Aula 3
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Aula 3
Nesta aula, vamos continuar com a Angeologia, aprofundando algumas questões da revelação sobre os anjos, como sua
organização e queda, além das características principais dos anjos caídos.
Veremos também os processos de misticismo e superstição, que envolvem estes seres espirituais e contribuem para uma
diversidade de compreensões confusas, muitas vezes estimuladas por produções literárias e cinematográficas, em
tentativas subjetivas de personalizações destes seres angelicais.
Objetivos
De modo geral, a Bíblia cita os anjos em nomes coletivos, indicando que se ordenam de acordo com o grau de perfeição e missão.
No século V, Pseudo-Dionísio classificou os anjos em três grupos hierárquicos, cada um com três coros angélicos:
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Terceira hierarquia
Divide-se em:
Incomparáveis criaturas, os anjos são mencionados como milhares de milhares, milhões, em número elevado e incontável (Dn 7,
10; Mt 26, 53; Lc 2, 13; Hb 12, 22; Ap 5, 11). Muito inteligentes, não são oniscientes (Mt 24, 36). A desobediência de um grupo
indica sua capacidade de escolha e influência sobre os demais, tanto para o bem (Ap 22, 8-9) como para o mal (1Tm 4, 1).
O judaísmo sustenta grande respeito pelos anjos, considerando sua presença como a do próprio Deus (Gn 16 13; 31, 13; Jr 13, 22;
26, 12-14;), e de intermediários com os homens (Ez 40, 3; Zc 1, 3).
Na Bíblia, temos referência à presença dos arcanjos em missões especiais junto à humanidade. Três são citados especificamente.
Vejamos:
Miguel Rafael
Do hebraico mika’el, que significa Quem é como Deus?, é Que significa Deus cura, é enviado ao pai de Tobite e à
citado com autoridade (Dn 12, 1; Jd 9 e Ap 12, 7) na defesa Sara (Tb 3, 25).
de Israel e como líder da batalha vitoriosa contra Satanás
e seus anjos. É o príncipe da corte celeste.
Gabriel
Do hebraico geber’el, homem de Deus, é o mensageiro do
final dos tempos (Dn 8, 15-27), tendo Daniel como profeta
(Dn 9, 20-27). Anuncia a Zacarias o nascimento de João
(Lc 1, 11-20) e a maior de todas as mensagens à Maria: a
vinda do Emanuel e seu reinado sobre o trono de Davi (Lc
1, 26-33).
Nos escritos apócrifos e nas pseudopígrafes, temos os nomes dos seguintes anjos:
Uziel Jeremiel Sataliel Jehudiel Baraquel
(luz de Deus) (Senhor (oração de (louvação de (bênção de
compassivo) Deus) Deus) Deus)
Atenção
Podemos perceber que, pelo sufixo EL, os nomes dos anjos são teofânicos, ou seja, manifestações de Deus.
Quando Deus criou os anjos, não havia distinção entre bons e maus. Sendo o Sumo Bem, não poderia haver mal na Criação de
Deus. O que define a queda dos anjos é o fato deles terem sido criados livres, com tudo o que era necessário para escolherem, de
modo consciente, por Deus ou não. A queda de Lúcifer e dos demais anjos se deve à própria escolha (Is 14, 12-17; Ez 28, 12-19),
em relação à dignidade em servir ao Criador (Jó 4, 18-21; 2Pd 2, 4; Jd 6).
Os anjos fiéis, escolhidos (1Tm 5, 21), foram confirmados em sua posição e estão eternamente contemplando a Deus (Lc 20, 36).
Como há uma hierarquia dos anjos, os maus, não perdendo sua natureza angélica, mantêm a mesma estrutura. Satanás, ou Satã,
(Ap 12, 9) seria, portanto, o príncipe da milícia, um anjo mais perfeito que os demais no plano ontológico. Dessa forma, Lúcifer
possuía elevada distinção, com títulos e posições (Ez 28, 11-17).
Destacamos a seguir algumas de suas características citadas no texto de antes da queda para reflexão.
O caminho da queda dos anjos é muito semelhante ao nosso (Gn 3, 1-7). Podemos verificar que a fala da Serpente do Paraíso em
sereis como deuses (v. 5) é uma vontade da serpente antes de ser a vontade de Adão e Eva. Pela eternidade a que são
destinados, e à grande responsabilidade de suas missões, seria necessária uma prova para que firmassem livremente sua
escolha, de modo que a presença de Deus não fosse uma imposição.
Os anjos são criados para a glória de Deus, com 4 da inteligência em que decide por uma outra
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situação. Há o rompimento da amizade e da graça;
tudo o que é necessário para viver a partir do Seu
amor;
Na relação com os demais, são expostas as A escolha por pecar é a escolha por afastar-se de
2 diferenças, vendo o Outro como outro, e não como Deus. Vai contra a natureza. A inteligência precisa
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prolongamento de si, ao qual todos têm que servir; justificar a escolha. O conceito de Deus precisa ser
invertido e o próprio pecador se eleva. A obediência
A vontade de submeter o Outro cresce, apesar da passa a ser compreendida como opressão,
Na profecia hebraica, é comum a descrição de eventos celestes em acontecimentos humanos. Assim, podemos acompanhar o
pecado (Gn 3, 1-7), o orgulho (Is 14, 12-17) e a tentativa de Satanás de ocupar a posição de Deus em autoridade.
Também podemos acompanhar sua ação ao longo do tempo, em especial nos nossos dias. Ocupar posições, tomar decisões
precipitadas, agir contra a vontade de Deus e negá-lo são atitudes em pensamentos e palavras, atos e omissões que vivemos.
Inconfundível é sua presença e sua permanente tentativa de agir junto a cada pessoa como contra as obras do Reino (Mt 16, 23;
Jo 8, 44; 13, 27).
Atividade
1. É comum utilizar nos textos hebraicos a linguagem humana para retratar realidades celestiais. Lendo Gn 3, 1-7, o que podemos
identificar através do personagem da serpente em relação à queda dos anjos?
Asmodeu
Asmodeu (Tb 3, 8), do persa aesmadaeva, espírito de cólera, como o anjo destruidor (2Sm 24, 16; Sb 18, 25; Ap 9,
11).
Belial
Belial ou Beliar (2Cor 6, 15) da raiz baal, senhor.
Belzebu
Belzebu (Mt 12, 24), de Baal-zebul, senhor das moscas, sinônimo do demônio. Aparece em 2 Reis 1, 2.
Demônio
Do grego daimon, gênio. Ainda que na mitologia greco-romana não seja propriamente uma entidade maléfica,
sempre é usado para seres espirituais malignos no Novo Testamento.
Diabo
Diabo (Mt 25, 41), do grego diaballo, acusar. Ainda que se use diabo e demônio como sinônimos, a Sagrada
Escritura não o faz, mas utiliza-o no singular e referente ao mais poderoso, também o chamando de o Acusador, o
Inimigo, o Tentador, o Maligno, o Assassino desde o princípio, o Pai da mentira, o Príncipe desse mundo, a Serpente.
Lilith
Lilith (Is 34, 14), que, de acordo com a tradição judaica, é considerado como um ser demoníaco. Na mitologia
mesopotâmica é um gênio com cabeça e corpo de mulher, com asas e pés de pássaro.
Lúcifer
Lúcifer (Is 14, 12), em latim luciferarius, estrela da manhã. Textos eclesiásticos costumam usar Lúcifer como
sinônimo de demônio e mesmo como seu nome próprio.
Satã
Satã (Mt 13, 38s), adversário, inimigo, opositor, é o mais perfeito, poderoso, inteligente e belo dos anjos que caíram,
também denominado Satanás. Sua raiz primitiva significaria atacar, acusar, ser um adversário, resistir. Ele, na
forma de serpente, tenta levar o ser humano ao pecado (Gn 3, 1-7) e liderou a rebelião no mundo angélico, tornando
os anjos hostis à palavra de Deus.
Seirim
Seirim (Is 13, 21; Lv 17, 7; e Baruc 4, 35), do hebraico sa’ir, peludo ou bode.
Atividades dos anjos maus
Podemos sistematizar as atividades de Satanás e dos demônios do seguinte modo:
Com a encarnação de Jesus, a plenitude da revelação se realiza e o mal é exposto. Assim Hb 4, 15 afirma que Jesus, como
homem, é tentado em tudo, tanto sendo provado, como resistindo por nós, em nosso favor, sustentando nossa humanidade sem
cair.
Em Ap 16, 12-16, podemos entender melhor a tentativa dos anjos maus de, na rebelião contra Deus, estabelecer um grande
conflito entre as nações, a guerra do Armagedom (Ap 19, 17-21), quando a humanidade se encaminha para o fim desta era,
quando os exércitos do Oriente se aproximam de Israel (Is 13,1-5).
A manifestação dos anjos maus vai encaminhar as nações para apoiarem o pecado e o anticristo, sinal evidente da grande
tribulação. O holocausto será realizado no Armagedom, referente ao centro-norte da Palestina, chamado de vale do Megido. A
batalha se dará e só acabará com o retorno de Cristo para estabelecer o Reino.
A vinda do Messias é anunciada desde o Antigo Testamento (Dt 32, 43; Sf 3, 8; Zc 14, 2-5), na ação de Satanás e de seus anjos na
direção do anticristo, através das muitas nações, levantadas contra Deus para destruírem Jerusalém (Ap 16, 13-16; 19, 14-19; Ez
38, 19; Zc 14, 2).
Podemos compreender Israel como o Novo Israel, dos seguidores do Messias, espalhados em todas as nações (Jr 25, 29-38),
pelos quais Jesus Cristo retornará com seu exército (Ap 19, 19-21; Zc 14, 1-5), cumprindo sua promessa (Sl 110, 5; Is 66, 15-16;
1Ts 1, 7-10), anunciando através de eventos cataclísmicos (Ap 16, 18-19; Jr 25, 32-33).
Preso por mil anos, Satanás será solto e, em sua ação, tentará derrotar Deus, enganando a muitos, cegando os entendimentos (2
Cor 4, 4), tirando a Palavra dos corações (Lc 8, 12), usando as pessoas contra o Reino (Ap 2, 10), acusando e difamando (Ap 12,
10), dificultando o trabalho (1Ts 2, 18), valendo-se dos demônios (Ef 6, 11-12), semeando o joio entre o trigo (Mt 13, 25-30),
perseguindo (Ap 2, 10). No entanto, Jesus define sua posição desde o início (Mc 1, 25-26.34.39; 3, 11; 5, 1-20; 9, 17-29; Lc 13, 16),
com sua morte e ressurreição (Jo 12, 31; Cl 2, 15; Hb 2, 14).
Rezar pela conversão dos pecadores (Jo 16, 7-11) e pela manifestação dos dons do Espírito Santo
(At 4, 29-30).
Sabemos que Satanás começou uma rebelião contra Deus (Mt 4, 10), levando uma terça parte dos anjos (Ap 12, 4) para o seu
controle (Mt 12, 24; 25, 41; Ef 2, 2; Ap 12, 7). Eles agem segundo a indicação dos demônios na Sagrada Escritura (Ef 6, 11-12).
Alguns estão presos (2Pd 2, 4; Jd 6) e só serão soltos na Grande Tribulação (Ap 17, 8; 20, 1-3; 2Pd 2, 4; Jd 6). No final dos tempos,
estes anjos caídos serão lançados na eternidade do fogo preparado para eles (Mt 25, 41).
Também temos as culturas que prestam culto a seus ancestrais, dando-lhes diversas
importâncias, como a China, o Japão e a Coreia.
Somos influenciados pelos diversos contatos que temos com estas diferentes culturas ao longo
da história, com resquícios culturais de vários graus e características. Em inúmeros processos
de sincretismo religioso, os anjos são representados de diferentes formas, materializados e com
símbolos que não correspondem à sua existência real.
Assim, podemos encontrar anjos como meninos ou meninas, asas, chifres, objetos, o que
destitui de seu fundamento. Artistas recorrem a representações plásticas para conseguir retrata-
los, nem sempre sendo fiéis ao seu significado.
Bancas de jornal, filmes, livros, literaturas diversas e diferentes expressões angélicas são encontradas com facilidade, divulgadas
com diferentes interesses. Em suas obras, estes artistas apresentam características de seu momento sócio-histórico, na
compreensão a que têm acesso na ideia de anjo a que se referem.
No período do racionalismo exagerado e da necessidade nem sempre orientada que as pessoas trazem para buscar Deus,
percebemos a proliferação de fantasias e crendices, em um sincretismo religioso que deturpa a doutrina angélica, como seres
inumados deificados vendidos como personagens de inúmeros livros, além do comércio de objetos de enfeite ou mesmo para
cultos diversos.
Comentário
A falta de uma base para a fé, com uma orientação cristológica, faz com que a busca pelo sagrado seja permeada por
personificação de desejos pessoais, expressando em seres que trazem a memória angélica em perfis que atendem a desejos
pessoais e de grupos, em uma distorção em irracionalismos, falsos misticismos e superstições.
Nestes contextos, podemos perceber a confusão que encontramos na expressão das criaturas angelicais, muitas vezes
retratadas como criaturas deificadas (Cl 2, 18), expressão da confusão espiritual da atualidade. No entanto, podemos perceber
que os anjos não podem ser identificados com nenhuma delas, por seu caráter de criatura e obediência na fé do Deus único.
Voltamos aqui à necessidade de compreender melhor a fé e a participação dos anjos na Revelação, para podermos aprofundar e
basear devidamente a Teologia.
Atividade
2. Observe as imagens abaixo e, a partir do que você aprendeu, enumere o que corresponde aos anjos e o que é fruto do
misticismo e de superstições:
Referências
FORTEA, José Antonio. História do mundo dos anjos. São Paulo: Palavra & Prece, 2012.
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. 2.ed. São Paulo: Vida Nova, 2017.
GRÜN, Alsem. Cada pessoa tem um anjo. Petrópolis: Vozes, 2009.
Próxima aula
Origem humana;
Sentido da vida;
Explore mais
Vale a pena retomar o livro indicado da aula anterior, Cada pessoa tem um anjo <//www.arcanjomiguel.net/livros-25/Cada-Pessoa-
Tem-um-Anjo.pdf> , e procurar as passagens dos anjos citados a partir dos conhecimentos já adquiridos na Bíblia.