Epistemologia e Modernidade
Epistemologia e Modernidade
Epistemologia e Modernidade
modernidade
AUTOR: JOSÉ RICARDO CUNHA
1ª EDIÇÃO
ROTEIRO DE CURSO
2010.1
Sumário
Epistemologia e modernidade
I. APRESENTAÇÃO DO CURSO..........................................................................................................................................................03
i. apresentaÇÃo do CUrso
FGV DIREITO 3
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
3. fOrmas de avaliaçãO
FGV DIREITO 4
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
ementa
6. Inatismo: Descartes.
7. Empirismo: Hume e Locke.
8. Formalismo Jurídico e Realismo Jurídico.
9. Criticismo: Kant.
FGV DIREITO 5
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
ObservaçãO impOrtante
FGV DIREITO 6
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
FGV DIREITO 7
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
FGV DIREITO 8
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
FGV DIREITO 9
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
NOTA AO ALUNO
tema da aUla
ObjetivOs da aUla
Diz
Diz Aristóteles: “Foi, com efeito, pelo espanto que os homens,
assim
assimhoje como no começo, foram levados a filosofar, sendo pri-
meiramente
prim abalados pelas dificuldades mais óbvias, e progredin-
do em seguida pouco a pouco até resolverem problemas maiores...”
progredindo
(Aristóteles, Metafísica, I, 2).
maiores...
passado? Onde ele está? O que é um tempo futuro? Onde ele está? Se o passado é o que eu,
do presente recordo e o futuro é o que eu, do presente espero, então não seria mais correto
dizer que o tempo é apenas o presente? Mas quanto dura um presente?? Quando acabo
de colocar o “r” no verbo colocar, este “r” é ainda presente ou já é passado? A palavra que
estou pensando em escrever a seguir, é presente ou futuro? O que é o tempo afinal?” (Santo
Agostinho, Conissões)
Como o tempo é familiar e pode ser estranhado, também as verdades são fami-
liares e podem e devem ser estranhadas. Mas para que isso aconteça, é necessário
abrir-se a uma experiência radical de pensamento. Para tanto, nada melhor do que
a provocação feita por Heidegger:
“O
DESAFI
“O que mais desaia o pensamento nessa época de desaio do pensamen-
PENS
to, é que ainda não começamos a pensar.”
Temos hoje, dois grandes obstáculos ao pensamento que devem ser superados:
x
a.
O individualismo: este nos conduz a achar que nossa subjetividade e opor-
x
tunidades pessoais somente podem ser forjadas sem o outro ou contra o
outro.
b. A massificação: esta nos conduz à perda de nossa singularidade nos deinindo
x apenas como parte de coletivos mais ou menos amorfos e repetitivos.
Para se superar tais obstáculos, deve-se ter em conta que o pensamento é uma
experiência existencial e histórica, por isso ao mesmo tempo pessoal e social. Tam-
bém deve-se ter claro que pensar não é um ato, mas uma atitude que nos deine
diante da vida; nos deine como sujeitos criadores e capazes de transcender a mera
repetição e a mesmiicação. Representa, nesse sentido, 1) uma ruptura com as car-
tilhas e manuais; e 2) uma exigência de justiicação permanente de todas as normas
e padrões de conduta.
Certamente, a experiência de pensamento vai muito além da ordem do banal e
exige esforço e superação. Leia a parábola abaixo, de Nietzsche, relita e prepare-se
para o debate:
FGV DIREITO 11
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
DasDastrês
trêsmetamorfoses
metamorfoses
Três metamorfoses, nomeio-vos, do espírito: como o espírito se
torna camelo e o camelo, leão e o leão, por im, criança.
Três
Muitos fardos pesados há para o espírito, o espírito forte, o espírito
de suportação,
torna cameloaoe qual inere o leão
o camelo, respeito;
e o cargas pesadas,
leão, por fim, as mais pesa-
criança.
das, pede a sua força.
Muitos
“O que há de pesado?”, pergunta o espírito de suportação; e ajoe-
de
lha como um camelo e quer icar bem carregado.
pesadas, pede a sua“O forque há de mais pesado, ó heróis”, pergunta o espírito de supor-
tação, “para que eu o tome sobre mim e minha força se alegre?
Não será isto: humilhar-se, para magoar o próprio orgulho? Fazer brilhar a pró-
pria loucura, para escarnecer da própria sabedoria?
Ou será isto: apartar-se da nossa causa, quando ela celebra o seu triunfo? Subir
para altos montes, a im de tentar o tentador?
Ou será isto: alimentar-se das bolotas e da erva do conhecimento e, por amor à
verdade, padecer fome na alma?
Ou será isto: estar enfermo e mandar embora os consoladores e ligar-se de ami-
zade aos surdos, que não ouvem nunca o que queremos?
Ou será isto: entrar na água suja, se for a água da verdade, e não enxotar de si nem
as frias rãs nem os ardorosos sapos?
Ou será isto: amar os que nos desprezam e estender a mão ao fantasma, quando
ele nos quer assustar?”
Todos estes pesadíssimos fardos toma sobre si o espírito de suportação; e, tal
como o camelo, que marcha carregado para o deserto, marcha ele para o seu próprio
deserto.
Mas, no mais ermo dos desertos, dá-se a segunda metamorfose: ali o espírito tor-
na-se leão, quer conquistar, como presa, a sua liberdade e ser senhor em seu próprio
deserto.
Procura ali, o seu derradeiro senhor: quer tornar-se-lhe inimigo, bem como do
seu derradeiro deus, quer lutar para vencer o dragão.
Qual é o grande dragão, ao qual o espírito não quer mais chamar senhor nem
deus? “Tu deves” chama-se o grande dragão. Mas o espírito do leão diz: “Eu quero”.
“Tu deves” barra-lhe o caminho, lançando faíscas de ouro; animal de escamas, em
cada escama resplende, em letras de ouro, “Tu deves !”
Valores milenários resplendem nessas escamas; e assim fala o mais poderoso de
todos os dragões: “Todo o valor das coisas resplende em mim.
Todo o valor já foi criado e todo o valor criado sou eu. Na verdade, não deve mais
haver nenhum ‘Eu quero’!” Assim fala o dragão.
Meus irmãos, para que é preciso o leão, no espírito? Do que já não dá conta sui-
ciente o animal de carga, suportador e respeitador?
Criar novos valores – isso também o leão ainda não pode fazer; mas criar para si
a liberdade de novas criações – isso a pujança do leão pode fazer.
Conseguir essa liberdade e opor um sagrado “não” também ao dever: para isso,
meus irmãos, precisa-se do leão.
FGV DIREITO 12
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
Conquistar o direito de criar novos valores – essa é a mais terrível conquista para
o espírito de suportação e de respeito. Constitui para ele, na verdade, um ato de
rapina e tarefa de animal rapinante.
Como o que há de mais sagrado amava ele, outrora, o “Tu deves”; e, agora, é
forçado a encontrar quimera e arbítrio até no que tinha de mais sagrado, a im de
arrebatar a sua própria liberdade ao objeto desse amor: para um tal ato de rapina,
precisa-se do leão.
Mas dizei, meus irmãos, que poderá ainda fazer uma criança, que nem sequer
pôde o leão? Por que o rapace leão precisa ainda tornar-se criança?
Inocência, é a criança, e esquecimento; um novo começo, um jogo, uma roda que
gira por si mesma, um movimento inicial, um sagrado dizer “sim”.
Sim, meus irmãos, para o jogo da criação é preciso dizer um sagrado “sim”: o
espírito, agora, quer a sua vontade, aquele que está perdido para o mundo conquista
o seu mundo.
Nomeei-vos três metamorfoses do espírito: como o espírito torna-se camelo e o
camelo, leão e o leão, por im criança.
Assim falou Zaratustra.
(Nietzsche, Assim Falou Zaratustra)
bibliOGrafia
complementar
FGV DIREITO 13
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
NOTA AO ALUNO
tema da aUla
ObjetivOs da aUla
FGV DIREITO 14
• ver-perceber: liga-se ao que é;
• falar-descrever: liga-se ao EpIsTEmOlOGIa
que foi; E mODERnIDaDE
• crer-confiar: liga-se ao que será.
e o direito?
E
c
Como o problema da verdade se relaciona com o Direito? A todo
etempo somos confrontados com expressões do tipo: verdade dos fa-
FGV DIREITO 15
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
bibliOGrafia
Obrigatória
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994. (Unidade 3, Ca-
pítulo 2 Buscando a Verdade; e Capítulo 3 As Concepções de Verdade; pp.
94-107)
complementar
FGV DIREITO 16
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
NOTA AO ALUNO
tema da aUla
ObjetivOs da aUla
desenvOlvimentO
Heráclito de Éfeso
FGV DIREITO 17
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
e o direito?
parmênides de eléa
"
DESCOBERTA “Pois bem, eu te direi, e tu recebe a palavra que ouviste, os únicos cami-
nhos de inquérito que são a pensar: o primeiro, que é e portanto que não
é não ser, de Persuasão é caminho (pois à verdade acompanha); o outro,
que não é e portanto que é preciso não ser, este então, eu te digo, é atalho
de todo incrível; pois nem conhecerias o que não é (pois não é exeqüível),
nem o dirias...” (Fragmento 2).
e o direito?
E
c Acreditar no ser parmenídico signiica admitir que tudo guarda
e
uma essência imutável, ainda que uma camada supericial e acidental
le
ppossa vir a se modiicar, mas não a natureza das coisas. Logo, o Di-
lidar com os problemas de insegura
reito seria marcado por uma essência imutável.
Aqui, deve-se apresentar ao
FGV DIREITO 18
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
bibliOGrafia
Obrigatória
complementar
aneXO
FGV DIREITO 19
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
Brown se destaca porque foi o primeiro caso bem sucedido desse tipo, por causa da
abrangência da determinação da Suprema Corte, e por causa do efeito radical que
teve sobre a sociedade americana em meados do século XX.
HERÓI ANÔNIMO
Herói Anônimo “O herói anônimo no processo de Topeka é McKin-
ley
"O Burnett,” que, na época, era o presidente da seção
local da NAACP, diz C.E. (Sonny) Scroggins, chefe do
Burnett,"
Comitê de Kansas para a Comemoração do Caso Bro-
NAACP,
wn Contra a Secretaria de Educação [Kansas Commit-
Kansas
tee to Commemorate Brown v. Board of Education].
“Foi Burnett que reuniu Oliver Brown e os outros pais e
Secretaria
foi em frente com o desaio legal, com a ajuda dos advo-
Commemorate
gados locais”, acrescenta Scroggins, um ponto de vista
Foto:
Foto: Cortesia de Marita Davis.
Cortesia de que
conirmado por outras fontes em Topeka. Na verdade,
À esquerda, Walter White, vice-
president executivo da naacp; à Burnett – com a ajuda da secretária da NAACP Lu-
direita, mcKinley burnett, presi-r cinda Todd e os advogados Charles Scott, John Scott,
dente da seção da naacp de to- Elisha Scott e Charles Bledsoe – desenvolveram uma
pekano início da década de 50. estratégia para ganhar a causa.
Burnett morreu em 1970. Seu ilho, Marcus, que tinha 13 anos na época do
processo inicial e que ainda mora em Topeka, diz que desaiar a segregação “foi
uma luta à qual meu pai se dedicou por toda a sua vida”. Ele era um trabalhador
comum que acreditava que a segregação poderia ser abolida por meio dos tribunais.
O tempo inteiro ele estava convencido de que venceríamos. “A irmã de Marcus
Burnett, Marita Davis, que atualmente mora em Kansas City, Kansas”, concorda.
“Meu pai estava sempre lutando pelos seus direitos”, ela diz. “Eu me lembro de
que, até mesmo quando eu era bem pequena, ele estava sempre escrevendo cartas
e organizando reuniões. A luta contra a segregação nas escolas se tornou uma coisa
muito importante para ele”.
AUTORES
De acordo com algumas fontes em Topeka, Oliver Brown tinha uma posição de
liderança entre os autores, principalmente porque ele era o único homem do grupo.
Mas Charles Scott Jr., ilho do principal advogado local, diz que Oliver Brown “se
tornou o líder entre os autores porque o seu nome era o primeiro, por ordem alfa-
bética. O caso foi levado em frente por meu pai e por outros advogados locais, em
colaboração com o Sr. Brunett e a NAACP”.
Linda Brown hompson, que atualmente tem 55 anos e ainda mora em To-
peka, reluta em falar sobre a sua experiência e sobre o papel do seu pai ao desaiar
o sistema, em parte porque ela acha que a mídia concentrou suas atenções em
demasia na sua pessoa, ignorando os outros 12 autores da ação em Topeka. Sua
irmã, Cheryl Brown Henderson, diretora-executiva da Fundação Brown para a
Igualdade, Excelência e Pesquisa na Educação [Brown Foundation for Educational
FGV DIREITO 20
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
Equity, Excellence and Research], concorda com a avaliação de Charles Scott Jr.
“Temos muito orgulho do que nosso pai fez”, Henderson diz. “Mas é importante
que o caso Brown não seja simpliicado demais – não devemos esquecer os advo-
gados, os outros autores em Topeka e os autores nos outros estados, que acabaram
sendo incluídos no caso Brown”.
Zelma Henderson e Vivian Scales, duas pessoas que fazem parte do grupo de
autores de Topeka, e que ainda moram na cidade, eram jovens mães no início da
década de 50. As duas mulheres estavam ansiosas para entrar no caso. E as duas são
muito gratas a McKinley Burnett e aos advogados locais, dizendo que foi a liderança
dessas pessoas que tornou possível a luta pela integração.
"Eu
“Eu tinha que levar meus dois ilhos de carro até o
outro
outro lado da cidade, passando por duas escolas só para
para
brancos, até uma escola só para negros”, diz Henderson.
“Meus ilhos sempre tiveram orgulho do papel que tive-
Henderson.
mos
papelna história”, ela continua. “Donald Andrew ainda
está aqui em Topeka. Ele tem 55 anos. Mas minha ilha,
A
Vicki Ann, morreu de câncer em 1984.”
Mas
Scales também diz que tinha que levar sua ilha, Ruth Ann à escola, “passando
por uma escola só para brancos que icava bem em frente à nossa casa. Minha ilha,
que ainda mora aqui e está com 57 anos, se sente muito bem devido ao que acon-
teceu. Eu acho que izemos uma coisa muito importante”.
A PRIMEIRA DECISÃO
O dia de Burnett e dos autores no tribunal em Topeka foi o dia 28 de fevereiro
de 1951. Eles compareceram ao Tribunal Federal de Primeira Instância da Circuns-
crição de Kansas [U.S. District Court for the District of Kansas]. Raymond Carter,
que atualmente é juiz federal em Nova York, era, na época, advogado do Fundo de
Defesa Legal da NAACP [NAACP Legal Defense Fund]. Com a ajuda dos outros
advogados locais, ele apresentou o caso e solicitou a emissão de um mandado judi-
cial que proibisse a segregação nas escolas primárias públicas de Topeka.
Os juízes se mostraram favoráveis à causa dos autores, dizendo, na sua decisão:
“A segregação de crianças brancas e negras nas escolas públicas é prejudicial para as
crianças negras”. Mas no inal a decisão dos juízes foi contra os autores porque a
Suprema Corte havia decretado, em uma decisão de 1896 – no caso Plessy contra
Ferguson – que sistemas escolares “separados porém iguais” para negros e brancos
eram, na verdade, constitucionais, e essa decisão não havia sido anulada. Portanto,
o tribunal de Kansas se sentiu forçado a tomar uma decisão a favor da Secretaria de
Educação de Kansas e contra os autores, por causa do episódio de Plessy.
“De certa forma, meu pai, os outros advogados locais e o Sr. Burnett não icaram
decepcionados”, diz Charles Scott Jr. “Eles sabiam que a única forma de derrubar a
segregação no país inteiro e não apenas em Topeka, era perder a causa e em seguida
entrar com um recurso na Suprema Corte”.
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EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
FGV DIREITO 22
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
DEPOIS DA DECISÃO
A Secretaria de Educação de Topeka não esperou a ordem da Corte para unir as suas
escolas primárias negras e brancas. Antes do caso Brown, a lei de Kansas havia previsto
a segregação das escolas primárias das comunidades com população superior a 15.000
pessoas. As escolas de nível médio (equivalentes às sétima e oitava séries do primeiro
grau, e às três séries do segundo grau, no Brasil) nunca havia sido segregadas.
Mas em grande parte da nação, a tarefa seria mais difícil. Este é um dos motivos
pelos quais a Suprema Corte, em um ato posterior, menos conhecido, emitiu, em
1955, uma decisão judicial, determinando “um início imediato e razoável das pro-
vidências para a total conformidade” e a implementação da integração das escolas
“com a devida rapidez”.
Mesmo assim, houve muita resistência e a disposição das autoridades do poder
executivo de usar a força para implementar a decisão da Corte se fez necessária em
alguns lugares. O caso mais famoso ocorreu em 1957, quando o presidente Dwight
Eisenhower enviou tropas federais a Little Rock, Arkansas, depois que o governador
do estado desobedeceu uma ordem de um tribunal federal para integrar as escolas
locais – a primeira vez em que tropas federais entravam em um estado do sul para
proteger os negros desde os primeiros anos após a Guerra Civil.
Em outras partes do sul do país, a situação variava de lugar para lugar. Na maio-
ria dos lugares, a abolição da segregação ocorreu sem problemas, embora nem sem-
pre com rapidez. No ano letivo 1956-1957, “o im da segregação, afetando 300.000
crianças negras, estava em andamento em 723 distritos escolares”, de acordo com
David Godield, que conta em detalhes a história do im da segregação em Black,
White and Southern [tradução livre: Negros, Brancos e Sulistas].
Por outro lado, diz Goldield, os legisladores promulgaram 45 leis “com o ob-
jetivo de contornar a determinação da Suprema Corte” e até 1960, “menos de um
por cento dos estudantes do sul do país estavam freqüentando escolas integradas”.
O andamento do processo foi muito mais rápido em Topeka e no meio-oeste, de
modo geral; o sul inalmente recuperou o atraso no inal da década de 60 e início
da década de 70. Embora a luta contra a segregação sancionada pelas leis tenha sido
vencida há muito tempo, os tribunais federais, atualmente, ainda estão lidando
com questões referentes à segregação nos distritos escolares, que são o resultado das
tendências na escolha de áreas residenciais.
FGV DIREITO 23
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
FGV DIREITO 24
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
uma alegria enorme. Pensei, naquele momento, e penso, agora, que izemos a coisa
certa”. Vivian Scales acrescenta, “Isso aconteceu há muito tempo, mas é uma coisa
que você nunca esquece, que ica com você para sempre”.
FGV DIREITO 25
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
NOTA AO ALUNO
tema da aUla
ObjetivOs da aUla
FGV DIREITO 26
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
sua acusação em praça pública e, no dia seguinte, para ele mesmo fazer sua defesa,
demonstrando com isso a superioridade da palavra em relação a qualquer conceito
convencionado.
FoiPrepare-se para o debate, meditando sobre a seguinte frase do
soista Protágoras de Abdera:
de
TODAS
“O HOMEM É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS”
o
Até que ponto o homem pode instituir suas próprias verdades?
indivíduo
Agora, observe atentamente o quadro de Salvador Dali:
de
é, uma verdade pode
e o direito?
E
Acreditar na linguagem como campo próprio da verdade signiica
c
eadmitir que as verdades jurídicas não decorrem de planos metafísicos
bibliOGrafia
Obrigatória
FGV DIREITO 27
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
complementar
BARKER, Ernest. Teoria política grega. Brasília: EdUnB, 1978. (Capítulo IV. A
Teoria Política dos Soistas)
FGV DIREITO 28
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
NOTA AO ALUNO
tema da aUla
ObjetivOs da aUla
FGV DIREITO 29
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
e o direito?
bibliOGrafia
DESCOBERTA
Obrigatória
complementar
BARKER, Ernest. Teoria política grega. Brasília: EdUnB, 1978. (Capítulo V. Só-
crates e os Socráticos Menores)
FGV DIREITO 30
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
NOTA AO ALUNO
tema da aUla
ObjetivOs da aUla
Introduzir o debate acerca da verdade como resultado de uma razão inata a partir
do subjetivismo cartesiano.
raCionalismo empirismo
Fundamentado numa razão inata Fundamentado na percepção dos sentidos
Opera dedutivamente Opera indutivamente
Alcança o mundo externo por meio de uma
Alcança o mundo externo por meio de uma
experiência possibilitada pela percepção
inferência (representação) lógica
sensível e por uma operação mental
FGV DIREITO 31
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
“
“Mas não temerei dizer que penso ter tido muita felicidade
me
de me haver encontrado, desde a juventude, em certos cami-
nhos
que que me conduziram a considerações e máximas, de que
formei um método, pelo qual me parece que eu tenha meio de
form
aumentar gradualmente meu conhecimento, e de alçá-lo, pouco
aau
pouco, ao mais alto ponto a que a mediocridade de meu espí-
rito e a curta duração de minha vida lhe permitam atingir.”1
pouco
meu espírito e a curta du
Este parágrafo, registrado no início do Discurso do Método, sintetiza a perspectiva
cartesiana no pensamento moderno. Descartes cria um tipo de construtivismo ali-
cerçado sobre duas tarefas básicas: destruir toda forma de conhecimento que haja,
ao menos, uma boa razão para não se acreditar; reconstruir um novo e seguro tipo
de conhecimento que não se encontre motivo fundamentado para não acreditar
nele. Pode-se dizer que Descartes, como o inaugurador da moderna escola raciona-
lista ou idealista, teve os mesmo ideais de pessoas em perspectiva oposta, como Ba-
con, por exemplo. Também inluenciado pelas técnicas e pela matemática, procura
lançar as bases de uma nova fundamentação para a própria verdade, através de um
tipo de conhecimento seguro e verdadeiro (ciência) que pudesse desvendar as forças
e as leis próprias da natureza para que o homem a controlasse deinitivamente. É
isso que torna a perspectiva cartesiana construtivista, pois não está interessado em,
apenas, destruir o tradicional conhecimento sobre o mundo, mas sim em recolocá-
lo sobre bases supostamente mais seguras:
“Não que imitasse, para tanto, os céticos, que duvidam apenas por duvidar e
afetam por sempre irresolutos: pois ao contrário, todo o meu intuito tendia tão
somente a me certiicar e remover a terra movediça e a areia, para encontrar a rocha
ou a argila.”2
FGV DIREITO 32
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
isso mesmo, superiores àquelas idéias que derivam dos sentidos (adventícias) ou
àquelas que são fabricadas pela imaginação (fictícias). As idéias inatas são racionais
e existem porque nascemos com elas, o que signiica dizer que a razão, como facul-
dade inata, é o único lugar possível para as “idéias claras e distintas”, para o verda-
deiro conhecimento. Essa é a grande descoberta do “penso, logo existo” – cogito,
ergo sum – que veriica que a certeza do conhecimento não vem do objeto exterior,
mas reside no próprio cogito como evidência apodíctica, irrefutável:
“Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar que tudo
era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, no-
tando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão irme e tão certa que todas as
mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalar, julguei que
podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da ilosoia que procura-
va.”4
Por isso, somente a razão conduzida logicamente, tendo o cogito como paradig-
ma metodológico, poderá decifrar todos os códigos do mundo, e o conhecimento
apenas dela pode advir. Conforme se infere da leitura do Discurso do Método, Des-
cartes, na busca do conhecimento verdadeiro, toma a realidade à sua volta e se pro-
põe a dúvida como método, ou seja, duvidar de tudo aquilo que se tenha ao menos
uma razão para duvidar. Através da dúvida metódica ele comprova a falsidade de
todo tipo de conhecimento sensível e chega à verdade absoluta do cogito, onde a
razão distingue as idéias inatas e faz delas representações seguras e verdadeiras que
deduzem o mundo, conhecido com exatidão geométrica, “cientiicamente”.
Para o racionalismo cartesiano, a razão é a natureza perfeita existente num ser
imperfeito por força da ação de um Ser perfeito: Deus. Embora Deus seja a causa
operativa última, mais importante é a razão perfeita, “deusa razão”,que universaliza
o conhecimento e torna acessível a verdade tão necessária ao homem e que jamais
seria conhecida se estivesse fora dele. Portanto, é o nosso espírito que possui a razão
e a verdade e não o mundo externo e é justamente por isso que pode ser conhecida
com segurança. O modelo epistemológico das ciências é o matemático, fundado
em critérios internos e abstrações, onde o raciocínio lógico é o mestre que conduz o
pensamento e evita as contradições e vacilações. Descartes adota, para o alcance da
verdade via ciência, quatro preceitos da lógica:
“O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não
conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação
e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e
tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em
dúvida. O segundo, o de dividir cada uma das diiculdades que eu examinasse em
tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resol-
vê-las. O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos
objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por
degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem 4
Idem.
FGV DIREITO 33
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
entre os que não se procedem naturalmente uns aos outros. E o último, o de fazer
em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tivesse certeza
de nada omitir.”5
Como visto, tal método pode ser associado ao procedimento matemático para
solução de uma equação. Mas é na base desta razão calculadora que Descartes pensa
ter descoberto o novo portal de acesso ao conhecimento verdadeiro. Inaugura-se o
moderno princípio epistemológico da razão suficiente, que domina e controla o
mundo transformando os fenômenos naturais e/ou sociais em fórmulas e abstra-
ções. Diferentemente do indutivismo dos empiristas, Descartes abre o caminho do
dedutivismo racionalista moderno.
e o direito?
E
c
Acreditar na verdade como representação racional do mundo a
epartir de uma razão inata implica admitir que também é o direito
bibliOGrafia
DESCOBERTA
Obrigatória
REALE, Miguel. Filosofia do direito. São Paulo: Saraiva, 1996. (Parte I – Capítulo
VIII. Do Conhecimento Quanto a Origem).
complementar
5
DEsCaRTEs, René. Ob. cit., pp.
37-38.
FGV DIREITO 34
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
NOTA AO ALUNO
tema da aUla
ObjetivOs da aUla
Dessa maneira, John Locke inicia seu Tratado sobre o Entendimento Humano e
também sua luta contra o inatismo dos racionalistas, que airmavam existir uma
idéia inata nos sujeitos que seria o verdadeiro fundamento para a verdade e o co-
nhecimento, acessível apenas pela razão. É contra isso que Locke se insurge, lutan-
do contra um dogmatismo já manifesto na tradição do pensamento ocidental. Ao
contrário dos racionalistas, Locke, como empirista que era, airmava que os nossos
conhecimentos começam com a experiência dos sentidos. É bastante conhecida sua 6
lOCKE, John. Ensaio Acerca do
Entendimento Humano. são
airmação de que ao nascermos somos como tábulas rasas7, ou seja, como folhas paulo: abril Cultural, 1978, p.
145.
de papel em branco, prontas para serem preenchidas pelas experiências futuras.
7
pequena placa de madeira,
Locke concorda com Descartes na airmação de que o conhecimento é constituído marim ou metal, escavada para
por idéias, mas diverge de que estas idéias sejam inatas no espírito humano. Para conter uma camada de cera, na
qual os romanos escreviam com
Locke, há uma categoria de pessoas que não alcançam o verdadeiro conhecimento um estilo. Cf. TÁBUla. In HO-
lanDa FERREIRa, aurélio Bu-
em função da ausência de um conjunto de vivências suicientemente signiicativas arque (Ed.) Novo Dicionário da
para dar-lhes as idéias necessárias ao conhecimento, tais como crianças e “idiotas”. Língua Portuguesa. [s.l.] nova
Fronteira, 1989.
FGV DIREITO 35
EpIsTEmOlOGIa E mODERnIDaDE
FGV DIREITO 36
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Neste parágrafo, Hume lança as bases da ilosoia que irá associá-lo ao pensa-
mento empirista, inaugurado por Bacon e continuado por Locke, dentre outros.
Contudo, pode-se dizer que o empirismo de Hume é o mais inovador e radical,
colocando-o em posição de destaque dentre os próprios empiristas. Segundo sua
ilosoia, não há conhecimento da realidade que não se inicie com as impressões dos
sentidos. Na verdade, estes são estimulados por dados internos ou externos ao sujei-
to, dando início a um processo psicológico que vai, etapa a etapa, produzindo um
tipo de “verdade” sobre os dados da realidade. Por isso, no parágrafo em epígrafe,
airma que somente a vivacidade do sentimento original é capaz de responder ou
explicar uma dada situação. Nesse sentido, pode-se dizer que Hume compreende a
verdade sobre o entendimento humano (o que Descartes chamaria de cogito) como
a própria vivência imediata do pensar estimulado indutivamente por impressões, ou
seja, não existe consciência mas, apenas, vivências. Numa síntese geral do processo
de conhecimento exposto por Hume na sua Investigação sobre o Entendimento Hu-
mano11, temos que os conhecimentos começam com as sensações (experiência dos
sentidos) estimuladas pelos objetos exteriores. É a reunião das várias e diferentes
sensações que permite perceber um objeto exterior, ou seja, as sensações reunidas
formam a percepção. Na medida em que as percepções vão se repetindo, elas se
combinam, se associam, quer seja porque são semelhantes (semelhança), porque
se repetem no mesmo espaço ou próxima umas das outras (contiguidade espacial)
ou porque se repetem sucessivamente no tempo (sucessão temporal). O fato é que,
com esta repetição, ocorre o hábito da associação das percepções, fazendo com que,
assim, surjam as idéias. Em outras palavras, as idéias correspondem à associação das
percepções trazidas pela experiência sensível, que são levadas à memória, onde a
razão forma os pensamentos. É a experiência que inscreve as idéias em nosso espí-
rito e a razão as arranja (combinando ou separando), formando, desta maneira, os
pensamentos. Assim, Hume airma que a razão nada mais é que o hábito de associar
idéias, seja por semelhança, seja por diferença.
Negando fundamentos abstratos e metafísicos, Hume encerra a Investigação cri-
ticando a idéia do apriorismo como meio de acesso ao conhecimento verdadeiro
dos acontecimentos do mundo real, dos fatos; bem como criticando a resposta da
velha teologia de que um Ente Supremo precisa ter sido a causa de tudo que foi
criado e do que será criado, já que a relação de causalidade depende de uma expe-
riência pessoal não universalizável sobre bases seguras. Assim, a causa corresponde
à imaginação do sujeito afetada por uma determinada experiência dos sentidos.12
Com efeito, para Hume, não pode haver conhecimento pleno e cientiicamente
válido fora do campo meramente conceptual, como é o caso da matemática, já
que em relação aos fatos, não há demonstração possível, na medida em que “tudo
que é pode não ser”13, acusando mesmo de enganação e ilusão qualquer tentativa
de levar o raciocínio das ciências abstratas de quantidade e número para os fatos
concretos. 11
HUmE, David. Ob. Cit., pp.
141-157.
12
HUmE, David. Ob. Cit., p. 204.
13
HUmE, David. Ob. Cit., p. 203.
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e o direito?
E
c Acreditar na verdade como produto de uma experiência empírica
e
implica admitir que também é o direito produto de uma experiência
le
pempírica, fruto, portanto, de um fato fundante. Essa concepção em-
realismo jurídico.
Aqui, deve-se apresentar ao
bibliOGrafia
Obrigatória
REALE, Miguel. Filosofia do direito. São Paulo: Saraiva, 1996. (Parte I – Capítulo
DESCOBERTA
complementar
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NOTA AO ALUNO
tema da aUla
ObjetivOs da aUla
raCionalismo empirismo
Fundamentado numa razão inata Fundamentado na percepção dos sentidos
Opera dedutivamente Opera indutivamente
Alcança o mundo externo por meio de uma
Alcança o mundo externo por meio de uma
experiência possibilitada pela percepção
inferência (representação) lógica
sensível e por uma operação mental
fOrmalismO jUrídicO
Lu
Luiz Alberto Warat apresenta alguns postulados que podem
ser úteis na compreensão do formalismo jurídico. Prepare-se
po
1) A única
1. A única fonte do direito é a Lei;
2. As normas positivas constituem um universo signiicativo auto-suiciente do
qual se pode inferir , por atos de derivação racional, soluções para todos os
tipos de conlitos jurídicos;
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3. Os códigos não deixam nenhum arbítrio ao intérprete. Esse não faz o direito
porque já o encontra realizado;
4. As determinações metajurídicas não têm valor jurídico, devendo-se encon-
trar todas as soluções dentro do próprio sistema jurídico;
5. A linguagem jurídica é formal e, portanto, precisa: possui um unívoco senti-
do dispositivo;
6. O juiz é neutro;
7. A Ciência Jurídica deve estudar, sem formular juízos valorativos, o direito
positivo vigente.
realismO jUrídicO
Novamente Luiz Alberto Warat apresenta alguns postulados que podem ser úteis
na compreensão do realismo jurídico. Continue sua preparação reletindo sobre os
novos postulados:
e o direito?
E
c
e
Quais seriam os principais problemas possíveis resultantes dessas
matrizes epistemológicas?
le
p
lidar com os problemas de insegura
bibliOGrafia
Obrigatória
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complementar
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NOTA AO ALUNO
tema da aUla
ObjetivOs da aUla
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“Em todos os seus empreendimentos a razão tem que se submeter à crítica, e não
pode limitar a liberdade da mesma por uma proibição sem que isto a prejudique
e lhe acarrete uma suspeita desvantajosa. No que tange à sua utilidade, nada é tão
importante nem tão sagrado que lhe seja permitido esquivar-se a esta inspeção atenta
e examinadora que desconhece qualquer respeito pela pessoa. Sobre esta liberdade
repousa até a existência da razão; o veredicto desta última, longe de possuir uma
autoridade ditatorial, consiste sempre em nada mais do que no consenso de cidadãos
livres dos quais cada um tem que poder externar, sem constrangimento algum, suas
objeções e até seu veto.”14
“Até agora se supôs que todo o nosso conhecimento tinha que se regular pelos
objetos; porém todas as tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori so-
bre os mesmos, através do que ampliaria o nosso conhecimento, fracassaram sob esta
pressuposição. Por isso tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas tarefas
da Metafísica admitindo que os objetos têm que se regular pelo nosso conhecimento,
o que concorda melhor com a requerida possibilidade de um conhecimento a priori
dos objetos que se deve estabelecer sobre os mesmos antes de nos serem dados.”16
p. 12.
obstante traça como que todo o seu contorno, tendo em vista tanto os seus limites 17
KanT, Immanuel. Ob. Cit.,
como também toda a sua estrutura interna.”17 Temos, assim, que o conhecimento p. 14.
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abre e fecha, pois, caso contrário, não seria porta. Agora, vejamos o juízo a porta KanT, Immanuel. Ob. Cit., pp.
19
24-26.
está aberta. Esta proposição realmente acrescenta um dado novo sobre o sujeito que 20
KanT, Immanuel. Ob. Cit.,
não era conhecido anteriormente, fazendo o conhecimento avançar. Contudo, este p. 27.
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conhecimento somente pode ser considerado válido para aquele sujeito especiica-
mente, não podendo se dizer por que esta porta está aberta, que todas as portas do
mundo estão abertas. Dessa forma, o juízo porta abre e fecha é analítico, tal qual o
juízo o triângulo têm três lados ou todos os corpos são extensos; já o juízo a porta está
aberta é sintético, tal qual todos os corpos se movimentam.
Acontece que, isoladamente, estes conceitos ainda não respondem ao problema
do conhecimento cientíico, pois os juízos sintéticos são empíricos e fazem avançar
o conhecimento, mas não são universais e necessários, não servido, portanto, para
explicar o funcionamento das ciências. Já o conhecimento a priori é universal e ne-
cessário, mas apenas traduz juízos analíticos, onde não se revela nenhuma novidade
sobre o sujeito, de forma que não faz avançar o conhecimento e, também, não serve
para explicar o funcionamento das ciências. A resposta está numa categoria empíri-
ca, onde o predicado não esteja contido no sujeito mas que, ao mesmo tempo, seja
universal e necessária: trata-se do juízo sintético a priori.21 Somente os juízos sintéti-
cos fazem a ciência avançar, na medida em que acrescentam uma informação sobre
o sujeito; contudo, é necessário, para que haja ciência, que a informação não se
restrinja a uma única observação especíica de um fenômeno, mas possa ser tomada
como atributo universal e necessário de dado objeto cognoscível.
Os juízos sintéticos a priori representam o conhecimento cientíico porque são
universais e crescentes, ao mesmo tempo:
p. 28.
Assim descreve Kant: 22
salGaDO, Joaquim Carlos.
A Idéia de Justiça em Kant: seu
fundamento na liberdade e na
“Denominamos sensibilidade a receptividade de nossa mente receber representa- igualdade. Belo Horizonte: Edi-
tora UFmG, 1995, p. 87.
ções na medida em que é afetada de algum modo; em contrapartida, denominamos
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e o direito?
E
c Acreditar na verdade como produto de uma síntese entre enten-
e
dimento e sensibilidade admitir que também o direito é produto
le
pde tal síntese, sendo, pois, constituído concomitantemente por fatos
bibliOGrafia
DESCOBERTA
Obrigatória
REALE, Miguel. Filosofia do direito. São Paulo: Saraiva, 1996. (Parte I. Capítulo
VIII. Do Conhecimento Quanto a Origem).
complementar
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NOTA AO ALUNO
tema da aUla
O positivismo ilosóico.
ObjetivOs da aUla
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outras palavras, se tudo estiver em ordem, haverá o progresso, donde a crença que o
progresso decorre da ordem. Para garantir a ordem que produz progresso, a ciência
– com sua pluralidade de objetos e unidade metodológica – descobre as leis gerais
imutáveis da estática (ordem) e da dinâmica (progresso).30 Segundo o positivismo, é
exatamente isso que ocorre nas sociedades. Por isso a deinição da sociologia como
uma física social que investiga o fenômeno social como um dado objetivo e natural,
chegando às suas leis gerais imutáveis. No lugar da democracia, considerada por
Comte como sendo anarquista, e da aristocracia, considerada por ele reacionária,
propõe uma sociocracia fundada no conhecimento cientíico da sociedade e, por
isso, capaz de conduzir o espírito humano numa trajetória moral evoluída e verda-
deiramente livre. Para tanto, basta compreender que, consoante concepção positi-
vista, toda sociedade é formada por uma estática social e por uma dinâmica social,
sendo a primeira uma condição constante da sociedade que lhe garante a harmonia:
ordem; e sendo a segunda o resultado de suas leis gerais de evolução que lhe garante
o desenvolvimento: progresso. Nesse sentido, para uma boa existência da sociedade
e sua respectiva evolução, bastaria a implantação de um Estado sociocrata interven-
cionista que garantisse o funcionamento dos órgão sociais, assegurando a vitalidade
do organismo e evitando as disfunções socialmente patológicas que pudessem ou
impedir o progresso. Essa acepção positivista, que torna a política dependente da
ciência, também produz a idéia de que a política pode ser vista como uma técnica de
arranjo social, ocultando a questão fundamental das correlações de força e de busca
pelo poder, como se ciência e política fossem neutras, isentas de inluências ideoló-
gicas na busca e na realização de uma “verdade pura”. Michael Lövy explica como as
ciências sociais foram tomadas por este modelo epistemológico, sendo conduzidas
basicamente pelos seguintes princípios: 1) A sociedade é regida por leis naturais,
isto é, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humanas; na vida social,
reina uma harmonia natural; 2) A sociedade pode, portanto, ser epistemologica-
mente assimilada pela natureza e ser estudada pelos mesmos métodos e processos
empregados pelas ciências da natureza; 3) As ciências da sociedade, assim como as
da natureza, devem limitar-se à observação e à explicação causal dos fenômenos,
de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou ideologias, descartando
previamente todas as prenoções ou preconceitos.31 Todos esses aspectos foram, de
tal forma, enraizados na consciência epistemológica moderna que se expandiram
por todas as formas de conhecimento, inclusive pelo direito.
e o direito?
E
c De muitas formas o positivismo inluenciou o direito. Todo o 30
COmTE, augusto. Ob. Cit., p.
e
século XIX ,e a maior parte do século XX, foram hegemonizados por
le
113.
pconceitos positivistas de direito. Isso é o que será aprofundado nas 31
lÖWY, mchael. As Aventuras
aulas seguintes.
lidar com os problemas de insegura de Karl Marx Contra o Barão
de Münchhausen: marxismo e
positivismo na sociologia do co-
Aqui, deve-se apresentar ao nhecimento. são paulo: Cortez,
1994, p. 17.
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sua causa reside não na falta de entendimento, mas na falta de resolução e coragem
para usá-lo sem a condução de um outro. Sapere aude! ‘Tenha coragem de usar seu
próprio entendimento’ – esse é o lema da ilustração.”34
Com o poder da razão, o sujeito passa a ser entendido como aquele que pode
conhecer e controlar a realidade mesma. A razão possibilita o cálculo e o discerni-
mento, tornando o sujeito livre e capaz, tanto no campo da ciência (cálculo) como
no campo da moral (discernimento). É a grande aspiração da autonomia que parece
realizar-se. O sujeito autônomo é capaz de responder por si mesmo e conduzir sua
vontade conforme seus interesses. Surge a igura do “sujeito de direito”, capaz para
exercer direitos e deveres inerentes à sua natureza e posição social. Impulsionada
por esse otimismo cultural, a modernidade começa a alicerçar as fundações de uma
nova ordem. Se num primeiro momento foi caracterizado pelo seu poder revolu-
cionário, neste segundo momento o pensamento moderno pode ser caracterizado
por um profundo conservantismo. Conservar é garantir a ordem, a nova ordem,
tomada como expressão maior das conquistas modernas. Na perspectiva da ordem
moderna, a sociedade é vista como um conjunto de conhecimentos que, uma vez
dominados pelo homem, garantem um caminho previsível e necessário aos acon-
tecimentos. Trata-se de uma espécie de sociedade epistemológica que “naturaliza” a
ordem social, controlando as ações humanas e fazendo com que os fenômenos so-
ciais-históricos sejam analisados como fenômenos naturais. Alain Touraine enfatiza
a dimensão ordenadora da ideologia modernista:
relações
A metafísica da ordem não é apenas a base das
explica políticas ou econômicas mais conhe-
ideologias
cidas,
a mas é o próprio fundamento da sociedade
moderna, estando presente desde as atividades
78
- TOURAINE, Alain. Crítica da Mode cientíicas ou técnicas até os modos de produção
79
- TOURAINE, Alain. Ob. Cit., p. 38. da cultura, difundindo-se por toda a vida social,
80
- As expressões “capitalismo” e “combuscando a idéia mais ampla de uma socieda-
econômica do que política, reservando as
de racional, comandando também a forma de
mais acentuadamente política do que econôm 34
KanT, Emanuel. O que é a
administrar os bens e as relações humanas. No- ilustração in WEFFORT, Francisco
(Org.). Os Clássicos da Política.
vamente, Alain Touraine explica como a razão Vol. 2, são paulo: Ática, 1993,
tornou-se a viga mestra de toda a atividade moderna, fazendo da racionalização o pp. 83-84.
único princípio de organização da vida pessoal e coletiva: “Às vezes, ela (a moder- TOURaInE, alain. Crítica da
35
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e o direito?
E
c Prepare-se para o debate estudando as formas possíveis de asso-
e
ciação
le entre direito e ordem. Leve em consideração a importância da
epistemologia positivista no âmbito da modernidade.
p
lidar com os problemas de insegura
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