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Ap1 - Brasil Iii

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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH


CURSO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: BRASIL III
PROF: Carlos Augusto P. dos Santos
ALUNO: Antônio Charles Andrade da Silva

AP1: Atividade Eventual

Mesa 07/03: Jornada Histórica 2023 - Organização social: em tempo de transição


política
Mesa 25/04: FormaPET - Fontes de Pesquisa

Resumo: O presente texto buscará relacionar as discussões presenciadas nos eventos


que ocorreram no mês de março e abril com os conteúdos da disciplina já discutidos e
possibilidade de futuros debates. Nesse sentido, refletiremos sobre os movimentos
negro na primeira República ao Estado Novo e qual sua importância para os dias atuais,
compreendendo que tal movimentos tinha como objetivo lutar pelos direitos da
comunidade negra e contra todo tipo de discriminação racial e apontar que luta continua
até os dias atuais.

O que são os movimentos sociais?


Quando pensamos em movimentos sociais acredito que surge na mente a
imagem de grupos reunidos manifestando em prol de alguma causa. Não está errado
pensar dessa forma, mas os movimentos sociais até o início do século XX, contemplava
apenas a organização e a ação dos trabalhadores em sindicatos com o passar do tempo e
precisamente na década de 60 ocorrerá uma progressiva expansão dos movimentos
abrigando outros grupos sociais como negros, feministas, LGBTQIA+ e outros. Apesar
das diversas conceituação, podemos compreender os movimentos sociais resultado das
lutas sociais de grupos organizados o que objetiva alcançar mudanças sociais por meio
do embate político, conforme seus valores e ideologias dentro de uma determinada
sociedade e de um contexto específicos, permeados por tensões sociais.

Movimento Negro da Primeira República ao Estado Novo

Charge de Agostini, publicada em maio de 1888 na Revista Ilustrada – “Os troncos, bacalhaus (chicotes)
e outros instrumentos de tortura alimentam as fogueiras, em redor das quais os novos cidadãos entregam-
se ao mais delirante batuque”.

Em 13 de maio de 1888 foi abolida a escravidão no Brasil por meio da Lei


Áurea, parecia que ali o pesadelo e horror vivido pelos negros escravos chegavam ao
fim, a imagem acima ilustra a felicidade desse povo, na qual colocam fogos nos
instrumentos de tortura simbolizando o seu declínio. Esse momento histórico de fato é
um marco e poderia ter um final diferente se abolição tivesse tido um planejamento e
compensação por anos de trabalho forçado, mas não tivemos uma política de inclusão
do negro a sociedade e assim os antigos escravos foram jogados a própria sorte e para
piorar emergiu o racismo.

A Monarquia não se sustentou após abolição e um ano e meio caiu e deu lugar para a
República através de um golpe, mais um de muitos que nossa jovem república irá vivenciar. A
partir de então a sociedade se aproximava dos ideais de cidadania, igualdade, fraternidade que a
Revolução francesa propagou pelo mundo, esse grande modelo civilizatório parecia ser uma
forma de incluir e possibilitar a formação de uma sociedade nos moldes francês. Mas segundo
Lilia Schwarcz ocorreu o inverso:

Como mostra o antropólogo Louis Dumont, o racismo emergiu em finais do


xix, justamente num mundo em que a percepção hierárquica das classes
cedeu lugar a um ideário mais igualitário. Tratou-se, pois, de uma grande
reversão de expectativas, diante de um contexto que parecia até então se
apresentar como um livro aberto, a oferecer uma miríade de possibilidades de
inserção e identificação com uma ordem social consolidada em classes e com
a crença internacional de que a cultura e a educação eram o principal veículo
para a abolição das travas da escravidão e demais processos de servidão
compulsória. (SCHWARCZ, 2012, p. 21)

O sentimento não é festa, diferentemente da imagem ilustrada no início do texto,


mas marca a continuidade de uma luta que ainda se faz presente nos dias atuais.
Portanto, escolhi iniciar falando sobre o movimento negro no Brasil, nossa sociedade
tem uma dívida histórica para com o povo negro que por séculos foram explorados e
enriqueceram a elite desse país. Abidias do Nascimento frisa que o escravo “construiu
as fundações da nova sociedade com a flexão e a quebra da sua espinha dorsal, quando
ao mesmo tempo seu trabalho significava a própria espinha dorsal daquela colônia”
(NASCIMENTO, 1978, p.49). Mesmo após abolição os negros tiveram que enfrentar o
estigma da escravidão, Lilia Schwarcz explica que surgiu um novo racismo,
apropriando-se da ciência e biologia propaga-se “os sinais físicos para definir a
inferioridade e a falta de civilização, assim como estabelecer uma ligação obrigatória
entre aspectos "externos"
e "internos" dos homens”.1

Compreendido que após a escravidão os povos negros tiveram que enfrentar


mais uma tortura, agora na alma, o racismo, diferentemente dos que pensam que no
Brasil existe/ia uma democracia racial, a realidade foi e continua muito diferente. Diante
disso, o Movimento negro se apresenta como a luta dos negros na perspectiva de
resolver seus problemas na sociedade, em particular os preconceitos e as discriminações
raciais que perpetuaram após abolição. Formados por ex- escravos e seus descendentes
surgem os movimentos de mobilização racial negra no Brasil, instituído em clubes,
associações e grêmios fazendo-se presente em diferentes partes do país, como apresenta
Petrônio Domingues:

Em São Paulo, apareceram o Club 13 de Maio dos Homens Pretos (1902), o


Centro Literário dos Homens de Cor (1903), a Sociedade Propugnadora 13 de
Maio (1906), o Centro Cultural Henrique Dias (1908), a Sociedade União
Cívica dos Homens de Cor (1915), a Associação Protetora dos Brasileiros
Pretos(1917); no Rio de Janeiro, o Centro da Federação dos Homens de Cor;
em Pelotas/ RG, a Sociedade Progresso da Raça Africana (1891); em
Lages/SC, o Centro Cívico Cruz e Souza (1918). Em São Paulo, a
agremiação negra mais antiga desse período foi o Clube 28 de Setembro,
constituído em 1897. Pinto computou a existência de 123 associações negras
em São Paulo, entre 1907 e 1937. Já Muller encontrou registros da criação de

1
SCHWARCZ, 2012, p. 21.
72 em Porto Alegre, de 1889 a 1920,10 e Loner, 53 em Pelotas/RS, entre
1888 e 1929.11 Havia associações formadas estritamente por mulheres
negras, como a Sociedade Brinco das Princesas (1925), em São Paulo e a
Sociedade de Socorros Mútuos Princesa do Sul (1908), em Pelotas.
(DOMINGUES, 2007, p.103)

Os “homens de cor” como se dizia na época se organizaram e formaram


associações que algumas são de cunho eminentemente assistencialista, recreativo e/ou
cultural, já outros tiveram como “base de formação determinadas classes de
trabalhadores negros, tais como: portuários, ferroviários e ensacadores, constituindo
uma espécie de entidade sindical” (Idem, p. 104). Como forma de resistência e luta
contra os estigmas da escravidão e todo racismo dela oriundos, tivemos
simultaneamente o surgimento da Imprensa negra2, essa seria uma forma da
comunidade negra denunciar e informar sobre suas vivencias:

Esses jornais enfocavam as mais diversas mazelas que afetavam a população


negra no âmbito do trabalho, da habitação, da educação e da saúde, tornando-
se uma tribuna privilegiada para se pensar em soluções concretas para o
problema do racismo na sociedade brasileira. Além disso, as páginas desses
periódicos constituíram veículos de denúncia do regime de “segregação
racial” que incidia em várias cidades do país, impedindo o negro de ingressar
ou frequentar determinados hotéis, clubes, cinemas, teatros, restaurantes,
orfanatos, estabelecimentos comerciais e religiosos, além de algumas escolas,
ruas e praças públicas. Nesta etapa, o movimento negro organizado era
desprovido de caráter explicitamente político, com um programa definido e
projeto ideológico mais amplo. (Idem, p. 104).

São Paulo abrigou a grande parte dessa imprensa, a té 1930 contabiliza-se a


existência de, pelo menos, 31 desses jornais circulando em São Paulo , contudo, outros estados
tiveram também como como a Raça (1935), em Uberlândia/MG, o União (1918), em
Curitiba/PR, O Exemplo (1892), em Porto Alegre/RS, e o Alvorada, em Pelotas/ RS.
(Idem, p. 105).

2
Em São Paulo, o primeiro desses jornais foi A Pátria, de 1899, tendo como subtítulo Orgão dos Homens
de Cor. Outros títulos também foram publicados nessa cidade: O Combate, em 1912; O Menelick, em
1915; O Bandeirante, em 1918; O Alfinete, em 1918; A Liberdade, em 1918; e A Sentinela, em 1920. No
município de Campinas, O Baluarte, em 1903, e O Getulino, em 1923. Um dos principais jornais desse
período foi o Clarim da Alvorada, lançado em 1924, sob a direção de José Correia Leite e Jayme Aguiar.
(DOMINGUES, 2007, p.104)

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