Mirian de Freitas Da Silva Geraldo Márcio Timóteo
Mirian de Freitas Da Silva Geraldo Márcio Timóteo
Mirian de Freitas Da Silva Geraldo Márcio Timóteo
contexto do SUAS
Mirian de Freitas da Silva1
Geraldo Márcio Timóteo2
Resumo
Este artigo constitui parte da pesquisa de mestrado
desenvolvida pela mestranda no decorrer de sua experiência
como pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em
Políticas Sociais. Assim, o artigo em tela fundamenta-se a
partir de uma análise crítico-reflexiva do Serviço Social na
política de Assistência Social, com ênfase nas novas
requisições colocadas ao Assistente Social com a criação da
Política Nacional de Assistência Social e do Sistema Único de
Assistência Social – para isso, busca-se ressaltar velhos e
novos limites, bem como os desafios que são próprios do
cotidiano desse profissional no contexto da assistência.
Ergueu-se como metodologia a pesquisa qualitativa.
Abstract
This article is part of the master's degree research developed
by the master's student in the course of her experience as a
researcher in the Graduate Program in Social Policies. Thus,
the article on canvas is based on a critical-reflexive analysis of
Social Service in the Social Assistance policy, with emphasis on
the new requisitions placed on the Social Worker with the
creation of the National Social Assistance Policy and the Single
Assistance System Social - for this, it is sought to emphasize
old and new limits, as well as the challenges that are typical of
the daily life of this professional in the assistance context.
Qualitative research was raised as methodology.
“Então, agora a gente tem como ver, tem como brigar mais pela universalização dos
direitos, por exemplo, quando identificado as necessidades dos usuários, você tem
uma lei que te respalda, você não vai dar alguma coisa ou fazer ao usuário
simplesmente pelo assistencialismo, mas fazer valer o direito, ver pelo víeis da
defesa dos direitos [...].” (AS1)
“Antes da política nacional de assistência e da nova gestão proposta pelo SUAS, a
Assistência Social era entendida como um assistencialismo, nem era considerada
uma política, era considerada um degrau para que houvesse a politicagem, o
assistencialismo, onde os usuários eram clientelas. Então com a política nacional
de assistência e o SUAS, o serviço social ganhou um destaque, passou a ser o
profissional que dá legitimidade a essa política e a atuar de forma a empoderar os
usuários [...].” (AS2)
“Eu acho assim, a gente teve um avanço muito grande, e isso é fato, a
descentralização advinda com o SUAS foi muito importante, o usuário consegue ser
melhor atendido a partir do momento que há essa divisão entre atenção básica e
especial.” (AS3)
De acordo com Yazbek (2014, p. 678) o papel do Serviço Social dentro dos espaços
sócio-ocupacionais e sua relação com as políticas sociais segmentadas e minimalistas
implementadas no momento histórico contemporâneo, deixa claro que é nesse contexto de
relações e interesses contraditórios que o Assistente Social deve buscar compreender esses
espaços como “âmbito privilegiado do exercício profissional e lugar onde a profissão
participa de processos de resistência e constrói alianças estratégicas na direção de um
outro projeto societário.”
A partir das falas acima, compreende-se que o serviço social no equipamento vem
num movimento de busca pelo novo, embora possam ser percebidas também às
contradições que são inerentes a assistência. Nesse sentido, registra-se que pensar a
prática do Assistente Social na política de assistência pressupõe entendê-la inserida no
contexto histórico social, contexto este que é movimento e vida, em que os conflitos são
pulsantes e seus embates serão sentidos por esse profissional em sua intervenção junto às
famílias e coletividades.
Diante disso, cabe ressaltar que o conceito de matricialidade sociofamiliar trazido
pela Política Nacional de Assistência Social e pelo Sistema Único de Assistência Social
evidencia a necessidade de romper de fato com a fragmentação do atendimento, de buscar
compreender esse sujeito para além da perspectiva individual, por exemplo, o usuário que
chega para ser inserido no PAEF, e ele é uma pessoa, mas por trás dessa pessoa existem
questões que precisam ser trabalhadas, existem questões de âmbito familiar que devem ser
questionadas e apreendidas –; frente a isso, questionamos de que forma o serviço social
compreende o conceito de matricialidade sociofamiliar presente na PNAS e no SUAS?
“Eu acho um ganho muito grande, porque até então se trabalha muito em
programas, em projetos separadinhos, uns viam crianças e adolescentes, outros
viam deficientes, outros viam idosos, e quando agora a gente trabalha a questão do
PAEF, a gente olha a família como um todo [...] nesse sentido, compreendemos que
a família é base de tudo, porque se você não estruturar a família não adianta.” (AS1)
“Então essa matricialidade sociofamiliar também é muito importante, porque acaba
inserindo a família nas atividades dos CREAS e dos CRAS. Essa família se torna um
foco central das nossas atuações. Não é mais só o individuo, a gente não trabalha
mais só o individuo, só a situação ali em si, mas fazemos com que a família seja
agregada em todas as nossas atividades e que essa família possa ser empoderada
como já falei anteriormente.” (AS3)
“Não me recordo muito dessa matricialidade. O que seria de fato?” (AS2)
“Eu analiso que a gente não consegue trabalhar em parceria, infelizmente, a gente
recebe ligação do CRAS dizendo que está com a mãe do adolescente, que já é
acompanhado por vocês, então vou desligar aqui para vocês acompanharem. Na
verdade a proposta não é essa. A gente tem que acompanhar junto, o CRAS e o
CREAS deveria trabalhar junto. Mas a gente não consegue se falar, nós nunca
conseguimos encaminhar um adolescente para cumprir no CRAS. Então fica uma
rivalidade entre proteção especial e proteção básica, a gente não trabalha muito
junto não.” (AS1)
“Eu penso que essa articulação ainda está um pouco fragilizada, precisa ser mais
intensificada, e mais definida o papel dos CRAS e dos CREAS, que ainda existe
uma confusão, uma duvida de quem faz o que. E isso não é algo só do município de
Campos, eu vejo essas questões em outros municípios, então seria a nível nacional.
Exemplificando, o que é violação de direito? Acho que isso é uma coisa que ainda
não está muito bem definida dentro do SUAS, para que a gente realmente possa
atuar como CRAS e como CREAS, ainda existe essa confusão. E essa articulação
entre CRAS e CREAS para mim está muito fragilizada, precisa haver uma harmonia
entre esses dois equipamentos, que são à base das funções do SUAS.” (AS3)
“A gente consegue ter uma troca de informações, de ideias, mas assim, resolver a
situação de fato eu acho que isso demanda de órgãos acima de nós, com coisas
maiores, muitas questões ficam paradas.” (AS2)
Sabe-se que os desafios são inúmeros, superá-los requer a mobilização coletiva dos
profissionais, gestores e usuários, nesse sentido, no que concerne ao serviço social, vale
registrar que o mesmo tem sua prática profissional fincada no trabalho educativo, o
Assistente Social exerce uma função pedagógica em sua intervenção profissional, pois pode
ditar valores e moldar comportamentos, seja na perspectiva de manutenção da ordem, seja
na perspectiva da renovação da mesma. Nesse sentido, questionou as profissionais – quais
os instrumentos estão sendo incorporados à prática do serviço social no equipamento
CREAS II, para potencializar a participação dos usuários nos espaços públicos de debates?
“Então, a gente tem a equipe do PAEF que faz um trabalho em grupo com as
famílias dos acolhidos, embora isso tenha sido uma determinação judicial, tudo
passa muito pelo víeis da justiça, então, há esse trabalho em grupo, está proposto,
mas nós não temos incentivos para estar fazendo esse trabalho em grupo. Nesse
ano eu comecei com minha estagiária, que fez um projeto para realizar trabalho em
grupo, com os adolescentes, e a gente pensou em fazer com as famílias também.
Mas o quê que a secretaria teria que dar para gente? O mínimo, um suporte, como
lanche, uma televisão, um retroprojetor caso precisasse. Então quando se pedia
essas coisas com antecedência, a resposta era que estava tudo certo, mas quando
chegava perto da reunião não tinha nada. E isso não é viável. Então nós não temos
esse apoio, eu sei que numa reunião não é o lanche a questão mais importante, mas
quando se faz um evento ao final tem que ter um atrativo. E o lanche é um momento
de confraternização de troca de experiência e de fortalecimento. Parece que tudo
que aqui vem fluindo, eles vem e minam (a equipe gestora). Diante a isto não
participamos de nada, não vamos a conselho, não levamos ninguém a nada.” (AS1)
“Eu considero a visita domiciliar como um instrumento muito importante, a gente tem
feito reuniões com famílias, principalmente de crianças e adolescentes que estão
acolhidas. Essa metodologia também é importante, porque normalmente a gente lida
muito só com as crianças e os adolescentes que estão acolhidos e o papel do
CREAS é a família, então a visita domiciliar é importante, as reuniões de família, os
grupos é uma dinâmica também que ajuda muito o nosso trabalho, em nossa
atividade e os outros instrumentos que a gente usa como os documentos que agora
no finalzinho do ano, foi incorporado para estar atuando junto.” (AS3)
“Eu fico o máximo de tempo com o usuário atendimento, tentando conversar,
tentando compreender a historia da pessoa, eu faço isto. Porque eu quero entender,
todo histórico daquela pessoa para ajudar. O usuário se sente valorizado, mais
respeitado.” (AS2)
A partir das falas fica claro que existe a clara necessidade de trabalhar a perspectiva
preventiva, a orientação, nesse contexto, a prática politizada muitas vezes se reduz a um
simples atendimento ou acompanhamento, o trabalho de mobilizar, a prática político-
pedagógica ainda parece estar bem estanque das intervenções profissionais do Assistente
Social, isso pode ser observado a partir das fragilidades apontadas pela (AS1). Em tempos
atuais os espaços de mobilização coletiva, participação e controle social no âmbito da
política de assistência estão vazios e se estão nessas condições tem um por quê? E é esse
porque que deve ser buscado, questionado e compreendido no sentido de buscar a
legitimação desses espaços que por mais que tenha a denominação de públicos não tem se
apresentado no contexto atual enquanto tais. E por fim questionamos as Assistentes Sociais
sobre as influências dos determinantes político-partidárias no trabalho da equipe no que diz
respeito à proteção especial no contexto do CREAS II – sobre isso as respostas dadas da
seguinte maneira –
A reflexão trazida pelas Assistentes Sociais deixa claro que a questão do direito
acaba se perdendo nesse jogo político-partidário e a política de assistência volta-se a sua
gênese de não política ao ser usada para esses fins – o de beneficiar o interesse particular
em detrimento do direito universal reconhecido constitucionalmente em 1988 e
posteriormente na Lei Orgânica da Assistência Social em 1993. Mesmo diante dos avanços
apontados no decorrer desse trabalho, percebe-se que são grandes as lacunas para que
aconteça a plena efetivação da Assistência Social no contexto brasileiro. Frente a isso,
registra-se que são lacunas que devem ser trabalhadas e pensadas, principalmente a partir
da equipe gestora no sentido de buscar compreender a política pelo viés legal, de apreender
o usuário como sujeito de direito, se essas concepções não se fazem presente em nível de
gestão, dificilmente se fará presente no cotidiano dos equipamentos e nos territórios de
referência.
III. CONCLUSÃO
A partir dos fatos mencionados, vale destacar alguns pontos que consideramos
importante para a análise pretendida.
Sabe-se que a Assistência Social historicamente se apresentou como rico campo de
atuação profissional para o Assistente Social, entretanto, como realçado ao longo deste
trabalho nem sempre o serviço social se apropriou desse espaço de política de forma crítica.
Com os avanços obtidos tanto pela profissão quanto pela política é possível observar no
contexto contemporâneo uma nova relação entre Assistente Social e Assistência Social,
entretanto, não negamos que algumas questões ainda permanecem em aberto e exigem
esforços coletivos para serem pensadas, questionadas, trabalhadas e superadas.
Nesse sentido, a partir das falas das profissionais AS1, AS2 e AS3, foi possível
identificar que os avanços legais são importantes não só para o reconhecimento da política
nacionalmente, mas também para respaldar a luta dos Assistentes Sociais pela
universalização do acesso aos direitos, assim, a perspectiva do assistencialismo até então
presente dar lugar a defesa intransigente dos direitos sociais dos usuários. Nesse contexto,
compreendemos que a discussão de território proposta para a assistência favorece o
reconhecimento social dos sujeitos –, assim, entendemos que o território deve ser
apreendido para além do espaço geográfico, mas como parte e modo de vida da população
que o habita, pois o território é espaço vivido e habitado, portanto deve ser pensado
enquanto tal pelos profissionais da assistência, inclusive, pelo Assistente Social.
No que concerne ao conceito de matricialidade sociofamiliar apontado para a política
de assistência – compreendemos que o mesmo deve ser apoderado de forma crítica pelos
profissionais da área assistencial, em especial, pelo serviço social – pois, o próprio nome já
diz – matricialidade sociofamiliar – perspectiva essa que reafirma a relevância que a família
assume na assistência. Sobre isso, compreendemos que o serviço social tem se apropriado
desses novos conceitos de forma crítica, porém não devemos negar que ainda existem
profissionais que enfrentam dificuldades em decifrá-los, conforme visto na fala da AS2. Além
disso, cabe destacar a necessidade de fortalecer a articulação das proteções básica e
especial, apenas a AS2 afirma que consegue visualizar na prática essa articulação.
No que diz respeito a intersetorialidade, a partir das falas foi possível identificar a
fragilidade da rede de políticas sociais no município, assim, compreendemos essa
fragilidade como característica presente nas políticas sociais contemporâneas de corte
neoliberal, a busca incessante pela quebra da universalidade tem dado lugar cada vez mais
as ações pontuais.
Sobre os instrumentos que são incorporados a prática do Assistente Social para
potencializar a participação dos usuários nos espaços públicos de debates –
compreendemos que o serviço social ainda caminha lentamente nesse aspecto, apesar do
profissional ter na sua formação forte característica político-pedagógica, na prática isso não
tem sido evidenciado para o bem coletivo. E essa é uma questão que deve ser encarada
pelos profissionais, pois a força e a mobilização pressupõem a articulação de diferentes
sujeitos, profissionais, usuários e movimentos sociais, é preciso buscar a luta coletiva como
instrumento para fortalecer a garantia de acesso a políticas públicas universais.
Assim, compreendemos que o Assistente Social exerce um papel fundamental na
política de assistência, em outros termos, esse profissional é o intermediador das questões
que se apresentam nesse espaço de política, conflitos que, muitas vezes vai exigir desse
profissional interlocução com outros âmbitos profissionais, articulação com os sujeitos de
sua ação e, principalmente buscar a interlocução política de resistência e enfrentamento aos
obstáculos que surgem no decorrer do movimento histórico social, que é de fato onde se
materializa a prática profissional do Assistente Social no enfrentamento das múltiplas
determinações da questão social.
REFERÊNCIAS
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IAMAMOTO, Marilda Vilela. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho
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MOTA, Ana Elizabete. O Mito da Assistência Social: ensaios sobre Estados, política e
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YAZBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e Assistência Social. São Paulo: Cortez,
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