Artigo 090620150003122
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Resumo
A ideia do presente artigo surge da necessidade de se pensar os quadrinhos para além da Arte
Sequencial. Assim sendo, entender como os meios de comunicação que analisam as HQS e
assim auxiliam, ou não, no consumo de determinada publicação permite criar um panorama
para a compreensão dos impactos que tais produtos de consumo têm na sociedade. Como
objeto de estudo serão utilizados os primeiros números da revista Herói, publicada pela Nova
Sampa a partir de 1994. A Herói foi uma revista semanal que vinculava resenhas, análises,
reflexões, sobre séries, desenhos animados, quadrinhos, RPG, Games e diversos outros
produtos de consumo. A publicação se especializou na análise, divulgação e ponderação sobre
a dita ”cultura pop”. Para a reflexão deste artigo, será observado como a revista tece uma
análise sobre os quadrinhos publicados, e em circulação, no mercado nacional. Outro ponto,
que será ponderado nestas análise, é o de entender quais são os quadrinhos (Comics, Mangá,
etc.) analisados na herói, e quais as escolhas foram realizadas pelo núcleo editorial. A partir
disso entender quais são as escolhas da equipe editorial, e se possível, de cada um dos
escritores que publicaram na Herói. Por fim, visualizar como a Nova Sampa acaba se
convertendo em uma editora de quadrinhos, a Conrad, e se isso é perceptível nas páginas da
Herói.
INTRODUÇÃO
Uma das inúmeras inquietações que permeiam a pesquisa dos quadrinhos, e consome algumas
noites de investigação, é a pergunta: “por que se consome, e quais são, os quadrinhos durante
determinado período?”. É intentando ponderar sobre este tema que surgiu a temática deste
ensaio. Como a revista Herói, intitulada a primeira revista mutante 1, apresenta o cenário do
mercado das HQs, e qual seria sua representação deste secto do mercado de cultura pop? Em
primeiro lugar deve ficar claro a opção de escolha por esta publicação, em detrimento de
outras publicações que versam também sobre o mercado de quadrinhos.
A revista Herói não foi à primeira publicação a falar sobre quadrinhos, ou sobre o que estava
sendo publicado no cenário brasileiro, outras publicações já tratavam sobre o tema das HQs
antes e depois da revista Herói2. No entanto a escolha pela publicação se deve a alguns
fatores: a) A revista foi publicada por mais de 8 anos e atingiu mais de 100 edições; b) Sua
circulação era semanal, além de ter um núcleo editorial constante, permitindo traçar um
panorama de seus conteúdos; c) A mesma utilizava uma vinculação ligada ao Anime
1
Referente ao próprio título da revista. Uma clara alusão ao Tokusatsu Black Kamen Rider.
2
Como a revista Wizard e HQ.
Cavaleiros do Zodíaco, mas a grande maioria de suas matérias versava sobre o mundo dos
Comics americanos, criando um cenário interno de predisposição do tema a cerca do mercado
de quadrinhos.
No decorrer deste artigo, será demonstrado como a revista, na verdade, apresentou de forma
constante, e muitas vezes mais fortemente, os Comics.
Para um melhor aproveitamento da temática com periódicos, em especial as publicações que
versam sobre um tema específico, como as HQs, esta pesquisa se valeráde três pontos de
reflexão.
O primeiro deles faz uma análise teórica sobre a pesquisa com periódicos, e a como devem ser
observadas as publicações que lindam, especificamente com o mercado dos quadrinhos.
Num segundo momento será apresentado um breve histórico sobre a revista Herói, a estrela
principal desta pesquisa. Quando surge, por que, durante quanto tempo é publicada. Assim
sendo, acredito que traçar um panorama sobre a publicação adensa a analise realizada no
terceiro ponto da pesquisa.
Por fim, serão analisadas as 23 primeiras edições da revista. Opto por tais números, pois
compreendo que este período da revista vai alicerçar seu formato, além de permitir
compreender a intenção de seu núcleo editorial.
A revista Herói foi editada e publicada de 1994 até 2002, contabilizando mais de 150 edições.
Versando sobre diferentes assuntos: Anime, Mangá, Tokusatsu, Quadrinhos, Seriados, Games
e afins. Manteve a estrutura editorial, de publicar sobre diversos assuntos da “Cultura Pop”.
No entanto mudanças em sua diagramação, e conteúdo, foram sentidas durante o longo de
suas publicações. Opto, para melhor aprofundamento da análise, por dividir em quatro
momentos específicos suas mudanças: a) Herói; b) Herói Gold – Fase I; c) Herói Gold – Fase
II, d) Herói 2000
HERÓI
Trata dos 23 primeiros números da revista, duro formatinho u do fim de 1994 a meados de
1995. Sua diagramação era de formatinho (19X13,5 cm), impressa em papel offset colorido,
com 32 páginas. O conteúdo que dominava suas capas era o desenho “Cavaleiros do
Zodíaco”. No entanto contava com capas, e matérias, de diversos conteúdos, entre eles: X-
Men, Power Rangers, Batman, Superman, Homem Aranha, Street Fighter, entre outros.
Utilizava uma linguagem bem informal.
Durante o processo de confecção da revista foram notados os seguintes espaços: Herói Mix,
Heróis do Futuro, Vilão Especialmente Convidado, Supergatas e Correio Galáctico.
Além dessas sessões, diversas matérias foram sendo inseridas no decorrer da publicação,
apresentando também os futuros escritores da revista, como Marcelo Del Greco e Alexandre
Nagado, entre outros.
Está fase da revista será analisada de forma mais amiúde no decorrer deste artigo, pois
entendo como alicerce para o formato que será adotado nas outras fases da publicação.
Publicada a partir de maio de 1995, já vinha sendo anunciada a 5 números anteriores a estreia
de uma nova herói, traz mudanças interessantes no formato. Saindo das 32 para as 48 páginas.
Além dos espaços anteriormente citados, foram acrescidos os seguintes sessões: Quadrinhos
Clássicos, Os Dez Mais, Super Gatas, Heróis do Cinema, Heróis das Telas, Eles nunca saem
do ar, Meu Herói e Entrevistas.
Mantiveram-se as matérias com temáticas de séries, quadrinhos, animação, desenhos, entre
outros.
Também é nesse momento que a revista começa a vincular seu comercial na rede de Tv
Aberta3.
Noto aqui a intencionalidade da publicação de se firmar como guia de conteúdo desta
“Cultura Pop” que estava sendo vinculada nos meios midiáticos.
Nesse momento um de seus principais carros chefes, o desenho “Cavaleiros do Zodíaco”, têm
seu episódio final apresentado no dia 17 de outubro de 1995. Acarretando assim uma nova
mudança na confecção da revista.
Com a capa da edição 54 trazendo a chamada “Adeus. Cavaleiros: O fim de uma era”, pode-
se notar como a publicação se utiliza de um dos seus principais carros chefes para repensar o
processo de conteúdos a serem agregados à revista.
Como cita o Matheus Mossmann:
“A ruptura com a utilização da série retrata um novo ímpeto de atingir outras
vertentes de conteúdo que não mais a exploração de Cavaleiros do Zodíaco
como o carro-chefe de vendas da publicação. Ao romper com a série, a
3
Aparecendo na Sessão Super Heróis da Rede Manchete e durante os intervalos do desenho Cavaleiros do Zodíaco, para
visualizar a propaganda <http://www.youtube.com/watch?v=HPwDsLrefvs> Acessado em 24 de Maio de 2015
revista atingiu uma nova mutação, vislumbrando a utilização de outros
conteúdos para se mantiver no mercado editorial onde foi pioneira. Para
tanto, além de não utilizar de Seiya e Cia como seu principal mote, ocorreu à
criação de outros três produtos paralelos, atrelados a esta nova mutação: as
revistas Super Herói, Herói Games e Mini Herói, que foram anunciadas a
partir da Herói Gold nº50” (MOSSMANN, 2012, p. 52)
Com a saída dos Cavaleiros, a revista se aproxima de outras publicações (colocar a lazer aqui)
que versam sobre as produções midiáticas japonesas. Mas ainda trazendo elementos dos
quadrinhos, series e afins. No entanto a partir do número 76 temos uma mudança na sua
diagramação. Dou ênfase à mudança do logo, claramente com a intenção de apresentar uma
nova roupagem à publicação.
A partir do número 109 a Herói muda seu formato, sendo impressa em tamanho 21X27 cm e
tendo a periodicidade alterada; de mensal se torna quinzenal.
Do número 134 ao 140 a revista altera novamente sua periodicidade, se tornando uma revista
mensal. E de outubro de 1998 a agosto de 1999 a publicação entra em um hiato, sendo
rompido apenas pela nova mudança da Herói.
HERÓI 2000
Com novo formato, e novo nome, a Herói retorna ao mercado, com diagramação no padrão de
quadrinhos americanos, de 26X17 cm, a revista manteve seu formato até sua ultima edição,
em dezembro de 2002 quando, oficialmente, encerra suas publicações físicas, optando pela
utilização apenas do seu site.
O que torna a revista tão importante não é apenas a sua longevidade, pensando num mercado
consumidor que se familiariza com uma publicação que apresenta um cenário de consumo.
Mas sim na abertura que a revista traz a outras publicações4 que tal qual a Herói, falam a um
público consumidor que consome não apenas o produto de seu interesse, mas outros
conteúdos que versam sobre a temática.
Além disso, acho importante frisar, que a publicação sempre foi atrelada a animação japonesa,
e conteúdos midiáticos orientais. No entanto, como apresentarei no estudo de caso específico,
ela apresentava, de forma muitas vezes mais presente do que os Animes, por exemplo, os
Comics americanos.
Para tanto opto por realizar uma investigação mais amiúde sobre a primeira fase da revista
Herói.
4
Como as revistas Heróis do Futuro, Henshin, Anime Do, entre outras.
ANALISE DA HERÓI E OS COMICS – DO NÚMERO 1 AO 23
Um dos primeiros pontos que deve ficar claro, durante o processo de análise da revista herói,
é a utilização do anime Cavaleiros do Zodíaco como carro chefe da publicação. Como citado
pelo próprio editor da revista Odair Braz Junior:
A gente simplesmente não sabia o que ia acontecer. O que a gente sabia é
que Cavaleiros do Zodíaco estava pegando muito forte entre a molecadinha,
mas a mídia mesmo ainda não tinha descoberto o desenho. A ideia de lançar
a Herói era totalmente arriscada mas era algo que tinha de ser feito. A
tiragem inicial já foi de 100 mil exemplares. Atingimos a venda dos 100 mil,
mas a gente não esperava isso. Todo mundo ficou surpreso. (BRAZ
JÚNIOR, entrevista 2012)
No entanto, e aqui reforço à proposta deste trabalho, as chamadas de capa, que não são a capa
principal, acabam por, esmagadoramente, tratar de temas ligados aos quadrinhos. Nota-se tal
relação na tabela abaixo.
Assunto Nº de Chamadas
Comics 36
Seriados 11
Tokusatsu 10
Anime 3
Mangá 1
Filmes 12
Diversos 2
Games 4
Desenho Animado 5
Quadrinhos 1
RPG 1
Tabela 1 – Chamadas de Capa Revista Herói. Nº 1 a 23
Fonte: Acervo Pessoal, 2015
Outro ponto interessante é notar como, ainda apresentando as chamadas de capa, o grande filo
dos quadrinhos, apresentado pela revista, era ligado ao gênero dos Comics. A revista
apresenta, em sua grande maioria, quadrinhos produzidos pelas editoras americanas Marvel,
DC e Image. Não estou dizendo que outros quadrinhos não aparecem no espaço das chamadas
de capa – Como o quadrinho Vampirella na Herói 6, Conan na nº9 e Zé Carioca nº20, sendo
casos esporádicos - mas compreendo que optar por determinados temas, em detrimento de
outros, acaba por criar uma característica à publicação. Além das chamadas de capa, os
espaços principais da Herói também estavam recheados de matérias sobre os Comics.
Para uma melhor análise serão separados os principais espaços da publicação, são eles: Herói
Mix, Heróis do Futuro, Vilão Especialmente Convidado, Diversos.
Opto por não lidar com o espaço intitulado Correio Galáctico, que trata das “cartas dos
leitores” pois acredito que o mesmo demandaria uma análise própria, pois possibilita a
interpretação do que seria a “visão dos leitores” entrando na perspectiva da apropriação, ou ao
menos da representação deste público, que não competem a essa pesquisa.
Quanto aos espaços deve ficar claro que os mesmos foram aparecendo conforme a revista foi
sendo publicada, aparecendo a partir do segundo numero da Herói e sendo organizados
posteriormente.
Já no número 2 da revista temos a inserção do primeiro espaço analisado, intitulado Herói
Mix traz pequenas sinopses de diversos assuntos: Games, Quadrinhos, Seriados, Filmes,
Desenhos Animados, Animes, entre outros. Como se pode apresentar na imagen a seguir.
Figura 3 – Sessão Herói Mix. Nº 2
Fonte: Acervo Pessoal, 2015.
O que é interessante analisar, neste espaço, é como os personagens criados pelas editoras
Marvel, DC e Image, aparecem em diversos formatos: HQs, Seriados, Filmes, Games.
Apresentando ao público leitor diversos produtos de consumo com essa temática.
Já no espaço Heróis do Futuro, que também aparece à primeira vez na revista nº 2, os
personagens apresentados são, esmagadoramente, dos quadrinhos - com raras exceções, como
os personagens da revista x e y. Além disso um dos pontos mais interessantes é de que muitos
destes Comics ainda não eram publicados no mercado brasileiro.
Nesse ponto é interessante notar como, no espaço intitulado Heróis do Futuro, a Herói intenta
apresentar ao seu público alguns personagens que poderiam ser consumidos a posteriori.
Pensar nestas escolhas se não traz respostas claras sobre as relações com o mercado editorial
de quadrinhos, lança questionamentos de como, por que, tais quadrinhos acabaram sendo
publicados posteriormente nas bancas do Brasil. Um exemplo de artigo da publicação é:
Outro espaço que também é ocupado pelas HQs é a sessão “Vilão(ões) especialmente(s)
convidado(s)”. A proposta, da sessão, é apresentar uma ficha dos personagens com
informações diversas tais como: idade, altura, peso, entre outros. Além de uma sinopse do
histórico do vilão e as ligações no universo cujo qual é pertencente. Como no exemplo abaixo.
Chama a atenção que dos 23 números da revista, 16 utilizaram este espaço, e desses 9
trataram de supervilões dos Comics. Como podemos notar na tabela a seguir.
Assunto Nº de Supervilões
Comics 9
Tokusatsu 1
Anime 1
Filmes 3
Games 1
E por fim os outros espaços da revista, que foram serializados como Diversos, trazem artigos,
análises, sinopses, dicas, entre outros. Falam de quadrinhos, games, Tokusatsu, games, e afins.
No entanto algumas matérias chamam a atenção por trazerem abordagens mais específicas
sobre os quadrinhos. Como exemplo pode-se separar dois artigos: Os Heróis do Brasil (Herói
Nº 20) e A Explosão dos Gibis (Herói Nº22).
A primeira matéria faz um pequeno apanhado sobre super heróis criados no Brasil durante os
anos 1960 e 1970, como: Raio Negro, Capitão 7, Golden Guitar, Judoka, O Morcego, Bola de
Fogo. E como os mesmos foram engolidos pelas publicações norte americanas que aparecem
no mercado brasileiro pós anos 1970
CONCLUSÃO
Acredito que este estudo procurou apresentar uma perspectiva diferenciada as pesquisas com
a temática dos quadrinhos. Ainda que tal investigação seja deveras inicial, acredito que é
importante sim pensar sobre o mercado dos quadrinhos, principalmente no cenário brasileiro.
E para tanto uma das formas de mapear este cenário se encontrou nas paginas das revistas
Heróis.
Desmistificar a publicação como voltada apenas ao público consumidor de Anime e Mangá, e
demonstrar como diversos elementos do universo mercadológico ligado aos Quadrinhos
foram apresentados em seus variados espaços, permite delimitar, ainda que de forma modesta
ainda, qual era esse cenário de consumo durante os anos 1990.
Além disso, demonstrar como a publicação viu nos Comics (Marvel, DC e Image) um
conteúdo que estava, sim, sendo consumido durante o período em questão. Para exemplificar
deixo a página a seguir. Propaganda da editora Abril (que detinha os direitos da Marvel, DC e
Image durante os anos 1990) na Herói de nº 22.
REFERÊNCIAS
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editorial da revista Herói – “A Primeira Revista Mutante do Brasil”. Nova Hamburgo:
FEEVALE, 2012
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CHARTIER, R. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.
DARTON, R. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.
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MOSMANN, M. M. O Pioneirismo editorial da revista Herói – “A Primeira Revista
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