Convergencia 194
Convergencia 194
Convergencia 194
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..
, Um evento de grande signifi- entre a práxIs "da Vida "Religiosa
cado será , "vivido " pela CONFE- e o Projeto dopAI.
Fli::NCIA DOS RELIGIOSOS DO
BRASIL, "nesse ano de 1986: - " Com certeza revelará porém,
a XIV ASSEMBLÉIA GERAL OR- a imensa disponibilidade e efe-
DINARIA (AGO), a se realizar de tivo serviço dos Religiosos pela
21 a 26 de julho, em São Paulo. causa do Reino. " Das periferias
urbanas aos "cerrados centrais,
Eleições para os diferentes esc do sertão nordestino às solidões
tratos da Di reção Nacional -
Presidência, Diretoria e Conse- da floresta amazônica germinam
o •
~21
,
Este pólo equilibra-se com outros ... "INSERÇÃO E EDUCAÇÃO
.pólos", tais como o sacerdotal,· PARA A VIDA RELIGIOSA HOJE'"
o sapiencial e o apocallptico, de Frei ANTONIO MOSER, OFM.
lembra Pe. LlBÁNIO. Além disso, Nesse artigo Frei MOSER analisa
trata das posslveis patologias o confronto vivido na formação
que ameaçam o profético. Esse para a Vida Religiosa: "Ao mes-
texto de Pe. LlBÁNIO é do maior mo tempo que importa manter-se
interesse para a Vida Religiosa . fiel a um patrimônio herdado,
no Brasil, precisamente no mo- importa fazer-se fiel às interpe-
mentoem que se reúne em As- lações de um momento e de um
sembléia. contexto determinados".
"IDEOLOGIA E PROFECIA", "PESSOA E CULTURA MO-
de Pe. NICOLAU MASI, SX, é um DERNA NA FORMAÇÃO PARA
texto claro, lúcido e direto. O A VIDA RELIGIOSA HOJE: I
autor ali se propõe estabelecer Formação ·da liberdade, ele-
as fronteiras entre IDEOLOGIA e mento central na formação da
PROFECiA, o que as distingue e pessoa", é a primeira parte da
conferência pronunciada pelo Pe.
separa, o que as aproxima e
MARCELLO DE CARVALHO AZE-
pode confundir. Ambas "são pro- VEDO, SJ, em Roma, numa ses-
jetos totalizantes, indicam o mun- são de estudos para 850 Su-
do dos sentidos, a visão global periores Maiores, organizada
do mundo, o horizonte, o refe- pela UISG, de 13 a 16 de maio
rencial, o prisma através do qual de 1985. Nesse primei ro texto,
se enxerga o universo". Oportuna Pe. MARCELLO focaliza uma di-
reflexão para o momento em que mensão fundamental da forma-
os Religiosos no Brasil se lan-
ção para a Vida Religiosa e da
çam num processo de avaliação
de sua presença profética no formação da pessoa como tal:
meio do povo. "O núcleo central de toda pes-
soa humana, no piano individual,
. "Os RELIGIOSOS NO BRASIL como no social, é a sua LIBER-
NOS úLTIMOS 20 ANOS ELE- DADE. A formação, pois, deve
MENTOS PARA UMA HISTóRIA centrar-se sobre a liberdade".
DA CONFER!:NCIA DOS RELI-
GiOSOS DO BRASIL", I, de Irmã Às vésperas da XiV AGO, CON-
MARIA CARMELlTA DE FREITAS, VERG!:NCIA cordialmente agra-
FI. A autora se propõe verificar dece a obsequiosa atenção de
a caminhada da Vida Religiosa seus leitores, e a carinhosa dis-
no Brasil nessas duas décadas, ponibilidade de tantos articulis-
sobretudo pelo ângulo de visão tas seus a serviço da causa da
da CRB. Contribui assim, para CRB: a promoção e animação da
a recuperação desse passado re- Vida Religiosa no Brasil.
cente da Vida Religiosa, tão rico
e desafiador. Pe. Atico Fassini, MS
322
F' o R
•
I E
CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL ,
323
2. A formulação que :0 , Concílio dá à vocação un)versal, :de modo algum po-
"mutua relatio" em Lumen G,enlium , dem 's~rvir !le . obstáculo à colaboração
(43-45), põe em relevo os dons hierár- generosa e livre no âmbito diocesano
quicos, enquanto em Perféctae Caritaiiá '. ,(';om ,a participàçãpde·. 'itíflglosos nos
·(1-2) -são ' ressaltados os dons caris má- Conselhos , diocesanos) ,e, a,-flivel ..Racio-
. ticos. Esta diversidade de aspectos na nal (com a participação nas Comissões
: formulação manifesta a tensão, queri- mistas de Bispos e Superiores Rellgio-
' da pelo Esplrito do Senhor para o bem sos, instituídas pelas Conferências EpiS'
da Igreja, entre os dons hierárquicos e capais).
ósdons carismáticos. Esta tensão não
deveria nunca constituir 'um fator de
divisão ou favorecer um ' apostolado pa- INTERVENÇAOdo Pe. ,
ralelo, mas conduzir ao enriquecimento VIKTOR
dinâmico da santidade existencial e do
impulso.
, apostólico
,
da
,
Igreja. Trata-se
na V CONGREGAÇÃO
então de evitar todo o nivelamento dos GERAL do SrNODO
carismas" de respeitar , não só a auto- EXTRAORDINARIO
nomia interna das famílias . religiosas, dos BISPOS 1
mas também as missões especrticas in L'O.SSERVATORE
~ue derivam QOs próprios carismas, e,
ROMANO de 8 de dezembro
enfim, da falta atual de sacerdotes que
aflige a Igreja, de ir ao encontro das
de 1985, p. 10 , '
324
·ascese, ., não 'se esq41vam à., "kE;mosls", grupo. Quero . apresent!!r a· primeira se-
ao' despojamento de si mesmo.s. ,A vida .ção sobre. a vida religiOsa, ·e .o Senhor
segundo . os conselhos .evangéHcos, vI- ·Suli.k apresenta· a .segunda seção so-
vida com fidelidade no mundo secula- bre .os ·.mt;)vimentos espiri~!Jais, as orga~
rizad.o , .. e ·a . ~isponibilidade .generosa· no nlzaçõ!,s . laicas· e· Qutros " assuntos d,o
apostolado continuamente requerem sa- I,aicado na Igreja. .
,c riffcios e renúncias. é , preciso, porém, . "'. ' . . .. , ' " .
. - Queremos, ' '"em primeiro lugar, agra;'
ter .presente que são sobretudo os 'abu-
'd'ecer-Ihe: Santo. Padre, . o ·. convite
. ,'é . o
sos que vêm. ao conhecimento dos Su-
privilégio de estarmos presentes' neste
perior.es, .dos Bispos, da .Santa Sé. Não
Sino do. ,Consideramo-lo
, .' ,
como . uma
. ' sua
seria justo ~squecerJ ' por 'isso, o fervor "
325
'fontes da nossa vida: a Palavra de munitária · como algo de vital num mun-
e
' DEÍus, o esprrito o carisma dos nossos do que respira indlvrdualismo e materia-
fundadores; duas coisas que devem ser lismo. Não temos a ilusão de que a
·vívldas no mundo de hoje. Se o desen- ·comunidade seja a solução para os
volvimento . da nossa resposta não foi complexos problemas da nossasocie-
sem tensões, sem sofrimentos ' a, inclu- dade, mas cremos que pode ser um
. slvamante, . sem erros, por sua vez foi sinal de esperança indicando alguns
assinalado por sórios esforços, pelo en- elementos de solução: como a liberdade
tusiasmo e pelo compromisso. evangélica, a participação, o amor e o
respeito mútuo, a co-responsabilidade e
Nós somos hoje mais conscientes · de
a universalidade. Nalguns parses, a co-
que a plenitude da consagração e o
mun idade é hoje um sinal contra-cultu-
serviço do nosso a·postolado vivem-se
ral . importante. Nós próprios precisamos
num movimento único de amor a Deus
da comunidade. Precisamos de nos con-
e · ao próximo. Portanto, a chamada à
firmar . uns aos outros na fé, na espe-
conversão e à · santidade, freqüente-
rança e no amor; e quando nos enfren-
mente repetida neste Srnodo, é para
tamos com os poderes das trevas, sa-
nós não só uma chamada à oração, mas bemos que não podemos nem falar nem
também ao serviço, um serviço · que sobreviver senão como comunidades de
deve provir de uma "(ntima união com fé e amor.
Cristo" (PC 8). Foi esta unidade de ora-
ção e de serviço que pOderosamente o Sínodo falou de inculturação como
caracterizou os nossos fundadores. algo essencial à proclamação da men-
'Como aconteceu na vida deles, a Euca- sagem de Cristo. Nós também sentimos
·rlstia é a fonte inexaurrvel que alimenta a necessidade
. .de fazer como fez Jesus,
·0 nosso amor apostólico assim como o a de encarnar a nossa vida e a nossa
sacramento da reconciliação nos torna ação num contexto especifico. Este es-
possivel reconhecer as nossas fraque- forço não tem sido fácil, nem sem ten-
zas e contemplar a misericórdia de sões: ajUdou-nos o exemplo do Santo
Deus. Padre, que veio aos nossos parses, fa-
As vocações diminulram nos anos lando a IIngua deles - inclusivamente
pós-conciliares, mas agora observamos o japonês - , encontr,anço-se com o
que os jovens estão a voltar a uma vida nosso povo e escutando-o.
religiosa, nalguns continentes em núme-
A · inculturação favoreceu uma verda-
ro crescente, e noutros mais lentamente.
deira inserção no mundo, mas viu-se
Andam à procura de um vida de pro-
limitada por temores e dificuldades. De-
funda oração e serviço.
vemos especificar claramente a que
Este Slnodo falou com· freqüência da "mundo" nos estamos a referir. A in-
Igreja 'como "comunhão". Mencionamos serção indiscriminada, nas suas primei-
·aqui só um apécto da nossa vida. A ras etapas, foi para nós, algumas vezes,
renovação das nossas estruturas e dos uma experiência de seCUlarização mais
nossos modos de relação procuram sin- do que de evangelização. O discerni-
ceramente exprimir e refletir a comu- mento permitiu-nos descobrir as contra-
nhão. Vemos o testemunho da vida co- dições do mundo moderno. As condi-
326
ções , dos pobres, as vrtlmas dalnjus- temunho da sua sede de Deus. Para
tlça saltam aos olhos perante osvalo- nós, leigos e religiosos, é na meditação
res do Reino de Deus que nós devemos dos acontecimentos ,e da ~alavra de
proclamar. Estas experiências não só -Deus que, como Maria, somos capazes
nos permitiram Interessar-nos pelos pro- de descobrir a presença amorosa de
blemas da injustiça e da paz, mas tam- ,Deus e de · Lhe responder.
bém interrogarmo-nos ,quanto a nós
,
327
éóní ó nbme
'dá ' Provfncia . "Nossa ·Se.. grandes : beneffclos na " educaçiÍo, "fo,;
ilhorà" Aparecida'.';· com' sede em ' Porto mariao' lhés : as" mestras d'e que rieces:
Alegre-RS; Em 1965, ano ' em que co- sitava:
·memorou 150 al"los de fundação, '8 'Con- .. . . .. ' .
..A. Companhia, . percebendo o · campo
gregação teve a . alegria de ver surgir J . ' . . . . ,
Imenso
. . . '"
.que tinha. pela
.·frente,
.
as neces,
uma nova Provrncia· na América do Sul, '.
TERESA
. . . . DE "ESUS
. ' .
ç~ram-se, então, .em direção 3? Rio d.~
75 ANOS DE SERVIÇO Janêiro, onde chegaram em 21 de maio.
A IGREJA NO 'BRASIL de 1915. , .. . I
328
siL oEm' .1 938, formou-se uma nova ·Co-· grande :cuidado em · .preparar . as . Irmãs'
munldade ó com :a · fundação doPensio"
nato de ·Porto . Alegre. E ·as . vocações
para" 'serem -verdadeiras· educadôras. .:..
'. -. '.
,
. .
. .' . ... '.
...".
'la··algumas.:di!.i culdades:
. . . ....
F.ortemente.
'. . '. ' . '
quesjionadaspela
ta da Igreja, marcam sua presen.ç a .no
' .. .- propos-., ..
, M • • • • • . " ~ ". •
.. FundoU-se, . 'e ntão, .u m' 'Novlciado em ' melo dos pobres. Aos poucos, vão dan-
· "l ~ ' . ". ,' - . . .."", . . • .•. ..' . ". '. ' . . . '
i\loVa 'Ftiburg'o ; Rio de. ~aneiro, em 1952.
' .
db:: ;làssos; ctentando ·acertar, . clarifican-
Ali
. " ....
' pai'riiâneceu
',' . ..
. ,
até .1957; quando
... . . . . , .
~ . '.,
se '
" ,
do"':;;s :dd<llas, " :purlflcando : as , opções,' .
transladou 'pára' Porto "Alegre; num balr- ' buscando 3 coerência na prática li.ber:i. ~
. "~ ' I ' ·· ··"", . . . . . . . . . . . - .' ... ,
rei da'·cldade.No: ano segillnte; a Pro- ' tadora. E ".'
assim, na linha d" Opção. Pre-
. ..~ -- . " ".
e "recebeu outras 'Óbràs! ·· : r:~í '::" ' ~' " ... ,1"" { .....:
. . o nome. de Provlncia Nossa
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• ', "
c.i.d ades" de ·S,a niana. 00 ' Livramento' e .. do FunDador, ',as CO,munidad'ls que . tra-,
1t,~q~I , á quase , lç,ta,l ipade ,de, s.eu pro, ' , balháv:m em' ;;;sc0las, joi?mse~tiiod~ a ',
f~~s.orado "é o",\ndo ,das. Escolas Tere ~ necessl.dade de 'também atender, as pe- .
sia'nas. Nesse cainpo sempre "houvé um rJferia~. das ' 'c idades
.
onde se · an,c''"tra:
,_ . . o.'
..
32.9
. . ...."
•
vamo Foi assim que, Impulsionadas pe- cesso educacional', sobretudo na Escola.
las opções de Puebla , algumas ' Irmãs Poslo em queslã,o esse processo, fez,se ,
se dispuseram a morar e a presta,r ser.. uma longa caminhada na reflexão com'
viços nessas periferias: Religiosas e Leigos, sobre a Educação
Libertadora, que, aos poucos, mudou a·
Em, 197,9, a Comunidade do Colégio
face das Escolas.
do Rio de Janeiro assumiu a Favela do
Morro da Chacrinha; Hoje; a Provinciaconstltul-se de cin-
co Escolas, sete Comunidades Inseridas,
Em 1982, a Comunidade do Colégio
, em meios populares, frês residências,
de Livramento Iniciou os trabalhos na também em meios populares, como ex-
Vila Conceição; tensão das atividades das Escolas, e
"Em 1,984, a Comunidade 'do Colégio uma
. gama
.
imensa de oulr;15 atividades ,
de Porto Alegre se inseriu na Vila Ursa pastorais. Em meio , a uma sociedade
Maior. permeada de egolsmo e violência, as
Irmãs Tereslanas lutam e allmenlam a
Junio ao clamor dos pobres, se en- esperança de um mundo melhor.
, ,
" .
•
• Tempo: crónos e kairós
, .. O grego traduz ' a palavra tempo por cr6nos e por 'kair6s. 0 , cr6nos se
refere a quantitatividade do tempo. Este tempo que continua rolando inexCr
ravelmente. Kair6s se refere ao tempo qualitativo, ou seja, a visita de Deus
no nosso crónos.Kair6s é tempo de vida por excelência.
inarredavelmente à, morte. '
°
crónos nos leva
330
•
.o PAPEL PROFÉTICO
.• DA VIDA RELIGIOSA
•
331
I. O PóLO PROFÉTICO . . . E· , . . çoa. Ora, há umll graça do profetis-
SEUS EQUILIBRADORES '. .. . mo. , Não salta :essa estrutura huma-
na. Supõe-na, mas a eleva, a pleni-
O profetismo, compdimensão ilU o fica, a aperfeiçoa. O profetismo re-
mana de nossa existência, nasce da ligioso consiste fundamentalmente
defasagem, do corte, do "gap" entre na mesma tensão, agora informada
dois dados: o real e o desejado, a pela graça envolvente de Deus. O
realidade social e a utopia, o "onde" profeta experimenta no real concre-
e o "para-onde", aexperiênçia con, . to,pe.queno, limitado e di~rio um
ereta e o murido . das '.,aspirações, a, . "realotimal <:hi Deus". ' Numa expe-
história concreta eo ,mundo ,doima- riênciahumana de injustiça, experi-
ginário, o presente..limitado ,e. o ,fú- , : Inent a o .I?eus real oth11al da justiça,
turo iliuútiltlo; o; dado" e\ o projeto·.... ~qu,e!1).e da força,)uz.e_~,:co!agem pa-
O profetismo lança suas raízes pro- ra criticar, questionar, julgar o pre-
fundas na estrutura mesma de nosso sente. Há uma co-experiência do
ser humano, na nossa experiência Deus-futuro, do Deus-promessa, do
originária antropológica. ' . Deus-revelação-do-plano-salvífico, do
; ., . . . Deus-que-ressuscitou-Jesus, do Deus-
Experimentamos estar-aqui;: .estar-. :; 'que-promete-vida-e-ressurreição no
no-mundo, caber-dentro-de-pequeno-
espaço:.e-tempo, .ser-Iimitado, ser-me- interior mesmo das experiências Ii-
tlido' p61(i..ltinipo:sola'r;' 'sei--'éomensuc m,i.tada_~, }r~ca.s, ;jI}N.sta~, cheias ". de
i;adà:pelá"niiitenaIiâlidé:do;êorpo: 'Ex': peçago,', ~~, 1i!stória .~on'ireta..;:E, dessa
-Perihiêíitâmo.s · out~osslni: .' esfar-álhu' co,expenen,Cla de .Deus. que surge a
re"s'", ;'s'u"Tie'rar'
t'
-'est'e-'m
', 'lindo',:' na-o' -c' ab'er- fa{sclI,proféticâ . .Elil atuaIiiâ. Q' exis,
te~cial . ; sooreniitUraLd6' ' .. homem
dênirii;ae-Iienhum~teÍiJ.po; <rOniper-as- orientail6 pa,'s DeÜs. '.. : •. ...... .
barreiras-espaciais. Somos tempô; ... .." , . ... . .. ..'. ., '
pensando na ,eternidade. ;S;omos es- ·';,B umaexperiêncià única,· masbi-
paço, aspirando a · pancosmicidade. p:olàr. B experiência da Transcendêil"
Esta. dl!pla ,dimensãO .. antropol6gica eia de Deus tia iinanência do ·hlstóri-
possibilitá •. '!I'. experiênciaproféHca; co· concreto."Bipolàr, porque a Transo
?àitantó,antropoiogicaménte falan- cendência e aímailênciartãô se-iden~
do, o , s'er-profeta revela a .possibili- tificam, e .não se reduzem,.mutuamen-
diide ' de ' o sethuÍnano partir de sua te: Essés pólos podém ser alimenta,
üimensão trànscendente para ques- dos por fontes cliversas, ' parll que a
tionar ó inianente, de voltar-se so- experiência se . clarifique. Assim o
bre Ó "presente desdé sua autotrans~ real concreto pode ser iluuúnado pe:
cendência para O·futuro. Nesse sen- los instrumentos sócio-analíticos; o
tido, o religioso participa, como to- Deus-revelação, por sua vez, pode
do· ser .humano, dessa mesma estru- aparecer-nos mais· claramente . quan-
tura básiCa'profética. b religioso na tQ mais recapitularmos suas manifes~
sua funçãO profética sllPõe esta'teali- fações ao longo da história e sobre-
dadehulllana futidamental, que ele tudo na pessoa de ~eu Filho Jesus.
(:omuriga com , seus h'mãos homens. . '. .' . . .
. ' O profetismo alimenta-se, pois, de
, Santo .. Tomás .já .ensinava. que , a duas fontes,de dois conhecimentos,
graça ,supõe a natureza .e a 'aperfei- de dois .saberes .. E como o critério
,interior. da experiência nos escapa e dor. Quem vai ficar refletjp.do, ma-
como esta ·pode estar faci.l metite su- tutando: diante ' dum rugido de ' leão,
.jeita a ilusões. su.b jetivas, devemos pari! só em seguida reagir? Seria de-
recorrer aos dois conhecimentos pa- vorado. De fato,.o profeta percebe
ra julgar e discernir a a1,ltenticidade numa co-experiência que o Senhor o
do profetismo. chama, o provoca: "O Senhor to-
. .
Incumbe ' ao profeta 'c onhecer sua mou-me de detrás do meu rebanho
realidade sociál. Ele' não está isento e dissecme:: vai, e profetiza contra o
dessa dura ·. tarefa, que exige n:ieios meu povo de .. Israel" (Am 7,15). Há
·próprios e específicos, que não po- uma experiência da certeza de Deus
que nos : diz: "Irás procurar todos
.deni impunemente ser saltados. Há aqueles aos quais te enviar e lhes di-
muito profetismo destrambelhado rás o que Eu te ordenar. Não deve-
simplesmente por .desconhecimento
da realidade, das coridiçõés objeti- rás temer,-porque estarei contigo pa-
ra ' livrar-te, oráculo de Javé" Ur
.vas de uma transforniação. Para tal 1,7-8). " ,, '
·conhecimento conjugam-se três fon- , '
333.
. ". -
,
334
'sapiencial. Pertence também a essa mente o sofrimento toma' tal propor-
· dimensão a transmissão de experiên- ção, que pelo seu excesso, termina
cias dos Hmaiores" aos f(juniores". por apagar a sensação da existência
Uma das graças de uma comunidade presente para encontrar na iminên-
"é o. encontro das diversas gerações. . cia' de um fim, de um futuro, a so-
A geração jovem. mais profética. ' lução da angústia e tribulação. O fu-
mais ardorosa, encontra-se com os turo vem logo já pronto. Não temos
"mais experimentados, com aqueles nada que fazer senão aguardá-lo e
,que puderam durante anos ir apren- pedir a Deus que nos salve defiti-
· dendo a descobnr Deus em todas e vamente. Dois sentimentos dominam
mínimas coisas. O dito latino, adu- a experiência apocalíptica: confian-
'~ido por um jesuíta desconhecido, ça absoluta e resistência, ou o con-
para caracterizar Santo Inácio, a sa- trário,desespero e desistência total
ber, "non coerceri a maximo, con- de existir. Nesse momento, espera-se
tineri tamen a minimo, divinum est",
reflete muito bem esse equilíbrio das de Deus que faça a distinção radical
duas dimensões sapiencial e proféti- entre o bem e o mal, que separe as
ca. O profeta não se deixa coibir ovelhas dos cabritos, que distinga a
por nada, nem pela maior coisa - luz das trevas. Situação tipicamente
Hnon coerceri a maximo" , mas o dual: juizo condenatório ou salva-
sábio é capaz de descobrir a beleza. ção. Ambos últimos, radicais, defi-
,Deus, na menor coisa "contineri .nitivos. E tudo ' isso está prestes a
tamen a minimo" . E só Deus é a irromper, já que nossa situação exis-
perfeita halmonia dessa dupla di- tencial ou social chegou ao limite da
mensão "divinum est". Para o tolerabilidade.
profeta é o futuro-novidade. Para o
'sábio é a continuidade simples do 11. AS PATOLOGIAS
cótidiano. "Nihil novi sub sole". na- DO PROFETICO
.da de novo sob o sol.
As patologias do profético vão
A experiência humana, seja pes- manifestar-se toda vez que se dá um
· soai, como social, pode chegar ao .desequilíbrio nas diversas dimensões
,paroxismo do sofrimento, da insu- da Vida Religiosa. E como tais dese-
portabilidade, em dado momento. quilíbrios podem vir de combina-
Experiência mais rara, mas possível ções múltiplas entre as diversas di-
e real. O presente surge na tragici- mensões, surgem algumas figuras di-
dade de seu lado negativo. Nem pos- .ferentes da patologia do profético.
sibilidade de evadir dele, nem pers-
pectiva de mudança, ao menos na Essas figuras armam-se dentro de
percepção de quem o sofre. Expe- dois grandes movimentos. Um pri-
riência·limite. Beira·se o desespero, meiro produz o esfriamento da di-
ou se lança confiante nos braços de mensão profética, enquanto que o
Deus. na espera de que Ele atuará outro a superaquece. Em ambos, por
leigo, justo e misericordioso. ~ a ex- congelamento ou por fusão. os pólos
periência apocalíptica. O passado desaparecem na sua posição antité-
desaparece nas , brumàs longínquas. tica .e tensional, deixando atrás de
O presente esmaece. Ou mais exata- si uma realidade empobrecida.
-335
•
,,1. OesfriamentC)
.,
profético
_. , ", . . " O ,aburguesamento opera o mes-
mo resfdamento geral . da dimensão
· O profetismo podeextinguir·se ,proféiica. Ele, se manifesta precisa-
· na .Vida . Religiosa por total esfria- · mente na plena . satisfação das ne·
.Illento.· Este processo pode ser cau· ·cessidades e na instalação da felici-
sado por diferentes comportamentos dade já presente, sem pretensões de
.' entre "os pólos do real e do ideal. futuro.
.. E esse fenômeno
, . tem-se
·, .. , · acentuado "ultimamente no interior
a: Aproximação e quase-identida- · da Vida Religiosa, uma. vez que o
de entré os pólos do real e ideal. '. Capitalismo; .com sua enorme força
" . · totalizante e . invadente, ocupou e
o
profético se ' aquece pelo calor ocupa todos os interstícios deixados
provocado pelo atrito entre o ideal abertos pela ·ascese tradicional. Não
e o real. Mas quando os dois se co- é sem razão que, neste ponto, lasti-
· Iam e pactuam entre si, a ponto de ma o Cardo Ratzinger no seu livro
não mais choe'alein-se, temos o in· ·"A Fé em crise", o desfibramento e
verno profétiCo. Não há atrito, não ·amolecimento da Vida Religiosa pe-
há calor. É o frio dé uma realidade lo ' grave tributo pago à·acomodação
· sem tensao, sem motor, sem 'faísca ,em relação ao espírito hedonista da
sociedade moderna. Invadiu de Játo
· ignífera .. Assim .acontece . quando o
real 'satisfaz plenamente as aspira- "os redutbs austeros e reclusos da
Vida Religiosa uma onda de euforia
· ções e desejos das pessoas .0 ideal "modernizante, "que acabou , gerando
·já não provoca O' real, o projeto não enorme accimodamento e conseqüen-
perturba o status quo, porque se '-te silenciamento dos últimos ímpe-
id"entificaram. Tudo que se desejou, tos proféticos. A recente pesquisa,
alcançou-se; tudo que se projetou,
realizou-se. ampla e séria, que se fez em nove
países da Europa, trabalhada por J.
Tal fenômeno assume formas bem Stoetzer - "Les valeurs du temps
· definidas. Assim na Vida Religiosa présent: une enquête européenne"
quando a institucionaliiação se exa- (Puf, Paris 198~), vem comirmar
cerba,. o profético fiéareduzido ao "essa forte presença do 'valor, máximo
real das leis e das normas. Numa
· palavra, enibota:se. As "regrasesgo- da felicidad"e para o europeu,
. enten-
.
'iam todo o.' elã profético e este se dida como satisfação geral, familiar,
'reduz ", portanto ao formalismo ' da profissional e financeira. Com ' certa
discfplina .bem cumprida. A instituo jronía, o"redator. de" 'Le Monde" co-
,cionalização "e"a"btlrocratização "acal· mentava: Existe a felicidade, osetl-
·mam definitivamente
-. . .
- - . os .surtos re·
- -
a
ropeus, descobriram. Um povo phl-
novaqores"e :inovadores, próprios da namente. feliz, cabalmente satisfeito,
,atividade . profética. Em,termos ano "não profetiza. O presente gostoso
"tropológicos,: elas reduzem a auto· engole o futuro. E uma Vida Religio-
transcenciênciado homeni para o fu· sa plant<tdaem tal situação pode fa-
·turo, 110. puro ,prese.nte da instituição. .cilmente embeber-se de tal ' espírito
Em, termOS teológicos, afogam o" Es· . Ie. pei:feita satisfação e calar assim
pírito na letr!!. " ; "'. .," .. .'" ,ql1alquer . balbucio profético.
336,
" "
. Outra forma de atrofiamento da to, do ideal, por um conformismo
dimensão profética é o ativismo. Pe- com o real, por uma identificação
netrando bem na sua realidade, des- quase exclusiva com o presente, não
cobre-se no àtivismo um afogar-se no deixando espaço para decolar. O
presente, um esquecer o futuro, um .presente é bom demais para se pen-
calar qualquer atitude crítica e dis- sar em questioná-lo e arrancar-se de"
tante ao simples agir. Il uma ação le em busca de realidade melhor.
que carrega tudo dentro de si. Ela Entretanto, há outro modo de parar
é só e toda presente. Não se interes- o impulso profético por uma via
sa nem pelo passado nem pelo futu- mais sofisticada. Sobrecarrega-se o
ro: as duas forças do profetismo. O conhecimento da realidade com tal
profetismo vive de um passado a avalanche · de dados, que nos llenti-
experiência de Deus atuando sem- mos paralisados diante de qualquer
pre na história e revelando seu pla- decis1ío. Ser profeta nessa situação
no salvífico - projetando-o para o significa ingenuidade e ignorância,
futuro. A experiência de Deus é sem- já que não se levam em considera-
pre maior que o presente, por isso ção as análises científicas. Gera-se
impele-nos para o futuro e se volta verdadeira atitude cética e relativis-
criticamente sobre o presente. :B a ta, que cerceia qualquer profetismo.
força do profeta. O ativismo, por O conhecimento da realidade, que
sua vez, esgota toda sua força no é uma das condições prévias para o
i1gir pelo agir, opaco à luz penetra- ictus profético, termina por coarctá-
dora de uma experiência transcen- 10 por excesso de l>ofisticação e
dente e crítica. acúmulo de dados. Arma que os re-
gimes modernos usam para calar · a
. Talvez seja essa intuição do voz profética da Igreja e de institui-
atrofiamento do profético que tem ções similares, reduzindo-as ao silên-
gerado em tantos jovens certa relu- cio por falta suficiente de informa·
tância entregar-se a certas obras ções ou afogando-as com enxurradas
pastorais de suas congregações, on- de estatísticas.
de se vive no mais febricitante ati- Numa palavra, o esfriamento pro·
vismo. Il pior ainda quando esse ati- fético resulta do esvaziamento do
vismo se concretiza em obras envol- ideal, quer prendendo-o nas malhas
vidas até seu âmago pela atmosfera da institucionalização, quer afogan-
aburguesadora da sociedade moder- do-o nas águas tépidas do aburgue-
na, como acontece em certas paró- samento, quer reduzindo-o ao frene-
quias e colégios burgueses. Não é
de estranhar que os membros de tais si presente do ativismo ou quer en-
obras reajam, às vezes com violên- fim complexificando-o de tal maneio
cia, a qualquer sopro profético, co- ra com dados científicos, que ele ·se
mo uma anieaça insuportável. nos escapa do campo . decisório. O
ideal perde a mordência, porque o
. Até agora, vimos maneiras de real foi supervalorizado. O ideal re-
prender o espírito profético esvazian- baixa-se ao real. E não há mais pos-
do a mola impulsionadora do proje- sibilidade de nenhum vôo profético.
b. Superdistanclamento do ideal cendência desse universo ideal. Po-
em relação ao real. de muito bem ser uma refração in-
vertida da própria realidade. Pode
o prof~tismo vive do atrito entre ser um presente travestido de futu-
o ideal e o real. Quando o ideal se ro e de transcendência. Difícil de di-
rebaixa a ponto de identificar-se pra- zê-lo, dependendo da forma de caris-
ticamente com o real, cessa o profe- matismo em jogo.
tismo, como vimos no parágrafo an-
Em geral tal · resposta idealizante
terior. Mas também quando o ideal
acontece nos países ricos oule nas
se descola e se distancia tanto do camadas ricas dos países pobres, que
real que se perde no olimpo da pura
já superaram as necessidades bási-
transcendência, o profetismo não cas e vivem bom nível de satisfa-
consegue tampouco brotar. Anula-se
ção e podem então pensar, viver um
o pólo do real pela unilateralidade ideal carismático, sem naturalmente
do transcendente. O ideal exerce en- renunciar a esse presente satisfeito;
tão uma função alienante, sem for- antes, ele é espiritualizado na forma
ça crítica sobre o real, porque se dis- e continua bem material na sua con-
tanciou demasiadamente. Já nem al- cretude. Comumente onde predomi-
cança a tocar o mundo sublunar de na qualquer forma de carismatismo,
nossa realidade. Vale dessa figura a o impulso profético entra em re·
clássica afirmação de Marx: a reli- cesso. .
gião é o ópio do povo. O ideal é
apresentado como um ópio que nos Qualquer forma extremamente
dopa a ponto de já não se pensar no transcendentalista de conceber a rea-
presente. Sem conhecimento do pre- lidade produz o mesmo efeito, como
sente, sem voltar-se para ele, não há .eria um caso de uma Vida Religio-
profetismo consistente. sa em que o elemento religioso
ocupasse praticamente todo seu ho-
Uma das fonuas mais comuns rizonte. Também aí se fecha o espa-
desse embotamento profético na ço para expansões proféticas.
atualidade são os surtos carismáti-
cos. Idealiza·se a experiência espiri- . c. Hipertrofia elas dimensões sa-
tual presente como algo descolado cerdotal e sapiencial.
do concreto e real e projeta-se tal
vivênCia para um mundo transcen- A exclusividade
. . do sacerdotal.
.
dente e SObrenatural .tão distante que
deixa esse mesmo concreto real in- A Vida Religiosa, como toda vi-
tacto. Tal operação se processa pela da cristã, equilibra-se quando as suas
via da afetivid·ade. Substitui-se a via diversas dimensões, tais como a pro-
arialítica racional de apreender · o fética, sacerdotal e sapiencial encon-
real por uma intuição afetiva, sem tram entre si uma harmoniosa rela-
critérios e objetivos de controle, e ção. Pelo contrário, quando uma das
constitui-se então um mundo ideal dimensões se exacerba, as outras en-
de harmonia, de felicidade espiri- tram em colapso. Assim a dimensão
tual, distante e incruzável com nos- religiosa, comovíámos no final do
sa realidade. Pode-se mesmo duvi- parágrafo anterior, vivida de modo
dar do verdadeiro caráter de trans- exclusivo, termina. por ·esfriar todo
338
profetismo. Ora, essa dimensão re- que o desconhecido, ainda que pro-
ligiosa vem a coincidir com a sacer- missoramente melhor: O pequeno do
dotal, como descrevemos. De fato, dia a dia impede que se pense e se
quando o aspecto cúItico, oblativo, projete um diferente futuro, onde re-
de renúncia, de entrega ao Trans- .side a força do profético.
cendente domina solitário, o profe-
tismo arrepia caminho. O religioso Enfim, o "sacerdote" e o "sábio"
está de tal modo possuído pela pre- quando se impõem com exclusividac
sença do Transcendente que já não de, fecham o campo ao profeta, um
tem olhos para o real histórico e des- apelando pelas leis sagradas do cul-
conhece qualquer profetismo. Nem to e o outro para o valor normativo
basta dizer que a pura presença des- de suas experiências e dos antepas-
sa pessoa vivendo a solidão do Trans- sados. O profeta tem sempre um pé
cendente já é um profetismo por si na realidade e outro livre, sem apoio,
só, criticando' todo o mundo moder- para dar o passo para o futuro, en-
no, engolfado nas realidades ima- quanto que o sacerdote e o sábio
nentes, seduzido pelo brilho da ,feli- finnam-nos ambos no solo do pre-
cidade das satisfações mundanas. sente.
Isso é verdade. Mas a verdadeira
função profética é mais exigente. Ne- 2. O superaquecimento profético
cessita encontrar seu ponto de tan-
gência com o real concreto para que O profético se esvazia na medida
não seja uma voz clamando no de- em que os pólos se impõem quase
serto. E só se encontra esse ponto de exclusivamente. Morre por inanição.
incursão, se o religioso se debruça Mas pode acontecer o oposto. De tal
sobre o mundo de seus irmãos de modo a dimensão profética é acen-
maneira bem concreta, percebida, tuada, numa exclusividade extrema,
analisada. que ela mesma se autodestr6i por
fusão. A realidade humana tem s\1as
A exclusividade do sapienciaI. ironias. Algo se extingue pelo total
silêncio que se lhe impõe. Algo en-
Por mais bela que seja a atitude contra o mesmo destino pelo excesso
sapiencial, também ela quando vi- de discurso de que é cercado. Assim
vida de maneira exclusiva ou hiper- o profetismo na Vida Religiosa se
trofiada, termina por anular o pólo definha, : como vimos acima, porque
profético. Pois de fato, ela gera tal vai serido silenciado pelo acento qua-
sintonia com o presente, tal sentido se exclusivo de outros pólos. Sucum-'
de prudência e cautela, alimentada birá à mesma tragédia quando tan-
que é da. experiência dos antigos; to se fala e tanto se quer praticá-lo,
que o profetismo surge como algo es- que perde sua credibilidade e reali-
tranho e intempestivo. A cadaarrou- dade.
bo e surto profético, responde-se
•
Crescente düerenciamento no ID-
com o já conhecido cio passado e do
presente, captado pela experiênci.a terior do real.
sapiencial. Triunfa então a posição
conservadora de que é melhor a COI).- De fato, o superaquecimento pro-
dição do conhecido, ainda que ruim, fético se dá quando no interior do
rçal se. proc~~~a UI)1 cone flldicalen- te .no interior· da história. Ele não é
tre os que aderelD.. ao "stattis quo" só futuro. Jesus já morreu e ressus-
e os que se julgam possuídos do im- citou_ Sua presença de Cristo-Pneu-
pulso profético. De um llldo estão ma não é estéril. Vivifica a história
os mergulhados no acomodamento e tem também seus reflexos 60breo
, .
do presente, felizes e satisfeitos, e propno cosmos.
doutro aqueles que se sentem insa-
tisfeitos, quer por razões pessoais, . Freqüentemente esse superaqueci-
q\1er porpe~cepção social da injusti- mento profético termina numa visão
ça. · O profetismo extremado afasta apocalíptica da história. Destrói a
cada vez mais esses dois grupos, não própril\ mola do profético. Pois nos
vendo possibilidade de nenhuma sentimos
. paralisados diante . de um
ponte entre os dois. A única solu- presente tão perverso que a única
ção é deixar um lado e passar para solução. é aguardar uma intervenção
o outro. Este movimento recebe o definitiva e última do juízo de Deus
nome de conversão ou perversão- para restabelecer de modo radical a
traição, conforme a direção. ordem, a justiça. Atitude tipicamen-
te apocalíptica. O passado, o presen-
Este profetismo não está isento de
te perdem totalmente sua relevância
certa visão maniquéia e dicotômica
para que .a atenção se dirija ao fu-
da realidade: de um lado o mundo
turo e por sua vez iminente. Então
das luzes, do bem, dos comprometi-
se dará a separação clara e incon-
dos, dos justos - o lado em que o
profeta julga estar - e doutro, o fundível entre os bons e os maus,
mundo .das trevas, do mal, dos aco- entre as ovelhas e os cabritos.
modados, dos opressores - os des- Porque o contraste entre o real
tinatários da invectiva profética e presente e o futuro de justiça espera-
chamados inelutavelmente à conver- do para breve, é percebido .de forma
são, como condição única de salva- etxrema, o discurso profético assu-
ção. Não há nenhum compromisso me o gênero propriamente violento
possível entre as duas partes. das apocalípticas clássicas. Avio·
.. Naturalmente tal exagero profé- lência verbal afasta qualquer possi-
tico esconde dentro de si o gérmen bilidade de diálogo, de tolerância.
do fanatismo e de triste pessimismo. Ambos julgados traição, acomoda-
O presente está totalmente viciado e ção, diante da vocação profética.
só o futuro anunciado com toda cri- Numa palavra, nega-se o sapiencial.
tjciçladeem . relação . ao presente tem Desvaloriza-se O sacerdotal. Confio
valor. Os olhos se ·voltam unicamen- na-se numa crítica do presente sem
te para o projeto, para a construção perspectivas até mesmo de mudan-
e para aqueles que estão nessa em- ça. Tal é li radicalidade e veemên-
presa. Desconhece o presente, tam- cia da mesma~ O própno profetis.
bém ele banhado pela força escato- mo se deixa tragar pelas ondas que
lógica e salvífica de Deus. Fascina- ele levantou. Já não anuncia nenhu~
do pelo utopismo exclusivista, esta ma mudança da hist6ria, mas seu
forma extremada de profetismo des- fim. Já não provoca compromisso,
çonhece o Reino de Deus já presen- mas simplesmente uma expectativa
340
do , desfecho. Enfim, já não é mais queprodui talefelto terapêutico. , b
:profetismo, ' profetismo na Vidá : Religiosa está
precisando de certo tratamento.
E se tal tipo -de profetismo conse-
guisse triunfar em termos políticos, , 1. As duas forças revitalizadoras
ocupando a direção de alguma orga- do profetismo , ' . " , '
nização, de qualquer natureza que
,fosse, certamente assumiria a forma
do mais terrível totalitarismo, Quem O número dos remédios é ineon-
não estivesse identificado com a vi- , tável. Mas podemos facilmente redu-
são pregada, pertenceria ao mundo zi-los a uns poucos básicos. Assim
dos traidores, dos perdidos. Ou con- também o' profetismo pode ser revi-
vel'tê-Ios à força, ou' excluí-los defi- gorado por muitas forças terapêuti-
nitivamente para não alargarem sua cas.- Na brevidade dessa reflexão me
presença ,pervertedora. restringirei a duas: ' "
342
,da na Sociedade. Antes, como vimos, mas nunca uma presença nas suas
aburgUesou-se ' bastante no seu "mo- lutas reivindicativas.
a
' dus vivendi". Por isso, opção pe-
A Vida Religiosa concentra sua
', los pobres tem surgido como um ver-
dadeiro pólo de tensão para desper- função profética na denúncia 'do
tá·la para sua' verdadeira vocação , mundo, de modo que o grau mais
profética, De fato, o que há de me- 'puro de sua fo'rma é ,a vida contem-
lhor na Vida Religiosa de nosso país plativa. Precisamente esta ' que não
mudou nada ' e conservou
parece estar naquelas comunidades de austeridade e dé "fuga mundi" seu caráter
que vivem mais próximas dos po- intacto. E se a Vida Religiosa ativa
bres, numa' inserção comprometida. tem um futuro profético, deve ele,
2. Os movimentos das tensões' espelhar-se na vida contemplativa,
's obretudo naquela que se manteve
'imutável. Pois aí brilha a força pro-
Estas duas tensões básicas para re-
vitalizar o estro , profético no inte· fética da Transcendência em severa
rior da Vida Religiosa têm sua au· sua crítica ao espírito mundano em toda
amplitude negativa descrita no
tonomia própria, mas podem combi- conceito de mundo , no parágrafo an-
nar entre si movimentos' bem defi- terior.
nidos. ,
343
. ..
. de certo modo sob a mira de tal cor- · lando, ' quer ' simplesmente vivendo
rente eclesiástica. ' ... com eles, lutando com eles, sofrendo
com eles até o. dom de suas vidas,
b. Movimento de inserção. 'como tem acontecido em nosso ' con-
• tinente com não poucos deles .
Em .contraste com . a posição an-
,terior . da Vida Religiosa, sobretudo Outros mais atentos à dimensão
,em nossos países da A. Latina, uma · religiosa da Vida Religiosa, pro-
tendência de redescobrir a sua di- "curam articular. numa , síntese
. mais
mensão profética precisamente pela rica .as duas tensões básicas. A crí-
tendência ,de inserção e não de ."fu- tica profética ao consumismo moder-
ga mundi". A Vida Religiosa perdeu no, aos antivalores das sociedades
muito de sua dimensão profética; foi modernas, se faz pelos dois lados:
nao tanto por causa de um acomoda- da Transcendência e da opção pelos
mento interno, um aburguesamento ·pobres. Uma de caráter mais estri-
doméstico, mas porque com ele e tamente teol'ogal e outra de cunho
:por causa dele se processou também ideológico. Uma atinge a modernida-
uma verdadeira aliança ideológica ,de . na sua totalidade, outra na for-
coni as classes burguesas dominan- ma capitalista de nossos países. ' As-
tes. Ou mais exatamente, dada essa sim o fenômeno de acomodação da
a'liança, seguiu-se naturalmente esse Vida Religiosa não só lhe mina a
,aburguesamento. Ora, a solução não estrutura religiosa - crítica a par-
está em combater esse acomodamen- tir da Transcendência - mas tám-
.to da Vida. Religiosa através de me- bém envolve-a num mundo de in-
didas de maior ou menor austerida- justiça - crítica a partir da opção
,de, de diminuição do consumismo, pelos pobres. Ein nome de uma aus-
mas em ,romper os vínculos ideoló- teridade cristã e de um senso de
.giCos com tal classe, colocando-se justiça, os religiosos assumem seu
deCididamente ao' lado dos pobres. papel profélico.
'H' vivendo ao lado dos pobres, neces-
sariamenté voltar-se-á a uma vida CONCLUSÃO
mais austera e pobre. A própria si-
'tuação impor-nos-á essa vida austera, A Vida Religiosa encontra-se, no
'sem artificialismos ascéticos. momento, entre dois fogos. De um
No interior desse movimento, de- lado, ataca-a solertemente com suas
lineiam-se' duas tendências diferen- 'blandícies todo um processo simul-
tes. Uns atêin-se quase exclusivamen- taneamente de modernização ~ ne-
te ao caráter' de opção pelos pobres cessário - e de aburguesamento
e às conseqüências de tal opção. desvertebrante - acoplado. - De
Mostram sua força profética para o permeio intromete-se a ideologia das
'interior da Vida_ Religiosa, para a _classes dominantes justificando toda
Igreja e para a Sociedade. Nisso esta transformação. O que acontece
vêem a atual missão fundamental da sobretudo com as Congregações que
Vida Religiosa. De dentro da inser- trabalham principalmente com colé-
ção com os pobres, o religi'oso er- gios de classe média e alta ou que
gue sua palavra profética, quer fa- cuidam de paróquias ein bairros ·de
344
classe A. E lá se vai o dinamismo da vida inserida que retém o trans-
profético. Doutro ' lado, um movi- ' cendente da experiência de Deus sem
mento de "volta à disciplina" acossa- fugir do mundo, e que não se deixa
a, tentando reconduzi-Ia às formas encantar pelas !>ereias do capitalis-
antigas de austeridade, de "fuga mo avançado. Conserva assim a ge-
mundi", de insistência sobre os va- nuína dimensão profética da Vida
lores transcendentes em detrimento Religiosa . .:e. ........- .
por ' amor ' a esse profe-
da inserção no mundo. bsmo que ·tais expenenclas nao po-
dem ser abafadas por instâncias pou-
Muitas experiências de Vida Reli- co sensíveis · ao ' profético, por sua
giosa na A .. ,Latina estão conseguin- própria condição social ou ecIesial.
do superar esse dilema esterilizante E a grande e válida contribuição da
de todo profetismo: ou aburguesa- A. Latina é manter acesa essa lâm-
mento modernizante ou transcenden- pada profética no II!omento atual de
talismo arcaico. :e. a fOlma profética Igreja. O
. '.~
•
. ..
. .
. ...
. .. . .
•
- ...
Leitor Cri.,;~ão
é aquele que enfrenta o risco. A omissão ea falta de
audácia paralisam o Espírito .
. Inserção
Verdade singela
Deu!> não está só nas nuvens e nas bibliotecas. Está, ainda, nas bases
de nossa existência, nas profundezas de nosso ser, dando sentido ao nosso
caminhar, força ao nosso coração e respaldo à nossa fé. Não é aquele que
SABE o ·Evangelho qlle se constitui em Boa Nova senão aquele que vive
o que sabe.
345
•
IDEOLOGIA X PROFECIA
•
,. .. Pe. Nicolau Masl; SX
Belém, PA
1. O sentido das palavras . ', ....... -nada· (vendida a outros quase sem·
pre sem saber). E quando o povo
Ideologia e Profecia estão tremen· não tem mais idéias próprias, ele se
damente perto e extremamente lon· toma "massa", fácil presa de grupos
ge uma da outra. Às vezes parece astuciosos e interesseiros.
que as duas sejam uma mesma coisa, 1.2 Profecia. Por Profecia en-
às vezes elas parecem pertencer ..8
mundos completamente diferentes. tendemos uma palavra clara, deste·
As duas são projetos totalizantes, in· mida, audaciosa, a serviço não de
dicam o mundo dos sentidos, a visão' quem fala, mas a serviço de quem
global de mundo, o horizonte, ore· escuta. Ela está preocupada não com
ferencial, O ' prisma através do qual um interesse de grupo, mas· com a .
•
se enxerga o umverso. verdade e com o bem do interlocu·
toro Ela quer dize!,' duas coisas: fa·
1.1 Ideologia. Num sentido lar "pro",' em ' nome de alguém; e
originário etimológico, ideologia falar "pro", antecipando coisas que
quer dizer o universo das idéias que ainlia não se vêem. ~ profeta, por·
formam a ,bagagem intelectual, cultuo tanto, quem fala não em nome pró-
ral, afetiva de uma pessoa ou de um prio, mas em nome de outro e fala
grupo de pessoas. Todos portanto, antecipando um mundo do qual ele
têm uma ideologia própria que for· está certo, mas que· ainda não existe.
ma o mundo de cada um. 1.3 Ideologia e Profecia são,
Numa significação mais comum, a portanto, um discurso totaIizante,
palavra adquire um sentido pejora· abrangendo toda uma maneira de en-
tivo e é 'usada para significar a ma' tender as coisas; S6 que a ideologia
nipulação de idéias operada por uma tem como seu alicerce o' interesse
minoria (pessoa ou grupo) para ga' pessoal e a mentira 'p ara conseguir
nhar a cabeça, o coração e a ação da que todos sirvam a este interesse;
maioria, que, portanto, se toma alie- enquanto que a profecia é só em ftin·
346
ção do outro, que deve ser servido rá perseguição e morte~ · E para cori-
de fato, na verdade. seguir este projeto, a ideologia não
sossega, não folga, não .se concede
2. O projeto da ideologia férias. Ela não pode se distrair, não
e as suas "virtudes" pode brincar, mas noite e dia fica
teo'ivelmente empenhada. A sua vir-
A IDEOLOGIA é, em conclusão, tude é a radicalidade. Ela não conhe-
um projeto·, CUjo centro é o Eu (pes- ce, não admite meios termos e não
soal ou grupal), considerado como compactua a sua hegemonia com nin-
a TOTALIDADE. Este centro não guém. Quem pretender se libertar e
admite concorrentes. Ele se conside- reivindicar o direito de ser <'outro'';
ra a única coisa que vale. Torna-se saiba que o sistema irá fazer de tu·
o verdadeiro dono, o fetiche a quem do para reintegrá-lo; ou para neutra-
se deve prestar devoção total. Trata- lizá-lo ou para enventualmente eli-
se de . uma verdadeira absolutização, miná-lo.
sacralização, divinização, com con-
O sistema/totalidade tem medo de
seqüente idolatria. deste "EU", con- mudanças, de novidade e a sua gran-
siderado o tudo, o único centro do de ·preocupação é a segurança. A
mundo. Estamos · frente aofetichis- este ídolo ele está disposto a sacri-
mo, . ou seja,. àquele. "processo · pelo ficar tudo, chegando até a matar · e
qual uma totalidade se apsolutiza, se massacrar ·(cf. "Brasil: Nunca Mais",
fecha, se diviniza" (E. Dussel, A Fi- . Vozes; 1985).
losofia da Libertação L.A. E.P.
p. 1002). Feito pela mão dos ho- 3. O projeto da profecia
mens, o fetiche tende a se impor co- e as suas "virtud'es"
mo .divino, digno de culto. A coisa
·(0 poder, a riqueza, a lei, etc.) se
personifica reduzindo as pessoas à A Profecia é outro projeto totali-
coisa. :e q drama da idolatria em que zante, mas antagônico. A ideologia
lle dá uma verdadeira troca de pa- tem o seu centro: o EU; a profecia
péis; o fetiche se torna · pessoa e o tem o seu centro: <> OUTRO. Tota-
feiticeiro; é transfoonado em coisa. lidade x Alteridade. A profecia não
Neste sistema fechado, ninguém (a tem palavras ·próprias, não tem nem
não ser que seja a "totalidade") tem projeto próprio. O projeto e a pa-
direito a ser ele mesmo. Os outros lavra da profecia são do "outro". ~
não têm sentido se não como possí- o projeto da alteridade, a quem se
veis colaboradores ou adversários. reconhece o direito de ser centro de
si mesma, sem necessidade de se ven-
Para reduzir a alteridade à totali- der/ alienar ao sistema-totalidade.
dade, a ideologia recorre à manipu- Assim ninguém se reconhece o úni-
lação utilizando todos os meios à sua co, o todo mas se inclina reverente
disposição .(MCS, aliciamento, amea- frente à alteridade, aceitando a no-
ças, calúnia, tortura, morte). O ou- vidade e a peculiaridade dela. O
tro não tem direito de ser outro. Pa- "outro" é aquilo que eu não possuo,
ra ele s6 resta a alienação (se ven- é portanto, a capacidade única de
der à totalidade, desaparecer como ser a minha novidade. o diferente, a
Outro). Em caso contrário ele só te- complementariedade. O meu mun-
347
do, sem' a presença do "outro" é um querendo que o outro fosse "si mes-
mundó feChàdo e bem mais pobre. O mo", sem se vender, sem se alienar,
outro é a minha riqueza. A ,presen- sem se humilhar. Da mesma forma, o
ça ,do ' outro 'me,' tira , do monólogo, meu centro ' é a ' peri-feria, o coração
muitas ' ,vezes ' enlouquecedor, e 'me do meu eu (da minha totalidade) é o
joga ' deQ,tro', de um diálogo envol- outro (alteridade) e o outro OUTRO
vente; Quem 'me revela ,a riqueza do (a . alteridade absolj1ta/o totalmente
diálogo,' a , busca' do otitro,- é <> pró- outro/ Deus). O profeta é, portanto,
prio 'Deus ' da ;Bíblía. Comunhão in· o homem da total abertura, da escu-
terpessóal ' perféita~ ,Ele não precisa ta, do diálogo; da alegria, da novida-
do outto: ApeSar ;disso cria o ' outto, de que o outro (e sobretudo o total-
não' 'só;maá' Se faz ' o outro. " A mente OUTRO)..trazoonsigo.
criação ·,do '.homem, :a ,encllrnação do
V,erbo :.e. . a .. ResSl.lrreição do Cristo Vivendo na história ' e ' dinainizan-
morto na cruz são os três momentos do·a,ele se sente pei:~eitartiente' livre,
m.ais altos do amor e do "respeito poi:que' no qtih:o "ele Coloca,a ,sua cer-
', ' f i · ", '. · · · ·· . .
:<Ir peps pÍl~ao outro., . '. •.... '. ~ teza,., à ~ua.Cô!1nà!1ça. Livre com.ç.:uni
--.. ..... .. .
~: - '~ " . .. ,"
' ''' . " - . - '
l?~ssar9, ~le .nã9' depell~e ide n.enhu,
; ', 1)(a·. criação do homllm . a' totlilida~
ma:· totalidadç •.,por '.isso, ,ele u.sa da
de se inter~s~a: . em : que -a' altéridade
exista e sejá reconhecida como outrá palavr(!; franc!l ·e. de$temida.
,
' '.' "
. .. . . . ,
.. ' - '
tótalidade: -.- '''façamos o ; homem à : ConU!1meIlo outtP~ ele S!) faz
se'
nossa imagem e semelhança~' , (Gn ineildóf .de, álegrifl, e ,dé ' espet!1nça,
1,26) . .. .. ,
antecipan;dô já ~ná" hiS:il)ria ; os céUs
. '. ,
Na encarnação Deus s·ai da ..sua novos
,. .
· e a ieminovaqúe
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$48
•
'50 ,é o "EU", o outro quer que s.eja vai inventando pretextos de tipo so-
a construção do "NÓS" no ,reconhe. b~tudo réligioso-c-:- violação da lei,
cimento da ,alteridade. Um quer pos· do sábado" ,das tradições, atitude
suir, o outro quer partilhar. Como ' blasfema para com Deus e rebeldia
ser profetà em semelhante situação? às autoridades.
Queremos ' brevemente indicar dois O sistema s6 pode defender Deus
pontos de referência: a realidade e a se ele próprio é atingido. Não lhe
práxis de Jesus Cristo, para ver de· interessa' Deus enquanto "outro", só
póisqual deve ser a nossa práxis. ·Ihe interessa Deus enquanto pode
ser usado e apresentado como de-
4.1 A lição da realidade fensor e legitimador da ideologia. Se,
portanto, o , poder acusa Cristo de
A realidade é tremendamente tra· blasfemar aDeus é porque este Deus
gica e conflitiva. , Quem se acha a
totalidade não concede vez nenhu- lhe serve e este Cristo deve ser con-
denado a todo custo. O verdadeiro
ma à alteridade. E não se poupam motivo, não confessado pelo poder,
meios para subjugar o outro ao seu 'é que Cristo desinstala o sistema e
próprio projeto. Vivemos num mun- transfere o seu centro pata o "ou-
do profundamente ideologizado e tro?'.
em , tempo dll imensa produção de
ídolos/fetich~s. Para impor esta visão Só uns exemplos:
de mundo existe ,um esforço cons- , * FaristlUs e Herodianos se insur-
tante de mentira, manipulação, alie- gem contra Cristo porque ele cura
nação, esc.t;"aviz'ação. Como conclu- um homem demão seca em dia de
são: o mundo é uma fábrica imensa .sábado; " . , . .. .
se colocando contra a lei di-
de pobres/ alienados/marginalizados. vina (Mc 3,1-6). A verdade é que
:a possível mudar esta situação? Jesus subverte a ordem social, desar-
E, querendo , mudar, quem vai diri- rumando a ' hierarquia 'e colocando
'gir/ orientar/ dar luz/ dar motivação um impuro/ marginalizado no cen~
a minha 'ação? -O rico/o poder? O tro ("vem aqui no centro"), pulando
pobre/ o marginalizado? ' De -que lu· "todas as divisórias sociais erigidas
gar faço a minha leitura? Do 'lugar em nome da ' religião. Aí inimigos
dó rico ou do lugar do pobre? acirrados (fariseus e herodianos) se
.. .. unem para defender a , totalidade
4.2 : " A práxis ' de Jesus Cristo contra
. as ameaças da alteridade ,(Em
,
,
outras palavras: não podem permi-
, ,- Só , umas orientações. ,Cristo , mor- 'tir e que os seus privilégios sejam
reu ,por causa .de umà práxis, Esta transferidos ,a outros),
pl'áxis era discriminatória, contra, o .. .. ., .
:349.
anunciado nos exemplos d e · Naa- e práxis. Estas duas afirmações me-
.mam, Sírio e na ··viúva de Sarepta, recem um momento de .atenção.
Cristo vai colocar o seu centro não .. Á. . Cristo anuncia o mundo
,mais no parentesco, na pátria, nos
novo. Cristo se toma .Evangelho,
privilegiados, mas sim, · nos excluí-
boa notícia, anúncio · alegre. Sabe-
dos. ~ por isso que os Nazaretanos
se levantaram. . . mos que -· a palavra Evangelho era
. .. já usada no Império ·!tomano e sig-
. ~ O ·mesmo sentido tem a pará- nificava um anúncio alegre, um
bola dos vinhateiros (Mt 21,33-46). conjunto de boas notícias, quando
Jesus tira o privilégio do. centro e da eleição do novo Imperador. Isso
escolhe como· seu. centro a periferia. comportava: a) Uma proclamação:
• Na purificação do templo (Lc "Temos um novo Senhor: o Impe-
.19,45-48) é clara a falsa alegação radar". b) Anistia ger~1 para os pre-
do poder. Jesus estaria mostrando sos. c) Grande banquete para po-
uma conduta · escandalosa, indigna bres e famintos.
'da casa de Deus. Na realidade o -Para os cristãos; o anúncio alegre
:poder se sente atingido na su·a cen- é outro: não se refere ao Imperador
tralidade (no seu luCro e na sua li- (poder/totalidade), mas sim a Jesus
derança). Afinal é ele que é respon- Cristo, o Profeta da Alteridade: a)
sável pelo templo (ou seja, pelo cen- "temos um 'novo' SENHOR: Jesus
tro do poder: religioso, social, polí- Cristo" (Mc 1,1). b) · Ele veio para
tico, econômico) ~ não este falso ·dar anistia geral (veja o seu progra-
profeta que subverte a ordem {veja ma em Lc 4,18; e a realização deste
outros . exemplos em: Lc 11,37-54; seu programa em Lc 7,18-23). c) E
Lc 13,10-17; Lc 7,36-50). Portan- ele convida para o grande banquete
:to, Jesus é tremendamente · claro. desta terra e do céu, onde são con-
Ele não aceita que alguém ou algo vidados não mais ricos e privilegia-
se divinize, se tome a totalidade. dos (Lc 14,12), mas pobres, estro-
.Toda a sua luta é para reconhecer piados, cegos, coxos (Lc 14,21) .
a centralidade da Alteridade. O ou-
B - Cristo não s6 anuncia, mas
tro (e o outro OUTRO) são o centro
"faz" o mundo novo. Aqui não va-
e o coração de Jesus. •
mos CItar pormenores, mas so• que-
Agora, porém, se posicionar é pe.- remos mostrar os momentos fortes
rigoso. A ideologia está sempre vigi- do Cristo: a Encarnação, a Vida, a
.Iante e não vai tolerar nenhum aten- Morte, a Ressuneição. Os quatro
tado contra a sua totalidade. ~ por momentos são a revolução mais ra-
este motivo, e só por este, que Cris- dicaI da totalidade a favor da alteri-
to foi perseguido, e portanto devia dade.
morrer. Se queria ser profeta, devia
carregar as conseqüências deste seu a) A ENCARNAÇÃO é o exem-
posicionamento. plo de inserção total (corpo, espíri-
to, coração) no outro. Deus, a tota-
Querendo resumir afirmamos que lidade única e legítima, se transfere
Cristo se posicionou de duas manei- para o outro. Doravante o homem
ras: anunciando e fazendo: palavra se torna como o absoluto, em que é
:350
: d!ldo encontrar, corporalmente, o
o
, , A - Pensar comprometido o
próprio Deus.
b) A VIDA de Cristo é toda um
o profeta não pode pensar de ma-
o
351
mundo ' da totalidade como ' amador, sultados concretos. Estas vitórias
como simpatizante, mas como pro- concretas são verdadeiras, porém
, '" .
fissional da Profecia. A sua presen-
,
· ça nunca e neutra, e sempre mter-
parciais_ O profeta visa sempre um
outro sistema. Mas, uma vez alcan-
pelante, questionante, intolerante do · çado, este novo sistema já se torna
já; anúncio do futuro vinte e provisório não podendo ter a preten-
quatro horas por dia. são de ser definitivo, único e insubs-
b) Segundo = é encarnar-se nele. tituível. O profeta, como Cristo, é
aquele que "rompe o muro" relan-
Não precisamos de demiurgos, de çando sempre tudo para a frente
seres fora do mundo. Querendo ser (cf. H. DUSSEL, O.C., p.91). En-
a novidade do mundo, Cristo se faz fim, o Projeto Profecia que começa
"mundo", num. processo o mais ín- aqui, no encontro com o outro, nun-
· timo possível de encarnação. O pre- ca se esgota aqui, Irias se torna defi-
.tenso puritanismo qué quer sair do · nitivo só no encontro de todos e na
mundo ou viver separado dele é só comunhão total com aquele Deus
sonho. Ser no mundo sem ser do que é o totalmente OUTRO. E o
mundo: eis a solução dada por Cris- céu, segundo todo o estilo de Deus
to. Ser fermento, grão de mostarda, revelado na ,Bíblia, não será a mas-
sal, luz, profundamente misturados, sificação dos homens numa beatitu-
mas com propriedades próprias, in- de anônima; mas sim o .reconheci-
confundíveis. Fermento (o outro) mento e a exaltação de cada alteri-
respeito à massa; grão semeado no · dade, amplificada até às possibiJida- '
· des trinitárias. O "NÓS" trinitário
chão; sal espalhado na comida; luz
iluminando as ' trevas. ' Dar sentido não esmaga a peculiaridade de cada
pessoa, nem a distinção das várias
ao mundo mergulhando nele sem se pessoas . diminui a Comunhão total
· confundir com ele. do . '~NÓS". Nem o Pai quer ser o
. .
· . c) Terceiro
. = destotalizar o sis- :tudo: a sua felicidade não é ciumen-
tema promovendo um caminho de ta, mas se dinamiza no vaivém no
.libertação como sinal do escatológi- Filho, no Espírito Santo, em Maria,
· co. ' em Pedro, em Paulo.. em João, em
,Zé Ninguém.
O Profeta é contra todo tipo de . .
idolatria. Ele se posiciona contra to- :B o mundo nunca imaginado por
· do aquele que tenta se tornar a to- ' mente humana, mas é o mundo do
talidade, o absoluto. Ele luta ' para Projeto do . PAI. Cabe ao Profeta
· destotalizar o sistema, dando peque- destotalizar o sistema da totalidade
'nos passos e arrancando pequenas · fechada e opressora para anunciar,
vitórias. Ele é como Abraão, chama- antecipar, ensaiar desde agora, aqui,
do. a sair de Ur dos Caldeus para ,esse mundo: o .mundo da Profecia,
o mundo da ·alteridade, em caminho
·uma terra proinetida, caminhando à para o mundo do NÓS.
' luz da palavra do Outro. O profeta . .
'se sente agudamente ' "estrangeiro" (Extrafdo do ' Boletim CAMI-
do sistema. Ele sabe que deve fazer NHANDOn.o 4, 1985, da CRB Re-
. '
'passos ·concretos . para consegUIr re- gional de BELBM- PA). O
352
OS RELIGIOSOS NO BRASIL
NOS ÚLTIMOS 20 ANOS
J;:I,J;:IYIENTOSPARA UMA HISTóRIA DA CONFER~NCIA DOS
RELIGIOSOS DO BRASIL
353
Por outro lado, as raízes do pro- De maneira geral, costuma-se de-
cesso vivido pelos Religiosos nesta signar estes anos como "o imediato
época remontam a décadas anterio· pré-Vaticano 11". De fato e de certa
res, especialmente à dos anos 50. fOrlna, eles condensam, catalizam e
Uma compreensão adequada deste fazem eclodir uma série de movi-
processo supõe, portanto, uma refe- mentos e de forças que vinham sen-
rência, ainda que breve, a estas raí· do ativos ao longo de todo o século
zes. XX e que vão desembocar e legiti-
Nesta perspectiva, não resta dúvi- mar-se no Vaticano 11. Entre estes
movimentos podemos destacar os
da de que a criação da Conferência seguintes: A Ação Católica Brasilei-
dos Religiosos do Brasil, eRB, em ra : com sua organização "modelar"
1954, veio a ser um fator de espe- e sua atuação pastoral significativa,
cial relevância, não só para a VR, sobretudo através da Ação Católica
senão para a própria vida da Igreja especializada - JAC, JEC, JOC,
nos anos posteriores. Daí que o en- TUC; o movimento de renovação bí-
foque escolhido para a elaboração blica; o movimento litúrgico enca-
deste artigo seja precisamente o da beçado primeiramente pelos Benedi-
articulação dos Religiosos num or- tinos e a Ação Católica, e logo assu-
ganismo nacional, a CRB, que em mido por um setor do Episcopado;
; . . .
. varlos aspectos tornou-se pioneiro e o movimento catequético, com o Pe.
inovador entre instituições eclesiais Álvaro Negromonte e a experiência
congêneres. de catequese popular de Barra do
Piraí, como expoentes significativos;
É preciso ter em conta, porém, o Movimento por um · Mundo Me-
que esse trabalho não pretende ser lhor que no final da década começa
.uma história completa e exaustiva a atuar com força na Igreja no Bra-
da CRB. Constitui apenas uma pri- sil, atingindo grandes setores de Re-
meira tentativa de abordagem histó- ligiosos (1).
rica da existência deste Organismo
e do seu papel no processo de reno- Por outro lado, a década de 50
vação da VR no Brasil nos últimos constitui também um apogeu do ma-
rianismo, com a proclamação do dog-
anos.
ma da Assunção em 50 e a decreta-
I. ORIGENS HISTÓRICAS . ção, por Pio XII, do Ano Mariano
DA CRB: A DÉCADA DE 50 de ·54, oentenário das aparições de
Lourdes .
.1. A situação eclesial daquele Neste contexto · destaca-se o papel
momento das Congregações Marianas como
expressão significativa do marianis-
Já aludimos ao fato de que há ele- mo e, representando em certa medi-
mentos da situação eclesial dos anos da, uma tendência conservadora
50 que são importantes para a ade- .frente aos impulsos renovadores e
quada compreensão da posterior inovadores seja da Ação Católica,
.evolução da Vida Religiosa e da or- .seja dos movimentos bíblico, litúr-
ganização dos Religiosos na CRB. gico e do Mundo Melhor.
~54
2. , Acontecimentos eclesiais Seu desenvolvimento se deu em 3
relevantes prévios ' partes, focalizando respectivamente
'a renovação quanto à vida e disci-
Neste contexto, de uma Igreja on- ' plina, quanto à formação e educa-
'de se vão, fazendo sentir com vigor çiÍo, e quanto ao apostolado ordiná-
os sinais de uma renovação' abran- rio e extraordinário ' dos Religiosos.
gente; registram-se dois aconteci- Na sessão de encerramento, o
mentos, de âmbitó internacional o Papa Pio XII pronunciou importan-
primeiro, e de âmbito nacional o se- te discurso em que chamava a aten-
gundo, que terão influência decisiva ção para aspectos relevantes tais
na instalação da Conferência dos como: o lugar das Ordens e Con-
, Religiosos ' do Brasil: O Congresso gregações religiosas na Igreja; a
dos Religiosos em Roma, de 26 de tendência à perfeição; razões para
novembro a 7 de dezembro de 1950, optar pelo estado religioso; obras
e a criação da Conferência Nacio- externas e vida interior; adaptação
nal dos Bispos do Brasil, em outu- às mudanças do tempo (3).
bro de 1952. Neste Congresso, que constitui
um acontecimento de grande trans-
2.1. Congresso Internacional de Re- cendência para a VR e que suscitou
ligiosos um sério empenho de renovação
,num grande setor de Religiosos, ins-
O Congresso Internacional dos piraram-se iniciativas similares pos-
Religiosos celebrou-se por expressa teriores, de âmbito nacional, entre
vontade de Pio XII e na seqüência as quais o 1.0 Congresso Nacional
de congressos que, pela oportunida- ,de Religiosos, celebrado no Brasil 4
' de do Ano Santo, ,e durante o seu anos mais tarde, e no qual teve lu-
'transcurso, realizaram-se em Roma, gar a criação oficial dà CRB (4).
visando à revitalização da vida cris-
tã (2). 2.2. A fundação da Conferência Na-
cional dos Bispos do Brasil.
Seu objetivo principal foi o
"aggionamento" da Vida Religiosa. Já foi dito que "faz parte da tra-
' Por meio dele a Sagrada Congrega- dição da Igreja no Brasil, a atitude
' ção para os Religiosos quis oportu- e , o afeto colegial dos seus Bispos"
nizar um momento de estudo, de re- ,(5), Expressão disto são as Pastorais
flexão, e de confronto com as exi- Coletivas e o Concílio Plenário Bra-
gências e necessidades da época, 'sileiro. Os Congressos Eucarísticos
para levar a perceber quais as adap- Nacionais e Regionais por outro la-
,tações e modificações que Ile faziam do, constituíam momentos de encon-
necessárias para um aprimoramento ,tro do Episcopado, possibilitando
,da VR na Igreja. De acordo com es- estudos comuns, troca de experiên-
te objetivo, o tema geral do Con- cias e de idéias, cop,vidando os Bis-
gresso foi o seguinte: "a renovação pos periodicamente a sair do isola-
dos estados de perfeição acomodada mento que lhes era imposto pela geo-
aos tempos e condições presentes". grafia do ,país.
355
,
A década de 50 vai conhecer uma pois. Garantiu que ela. seria crlada~
intensificação desta tendência à cor- Deixei em mãos dele um anteproje-
responsabilidade episcopal que cul- to de estatutos da futura CNBB.
minará na criação da Conferência Um ano depois a Conferência não
Nacional dos Bispos do Brasil. An- estava criada. ·Tive ocasião de voltar
teriormente ao que o Vaticano II a Roma e de ver Montini a segunda
vai recomendar e incentivar neste · vez. Apareceu-me dizendo: - estou
sentido, o Brasil, como um dos• pri- em dívida com o Brasil. Em menos
o... • ••
melros palses, toma a InICIatIva e de dois meses a Conferência estará
vai poder levar ao Concílio uma ex- criada! E realmente, ela surgiu em
periência já vivida de ' Conferência outubro de 1952 (6).
Nacional. Igualmente significativo neste
.
Neste acontecimento de singular processo foi o papel da Ação Cató.·
importância na história da Igreja lica Brasileira, seja com suas Sema-
no Brasil, a pessoa e a atuação de nas Nacionais que contavam com a
D. Helder Pessoa Câmara foram de- presença de numerosos
. . - Bispos, seja
cisivas. Naqueles anos, D. Helder com a sua orgamzaçao em certo
acumulava. vários cargos:. era Dire- sentido "modelar", seja com a cons-
tor de Catequese no Rio de Janeiro, ciência eclesial de comunhão e de
membro do Conselho Federal de engajamento pastoral que ajudou a
Educação e Assistente Geral da despertar e a desenvolver no laicato
Ação Católica Brasileira, fato que e no episcopado.
lhe possibilitava o contato com di- A sessão oficial de · fundação da
ferentes setores da Igreja e da socie· · Conf~rência Nacional dos Bispos do
dade, e lhe conferia uma rica expe- Brasil realizou-se no Rio de Janeiro,
riência em termos de animação e or- numlj sala do palácioSãci Joaquim,
ganização eclesial. no dia 14 de outubro de 1952, com
. .
Por outro lado, D. Helder conta- a pres~nça . do Sr.. Núncio Apostóli-
·va :com o apoio do Sr. Núncio Apos- ca- Carlo Chiarlo. · Foi aprovádo o
tólico D. CarloChiarlo e do próprio "regulamento" e eleita a primeira
Mons. Giovanni Battista Montini Comissão Permanente, ~ndo esco-
(futuro Papa . Paulo VI), então asse- lhido Presidente o Cardeal Carlos
sor de Pio XII, na Secretaria de Es- · Carmelo . de' Vasconcellos Motta. e
tado. ' Ambos tiveram um papel pre- o
Secrétário Gerál . Bispo Auxiliar
ponderante etn todo o processo da do Rio de Janeiro;D.Helder P. Cã-
·mara (7). . .. .•. . . .. .. .
criação ' da CNBB ·e de seu reconhe-
cimento óficilli no Vaticano. E o · . O . aItancetransformador deste
próprio D. :Helder quem dá teste- fato · histórico 'em .relação à figura
munho' dos fatos: "Aproveitando o anterior :da Igreja no Brasil só po-
Congresso Mundial dos leigos [...] derá ser retamente avaliado àdis-
e com a ajuda do .santo Mons. Va- tância de alguns anos. E' a' partir da
lentini, pude' conversar ' privada e fundação ·da CNBB que se vai con-
longamente com o futuro Santo Pa- solidando a 'aproxintação e coopera-
dre [. . ; 1 Ele estava convicto da ne- :çãó 'entre : os'· Bispos 'e as Dioceses,
cessidade da Conferência ' dos Bis- desembocando progressivamente na
356
<:laboração sucessiva de, gral).des fai- são ,d as .-Ordens,.congregações e Ins-
xas de trabalho integrado que se 'ca- titutos religiosos e, mesmo ,o surgi-
talizam nos Planos de , Pastoral de mento de algumas dezenas de COl).-
Conjunto. As Assembléias Gerais se- gregações e Institutos, especialmen-
tão o' momento privilegiado " desta te femininos, l).asCidos no Brasil"
vivência de comunhão ede corres' ' (9). Não se constata, porém, ' até es-
ponsabilidáde ' que permitirão" toma- ta época, nenhum sinal de um tra-
das de posição conjuntas claras e de- balho conjunto, ou de integração de
finidas, sobretudo em momentos , de forças dos ReligiQSOS no c"mpo pas-
espeCialgtavidade para a Igreja e a toral. ' Sua' afuação viricula-se muito
Nação. " Quando, alguris anos ' mais mais à iniCiativa isolada de cada Or-
tarde, O Vaticáno ' 'lI vier reforçar, dem . ou 'Congregação do que a um
também .' teoiogicamente, o sentido concerto orgânieode ' esforço cOn-
dá colegialidade episcopal, ' a" idéili junto. São caminhadas paralelas ' e,
encontrará , nO Brasil uma ' experiên- uma que outra vez, até conflitantes.
cia .' já amadurecida. E aCNBB' pC' As Congregações.sofriam de: desco.-
derá apreseníar, no ' contextO· de ,oU; nhecimento re.cíproc,o. Este .fenôme-
tras 'igrejas ' latino'americanaso e de nO, não era, exclUsivo, do Brasil. Re-
outros ' continentes; uma estimulante ferindo,se " ao ' Congte'sso," Mundial
imagem de coordenação Ef de 'corres- dos , Religiosas 'em , Roma; :em ,'1950,
ponsabilidade episcopal. o' Pe. Irineu L. de Souza ,escrevia
•
.
- ..• '
' .
.
.-~-'
0'- • em
1954: "Todo o Congresso gito1,l
. Este fato não podia ' deiJ!:ar de 'ré' eni' tomo deste magno problema ' da
percurtir nos ' diversos"i;etores ''do Po- atualização da " VR. A organização
vo de Deus, suscitando ou legitiman- dos RR; em ' plano superior 'ao de
do' novas 'iniCiativas de ' artiCulação cada 'InstitiJto em 'separado, parecia
e ;de orgariização, como foi o caso ainda um sOnho distante" (10)-;
dos Religiosos:o " , :,: ', .' ".', ' ' : . '.
,
,
,
. .' - .. " :
3.10. O papel do Pe. IrinilULeopol-
3. F.undação e primeiros -anos dino de Souza' e: da ' Congrega-
, daC,RQ ção para, os Religiosos.
. . .' , .
, Os Religiosos constituíram ' uma , A idéia de articular os Re'ligiosos
presença significativa ,n a, Igreja no numa instituição de âmbito nacional
Brasil desde as suas origens. Chega- constituiu uma preocupação da pró-
ram aqui antes mesmo 'que chegasse pria Congregação dos Religiosos, a
ou se llfirmasse a Igreja hierárqui- partir do congresso dos Religiosos,
ca. Sua , presença e atiJação evange' em 19500 No Brasil, começa a ga-
iizadora foi 'bastante notável no nhar consistência pouco tempo de-
tempc> da colônia, praticamente até pois, sobretudo a partir da , funda-
meados do século XVII. Retomada ção , da CNBB. ,Entre o pequeno
no século XIX, afirmou-se no século grupo de Religiosos envolvidos nes-
XX 'com vigor novo (8). ' ',' tas origens, destaca-se o Pe. Irineu
, , Leopoldinode Souza, Salesiano,
. ' ," A primeira metade do , século que, então, ócupava o cargo de Pro-
XX significou para a Igreja, neste curador na In&petoria salesiana de
país" um período de grande expan~ São João Bosco. '
357
, Homem inteligente, criativo e de procurar a maior unidade possível
grande capacidade de organização, também na ação apost6lica das Reli·
cursara estudos de História; de for- giosas" (12).
mação de corte conservador e visão
in tegrista; grande empreendedor ao O texto tem uma conotação apo-
estilo da época, Pe. ltineu desempe- Jogética, bem ao estilo da época,
nhará um pape1-chave em toda á mas revela ,o interesse da Santa Sé
gênese do processo e na sua evolu- em unir e articular os Religiosos.
ção dos primeiros anos. Outras duas 11 nesta linha que se situa a reali-
Congregações tiveram papel prepon- zação dos , Congressos Nacionais de
derante nesta fase preparatória , e Religiosos, a partir de ,1953. "A Sa-
inicial: a Corigregação das Missioná- grada Congregação dirige a prepara-
rias de Jesus Crucificado, com tra- ção, a constituição dos comitês or-
palhos ' de estatística", e a Congrega- ganizadores, os programas das teses
ção dos Padres Redentoristas. e dos debates; de pleno acordo com
Por detrás do Pe. , I.rineu Leopol- os Representantes Pontifícios e com
dino estava a Sagrada , Congregação os Bispos e Superiores Maiores.
pàra os Religiosos, na pessoa do se,\l Muitas vezes envia um representan-
Prefeito, 'o Cardeal Valério Valeri e; te seu" (13). ' '
sobretudo" do seu Secretário, o Pe.
Arcádio Larraona. Já desde há alguns 3 . 2. Q primeiro çongresso dosRe.
anos atrás, a ,' Congregação para os ligiosos do Brasil. '
Religiosos vinha incentivando um ..
movimento de união e de colabora- , ,Como, ficou dito anteriormente, a
" ,
Ao ' falar das origens da CRB, é tência à saiíde; pela UERB (União
preciso destacar, ao lado da figura de Enfermeiras Religiosas do Bra-
do Pe. Irineu e do papel da Sagrada sil). A Conferência procurou atuar
, ,
Congregação dos, Religiosos sobretu- nesta área através deles, . para não
do na pessoa do Pe. Arcádio Larrao- multiplicar esforços paralelos. Os
o
na, a figura e papel do então Car: outros foram sucessivamente estabe-
deal Arcebispo do Rio de Janeiro, lecidos e dinamizados. O departa-
D. Jaime de Barros Câmara. Foi ele mento de estatística conheceu um
o 'grande articulador e mentor da - grande florescimento ~ foi o núcleo
Conferência nos seus começos. Se- central 'de onde resultou posterior-
gundo o próprio Pe. Irineu, o fun- mente o CERIS(Centro de Estatísti-
dador da Conferência dos Religio- ca , Religiosa 'e Investigação Social)
sos do Brasil é D. Jaime de Barros fundado em 1962, conjuntamente
Câmara. com a CNBB. O departamento de
360
. ' ,
36i
çijo de .serviços. Daí o lema da Con- grandes conquistas, mas deixa tam-
ferência nestes primeiros anos: " Na bém uma série de questionamentos.
união, todas as vantagens". Por ou-
~ importante salientar ainda, o
tro lado; os "serviços" eram tam-
que esta caminhada dos primeiros
· bém uma forma de . dar base econô-
momentos teve de pioneirismo.
· mica às outras atividades da Con-
ferência. Por .isto, enquanto os De- Muitas Conferências restringem-se
partamentos da CRB eram conside- aos "Superiores Maiores". A CRB,
rados "atividades-fim", os serviços mantendo a representação oficial e
constituíam "atividades-meio", isto jurídica dos Institutos religiosos
é, orientavam-se à subsistência da através dos seus Superiores Maio-
CRB no desempenho da sua missão_ res, orientou-se desde as suas ori-
gens para um serviço muito mais
Tudo isto fez com que a CRB se amplo a todos os Religiosos do Bra-
projetasse no âmbito internacional, sil.
fosse considerada pela Sagrada Con-
gregação "critério e padrão de orga- Em contraste também com outros
nizações nacionais de Religiosos" países, a CRB constituiu-se já desde
. o início, como uma só Conferência
(21), e merecesse elogiosas referên-
cias do então Núncio Apostólico no para Religiosas e Religiosos, fórmu-
Brasil, D. Armando Lombardi que, la que se revelou, com o correr do
no 4.0 aniversário de fundação da tempo, sumamente positiva para a
colaboração intra-eclesial, a renova-
CRB, dava esse testemunho: "A
CRB tomou-se um fator poderoso de ção da VR e o mútuo conhecimento
· união de todas as Ordens e Congre- e apreço das Ordens, das Congrega-
ções e das pessoas.
gações Religiosas, masculinas e fe-
mininas, um veículo de compreen-
são e de ajuda mútua, integrando a
3 . 6. Principal impasse: Relaciona-
mento com a CNBB.
própria atividade num plano comum
de trabalho e valorizando ao máxi-
mo seus esforços apostólicos a ser- Aspecto importante na vida da
• CRB, o relacionamento com a
viço da Igreja no Brasil' (22). CNBB conheceu momentos altos nes-
Por outro lado, este ingente volu- ta época, derivando, no final da dé-
me de aHvidades de cunho empresa- cada, para uma situação de difíCil
rial, o prestígio de que gozava jun- entendimento em tomo de questões
to a órgãos de governo, o apreciá- concretas, tais como a edição do
vel patrimônio em imóveis que con- ..anuário eclesiástico, os serviços de
seguiu levantar, fizeram com que a importação da CRB, a lei de Dire-
CRB fosse máis conhecida dos Reli- trizes e Bases da Educação, a atua-
giosos por este seu aspecto do que ção da Ação Católica, especialmente
por suas finalidades específicas. A _ da lECF. Por trás destas discordân-
caminhada destes anos iniciais rumo cias concretas estavam sem dúvida,
à clareza da própria identidade e à diferentes maneiras de conceber a
sua operacionalização constituiu, própria CRB, seu lugar na Igreja e
portanto, um processo ambivalente, o serviço que era chamada a prestar
cujo saldo registra, sem dúvida, à Vida Religiosa.
362
o
363
, ,
.-
reglao a se entrosarem com o mes-
'
bom pensar que estamos caminhan- tinha sem dúvida, certo cunho ele-
do na via da caridade. As duas Con- ricalista que aparecia na própria
ferências estão maduras para este maneira de chamar as Irmãs de "Vi-
entrosamento' de forças" (26). gárias". Entretanto, o dinamismo in-
. .- . . terno da experiência foi além das
Ainda , na Assembléia de 62, o primeiras , intenções e evoluíra em
então Secretário Geral da CRB, Pe. outros lugares para uma nova pre-
Thiago Cloin, fez uma exposição so- sença da Irmã e trará , fortes impul-
bre o "Movimento de Natal" e a sos e estímulos ' para uma modifica-
' participação dos Religiosos neste ção profunda, em muitos lugares,
364
.
da prática de Religiosos e Religio- 3.. Características .
· deste período
sas (29). A algun·s anos de distância,
em 1970, uma pesquisa levada a ca- .. Esta fase caracteriza-se, pois, por
bo pela CRB · e anali~ada pela Ir. tim forte dinamismo pastoral dos
Jeanne Marie Tierny, mostrava, em . Religiosos dentro do plano de Emer-
grandes linhas, a evolução do fenô- gência e do ·Plano de Pastoral de
meno, coin suas conquistas e seus Conjunto, e pelo despertar de uma
impasses. Seu trabalho; publicado na nova consciência ec1esial entre · os
revista CONVERGllNCIA (1971) Religiosos.
.(31-33) teve o mérito de desenca- Na Assembléia Geral da CRB, de
dear . um processo de reflexão que julho de 1965, os Superiores Maio-
iluminou a caminhada. res elaboraram uma declaração em
. Esse . despertar da consciência que se fazem eco e porta-voz desta
edesial - dos Religiosos no Br!!sil, nova consciência eclesial . dos Reli-
através da participação no Plano de giosos, como o demonstram estes pa-
Emergência, coincide com a celebra- rágrafos:
ção do . Concílio Ecumênico Vatica- - "Os ·Superiores Maiores dos
no 11 que foi precisamente, antes de Religiosos do Brasil, rennidos na ci-
tudo, um Concílio eclesiológico. Co- dade do Rio de Janeiro, renovam e
ino· é sabido, o grande tema conci- manifestam o seu desejo e propósito
liar foi a própria Igreja, sua identi- de dinamizar toda a vida de ação no
dade, vida e missão que se realiza Reino de Deus sob as orientações
dentro do mundo. De acordo com a do Concílio Ecumênico, o . grande
visão conciliar, o projeto evangéli- dom de Deus à Igreja e à Vida Re-
co não exige uma "eclesiastificação" ligiosa."
do mundo, senão . prolongando a .
365
. .
Superiores · Maiores, responsáveis CNBB, na suà ·Assembléia Geral de
mais diretamente pelas decisões 1964, em Roma;
apostólicas e pastorais no âmbito b) - a elaboração do texto dos
interno da própria Ordem ou Con- "Princípios que regem o entrosa-
gregação. Tratava-se de dar uma fun- mento do Apostolado dos Religiosos
ção eclesial a tantas iniciativas dos com a Pastoral da Hierarquia", tam-.
Religiosos: na saúde, na educação e bém aprovado pela Assembléia da
na assistência popular, e de conse- . CNBB antes mencionada;
guir que não sejam energias isola- c) - a reestruturação da CRB em
das e dispersas que, pelo mesmo fa- Seções Regionais, conforme a es-
to de ficarem isoladas, não alcan- truturação da CNBB. A modificação
çam os objetivos a que visam, mas introduzida nos estatutos para isto
energias que se articulam, se coor- previa a divisão geográfica da Con.
denam e se complementam numa ferência segundo os mesmos crité-
verdadeira Pastoral de Conjunto, rios adotados pela CNBB, sendo
beneficiando a todo o Povo de Deus. reagrupadas as "seções estaduais"
em 13 Regionais, colocados sob a
. Para operacionalizar de maneira responsabilidade dos Superiores
organizada esta participação dos Re- Maiore~ das respectivas regiões .(31).
ligiosos na Pastoral de Conjunto da
Igreja no Brasil, a mesma Assem- Evidentemente, todo este esforço
bléia Geral de 65 aprovou algumas não se deu sem conflitos com ve-
medidas: lhos hábitos e posições tradicionais,
herança do paralelismo pastoral do
a) - a criação do Secretariado passado. Apesar das tensões, a ex-
Nacional . da CNBB de apostolado periênci:l foi extremamente benéfi-
dos Religiosos (SENAR), medida ca para a Vida Religiosa e para a
proposta e aprovada também pela Igreja Local.
NOTAS
. (1) cf. CAFiAMURU DE BARROS, RAI- da, p. 18. (10) REB - XIV (1954)386 .
MUNDO - Brasil uma Igreja em Reno- (11) NARDIN, JOS~, OSB, OLHAR RE-
vação, Vozes, 1967 - p. 9-23. (2) cf. TROSPECTIVO SOBRE O MOVIMENTO
REB - X (1951)326-331. (3) cf. REB - DE UNIÃO DOS RELIGIOSOS, em RCRB
XI (1951)440-447. (4) cf. REB - XIV - 83(1962)269 a 276. (12) NARDIN,
(1954)385-391. (5) CARAMURU DE BAR- JOSÉ, OSB - Id. p. 270. (13) NARDIN,
ROS, RAIMUNDO, Brasil, uma Igreja em
Renovação, Vozes, 1967 - p. 9. (6) cf. JOSÉ, OSB, Idem, p. 271. (14) LEO-
QUEIROGA, GERVÁSIO FERNANDES, POLDINO DE SOUZA, IRINEU, Con-
CNBB - Comunhão e corresponsabili- gresso dos Religiosos do Brasil, em
dade - Paulinas, 1977, p. 168-169. (7) REB-XIV (1954)385-391. (15) cf. RCRB,
cl. QUEIROGA, GERVÁSIO FERNANDES, I (1955)7-13. (16) Leopoldlno de Souza
obra citada, p. 168. (8) AZEVEDO, Irineu; Congresso de Religiosos do Bra-
MARCELLO DE CARVALHO, Os ReligiO- sil, em REB - XIV - 1954, p. 387. O
sos na realidade nacional e eclesial do .texto completo destes primeiros estatu-
Brasil, CRB - 1977. (9) G.CARAMURU tos foi publicado no 29 número da re-
DE BARROS, RAIMUNDO - obra cita- vista da CRB, cl. RCRB n9 2, 1955, p.
366
36 a 39. (17) cf. Comunicado Mensal VIII (1962)403-404. (27) cf. RCRB - VIII
nQ 16 - 1954 - p. 11. (16) cf. RCRB (1962)456-457. (28) cf. LIBÃNIO JOÃO
- 1 (1955)7-13. (19) cf. RCRB - 1 BATISTA, Experiências das Comunida-
(1955)4-5. (20) cf. LEOPOLDINO DE des ecleslais de base no Brasil, em CRB
SOUZA, IRINEU, A Situação da CRB em 10 anos de Teologia - CRB - 1982.
julho de 1959, em RCRB - V (1959) . (29) cf. LlBÂNIO JOÃO BATISTA, obra
517-535. (21) cf. RCRB - 11 (1956)572. citada, p. 118. (30) cf. RCRB - XI
(22) cf. RCRB - IV (1956)202. (23) (1965)531. (31) cf. CLOIN, Thiago, Re-
cf. RCRB - V (1959)692-697. (24) cf. latório do último triênio da CRB 1965-
RCRB - V (1959)694. (25) cf. RCRB - 1968, Arquivos da CRB Nacional, Rio
VIII (19692)325-326. (26) cf. RCRB - de Janeiro. O
•
367
INSE~ÇÃO ' E EDUCAÇÃO
,
..
369
não pode deixar de ser vista como um : primeiro passo, mas por si só
uma das interpelações mais fortes incapaz de testemunhar um novo es-
· de Deus que se revela de muitos tilo de vida: o difícil é não carre-
modos (6). gar consigo os muros nas costas. O
9 - S bem verdade que a VR que importa é a identificação com
sempre esteve presente entre os po- os pobres; a capacidade de redesco-
bres e conheceu de perto movimen- brir seus valores e integrá-los no pa-
tos populares. Contudo, a premên- trimônio dos quais os religiosos são
cia desta presença e o modo de per- portadores. E isto não pode ocorrer
cebê-la é que · questiona fundo um sem um processo "kenótico" (9),
· modo de ser religioso hoje, parti- onde se faz necessário que "ele cres-
cularmente nos países empobreci- ça e que eu diminua" (lO).
dos. Os milhões de Lázaros que es- 13 - As estruturas não se mani-
murram os portões dos claustros, já festam apenas num modo de viver,
não o fazem em busca simplesmente mas também num modo de pensar_
· de alimentos e curativos. Eles ba- ·Prática e teoria se reforçam mutua-
tem forte protestando contra esses mente. A teologia e a espiritualida-
.. próprios portões e muros. Eles pe- de reflexas que alimentaram duran-
dem por um socorro que não lhes te séculos a VR, não parecem as
chega de lugar nenhum· (7). E mais mais adequadas para uma imersão
do que isto: suas ,b atidas se trans- no mundo dos empobrecidos e das
· formam num grito de que o Evan- classes populares. Não é o simples
gelho não pode ser vivido atrás de voto de pobreza, ou mesmo a pobre-
muros, nem nas colinas, mas nos za vivida em decorrência dele, que
e
morros nas baixadas. irão automaticamente levar a uma
identificação dos religiosos com os
10 - Mesmo as Congregações re- pobres. Pois uma é a pobreza livre-
lativamente novas, de uma forma ou mente abraçada, como projeto de vi-
de outra reproduzem esquemas que da inspirado no Evangelho; outra é
trazem simultaneamente as riquezas a pobreza sofrida, como resultado
e o peso dos séculos. Por isto mes- de um sistema excludente. A primei-
mo todas elas se sentem numa si- ra se coloca na linha das virtudes;
tuação de desconforto · diante do a·· segunda ·na linha dos "vícios".
"surdo clamor que sobe aos céus" 14 - Ademais, se é verdade que
(8) e exige mudanças estruturais na sempre houve religiosos que abra-
terra. çaram com fervor o ideal da pobre-
11 - A inserção é. uma tentativa za, é também verdade que os esque-
de responder exatamente a este no· mas mentais nem sempre foram os
vo estilo de vida religiosa exigido dos empobrecidos. Uma das formas
por estas maiorias marginalizadas mais refinadas de posse, . é exata-
não só social, econômica e politica- mente aquela das idéias que coman-
mente, mas também religiosamente. dam o mundo. O intelectualismo, fi-
lho primogênito do iluminismo, está
. 12 - O deslocamento físico de na origem de boa ·parte das discri-
comunidades para as periferias é minações das quais são vítiinas os
370
•
·U'Ignoran t es" . A .troc.a de saberes eixos centrais. São esses eIXOS que
•
(11), pressuposto básico de todo nos Interessam.
processo de inserção, exige uma pos-
tura de escuta humilde, que se opõe 17 - Hoje estão na ordem do dia
à arrogância de quem participa do condenações baseadas em pressupos-
mundo do saber. tos "exclusivismos". Estes podem
ser de dois tipos: o exc1usivismode
2. Exigências na linha quem só considera religiosos . autên-
da Formação ticos . os que vivem nos claustros;
• outro seria . o exclusivismo de quem
15 - A inserção se constitui só vê na inserção a única possibili-
num fato que ganha amplitude sem- dade para a VR hoje. Isto equivale-
pre maior na VR atual. Embora ria .colocarem xeque, por exemplo,
nem sempre assimilado, o fato vem a VIda contemplativa. Não há como
sendo ao menos sempre mais tolera- não condenar os ·exc1usivismos. Mas,
do. Nem por isto, contudo, os im- . pelo que se pode constatar, nin-
passes deixam de ser percebidos até guém sustenta que o único modo de
mesmo pelos próprios religiosos in- ser fiel à vocação . religiosa e aos de-
seridos. Por vezes os problemas são safios de nosso contexto, implique
maiores do que o preparo para en- forçosamente numa inserção, no
frentá-los com lucidez e segurança. sentido usual do termo. A insercão
Daí também os questionamentos faz parte de um carisma que nem a
crescentes em direção aos aspectos todos é dado. O que é inegociável
· formativos para os que já se encon- é que mesmo as comunidades volta-
tram inseridos, mas particularmente das para as tarefas tradicionais, co-
para os jovens que ·b atem às portas mo são as que se dedicam à educa-
da VR com o ideal de uma maior ção, ao campo da saúde, etc., te-
. -
Inserçao. nham abertura para os bafejos de
uma nova postura. O ideal da inser-
16 -:- Por suas próprias implica- ção, a rigor, não diz respeito somen-
ções, a inserção entre os pobres e te às pequenas comunidades que vi-
as classes populares se revela como vem nos meios populares. Ela se
amostra típica do descompasso en- caracteriza mais por um sentido de
tre teoria e prática. Como montar vida do que por determinadas tare-
um esquema formativo que respon- fas ou determinados locais. A aber-
da melhor às exigências da inser- tura aos problemas sociais, a estru-
ção? A VR como. um todo, até mes- turação da vida comunitária, o mo-
·mo nas suas formas tradicionais . do de exercer a autoridade, tudo is-
'sente·se sacudida por desafios múl: to caracteriza o ideal da inserção
típlos. Revestidos de novos matizes, (12). Contudo, o local social, e mes-
os desafios históricos ameaçam a mo geográfico, não deixam de apre-
tranqüilidade dos claustros mais si- sentar reflexos sobre o modo de se
lenciosos. Não vem, evidentemente, viver a VR.
ao caso montar um programa educa-
· tivo completo. Mas julgamos que o .18 - De qualquer forma, não só
repensamento da formação para a um grande número de voe acionáveis
VR passa forçosamente por alguns vem atraído pelo ideal de inserção
371
vi.vido 'em comunidades inseridas, que 'a todos interpela com ' o "vem e
como mesmo os que apresentam ou- ' segue'me" (14); ' "
tras opções, não podem deixar de
22 - Por .isto mesmo; não é de
'ser questionados ' por ;elas. Dáí as
se estranhar ' que ' a ' ''Iinitação de
,questões sobre a formação adequa-
Cristo'" tenha se transforniado num
, da para toda a VR hoje. manual de espiritualidade que .ali-
19 - Evidentemente, não existem menta os religiosos por vários sé-
:l'eceitas que' preparem a inserção. culos. Nem é de , se estranhar que
Por mais que se tentasse abarcar to- este mesmo roteiro seja retomado
. dos os problemas, ~empre ~e abriria sempre de novo, em, período mais
um largo espaço para o imprevisto. recente, como 'linha mestra do ser
Viver na inserção é, em grande par- cristão e religioso (15).
te, viver em situações inesperadas, 23 , - É preciso ter bem presen-
ou ao menos com matizes inespera-
te, contudo, que "seguimento" não é
. dos. Por isto mesíno, mais do que
um forçoso remanejamento a nível "imitação" e que a interpretação do
de . disciplinas, se impõe um modo seguimento não foi sempre a mes-
novo de encarar a realidade, tanto ma. Ela varia de acordo com as fisio-
teológica quanto espiritualmente. A nomias dadas ao Cristo. E estas va-
questão radica mais em chaves de riam de acordo com os tempos. O
leitura do que em conteúdos, eínbo- Cristo descrito em cores românticas
, ' '
ra também . estes possam ser impor- .e pietistas não é o mesmo Cristo que
'tarittls::.k :rigor, 'Os grandes temas da privilegia os empobrecidos tanto nas
VR permanecem, apenas exigem um suas. palavras ,quanto, sobretudo, nas
tratamento diferente. ' ' posições assumidas.
" 20 - Não podemos, nem preten- 24 ":""baí a razão porque a lei-
demos" abarcar todos ,os objetivos de tura do "seguimento" exige ' cuida-
uma foi"Inação mais voltada para a ' dos especiais. Todos', se propõem a
inserção. Isto equivaleria a abordar 'seguir o CristO, inas nem todos <> fa-
toda a lista deviitudes próprias 'de zem do mesmo ' modo,porque nein
uín, religioso. Mas ,'certamente ,don-
,to,dos percebem a realidade do mes-
.vêm ' caJcar , sobi:ealguns aspectos
ftindaíneiltilÍs; ' tais como:" seguimen- lno"modo. O seguimento numa pers-
to do : Gi:isto; desenvolvimento ,' do pectiva , latin~americana , se ' funda
'senso ' comunitário e social; senso numa ci'istologiae . numa eclesiolb-
crítiéo;. postura , diante dos conflitos. gia 'conscientemente armadas ' a ' par-
.' '. .
,. ' ... . . .. . , .. -.
,
'
' ,tir deuma ', situ!lçã() de pecado. Não
':Z;
.
1' :c::... O seguimento d.e Cl1sto hoje é aqui Q lugar ·deretomar o que já
. ' .
". . foi feito abundante e profundamen-
2J --,- A teologia ,do seguimento te por muitos teólogos (16). Aqui
brota já do A.T. O povo escolhido importá ' apenas,' lembrar , que não é
é chamado ao Hajalà, ' a . cá;minhru- qualquer teologia e qualquer espiri-
com o Deus 'q ue. vai à frente :dos tualidade doseguÍIÍ1ento que se pres-
seus (13). EstemesrÍlo convite se ,tam a alimentar a,' caminhada dos
"chncretizá ., niais :na . pessoa de Jesus religiosos ,hoje. .
372
2.2 .- _ . Desenvolvim.ento . do : senso o peso:das mudanças, ou da continui-
.. social .e comunitário dade no processo formativo .
.
25- Mesmo teólogos que ' não
simpatizam cOm ·a Teologia. da Li-
bertação, julgam que . '~não se enten- ,
374
39 - O ' tratado
'. ' dos
. conflitos muriidade 'ou congregação" mas re-
passou por mUItas teonas, por vezes produzem os conflitos sociais". Aqui
opostas, por ' vezes complementares o caminho da solução encontrar-se-ia
(25). Num extremo encontram-se as na conversão , para a causa liberta-
teorias de inspiração márxista que dora (28).
vêem nos ' conflitos o motor da evo-
lução histórica. "Motivo 'de admi- , 41 - Não há razões para exclu-
ração não deve ser a existência de sivizar o diagnóstico: existem confli-
conflitos, mas o aparente mormaço tos de ordem mais pessoal; existem
social'" (26). Noutro extremo encon- conflitos de ordem mais institucio-
tram'se as teorias do consenso que, nal; existem conflitos que remetem
inspiradas em Rousseau, ressaltam a mais para o influxo 'de uma socie-
harmonia como constante, ocasional- dade dividida ideologicamente por
mente perturbada por alguma pato- grupos antagônicos.
logia de ordem social ou pessoal. Co; . 42 - No que se refere às postu-
mo linha ' intermédia,
,
encontram·se
'
~as dos religiosos diante dos confli-
teorias que articulam dialeticamente tos, com facilidade são descartadas
, as tendências conflitivas eharmôni- aquelas que apontam para o acirra-
cas da sociedade. Qualquer que seja mento e o abafamento. Tanto o acir-
a teoria, ela não deixará de definir ramento quanto a tentativa, de aba-
os conflitos como sItuações onde far os conflitos são desastrosos em
existem interessesautagônicos, .re- termos de VR e mesmo 'social. A
presentadosporgrupos antagônicos, única perspectiva plausível parece
que procuram impor aos outros seus colocar-se noutra direção. Antes ,'de
pontos de vista, ou mesmo eliminar mais nada, trata..se de reconhecer a
os inimigos. De acordo com esta,s , existência de conflitos e partir para
três tendências teóricas vão apare- a busca de uma solução verdadeira-
cer três atitudes básicas .face aos mente inspirada na postura' do pró-
conflitos: acirrá~los, abafá-los, cana- prio Cristo. Diante dos conflitos que,
lizá-los.
.
'
surgiram no anúncio da Boa Nova
40 - Em se tratando mais espe' do Reino, Ele não foge mas abraça
cificamente da vida religiosa, encon- até às últimas conseqüências a mis-
tram-se interpretações de cunho reli- são procl<lmada no discurso progra-
gioso-moral; de cunho psicossocial; mático da Sinagoga de Nazaré: "O
de cunho dialético-estrutural {27). ' Espírito dei Senhor está sobre mim,
porque me ungiu. Para evangelizar
Na abordagem religioso-moral os os pobres, Ele me enviou a pregar
conflitos ou não são percebidos, ou aos cativos a liberdade, aos cegos a
são atribuídos à fraqueza de 'indiví-
duos. Na abordagem psicossocial recuperação da vista; para pôr em
tudo se reduz a problemas de ori- liberdade os oprimidos, para anun-
gem psicológica, quer dos formado- ciar um ano de graça do Se-
nhor" (29). '
res, quer dos religiosos em formação.
Numa abordagem dialético-estrutu- 43 - Por aí se vê que a busca
ral "os conflitos não são só oriun- de uma solução apressada não é a
dos dos problemas internos da co· postura mais cristã diante dos con-
,
375 "
flitos. ·Neste cQntextoconvémlem, Destacamos.· .. apenas :, :quatro, . como
brar . também ·uma , passagem evangé, poderíamos. ter .·.destacado , oito. . O
!ica: " Não penseis' que vim trazer a importante é . perceber 'o que ' estes
P<!z 1\ terra.... ". (30). marcos revelam em , termos de dire-
ção: o ideitl .da inserção :éxige um se-
Conclusão guimento de Cristo caracterizado ·pe-
IOs .desafios do , cOiltexto latmcrame:
44 ' . Tndubitavelmente, a 'iriser: ricano; ' requer ,o desenvolvimento do
ção traz problemas problemase wilis senso ' comunitário e.;·social no ' senti-
profundos e ' amplos ' do que ' aqueles do cde 'discernimento;umfl estratégia
aqui élencados. A'inserção tanto ttiiz eficaz , diante dos cônflitos . inevitá-
•
liroblemas para . li yR tiela .· mesma; velS.· .,. . .. :: .'. ' ".
sempfeà ' prDcurà 'de .tima fidelidade
mais plena à causá dO 'ReiIi:o, 'como, . ~ . 4~. ~Anludà:nçàde. dir6ção não
slgmÍlca . abandono ' dos ' grandes te~ '
s.obretudo, .. trl\z difiçulda~espa~ll o
campo da ' educação..p~rá, aVR.. .., . masdii VR: Até Pelo ci#rári6~ , Eles
. . ' . ' ... ... _"...... . .
.
., ~ ,
se tornam :tnaisurgentes' do ' qüe ;nun~
.'
ser .feita, ere-leita,do q:lie paraprOf pede ,coràge)'n ' para 'enfrentar as" no-
gramas prévios. ,C ontudo; .o s"marcos 1(as~' ·ellÍgêneias,·.· exatamente ' para:
te.órico~ .também.: são · importantes .. manter'se'.'fiel-
. às .antigas', ,.
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NOTAS
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(1) A.A.V.V .. -,- . Tendências ·p roféticas. tl!!!'H' (J Jl~vo, flEQ. t~80,; 2.ª 5. (12) ID.
da ' VR na ' América ' Latina, Clar!CRB!' - Autoridade e obedlenCla nas CO~lJ.~ ;
Vozes: 1977. ROCHA, M·. --'Projeto .de · nidades de inserção, op. cit. (1'3) Cf; '
vida radlcal; , Vozes .1977, '60 ,ss.•: BOFF, ANCEL , LOPEZ, M, .- Educación libe-
CI. - ,Autoridade e obediência . nas co- radora como 'p r;~ticad", la Iraterniclad,
munidades "de inserção) C'o nvergência C!iademos ' FranCiscanos, . junho ' 1983,
j",":;lev;. 1983, '38-45'. ' (2) Convergêncill~ ; 79-80." (14)' Cf. Jo '1,43 ' e paralalos.(15)
dez. 1979, 621-640; ",aio 1982, 195-203. Cf. SOBRINO, J . .:... .Crlstologia . a . partir
(3) ·Cf. Lc ' 10,4 (4) Cf. LIBANIO, ..J . . B,; da América L.a tina, VO%981983., (16) Cf.
..,- .Pastoral. .numa . sociedade . de cOIJIIi. CALlMAN; CI, - O seguimento de Cris-
tos, CRB!Vozes 1982, .234 ss. BOFF, L. ' to hoje n.. América Latina, : in puebla:
- Os desafios da vida 'consagradá à luz desafios . .. , op.· cit., . 49-63, (17) . LE-
de Puebla, in Puebla: desafios à vida re- PARGN~ÜR, .H. - Humanismo çristão
ligiosa, CRB!Vozes 197!), .14;23-24, (5) . e" educação brasileira, Réflexão;. n9 25,
Çl. GUTIERREZ, ' G . .- .Força ,histórica 11. (tEl) BOFF, L. e· C!. - Da libertação.
dos pobres, Vozes, · 1981. (6) ' Cf. Hbr O sentido ' teológiCO das libertações ' Sóc
1,1-2. ('7) Cf,· Puebla, '", edição \fozes, cio-históricas, · ~d, ., \l.oze.s , · 1979, .12 SI'.
1268-1269. (8) ID., ibid. (9) Cf. 11 Semi- (19) ·Cf. .LIBÂNIO, J. B. _ Formação da
nário de estudos sobre a vida religio~a. con~ciência: ' crltiç~, "', 'l, 111, Vozes, -' 2(1 .
inserida nos . meios populares, Conver, ed. 1980. (20) Cf. ·SARREIRO, J . - Edu-
gência jan';l"v. 1983, 38-45. (10) Jo. cação popular e conscientização, Vozes,
3,30. (1.1) Cf. B.oFF, C!. - Agente pas- , 1980. (21) Cf. LEPARGNEUR, H. , ~ op.
3.76
cit., 17. (22) CI. HARING, B. - Medici- eial. Perspectivas teóricas e metodoló-
na e manipulação, Paulinas, S. Paulo, gicas, Vozes, 1973. (26) ID., Ibid. 19.
1977, 28 S5. (233) CI. 1 Ts 5,2. (24) CI. (27) CI. UBANIO, J. B. - Pastoral, op.
U BAN I 0, J. B. - Pastoral. .... , op. cit., ' clt. (28) ID., ibid.; 79. e 237. (29) Lc 4,18.
45-46, (25) Cf. PEMO"p, ..:-::Ç9nl!itQ,$c;l,:. , (30) Mt ,4,16. , , ' ", O
. ,
, >- • '. - ~ . -
.- '
'. :.': U)na' .d!ls graças. da .cQmunidade religiosa é o. encontro . das gerações.
,A geração joyem, mais ptoféticae mais ardorosa, encontra·se com '05 mais
,exPerimentados que puderam, durante anos, ir aprendendo a descobrir
Deus em todas as mínimas cois!!s, A idade .colltribui muito para ir ensi-
nando-nos a ler nos riscos tên:1,1es do ,eal . diário a escrita de:Deus . .
...
Por que se esfria a profecia da Vida Religiosa?
, . Conservadorismo
'Por que a Vida Religiosa geratensões ' com ' o 'mundo? ". '. .-.
377
•
PESSOA E CULTURA MODERNA
NA FORMAÇÃO PARA ..... .. .. ,
Duas tônicas dominam quase sem· como para li vida religiosa se situa
·pre quando se fala em formação: o no nível da pessoa. Refere-se ao to-
.conceito de fase, de um tempo de- do da pessoa e ·a pervade toda. For-
finido, com início e fim; a preo- ma·se a pessoa e é a pessoa que se
cupação com métodos e práticas, forma.
técnicas e processos.
O núcleo central de toda pessoa
Na vida humana, em geral, como humana, no plano individual, como
na · vida religiosa, deve sempre ha- no social, é a sua liberdade. A for-
ver, é claro, um período educativo/ mação, pois, deve centrar-se sobre
formativo. Há programas e avalia- a liberdade. Ajudar a pessoa a des-
ções para capacitar as pessoas ao de- cobrir e a educar a própria liberda-
sempenho na vida. A busca e apri- de, a ser livre e a conduzir-se na vi-
moramento de tais conteúdos e pro- da de modo livre e responsável, é
cessos é, por certo, muito importan. o cerne mesmo da formação e o é
te, é mesmo indispensável. particularmente no tipo de mundo
Quero, porém, focalizar aqui uma em que vivemos. Isto vale para to-
dimensão da formação que lhe é fun- da pessoa humana, mas tem matizes
damental. A .formação para a vida próprios segundo as várias formas e
estados de vida;
A vida religiosa é. a profissão pú-
blica lia comunidade eclesial, do que-
(*) Texto da conferência pronun- rer traduzir ao longo da vida uma
ciada na sessão de estudos · de 850 resposta pessoal a uma vocação con-
. SUPERIORAS GERAIS, organiza- creta da parte de Deus à pessoa, pa-
da pela urSG, em ROMA, de 13- ra que viva em coerência o projeto
16/ 05/ 1985. evangélico. Formar para a vida re·
378
ligiosa é ajudar a pessoa a orientar a É responsabilidade do Instituto
sua liberdade em vista e em função Religioso que recebe as pessoas sa-
deste objetivo. Trata-se, pois, de um ,ber que os alicerces lançados no no-
projeto para toda a vida. viciado são fundações para o edifí-
cio da vida; ter presente que, ao lon-
A vocação religiosa manifesta-se. go de fases diversas, se dá continui-
em geral, a uma certa altura de nos- 'dade a um projeto unitário centrado
sa vida consciente. Supõe requisitos 50bre a pessoa e, precisamente sobre
e condições que não focalizo aqui. o mais profundo nesta pessoa que é
Direi apenas que esta vocação se a sua liberdade.
toma viável a partir de um certo ní-
"vol ,de desel1,volvim ento humano, que Três perspectivas
exige precisamente poder dispor da na liberdade humana.
própria vida, decidir sobre ela, orien-
,tá-la em uma direção. O início, pois, A liberdade humana se manifesta
da vida religiosa, deve já envolver e se atua em três níveis ou dimen-
consigo uma opção de vida. E co- sões: liberdade pessoal individual;
mo esta se faz numa perspectiva de liberdade interpessoal e social; liber-
fé - creio em Deus, em Deus que dade transcendental. Há entre elas
me chama, ao ponto de estar dispos- um fundo comupl que as identifica
to a dar--lhe uma resposta pessoal - as três, como liberdade, e diferenças
a vida religiosa pressupõe também que permitem distinguHas. 1'! ana-
um certo nível de amadurecimento
da fé. lógica, pois, a liberdade humana nes-
tes três planos. E as três liberdades
Na mútua dependência e integra- são relativas. Vamos forJ)lizá..J.as
ção constante destes dois elementos mais de perto.
- crescimento humano e amadure-
cimento da fé torna-se possível No plano da liberdade individual-
uma livre opção de vida, a respos- pessoal, cada um de nós 'se afÍlma
ta pessoal a uma vocação evangéli- na sua unicidade e identidade incon-
ca, que é a vida religiosa. 1\lmos aí fundível. Cada um é encontro de sua
a chave para compreender, configu- própria decisão e ação. Cada um, é
rar e atuar a formação, quer a con- livre. Mas esta liberdade é relativa,
sideremos como processo total da vi- porque limitada e condicionada por
da, quer como etapas ao longo deste aquilo mesmo que cada um é, pela
processo. Crescimento human0 e própria realidade individual-pessoal
amadurecimento da fé, como raízes no seu todo psicosomático.
de uma liberdade que se fOlma, são
o fio condutor que atravessa o todo No plano da liberdade interpessoal-
da vida e da fOlmação. Dele preten- social, , somos sujeitos abertos uns
do falar aqui. No contexto da estru- aos outros, sociais, relacionais, soli-
tura interna da cultura contemporâ- dários. Mas esta liberdade situada
nea, a formação da liberdade se faz no contexto que envolve outros é li-
condição imprescindível para situar mitada, condicionada ' pelo quadro
e tomar viável a vida religiosa no sócio·cultural em que nos encontra·
mundo atual. mos.
379
•
,No ,plano da liberdade ' transcenden. , ', Nossa 'vída toma pre'senteS e cons-
' tal, como ,indivíduos ou como grupos timtemente. atUa estas três frentes de
humanos, . depararn:o-:nos ' com ' duas 'nossa liberdade. Nenhuma ' delas se
amplas perspectivas. , : ", move por sua' conta e a atuação em
: " Por ' ~ lado, identificarilOs '~ Um dos níVeis envolve sempre os ou-
, . -. , ,
, . "tros dois. Uma espiritualidade é pre-
nÓS e nos o~tr.os a liberdade co- , cisamente o modo pelo qual uma pes-
mo' um impulso para transce.nder 'sai! conduz a ' sua própria vida, exer-
os dois níveis anteriores, sobretu- ' cendo sua liberdade nesses ' três ní-
do lá onde mais claramente se ma- veis. Napers'pectiva cristã, ' a espiri-
nifesta o seu limite. Superar-nos, •tua'lidade, é a: vida vivida ' pelapes-
ir mais além ' dos hoiízontes ' do soa humana no contexto ativo de OU-
próprio meio, abrir-nos a valores ' tras pessoas, em relação coni Deus e
novos e a ideais maiores, poten- sob sua ação, á nível 'pessoal e in-
e
, " Ciar-nos ajudar os ()utros a cres- . terpessoal, individual e social. É o
modo concrêto de viver o Evange-
" cer; tudo isto faz parte ' de uma
.. dinâmica ' 'inscrita " ehi: nós, Mas 'lho diante do ' Deus de ' Jesus Cristo,
em solidariedade e: comunhão com
" .bemcedo~la
-'. .
se revela . .li-
. relativa, as: pessoas humanas; Esta raiz, co-
initadaecondicionada pela . inca- , mum ' de uma vida e espiritualidade
pacidade ou ' impossibilidade nos- ''Cristã 'se expressa na multiplicidade
saou dósoutros"pelos limites ine- de ',dons e de carismas, de ministé-
rentes às, pessoas e àscomunida- ,rios e de serviços que caracterizam a
des, pela mOrte, destip.o comum e presença cristã no mundo. Na vida
expressão maior de um incontor- religiosa, uma , entre estas modalida-
' nável limite existencial da pessoa des; estaba~e comum está presente
humana. 'n.a pluralidade de inspirações e voca-
ções que, a partir do mesmo Evange-
• Por outro lado, a partir precisa- lho, . se afirmam na pluralidade de
mente da ' constatação ineludível modos devida e de ação apostólica,
de nosso 'limite em todas as fren- ,êom que o Espírito Santo endquece
tes de nossos próprios valores e ,a Igreja e o mundo. Formar para a
afirniações, há um anseio ' igual- Vida religiosa hoje é ajudar as pes-
mente profundo por um referen- soas a Qrientar, conduzir e concreti-
cial que hão seja relativo. Há na zar a própria liberdade, em todo o
pessoa humana uma necessidade ,seu alcance, à luz do Evangelho.
de um transcendente absoluto; de , ,
381.
Mas há nela facetas que pOdem ser velar-se da pessoa a si mesma,a
cultivadas com enfoques específicos, Deus e aos outros.
com maior ou menor intensidade, em
épocas distintas. Ao apresentar aqui Nada disto se alcança, 'pOrém,
esses seis campos de experiência na num plano puramente sincrônico. A
pessoa em formação não existe e não
formação, sublinho que nenhum de- é ela mesma neste momento apenas
les pode ser negligenciado e que ou -nesta fase que ora atravessa. Ela
todos eles se interrelacionam, afe- traz consigo a sua própria história e
tando a totalidade da pessoa. No pe-
continuará a levá-Ia adiante. É, pois,
ríodo de teDllpo de que disponho, indispensável também a percepção
não posso naturalmente focalizá-los
diacrônica da pessoa por si mesma e
todos. Liinito-me a alguns aspectos
pelos que a ajudam e acompanham
da área humana,porque, por um la- na formação. Muito do que hoje
do, ela é indispensável para as ou- acontece, consciente ou inconscien-
tras cinco; por outro lado, vejo ain- temente, com esta pessoa, muito de
da grandes falhas neste ponto, na
suas inclinações, valores e limites,
realidade e na concepção de forma- opções e preferências, sucessos ou
ção em grande número de Institutos fracassos, se explica pOr sua histó-
Religiosos. ria e nela se radica. Esta história
tem três dimensões principais.
Experiência, na área
de formação humana individual. * Ela é, primeiro, o resultado físi-
co-fisiológico-psicológico de um pas-
Reafirmo aqui algo que já foi an- sado biológico, pelo qual a pessoa
tecipado ao falar da experiência de não é responsável. Confluem nela,
si mesma pela própria pessoa. O ní- como precipitado imprevisível e ca-
vel experimental de sua formação prichoso, milhões de elementos pre-
deve ajudá-Ia a fazer vir à tona de cisos de uma programação genética
sua consciência o que ela realmen- hereditária. A pessoa se prende à ca-
te é, como pessoa. Objetivar-se, não minhada de gerações e gerações que
alimentar, antes dissipar ilusões so- nela se expressam e de algum modo
bre si mesma, esvaziar racionaliza- sobrevivem. No entanto, ela é única
ções. Ter de si uma aceitação sere- e inconfundível, ela mesma, a um
na e positiva, viver uma certa ale- tempo densa de passado e intensa de
gria por ser o que é. Não se deixar presente, condicionada e irrepetível.
levar nem por um ufanismo ingê- Fora ainda do alcance de sua von-
nuo, nem por uma auto-piedade de- tade e iniciativa, ela compendia em
pressiva. Ser consciente, porém, do si todo um lastro positivo ou nega-
crescimento sempre possível, da con- tivo de seu ,ç ontexto de primeira in-
versão necessária, da reorientação fância, dos atores que a circunda-
indispensável de tantos aspectos da ram, pais, irmãos -e outros, deixando
própria pessoa. Os experimentos gravados nela os vestígios de sua
. ,
prevIstos ou propostos a pessoa em ,grandeza ou mesquinhez, os impac-
vista de sua formação hão de ser, tos profundos de ações e situações.
pois, planejados e dosados, monito- Ela os absorveu- indefesa e sem sa-
rizados e avaliados, visando este re- ber, nos primeiros anos e não raro
382
.
também ao longo de outras fases for- mente do próprio quadro sócio-cul-
mativas de sua vida, adolescência e tural. Todos somos introduzidos e
juventude. Tudo isto vive e está ·pre- iniciados à nossa própria cultura,
sente na pessoa em formação na vi- enculturados e " socializados, através
da ·religiosa, e o está com maior ou de mecanismos culturais explícitos,
menor intensidade, de modo nem como a família, a escola, as múlti-
sempre claro e definível. O contato plas instituições civis e religiosas, ou
com esta face de · sua humanidade por meio de incontáveis influências
é imprescindível e decisivo para que implícitas. Estas descem e calam
ela. possa · captar a outra dimensão imperceptívelmente dentro de nós,
de sua história. mas nos fornecem subtilmente parâ-
* ~sta segunda vertente é aquela metros e critérios de ação e reação,
que a pessoa mesma foi construindo de inclinações e opções. Muitos dos
sobre essa base, à medida que foi que hoje vivem como religiosas e re-
configurando sua própria vida. Mui- ligiosos nasceram e se educaram num
tos traços e vincos de sua persona- contexto cultural moderno, marcado
lidade foram sulcados por atos pró- pelos traços a serem indicados na
prios, em relação sem dúvida, de segunda parte. A entrada e a forma-
çao na vida religiosa exigiu, não ra-
conseqüência, de acolhida ou de re-
ro, uma total reestruturação da pró-
pulsa, no confronto consciente ou
pria vida, em coerência com a mar-
inconsciente com sua história. Dar-
ca não-moderna que caracterizava
se conta desta dinâmica é rastrear os
nossos Institutos anteriormente ao
processos da própria liberdade. ~ ca-
Concílio Vaticano II e aos Capítulos
minhar para uma liberdade maior, Especiais, em decorrência do Motu
para tomar nas mãos a condução Proprio HEcclesiae Sanctae". De fa-
sempre mais responsável da própria to, a Igreja, em sua vida e organiza-
vida. As experiências na formação ção pre-conciliar, consagrava a pers-
devem contribuir para isso, ao per- pectiva cultural não-moderna de sua
mitir à pessoa tocar este nível pro- institucionalização histórica pluri-
fundo de sua própria realidade hu- secular e se estruturava institucional-
mana. Problemas de agressividade . •• A · •
mente em consequencla, poslclonan-
•
383
,
tr!!~., Em. termos . de Igreja, estas , jo, .,' Esta. ,~.rea , 91), experiência humana
vens
, -' '
são,
.'
de .fato~
. a.
primeira geração
. . . .. inillviduaLé central ao ,"longo de tO;
plenamentt'} ,pós'conciliar que ., nos da· avlda ,dapessoa.Mas ' (impor:
chega, à vida religiosa. Está, .portan: (anie"que 'sé faça uiri doS. focos p1iri~
to, incorporado .à história pessoal de cipaÍsde atenção nos primeiros anos
cada uina dela~, corria ao conjunto de ,formação. A maioria "das ' pessoas
mais amplo da , juventude da qual chega ' .à ' vida , religiosa ,sem muita
provêm, ', um , acervo cultural--eclesial consciência ', de tudo isso_ Tornar-se
bem definido. ' consciente ' do processo histórico em
,
que se gestou á próppa pessoa é abrir
As pessoas em formação e aquelas campo para o creséimento 'humano
que as ' ajudam e acompanham de, que requer a liberdade nÜma pers-
vem dar-se conta desta tríplice di-
mensão da história pessoal ,je cada pectiva de fé. Se isto não é feito des"
de o início e bem, a vida religiosa
formanda. Essa terceira, particular- da: pessoa se inscreverá como um ca-
mente, afeta , não só a pessoa singu- pítulo, a mais numa caminhada por
lar, mas também boa parte da co- vezes menos livre porque menos
munidade em formação, considera- consciente de sua própria história.
da no seu todo. Ficará talvez menos clara e mais de-
, A história da pessoa é, pois, fun- bilitada o que poderia e deveria ser
damental para a experiência, como uma resposta plena da pessoa à in-
falar de formação de sua liberdade terpelação de Deus pela vocação re-
h",m~na e crescimento na fé. Mas é ligiosa. As experiências aqui não de-
relevante também a experiência hu- vem visar somente à explicitação
mana do presente. Formar-se é consciente do que a pessoa é, mas
aprender a lidar com a vida, com hão de conduzir à mudança de ' ati-
o sucesso e a alegria, com a expec- tudes e à conversão lenta e profun-
tativa e' a . impaciência, com os pia- da quando necessário., Esta conver-
'
384
CONFERENCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASil (CRB)
Rua Alclndo Guanabara, 24 - 4 ~ andar / 20031 Rio·de Janeiro, RJ
A Conferência dos Religiosos do Brasi l está realizando sua XIV Assembléia Geral
Ordinária , em Slio Paulo, SP, nos dias 21 a 26 deste m ês . É um acontecimento de real -
ce para os(as) Religiosos(asl . São cerca de 700 Superiores Maiores se ocupando e se
preocupando em aprofundar as questões , ouvir com atenção, traduzir com pro-
priedade, assumir, para atuar, decisoes sobre a animação e a promoçao da Vida
Religiosa . no presente e no futuro, em suas Congregaçoes e Provincias e na Igreja do
Brasil. A realização deste conclave me enseja algumas variações em torno do tema .
Também na Vida Reli giosa, a evo lução parece provir da análise daqui lo que deu
certo, ou seja, o estudo retrospectivo prevalece sobre o mode lo experimental para
não se condenar a repetir os erros e as co nseqüências . Nenhuma construçao que se
quer para o futuro pode ser amnésica do passado . sem ser temerária . Não é por ser
antiga que uma idéia deve ser abandonada. Não obstante ou por isso mesmo. se re-
quer, outrossim, certa dose de coragem, ousadia, audácia, visAo nOva e métodos
saudáveis nos processos decisórios . Não se ancorar ao passado, abrir horizontes em
vez de semear pedras no caminho é prova de uma predisposição permanente e de um
tropismo congênito para detectar a luz do Espírito de Deus e por ela se encantar.
Também na Vida Religiosa, sente-se certa desarticulaçao iflstitucional com a
perda ou o enfraquecimento acentuado da organicidade do todo . Vive-se a experiên-
cia de uma institui ça.o aparentemente sem lei. Ontem mais, hoj e, talvez, menos . Na
eRB e por sua ação. vive-se a riqueza dialética da diversidade e das diferenças na
Vida Religiosa, mas nlio se transige com o ideal da unidade em tudo o que se define
como constitutivo teológico de sua natureza Missão e carismas diferendados. porém,
convergentes, o dinamismo da comunhão, o desafio do pluralismo sempre benéfico
para os indivíduos e as instituições, eis a questão .
Através de seus Grupos de Reflexao e de Estudo sobre Teo logia , Formação, In-
serção, Saúde, Educação .. . a CRB busca elaborar razões de ser e de agir substantivas,
codificadas metodologi camente, tanto quanto a natureza da V IDA se deixa capturar
em esquemas . A tônica recai sempre sobre a consistência de grandes princípios e das
questões teóricas porque vantajosam ente libertam da servidao do real cot idiano mais
estrito e estreito. E certo que as idéias não bastam para modificar a realidade. Mas ,
sem idéias, sem imaginação, sem perspectivas, murcham os homens e as sociedades .
O processo de construção de uma Vida Relig",sa sempre renovada, em termos
de fidelidade e vanguarda, está descrito em grandes linhas em Convergência e nas
Publicações da CONFERENCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL Da vontade e da
determinação nossa de Religiosos(asl depende a prevalência destes ideais, ciclica-
mente evocados, com acento brasi leiro e contemporã neo. Se nossa Vida Religiosa é,
por enq uanto, um alicerce de sonhos, a XIV Assembléia Geral Ordinária da CRB está
acordando cada um para começar efetivam ente a construí-Ia . Assim seja .
Sempre ao seu inteiro dispor, com fraterna amizade, subscrevo-me,
u
DE LIMA, SOB
Responsável
Convergênc ia e Publicações CRB