24 - Musicalização para Alunos Idosos
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Resumo
O presente artigo visa estudar a forma como os idosos aprendem música. Exige-se do educador musical um método
diferenciado, com estratégias de conquistas, que procurem ler as dinâmicas, sempre sensíveis às necessidades da
área da gerontologia. O ensino de música tem caráter biológico e social, pois aciona memórias, estimula a interação
social e a qualidade de vida das pessoas idosas. O objetivo deste trabalho é investigar estratégias didáticas que
favoreçam o aprendizado musical da pessoa idosa, o qual deve estar ligado diretamente à sua história de vida,
assim como considerar e estimular a sua autoestima. A metodologia utilizada tem caráter exploratório, com
abordagem qualitativa, baseada em pesquisa bibliográfica. Constata-se que educadores musicais capacitados
trazem resultados satisfatórios para a musicalização dos idosos e que, ao fluir das atividades, os preconceitos aos
poucos são eliminados, deixando evidente que a música é dotada de um poder cujas repercussões promovem
qualidade de vida.
Abstract
The present article aims to study how the elderly learn music. A differentiated method is required from the music
educator, with strategies for achievement, which seek to read the dynamics, always sensitive to the needs of the
gerontology area. Teaching music has a biological and social character, for it triggers memories, stimulates social
interaction, and enhances the elderly’s life quality. This study objective is to investigate teaching strategies that
favor music learning by the elderly, which must be directly linked to their life story, as well as to consider and
stimulate their self-esteem. The methodology used is exploratory, with a qualitative approach, based on
bibliographic research. It was found that qualified music educators bring satisfactory results to teaching music for
the elderly and that, as the activities flow, prejudices are gradually eliminated, making it evident that music is
endowed with a power whose repercussions promote quality of life.
Resumen
El presente estudio pretende estudiar la forma como las personas mayores aprenden música. Se exige que el
educador defina un método específico, con estrategias basadas en logros, que trate de evaluar las dinámicas,
siempre sensible a las necesidades del área de la gerontología. La enseñanza de la música tiene un carácter
biológico y social, pues activa memorias, estimula la interacción social y la calidad de vida de las personas
mayores. El objetivo de este trabajo es investigar estrategias didácticas que favorezcan el aprendizaje musical del
adulto mayor, el cual debe estar directamente vinculado a su historia de vida, así como considerar y estimular su
autoestima. La metodología utilizada tiene carácter exploratorio, de orden cualitativo, basada en investigación
bibliográfica. Se pudo constatar que docentes musicales capacitados producen resultados satisfactorios en la
musicalización de las personas mayores y que, en el curso de las actividades, los prejuicios gradualmente son
eliminados, lo que deja claro que la música tiene un poder cuyas repercusiones promueven calidad de vida.
1 Introdução
através das atividades musicais — com o cuidado de não os infantilizar —, pode contribuir para
a aprendizagem, já que o aproveitamento da memória autobiográfica pode proporcionar
atividades com altos níveis de efeitos psicológicos positivos.
Esta pesquisa reflexiona sobre a prática docente da musicalização (educação musical)
com alunos idosos, em uma caminhada que vai além dos conteúdos musicais e que parece não
pertencer ao campo da educação musical, porém abrange um dos seus processos cognitivos: a
memória autobiográfica (NERI, 2014, p. 244), que se encaixa no contexto gerontológico, com
o objetivo de melhorar qualidade de vida de pessoas idosas. A música vai muito além daquilo
que pensamos, ela pode ser nomeada como terapia, com efeitos psicológicos, pois resgata
significados plenos dos dias vividos e garante qualidade de vida em matéria de saúde, coesão
social, capacidade funcional e bem-estar.
Com metodologias e práticas musicais com alunos idosos como centro temático, este
trabalho adota o método qualitativo, com base em pesquisas bibliográficas, e tem como
embasamento principal autores como Conceição (2013), Barbosa e Farias (2019) e Levitin
(2010). No entendimento que entrelaça metodologia e problematização, um dos fatores
relevantes para o sucesso na musicalização com idosos é o desenvolvimento do processo
educativo-musical a partir da realidade de cada aluno. É imprescindível, portanto, conhecer
previamente as condições inerentes à sua saúde individual bem como escolher o repertório a
ser trabalhado, conforme Conceição (2013).
A intenção da escolha do tema é permitir um desdobramento do ensino da música com
idosos, acionando memórias que estimulam a interrelação social e qualidade de vida. Tal
justificativa está ligada ao caráter biológico e à idade, valendo ressaltar que, nesse estudo, “o
envelhecimento e a música caminham juntos” (PAULA; SCHERER, 2011, p. 11). Do ponto de
vista do tema pesquisado, trata-se de uma pressuposição que resulta na investigação e reflexão
sobre aspectos psicológicos do envelhecimento, percebendo condições fisiológicas e
emocionais do idoso diante de uma expectativa de vida ampliada pelo avanço da medicina, que
resulta no atual crescimento da população idosa. Pode-se perceber uma quebra de padrão
relativo a mitos e preconceitos sobre a inutilidade dos indivíduos idosos que, aos poucos, vai
garantindo viabilidade para uma qualidade de vida melhor. A contribuição da música na
estimulação da memória dos idosos pode ser um instrumento importante na sua aprendizagem,
visto que estas pessoas ainda são capazes de aprender e produzir, dentro dos limites impostos
pela idade e condição física (PAULA; SCHERER, 2011).
O objetivo principal da pesquisa é compreender a visão da literatura sobre a
musicalização de idosos. Os objetivos específicos são: a) investigar estratégias didáticas que
favorecem o aprendizado musical, como a escolha de repertório adequado, o qual deve estar
ligado diretamente a histórias de vida e sentimentos (CONCEIÇÃO, 2013); b) considerar e
estimular a autoestima com intenção de valorizar o ser humano idoso; c) evitar o preconceito
social acompanhado do sentimento de inutilidade; d) desconstruir o mito de que idoso não
aprende.
A música é um instrumento facilitador da comunicação e expressão humana
(MARQUES, 2011). Neste sentido, não há dúvidas sobre a sua importância na terceira idade,
pois é instrumento de promoção de processos de conhecimento e autoconhecimento (KATER,
2012). Em relação aos idosos, mesmo sem qualquer formação musical ou propósito de
formação como músicos profissionais, a Educação Musical propicia o desdobramento de
memórias — muitas vezes perdidas em função da senilidade —, o estímulo à interrelação e
socialização — também defasada nesta faixa etária, uma vez que as pessoas idosas são afastadas
do convívio em sociedade por preconceitos — e, por fim, o estímulo do movimento e ritmo,
que estimulam a percepção corporal e o desenvolvimento motor (MARQUES, 2011).
Portanto, o uso da música, como processo de ensino-aprendizagem, promove no idoso,
de acordo com Gomes e Amaral (2012, p. 105), “efeitos significativos nas esferas
psicoemocionais, físicas e sociais destas pessoas, repercutindo na melhora da autoestima e da
sociabilização”, e consequentemente, elevam-se o bem-estar e a qualidade de vida.
2 Metodologia
Lucio (2013) que o enfoque se guia por áreas ou temas significativos de pesquisa. Ao contrário
da maioria dos estudos quantitativos, em que a clareza sobre as perguntas de pesquisa e as
hipóteses devem vir antes da coleta e análise dos dados, nos estudos qualitativos é possível
desenvolver perguntas e hipóteses antes, durante e depois desses processos. Geralmente, essas
atividades servem para primeiro descobrir quais são as perguntas de pesquisa mais importantes,
e depois para aprimorá-las e respondê-las (SAMPIERI; CALLADO; LUCIO, 2013, p. 33).
Uma pesquisa bibliográfica, segundo Gil (2010, p. 29), é elaborada com base em
material já publicado. Tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material impresso,
como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais de eventos científicos. Todavia, em
virtude da disseminação de novos formatos de informação, passaram a incluir outros tipos de
fontes, como discos, fitas magnéticas, CDs, bem como material disponibilizado pela Internet
(GIL, 2010).
O trabalho está estruturado na seguinte ordem: 1. Introdução (tema, problema,
justificativa, objetivos); 2. Metodologia; 3. Revisão bibliográfica/estado da arte; 4.
Considerações finais; 5. Referências.
3.1 Envelhecimento
Indo de encontro com a antiga e simplista ideia de que a arte e a música são
processadas no hemisfério direito do cérebro, e a linguagem e a matemática, no
esquerdo, descobertas recentes em meu laboratório e nos de meus colegas
demonstram que a música é distribuída por todo o cérebro. Em estudos com pessoas
acometidas de danos cerebrais, encontramos pacientes que perderam a capacidade de
ler um jornal, mas continuam lendo música, bem como indivíduos capazes de tocar
piano, mas sem a coordenação motora necessária para abotoar a própria camisa
(LEVITIN, 2010, p. 15).
Ainda nesse sentido, afirma Levitin (2010) que o ato de ouvir, tocar ou compor uma
música, mobiliza quase todas as áreas do cérebro, envolvendo aproximadamente todos os
subsistemas neurais.
Por esse motivo, Bergmann (2012, p. 108) recorda que “os idosos têm um repertório
diferente do repertório das pessoas mais jovens”, o qual não é conhecido por eles (os idosos),
porque as músicas que circulam em um momento, sempre são substituídas por novas, que
agregam valores culturais em constante renovação.
As dificuldades dos idosos em aprender conteúdos novos ou diferentes dos
acostumavam ouvir quando jovens devem-se ao fator da memória recente, bem como à
desmotivação diante de músicas não conhecidas e formas de execução diferentes das que se
arraigaram na sua memória durante toda a vida. Aos 18 anos ocorrem mudanças importantes
na vida de uma pessoa: o primeiro amor, casamento, o primeiro emprego ou cursos em geral.
Na formação do roteiro de vida, são esses provavelmente os mais importantes momentos e que
vão ser profundamente codificados. A memória autobiográfica é definida como o tipo de
memória direcionada para recordações da experiência de eventos pessoais marcantes no
passado; nesse ato de lembrar de si, há eventos que têm marca duradoura. Nesse sentido, autores
revelam que os idosos preferem canções às que respondem emocionalmente, como as de sua
juventude por se relacionar com algum fato acontecido no passado de suas vidas. Luz (2005)
afirma encontrar maior receptividade por parte dos alunos idosos quando a escolha do repertório
enfatiza músicas populares brasileiras, isto por considerar o sentido afetivo.
Bergmann (2012) indica que as aulas de música podem ter enfoques diferenciados: ser
uma atividade realizada a partir do idoso, ou seja, aprender do aluno o que ensinar (querer
saber); compreender, no aluno idoso, o motivo da busca pela música na terceira idade. Em
pesquisas, explicam entrevistados idosos que as circunstâncias e condições diversas não lhes
permitiram aprender música em épocas anteriores, embora tivessem algum elo com ela e que
somente encontraram a possibilidade de aprendizagem na terceira idade.
Em relação à atividade prática de canto coral, é necessário respeitar e abarcar as músicas
que surjam de um conhecimento prévio e individual dos alunos idosos, considerando as
dimensões físicas, emocionais e sociais dos interessados. Isso porque o repertório musical
influencia o aprendizado por estar ligado diretamente com histórias de vida. Conceição (2013)
afirma que tal repertório deve agradar ao aluno. O educador deve estar sempre disposto a
conheçer o repertório dos idosos, formado não apenas por músicas compostas em épocas
passadas, mas que agregam valores sentimentais, culturais e sociais às pessoas do grupo em
consideração.
Quando os músculos responsáveis pela respiração são enfraquecidos pelo
envelhecimento, a capacidade respiratória é prejudicada. Nesse sentido, Hauck-Silva (2012) diz
que a técnica vocal pode ser aplicada como um momento de preparação vocal ou de
aquecimento vocal. Essas duas práticas se distinguem entre si. Chamamos de preparação vocal
quando o principal objetivo é a relação de ensino-aprendizagem dos fundamentos da técnica
vocal (HAUCK-SILVA, 2012).
Quanto às alterações fisiológicas da voz, a presbifonia, é provável que o avanço da idade
venha a afetar a voz do idoso, trazendo mudanças. Meirelles, Bak e Cruz (2012, p. 77) relatam
que, ao envelhecer, a voz perde força, velocidade e precisão articulatória. Em um alerta feito
aos regentes, a presbifonia deve ser considerada como elemento importante, para que não
ocorram danos graves nas vozes dos coristas. Rabelo (2011, p. 21) direciona esse alerta para
Autores citam como práticas comuns nas atividades musicais o ato de tocar um
instrumento, seja flauta doce, teclado, violão ou mesmo a leitura de uma nova linguagem, a
notação musical. Ferreira e Silva (2016) argumentam que tais atividades proporcionam a
ativação de diversas regiões cerebrais; essa transferência de códigos para a prática motora, a
memorização de passagens longas, tudo isso mantém o cérebro em constante atividade.
No pensamento de Marques (2011, p. 57), “a representação mental da música deve
nascer do prazer musical”; por outro lado, as propostas de educação musical para idosos devem
manter o cuidado de não os infantilizar, mas contribuir como meio facilitador da aprendizagem,
sempre enfatizando a questão da escolha do método para não desvirtuar o sentido.
Observa-se que as limitações podem levar o idoso a desistir do aprendizado musical
devido a vários motivos relacionados ao envelhecimento como: visão enfraquecida, perda
parcial da audição, que interfere diretamente em sua fala, e na própria falta de confiança, diante
de tantos preconceitos criados por parte da sociedade, que considera o idoso incapaz de
aprender novas habilidades. Entende-se que o professor precisa estar atento em separar alunos
idosos dos alunos mais jovens, pois os idosos apresentam ansiedade e nervosismo, segundo
Bergmann (2012).
Notamos muitas vezes que, na vida social, sucede a marginalização do idoso, decorrente
do declínio de suas características físicas — como o aparecimento das rugas, dos cabelos
brancos, a diminuição da memória —, e as alterações psíquicas, como a perda da confiança, o
aumento da angústia e muitas vezes a depressão (NATUME; PILLOTO; STRAPAZZON,
2018). Atitude negativa leva o idoso a se autocensurar e a não confiar na sua capacidade. Aos
poucos, quando ele percebe que é capaz de aprender, que está progredindo, sua atitude muda:
a educação contribui para o resgate de sua autoestima. Nesse caso, esse processo dependerá
muito do trabalho realizado pelo profissional responsável por desenvolver e aplicar as propostas
Jogos sonoros com palavras, jogos imaginativos e metáforas com objetos relacionados
cotidianamente aos participantes, além de recursos criativos e projetivos por meio de
gestos e coreografias, sons e movimentos. Esses procedimentos agradam os idosos
(CONCEIÇÃO, 2013, p. 71-72).
A ludicidade nos ensaios, nos assegura Gois (2015), deve associar a proposta do ensino
musical a ações planejadas e preparadas, para que o jogar não seja somente o brincar, e sim
aspecto gerador de aprendizagem. Os propósitos do jogar são dar mais sentido às tarefas e aos
conteúdos, além de se aprender com mais prazer.
4 Considerações finais
O interesse pelo estudo da educação musical dos idosos despertou-se para uma
valorização dos benefícios encontrados na aprendizagem musical dentro do processo de
envelhecimento natural do ser humano. As perdas decorrentes do envelhecimento acarretam
prejuízos; o processo de degeneração pode afetar até mesmo a realização das AVDs (atividades
da vida diária), com consequências sobre a qualidade de vida das pessoas idosas.
Ao sistematizar a concepção da proposta em análise de resultados obtidos, podem ser
expostas algumas considerações finais importantes neste processo de aprendizagem. Este
processo partiu do objetivo geral de compreender a posição da literatura sobre a musicalização
de idosos, buscou investigar as estratégias didáticas que favorecem a aprendizagem, considerar
e estimular a autoestima com a intenção de valorizar o idoso, evitar o preconceito social
acompanhado pelo sentimento de inutilidade e também desconstruir o mito de que o idoso não
aprende.
Constata-se que a realidade da velhice implica várias limitações, mas ressalta-se que
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