DISSERTAÇÃO FINAL - Flavia Demarchi
DISSERTAÇÃO FINAL - Flavia Demarchi
DISSERTAÇÃO FINAL - Flavia Demarchi
Instituto de Geociências
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Recursos Minerais e Hidrogeologia
SÃO PAULO
2019
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Instituto de Geociências
SÃO PAULO
2019
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
iv
A todos os jovens pesquisadores
brasileiros, que em meio a toda
adversidade política recente, resistem
e lutam em nome da ciência.
v
AGRADECIMENTOS
Com muita satisfação encerro mais uma importante etapa da minha vida e gostaria de
agradecer a todos que estiveram presentes em minha jornada nesses anos de mestrado.
Agradeço em primeiro lugar à minha mãe Rita, por todo o apoio, amor e compreensão, sem os
quais eu não seria capaz de chegar até aqui.
Ao Sergio Caetano, por toda a parceria de vida e pelos conselhos ao longo do trabalho.
Obrigada pelo carinho e compreensão dedicados nos momentos de dificuldade e por tornar os
momentos bons ainda mais felizes pelo seu companheirismo.
A minha amiga Marina por estar sempre presente de alguma forma, pelos conselhos e
momentos de descontração. Aos amigos Renato e Barbara, por todo o acolhimento e
cafezinhos, principalmente durante os meses finais.
Por fim, agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para minha
formação pessoal e profissional até aqui.
vii
“Nossa existência deforma o universo. Isso é responsabilidade.”
ix
RESUMO
Muitas obras são realizadas em áreas de ocorrência de argilas rijas e materiais desse tipo
possuem características muito particulares, que influenciam no desenvolvimento do projeto e
segurança da obra. Em parte, o comportamento desses solos é devido não apenas à sua
estrutura, mas também a seus parâmetros intrínsecos. Estes podem ser definidos como
parâmetros que independem da estrutura do solo em seu estado natural e são obtidos a partir
da análise de solos reconstituídos. Atualmente, pouca informação pode ser encontrada sobre
ensaios realizados em amostras reconstituídas das argilas cinza-esverdeadas da cidade de São
Paulo. Portanto, o objetivo desta pesquisa é determinar as características intrínsecas deste
material e determinar a influência destas no seu comportamento geotécnico. Deste modo, o
solo foi reconstituído e consolidado em uma célula oedométrica de grande dimensão,
garantindo a preparação de amostras homogêneas, a partir das quais foram extraídos corpos
de prova para realização de ensaios de adensamento, resistência, determinação da curva de
retenção e análise em microscópio eletrônico de varredura. A partir desses ensaios, observou-
se que o teor de umidade adotado no processo de reconstituição influencia diretamente no
comportamento da amostra, e para o material estudado o teor de umidade ideal a ser usado
como referência é igual a seu limite de liquidez. As linhas de compressão intrínsecas obtidas
para as amostras foram concordantes com o padrão esperado e a partir destas foi possível
determinar o valor do índice de compressão intrínseco do solo. Da mesma maneira, os ensaios
triaxiais de resistência permitiram a obtenção dos valores da coesão efetiva intrínseca e do
ângulo de atrito interno intrínseco. Os resultados da pesquisa se mostraram coerentes com as
revisões da literatura, e demonstram que o uso de parâmetros obtidos a partir de ensaios em
amostras reconstituídas é uma boa opção para acessar informações de campo de alguns solos,
bem como são seguros para serem utilizados nos projetos de engenharia.
xi
ABSTRACT
Many constructions are built in areas of stiff and hard clays occurrences, and this kind of
material has very particular characteristics that influences in project developments and
security of the construction. The behavior of these soils is related with their natural structure
and intrinsic parameters. These parameters are independent of soil structure in its natural state
and are obtained from reconstituted soil tests. Currently, little information can be found
concerning tests in reconstituted samples from the greenish-gray hard clay of Sao Paulo city.
Therefore, the aim of this research is to define the intrinsic characteristics of this material and
their influence over geotechnical behavior. Thus, the soil was reconstituted and consolidated
in a large dimension oedometer, for homogeneous samples preparation, from which the
specimens was made and used in consolidation, shear strength, suction and scanning electron
microscopy analyses. From these experiments, it was observed that the moisture content
adopted in the reconstitution directly influences the sample behavior and the ideal moisture
content used as reference for this soil should be equal to its liquidity limit. The intrinsic
compression lines obtained from the samples was similar to the pattern and the intrinsic
compression index could be determined. From the shear strength tests the intrinsic effective
cohesion and the intrinsic friction angle of the soil were also determined. The obtained results
were consistent with the literature review and showed that the use of reconstituted samples is
a good option to access some field parameters from some soils, and in this way, are safe to be
used in engineering projects.
xiii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 23
2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 25
xv
7. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 95
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 98
xvi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Mapa geológico da Bacia de São Paulo e porção sudoeste da Bacia de Taubaté: 1)
Embasamento pré-cambriano; 2) Formação Resende (sistema de leques aluviais proximais);
3) Formação Resende (sistema de leques aluviais medianos a distais associados à planície
aluvial de rios entrelaçados); 4) Formação Tremembé; 5) Formação São Paulo; 6) Formação
Itaquaquecetuba; 7) Sedimentos quaternários; 8) Falhas cenozoicas. (RICCOMINI et al.
2004). ........................................................................................................................................ 27
Figura 2: Seção esquemática dos solos da cidade de São Paulo (Marinho, Vargas e Vilar,
1998). ........................................................................................................................................ 29
Figura 3: Amostra representativa das argilas cinza-esverdeadas do Taguá, na qual também se
podem notar porções com manchas marrom-amareladas. ........................................................ 31
Figura 4: Padrão de fissuramento das argilas do Taguá. ......................................................... 32
Figura 5: Perfil geotécnico, valores de SPT e parâmetros obtidos por meio do Camkometer,
na região do Ibirapuera (Pinto e Abramento, 1998). ................................................................ 34
Figura 6: Ei em função da profundidade (Pinto e Abramento, 1998). .................................... 35
Figura 7: Parâmetros obtidos em ensaios DMT e palheta, na região da Estação Sacomã do
Metrô de São Paulo (Elaborada a partir dos dados de Negro et al., 2012) ............................... 35
Figura 8: Curvas de sedimentação para argilas normalmente consolidadas (Skempton, 1970)
.................................................................................................................................................. 39
Figura 9: Linha de compressão intrínseca obtida a partir da normalização das curvas de
compressão intrínsecas (Burland, 1990) ................................................................................... 40
Figura 10: Relação entre LCS e LCI, plotadas em um mesmo gráfico Iv0 x log σv0’
(Burland, 1990). ........................................................................................................................ 41
Figura 11: Curvas obtidas em ensaios oedométricos mostrando a LCS convergindo em
direção à LCI. (Burland, 1990)................................................................................................. 42
Figura 12: Posicionamento de argilas sobreadensadas relativamente à LCI e à LCS. Adaptado
de Burland (1990) e Chandler (2000). ...................................................................................... 44
Figura 13: Comportamento idealizado de argilas reconstituídas em ensaios triaxiais, em
condições drenadas e não drenadas. (Burland, 1990) ............................................................... 45
Figura 14: Envoltórias de resistência ao cisalhamento para solos argilosos nas condições
sobreadensada, normalmente adensada e residual (Skempton, 1977) ...................................... 46
Figura 15: Correlação entre a resistência ao cisalhamento de juntas e fissuras x amostras
reconstituídas (Skempton, 1977). ............................................................................................. 47
xvii
Figura 16: Correlação entre as resistências de pico e residual para a Argila de Londres
(Skempton et al. 1969) ............................................................................................................. 47
Figura 17: Processo de preparação do solo reconstituído - a) solo seco; b) solo + água
destilada e c) mistura homogeneizada do solo + água destilada. ............................................. 51
Figura 18: Mistura homogênea final da amostra reconstituída com teor de umidade 1,25 WL.
.................................................................................................................................................. 51
Figura 19: Partes que compõem a célula oedométrica construída .......................................... 52
Figura 20: Colocação da amostra na célula de adensamento de grande dimensão ................ 53
Figura 21: Célula de grande dimensão preenchida com o solo preparado ............................. 53
Figura 22: Célula oedométrica montada no sistema de carregamento ................................... 54
Figura 23: Processo de retirada do solo da célula oedométrica de grande dimensão ............. 55
Figura 24: Amostra resultante do processo de reconstituição e consolidação em célula de
grande dimensão ...................................................................................................................... 56
Figura 25: Corpos de prova utilizados nos ensaios da curva de retenção, sob a placa de
sucção. ...................................................................................................................................... 57
Figura 26: Processo de colocação da amostra reconstituída e montagem para realização do
ensaio de adensamento em célula convencional ...................................................................... 58
Figura 27: Ensaio de adensamento em célula convencional .................................................. 59
Figura 28: Amostras analisadas no MEV. Da esquerda para a direita: amostra reconstituída
1,0 wL, reconstituída 1,25 wL e indeformada. .......................................................................... 60
Figura 29: Processo de moldagem do corpo de prova para o ensaio de resistência ............... 61
Figura 30: Montagem do ensaio na câmara triaxial. Corpo de prova envolvido por membrana
impermeável. ............................................................................................................................ 62
Figura 31: Câmara triaxial devidamente montada com o corpo de prova .............................. 62
Figura 32: a) Amostra não destorroada; b) Manchas avermelhadas provenientes de alteração
intempérica, c) material destorroado e passado na peneira #40. .............................................. 65
Figura 33: Curva granulométrica do solo de estudo. .............................................................. 66
Figura 34: Classificação do solo de acordo com a carta de plasticidade de Casagrande. ...... 67
Figura 35: Difratogramas de raios-x do material de acordo com as determinações dos
tratamentos natural (linha verde), glicolada (linha azul) e aquecida (linha vermelha). Il = illita
e Ka = Caulinita. ...................................................................................................................... 68
Figura 36: Curva de retenção de água do solo reconstituído 1,00 wL (pré-adensado) .......... 70
Figura 37: Curva de adensamento dos solos reconstituídos 1,0 wL e 1,25 wL ....................... 71
xviii
Figura 38: Curva índice de vazios x tempo e respectivos coeficiente de adensamento – solo
1,0 wL. ....................................................................................................................................... 72
Figura 39: Curva índice de vazios x tempo e respectivos coeficiente de adensamento – solo
1,25 wL...................................................................................................................................... 72
Figura 40: Curva de adensamento - solo reconstituído 1,0 wL pré-adensado. ........................ 74
Figura 41: Curva índice de vazios x tempo e respectivos coeficientes de adensamento - solo
reconstituído 1,0wL pré-adensado. ........................................................................................... 75
Figura 42: Curvas de adensamento dos solos reconstituídos com diferentes teores de umidade
.................................................................................................................................................. 76
Figura 43: Linha de Compressão Intrínseca - solo 1,25 wL .................................................... 77
Figura 44: Linha de Compressão Intrínseca - solo 1,0 wL ...................................................... 77
Figura 45: Linha de Compressão Intrínseca - solo 1,0 wL pré-adensado ................................ 77
Figura 46: Comparação das LCI dos solos ensaiados com a LCI de Burland (1990) e LCS de
Skempton (1970) ...................................................................................................................... 79
Figura 47: Imagens de MEV em amostras indeformada e reconstituídas ............................... 82
Figura 48: Imagens de MEV - amostra indeformada .............................................................. 83
Figura 49: Imagens de MEV - Amostra reconstituída 1,0 wL ................................................. 84
Figura 50: Imagens de MEV – Amostra reconstituída 1,25 wL .............................................. 84
Figura 51: Corpos de prova após os ensaios de cisalhamento triaxial .................................... 85
Figura 52: Curvas tensão desviadora x deformação axial ....................................................... 86
Figura 53: Curvas de variação de poropressão x deformação axial ........................................ 87
Figura 54: Trajetórias de tensões do ensaio de resistência...................................................... 88
Figura 55: Círculos de Mohr e envoltória de ruptura .............................................................. 88
Figura 56: Módulos de deformabilidade secante (Es) ............................................................. 89
Figura 57: Módulo de deformabilidade secante (Es) normalizado pela tensão efetiva média
(p') ............................................................................................................................................. 90
Figura 58: Solo normalmente adensado e sobreadensado (a) Curvas tensão desviadora x
deformação axial; (b) variação da poropressão x deformação axial ........................................ 92
Figura 59: Trajetórias de tensões dos ensaios de resistência nos solos sobreadensados......... 93
Figura 60: Módulos de deformabilidade secante - solos reconstituídos sobreadensados ....... 94
Figura 61: Módulos de deformabilidade secante normalizados - solos reconstituídos
sobreadensados ......................................................................................................................... 94
xix
ÍNDICE DE TABELAS
xx
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS
K0 = Coeficiente de empuxo
e = Índice de vazios
Iv = Taxa de vazios
w = Umidade [%]
xxi
CRA = Curva de retenção de água
Cv = Coeficiente de adensamento
Cc = Índice de compressibilidade
A = Atividade do solo
xxii
1. INTRODUÇÃO
As novas linhas do metrô de São Paulo e outras obras de infraestrutura vêm gerando
informações sobre estes solos, mas com pouco avanço do ponto de vista tecnológico para a
obtenção dos parâmetros. Dados mais recentes foram obtidos a partir da utilização de ensaios
in situ (PINTO E ABRAMENTO, 1998; NEGRO et al. 2012) que auxiliaram muito no
aprimoramento das informações sobre as argilas duras da cidade de São Paulo.
Contudo, muitos dos ensaios de campo fazem uso de correlações empíricas que
necessitam ser aprimoradas por meio de investigações de laboratório, nas quais o controle das
condições de ensaio é mais rigoroso. A comparação entre resultados obtidos por Negro et al.
(2012) nos ensaios in situ, com resultados de laboratório em amostras indeformadas
realizados por Massad (1980) mostram que pode haver discrepância significativa nos dados.
Essas diferenças podem ocorrer não apenas em função do método de ensaio adotado, mas
também como uma resposta do solo às alterações das tensões geradas pelo processo de
amostragem.
23
resultante da combinação do arranjo e “empacotamento” de suas partículas com a cimentação
entre os grãos.
As argilas duras possuem particularidades que tornam cada uma delas um material
específico. Suas propriedades dependem das variações de tensões, tempo de carregamento,
além da natureza do material. Na maior parte das vezes são materiais difíceis de serem
amostrados, principalmente nos casos em que se encontram muito fissuradas. Terzaghi (1936)
já indicava a dificuldade de encontrar argilas duras e rijas intactas, sem fissuramentos e a
premissa se torna verdadeira para o Taguá conforme apontado por Penna (1982). Para esses
casos, o uso de amostras reconstituídas para determinação dos parâmetros geotécnicos se
torna uma alternativa pertinente.
Nesse sentido, este trabalho tem como finalidade estudar as argilas duras cinza-
esverdeadas, denominadas Taguá, em estado reconstituído, buscando contribuir para o
conhecimento mais aprofundado desse tipo de solo no Brasil e também possibilitando a
utilização de seus parâmetros geotécnicos por órgãos públicos e privados no desenvolvimento
de projetos.
2. OBJETIVOS
25
3. CONTEXTO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO
O RCSB é uma feição tectônica de idade cenozoica, com formato de uma faixa estreita
e deprimida, alongada segundo direção ENE, aproximadamente paralela à linha de costa atual.
Sua extensão é de cerca de 900 km e localiza-se entre as cidades de Curitiba/PR e Barra de
São João/RJ (RICCOMINI et al., 2004). Fazem parte também do RCSB as Bacias
Sedimentares de Curitiba, Taubaté, Resende e Volta Redonda; de acordo com Riccomini
(1989) estas bacias possuem origem em comum, tendo sido formadas em uma única calha
deposicional e separadas em função do próprio tectonismo deformador do rift. Esta origem
em comum das bacias explica a ocorrência de formações correlatas entre as mesmas, com
camadas de comportamento geotécnico semelhante (KORMANN, 2002).
A área da Bacia Sedimentar de São Paulo é de aproximadamente 1.000 km², com eixo
maior e menor de cerca de 75 e 25 km respectivamente, limitados à região metropolitana da
cidade de São Paulo (RICCOMINI & COIMBRA, 1992). Dados de sondagem levantados por
Takiya (1991) indicam que a espessura máxima de sedimentos na bacia é de 290 metros.
26
O preenchimento sedimentar da bacia é representado pelas rochas de deposição
paleógena do Grupo Taubaté (Formação Resende, Formação Tremembé e Formação São
Paulo) e neógena da Formação Itaquaquecetuba, hoje recobertas por sedimentos quaternários.
A distribuição destas rochas pode ser observada no Mapa Geológico da Bacia de São Paulo
elaborado por Riccomini et al. (2004), apresentado na Figura 1.
Figura 1: Mapa geológico da Bacia de São Paulo e porção sudoeste da Bacia de Taubaté: 1) Embasamento pré-
cambriano; 2) Formação Resende (sistema de leques aluviais proximais); 3) Formação Resende (sistema de
leques aluviais medianos a distais associados à planície aluvial de rios entrelaçados); 4) Formação Tremembé; 5)
Formação São Paulo; 6) Formação Itaquaquecetuba; 7) Sedimentos quaternários; 8) Falhas cenozoicas.
(RICCOMINI et al. 2004).
27
Itaquaquecetuba a depósitos fluviais. Informações mais detalhadas sobre os ambientes de
sedimentação e as litofácies de cada Formação são fornecidas por Riccomini (1989) e
Riccomini & Coimbra (1992).
Camadas de transição (cotas 800 – 750 m) – Argilas rijas e duras vermelha, amarelo e
cinza: apesar de apresentarem as mesmas características de plasticidade e
granulometria da camada anterior, Massad (1980) sugere que os dois horizontes sejam
tratados como solos de origem distinta. Diferentemente da argila anterior, os poros não
são aparentes, o teor de sílica é maior e há abundância de concreções de limonita.
Camadas intermediárias (cotas 750 – 725 m) – Argilas rijas variegadas e areias finas
e médias argilosas variegadas: apresentam coloração muito variada, de tons amarelos
a vermelhos, vermelho-azul e branco. De acordo com Pinto e Massad (1972)
caracterizam-se por possuir grande heterogeneidade, tanto em sua composição
granulométrica, quanto nos parâmetros de resistência e compacidade.
Camadas profundas (abaixo da cota 725 m) – Argilas duras, cinza esverdeadas: Foco
de estudo deste trabalho; são denominadas no meio geotécnico como “Taguá”. Em
geral ocorrem abaixo do atual nível freático, ao longo de toda bacia. Maiores
informações sobre esta camada serão apresentadas adiante.
Areias basais (abaixo da cota 725 m): são encontradas em algumas localidades da
bacia, assentadas sobre o embasamento cristalino ou ainda acima das argilas duras
cinza esverdeadas. Caracterizam-se por serem areias grossas e médias, pouco
argilosas, amarelas a avermelhadas.
28
Uma seção esquemática mostrando a disposição destas camadas ao longo do trecho da
cidade de São Paulo é apresentada na Figura 2.
Figura 2: Seção esquemática dos solos da cidade de São Paulo (Marinho, Vargas e Vilar, 1998).
29
esmectíticos (RICCOMINI, 1989; SANT’ANNA, 1999). Essas rochas ocorrem
predominantemente ao longo da borda norte da bacia e seus pacotes possuem espessura
decamétrica com acunhamento em direção às porções mais centrais da bacia.
Nas porções mais interiores são encontrados lamitos e lamitos arenosos de coloração
esverdeada e também arenitos de coloração esverdeada a esbranquiçada ou acinzentada
(RICCOMINI, 1989), representativos dos depósitos de áreas medianas a distais. A matriz dos
lamitos é composta essencialmente por argilominerais esmectíticos de origem detrítica, com
pequena porcentagem de quartzo, feldspato, mica e minerais máficos (SANT’ANNA, 1999).
De acordo com Takiya (1991) também é possível encontrar caulinita nessa matriz, resultante
de alteração das esmectitas. As argilas duras cinza-esverdeadas estão associadas a esses
depósitos lamíticos.
Apesar da formação dos sedimentos neste clima, segundo Riccomini (1989) sua
preservação deve ter ocorrido em fase de clima mais seco, de baixa pluviosidade. Isso seria
evidenciado pela ausência de um fracionamento granulométrico significativo nos lamitos, que
ainda resguarda uma porcentagem de sedimentos mais grossos, mal selecionados, em meio a
sedimentos essencialmente síltico-argilosos.
Riccomini (1989) aponta que as argilas são compostas essencialmente por esmectitas
detríticas, sugerindo que não houve alteração diagenética das mesmas. Isso poderia ser
explicado por eventos de corridas de lama, que geram ambientes de baixa porosidade e
permeabilidade, que não permitem a percolação dos fluidos essenciais à diagênese,
impossibilitando assim a alteração das esmectitas.
Assim, de acordo com os processos descritos por Riccomini (1989) uma possível
síntese cronológica da formação dos lamitos da Formação Resende seria: a) intemperismo de
rochas granitoides, sob clima úmido, gerando espesso regolito; b) transformação diagenética
das argilas formadas pelo intemperismo em esmectitas, sob influência de clima semi-árido; c)
corridas de lama de alta viscosidade sob regime de chuvas torrenciais e/ou recrudescimento de
30
atividade tectônica; d) preservação dos depósitos pela alta taxa de subsidência tectônica e
baixo poder de retrabalhamento fluvial, ainda em condições semi-áridas.
Figura 3: Amostra representativa das argilas cinza-esverdeadas do Taguá, na qual também se podem notar
porções com manchas marrom-amareladas.
31
De acordo com Penna (1982), as fissuras tendem a ocorrer mais frequentemente nas
porções mais rasas do perfil de solo, tal como ilustrado na Figura 4, podendo sua origem estar
relacionada aos alívios de tensões ocasionados pelas remoções de carga durante os eventos
erosivos, bem como resultado da ação do intemperismo físico e químico. Embora a ocorrência
das fissuras seja relatada por alguns autores, não existem estudos mais específicos que
detalhem a orientação e distribuição espacial dessas fissuras.
Muitos autores descrevem essas argilas como fortemente sobreadensadas, sendo que
algumas hipóteses são levantadas para explicar a origem deste sobreadensamento (VARGAS,
1953 e 1980; COZZOLINO, 1972; MASSAD, 1980; PENNA, 1982). A hipótese mais
comumente discutida diz respeito ao sobreadensamento causado pela erosão dos vales dos
rios Tietê e Pinheiros, onde aproximadamente 100 metros de material devem ter sido
removidos pelos eventos erosivos.
32
De acordo com Penna (1982), entretanto, ensaios realizados em algumas amostras
revelaram tensões de pré-adensamento superiores às máximas tensões efetivas já atuantes, o
que indicaria que a carga de soterramento não foi o único fator de sobreadensamento. Assim,
outros fatores que pudessem explicar esses valores maiores das tensões de pré-adensamento
começaram a ser levantados.
Uma das hipóteses que poderia explicar esse fenômeno envolve o processo de
“envelhecimento” das argilas, o qual segundo Bjerrum (1973) pode ser entendido como um
adensamento adicional causado pela atuação prolongada de uma dada carga no solo, gerando
compressão secundária.
Outras hipóteses citadas por Penna (1982) seriam o pré-adensamento aparente causado
por agentes químicos, gerados durante o intemperismo e cimentação; e também o efeito de
pré-adensamento devido a ciclos de umedecimento/ ressecamento das argilas, causados por
variações do nível d’água na fase de sedimentação, que explicaria inclusive parte dos
fissuramentos encontrados neste material.
Figura 5: Perfil geotécnico, valores de SPT e parâmetros obtidos por meio do Camkometer, na região do
Ibirapuera (Pinto e Abramento, 1998).
34
Figura 6: Ei em função da profundidade (Pinto e Abramento, 1998).
RSA
Figura 7: Parâmetros obtidos em ensaios DMT e palheta, na região da Estação Sacomã do Metrô de São Paulo
(Elaborada a partir dos dados de Negro et al., 2012)
Pinto e
Negro et al.
Massad (1992) Penna (1982) Abramento
(2012)
(1998)
WL (%) 50 – 90 40 – 75 40-70 22 – 80
WP (%) 20 – 40 15 – 30 - -
IP (%) 30 – 60 15 – 45 - 7 – 35
% < 2μ 31 – 59 30 – 70 - -
σ'p 700 – 850 220 – 2150 300 – 4800 300 – 3000
SPT - 10 – 78 10 – 30 10 – 80
Ф’a 25° - 35° - - 20° - 23°
c' (kPa) 40 - - 50 – 150
Su - - 100 – 800 100 – 450
Ko - - 2–3 1 – 2,5
36
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nos ensaios realizados em Mecânica dos Solos destacam-se o uso de diversos tipos de
amostras, entre elas as indeformadas e as reconstituídas. As amostras indeformadas são
obtidas a partir de solos naturais, de modo que sua estrutura original de sedimentação é
preservada pelos processos de amostragem. Já as amostras reconstituídas são provenientes de
solos que tiveram sua estrutura original desfeita e que passaram por métodos de reconstituição
em laboratório.
Segundo Burland (1990) uma argila reconstituída pode ser definida como aquela que
foi completamente “misturada” em um teor de umidade igual ou maior que o seu limite de
liquidez (em geral entre 1 e 1,5 wL). A argila não deve ser submetida à secagem e sua
consolidação deve ser feita em condições unidimensionais.
Fearon & Coop (2000) ressaltam que o comportamento de uma amostra reconstituída
pode ser influenciado pelo “esforço” aplicado no processo de reconstituição. Esse esforço
estaria correlacionado com o vigor empregado na mistura de uma argila com um dado teor de
umidade. Em seu trabalho, os autores testaram três processos de preparação, os quais
denominaram de procedimento padrão, reconstituído e moído.
37
deverá ser misturado mecanicamente por duas horas, até que uma lama homogênea seja
obtida. O solo deve então ser submetido a um consolidômetro, de modo que seu teor de
umidade seja reduzido até que a amostra possa ser manipulada sem dificuldade, como para a
realização de um ensaio triaxial por exemplo.
Assim, de acordo com Fearon & Coop (2000), o processo reconstituído é o que
fornece um material de referência mais apropriado para ser comparado com solos naturais,
visto que são gerados solos mais homogêneos e estáveis comparativamente aos outros dois
processos. O processo reconstituído também tem como vantagem o fato de ser facilmente
reproduzível. Vale ressaltar que o teor de umidade empregado pelos autores neste processo
está de acordo com o proposto por Burland (1990).
(I)
39
A taxa de vazios foi adotada por Burland (1990) por ser uma propriedade diretamente
relacionada com a proporção de vazios do solo, ao contrário do limite de liquidez que faz essa
relação de modo indireto em função do teor de umidade (w). Na definição de Iv, os
parâmetros e*100 e e*1000 representam os índices de vazios intrínsecos correspondentes à σv’=
100 e 1000 kPa, respectivamente. Esse parâmetro é utilizado por Burland (1990) para
normalização dos dados.
De acordo com o autor, a LCI pode ser obtida para qualquer argila reconstituída, se for
garantida sua reconstituição em um teor de água entre 1 wL e 1.5 wL e se promovidos
incrementos de carga suficientemente longos que permitam a consolidação primária, de modo
que a LCI será bem definida para pressões maiores ou iguais a 100 kPa. A Figura 9 ilustra a
construção da LCI para três solos.
Figura 9: Linha de compressão intrínseca obtida a partir da normalização das curvas de compressão intrínsecas
(Burland, 1990)
40
Ao colocar a LCS e a LCI em um mesmo gráfico Iv0 x σ’v0, as diferenças entre as duas
linhas ficam evidentes, conforme ilustrado pela Figura 10. Nota-se que no intervalo σv’= 10
kPa a σ’v = 1000 kPa as duas são aproximadamente paralelas, embora para um dado valor de
Iv0 a pressão efetiva da argila natural é aproximadamente cinco vezes maior do que para o
mesmo valor de Iv0 em relação às argilas reconstituídas. Essa observação demonstra que as
argilas naturais possuem uma resistência maior em função de sua estrutura natural de
sedimentação, que envolve o arranjo e as ligações químicas desenvolvidas entre as partículas
ao longo do tempo e que são destruídas pelo processo de reconstituição.
Figura 10: Relação entre LCS e LCI, plotadas em um mesmo gráfico Iv0 x log σv0’ (Burland, 1990).
Ainda da comparação entre as duas linhas pode-se notar que para pressões efetivas
maiores que 1000 kPa, a LCI e a LCS tendem a convergir, indicando que os solos naturais e
reconstituídos assumem um comportamento semelhante quando submetidos a altas pressões.
41
A utilização de Iv como parâmetro de normalização tem também como vantagem a
possibilidade de comparar curvas de compressão obtidas em ensaios oedométricos com a LCS
e a LCI. Amostras indeformadas ensaiadas por Wu (1958) e analisadas utilizando o Iv,
demonstram que para argilas naturais as curvas de compressão iniciam próximas à LCS e
após o ponto de ruptura estas se tornam significativamente mais íngremes, convergindo
progressivamente em direção à LCI, comportamento atribuído ao rompimento da estrutura.
Este padrão de convergência pode ser observado na Figura 11.
Figura 11: Curvas obtidas em ensaios oedométricos mostrando a LCS convergindo em direção à LCI. (Burland,
1990)
42
camadas. Nesse sentido, os fatores mais significativos são a taxa de deposição e a quietude
das águas.
43
Figura 12: Posicionamento de argilas sobreadensadas relativamente à LCI e à LCS. Adaptado de Burland
(1990) e Chandler (2000).
Essa última denominação é adotada, pois alguns autores consideram que a resistência
no estado crítico de argilas normalmente adensadas pode ser bem caracterizada através de
ensaios de resistência realizados em amostras remoldadas. Para demonstrar isso, Burland
(1990) apresenta em seu trabalho a Figura 13 onde se observam círculos de Mohr
correspondentes aos resultados de ensaios triaxiais realizados em amostras reconstituídas,
referentes ao seu comportamento em ensaios drenado (13-a) e não drenado (13-b). De acordo
com o autor, a envoltória de ruptura seria compatível com uma linha de ruptura intrínseca
(LRI) e a condição de estado crítico fica caracterizada pelo comportamento dos diagramas de
deformação volumétrica localizados à direita de cada círculo correspondente.
44
Figura 13: Comportamento idealizado de argilas reconstituídas em ensaios triaxiais, em condições drenadas e
não drenadas. (Burland, 1990)
Na natureza, essa resistência normalmente adensada está correlacionada com solos que
não foram sobreadensados, ou seja, que historicamente nunca estiveram submetidos a tensões
45
maiores do que as atuais. Também se referem a solos sobreadensados que vivenciaram uma
perda de resistência ao longo do tempo, que pode ter sido causada por diversos fatores tais
como ciclos de umedecimento e secagem, descompressão lateral ou até pelo desenvolvimento
de fissuras. Ao passar por esses processos os solos perdem significativa parcela de resistência,
pois estes causam certo grau de desestruturação, fazendo com que sejam desfeitas as tramas e
arranjos que foram naturalmente formados ao longo do tempo geológico (processos de
sedimentação e sobreadensamento). Com a quebra desses arranjos, a resistência mobilizada
pelo solo diz respeito somente à sua resistência intrínseca, aquela que independe da estrutura e
é devido a esse motivo que a resistência normalmente adensada das argilas pode ser
diretamente correlacionada com a resistência das argilas reconstituídas.
Figura 14: Envoltórias de resistência ao cisalhamento para solos argilosos nas condições sobreadensada,
normalmente adensada e residual (Skempton, 1977)
46
Figura 15: Correlação entre a resistência ao cisalhamento de juntas e fissuras x amostras reconstituídas
(Skempton, 1977).
Figura 16: Correlação entre as resistências de pico e residual para a Argila de Londres (Skempton et al. 1969)
47
coesão do material (c’) tende a ficar praticamente nula e o ângulo de atrito interno (ф’)
normalmente obtido é de aproximadamente 20°. Como citado anteriormente, esses parâmetros
ao serem obtidos a partir de amostras reconstituídas, podem ser considerados como
parâmetros intrínsecos do solo, e para estes casos são denominados de coesão intrínseca (c’*)
e ângulo intrínseco de atrito (ф’*), ambos acompanhados do * que identifica uma
característica intrínseca do solo.
48
5. MATERIAL E MÉTODOS
O solo utilizado foi coletado em uma obra localizada na região da Avenida do Estado,
na cidade de São Paulo, próximo à Estação Tamanduateí – Linha Verde do Metrô. O material
foi extraído como um bloco indeformado, a uma profundidade de cerca de 15 metros,
aproximadamente na cota 715 m.
Antes de iniciar a realização dos ensaios com o solo, foi necessário retirar uma porção
do bloco indeformado e destorroar o material. Em função de sua alta coesão e consistência
não foi possível destorroá-lo manualmente, e para tanto foi utilizado um moinho de bola. O
solo foi continuamente sendo colocado no moinho até que se alcançasse uma quantidade
considerável de material passante na peneira #40 (abertura 0,42 mm). O material destorroado
foi utilizado tanto nesta etapa inicial de caracterização, quanto na etapa posterior de
reconstituição do solo.
Além destes, foi realizado ensaio de análise mineralógica semiquantitativa por difração de
Raios X, de acordo com o procedimento IPT15742 – CTOBRAS-LMCC-Q-PE-092 (2015),
para definição dos argilominerais que compõe o solo.
49
5.2 Reconstituição do solo
Estudos realizados por Fearon & Coop (2000) demonstram que a energia empregada
no processo de reconstituição pode afetar significativamente os parâmetros obtidos em
ensaios posteriores. Os autores levam em consideração três processos de preparação, os quais
denominam de procedimento padrão, reconstituído e moído. Seus resultados demonstram que
o processo reconstituído é o que fornece um material de referência mais apropriado para ser
comparado com solos naturais, visto que são gerados solos mais homogêneos e estáveis
comparativamente aos outros dois processos.
50
Por fim, decorridas as 72 horas de repouso, uma pequena porção do material foi
separada e levada para secagem em estufa, de modo a confirmar que o teor de umidade final
da lama estava dentro do valor desejado. A Figura 17 ilustra os diferentes aspectos da amostra
durante o processo, desde a amostra inicial de solo seco até a mistura homogênea final.
Figura 17: Processo de preparação do solo reconstituído - a) solo seco; b) solo + água destilada e c) mistura
homogeneizada do solo + água destilada; teor de umidade 1 wL.
Figura 18: Mistura homogênea final da amostra reconstituída com teor de umidade 1,25 WL.
51
de grande dimensão; o processo seguiu os mesmos passos descritos anteriormente,
respeitando-se os mesmos tempos de mistura e repouso.
A consolidação deste material foi feita utilizando um oedômetro com célula de grande
dimensão, que possui 18 cm de diâmetro e 24 cm de altura. A Figura 19-a apresenta as partes
que compõem este oedômetro, mostrando detalhes da pedra porosa na base (19-b) e do
cabeçote (19-c). A escolha por esse tipo de célula foi feita a fim de garantir a homogeneidade
do solo ensaiado, de modo que uma grande quantidade de material fosse preparada de uma
única vez, obtendo-se uma amostra a partir da qual pudessem ser moldados corpos de prova
para os ensaios de adensamento e resistência, certificando-se assim que as amostras utilizadas
nestes ensaios possuem as mesmas características.
Nessas dimensões, o volume interno da célula é igual a 6.312,53 cm³. Para preencher
este volume, é necessária a preparação de 9,750 kg de solo reconstituído. Após seguir as
etapas descritas anteriormente, de mistura e repouso da lama, o material foi colocado
cuidadosamente na célula com o auxílio de uma concha (Figura 20). Deve se ressaltar que a
colocação do material deve ser feita lentamente e aos poucos, garantindo-se assim uma menor
incorporação de ar pelas partículas de argila, que tornam o processo de consolidação ainda
mais lento. A Figura 21 ilustra a célula de grande dimensão montada e devidamente
preenchida com o solo preparado.
52
Figura 20: Colocação da amostra na célula de adensamento de grande dimensão
54
Devido às características do material, o processo todo de consolidação, considerando
os incrementos de carga e tempo para estabilização de cada estágio, levou cerca de 40 dias
para ser finalizado. Após completa estabilização da última carga aplicada (100 kPa), o sistema
foi descarregado de uma única vez, sem acompanhamento da curva de descompressão e
prosseguiu-se com a retirada do solo da célula de adensamento. Considerando a dificuldade
no manuseio da célula de grande dimensão, a extração do material foi feita com auxílio de um
pistão, apoiando-se o cilindro neste e deslizando-o para baixo, conforme ilustrado na Figura
23. Para facilitar essa retirada, aconselha-se que seja aplicada uma camada de vaselina nas
paredes da célula de adensamento antes da colocação do material.
55
Figura 24: Amostra resultante do processo de reconstituição e consolidação em célula de grande dimensão
A primeira etapa dos ensaios foi feita utilizando-se diretamente a lama reconstituída,
sem passar pelo processo de consolidação prévia. Nessa fase, foram ensaiados solos com dois
teores de umidade diferentes, um com 1,0 wL e outro com 1,25 wL. A preparação da amostra e
montagem da célula foi feita de modo semelhante ao descrito anteriormente para a célula
oedométrica de grande dimensão, tomando-se o cuidado de colocar o solo delicadamente e
aos poucos na célula com o auxílio de uma colher, para evitar a entrada de grande quantidade
de ar (Figura 26).
Figura 26: Processo de colocação da amostra reconstituída e montagem para realização do ensaio de
adensamento em célula convencional
58
consolidada na célula oedométrica de grande dimensão. Os processos seguidos ao longo do
ensaio foram iguais para as duas etapas.
Figura 28: Amostras analisadas no MEV. Da esquerda para a direita: amostra reconstituída 1,0 wL, reconstituída
1,25 wL e indeformada.
Após talhagem do corpo de prova, este foi colocado na câmara triaxial e envolvido por
uma membrana impermeável (Figura 30). Depois de finalizada a montagem do sistema
(Figura 31), a câmara foi preenchida com água e iniciou-se a saturação do corpo de prova,
realizada por aplicação de contrapressão, mantendo-se uma tensão efetiva de 10 kPa. O
procedimento de saturação foi realizado até a obtenção do parâmetro B de Skempton em torno
de 0,97.
61
Figura 30: Montagem do ensaio na câmara triaxial. Corpo de prova envolvido por membrana impermeável.
Após a saturação foi realizada a etapa de adensamento, feita com lento incremento da
tensão confinante. O adensamento foi isotrópico, com uma tensão confinante diferente para
cada corpo de prova ensaiado, sendo que as tensões adotadas foram: 50, 100, 200 e 600 kPa.
62
Finalizado o adensamento, prosseguiu-se com a etapa de cisalhamento, onde a tensão
axial foi aumentada gradualmente até a ruptura do corpo de prova. Como já mencionado, o
cisalhamento foi feito na condição não drenada, não permitindo assim a drenagem no topo e
nem na base do corpo de prova e a velocidade de carregamento adotada foi de 0,03% por
minuto. Foram medidas as poro-pressões desenvolvidas durante o carregamento.
Além destes ensaios, a partir da mesma amostra de solo reconstituído, foram retirados
outros dois corpos de prova, desta vez com dimensões de 4,0 cm de diâmetro x 8,0 cm de
altura, utilizados na realização de ensaios triaxiais adensados isotropicamente e não-drenados
(CIU), porém promovendo-se razões de sobreadensamento (RSA) aos corpos de prova antes
do cisalhamento. Estes ensaios foram realizados no Laboratório de Geotecnia do Instituto de
Geociências da USP.
A talhagem dos corpos de prova, bem como a montagem dos mesmos na câmara
triaxial e a fase de saturação, seguiram os mesmos procedimentos descritos anteriormente. O
diferencial destes ensaios ocorreu na fase de adensamento, em função das RSA adotadas, que
foram de 2 e 5 vezes. Considerando a realização do cisalhamento com uma tensão confinante
efetiva de 100 kPa, o corpo de prova com RSA=2 foi pré-adensado até 200 kPa e o outro de
RSA=5, foi pré-adensado até 500 kPa.
63
Tabela 3: Descrição dos ensaios de resistência a serem realizados
Tensão Razão de
Ensaio Nomenclatura Descrição
confinante (kPa) Sobreadensamento
50 - CIU-50-R-DC
Ensaio adensado
100 - CIU-100-R-DC
isotropicamente e
200 - CIU-200-R-DC
CIU não drenado,
600 - CIU-600-R-DC
saturado, com
100 2 CIU-RSA2-R-DC deformação
64
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 32: a) Amostra não destorroada; b) Manchas avermelhadas provenientes de alteração intempérica, c)
material destorroado e passado na peneira #40.
65
A caracterização geotécnica do solo de estudo foi feita a partir de ensaios de
granulometria, limites de liquidez e plasticidade e determinação da densidade dos grãos. As
amostras utilizadas nos ensaios de caracterização já haviam sido previamente passadas na
peneira 40, de abertura 0,42 mm, de modo que não havia material de granulometria superior
para realização do peneiramento grosso.
66
A porcentagem da fração argila se mostrou bastante alta, principalmente em
comparação com os resultados de outros autores apresentados na revisão bibliográfica. Em
suas amostras com maior porcentagem de fração argilosa, Massad (1992) aponta um valor de
59% de argila. Penna (1982) apresenta amostras com porcentagem mais alta, de 70%, porém
ainda assim um valor bem diferente do encontrado para a curva granulométrica acima.
A explicação para esse fato pode estar na natureza das amostras utilizadas em cada
trabalho, visto que os materiais geologicamente apresentam variação de composição de local
para local. Porém, outra hipótese poderia estar relacionada com uma quebra excessiva dos
grãos durante o processo de moagem empregado para desagregação do material. A depender
do tipo de equipamento e da energia aplicada nesse processo, pode haver quebra dos grãos
que acabaria por aumentar a porcentagem de finos do material. Entretanto, essa deve ser uma
investigação a ser aprofundada em outro momento, para estudos futuros.
O valor obtido para a densidade dos grãos foi de 2,71 g/cm³. Os ensaios dos limites de
consistência resultaram em 95% para o Limite de Liquidez e 40% para o Limite de
Plasticidade, decorrendo assim em um Índice de Plasticidade de 55%. Na Carta de
Plasticidade de Casagrande, apresentada na Figura 34, situa-se acima da Linha A e à direita da
Linha B. De acordo com o Sistema Unificado de Classificação dos Solos, classifica-se como
uma argila inorgânica de alta plasticidade (CH).
67
Em relação aos limites de consistência, mesmo com significativa variação na
porcentagem da fração argila, os valores dos limites de liquidez e plasticidade se mostraram
coincidentes com os valores de Massad (1992), que foram de 90% para o Limite de Liquidez
e 40% para o Limite de Plasticidade. Já os resultados de Penna (1982) apontam valores
significativamente menores para os dois limites de consistência.
6.1.2 Mineralogia
Figura 35: Difratogramas de raios-x do material de acordo com as determinações dos tratamentos natural (linha
verde), glicolada (linha azul) e aquecida (linha vermelha). Il = illita e Ka = Caulinita.
68
De acordo com essas determinações, os argilominerais identificados no material são
predominantemente do grupo da caulinita e do grupo da illita, estando às respectivas
porcentagens apresentadas na Tabela 5.
A curva de retenção de água do material estudado foi obtida após a realização dos
ensaios na placa de sucção, câmara de pressão e papel filtro. Os dados de cada procedimento
foram integrados e seu resultado é apresentado na Figura 36. Nesta figura, a curva de retenção
de água demonstra a umidade gravimétrica em função dos valores de sucção matricial.
A CRA do solo estudado demonstra pequena variação do teor de umidade para valores
baixos de sucção, até 50 kPa aproximadamente, indicando assim uma maior capacidade de
retenção de água no solo para este trecho. Para valores de sucção maiores de 100 kPa, nota-se
uma redução mais significativa no teor de umidade conforme há o incremento das pressões.
69
Os ensaios utilizando o papel filtro foram realizados até um valor de sucção de
aproximadamente 15.000 kPa e é possível observar que até essa tensão, a curva resultante não
chegou a atingir um patamar de estabilização da umidade gravimétrica. A estabilização
indica o estágio final da curva de retenção, representando um trecho onde grandes aumentos
nos valores de sucção geram pequenas mudanças no teor de umidade ou grau de saturação do
solo. Acredita-se que pela alta plasticidade e alta porcentagem da fração de argila deste solo,
essa fase só venha a ocorrer para valores de sucção muito mais altos do que os alcançados
nestes ensaios.
50
40
Umidade gravimétrica (%)
30
20
10
0
1 10 100 1000 10000 100000
Sucção (kPa)
6.3 Adensamento
Ao longo do ensaio, é possível obter uma curva de adensamento para cada estágio de
carregamento, construída utilizando os dados de deformação e variação do índice de vazios
em função da carga aplicada no corpo de prova. Com os dados de todas as curvas de
adensamento obtidas durante o ensaio, foi construída a curva de adensamento geral (índice de
vazios x tensão) para os dois corpos de prova. A Figura 37 mostra a curva de adensamento
dos solos reconstituídos a 1,00 wL e do solo reconstituído a 1,25 wL.
70
Curva de Adensamento
Índice de Vazios 3,000
1,00 wL
2,500 1,25 wL
2,000
1,500
1,000
0,500
1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa)
Os valores dos Cv’s para as duas amostras, comparativamente com outros tipos de
materiais comumente ensaiados, foram consideravelmente baixos. Porém, se for relevada a
magnitude desses valores e se atentar às unidades apresentadas, nota-se que os Cv’s no solo
reconstituído a 1,25 wL foram maiores, principalmente nos primeiros estágios de
carregamento, quando há maior excesso de poropressão.
71
2,5
2,25
Figura 38: Curva índice de vazios x tempo e respectivos coeficiente de adensamento – solo 1,0 wL.
1,75
640 kPa | Cv=0,00022 cm²/s
Figura 39: Curva índice de vazios x tempo e respectivos coeficiente de adensamento – solo 1,25 wL
72
Novamente, a explicação para essa ocorrência possivelmente está atrelada ao maior
teor de umidade incorporado na mistura, tornando o índice de vazios maior e também devido
ao fato da estrutura desse solo tender a ser mais randômica, o que facilitaria assim a
dissipação das poropressões mais rapidamente.
Além do Cv, outro parâmetro calculado a partir dos dados de adensamento foi o índice
de compressão (Cc). Como formulado por Burland (1990), nos ensaios com solos
reconstituídos com estes teores de umidade, alguns parâmetros obtidos representam na
verdade uma propriedade intrínseca do material. Neste caso, o Cc calculado para os solos
representam seus índices de compressão intrínseca (Cc*).
Para o solo reconstituído a 1,0 wL, Cc*=0,45, e para o solo a 1,25 wL, Cc*=0,40. Estes
valores, bem como os índices de vazios intrínsecos e*100 e e*1000 utilizados para cálculo do
Cc*, são apresentado na Tabela 6.
Tabela 6: Valores de Cc* calculados para os solos reconstituídos a 1,0 wL e 1,25 wL.
73
Após essa definição, todo o restante das amostras foi preparado com 1,0 wL e
consolidado na célula oedométrica de grande dimensão, na qual foram submetidas a uma
tensão máxima de 100 kPa. Com um corpo de prova moldado a partir de um desses “bolos”
de solo reconstituído e consolidado nesta célula de grande dimensão, foi realizado um novo
ensaio de adensamento convencional. Por já ter sido submetida a uma carga anterior, a
amostra ensaiada neste caso é considerada como pré-adensada e sua curva de adensamento
resultante é apresentada na Figura 40, onde são indicados os trechos de recompressão e
compressão virgem.
1,600
Índice de Vazios
Trecho de recompressão
1,200
1,000
Trecho de
0,800
descarregamento
0,600
1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa)
Para este ensaio também se calcularam os valores de Cv para cada estágio de tensão ao
longo do ensaio. As curvas de adensamento e os respectivos valores de Cv são apresentados
na Figura 41.
74
1,5
0,6
0,1 1 10 100 1000 10000
Tempo (s)
Figura 41: Curva índice de vazios x tempo e respectivos coeficientes de adensamento - solo reconstituído 1,0wL
pré-adensado.
O índice de compressão intrínseco calculado para este solo foi Cc*=0,39. Além deste
índice, com os dados obtidos ao longo dos estágios de descarregamento do solo, calculou-se o
índice de expansão intrínseco (Ce*) da amostra, resultando em Ce=0,14. Estes valores, além
dos índices de vazios intrínsecos e*100 e e*1000 utilizados para cálculo do Cc*, são
apresentados na Tabela 7.
Curva de Adensamento
3,000
Índice de Vazios
1,00 wL
2,500 1,25 wL
1,0 wL (pré-adensado)
2,000
1,500
1,000
0,500
1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa)
Figura 42: Curvas de adensamento dos solos reconstituídos com diferentes teores de umidade
76
Figura 43: Linha de Compressão Intrínseca - solo 1,25 wL
77
Individualmente, as curvas aparentam ser concordantes com os padrões apresentados
por Burland (1990) em sua revisão acerca da LCI. A LCI obtida para o solo reconstituído e
pré-adensado a 100 kPa, apesar das pequenas variações nos valores de e*100 e e*1000, foi
praticamente idêntica à LCI do solo reconstituído 1,0 wL não pré-adensado.
Da Figura 46 pode se notar que as LCI’s dos solos ensaiados se situam em torno da
LCI geral definida por Burland (1990), confirmando o postulado por este autor de que a LCI
de uma argila reconstituída será bem definida para pressões maiores que 100 kPa e
concordantes com essa Linha de Compressão Intrínseca “geral”. Dessa maneira, essa LCI
única seria capaz de representar com precisão o comportamento de qualquer argila
reconstituída, desde que se assegure que sua reconstituição tenha sido feito entre 1-1,5 wL.
A análise da Figura 46 permite observar que a LCI do solo reconstituído 1,0 wL e não
pré-adensado foi a que apresentou comportamento mais próximo à LCI de Burland (1990).
Para o solo reconstituído 1,0 wL e pré-adensado, o início da LCI se situa um pouco deslocado
à esquerda, o que tipicamente ocorre com argilas pré-adensadas. Ao ultrapassar a tensão de
100 kPa , entretanto, o solo começa a se comportar tal qual um solo normalmente adensado e
o padrão de sua curva intrínseca se torna completamente concordante com a LCI de Burland
(1990).
78
Figura 46: Comparação das LCI dos solos ensaiados com a LCI de Burland (1990) e LCS de Skempton (1970)
79
Não se sabe ao certo o que pode ter ocasionado este comportamento no material, se
poderia ser atribuído a algum fator durante o processo de reconstituição ou ainda há alguma
falha durante o processo de adensamento. Entretanto, este fato apenas corrobora a ideia de
adotar o solo reconstituído 1,0 wL como referência para determinações mais precisas das
propriedades intrínsecas desta argila.
Em relação à comparação das LCI’s com a LCS, pode se notar que as duas são
aproximadamente paralelas, embora a LCS se localize pouco acima da LCI no gráfico. Essa
diferença ocorre em função da relação entre as taxas de vazios e tensões efetivas.
Considerando um mesmo valor de Iv, a tensão efetiva que o solo deve ser submetido para
alcançar essa taxa de vazios é aproximadamente cinco vezes maior na LCS do que para a
mesma taxa de vazios na LCI. Essa relação demonstra a influência da estrutura no
comportamento do material.
Desta última comparação entre LCI e LCS observa-se também que os solos ensaiados
foram satisfatoriamente desestruturados, visto que suas curvas estiveram mais próximas à
LCI, sendo seus comportamentos todos atribuídos às propriedades intrínsecas.
A Figura 47a, b e c, apresenta lado a lado as imagens com aproximação de 150x das
amostras indeformada, reconstituída 1,0 wL e 1,25 wL, respectivamente, permitindo uma
observação e comparação do aspecto geral das três amostras. Em princípio, é possível
observar que as três amostras representam uma grande massa argilosa, sem forma definida ou
orientação preferencial aparente. A esse nível de detalhamento não é possível fazer análises
quanto à microestrutura do material, mas podem-se fazer algumas deduções acerca dos vazios
maiores que se distribuem ao longo das amostras. Comparativamente, a quantidade de vazios
80
da amostra indeformada é maior que o observado nas amostras reconstituídas; dentre estas, a
amostra 1,0 wL aparenta ter mais vazios que a 1,25 wL.
Por sua vez, a Figura 47g, h e i apresentam as amostras dispostas na mesma sequência,
utilizando dessa vez uma magnitude muito maior, de 10.000x. Com este aumento já é possível
fazer uma avaliação mais precisa sobre a ocorrência dos microporos, que são os espaços que
ocorrem entre as placas empilhadas. Neste sentido, embora a ocorrência dos microporos
pareça ser bem reduzida em todas as amostras, nota-se que ela é significativamente menor na
reconstituída 1,0 wL. As placas de argilominerais desta amostra se apresentam fortemente
orientadas e unidas, com contato muito próximo umas às outras, reduzindo assim a ocorrência
dos microvazios. Para as amostras indeformada e reconstituída 1,25 wL, também há uma
orientação preferencial das placas, porém é possível notar que ainda existe um certo grau de
desordem entre as partículas de argila, além de que o contato não é tão coeso quanto o que
ocorre na reconstituída 1,0 wL.
81
Figura 47: Imagens de MEV em amostras indeformada e reconstituídas
A seguir são apresentadas também algumas análises individuais das imagens feitas das
diferentes amostras, que evidenciam os principais aspectos apontados anteriormente,
permitindo uma melhor observação destes. A Figura 48 apresenta fotografias da amostra
indeformada, feitas com aproximações que variam de 1.000x até 30.000x, que evidenciam
bem sua estrutura mais aberta, com porções onde os minerais se encontram mais orientados e
em outras distribuídos aleatoriamente. Nesta figura também se nota o formato das placas de
argilominerais, tipicamente encontrados e reconhecidos nas caulinitas ao microscópio
eletrônico. As setas incluídas nas figuras identificam um ponto em comum entre as imagens,
para se criar um referencial e facilitar a visualização.
82
Figura 48: Imagens de MEV - amostra indeformada
83
Figura 49: Imagens de MEV - Amostra reconstituída 1,0 wL
350
50 kPa
300 100 kPa
200 kPa
250 600 kPa
200
q (kPa)
150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14
Deformação Específica Axial (%)
86
400
50 kPa
350 100 kPa
200 kPa
300 600 kPa
Poro Pressão (kPa)
250
200
150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14
87
400
50 kPa
100 kPa
200 kPa
300
600 kPa
t (kPa)
200
100
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
s' (kPa)
400
50 kPa
100 kPa
Tensão de Cisalhamento (kPa)
100
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Tensão Normal Efetiva (kPa)
88
120000
50 kPa
100 kPa
100000 200 kPa
600 kPa
80000
60000
E (kPa)
40000
20000
0
0,01 0,10 1,00 10,00 100,00
Deformação Específica Axial (%)
De maneira geral, pode se notar a partir dos dados da Figura 56 que, tal qual nos
resultados de resistência, os resultados de deformabilidade do ensaio com confinante de 600
kPa destoam significativamente do padrão de resultados dos ensaios realizados com outros
valores de confinantes. Os módulos de deformabilidade para a confinante de 600 kPa foram
relativamente maiores ao longo de todo o ensaio, se aproximando dos módulos dos outros
ensaios apenas a partir de 10% de deformação. Entretanto, para todos os ensaios nota-se que
os valores máximos do módulo de deformabilidade são referentes a baixas deformações
(aproximadamente 0,1%) e há uma tendência de redução dos módulos com o aumento das
taxas de deformação, conforme o esperado.
Analisando os resultados dos ensaios realizados com tensões confinantes de 50, 100 e
200 kPa, nota-se que para baixas taxas de deformação há uma pequena variação do
comportamento dos módulos de deformabilidade secante em função da tensão confinante. Há,
porém, uma tendência de aproximação dos valores de Es dos três ensaios após 0,4% de
deformação.
89
Na Figura 57 são apresentados os módulos de deformabilidade secante normalizados
pelas tensões efetivas médias (p’).
110
50 kPa
100
100 kPa
90
200 kPa
80
600 kPa
70
E/p'o
60
50
40
30
20
10
0
0,01 0,10 1,00 10,00 100,00
Deformação Específica Axial (%)
Figura 57: Módulo de deformabilidade secante (Es) normalizado pela tensão efetiva média (p')
Além dos ensaios descritos acima, foram realizados outros dois ensaios triaxiais, onde
os corpos de prova foram sobreadensados com diferentes valores de RSA, a fim de comparar
a influência do sobreadensamento de um solo reconstituído em seus valores de resistência.
Estes ensaios também foram do tipo convencional não drenado (CIU) e adotou-se a tensão
confinante de 100 kPa para a fase de cisalhamento. A Tabela 9 apresenta as características
iniciais destes dois corpos de prova sobreadensados.
90
Tabela 9: Características dos corpos de prova sobreadensados utilizados nos ensaios triaxiais
As curvas da Figura 58b apresentaram comportamento distinto entre si, havendo maior
semelhança entre os solos com RSA = 1 e RSA = 2, onde o aumento das poropressões
acompanha o aumento das tensões e há estabilização após a ruptura. O comportamento das
poropressões do solo com RSA = 5, entretanto, é bem distinto e nota-se que no início do
ensaio seus valores são significativamente maiores em relação aos outros dois solos, porém há
uma tendência de redução das poropressões com o aumento da deformação, chegando
inclusive a desenvolver pressões negativas.
91
350
(a)
300
sig'3 = 100 kPa OCR = 1
sig'3 = 100 kPa OCR = 2
250
sig'3 = 100 kPa OCR = 5
200
q (kPa)
150
100
50
0
0 5 10 15 20 25
Deformação Axial (% )
100
(b)
50
Poro Pressão (kPa)
0
0 5 10 15 20 25
-50
Deformação Axial (% )
Figura 58: Solo normalmente adensado e sobreadensado (a) Curvas tensão desviadora x deformação axial; (b)
variação da poropressão x deformação axial
92
100
OCR = 2
OCR = 1
80
OCR = 5
60
t (kPa)
40
20
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
s' (kPa)
Figura 59: Trajetórias de tensões dos ensaios de resistência nos solos sobreadensados
93
60000
55000 OCR = 1
50000 OCR = 2
45000 OCR = 5
40000
35000
30000
E (kPa)
25000
20000
15000
10000
5000
0
0.01 0.10 1.00 10.00 100.00
Deformação Axial (% )
750
700 OCR = 1
650 OCR = 2
600 OCR = 5
550
500
450
400
E/p'o
350
300
250
200
150
100
50
0
0.01 0.10 1.00 10.00 100.00
Deformação Axial (% )
94
7. CONCLUSÕES
Sobre a etapa de preparação das amostras e reconstituição dos solos, pode-se concluir:
O solo estudado é composto essencialmente por argila (94%), silte (5%) e areia
fina (1%). As frações granulométricas, principalmente de argila, são
significativamente diferentes das encontradas na literatura, fato que pode estar
correlacionado ao ambiente geológico de formação natural do solo ou ainda
deve-se investigar a influência do processo de moagem na curva
granulométrica do material.
Correlacionado à sua alta fração argilosa, o solo apresenta também altos
valores quanto aos limites de consistência – LL = 95% e LP = 40%.
Em termos de mineralogia, o solo é composto essencialmente por caulinita e
illita
A curva de retenção de água do material, em termos de umidade gravimétrica x
sucção demonstram uma grande retenção mesmo para altos valores de sucção
(maiores que 15000 kPa).
97
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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101
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