Filo
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Universidade Rovuma
Lichinga
2023
Amida Taero Lupande
Hélio Narciso de Ernesto
Universidade Rovuma
Lichinga
2023
Índice
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3
1.1. Objectivos..................................................................................................................... 3
1.1.1.Geral ................................................................................................................................. 3
1.1.2.Específicos ....................................................................................................................... 3
1.2.Metodologia ........................................................................................................................ 3
2.TEORIA EDUCACIONAL DE JOSÉ CASTIANO .................................................................. 4
2.1. Engajamento por uma Educação global ............................................................................. 4
2.2. Escola como Espaço Global ............................................................................................... 8
2.3. Da Escola como Espaço sem Violência ........................................................................... 10
2.4. Perigos da Educação Global ............................................................................................. 11
3.CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 15
4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 16
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1. INTRODUÇÃO
A filosofia da educação vem sendo uma ciência indispensável para analises dos sistemas
de educação pois nos leva a reflectir e a criticar, buscando melhores formas de alcançar
uma educação de qualidade que possibilite o desenvolvimento da educação no país, é
fundamental ter essa ciência pois trata de todos os aspectos ligados a educação,
1.1. Objectivos
1.1.1.Geral
Compreender a teoria educacional de José Castiano.
1.1.2.Específicos
Descrever a teoria educacional de José Castiano;
Identificar o principal objectivo da teoria;
Caracterizar a Educação Global em todos os aspectos;
1.2.Metodologia
Para a elaboração deste trabalho para além dos conhecimentos práticos que possuímos,
baseou-se na pesquisa bibliográfica onde trouxe interpretações sólidas e fundamentadas
por diferentes autores que debruçam sobre o tema em alusão e também recorreu-se em
pesquisa documental para recolher informações em relatórios, monografias e teses de
doutoramento.
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educáveis; ao mesmo tempo, porém, a educação deve reservar espaço para que as
diferenças entre os homens e grupos sociais não morram dado que ela deve, por
exemplo, garantir que cada utente dos serviços educacionais possa desenvolver a sua
própria cultura. Formulado mais concretamente: podemos perguntar-nos se cada aula
providencia a ocasião institucional no qual se concretiza a ideia de que todos são iguais,
mas diferentes ao mesmo tempo. É possível o professor atender a todos de forma igual
ao mesmo tempo que trata a todos de forma diferenciada?
Ora, o caminho da criança ao sair do seu meio familiar para um em que as autoridades
comunitária e estatal se acrescentam à autoridade familiar, não deve ser percorrido de
uma forma violenta. Na entrada para ser um membro de pleno direito da sua
comunidade e depois para cidadania, a criança não deve ser nem fisicamente, nem
simbolicamente violada.
Até agora já se conseguiu, pelo menos formalmente, fazer com que a criança não seja
fisicamente agredida; no entanto ainda resta muito por fazer para eliminar aquilo que se
considera como sendo violência simbólica, se emprestarmos um termo muito usado por
Bourdieu. É desta forma que o professor tem a gloriosa responsabilidade de fazer com
que a marcha da criança da família para a sociedade e para o sistema-mundo não seja
nem corporalmente e nem simbolicamente (espiritualmente) violenta (Castiano,2011).
Chegados aqui urge perguntar em que medida a introdução do currículo local no sistema
do ensino moçambicano vem responder a estes fundamentos da educação?
O currículo local é uma parte do currículo do ensino básico (20% do tempo alocado
para cada disciplina) que deve ser preenchida por conteúdos que os membros da
comunidade abrangida por uma certa escola, de uma forma organizada, acham ser
relevantes para a criança inserir-se na sua própria comunidade, após ou mesmo durante
o período da sua frequência na escola.
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Portanto, não se trata de conteúdos que são determinados centralmente pelo Instituto
Nacional de Desenvolvimento (INDE) ou pelo ministério moçambicano de educação,
embora ambas instituições, por serem de carácter e dimensão centrais, possam de certa
forma influenciar na determinação dos conteúdos. Trata-se sim de conteúdos que devem
ser produzidos pelos professores com a ajuda da comunidade, dos próprios alunos e das
instituições locais como as da saúde, da agricultura, do meio ambiente, etc.
No entanto, para que estes conteúdos se tornem ensináveis, ou seja, para saírem da
cabeça dos membros das comunidades e dos papéis das instituições locais para a sala de
aulas, é necessário que o professor os adeqúe à idade, à classe/ciclo dos alunos e
atendam às competências localmente necessárias para a vida da criança na comunidade.
Para além disso, o professor deve produzir textos (brochuras do currículo local) e
materiais didácticos. Assim, os professores devem ser capazes de trazer para a sala de
aulas os factos e artefactos culturais do local onde uma certa escola se encontra inserida.
Em relação ao levantamento dos conteúdos relevantes para serem abordados pelos
professores na sala de aulas já se fez muita coisa embora reste ainda muito por fazer,
(Castiano,2011).
Muitos conteúdos, portanto, dizem respeito às tradições e aos costumes levantados pelos
professores nas comunidades. No entanto, como educadores, a nossa tarefa não termina
na recolha e na sistematização dos conteúdos considerados relevantes localmente, e nem
deve por aí terminar. Pôr um ponto final aqui seria continuar a condenar aos alunos a
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Portanto, a maior forma de inserir a criança numa determinada tradição viva não é só
dizendo-a sobre o quê (conhecimento dos factos e artefactos), mas sobretudo o porquê
desses factos e artefactos locais (faculdade de julgar). Aliás, esta é a missão da educação
para o futuro.
Um parêntesis: quando falamos de factos locais referimo-nos aos eventos próprios de
um local, sejam eles ligados com a história de um determinado local como a batalha de
Manhiquene; sejam eles de carácter cultural, como por exemplo o M´saho (festival de
timbilas de Zavala ou de Varimbas de Sena). E quando falamos de artefactos culturais
referimo-nos aos produtos materiais que são fabricados nas diferentes comunidades
culturais de Moçambique. Por exemplo, o vestuário tradicional da Ilha de Moçambique
é diferente do vestuário tradicional de uma outra parte qualquer, (Castiano,2011).
Parte-se portanto da ideia que cada escola está inserida num determinado meio cultural
e que se deve dar oportunidade a cada aluno e aluna para poder explorar as
potencialidades educativas que este meio oferece a fim de melhorar a qualidade da
aprendizagem dos alunos e das alunas, (Castiano,2011).
Entretanto, ao fazermos o levantamento das questões locais, é muito bem possível que
surjam conteúdos que podem ferir os Direitos Humanos, podem ser discriminatórios
com base ao género ou à raça ou ainda que possam ir contra o ideal da dignidade
humana. É esta a oportunidade educativa para humanizar a educação. Para isso é
importante estarmos vigilantes para que este tipo de conteúdos seja efectivamente
retirado dos programas de ensino.
O que queremos dizer com este exemplo é que o levantamento e o conhecimento das
tradições ou dos valores que governam a vida local não é e nem pode ser um objectivo
em si e terminal da educação com base nos conteúdos locais. Esse levantamento e
conhecimento são apenas um ponto de partida necessário para podermos efectivamente
desenvolver as nossas tradições, enfim as nossas civilizações africanas. Porque um
verdadeiro desenvolvimento só se pode basear no conhecimento profundo das tradições
culturais e valores locais. Mas, por outro lado, nós podemos desenvolver estas tradições
e valores somente na medida em que eles oferecem respostas alternativas válidas para
resolver os problemas sociais, económicos, políticos e espirituais da actualidade. Na
globalização só podemos estar firmes na medida em que oferecemos soluções locais
para os problemas que nascem do interior desta mesma forma de existência global
(Castiano,2011).
Por via do currículo local abrimos a porta ao aluno e à aluna para que eles mesmos se
inspirem na cultura local para poderem encontrar soluções localmente fundados aos
problemas globais.
Na prática, porém, para conhecer as tradições, não basta (embora seja importante) que o
aluno ou a aluna seja levado a observar factos e artefactos na sala de aulas ou através de
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uma visita de estudo. É necessário que o professor elabore textos onde descreva estes
eventos históricos ou os artefactos culturais; os textos devem ser escritos por formas que
sirvam de apoio ao próprio professor e sirvam também como meio de aprendizagem ao
aluno e à aluna. Para isso, o professor precisa de registar minuciosamente os eventos e
artefactos no acto da recolha dos conteúdos junto à comunidade e às instituições locais.
No tempo colonial, por exemplo, um aluno que não fosse capaz de assimilar uma
determinada matéria na aula era batido com reguadas na mão ou noutra parte do corpo
qualquer. Esta prática constituía uma violência corporal ou física que inculcava a
dimensão do medo na aprendizagem. Este tipo de atitude, por parte dos professores, não
é educativo e constitui uma violação aos direitos da criança. Também não podemos
insultar a criança ou submetê-la aos castigos corporais de qualquer espécie. A criança
merece o nosso respeito para que ela nos possa também respeitar (Castiano,2011).
O princípio do direito à diferença exige uma atenção muito especial aos processos de
produção e valorização das culturas e do ambiente social em que cada escola se
encontra e exige, como disse, que se aproveitem todas as possibilidades e
potencialidades naturais, sociais, culturais, históricas e políticas locais para a
aprendizagem da criança. Todos os aspectos locais têm um valor educativo em potência.
Por seu lado, o princípio da igualdade de oportunidades exige que a educação possa
oferecer as mesmas oportunidades de progressão a todas as crianças no sistema de
educação, independentemente do lugar onde estudam dentro do país. O perigo que
correm as pedagogias que tentam valorizar as culturas locais no contexto da educação
global é o de usar os elementos das culturas locais como uma espécie de folclore, ou
seja, que só sirvam para embelezar o currículo nacional com alguns elementos da
tradição sem no entanto tomar a sério estes elementos em todas as fases da actividade
pedagógica.
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Em segundo lugar é necessário alertar para o perigo da mistificação das tradições ou dos
conteúdos locais. O objectivo último da introdução de conteúdos locais não é só para ter
em conta a função reprodutiva da escola (como uma instituição que deve espelhar o que
a sociedade/comunidade tem como valores e tradições), mas também se deve olhar para
a função produtiva/inovadora da escola, i.e. a responsabilidade desta instituição em
melhorar a vida das pessoas que vivem nas comunidades. A inovação só pode ser
possível se se der a oportunidade às gerações mais novas de se confrontarem
criticamente com os valores e as tradições locais (o que não significa não respeitá-las).
Estas matérias deverão fazer parte dos módulos tanto de formação inicial assim como
das capacitações (formação em exercício). Também temos que considerar que o papel
do professor passa a ser, no contexto de uma educação global, não só o de transmitir
conhecimentos (que vêm nos livros escolares) mas também o de produzir os mesmos
através da sua própria investigação e dosificação para serem ensinados. Este último
aspecto dá matéria suficiente para se repensar nas estratégias pedagógicas nas
formações (inicial e em exercício) dos professores, ou seja, em buscar novas estratégias
de formar um professor-investigador. Teremos que baixar alguns conteúdos
metodológicos que, no contexto da educação actual, são ensinados somente ao nível
superior universitário, para a formação de professores primários, se apostarmos numa
educação global de qualidade (Castiano,2011).
É uma responsabilidade social das estruturas de educação garantir que estes conteúdos
sejam veiculados pela escola de forma mais científica (no sentido de um conhecimento
fundamentado) possível. Uma das formas de certificar-se desta cientificidade é
garantindo que o professor tenha material didáctico de consulta (livros) em relação ao
currículo local, o que actualmente não existe. Por isso propomos que esta grave lacuna
de falta de material seja minimizada na base de temas gerais de nível de cada Província
as autoridades provinciais de educação se encarregariam por elaborar brochuras
didácticas em redor aos temas provinciais propostos.
Um último perigo diz respeito à exclusão dos alunos e jovens na definição dos
conteúdos de aprendizagem. Como nos referimos acima, a tendência das consultas que
se fazem às comunidades e instituições locais quando se elaboram as brochuras
escolares do currículo local é a de abrangerem somente ou quase que exclusivamente às
pessoas idosas das comunidades, deixando os jovens e os próprios alunos à margem. De
facto é preciso recordar permanentemente que não há ensino possível sem o seu
reconhecimento, por parte daqueles a quem o ensino é dirigido.
De tudo o que foi abordado, pensamos, porém, que o maior desafio ao nível da
formulação de uma educação global que se impõe ao nível teórico, é o da formulação de
um discurso lógico que mostre que este tipo de educação se enquadra num âmbito mais
amplo de uma utopia social. A nossa utopia social é a de construir um Moçambique
mais justo. Pois, se ontem o paradigma da nossa acção deveria ser julgado na medida
em que ela se aproxima à liberdade dos moçambicanos contra o jugo colonial, hoje a
nossa utopia deve ser formulada em termos do que a liberdade conquistada comporta
como responsabilidade; pensamos que o eixo desta responsabilidade está num
engajamento pela justiça social. Lutar pela liberdade hoje significa lutar por uma justiça
social, é o que queremos dizer. Uma educação global deve estar em condições de avaliar
os aspectos do passado, dos hábitos culturais, dos saberes locais a partir do ângulo em
que eles se aproximam ao ideal da justiça social. Este é, se assim quisermos, um fim
pelo qual vale a pena engajar o nosso pensamento e engajarmo-nos.
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3.CONCLUSÃO
Com o presente trabalho concluiu-se que a capacidade do homem ser educável, assenta
no facto de ele ser um ser racional, educação parte da imagem que temos do homem que
queremos construir. No que diz respeito a uma Educação Global, é muito importante
que desenvolvamos nas crianças não só o conhecimento dos conteúdos e tradições
locais como os que demos exemplos acima; é ainda mais importante desenvolver, e só
assim faz sentido falarmos de educação, a faculdade de cada criança julgar, ou seja, de
formular seu próprio juízo sobre estes mesmos hábitos e tradições que o professor
recolhera das cabeças das comunidades e das instituições tradicionais locais.
O professor precisa de reunir o maior número de informações possível, não só sobre o
passado mas também sobre o presente de que ele deve ser uma testemunha atento. É
preciso ter em atenção que, ao introduzir-se o currículo local estamos a tentar
implementar dois princípios de cada ser humano não negociáveis por via da educação
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4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Castiano, J.P., & Nguenha, S.E. (2011) Pensamento Engajado, Ensaios sobre filosofia
Africana, Educação e Cultura Politica, Educar Editora, Maputo, p. 85-96.