Racismo Através Da Historias
Racismo Através Da Historias
Racismo Através Da Historias
MODERNIDADE
Até ao fim da Idade Média (século XV), a discriminação era feita com base em
dois tipos de argumentos: os baseados na cultura e os apoiados na condição social.
Hoje está muito difundida a ligação entre racismo e escravatura, de tal forma que
tendemos a pensar que o racismo acabou por gerar a escravatura, que não corresponde à
verdade. Até ao século XVII, tanto um branco como um negro podiam ser vendidos
como escravos. Na Antiguidade Clássica houve grandes debates sobre a Escravatura,
nomeadamente se escravos eram nos por natureza (tese racista) ou por condição social.
No primeiro caso partia-se do princípio que tinham uma natureza diferente dos outros
seres humanos; no segundo caso, a sua natureza era idêntica, mas o que mudava era
apenas a sua condição social, devido às causas mais diversas (guerras, dívidas, raptos,
etc).
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Na antiga Grécia, filósofos como Platão e Aristóteles (séc. IV e III a.c.),
procuraram fundamentar a escravatura em aspectos particulares da natureza humana dos
escravos. A sua argumentação racista que estava contudo longe de ser aceite. A
escravatura era em geral entendida como um ato de violência do mais forte sobre o mais
fraco. Esta era a concepção que predominou entre os romanos.
Apesar desta consciência que a escravatura se fundava na violência, nem por isso
deixava de ser aceite e defendido.
Em resumo, podemos dizer que até ao fim da Idade Média, admitia-se que todos
os homens podiam ser livres ou escravos, não estando esta condição inscrita na sua
natureza. A discriminações eram justificadas por diferenças culturais, e, sobretudo por
diferentes condições sociais entre os indivíduos. Até ao século XIX continua a achar-se
NATURAL uns nascessem destinados a trabalhar (pela sua condição social) e outros a
viverem à sua custa.
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para sempre. A religião determina a raça e vice-versa. No século XVI esta concepção é
estendida aos índios e negros.
Porém, a Lei Áurea fez apenas a primeira parte da lição de cidadania. Ao mesmo
tempo em que revogou a iniquidade de 350 anos de escravidão, não moveu uma palha
sequer para incluir os ex-escravos na economia assalariada, não mexeu um dedo para
incluir filhas e filhos de ex-escravos na educação e nos demais sistemas.
Para amenizar tamanha omissão foi criado - e longamente acalentado - o mito da
democracia racial: “No Brasil, não temos preconceito de cor. Isto é coisa dos norte-
americanos e dos sul-africanos. Aqui somos todos iguais”. Mas isso ficou apenas na
teoria.
Talvez sejamos, negros e brancos, iguais na hora de torcer pela seleção brasileira
de futebol. Nos demais departamentos da vida nacional, somos bem desiguais. As
vantagens e os privilégios das pessoas brancas saltam aos números: são maioria nas
melhores escolas e universidades, nos melhores hospitais, nas melhores casas. Maioria
nos aeroportos, nos restaurantes, nos cinemas, nos Três Poderes da República.
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futebol. Mas não suporta imaginar negros nos cargos de mando, ocupando altos postos,
ou seja, nos lugares de poder empresarial, social, político e econômico.
Por exemplo, cotas para negros e indígenas nas universidades é um tipo, entre
outros. A ideia defendida, pelo Movimento Negro e por uma parcela expressiva da
população, é de que o acesso dos negros e indígenas ao ensino superior pode funcionar
como uma alavanca para tirá-los dos tradicionais papéis secundários – trabalhos e
funções economicamente desvalorizados – e incentivá-los a assumir papéis decisórios
na sociedade.
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Portanto, o termo raça é usado por uma necessidade política. Se um dia cessarem
as desigualdades, falar em raça perderá o sentido. Até lá, a utilização da palavra ajuda a
enxergar discriminações e desvantagens impingidas às pessoas negras e indígenas.
Isso permitiria concluir, por exemplo, que há países em que o ódio racial seria
um componente de sua identidade nacional. Ora, o ódio racial não é componente da
identidade nacional de povo nenhum. Racismo é apenas e somente um instrumento de
promoção de privilégios e exclusões com base em supostas superioridade, inferioridade
ou simples preferência racial; uma ideologia passível de ser encampada em qualquer
tempo, lugar e conjuntura em que se pretenda estabelecer e legitimar poderes e
privilégios de um grupo humano sobre outro. É só e sempre disso que se trata e o que
ele sempre produz é somente isso, hegemonia para um grupo e subalternidade quando
não também extermínio para outro. E a manifestação violenta do conflito racial é apenas
uma de suas possibilidades; há outras mais sutis e, sob certos aspectos, mais eficientes,
em que as suas vítimas ficam impedidas inclusive de mobilizar a identidade racial em
sua autodefesa.
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racialidades, sob pena de estarmos nos insurgindo contra o que há de melhor em nossa
identidade nacional, a ausência das nossas cores e das nossas raças sociais. Dessa
perspectiva, a sua tentativa de decretar a morte das cores e da racialidade é a de negar o
direito a uma identidade que é forjada nas cores dos nossos corpos que se tornam
estigmas ou fontes de privilégios a partir dos quais se realizam as exclusões e as
preferências. É essa dupla negação que é imposta, a do reconhecimento da identidade e
do tratamento diferenciado que ela recebe na vida sócia. Dizia-se nas dores do pós-
colonialismo, que só quem pertence à raça dominante tem o direito (e a arrogância) de
dizer que a raça não existe ou que a identidade étnica é uma invenção. O máximo de
consciência possível dessa democracia hipócrita é diluir a discriminação racial na
discriminação social.
Refletir sobre a afirmação de enquanto o negro não pode contar sua história é
sobre a égide do branco que se reproduz, não se remete apenas àquela lecionada na
escola. Para além dela, também engloba a transmitida culturalmente. Não que pretendo
ser maniqueísta nessa sentença, entretanto existem muitos ingredientes para desacreditar
na hipótese que a omissão e o desprezo à tradição negra sejam apenas pequenos
equívocos, lapsos de memórias.
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Nascemos brancos, negros, indígenas e etc., biologicamente a cor não pode ser
mudada, mesmo com os avanços tecnológicos na área da estética e beleza ainda são
incapazes de alterar carga genética.
É interessante observar que, apesar das inúmeras conquistas nas últimas décadas
das mulheres, a realidade social das negras ainda é diferente das demais. Enquanto, a
competitividade no mercado de trabalho, o conflito entre a necessidade de dedicação
profissional e o tempo para constituir e cuidar da família são os temas de algumas
mulheres brancas que pertence à classe média, o ingresso no mercado ainda é um
desafio para as mulheres negras, exceção para as funções sem qualquer qualificação.
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estava no gozo de seus direitos e era para ela ter vergonha de prejudicar
deliberadamente um pai de família.
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sobre suas atitudes preconceituosas eventualmente esboçadas não é de todo
surpreendente. O preconceito implícito ou irrefletido conjugados com práticas de
discriminação racial indireta como esta são corriqueiros entre nós, e não permitem negar
a existência de discriminação. Entretanto, eles revelam também a singularidade deste
tipo de discriminação e suas implicações para a compreensão do problema no Brasil.
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REFERÊNCIAS:
ABRÃO, Bernadete Siqueira (org.). História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural,
1999.
CROUZET, Maurice (dir.). História Geral das Civilizações: o Oriente e a Grécia Antiga
- o homem no Oriente próximo. (Vol. II, 2ª ed.). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993.
LIMA, Heloísa Pires. A semente que veio da África. Editora Salamandra, 2005.
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