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Trabalho de DC em Curso

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INTRODUÇÃO

A constituição como norma suprema do ordenamento jurídico não tem valor enquanto não
houver entidades com poderes para fazer valer essa qualidade de norma suprema do
ordenamento jurídico. É justamente por esse facto que a própria constituição estabelece
várias formas destinadas a garantir que seja salvaguardada a sua supremacia, fixando bases
que garantam o cumprimento das suas normas, incluindo no processo de feitura das normas
ordinárias que devem obediência à Constituição. Juntamente com essas bases, também foram
estabelecidas várias formas de fiscalização da constitucionalidade para garantir que normas já
aprovadas possam ser submetidas ao crivo da constituição.

Portanto, sempre que se entender que uma norma é contrária à Constituição, seguindo os mais
restritos procedimentos de acesso à justiça constitucional, pode ser feito o pedido de
fiscalização da constitucionalidade, nas suas várias vertentes, entre as quais, no que interessa
para o presente caso, a fiscalização sucessiva concreta e/ou fiscalização sucessiva abstracta
da constitucionalidade (apenas a fiscalização sucessiva, seja abstracta ou concreta, é que
interessa para o presente artigo, visto que para os casos de fiscalização preventiva a
actividade de fiscalização é feita antes de a norma entrar em vigor no ordenamento jurídico, o
que retira a possibilidade de na pendência da fiscalização seja revogada ou derrogada a norma
em escrutínio, por ser impossível derrogar ou revogar uma norma que ainda não está em
vigor). Nesse âmbito, várias situações podem justificar que no momento da apreciação
sucessiva concreta e fiscalização sucessiva abstracta da constitucionalidade e da legalidade, –
a Lei, o regime jurídico ou as próprias disposições legais, – objecto da fiscalização, sofram
alteração, revogação, derrogação, reforma ou alteração.

De acordo com dicionário de língua portuguesa, fiscalizar significa verificar se algo está em
conformidade com o que fora previsto, significa também vigiar, observar atentamente,
examinar e etc. Por outro lado, a Constituição é um conjunto de normas jurídicas que ocupa o
todo da hierarquia do direito de um Estado. Pode dizer-se também que a Constituição é
constituída por leis fundamentais que regulam todos os elementos do Estado. Desde
organização das estruturas de Estado aos direitos e garantias do cidadão.
Sendo a Constituição da República a Lei Magna do Estado, todos devem subordinar-se a ela,
incluindo o Estado que além de subordinar-se a ela, deve fazer obedecer tudo o que está
pautado na Constituição. Isso significa que as demais normas ou atos jurídicos devem estar
em conformidade com o que está pautado na Constituição, implica que todos os actos do
Estado, os tratados, convenções e acordos internacionais, a revisão constitucional, os
referendos e todas as normas do plano ordinário devem estar em total conformidade com a
Constituição para que seja declarada constitucional, quando assim não acontece, a norma é
declarada inconstitucional.
1. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DOS MODELOS DE FISCALIZAÇÃO EM ANGOLA

Angola ficou independente em 1975, livrando-se do julgo colonial, assim em 1975 nasce a
primeira Constituição Angolana, com a designação de Lei Constitucional nessa Constituição
não existiam processos de fiscalização da constitucionalidade. De 1975 a 1991 existiram vari-
adas revisões constitucionais mais nenhuma delas foi capaz de introduzir a fiscalização da
constitucionalidade. A revisão de 1992 cria o Tribunal Constitucional e consequentemente a
fiscalização da constitucionalidade, as funções do Tribunal Constitucional passaram a ser de-
sempenhadas pelo Tribunal Supremo, até a data de 2008, quando foi institucionalizado o Tri-
bunal Constitucional. Na Constituição de 2010 que é a atual, os processos de fiscalização da
constitucionalidade continuam existindo é com um maior reforço.

Desde o ano 2010 Angola encontra-se na Terceira República, com a aprovação da CRA. A
Primeira República começa com a entrada em vigor da LCRPA 2, que entrou em vigor no dia
11 de Novembro de 1975, tendo sido aprovada em 10 Novembro de 1975 3, não se verifi-
cando qualquer processo de fiscalização da constitucionalidade. É aprovada a lei n.o 18/88,
de 31 de Dezembro (Lei do Sistema Unificado de Justiça),que eliminou a organização judici-
ária herdada de Portugal e instituiu o Sistema Unificado de Justiça, isto é, um sistema que
procurou integrar, de forma lógica as diversas jurisdições (civil, criminal, administrativa, mil-
itar, etc.), até ali mais ou menos separados, numa organização judiciária única, fazendo
nascer assim o Tribunal Popular Supremo (hoje Tribunal Supremo) no topo da cadeia hier-
árquica dos tribunais em Angola.

A Segunda República começa com a Lei no 12/91, de 6 de Março, para Adérito Correia e
Bornito de Sousa, surgiu uma nova constituição, já que, entre a LC que até a altura vigorava e
a que passou a vigorar existia uma nítida descontinuidade, que veio a ser aprofundada com a
lei de Revisão constitucional no 23/92, deixando de estar em vigor a LC de 1975, com as suas
diversas alterações .

A lei no 23/92 cria o Tribunal Constitucional , ao mesmo tempo que atribui ao Tribunal
Supremo o exercício dos poderes do Tribunal Constitucional enquanto este não for instituído.

Diferente da primeira, aqui já existiam processos de fiscalização, o Capítulo I do Titulo V da


Lei Constitucional , tinha como epígrafe Da Fiscalização da Inconstitucionalidade. Tín-
hamos assim a fiscalização por ação, dentro da fiscalização por ação tínhamos a fiscalização
preventiva (Art. 154º da Lei Constitucional), fiscalização sucessiva (155º), fora desta classifi-
cação tínhamos a fiscalização por omissão (156º).

Quanto a fiscalização concreta fica difícil classificar ela como tal, devido a má técnica leg-
islativa, pois que esta não consta do Capitulo I do Titulo V da Lei Constitucional, acabamos
por encontrar situações que caracterizam-se como sendo fiscalização concreta, no Art. 134º
alinha d) e e) da Lei Constitucional, este artigo nos fala das competências do TC, competên-
cia esta que atribuiremos a qual dos tipos de fiscalização previsto na LC? Uma vez que a fis-
calização concreta não foi prevista como um dos processos de fiscalização da inconstitu-
cionalidade.
Ainda durante a Segunda República foi aprovada a Lei nº 2/08, de 17 de Junho – Lei Or-
gânica do TC e a Lei n.o 3/08, de 17 de Junho – LOPC, estavam Art. 125º Nº 1 da Lei Con-
stitucional da República de Angola (publicada ao abrigo da Lei nº 23/92 de 16 de Setembro)
Art. 6º da Lei nº 23/92 de 16 de Setembro.

2. PRINCÍPIO DA CONSTITUCIONALIDADE

PRINCÍPIO DA CONSTITUCIONALIDADE: exprime, em primeiro lugar, que o Estado


democrático de Direito se funda na legitimidade de uma Constituição rígida, emanada da
vontade popular, que, dotada de supremacia, vincule todos os poderes e os atos deles
provenientes, com as garantias de atuação livre da jurisdição constitucional.
O artigo número 6 da constituição da República de Angola consagra que:
1-A constituição é a lei suprema da República de Angola
2- O Estado subordina-se à constituição e funda-se na legalidade, devendo respeitar e fazer
respeitar as leis.
3- As leis, os tratados e demais actos do Estado, dos Órgãos do Poder Local e dos entes
públicos em geral só são válidos se forem conformes à constituição.

A Constituição se coloca em relação às demais normas legais em posição proeminente, de


supremacia, de sorte que todo o sistema jurídico deve estar com ela conformado (princípio da
supremacia da Constituição).

Assim sendo podemos formular os conceitos de Constitucionalidade e Inconstitucionali-


dade , sendo o termo constitucional usado para se referir as normas inferiores a constituição
que esteja em conformidade com a constituição e inconstitucional aquelas normas cujo
conteúdo não esteja conforme com a constituição.

3. FORMAS DE FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE

Relativamente ao modo de fiscalização destacam-se 2 duas formas:


Por via incidental ou por via concreta.

Quando em presença de eleição de um incidente ocorrido durante uma ação, ou seja, durante
a resolução de um conflito nos Tribunais, surge o incidente, (declarasse inconstitucional uma
norma) e no mesmo Tribunal decorre o processo para apurar-se a constitucionalidade da
norma, este modo de controlo chama-se Fiscalização por modo de controle por via incidental.
Fiscalização por via principal concreta verifica-se que o mesmo que acontecem na via
incidental, ou seja, no decorrer de uma ação, dá-se um incidente(recusa-se a aplicação de uma
norma alegando ser inconstitucional), porém difere da incidental na medida em que o
processo instaurado para averiguação da inconstitucional é constituido autonomamente pelo
Tribunal Constitucional.
3.1 FISCALIZAÇAO CONCRETA

Para o caso da fiscalização concreta, a declaração de inconstitucionalidade de uma norma


aplicada no processo, faz com que essa norma seja desaplicada do processo em questão, sem
qualquer implicações sobre a sua vigência.
Podemos Tomar como exemplo. O acórdão nº328/2014, de 24 de Junho, proferido pelo
Tribunal Constitucional em sede de recurso ordinário de inconstitucional, interposto pelo
representante do Ministério Público no processo nº1426/13 que correu os seus trametes na 1ª
secção da sala de crimes cumuns do Tribunal Provincial de Benguela. O Tribunal
Constitucional declarou a inconstitucionalidade da aplicação ao caso concreto da normas
tacitamente revogada bem como da aplicação ao arguido de uma lei menos favorável, numa
clara violação ao preceituado no nº 4 do artigo 65º da CRA.
Os efeitos da declaração de inconstitucionalidade estão circunscritos ao caso concreto em
que foi proferida a decisão, ou seja, ao processo nº426/13 que tramitou na1ª Secção da Sala
dos Crimes Comuns Do Tribunal Provincial de Benguela. .( Lopes, Marcy . A Sindicância
constitucional dos actos Politicos , pag.152)

A declaração da inconstitucionalidade no controlo concreto. Ainda que realizado pelo


Tribunal Constitucional, ao contrário da fiscalização abstrata, não possui a característica de
declarar nula a norma desaplicada naquele processo., ou seja a norma continua a vigorar no
nosso ordenamento jurídico , podendo ser aplicadas a situações futuras, cuja apreciação seja
remetida aos tribunais.
Importa referir que no nosso modelo de fiscalização não possui qualquer mecanismo de
alteração da continuidade da vigência ou de perpetuidade de uma norma declarada
inconstitucional em sede de controlo concreto, tal como nos modelos brasileiro, português e
moçambicano.

4. MODELOS DE FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE

São conhecidos três grandes sistemas ou modelos de fiscalização da constitucionalidade,


designadamente:

1) O modelo de fiscalização judicial review; ou Difuso, também conhecido como sistema


americano

2) O modelo de fiscalização concentrado( europeu ou austríaco)

3) O modelo Misto

4.1.SISTEMA JUDICIAL REVIEW (AMERICANO) OU DIFUSO


Este modelo também designado sistema judicialista americano, conhecido como o primeiro
modelo jurisdicional de controlo da constitucionalidade do mundo. Baseia-se no poder
normal do juiz de recusar a aplicação de leis inconstitucionais aos litígios que tenha de
dirimir. Perante um caso concreto que esteja em apreciação em tribunal-qualquer tribunal,
independentemente da sua posição hierárquica se uma das partes em litígio solicitar a
constitucionalidade da norma aplicável ao processo, compete ao juiz da causa apreciar, a
título prévio e incidental, a questão da constitucionalidade e, apenas após decisão sobre esta
matéria, a resolver a questão material do pleito judicial.
Não existe um tribunal com competência exclusiva de realizar o controlo da
constitucionalidade. Todos os tribunais dos Estados Unidos da América estão habilitados a
fiscalizar a constitucionalidade das normas, mas apenas quando lhes seja solicitado no
decurso de um processo concreto que esteja a ser julgado em tribunal.
Para os autores: Jorge Bacelar Gouveia e Manuel Martínez Sospedra, este sistema
apresenta-se da seguinte maneira:
 Controlo operado por todos os tribunais e não apenas por um tribunal específico, com
competência geral sobre estas matérias.
 Controle concreto porque verificado num litigio sob julgamento.
 Controle incidental porque a questão da constitucionalidade da norma não constitui
objeto principal do processo.
 E feitos da decisão Inter partes aplicáveis apenas para o processo em concreto.
 A decisão não produz efeitos sobre a validade da norma reputada inconstitucional,
porque esta permanece em vigor.

4.2. SISTEMA CONCENTRADO(EUROPEU OU ASTRÍOCO)

O modelo Austríaco de controlo da Constitucionalidade, foi idealizado por Hans Kelsen na


Constituição austríaca de 1920. É considerado concentrado porque a competência para julgar
definitivamente acerca da constitucionalidade das leis é reservada a um único órgão, com
exclusão de quaisquer outros. Os demais tribunais não têm, por determinação da
Constituição, jurisdição em matéria constitucional, não podendo decidir sobre estas questões.
No modelo concentrado de fiscalização, é criado um Tribunal de hierarquia superior ao qual é
conferido à jurisdição total e exclusiva para conhecer e julgar as matérias relacionadas com a
constitucionalidade das normas.
Aqui, o controlo da constitucionalidade não ocorre como no controlo difuso-por via de um
incidente da instância, no modelo concentrado o controlo da constitucionalidade é realizado
independentemente da existência de um litígio em apreciação no Tribunal.
Não podemos deixar de realçar que embora. Este modelo possui a particularidade de o
controlo não ser por via incidental, se no decorrer de um processo comum, uma das partes
levantar o problema da constitucionalidade da norma aplicável ao processo, o tribunal da
causa deve remeter a questão ao Tribunal Constitucional para que este profira decisão sobre a
conformidade ou não da norma com a Constituição.
O objeto principal do processo é a verificação da conformidade constitucional da norma
submetida à apreciação do Tribunal Constitucional.
Neste modelo as decisões proferidas pelo Tribunal Constitucional produzem efeitos gerais
aplicáveis às a todas as pessoas e instituições Públicas e privadas e em caso de decisão no
sentido de considerar inconstitucional a norma, esta é considerada nula e deixa de vigorar no
ordenamento jurídico.

Quadro comparativo entre o modelo difuso e o modelo concentrado de controlo da


constitucionalidade

CRITÉRIOS MODELO DIFUSO MODELO


CONCENTRADO
Órgão fiscalizador Todos os tribunais Tribunal Constitucional(com
exclusão de todos os outros
que existão)
Modo de Controlo O controlo é feito por via O controlo é realizado por
incidental, no decurso de um via primcipal, não estando
processo comum dependente da existência de
um litígio em apreciação
pelo tribunal
Legitimidade para arguir a As partes no processo em Apenas as entidades
inconstitucionalidade apreciação no tribunal reconhecidas pela
constituição
Efeitos da declaração de Efeitos inter partes. A Efeitos geral ou erga omnes.
inconstitucionalidade declaração de A declaração de
inconstitucionalidade não inconstitucionalidade
determina a cassação da acarreta a nulidade da norma
vigência da lei . A norma e, em consequência, a sua
declarada inconstitucional expurgação do ordenamento
não é aplicada ao processo jurídico
Modo de controlo Incidental ou por via Abstracta ou por via
concreta principal
Tempo de controlo Sucessivo Preventivo ou sucessivo
Tab. 1 .( Lopes, Marcy . A Sindicância constitucional dos actos Politicos ,pag.60)

4.3. MODELO MISTO

Este modelo resulta da convergência entre os modelos difuso e concentrado num mesmo
e único sistema de fiscalização da constitucionalidade. Nesse sistema, acontece uma
aglutinação harmoniosa Entre os modelos de controlo difuso realizado por todos os tribunais
e o controlo concentrado, efetuado por um único tribunal. Isto é no modelo jurisdicional
misto admite-se a possibilidade no mesmo processo em apreciação num tribunal comum ser
invocada a inconstitucionalidade da norma aplicável ao caso e o tribunal da causa conhecer e
apreciar a questão da inconstitucionalidade por ato próprio a título de incidente da instância,
sem necessidade de remeter o processo ao Tribunal Constitucional para decidir. Nesta
contexto, em caso de declaração de inconstitucionalidade da norma, os efeitos desta decisão
apenas são válidos e aplicáveis ao processo em causa (controlo difuso).
Em paralelo o sistema misto prescreve a regra do controlo realizado apenas pelo Tribunal
Constitucional, ou seja, há apenas algumas entidades que podem, a título direito recorrer ao
Tribunal Constitucional para a verificação da conformidade constitucional de determinada
norma. Nestas circunstâncias, a decisão proferida pelo Tribunal Constitucional possui efeitos
gerais, acarreta nulidade da norma considerada inconstitucional e a mesma é expurgada do
ordenamento jurídico (Controlo concentrado).
Esta foi o modelo eleito constitucionalmente por certos países africanos, como Angola,
Moçambique, África do Sul ,Beni, Burundi e etc.
5. TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ANGOLANO

O Tribunal Constitucional é definido pela CRA como órgão de soberania ao qual compete em
geral administrar a justiça em matéria de natureza jurídico-constitucional nº1 do art.180º da
CRA. Conforme estabelecido na constituição, o tribunal constitucional, assume um papel
importante na construção e consolidação do Estado Democrático e de Direito, na defesa da
Constituição e na preservação da integridade da ordem jurídica.

No sistema jurisdicional angolano, o Tribunal Constitucional foi criado em 2008. O Tribunal


Constitucional é composto por onze juízes Conselheiros, designados de entre juristas e
magistrados. No n 3 nas alíneas a),b),c),d), e n 4 do artigo 181 da CRA.

O tribunal constitucional tem a sua composição e competência definidas directamente na


constituição, lei orgânica e lei do processo constitucional. A parte decisória dos acórdãos, em
particular dos que apreciarem a inconstitucionalidade de qualquer norma, é sempre
antecedida dos fundamentos da decisão. As decisões do Tribunal Constitucional são de
natureza obrigatória para todas as entidades públicas ou privadas e prevalecem sobre as dos
restantes tribunais e de quaisquer autoridades, incluindo do Tribunal Supremo.
Em matéria de fiscalização da constitucionalidade, o Tribunal Constitucional é o último
recurso assumindo se deste modo como órgão Supremo da Justiça Constitucional.
A esta tribunal compete realizar:
 A fiscalização abstracta preventiva;
 A fiscalização abstracta sucessiva;
 A fiscalização das omissões inconstitucionais.
 A apreciação, com recurso à constitucionalidade das decisões dos demais tribunais
que apliquem normas cuja constitucionalidade tenham sido suscitadas durante o
processo.
 A apreciação , com recurso à constitucionalidade , das decisões dos demais tribunais
que tenham recusado a aplicação de qualquer norma com o fundamento na sua
inconstitucionalidade.

5.1A FISCALIZAÇÃO ABSTRACTA PREVENTIVA DA CONSTITUCIONALIDADE

Fiscalização preventiva é o processo de controle da constitucionalidade e legalidade que tem


por objeto certas normas jurídicas antes de concluída a sua formação ou tendo um possível
juízo de inconstitucionalidade da mesma, ao resultar da exclusão da respectiva existência
jurídica. Isso é, a norma em pouco ou nada não pode ser aplicada porque ainda não está em
vigor, por outras palavras a fiscalização preventiva decorre antes da entrada em vigor da
norma.
Quanto aos sujeitos, este modo de fiscalização tem um controlo político, pois são
competentes para requerer a apreciação da norma ao Tribunal Constitucional, os órgãos do
poder político, de acordo com o artigo 228º da Constituição da República de Angola. Para o
efeito estão regulados pela Constituição alguns prazos e procedimentos, ou seja, primeiro
deverá existir um projeto ou proposta de lei emanado por um órgão com competência
legislativa que deverá ser remetida ao Presidente da República.
A fiscalização preventiva da constitucionalidade pode ser requerida pelo Presidente da
República quando determinado diploma legal lhe tenha sido remetido para a devida
promulgação. Como sabemos, o Presidente da República promulga todas as leis, que derivam
da Assembleia Nacional depois dos debates na generalidade e na especialidade bem como a
competente aprovação final do diploma. Este diploma deve obrigatoriamente ser remetido
para o Presidente da República, a fim de que o promulgue, só com a promulgação é que o
diploma legal é submetido ao Jornal Oficial da República de Angola, que é denominado
Diário da República, para a sua devida publicação. Ora o Presidente da República, sempre
que a recebe determinado acordo Internacional, para a assinatura ou ainda determinado
tratado Internacional para a devida ratificação, pode o Presidente da República não
conformado com alguma das normas constantes destes diplomas, requerer a fiscalização
preventiva da constitucionalidade por parte do Tribunal Constitucional num prazo de 20 dias
a contar da data da recepção do diploma legal pelo Presidente da Republica.
Havendo se verificado a inconstitucionalidade de alguma norma, o Tribunal Constitucional
remete a declaração de inconstitucionalidade, o Presidente da Republica por sua vez veta o
diploma legal e remete ao Órgao que tenha elaborado tal diploma para a retirada da norma
julgada inconstitucional. Havendo feita as correções o Órgão volta a submeter para o
Presidente da República que pode ainda remeter novamente ao Tribunal Constitucional para
reverificação do diploma e só após a confirmação de conformidade constitucional promulgar
o diploma.
Para o caso de o Presidente da República requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade, o Tribunal Constitucional deve se pronunciar no prazo de 45 dias. Ora,
este prazo pode perfeitamente ser encurtado por motivos de urgência ou justa causa, a
natureza do referido diploma e a pertinência que se impõe para aprovação do referido
diploma legal, art.228º nº4 da CRA.

Podem recorrer também a fiscalização preventiva da constitucionalidade por parte do tribunal


constitucional 1/10 de Deputados em efetividade de funções, nesses casos o Tribunal
Constitucional dispõe de 20 dias a contar de recessão do diploma, para se pronunciar.

Sobre o regime de fiscalização preventiva, mencionamos ainda que este se apresenta de 2


formas: Regime de fiscalização necessária ou obrigatória e regime de fiscalizaçao facultativa.
A fiscalização preventiva necessária ou obrigatória nos casos de projeto de lei submetidos a
referendo e a alterações à Constituição da República de Angola, que sejam remetidos ao
Presidente da República para Promulgação. Já a fiscalização preventiva facultativa é o
controlo da constitucionalidade, que ocorre fora dos casos supra referidos e desde que as
entidades com legitimidade para o efeito (Presidente da República e 1/10 dos Deputados da
Assembleia Nacional em efetividade de funções) a requeiram.

5.1.1 OS EFEITOS QUE DECORREM DA A FISCALIZAÇÃO PREVENTIVA DA


CONSTITUCIONALIDADE
 Não pode o Presidente da República promulgar uma lei ou ratificar um tratado
Internacional ou ainda assinar um acordo Internacional que o Tribunal Constitucional
sobre eles não se pronunciou previamente.
 Uma outra consequência que resulta efetivamente do diploma legal, ser devolvido ao
órgão que tivera elaborado, o Presidente da República deve vetar este diploma legal e
remeter novamente ao órgão que o tivera aprovado. Ora, na eventualidade do órgão
que o tiver aprovado, expurgar as irregularidades constantes do referido diploma pode
perfeitamente o Presidente da República ou ainda 1/10 de Deputados em efetividade
de funções novamente solicitarem a fiscalização preventiva da constitucionalidade das
referidas normas.
5.2 FISCALIZAÇÃO ABSTRATA SUCESSIVA

Aqui é fundamental apontar o artigo 230º da Constituição da República de Angola, que


consagra a fiscalização abstrata e sucessiva da constitucionalidade, onde o Tribunal
Constitucional aprecia e declara com força obrigatória geral a constitucionalidade de várias
normas no ordenamento jurídico.
Em primeira mão, a Constituição, no artigo que nós fizemos referência, dispõe que o
Presidente da República tem a legitimidade de requerer a fiscalização abstrata e sucessiva da
constitucionalidade e também 1/10 de Deputados em efetividade de funções, os grupos
parlamentares que representam os diferentes partidos políticos e coligações de partidos
políticos com assento na casa das leis, o Provedor de Justiça, o Procurador-Geral da
República e a ordem dos Advogados de Angola.

5.2.1OS EFEITOS DA FISCALIZAÇÃO ABSTRACTA SUCESSIVA DA


CONSTITUCIONALIDADE

O artigo 231º da nossa Constituição dispõe que a declaração de inconstitucionalidade por


força obrigatória geral, tratando-se de inconstitucionalidade originária começa a produzir os
seus efeitos, a partir da entrada em vigor da norma declarada inconstitucional e determina a
repristinação da norma que haja sido revogada Ou seja, a norma que anteriormente foi objeto
de revogação por uma norma declarada inconstitucional, é chamada novamente para vigorar
no ordenamento jurídico por força desta declaração de inconstitucionalidade por força
obrigatória geral. Nº1 atrtigo 231º da CRA e artº 30º da LPC.

Podemos tomar como exemplo, o Acórdao nº314/13, de 29 de Agosto do Tribunal


Constitucional , que declarou inconstitucionais algumas normas da Lei nº 3/12 de 13 de
Janeiro -Lei de Base das Associaçoes Publicas.
As normas declaradas inconstitucionais são nulas e como tal, não produzem qualquer efeito
jurídico. Em consequência, não podem ser aplicadas às relações jurídicas regidas pela Lei de
Base das Associaçoes Publicas, uma vez que são normas expurgadas do ordenamento jurídico
angolano por padecerem de vicio de inconstitucionalidade.( Lopes, Marcy . A Sindicância
constitucional dos actos Politicos , pag.148,149)

As normas que possam ser declaradas inconstitucionais a posterior e que começam então a
produzir efeitos a declaração a partir do momento em que esta última tenha sido revogada,
aqui, abrem-se algumas exceções, sobretudo respeitantes a casos julgados ou ainda salvo
decisão contrária do Tribunal Constitucional reportando-se a normas criminais e a normas
disciplinares, ou ainda de mera ordenação social, ou ainda que o conteúdo, portanto, se
mostrem menos favorável para os arguidos, aqui é importante traçar um último cenário que,
por razões de segurança jurídica, de equidade e de não menos importante, a de interesse
Público de excepcional relevo, o Tribunal Constitucional pode fixar um alcance mais restrito
do que aquele consagrado número 1 e no número 2 deste artigo 231º da CRA.
A fiscalização abstrata vincula-se a um poder funcional de iniciativa e não direito de
iniciativa, porque impede sobre certos órgãos ou frações de titulares de órgãos do poder
político no âmbito do sistema político global da Constituição, porque se reconduz a uma
competência e porque é dominado exclusivamente como uma perspetiva de interesse Público
e objeto.
O nº2 do artigo 26º da LPC estabelece uma proibição de submissão a este tipo de fiscalizaçao
os diplomas aprovados por referendo. Porém essa norma mostra-se diferente ao que aparece
como exemplo no artigo 227º da CRA. Por isso pensamos que não pode o legislador
ordinário excluir do âmbito da fiscalizaçao abstrata sucesssiva os diplomas aprovados por
referendo, mesmo que elas já tenham sido submetidas a fiscalizaçao preventiva porque o
legislador originário tomou como exemplo ao tratar dos objectos da fiscalizaçao sem colocar
qualquer observação de proibião do referendo não podere ser fiscalizado sucessivamente.

5.3 A FISCALIZAÇÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO

Segundo o Professor Jorge Miranda, omissão pode ser entediada como a falta de medidas
legislativas necessárias, falta esta que pode ser total ou parcial. A violação da Constituição,
na verdade, provém umas vezes de completa inércia do legislador e outras vezes da sua
deficiente actividade, competindo aos do órgão da fiscalização, pronunciar-se sobre a
adequação da norma legal à norma constitucional.
A omissão está relacionada sempre com um período de tempo histórico, a necessidade de se
legislar sobre factos que estejam a acontecer se requer que o legislador competente crie leis
para que a constituição seja cumprida.
Vejamos, para que se refira a inconstitucionalidade por omissão deve-se analisar o tempo que
decorre entre a entrada em vigor da constituição, o tempo de acontecimentos dos factos na
sociedade e a falta de legislação, para que a norma constitucional não exequível por si mesma
seja cumprida.
O significado último da inconstitucionalidade por omissão consiste no afastamento, por
omissão por parte do legislador ordinário dos critérios e valores da norma constitucional não
exequível e, esse afastamento do pode reconhecido no tempo concreto em que um e outro se
movam (Jorge Miranda, Direito constitucional, pág.590)

Podem requerer ao tribunal constitucional a declaração de inconstitucionalidade por omissão


o Presidente da República, um quinto dos deputados em efectividade de funções e o
procurador-geral da República. Verificada a existência de inconstitucionalidade por omissão,
o tribunal constitucional dá conhecimento desse facto ao órgão legislativo competente, para a
supressão da lacuna, consagrado no artigo 232º da CRA.
Nos termos do artigo 35º da lei nº3\08 “Lei do processo constitucional”, o legislador
ordinário atribui ao tribunal constitucional o poder de determinar um prazo razoável para que
órgão competente possa proceder a supressão da lacuna ou da sua inação. Esta norma alargou
assim as competências do Tribunal constitucional de verificação, declaração e determinação
de correcçao de omissão inconstitucional, não expressamente conferida pela constituição.
O incumprimento deste tempo que o Tribunal Constitucional considera razoável imposto
para que o órgão legislativo supra a lacuna , coloca esse órgão em desobediência de ordem
judicial , apesar de não se ter nenhuma sanção prevista por lei, mas o órgão legislativo deve
sempre cumprir o prazo determinado pelo Tribunal Constitucional para a supressaao das
lacunas.

5.4 OS RECURSOS DA INCONSTITUCIONALIDADE.

O recurso ordinário da inconstitucionalidade tem uma dupla natureza:


A primeira natureza objetiva que integra componente de defesa da primazia da Constituição
e em segundo a natureza subjetiva que engloba a componente do Tribunal Constitucional.
O recurso ordinário da inconstitucionalidade, vem em primeiro caso dos tribunais comuns,
os que recusem a aplicação de qualquer norma com fundamento em inconstitucionalidade.
Em segundo, decisões estas que se apliquem a normas cuja inconstitucionalidade têm sido
suscitadas durante o processo, às decisões que apliquem normas já anteriormente julgadas
inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional. Em terceiro que recusem a aplicação de
normas com fundamento na violação pela norma de uma Convenção Internacional. Em
Angola, há ainda a quarta, Decisões que apliquem normas constantes de convenções
internacionais em desconformidade com acórdão proferido pelo Tribunal Constitucional.
O recurso ordinário da inconstitucionalidade tem natureza incidental e é restrito à questão da
inconstitucionalidade suscitada no artigo 36º , nº 2 interposto a apenas após a sentença final
proferida pelo Tribunal da causa. O recurso ordinário demonstra a vertente mista do sistema
de fiscalização da constitucionalidade, consagrado no ordenamento jurídico angolano e é
difuso, pode ser feito por cada um dos tribunais incidental os cidadãos não podem recorrer
aos tribunais para impugnar diretamente uma norma com fundamento de
inconstitucionalidade. A atuação do Tribunal Constitucional incide sobre a norma e não
sobre as sentenças proferidas no caso.

Para debatermos:

6. ACTOS SUJEITOS À FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE

 Actos normativos
 Os tratados, convenções e acordos internacionais
 A revisão constitucional
 O referendo
O Tribunal Constitucional tem se pronunciado sobre a validade constitucional dos actos
administrativos, de actos legislativos e, bem assim, dos actos judiciais cuja regularidade
constitucional se questiona. Assim apresentada a questão, não parece existir qualquer
dificuldade em concluir que o nosso modelo de controlo da constitucionalidade consagrado
na Constituição da República de Angola, comporta a fiscalização de todos os atos praticados
pelos poderes públicos.

7. ACTUAL SISTEMA ANGOLANO DE FISCALIZAÇÃO

O actual sistema de fiscalização angolano enquadra-se, na Terceira República, teve início


com a aprovação da CRA em 201

0, nasce assim a actual judicial review Angolano,falamos em actual pois que a ideia de
judicial review foi implementada pela primeira vez na Segunda República, através da Lei de
Revisão constitucional nº 23/92, que fez publicar a Lei Constitucional, no Art. 153º da LC.
A fiscalização judicial da constitucionalidade das leis e demais actos normativos do estado
constitui, nos modernos Estados constitucionais democráticos, um dos mais relevantes
instrumentos de controlo do cumprimento e observância das normas constitucionais. Pois que
é de vital importância, sendo assim a responsabilização dos titulares de cargos públicos e o
controlo do exercício do poder por maiorias democraticamente legitimadas.
Se olharmos para os modelos de justiça constitucional, no que toca ao controlo da
constitucionalidade Angolano acaba por adotar os dois modelos: modelo da separação e
modelo unitário.

Modelo da separação segundo o professor Gomes Canotilho a justiça constitucional é, sob o


ponto de vista organizativo, confiada a um Tribunal especificamente competente para as
questões constitucionais e institucionalmente separado dos outros tribunais, a este modelo o
Professor Jorge Miranda chama de fiscalização jurisdicional concentrada.

Angola possui um Tribunal especificamente competente, o tribunal constitucional,


competente para administrar a justiça em matérias de natureza jurídico-constitucional, artigo
181º da CRA.

Modelo unitário neste modelo considera-se que todos os tribunais têm o direito e o dever de,
no âmbito das suas acções e recursos submetidos a decisão do juiz, aferir a conformidade
constitucional do acto normativo aplicável ao feito submetido a decisão judicial, este modelo
também é conhecido como modelo de fiscalização judicial (judicial review).
Sendo assim, como já fizemos referência, os processos de fiscalização existentes em angola
são: a fiscalização abstrata preventiva (art. 228º da CRA), fiscalização abstrata sucessiva (art.
230º da CRA), fiscalização da inconstitucionalidade por omissão (art. 232º da CRA).

CONCLUSÃO

Fiscalização é o mecanismo jurídico-constitucional que permite verificar possíveis violações


à constituição e consequentemente na aplicação do direito.

Para isso existe um órgão do Estado que tem a função de guardião da constituição que é o
Tribunal Constitucional, ele verifica a constitucionalidade das demais normas do
ordenamento jurídico angolano, esta verificação pode ser feita de forma preventiva, antes da
promulgação da norma , ou a fiscalização em virtude da tutela dos direitos fundamentais dos
cidadãos , aprecia em recurso a constitucionalidade das decisões dos demais tribunais.

O Estado Constitucional democrático ficaria enfraquecido, se não assegurasse a observância,


da conformidade das demais leis do ordenamento jurídico com as normas pautadas na
constituciçao, garantindo estabilidade e preservação das normas constitucionais.

Os sistemas de fiscalização da constitucionalidade são, assim, resultado da necessidade de


tornar eficazes às normas da Constituição e de garantir o seu efetivo cumprimento em caso de
violação pelos poderes públicos ou seja, significa essencialmente uma coisa: que a
Constituição é a lei máxima do país e que toda a ordem jurídica deve ser conforme com ela.
BIBLIOGRAFIA

2Cfr. MACHADO, Jonatas E. M., Costa, Paulo Nogueira da e Hilario, Esteves Carlos. Dire-
ito Constitucional Angolano, 2a edição, Coimbra Editora, Coimbra, 2013.p. 36

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