Alto Xingu p3-38 Franchetto
Alto Xingu p3-38 Franchetto
Alto Xingu p3-38 Franchetto
http://etnolinguistica.org/xingu
Alto Xingu
uma sociedade multilíngue
organizadora
Bruna Franchetto
Rio de Janeiro
Museu do Índio - Funai
2011
coordenação editorial, edição e diagramação
André Aranha
revisão
Bruna Franchetto
capa
Yan Molinos
imagem da capa
Desenho tradicional kuikuro
Vários autores.
ISBN 978-85-85986-34-6
11-02880 CDD-306.44
www.ppgasmuseu.etc.br/publicacoes/altoxingu.html
Bruna Franchetto
UFRJ, CNPq
Introdução
Este livro reúne a versão revisada e atualizada da maioria dos
trabalhos apresentados em workshop realizado de 17 a 22 de março
de 2008 no Museu Nacional-UFRJ, no Rio de Janeiro, contendo os
resultados do Projeto ‘Evidências linguísticas para o entendimento de uma
sociedade multilíngue: o Alto Xingu’ apresentado para o Edital Universal
2006 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico/CNPq.
Apresentamos aqui resultados não conclusivos, mas já suficientes
para lançar as bases de uma nova visão comparativa e global do sistema
nativo regional multilíngue e multiétnico conhecido como Alto Xingu1,
objeto privilegiado, há mais de um século, das atenções dos que procu-
raram entender a história indígena, antes e depois da Conquista.
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O Alto Xingu é uma área de transição entre a savana e a floresta densa amazônica, localizada ao
norte do altiplano central brasileiro e os limites meridionais da bacia amazônica. A região apre-
senta características ecológicas únicas.
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evidências linguísticas para o entendimento de uma sociedade multilíngue
1. A questão
Os primeiros resultados da pesquisa interdisciplinar entre os Kuikuro
do Alto Xingu, integrando linguística, etnologia e arqueologia come-
çam a clarear o processo pelo qual povos falantes de línguas perten-
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evidências linguísticas para o entendimento de uma sociedade multilíngue
do Alto Xingu foram povos arawak que migraram para o norte e para o
sul a partir da Amazônia central (cerca de 3000 anos atrás), para então
chegar à Amazônia meridional e se dispersar num eixo leste-oeste, das
planícies da Bolívia ao Alto Xingu. Os povos arawak, conhecidos histo-
ricamente e etnograficamente, além de pertencerem a uma mesma fa-
mília linguística, apresentam elementos culturais recorrentes (Schmidt,
1917; Heckenberger 2002): hierarquia, espaços político-rituais defini-
dos, participação em sistemas regionais pluriétnicos e multilíngues, re-
des extensas de troca, sedentarismo e práticas agrícolas elaboradas.
Esta hipótese supõe que haja uma associação estreita entre um de-
terminado agrupamento (genético) línguístico e um ‘tipo cultural’, assim
como uma gramática cultural perpetuada através de séculos. Tal hipóte-
se demanda, contudo, uma boa dose de precaução analítica e necessita
ser avaliada a partir de novos dados e de uma investigação interdiscipli-
nar aprofundada. Seja como for, a população alto-xinguana colonizadora
chegou à região com uma gramática cultural estabelecida: aldeias circu-
lares com a sua ‘praça’, seu centro político-ritual. Ela cresceu até mea-
dos do século XIII e, por volta de 1250, tinha alcançado proporções im-
pressionantes superando de muito os limites habitualmente atribuídos às
sociedades indígenas das terras baixas. O período de ‘boom’ demográ-
fico e cultural durou até meados do século XVII, com aldeias dez vezes
maiores do que as atuais, caracterizadas por estruturas defensivas, como
revelam as escavações de 12 sítios, até o momento. Os sítios ‘pré-históri-
cos’ (complexos formados por aldeias principais e aldeias satélites) eram
conectados por amplos caminhos, indicando uma densa interação social
(Heckenberger et al 2003, 2008). A presença de pontes, barragens, ca-
nais, assim como uma transformação significativa da cobertura vegetal,
revelam um sistema complexo e uma ocupação e exploração do territó-
rio surpreendentemente profunda e extensa. Essa escala ‘monumental’ se
deve não tanto a demandas econômicas, mas, sobretudo, indica uma fun-
ção político-ritual: prestígio (em competição) das aldeias e de seus chefes.
Quem conhece o Alto Xingu reconhece aqui a razão de ser do sistema
atual, embora em menor escala.
Em meados do século XVII, o sistema alto-xinguano entra em co-
lapso por causa dos efeitos diretos e indiretos da Conquista. As grandes
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Novas pesquisas etnográficas no Alto Xingu estão acrescentando dados e análises, tornando
ainda mais complexo o quadro e contribuindo para um debate em torno do modelo proposto por
Heckenberger. Em 2010, Marina Vanzolini defendeu tese de doutorado no PPGAS/Museu Na-
cional/UFRJ intitulada ‘A flecha do ciúme: o parentesco e seu avesso segundo os Aweti do Alto
Xingu’; João Veridiano Franco Neto concluiu a dissertação de mestrado em antropologia ‘Xama-
nismo Kalapalo e assistência médica no Alto Xingu: estudo etnográfico das práticas curativas’, na
UNICAMP; Antonio Guerreiro Junior desenvolve projeto de doutorado na UnB sobre chefia e
estética política a partir de uma etnografia do Kwaryp entre os Kalapalo.
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Ver as narrativas kalapalo sobre os Yaruma ou Jaguma em Basso (1995); há ainda descendentes
de cativos Yarumá entre os Suyá, povo jê que vive na Terra Indígena do Alto Xingu, ao leste do
Posto Diauarum (Patrick Menget, comunicação pessoal).
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Yukpa
39 Tiriyó
34 55 Hixkaryana
36 56 48 Makuxi
32 50 45 48 Panare
32 44 37 44 39 Bakairi
26 46 37 41 39 51 Ikpeng
30 42 36 40 41 44 45 Kuikuro
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4.2. Encontros linguísticos
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de artigo anterior (Seki, 1999). Sua hipótese de que o Alto Xingu seria
uma ‘área linguística incipiente’ é fundamentada e instigante e precisa
ser retomada e avaliada à luz dos dados de novas pesquisas, sobretu-
do no que concerne a influência arawak. O trabalho de Seki é um dos
raríssimos estudos comparativos que possam dialogar com a etnologia
e a arqueologia. Como vimos, alguns avanços foram possíveis graças à
experiência multidisciplinar do Projeto DOBES de documentação da
língua Kuikuro (KKDP). Por isso, só podemos avançar algumas ideias
e alguns resultados a partir do KKDP, abrindo o leque de possibilida-
des que o Projeto se propus a explorar.
A reconstrução do passado alto-xinguano e a etnografia do pre-
sente pressupõem dois processos opostos no que diz respeito à relação
entre língua(s) e cultura(s). De um lado, pressupõe um sistema extre-
mamente estável entre um modelo cultural específico e uma população
linguisticamente diferenciada (os Arawak). Por outro lado, pressupõe
uma considerável plasticidade dessa mesma relação quando se che-
ga aos grupos tupi e karib. Como explicar isso? Se a hipótese é corre-
ta, porque os Arawak teriam retido um modelo cultural desenvolvido
3.000 anos atrás na Amazônia Central, enquanto Karib e Tupi teriam
sido moldados por este mesmo modelo, abandonando suas característi-
cas singulares com exceção da língua?
Esta pergunta poderia ser respondida se estivéssemos diante de
uma expansão ‘imperial’, mas não é este o caso. Conflitos belicosos pon-
tuaram a história das relações entre os povos alto-xinguanos. Ao invés da
“predação familiarizante”, uma expressão de autoria de Carlos Fausto (1999,
2001), em sua análise da guerra e do xamanismo na Amazônia, a estra-
tégia no Alto Xingu foi a produção de relações cada vez mais cordiais,
construindo uma identidade mais forte do que o conjunto das diferenças,
através de trocas, festas, visitas, casamentos. A arte do envolvimento alto-
xinguana é uma mistura de diplomacia e manipulação que acaba domesti-
cando o outro. É um jogo de poder não centralizado, difuso e reticular.
A construção do complexo alto-xinguano, que começou no final
do primeiro milênio e continua até hoje, mostra que, apesar da Con-
quista, permaneceu um processo histórico dinâmico de transformação e
adaptação, de contatos e mudanças.
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A versão arqueológica desta história coincide apenas parcialmente com as narrativas lo-
cais. Como foi dito, o núcleo inicial parece ter sido uma população falante de ‘Arawak’ ho-
mogênea. Os falantes ‘karib’ teriam chegado depois, talvez entre os séculos XVI e XVII.
Heckenberger localizou pequenos aldeamentos não fortificados próximo do lago Tahununu
(extremo leste do território kuikuro) com estruturas circulares (2005:103-112). A semelhan-
ça formal destas estruturas com as casas coletivas dos povos karib da região guianesa (e o
fato de que os Kuikuro consideram Tahununu como seu território original) sugere que estas
pequenas aldeias, compostas de uma única casa multifamiliar circular, poderiam ter sido de
fato erguidas pelos antepassados dos Kuikuro, Kalapalo, Matipu e Nahukwa. Assim, a incor-
poração dos Karib teria se dado depois ou durante o colapso do sistema das grandes aldeias
fortificadas, deslanchando a formação do sistema pluriétnico e multilíngue alto-xinguano.
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Na língua Karib alto-xinguana, os povos ‘autóctones’ são chamados de kuge, distintos de
ngikogo (‘não-xinguanos’) e kagaiha (‘não-índios’). A palavra kuge é, possivelmente, uma forma
contraída do pronome livre kukuge, ‘nós’ inclusivo. Kukuge é formado pelo proclítico de 1a
pessoa inclusiva ku(k)- e o pronome livre uge, 1a pessoa singular, ambos com cognatos em
outras línguas Karib. Em Bakairi, outra língua Karib meridional, falada por grupos que par-
ticiparam do sistema alto-xinguano, kurâ é tanto a forma livre de 1a pessoa inclusiva plural e
sua auto-denominação. Nas línguas Arawak alto-xinguanas, esses povos ‘originais’ são chama-
dos de putaka, ‘povo de aldeia’, um termo oposto a muteitsi (Ireland 2001:257). Em Kamayurá
e Aweti, línguas Tupi, os povos ‘originais’ são chamados de hawa’yp (em oposição a kawa’yp)
(Bastos 1977:58) e mo’at (em oposicão a waraju) respectivamente, enquanto em Trumai são
chamados de yaw (em oposição a adis).
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Novas pesquisas aprofundam a descrição de rituais, como a dissertação de Isabel Penoni so-
bre o Hagaka kuikuro, ritual mais conhecido como Javari (termo tupi), defendida no PPGAS/
MN/UFRJ em 2010. Novas pesquisas etno-musicólogicas serão cruciais, como a de Tommaso
Montagnani e de Didier Demolin para gêneros de música instrumental e vocal Kuikuro e a de
João Carlos Albuquerque Souza de Almeida entre os Yawalapiti (MUSA/UFSC).
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Ikongo, em Kuikuro, resulta de processos morfofonológico a partir de i-ake-ngo (3-COM-
NMLZ) > ike-ngo > ikongo. COM glosa a posposição comitativa ake; -ngo é sufixo derivacional,
que forma nome de advérbios e sintagmas posposicionais.
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Egitsü Karib/
Memória de Vocal
Kwaryp auguhi igisü Arawak/
chefes mortos Masculino
Intertribal Tupi
Vocal
ahogi igisü
Masculino
atanga igisü
Instrumental
Flautas uruá
Tiponhü
Vocal Arawak/
furo da orelha tiponhü igisü
Masculino Karib
Intertribal
Homenagem a um
Hagaka
chefe, um especialista Vocal
Javari Hagaka igisü Tupi
ritual, um mestre Masculino
Intertribal
do arco, falecidos
Cantos Vocal
Karib
jocosos Feminino
Tolo
cantos femininos Amor e saudade
correspondentes cantos femininos Vocal
Tolo igisü Karib
às músicas jacuí correspondentes Feminino
Intratribal com festa às músicas kagutu
final intertribal
Nduhe
Arawak/
Tawarawanã
Karib
Intratribal
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Vocal
Hugoko Arawak
Masculino
Kuaku igisü
Vocal
canto do Arawak
Masculino
papagaio
Takwaga
Instrumental
Intratribal com festa
Masculino
final intertribal
Kagutu igisü
Kagutu Cantos das Instrumental
flautas Jacuí flautas/ espí- Masculino
ritos kagutu
Vocal
Jokoko
Masculino
Pagapaga Vocal
Karib
‘sapo’ Masculino
Hugagü
Vocal Arawak/
festa do beija-flor Estação do pequi Kuaku kuegü
Masculino Karib
Intratribal
Vocal
Tsitsi Arawak
Masculino
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Aga
Vocal
tipo de máscara Tupi
Masculino
Intratribal
Tahaku Vocal
Tupi
‘arco’ Masculino
Jakui katu
Vocal Arawak/
Tipo de máscara
Masculino Karib
Intratribal
Kuigi igisü
Vocal Arawak/
‘cantos da mandioca’
Masculino Karib
Intratribal
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A dissertação de Mutuá Mehinaku, filho de mãe kuikuro e pai mehinaku, a ser defendida em de-
zembro de 2010 no PPGAS-MN-UFRJ, será certamente uma contribuição decisiva para a discus-
são da ‘mistura’ linguística no Alto Xingu, já que seu objeto é o encontro entre línguas e dialetos
na gênese e não presente desse sistema.
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ram, a fala dos Kuikuro se tornou reta (titage), enquanto a fala dos
Matipu ‘caiu’ (isamakilü). Por outro lado, o dialeto Karib falado pelos
Kalapalo e pelos Nahukwa é descrito como sendo falado ‘em curvas’
(tühenkgegiho) ou ‘no fundo’ (inhukilüi) (Franchetto 1986). Observe-se
a sensibilidade metalinguística às diferenças prosódicas entre as va-
riantes Karib alto-xinguanas. Contudo, tais diferenças rítmicas não
impedem que os grupos karib se vejam, um ao outro, como otohon-
go (outro igual), falantes de variantes de uma mesma língua. Para
os Kuikuro, telo (‘outro diferente’) são os que falam línguas geneti-
camente distintas, Arawak ou Tupi (Franchetto 1986).9 Neste livro,
Romling, Franchetto e Colamarco apresentam um estudo em foné-
tica experimental que procura ‘traduzir’ as diferenças dialetais Karib
alto-xinguanas, rotuladas e comentadas pelos seus falantes, nos pa-
râmetros acústicos e perceptivos relevantes, descobrindo uma dis-
tinção rítmica ‘dramática’ que resulta de padrões de distintas inter-
pretações fonológicas de constituintes de uma mesma sintaxe frasal.
Os autores concluem que os rótulos diferenciadores são um jogo de
espelhos, em que cada dialeto é ‘reto’ para seus falantes, como bem
explicou Kaman Nahukwa durante uma oficina realizada na aldeia
matipu de Ngahünga em fim de outubro de 2009 (ver nota 9):
Kitaginhu ügühütu
Matipu, Kalapalo, Nahukwa kingalü Kuikuro akisü heke, iheigü (ihotagü).
Üleatehe titsilü itaginhuko heke: iheigü (ihotagü), tühenkgegihongo. Inke tsapa
tandümponhonkoki ugupongompeinhe küntelü, anha inhügü gehale tükenkgegiko,
nügü hungu igei.
Sagage gehale Kuikuroko heke tisitaginhu tangalü, iheigü gehale, tühenkgegiko gehale.
Inhalü gitage ínhani anümi.
Sagage gehale titsilü ihekeni, inhalü gitage itaginhuko anümi.
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Um maior conhecimento da diversidade dialetal karib em sua gênese histórica e em sua rea-
lidade atual será a contribuição de dois projetos em andamento em 2010. O primeiro é o pro-
jeto ‘Levantamento Sócio-Linguístico e Documentação da Língua e das Tradições Culturais
das Comunidades Indígenas Nahukwa e Matipu do Alto Xingu, financiado pelo Fundo de
Direitos Difusos da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, desenvolvido
de abril 2009 a junho 2010, sob a coordenação de Bruna Franchetto e executado no Museu
Nacional/UFRJ. O segundo projeto está sendo desenvolvido por Gélsama Mara Ferreira dos
Santos, pós-doutoranda com bolsa CNPq.
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Sobre línguas
Matipu, Kalapalo, Nahukwa falam da relação deles com a língua Kuikuro:
iheigü (ihotagü).
Por isso falamos que a língua deles é iheigü (ihotagü), tühenkgegikongo.
Significa como se estivesse descendo de um morro ou como quando tem
curvas no caminho.
Da mesma forma os Kuikuro escutam a nossa fala: iheigüi, tühenkgegiko
também. Eles ouvem diferente do que a língua deles.
Nós também falamos e escutamos as falas deles diferente do que a nossa
língua (principalmente a música da língua).
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5. Pesquisadores e autores
Do Projeto ‘Evidências linguísticas para o entendimento de uma socie-
dade multilíngue: o Alto Xingu’ participaram os seguintes pesquisadores,
muitos dos quais contribuíram para este livro:
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6. Colaboradores
Michael J. Heckenberger: professor da Universidade da Flórida (EUA);
etno-arqueólogo, conduz pesquisas em arqueologia pré-histórica e histó-
rica no território kuikuro desde 1992; pesquisador principal do Projeto
“Southern Amazonia Ethnoarchaeological Project” (com o MN/UFRJ e
o Museu Goeldi, National Science Foudation 2004-2005).
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Referências Bibliográficas
Esta bibliografia não pretende ser exaustiva no que concerne a litera-
tura existente sobre o Alto Xingu, seja ela linguística ou etnográfica.
Aqui estão não apenas os títulos e autores citados no presente capí-
tulo, como também os incluídos no Projeto CNPq ‘Evidências lin-
guísticas para o entendimento de uma sociedade multilíngue: o Alto
Xingu’, com algumas atualizações.
BALL, Christopher G. 2007. Out of the Park: Trajectories of Wauja
(Xingu Arawak) Language and Culture. PhD Diss., University of Chicago.
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27
evidências linguísticas para o entendimento de uma sociedade multilíngue
______. 2008. Tense, aspect and mood in Awetí verb paradigms: analytic
and synthetic forms. In: D. K. Harrison, D. Rood e A. Dwyer (ed.).
Lessons from Documented Endangered Languages. Amsterdam, Philadelphia:
Benjamins Publishing Company (67-110).
FAUSTO, Carlos. 1999. “Of Enemies and Pets: Warfare and Shamanism
in Amazonia”. American Ethnologist 26(4) (933-956).
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______. 1997. Tolo Kuikúro: Diga cantando o que não pode ser
dito falando. Invenção do Brasil, Revista do Museu Aberto do Descobrimento.
Ministério da Cultura, (57-64).
______. 1997. Tolo: cantos kuikuro. Actas de las III Jornadas de Linguística
Aborigen. Buenos Aires 20-23 de mayo de 1997. Universidade de Buenos
Airers/Facultad de Filosofia y Letras/Instituto de Linguistica, 1998 (415-
425).
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______. 2006. Are Kuikuro Roots Lexical Categories? Ximena Lois and
Valentina Vapnarski (eds), Lexical Categories and Root Classes in Amerindian
Languages. Bern: Peter Lang. 2006 (33-68).
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evidências linguísticas para o entendimento de uma sociedade multilíngue
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______. 2005. The Ecology of Power: Culture, Place and Personhood in the
Southern Amazon, AD 1000-2000. Routledge: New York.
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______. 1977. La pratique linguistique des Indiens Trumai (Haut Xingu, Mato
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SCHMIDT, Max. 1917. Die Aruaken: Ein Beitrag zum Problem der
Kulturverbreitung. Leipzig. Veit & Co.
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RESUMO
Este capítulo é uma introdução ao livro e ao conjunto de textos que o com-
põem. O projeto que deu origem ao workshop realizado em 2008 e a esta pu-
blicação, todos com o mesmo título, partiu do capital acumulado por experi-
ências anteriores e foi um empreendimento multidisciplinar. O objetivo de um
grupo de pesquisadores, sobretudo linguistas, foi o de ampliar e aprofundar as
respostas hoje possíveis a uma questão central para o conhecimento das socie-
dades e das línguas nativas das terras baixas da América do Sul, em particular
da Amazônia meridional: quais foram (e quais são hoje) os processo de gênese
e reprodução do sistema indígena multilíngue e multiétnico conhecido como
Alto Xingu. Procurando respostas em um trabalho de montagem de uma es-
pécie de quebra-cabeça basicamente histórico, são abordadas sucessivamente
e, em seguida, de modo interligado, as contribuições da arqueologia, da etnoló-
gica e da linguística. Esta última mereceu um detalhamento maior e específico,
dado que a perspectiva linguística, entre os possíveis olhares sobre o fenôme-
no, foi eleita como o foco de interesse para lançar uma ponte com outros cam-
pos de produção de conhecimentos.
Palavras-chave: Alto Xingu; Multilinguismo.
ABSTRACT
This chapter is an introduction to the book and the set of texts that have
gone into its making. The multidisciplinary project leading to the workshop
held in 2008 and to this publication, all with the same title, stemmed from
the experience accumulated through earlier research projects. The objective of
the group of researchers, primarily linguists, was to broaden and deepen the
answers that we can now obtain to a question central to the understanding of
the native societies and languages of the South American lowlands, especially
southern Amazonia: namely, what were (and what are today) the processes
of genesis and reproduction responsible for the multilingual and multiethnic
indigenous system known as the Upper Xingu. Seeking responses within an
enterprise that basically resembles piecing together a historical jigsaw puzzle,
the book successively examines in interconnected form the contributions of
archaeology, ethnology and linguistics. The latter receives more detailed and
specific attention, since the linguistic approach, among the various possible
ways of exploring the phenomenon, was chosen as the focal point for building
bridges with other fields of knowledge production.
Key-words: Upper Xingu; Multilingualism.
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