudo, é importante assinalar que no Brasil e no mundo, já há
muito tempo, observa-se e se discute a necessidade de transformar o
currículo e pensar sobre estratégias para garantir o acesso dos alunos
com deficiências. A própria LDB 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases
da Educação) e o Plano Nacional de Educação (2014) já apontavam de
alguma forma, em suas várias versões, a urgência de que toda equipe
escolar devia mover-se em conjunto para garantir o acesso e a perma-
nência dos alunos, respeitando as diferenças e o tempo de aprendiza-
gem de cada um. Tambémse destaca, neste âmbito, o documento
PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) – Adaptações Curricula-
263
ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO
PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
264
ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO
PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
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ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO
PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
Currículo e complexidade
Destarte, pode-se afirmar que o currículo está presente no coti-
diano escolar de forma tão naturalizada que pouca reflexão é feita a seu
respeito na lida diária dos docentes. Crê-se que a onipresença do currí-
culo nos corredores das escolas, muitas vezes leva ao esquecimento de
outros fatores também pertinentes à ação do docente em sala de aula
para além do conteúdo. Entretanto, a reflexão sobre o currículo não
pode furtar-se a discutir outros elementos com os quais ele se relaciona,
como por exemplo, o público ao qual se direciona, o recorte do conhe-
cimento que o caracteriza, a concepção de aprendizagem que o norteia,
as relações que estabelece com a sociedade em que se insere, etc.
Essa ausência de determinadas discussões quando se trata de
currículo pode ser mais bem entendida através da leitura de Richards
(2000) e de Veiga-Neto (2002). Primeiramente, observa-se em
Richards (2000, p.1), quando tratando da retomada histórica sobre o
surgimento do currículo no ensino de línguas (doravante EL), que a
história do currículo de EL tem início com a noção de planejamento
de curso (course design) e esse fato possivelmente contribuiu para a
demasiada atenção dada aos conteúdos escolares em detrimento a
outros aspectos do currículo em EL. Segundo ele, o planejamento traz
consigo a especificação do conteúdo e das instruções sobre o que será
ensinado e testado junto aos alunos. Tendo, portanto, como seu foco
a organização e a “sequenciação” dos conteúdos. Corroborando
Richards, Veiga-Neto (2002) aponta que os conteúdos ocuparam
durante muito tempo o centro das discussões sobre currículo, preva-
266
ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO
PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
267
ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO
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ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO
PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
269
ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO
PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
ambientais).
• Atitudinal (prevenção e eliminação de preconceitos, estereóti-
pos, estigmas e qualquer discriminação).
• Comunicacional (adaptação de código e sinais).
• Metodológico (adaptação e flexibilidade de técnicas e teorias,
abordagens e métodos pedagógicos).
• Instrumental (adaptação de equipamentos, materiais, recur-
sos e equipamentos pedagógicos).
• Pragmático (eliminação de barreiras invisíveis nas políticas e
proteção legal em vigor).
Dentre os aspectos mencionados, o atitudinal e ometodológico
merecem especial destaque por remeterem-se a um elemento muito
importante para o acesso e permanência dos alunos na escola: o profes-
sor. Crê-se que a ação docente é o ponto principal para que o aluno
tenha acesso ao currículo e se desenvolva da melhor maneira possível.
Para isso, é importante que o docente esteja apto a realizar um planeja-
mento que procure atender a realidade de seus alunos. Neste aspecto, a
questão da transposição didática ganha destaque ao ser uma das ferra-
mentas disponíveis para permitir o acesso, especialmente dos alunos
deficientes e com dificuldades de aprendizado.
Sobre o conceito de transposição didática, é possível dizer que este-
transformou a prática docente, lançando luz sobre o processo de ensino e
aprendizagem. Os estudos das transposições tiveram seu início na disci-
plina da matemática e foram se multiplicando através dos vários campos
da educação. A transposição didática pode ser entendida como a transfor-
mação do conhecimento científico em sala de aula de modo alcançar a
270
ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO
PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
271
ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO
PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
Usar apoio de consultas para alunos com Planejar tarefas com níveis de dificuldade
manifestações de dificuldade ou precon- apropriados para cada grupo produtivo
ceito na comunicação oral. que podem ser executados de diferentes
Garantir lugar na sala de aula em que o maneiras.
aluno possa facilmente ter o professor. Oferecer a oportunidade para os alunos
Identificar e oferecer o apoio específico de participarem de eleições e opções de
cada aluno. trabalhos de casa.
Auxiliar no desenvolvimento de habilida- Reavaliar os suportes, pois precisam ser
des de autocuidado. alterados ou modificados para o escopo do
Chamar a atenção do aluno para ativida- novo aprendizado.
des escolares propostas. Montar grupamentos produtivos,
Proporcionar momentos para o aluno considerando níveis de aprendizagem,
aprender a solicitar informações e ajuda, afinidades etc.
trabalhando a autonomia Avaliar por meio de instrumentos que
respondam às particularidades de cada
aluno.
Organizar o espaço da sala de aula para
favorecer a atenção, interação e situação
confortável dos alunos e do professor.
Otimizar a rotina para considerar as
metodologias, tarefas que serão executadas
e os suportes necessários.
Fonte: As autoras.
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PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
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PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
repensar sua prática junto aos alunos com deficiência, pois acreditava
que eles não realizariam as mesmas atividades que os demais alunos. A
primeira ação da PLIconsistiu na adaptação das atividades, muitas vezes
apenas simplificando-as para os alunos com deficiências. No entanto,
logo a PLI percebeu duas dificuldades no percurso adotado. Primeira-
mente, tornou-se pouco factível a produção e a adaptação de atividades
para todos os alunos com deficiência entendidos pela docente. Em
segundo lugar, observou-se que os alunos, agora pré-adolescentes, se
opunham a realizar atividades diferentes das dos colegas.
Uma vez percebido o problema, a PLI redirecionou seus esforços
não mais para a simplificação das atividades, mas para a reformulação
de suas estratégias de modo a oferecer as mesmas atividades apresenta-
das à sala como um todo, também aos alunos com deficiência. Desta
forma, procurou-se tratar de competências e habilidades (PERRE-
NOUD, 2001) pertinentes à realidade dos alunos com deficiências sem
a necessidade de reformulação das atividades ou de sua simplificação.
Neste movimento, a presença da PAEE em sala teve papel fundamental
para ação da PLI. A PAEE muitas vezes auxiliou na aplicabilidade das
atividades ou ajudou a PLI a direcionar seu olhar para as necessidades
dos alunos que poderiam ser abordadas por meio das atividades propos-
tas pelo currículo, visto que a disciplina de inglês por si pode ser consi-
derada inclusiva. Assim, o objetivo central dessa ação foi estabelecer
uma intervenção pedagógica com o olhar voltado para o aluno defi-
ciente ao invés de pensar atividades para deficientes.
Dito isso, volta-se agora para a realidade em sala no ano de 2017.
Como informado, todas as atividades aqui descritas foram aplicadas a
todos os alunos da sala. Estas atividades consistiram na elaboração de um
horário de aula (School Schedule) em inglês e de um caça-palavras sobre o
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PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
clima (weather). No caso do horário de aula, ele foi produzido por alunos
do quinto ano e três alunos deficientes participaram dessa ação. Para tal,
os alunos deficientes foram pareados com alunos cooperativos deficientes
ou não, os quais se encontravam em estágio aproximado de alfabetização.
Eles contaram com o auxílio do livro didático e de um horário de aula
escrito na parede da sala para a elaboração do horário em inglês. Eles
puderam usar imagens contidas no livro, as quais consistiam em lousas
Fonte: As autoras.
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Fonte: As autoras.
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Fonte: As autoras.
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hot, sunny, etc.) num bloco de letras sobre o papel. Para a realização
pelos alunos com deficiência, PLI pintou cada palavra sobre o clima de
uma cor diferente, relacionando-as se possível à cor do fenômeno natu-
ral (amarelo para sunny – ensolarado; azul para rainy – chuvoso, etc.).
Além disso, escreveu também as palavras em letra de forma maiúscula
abaixo da palavra escrita em letra de imprensa. Ainda, permitiu que as
letras fossem localizadas de maneira aleatória, ou seja, os alunos deviam
pintar todas as letras na mesma cor da palavra, sem necessariamente
encontrá-la na vertical, horizontal ou perpendicular.
Esta atividade foi realizada por dois alunos do quarto ano. A primeira
aluna, J., tinha síndrome de Down e era silábica sem valor. J.reconhecia
as letras do alfabeto, sem, no entanto, conseguir dizer o alfabeto de
memória. Ela tinha boa comunicação, a despeito de certa dificuldade de
articulação das palavras. Neste caso, não foi necessário o pareamento da
aluna. Esta sentava-se à frente da mesa dos professores e procurava ativa-
mente por ajuda em caso de dificuldade. Para que a aluna fizesse o caça
-palavras, os itens referentes à descrição do clima foram apresentados um
de cada vez. Dessa maneira, a aluna se manteve engajada na realização da
atividade e conseguiu prosseguir com relativa autonomia.
Por fim, o último aluno a realizar o caça-palavras foi o aluno V.,
também do quarto ano. V.possuía deficiência intelectual severa e entrou
na escola muito tardiamente. Sua idade cronológica era de trezes anos.
O aluno era acompanhado sempre por uma estagiária, não reconhe-
cendo letras do alfabeto ou números. Sua escrita era sem controle e
correspondia a garatujas. O aluno tinha a atenção muito reduzida e
dificuldade para permanecer em sala durante o período de aula. No
caso dele, foi solicitado que ele pintasse cada uma das figuras referentes
ao clima e as recortasse, em seguida, colando-as no caderno. Para que
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ENSINO DE INGLÊS: AÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO
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ele pudesse pintar, alguns lápis de cor foram separados de seu estojo
para que a quantidade de opções fosse menor e causasse menor ansie-
dade. Ainda, foi preciso que a docente ou a estagiária conduzissem cada
etapa da atividade, relembrando V. o que precisava ser feito a cada passo.
V. encontrou dificuldades para recortar e colar as a figuras, ainda que
ele usasse cola bastão para facilitar o processo. Os nomes dos climas em
inglês foram escritos no caderno do aluno pela PI.
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Fonte: As autoras.
Fonte: As autoras.
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Referências
Brasil. Estatuto da pessoa com deficiência. Brasília: Senado Federal, Coordenação de
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PARA CRIANÇAS DEFICIENTES
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Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
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ENGLISH FOR KIDS: ENSINO E PESQUISA NA EXTENSÃO
e interculturalidade
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Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
13.
ESPAÇOS PARA REFLEXÃO INTERCULTURAL
NAS AULAS DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
A
interculturalidade é um tema crescente no âmbito educacional.
Sua relevância no processo de ensino e aprendizagem tem sido
objeto de estudo de muitos pesquisadores, dentre eles, Walsh
(1998, 2004, 2007), Leffa (2005), Mckay (2003) e Kramsh
(2013). Ela oferece um caminho para a compreensão da diversidade
cultural promovendo relações positivas entre grupos culturais distintos.
Por meio dela, são questionadas a hegemonia das culturas dominantes
e as formas de discriminação e de exclusão. Considerando a relação
entre a linguagem e a cultura, este estudo propõe que as salas de aula de
línguas estrangeiras sejam espaços privilegiados para a reflexão intercul-
tural consciente e crítica. A pesquisa exclusivamente bibliográfica foi o
caminho percorrido para suscitar as ideias contidas no presente estudo.
No contexto contemporâneo informatizado e conectado em que
vivemos, o contato com outras culturas é facilitado. Novas formas de
pensar e agir no mundo emergem quando temos a oportunidade de
aprender uma língua estrangeira.É consenso o reconhecimento da
diversidade cultural do mundo, uma vez que as fronteiras geográficas
não representam barreiras para a comunicação entre os povos (SCHE-
YERL, BARROS e ESPÍRITO SANTO, 2014). O aprendizado de
uma língua estrangeira deixa de ser somente uma demanda do e para o
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Considerações finais
Em vista dos argumentos apresentados, é possível considerar que
as salas de aula de LE são espaços propícios para a reflexão intercultural
consciente e crítica. Sabemos que a linguagem desempenha um papel
crucial não apenas na construção da cultura, mas no surgimento da
mudança cultural. E por isso somos desafiados a refletir sobre o quanto
é importante tematizar processos educacionais tomando como perspec-
tiva os diferentes povos, grupos sociais, seus diferentes costumes e
modos de ser (ROMANI e RAJOBAC, 2011).
A interculturalidade promove relações positivas entre perspectivas
culturais distintas, confrontando a discriminação, estereótipos, colo-
nialidade e preconceitos. A práxis intercultural oferece um caminho
para ampliação e problematização dentro de uma perspectiva relacional
entre culturas, não se trata deuma metodologia a seguir, aproxima-se a
uma atitude ética e política diante das relações assimétricas entre cultu-
ras. À luz de cada contexto e circunstância, a reflexão intercultural deve
ter espaço privilegiado no âmbito pedagógico. O professor engajado no
processo transformativo da sociedade deve atuar além das brechas, em
termos de Duboc (2014), evocando para si um espaço legítimo de refle-
xão intercultural, mostrando que existem diversas formas de viver e
pensar igualmente válidas.
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Referências
BRASIL (2017). Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.
Brasília: MEC, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
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FAIRCLOUGH, N. Discurso social e mudança. 2 ed. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2016.
DUBOC, Ana Paula. “Letramento crítico nas brechas da sala de línguas
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
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14.
A PRÁTICA EM SALA DE AULA DE LÍNGUA INGLESA
EM CONTEXTO INTERCULTURAL
N
este capítulo, discutimos o desenvolvimento das aulas de inglês
ministradas pela autora a 13 indígenas, sendo 11 artesãs e 2 arte-
sãos, da comunidade Karajá de Buridina, que comercializam seu
produto e estão ligados ao turismo da região. A comunidade
indígena está localizada às margens do Rio Araguaia, ao lado da cidade
de Aruanã, a 330 quilômetros da capital do estado de Goiás. O maior
interesse dos indígenas que participam das aulas de inglês é valorizar o
artesanato vendido no Centro Cultural e na Associação Família Tehalu-
naWassuri Indígena Iny, mostrando ao turista estrangeiro o significado
das peças artesanais e dos grafismos que as compõem e falando da auto-
ria de cada trabalho vendido. Dessa maneira, eles divulgam a sua
cultura, desfazendo uma invisibilidade histórica que só começou a ser
desvelada com o Projeto Maurehi1.
Considerando o contexto das aulas e a sua finalidade, que é
promover uma relação comercial de prestígio das peças de artesanato
que são vendidas, as aulas fundamentam-se nos princípios da intra-
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EM CONTEXTO INTERCULTURAL
Se impõe como caminho pelo qual os homens ganham signifi-
cação enquanto homens. Por isto, o diálogo é uma exigência
existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir
e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transfor-
mado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar
ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples
troca de ideias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE,
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EM CONTEXTO INTERCULTURAL
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EM CONTEXTO INTERCULTURAL
2 O remo é feito de madeira, mas não pode ser qualquer madeira. Tem de ser
madeira que resiste a rachadura, deve ser madeira resistente. Ele é feito como par
da canoa, para ajudá-la a se movimentar. São feitos vários tamanhos, uns tem a
folha maior e outros a folha pequena. São muito bons para venda.
3 É muito utilizado pelo homem, embora antigamente o utilizavam mais. Era
usado para carregar os mantimentos da roça para a aldeia. Ele é feito de palha de
babaçu e possui duas alças, como de mochilas. Tem uma alça na frente, que serve
para prender na cabeça (PIMENTEL DA SILVA, 2015).
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EM CONTEXTO INTERCULTURAL
preços dos dois objetos, usando os seus nomes em iny e o restante de cada
frase em inglês. Os nomes em karajá não eram do conhecimento de todos
os participantes. O professor de inyrybè e o cacique da comunidade,
alunos do curso, aproveitaram para falar um pouco sobre as peças artesa-
nais, para que eram usadas e de que material eram feitas. Com isso, algu-
mas das frases ficaram assim estruturadas: Narihi is thirty reals, Bèhyra is
fifty reals. Para provocar a curiosidade dos alunos, ainda convertemos o
Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de professores de línguas
valor de reais por dólares, apresentando as frases: Narihi is nine dollars and
sixty-four cents, Bèhyra is four dollars and eighty-two cents.
Como sempre, durante todas as aulas as três línguas circularam
livremente. Os alunos que possuem um domínio maior do iny sempre
encontram uma maneira de trazer essa língua para as discussões, dando
oportunidade aos que têm um menor domínio de aperfeiçoarem seus
conhecimentos. Buscam usar o inglês, objetivando a comunicação por
meio da fala e usam o português como recurso para mediar o processo
de ensino, considerando que a professora não domina o uso do inyrybé,
esse é um momento em que ela aprende com os alunos uma língua
anteriormente desconhecida. A percepção de ensino de Walsh se refere
aos nossos apontamentos, quando ela argumenta sobre a interculturali-
dade crítica
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Kyr i
Bis a
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Ri tx oko
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Todo discurso é constitutivamente atravessado por “outros
discursos” e pelo “discurso do Outro” (Authier-Revuz, 1982, p.
141, apud Benites, 2002).
[T]odo discurso é heterogêneo porque o sujeito do discurso é
heterogêneo, na medida em que, através de sua boca, falam
diversas vozes (Benites, 2002, p. 3)
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Yri4bohohèkainatxileretyrèisòilby. = Kyri5 has two colors, black
and red.
Kyri bohosõèrènyretastuleinirènyijõdire. = Kyri has very pain-
tings and each painting has a meaning.
Hãbuhãvy – wnaròyrimyhyre. = Men and women can paint.
Considerações
Acreditamos que as aulas que apresentamos proporcionam infor-
mações e conteúdo suficientes para refletirmos como acontece o apren-
dizado de Inglês nesse espaço intercultural em que várias culturas tran-
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EM CONTEXTO INTERCULTURAL
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EM CONTEXTO INTERCULTURAL
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(Doutorado em Ciência da Motricidade) – Instituto de Biociências, Universidade
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SOBRE O LIVRO
Formato: 16x22,5cm
Tipologia: Minion Pro
Papel de Miolo: Off-Set 90g
Papel de Capa: Triplex 250g
Número de Páginas: 334
Suporte do livro: E-book
2018
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
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SOBRE OS AUTORES
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