Geografia
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Geografia
NO ENSINO EM GEOGRAFIA
RESUMO
O principal objetivo deste texto é analisar a eficácia do trabalho de campo no ensino de
Geografia, dentro da visão de alunos e professoras de Geografia dos 3º anos do Ensino Médio
de uma escola pública de Educação Profissional localizada no sul da Bahia. Como
metodologia da pesquisa, realizamos uma intervenção pedagógica com aulas teóricas sobre a
questão do lixo urbano, fizemos um trabalho de campo no Aterro Sanitário do município e
posteriormente aplicamos um questionário a 50 alunos e entrevistas às duas professoras
participantes da pesquisa. Concluímos que a maioria dos alunos, como também as professoras,
reconhece o trabalho de campo como uma estratégia eficaz de ensino de Geografia, uma vez
que desperta nos alunos um melhor entendimento sobre a complexidade do espaço geográfico,
além de tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes e desconstruir a dicotomia teoria versus
prática.
1 INTRODUÇÃO
*
Licenciado em Geografia. Especialista em Ensino de Geografia pela Universidade Estadual de Santa Cruz
(UESC), Ilhéus-BA. Mestrando em Geografia na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Rua Rotary,
60, Bairro Bela Vista, Teixeira de Freitas, Bahia, CEP 45997-013. E-mail: biogeografia1@gmail.com
**
Licenciada e Bacharel em Geografia. Mestre e Doutora em Geografia. Ensina nos Cursos de Especialização
em Ensino de Geografia e Licenciatura e Bacharelado em Geografia. Professora Adjunta na Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus-BA. Endereço profissional: UESC/DCAA, Rodovia Ilhéus/Itabuna, km
16, Salobrinho, Ilhéus, Bahia, CEP 45662-000. E-mail: jaque@uesc.br
Frente a estas funções é que devemos discutir a forma como esta atividade está sendo
operacionalizada pelos professores. De acordo com Silva (2004), assim como qualquer outra
O objetivo desta questão foi identificar o conhecimento que os alunos têm com relação
ao problema do lixo na cidade e, consequentemente, se conheciam essa realidade.
No primeiro questionamento nos surpreendemos ao constatar que apenas 54 % dos 50
alunos que participaram da pesquisa conheciam o destino do lixo produzido em sua casa, o
que, a nosso ver, demonstra que eles não conhecem a realidade que os cerca. Dentre estes
alunos, 66,6 % disseram que conheciam ou sabiam sobre o destino do lixo de sua casa, devido
a interesses próprios (não explicaram) ou porque conversavam com a família sobre isso. E,
ainda, dos 66,6 % apenas 33,3 % atribuíram este conhecimento ao que lhes foi ensinado na
escola. O restante disse que tinha aprendido com a família.
O objetivo desta questão foi constatar se os alunos conhecem sua cidade, se estudam
seus problemas urbanos/sociais nas aulas de Geografia.
Nesta segunda questão, entre os 50 alunos participantes, 74 % afirmaram saber da
existência do Aterro Sanitário no município. O interessante é que alguns alunos até tinham o
conhecimento sobre a existência do local, mas não sabiam que o mesmo estava ativo ou que
recebia o lixo produzido em suas casas.
Entre os motivos para tal conhecimento, a realização de trabalhos de campo em anos
escolares anteriores foi apontada por 32,4 %, enquanto 29,7 % apontaram as conversas entre
amigos como principal motivo. A maioria (37,8%) dos alunos atribuiu outros motivos a este
conhecimento, tais como respondeu MAR: “Sim, porque minha família já havia comentado”.
Os 26 % que afirmaram não saber da existência de um Aterro Sanitário na cidade
enumeraram, como principais motivos, a falsa informação de que o lixo da cidade seria
despejado em lixões e em terrenos baldios. JES respondeu assim: “Não, até o momento eu só
tinha conhecimento que havia um lixão. Nem mesmo sabia que existia diferença entre aterro
e lixão”.
O trabalho de campo como estratégia no ensino de conteúdos geográficos para os 3º
anos do Ensino Médio proporcionou aos alunos participantes um aprendizado sobre a sua
realidade, unindo o conhecimento teórico (trabalhado nas aulas) sobre a produção do lixo
urbano pela sociedade do consumo, problemas causados por esse lixo, formas de disposição do
lixo urbano, como o Aterro Sanitário, etc., com o conhecimento da realidade local. Portanto, o
trabalho de campo ensinou e demonstrou a esses alunos as relações, funções e sentidos que o
espaço geográfico pode assumir.
O propósito desta questão foi analisar se os alunos gostam de estratégias de ensino não
tradicionais e, por consequência, se gostaram do nosso trabalho de campo.
Sabemos que a Geografia que o aluno estuda deve permitir-lhe que se perceba como
sujeito participante/produtor do espaço geográfico. Este fato se configura como sendo um dos
grandes desafios da disciplina de Geografia, ou seja, torná-la interessante aos olhos dos
alunos. Para isso há a necessidade de que o conteúdo geográfico ensinado tenha a ver com a
realidade vivida pelos alunos e não somente com dados numéricos e informações vagas sobre
realidades distantes (CALLAI, 1999).
Diante disso, conforme demonstra a Figura 1, o trabalho de campo realizado em nossa
pesquisa se comprovou como uma excelente estratégia de ensino, pois 94 % dos alunos
disseram ter gostado.
Apenas 6 % dos alunos afirmaram não ter gostado do trabalho de campo devido ao
mau cheiro que sentiram no Aterro Sanitário. Isso pode ser comprovado na resposta da aluna
RAF: “Não gostei, somente por causa do mau cheiro”.
Reiteramos que a escolha do tema trabalhado com os alunos que participaram da
pesquisa, assim como a escolha do local do trabalho de campo, ocorreu pela necessidade de se
ensinar alguns conteúdos disponibilizados pelas professoras daquelas turmas, como conteúdos
ligados à problemática do consumo e poluições ambientais no mundo.
Esta última questão teve como intuito verificar a eficácia do trabalho de campo, já que
havíamos construído um paralelo entre os conteúdos previamente ensinados/discutidos em
sala, nas aulas teóricas, e a prática exercida pelo trabalho de campo.
Para Suertegaray (2002) o trabalho de campo é um instrumento de análise geográfica
que permite o reconhecimento do objeto, e que fazendo parte de um método de investigação,
permite a inserção do pesquisador nos processos da sociedade como um todo. Tal inserção
leva consigo um grupo de alunos inebriados com os sabores do ensino da ciência geográfica.
Conforme a Figura 3, dentre os alunos participantes da pesquisa, 25 % afirmaram ter
aprendido mais sobre a importância da separação doméstica do lixo e da reciclagem. Já 16 %
disseram que aprenderam sobre a necessidade de reduzir o consumo, provavelmente porque
Figura 3: Respostas dos alunos sobre o que mais aprenderam no trabalho de campo.
Fonte: Pesquisa de campo, junho de 2010. Elaboração: SOUZA, S. O.
Colocamos a resposta da JAC para ilustrar o aprendizado de uma aluna: “Aprendi que
a população ainda não tem uma consciência de que o lixo deve ser inicialmente separado em
casa, para obtermos uma melhor reciclagem, uma melhor divisão. E que temos que reduzir ao
máximo a nossa produção de lixo”.
A primeira questão feita às professoras que participaram da pesquisa foi com relação
aos aspectos favoráveis à utilização do trabalho de campo como uma estratégia pedagógica no
ensino de Geografia. A professora MAR disse: “Sei da importância do concreto, da pessoa
trabalhar saindo da teoria e ir para a prática, o palpável, que a geografia física é uma
geografia palpável. Então, se você faz um trabalho de campo, a aprendizagem fica mais
eficiente, porque você tem certeza daquilo que você está vivendo”.
Esta professora concorda com os teóricos da educação quando discutem que o trabalho
de campo proporciona a construção do concreto, a intercessão entre teoria e prática, a
valorização da vivência comum sendo sistematizada. Tal ideia também está explícita na
resposta da professora ELI: “O trabalho de campo deve proporcionar saudáveis momentos de
aprendizado”.
Fizemos nossa pesquisa sob passos árduos, como todo pesquisador-professor que
aplica suas aulas teóricas, ou seja, faz trabalho de campo na sua práxis pedagógica. Se assim
não o fosse, seria apenas mais um trabalho de cumprimento do dever ou engavetamento do
saber.
É necessário considerar que a disponibilidade e apoio dos sujeitos envolvidos na
pesquisa foram essenciais ao êxito da metodologia empregada, pois além da intervenção
pedagógica aplicamos dois instrumentos de coleta de dados, sem os quais não teríamos
informações para desenvolvermos nossa pesquisa. Nesse sentido, as informações obtidas por
estes instrumentos foram suficientes e válidos para discutirmos o problema proposto. Não
poderíamos deixar de registrar que os alunos, as professoras e os responsáveis pelo Aterro
Sanitário do Município nos encantaram com a sua participação, disponibilidade e interesse em
todo o processo.
Com relação aos resultados da pesquisa, a maioria dos alunos e também as professoras
reconhecem o trabalho de campo como uma estratégia eficaz de ensino de Geografia,
ABSTRACT
The main purpose of this article is to analyze the effectiveness of fieldwork in teaching
geography inside the perspective of students and teachers of Geography of the three grades of
High School a public school of Professional Education located in southern Bahia. As a
research methodology, we conducted an pedagogical intervention with theoretical lessons on
the question of urban waste, did field work in the city sanitary landfill and later applied a
questionnaire to 50 students and 2 interviews to research participants teachers. We conclude
that most students, as well as teachers recognize the field work as an effective strategy for
teaching geography, as it awakens in students a better understanding of the complexity of
geographical space, and make lessons more dynamic and interesting and deconstruct the
dichotomy of theory versus practice.
LACOSTE, Y. A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Tradução
de Maria Cecília França. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1989.