Embrapa
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Embrapa
ISSN 1808-9992
Dezembro, 2011 240
Documentos 240
Ecofisiologia do Umbuzeiro
(Spondias tuberosa Arr. Cam.)
Embrapa Semiárido
Petrolina, PE
2011
Esta publicação está disponibilizada no endereço:
http://www.cpatsa.embrapa.br
Exemplares da mesma podem ser adquiridos na:
Embrapa Semiárido
BR 428, km 152, Zona Rural
Caixa Postal 23 56302-970 Petrolina, PE
Fone: (87) 3866-3600 Fax: (87) 3866-3815
sac@cpatsa.embrapa.br
Comitê de Publicações da Unidade
Presidente: Maria Auxiliadora Coêlho de Lima
Secretário-Executivo: Anderson Ramos de Oliveira
Membros: Ana Valéria de Souza
Andrea Amaral Alves
Gislene Feitosa Brito Gama
José Maria Pinto
Juliana Martins Ribeiro
Magna Soelma Bezerra de Moura
Patrícia Coelho de Souza Leão
Sidinei Anunciação Silva
Vanderlise Giongo
Welson Lima Simões
Supervisor editorial: Sidinei Anunciação Silva
Revisor de texto: Sidinei Anunciação Silva
Normalização bibliográfica: Sidinei Anunciação Silva
Tratamento de ilustrações: Nivaldo Torres dos Santos
Foto(s) da capa: José Moacir Pinheiro Lima Filho
Editoração eletrônica: Nivaldo Torres dos Santos
1a edição (2011): Formato digital
Embrapa Semiárido
CDD 634.44
© Embrapa 2011
Autor
Introdução .........................................................................6
Distribuição Geográfica........................................................7
Aspectos Morfológicos ......................................................7
Fenologia ..........................................................................9
Características do Dossel ..................................................10
Comportamento Hídrico do Umbuzeiro.................................12
Trocas Gasosas ............................................................. ..19
Considerações Finais .........................................................21
Referências .....................................................................22
Ecofisiologia do Umbuzeiro
(Spondias tuberosa Arr. Cam.)
José Moacir Pinheiro Lima Filho
Introdução
Distribuição Geográfica
A área de vegetação natural do umbuzeiro é limitada pela Mata Atlântica,
pelo Cerrado e pela região pré-amazônica (SANTOS, 1997). É encontrado
nas caatingas elevadas da Serra da Borborema, serras do Seridó norte-
riograndense, Agreste piauiense e Caatingas pernambucanas e baianas
e no norte de Minas Gerais (MENDES, 1990), principalmente nas áreas
com temperaturas entre 13 oC a 38 oC, umidade relativa entre 30% e
80%, pluviosidade anual de 400 mm a 800 mm e 2.000 a 3.000 horas
de insolação (DUQUE, 1980). Esta região é conhecida como centro de
alta diversidade e domesticação da espécie, classificada por Giacometti
(1993) como Centro 6: Centro Nordeste/Caatinga, onde vários autores
constataram a ocorrência de elevado número de umbuzeiros.
O umbuzeiro se desenvolve nos mais variados tipos de solos do Nordeste
brasileiro, principalmente dentro da grande unidade de paisagem
Depressão Sertaneja, onde há uma maior ocorrência dos solos Brunos
não Cálcicos, Podzólicos Distróficos e Estróficos. Neste cenário, o
umbuzeiro desenvolve o seu ciclo anual juntamente com o sisal (Agave
sisalana Perr.) da imburana de cheiro (Fonesea cearensis Fr. All.) e de
outras espécies do mesmo habitat (DUQUE, 1980), necessitando de
um período de estresse hídrico para iniciar o seu ciclo reprodutivo anual
(CAVALCANTI et al., 2000).
Aspectos Morfológicos
O umbuzeiro é uma árvore com altura que varia de 4 m a 6 m e copa
umbeliforme, podendo atingir um diâmetro em torno de 10 m a 15 m
(CARVALHO, 1986). Apresenta sistema radicular especializado formado
por raízes longas, espalhadas horizontalmente, próximas à superfície
do solo, com túberas ou batatas (xilopódios) que se caracterizam
como intumescências, providas de tecido lacunoso e celulósico. Estas
estruturas podem atingir 20 cm de diâmetro e são, geralmente,
encontradas entre 10 cm e 30 cm de profundidade. A principal
função destas formações é o armazenamento de água, minerais e
outros solutos importantes para a manutenção de um balanço hídrico
favorável, sob condições de deficiência hídrica (LIMA FILHO; SILVA,
Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) 8
Fenologia
Uma das estratégias utilizadas pelo umbuzeiro para sua sobrevivên-
cia durante a estação seca é a abscisão de suas folhas para reduzir a
superfície transpiratória e, consequentemente, a perda de água. Resul-
tados apresentados por Lima Filho (2008) relativos ao ciclo produtivo
1994-1995 (Figura 1), indicam que as folhas do umbuzeiro entram
em processo de senescência logo no início da estação seca, quando
a planta fica totalmente desfolhada e em dormência vegetativa até a
ocorrência das primeiras chuvas.
A abscisão total das folhas do umbuzeiro ocorre cerca de 1 a 2 meses
após a última precipitação e o lançamento das primeiras flores pode ser
observado ainda sob condições de seca. De acordo com Cavalcanti et al.
(2000), o início do ciclo reprodutivo do umbuzeiro ocorre na ausência de
precipitações e no período em que a temperatura do ar e a umidade rela-
tiva alcançam os valores mais críticos. É possível que a data de início da
floração do umbuzeiro esteja associada à duração e intensidade do deficit
hídrico sofrido anteriormente durante a época seca, como ocorre com ou-
tras espécies do Bioma Caatinga apresentadas em Barbosa et al. (2003).
Características do Dossel
De maneira geral, a estrutura do dossel do umbuzeiro adulto é de
formato hemisférico, onde a radiação solar é bastante atenuada.
Infelizmente, publicações envolvendo o umbuzeiro, nesta linha de
pesquisa, são praticamente inexistentes. Porém, observações recentes
realizadas com plantas adultas apresentando uma densidade foliar em
torno de 2 m2/m3, obtida com auxílio de um analisador de dossel LI-2000
(LICOR) descrito por Welles e Norman (1991), indicam que, ao penetrar
no dossel, cerca de 80% da radiação fotossinteticamente ativa (PAR) é
atenuada na primeira camada de 1 m da parte superior de copa. Segundo
11 Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.)
Comportamento hídrico do
umbuzeiro
O comportamento hídrico do umbuzeiro foi inicialmente estudado
por Ferri e Laboriau (1952) e Ferri (1953,) tomando-se com base
o comportamento estomático. Estes autores observaram que a
transpiração, obtida pelo método de pesagem, atingiu o ponto máximo
diário às 9h, antecipando em 7 horas o momento de evapotranspiração
máxima. Em outro estudo, a taxa de transpiração máxima foi registrada
às 7h, entretanto, os valores foram tão baixos que foram considerados
como transpiração cuticular (FERRI, 1953). Ferri (1978) salienta que
os estômatos do umbuzeiro são pequenos, não possuem qualquer
mecanismo de proteção e fecham-se rapidamente ao primeiro sinal de
deficiência hídrica.
A velocidade de fechamento dos estômatos do umbuzeiro pode ser
monitorada inserindo-se folhas em uma câmara de assimilação de ¼ L
(IRGA LI-6200), destacando-as dos ramos logo após equilíbrio (Figura
4). Este procedimento visa interromper o fluxo de água para as folhas,
provocando, assim, o fechamento dos estômatos. Com este
13 Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.)
Figura 5. Valores de potencial hídrico e osmótico, e pressão de turgor das folhas do umbuzeiro
observados durante a estação seca.
Fonte: Lima Filho (2001).
Trocas Gasosas
O comportamento ecofisiológico envolvendo as trocas gasosas do umbuzeiro
durante as estações seca e chuvosa foi estudado por Lima Filho (2004). Durante
a estação seca, o umbuzeiro apresentou uma baixa condutividade estomática
logo no início do dia, decrescendo à medida que aumentou o deficit de pressão
de vapor. De acordo com este autor, os valores mais altos para condutância,
transpiração e fotossíntese foram observados em torno de 6h, decrescendo
até atingir os valores mais baixos entre 10h e 14h. (Figura 10).
Embora muito baixa, a transpiração foi mantida, reforçando a importância
das túberas na estabilização do balanço hídrico do umbuzeiro. Já a
assimilação de dióxido de carbono (CO2) foi mais afetada que a transpiração,
atingindo valores próximos a 0 µmol m-2s-1 nas horas de maior demanda
evapotranspiratória. Ainda segundo Lima Filho (2004), pelo fato de o
umbuzeiro apresentar mecanismo de fixação de Carbono tipo C3, é possível
que as altas temperaturas tenham desencadeado o processo fotorespiratório
que, juntamente com a baixa condutância estomática, contribuiu para a
queda da assimilação fotossinética. Observa-se que a concentração interna
de CO2 aumentou de 250 ppm, pela manhã, para 370 ppm às 14h, quando
a condutância e a fotossíntese atingiram valores baixíssimos sugerindo que
parte do CO2 liberado pela fotorespiração tenha ficado retida no interior da
folha em consequência de fechamento dos estômatos.
Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) 20
Considerações Finais
Os resultados observados neste trabalho indicam que o umbuzeiro
apresenta estratégias para sobreviver e produzir frutos nas condições
do seu habitat natural. Além das características morfo-anatômicas que
lhes são peculiares, o desenvolvimento de túberas no sistema radicular,
a abscisão das folhas e o controle estomático do fluxo transpiratório,
parecem ser os mecanismos que mais influenciam o desempenho do
umbuzeiro sob tais condições. Com isso, é possível delinear o seguinte
cenário: no início da época seca, quando a disponibilidade de água no
solo declina rapidamente, a redução brusca da condutância estomática
restringe drasticamente a transpiração da planta e as folhas iniciam o
processo da abscisão.
À medida que a superfície transpiratória é reduzida, o balanço hídrico
interno tende a entrar em equilíbrio, por causa da água presente nas
túberas. Este equilíbrio é mantido, e isso favorece o lançamento das
primeiras folhas ao final da época seca. Estas folhas apresentam
baixíssima condutância estomática às trocas gasosas, indicando
um rígido controle da transpiração. Com a chegada das primeiras
chuvas, o rápido crescimento da superfície transpiratória provoca um
desequilíbrio entre a absorção de água e a transpiração em momentos
Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) 22
Referências
GOMES, R. P. O umbuzeiro. In: GOMES, P. Fruticultura brasileira. 11. ed. São Paulo:
Nobel, 1990. p. 426-428.
LIMA FILHO, J. M. P. Internal water relations of the umbu tree under semi-arid
conditions. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 23, n. 3, p. 518-521, 2001.
______. Gas exchange of the umbu tree under semiarid conditions. Revista Brasileira de
Fruticultura, Jaboticabal, v. 26, n. 2, p. 206-208, 2004.
______. Water status and gas exchange of umbu plants (Spondias tuberosa Arr. Cam.)
propagated by seeds and stem cuttings. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.
29, n. 2, p. 355-358, 2007.
PRADO, D. E.; GIBBS, P. E. Patterns of species distribution in the dry seasonal forests of
South America. Annals of Missouri Botanical Garden, St. Louis, n. 80, p. 902-927, 1993.
SANTOS, C. A. F. Dispersão da variabilidade fenotípica do umbuzeiro no Semi-Árido
brasileiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 32, n. 9, p. 923-930, set.
1997.
SCHULZE, E. D.; LANGE, O. L; KAPPEN, L.; EVENARI, M.; BUSHBON, U. The role of
air humidity and leaf temperature in controlling stomatal resistance of Prunus armeniaca
L. under desert conditions. II. The significance of leaf water status and internal carbon
dioxide concentration. Oecologia, Heldelberg, v. 18, p. 219-233, 1975.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Plant physiology. California: The Benjamin–Cummings, 1991. 559 p.
TURNER, N. C. Techniques and experimental approaches for the measurement of plant
water status. Plant and Soil, Dordrecht, v. 58, p. 339-366, 1981.
WELLES, J. M.; NORMAN, J. M. Instrument for indirect measurement of canopy
architecture. Agronomy Journal, Madison, v. 83, p. 818-825, 1991.
25 Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.)
CGPE 9651
ISSN 1808-9992
Dezembro, 2011
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Semiárido
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Documentos 240
Ecofisiologia do Umbuzeiro
(Spondias tuberosa Arr. Cam.)
Embrapa Semiárido
Petrolina, PE
2011
Esta publicação está disponibilizada no endereço:
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Exemplares da mesma podem ser adquiridos na:
Embrapa Semiárido
BR 428, km 152, Zona Rural
Caixa Postal 23 56302-970 Petrolina, PE
Fone: (87) 3866-3600 Fax: (87) 3866-3815
sac@cpatsa.embrapa.br
Comitê de Publicações da Unidade
Presidente: Maria Auxiliadora Coêlho de Lima
Secretário-Executivo: Anderson Ramos de Oliveira
Membros: Ana Valéria de Souza
Andrea Amaral Alves
Gislene Feitosa Brito Gama
José Maria Pinto
Juliana Martins Ribeiro
Magna Soelma Bezerra de Moura
Patrícia Coelho de Souza Leão
Sidinei Anunciação Silva
Vanderlise Giongo
Welson Lima Simões
Supervisor editorial: Sidinei Anunciação Silva
Revisor de texto: Sidinei Anunciação Silva
Normalização bibliográfica: Sidinei Anunciação Silva
Tratamento de ilustrações: Nivaldo Torres dos Santos
Foto(s) da capa: José Moacir Pinheiro Lima Filho
Editoração eletrônica: Nivaldo Torres dos Santos
1a edição (2011): Formato digital
Embrapa Semiárido
CDD 634.44
© Embrapa 2011
Autor
Introdução .........................................................................6
Distribuição Geográfica........................................................7
Aspectos Morfológicos ......................................................7
Fenologia ..........................................................................9
Características do Dossel ..................................................10
Comportamento Hídrico do Umbuzeiro.................................12
Trocas Gasosas ............................................................. ..19
Considerações Finais .........................................................21
Referências .....................................................................22
Ecofisiologia do Umbuzeiro
(Spondias tuberosa Arr. Cam.)
José Moacir Pinheiro Lima Filho
Introdução
Distribuição Geográfica
A área de vegetação natural do umbuzeiro é limitada pela Mata Atlântica,
pelo Cerrado e pela região pré-amazônica (SANTOS, 1997). É encontrado
nas caatingas elevadas da Serra da Borborema, serras do Seridó norte-
riograndense, Agreste piauiense e Caatingas pernambucanas e baianas
e no norte de Minas Gerais (MENDES, 1990), principalmente nas áreas
com temperaturas entre 13 oC a 38 oC, umidade relativa entre 30% e
80%, pluviosidade anual de 400 mm a 800 mm e 2.000 a 3.000 horas
de insolação (DUQUE, 1980). Esta região é conhecida como centro de
alta diversidade e domesticação da espécie, classificada por Giacometti
(1993) como Centro 6: Centro Nordeste/Caatinga, onde vários autores
constataram a ocorrência de elevado número de umbuzeiros.
O umbuzeiro se desenvolve nos mais variados tipos de solos do Nordeste
brasileiro, principalmente dentro da grande unidade de paisagem
Depressão Sertaneja, onde há uma maior ocorrência dos solos Brunos
não Cálcicos, Podzólicos Distróficos e Estróficos. Neste cenário, o
umbuzeiro desenvolve o seu ciclo anual juntamente com o sisal (Agave
sisalana Perr.) da imburana de cheiro (Fonesea cearensis Fr. All.) e de
outras espécies do mesmo habitat (DUQUE, 1980), necessitando de
um período de estresse hídrico para iniciar o seu ciclo reprodutivo anual
(CAVALCANTI et al., 2000).
Aspectos Morfológicos
O umbuzeiro é uma árvore com altura que varia de 4 m a 6 m e copa
umbeliforme, podendo atingir um diâmetro em torno de 10 m a 15 m
(CARVALHO, 1986). Apresenta sistema radicular especializado formado
por raízes longas, espalhadas horizontalmente, próximas à superfície
do solo, com túberas ou batatas (xilopódios) que se caracterizam
como intumescências, providas de tecido lacunoso e celulósico. Estas
estruturas podem atingir 20 cm de diâmetro e são, geralmente,
encontradas entre 10 cm e 30 cm de profundidade. A principal
função destas formações é o armazenamento de água, minerais e
outros solutos importantes para a manutenção de um balanço hídrico
favorável, sob condições de deficiência hídrica (LIMA FILHO; SILVA,
Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) 8
Fenologia
Uma das estratégias utilizadas pelo umbuzeiro para sua sobrevivên-
cia durante a estação seca é a abscisão de suas folhas para reduzir a
superfície transpiratória e, consequentemente, a perda de água. Resul-
tados apresentados por Lima Filho (2008) relativos ao ciclo produtivo
1994-1995 (Figura 1), indicam que as folhas do umbuzeiro entram
em processo de senescência logo no início da estação seca, quando
a planta fica totalmente desfolhada e em dormência vegetativa até a
ocorrência das primeiras chuvas.
A abscisão total das folhas do umbuzeiro ocorre cerca de 1 a 2 meses
após a última precipitação e o lançamento das primeiras flores pode ser
observado ainda sob condições de seca. De acordo com Cavalcanti et al.
(2000), o início do ciclo reprodutivo do umbuzeiro ocorre na ausência de
precipitações e no período em que a temperatura do ar e a umidade rela-
tiva alcançam os valores mais críticos. É possível que a data de início da
floração do umbuzeiro esteja associada à duração e intensidade do deficit
hídrico sofrido anteriormente durante a época seca, como ocorre com ou-
tras espécies do Bioma Caatinga apresentadas em Barbosa et al. (2003).
Características do Dossel
De maneira geral, a estrutura do dossel do umbuzeiro adulto é de
formato hemisférico, onde a radiação solar é bastante atenuada.
Infelizmente, publicações envolvendo o umbuzeiro, nesta linha de
pesquisa, são praticamente inexistentes. Porém, observações recentes
realizadas com plantas adultas apresentando uma densidade foliar em
torno de 2 m2/m3, obtida com auxílio de um analisador de dossel LI-2000
(LICOR) descrito por Welles e Norman (1991), indicam que, ao penetrar
no dossel, cerca de 80% da radiação fotossinteticamente ativa (PAR) é
atenuada na primeira camada de 1 m da parte superior de copa. Segundo
11 Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.)
Comportamento hídrico do
umbuzeiro
O comportamento hídrico do umbuzeiro foi inicialmente estudado
por Ferri e Laboriau (1952) e Ferri (1953,) tomando-se com base
o comportamento estomático. Estes autores observaram que a
transpiração, obtida pelo método de pesagem, atingiu o ponto máximo
diário às 9h, antecipando em 7 horas o momento de evapotranspiração
máxima. Em outro estudo, a taxa de transpiração máxima foi registrada
às 7h, entretanto, os valores foram tão baixos que foram considerados
como transpiração cuticular (FERRI, 1953). Ferri (1978) salienta que
os estômatos do umbuzeiro são pequenos, não possuem qualquer
mecanismo de proteção e fecham-se rapidamente ao primeiro sinal de
deficiência hídrica.
A velocidade de fechamento dos estômatos do umbuzeiro pode ser
monitorada inserindo-se folhas em uma câmara de assimilação de ¼ L
(IRGA LI-6200), destacando-as dos ramos logo após equilíbrio (Figura
4). Este procedimento visa interromper o fluxo de água para as folhas,
provocando, assim, o fechamento dos estômatos. Com este
13 Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.)
Figura 5. Valores de potencial hídrico e osmótico, e pressão de turgor das folhas do umbuzeiro
observados durante a estação seca.
Fonte: Lima Filho (2001).
Trocas Gasosas
O comportamento ecofisiológico envolvendo as trocas gasosas do umbuzeiro
durante as estações seca e chuvosa foi estudado por Lima Filho (2004). Durante
a estação seca, o umbuzeiro apresentou uma baixa condutividade estomática
logo no início do dia, decrescendo à medida que aumentou o deficit de pressão
de vapor. De acordo com este autor, os valores mais altos para condutância,
transpiração e fotossíntese foram observados em torno de 6h, decrescendo
até atingir os valores mais baixos entre 10h e 14h. (Figura 10).
Embora muito baixa, a transpiração foi mantida, reforçando a importância
das túberas na estabilização do balanço hídrico do umbuzeiro. Já a
assimilação de dióxido de carbono (CO2) foi mais afetada que a transpiração,
atingindo valores próximos a 0 µmol m-2s-1 nas horas de maior demanda
evapotranspiratória. Ainda segundo Lima Filho (2004), pelo fato de o
umbuzeiro apresentar mecanismo de fixação de Carbono tipo C3, é possível
que as altas temperaturas tenham desencadeado o processo fotorespiratório
que, juntamente com a baixa condutância estomática, contribuiu para a
queda da assimilação fotossinética. Observa-se que a concentração interna
de CO2 aumentou de 250 ppm, pela manhã, para 370 ppm às 14h, quando
a condutância e a fotossíntese atingiram valores baixíssimos sugerindo que
parte do CO2 liberado pela fotorespiração tenha ficado retida no interior da
folha em consequência de fechamento dos estômatos.
Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) 20
Considerações Finais
Os resultados observados neste trabalho indicam que o umbuzeiro
apresenta estratégias para sobreviver e produzir frutos nas condições
do seu habitat natural. Além das características morfo-anatômicas que
lhes são peculiares, o desenvolvimento de túberas no sistema radicular,
a abscisão das folhas e o controle estomático do fluxo transpiratório,
parecem ser os mecanismos que mais influenciam o desempenho do
umbuzeiro sob tais condições. Com isso, é possível delinear o seguinte
cenário: no início da época seca, quando a disponibilidade de água no
solo declina rapidamente, a redução brusca da condutância estomática
restringe drasticamente a transpiração da planta e as folhas iniciam o
processo da abscisão.
À medida que a superfície transpiratória é reduzida, o balanço hídrico
interno tende a entrar em equilíbrio, por causa da água presente nas
túberas. Este equilíbrio é mantido, e isso favorece o lançamento das
primeiras folhas ao final da época seca. Estas folhas apresentam
baixíssima condutância estomática às trocas gasosas, indicando
um rígido controle da transpiração. Com a chegada das primeiras
chuvas, o rápido crescimento da superfície transpiratória provoca um
desequilíbrio entre a absorção de água e a transpiração em momentos
Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) 22
Referências
GOMES, R. P. O umbuzeiro. In: GOMES, P. Fruticultura brasileira. 11. ed. São Paulo:
Nobel, 1990. p. 426-428.
LIMA FILHO, J. M. P. Internal water relations of the umbu tree under semi-arid
conditions. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 23, n. 3, p. 518-521, 2001.
______. Gas exchange of the umbu tree under semiarid conditions. Revista Brasileira de
Fruticultura, Jaboticabal, v. 26, n. 2, p. 206-208, 2004.
______. Water status and gas exchange of umbu plants (Spondias tuberosa Arr. Cam.)
propagated by seeds and stem cuttings. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.
29, n. 2, p. 355-358, 2007.
PRADO, D. E.; GIBBS, P. E. Patterns of species distribution in the dry seasonal forests of
South America. Annals of Missouri Botanical Garden, St. Louis, n. 80, p. 902-927, 1993.
SANTOS, C. A. F. Dispersão da variabilidade fenotípica do umbuzeiro no Semi-Árido
brasileiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 32, n. 9, p. 923-930, set.
1997.
SCHULZE, E. D.; LANGE, O. L; KAPPEN, L.; EVENARI, M.; BUSHBON, U. The role of
air humidity and leaf temperature in controlling stomatal resistance of Prunus armeniaca
L. under desert conditions. II. The significance of leaf water status and internal carbon
dioxide concentration. Oecologia, Heldelberg, v. 18, p. 219-233, 1975.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Plant physiology. California: The Benjamin–Cummings, 1991. 559 p.
TURNER, N. C. Techniques and experimental approaches for the measurement of plant
water status. Plant and Soil, Dordrecht, v. 58, p. 339-366, 1981.
WELLES, J. M.; NORMAN, J. M. Instrument for indirect measurement of canopy
architecture. Agronomy Journal, Madison, v. 83, p. 818-825, 1991.
25 Ecofisiologia do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.)
CGPE 9651