Umbu Pinheiro
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Utnbu
sete espécies são registradas para o Brasil (Spondias 50% de flores funcionalmente masculinas, que
lutea L., S. purpura L., S. mobim L., S. cytberera apresentam gineceu rudimentar, sendo a espécie
Sonn., S. venulosa ex. Engl., S. tuberosa Arruda e considerada, sob o aspecto reprodutivo, como
Spondias sp.), havendo poucas informações taxo- andromonoica (pIRES; OLIVEIRA, 1986).
nômicas sobre o grupo, o que tem dificultado a
Morfologicamente, as flores são pediceladas,
delimitação das espécies desse gênero.
actinomorfas, pentâmeras, de coloração branca,
e apresentam pré-Boração valvar. O cálice
Descrição botânica apresenta coloração verde, sépalas pilosas, de
formato triangular, enquanto a corola é dialipé-
Spondias tuberosa é uma árvore de pequeno tala, de formato raso-campanulado. O androceu é
porte, com 4 m a 8 m de altura e copa umbeli- formado por dez estames heterodínamos, sendo
forme, com 10m a 15 m de diâmetro. Apresenta os maiores alternos aos menores. Os estames
sistema radicular formado por raízes longas, estão distribuídos em círculo e inseridos abaixo
espalhadas horizontalmente, próximas à super- do disco nectarífero; as anteras são ditecas, reni-
fície do solo, com túberas que se caracterizam formes e medi fixas, e apresentam deiscência
como intumescências redondas e escuras, com longitudinal. O gineceu é formado por um ovário
cerca de 20 cm de diâmetro e 50 cm de compri- súpero, pentacarpelar, uniovulado, com cinco
mento, providas de tecido lacunoso e celulósico, estiletes e estigmas curtos e espatulados. Nas
que podem ser encontradas entre 10 em e 30 cm flores masculinas, essas estruturas são rudimen-
de profundidade. tares. O nectário é intra-estaminal , cupuliforme ,
decalobado, de cor creme a amarela e aspecto
O caule apresenta de três a cinco ramifica-
esponjoso (PIRES, 1990).
ções principais, podendo estas ocorrer desde
a base até 1 m de altura do solo. Apresenta O fruto é uma drupa elipsoidal, glabra ou
casca extena morta, de espessura entre 2,0 mm levemente pilosa, que apresenta epicarpo de
e 5,0 mm, áspera e rígida, de cor cinza-claro a espessura variável, de cor amarelo-esverdeada,
preto, e uma casca interna viva, de espessura mesocarpo de sabor adocicado e endocarpo de
entre 5,0 mm e 12,0 mm, avermelhada, e que, tamanho variado, com a extremidade proximal,
por incisão, exibe exsudato transparente e em relação ao pedúnculo, mais afunilada do que a
resinoso (LIMA, 1982). As folhas são compostas distal (SILVA; SILVA, 1974). Diferenças quanto
pecioladas, alternas, imparipenadas, com quatro às dimensões e às formas dos frutos foram
a sete jugas. Os folíolos são curto peciolados, registradas, variando de 26,5 mm a 42,9 mm
oblongo-ovalados, com base obtusa ou cordada, de comprimento e de 22,4 mm a 39,1 mm de
ápice agudo ou obtuso, com cerca de 2 cm a 4 cm diâmetro. A semente apresenta tegumento
de comprimento, com 2 cm ou 3 cm de largura constituído por testa, e tegumento de consis-
e margens serrilhadas ou inteiras lisas (GOMES, tência membranácea, que, juntamente com o
1990; LEÓN, 1987; PIRES, 1990). endocarpo, forma o caroço, o qual pode variar
de 15,2 mm a 25,6 mm de comprimento e de
As flores estão reunidas em inflorescên- 11,1 mm a 16,5 mm de diâmetro (pIRES, 1990).
cias terminais, do tipo panícula, composta por
nove fascículos, opostos, que contêm, em média,
11 flores. O tamanho do fascículo, bem como o Importância socioeconômica
número de Bores/ fascículo diminui da base para
o ápice da inflorescência, que confere formato Na região Semi-Árida do Nordeste brasi-
piramidal a essa estrutura. As inflorescências são leiro, uma das fontes de renda da maioria dos
compostas por 50% de flores hermafroditas e pequenos agricultores é o extrativismo vegetal,
Capítulo 21 - Umbu 461
Tabela 1. Valores médios das características avaliadas em plântulas de umbuzeiro provenientes de sementes
de diferentes períodos de armazenamento. Petrolina, PE, 1999.(1)
Características'ê'
Tratamento
GER DX CX ALP PTP NF CR
24 meses 73,6a lOJa 3,3a 13,la 2,9a 4,Oa 6,8a
DX = diâmetro dos xilopódios (mm); CX = comprimento dos xilopódios (em); ALP = altura da plântula (em); PTP = peso total da plânrula (g); NF
~ número ele folhas; CR = comprimento de raiz (em),
Outras técnicas de propagação vegeta- Os garfos usados para a enxertia devem ter de
tiva do umbuzeiro podem ser utilizadas, como três a quatro gemas. °
amarrio dos enxertos
a alporquia, com índice de pega de até 80% deve ser feito com fita de polietileno apropriada
(LEDERMAN et al., 1991), a borbulhia em para enxertia. Sessenta dias depois da enxertia,
janela aberta (PEDROSA et al., 1991), a garfagem as mudas estarão prontas para serem transplan-
tadas para o local definitivo. essa ocasião, os
no topo em fenda cheia e à inglesa simples
enxertos deverão ser desamarrados (ARAÚJO,
(ARAÚJO, 1999; NASCIMENTO et al., 2000).
1999; NASCIMENTO et al., 2000).
° processo de enxertia por garfagem no
Os métodos de garfagem no topo em
topo em fenda cheia pode ser feito em qualquer
fenda cheia e à inglesa simples não diferiram
época do ano. A enxertia deve ser feita quando os estatisticamente entre si, nas diferentes épocas
porta-enxertos apresentarem 0,6 cm a 0,8 cm de estudadas, e foram significativamente superiores
espessura, espessura esta que as plantas atingem à borbulhia, para todas as épocas (Tabela 2).
aproximadamente 280 dias depois da semeadura. Portanto, a enxertia do umbuzeiro pode ser
464 Fruticultura Tropical: espécies regionais e exóticas
°
processo de propagação permite ainda:
ocorrência de uma raiz sem ramificações, depois
de aproximadamente 30 dias. Os explantes de
reduzir o tempo de frutificação, multiplicar
segmentos nodais, além da formação de calo,
indivíduos superiores com características dese-
desenvolveram várias plântulas. Os ápices cauli-
jáveis, garantir a produção durante todo o ano,
nares desenvolveram-se por alongamento, sem
maximizar a produção de plantas por área e
manter o controle ambiental e fitossanitário de
°
formar calo. uso de cinetina a 4,6 ~M mostrou-
se o mais adequado para o desenvolvimento
materiais genéticos (HU; WANG, 1983).
de todos os tipos de explantes. Por seu turno,
De uma maneira geral, o estudo de métodos Melo et al. (1997), utilizando segmentos nodais
de micropropagação em espécies arbóreas tem obtidos a partir de plântulas com um ano de
enfrentado dificuldades para o estabelecimento idade, relataram a regeneração e a multiplicação
de protocolos de multiplicação e regeneração em meio MS suplementado com AIB (ácido
Capítulo 21 - Umbu 465
° cultivo do umbuzeiro pode ser feito em de 1,5 m, para que o umbuzeiro atInja altura
áreas desmatadas e em áreas com cobertura vegetal. ideal, e, assim, receba luminosidade. preparo °
No cultivo em áreas desmatadas, se existir declivi- do solo, a adubação e o plantio são os mesmos
dade na área de até 3,5%, deve-se traçar curvas recomendados para o sistema em áreas já desma-
de nível nas linhas de plantio. Na parte superior tadas. Esse sistema não permite o consórcio com
da curva de nível, recomenda-se a construção de culturas anuais.
sulcos para armazenamento da água no período
Em avaliação preliminar de adubação reali-
das chuvas. As covas devem ficar na parte inferior
zada por pesquisadores da Embrapa Semiárido,
dos sulcos, em espaçamentos de 8 m x 8 m, com
foi possível recomendar 45 g de P20s' 48 g de
dimensões de 0,40 m x 0,40 m x 0,40 m, com
pode ser visto na Figura 3. °plantio das mudas
K.20 e 5 L de húmus de minhoca, ou 15 L de
esterco de curral curtido, misturados à primeira
deve ser feito no início do período chuvoso.
camada de terra da superfície e colocados no
Para reduzir os custos de implantação, fundo da cova. Deve-se fazer uma bacia ao redor
podem-se plantar culturas anuais entre as da cova do umbuzeiro para ampliar a capacidade
linhas do umbuzeiro, como feijão-de-corda, de armazenamento de água no solo, no período
feijão-guandu e sorgo, para se obter uma renda das chuvas. É recomendável o uso de cobertura
suplementar e proteger o solo da erosão. vegetal na projeção da bacia. °
material para
cobertura usado na região de Petrolina é o bagaço
No cultivo do umbuzeiro em áreas com
da cana-de-açúcar.
cobertura vegetal, não há necessidade de desma-
tamento total da área. Esse sistema, implantado Uma estimativa de custos operacionais de
no Campo Experimental da Caatinga da Embrapa implantação de 1 ha de umbuzeiro é apresentada
Semiárido, encontra-se em fase de avaliação. na Tabela 3.
Segundo Araújo et al. (2001b), o plantio deve ser
feito abrindo-se picadas ou trilhas na caatinga,
°
em espaçamentos de 1 m, correspondendo
Tratos culturais
ao espaçamento entre ruas para o umbuzeiro.
Para as mudas enxertadas, devem-se eliminar
As covas são feitas ao longo das trilhas, também
os brotos abaixo do ponto da enxertia. É neces-
com espaçamento de 10 m entre si. Nos locais
sário fazer uma poda de formação da planta,
de cada cova, recomenda-se fazer a retirada das
quebrando-se a dominância apical dos ramos
plantas herbáceas ou semi-arbóreas até um raio
laterais que estão próximos ao solo. As capinas
devem ser feitas em redor da planta e em toda
área da bacia de captação de água. Sempre que
necessário, as bacias devem ser reformadas, prin-
cipalmente no início das chuvas. Recomenda-se
o uso de cobertura morta na área das bacias,
para a proteção do solo, para a conservação da
umidade e para a diminuição da incidência de
ervas daninhas.
Pragas
Tabela 3. Estimativa dos custos de implantação de pragas que normalmente afetam as plantas nas
1 ha de umbuzeiro. condições naturais.
Discriminação Unidade Quantidade A seguir, é feito um relato das pragas do
Mão de obra umbuzeiro identificadas no seu ambiente natural.
Preparo do solo
DOCE DO FRUTO DO
IMBUZEIRO
c
:2
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