JOLIVET, R. (III) Tratado de Filosofia - Metafísica
JOLIVET, R. (III) Tratado de Filosofia - Metafísica
JOLIVET, R. (III) Tratado de Filosofia - Metafísica
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PLANO DA OBRA
TRATADO DE FILOSOFIA
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n~Grs JOLlVET
Professor de Filosofia
o,
Decano da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Lyon
TRATADO
DE
FILOSOFIA
111
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METAFISICA
TRADUÇÃO DE
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CAPA DE
'1965
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bvrariaAGIR E'd;/õra
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·COPlIríght @ de
ARTES GRAFICAS INDÚSTRIAS P.EUNIDAS S. A.
(AGIR)
Nihit obstat.
Rio de Janeiro, 19-XI-60
P. Emitia Silva, Ph. Dr.
Censor
Imprimaiur.
Rio, 26-XI-60
Mons. José Sitveira
V. Geral
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íNDICE DAS MATÉRIAS
LIVRO PRIMEIRO:
CRíTICA DO CONHECIMENTO
CONCLUSÃO 175
INTRODUÇÃO . 183
.
Art.
Art.
I. Método da Ontologia
lI.' Divisão da Ontologia
.
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184
196
INTRODUÇÃO 325
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INTRODUÇÃO A METAFíSICA
SUMÁRIO 1
§ 1. DEFINIÇÃO
A. Fronteiras da metafísica
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INTRODUÇÃO À METAFÍSICA 15
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16 METAFíSICA
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I
INTRODUÇÃO À METAFÍSICA 21
12 H. SPENCER, Les p1'emieTs pTincipes, L" parte, cap. lU, 2J: "Por maio-
res que sejam os progressos alcançados reunindo os fatos e estabelecendo
sõbre êles generalizações cada vez mais amplas, por mais que se tenha levado
a redução das verdades limitadas às verdades mais extensas e mais centrais,
a verdade fundamental permanece tão fora de alcance como nunca, A expli-
cação do explicável pode apenas mostrar com mais clareza que o que per-
manece além é inexplicável (.,,). (O homem de ciência) verifica assim
que a substância e a origem das coisas objetivas, como as das subjetivas,
são impenetráveis. Em qualquer direção que leve suas investigações, essas
o conduzem sempre à presença de um enigma insolúvel, e êle reconhece
cada vez mais claramente sua ínsolubflfdade ",
scatohcas.com
22 METAFíSICA'
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LIARD,por outro lado, pretende. que a metafísica parta não de
uma afirmação especulativa, mas ,de uma afirmação moral ou prá-
tica. Sob êste aspecto, a metafíSica seríao conhecimento do dever-
ser e do ideal, como componentes de uma ordem de realidades supe-
rior à dos fatos que contém a razão de ser desta. (Cf. La Science
positive et la métaphysique, 3.&' parte, capo VII.) - Esta opinião,
além de ser ainda demasiado especificamente teológica, parece de-
rivar da doutrina kantiana que faz da existência de Deus um pos-
tulado da razão prática. A metarísíca assim compreendida não teria
mais autonomia nem valor cientifico.
algo em que entra, com maior ou menor clareza e distinção, uma concepção
de tôdas as coisas." Poder-se-ia encontrar nessa definição uma designação
do ser comum como objeto dametafisica: no ser comum, com efeito, conhe-
cemos todos os sêres com o recurso da analogia. Mas não é isto o que
entendem FOUILLÉE e DUNAN. "Todo homem, seja qual fôr, continua êsse,
tem seu sistema, ou antes, seus sistemas: e eis porque também todo homem,
saiba ou não, é um ~etafísico, uma .vez .que fazer metaffsica não é senão
"sistematizar, isto é, organizar idéias. Tôda a diferença. que existe neste
particular entre os metafiatcos de profissão e () leigo é que, êílti'é'õs meta-
físicos, a sistematização se refere a idéias mais extensas, mais complexas,
melhor elaboradas do que as do comum dos homens."
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INTRODUÇÃO A METAFÍSiCA 23
§ 1. OS GRAUS DA ABSTRAÇÃO
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INTRODUÇÃO À METAFÍSICA
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26 METAFíSICA
§ 2. A CIÊNCIA METAFíSICA
A. Especificidade da Metafísica
12 1. A metafísica como ciência autônoma. - A metafí-
sica, considerada como ciência do ser enquanto ser ou a ciência
das condições da existência em geral, Se apresenta, pois, como
um objeto bem definido que só a ela pertence. Nenhuma ciên-
cia, quer natural, quer filosófica, visa ao mesmo obleto, neste
nível de generalidade, e isto bastaria para. justificar a pre-
tensão da metafísica de constituir uma ciência especificamente
distinta de tôdas as outras e absolutamente autônoma,
Poderíamos objetar, é verdade, que esta especificidade e
esta autonomia são apenas hipotéticas, isto é, dependem da
realidade do objeto da metafísica. - Mas admitimos sem difi-
culdades o alcance -desta objeção, cujo sentido corresponde
exatamente ao ponto-de-vista sob o qual abordamos a meta-
física. De fato, nada queremos prejulgar : seguimos somente
o movimento do pensamento que progride pela via da genera-
lização, isto é, por abstrações cada vez mais extensas. ~ste
progresso nos conduz, afinal, a fazer abstração de tôdas as
determinações que afetam o ser da experiência, para consi-
derar neste apenas aquilo que o constitui e o torna inteligível
pura e simplesmente enquanto ser. Quanto a saber se esta
abstração é legítima e se deixa subsistir ainda o real adiante
do espírito, teremos que o pesquisar antes de abordar a meta-
física.
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INTRODUÇÃO Á METAFÍSICA 27
IR Cf. SANTO TOMÁS, Contra Gent., 111, 25: "In omníbus scientiis et
artíbus ordinatis, ad illam videtur pertinere ultímus finis, quae est prae-
ceptiva et architectonica aliarum (sívut ars gubernatoria, ad quam pertinet
finis navís, qui est usus ipsius, est architectonica et praeceptiva respectu
navitactivae) . Hoc autem modo se habet Philosophia prima ad alias scien-
tias speculativas: nam ab ípsa omnes alia e dependent, utpote ab ipsa accí-
pientes sua principia et directionem contra negantes principia."
19 Isto deve ser entendido do ponto-de-vista lógico e não necessàriamente
do ponto-de-vista cronológico. Logicamente, a noção de existência de Deus
é posterior à apreensão do 'ser, uma vez que ela se estabelece por via causal,
a partir dessa apreensão. Mas, cronologicamente, a existência de Deus pode
ser apreendida quase intuitivamente (como seja, por uma inferência extre-
mamente rápida e como que simultânea com a intuição do ser) no ser dado
à experiência, em razão dos caracteres de contingência de que êle parece
evidentemente afetado.
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INTRODUÇÃO À METAFÍSICA 29 1I
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30 METAFíSICA
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INTRODUÇÃO A METAFÍSICA 31
cuiar. De fato não é outra coisa, no seu sentido mais geral, senão
a reflexão pela qual a inteligência, à medida que avança na consti-
tuição do saber, toma consciência de si e de .seu poder, e verifica
de qualquer modo seus métodos e seus processos. Por esta razão,
ela é sabedoria, ao mesmo tempo que ciência. - Tudo isso deve so-
bressair claramente das diligências pelas quais elaboramos até agora
o saber filosófico. Cada vez que um nôvo objeto, formalmente dis-
tinto, se oferecia a nosso estudo, devíamos verificar o alcance e o
valor de nossos processos de investigação, o que era propriamente
instituir, desde então, uma crítica do conhecimento. Em metafísica,
conseqüentemente, a crítica será uma verificação met6dtea da inte-
ligência, enquanto obreira do saber metatisioo, e esta verificação
coincidirá com a própria constituição dêáte saber: ela será propria-
mente em sua significação, a inteligência observando-se agir meta-
fisicamente e tomando, reflexivamente, consciência de seus proces-
sos, de seu valor, de seus limites. Se a crítica assume aqui uma
importância especial e parece se destacar da metafísica, é devido à
particular importância do assunto em jôgo, e também por razões,
que podem ser chamadas polêmicas, porque dizem respeito aos múl-
tiplos problemas e às graves dificuldades levantadas neste domínio
pela especulação moderna.
Tudo isto, contudo, em nada modifica a estrutura das coisas:
a critica do conhecimento não é uma ciência autônoma, essencial-
mente distinta da metafísica.
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LIVRO PRIMEIRO
.CRiTICA DO CONHECIMENTO
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SUMÁRIO 1
brascatolicas.com
38 METAFíSICA
ART. I. A ANTIGUIDADE
22 Na antiguidade grega, o problema crítico parece ser, antes
de tudo, o da capacidade da razão para conhecer a verdade
com certeza. Aparece proposto ao mesmo tempo pelo espe-
táculo da multiplicidade e da contradição das opiniões filos6-
ficas - pela exploração dos casos de erros ou de ilusões dos
sentidos - e pela crítica do. conhecimento abstrato (nomina-
lismo). 1:stes.temas críticos dependem, êles próprios, dos dois
pontos-de-vista antitéticos sôbre a natureza do ser que defi-
nem os nomes de HERÁCLITO e P ARMiNIDES. S
. .:2. É o próprio DESCARTES quem, aliás, enunciou esta opinião (cf. em par-
ticular na Carta ao tradutor de Prinetpes de la Philosophie) com uma segu-
rança que' não .justificam de modo algum as considerações históricas, ine-
xatas, sumárias e injustas que êle expõe ao mesmo tempo. - BRUNSCHVICG
(Le Progrês de la conscíesce dana la Philosophie occidentate, t, r, pág. 142)
julga que a história confirma o ponto-de-vista cartesiano: "Com DESCARTES
( ... ) a razão do homem, desconhecida há vinte séculos, tanto na pureza
~~pi~itual de seus princlpios, quanto na sua .C8Pllçidade..de, se. tomar senhora.
do universo, foi finalmente trazida à luz. Em nenhuma parte o aconteci-
mento decisivo foi proclamado com uma consciência de si tão luminosa e
tão insolente como nas primeiras páginas do Traité du Monde, consagradas
II pôr em paralelo e em oposição o "Mu.ndo dos FUÓBOfoGs", que DESCARTES
llbandona à logomaquia· da potência e do ato, e o mundo baseado no movi-
~ento verdadeiro .....
3 Cf. J. BURNET, L'au.'l'ore de la Phílosophie g'l'ecque, trad. Reymond.
:\:>aris, 1919, págs. 145-228.
http://www.o
HISTÓRIA DO PROBLEMA CRíTICO DA ANTIGUIDADE. • • 39
brascatolicas.corn
40 METAFíSICA
A. O ceticismo
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HISTÓRIA no PROBLEMA CRíTICO DA ANTIGUIDADE. . .
B. O nominalismo
25 Numerosos filósofos da antiguidade estabelecem o pro-
blema crítico e o resolvem de um m.odo inteiramente diferente
do dos céticos. O seu ponto-de-partida reside numa crítica
cerrada da inteligência abstrata, isto é, do conceito ou idéia
geral, ao qual negam absolutamente valor, reduzindo todo co-
nhecimento válido ao puro sensível (seneualismo : atomistas,
epicuristas, estóicos), ou ao puro inteli.gível (idealismo pla-
tônico).
brascatolicas.com
42 METAFíSICA
2. O fenomenismo e o idealismo
26 a) Nominalismo e fenomenismo. A doutrina segundo a
qual os únicos dados empíricos certos se reduzem aos fenô-
menos (ou dados subjetivos) é claramente, na antiguidade, o
postulado comum ao mesmo tempo ao empirismo nominalista
e ao idealismo. Acabamos de ver com que precisão o tema
fenomenista foi formulado por. SEXTO EMPíRICO e determinava
nêle um ceticismo radical com relação ao saber metafísico.
Com efeito, da -dupla crítica, instituída pela sofística grega,
do conhecimento sensível, tornado suspeito em virtude d09
"erros dos sentidos", e do conceito ou idéia geral, necessària-
mente estranha, dizia-se então, ao movimento contínuo e in-
cessante das aparências e às realidades singulares, deduzia-se
que não podemos ter certeza senão das realidades subjetivas,
idéias, imagens, sensações e, conseqüentemente, que o mundo
das realidades objetivas poderia perfeitamente não ser para
nós senão uma simples ilusão. Não há pois senão um universo
certo: o do sujeito e, por conseguinte, de acõrdo com a célebre
fórmula de ·PROTÁGORAS, o homem é a medida de tôdas as coisas.
Vemos, assim, como o nominalismo antigo leva muito lõçica-
-mente ao fenomenismo,
b) Nominalismo e idealismo platônico. Por outro ca-
minho, o nominalismo vai. orientar igualmente o idealismo
platônico, que se apresenta como uma solução para os pro-
blemas criados pela sofística. Com efeito, PLATÃO admite que
o inteligível não seja imanente ao sensível, êsse último, tal
como lhe impõe uma visão empirista do universo, é essencial-
mente múltiplo e díscontínuo, fugaz e mutável, afetado por
uma irremediável contradição interna, uma vez que o devenir
faz dêle um misto de ser e de não-ser. 1!:leé apenas, portanto,
uma sombra ou uma aparência. O verdadeiro real é a Idéia,
isto é, o mundo das essênoia« incorruptíveis que apreendemos
pelo pensamento acima do rnundo das aparências fugidias e
instáveis. Eis aí, segundo. PLATÃO, o que não havia compre-
endido a sofística fenomenlsta, tanto que, em lugar de extrair
http://www.c
HISTÓRIA DO PROBLEMA CRÍTICO DA ANTIGUIDADE. . . 43
C. O realismo
27 A própria crítica cética e nominalista do conhecimento
encontra-se vigorosamente criticada e refutada, na antiguí-
dade, em dois pontos-de-vista bem diferentes, por ARISTÓrELES
e por SANTO AGOSTINHO.
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44 METAFíSICA
2. Santo Agoetinho
28 a) O neoplatonismo cristão. SANTO AGOSTINHO procede
da tradição platônica, da qual é o herdeiro por intermédio do
neoplatonismo de PLOTINO. Mas esta tradição êle a incorpora
num contexto cristão e, por esta razão, a transforma profun-
damente, ao mesmo tempo que a completa e a aprimora, nela
corrigindo o que havia de mais discutível. AGOSTINHO não
admite, com efeito, nem o Universo inteligível das idéias sub-
sistentes, nem o ineísmo platônico. Mas estas duas opiniões
errôneas lhe pareciam envolver magníficos pressentimentos da
verdsde. Pois é de fato verdade que deve existir um mundo
ill teligível Ou mundo das idéias, uma vez que o nosso pensa-
Jtle~to prOcede por meio de idéias eternas e neces~ária!? _~.. p.9.:r; __ ,_"~o • ~ ~._
rtleIo d~ referência a normas absolutas 'e"-ifiúfâvêís: que'nãõ' .
o~scobrIremos, evidentemente, no universo da percepção, mó-
"el, :rn.u~á~~l e essencialmente múltiplo. unicamente êste mun-
(/,o das ~de~aa é a Razão divina com a qual é preciso que este-
f(1,mos .de algum modo em comunicação, pois é unicamente por
esta VIa que se conseguirá explicar que pensamos e julgamos
eegundo normas que transcendem o espaço e o tempo (ilwrni-
http://www.o
HISTÓRIA DO PROBLEMA CRÍTICO DA ANTIGUIDADE. . . 45
5 Referências em nosso Dieu, So~eiI des el1pTits, Paris, 1934, págs. 32 sg.
- O texto seguinte das Retra.ctationes, I, c.m, n. 2, mostra bem a posição
agostiniana com relação à PLATÃO: "Et quod duos mundos, unum sensibi-
lem, alterum 'intelligibilem, non ex Platonis, vel ex Platonicorum persona,
sed ex mea sic commendavit ( ... ). Nec Plato quidem in hoc erravit, quia
esse mundum intellígibilem dixit, si non vocabulum quod eccleciasticae con-
suetudini in re illa non usitatum est, sed ipsam rem vellrnus attendere.
Mundum quippe ille intellígibilem nuncupavit ipsam rationem sempíternam
atque incommutabilem, qua fecit Deus mundum ( ... J. Ipsam vidctur Plato
nominasse intelligibilem mundum."
.6. Textos em Dieu, So!eiL des esprits, págs. 132-137. - SANTO AGOSTINHO
havia antes admitido em suas primeiras obras uma espécie de inatismo
nativista, em virtude do qual Deus, criando as almas, dotá-Ias-ia de um
tesouro de idéias ao menos em estado virtual. (Cf. Soliloques, lI, capo XX,
n.O 35.) No futuro, êle renunciou mesmo a esta forma moderada de ína-
tísmo. "Credíbüíus est enum, propterea vera respondere de quibusdam dís-
ciplinis, etiam imperitos earum (alusão ao caso do escravo do Ménon de
PLATÃO), quia praesen est eis, quantum id capere possunt, lumen rationis
aeternae ubi haec immutabilia vera conspíclunt." (RetrCLctationes, I, capo
IV, n. 13.)
§ 1. O REALISMO CRíTICO
J)
http://WWW.
HISTÓRIA DO PROBLEMA CRíTICO DA ANTIGUIDADE. .• 47
7 Cf. De Spíritualibu,s creaturis, art. 10, ad 8m: "Non enim illud quod
est mutabile vel quod habet similitudinem illuis, potest esse infallibilis re-
gula veritatis." - 1", q. 105, art. 3, ad 2m: "Lumen intellectuale, símul cum
similitudine rei intellectae est sufficiens principium íntelllgendí, secunda-
rium tamen, et ab ípso primo principio dependens."
8 Esta dístínção do principio ou do fato e do modo de iluminação é im-
portante. Não a podemos desconhecer ou negligenciar sem confundir os
dados da história das doutrinas. Quer, com efeito, constatando com razão
que SANTO TOMÁS professa a realidade da iluminação divina, tentemos a
assimilação de sua doutrina com a de SANTO AGOSTINHO; quer, ao contrário,
confessando, como os fatos o obrigam, que SANTO TOMÁS não admite na
alma outra luz senão a do intelecto agente, salientemos a oposição de seu
pensamento com o de SANTO AGOSTINHO e acreditemos descobrir um desa-
côrdo a respeito do próprio fato da iluminação. Ora, SANTO TOMÁS não
admite que possa haver conhecimento certo sem o auxílio das verdades
eternas. Mas, êste auxílio não é uma iluminação distinta da do intelecto
agente, enriquecida, pelos princípios universais, da regra infalível da
verdade.
9 Os dois aspectos do pensamento tomista estão bem assinalados nos
textos seguintes. In Boethium de Trinitate, q. I, art. I, in C.: "Anima homi-
nis habens in se potentiam activam et potentiam passivam, sufficit ad per-
ceptionem veritatis." - I", q. 84, art. 5, in c.: "Alio modo dícítur alíquid
cognoseí in alíquo sicut in cognitionis principio: sicut si dicamus quod in
sole videntur ea quae videntur per solem. Et síc necesse est dicere quod
anima humana omnia cognoscat in rationibus aeternis per quarum parti-
cipationem omnia cognoscimus. Ipsum enim lumen inteÍlectuale quod est in
orascatolicas.com
48 METAFíSICA
nobís, nihil est aliud quod quaedam participata similitudo luminis increati,
in quo continentur omnes rationes aeternae."
10 De Spirituatibus Creaturis, art. lO, ad Bm: "Non multum reiert di-
cere quod ípsa intelligibilia participantur a Deo, vel quod lumen faciens
intelligibilia participetur."
11 É o que observa com razão, a nosso ver, J. M. BISSEN (L'exemplaire
divin selo>n saint Bonaventure, Paris, 1929, pág. 177), quanto a SANTO Aoos-
TINHO e SÃo BOAVENTURA: nem um nem outro, nos parece, teve a "intenção
de dar-nos uma teoria do conhecimento no sentido estrito da palavra, mas
-'-- -- antes' mostra-nos o reino universal dá Verdade' primeira e a dependência
da verdade criada com relação àquela". - F. CAYRÉ (La contemplation augus-
tinienne, Paris, 1927, pág. 193) nota no mesmo sentido: "São (as) proprie-
dades do ser ( ... ) apreendido intelectuabnente que apaixonam AGOSTINHO,
mais que a análise metódica das condições nas quais se produz a intuição."
- Para o conjunto desta questão, cf, R. JOL1VET, Dieu, Soleil des esprits.
La doctrine augustienne de l'illumination, págs. 177-197.
12 E. GILSON, Le réalíS1TJ,e méthodique, na coleção "Philosophia perennis",
Regensburg, 1930, II, pág. 749. - Cf. do mesmo autor, Réarisme Thomiste
http://www.ot
HISTÓRIA DO PROBLEMA CRíTICO DA ANTIGVIDADE. . . 49.
nascatoücas. com
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50 METAFíSICA
I
acôrdo nisso com a inspiração agostiniana, esforça-se por ul-
trapassar o ponto-de-vista especificamente psicológico da aná-
I
lise dos processos do conhecimento com o propósito de explicar
o caráter necessário e absoluto do nosso saber inteligível.
Que êste problema se apresente e forneça à Crítica seu
objeto formal próprio, nada melhor indica do que as dificul-
dades em que se debate o pensamento aristotélico para fazer
concordar o contingente com Q necessário e o necessário com
o contingente. O conflito entre essas noções está aqui sem
solução. A contingência dos sêres singulares da experiência
não se torna inteligível senão pelo recurso à geração circular
das causas e dos efeitos, cuja eternidade fornece uma expli-
cação análoga à necessidade analítica, a qual define a lei do
pensamento. 14 - Mas, por , outro lado, a necessidade, tipo
único da. inteligibilidade não é, para ARISTÓTELES, outra coisa
'senão a necessidade interna (ou lógica) das essências e das
formas. Ora, tratar-se-ia de saber por que essas essências e
essas formas são necessárias. Eis o problema capital, que, do
ponto-de-vista crítico, toma '8, seguinte forma: o que em suma
fundamenta a caráter absoluto e necessário de nosso pensa,.
mento? ARISTÓTELES a respeito disso não dá resposta ou, pelo
menos, a resposta que dá dizendo que as formas e as essências
são necessárias porque são eternas (De Coelo, I, 12, 282 a 25;
282 a 30; Gen. et Corr., lI, 11, 337 b 35; Phys., n, 5, 196 b 12)
não é, evidentemente, uma solução, o necessário e o eterno
sendo rigorosamente conversíveis. Faltaria, de fato, explicar
por que elas são eternas - e, por outro lado, sua eternidade
(hipotética) não resolveria de modo algum o problema de sua
necessidade. Finalmente, ARISTÓTELES não ultrapassa o nível
do fato empírico. 15 .,
-:
c) O problema, da verdade. É preciso, portanto, que o
realismo metódico se faça crítico, não somente para com os
I
14 Cf. J. CHEVALIER, La Notion du Nécessaire chez Aristote tet ses pré- \
décesseurB, Paris, 1915, págs, 160 sg. - Sôbre a geração circular, ver os
seguintes textos: ARISTÓTELES, Gen. et Corr., lI, 4, 3331 a 8, b 2; 6, 333 b 5; (
10, 337 a 6; 11, 338 a 6. An. post., lI, 12, 95 b 38. "A natureza, escreve
J. CHEVALIER (pág, 161, n. 1), é, pois, lessencialmente a forma (Phys., lI, 1,
193 a 30). A espécie ou o tipo é, portanto, o que parece melhor convir à
defJnição da natureza; a natureza, com .efl;litA". ,é.. 1? permanente;.Çlral. o _9ue
permanece na geração é o tipo, que exprime a forma própria à espécie; a
.natureza é, pois, a forma ou o tipo ( ... ). Esta concepção da natureza e da
:forma conduz-nos diretamente à teoria da geração circular (o homem vem
de um homem e prepara um outro; a criança gera o adulto, e inversamente,
como a água vem das nuvens e gera por sua vez as nuvens, que produzem
a água) ."
111 Cf. J. CHEVALIER, loco cit., págs. 145-179; R. JOLIVET, Essai sur leB 1'ap-
J"• • •
pcyrts entl/'e penBée grecqtlle et pensée chrétienne, pág. 70 sg.
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HISTÓRIA DO PROBLEMA CRíTICO DA ANTIGUIDADE... 51
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HISTÓRIA DO PROBLEMA -CRíTICO DA ANTIGUIDADE ... 53
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54 METAFÍSICA
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HISTÓRIA DO PROBLEMA CRíTICO. DA ANTIGUIDADE. . . 55
uascatolicas.com
56 ME'!'AFlsICA
§ 3. O TERMINISMO
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'II
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58 METAFíSICA
3. O idealismo problemático
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HISTÓRIA DO PROBLEMA CRíTIOO DA ANTIGUIDADE. . . 59
28 Cf. Ch4rt., 11, 385: "Quod in lumine naturali intellectus viatoris non
potest habere noticiam evidentiae de existentia rerum evidentia reducta
seu reductibili in evidentiam seu certítudinem primi principii."
29 Cf. Chart., lI, 577 (lO): "Item dixi in epístola secunda ad Bernardum
quod de substantia materiali alia ab anima nostra non habemus certitudi-
nem evidentiae."
'ascatclicas.com
60 METAFíSICA
§ 1. A "VIA MODERNORUM"
http://www.ol
,'I
30 Cf. Ethica, lI, propositio 40, Scholium l, onde SPINOZA explica como
é impossível formar uma idéia ou conceito a partir da percepção sensível.
As noções universais são, na realidade, imagens confusas dos objetos singu-
lares da percepção: "At ubi imagines in Corpore .plane coniunduntur, Mens
etiam omnia corpora confuse sine ulIa distinctione imagtnabítur, et quasi
sub uno attributo comprehendet, nempe sub attributo Entis, Re, etc. ( .•. ).
Ex sirnilibus deinde causis ortae sunt notiones illae, quas Uníversales vocant,
ut Romo, Equus, Canis, etc." - As verdadeiras idéias vêm, não da expe-
riência sensível, mas da Razão, cujo objetivo próprio é conhecer as coisas
como necessárias e eternas (Éthique, lI, 44). - Ora, conhecer as coisas como
necessárias e eternas é, ao mesmo tempo, conhecer a essência divina (en-
quanto envolve a existência necessária das coisas) e conhecer-se a si mesmo
como existindo em Deus e necessàriamente concebido por Deus, em consi-
deração mesmo de sua essência (Éthique, V, propos. 24-26).
orascatol'cas.com
62 METAFíSICA
§ 2. O IDEALISMO CARTESIANO
A. A doutrina de Descartes
:u 1. O método matemático. - O idealismo, como vimos
acima, é muito anterior a DESCARTES. Todos os pensadores
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HISTÓRIA DO PROBLEMA CRfTlOO DA ANTIGUIDADE. • • 63
~~~·i~,:
11 :!~Sf'j •.,/: •
exemplo, que estou aqui sentado perto do fogo, vestido com um "robe de
chambre", tendo êste papel entre as mãos? ·C .. >. Todavia, tenho que con-
siderar que sou homem e, por conseguinte, tenho o hábito de dormir ( ... ).
Quantas vêzes me aconteceu sonhar à noite que me encontrava neste lugar,
vestido, e que estava perto do fogo ( ... ). Detendo-me neste pensamento,
vejo manifestamente que não existem indícios certos por onde possamos
claramente distinguir a vigília do sono."
34 Méditcrtion premiere: "Sei eu acaso (se Deus) não terá feito com
que não exista nem terra, nem céu, nem corpo extenso, nenhuma figura,
grandeza ou lugar, não obstante tenha eu os sentimentos de tôdas estas
coisas e isto não me pareça existir de uma maneira diversa da qual as
vejo? E ( ... ) sei eu acaso também se não terá :tle feito qus me engane
também tôdas as vêzes que somo dois e dois, ou quando dou nome aos
lados de um quadrado, ou quando julgo algo ainda mais fácil?"
http://www.obl
..
~-.
olicas.com
66 METAFíSICA
4. O nomina,U8DlO
"-7 a) O privilégio tia imiuiçõo. Outra consequencia do
"matematicismo" cartesiano é que os universais são relegados
ao nada da imaginação ontológica. DESCARTES declara, em sua
Resposta às objeções de GASSENDI: "O que alegas contra os
universais dos dialéticos em nada me afeta, pois que concebo
tudo de maneira diversa dêles" (Des c/ioses qui ont été objec-
tées contra la s- Méditation, I, § 52). Os universais só podem,
efetivamente, ser concebidos corno abstraídos da experiência,
se e na mesma medida em que admitimos que o objeto pri-
meiro oferecido à percepção é o universo das naturezas mate-
riais (ens in quidditate sensibili eeietens) (Il, 43';'j. Num
contexto doutrínal em que a idéia é o objeto imediato do pen-
samento, isto é, o inteligível, que necessidade de abstração
para produzir naturezas universais? Tôda. percepção se 1'eduz
à intuição do singular. É o que explica DESCARTES nas Reçulae,
onde propõe uma lógica a um só tempo adaptada a êste no-
minalismo e construída inteiramente sôbre o tipo das mate-
máticas (I, 82).
«Enumeraremos aqui, escreve DESCARTES (Regulas ad. directionem
ingenii, lII), todos os atos da inteligência por meio dos quais pode-
mos atingir a percepção das coisas, sem nenhum receio de êrro. S6
admitimos dois: a intuição e a indução. - Entendo por intuição, não
a crença no testemunho variável dos sentidos ou os juizos enganosos
da imaginação, má reguladora, mas a concepção de um espírito são
e atento, tão fácil e distinto que nenhuma duvida reste sôbre o que
compreendemos; ou então, o que dá no mesmo, a concepção f~me
que nasce de um espírito são e atento unicamente às luzes da raaao.s
http://www.ob
HISTÓRIA DO PROBLEMA CRíTlOO DA ANTIGUIDADE. . . 67
rascatolicas.com
68 METAFíSICA
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HISTÓRIA DO PROBLEMA CRÍTIOO DA ANTIGUIDADE. . . 69
http://www.obr
HISTÓRIA DO PROBLEMA CRíTlOO DA ANTIGUIDADE. . . 71
asõãtoIicas.com
CAPÍTULO II
SUMARIO 1
http://www.o
NATUREZA E MÉTODO DO PROBLEMA CRíTICO '73
A. Os argumentos idealistas
1. O critério de apoditicidade. - A dúvida concernente
à realidade do mundo exterior se apresenta como baseada em
duas espécies de argumentos, tendentes a estabelecer que a
existência não é apoditicamente certa, isto é, absolutamente
evidente.
Pois do ponto-de-vista crítico, segundo DESCARTES, só deve
ser admitido o que está fora de dúvida, seja a coisa mais
extravagante, isto é, o que torna absolutamente inconcebível
o não-ser (asserção contraditória) do que é dado como cer-
teza evidente. (.Cf. E. HUSSERL, Méd.itwtions cartéeiennes,
pág. 13.)
Podemos admitir êste princípio no início, porque está claro
que a Critica nada deve prejulgar mas, pelo contrário" deva
levar a discussão às próprías raízes do conhecimento. Não
obstante, convém observar- que a ínconcebílídade absoluta da
não-existência, que define a evidência apodítíca, não deve ser
limitada à ínconcebílídade abstrata ou lógica. Esta não se
refere senão às essências puras e por conseguinte vale apenas
em relação aos possíveis. Como a Crítica tem por objeto aquilo
que é; a inconcebilidade que servirá de critério será a concer-
nente à experiência, senão estaríamos na ordem wgica e não
na ordem real, sendo esta definida pelo conjunto da experiên-
cia (mas aqui sem afirmação de objetividade e de subjeti-
vidade). a
http://www.ob
NATUREZA E MÉTODO DO PROBLEMA CRíTICO 75
B. Discussão
57 Em virtude do critério de apoditicidade que admitimos,
podemos demonstrar que os dois argumentos invocados pelos
idealistas são absurdos e por conseguinte que a não-existência
do mundo é absolutamente inconcebível.
rasc~itolicas.com
76 METAFíSICA
I
fatos da alucinação, não tem sentido, senão, em função da rea- .~.,
lidade do universo.
l!: esta mesma observação que faz KANT relativamente às dificul-
dades extraídas dos fatos de relatividade sensorial (C7'itique de la
Raison Pure, Ailalitica transcendental. Refutação do Idealismo, ter-
ceira nota): "Tôda representação intuitiva das coisas exteriores, es-
creve, não encerra necessàriamente a existência destas, porque esta
representação bem pode ser simples efeito da imaginação (como
acontece nos sonhos ou na loucura).
Mas, mesmo assim, ela só ocorre pela reprodução de antigas per-
cepções exteriores, as quais, como o demonstramos, apenas são pos-
síveis pela realidade de objetos exteriores.»
http://www.obrc
NATUREZA E MÉTODO DO PROBLEMA CRÍTICO 77
rscatolicas.com
78 METAFtSICA
7 J.-P. SARTRE (L'Imaai-naire, Paris, 1940, pág, 206) observa, com justa
razão, que a argumentação de DESCARTES encerra um sofisma certo. ("Vejo
claramente que não há Indícios certos pelos quais possamos distinguir cla-
ramente a vigília do sono", Primeira Meditação, § 4): "Há um têrmo da
comparação estabelecida por Descartes que posso fàcilmente atingir: é a
consciência que vela e que percebe. Posso, a cada instante, fazer dela o
objeto de uma conscíêncía reflexiva que me esclarecerá com certeza à res-
peito da sua estrutura. Esta consciência reflexiva me dá imediatamente um
conhecimento precioso: é possfvel que, no sonho, eu imagine que percebo.
Cada um pode tentar um instante, fingir que sonha, que êste livro que lê é
um livro sonhado, verá, imediatamente, sem poder duvidar, que esta ficção
é absurda. E, para falar a verdade, sua incongruência não é menor que
a da proposição: talvez eu não exista, proposição que justamente para Des-
cartes, é verdadeiramente impensável."
8 A mesma observação pode ser feitado'p'd~to-d~vista dos'''óbjétos'':
Um "mundo irreal", anota J.-P. SARTRE (O Imaginário, pág. 171), é psico-
logicamente uma expressão desprovida de sentido. O mundo é um todo orgâ-
nico, "no qual cada objeto tem seu lugar determinado e mantém relações
com os outros objetos. A própria idéia de mundo Implica para seus objetos
a seguinte dupla condição: é preciso que sejam rigorosamente individuados;
é preciso que estejam em equílíbrío com o meio. É por isto que não existe
o mundo irreal, porque nenhum objeto irtea1 preenche esta dupla condição."
http://www.c
NATUREZA E MÉTODO DO PROBLEMA CRíTICO 79
http://www.ot
f.'
I.
http://wWW.ot
NATUREZA E MÉTODO DO PROBLEMA CRíTICO 83
§ 1. A REFLEXÃO CRíTICA
uascatoucas.com
84 METAF1SICA
111 HEGEL (Logique, trad. Vera, t, I, pág, 193) observava que "todo conhe-
cimento não se pode fazer senão conhecendo e, dirigir suas buscas sôbre
êste pretenso instrumento do conhecimento, nada mais é que conhecer. Mas,
acrescenta HEGEL; querer conhecer antes de conhecer é tão absurdo quanto
a sábia precaução dêste escolástico que queria aprender a nadar antes de
se jogar nágua."
16 Cf. SANTO TOMÁS, in Perihermeneias, I. lect. 3: "Cognoscere autem
praedictam habitudinem (isto é, sua conrormação com o que é) nihil est
aliud quam judicare ita esse in re vel- non esse, quod est componere" et
dividere; et Ideo intellectum non eognoscít veritatem nísí componendo et
dividendo per suum judicium."
17 Cf. SANTO ToMÁS, De Veritate, I, art. 9: "Veritas est in intellectu (. .. )
sicut consequence actum intellectus et sicut cogníta per intellectum; con-
sequítur' namqus intel1ectus operationem, secundum quod judicium intellectus
est de re secundum quod est, Cognoscitur autem ab lntellectu secundum quod
lntellectue reflectitur supra actum suum, non solum quod eognoscít actum
suum, sed. secundum quod cognoscit proportionem ejus ad rem."
http://www.ol
NATUREZA E MÉTODÓ DO PROBLEMA CRíTICO 85
66 4. O cogito realista,
a) Ego cogito ens. Objetamos algumas vêzes contra
êste método reflexivo. que-eé poderia conduzir ao idealismo.
(E. GIJ[,SON, Réalisme thomiste et crtique de la conmaiseomce,
Paris, 1939, pâg. 49.) Mas esta objeção erra quando reduz
tõda reflexão sôbre o pensamento ao tipo de reflexão defi-
nida pE10 Cogito cartesiano. Ora, não é o considerar o pensa-
mento que conduz ao idealismo, mas o afirmar a priori (como
fazem os idealistas) que no pensamento apenas existe o pen-
sa~ento. Na realidade, tôda reflexão, crítica, em qualquer que
seja a doutrina, parte necessàriamente de um Cogito, como
~A~TO _TOMÁS o observa implicitamente quando diz que a jus-
bflcaçao do conhecer consiste na crítica da espécie. O pro-
-"/-,,,
http://www.o
NATUREZA E MÉTODO DO PROBLEMA CRÍTICO 87
§ 2. A DÚVIDA CRÍTICA
brascatolicas.com
88 METAFíSICA
http://www.ol
NATUREZA E MÉTODO DO PROBLEMA CRíTICO 89
http://www.ob
NATUREZA E MÉTODO DO PROBLEMA CRíTICO 91
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92 METAFíSICA
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NATUREZA E MÉTODO DO PROBLEMA CRíTICO 93
brascatolicas.com
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I
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SEGUNDA PARTE
A EXIST~NCIA DA CERTEZA
SUMÁRIOl
:obrascatolicas. com
98 METAFíSICA
http.éwww.ot
A EXISTi!JNCIA DA CERTEZA 99 1
i
A. o Ceticismo como Doutrina.
Como quer que se apresente, como certa, provável ou du-
vidosa, a doutrina cética inclui necessàriamente um certo nú-
mero de certezas.
irascatolicas.com
100 METAFÍSICA
§ 2. As CERTEZAS PRIMEIRAS
79 Vemos que o ceticismo, seja qual fôr, não pode ser for-
mulado sem implicar, tanto na ordem especulativa como na
ordem prática, de um lado a certeza absoluta do princípio de
contradição, e de outro diversas certezas ligadas àquela dêste
princípio.
http://www.ol
A EXISTftNCIA DA CERTEZA 101
orascatolicas.com
102 METAFÍSICA
§ 1, O ARGUMENTO no ÊRRO
A. Os erros da inteligência
1. As contradições dos filósofos. - Não nos devemos
fiar, dizem os céticos, no que se engana. Ora a raaão humana
se engana continuamente. "A razão, escreve BAYLE, é apenas
urna aventureira, que não sabe onde parar; nova Penélope des-
faz todos os dias o que tinha feito na véspera." A história
das doutrinas o demonstra bastante: então que é ela no fundo
senão a história dos erros do pensamento humano? :mstes sis-
temas, que perpetuamente se propõem como a última expressão
da verdade, apenas formulados logo são varridos por outros
contrários, enquanto aguardam que êstes últimos vão encon-
trar seus predecessores na fossa comum onde apodrecem su-
http://www.c
A EXISTÊNCIA DA CERTEZA 103
I
t
cessivamente tôdas as opiniões humanas. "Confiai em vossa
filosofia, escreve MONTAIGNE (Essais, L 11, c. XII, ed. Villey,
Paris, 1922-1923, t. 11, pág. 252) ; orgulhai-vos de terdes en-
contrado o Bôlo de Reis (descoberto a pólvora) em meio da
confusão de tantos cérebros filosóficos."
B. Discussão
.82 Os fatos citados pelos céticos são certos. Mas, primeira-
mente, estão longe de definir adequadamente a posição do
homem em relação à verdade. Depois são mal interpretados.
http://www.o
A EXISTÊNCIA DA CERTEZA 105
§ 2. ARGUMENTO DO DIALELO
brascatolicas.com
106 METAFÍSICA
A. O argumento
1. Ausência de critério definitivo. - SEXTO EMPÍRICO,
no primeiro livro de suas HypotllPosis pyrronianas, argumenta
da seguinte maneira. Se há uma verdade, nós devemos reco-
nhecê-la no que ela possui de caracteres, através dos quais se
distingue absolutamente do falso. 3 Ora, nós não temos ne-
nhum meio de definir êsses caracteres, ou melhor, tôda a ten-
tativa de os definir constitui um círculo vicioso. Com efeito,
para determinar êsse critério da verdade, nós precisaríamos
de outro critério, ou em outros têrmos, para pôr à prova êste
instrumento com o qual queremos medir a verdade,precisa-
ríamos de um nôvo instrumento e novamente para tentá-lo um
outro seria requisitado. Assim, tôâa afirmação de verdade
exige que 1'ecuemos até o infinito, isto é, a verdade foge de
nós com uma fuga eterna. 4
http://www.ol
A EXIST:ÊNCIA DA CERTEZA 107
B. Discussão
86 O argumento do dialelo têm apenas aparências de rigor.
É o que podemos mostrar colocando-nos nos dois pontos-de-
-vista que temos considerado.
orascatolicas.com
108 METAFíSICA
http://www.o
A EXISTÊNCIA DA CERTEZA 109
C. Os novos problemas
88 A discussão do ceticismo já nos permitiu precisar alguns
aspectos do problema das fontes da certeza. Não basta porém
ter estabelecido a exístêncía da certeza nem ter mostrado que
esta está necessàriamente implícita em tôda atividade prática.
É necessário ainda que determinemos quais são os fundamen-
tos próximos desta certeza, ou, se preferirmos os modos, se-
gundo os quais se realiza esta presença do ser na inteligência,
de que acabamos de falar. Umas vêzes, com efeito, quisemos
reduzir tôda certeza legítima a apreensão dos dados sensíveis
(fenômenos ou sensações), que pareciam se impor por si, sem
nenhuma intervenção do espírito (nominalismo e empirismo).
- Outras vêzes, ao contrário, se pretendeu reduzir tôdas as
certezas válidas àquelas que resultariam (provAvelmente) da
pura atividade do sujeito inteligente, quer a ex·periência sen-
sível aparecesse ílusõría (idealismo materiab), quer admitida
como real, ela parece ser apenas quanto A sua forma, um
efeito de atividade subjetiva do cognoscente (idealismo
formal).
Contra estas concepções, mostraremos que a certeza do
conhecimento mõo se pode ewplicar e justificar senão em função
ao mesrno tempo do objeto e do sujeito. Dito de outra ma-
neira, a certeza tem causas subjetivas e objetivas; ela é a
obra comum do sujeito e do objeto.
~stes novos problemas devem ser distinguidos do ponto-de-vista
crítico, do da origem das idéias, que é psicológico (11, 422-446). Tra-
ta-se, com efeito, em Psicologia, de descrever concretamente o [ôgo
da inteligência, - em Critica, de julgar esta mesma Inteligência como
faculdade do ser. Todavia, como dissemos, é evidente que o ponto-
-de-vísta critico está estreitamente dependente do ponto-de-vista
psicológico.
brascatolicas.com
CAPiTULO II
http://www.ot
AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 111
§ 1. A CORRENTE FENOMENISTA
A. O fenomenismo de Hume
1. A origem das idéias. - LOCKE e HUME fundamentam
tôda sua doutrina sôbre o postulado empirista de que o conhe-
cimento está limitado aos dados da experiência sensível. Par-
tamos, diz LoCKE, da hip6tese da tábua rasa, isto é, a hipótese
onde não existem idéias inatas. Como o espírito chega a co-
nhecer? Pela experiência, que é ou externa (sensação) ou
interna (reflexão). Podemos mostrar por indução que não há
idéia no espírito que não pertença a uma ou outra classe. Cons-
tata-se, aliás, que nas crianças o progresso do conhecimento é
simultâneo ao desenvolvimento das faculdades sensíveis e da
reflexão e que nos adultos as idéias novas vêm sempre por
I. ,intermédio dos objetos novos que lhes oferece a experiência.
LOCKE conclui daí, não como conviria, que todo conhecimento
I tem seu início na experiência, externa e interna, mas que todo
conhecimento certo está estritamente limitado à experiência
sensível, e que tôdas as nossas "idéias" só valem à medida que
se reduzem à sensação e às transformações da sensação.
(Cf. LOCKE, An Essay concernina human understanding, II
ch. r, n. 2-9.)
irascatolicas.com
112 METAFíSICA
3. Discussão do fenomenismo
a) O postulado empirista. O empirismo tem razão, sem
dúvida, ao afirmar que todo nosso conhecimento tem sua ori-
gem primeira ou seu ponto-de-partida na experiência sen-
sível (lI, 430). Mas, a menos que identifiquemos as noções de
origem e de causa, não podemos passar imediatamente desta
constatação certa à asserção de que a causa única e total de
nossas idéias seja a experiência sensível, isto é, a sensação
e a imagem. Estabelecemos, do ponto-de-vista psicológico, que
era .impossível reduzir a idéia abstrata -e-uníversal à imagem
e à sensação (lI, 414-.1;21). Não voltaremos a falar sôbre isto.
- Mas deveremos observar que o ponto-de-vista empirista
consiste em desconhecer ou falsear o processo da abstração na
elaboração do saber inteligível. .
http://vvvvvv.ol
AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 113
)'rascatolicas.com
114 METAFÍSICA
http://www.d
AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 115
nísmo tão radical, que o de HUME, a seu lado, pode apenas passar
por modesto ensaio. (Cf. nosso Essai 8ur te Berçscnisme, Lyon-
-Paris, 1931, págs. 80-91.)
B. O imaterialismo de Berkeley
9l,. 1, O nominalismo berkeleyano. - Estas concepções são
as mesmas de BERKELEY, que propõe, baseado no nominalismo
absoluto, a dupla crítica do conceito universal e da noção de
substância ou de sujeito. A idéia abstrata, diz BERKELEY, de
nada serve, pois ela só faz suprir objetos singulares em número
I'
I indefinido. Aliás não tem realidade mental: cada vez que ten-
tamos descobrir-lhe um conteúdo próprio e original consegui-
mos apenas imagens grosseiramente confusas e informes.
BERKELm, por outro lado, mostra que a noção de subs-
tância, que êle entende como sendo aquela de um substrato
inerte dos fenômenos, não corresponde a nada de real nem
de inteligível (lI, 56~).
il .
brascatolicas.com
116 METAFíSICA
§ 2. A CORRENTE POSITIVISTA
95 1. Nominalismo e empmsmo. - O positivismo de
A..COMTE, STUART MILL~ H. SPENCER, é apenas uma facêta do
empirismo fenomenista. Nominalista por princípio, o positi-
vismo prega uma espécie de ascese filos6fica ou, se assim se
quer, um nôvo dever de abstinência metafísica. Renuncia, com
efeito (com uma aparente sabedoria), procurar a solução dos
problemas insolúveis apresentadas pela concepção fenomenista
do universo. Acaso há substrato dos fenômenos, há as "coisas
em si" (como diz KANT) atrás das aparências móveis? Pouco
importa, substrato e "coisas em si" são perfeitamente inúteis.
o positivismo se apresenta assim como uma solução para os pro-
blemas suscitados pelo Kantismo ao mesmo tempo que pelo feno-
menismo. Mas, como vamos ver, êsses problemas são os mesmos que
os de KANT e HlJME, pois resultám nos dois casos do postulado no-
minalista. Trata-se essencialmente de explicar, sem recorrer à me-
tafísica, a ordem ie a regularidade dos fenômenos.
Mas, como explicar sem recorrer a um sujeito, todos or-
gânicos da natureza, da ordem e da regularidade dos fenô-
menos? Para que, respondem os positivistas, procurar expli-
cações hipotéticas e aliás inúteis? A ordem é um fato e assim
também a constância das seqüências fenomenais. 1!:stes fatos,
é suficiente que nós os constatemos e os generalizemos sob for-
mas de leis. O objeto da ciência, é unicOlmente distinguir 08
lagos empíricos dos fenômenos e tôda a filosofia não tem: outra
finalidade senão compreender a ciência e unificar seus resul-
tados, no pr6prio terreno da experiência. '1
'1 Cf. A. COmE, Discours sur l'esprit positif, § 12; "Tendo espontânea-
mente constatado a inutilidade radical das explicações vagas e arbitrárias
próprias da filosofia inicial, seja teológica, ou metafísica, o espírito humano
renuncia, daqui por diante, às buscas absolutas que só convinham a sua
infância e limita seus esfôrços ao domínio, desde então ràpidamente pro-
gressivo, da verdadeira observação, única base possível dos conhecimentos
verdadeiramente acessíveis, sàbiamente adaptados às nossas necessidades reais.
A lógica especulativa consistirá até então em raciocinar, de uma maneira
mais ou menos sutil, segundo princípios confusos, que, não encerrando ne-
...nhuma prova suficiente, suscitava sempre.diebates ,sem,.fim.·.JlIlais :adiante "."'".,,
reconhece como regra fundamental, que tôda proposição que não é estrita-
mente redutível à simples enunciação de' um fato, ou particular ou geral,
não pode oferecer nenhum sentido real e inteligível Os princfpios que ela
emprega são êles mesmos verdadeiros fatos, apenas mais gerais, e abstratos,
que aquêles cujos laços devem formar ( ... ). Em uma palavra, a revolução
fundamental que caracteriza a virilidade de nossa inteligência consiste, essen-
cialmente, em substituir em tôda parte, a inacessível determinação de causas
propriamente ditas, à simples procura das leis, isto é, das relações constantes
entre os fenômenos observados."
http://www.o
AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 117
brascatolicas.com
118 METAFÍSICA
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AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 119
§ 3. A CORRENTE ANTIINl'ELECTUALI8TA
A. O pragmatísmo
1. Origens do pragmatismo. - O movimento pragma-
tlsta, escreve WILLIAM JAME8 (Le P?'agmatisme, trad. fran-
cesa, por LE BRUN, Paris, 1914, pág, 57), "parece se ter for-
orascatolicas.com
120 METAFíSICA
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AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 121
lb rascatoIicas. com
122 METAFÍSICA
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AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 123
orascatolicas.com
124 METAFÍSICA
B. O Bergsonismo
1(}8 Do ponto-de-vista crítico, o bergsonismo se define como
uma concepção nominalista do conhecimento e uma apologia
da intuição supra-intelectual como instrumento de conhecimen-
to metafísico.
1. O intuicionismo
a) Crítica do associacionismo, A desqualificação do
conceito como instrumento de conhecimento está ligada, em
BERGSON, a uma crítica vigorosa da atomismo associacionista.
BERGSON fêz ver que o assocíaeíonísmo era um ensaio 'para:
-o
0
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)rá~catolicas.com
126 METAFíSICA
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AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 127
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AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 129
orascatolicas.com
130 METAFfSICA
C. As teorias axiológicas
109 1. O primado do sentimento e do valor. - Sob aspectos
diversos, as teorias axíolôgicas modernas afirmam que o único
meio de chega1' à realidade está. no sentimento ou na emoção.
M. SCHELER, N. HARTMANN, JASPERS estão concordes com
HUSSERL em reconhecer o caráter essencialmente intencional do
conhecimento, isto é, sua' relação com uma realidade indepen-
dente do espírito.;]J2 Somente neste ponto êstes filósofos, se-
parando-se de HUSSERL, julgam que o instrumento desta re-
lação é apenas o sentimento ou a apreensão do valor (fatos
emocionais-transcendentes) .
Para além da forma, categoria ou estrutura lógica, única
acessível segundo KANT, SCHELER quer encontrar o real e o
ser. Seu ponto-de-partida é "o homem total com a síntese uni-
ficada de suas mais altas fôrças espirituais". O primado da
inteligência é, portanto, diz SCHELER um abuso e um precon-
ceito. Para entrar em contacto com as coisas temos algo me-
lhor que a inteligência, a saber, uma espécie de experiência,
cujos objetos são totalmente inacessíveis à inteligência con-
ceitual. Esta experiência nos é fornecida pelo "sentimento
original intencional", isto é, pelo sentimento de uma realidade
apreendida formalmente sob seu aspecto de valor e nunca sob
seu aspecto de ser. Graças a esta inter..cionaUdade própria
do sentimento podemos penetrar a própria essência da reali-
dade diretamente, sem discussão crítica possíveL. (Cf. M.
SCHEI..Jm, Der Formalismue in der Ethik, 1913-1916, pâg. 261.)
-----0 fim dêste "conhecimento emocional".-está,portanto, cons-
tituído pelos valôres. Seu conteúdo se define como uma ten-
dência ativa para os otüõree. Por conseguinte, não depende das
categorias "verdadeiro" e "falso", mas das categorias "incli-
nação" e "aversão". "O amor e o ódio, diz SCHELER (Der For-
http://www.ob
AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 131
rascatolicas.corn
132 METAFíSICA
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METAFíSICA
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AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 135
B. A verdade
115 Somos levados, pelo que precede, à uma noção da verdade
mais inteligível que a operação mecânica preconizada pelo em-
pirismo. A verdade é segundo a fórmula de SANTO TOMÁS,
uma conformidade entre a inteligência e a coisa (tulequatio rei
et intellectus). Trata-se agora de apreender claramente o sen-
tido desta fórmula.
rascatolicas.com
136 METAFíSICA
I
I
http://www.obr
AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 137
21 Cf. J. MARlTAIN, Les Déçres d'U savoir, pág. 188: "Que é o juizo senão
um ato pelo qual o espirito declara idênticos. na coisa ou fora do espirito,
um predicado e um sujeito que diferem quanto à noção, ou em sua exis-
tência instrumental? (. .. L Eu faço nos meus 'II.OIffflU1ta, no âmago do meu
pensamento, uma operação que só tem sentido porque se relaciona com a
maneira pela qual existem (ao menos possivelmente) fora dela. A função
própria do juizo consiste assim em fazer passar o espírito do plano da simples
essência ou do simples objeto significado ao pensamento, ao plano da coisa
ou do sujeito, que detém a existência (atual ou possIvelmente) e do qual
objeto de pensamento predicado e o objeto de pensamento sujeito sio as-
pectos inteligiveis.
';,; ~:;:l'"
.....,..:. <
~ I~ l'tltf1q.: .
ascà'tolicas. com
138 METAFíSICA
A. A determina,ção da inteligência
http://www.obl
AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 139
B. O sinal formaJ
119 1. O conceito como sinal formal, - O conceito é um
sinal formal, isto é (com a diferença instrumental que, conhe-
cido primeiro, faz conhecer outra coisa: assim a fumaça faz
conhecer o fogo), - um sinal cuja essência inteira é significar
e Que se esgota nesta significação. Daí vem que não pode ser
conhecido nêle mesmo como realidade entitativa a não ser
por um ato de reflexão. Direta e primeiramente, êle tem
valor intencional e livre da pr6pria coisa que significa. ~le
ainda supõe, para ser conhecido por reflexão, a formação de
um outro conceito, por meio do qual seja aprendido como rea-
lidade entitativa ou como objeto. Daí se segue que, se o con-
ceito fôsse objeto direto do pensamento, não s6 tôdas as ciên-
cias do sujeito confluiriam na Psicologia, mas ainda que jamais
a inteligência poderia apreender o conceito, como semelhança
objetiva, uma vez que se desdobraria indefinitivamente em
novos conceitos.
.. " 'i ~ Cf. J. DE SANTO. TOMÁS, Cursus theol., IP., q. 27, dispo 12, art. 5, n, 5
(V ves, .IV, pág. 95): "Ex quíbus patet pertinere ad ipsum intellectum, suo
actu qw est intelllgere, formare sibi objectum ínalíqua similitudine reprae-
sentante, ,et in,tra se ponere, et ibique unire per modum termini seu objecti
a~ quod mtelligere terminatur, síeut per speciem impressam unitur ut prin-
eípíum de terminans intellectum ad pariendam notitiam. Ille autem actus
quo forma~ur o~jectum est cognítío: cognoscendo enim format objecturn, et
formlllido 'lntelligit, quía simul format, et formatwn est, et intelligit. -
Cf. J. MARrrADf. Les Degrés du sa'l.lO'lr, págs. 235-241.
}
.~ ..
http://www.obrâ
AS CAUSAS SUBJETIVAS DA CERTEZA 141
SUMÁRIO;1
http://www.ot
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 143
ART. r. O IDEALISMO
126 Distinguimos em Psicologia (Il, J,.J,.1-445J três tipos de
idealismo: o idealismo problemático de DESCARTES, o idealismo
formal de KANT e o idealismo dogmático dos pós-kantianos.
Sob êsses três aspectos, o idealismo é apenas, como vimos, um
ensaio de solução aos problemas engendrados pelo nomina-
lismo. Para uma doutrina que nega o valor ontológico das
noções universais, não há com efeito outra solução, uma vez
afastado o empirismo, senão explicar as idéias pela pura ati-
vidade subjetiva do cognoscente.
J á estudamos esta concepção em DESCARTES e mostramos
que problemas suscitava êle, sem os resolver, quanto ao valor
objetivo do conhecimento (problema do mundo exterior),
quanto à natureza do ser (problema da "comunicação das subs-
tâncias"), enfim, quanto ao fundamento da certeza (proble-
ma da verdade). Resta-nos examinar como KANT e seus su-
cessores tentaram resolver, do ponto-de-vista idealista, as di-
ficuldades legadas pelo cartesianismo.
~;." .
I,
invertê-la se se tratasse- de uma relação de causa e efeito ou
de substância e acidente. É preciso, portanto, convir que 09
objetos, se os pensamos em seu ser ou em 81/;Q, constituição
j
interna, são' feixes de qualidades de natureza, im.teiramente di--
ferente da, que a Q,8sOCtÍCLÇão psico16gica, é ca,paz de produzir.
Por isso, assim como a associação não os criou, do mesmo modo
uma associação diferente ou contrária jamais será capaz de
destruí-los, nem por conseguinte, de modificar, de uma manei-
ra qualquer, o organismo objetivo do entendimento (Kritik der
Il
•,
reinen Vernunft, ed Valentier, pág. 723). Alertado pelo fra- 1
http://www.ob
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 145
que a abstração seja levada ao .seu mais a~to grau, êles per-
manecem indefinidamente conceitos sensíveis (Imagens).·
A p~tição de princípio cega. Consiste em negar a possibi-
lidade da abstração metafísica (ou intuição intelectual) pe~a
única razão de que a abstração efetuada no sensível dana
sempre o sensível, isto é, seria um simples processo de gene-
ralização das imagens fornecidas pela experiência sensível, -
o que é, exatamente, todo o problema! (Il, J,,28). Tôda a Crí-
tica kantiana está baseada nesta petição de princípio a divi-
são dos juízos em analíticos e sintéticos, a p'riori, é apenas um
de seus aspectos (I, 65; lI, J,,96).
KANT está então, no início, como êle mesmo o declara
(Critique de la raison. pure, Lógica transcendental, § 13, nota
da 2.a ed.), perfeitamente de acôrdo com HUME que viu serem
as noções metafísicas, à priori. O ponto fraco do sistema de
HUME foi não compreender que estas noções, a priori, são
formas ou estruturas subjetivas do entendimento. Assim aca-
bou por desmentir, de certo modo, a descoberta capital da
... aprioridade dos conceitos puros, tentando fazer derivá-los da
experiência, pelo jôgo das leis da associação.
http://www.obi
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 147
C. Os problemas do kantismo
~ãscâtolicas.com
,
148 METAFíSICA
http://www.obi
AS CAUSAS OBJETIVAS DA cERTEZA 149
tolicas.com
150 METAFíSICA
http://www.obr
r.
ascatolicas. com
I
I
152 METAFíSICA
\
possível. 16 - Pelos fins do século XIX, diversas reações anti- !
idealistas se delineiam. O pragmatismo e o berçsonismo, que
já estudamos, são em parte governados por uma preocupação
realista, mas, porque não deixaram de lado o nominalismo,
conseguem apenas, de fato, atingir um empirismo tão pouco
inteligível quanto o idealismo dogmático que repudiam. Outras
correntes se manifestam ao mesmo tempo, em particular a
tenomenoloaia de HUSSERL, e o neo-realísmo anglo-saxão, mas j
sob formas tais que se pode duvidar se constituem, na ver- I
186
dade, como o pretendem, uma volta a um realismo autêntico.
1. O problema do real. - A "coisa em si" de KANT
I
f
parecia decididamente a concepção menos assimilável. Nunca,
na história da filosofia, o "coísísmo" tinha tomado uma forma
tão grosseira e opaca ao entendimento. Nenhum pensamento
se podia desenvolver neste universo onde a razão vinha cons-
tantemente, se assim se pode dizer, dar cabeçadas no muro do
íncognoscível, Também de agora em diante não há mais "coisa
em si". Falta eeplica» de um lado a presença do universo na.
consciência (a presença do.pensamento pensado diante do pen-
samento pensante), - e de outro, a ordem dêste universo.
Em outras p-alavras, trata-se de tornar a encontrar o real.
"É preciso, diz LAcHELIER, eco de todo o idealismo moderno,
encontrar um meio de tornar o pensamento real". (Du fon-
demeni de l'Induction; pág. 77.) Ora se é preciso descobrir
um tal meio, a razão está no fato de que O "pensamento pen-
sante" se desenvolve numa espécie de vazio ontológico, num
mundo de puros possíveis. O problema será, portanto, desco-
brir o processo dialético que explicatrá, a parti?' do eu puro ou
do puro pensamento, a gênese necessária do mundo dos obje-
tos, das consciências e das pessoas. Em outras palavras, será
preciso deduzir o que HAMELIN chama "o universo e sua orga-
nização tão perdidamente vasta e profunda", ou, então, o que 1
vem a ser o mesmo, construir a priori o objeto do conheci-
mento. É, eminentemente, esta a obrigação, a que se dedicam 1\
as doutrinas idealistas, de orientação panteística, de FlCHTE, i'
de SCHELLING e de HEGEL.
187 2. O RÔVO averroismo. - As hipóteses possíveis, a partir
das premissas nominalistas fS idealistas, não são muitas. Desde
o comêço do século XIX, tôdas foram experimentadas. Mas. os
filósofos alemães que assumem -a> sucessão dê KANT pensam
16 "Como o idealismo, escreve HAMELlN (Éléments principaux de la .,.é-
pTesentaticm, pág. 179), tem por princípio a convicção de que é impossivel
ao pe~en~o atingir um' objeto exterior a êle, parece seguir-se desta
convlcçao pnmordial que uma consciência só pode partir e acabar nela
mesma."
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I.
I,
1.
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~Jatolicas.com
154 METAFíSICA
138 3. Neocriticismo.
a) O fracasso da dedução. KIERKEGAARD, ao criticar o
hegelianismo, faz uma observação que se aplica a FleRTE e a
SCHELLING: "A lógica diz, é eleática; ( ... ) tão eleática que
o sistema hegelíano não pode desamarrar; êle deve, para pôr-
-se em marcha e continuar nela, apelar para idéias inexpli-
cáveis, não-lógicas, como as de passagem, de negação (o ne-
gativo êste "Maitre Jacques" da filosofia helegíana) , de me-
diação. O devenir não pode ser tratado como uma parte da
lógica. Contém contingentes irredutíveis". (8. KIERKEGAARD,
Le concept d'angoÍ8se, París, 1935, Introdution de J. W AHL,
pâgs. 2-3.)
IIEGElr, é verdade, não se desencorajou com estas dificul-
dades. O Espírito, diz, em seu esfôrço por se conhecer a si
mesmo, gera sucessivamente tôdas as formas do real, pri-
meiro os quadros de seu pensamento, depois a natureza e enfim
a história. Por isso devemos reencontrar o real e o contigente
sem sair do racional. - Mas esta argumentação está errada
ao Supor o problema resolvido. Pois está bastante claro que
ela não opera nenhuma passagem do conceitual para o real, do
abstrato para o concreto. A dialética, considerada, seja de
que modo fôr, permanece sempre uma construção ideal, e se
ela se dá as aparências de estabelecer o real unicamente em
virtude das exigências lógicas, é que ela apela, constantemente
(contràriamente a seu princípio), para a intuição do dado con-
tigente, para a pura experiência sensível.
b) Renouoier. O neocriticismo de RENOUVIER e HAME-
LIN não significa (ao menos na intenção dêstes pensa-
dores) uma volta ao idealismo formal de KANT, nem muito
menos uma ruptura com o nominalismo. Ao contrário, o que
censuram em KANT e nos pós-kantianos, particularmente em
HEGEL, é antes não terem ido até o fim das. ç~º~l;!gijêncjaeidea
listas, que derivam do princípio riõmíiíàIistá e· de terem con-
servado, sob o pretexto capcioso de racionalizá-lo, esta "coisa
em si" realrnente opaca ao entendimento. Trata-ee de eonetruir
um. sistema ~'/.I.e seja, enfim, integralmente racional, isto é, tal
que o ser ~l ~e.ia reduzido à única noção, que nada deva à
imaginação ontológica, a da relação.
http://www.obr
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 155
~~êatolicas.com
.:~:--r~-~- _.-
156 METAFíSICA
I
ção da "espontaneidade pura" do espírito aparece como uma
espécie de deus ex machima, encarregada de explicar, por um
golpe de fôrça, a intromissão arbitrária da dialética no sen-
tido do concreto. I
I
O problema, para 1IAMELIN, consiste em encontrar uma I
t
explicação total do universo, de maneira tal, entretanto, que a
necessidade respeite tôda realidade complexa do concreto e f
até a contigência, introduzida em sua ordem, como um anel
necessário, na cadeia da construção sintética. Somente assim
conseguiremos nunca separar "o fundo real que está envol-
Ii
vido numa determinação desta própria determinação". (Essais
sur les éléments principaux de la Réprésentation, pâg, 35.) 21
O método de HAMELIN choca-se com dois obstáculos prin-
cipais. Primeiro envolve, como"todo nominalismo, um coisiemo \
intemperante (o que seguramente é a pior desgraça que pode I
afetar um sistema que "pretende eliminar todo dado ontoló- I
gico) . .Com efeito, se o ser é essencia~mente relação, tôda
relação é do ser, o que equivale a realizar todos os sêres de
razão. Sem dúvida, HAMELIN abstém-se dêste salto no absurdo. \
1
I
Mas ao preço de uma contradição insustentável, porque se vê 1
!
20 o texto de RENOUVIER que se segue (EI/sais de Critique générale,
pág, 52) pennite compreender perfeitamente o sentido da critica de HAMEL1N: ;.
..Assim, os fenômenos são' múltiplos, compostos, ligados, entrelaçados; certas !
ordens de envolvimento e desenvolvimento os agregam e desagregam, os
reúnem em grupos definidos e os separam. A relatividade dos fenômenos é
regulada e permanente, e isto mesmo é um fenômeno, que a experiência
constata tantas vêzes quantas fôr consultada, em tôdas as esferas pos-
slveis ( ... ). Falo aqui de uma permanência aparente, a única que os fenô-
menos encerram, e não procuro ultrapassar êsses mesmos fenômenos. Mas
precisamente de uma maneira universal, a permanência da ordem, insepa-
rável da própria ordem, é um fenômeno acima de todos os fenômenos, um
fenômeno UiE!ral por assim dizer."
21 Cf. J!lléme'llts Pri'llcipa.ux, pág, 19: ..A verdadeira realidade não é o
pretenso real das escolas dítas realistas, é a relação, mais ou menos rica,
de um conteúdo que faz corpo com êle, porque êste conteúdo é êle-mesmo-
_relação. O mundo é uma hierarquia de relações cada vez mais concretas
até um último têrmo, onde a retação termine d~EF-detelnlinar. de'~ :n1tiao---.·· .._.. ~._. ""''''-".•. ~a_
~ que-o- absoluto ainda é relativo. É o relativo porque o sistema das relações
.é
http://www.obr
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 157
§ 3. A FENOMENOLOGIA
1J,.0 A Fenomenologia (cf. E. HUSSERL, Logische Uniersu-
chungen, 1900, 2 e éd., 1913-1921; Méditations cartéeienmee.
Iniroduotion. à la Phénoménoloçie, Paris, 1931) tem parentes-
co, por muitos de seus representantes (SCHELER, HEIDEGGER,
SARTRE), com a corrente existencialista. Mas, tal como foi
proposta no princípio por E. HUSSERL, encerra um ponto-de-
-vista original e independente.
A. Husserl
1. O método tenomenolõgíeo, - O método de HussElRL
encerra duas regras essenciais. A primeira é a da épocke (ou
colocação entre parêntesis) : trata-se de eliminar radicalmente
todo preconceito e tôda teoria preconcebida e guardar diante
o olhar do espírito apenas o que é apoditicamente certo. Em
virtude desta épooke o único dado certo é o constituído pelos
fenômenos; a coisa em si e a existência não são evidências
apodítícas, - A segunda regra é a da intuição das eeeênciae
(Wesensciuiu}: o esfôrço do fil6sofo tenderá a captar imedia-
tamente e a descrever exatamente as essências objetivas dos
fenômenos dados à consciência (redução eidética) .
.. ;..•_,:..-,.-.,.,.~=~.2. A d01ltrina.·- A épochedeve ser levada resolutamen-
te até o fim e deve aplicar-se, conseqüentemente, ao próprio
sujeito empírico e seus atos subjetivos (a "coisa que pensa"
de DESCARTES), que se encontrarão assim reduzidos ao estado
de puros fenômenos. Por esta redução, atingãrernos final-
.'~ 22 Cf. É/éments principaux, pág. 402: "Há passagem sintética dos ele-
mentos dquilo de que são os elementos."
ascato Iicas.com
158 METAFíSICA
28 Nó .
ta. s .~ltamos acima (38) um texto surpreendente de OCKAM, que mos-
que a .CI:llcja real (isto é apoditicamente certa) deve colocar entre parên-
:s~: a eXlStellcia objetiva, para só considerar as puras essências inteligíveis.
•J 'l,no seu llrincfpio, o método fenomenológico como conseqüência do no-
mma ismo.
http://www.ol
r·
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 159
orascatotícas.com
160 METAFíSICA
!
1
B. O existencialismo
1. A evolução da Fenomenologia. - HUSSERL contudo se esfor-
çou, depois das Médttations cartéstennes, por escapar ao platonismo
a que conduzia a dúvida à cêrca da existência. j!Jle frisa que a tarefa
da filosofia não é somente constatar ou descrever, mas explicar, e
que apenas explicamos realmente o que podemos gerar e constttuir.
Esta passagem da fenomenologia descritiva à fenomenologia gené-
tica (marcada sobretudo nos inéditos) opera com efeito uma trans-
formação profunda nas primeiras vias de HuSSERL, pois consiste em
recorrer a uma consciência transcendental destinada a gerar os
dados objetivos da experiência. Mas como conceber tal consciência?
HUSSERL jamais expressou uma opinião clara e definitiva sôbre êsse
ponto. O que parece certo é que HUSSERL foi levado a insistir cada
vez mais sôbre o caráter lógico-intelectual da experiência e substituir
um idealismo de tipo platônico por um idealismo transcendental.
O existencialismo contemporâneo, em adotando o método feno-
menológico, vai orientar a fenomenologia num sentido completamente
diferente (pressentido, aliás, por HUSSBRL, no fim de sua vida).
HEmEGGER, SARTRE, MERLEAU-PONTY observam que a análise reflexiva
não poderia atingir um sujeito emplrico libertado de tôda exterio-
ridade, pois o sujeito só se conhece mergulhado no seio de um mundo
já dado e é dêste mundo que êle tira tôdas as significações pelas
quais se define a si próprio com o mundo e os objetos íntramundanos.
«O mundo já está ai escreve M. MERLEAU-PoNTY, antes de qualquer
análise que eu possa fazer dêle· e seria artificial de o fazer derivar
de uma série de sínteses, que uniriam as sensações, depois os aspectos
perspectivos do objeto, quando umas e outras são justamente pro-
dutos da análise, e não devem ser realizados antes dela. O real é
para ser descrito e não para ser construido ou constltuido. 28 A par-
tir dêstes pontos-de-vista, posições bastantes diferentes se afirmam,
desde a de HEIDEGGER, que podíamos definir como «um idealismo da
significação que se apóia sôbre um realismo da existência bruta»
(o que tem as aparências de uma espécie de neokantísmo) , até a de
SARTRE e MERLEAU-PoNTY, onde «a significação é concebida como o
encontro do projeto e da qualldade, isto é, do para-si e do em-si,
tal como êste encontro aparece no para-sís. 27
http://www.obl
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 161
~ascatolicas.com
:METAFíSICA
~62
-~§ 4. O NEO-REALI8MO
http://www.o
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 163
tolicas.com
METAFíSICA
164
tràriamente a seu princípio essencial, partindo de um dado
transformado em puro objeto de pensamento, mas que era,
como tal, apenas o substutivo e a expressão mental de uma
coisa provàvelmente inacessível e ilusória.
Devemos então aceitar, tais como se impõem à análise,
as condições do conhecimento e admitir, ao mesmo tempo, a
causalidade principal do sujeito, sem a qual nenhum conheci-
mento seria possível, e também a causalidade do objeto extra-
mental, sem a qual nenhuma especificação do conhecer seria
concebível. É o que demonstraremos, estudando os princípios
e o sentido do realismo.
§ 1. Os PRINCÍPIOS no REALISMO
A. A imanência do conhecimento
1. O ponto-de-vista idealista. - A história do problema
crítico familiarizou-nos já com a concepção idealista da ima-
nência do conhecer. Esta concepção consiste em afirmar que
o conhecimenio e a consciência fazem uma Só coisa e que €L
consciência não é outra coisa que o conhecimento de si. Daí
decorreria imediatamente que nunca podemos pretender co-
nhecer de maneira apoditica alguma outra realidade diferente
de nós mesmo.
Esta doutrina (princípio de imanência) foi proposta sob
diversas formas. Vimos que os terministas medievais a dedu-
ziram do nominalismo- (38). As-Tdéiãs;--aiziâni- êfes, -'não cor':
respondem a nada de real fora do espírito; -por conseguinte,
qualquer conhecimento inteligível se reduz ao de um conteúdo
Imanente do pensamento. - DESCARTES retoma êste ponto-de-
-vista sistematizando-o. A idéia, em sua opinião, é "a forma
de tôda percepção", isto é, segundo o sentido que dá ~ esta
fórmula (Réponees aux Troisiemes ob[eotions, § 53), ela só
i~;
'{
http://www.ob
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 165
:olicas.com
METAFíSICA
B. Coisa e objeto.
147 Uma vez que definimos o sentido do problema, trata-se de
demonstrar que o conhecimento, tal como é de fato dado, é
absolutamente inexplicável se não admitirmos que os objetos
da consciência são necessàriamente correlativos de coisas ou
realidades (atuais ou possíveis) independentes da consciência.
http://www.c
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 167
I
Prio, é pensado apenas em relação a um 'ser real; a' cegueira se define em
" relqção à visão, da qual é um defeito em um ser vidente por natureza;
uci~culo quadrado" junta noções incompativeis, mas realizáveis quando se-
pa~lldas uma das outras; tôda negação de alguma coisa que existe ou pode
eXl~tir.
"I 88 Cf. SANTO TOMÁS, Contra Gentiles, IV. ch. XI: "Esse verbi interius
CODC:epti, sive intentionis intellectae est ípsum suum intelligi."
http://www.ol
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 169
orascatoücas. COm
11.I;~
I;
170 METAFÍSICA I
I
36 Cf. J. MARITAIN, Les Degrés du savDir, pág. 191, n.? 1: o juízo não
se contenta com a representação ou apreensão da existência, afirma-a; êle
. proje~a nela, como .~f~tuada ou efetuáv.eLfocao,doo,esplrito, os- obíetos-cde-:
"0-'- 'conceito apreendidos pelo espirito, noutras palavras, a inteligência, quando
_ .iqlga, vive ela própria intencionalmente por um ato que lhe é próprio,
êste mesmo ato de existir que a coisa exerce ou pode exercer fora do espi'-
rito ( ... ) 11:ste é o nôvo elemento de ordem intelectual que se introduz
no juizo,elemento capital, que diz respeito ao esse verum, e por causa do
q~al. ~ juizo é chamado, por SANTO TOMÁS, o acabamento do conhecimento
(Iudícíum est completivinn cognitionis, Summa theologica, II - II q. 183,
art. 2).
http://www.ob
·1
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 171
._-
.,,' dade. A hipótese da convenção ou da comodidade não pode
ser defendida do ponto-de-vista idealista, porque significaria
,;'
a pura irracíonalidade. Devemos, portanto, admitir que os
princípios têm um sentido em si mesm.os e que são necessários.
Como, porém, explicar esta neeeeeidadet Só há duas respostas
possíveis: devemos dizer ou que a necessidade dos princípios
'" é a do ato do espírito, que os afirma em razão de si mesmo,
ou então, que é a expressão de uma necessidade inteligível
apreendida no ser presente ao pensamento.
A primeira resposta é a do idealismo e pode adotar duas
formas diferentes. Veremos que, sob estas duas formas, acaba
por suprimir qualquer significação interior dos príncípios,
isto é, por fazê-los depender de uma necessidade externa. Por
um lado, com efeito, KANT explica os princípios necessários
pelas formas" a priori" do entendimento, isto é, pela estrutura
mental. É claro, neste caso, que seu. sentido é todo inteiro re-
·lativo a um fato que lhes é exterior. Em si mesmos, e como
tais, não têm sentido. São puramente acidentais, enquanto
dependem de uma necessidade extrema. - Outros pensadores
idealistas, afastando a solução kantiana, dizem que os princí-
pios se justificam enquanto exrprimindo a intuição do eepirito
apreendendo-ee a si mesmo como fonte de verdade: a afirma-
ção tira tôda sua certeza unicamente do ato de afirmar. O
ser afirmado pelo juízo não é um objeto, mas um ato inte-
lectual. (Cf. L. BRUNSCHVICG, La modalité du jugement,
pág. 13.) - Esta solução, porém, não é mais feliz do que a
precedente, os princípios não se explicam tampouco por si
'(.
,L.
mesmos, não levam em si mesmos a marca da verdade, porque
~;: sua significação lhes permanece extrínseca, relativa a um es-
'Jf'~1:' pírito que se julga que os produz por pura espontaneidade.
Noutras palavras, os princípios não têm sentido. São um
~~~ . .
rascatolicas.com
1
172 METAFíSICA
http://www.ot
AS CAUSAS OBJETIVAS DA CERTEZA 173
\
I
____ a~ El. MEYERSON, sobretudo, insistiu muito nisto: "A ciência inteira,
escreve, repousa sôbre a base pouco aparente sem dúvida (visto como se
tentou negar sua existência), embora sólida e profunda da crença no ser
independente do pensamento." (De t'exptication dans tes sciences, L. l,
pág. 31.)
89 Cf. G. BACHELARD, La connaissance approchée, pág. 13: liA ciência
postula uma realidade. A nosso ponto-de-vista, esta realidade apresenta em
sua inexgotável incógnita um caráter eminentemente próprio para suscitar
uma pesquisa sem fim."
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CONCLUSÃO
1. Realismo e Idealismo
a) O real é idéia. Vimos que nossa posiçao, por mais
realista que seja, admite tudo o que o idealismo encerra de
justo e de verdadeiro. A ontologia a que nos leva nosso estudo
é realista no sentido de que as coisas, tal como as concebemos,
têm, graças aos princípios metafísicos que encerram, e que
recebem, segundo o caso, os nomes de essência, de forma, de
sujeito, têm, dizemos, bastante consistência para se afirmar
em si para formar um cosmos coerente. Os fenômenos não
formam mais unidades discretas diante do espírito e tais que
só uma fôrça mecânica as poderia reunir; mas são os sêres
de um ser, de um sujeito do qual procedem, e que lhes confere
sua unidade. - O próprio sujeito não pode ser concebido como
um bloco inerte sob o movimento das aparências, mas ao mes-
mo tempo como um princípio permanente e perpetuamente
móvel, e como uma essência ou uma idéia, que define um ser
no seio da realidade. 40 Essência e idéia, o real assim conce-
bido se acha, portanto, adaptado ao espírito, uma vez que é
êle mesmo ou espírito ou análogo ao espírito.
http://www.c
CONCLUSÃO 177
lbrascatolicas. com
178 METAFíSICA
http://www.obl
CONCLUSÃO 179
'ascatolicas. com
180 METAFíSICA
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LIVRO 11
ONTOLOGIA
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I
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ONTOLOGIA
INTRODUÇÃO
SUMARIOl
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184 METAFíSICA
§ 1. O MÉTODO ANALíTICO-SINTÉTICO
I
propriedades do ser seja puramente a priori e analítico. A
reflexão que os explicita. tem seu ponto-de-partida na experiên-
cia; mas a íntelígibilidade destas propriedade em função do
ser, assim como as demonstrações que utiliza a metafísica, não
são, como tais, dependentes da experiência sensível, uma vez
que lançam mão dos princípios de demonstração, que não são
de ordem sensível, visam a têrmos que são supra-sensíveis e
se nos apresentam à análise, como dados já implicitamente,
~l3tÇU~, antes de qualquers.análise, ao mesmo tempo-no -aeee-no """"."
pensamento que reflete sôbre a noção do ser. , '.
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INTRODUÇÃO 185
§ 2. OBSERVAÇÃO E REFLEXÃO
A. O método reflexivo
" ..",.~" Não há razão para voltarmos sôbre o método idealista,
que já discutimos amplamente em Crítica. ~ste método eviden-
olicas.com
186 METAFÍSICA
165 2. Discussão
a) O postulado nominalista. Não julgamos que se possa
repudiar em bloco estas asserções de LACHELIER. Há, todavia,
um ponto que devemos fortemente ressaltar, porque dirige todo
o resto: é que LACHELIER é levado a propor êste método pura-
mente a priori da metafísica, apenas a título de conseqüência
do nominalismo radical adotado no ponto-de-partida. 1J:ste no-
minalismo, como o constatamos diversas vêzes, leva a ter a
experiência, isto é, a realidade sensível, como desprovida de
todo caráter interno de inteligibilidade, vazia de todo elemento
racional, privada de qualquer "interior" metafísico que expli-
http://www.ot
~
i
I
INTRODUÇÃO 187
I I
uascatolicas.com
188 METAFíSICA
B. A intuição do "eu"
167 1. O privilégio da intuição concreta. - Alguns filósofos,
preocupados em assegurar à metafísica um objeto real, isto é,
~ ~f. ~ANTO ;roMAs, 1,8, q. 84, art. 5: "Alio modo dicitur aliquid cog-
n?SCl In aliquo SlCUt in cognitionis principio: sicut si dicamus quod in sole
vídentur ea ~uae videntur per solem. Et. sic necesse est dicere quod anima
hum?na omma. cognoscat in rationibus aeternís, per quorum participationem
omm~ cognoscrmus, Ipsum enim lumen intellectuale quod est in nobis, nihil
est alíud quam qUll;edam participata similitudo luminis, increati in quo con-
t!nentur omnes ratlOlles aeternae." '
http://www.ob
INTRODUÇÃO 189
rascatolicas.com
190 METAFÍSICA
A. As etapas da metafísica
A intuição do ser é a operação mais natural de nossa in-
teligência. Esta intuição tem entretanto uma forma, especifi-
camente metafísica, preformada em potência nas instituições
infrafilosóficas embora normalmente distinta delas.
9 SANTO TOMÁS parece pensar O contrário. :l!:le acha não somente que
em si o conhecimento abstrato é bem superior à intuição sensível, (cf. IV,
Sent., d. 49, q. 3, art. 5, sol. 2: "Per similitudines spirituales nobis conjunctas
_.~~",._~~~gili pertingimus ad intima quam per.·~psam-.conjunoiGllem ..realem -quae < - - - •••• , . . . . . . _ • • - ..
http://www.o
INTRODUÇÃO 191
,
tos da experiência e diversificado em cada um dêles. O ser r
I
assim apreendido não é portanto formalmente, nem a diversi-
dade das "qüídídades" sensíveis múltiplas, nem tampouco o
li!! que há de comum em todos êstes objetos essencialmente di-
~,;
\lt versos, considerado em si e para si (o que é propriamente o
objeto da metafísica). A intuição, neste grau, compreende bem
em potência um e outro dêstes dois aspectos, mas a visão per-
manece obscura e vaga, análoga àquela que nossos olhos têm
dos objetos distantes.
A visão, diz SANTO TOMÁS (De Veritate, q. 8, art. 2, ad 2m ) , pode
ser encarada sob diferentes aspectos. Considerada como atividade
do ser que vê ordenada para a apreensão de um objeto, a perfeição
da visão se definirá em função dêste objeto: dír-se-á que é <totab
quando apreender todo seu objeto e a perfeição mesma desta tota-
lidade crescerá a medida que a visão apreender o objeto, não apenas
pelo exterior mas também pelo interior, em sua essência e até a
raiz de sua singularidade. Dêste ponto-de-vista, a inteligência an-
gélica possui uma capacidade de visão total muito superior à nossa, .;
que precisa usar de abstração. Entretanto, esta totalidade da visão
angélica permanece, míseràvelmente particular e parcial, relativa-
mente à visão da inteligência divina que esgota seu objeto, criando-o.
(De Malo, q. 16, art. 2'>
Em suma, diz 6ANTO ToMÁs (De Veritate, ibid) , a visão é tanto
mais perfeita quanto mais iguala à visibilidade do objeto. (dta est
perfectus modus vísíonís ipsius videntis, sicut est modus visibilitatis
ípsíus reí.s) Compreendemos, assim, que nossa visão intelectual do
ser possa comportar graus muito diversos, desde a intuição vaga do
senso comum até a visão intensiva da metafísica. Esta, porém, fí-
cará em si mesma, ainda muito imperfeita, porque a evísíbílídade»
(quer dizer a íntelígíbílídade) do ser estará sempre bem acima das
capacidades de nossa inteligência. Nenhuma viSão metafísica por
mais aguda que seja, jamais esgotará o mistério do ser.
brascatolicas.com
192 METAFtSICA
http://www.ol
INTRODUÇÃO 193
i
B. A intuição metafísica.
171 Compreendemos, doravante, como o ser do metafísico só
pode ser o ser enquanto ser (ens secuneum quod est ens; ens
t'n quantum ens}, quer dizer, o ser considerado em seu tipo
inteligível e em seus caracteres próprios. Resta precisar a
natureza da intuição, formalmente metafísica.
orascatollcas.com
194 METAFíSICA
13 Cf. SANTO ToMÁS, Metaphlls., IV, lect. 1 (Cathala, n.o 630): "Scientlae
alia e, quae sunt de entibus particularibus, considerant quidem de ente, curo
omnia subjecta scientlarum sint entia, non tamen considerant ens secundum
quod ens, sed' 'secundum quod est hujusmodi 60S, scilicet vel numerus, vel
Jgnis aut allquid hujusmodi."
, ' 14 Cf. J. MARITAIN, Sept leçons sur 1'.Ure, pág, 53: "Podemos dizer que
é necessârío o hábito metaffsico para ter a intuição do ens in quantum eM,
...•,:..: ....·.•.-_e•.q ue, por outro Jado.vé-esta intuição que·faZi'-qUe causa-·o 'bBbito' maaifsico. ,."",. '... r.e e
Há, ai, involução das causas, isto significa simplesmente, que o "habitus"
metaffsico, a virtude intelectual do metafísico, nasce, ao mesmo tempõ que
seu objeto próprio e especificador se lhe descobre; sem dúvida, há priori~
dade do objeto, não na ordem do tempo, mas das hierarquias do ser, há
prioridade na ordem da natureza, da intuição do ser em quanto ser ~Ôbre'
o hábito interno do metaffsico. É esta percepção do ser que determina o
priI:?e!ro instante, em que nasce o hábito, e é em função dêste Itlesmo
hâbíto assim desenvolvido que o ser, objeto próprio do metafisico, é cada
vez mais bem percebido."
http://www
INTRODUÇÃO 195
111 Cf. SANTO ToMÁS, Metaph1l8., XI, lect. 3 (Cathala, n,O 2.203): "(Me-
taphysicus) considerat ens et praeternlttit considerare omnia particularia
entia, et considerat ea tantum quae pertinent ad ens commune; quae licet
aint multa, tamen de omníbus em una scíentía, inquantum scillcet reducun-
tur omnía ad unum, n
I. _
.obráscatolicas.com
196 METAFíSICA
razão formal ou seu tipo inteligível. Ora, isto só é possível por meio.
de um juízo (OU ato de compor e de dividir) e, mais precisamente,
de um juízo negativo (chamado por SANTO ToMÁs separatio), que
consiste em declarar que tal princípio do ser não pode ser mantido
como ontologicamente dependente, em sua razão formal, dos dife-
rentes modos do ser, sob os quais, nos é dado pela experiência (o
anjo, o homem, o animal, a planta, a pedra, a quantid.ade, a rela-
ção, etc., são sêres, mais não são o serJ. 16
l!:, portanto, antes por um julgamento negativo do que por abs-
tração que a metafísica se dá seu objeto próprio. 16
http://ww~ .O~:I
INTRODUÇÃO 197
êstes também não são «causas do ser»: êles o são menos ainda que
as substâncias separadas de ARISTÓTELES. Tanto que, rigorosamente
falando, o capítulo das substâncias separadas, ou dos anjos, não
deveria vir na parte da metafísica relativa à causa do ser, uma vez
que, de um lado a existência dos anjos, só pode ser conhecida com
certeza pela Revelação, e que por outro, os anjos' não são propria-
mente causas do ser. - De fato, na medida em que a filosofia leva
em consideração os sêres angélicos, é na Psicologia que êste estudo,
nos parece, ficaria melhor colocado, porque os anjos são Inteligên-
cias (ou puros espíritos) e é a partír do que sabemos de nossa pró-
pria inteligência que podemos, por analogia, especular sôbre os puros
esplritos.
'ascatolicas. com
J"
CAPÍTULO I
o SER EM SI MESMO .
-'1
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SUMÁRIO 1
http://www.ob
'I'."
.( . , ,
A. Essência. e existência
1';,'
rascatolicas.com
200 METAFíSICA
http://www.<
o SER EM SI MESMO 201
. .•.... . •.. ., '~··3-Cf. SANTO TOMÁS, IfL PeTih., lect. 5, n. 20: "Ideo autem dicit (Ptrí-
Iosophus) quod hoc verbum est consignificat composítionem (essentíae et
esse), qula non eam principaliter signíficat, sed ex ccnsequenti: sígnlfícat
'enim primo mude quod cadit in intellectu per modum actualitatis absolute;
nam esr, simpliciter dictum, significat in actu esse. Quia vero actualitas,
quam principaliter sígnífícat hoc verbum est, est communter actualitas om-
nís formae, vel actus substantialis vel accidentalis, inde est quod cum ·v.o-
himus"slgnificare quamcumque formam vel actum actualiter inesse alícirí
subjecto, significamus illud per hoc verbum esr, vel simpliciter vel secundum.
quíd. Et idco ex consequenti hoc verbum est signifícat composíttonern."
obrascatoücas. com
.202 METAFÍSICA
. 4 Cf. SANTo ToMÁs, Contra Gentites, I, c. 26: "Res propter hoc diffel'lJ,(,lt
..
~' quod habent diversas naturas quíbua acquiritur esse diversimode." .'.
http://www.o
o SER EM SI MESMO 208
brascatol icas.com
'204 METAFíSICA
180 3. Observações
a) Pontos comuns às duas teorias. Não podemos entrar na
discussão detalhada destas teorias. Devemos, entretanto, ressaltar
alguns pontos essenciais. - Teremos podido observar de antemão, a
semelhança fundamental das teorias scotlstas e suarezenses, basea-
das, uma e outra, não somente sôbre a distinção (que é eviden.te),
mas sôbre a oposição do real e da idéia. - Por outro lado, SuÁIm'1:,
como Bcor propõem limitar a noção de ser ao sentido negativo eda-
quilo que exclui o nada» ou «daquilo que não é nada» e esta con-
cepção de um ser, perfeitamente indeterminado procede nos dois
-oasos da análise formal dos conceitos, que não pode, com eteíto,
conduzir a outra noção. Também nas duas doutrinas, o ser só poáe
ser afirmado de coisas diversas, se o abstrairmos de suas diversidactes,
visto como não inclui nem exclui estas diversidades. Dito de outra
http://www.ol
o SER EM SI MESMO 20~.
§ 2. A ANALOGIA DO SER
A. A transcendêneía do ser
/' 181 1. O ser não é um gênero. - Para compreender êste
ponto capital, teremos que partir das noções de gênero e espé-
cie (ou de diferença específica).
a) Gênero e espécie. A espécie é um universal lógico
que designa um conjunto de indivíduos que têm a mesma na-
tureza (ou mesma essência) : a espécie humana. - O gênero
orascatolícas. com
206 METAFÍSICA
http://www.<
":.)
"
B. O ser é análogo
'188 1. O ser não é nem unívoco nem equívoco
a) Definições. 'Basta lembrar, aqui," <> "sentídõ" destas~--
noções (I, 53). Chamamos unívooo, o conceito que se pode
atribuir de maneira absolutamente idêntica a todos os sujeitos,
. n08 quais é realizado e do qual é abstraído: tal o conceito de
-, dental kantiano: êste designa um conceito cujo uso se faz fora de qualquer
'''1 intuição experimental.
'I'
oorascatoucas. com
208 METAFÍSICA
http://www. 01
o SER EM SI MESMO 209
)rascatolicas.com
210 METAFíSICA
http://www.c
o SER EM SI MESMO 211
§ 3. O SER DA RAZÃO
>brascatolicas. com
212 METAFíSICA
§ 4. o CONCEITO DE NADA
http://www.o
o SER EM SI MESMO 213
rascatolicas.com
214 METAFíSICA
http.ówww.o
o SER EM SI MESMO 215
b ascatolicas. com
216 METAFíSICA
A. Os fisiólogos
1. Os Jônicos. - O problema ao qual quer responder, histOri-
camente, a doutrina do ato e da potência é o o.a mudança. Foi êste
U Os elementos dêste parágrafo sôbre o conceito de nada são tirados
de nosso trabalho: Les doctrines existenciaUstes de Kierkegaard 4 I.-P.
Sartre, Paris, éd. de FontenelIe, 1948, passim. '
U SANTO TOMÁS, In Metaph., I, lect. 4_17; lect. 14; IX. - De Potentia,
q. 1, art. 1-3.
http://www.c
o SER EM SI MESMO 217
-,~l'
problema que aouçou a curiosIdade dos primeiros pensadores da
Grécia. cujas diferentes opiniões, nos relata ARISTÓTELES, no lIvro
primeiro de sua M étaphysique. "
Os Jônicos. buscando compreender, como um corpo se torna outro
corpo (porque suas preocupações são t antes de tudo, cosmológicas).
imaginam que os diversos corpos são leitos de unia substância única
que permanece. idéntlcamente, a mesma, sob as mudanças que afe:
~am as coi.sas corporais. Para TALES DE MaETO, esta substâncía
ümca, é a agua; para ANAXÍMENES. é o ar: para HERACLrro, o fogo;
para ANAXIMANDRO, o indeterminado Ou <Etp,OY!. no qual se reú-
nem todos os contrários. 1 8 Estas diferentes doutrinas poderiam. se·
definir, como um monismo materialista. 17
189 2. Heráclito. - HERÁCLITO, que depende dos Jônicos, está de
tal modo ImpressIonado com a mutação universal que êle ja2 do
<deventr~ a essência mesma das cotscs, (Cf. BURNET, L' Aurore de
la Phtlosoph1.e grecque, pág. 152, tragments 32, 39, 41-42, 57.) - Que
a mudança seja a essência das coisas, isto implica que, sob a mu-
dança nada há de permanente, e, por conseguinte, o que é, ao mes-
mo tempo não é, uma vez que, jamais nada é idêntico a si mesmo.
:S:, de agora em diante, impossível nada afirmar nem negar das
coisas: tudo é verdade e tudo é falso, ao mesmo tempo. (Cf. ARIS-
TÓTELES, Metaphys., 1010 a 13.)
l "f..,. ~.' .~
190 1. O mundo das Idéias. - PLATÃO, como seu mestre, 4:0 grande
PARM~NmEs», sabe que o objeto da inteligência éo ser: Más, guar-
da-se de tudo absorver na unidade do Ser imutável e absoluto. Admite
graus no ser. O ser vredadeiro, são as idéias, modelas imateriafs.
universats, imutávets e eternos, únicos objetos da intelfgéncta. Quan-
to ao mundo sensível, domínio do múltiplo, do diverso e do mutável.
é para PLATÃO, como para HERÁCLITO, puro devenir. As coisas sen-
síveís existem, mas são apenas reflexos graduados do Ber autêntico,
quer dizer, das idéias.
http://www.obl
,
o SER EM SI MESMO 219
-C. Aristóteles
191 Tais são as criticas que ARIsTÓTELES faz a seus antecessores,
mostrando que, para resolver o problema da mudança, teria sido ne-
cessário recorrer a uma noção que lhes faltava: a noção de poUnc4a.
1. Solução das antinomias. - S6, diz êle, a distinção do ato
e da potência permite resolver as antinomias de PA1lllI1bm>ES. (PhU·
sique, I, c. 5,) Com efeito, do ser, em ato, o ser não provém, porque
já é ser: assim, de uma estátua não se faz uma estátua. Mas o
que está. feito, estava primeiro, em potência e provém de um ser em
potência: assim, a estátua é feita de madeira, na qual estava, prí-
melro, em potência; ela provém da madeira como de um sujeito sus-
cetivel de determinação e de mudança. Ora, o su1eito suscetível de
determinação e, enquanto tal, do qual está feita a estátua, nõo é
nada, nem simples negação da forma a produzir-se nem a eS8~ncfa
da madeira. ~ste sujeito não é o nada, porque do nada, nada se
faz (Isto PAR!IIiNIDES compreendeu claramente). - Não é, outrossim,
simples negação ou privação da forma da estátua a fazer-se, por-
que de si, esta negação não é nada e com o nada, nada se faz.
,Aliás, esta negação se encontra, igualmente, no ar ou na água, com
o que não se pode fazer uma estátua. - Enfim, o sujeito não é a
essência da madeira, pelo qual a madeira já é em ato, o que é, -
nem o aspecto atual da madeira a transformar, porque de um ser,
já, em ato, nada se faz, - nem a figura esboçada da estátua a
fazer-se, que, enquanto esboçada, não seria mais um simples sujeito
determinável, mas um movimento para a estátua.
O sujeito suscetível de determinação com o qual a estátua está
feita é, na madeira, uma certa capacidade real de receber a forma
da estátua, capacidade que não existe, nem no ar nem na água e
que ARISTÓTELES chama. uma potência real para a estátua ou a es-
tátua em potência. É assim que ARISTÓTELES explica a mudança:
alguma coisa é produto, não de um ser em ato, mas de um ser em
potência. Assim também, quando o que estava em potência passou
a ato, permanece ainda sob o ato uma potência real, porque a ma-
deira, que é a estátua em ato, pode perder sua forma de estátua e
receber outra.
2. Sentido e alcance da doutrina. - A teoria do ato e da po-
tência, nunca é demonstrada por ARISTÓTELES, no sentido próprio da
palavra. 1!:ste se limita a demonstrar, com exemplos concretos, muito
~ascatolicas.com
220 METAFíSICA
A. Análise da mudança
Sôbre a questão da mudança, que se encontra na base da
doutrina do ato e da potência, bastar-nos-á resumir os pontos
que foram estabelecidos pelo estudo da Cosmologia, assim como
pelas observações históricas que precedem,
http://www.o
o SER EM SI MESMO 221
brascatolicas.com
222 METAFíSICA
1. A potência
a) Ser e pode?' ser. A experiência só é inteligível "se
admítírmos que as coisas não são limitadas a seu ser atual e
que guardam uma aptidão para a mudança que chamamos, de
J'cn6ncia. Mas será, êste poder, alguma coisa, de real, será o ser
Ou In"mples ficção do espírito, sem fundamento na, realidddeF
Tomemos um exemplo. Esta árvore pode vir a ser, segundo o
fabu1ista, «Deus, mesa ou prato~ e muitas outras coisas maís; mas
não qualquer coisa: não pode vir o ser nem pássaro, nem pedra,
nem ar. Há nela certas potências, enquanto outras, não. Estas po-
tências que possui são alguma coisa de real: elas pertencem a sua
própria natureza, que é tal e não qual. Da mesma maneira, os
grãos que o vento dispersa têm, em si, a potência de dar tal ou qual
essêneía determinada, mas não qualquer e esta potência é, sem dfl-
vida nelas, algo de muito real. Assim, embora o poder que têm as
colsas de virem a ser Isto ou aquilo, não se nos manifesta, enquanto
não passa ao ato, devemos diZer que ali coisas sã», nlio sOmente o
que são, mas, ainda e realmente, ~do o que podem ser.
b) Análise do poder-ser. Entretanto, poder ser não é,
evidentemente, se«, no sentido primeiro desta palavra. A" ma-
deira pode vir a ser estátua, mas não é estátua. Poder ser
não é tampouco, não ser absolutamente. É alguma. coisa, nem
ser absolutamente, nem não ser Msolutamente, intermediária.
entre o ser e o não ser, que não podemos imaginar, mas que
se- impõe à análise filosófica do real em devenir. Tal é a po-
tência ou potencialidade.
Tudo isto, entretanto, não é uma definição, porque a "pO~
t~u~ia só pode ser definida em relação ao aio, A palavra po~
têneía não diz uma realidade absoluta já que não é ser no
.sentído primeiro da palavra, mas uma realidade tôda inteira."
relativa ao ato, uma pura capacidade de ato ou uma pUl'a;..
aptidão a sê-lo. - Por outro lado, para definir a potência,
como o ato aliás, seria necessário que um e outro entrassem
num gênero, o que não acontece, porque com o ato e a po-
tência estamos nas primeiras determinações do ser. Ora, sa-
bemos que o ser não é um gênero.
Esta potencialidade, senão a podemos definir, não a po-
demos também imaginar. Nada seria mais falso que, dela fazer
um ato imperfeito, uma prefiguração apenas esboça~a da _~~.
um 'ato que teria que vencer uma.' resfétênéía -para se mani-
fes~r no exterior. A potência, enquanto tal, nada é em ato,
portanto, nada de determinado, mesmo em esbôço.
As expressões cientificas de «energia potenclab e de «energia
a tuab podem' levar a-conrusões, das"quais devemos nos pôr em guarda.
cBe" chamamos energia qualquer poder de trabalho que reside num
corpo, a energia é atual e cinética, quando está em movimento, por
exemplo, numa mola que. se dlstende, potencial, quando está em
http://www.<
o SER EM SI MESMO 223
C. Divi. da potência
196 1. Potência passiva e potência ativa. - Dizemos que a
água está em potência de ser esquentada. Dizemos, também
que o fogo está em potência de esquenta?'. A linguagem nos
adverte, por aí, que devemos distinguir duas espécies de po-
tências: a potência ativa, que é o princípio da ação exercida
num outro e a potência passiva que é a aptidão de sofrer por
ação de outro. (Um mesmo ser pode agir sôbre si e sofrer
por si, isto é, ser ativo e passivo, ao mesmo tempo, mas sob
aspectos diferentes.)
Potência ativa e potência passiva estão, sempre e necessàriamente,
uma diante da outra. Não pode haver potência ativa, onde não há
potêncIa passiva: enquanto houver, entre as duas, algum obstáculo,
que impeça a atuação da potência passiva, não há, rigorosamente
falando, ser potencial, mas há ser puro e simples. Para que haja
potência passiva é, necessário, então, que haja uma potência ativa,
tmediatamente correlativa. (Cf. ARISTÓTELES, Méthaphys., VIII, c. 7,
1049 a 5-12.)
D. Divisão do ato
197 1. Ato primeiro e ato segundo. - Vimos que ser em
ato é, antes de mais nada, ser, no pleno sentido da palavra.
li; dizer que, filosoficamente falando, a palavra ato não sig-
nifica, primeiro, a ação, isto é, o fato de agir ou de fazer. O
agir e o fazer São, sem dúvida, atos, mas atos segundos, isto é,
operações que dependem, por assim dizer, do ato primeiro, o
.. _,_.~_ .. -~~?:L consiste, essencialmente, ora em ser pura e. si'l11,plesmente,
(actus existentiae), - ora em se?' isto ou aquilo, isto é, tal ou
tal essência [actus esseniiae), Dêste rncdo,' podemos estar8'l1l-
ato sem agir.. o geômetra, mesmo quando não exerce sua ciên-
cia da geometria, continua geômetra (em ato primeiro).
2 . Ato puro e ato mesclado de potência. - O exemplo
precedente nos põe no caminho de uma outra divisão do ato.
http://www.ot
o SER EM SI MESMO 225
A. Ponto-de-vista do valor
)rascatolicas.com
226" METAFíSICA
http://www.ol
o SER EM SI MESMO 227
B. Ponto-de-vista da causalidade
1··.·. ,~. Segue-se daí que "o primeiro não é o germe, mas o ser
perfeito" e também que" do ponto-de-vista causal", a regressão
ao infinito é impossível".
c. Pont:o-d'e-vista. da composição
1. A potência não existe fora do ato, - A potência não
pode existir em estado puro. De fato, a potência não é o :'IM'
)'ráscàtolicas.com
228 METAFíSICA
http://www.ot
o SER EM SI· MESMO 229
§ 1. O PROBLEMA DA DISTINÇÃO
http://www.ot
o SER EM SI MESMO 231
§ 2. A DISTINÇÃO REAL
)'rascatolicas. com
232 METAFíSICA
B. A existência recebida
205 ~ste argumento que é o mais fundamental (já que explica
a distinção adequada dos conceitos), compreende duas etapas,
que consistem em estabelecer primeiramente, que o ser ele" uma
essência finita é êle própria finito; em segunda, que a exis-
tência finita não pode ser recebida senão numa essência que
o limite.
http://www.ol
o SER EM SI MESMO 233
:olicas.com
234 METAFíSICA
~3 Cf. SANTO TOMÁS, In Boeth. de Hebdom., ch. II: "Ipsum esse nec
participat aliquid ut ejus ratio constituatur ex multis, nec habet aliud ex-
trancum admixtum ut sit in eo compositio accidentis; et ideo ipsum esse
non est compositum. Res ergo composita non est suum esse, et ideo dicit
Boethíus quod in omni compositio, aliud est esse et alíud ips'Um compositum,
quod est partícípans esse."
':14 Cf. S1JÁREZ, Disp'Utationes Metaphysico:e, Disp. XXXI. Sôbre tôda esta
questão, ver, também, P. DESCOQS, Essai critiq'Ue S'UT l'h1l1omorphisme. A tese
de SUÁREZ deriva de sua noção do ens in. comm'Uni. Vimos, acima (179), que
êste, para SUÁREZ, significa a essência, abstração feita de qualquer existência,
real ou possível (abstração extensiva ou total). Desde então, o ens se divide
- - ,- em-ser em ato (,ens in. act'U~, que é a 'essência ~stente-·em ato, - e-o ser
potencial ou possível (em in potentia) , que é a essência isolada (mentaL.
mente) pela negação da existência atual. Por conseguinte, entre essência
e existência, apenas, pode intervir uma distinção de razão: só, conceitual-
mente, podemos distinguir o ser existencial (esse e:ciste'ntiae) do ser e-sencíal
atual (esse essentiae). ~e último só tem realidade negativamente, isto é,
conceitualmente. DUNS SCOT não tratou explicitamente, do problema da dis-
tinção, mas sua posição, relativa à no~ão de ser, s6 parece compativel com
a distinção de razão.
http://www.o
,,. -
D. Conclusão
210 1. Sentido e alcance da. controvérsia. - Esta discussão,
sõ é, verdadeiramente, inteligível, se nos referirmos aos prin-
cípios que a dirigem. As objeções suareziomae, de fato, proce-
dem menos de dificuldades prôpria« à tese tomista do que, de
uma. certa maneira de conceber a noção de ser, em geral. Por
causa da noção suareziana do ser, a distinção real é, evidente-
mente, discutível, como inversamente a distinção virtual, ba-
seada em SUÁREiZ, não pode se adaptar à noção tomista do ens
in communi. É, portanto, esta noção mesma que é, propria-
mente, o ponto crítico nesta matéria.
É certo, em todo caso, que, admitindo a noção do ser que
expusemos, é preciso admitir também, entre a essência e a
existência dos sêres finitos, não uma simples distinção virtual,
mesmo com fundamento no real, mas uma distinção real
(menor). Podemos acrescentar, sob um ponto-de-vista obje-
http://www.ol
o SER EM SI MESMO 237
orascatclicas.com
238 METAFíSICA
§ 4. As OBJEÇÕES EXISTENCIALISTAS
A. Exposição
211- 1. A relação entre a existência e a essência. - Uma das cons-
bis tantes do existencialismo contemporâneo consiste na afirmação de
que a existência é posição pura e não perfeição da essência, isto é.
noutros têrmos, que a existência precede à essência. Sõbre isto,
entretanto, poderíamos observar diferenças que são mais que ma-
tizes entre os pensadores existencialistas. Por um lado, com efeito,
G. MARcEL hesita. 28 Por outro, nem HEmEGGER nem JASPERS parecem
dar, exatamente, o mesmo sentido que SARTRE à asserção de que o
Dasein ou o existente como tal, é precedido de sua essência. Para
HEmEGGER, a existência bruta designa um estado, impensável aliás,
em que o que existe está sem ser e sem essência, absolutamente
aquém de qualquer inteligibilidade. Há, portanto, para êle um «ser
da existência» que, de qualquer- modo em que seja tomado, é uma
essência. Mas esta essência não é uma potência que o ato de exis-
tir viria atuar. 'Pelo contrário, é o existente que, ao existir, constrói
sua essência, de maneira tal que a essência ou o ser nêle nada mais
é que a própria existência em sua realidade concreta. Diriamos
também que a existência não tem essência distinta de si mesma, ou
melhor ainda, que é, ao mesmo tempo e pelo mesmo movimento,
existência e essência, isto é, existência afirmada no plano do ser
ou da inteligibilidade. «A essência do DASEIN, escreve êle, reside em
sua existência.» (Sein 11.00 Zeit, pág. 7.) - ' SARTRE parece ainda mais
radical. Para êle, a existência precede absolutamente à essência,
porque de um lado o têrmo existência aplica-se perfeitamente, ape-
nas à realidade humana (o resto é pura e simplesmente, mas não
http://www.ob
o SER EM SI MESMO 239
B. Discussão
Podemos reduzir a discussão destas destas doutrinas a algumas
observações, já desenvolvidas nas páginas precedentes.
1. A .prioridade da existência. - Estamos bem longe de con-
testar absolutamente a asserção de que a existência tem prioridade
sôbre a essência, porque esta asserção tem um sentido no qual os
rascatolicas.com
240 METAFíSICA
http://www.obn
o SER EM SI MESMO ~41
tudo .o. que êle vem a ser concretamente. í!:le só pode existir, no
interior desta humanidade que' o define e que encerra tôdas as suas
possibilidades, ao mesmo tempo que as estende além de tõdas. as
realizações que ela pode comportar. Por isto tanto podemos dizer:
«Vem a ser o que éss, como: «Sê o que vens a sers, porque o sentido
de meu devenir existencial está implícito no que sou essencialmente
e êste devenir apenas tem valor humano, na medida em que, sobre-
pondo-se às fatalidades biológicas e às circunstâncias acidentais da
vida, 'está dirigido por uma liberdade que faz dêle a minha obra
mais pessoal, meu existir mais autêntico.
.. ,,~ ..
ascatol icas.com
,242 METAFíSICA
http://www.obl
o SER EM SI MESMO 243
AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS
SUMARIO'!
ART. I.
NOÇAO. - Gênese das- noções transcendentais. - Natureza
das propriedades transcendentais. - Os transcendentais
formam um todo com o ser.
ART. lI. O UNO. - A unidade exclui a divisão em ato. - Unidade
transcendental e unidade numérica. - Unidade analógica.
ART. m. A VERDADE. ~ Verdade e tnteligtbfltdade. - A verdade
transcendental. - Verdade transcendental e verdade ló-
glea, - A inteligibilidade. - Natureza da Relaçáo entre ser
e i'f1<teligêncla. - A relação dos sêres com a inteligência.
- O uno e o inteligível. - -O falso.
ART. IV. O BEM. - Ser e bondade. - A relação com o apetite. -
O bem transcendental. - O uno e o bem. - A perfeição,
razão da apetecibilidade. - Bem e apetecibilidade. --.
Bondade ativa e bondade .rormal. - Os modos da bon-
dade. - As três espécies do bem. - Analogia do bem. -
O mal.
ART. V. OS PRIMEIROS PRINCíPIOS. - O principio de contra-
dição. - Posição e negação do ser. - A relação de iden-
tidade. - Princípio de razão do ser. - Forma geral. -
Pi"incipio de finalidade. - Principio de causalidade.
ART. VI. O BELO, A .&RTE E AS BELAS-ARTES. - O belo. -
Noção. - Definição. - As condições objetivas da beleza.
- Teorias do belo em si e da atividade do [õgo, - A
emoção estética. - As espécies do belo. - A arte e as belas-
artes. - Natureza da arte. - As belas-artes. - As artes
plásticas. - As artes do movimento. - As regras da arte.
- A concepção de obra de arte. - A execução. - O oficio.
http://www.obr
AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS 245
ART. r. NoçÃO
246 METAFíSICA
http://www.obl
AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS 247
ART. n, O UNO
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ihuli4."Ú~/__ •
-ascàtoücas.corn
248 METAFíSICA
§ 1. VERDADE E INTELIGIBILIDADE
http://www.obl
AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS 251
§ 1. SER E BONDADE
http://www.Obri
AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS 263
§ 3. OS MODOS DA BONDADE
cas.com
254 METAFíSICA
§ 1. o PRINCípIO DE CONTRADIÇÃO
http://www.obn
AS PROPRIEDADES
, TRANSCENDENTAIS
255
3 Cf. SANTO TOMÁS, 1,", 11.a , q. 94, art. 2: "Illud quod primo cadit in
appreehensione est ens, cujus intel1ectus includitur in omnibus quaecumque
quis apprehendít. Et ideo primum princípium indemonstrabile est quod
"non est dimul affirmare et negare", quod fundatur supra rationem entis
et non entis: et super hoc principio omnia alia fundantur, ut dicitur in 4
Metaphys."
4 KANT, Critique de la Raison pure, Analut. Trans. 1. lI, ch. lI, Ire. sect.:
"c? princípio de contradição, como princípio puramente lógico, não deve li-
~JUt~r suas assersões a relações de tempo; uma tal fórmula é, portanto,
InteIramente contrária a seu fim / ... .I. Se eu digo: um homem que é
ignorante não é instruido, é preciso que eu acrescente: ao mesmo tempo,
porque aquêle que é ignorante num momento pode ser instruido no outro.
~s s~ d'go: nenhum homem ignorante é instruído, a proposição é anali-
~lca, VIsto como o caráter (de ignorância) constitui aqui o conceito do su-
Jeito, e assim, esta proposição negativa decorre imediatamente do princípio de
contradição, sem que seja necessário acrescentar esta condição: ao mesmo
tempo.
____ icas.corn
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256 METAFíSICA
http://www.obn
AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS 257
cas.corn
258 METAFíSICA
http://www.ob
AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS
§ 1. O BELO
A. Noção
"" 1. Definição. - SANTO TOMÁS define o belo como sendo
• ~;~ O qu,e agrada 'Ver (id quod 'Vis'UIm placet) ou o que agrada pelo
I conhecimento. Esta definição implica dois elementos essen-
~iais, que devemos considerar separados um do outro.
a) A beleza, objeto de intuição. O belo agrada pelo pró-
.prío conhecimento que temos dêle. A co-mplacência que êle
determina afeta, imediatamente, o conhecimento mesmo, porque
é nêle que a faculdade cognoscente, encontra seu término e seu
repouso. - O belo difere, entretanto, da verdade: a verdade
:consiste, com efeito, na pura conformidade da inteligência com
;~quilo que é, enquanto o belo se define pela alegria que pro-
"porciona esta conformidade: é, não o conhecimento como tal,
mas o conhecimento, como fonte de deleite J de complacência.
; . A beleza supõe, portanto, uma relação do ser com a inte'-
~l'tgência, na qual determina uma complacência pela manifes-
ta~ão de caracteres, outros que os da verdade, a saber, a inte-
,.grldade, a proporção e a clareza do objeto mas que todos, en-
}~l'etanto, como a verdade, são acessíveis apenas à inteligência.
';\tícerto também que a beleza é acessível aos. sentidos, e os põe
;,.J;1 um estado de bem-estar e de satisfação: o ouvido é encan-
·;1aI~o por uma bonita música, os olhos gozam de belas formas
~p asbcRS, Mas isto se deve, por um lado, ao fato de que os
Be~tidos do homem estão penetrados de razão, por causa da
'ullldade do composto humano: a beleza não' se pode compre-
260 METAFíSICA
i
http.ówww.obr
AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS 261
~~i'.'"8 Cf. J. MARITAIN, Art et Scolastique, Paris, 1927, pág. 43: "r-rão há
"c.,' só maD;ei;a, mas mil,. dez, mil maneiras, em que a- noção de integridade
ou de acabamento pode se realizar. A ausência de cabeça
ih'.,\" de perfelçao,
.de
$UIto
braços é uma falta de integridade muito importante numa mulher, e
pouco numa estátua, seja qual fôr a tristeza que tenha sentido
:, -:V~!K!N por não ~er podi~o completar a Vênus de Milo. O menor esbôço
~ , mCI ou de Rodín, é mais acabado que o mais perfeito Bougereau. E se
um
i::
L
~
futurista agradar só pintar um ôlho ou um quarto de ôlho na senhora
e retrata, ninguém lhe contesta o direito; só exigimos, ai está todo o
oblema - que êste quarto de ôlho scja justamente o que a dita dama
, eeessita, no caso. .
F
L·
cas.com
262 MET,AFfsICA
~ 0, •
B. .
Teorias.
'.' .
do . belo,
. em.. si, 'e..da atividade do jôgo
299 1. O mito do belo, em si. - Filósofos; imbuídos de pla-
tonismo, quiseram que a beleza fôsse, para n6s, apenas a per-
.cepção. de um-mundo ideal, a apreensão misteriosa da invisível
essência das, coisas ou dos tipos absolutos e imutáveis. - Estas
.teE!es,,ªe pretendem .fazer .da .beleza o objeto de uma intuição,
:que diretamente se. relacione . com o' mundo íntelegível, são
:demas~ado .ambícíosas.iporque as coisas são, sem dúvida, muito
mais. iiin1,pl(úi.. A. b~leza,. num sentido,. é uma. reolidad» senSível
uma iJei gue r.esulta da perfeMi> '~Qm que uma forma está
reàliiada·nQ. matéria. Portanto énas coisas que a percebemos.
-:..' É verdade, pôrêm, cémo se 'eSforçou em demonstrá-lo sobre-
tudo SANTO 'AGOSTíNHO, 'que'!liá belezas finitas que contempla-
mos nas coisas supõem uma Beleza infinita, ou ainda, a parti-
cipação da razão a normas ·de beleza e de perfeição que trans-
cendem o espaço é o tempo (28). O artista, porém, não tem
-es olhos fixados nesta ..Beleza infinita que em si mesma está
acima de nossa apreensão e que s6 é apreensível pelos seus
reflexos que descobrímoa nas coisas.
Todavia, hâ um sentido' em que é lícito falar de belo ideal.
O belo ideal, por oposição ao belo real, é o que é concebido
pelo espírito: é um tipo de perieiçõo, um moâêlo que o espírito
se faz e que lhe serve de regra na produção da obra de arte
(idéia exemplar). Esta é como' o efeito do ideal concebido,
ela o realiza com maior ou menor perfeição. Concluímos assim
que se o belo ideal é encarado como perfeito, a perfeição está
mais na intenção do artista do que no ideal que êle realmente
concebe.
~ .. _:~_.,,,
~:ividade de jôgo. Tal é o sentido geral da definição kantiana -,
t~ ~
" ..... uu...belo como '~o que satisfaz o livre-jôgo -da..imaginação, sem ._- ---- - - ~
estar em desacôrdo com as leis do entendimento." (Critique du -- -;.~
jugement). , i f
Esta teoria encerra uma parte de verdade. O belo, de fato, r:
é gratuito, no sentido de que não tem, como tal, U1n fim útil. .
Basta-se a ·si mesmo e, por si mesmo, se justifica: KANT diz, "
noutras palavras, que êle é "umafimdidade sem fim", Sem I
dúvida o artista pode estar interessado mas a prõpría obra é,
http.z/www.obrast
AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS 263
\
-,
C. A emoção estética.
~1 ' A emoção estética, isto é, a complacência que determina
d , a percepção da beleza, é qualquer coisa de complexo. Podemos
ao analisá-la distinguir os seguintes elementos: a alegria, a
admiração, e a simpatia.
D. As espécies dO belo
7 Cf. SANTO TOMÁS. 2», 2ae., q. 145, art. 2: "Honestum est idem spiri-
tuali decozí "; art. 4: "Honestas est quaedam spiritualis pulehrrtudo."
266 METAFíSICA
§ 2. A ARTE E AS BELAS-ARTES
A. Naturem da arte
244 1. A arte em geral. - A arte consiste essencialmente
ria reta razão das coisas. que se fazem (recta ratio facrtibilium),
isto é, tem. por função determinar que condições deve preen-
cher a obra a produzir para estar conforme à idéia. do' artí-
fice. - Dêste ponto-de-vista muito geral, não faremos distin-
ção essencial entre as artes úteis e as belas-artes; entre artí-
fice e artista. Nos dois casos, trata-se de fazer passar uma
ídêia (idéia de mesa; idéia de relógio; idéia de uma melodia,
idéia de um monumento, etc.), na matéria, de encarná-la de
um certo modo. A arte é cada vez o que regula esta impressão
da idéia numa matéria sensível. .
B. As belas-a~~
245 Se considerarmos o objeto -prôprio -de cada uma das belas-
-artes, obteremos dois grupos distintos: O grupo das artes plás-
ticas e o grupo das artes do movimento. 8
http://www.obr
AS PROPRI,ED.t\DES TRANSCENDENTAIS 267:
C. As reg:ru da arte
1~6 Quando falamos das regras das artes, devemos distinguir
entre as regras que dirigem a concepção da obra de arte e as
regras que governam a execução da obra de arte.
http://www.obi
AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS 269
2. A execução
a) O ofício. A execução é o domínio do ofício e da ha-
bilidade técnica. O artista deve ser um artífice, isto é, um
técnico ou homem de ofício. A obra a produzir exige de. fato
o emprêgo de ferramentas apropriadas, cujo manejo é objeto
de aprendizagem, o conhecimento preciso dos materiais, a posse
das técnicas operativas. Sem ofício, a obra seria apenas bal-
buceio informe.
b) Arte e ofício.' O ofício é necessário ao artista, mas
extrínseco à arte. A perfeição do ofício nunca poderia subs-
tituir a virtude ou o hábito artístico. Não obstante, a maior
tentação que espreita o artista é trabalhar no vazio, isto é,
jogar com habilidade suas aptidões técnicas, sem ter uma idéia
original e nova para exprimir, como tal orador equilibra har-
moniosamente seus períodos e multiplica os gestos expressivos,
sem nada ter a dizer. - O ofício está a. serviço da arte e a
ela se subordina todo inteiro. A obra de arte perfeita é aquela
em que o ofícrio mais desenvolvido chega a não mais se distin-
guir da própria idéia e a desopareeer na expressão desta idéia
ou desta forma. A admiração vai, então, diretamente ao pró-
i' prío objeto belo e o artista, como artífice, fêz que o esqueces-
sem em proveito da obra.
CAPíTULO III
OS PREDICAMENTOS
SUMÁRIOl
http://www.obl
OS PREDlCAMENT<lS 271
cial do ser, valerá somente para esta com exclusão das outras.
Passando ao estudo dos predicamentos, gêneros supremos ou
primeiras divisões do ser, deixamos então a ordem transcen-
dental onde tínhamos até aqui permanecido.. As questões que
se apresentam agora dizem respeito à divisão do ser em subs-
tância e acidente e à natureza dos diferentes acidentes,
A. Fundamento da divisão
Podemos distinguir dois argumentos essenciais para pro-
var que o ser finito se divide em substância e acidentes. O
primeiro, que expusemos em Cosmologia e em Psicologia, é
fornecido pelas condições de inteligibilidade da mudança: êste
argumento visava apenas a estabelecer o fato da dupla e ne-
cessária realidade de um suj eito realmente distinto dos aci-
dentes ou fenômenos nos sêres finitos. - O outro argumento,
propriamente metafísico, tende a explicar êste fato recorrendo
às condições metafísicas do ser finito, isto é, pela distinção
real de essência e existência.
1. A inteligibilidade da mudança
a) A realidade do sujeito. Limitamo-nos aqui a resumir
os resultados de nossas discussões cosmológicas e psicol6gicas.
A própria experiência nos obriga a conceber a substância corno
urna realidade positiva e distinta, se quisermos que a mudança
~ascatolicas.com
272 METAFíSICA
http://www.ob
·······:" ·
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OS PREDICAMENTOS 273
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rascatolicas.com
274 METAFíSICA
nem sequer a aparência de uma síntese a priOri, uma vez que, pelo
contrário se trata de uma análise ou de uma indução. No todo
global ~do à experiência e constituido pelo conjunto dos atributos
ou fenômenos, o pensamento apreende um dupl9 aspecto, definido
pelos têrmos de acidentes e de sujeito, de fenomenos e de subs-
tância, Se a tendência do pensamento comum foi sempre de rei-
ficar êste sujeito ou esta substância, será a função do pensamento
reflexivo e cientifico, precisar a relação dos dois aspectos, irredu-
tíveis e solidários, da realidade concreta,
B. Os dez predicamentos
fi8 O ser finito é, portanto, substância ou acidente. O próprio
acidente encerra múltiplas categorias. O conjunto dêstes
modos gerais (chamados também especiais por oposição aos
modos universais, que são os transcendentais e que afetam
todo ser, seja qual fôr) sob os quais o ser pode existir com-
põem os gêneros eupremos nos quais se distribui todo o 'real
finito. - Tentamos formar o quadro completo e irredutível
dêstes gêneros supremos. É o que vimos em Lógica (I, 47)
onde esta questão se aptesenta expressamente, enquanto os
predicamentos são considerados propriamente como modos âe
atribuição. Encaramos, aqui, os predicamentos do ponto-de-
-vista do ser,' isto é, como modos da essência.
http://www.obl
OS PREDICAMENTOS 275
'fi;' ·2 Oualll, ltoaóv. :no{ov, c 1tOÓ, 'tI 7tOÜ '1tO'tE x.ra8111, 'XElV, 'lÇOIETv, r:áaXEIIJ ..
'~t:i':Os tópicos. I, c. 9, 103 ~ 11. ~ão ~ mes~a lista, com a única diferença
:~l,Ie é substituída pelo sinônimo. 'tI ta'tl .•
;h~a 8 C~. SA~TO TOMÁS, IV Sentent.• ~. 12, q. ~. art. 1, sol. 3. ad .. 5: "Cu~
}~. accldentla habeant esse et essentías proprras et eorum essenha non sit
,:~rum esse, constat quod alíud est in eis esse et quod est, et íta habent
,(!ompositionem. "
:,::
t'
~ascatorlcas.com
276 METAFíSICA
1
Esta concepção não vai de encontro à unidade do ser substan-
cial, porque o esse do sujeito como tal continua único, e o esse dos
I
diversos acidentes depende inteiramente do sujeito no qual são re-
eebídos.v
§ 2. xocxo DA SUBSTÂNCIA
A. A substância em geral
1. Natureza
255 a) A aptidão para existir em si. A palavra substância,
dissemos, designa etimolôgicamente o que é sujeito ou subs-
trato dos acidentes (substare). Mas não é esta sua razão pr6-
pría e não é por esta propriedade de ser sujeito que conviria
definir a substância, porque arriscar-nos-íamos a identificá-la
com a matéria, enquanto, esta, como tal, nada tem de subs-
tancial (I, 389). A razão própria da substância, a que explica
sua capacidade de ser sujeito dos acidentes, consiste na aptidão
em existir e1n si e não em um outro como num sujeito de inesão
(esse in se et non in alio iomquam. in eubjecto inhaesionis).
Dizemos: "como num sujeito de ínesão", para ressaltar que a t
substância pode estar num sujeito como conteúdo, em um con- I
I
tinente (a água no vaso), ou estar possuída por um sujeito
(como no caso do predicamento ter: Pedro está quentemente
vestido = tem uma roupa quente).
I
b) A perseidade. Podemos resumir tôda a natureza da t
substância, dizendo, simplesmente, que tem aquilo a que co.m-
pete existir por si (per se: de onde o têrmo perseidaâe), isto
é, por causa de si. Também devemos entender bem, a expressão
I
;
4 Cf. SANTO TOMÁS, III.a, q. 17, art. 2: "Esse a1bum est esse Socratis,
non inquantum est Socrates, sed inquantum est albus, Et hujusmodi esse
nihil prohibet multiplicari in una hypostasi ve1 persona: aliud enim est esse I
quo Socrates est a1bus et quo Socrates est musícus. Sed illud esse quod
pertinet ad ipsam hypostasim vel personam secundum se, impossibile est in
I
una hypostasi vel persona multiplicari, quia impossibile est quod unius rei 1
non sit unum esse." 1
1
I
I
http://www.obr
OS PREDICAMENTOS 277
ascatolicas.com
278 METAFíSICA
http://www.ob
OS PREDlCAMENTOS 279
cas.corn
280 METAFÍSICA
http://www.obr
OS PREDlCAMENTOS 281
§ 1. A QUALIDADE
".-".~~
Devemos definir e dividir a qualidade, depois de deter-
. -, ~., ·1 minar a natureza própria de suas diferentes espécies.
r · ..•
,.
. .'t-.-
A. No~ e Divisão
1. Noção. - Não há definição propriamente dita da qua-
r;.}~.': lídade, como não há dos outros predicamentos, que sendo gê-
t!) r: . neros 8Upre1Y!-Os, não podem ser situados num gênero. Não
R:0_i~~ .'
.~
~;~,
ascatolicas. com
282 METAFíSICA
http://www.obr
OS PREDICAll/lENTOS 283
B. As diferentes qualidades
264 1. O hábito e a disposição
a) Natureza. No amplo sentido, o hábito (de habeo) é
a posse de alguma coisa. Como predicamento, o hábito (ou ter)
se une ao primeiro sentido e designa o estado em que se en-
contra um ser dado, pelo fato do que possui (estar armado,
vestido, decorado). O têrmo hábito designa também uma es-
pécie de qualidade, a saber a qualidade estável pela qual um
sujeito é modificado em seu ser e em 'sua atividade. 6
A disposição difere do hábito apenas por uma menor estabili-
dade. Entretanto, entre o hábito e a disposição parece devermos
admitir uma diferença essencial e não simplesmente acidental, por-.
que a estabilidade ou instabilidade da qualidade dependem aqui,
não de alguma condição. individual, mas da própria natureza da
qualidade. Certas qualidades estão de si, de um certo modo enral-
gadas na natureza (por exemplo, a ciência e a virtude): reserva-
mos-lhes o nome de hábito; outras permanecem superficiais: são
as disposições.
265 2. A potência
a) Natureza. A potência de que se trata aqui é a po-
tência ativa ou faculdade, isto é, uma qualidade que dispõe
imediatamente a substância a agir. Não é aquilo que age (ou
o agente), mas o princípio pelo qual o ser age: tais são o
instinto, a inteligência, a vontade, as fôrças físicas (não é a
inteligência que conhece ou a vontade que quer, mas o homem
que conhece pela inteligência e quer pela vontade). 7
b) A realidade das faculdades. É preciso admitir, num
sujeito dado, a realidade de faculdades distintas da substância,
porque se a atividade acidental afetasse imediatamente a subs-
tância, esta. se encontraria mudada em si mesma pelo fato de
sua ação, com a qual se identificaria. - Quanto ao princípio
da distinção das faculdades, é constituído pelo objeto formal
de suas operações, isto é, teremos que admiti'r a realidade das
faculdades distintas cada vez que os objetos sejam especifica-
mente diferentes: assim, distínguímos realmente a inteligência
e a vontade, por causa de seus objetos respectivos (o ser e o
bem em geral), que são formalmente distintos.
7 Cf. SANTO TOMÁS, lI. a, lI.a e. q. 58, art. 2: "Actlones sunt suppositorum
et totorum, non autem proprie loquendo partium et formarum seu potentia-
rum: non eIl;im proprie dicitur quod manus percutiat, sed homo per manUm;
neque propne quod calor calefaciat, sed ignis per calorem."
http://www.obl
OS PREDICAMENTOS 285
§ 2. A RELAÇÃO
A. Natureza
1. Noção. - Podemos caracterizar a relação predica-
mental como aquilo pelo qual um sujeito se relaciona a um
têrmo, Tais são, por exemplo, a igualdade, a semelhança, a
causalidade, que resultam respectivamente da quantidade, da
qualidade e da ação, e a estas se acrescentam como tantas de-
terminações acidentais. As outras categorias (tempo, lugar,
ete.) são, pelo contrário, efeitos da relação.
B. Divisão
S68 Podemos dividir a relação, quer do ponto-de-vista de seu
fundamento (divisão essencial), quer dos têrmos (divisão aci-
dental) .
http://www.ob
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OS PREDICAMENTOS 287
rascatoficas.com
288 METAFíSICA
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CAPÍTULO IV
AS CAUSAS
SUMÁRIO 1
Itscatoücas.com
290 METAFÍSICA
§ 1. EXISTiNCIA DA CAUSALIDADE
A. o fato do "devenlr"
~2 1. O princípio de causalidade. - Mudança ocorrem no
mundo; as coisas não cessam de se modificar e de se trans- '
formar e ao mesmo tempo de exercer atividades. É o fato uni- l.
versal do "deuenir" que estabelece a divisão- do ser em potência r
e ato e impõe a noção de casualidade, virtualmente coniula na
noção de mudança e a noção correlaio. de efeito. A inteligên-
cia, colocada diante de algo nõvo, seja em n6s ou no mundo
exterior, não pode evitar formar êste juízo: esta realidade
nova, substância ou acidente, tem uma causa. Também deve-
mos considerar o princípio de causalidade enunciando que
"nada acontece sem causa", como evidentemente por si, o con-
trário como já vimos (23.",), sendo contradit6rio e absurdo.
2. As dificuldades empirlstas. - Os empírístas, depois de
-----.;---- ·'OCKAM (40) contestam a evidência 'dó pri'ncipio"de caüsatídadeepre-
.- .. tendem reduzir a noção de causalidade à de uma sucessão regular
de dois fenômenos, que o hábito ou a associação mecânica levariam
pouco a pouco a. ter como necessária. A causa, escreve STUART MILL
(Logique, nr, c. 5), é «o antecedente ou o conjunto de antecedentes,
dos quais o fenômeno chamado efeito é invariável e incondicional-
mente conseqüente» (92). KANT parece afastar-se dêste ponto-de-
-V1s~a, quando afirma que a noção de causa é irredutível à da su-
cessao, porque acrescenta a esta a idéia de uma dependência «geral
http://www.obn
AS CAUSAS 291
1. O movimento
a) O que se ?riO'I.le é movido por outro. O mouimenio
deve ser entendido aqui no seu sentido mais geral, para tôda
passagem da potência ao ato, ou para todo devenir de qualquer
natureza que seja. Dizemos que todo ser submetido ao d.evenir,
isto é, que passa da potência ao ato, só pode efetuar esta pas-
sagem, pela ação de um ser em ato (200). Ora, como nenhum
ser pode estar simultâneamente e sob o mesmo aspecto em po-
tência e em ato, deduzimos que a passagem ao ato s6 se pode
realizar sob a ação de um, outro, que é a causa do movimento.
Assim, devemos afirmar universalmente que "tudo o que se
move é movido por um outro" (omne quod movetu1' ab alio
movetur).
b) A espontaneidade vital. Objeta-se às vêzes contra
êste princípio os movimentos espontâneos dos sêres naturais.
É evidente que teremos logo que afastar os casos dos sêres
inorgânicos, que estão submetidos à lei da inércia, isto é, são
incapazes por si mesmo de modificar seu estado de movimento
ou de repouso. Mas, resta tôda a ordem dos movimentos vitais.
A vida se define de fato como um movimento espontâneo e
imanente, no sentido de que o vivente tem em si mesmo o
princípio e o término de seu movimento. Neste domínio, po-
demos distinguir os fatos da vida vegetativa e os fenômenos
da vida de relação. Ora, o princípio "omne quod movetur" se
aplica igualmente nos dois casos, quer consideremos como um
todo o conjunto dos movimentos vitais, quer os decomponha-
mos em seus elementos dispostos em série. De fato, na vida
vegetativa primeiro, os fenômenos vitais dependem a todo mo-
mento, como já vimos (I, 427) de um conjunto de causas, que
'condicionam seu exercício e -suas modalldades-- assíma-germí->- -
nação das plantas, a círculaçãoríouanxue, a nutrição depen-
dem no fim de contas das energias cósmicas e são propria-
mente seus efeitos.
N~ domínio ~a vida de relação, o movimento, por mais
espontâneo que seja, só se compreende por uma causa distinta
do ser que se move. Não há nada que as ciências biológicas 'j
(sobretudo a termodinâmica biológica) melhor tenham pôsto
http://www.obl
I
AS CAUSAS 293
4 Cf. J. LEFEVRE, ManueL critique de BioLogie, Paris, 1938, págs, 1012 sg.
fi Fn. SUÁREZ, Disputationes Metaphysicae, Disp. XXIX. - Cf. L. MAHIEU,
François Suarez, Par-is, 1921.
~ascatolicas.com
294 METAFíSICA
http://www.obr
AS CAUSAS 295
§ 2. NATUREZA DA CAUSALIDADE
ascatolicas.com
296 METAFíSICA
§ 3. DIVISÃO DA CAUSALIDADE
http://www.ool
AS CAUSAS 297
§ 1. NoçÃO DA EFICIÊNCIA
"278' "··'''-1. Definição. ' - A causa eficiente se define como "o prin-
cípio extrínseco da mudança" ou, mais precisamente, como.
aquilo porque alguma coisa é (id a quo aliquid est ), A causa
eficiente difere essencialmente das causas intrínsecas (mate-
ríal e formal), que são relativas à constituição interna do ser
e não à sua existência. Difere, essencialmente, também, da
causa final. Esta é, sem dúvida, princípio da mudança e
aquilo pelo qual alguma coisa é, mas por razão inteiramente
298 METAFíSICA
§ 2. DIVISÃO DA EFICIÊNCIA
http://www.ot
r AS CAUSAS
a causa principal pode ser definida como aquela que age por
299
http://www.obl
Il.
~
AS CAUSAS 301
~aScatolicas.com
302 METAFÍSICA
10 Cf. SANTO TOMÁS, 1.... q. 104, art. 1: "Manifestum est quod si aliqua
duo sunt ejusdem specíeí, unum non potest esse causa formae alteriur, in
quantum est talis formae (quia sic esset causa formae propriae, curo sit
,~<l«:ro ratio utriu:mYIÜ~ sed potest esse causa hujusmodi formae secundum
quod est in materia,-id est quod haée -iíiá"têil'i acqü"frat liaiíe fóríiiil'Iii;Et hoc' .,. - ... -
est esse causa secundum fieri, sictit cum horno generat hominem et ignis
ignem. Et ldeo quandocumque naturalis effectus natus est impressionem
agentís recipere secundum eamdem _rationem quam est in agente, tunc fieri
effectus dependet ab agente, non autem esse ipsius."
11 Cf. SANTO TOMÁS, Contra Gentiles, U, c. 21: "Socrates enim, quia
ha?et suae humanitatis causam, non potest esse prima humanitatis causa,
~Ul.a cum humanitas sua sit ab aliquo causata, sequeretur quod esset suí
IpSlUS causa, cum sit id quos est per humanitatem."
http://www.obn
AS CAUSAS 303
§ 3. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA
http://www.ot
AS CAUSAS 305
"-'-n Esta mesma asserçãb deriva, em LEmNlz, desta outra de que tôda
proposição afirmativa verdadeira é estritamente analitica (atribuição per S/I
primo modo, I. 50), -istoé:o predicado afirmado do sujeito está necessària
mente, contido (formal ou virtualmente) na noção do sujeito. Por conse-
guinte, tôda demonstração de uma proposição consiste em reduzi-la a uma
proposição idêntica. Dêste ponto-de-vista, os mesmos princípios primeiros
são .demonstráveis, enquanto são, por excelência, "idênticos" (Nouveaux
Essai«, IV, 7, 1.)
!~
li;
Jráscatolicas.com
306 METAFÍSICA
não possui nada que não esteja no efeito. HEGEL que cita HAMILTON,
tinha afirmado, pura e simplesmente, a identidade da causa e do
efeito. «Nada há, diz êle, na razão que não se encontre na conse-
qüência, e nada na conseqüência que não se ache na razão.» -
HAMELIN (Élements principaux de la représentation, págs. 221-223)
criticou, vivamente, esta teoria: «É preciso demonstrar, escreve, que
a causalidade explica tanto a conservação de alguma coisa através
do jôgo da relação causal, quanto à aparição de alguma coisa nova.
Negligenciar o segundo objeto para limitar-se ao primeiro, é, inteira-
mente impossivel.» A teoria de HAMILTON, conclui, é «tão grosseira
quanto primitiva».
MEYERSON, por sua vez, aplicou-se a demonstrar que esta redu-
ção ao idêntico é o tipo ideal de explicação, visada pelas ciências
da natureza (cf. De l'explication dans les sciences, t. I, págs, 127 sg.,
págs. 170, 179). O principio de causalidade, no domínio das ciên-
cias, se reduziria, pois, ao princípio de identidade.
O ponto-de-vista científico está aqui fora de questão, porque se
refere ao plano empírico, que não é o da pesquisa metafísica. Have-
ria puro e simples sofisma em concluir de uma ordem a outra. De
fato, as «causas» de que se ocupa a ciência não são, propriamente,
falando, senão condições ou antecedentes e não causas autênticas.
É o que permite e justifica ..0 processo de identificação do conse-
qüente ao antecedente, porque um e outro se reduzem à quantidade
e são considerados apenas, sôbre êste aspecto quantitativo (I, 190).
Éste regime é o da unívocídade radical e absoluta, a qual por defi-
nição, implica identidade de natureza, entre a causa e o efeito e por
conseguinte, no domínio positivo, identidade quantitativa entre o
conseqüente e o antecedente. Mas, desta identidade quantitativa,
não temos o direito de concluir, sem mais, à identidade total: ela
significa, somente, que conseqüente e antecedente, por diferentes
que sejam, reduzem-se a efeitos mensuráveis, que permitem identi-
ficá-los entre si sob êste aspecto.
Se deixarmos de lado o ponto-de-vista cientifico para encarar
o assunto sob seu aspecto filosófico, diremos que o princípio de cau-
salidade não se reduz ao princípio de identidade, mas que está ga-
rantido pelo princípio de contradição, enquanto sua negação é con-
traditória. Está, êle, com efeito, tão longe de afirmar a identidade
da causa e do efeito, que estabelece a distinção essencial dêstes dois
têrmos. Nem mesmo consiste em afirmar a equivalência da causa
<propriamente dita), e do efeito, uma vez que impõe a eminência
da causa em relação ao efeito. O efeito, num sentido, é menos que
a causa, já que dela procede; entretanto, é algo de nõvo, mas esta
novidade está primeiro na própria causa, enquanto produz em ato
o que continha apenas, virtualmente. A causalidade é, portanto,
coisa diferente da identidade. - Negar, porém, que o que começa a
ser tem uma causa, é cair numa contradição: se um ser pode co-
meçar a existir por si mesmo, deduz-se que é, antes de ser, isto é,
que êle é, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Por isto, tam-
bém, a noção de, um «ser contingente sem causa» é ininteligivel:
o ser contingente, por definição, é, como tal Indiferente aõ-sei ou ---
não ser, se é, é pois por um outro distinto de si; se fôra por si
mesmo, não seria mais contingente. 13
b) Causa e função. MEYERSON (Essais, Paris, 1936, págs, 28 sg.)
distingue dois tipos de causalidade: a «causalidade científica.., que
http://www.ot
.1
AS CAUSAS 307
§ 4. A SUBORDINAÇÃO NA EFICIÊNCIA
A. Coordenação e subordinação
1. As causas parciais. - A causalidade eficiente não
comporta, unicamente, entre as diferentes causas que concor-
rem para a produção de um efeito, relações de subordinação.
A um primeiro nível de eficiência, as causas podem ser sim-
plesmente coordenadas entre si, como acontece com os solda-
dos de um exército ou os cavalos que puxam um carro. Estas
causas são coordenadas entre si, enquanto cada uma 1J?'oduz
um efeito próprio e que os efeitos produzidos por cada uma,
devom~ associar-se ou combinar-se para realizar o efeito total
(a vitória ou o movimento do carro). Estas causas coorde-
nadas que são cada uma causa total de uma parte do efeito,
entretanto, são apenas, causas parciaie, relativamente a êste
efeito.
irascatolicas.com
308 METAFÍSICA
http://www.o
AS CAUSAS 309
catolicas.corn
310 METAFÍSICA
http.z/www. O
AS CAUSAS 311
.t
atolicas. com
312 METAFíSICA
primeira causa não movida, isto é, que seja causa, por si, abso-
lutamente. Senão, não haveria causalidade de maneira alguma:
as causas subordinadas explicam, apenas, a tramemissão da
eficiência, não a realidade desta.
b) A causa primeira universal. A causa primeira de-
verá, portanto, estar, fora e acima da série das causas, aci-
dentalmente, suborâinaâae, visto que é ela que está no prin-
cípio absoluto de uma eficiência que ela produz, soberana e
universalmente. À Teodicéia cabera estabelecer, explicitamente,
a realidade e a natureza da Causa primeira universal. O que
nos cabe demonstrar aqui, antes de tudo, é não somente que
a noção de uma primeira causa imóvel é inteligível, mas ainda,
que é a única inteligível, quando se entende perfeitamente a
idéia de causalidade.
§ 1. NATUREZA DA FINALIDADE
A. Noção
1. Ordem de execução e ordem de mtenção, - O fim,
geralmente, é "aquilo por que o efeito é produzido". É, por-
tanto, o término da ação, na ordem da execução (finis in re)
e o princípio da ação na ordem da intenção (finis in inten-
tione) , enquanto é o que determina a causa eficiente a agir.
É, por esta última razão, que o fim é chamado causa das causas,
porque é o que dirige tôda a série das operações. Pedro quer
ser engenheiro: é êste fim (intenção) que o levará a fazer
tais estudos, a entrar em tal escola, a se submeter a tal dis-
ciplina de trabalho, a tais exames. .Quando- tiver. conquistado
o
B. Inteligência e finalidade
295 As observações precedentes ligam a finalidade à inteli-
gência. Ora, a finalidade é universal. e se encontra, não s0-
mente nos sêres inteligentes que concebem o fim de seus atos,
mas, ainda, nos animais cujo instinto obedece a uma finali-
dade, maravilhosamente precisa (Il, 275-277), e também, como
vimos, na discussão do mecanismo (I, 369~370), nos sêres inor-
gânicos cujas propriedades definidas determinam a forma de
sua eficiência. Deveremos, então, para ter uma noção adequa-
da da finalidade, distender o laço que parece ligá-la à íntelí-
gência? Veremos que isto não acontece e que a finalidade, em
caso algum, pode ser explicada sem recorrer à inteligência.
irascatolicas.com
314 METAFÍSICA
http://www.obl
AS CAUSAS 315
(
"ci'scatolicas.com
316 METAFíSICA
§. 2. A SUBORDINAÇÃO NA FINALIDADE
http://www.oo
AS CAUSAS 317
§ 3. O ACASO
A. Noção
299 Dizemos, correntemente, de certos acontecimentos que são
"os efeitos do acaso". Assim acontece, quando um objeto frá-
gil, derrubado por um gato, caí sôbre uma almofada esque-
rascatolicas. com
318 METAFÍSICA
http://www.ot
AS CAUSAS 319
B. Acaso e int.eligibilidade
801 1. Condi~ões absolutas do acaso
a) A indeterminação causal. Do que ficou dito, deduz-se
que o acaso não tem explicação fora das séries causais que
'Vêm interferir. Porque, podemos sem dúvida perguntar, por
que Pedro encontrou seu devedor em determinado ponto de
seu caminho, e, por que o lavrador escolheu para plantar uma
árvore, o ponto exato em que o tesouro estava enterrado. Mas
é evidente que não há, nestes casos, causas distintas daquelas
que movimentaram, separadamente, Pedro e seu devedor ou
daquelas que determinaram, antigamente, tal pessoa a escon-
der um tesouro no lugar onde um lavrador, decidiria, um dia
plantar uma árvore. - Noutras palavras, nenhuma necessi-
dade explica o acaso: a interferência das séries causais não
depende de uma causa ordenada de si para esta interferência;
ela é indeterminada e esta indeterminação é a própria casua-
lidade. (Cf. SANTO 50MÁS, La, q. 115, art. 6; Phys., n,
lec. 7-10.)
Seria possível, sem dúvida, observar que seguindo a série
inteira das causas determinadas, cuja interferência produziu
o efeito fortuito, poderíamos reduzir o acaso à necessidade.
22 vivente mor':
Cf. ARISTÓTELES, Métaphys., VI, c. '3~' ~;P~r"~~~~pl~:';)- 7'"
r~rá. necessàriamente, porque já traz consigo a condição de sua morte,' a
Saber, a presença dos contrários em seu corpo. Mas, na realidade, será por
doença ou por morte violenta? Nada sabemos ainda, pois depende de que
s~ produza tal ou qual acontecimento. Está portanto claro que chegamos
assim a um princípio que não se pode reduzir a nenhum outro. Tal será
o _princípio de tudo o que é devido à casualidade: êste mesmo princípio
nao terá sido produzido por nenhuma outra causa."
http://www.ot
AS CAUSAS 321
§ 4. A CAUSA EXEMPLAR
irascatolicas.com
322 METAFíSICA
804 .' \:.. 1-.,. Natureza. - ·Duas causas podem, em certos casos,
exercer uma sôbre outra uma causalidade mútua. (Causae
sunt aâ invicem causae.) É o caso 'que já encontramos, quando
se tratava do ser corporal que, produzindo seu efeito; sofre
uma ação de volta por parte do paciente (a bola que ao choque
com outra é causa do movimento desta última, que, por. sua
vez, ~ causa, por. exemplo, da mudança de direção da. bola que
a pôs .em movimento). A mesma coisa pode produzir-se na
ordem espiritual: O mestre que ensina é causa da ciência no
discípulo, mas as perguntas que faz o aluno, à medida que
recebe suas lições, instruem o professor sôbre pontos que não
tinha percebido ou aprofundado suficientemente. Há, portan-
to, quanto ao saber, causalidade recíproca entre o mesmo e o
discípulo.
~stes exemplos mostram que a causalidade reciproca só
pode existir entre causas de espécie diferente e produz eleitos
distintos. Sede fato, as. causas fôssem da mesma espécie, não
poderiam agir .uma sõbre a outra, visto como, por hipótese,
estariam ambas em ato da mesma realidade. - Por outro .lado,
não podem produzir o mesmo efeito, uma vez que agem uma
sôbre a outra: há, portanto, necessàriamente, dois efeitos dis-
tintos. .
hUp://www.(
LIVRO 111
TEODIC1tIA
§ 1. TEODICÉIA E METAFíSICA
http://www.ot
TEODICÉIA:-· 327
Mesmo os filósofos que defendem .uma intuição de Deus devem.
confessar que Deus, assim revelado à consciência, não' mani-
festa claramente ao espírito sua natureza e suas propriedades.
De qualquer modo, 'deuemos argumenta/r, a fim de que se chegue.
a. explicita1" e precieo»: tôdas as riquezas inteligíveis implicadas
no çonhecime~to inicial de J)e1k8 cOnto, cáusa e princípio uni-
versol. 'Todos, de fato,' negam "ser' capazes. de uma íntuíção
imediata é direta da Essência infinita de Deus.' O método
a,'priori: se impõe então a partir da descoberta de Deus como
I, Princípio primeiro, Mas, por outro lado, como na Ontologia,
I
êste método permanece interior de um certo modo à. experiên-
cia, 'original, da qual só faz desenvolver ou desdobrar o, con-
tl~údo inteligível: êle 'mesmo é apenas um outro aspecto' do
consentimento ao' ser e da submissão às condições absolutas de
sua, íntelígibiíídade..
§ 2. A .cIÊNCIA DE DEUS
uascatolicas.com
328 METAFíSICA
http://www.ot
TEODlCÊIA 329
irãscatolicas.com
0. ";."
http://www.ot
PRIMEIRA P AR'tE
A EXlSftNCIA DE DEUS
.. ,
t-},.
>
"
irascatolicas.com
CAPíTULO I
SUMARIOl
§ 1. A IDÉIA, DE DEUS
A. Defini~ão nominal
http://www.ob
DEMONSTRABILIDADE DA· EXIST~NCIA DE DEUS 335
http://www.obl
DEMONSTRABILIDADE DA EXISTÊNCIA DE DEUS 337
<I Cf. ED. LE RoY, La Rai30n primitive, Paris, 1927, pâgs, 126-129.
~ascatolicas.com
338 METAFíSICA
1. A critica de Kant
a) O postulado emsiiriet«: Sob uma forma radical, a
objeção que .nega o alcance transcendente do raciocínio causal,
para estabelecer a existência de Deus foi desenvolvida por
KANT em Critique de la ra.ison pure. ~ste nega universal-
mente que a razão possa ultrapassar a ordem fenomenal. Sôbre
êste ponto não vamos retornar aqui urna discussão feita em
Critica (127-194), onde demonstramos que a doutrina kantiana
se baseia no postulado gratuito e falso, de natureza empírica,
de que seria impossível ao conhecimento atingir outra coisa
que não o sensível. Daí KANT deduz imediatamente que todos
os encadeamentos, as séries causais e a ordem que vemos nos
fenômenos resultam das formas a priori da sensibilidade e
do entendimento. Desde então, tõdas as provas racionais da
existência de Deus se apresentam como desprovidas de valor
e de fato e traduzem apenas exigências de nossa estrutura
mental mas não exigências objetivas, no sentido próprio da
palavra. 4 Portanto, são os próprios princípios da crítica kan-
.":;~
."
919 b) O método de analogia. Devemos, entretanto, guar-
c:
dar da crítica kantiana um aspecto que interessa especialmente
à prova de Deus. É aquêle que contesta o valor do método de
analogia. O raciocínio, segundo KANT, só teria valor 'se ope-
rasse sôbre conceitos rigorosos. Ora, nenhum de nossos con-
ceitos, nem o do ser, nem o de causa, pode propriamente se
aplicar a Deus, porque êstes conceitos só têm valor dentro
de nossa experiência, enquanto o Ser infinito ou a Causa pri-
meira, se existe, é necessàriamente transcendente à tôda nossa
experiência. ,
Contra essa objeção, basta demonstrar que o princípio de
causalidade, tal como o empregamos, serve apenas para exigir
uma causa do universo, e isto, em virtude precisamente do 'que
apreendemos experimentalmente do universo, e para definir
° que é ou deve ser, em si, esta causa. Sabemos pelo contrário
que não poderemos falar de uma tal Causa, considerada em
sua própria natureza de Causa senão levando em conta a ana-
logia, isto é, de um modo de pensamento em que as coisas de
que falamos são apenas proporcionalmente semelhantes às que
concebemos, segundo nossa experiência. Nada há, portanto,
perfeitamente correto em nosso uso de princípios de causali-
dade, visto como o conceito analógico de causa, que se encon-
tra em tõâae as provas da existência de Deus como meio têrmo,
def!Ígna, não a causalidade tal qual existe na ordem empírica,
mas aquilo em que esta causalidade da ordem. criada é propor-
eionalmente semelhante a U1na causalidade de uma outra ordem
essencialmente diferente. - É então certo que os conceitos de
ser e de causa, não se podem aplicar univocamente a Deus e
à criatura. Mas que se pode concluir daí? Que Deus não é
ser, que não é causa? De modo algum, senão que não é ser
como nós somos, nem causa como o somos. - É, entretanto,
um e outra, mas de uma maneira absolutamente exclusiva, que
pertence exclusivamente a êle e que não pode êle dividir cõIn
a criatura. Assim o raciocínio baseado sôbre a causalidade,
embora não nos leve -a penetrar o mistério do Ser infinito e
da .Causa primeira, pode levar-nos vàlidamente a reconhecer
a existência de uma causa primeira e de um Ser infinito.
'ascatolicas.com
340 METAFíSICA
B. Causalidade e divisão
321 1. O mundo como todo. - Uma outra forma da mesma
objeção consiste em pretender que o universo seja um todo
indivisível e que tôda divisão dêste universo em sêres indi-
viduais e em coisas distintas seria uma ficção inventada pela
inteligência para as necessidades- da' açã"o;-~É esta--ticção-que-
nos levaria a buscar causas para os fenômenos. Mas, se admi-
timos que o mundo forma um todo, a totalidade dos fenômenos
se explicará adequadamente em função do Todo, e não neces-
sitaremos mais sair do universo para lhe buscar uma causa
da qual não precisa mais. 5
http://www.ob
DEMONSTRABILIDADE DA EXIST~NCIA DE DEUS 341
catolicas.com
342 METAFíSICA
http://www.ob
DEMONSTRABILIDADE DA EXISTtlNCIA DE DEUS 343
A. O tradicionalismo
1. O argumento do consentimento universal
a) Tese de Lamennais. O tradicionalismo nasceu em
França no comêço do século XIX. O problema que êle quer
resolver é o da certeza. ~le julga que êste problema não tem
solução no plano da razão individual que, deixada a si mes-
ma, está condenada ao ceticismo, mas somente no plano da
razão geral ou do consentimento universal, isto é, da tradição.
344 METAFÍSICA
Tôda verdadeira filosofia começa por um ato de fé em certas
verdades fundamentais transmitidas pela sociedade e que for-
mam o que chamamos tradição.
Esta tese é defendida, depois de J. DE MAISTRE, que for-
neceu sua idéia geral, principalmente por DE BONALD e LA-
MENNAIS. DE BONALD se esforça em demonstrar, por sua
teoria da origem da linguagem (Ll, J,.OJ,.), que tõdas as verdades
necessárias à humanidade devem ter sido reveladas por Deus
desde a origem. LAMENNAIS, deixando de lado a questão da
Revelação primitiva, afirma que só existe uma reg1'a segura
°
de verdade, que é consentimento universal ou o senso comum.
A experiência, diz,· basta para prová-lo, porque, em tudo, é
sempre ao senso comum, que nos referimos como o árbitro
definitivo da verdade e nenhuma demonstração vale contra
êle, uma vez que julgamos nos ter enganado em nossos racio-
cínios, cada vez que êles se chocam com o consentimento geral.
Inversamente, tôda demonstração tende a ressaltar as certezas
do senso comum. (Cf. LAMENNAIS, ES8ais sur Z'indiférence,
3. a parte, c. L)
É o que constatamos de maneira irrecusável na questão
da existência de Deus .... A evidência de que Deus. existe é-nos
imposta primeiro pelo consentimento unânime MS povos e esta
prova tem uma tal fôrça que não a poderíamos recusar, sem
renunciar à razão e a tudo o que dá preço à vida humana e
fôrça à sociedade. A existência de Deus é então uma destas
verdades primitivas e fundamentais que são anteriores a tôda
demonstração (Essai SUT L'indiférence, 3.a parte, c. lI).
http://www.ot
DEMONSTRABILIDADE DA EXIST1!lNCIA DE DEUS 345
'li}
.i~\ !:J: b) A questão de direito. Admitindo hipoteticamente a
realidade, pelo menos provável, do consentimento universal
I
~·· i na existência de Deus, que valor poderíamos dar ao argu-
mento etnológico (a prova de LAMENNAIS sendo imediatamente
'.
, I'
" ,
iráscatolicas. com
346 METAFíSICA
B. O ontologismo
327 Por ontologismo entendemos tõdas as doutrinas que pro-
fessam 'que Deus é o objeto de um conhecimento intuitivo.
Disto decorreria imediatamente que tôda prova de Deus, na
medida em que seria julgada necessária, consistiria apenas
em fazer a inteligência tomar consciência da presença ime-
diata de Deus. - O ontologismo foi defendido sob formas mui
diversas, desde a visão em Deus até a teoria da revelação de
Deus na experiência religiosa. Dêstes diferentes aspectos do
ontologismo guardaremos apenas os mais característicos.
http://www.ot
DEMONSTRABILIDADE DA EXISTtNCIA DE DEUS 347
http://www.ot
DEMONSTRABILIDADE DA EXIST~NCIA DE DEUS 349
S Cf. ED. LE nov, Le probleme de Dieu, Paris, 1929, pág. 298. "Tudo
está suspenso ao testemunho interior que dá nossa consciência ( ... ). Tam-
bém lIs considerações tiradas da natureza ou da história não devem intervir
senão como prefácio ou instrumento secundário, para nos despertar do sono
carnal ou então corrigir as ilusões interiores. Mas a verdadeira luz vem de
algo mais profundo que o espetáculo dos fenômenos ou o jôgo dos aconteci-
~.o O'. mentos: da experiência moral."
)rascatolicas. com
'1
I
350 METAFíSICA
http://www.ot
DEMONSTRABILIDADE DA EXIST~NCIA DE DEUS 351
.olicas.corn
352 METAFíSICA
http://www.ot
.·.
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I
DEMONSTRABILIDADE DA EXIST~NCIA DE DEUS
http://www.ot
DEMONSTRABILIDADE DA EXISTÊlNCIA DE DEUS 355
)tasCatolicas.com
356 METAFÍSICA
http://www.obr
CAPÍTULO II
SUMÁRIO 1
ascatolicas. com
360 METAFíSICA
1
http://www.obr
\
AS PROVAS DA EXIST~NCIA DE DEUS 361
'f '.
1. O condicionamento universal. - Tudo aquilo que
,
vemos em redor e tudo que a ciência nos ensina em relação
à estrutura dos sêres e à organização do universo nos impõe
a idéia de um encadeamento dos sêres ou de fenômenos, que
\' o ',
,'-.
se sucedem. e se implicam. uns aos outros formando assim uma
série de améis siJlidamente, articulados. É a isto que podemos
chamar o fato do condicionamento universal, pelo qual todos
,.' os sêres e todos os fenômenos do universo encontram sua
condição, quer dizer sua causa ou razão de ser, num outro ser
e num outro fenômeno.
ascatolicas. com
362 METAFÍSICA
A. O argumento
3~2 SANTO TOMÁS considera a prova pelo movimento como a
mais clara de tôdas. 4 Ela exige, entretanto, que tOII1emos no
3 ce. W. JAMES, Le PTagmat'Ísme, trad. francesa, Paris, 1914, P~gs. 123 sg.
( Podemos verificar a importância que SANTO TOMÁS dá a esta prova
pelo desenvolvimento que ela recebe no Contra Genti1es. I. capo 1CIlI. Sem
http://www.ot
AS PROVAS DA EXISTf:NCIA DE DEUS 363
dúvida, uma das razões dêste favor é que o argumento pelo movimento é
especificamente aristotélico (cf. M. DE CORTE, A'ristote et Platin, Paris, 1935,
capo lI) e que SANTO TOMÁs julgava necessário expor amplamente neste
trabalho dirigido aos Muçulmanos da Espanha e aos Judeus árabes, entre os
quais a influência de ARISTÓTELES era então considerável. Mas, por outro
lado, está fora de dúvida que SANTO ToMÁs considerava a demonstração de
Deus pelo movimento como particularmente clara e forte.
irãscatolicas. com
364 METAFíSICA
http://www.obr
AS PROVAS DA EXISTtNCIA DE DEUS 365
B. Elementos da demonstração
344 Devemos voltar aos elementos da demonstração, isto é, ao
fato do movimento em que repousa a prova, e ao princípio
que serve de menor ao argumento, para examinar as dificul-
...-. dades que lhe são opostas. Deixaremos, entretanto, de lado a
objeção que apresentam muitas vêzes, contra a prova pelo mo-
vimento, da possibilidade de eternidade do mundo. Sabemos
que esta objeção está fora do problema, pois que a prova pelo
movimento, corno as provas pela eficiência e pela contingência
fazem abstração de qualquer idéia de comêço ou de não comêço
temporal: se o mundo fôsse eterno, eternamente seu 11'W'/.Ji-
mento exigiria um, primeiro motor,
1. O fato do movimento
•• ~' I.~.
ascatolicas.com
, ",,,._,
366 METAFÍSICA
http://www.obl
AS PROVAS DA EXISTÊ:NCIA DE DEUS 367
i1.
~ascatolicas.com
368 1VJ:ETAFfSICA
A. O argumento
1. A causa prime~a universal. - "Constatamos no mun-
do sensível, escreve SANTO TOMÁS (La, q. 2, art. 3), a exis-
tência de causas eficientes. É entretanto impossível que uma
coisa seja sua própria causa eficiente, porque se assim fôsse,
esta coisa existiria antes de existir, o que não tem nenhum
sentido. Ora. não é possível proceder até o infinito na série
de causas eficientes, porque em qualquer série de causas orde--
nadas, a primeira é causa intermediária e esta causa da últi-
ma, quer haja uma ou várias causas intermediárias. - Com
efeito, se suprimirdes a causa, fareis desaparecer o efeito:
portanto, se não há causa primeira, também não haverá nem
última nem intermediária. Ora, se fôsse regredir até o infi-
nito dentro da série de causas eficientes, não haveria causa
primeira, e assim não haveria também nem' efeito, nem causas
intermediárias, o que é evidentemente falso. Portanto, é pre-
ciso, por necessidade, colocar uma causa primeira que todo o
mundo chama: Deus."
http://www.oon
AS PROVAS DA EXIST~NCIA DE DEUS 369
B. Elementos da demons~
1. A ef"lCiênda. e a suboJ'dinação
'.'~
a) O fato da exper~ia. A causalidade de que se trata
aqui é aquela que se exerce por subordi1fP,Ção, mais ou menos,
se assim o quisermos, como um movimento de relõgio, onde
as engrenagens múltiplas não exercem a sua causalidade prõ-
pria, senão em dependência umas das outras. Que exista no
.'
u:."
mundo uma tal subordinação de causas eficientes, é o que a
experiência assim como a ciência bastam para o demonstrar.
Constatamos, com efeito, e as ciências positivas põem em evi-
dência, não somente a realidade de um encadeamento que faz
os sêres e os fenômenos dependerem uns dos outros por via
de geração ou de condicionamento (subordinação acidental),
mas também um encadeamento pelo qual as causas, na sua
própria atividade causal, são efeitos com relação às causas
superiores (subordinação essencial) (281-282)
b) A objeção da divisão. Vimos mais acima que a obje-
ção tirada da "divisão" é ineficaz. Afirmar que "não há fenô-
menos justapostos numericamente, mas apenas uma continui-
dade fenomenal heterogênea" (ED. LE Roy, Le probléme de
Dieu, pág. 32), é falar por falar. Com efeito, primeiramente, :
I::
trate-se de saber se esta. continuidade suprime a multiplicidade i'
real e sucessivo. dos [enõmenos: é bem evidente que isto não I
acontece. pois que a própria objeção fala em continuidade heie-
roçênea. Por outro lado, a subordinação causal está longe de
prejuâicar a continuidade fenomenal que ao contrário a requer
e a [usulamenia.
I;'
.350 2. Nada é causa de si mesmo. - Êste princípio é evi-
dente por si próprio como o vimos em Ontologia (23J,.), porque
a sua negação levaria ao absurdo de que um ser poderia exis-
tir antes dêle mesmo-
A única objeção que vale a pena ser levada em conta con-
tra êste princípio, oU pelo menos, contra a conclusão que dêle
~. se tira, e que afirma a existência de uma primeira causa in-
i'
t[
àscatol icas.com
370 METAFíSICA
A. O argumento
351 1. Forma do argumento. - A via precedente como a do
movímento, fundava-se sôbre a realidade de um encadeamento
-e-
de movimentos de --causas ordenados entre si. Mas a con s.i-
.~
.J
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AS PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS 371
B. Elementos da demonstração
'52 Nesta prova temos que examinar três pontos. O fato da
contingência, o princípio de que o contingente não se pode
explicar, a não ser pelo necessário, enfim a conclusão de que
o ser necessário por si mesmo é Deus.
372 METAFíSICA
1. O fato da contingên(lia
a) Os sinais da contingência. Como estabelecer de uma
maneira absolutamente certa a contingência de um ser e a de
todo o universo? SANTO TOMÁS dá como sinal certo da con-
tingência o fato- de não existir sempre, de naeeer e de morrer.
É com efeito o sinal mais seguro da contingência e basta para
sustentar o ~rgumento, porque é evidente que tais sêres exis-
tem no mundo. - Podemos acrescentar o falo de ser composto
em partes, porque tôda composição ou união de ~iversos não
pode -se. explicar de·· uma maneIra·adequada senao e ,apenas
pelos elementos do composto (275), assim tamb~m ,como o ta.to
de ser sujeito ao devenir, porque o que muda nao e necesearro.
b) Objeção. Objetou-se que- esta noção do contingente
implicaria uma petiçiio de. princípio. Com efeito, diz-se, o fato
de nascer e de morrer não signifié8 ~ liecesSàriamente a con-
tingência, porque é possível que o nascimento e a morte de um
ser sejam absolutamenta.necessâríos, por exemplo, em função
do Todo. Da mesma maneira, o composto não é mais contin-
gente, se admitirmos- que os elementos do qual êle resulta
foram determinados necessàriamente para formar o todo.
Esta objeção está fora do problema. Por um lado, com
efeito, procuramos o necessário, não na ordem do devenir
(subordinação acidental), mas na ordem do ser (subordina-
ção essencial na existência): o ser necessário na ordem do
"tleuenir" permamece essencialmente contingente do ponto-de-
-vista da existência atual, porque o fato de nascer e de morrer
significa que êle não é necessário em si, em razão de si mesmo.
Por outro lado, não se trata de negar que haja necessârio no
mundo, que a hipótese da contingên.cia 1(,niversal é um absurdo:
se todos os sêres fôssem contingentes, nada teria resultado
jamais desta indiferença universal à existência. Atualmente,
absolutamente nada existiria. - Portanto, existe o necessário
no mundo. Ora, êste necessário, pelo qual se explica a reali-
dade atual dos sêres contingentes, é necessário ou em razão
de si mesmo ou na de outro. Se êle o é em razão de si mesmo,
êste necessário é Deus. Se êle o é em razão de outro, êste o
é por sua vez em razão de si mesmo ou de outro. De qualquer
maneira é impossível ir-se nesta ordem até ° infinito, porq"!'e
aí.não homeria. m-ais princípio primeiro do ser. É preciso, :POIS,
colocar um primeiro ser necessário por si mesmo, princípIO do
ser universal. 1!:ste ser necessário é Deus.
http://www.obl
AS PROVAS DA EXIST~NCIA DE DEUS 373
·;:,1
;·~·( . a) O Todo contingente. Ê claro que uma coleção ou soma
de sêres contingentes não poderia ser tomada como necessária:
porque, por hipótese, a soma ou coleção depende dos elementos
I
,..
que a compõem, sendo contingente como êles. Para lhe con-
ceder o caráter de necessidade, seria necessário no mínimo
", o,,
fazer dela um todo real e supor um princípio imanente de
..:~~;
;1/
unidade (lei, idéia ou âeoenir), distinto dos elementos que
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domina.
·1'. Contra isto, podemos objetar, como o faz BOUTROUX (La
contingence des lois de la nature) que não conhecemos nenhuma
lei, nem mesmo a da conservação da energia, que tenha em
si o sinal da necessidade. Mas esta observação não tem valor
suficiente: ela é de fato, não de direito. - É preciso ir mais
adiante e mostrar que o Todo cO?no tal está afetado de uma
contingência radical. Esta resulta com efeito de uma multi-
plicidade interna do Todo: vimos que é riletafisicamente im-
possível explicar a unidade do diverso e do múltiplo sem uma
causa distinta do Todo como tal. É que, se por um lado o que
I
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I
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'ascatobcas.com
374 METAFÍSICA
http://www.obl
AS PROVAS DA EXIST:E:NCIA DE DEUS 375
'ascatoücas. com
376 METAFíSICA
§ 1. O ARGUMENTO
http://www.obl
AS PROVAS DA EXIST~NCIA DE DEUS 377
§ 2. ELEMENTOS DA DEMONSTRAÇÃO
~J
seu sentido, é preciso compreender que as perfeições tratadas
t. aqui, são aquelas que são suscetíveis de graus e podem existir
sob forma absoluta e que, por conseguinte, não implicam ne-
nhuma imperfeição em sua razão formal. É necessário por-
tanto excluir as perfeições genéricas e específicas, assim como
as perfeições de ordem material, porque as primeiras não
I h podem comportar graus (um homem não é mais animal nem
,
;'
..
mais ou menos homem do que um outro) e as outras, que
implicam a imperfeição essencial, não podem existir num es-
l-,
tado absoluto (não pode haver nem quantidade perfeita ou
t absoluta, nem matéria perfeita, nem número que seja o maior
~. de todos, etc.).
As perfeições consideradas não são, portanto, senão per-
feições simples, isto é, as propriedades transcendentais (ser,
(: ' unidade, verdade, bondade) e em geral tôdas- as perfeições.
~: (como sabedoria, inteligência, poder, etc.) qu-e, ultrapassando
!i os. gêneros e as espécies, são sucestíveis de existir OITIJilõgica-
mente, segundo Q mais e o menos, e de ser realizadas em es-
tado absoluto, sem nenhum limite.
r
~~·l-·"elui -da existência dêsses graus à existência de um ser absolu-
tamente simples, absolutamente verdadeiro, absolutamente bom,
I.
I, ' 9 o -argurncnto fornecido pelo Contra Gentites (1. ch, XIII) não corres-
1,:; 'poJlde senão à primeira parte do da Suma. Teológica e SANTO TOMÁS o con-
sidera, certamente" como compondo tal e qual uma verdadeira prova de
existência de Deus. É necessário admitir também que a prova do Contra
Gentiles subentende a argumentação pela causalidade como suposta.
;ascatolicas.com
378 METAFÍSICA
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AS PROVAS DA EXIST~NCIA DE DEUS 379
'ascatolicas.com
380 METAFÍSICA
A. As verdades eternas
O argumento das verdades eternas foi particularmente
desenvolvido por SANTO AGOSTINHO,:2 e depois, no século XVII,
pelos cartesianos. 13 KANT por seu lado, na sua Dissertação
de 1763, sôbre O único fundamento possível da. existência de
Deus, declarava que, a seu ver, o argumento das verdades
eternas era a única prova válida de Deus.
1. A prova agostiniana
a) Exposição. O ponto-de-partida da prova é constituí-
do pelas verdades eternas. Que existem tais verdades é o que
demonstra a análise do conhecimento e de suas condições. Ve-
mos, com efeito, que a verdade é independente do espírito: não
somente as essências das coisas são eternas e imutàve1mente
verdadeiras (21~), mas, ainda, cada vez que julgamos, em qual-
quer ordem que seja, nós nos referimos a normas que trans-
cendem nosso espírito e que se impõem, em comum, a tôdas
as inteligências. Assim, julgamos o próprio espírito, segundo
Cf. L. B. GEIGEB, La participation-da1l.S' la philosophie de S. 'llhomas-
--,,~--1:t
d' Aquin, Paris, 1942, págs, 238 sg., 342-364.
12 Cf. SANTO AGOSTINHO, Soliloques, I, ch, XV, li. 29; - De Libero Arbitrio,
II, ch, VIII, n. 2; ch. IX, n. 26; De TTinitate, XV, ch. XII; De VeTlIl Religione,
XXX-XXXII.
13 Cf. BOSSUET, Connaissance de Dieu et de soi-même, ch. IV; - Logique,
I, c. 36. - FÉNELON, Traité die l'existence de Dieu, 2.0 partie, c. 4. - MALE-
BRANCHE, Méditations chrétiennes, IV Médit; LEIDNIZ, Nouveaux Essais, IV,
c. 11.
http://www.obl
AS PROVAS DA EXISTtNCIA DE DEUS 381
'ascatclicas.com
382 METAFÍSICA
B. As aspirações da alma
365 O argumento baseado nas aspirações naturais da alma, da
posse de um bem infinito, é certamente de uma grande fôrça,
porque êle emociona vivamente a sensibilidade, ao mesmo tem-
po que se impõe por suas exigências racionais. Entretanto
devemos apresentá-do sob uma forma correta, o que implica
duas condições: por um lado, que estabeleçamos que o desejo
da alma é natural e, como tal, exige uma razão de ser; - e,
por outro, que provemos que esta inclinação natural está orien-
tada, isto é, definida no seu acabamento por um término que
lhe dê sua razão de ser. (Cf. SANTO TOMÁS, Contra Gentiles,
IIl, c. 24-37.) - ,
http://www.obl
AS PROVAS DA EXISTtNCIA DE DEUS 383
"ascatolicas.com
384 METAFíSICA
c. A consciência moral
367 A prova pela consciência moral apresenta-se sob dois as-
pectos diferentes. O primeiro diz respeito ao fato da obriga-
ção moral edo dever, - o segundo invoca a necessidade de uma
sanção de ordem moral e baseia-se, nitidamente, sôbre o prin-
cípio de finalidade.
http://www.obl
AS PROVAS DA EXIST:I1lNCIA DE DEUS 385
-ascatolicas.corn
386 METAFíSICA
§ 1. O ARGUMENTO
http://www.obl
AS PROVAS DA EXISTtNCIA DE DEUS 387
§ 2. ELEMENTOS DA DEMONSTRAÇÃO
"a'scatolicas.com
388 METAFíSICA
http://www.obl
AS PROVAS DA EXIST1::NCIA DE DEUS 389
B. Finalidade e inteligência
972 É preciso afastar até a aparência do círculo vicioso e por
conseguinte evitar identificar, a priori, finalidade e intencio-
nalidade. A finalidade, tal como a constatamos, nada mais é
senão o fato da ordem, manifestado pela constância da relação,
entre uma organização e seu efeito. Ora, afirmamos que a
ordem só pode ser explicada por uma intenção e supõe, por
conseguinte, uma inteligência. Não fazemos, portanto, da in-
tenção um postulado, mas a razão de ser da ordem. Deduzi-
mo-la como condição necessária da existência e da inteligíbí-
lidade da ordem. Devemos portanto estabelecer, que a ordem
implica uma intenção, - e que a intenção supõe uma inte-
ligência.
~ascatoncas.com
390 METAFíSICA
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AS PROVAS DA EXIST~NCIA DE DEUS 391
'ascatotcas.com
392 METAFíSICA
http://www.obl
AS PROVAS DA EXISTtNCIA DE DEUS 393
~"
por exemplo, ao esfôrço motor que nos revela a consciência. Assim,
a finalidade do mundo organizado mantém-se, antes atrasada do que
avançada: provém de uma vis a terço e é devida a uma identidade
de impulsão e não a uma aspiração comum (pág. 55).
Esta teoria é das mais ambíguas, porque não se precisa a vis
a tergo ou fôrça de impulsão, está orientada e orienta a evolução,
em sentidos definidos, ou, se ela a deixa ao acaso: Parece que se
deva excluir esta última hipótese. É, pelo menos, o que afirma
J. CHEVALIER (Bergson, pág, 212): «Esta impulsão ( ... ) não é a
propagação de um movimento instantâneo que se repete, indefini-
damente, eternamente, de uma maneira cega; é algo que mais pa-
rece com o voluntário do que com o mecânico. Ela sugeriria antes,
acrescentamos, o piparote de um pensamento criador que dá o im-
pulso de vida ao. correr do tempos, Voltamos assim à finalidade,
porque se é o «pensamento críador» que dá o impulso, estamos de
fato obrigados a admitir que êste pensamento conhece, previamente,
o sentido do impulso e as formas múltiplas que dêle resultarão: no
caso contrário, como seria êle criador? Segue-se dai que a vis a
tergo não é outra senão a própria natureza dos sêres enquanto prin-
cipio de atividade, mas que estas naturezas traduzem e perseguem
os fins do pensamento criador. Elas são, pois, a êste título, prede-
terminadas neste pensamento. A finalidade está assim, adiantada,
como término a conseguir e, ao mesmo tempo, atrasada, como idéia
da obra a produzir. De qualquer maneira seu sinal essencial é de
fato a intenção, isto é, a atividade orientada.
975 2. A intenção snpõe a inteligência.. - Caracterizar a
ordem como intenção ou tendência definida e orientada é dizer
que o fim exerce uma verdadeira causalidade que determina
as modalidades da ação ou as formas da organização. O fim
existe, portanto, de algum modo. - Ora, êle não pode existir
senão de dois modos, a saber: ou em si, no seu ser natural,
como compondo a própria coisa que é o término da ação, ou
subjetivamente, sob a forma de representação, imagem ou idéia,
no sujeito cognoscente, como princípio da ação. - Considerado
em si, em seu ser natural, o fim não pode, evidentemente, ser
causa, uma vez que é efeito e resultado da ação: a estátua,
enquanto bloco de mármore esculpido, é o efeito e não a causa
da atividade do escultor; a visão, enquanto atividade sensível,
é efeito do ôlho e não causa dêste. Não é, pois, senão enquanto
concebido e conhecido que o fim pode exercer uma verdadeira
causalidade. Eis porque dizemos que a finalidade não se pode
explicar sem uma inteligência (295). A ordem supõe uma inte-
:-. ligência' ordenadora.
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reza dos sêres (ou com a forma, princípio das atividades espe-
cíficas) (296), a inteligência ordenadora deverá ser concebida
:ª", ao mesmo tempo, como criadora,
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~ascatolicas.com
894 METAFíSICA
http://www.ot
AS PROVAS DA EXIS~NC1A DE DEUS 395
§ 1. As DEMONSTRAÇÕES CIENTíFICAS
lrascatolicas.com
396 METAFíSICA
http://www.obl
AS PROVAS DA EXIST:mNCIA DE DEUS 397
~ascatolicas. com
398 METAFíSICA
http://www.ot
SEGUNDA PARTE
A NATUREZA DE DEUS
)rascatolicas.com
http://www.o
· '! ..... ,;.
CAPíTULO I
- I
A ESS1tNCIA DIVINA
SUMÁRIOl
~, .'
õrascatol'cas.com
402 METAFíSICA
http://www.ol
A ESS~NCIA DIVINA 403
B. Os nomes divinos
986 1. A a.naIogia de proporcionalidade. _ A analogia que
empregamos aqui não pode ser a analogia de atribuição (185),
porque sabemos que as coisas que são ditas análogas desta
maneira, o são em relação a um têrmo que possui a título in-
trínseco e próprio, a perfeição análoga. Ora, isto não pode
ser aplicado a Deus, porque não há meio-têrmo entre Deus e
I. as criaturas. Resta portanto a analogia de proporcionali-
dade (184), a saber, a proporção que existe entre sêres, dos
quais um possui uma perfeição a título principal e perfeito,
e os outros a título secundário e limitado. Assim se acham
afastados os dois erros contrários: o agnosticismo que nega
possamos ter de Deus um conhecimento qualquer e que os
nomes que lhe damos tenham um sentido real, - e o antro-
pomorfismo que põe em Deus, em seu modo imperfeito e defi-
cientes, os atributos humanos.
Certas fórmulas de SAN'ro ToMÁS puderam ser, algumas vêzes,
usadas num sentido mais ou menos agnóstico. Como nos textos em
que SANTO ToMÁS afirma. que «não podemos conhecer a. natureza.
divina, segundo o que ela é em si mesma. mas. a única coisa que
podemos dizer de Deus é que :mIe é (I.a, q. 12. art. 12), ou ainda,
nos textos em que SANTo ToMÁS esereve que todo o nosso conheci-
mento de Deus é negativo. 2 Mas êstes textos não visam senão a
um aspecto do problema do conheeimento de Deus. Certamente.
seria excessivo, segundo SANTO TOMÁS, negar que ha.ja alguma coisa
de positivo no nosso conhecimento de Deus. Senão nenhuma ne-
gação seria possível, em relação a Deus, porque a própria negação
não é possível. a não ser. depois de uma afirmação prévia: se nossa
inteligência nada afirmasse ele Deus, não poderia, também, negar-
-lhe coisa alguma, porque seria Impossível saber se a negação con-
ovém a Deus. 3 Também, quando SANTO TOMÁS declara que não po-
demos eompreender o que Deus é, é preeiso entender, não que nós
nada podemos afirmar d:mle, mas que nada podemos afirmar prà-
2 Cf. SANTO TOMÁS, Contra GentiZes, I. c. 30: "Non enim de Deo capere
possumus quíd est, sed quid non est, et qualiter alia se habeant ad Ipsum."
- I », q. 3. Prooem.: "Quia de Deo seire non possumus quid sit, sed qu1d
non sít, non possumus considerare de Deo quomodo sít, sed potius quomodo
non sít."
3 Cf. SANTO TOMÁs, De Potentia, q, 7. art. 5: "InteIIectus negatíonís
semper fundatur in aliqua affirmatione; quod ex hoc patet quia omnis nega_
i .
tiva per affirmationem probatur; unde nisi intellectus humanus aliquid de
If Deo affirmative cognosceret, ninhil de Deo posset negare. Non autem cog-
i nosceret, si nihil quod de Deo dícít, de eo verificaretur aifirmative."
I
jrascatolicas.com
404 METAFÍSICA
4 Cf. I.a, q. 13, art e, 12: "Propositiones affirmativae possunt vere for-
mar! de Deo."
. 5 Cf. ED. LE Roy. Le probleme de Dieu.. pâg, 82.
6 Cf. L. BRUNSCJlVJCC, Bu.Uetin de la Société française de Philosophie,
1928, pág, 62.
http:/h
A ESS:êNCIA DIVINA 405
§ 1. OS ATRIBUTOS DIVINOS
7 Cf. SERTILLANGES, Les grandes theses eLe la Philosophie thomiste, pâg. 80.
406 METAFíSICA
http://www.ot
--.' .
A ESStNCIA DIVINA 407
tolicas.com
METAFísicA
http://www.o
A ESSÊlNCIA DIVINA 409
i
•·~'o
o 10 Cf. HAMELIN, Éléments pTincipaux de la TépTésentation, pág. 460:
"-Não faremos nada além do que seguir a lógica de nossos principias se
a ,~ dissermos com a Philosophie de la LibeTté que Deus se fêz Deus e que é
preciso agradecer-lhe de ter-se feito Deus. Sem dúvida, Deus não podia
t~
#\'l~!i' não ser Espírito absoluto. Mas não era, não podia ser necessário que o
Espírito absoluto se fizesse bondade absoluta. A racionalidade não se impõe
à vontade com uma necessidade causal. No campo dos possíveis oferecia-se
ao Espírito ao lado da bondade absoluta, a perspectiva de alguma perver-
sidade enorme, como as que a imaginação do pessimismo atormenta-se em
pensar. Portanto, é somente aos fatos que é preciso pedir a prova de que
o Espírito absoluto escolheu ser Deus".
orascatolicas.com
410 METAFíSICA
http://www.o
CAPíTULO II
os ATRmUTOS DIVINOS
SUMÁRIO 1
I 8.92 Dissemos que a nossa procura não pode partir senão dos
dados da experiência, a partir dos quais inferimos a existência
necessária de Deus como causa primeira universal e desco-
brimos diferentes aspectos da natureza de Deus, primeiro prin-
cípio de tôdas as perfeições que conhecemos no universo. É
assim que a nossa inteligência, conhecendo Deus pelas cria-
turas, forma-se, para pensar em Deus, certas noções relacio-
,..,
1 Cf. SANTO ToMÁs, Contra. ~nt., I, c. 15-102; - Ia, q. 3-26. 44-49; -
~! De Poterrtía, q. VII, art. 2. - SERTILLANGES, Les grandes theses de la. philo-
80phie thomiste. págs. 81-143. - R. GARRlGOU-LAGRANGE. Les Perjections di-
vÍTqe8, págs. 65 ss. - P. DESCOQs, Praelectiones Theologiete lmatura.lis, t. lI,
I:.
págs. 525-734. - A. GREGOIRE, Immanence et transcendence, Paris, 1939,
págs. 159-207. - R. JoLIVET. Le probleme du mal d'apres saint Augustin.
Paris, 1935.
brascatolicas.com
412 METAFíSICA
hUp://www.c
OS ATiúBUTOS DIVINOS 413
§ 3. A PERFEIÇÃO INFINITA
http://www.c
I
OS ATRIBUTOS DMNOS 415
.orascatoucas. com
416 METAFISICA. .
A. A imutabilidade
997 1. O Ato puro. - Mudar consiste em passar de uma ma-
neira de ser a outra, de um estado a outro estado. Por con-
seguinte, tôda -mudança supõe potencialidade, composição e im-
perfeição essencial. Ora, isto é absolutamente incompatível
com a natureza de Deus que é o Ato puro, infinitamente sim-
ples e perfeito.
B. A eternidade
998 1. Noção. - A eternidade é-um alriouto que decorre da
imutabilidade. O eterno é, com efeito, aquilo que-não muda
e não pode mudar de maneira alguma, por conseguinte, aquilo
que não começa nem termina e que possui na atualidade pura,
exclusiva de qualquer sucessão ou modificação, a plenitude de
'seu ser. Daí a definição de Boecio (De Consolatione Phlio-
sophiae, V, prosa 6), retomada por SANTO TOMÁS (La, q. 10,
http://www.ol
oS ATRIBUTOS DIVINOS 417
§ 5. A IMENSIDADE DIVINA
)rascatolicas.com
418 METAFíSICA
§ 1. A INTELIG:êNCIA DE DEUS
I
http://www.ol
OS ATRIBUTOS DIVINOS 419
orascatolicas.com
420 METAFíSICA
seu poder criador. 11: verdade que, para conhecer com certeza
os .futuros livres, não basta conhecê-los em suas causas, por-
que não há, aqui, ligação necessária entre causa e efeito, mas
é, ainda, necessário conhecê-los em si mesmos. Deus os conhece
"
precisamente assim, porque estão sempre presentes diante dêle,
sem que, aliás, como veremos adiante, a infalibilidade de sua
preeíêneia impeça os atos futuros de serem livres, isto é, con-
tingentes, em relação a suas causas próximas.
Do mesmo modo e contràriamente à opinião de ARISTÓ-
TEI,.ES (Metaph., 1074 b 32), Deus conhece o mal 'e o pecado,
I
primeiro, porque é Legislador e Remunerador supremo e, tam-
J bêm, porque, como Causa primeira, concorre para o ser físico
do pecado, isto é, tudo o que há n1:le de positivo e de bom.
c) Deus vê tudo em sua essência. É em sua essência
que Deus conhece todos os possíveis e todo o real, como par-
ticipações ou ímítações, infinitamente múltiplas e diversas
desta essência infinita. Deus não poderia conhecer de ma-
neira diferente as coisas distintas de si, porque sua ciência
não é o efeito, mas a própria causa das coisas. Não é porque
as coisas existem ou podem existir que Deus as conhece, mas
porq'I.U Deus as conhece é que elas podem existir ou existem.
Supor, como fizeram, alguns filósofos, que os possíveis exis-
tam, fora do entendimento divino, é introduzir em Deus po-
tência e imperfeição, já que é lhe atribuir, como capaz de
determiná-lo, um objeto distinto dêle mesmo.
orascatolicas.com
422 METAFfsICA
http://www.o
OS ATRIBUTOS DIVINOS 423
rascatolicas.com
424 METAFíSICA
sua condição, uma vez que, por def1n1çáo, ndo há con8:J:ão necea.drl4
entre ato« livres e sua condição, ~ perigosa para a I1berdade, por.:.'
que, se a ciência de Deus é certa, esta certeza, no caso dos futuros·
condicionais, suporá que haja uma conexão necessária entre as con-
dições do ato,' provàvelmente, I1vre, e é êste mesmo ato, o que' é'
contraditório à noção de I1berdade (lI, 52B).
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OS ATRIBUTOS DIVINOS 426·
§ 2. A VONTADE DE DEUS'
A. A vontade divina
1. Natureza da. vontade divina. - Que haja em Deus.
urna vontade, isto decorre, necessàriamente, do fato de que
a vontade é inseparável da. natureza inteligente, porque é essen-
cial a tôda natureza, agir e procurar sua perfeição.
Conhecemos a vontade divina pela nossa. Não é aquela,
porém, como esta, uma faculdade ou ato transitório, porque
seria imperfeita, se não estivesse, sempre e plenamente, em
ato. É ela, o ser mesmo de Deus, enquanto age e lama o bem
de um amor, essencialmente espiritual, como o conhecimento.
intelectual de que procede.
~.:
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METAFíSICA'
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OS ATRIBUTOS DIVINOS
§ 3. A PROVIDÊNCIA DE DEUS
I: A. Na.tureza. da. Providência.
410 " A providência encerra dois elementos ou aspectos príncí-
pais: o conhecimento do que convém fazer para consegmr um
determinado fim e a execucão do plano assim fixado. A pro-
vidência depende, pois, aó mesmo tempo, da inteligência e
da vontade.
lrascatolicas.com
bem como os meios necessários para sua realização. Se é ver-
dàde que a prudência humana é tanto mais perfeita quanto
menos esteja entregue à causalidade e à imprevisão, muíto
mais será necessário, que a providência de Deus, que é como-
uma prudência infinita, elimine, absolutamente, o acaso, isto
é, preveja tudo, tudo ordene, tudo disponha da maneira mais
sábia.
B. Modo da Providência
~1 1. A Pro.vidência e a natureza da8 coisas. - ~ evidente
que a providência, que procede da ciência infinita de Deus e
de sua vontade absolutamente perfeita, não pode, em caso
algum, ser concebida como uma ação caprichosa, que modifi-
caria, arbitràriamente, o curso das coisas. - Deve aquela ser
pensada, como ação de umavontade soberana e infinitamente
sábia, conforme a natureza de cada criatura, e conforme, por-
tanto, no homem à liberdade: ação que, essencialmente, con-
siste em orientar o curso das coisas para o bem de tôdas ai!
criaturas, tais como a definem seu lugar e sua função na arqui-
tetura universal.
A ação providencial está subentendida à atividade dmt
criat1traS e não iusMposta a esta atividade. Utiliza-a e pene-
tra-a, como a vida utiliza o mecanismo e penetra a matéria.
Está em tôda parte e em tudo, nas revoluções das esferas, na
inumerável multiplicação das espécies, na vida e no movimento
de nosso coração, nas aspirações de nossa alma e impulsos de
nossa boa vontade, e até mesmo no mal, que deve de algum
modo se integrar no plano da Providência. Todo o universo,
em tudo o que contém e em cada um de seus instantes, é ape-
nas o desdobramento visível do Amor.
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OS ATRIBUTOS DIVINOS 429
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METAFfSICA .
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os ATRmUTOS DIVINOS 481
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432 METAFíSICA
7 Cf. VIGNY. Journal intime: uÉ bom e salutar nunca ter uma espe-
rança. .. Um desespêro tranqüilo, sem convulsão de cólera e sem censura
ao céu, e a própria sabedoria". - La: Maison du BergeT: "O justo opor. .
o desdém à ausência - E não responderá senão por um frio silêncio - Ao
silêncio eterno da divindade". - La Mort du loup: "Faze enêrgicamente
i
tua longa e dura tarefa ... Sofre e morre em silêncio".
I
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OS ATRIBUTOS DIVINOS 433
9 Cf. SANTO TOMÁS, Somme théologique, 1..... q. 49, art. 1; De MaIo,. q. I,.
art. 3; Contra Gentiles, lI, ch. 46; III, ch. 10 e·'I3. .
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I
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OS ATRIBUTOS DIVINOS 435
II
exige, apenas, que o homem, seja senhor de sua vontade e de
sua escolha, de modo que, quando peca, carrega sozinho a res-
ponsabilidade de sua falta e dos males que a. acompanham.
c) Deus faz que o mal sirva para0 bem. A sabedoria
de Deus faz, aliás, que o mal entre na ordem, não essencial-
mente, visto como não foi querido por Deus, mas acidental-
mente, em virtude das exigências da misericórdia, da sabedo-
ria e do poder divinos. Isto equivale a dizer que Deus faz com
que o sofrimento seja útil. Só seria absurdo um sofrimento
que de nada servisse, que não fÔBse a ~piação de um êrro
ou a condição de um bem. Ora, precisamente, o mal físico ou
o sofrimento, tal como de fato resulta do pecado, pode ser
um meio de reparação e uma fonte de mérito; pode servir
para fazer voltar ao cumprimento do dever. No próprio pe-
cado, insere Deus, para <> pecador, uma possibilidade de bem:
pode por êle, o homem, conhecer sua miséria, humilhar-se pe-
rante Deus e invocar seu socorro.
Vemos, assim, levando em conta êstes princípios gerais,
que a Providência divina está livre de qualquer censura. Mui-
tas coisas podem seguramente nos parecer misteriosas. Numa
coisa porém é bem clara, ainda que haja mistério, não há
injustiça. 10
A questão do otimismo cósmico (ou questão de saber se o mundo
é o melhor dos mundos posslveis) está ligada ao problema do mal,
mas não se confunde com êle. Podemos de fato admitir que o
mundo encerra o mal, e até, uma grande soma de males, sem deixar
de crer por isto que é o melhor possível. Esta é precisamente a po-
siçãO de LEmNIZ (cf. D1.scours Métaphysf.que, I à VI, MonadoZo-
gie, 53-54, Théodicée, I, § 7-10, Oorrespotuiamce avec ArnauldJ, que
julga que «se o menor mal que acontece no mundo, nêle faltasse,
não seria mais êste mundo, que, apesar de tudo, foi julgado o me-
lhor pelo criador que o escolheu» (Théodicée, I, 9), - e que se é
certo que é possível imaginarmos mundos possíveis, sem pecado nem
desgraça. .. êstes mesmos mundos seriam, aliás" bastante inferiores
ao nosso em bems. (lbtd., 10.) Isto acrescenta LEIBNIZ, não se pode
demonstrar em seus pormenores; mas devemos conclui-lo ab ettectu,
«visto como Deus escolheu êste mundo como é~. O mundo é, por-
tanto, realmente, e em todos os sentidos, o melhor possível dos mun- ,
dos possíveís. I!
Conhecemos os sarcasmos que provocou em VOLTAIRE o otimismo
leibn1z1ano (cf. Candtde). J!: certo que êstes sarcasmos não são
i'azões. Mas é certo também que a tese de LEmNIZ se presta bas- !.'
tante para estas ironias voltarianas. Seu êrro consistiu, assim pen-
samoa, em não distinguir dois aspectos multo diferentes da questão.
Podemos de jato nos perguntar-nos se Deus não teria podido criar
um universo diferente e melhor (isto é, mais perfeito) do que o que
cr.tou, - ou se náo teria podido dar maior perfeição e bondade ao
próPrio universo que criou.
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METAFíSICA
436
§ 4. A ONIPOTtNCIA DE DEUS
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OS ATRIBUTOS DIVINOS 437
rascatoticas.com
440 METAFíSICA
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OS ATRIBUTOS DIVINOS 441
feita e eterna. P.or isto chamamos Deus um vivente eterno e
perfeito. A vida eterna pertence então a Deus, porque ela é
o pr6prio Deus".
~
I
A TRANSCEND~CIA E A PERSONALIDADE
DE DEUS
SUMÁRIO 1
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A TRANSCEDtNCIA E A PERSONALIDADE DE DEUS 443
§ 1., O PANTEíSMO
,I~'
~, .
realidade nem substância divina, ou então, reduzindo Deus ao
universo, - que eô o mundo é real e Deus é apenas a soma
de tudo o que existe.
I" A primeira forma do panteísmo está representada princi-
i
palmente pelos sistemas de PLOTINO, de AVERROES, de SPINOZA,
de FICHTE e HEGEL e de TAINE. A segunda forma constitui o
___panteísmo materialista, defendido na antiguidade por PARM~
NInES, na Idade Média por DAVID DE DINANT e, no século XIX,
por VOGT, MOLESCHOTT e BUCHNER. - Não nos ocuparemos
com o panteísmo estritamente materialista, cuja refutação vai
junto com a do materialismo (lI, 626-636): seu caráter absurdo
:.. chega, se se pode falar assim, até o absoluto. Restam quatro
,"
,,~ tipos principais de panteísmo, que são: o emanatísmo e os
'i
. ,(,; panteísmoa realistas, idealista e evolucionista.
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METAFíSICA
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A TRANSCENDtNCIA E A PERSONALIDADE DE DEUS 445
, 2 Cf. Nosso Essai SUT les TappoTts entTe pensée chTétienne, Paris, 1931.
págs. 1]22-138. - R. A1tNoU, Le DésiT de Dieu dana la Philosophie de Plotm,
ParJs, 1921, julga, pelo contrário, que o sistema plotlnlano não tem um
/: sentido nitidamente pantefstico. r- ':
I
obrascatoltcas. com
446, METAFísICA
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A TRANSC~ND~NCIA E A PERSONALIDADE DE DEUS 447
,.~ \
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obrascatollcas. com
448 METAFíSICA
§ 2. DISCUSSÃO DO PANTEíSMO
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A TRANSCEND~NCIA E A PERSONALIDADE DE DEUS 449
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450 METAFíSICA
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452 METAFíSICA
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A TRANSCENDtNCIA E A PERSONALIDADE DE DEUS
consciê~ci.a cada U'1n de. ser ~m. si e para si, como se pensam
e se afirmam como r;aIs e dIStll.1toS. de todo o universô, como
se conhecem como seres. pessoais, livres e responsáveis? Se
então, pelo contrário, há no universo pessoas,. sujeitos conhe-
cendo-se e se afirmando invenclvelmentecomo livres, autô-
nomos e responsáveis pelos seus atos, é preciso necessària-
mente que sejam distintos do Pensamento, istó é, para falar
com maior exatidão, que o Pensamento seja distinto dêles e
os domine absolutamente.
HAw:LIN (Essat sur tes ~léments princtpaux de la Représenta-
tfon, pág. 451) julga que êstes argumentos são decisivos eontra
qualquer forma de panteísmo ideal1sta. :t.ste panteísmo, diz êle, con-
duz a estas duas impossibilidades de expor - um «pensamento In-
conscíentes e um «único 1ndlviduo~. Ora, de um lado a noção r'
um «pensamento tnconseíentes e desprovida de tôda espécie de sen-
tido. IlAMELm se refere, aqui, à sua doutrina de que só a relação é
inteligivel e de que a relação só se atualiza na consciência. Mas
«pensamento ínconscíente» é inintellgivel para uma razão menos di~·
cutivel: pensar é próprio do espir1to, isto é, de um ser que é para
si e, por conseguinte; necessàl1amente consciente. 1IAMELIN demons-
tra claramente aliás, mais adiante (pág. 452), que um «pensamento
impessoal» não tem sentido. - Por outro lado, o panteísmo admite
apenas um único individuo. «Be, portanto, constatamos a existêncla
de uma pluralidade de consciência, o panteísmo é inaceitável, por-
que uma consciência é um individuo, é um ser, sejam quais forem
as dificuldades que o reconhecimento dêste fato possa oeasíonar.s
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A TRANSCEND~NCIA E A PERSONALIDADE DE DEUS 455
)brascatolicas. com
456 METAFíSICA
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A TRANSCENDÉ'lNCIA E! A ..PERSONALIDADE DliJ DEUS 457
I
das eondições morais do conhecimento de Deus, tudo o que
atribui ao juízo, pelo qual admitimos a existência de Deus, o
nome de crença em Deus. 1!:ste problema não pertence ao
quadro de nosso estudo. Observaremos, entretanto, que a pró-
. pria natureza do objeto, do qual se ocupou nossa investigação,
torna absolutamente distinto o gênero de adesão que nos é
solicitado.
Primeiro, Deus é um Deus escondido. Não o podemos en-
contrar senão buscando-o, e nada seria mais falso do que ima-
ginar que os argumentos que testemunham sua existência e
sua natureza possam agir, sôbre nós, de uma maneira de um
certo modo mecânica, como as coisas que se impõem aos nossos
sentidos. De fato, os argumentos que expusemos e desenvol-
vemos só valerão para os que pesquisam com lealdade, retidão
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íNDICE ANALíTICO DAS MATÉRIAS 461
obrascatoücas. com
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METAFíSICA
462
L•;ber da de - preciência divina, Númenos, noção, 131.
404-406; à -
e di 'na 4084.-
vrna, Objeto, coisa e -, 147-149.
Lu{/ . o - como categoría, 253. Obrigação, prova de Deus pela -
MaZarnoção, 2293; o problema do moral, 367.
~, 412-416. Ocasião, - e causa, 2762 •
Matemática, a abstração -, 11b ; o Ofício, art. e -, 247.
método - de Descartes, 44. Onipotência, a - de Deus, 417-
Matéria, a - primeira segundo 419.
Platão, 190. Omne quoâ movetur, sentido do
Materialismo, o - diante da fina- principio -, 273-274.
lidade 373b. Ontologia, noção, 15; método,
Mecan1.cismo, o - na escclástíca 162-172; divisão, 173. .
medieval, 39b ; - e nominalis- Otitcloçismo, noção e discussão,
mo, 48; fracasso do - 3, 73. 327-331; 333-337.
Meto, noção, 279. Ordem, o problema da -, 492 •
Metafísica, definição, 1-9; objeto, Operação, - e ato, 200.
. 10-13; 157; - e ciências da na- Otimismo, o - cósmico, 416.
tureza, 163; - e filosofia da na- Panteísmo, o - medieval, 35-36;
tureza, 164; as etapas da -, noção geral do -, 421-424, dis-
168-172. cussão do -, 425-430.
Milagre, noção, 441 2• Pai:I;ão, a - como categoria, 253;
MiSericórdia, a - divina, 409. 2653.
Moào, noção do -, 2'10c • Participaçáo, a - da luz divina,
Motor, o primeiro -, 342-343; 155.
347; o primeiro - e o Bem su- Pensamento, o argumento do pri-
premo, 433b. mado do -, 61; - e realidade,
Movimento, - e causalidade, 2'13- 112; 117-120; o - do -, 401.
274; prova de Deus pelo -, 342- Percepção, - e imagens, 57.
347. Perfeição, o ato como -, 195; 198;
lI!udança, teoria bergsoniana da -, - e apetecibilidade, 228; os
107; análise da - , 192-193; a ín- graus de -, 359-361; o infinito
tel1gibllldade da -, 251; - e de -, 395-396.
causalidade, 285. Perfeito, a idéia de - e a prova
Mundo exter1.Or, o problema do - de Deus, 327; 330; o necessário e
entre os terministas, 40; em o -, 356; o - subsistente, 35'1-
Descartes, 46; o pseudoproblema 361.
do -, 56-61; a posição kantla- Perseiãade, - e substância, 255b •
. na, 129. Personalidade, a - de Deus, 431-
Música, noção, 2452 • 433.
Nada, o conceito de -, 187. Pessimismo, natureza e formas,
Natureza; noção, 296. 414.
NecessáriO, - e contingente, 353; Pessoa, noção, 259; - e subsistên-
o - por si, 354; o - e o perfei- cia, 260.
to, 356. Pintura, noção, 245.
Negação, noção, 186. Poesia, noção, 245c .
Neocriticismo, noção e discussão, Poder, origens da noção de -,
138-139. 188-191; o - em geral, 192-193;
Neo-realismo, noção, 143. noção, 194; divisão, 196; relações
Nomes Divinos, os - e o método entre o - e o ato, 198-202; a
de analogia, 386-3&'7. _____ essêncla,eomo---=,- zos-;--a- -
lVominalismo, - nos Gregos, 25- objetiva, 212; a substâncla co-
26; o - medieval, 3'1-40; o - mo- subjetiva, 251b; a - como
cartesiano, 4'1-48; o - empiris- faculdade, 265.
ta, 90-93; o - de Berkeley, 94; Positivismo, noção e argumentos,
o - positivista, 95; o - bergso- 95-97.
mano, 107; o - kantiano, 128; Possível, a existência -, 176; no-
·131; o - de Lachelier, 165; 0 - ção do -, 212-213; a ciência dos I
moderado de Scot e Suârez, 180. - em Deus, 4012 • I
\
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íNDICE ANALíTICO DAS MATÉRI~S 463
I
Ser, o - como objeto da metafi- Teologia natural, ver Teodtcéia.
síca, 3; 14; o problema do ser Tempo, o - como categoria, 253.
- 22; filosofia do sujeito e fi- Terminismo, o - medieval, 37-40.
losofia do -, 62; a inteligência Ter, o - como categoria, 253.
como faculdade do ser, 71; re- Todo, o mundo como -,321; 0 -
lação do pensamento com o -, contingente, 254.
117-120; o - como relação, 138- Tradicionalismo, noção e discussão,
139; - e pensamento, 145-152; 323-326.