Guillaume Apollinaire Os Pintores Cubistas Texto em Francês
Guillaume Apollinaire Os Pintores Cubistas Texto em Francês
Guillaume Apollinaire Os Pintores Cubistas Texto em Francês
GUiLLAUMe .APoLLiNAiRE
rMéditations Esthétiques
l)uchamp.x71LI.CN, etc.
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a4 TEORIAS DA ARTE h10DERNA
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Os novos artistas foram violentamente atacadospor suaspreocüt)açõesgeomé-
tricas. Noentanto, as figuras geométricas são a essênciado desenho. A geome
15. Partes lll, IV e V adaptadasde "La peinture modems'', Zes Soiréesde País, 1: 3
(abril de 1912), pp. 89-92,e n': 4 (maio de 1912): pp. 113-115.
CUBISMO 225
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tria, ciência que tem par objetq a extensão, suas dimensões e rclarões sem
determinou as n(irmãs e regra; da pintura. "' -- - '---vv-'-, "'"'F''-'
Até agora, as três dimensões da geometria euclidiana bastavam para as
uiquntaçoes que o sentimento do infinito desperta na alma dos grandes arts-
'define lma perspectiva livre. móvel, da qual Qengenhosomatemático Miurice Princet deduziu
toda uml geometria''. (Pan[lhris], outubro-novembro
de 1910,p. 650.)Essaatitude foi conân.
mada en conversas comigo én maio de 1952, quando Metzinger declarou que as suas ''idéias
em pintura precisavamde mds de três dimensões,já que estasmostramapenasos aspectos
visíve.is(b um corpo num dado momento. A pintura cubista. .. precisa de uma dimensão maior
226 TEORIASDAARTEMoDERNA
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Desejando atingir as proporções do ideal, não mais se limitando à humani-
AfastaM.se cada vez mais da antiga arte das nus(5esde óptica e das proporções
locais para exprimir a grandeza das formas metafísicas. Eis por que a arte
anual, se não é a emanação direta de crenças religiosas específicas, apresenta
não obstante algumas das características da grande ane, ou seja, da arte reli.
V
Os grandes poetas e artistas têm por função social renovar incessantemente
a aparência de que a natureza se reveste aos olhos dcs seres humanos.
17 Neste parágrafo que escreveu para o livro e inseriu num manuscrito anterior, Apolli-
naire modificou sua Opinião quanto ao papel da .Quarta Dimensão, tal como a havia exposto
nü artigo original, de abril de 1912,e em Z,ayfe (Pauis),n?6, de 8 de fevereiro de 1913,
CUBISMO 227
Vli8
18. Adaptado e reesçíito sobre material de l.es Soirées de Paria (ninio de 1912), pp. 113-115
228 Tl:01{1z\S l)/\ /\RT'l.: Mo1)1CRN.f\
'Vll19
A nova escola de pintura é conhecida como cubismo20. O nome Ihe foi dado
zombeteiramente, no outono de 1908, por Henri Matisse, que acabava de
vivamente. epresentanao casascuja aparência cúbica o impressiomu
19. A l)reve história do cubismo que abn este capítulo foi, de acordo com a note de
Apolinairc, acrescentada is provas em setembro de 1912. Baseou-se num antigo que, segundo
Bnuug. foi publicado em lt) de outubro de 1912em l,'/we/médias? desChercAeunef des Cüzüüu
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20. Apollinairc analbou detalhadamente l ''nova pintura" (porém não citou nomesl na
primeira parte do.livro, masesta é a primeira menção da palavra cubismo. '
CUBISMO 229
O que diferencia o cubismo das velhas escolasde pintura é que ele não
é uma arte de imitação, mas uma arte de concepçãoque tende a elevarse
às alturas da criação.
Representando a realidade concebidaou a realidade criada, o pintor pode
dar a aparência de três dimensões. Pode, de certa forma, cabícar. Não pode
fazê-lo expressando s&nplesmente a realidade vista, a menos que utilize o
zrompe-/'oei/ em escoiço ou em perspectiva, o que deformada a qualidade
da forma concebida OE criada.
Possodiscernir quatro tendências no cubismozt, duasdas quais são putas
e paralelas. l
D cubismo cienf@coé uma dessastendênciaspuras.É a arte de pintar
novas estruturas com elementos tomados de empréstimo, não à realidade
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O aspectogeométrico que tão üvamente impressionouos que viram as
prime ras,telas clentíEcas pro:linha do fato de a realidade esencial ser expressa
com grande pureza, com a eliminação do acidente visual e anedótico.
Boccionie Made Laurencin. Numa nota no final do livro, chegoua relacionar'\ maioria dos
críticos de acordo com as suasquatro categorias. Toda essa nova parte, portanto, é mais uma
palestra informal e entusiasta, feita ante um pública bastante simpático ao movimento, do que
umí! tcnütiva cuidadosa de discernir os diferentes estilos. ' ' '
CUBISMO 231
NOVOSPINTORES
PICASS022
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]liXcütt>QÜI.:ligcirn condensaçãodos três últimos parágrafos.foi reproduzia tal como havia
sido óri8indlticnte escrita
232 Teor?lAS l)A ARTE MODERNA
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lâm Em quartos Tiseiáveis,'pintores desenhavamnus lanosossob a luz da
pressaentemecida. aos sapatosde mulher perto da cama significava uma
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As mães, primipaias, já não esperavam a chegada do bebé. talvez nQF
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causadeunscorvostagarelaseagourentos. ' '' ' '-''--r-'
Natal! Deram à luz futuros acrobatasem meio a macacosde estimação,
cavalos brancos, cachorros e ursos. " ''-' -- :"»-""'vu"'
As irmãs adolescentes,pisando em perfeito equilíbrio as pesadasbolas
dos saltimbancos, impõem a essas esferas o movimento irradiante dos mundos.
Impúberes, essasadolescentestêm as inquietudes da inocência, os animais
lhes ensinam o mistério religioso. Arlequins acompanham a glória das mulhe
res, parecem-se com elas, nem machos nem fêmeas. '
CUBISMO 233
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E os que o conheceram antes lembravam-se de truculâlcias ránjdas nuc
Já estavam além do estágio experimental. "'"'' '-r''" 'í"
Suainsistência na bascada beleza mudou tudo na arte.
Então ele interrogou sevcramentt30 uaiverso23.Acostumou-se à luz imen-
sa das profundezas. E às vezes$nâodesdeiíhou usar de objetos autênticos,
uma canção de dois vinténs, um selo de correio verdadeiro, um pedaço de
lona impermeável sobre o qual se imprimiram as estrias de uma cadeira. A
arte do pintor não acrescentavanenhum elemento pitoresco à verdade desses
objetos.
A surpresa ri selvagemente na pureza da luz, e é legttmamente que alga-
:sismose letras de comia Aparecemcomo elementos pitorescos; novos na arte,
há muito tempo já estão impregnados de humanidade ' "' '' "- --'
É,um recém-nascido que põe ordem no universo para seuuso pessoale tam
bém para facilitar suasrelações com seussemelhantes. Essa enumeração tem
a grandeza da epopéia e, com a ordem, explodirá em drama. Pode-se contestar
um sÉtema, uma idéia, uma data, uma semelhança;masnão vejo como se
haveria de contestar a simples ação do enumerador. Do ponto de vista plástico,
podese argumentar que poderíamos passarsem tanta herdade; mas, urna
vez aparecida, essa verdade se torna necessária. E depois há ofpaíses.' Uma
gruta numa floresta onde se faziam cabriolas, uma passagemem lombo de
mula à beira de um precipícioe a che@daa uma aldeiaonde tudo cheira
a óleo quente e a vinho rançoso. Há ainda o passeio a um cemitério, a compra
CUBISMO 235
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GEORGB BRAQUE
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Georges Braque deve ser chamado ''o verificador''. Ble verificou todas
as nonGades da arte moderna, e ainda há de verificar outras. ' '''- ----
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2:18 1'iCoitiAS DA ARTE MODERNA
JEAN MEIZ[NGER
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.De sua experiência com os neo-iml)ressionistas, Jean Metzinger conser-
vou um gosto pela minada, gosto que não é, de forma alguma, medíocre
Nada há de inacabadoem sua obra, nadaque não sejao fruto de uma
l?ÊE'tlgl?l':l',' ;e alg«m,«z el. s. e«g,-«l o'dÚ.ião'=Ú.:li ;: imp;;;;
saber, atou certo de que não foi por acas:o.Sua obra será um dos documentos
mais autorizados quando se quiser explicar a arte da nossaépoca. E graças
aos quadros de Metzinger que se poderá distinguir entre o que tem e o que
não tem valor estético em nossaarte. Uma pintura de Metzinger contém
sempre sua pr(5pria explicação. Trata-se, quem sabe, de uma nobre fraqueza,
mas é certamente o resultado de uma alta consciência, e creio ser este um
caso único na história dasartes.
Quando.se contempla um quadro cleMetzinger, sente-seque o artista
teve o firme desejo de não levar a sério o qiie é sério e que osacontecimentos,
segunda um método que me parece excelente, Ihe fornecem os elementos
plásticos de sua arte. Mas, embora não :rejeite nenhum deles, não os utiliza
ao acaso. Sua obra é sã, mais sã, sem dúvida, que a da maioria das obras
de .seuscontemporâneos. Ele encantará aqueles que querem conhecer as ra-
zões das coisas; e suas razões satisfazem ao espírito.
240 '!'lCoRIAS l)A z\RI'E MODERNA
Sua arte cada vez mais abstrata, mas sempre agradável, aborda e trata
de resolver os problemas mais difíceis e imprevistos da estética.
Cada um de seustrabalhos encerra um julgamento sobre o universo,
e a totalidade de sua obra assemelha-seao límpido firmamento noturno onde
cintilam luzes adorávds.
Nada há de inacabado em suas obras; nelas a poesia enobrece os mais
pequenosdetalhes.
ALBERT GLEIZES
um grau de plasticidade tal que todos os elementos que constituem seus carac-
teres individuais são representados com a mesma majestade dramática.
]'iKNKI li.0USSEAU27
i==iT:i:=:i;.f=3=:=S:
==1'"""". '" « ;. ,úú-ai;'iú;
Poucos artistas faltamtão ridicularizados durante a vida quanto o Doua-
nier. e poucos homem enfrentaram com mais calma os escárnios e gmsseiias
com que o cumularam. Esse velho cortês conservou semprea mesma sereni-
dade de humor e, por um traço feliz de eu caráter. via nas próprias zombarias
A :.A-- .
27. Este ensaio apareceuna primeira das várias críticas de Apollnaire sobre o Sa/on des
Indép danes (L'l/:!raw em1, 20 de abria de 19].1). Rousseau falecera en 4 de setembro de 1910
e uma exposição de seusquadros foi organizada, em homenagem a ele, no Salão. Os quadros
tiveram uma localização.de honra, na sala 42, entre a histórica sala 41, onde os cubistas apare-
infante, dos quadros dos mestres. ' ' " ""''' '-'-'
A vontade desse pintor era das mais fortes. Como duvidar disso, tendo
visto suasminúcias que rúo são fraquezas,quando diante de nós se eleva
o cântico dos azuis, a melodia dos brancos em sua .Nzípcías,onde uma figura
de velhacamponesa faz pensar em certos holandeses? '' ' '"'- "'
-. Como pintor de retraos, Rousseau é incomparável. Um retrato de mu-
lher em meio corpo com negros e cinzas delicados«élevado mais longe que
um retrato de Cézanne. Por duas vezes tive a honra de ser pintado por Rous-
seau em seu pequeno ateliê da rua Perrel; muitas vezes o vi trabalhando
e conheçoa preocupaçãoque ele tinha can os detalhes,saafaculdadede
preservar a concepção primitiva e:definitiva de cada quadro até a sua conclu-
são, e sd também que elc nada deixava ao acaso, nada, sobretudo, do que
era essencial. '
Entre os belos esboçosde Rousseau,nenhum é tão espantosocomo a
pequena tela intitulada .4 CarmanAo/a. Trata-se do esboço do Centenário
da ande/zndência, sob o qual Rousseau escrevera:
Aupràs de ma blortde
Qu'l faia bon, faia bon, fait bon
JUAN GRIS
recentemente Charles Chassé descobriu, nos arquivos militares, que o punk)r nunca esteve ali
e que as formas florais de seus quadros são tão generalizadas que não podem ser localizadas,
ou então que podiam ser enconbadas no Jardin des Plantei, onde ele costumavadesetüar.
2fÍ..l. Tl!oRlAS l)A ARTE MODERNA
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CUBISMO 245
FERNAND LÉGER
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A obra de Léger transformou-se depois num paísencantado onde sorriam
personagens afogadas ern perfumes. Personagensindolentes que, voluptuo
::l:ente, transformam l luz dai cidade em múltiplas e delicadas colorações
uyv-"
sombreadas, lembrança dos vergéis normandos. Todas as cores fervem. De..
pois sobe um vapor e, quando ele se dÉsipa, lá estão as cores escolhidas.
Uma espécie de obra-palma nasce desse ardor: chama.se O Fumaníe.
1%, po:s: em Léger um desejo de extrair de uma composiçãotoda a
emoçãopelstéticaque ela pode dar. Ei-lo que eleva a paisagemao mais alto
Léger descarta.tudo o.que não ajuda a dar à sua coacepçâoo aspecto
aprazível de uma feliz simplicidade. ' ' ' "'
E um dos primeiros que, resistindo ao velho instinto da espécie, da raça,
seabaadonaram alegrementeaoinstintodacivilização. ' '
Esseinstinto é objeto de uma resistência muito maior do que se imagina.
Em um ele se torna um frenesi grotesco,o frenesi da ignorância.Em outros.
enfim, consisteem tirar partido de tudo o que nos vem através dos caco
sentidos.
Fico contente quando vejo um quadro de Léger. Não é uma transposição
pouco de uma obra cujo autor fez o que todos querem fazer hoje em dia.
Há. os que querem refazer uma alma, um ofício como no século XIV OE
XV.; há os que, mais hábeis,forjam uma alma do século de Augusto ou de
Périclesem.menos tempo que aquele que uma criança necessitapara aprender
a ler. Não, não se trata, ao caso de Léger, de um desseshomens que acreditam
que a humanidade de um século é diferente da de outro séculoe que confun-
dem -Deuscom um guada-roupa, desejososde identificar suasroupas eom
sua alma. Trata-se de um artista semelhmte aos dos séculosXIV e IXV,laoi
246 TEORIAS DA ARTE MODERNA
rejubilo-me tanto com sua simplicidade quanto com a solidez de seu julga-
Amo sua arte porque ela não é desdenhosa,porque não conhece baixezas
e porque não raciocina. Amo suas ares leves, ó Femand Léger. A fantasia
o elevará ao reino das fadas, mu proporciona-lhe todas as suas a egrias.
Aqui a alegria se expressa tanto na intenção como na execução Ek en-
contrará outros pontos de fervura. Os mesmos vergéis terão cores mais lives.
Outras famílias se dispersarão como gotículas de uma queda-d'água e o arco-
íris virá vestir suntuosamente as minúsculas dançarinas do corpo de baile.
OBhóspedes da boda dissimulam-se uns atrás dos outros. Ainda um pequeno
esforço para libertar-se da perspectiva, do miserável truque da perspectiva,
dnsa quarta dimensão às avessas, dessemeio infalível de tudo apequenar.
Mas essapintura é líquida: o mar, o sangue,os rk)s, a chuva. um copo
de água e também as nossas lágrimas, a umidade dos beijos, com o suor
dos grandes esforços e das longas fadigas. ' ' ''
FRAN(;I; PICABIA
30. A teoria de Picabia nlacionava-se com o ciráter "musical" de suapintura quase abstrata,
assumoque os dois homenshaviam discutido. Ver seu "cubismo pcr um cubista", For üd
Agaínl, yfewson rAe/nre/mriopza/
ExA/bidon#e/d fn /Vewyork ald CAlcagolaExposi$o
Armcry] (Nova York, AmericanAssociationof ?aintersand Sculptors,Inc., 1913).
CUBISMO 247
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2.1.8 I'lCORlzl.S l)A 'ARTE MODERN/\
MARCEL DUCHAMP
$f E !E ;l=;:mf'ulv;:
APÊNDICE
DUCHAMP-\4LLON32
:...:===.:;:=:.ã
ÜE:l:Ê:::.fH:b?H:.:::
=U=
: O cubismo órüco, que foi defenddo por Max Goül e pelo autor deste
trabalho, parece congítuir a tendência puré que Dumont e Valensi seguirão.
O cubismo instiiÉivo forma um mwimento importante, iniciado há muito
tempo, e já irradia fora da Fiança. Lauis Vauxcelles, René Bluiü, Adolphe
Basler#Gustãve Kahü, Marinetti e Michel Puy defenderam algumas persona-
lidades cujas obras estão ligadas a essacorrente: Ela et81oba artistas nume-
rosas, como lienri Matisse, Rouault, André Deram, Raoul Dufy, Chabaud,
JeaaPuy, Van Dongen, Severini, Boccioni, etc.
Entre os escultores que aderiram à escola cubista, cumpre mencionar,
além de Duchamp-Villon, Auguste AIÉro, Archipenko e Brancusy.