Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Síntese Do 5-Hidroximetilfurfural A Partir de Açúcares Utilizando Líquidos Iônicos

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 138

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais

SÍNTESE DO 5-HIDROXIMETILFURFURAL A PARTIR DE


AÇÚCARES UTILIZANDO LÍQUIDOS IÔNICOS

Fernanda Colpo de Melo

Tese de Doutorado

Porto Alegre, outubro de 2016.


Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais

SÍNTESE DO 5-HIDROXIMETILFURFURAL A PARTIR DE


AÇÚCARES UTILIZANDO LÍQUIDOS IÔNICOS

Fernanda Colpo de Melo

Tese de Doutorado realizada sob a orientação


do Prof. Roberto Fernando de Souza (in
memoriam) e da Prof.ª Dra. Michèle Oberson
de Souza, apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência dos Materiais da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
em preenchimento parcial dos requisitos para
a obtenção do título de Doutor em Ciência
dos Materiais.

Porto Alegre, outubro de 2016.


Dedico este trabalho ao prof. Roberto
Fernando de Souza (in memoriam) por confiar
no meu empenho durante minha jornada
acadêmica e profissional. À minha mãe que
sempre me incentivou e apoiou a minha
escolha profissional.
"Aqueles que são loucos o suficiente para pensar
que podem mudar o mundo são os que o fazem"
(Steve Jobs)
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, à minha mãe Tarcísia pela educação, dedicação,


esforço e compreensão durante estes anos de anos de estudo e
aperfeiçoamento.

Ao grande mestre prof. Roberto Fernando de Souza "in memoriam" por


ter me convencido a fazer Doutorado e por sempre ter acreditado em meu
trabalho e esforço.

À minha orientadora profª. Michèle Oberson de Souza por ter escolhido


atuar nesse trabalho em um momento tão delicado, por fazer parte da
construção dos pilares do meu conhecimento e pelas discussões científicas.

Aos meus amigos de pesquisa: Melissa, Cristiano, Aline, Yuri, Kate,


Isabel, Eliana, Marcéo, Edson, Mignoni, Luane, Camila, Diego, Daniel, Eliana,
Letícia Z. e a todos dos laboratórios K110, K119 e K106 pela troca de
conhecimentos, companheirismo, risadas, congressos e amizade durante
minha trajetória pela UFRGS.

À profª. Katia Gusmão pela amizade, ensinamentos e por ter ouvido


meus desabafos em diversos momentos.

Ao prof. César Petzold pelos ensinamentos, orientações científicas e


ótimas contribuições para o trabalho desenvolvido.

Ao Instituto de Química, PGCIMAT, UFRGS e Braskem pela


oportunidade de realizar este trabalho.

Ao CNPQ e CAPES pela bolsa de estudos.

A todos que fazem parte desta realização.

Muito obrigada!!
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 1
2. OBJETIVOS ......................................................................................... 4
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................ 5
3.1. BIOMASSA ............................................................................................ 5
3.2. AÇÚCARES ........................................................................................... 8
3.2.1. Glicose ............................................................................................... 8
3.2.2. Frutose ............................................................................................... 12
3.2.3. Sacarose ............................................................................................ 14
3.3. HIDROXIMETILFURFURAL (HMF) ...................................................... 15
3.3.1. Métodos de Síntese do HMF ............................................................ 19
3.3.1.1. Utilização de líquidos iônicos na síntese do HMF ......... 27
3.3.2. Reações de Reidratação e Degradação do HMF ............................ 36
3.3.3. Métodos de Extração do HMF .......................................................... 38
4. PARTE EXPERIMENTAL ................................................................. 42
4.1. PROCEDIMENTOS GERAIS ................................................................ 42
4.2. METODOLOGIA DE REAÇÃO ............................................................. 43
4.2.1. Síntese dos Líquidos Iônicos Utilizados ........................................ 43
4.2.1.1. Síntese do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio .............. 43
4.2.1.2. Síntese do cloreto de 1-metil-3-octillimidazólio ............. 44
4.2.1.3. Síntese do cloreto de 1-decil-3-metillimidazólio ............ 45
4.2.1.4. Síntese do cloreto de 1-dodecil-3-metillimidazólio ... 46
4.2.1.5. Síntese do trifluorometasulfonato de 1-decil-3-
metilimidazólio ............................................................................... 47
4.2.2. Síntese do 5-Hidroximetilfurfural .................................................... 48
4.2.3. Avaliação da Reutilização do C10MI.CF3SO3 ................................... 50
4.3. TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS ...................... 51
4.3.1. Ressonância Magnética Nuclear de 1H ........................................... 51
13
4.3.2. Ressonância Magnética Nuclear de C .......................................... 51
4.3.3. Medida de pH ..................................................................................... 51
4.3.4. Medida de Condutividade Elétrica .................................................. 52
4.3.5. Análise Termogravimétrica .............................................................. 52
4.3.6. Cromatografia Líquida de Alta Eficiência ....................................... 53
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................... 56
5.1. REAÇÃO DE CONVERSÃO DE AÇÚCARES EM HMF ....................... 57
5.1.1. Conversão da Frutose e Glicose Utilizando Líquidos Iônicos à
Base de Cloreto de Imidazólio ................................................................... 57
5.1.1.1. Influência do LI na síntese do HMF ................................. 57
5.1.1.2. Influência do tamanho da cadeia alifática do cátion
imidazólio dos líquidos iônicos na síntese do HMF ................... 61
5.1.1.3. Avaliação da reação de isomerização da glicose em
frutose ............................................................................................. 71
5.1.2. Conversão da Frutose, Glicose e Sacarose Utilizando o Líquido
Iônico C10MI.CF3SO3 .................................................................................... 74
5.1.2.1. Avaliação da Influência do C10MI.CF3SO3 na formação
do HMF ............................................................................................ 74
5.1.2.2. Conversão de Açúcares em HMF Utilizando o Líquido
iônico C10MI.CF3SO3 ....................................................................... 79
5.1.2.2.1. Influência da temperatura reacional ................................. 79
5.1.2.2.2. Influência do tempo reacional .......................................... 84
5.1.2.2.3. Influência da quantidade de catalisador ........................... 88
5.1.2.2.4. Influência da quantidade de açúcar ................................. 94

5.1.2.3 Avaliação da Reutilização do C10MI.CF3SO3 na


98
formação do HMF ...........................................................................

6. CONCLUSÃO ...................................................................................... 101


7. REFERÊNCIAS ................................................................................... 105
ANEXOS .................................................................................................... 118
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 3.1: Ciclo do CO2 na refinaria de petróleo e na biorrefinaria ............ 6


Figura 3.2: Fórmula estrutural da glicose acíclica (a) e cíclica (b) .............. 8
Figura 3.3: Ciclização da glicose ................................................................. 9
Figura 3.4: Mecanismo de isomerização da glicose catalisada por meio
básico ............................................................................................................ 11
Figura 3.5: Mecanismo de isomerização da glicose catalisada por meio
ácido ............................................................................................................. 11
Figura 3.6: Fórmula estrutural da frutose cíclica (a) e acíclica (b) ............... 12
Figura 3.7: Ciclização da frutose ................................................................. 13
Figura 3.8: Fórmula estrutural da sacarose ................................................. 14
Figura 3.9: Formação da sacarose .............................................................. 15
Figura 3.10: Estrutura química do HMF ....................................................... 16
Figura 3.11: Esquema da síntese do HMF .................................................. 17
Figura 3.12: Estrutura química do FDCA ..................................................... 17
Figura 3.13: HMF como um precursor para uma variedade de produtos
químicos comerciais ..................................................................................... 18
Figura 3.14: Esquema de síntese do HMF a partir da sacarose ................. 19
Figura 3.15: Mecanismo de desidratação da frutose ................................... 20
Figura 3.16: Esquema de reidratação do HMF ............................................ 36
Figura 3.17: Esquema de conversão do HMF em compostos húmicos ...... 38
Figura 3.18: Produção do HMF empregando sistema bifásico C4MI.Cl/THF
com simulação da etapa de evaporação do THF ......................................... 40
Figura 4.1: Síntese do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio .......................... 44
Figura 4.2: Síntese do cloreto de 1-metil-3-octilimidazólio .......................... 44
Figura 4.3: Síntese do cloreto de 1-decil-3-metilimidazólio ......................... 45
Figura 4.4: Síntese do cloreto de 1-dodecil-3-metilimidazólio ..................... 46
Figura 4.5: Esquema reacional para síntese do LI C10MI.CF3SO3 .............. 47
Figura 4.6: Montagem utilizada para síntese do HMF: (1) controlador de
temperatura, (2) Schlenk, (3) barra de agitação magnética, (4) banho de
silicone, (5) chapa de aquecimento e agitação magnética ........................... 49
Figura 4.7: Reação geral de desidratação de açúcares utilizando CnMI.Cl . 49
Figura 4.8: Reação geral de desidratação de açúcares utilizando
C10MI.CF3SO3 ............................................................................................... 50
Figura 4.9: Cromatograma de HPLC típico da glicose, frutose e HMF ...... 54
Figura 4.10: Cromatograma de HPLC típico da sacarose ........................... 54
Figura 5.1: Efeito dos LIs na desidratação da frutose utilizando HCl em 4
minutos e 12 minutos. As temperaturas reacionais correspondem às
temperaturas de fusão dos LIs empregados ................................................ 64
Figura 5.2: Efeito dos LIs na desidratação da frutose utilizando AlCl3 em 8
minutos e 12 minutos. As temperaturas reacionais correspondem às
temperaturas de fusão dos LIs empregados ................................................ 68
Figura 5.3: Efeito dos catalisadores HCl ou AlCl3 na formação do HMF a
partir da (a) desidratação da frutose e (b) conversão da glicose ................. 70
Figura 5.4: Produção do HMF a partir da frutose formada pela
isomerização da glicose utilizando o sistema reacional C12MI.Cl/HCl .......... 72
Figura 5.5: Produção do HMF a partir da frutose formada pela
isomerização da glicose utilizando o sistema reacional C12MI.Cl/AlCl3 ........ 73
Figura 5.6: Análise termogravimétrica (TGA) do C10MI.CF3SO3 .................. 75
Figura 5.7: Cromatograma de HPLC típico dos sistemas reacionais na
ausência de LI utilizando frutose e catalisador (HCl ou AlCl 3). Condições
reacionais: 0,4 g frutose, 2 mL água; 10% AlCl3 (100 ºC e 240 min) ou HCl
(m/m) em relação à frutose (110 ºC e 60 min) ............................................. 77
Figura 5.8: Cromatograma de HPLC típico dos sistemas reacionais na
ausência de LI utilizando glicose e catalisador (HCl ou AlCl3). Condições
reacionais: 0,4 g glicose, 2 mL água, 140 ºC; 10% AlCl3 (120 min) ou HCl
(m/m) em relação à glicose (60 min) ........................................................... 77
Figura 5.9: Cromatograma de HPLC dos sistemas reacionais na ausência
de LI utilizando sacarose, HCl e AlCl3. Condições reacionais: 0,4 g
sacarose, 2 mL água, 120 min; 10% AlCl3 (m/m) a 120 ºC; 10% HCl (m/m)
a 100 ºC) ....................................................................................................... 78
Figura 5.10: Efeito da temperatura reacional no rendimento em HMF
utilizando como catalisador (a) HCl e (b) AlCl3. Condições reacionais: 4 g
LI, 0,4 g açúcar, 2 mL água, 10% catalisador AlCl3 ou HCl (m/m), t = 120
min ................................................................................................................ 81
Figura 5.11: Efeito do tempo reacional no rendimento em HMF utilizando
como catalisador (a) HCl e (b) AlCl3. Condições reacionais: 4 g LI, 0,4 g
açúcar, 2 mL água, 10% catalisador AlCl3 ou HCl (m/m). HCl: 110 ºC
(frutose), 140 ºC (glicose) e 100 ºC (sacarose); AlCl3: 100 ºC (frutose), 140
ºC (glicose) e 120 ºC (sacarose) ................................................................... 86
Figura 5.12: Influência da quantidade de catalisador na seletividade em
HMF utilizando como catalisador (a) HCl e (b) AlCl3. Condições reacionais:
4 g LI, 0,4 g açúcar, 2 mL água. (a) 110 ºC e 60 min (frutose), 140 ºC e 60
min (glicose), 100 ºC e 120 min (sacarose); (b) 100 ºC e 240 min (frutose),
140 ºC e 120 min (glicose), 120 ºC e 120 min (sacarose) ............................ 90
Figura 5.13: Influência da razão mássica de açúcar/LI seletividade em
HMF utilizando como catalisador (a) HCl (b) AlCl3. Condições reacionais: 4
g LI, 2 mL água; 10% AlCl3 (m/m) a 100 ºC e 240 min; 10% HCl (m/m) a
110 ºC e 60 min ............................................................................................ 96

Figura 5.14: Influência da reutilização do LI na conversão da frutose e


rendimento em HMF. Condições reacionais: 4 g LI, 0,4 g frutose, 2 mL de
98
H2O, 10 % HCl (m/m), 60 min e 110 ºC ........................................................

Figura 5.15: Processo industrial para produção do HMF utilizando


100
C10MI.CF3SO3 ...............................................................................................
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 3.1: Propriedades físico-química do HMF ........................................ 16


Tabela 3.2: Principais catalisadores utilizados na produção do HMF .......... 21
Tabela 3.3: Sistemas reacionais para obtenção do HMF empregando o LI
C4MI.Cl .......................................................................................................... 29
Tabela 4.1: Reagentes, catalisadores e solventes utilizados na
preparação do líquido iônico e do HMF ........................................................ 43
Tabela 5.1: Valores de pH e Ka dos LIs (1 mol/L) ....................................... 58
Tabela 5.2: Influência da quantidade de LI na desidratação da frutose ....... 60
Tabela 5.3: Influência da quantidade de LI na conversão da glicose em
HMF .............................................................................................................. 61
Tabela 5.4: Conversão da frutose e glicose em função do tempo reacional
empregando diferentes líquidos iônicos à base de cloreto de imidazólio de
fórmula CnMI.Cl (n= 4, 8, 10 e 12) catalisada por HCl .................................. 63
Tabela 5.5: Conversão da frutose e glicose em função do tempo reacional
empregando diferentes líquidos iônicos à base de cloreto de imidazólio de
fórmula CnMI.Cl (n= 4, 8, 10 e 12) catalisada por AlCl3 ................................ 67
Tabela 5.6: Medidas de condutividade elétrica de C10MI.CF3SO3, da água
pura (H2O)i e da água após ter sido colocada em contato com o
C10MI.CF3SO3 (H2O)f .................................................................................... 76
Tabela 5.7: Influência da temperatura reacional na conversão da frutose,
glicose ou sacarose em HMF catalisada por HCl e AlCl3 ............................. 80
Tabela 5.8: Influência do tempo reacional na conversão da frutose, glicose
e sacarose em HMF catalisada por HCl e AlCl3 ........................................... 85
Tabela 5.9: Influência da razão mássica de catalisador (HCl ou
AlCl3)/açúcar na produção do HMF .............................................................. 89
Tabela 5.10: Influência da razão mássica de açúcar/LI na produção de
HMF, empregando HCl e AlCl3 como catalisadores ..................................... 95
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEMI.BF4 Tetrafluoroborato de 1-hidroxietil-3-metilimidazólio


AF Ácido fórmico
AL Ácido levulínico
AlCl3 Cloreto de alumínio
AT Ácido tereftálico
BF3 Trifluoreto de boro
BMI.FeCl4 Tetracloroferrato de 1-butil-3-metilimidazólio
C10MI.CF3SO3 Trifluorometanossulfonato de 1-decil-3-metilimidazólio
C10MI.Cl Cloreto de 1-decil-3-metilimidazólio
C12H22O11 Sacarose
C12MI.Cl Cloreto de 1-dodecil-3-metilimidazólio
C16MI.CF3SO3 Trifluourometanossulfonato de 1-hexadecil-3-metilimidazólio
C4IM.SbF6 Hexafluoroantimoniato de 1-butil-3-metilimidazólio
C4MI.BF4 Tetrafluoroborato de 1-butil-3-metilimidazólio
C4MI.Br Brometo de 1-butil-3-metilimidazólio
C4MI.CF3SO3 Trifluourometanossulfonato de 1-butil-3-metilimidazólio
C4MI.Cl Cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio
C4MI.HSO4 Hidrogeno sulfato de 1-butil-3-metilimidazólio
C4MI.N(CF3SO2)2 Di(trifluorometanessulfonil)imida de 1-butil-3-metilimidazólio
C4MI.N(CN)2 Dicianamida de 1-butil-3-metilimidazólio
C4MI.PF6 Hexafluorofosfato de 1-butil-3-metilimidazólio
C6H12O6 Glicose e/ou frutose
C6MI.Cl Cloreto de 1-hexil-3-metilimidazólio
C8MI.Cl Cloreto de 1-metil-3-octilimidazólio
CrCl3 Cloreto de cromo (III)
DCM Diclorometano
DFF 2,5-diformilfurano
DHH 2,5-dioxo-6-hidroxiexanal
DHMF 2,5-dihidroximetilfurano
DMA Dimetilacetamida
DMF 2,5-dimetilfurano
DMSO Dimetilsulfóxido
DMTHF 2,5-dimetiltetrahidrofurano
EMI.Cl Cloreto de 1-etil-3-metilimidazólio
FDCA ácido 2,5-furanodicarboxílico
GeCl4 Tetracloreto de germânio
H2O Água
H2SO4 Ácido sulfúrico
H3O+ Hidrônio
H3PO4 Ácido fosfórico
HCl Ácido clorídrico
HMF 5-hidroximetilfurfural
HMFCA Ácido 5-hidroximetil-2-furanocarboxílico
HMIM.Cl Cloreto de 1-H-3-metilimidazólio
HO2CMMI.Cl Cloreto de 1-carboximetil-3-metilimidazólio
HPLC Cromatografia Líquida de Alta Eficiência
IUPAC União Internacional de Química Pura e Aplicada
Ka Constante de acidez Brönsted-Lowry
LdB-AvE Lobry De Bruyn e Alberda Van Ekenstein
LI Líquido iônico
LIFs Líquidos iônicos funcionalizados
LIs Líquidos iônicos
MIBC Metilisobutilcetona
NaCl Cloreto de sódio
Nb2O5 Óxido de nióbio
Nb2O5.nH2O Ácido nióbico
NMP 1-metil-2-pirrolidinona
NMP.Br Brometo de N-metil-2-pirrolidona
NMP.CH3SO3 Hidrogeno sulfato de N-metil-2-pirrolidona
NMP.Cl Cloreto de N-metil-2-pirrolidona
NMP.HSO4 Sulfato de hidrogênio de N-metil-2-pirrolidona
OH Hidroxila
OMI.Cl Cloreto de 1-metil-3-octilimidazólio
PET Poli(tereftalato de etileno)
PLA Poli(ácido láctico)
p-TsOH Ácido p-toluenossulfônico
PVP Poli(1-vinil-2-pirrolidinona)
RMN 13C Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear de
Carbono
RMN 1H Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear de
Próton
SMI.Cl Cloreto de 1-ácidosulfônico-3-metilimidazólio
SMI.FeCl4 Tetracloroferrato de 1-ácidosulfônico-3-metilimidazólio
SnCl4 Cloreto de estanho (IV)
TBAC Cloreto de tetrabutilamônio
THF Tetrahidrofurano
TiO2 Dióxido de titânio
VOP Fosfato de vanádio
WCl6 Hexacloreto de tungstênio
ZnCl2 Cloreto de zinco
ZrOCl2 Cloreto de zirconila
RESUMO

A procura pela utilização de matérias-primas renováveis tem atraído


interesse do meio acadêmico e da indústria devido à preocupação crescente
com o meio ambiente. Diante desta situação, a produção do 5-
hidroximetilfurfural (HMF) a partir da conversão de açúcares é uma alternativa
para a obtenção de um composto chave para a produção de poliésteres,
poliamidas e poliuretano a partir de fontes renováveis.

Neste trabalho, o HMF foi sintetizado utilizando diferentes líquidos


iônicos à base de cloreto de imidazólio que são solúveis em água e o líquido
iônico trifluorometanosulfonato de 1-decil-3-metilimidazólio (C10MI.CF3SO3)
hidrofóbico. Estes processos foram catalisados por HCl ou AlCl3.

Para as reações conduzidas com os LIs à base de cloreto de


imidazólio, frutose ou glicose e os catalisadores foram avaliados a temperatura
(80-120 ºC), e o tempo reacional (2-12 min). Obteve-se um rendimento superior
a 90% e 30% partindo da frutose e glicose, respectivamente.

Nos processos reacionais realizados com o C10MI.CF3SO3 e com


uma solução aquosa de frutose, glicose ou sacarose (sistema bifásico) avaliou-
se a influência da temperatura (80-140 ºC), do tempo reacional (30-240 min),
quantidade de catalisador (5-20% em massa) e a quantidade de açúcar (5-20%
em massa). A utilização do C10MI.CF3SO3 apresentou a vantagem de facilitar o
processo de separação do HMF utilizando água e sem a utilização de solventes
orgânicos, reduzindo custos industriais. De forma geral, os catalisadores
demonstraram um eficiente desempenho para a conversão da frutose e
sacarose com rendimento em HMF acima de 60%. Para a glicose o rendimento
em HMF foi de até 47%, acompanhado da formação de subprodutos.

Palavras chaves: frutose, glicose, sacarose, 5-hidroximetilfurfural, HMF.


ABSTRACT

The demand for the use of renewable raw materials is attracting the
interest of the academic community and the industry due to the increasing
preoccupation about the environment. Thus, the production of
5-hydroxymethylfurfural (HMF) from sugar conversion is an alternative to obtain
a key product for the production of polyesters, polyamides and polyurethane
from renewable sources.

In this study, HMF was synthesized using fructose, glucose and


sucrose as a start material. Different imidazolium chloride based ionic liquids
(ILs) which are water soluble were used. In addition, ionic liquid
1-decyl-3-methylimidazolium trifluoromethanesulfonate (C10MI.CF3SO3), which
is hydrophobic, was employed. These processes were catalyzed by HCl or
AlCl3.

For reactions conducted with imidazolium chloride based ILs,


fructose or glucose and catalysts, reaction’s temperature (80-140 ºC) and time
(30-240 min) were evaluated. HMF yield higher than 90% and 30% was
obtained from fructose and glucose, respectively.

For reactions performed with C10MI.CF3SO3 and an aqueous solution


of fructose, glucose or sucrose (biphasic system formation), the influence of the
temperature (80-140 °C), the reaction time (30-240 min), the amount of catalyst
(5-20% mass) and the amount of sugar (5-20% mass) were evaluated. The use
of C10MI.CF3SO3 had the advantage of facilitating the HMF separation process
using water and not organic solvents, thus reducing industrial costs. Typically,
the employed systems have demonstrated effective performance for the
conversion of sucrose and fructose into HMF with yield higher than 60%. For
glucose, the HMF yield was below 47%, accompanied of the formation of
byproducts.

Keywords: fructose, glucose, saccharose, 5-hydroxymethylfurfural, HMF.


1. INTRODUÇÃO

A diminuição das reservas de petróleo, o aumento da demanda e dos


custos das matérias-primas originadas do petróleo associados à produção de
resíduos, tem levado a indústria de plásticos a buscar, em fontes renováveis,
matérias-primas substitutas. A produção de novos materiais não provenientes
do petróleo acaba sendo muito desafiadora para os cientistas, gerando novas
tecnologias que tornam os processos ambientalmente viáveis e sustentáveis.
Um dos principais desafios desses processos está relacionado à redução de
impactos ambientais, o que implica a necessidade de desenvolver materiais
que eliminem a utilização e a produção de substâncias tóxicas.[1,2,3]

Uma alternativa para responder a essa demanda é investir em novos


processos de biorrefinarias para converter a biomassa em biocombustíveis,
bioenergia e produtos químicos orgânicos. Esses processos poderiam substituir
a indústria petroquímica, para qual o petróleo passa por um processo de refino
e um posterior fracionamento que gera os combustíveis líquidos e as matérias-
primas para a produção de diversos materiais, entre eles os plásticos.[1,4,5]

Dentre os produtos químicos valiosos empregados na indústria de


poliésteres, poliamidas e poliuretanos, produzidos a partir de materiais
provenientes do petróleo, encontram-se os compostos furânicos. A sua síntese,
a partir de compostos não derivados do petróleo, torna-se extremamente
atraente e prioritária para as indústrias que querem atuar no cenário da química
verde.[4,5,6]

Uma das principais vantagens em relação à biomassa é relacionada ao


fato que o Brasil possui condições climáticas adequadas para o seu cultivo.

1
Porém, os limites para a disponibilidade da biomassa baseiam-se na
sustentabilidade ambiental e na viabilidade econômica do transporte.[7]

Um exemplo da utilização da biomassa está relacionado à conversão


de açúcares para produzir o 5-hidroximetilfurfural (HMF), um importante
intermediário para a síntese do ácido 2,5-furanodicarboxílico (FDCA), do ácido
5-hidroximetil-2-furanocarboxílico (HMFCA) e do 2,5-diformilfurano (DFF) que
são materiais de partida para a síntese dos “polímeros verdes”. Para isso,
diversos estudos estão sendo realizados com o intuito de conseguir
desenvolver um processo eficiente e de baixo custo.[8,9,10,11]

A produção de HMF pode ser obtida utilizando diferentes matérias-


primas como, polissacarídeos, dissacarídeos e monossacarídeos, sendo que
os materiais mais utilizados são a celulose, inulina, sacarose, glicose e frutose.
Os métodos estudados para obter o HMF utilizam a catálise ácida em meio
homogêneo ou heterogêneo, podendo estes ser meios aquosos ou não
aquosos (uso de solvente orgânico).[12,13]

Outra alternativa efetiva de se obter compostos furânicos é a utilização


de líquidos iônicos (LIs) como meio reacional. Essa proposta é considerada
promissora para a conversão de glicose e frutose em HMF, pois evita a
utilização de solventes orgânicos, reduzindo assim, os custos industriais e os
impactos ambientais.[14]

Como os LIs estão entre os solventes alternativos mais explorados em


diferentes áreas nas últimas décadas, estudou-se neste trabalho, a síntese do
HMF a partir de açúcares utilizando diferentes líquidos iônicos como meio
reacional.

Neste contexto, o presente trabalho estudou rotas alternativas para a


obtenção do composto furânico HMF por conversão de sacarose, glicose e
frutose, avaliando a influência do tamanho da cadeia carbônica alquila dos LIs
da família dos imidazólios, o que modifica o caráter hidrofóbico dos LIs na
conversão dos açúcares, na seletividade e no rendimento em HMF formado.
Também, desenvolveu-se um método de produção do HMF empregando um LI
hidrofóbico, o trifluorometanossulfonato de 1-decil-3-metilimidazólio
(C10MI.CF3SO3) que permitiu extrair o HMF utilizando somente a água,

2
evitando assim o uso de solventes orgânicos. Este processo é uma alternativa
tecnológica que pode trazer um significativo ganho econômico para a indústria,
evitando a utilização de solventes orgânicos e, consequentemente, reduzindo
resíduos orgânicos que ocasiona em danos para o meio ambiente. Além disso,
tal meio reacionai permite reduzir etapas no processo de extração do HMF,
facilitando o processo de oxidação do HMF para a produção do FDCA. Tendo
em vista que o FDCA apresenta uma estrutura química análoga a do ácido
tereftálico, este possui um elevado potencial como monômero na síntese de
polímeros. Todos esses aspectos são fortes argumentos para estudar o uso de
novos LIs com caráter hidrofóbico como meio reacional nas reações de
conversão de açúcares, visando a produção de HMF. Esse estudo foi
desenvolvido no LRC (Laboratório de Reatividade e Catálise), no Instituto de
Química da UFRGS em parceria com a Indústria Braskem.*

*O uso do trifluorometanossulfonato de 1-decil-3-metilimidazólio (C10MI.CF3SO3) para a


conversão de açúcares em HMF foi objeto de Pedido nacional de Invenção junto ao INPI em
30/12/2016 (BR 10 2016 031027 0)

3
2. OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é avaliar o desempenho da desidratação de


açúcares na formação do HMF utilizando como solvente diferentes líquidos
iônicos, os primeiros, cloretos à base de imidazólio, solúveis em água, com
cadeias alifáticas de tamanho crescente (modificação do caráter hidrofóbico) e
o trifluorometanossulfonato de 1-decil-3-metilimidazólio C10MI.CF3SO3,
composto hidrofóbico.

Os objetivos específicos da pesquisa são:

 Sintetizar e caracterizar os líquidos iônicos CnMI.Cl, cloreto de 1-


alquil-3-metilimidazólio, em que n = 4, 8, 10 e 12;

 Avaliar a influência do tamanho da cadeia alquila ligada ao anel


imidazólio dos líquidos iônicos nas reações de desidratação da frutose
e glicose;

 Avaliar comparativamente a eficiência catalítica dos catalisadores


HCl e AlCl3 escolhidos na formação do HMF, a partir da frutose ou
glicose, utilizando os líquidos iônicos C4MI.Cl, C8MI.Cl, C10MI.Cl e
C12MI.Cl;

 Sintetizar e caracterizar o líquido iônico C10MI.CF3SO3;

 Sintetizar o HMF e quantificar a sua produção a partir da frutose,


glicose e sacarose na presença de C10MI.CF3SO3 e dos catalisadores
HCl e AlCl3;

 Avaliar comparativamente a eficiência catalítica dos catalisadores


HCl e AlCl3 escolhidos na formação do HMF a partir da frutose, glicose
ou sacarose;

 Avaliar a influência dos parâmetros reacionais (temperatura


reacional, tempo reacional, quantidade de catalisador e quantidade de
açúcar) para a produção do HMF nos sistemas catalíticos estudados.

4
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo serão abordados alguns aspectos gerais sobre o tema


da tese, incluindo uma breve introdução sobre a biomassa e as características
importantes dos açúcares utilizados no trabalho, por exemplo, a frutose, a
glicose e a sacarose. Será descrita a importância do 5-hidroximetilfurfural
(HMF), que pode ser obtido a partir dos açúcares citados, como molécula
oriunda da biomassa e centro de uma nova plataforma da química fina.
Finalizando, serão apresentados os sistemas existentes que permitem a
produção do HMF a partir da conversão de açúcares, o que levará a descrever
os sistemas que empregam líquidos iônicos.

3.1. BIOMASSA

O interesse em estudar e desenvolver rotas tecnológicas baseadas no


uso de produtos naturais que permitem a substituição de matérias-primas
provenientes do petróleo no setor produtivo de fibras, combustíveis e polímeros
crescem constantemente. As principais razões para tal interesse estão ligadas
ao fato de que os produtos naturais são materiais renováveis que podem
possuir algumas propriedades físicas e químicas específicas muito
convenientes para as suas utilizações, além de usualmente serem
[8,15,16]
biocompatíveis e biodegradáveis.

Assim como o petróleo é considerado a principal matéria-prima para


produção de diversos materiais e geração de energia, a biomassa está
ganhando espaço cada dia mais, por ser um dos poucos recursos atuais
sustentáveis de fonte renovável, para produzir materiais de origem orgânica.[17]

5
A biomassa é definida na Directiva 2003/30/CE do Parlamento Europeu
como toda a fração biodegradável de produtos e resíduos da agricultura, da
floresta e das indústrias conexas, bem como, a fração biodegradável dos
resíduos industriais e urbanos. Ou seja, é o material biológico passivo de
aproveitamento energético para uma diversidade de produtos biocombustíveis
(combustíveis sólidos, líquidos e gasosos) que podem produzir energia térmica
e/ou elétrica, sendo considerado de grande importância, pois é o principal
material sustentável para a produção de energia renovável.[17,18,19]

Para a utilização industrial da biomassa é importante destacarmos que


a refinaria de petróleo e a biorrefinaria são similares em termos de produtos e
que a principal diferença está na utilização da biomassa como matéria prima,
ao invés do petróleo que é submetido a um fracionamento, como é mostrado
na Figura 3.1. Dessa forma, a biomassa pode ser utilizada como uma fonte
renovável de carbono na produção de combustíveis e produtos químicos
valiosos.[5,20]

Além disso, na produção de calor e energia, a utilização de derivados


de biomassa diminui o acúmulo de gases de efeito estufa através dos ciclos de
cultivo da biomassa (plantação) envolvendo a fotossíntese.[5]

Figura 3.1: Ciclo do CO2 na refinaria de petróleo e na biorrefinaria (adaptada a


partir da referência[5]).

6
Um exemplo importante de molécula oriunda da biomassa que pode
servir de base para a produção de polímero é o ácido láctico, utilizado na
obtenção do poli(ácido láctico) (PLA). O ácido láctico é obtido através da
fermentação do milho e outros cereais. Com este, pode-se preparar polímeros
com alto peso molecular para serem utilizados na produção de implantes
biocompatíveis como parafusos, pinos, placas, dispositivos para liberação
controlada de drogas, filmes degradáveis para embalagens de plantas e
alimentos.[21,22,23]

A celulose é outra alternativa para se obter monômeros de fontes


renováveis, já que esta é o constituinte mais importante da biomassa. Os
sacarídeos constituintes da celulose são suscetíveis de serem obtidos através
da quebra de cadeia em meio ácido ou por hidrólise enzimática da celulose
com baixo custo de investimentos e operações.[24,25,26]

Por exemplo, é possível obter a partir da celulose, através de reações


primárias ou de decomposição dos intermediários, o hidroxiacetaldeído,
gliceraldeído, o 5-hidroximetilfurfural e o furfural que podem ser utilizados na
indústria química para a produção de outros produtos com alto valor agregado
como polímeros, biocombustíveis e solventes.[26]

O 5-hidroximetilfurfural (HMF) pode ser obtido a partir da biomassa


(açúcares) e se encontra no centro de uma plataforma sustentável. Além de ser
um intermediário para a produção de plásticos, através deste pode-se produzir
também alguns biocombustíveis, proveniente da biomassa ligninocelulose,
sendo que esses combustíveis apresentam o mesmo potencial energético
quando comparado aos combustíveis produzidos a partir de fontes fósseis.[27]

Diversos estudos foram realizados no sentido de reduzir os custos


relacionados à rota tecnológica para a obtenção do HMF. Na próxima seção
são apresentadas as principais características dos açúcares (frutose, glicose e
sacarose), do HMF e das rotas de sua produção a partir desses açúcares,
assim como, a plataforma tecnológica à qual ele é associado.

7
3.2. AÇÚCARES

Os açúcares são uma espécie de carboidrato (ou hidrato de carbono)


constituído por carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O). Dentro do grupo de
carboidratos, está o amido, a celulose e os açúcares.[28,29]

A ligação entre dois açúcares simples (monossacarídeos) gera um


dissacarídeo (sacarose, maltose, lactose). Já os carboidratos que são
constituídos por dois ou até seis açúcares simples são chamados de
oligossacarídeos e os que possuem maior número de monossacarídeos são
chamados de polissacarídeos, tais como, a celulose, amido, glicogênio, entre
outros.[28,29]

Como o interesse da indústria química em fontes de matérias-primas


renováveis está crescendo, o principal desafio é transformar a biomassa em
carboidratos menores, os dissacarídeos (sacarose) e/ou monossacarídeos
(glicose e frutose) para produzir substâncias que apresentam maior valor
agregado. Esses carboidratos são os materiais renováveis com baixo custo e
são considerados como principal matéria-prima para a química verde.[30,31]

3.2.1. Glicose

A glicose é um açúcar oriundo principalmente da celulose e do amido,


sendo muito utilizada por todos os mamíferos como fonte de energia. É um
açúcar constituído por seis carbonos, possui um grupo aldeído, de fórmula
molecular C6H12O6 e pode ser encontrado na forma acíclica e cíclica
(Figura 3.2).[30,32]

Figura 3.2: Fórmula estrutural da glicose acíclica (a) e cíclica (b).


8
A forma cíclica resulta da reação intramolecular entre o átomo de
carbono C1 do aldeído com o grupo hidroxila do carbono C5 da glicose de
cadeia aberta, formando um hemiacetal intramolecular (Figura 3.3). Como
resultado desta reação, têm-se duas formas anômeras chamadas de -D-
glicopiranose e -D-glicopiranose, em que a forma  é mais comum em
solução.[33]

A glicose é um açúcar economicamente atrativo produzido em larga


escala. Modificações da sua estrutura permitem a produção de novos
compostos importantes para o setor industrial em diversas aplicações, como
hidrogel, adoçante artificial, tensoativos, polímeros, solventes, resinas, entre
outros. Sua principal fonte de produção mundial é o amido, aproximadamente
34%, podendo ser obtida também a partir da sacarose.[34]

Figura 3.3: Ciclização da glicose (adaptada a partir da referência[33]).

Um processo que está sendo o foco de muitas pesquisas envolvendo a


glicose é a sua isomerização em frutose que, por desidratação, leva ao
hidroximetilfurfural (HMF), um precursor para a produção de combustíveis,
solventes e polímeros.[34,35]

9
Lobry De Bruyn e Alberda Van Ekenstein (LdB-AvE) estudaram
diferentes transformações de açúcares, dentre elas, a isomerização da glicose
em frutose em meio básico. Com o avanço dos estudos de isomerização
observaram que esta também poderia ser realizada em meio ácido. As
transformações chamadas LdB-AvE apresentam grande importância industrial
para a produção de cetoses sendo que o método mais utilizado por grupos de
pesquisas e pelas indústrias é por catálise em meio básico.[36]

Outro método de isomerização altamente seletivo é o processo


enzimático. Entretanto, esse método apresenta alto custo de processamento
devido aos rigorosos métodos de purificação e desativação irreversível das
enzimas durante o processo causado pelas condições reacionais. Segundo
Straatsma et al., a isomerização da glicose utilizando enzima imobilizada
oferece a vantagem semelhante a de um catalisador heterogêneo por ser de
fácil separação do produto desejado, além de apresentar alta seletividade e
atividade.[37,38]

O mecanismo de isomerização, chamado de aldose-cetose, envolve a


transferência de hidrogênio ligado ao C2 para o C1 e a transferência do
hidrogênio da hidroxila ligada ao C2 para o oxigênio ligado ao C1,
transformando o aldeído em cetona. A desvantagem dessa reação é o meio
alcalino no qual ela é desenvolvida (Figura 3.4), o que torna o monossacarídeo
instável, formando subprodutos devido às reações secundárias. Utilizando a
catálise básica, o mecanismo ocorre através da transferência de prótons e
utilizando a catálise ácida a isomerização é resultante de uma transformação
intramolecular do hidreto (Figura 3.5).[37] Como alternativa a esses dois
mecanismos, a utilização de ácido de Lewis tem se mostrado eficaz para
catalisar a isomerização de monossacarídeos com atividades semelhantes aos
processos biológicos.[39]

10
Figura 3.4: Mecanismo de isomerização da glicose catalisada por meio básico
(adaptada a partir da referência[37]).

Figura 3.5: Mecanismo de isomerização da glicose catalisada por meio ácido


(adaptada a partir da referência[37]).

11
A principal motivação em isomerizar a glicose em frutose está
associada ao fato de que a glicose é constituída de um anel piranosídico e a
frutose é constituída por um anel furanosídico, o mesmo que forma o HMF.
Desta forma, a reação de desidratação da frutose em HMF é facilitada devido à
estrutura da frutose composta pelo anel furanosídico.

3.2.2. Frutose

A frutose é um monossacarídeo predominante em diversas frutas e


plantas que possui a mesma fórmula molecular que a glicose, C6H12O6. Ela foi
isolada pela primeira vez a partir da cana-de-açúcar em 1847. Do mesmo modo
que a glicose a frutose também apresenta estruturas cíclica e acíclica (Figura
3.6).[40,41]

Figura 3.6: Fórmula estrutural da frutose cíclica (a) e acíclica (b)[41].

Esse açúcar é classificado como cetohexose devido ao grupamento


cetona. Se essa cetona, presente no C2 da forma aberta da frutose, reage com
a hidroxila do C5, podem então se formar dois hemicetal cíclicos de cinco
membros, o -D-frutofuranose e -D-frutofuranose (Figura 3.7).[41]

12
Figura 3.7: Ciclização da frutose (adaptada a partir da referência[41]).

Da mesma forma que a glicose possui grande interesse industrial, a


frutose também atrai interesse como matéria-prima devido à sua abundância e
pela sua aplicabilidade para a obtenção de diversos produtos e o
desenvolvimento de processos, principalmente na área alimentícia e bebidas.
Se compararmos com a glicose, a frutose ainda apresenta um custo mais
elevado. Ao longo dos anos este custo vem sofrendo redução devido ao
avanço tecnológico de processos para a sua obtenção.[30,34,41]

Fora do contexto alimentar, a frutose tem sido empregada na produção


do 5-hidroximetilfurfural (HMF) e do ácido levulínico que são importantes
intermediários para produzir o ácido 5-hidroximetilfuróico, o ácido 2,5-
furanodicarboxílico e a 1,6-hexametilenodiamina, monômeros relevantes na
substituição do ácido adípico, ácido tereftálico, alquildióis, ou
[30,42]
hexametilenodiamina na produção de poliamidas e poliésteres.

Hu et al. mostraram que os processos de produção do HMF partindo da


frutose são mais atrativos, se compararmos com a glicose, pois é possível
obter o HMF com seletividade extremamente superior (>60%) em diferentes
sistemas reacionais.[43]

13
3.2.3. Sacarose

A sacarose é um dissacarídeo formado pela união de uma unidade da


frutose (-D-frutofuranose) e uma unidade da glicose (-D-glicopiranose), cuja
fórmula molecular é C12H22O11, conforme mostrada na Figura 3.8, sendo
popularmente conhecida como açúcar.[34,44]

Figura 3.8: Fórmula estrutural da sacarose.

Essa união entre a unidade da frutose e da glicose é formada por meio


da condensação entre estes dois açúcares. A condensação ocorre através da
perda de uma molécula de água (H2O) formada pela reação entre a hidroxila
(OH) do carbono C1 da α-D-glicose com a hidroxila (OH) do carbono C2 da β-
D-frutose. Ou seja, esse mecanismo ocorre através da eliminação de um
próton da α-D-glicose e de OH- da β-D-frutose de acordo com a Figura 3.9.[35,44]

14
Figura 3.9: Formação da sacarose (adaptada a partir da referência[44]).

A sacarose é o carboidrato cristalino mais abundante na natureza,


sólido à temperatura ambiente, sendo que a sua coloração varia de branca a
marrom conforme seu grau de pureza. A hidrólise da sacarose ocorre em meio
ácido produzindo uma mistura equimolecular de D-Glicose (aldose) e D-frutose
(cetose), conhecida como açúcar invertido. A separação desses dois açúcares
na sacarose é difícil por métodos convencionais, devido à sua proporção (1:1)
aliada à sua solubilidade em água.[45]

3.3. HIDROXIMETILFURFURAL (HMF)

O 5-(hidroximetil)-2-furaldeído (nomenclatura IUPAC), mais comumente


chamado de 5-hidroximetilfurfural (HMF), foi sintetizado pela primeira vez por
Düll e Kiermeyer, em 1835. Esses pesquisadores publicaram, após a sua
descoberta, um método de síntese do HMF que, naquela época, era chamado
de “oximetilfurfural”. Apenas em 1919 Middendorp publicou novos resultados
relacionados ao HMF, informando um novo método de síntese mais moderno e
descrevendo o mecanismo de reação correspondente. A estrutura química do
HMF é composta por um anel furânico que possui dois grupos funcionais,
15
aldeído e álcool, conforme é apresentado na Figura 3.10. Essas funções
orgânicas do HMF favorecem a sua conversão em diversos compostos
químicos intermediários para a indústria química.[46]

Figura 3.10: Estrutura química do HMF.

A Tabela 3.1 apresenta as propriedades específicas do HMF. O seu


isolamento a partir da mistura reacional em larga escala é difícil por meio de
extração com solventes, destilação ou recristalização devido à: (a) alta
solubilidade em meio aquoso e solventes polares; (b) baixa pressão de vapor;
(c) baixo ponto de fusão; (d) instabilidade térmica e química.

Tabela 3.1: Propriedades físico-química do HMF[47].

Propriedades
Fórmula molecular C6H6O3
Massa molar 126,11 g/mol
Densidade 1,29 g/cm3 (a 25 ºC, 1 bar)
Temperatura de fusão 30 - 34 ºC
Ponto de ebulição 114 - 116 ºC
Estado físico a Tamb Sólido
Coloração Amarelo

A síntese do HMF, mostrada esquematicamente na Figura 3.11, não é


considerada muito simples devido à formação de reações paralelas que
influenciam a eficiência do processo, formando ácido levulínico (AL), ácido
fórmico (AF) e polímeros de ácidos húmicos que são os principais causadores

16
do baixo rendimento em HMF. Ao mesmo tempo em que o AL e o AF afetam a
produção do HMF, estes possuem alto valor agregado na indústria de ésteres,
perfumes, fumo, curtume entre outros.[46,48]

Figura 3.11: Esquema da síntese do HMF (adaptada a partir da referência[46]).

O HMF pode ser sintetizado a partir da celulose e outros carboidratos,


como a glicose, frutose e sacarose para, em seguida, obter o ácido 2,5-
furanodicarboxílico, FDCA (Figura 3.12), através de uma oxidação seletiva,
gerando o material que pode vir a substituir o ácido tereftálico (AT) na produção
de poliésteres, bem como, do poli(tereftalato de etileno) (PET).[49,50,51]

Figura 3.12: Estrutura química do FDCA.

Os compostos derivados do HMF (Figura 3.13) são intermediários com


amplo potencial industrial, podendo adaptar facilmente a sua síntese para
escala industrial. O HMF pode ser empregado em monômero para a produção
de polímeros (ácido 2,5-furanodicarboxílico e 2,5-di(hidroximetil)furano), de
biocombustíveis com octanagem semelhante ao do etanol e da gasolina (2,5-

17
dimetilfurano e 2-metilfurano), de solventes e outros produtos da plataforma
química (2-hidroximentilfurano, 2,5-dimetiltetrahidrofurano, ácido levulínico e
ácido fórmico).[43,52]

Figura 3.13: HMF como um precursor para uma variedade de produtos


químicos comerciais (adaptada a partir da referência[52]).

O principal foco das pesquisas sobre o HMF está relacionado ao


processo de sua produção em larga escala com custo reduzido, pois este é um
precursor com grande potencial para diferentes áreas químicas que envolvem o
uso de fontes renováveis.

18
3.3.1. Métodos de Síntese do HMF

A síntese do HMF pode ser realizada empregando a frutose, glicose ou


sacarose como matéria-prima (Figura 3.14) sendo que o método mais fácil de
obter o HMF é através da desidratação por catálise ácida da frutose. Ao utilizar
a glicose é necessário combinar o processo de sua isomerização em frutose
com o processo de desidratação da frutose. Quando é utilizada a sacarose
(formada pelos monossacarídeos glicose e frutose) essa deverá sofrer
primeiramente uma hidrólise que levará à formação de frutose e glicose, essa
última será isomerizada em frutose para que a desidratação seja
possível.[12,53,54,55]

Figura 3.14: Esquema de síntese do HMF a partir da sacarose.

A Figura 3.15 apresenta uma proposta de mecanismo que explica a


desidratação da frutose com catalisadores ácidos, como é o caso dos sistemas
catalíticos desenvolvidos neste trabalho.

Antal[56] e Newth[57] sugerem que a formação de HMF ocorre facilmente


a partir da frutose através do intermediário enol cíclico, o 2,5-anidro-d-manose,
formado na etapa de tautomerização.[41] Nesse mecanismo a desidratação da
frutose inicia-se pela protonação do grupo hidroxila mais básico, aquele
diretamente ligado ao anel em posição alfa em relação ao oxigênio. Uma vez

19
protonada a molécula da frutose, a desidratação é espontânea, gerando o
intermediário enólico que se reorganiza para, em seguida, perder uma nova
molécula de água, seguida por uma desprotonação que leva à formação do
HMF e à regeneração do catalisador.[58,59]

Figura 3.15: Mecanismo de desidratação da frutose (adaptada a partir das


referências[58,59]).

Diversos tipos de catalisadores têm sido utilizados para a desidratação


de hexose (glicose) e cetose (frutose). A Tabela 3.2 mostra cinco grupos de
catalisadores mais utilizados nesses processos: ácidos minerais (inorgânicos),
ácidos orgânicos, sais orgânicos e inorgânicos, ácidos de Lewis e outros como
resina trocadora de íons e zeólitas).[31,60,61]

20
Tabela 3.2: Principais catalisadores utilizados na produção do
[31]
HMF.

Ácido maleico, ácido oxálico, ácido levulínico, p-


Ácidos orgânicos
TsOH (ácido p-toluenossulfônico)

Ácido fosfórico, ácido sulfônico, ácido clorídrico,


Ácidos inorgânicos
iodo ou ácido iodídrico gerado in situ

(NH4)2SO4/SO3, piridina/PO43-, piridina/HCl, sais de


alumínio, íons Th e Zr, fosfato de zircônio, ZrOCl2,
Sais
VO(SO4)2, TiO2, porfirinas de Zr, Cr, Ti, íons de Cr,
Al, Ti, Ca

Ácido de Lewis ZnCl2, SnCl4, AlCl3, BF3

Resinas trocadora de íons, zeólitas, fluídos


Outros
supercríticos

Do ponto de vista ecológico, os processos aquosos são muito


convenientes, mas os resultados não são satisfatórios, pois os rendimentos em
HMF são baixos (5-50%). O baixo rendimento está associado à hidratação do
HMF que favorece a formação dos ácidos levulínico e fórmico.[31,59]

Este mesmo desempenho pode ser observado por Carlini et al. num
estudo para o qual os autores utilizaram uma solução aquosa de frutose de 6 e
30% em massa com o fosfato de vanádio (VOP) como catalisador. Eles
obtiveram um rendimento de 40,2% e 32,9% em HMF, respectivamente. Ao
modificarem o sistema reacional por uma solução de frutose de 40% em massa
e um catalisador VOP contendo íons Fe+3 em 30 minutos, observou-se um
rendimento em HMF de 50,4% e uma seletividade 87,3% em HMF. Para os
autores, esses catalisadores apresentam sítios ácidos de Lewis e Brönsted, o
que aumentam a força ácida e permitem melhorar a reação de conversão da
frutose em HMF.[62]

Para tentar diminuir as reações secundárias novos sistemas catalíticos


em meio aquoso foram testados. Por exemplo, Hansen et al. estudaram a
conversão da frutose e glicose em HMF em meio aquoso. Como catalisador, o
ácido bórico foi usado por apresentar propriedades de ácido de Lewis fraco.

21
Este ácido foi usado na presença de NaCl e MIBC (metilisobutilcetona) como
solvente de extração. Os autores reportam que a conversão da frutose
mostrou-se mais ativa na formação do HMF com um rendimento de 60%,
contra 14% a partir da glicose. Com isso, Hansen et al. puderam confirmar a
dificuldade de formação do HMF em sistemas aquosos.[63]

Em sistemas aquosos, Nakajima et al. relataram que o ácido nióbico


(Nb2O5.nH2O) é um ácido Lewis eficiente capaz de converter a glicose em
HMF. Em quantidades elevadas desse ácido a etapa de isomerização da
glicose em frutose é eficaz e a formação do HMF ocorre sob a influência do
ácido de Lewis. Os rendimentos em HMF foram de 20-25%, usando
quantidades equivalentes de glicose e Nb2O5. Modificando o ácido nióbico com
ácido fosfórico, os autores observaram um aumento no rendimento em HMF a
partir da glicose para 30-36%, mas utilizando quantidades equivalentes de
catalisador e glicose.[64]

Outro trabalho realizado em meio aquoso utilizando nanotubos de


titânio como catalisador foi estudado por Kitano et al. na formação de HMF, a
120 °C. Nesse meio reacional, o catalisador promoveu a conversão da frutose
e glicose em HMF com rendimentos de 16% e 14%, respectivamente. Os
autores explicam a formação do HMF devido à presença de uma acidez de
Lewis associada aos sítios de Brönsted sobre a superfície dos nanotubos de
titânio.[65]

Sabendo a importância que catalisadores com propriedades ácidas


apresentam nos processos de produção do HMF, Souza et al. salientam que o
papel dos sítios ácidos de Lewis, não é somente de isomerizar glicose em
frutose, mas também de atuar na desidratação da frutose.[66]

No mesmo contexto, estudos destacam que os ácidos inorgânicos


(ácidos Brönsted) também são importantes nos processos de conversão de
açúcares em HMF. Em um deles, Dumesic et al. testaram a síntese do HMF
utilizando catalisadores ácidos inorgânicos (H2SO4, HCl e H3PO4) para manter
o pH = 1,5 durante a reação em um sistema reacional composto por uma fase
aquosa (água:DMSO, 5:5 em massa) e uma fase orgânica de extração do HMF
(MIBC:2-butanol, 7:3 em massa). Ao utilizar uma solução aquosa de glicose
como substrato (10% em massa) os resultados de conversão do açúcar e de
22
seletividade em HMF foram diferentes para cada catalisador testado. Com o
H2SO4, 48% da glicose foi convertida para formar e formou o HMF com 36% de
seletividade. O HCl e o H3PO4 permitem obter uma seletividade em HMF de
41% e 48% e uma conversão de 47% e 36%, respectivamente.[67]

Resultados superiores foram encontrados ao utilizar a frutose como


material de partida em solução aquosa (30% em massa). Usando o H2SO4
obteve-se 66% de seletividade em HMF, com o H3PO4 65% e com o HCl 73%
de seletividade em HMF. As conversões alcançadas pelos sistemas reacionais
utilizados foram de 65% para o H3PO4, 75% para o HCl e 80% para o H2SO4.[67]

Por outro lado, Souza et al. estudaram a desidratação da frutose em


sistema aquoso usando ácidos orgânicos como catalisador, 20% em peso de
ácido acético ou fórmico. No caso desses dois últimos, observou-se que a
presença de água no meio reacional é essencial, uma vez que, foi observada
uma redução drástica dos rendimentos em HMF (43-53%) quando foram
utilizados puros. Esse resultado é relacionado à forte acidez do meio reacional.
Utilizando o ácido láctico, o melhor resultado foi obtido em uma solução de
50% em peso deste ácido, formando o HMF com 64% de rendimento. Esses
resultados mostram que os ácidos carboxílicos, que são ácidos fracos,
possuem acidez necessária para converter frutose de forma eficiente em
HMF.[66]

Uma alternativa para dificultar a decomposição do HMF e a sua


reidratação em sistemas aquosos pode ser obtida através da utilização de uma
mistura de solvente orgânico (acetona, 2-butano e éter etílico) com água no
sistema reacional. Segundo Gomes et al., a mistura de água/solvente orgânico
permitiu um aumento no rendimento em HMF para 50-60% (relação de volume
entre os solventes 1:1), enquanto em meio aquoso e sem a utilização de
solvente, o rendimento em HMF foi de apenas 34%. A conversão de frutose foi
quase 100% em todas as reações empregando a mistura dos dois solventes ou
somente água e o H3PO4 como catalisador.[68]

Nessa mesma linha de raciocínio, outros sistemas reacionais puderam


ser otimizados adicionando à fase aquosa o solvente dimetilsulfóxido (DMSO)
ou 1-metil-2-pirrolidinona (NMP), conseguindo bons rendimentos em HMF a
partir de uma solução 20% de frutose (em massa). Chheda et al. observaram
23
que o HMF pode ser produzido com uma boa seletividade partindo do
polissacarídeo constituído por unidades monoméricas frutose, a inulina, e
utilizando um sistema de reator bifásico. Como resultado, 81% de seletividade
em HMF foi obtido a partir da desidratação da frutose, proveniente da inulina, e
catalisada por resina trocadora de íons modificada a 90 ºC. Esse processo foi
realizado utilizando um sistema bifásico em que a fase aquosa foi modificada
por DMSO e que o MIBC foi utilizado como solvente extrator do HMF.[69]

Modificando a fase aquosa com NMP, Chheda et al. obtiveram o HMF


com 85% de seletividade. Entretanto, a utilização do NMP ao invés de DMSO,
dificultou o processo de separação do HMF. Em outro teste realizado na
ausência de catalisador, utilizando na fase aquosa o DMSO e diclorometano
(DCM) como solvente de extração a 90 ºC, uma seletividade em HMF de 77%
foi alcançada, indicando que os dissacarídeos podem ser processados usando
um sistema bifásico, eliminando uma etapa de processamento de hidrólise.[69]

Outro estudo realizado por Mendonça et al. relata a produção de HMF


a partir da glicose em um sistema água:acetona (relação de volume de 1:2)
saturado com cloreto de sódio (NaCl), usando ácido H3PO4 como catalisador.
Esses autores utilizaram o NaCl, pois é relatado que em sistemas aquosos,
alguns trabalhos utilizam NaCl com o intuito de facilitar a partição do HMF na
fase extratora, favorecendo o aumento do rendimento em HMF sem o uso de
solventes com alto ponto de ebulição. Rendimentos de mais de 50% em HMF
foram obtidos quando utilizaram 0,8% de catalisador (em massa) a 200 °C
durante 8,4 minutos. A maioria dos estudos utilizou uma solução diluída de
glicose, resultando em baixas concentrações de produto, aumentando o custo
da separação e purificação.[70,71]

Para minimizar a formação de reações secundárias, Roman-Leshkov et


al. utilizaram, para a desidratação da frutose em HMF, um sistema bifásico
constituído por DMSO, poli(1-vinil-2-pirrolidinona) (PVP), frutose (10% em
massa) e HCl (catalisador) na fase aquosa e MIBC modificada com 2-butanol
na fase orgânica para aumentar a extração do HMF da solução aquosa, em
que ocorre a formação do HMF. Neste processo, o HMF foi extraído
continuamente para a fase orgânica resultando em 80% de seletividade em
HMF e uma conversão de 90%.[72]

24
Outra classe de catalisadores está sendo explorada na produção de
HMF, as zeólitas. Estes catalisadores estão sendo utilizados nos processos de
conversão de açúcares devido às suas propriedades ácidas ou básicas, por
apresentarem estabilidade em soluções aquosas ou em solventes orgânicos e
por resistirem altas temperaturas reacionais (10-200 ºC).[73]

Um exemplo disso, é o estudo de Lourvanij et al. que empregou como


catalisador a zeólita Y na sua forma protonada (HY), sendo assim um sólido
ácido, para produzir o HMF de forma seletiva a partir da conversão da glicose.
Eles utilizaram uma solução aquosa (12% em massa de açúcar) com zeólita
HY, variando a temperatura 110-160 ºC, a concentração do catalisador e o
tempo de reação. Com esse sistema foi possível observar que a conversão da
glicose é maior e mais rápida quando submetida a maiores temperaturas. A
conversão da glicose a 130 ºC foi de 80% após 24 horas e total para a
temperatura de 160 ºC após 8 horas de reação. Porém, este sistema reacional
não se mostrou eficiente na formação do HMF, pois a seletividade em HMF foi
de aproximadamente 10%.[73]

Outro estudo de conversão da glicose empregando zeólita Fe/HY como


catalisador foi investigado por Ramli et al. para produzir o HMF e o ácido
levulínico (AL). Assim como no estudo desenvolvido por Lourvanij et al., o
sistema catalítico não favoreceu a formação de HMF (11,4% de rendimento
após 240 min a 120 ºC), mas mostrou-se eficiente na produção de AL com 66%
de rendimento (100% de conversão a 180 ºC). Nesse sistema catalítico, Ramli
et al. sugerem que a formação do HMF foi favorecida a baixas temperaturas
com o tempo de reação prolongado ou a altas temperaturas com o tempo
reacional menor. No entanto, sob altas temperaturas (200 ºC) o HMF foi
formado com baixa seletividade devido à provável produção de compostos
húmicos, um dos maiores "vilões" nos processos de síntese do HMF.[74]

O HMF também pode ser obtido através de sistemas reacionais em


condições subcrítica e supercrítica. Um exemplo disso, é o estudo realizado por
Bicker et al. em que utilizaram uma mistura de acetona-água (90:10) subcrítica
e supercrítica em presença de H2SO4 no sistema reacional. Com esse trabalho,
verificaram que a produção do HMF se mostrou efetiva nessa mistura com a
seletividade máxima a partir da frutose de 75%, a 180 ºC e 20 MPa. Além

25
disso, esse estudo mostrou que a pressão não influenciou os valores de
seletividade em HMF e de conversão do açúcar.[75]

Comparativamente, diferentes meios reacionais foram estudados por


Esmaeili et al. na síntese do HMF, tais como: ultrassom, radiação de micro-
ondas e aquecimento convencional. A reação em que se utilizou ultrassom
levou ao rendimento de 53% e à seletividade de 72%, após 12 minutos,
enquanto que no método de aquecimento convencional (80 ºC) (com MIBC
como solvente) foram necessárias 2 horas para dar um rendimento de 57%
(seletividade de 81%). Modificando o meio reacional por água-MIBC houve um
aumento do rendimento (87%) e da seletividade (92%). Nas reações
submetidas à radiações micro-ondas foi possível obter o HMF após 80
segundos. Contudo, essa reação fortemente acelerada conduziu um baixo
rendimento em HMF (38%).[76]

Outro trabalho realizado por De et al. que também usaram radiações


micro-ondas em meio aquoso com o AlCl3 como catalisador, relata a formação
de HMF através da conversão de diferentes açúcares (frutose, glicose e
sacarose) e polissacarídeos (inulina e amido) com baixos rendimentos (53,9% -
21,1%), a 120 ºC após 5 minutos. Um baixo rendimento em HMF também foi
observado quando foi empregado DMSO para a reação de conversão de
frutose, glicose, sacarose, inulina e amido. Os rendimentos em HMF a partir do
amido e inulina foram comparativamente mais baixos do que os obtidos a partir
da frutose e glicose. No entanto, os autores consideram que a síntese direta do
HMF a partir do amido e da inulina é certamente uma rota alternativa
promissora para a produção de HMF, pois segundo De et al., o catalisador
AlCl3 mostrou-se eficaz para converter os polissacarídeos testados (amido e
inulina) em HMF, em meio aquoso, sob radiações micro-ondas com rendimento
máximo de 32,5%.[77]

Ainda, utilizando radiações micro-ondas, Qi et al. conseguiram um


resultado semelhante aos relatados por De et al. em relação à conversão da
frutose, utilizando H2SO4 como catalisador e uma mistura 7:3 (em massa) de
acetona/DMSO como solvente. A conversão desse açúcar foi de 97,3% com
um rendimento em HMF de 47%. Ao modificar o substrato para glicose e
empregando TiO2 como catalisador, a conversão foi de 50% e o rendimento

26
não excedeu 8%. Comparativamente, Qi et al. concluem que a utilização de
radiações micro-ondas apresentaram resultados superiores em termos de
rendimentos e conversões aos realizados no sistema de aquecimento
convencional nas mesmas condições.[78]

Hansen et al. complementam que rendimentos relacionados ao HMF,


sob radiações micro-ondas, independem da potência aplicada durante o
processo e que o uso de baixas concentrações do material de partida
(açúcares) minimiza a produção de polímeros insolúveis. O maior rendimento
alcançado por eles (53%) acompanhado de uma alta conversão (95%) com um
sistema catalítico ácido homogêneo (HCl) foi com concentrações iniciais
maiores da solução aquosa de frutose (27% em massa).[79]

A seguir, outros exemplos de produção de HMF empregando líquidos


iônicos são apresentados de forma detalhada.

3.3.1.1. Utilização de líquidos iônicos na síntese do HMF

A utilização de líquidos iônicos (LIs) tem atraído interesses em


diferentes áreas, em particular, por ser considerado uma alternativa ambiental
quando os LIs são empregados como substituinte de solventes orgânicos
voláteis.[80,81]

Os LIs são sais iônicos que geralmente apresentam baixo ponto de


fusão (<100 ºC), considerados solventes tecnológicos avançados que podem
ser desenvolvidos para atender a uma aplicação específica através da
modificação da natureza do ânion e/ou cátion. LIs oferecerem propriedades
químicas e físicas muito atraentes (viscosidade, densidade, solubilidade), mas
é sua pressão de vapor desprezível que tem atraído, principalmente, a atenção
de muitos pesquisadores. As suas propriedades físico-químicas, imiscibilidade
ou miscibilidade com água e seu caráter ácido ou básico podem ser ajustados
alterando a combinação dos seus cátions e ânions. Diversos estudos
industriais e acadêmicos utilizam LIs com o intuito de reformular processos
químicos para reduzir ou eliminar as perdas e/ou uso de solventes
orgânicos.[82,83]

27
A miscibilidade dos LIs em água está relacionada à sua natureza,
sendo alguns totalmente solúveis em água, enquanto que outros apresentam
uma miscibilidade altamente reduzida e são praticamente imiscíveis. O ânion é
utilizado para controlar a miscibilidade de água e o cátion pode também
influenciar a capacidade de ligação de hidrogênio ou a hidrofobicidade. A
maioria dos LIs possuem alguma quantidade de água dissolvida que pode ser
proveniente do processo de preparação ou purificação. Grande quantidade de
água, proveniente de umidade ou misturas, pode ser detectada através da
espectroscopia de RMN 1H e pequena quantidade de água (quantidade na
ordem de ppm) por titulação coulométrica Karl-Fischer.[84,85]

Além de reduzir perdas por evaporação, a substituição da utilização de


um processo que empregue solvente orgânico volátil por um processo com
solvente não volátil é importante, pois os LIs são produtos químicos que podem
ser aplicados como solventes e catalisadores em processos de química verde.
[82,83]

Tendo em vista a forte dependência de solventes orgânicos nos


processos industriais atuais, o desenvolvimento de novas tecnologias para a
prevenção da poluição pode ajudar na redução da utilização de solventes
orgânicos, diminuindo as preocupações ambientais e de saúde dos
trabalhadores que estão em constante exposição.[84]

Durante a última década, os LIs tem sido utilizados como meios de


reação ou catalisadores para a conversão de carboidratos em HMF. De acordo
com Li et al., a maior dificuldade em usar LIs na conversão de açúcares está
associada à dificuldade de encontrar um solvente ou um método de extração
do HMF eficiente do meio reacional, sendo considerado um dos maiores
problemas na utilização do LI. Ao mesmo tempo, Li et al. relatam que a
utilização de diferentes classes de LIs são eficientes para a conversão de
açúcares em HMF.[86]

Dentre os LIs, o C4MI.Cl destaca-se por ser empregado em diversos


estudos relacionados à obtenção do HMF. A Tabela 3.3 apresenta alguns
exemplos de sistemas reacionais para os quais C4MI.Cl foi utilizado produzir o
HMF.

28
Tabela 3.3: Sistemas reacionais para obtenção do HMF empregando o
LI C4MI.Cl.

Solvente (a)
Condições
Açúcar e/ou Rend.HMF (%) Ref.
reacionais
catalisador (b)

(1) Sacarose (1) 100 ºC; 30 min (1) 55,4%


(2) Glicose GeCl4 (b) (2) 100 ºC; 75 min (2) 38,4% 54
(3) Frutose (3) 100 ºC; 5 min (3) 92,1%

(1) radiações micro-


ondas (400 W), 1 (1) 91%
(1) Glicose
CrCl3 (b) min (2) 62% 87
(2) Celulose
(2) radiações micro-
ondas (400W); 2 min

(1) Frutose (1) 85%


(2) Glicose H2SO4 (b) 120 ºC; 4 horas (2) não formou 88
(3) Manose (3) não formou

* 80 ºC; 10 min * 82,1%


Frutose Amberlyst 15 (b) 89
** 120 ºC; 1 min ** 82%

Glicose H-ZSM-5 (b) 110 ºC; 8 horas 45% 90

Frutose HCl (b) 80 ºC; 8 min 97% 91

THF (extração) (a)


Frutose 50 ºC; 6 horas 65% 92
Ipr-WCl6 (b)

CO2 (extração) (a) 100 ºC; 3 horas; 20


Glicose 62% 93
CrCl2 (b) MPa

Como apresentado na Tabela 3.3, reações conduzidas com LIs à base


de imidazólio na presença de CrCl3 sob radiações micro-ondas (rendimentos
entre 60-90%) mostraram-se eficientes na produção do HMF a partir da glicose
e celulose.[87] Porém, Jadhav et al. destacaram que a utilização do sal de
cromo é prejudicial ao meio ambiente e pode ser substituído por uma zeólita
(H-ZSM-5), levando a um rendimento de 45% em HMF.[90]

29
Apesar dos LIs à base de imidazólio dissolverem facilmente sais e
carboidratos estes apresentam como desvantagem, até o momento, a alta
toxicidade e custo elevado. Porém, não significa que todos os LIs possuam
esta característica. Assim, Jadhav et al. substituíram o solvente C4MI.Cl por um
solvente atóxico, o cloreto de tetrabutilamônio (TBAC), e obtiveram um
aumento do rendimento em HMF até 56% comparando-se ao processo para
qual foi utilizado o C4MI.Cl [90]

Com isso, sabendo o potencial que os LIs oferecem em diversos


sistemas reacionais, outros LIs também foram estudados visando a formação
de HMF. Por exemplo, foi avaliado por Mamo et al. a conversão da glicose em
HMF utilizando zeólitas mordenitas modificadas para gerar sítios ácidos de
Brönsted ou de Lewis, em dois meios diferentes: um com o LI brometo de 1-
butil-3-metilimidazólio (C4MI.Br) e um sistema bifásico composto por água,
acetona e acetato de etila. Para o sistema composto por C 4MI.Br, os melhores
resultados foram obtidos com a modernita (razão Si/Al moderado de 11,2) com
teor elevado de sítios ácidos de Brönsted: 64% de rendimento em HMF e uma
conversão da glicose de 97%. Para o sistema bifásico, o maior rendimento em
HMF foi obtido utilizando a mordenita contendo sítios ácidos de Lewis: 50% de
rendimento em HMF com a conversão de 98%. Conforme relatado pelos
autores, a diferença de resultados relacionada aos sistemas reacionais pode
estar associada a uma absorção rápida e uma forte interação do líquido iônico
com a zeólita, dificultando a formação dos produtos e aumentando a atividade
catalítica quando a reação foi realizada com o LI.[94]

Li et al. utilizaram como solvente e catalisador LIs derivados de L-


prolina (à base de aminoácidos). Como resultado, obtiveram para a
transformação de frutose e sacarose em HMF em presença de água, um
rendimento máximo de 73,6% em HMF a partir da frutose, a 90 °C após 50
minutos. Ao modificarem o material de partida pela sacarose, observaram uma
diminuição no rendimento em HMF para 40% após 180 minutos a 90 ºC. Nesse
estudo, a escolha da L-prolina foi associada ao fato de apresentar um centro
quiral que exibe excelente enantiosseletividade em vários tipos de reações
assimétricas.[86]

30
Partindo do conhecimento relacionado ao caráter hidrofílico e
hidrofóbico que um LI apresenta, Lansalot-Matras et al. testaram a conversão
da frutose utilizando o LI hidrofílico tetrafluoroborato de 1-butil-3-metilimidazólio
(C4MI.BF4) e o LI hidrofóbico hexafluorofosfato de 1-butil-3-metilimidazólio
(C4MI.PF6) catalisada pela resina trocadora de íons Amberlyst 15. No estudo
realizado com C4MI.BF4 um rendimento de até 50% em HMF foi obtido após 3
horas. Quando a reação foi realizada com o C4MI.PF6, o DMSO foi utilizado
como um co-solvente com o intuito de solubilizar frutose no líquido iônico
hidrofóbico. Sob estas condições, esse LI permitiu que a reação funcionasse
mais rapidamente do que só em DMSO. Os rendimentos em HMF foram de
aproximadamente 80% após 24 horas.[95]

Outro trabalho realizado por Li et al. para o qual o C4MI.BF4 e C4MI.PF6


também foram empregados, indicou que esses LIs apresentaram baixa
capacidade de converter a frutose quando foi utilizado o HCl como catalisador,
formando o HMF com menos de 10%. Segundo Li et al., essa diferença no
comportamento reacional ocorreu, provavelmente, porque os ânions PF6- e
BF4- são considerados menos eficientes do que ânions haletos no
fornecimento de uma rede de ligações de hidrogênio no processo de
desidratação na presença do catalisador HCl.[91]

Por outro lado, conhecendo o efeito favorável exercido pelos líquidos


iônicos à base de cloreto de imidazólio em dissolver carboidratos, os
pesquisadores utilizaram misturas binárias de cloreto de 1-butil-3-
+
metilimidazólio (BMI.Cl) com líquidos iônicos à base de C4MI que diferem no
tamanho, forma e capacidade de coordenação do ânion, tais como, C 4MI.BF4,
C4MI.N(CF3SO2)2, C4MI.N(CN)2, C4IM.SbF6 e C4MI.CF3SO3. A utilização de
misturas binárias de LIs na conversão da glicose, frutose e sacarose foi
estudada por D’Anna et al. com resina trocadora de íons Amberlyst 15
(catalisador) e ativação por ultrassom. Primeiramente, realizaram as reações
nas diferentes misturas binárias e na ausência de catalisador. Em todos os
casos não houve formação de HMF. Nos testes realizados com as misturas
binárias (Fração molarCl= 0,5) e catalisador, observaram que o rendimento em
HMF diminuiu de acordo com a seguinte evolução: C4MI.BF4 > C4MI.N(CN)2 >
C4MI.N(CF3SO2)2 > C4IM.SbF6 > C4MI.CF3SO3. Também, observaram que a

31
capacidade de coordenação de ânions favoreceu a dissolução dos carboidratos
nos LIs, mas essa capacidade não foi o único fator determinante para obtenção
do HMF e que o comportamento das misturas binárias não pode ser
relacionado às propriedades dos LIs componentes puros.[96]

Em relação aos resultados de HMF para esse mesmo estudo realizado


por D’Anna et al., os melhores rendimentos foram obtidos utilizando
C4MI.Cl/C4MI.BF4: 56% após 3 horas a 25 ºC para frutose e 32% após 2 horas
a 25 ºC para a glicose. O maior rendimento em HMF a partir da sacarose (34%)
pode ser obtido somente após 2 horas a 90 ºC. Ao mesmo tempo, os
pesquisadores destacaram que o aumento da quantidade de catalisador e da
diluição da mistura de reação resultou em um rendimento mais baixo, indicando
que maiores quantidades de catalisador podem afetar negativamente a reação
favorecendo a hidratação e policondensação do HMF. Por outro lado, um
aumento da quantidade de açúcar inicial pode causar reações secundárias
entre o açúcar e HMF, formando polímeros mistos, tais como, os compostos
húmicos.[96]

Comumente, com a utilização da glicose e manose, açúcares


constituídos por 6 carbonos (aldoses), o principal produto formado não é o
HMF, mesmo com a conversão completa do açúcar, confirmando que a
transformação de cetoses (frutose) é mais rápida e eficiente na produção do
HMF.[88] Qi et al. justificam esse baixo rendimento obtido a partir de aldoses
pelas prováveis reações paralelas do HMF formado com esse monossacarídeo
ou com os produtos de degradação desse monossacarídeo.[97]

Uma maneira distinta de aplicação dos LIs é utilizá-lo como catalisador,


pois, segundo Wagh et al., os LIs apresentam capacidade suficiente para evitar
os intermediários da reação. Além disso, as cadeias laterais presentes nos
cátions dos LIs podem atuar como sítios ligantes entre os reagentes e produtos
intermediários, aumentando assim, a velocidade de reação.[98]

Recentemente, Qu et al. descreveram o uso de LIs como catalisador e


o DMSO como solvente no processo de obtenção do HMF através da
conversão dos dissacarídeos sacarose e celobiose. Entre os LIs testados o
tetrafluoroborato de 1-hidroxietil-3-metilimidazólio (AEMI.BF4) foi o que
apresentou a maior atividade catalítica e rendimento de 68,7% em HMF a partir
32
da sacarose após 6 horas a 160 ºC. Modificando o material de partida para a
celobiose e mantendo as condições reacionais, o rendimento em HMF foi de
24,7%. Nesse estudo, os autores consideram que o HMF exibiu boa
estabilidade neste meio reacional, dificultando a sua decomposição.[99]

Outro sistema catalítico constituído por cloreto de 1-carboximetil-3-


metilimidazólio (HO2CMMI.Cl) (LI ácido de Brönsted) como catalisador e
isopropanol como solvente mostrou ser eficaz para a obtenção de HMF a partir
da desidratação da frutose. A solubilidade de HO2CMMI.Cl em isopropanol
mostrou-se dependente da temperatura, sendo miscível com isopropanol em
temperatura acima de 80 °C. Variando a temperatura de 80 a 110 ºC, tanto a
conversão da frutose quanto o rendimento em HMF aumentaram, atingindo
100% e 90,8%, respectivamente, a 110 ºC. O aumento da temperatura para
120 ºC ocasionou uma diminuição do rendimento para 71%. Ma et al.
destacaram que com o aumento da temperatura reacional a desidratação da
frutose foi acelerada e que temperaturas reacionais elevadas direcionam às
reações secundárias, tais como, a polimerização e reidratação do HMF. A
grande vantagem deste método é que o LI precipitou com o resfriamento da
reação, facilitando a separação e reutilização do mesmo.[100]

Tao et al. utilizaram o LI ácido funcionalizado por grupamentos SO3H-


como catalisador na conversão direta da glicose em sistema bifásico formado
por água e 4-metil-2-pentanona. A conversão de glicose obtida foi alta (97,4%)
com um rendimento em HMF de 75,1% a 120 ºC após 360 minutos e, também,
foram identificadas pequenas quantidades de ácido levulínico (LA) e ácido
fórmico (AF). A acidez da solução apresentou um grande efeito sobre a
conversão da glicose e a formação do HMF, pois os resultados mostraram que
uma forte acidez conduziu a uma maior atividade catalítica. Os autores
destacaram que a concentração do catalisador e a quantidade inicial de glicose
também desempenharam papéis importantes na reação.[101]

Outro grupo de LIs, os líquidos iônicos funcionalizados (LIFs), foi


investigado como catalisador na conversão da glicose em HMF e AL por Ramli
et al. Foram testados três tipos de LIFs, o tetracloroferrato de 1-butil-3-
metilimidazólio (BMI.FeCl4), o cloreto de 1-ácidosulfônico-3-metilimidazólio
(SMI.Cl) e o tetracloroferrato de 1-ácidosulfônico-3-metilimidazólio (SMI.FeCl4).

33
Os LIFs mostraram-se eficientes para a conversão de glicose devido ao grande
número de sítios ácidos envolvidos em todas as etapas de reação, incluindo a
isomerização e a etapa de desidratação/reidratação. A conversão da glicose foi
completa utilizando SMI.FeCl4 e BMI.FeCl4 sugerindo que os sítios ácidos de
Lewis a partir FeCl4- favoreceram a conversão de glicose através da reação de
isomerização. O SMI.Cl exibiu uma fraca atividade devido à ausência de sítios
ácido de Lewis, sendo atribuída a conversão da glicose pelos sítios de ácido de
Brönsted. Esse estudo confirma que os ácidos de Lewis apresentam melhor
atividade na reação de isomerização da glicose do que os ácidos de Brönsted.
Entre os LIFs o que apresentou melhor atividade catalítica foi o SMI.FeCl 4 com
18% e 68% de rendimento em HMF e AL, respectivamente, após 4 horas à 150
ºC.[102]

Utilizando um LI como solvente e como catalisador, Moreau et al.


estudaram a conversão da frutose e da sacarose em HMF, empregando o LI
cloreto de 1-H-3-metilimidazólio (HMIM.Cl) como solvente e catalisador.
Rendimentos elevados em HMF (~90%) foram obtidos sob temperatura (90 ºC)
e tempo reacional (45 minutos) relativamente baixos, partindo da frutose. Na
conversão da sacarose foi observada uma rápida clivagem em glicose e
frutose, entretanto, metade da glicose não reagiu. A decomposição do HMF
não foi observada e a sua fácil extração do LI foi feita com éter etílico,
permitindo assim, a reciclagem do LI. A dificuldade de decomposição está
associada à baixa energia de ativação calculada na presença deste LI.[103]

Outro estudo desenvolvido por Qi et al. descreve a síntese do HMF a


partir da inulina, em duas etapas sob condições suaves. Na primeira etapa, a
inulina foi convertida em frutose com 84% de rendimento após 5 minutos
usando hidrogênio sulfato de 1-butil-3-metilimidazólio (C4MI.HSO4) como
solvente e catalisador, enquanto na segunda etapa a frutose foi convertida em
HMF. Nesta última etapa, o C4MI.Cl juntamente com a resina ácida trocadora
de íons foram adicionados à mistura para converter seletivamente a frutose em
HMF, dando um rendimento em HMF de 82% após 65 minutos a 80 °C, sendo
considerado um dos melhores rendimentos em HMF relatado para inulina. Os
autores propuseram que o C4MI.Cl favorece a formação do enol que é um

34
passo intermediário importante para a formação de HMF, conforme mostrado
na Figura 3.15.[104]

Além de atuar como solvente e como catalisador, os LIs podem ser


utilizados como co-catalisador. No trabalho desenvolvido por Yang et al. o
efeito de diferentes LIs na produção do HMF a partir de glicose foi estudado
utilizando como solvente o dimetilacetamida (DMA) e AlCl3 como catalisador.
Os LIs utilizados neste trabalho como co-catalisador incluíram o sulfato de
hidrogênio de N-metil-2-pirrolidona (NMP.HSO4), o sulfato de metila de N-metil-
2-pirrolidona (NMP.CH3SO3), o cloreto de N-metil-2-pirrolidona (NMP.Cl) e o
brometo de N-metil-2-pirrolidona (NMP.Br). A partir desse estudo, foi possível
observar a formação da frutose, proveniente da isomerização da glicose, e
outros subprodutos com o NMP.HSO4. Nem a glicose e nem a frutose foram
convertidas em HMF de forma eficiente com o NMP.CH3SO3. O co-catalisador
NMP.Br foi o que favoreceu a obtenção da maior seletividade em HMF a partir
de frutose quando comparado ao NMP.Cl e AlCl3. Esse resultado pode ser
devido à preferência que os íons Al+3 apresentam em se combinar aos íons Br-,
o que facilita a isomerização da glicose em frutose em função da diminuição da
barreira de energia livre global. Assim, um rendimento em HMF de 57% foi
obtido a partir da glicose catalisada por AlCl3 interagindo com o NMP.Br.[105]

Baseando-se nos estudos descritos anteriormente, a utilização dos LIs


hidrofóbicos pode ser considerada uma ótima alternativa, pois apresentam um
ótimo potencial na produção do HMF e evitariam a utilização de solvente
orgânico na etapa de extração do HMF no meio reacional.

A obtenção de compostos furânicos a partir da biomassa e o emprego


de um meio reacional à base de LI corresponde uma rota a ser destacada para
a síntese de monômeros, esses empregados para a produção de materiais
poliméricos. Com isso, esses exemplos citados podem ser considerados
importantes no desenvolvimento de novos materiais a partir da conversão de
fontes renováveis.

35
3.3.2. Reações de Reidratação e Degradação do HMF

Durante o processo de conversão de hexoses e pentoses em HMF


pode ocorrer uma sequência de reações paralelas. Entre elas, na presença de
duas moléculas de água, o HMF pode sofrer uma reidratação, formando assim,
o ácido fórmico (AF) e o ácido levulínico (AL). De acordo com Horvat et al., a
formação desses ácidos é resultado da adição de duas moléculas de água,
respectivamente, aos C(4) e do C(5) do anel furânico, gerando uma sequência
de intermediários que levam ao AF e AL, conforme mostrado na Figura
3.16.[12,106]

Figura 3.16: Esquema de reidratação do HMF (adaptada a partir da


referência[106]).

O AL e o AF podem ser preparados a partir da frutose ou do HMF,


contudo outros carboidratos de partida também podem ser empregados como,
a inulina, a celulose e o amido, esses convertidos por processos de catálise
ácida. A produção destes ácidos é considerada uma das principais aplicações
da frutose fora do contexto alimentar.[34]

Por outro lado, através da conversão de açúcares catalisada por


ácidos, reações de polimerização cruzada podem ocorrer em todo o processo
reacional, conduzindo à produção de polímeros solúveis e insolúveis.[12,107]

36
Os compostos húmicos, também conhecidos por huminas, são
compostos carbonáceos com morfologia heterogênea (presença de cristais e
áreas porosas) e considerados materiais polidispersos com estrutura molecular
desconhecida. Os compostos húmicos são formados durante o tratamento
hidrotérmico de açúcares em condições ácidas para a produção de HMF, FF
(furfural) e AL.[107,108]

Até o momento, os compostos húmicos foram muito pouco estudados,


no que diz respeito ao mecanismo de sua formação e a sua estrutura
molecular. Alguns estudos sugerem que esses compostos são formados por
polímeros constituídos por anéis furânicos e que as suas estruturas dependem
das condições reacionais, tais como, a estrutura da matéria-prima,
concentrações de reagentes, temperatura e tempo de reação. Hoje o que mais
se sabe a respeito destes compostos é que correspondem a materiais obtidos
por carbonização hidrotermal (HTC) preparados a partir de carboidratos ou
biomassa.[107,108]

De acordo com Sumerskii et al. os compostos húmicos são constituídos


de anéis furânicos (60%) ligados a éter (20%) ou a ligantes acetal alifáticos
formados através de processos de policondensação.[109] Lund et al. sugerem
que estes compostos são formados a partir de 2,5-dioxo-6-hidroxiexanal
(DHH), provenientes da reidratação do HMF, o qual sofre uma condensação
aldólica com o grupo carbonila presente no HMF, conforme mostrado na Figura
3.17. Esses autores destacam também que o AL não está relacionado à
formação de huminas e que a incorporação do HMF depende da grande
quantidade deste durante a conversão dos açúcares por catálise ácida, não
podendo se formar a partir dos açúcares.[110,111]

Por outro lado, a composição das huminas apresentada por van


Zandvoort et al. é resultado de reações de condensação entre açúcares, HMF
e intermediários, durante o processo de desidratação de carboidratos. Estas
reações de condensação ocorrem através das ligações na posição α ou através
de substituições na posição β do HMF via ataque nucleofílico. Além do mais, os
pesquisadores citados anteriormente concordam com o que Lund et al.
sugeriram em relação ao AL: esse ácido não é incorporado nas huminas, ainda

37
que seja possível a condensação aldólica do HMF com o grupo cetona do
AL.[108,112]

Figura 3.17: Esquema de conversão do HMF em compostos húmicos


(adaptada a partir da referência[111]).

Contudo, é interessante os cientistas focarem em mais pesquisas


sobre a estrutura molecular dos compostos húmicos, podendo assim, contribuir
para o desenvolvimento de rotas sintéticas e para a sua valorização química.

3.3.3. Métodos de Extração do HMF

De acordo com os diversos trabalhos relatados anteriormente, a


produção do HMF pode ser realizada em diferentes meios reacionais, tais
como, aquosos, não aquosos e bifásicos. Contudo, independentemente do
meio reacional escolhido pelos grupos de pesquisas na produção do HMF, é de
grande importância avaliar e desenvolver métodos de extração do HMF para
que este possa ser utilizado em processos industriais.

Entre os métodos estudados para produção e extração do HMF, a


escolha pela utilização de sistemas aquosos, não aquosos ou bifásicos pode
empregar o uso de solventes orgânicos ou de líquidos iônicos. Como exemplo,
os solventes orgânicos e os LIs mais utilizados na síntese do HMF são: DCM,
acetona, DMSO, acetato de etila, MIBC, THF, dimetilformamida (DMF), n-
butanol e os LIs à base de cloretos de imidazólio.[12,67,69,72,80,92,93] Em alguns

38
casos, a utilização de solventes com alto ponto de ebulição como MIBC
(115ºC), DMF (153ºC) e DMSO (189ºC), dificulta a separação por destilação
sem que ocorra a decomposição do HMF.[12,113]

Tuercke et al. produziram o HMF utilizando DMSO e uma mistura


MIBC/2-butanol em um microrreator. Essa mistura MIBC/2-butanol permitiu a
formação de um sistema bifásico em contato com o DMSO que facilitou a
extração do HMF. Mesmo obtendo o HMF com 85% de seletividade, Tuercke et
al. destacaram que o uso de solventes orgânicos nesse processo é uma
desvantagem por serem nocivos ao meio ambiente e à saúde e por produzirem
resíduos adicionais. Do ponto de vista ambiental, é preferível que os processos
de conversão de açúcares em HMF sejam realizados em meio aquoso, o que
limita a formação do HMF e favorece a formação de produtos de reidratação e
compostos húmicos.[114]

Em outro estudo Chheda et al. converteram diferentes açúcares


usando sistemas com DCM ou MIBC/2-butanol como fase extratora do HMF e
uma outra fase aquosa contendo DMSO. A mistura MIBC/2-butanol mostrou-se
mais eficiente que o DCM na etapa de extração do HMF. Chheda et al.
observaram que o aumento da quantidade de DMSO na fase aquosa
ocasionou a diminuição do poder de extração do solvente orgânico. Outro
sistema testado em que conseguiram altas conversões e seletividades a partir
da frutose usava MIBC:2-butanol/água:DMSO. No entanto, os pesquisadores
destacaram que esse sistema é de difícil aplicação industrial devido à utilização
de quatro solventes no meio reacional. Nesse sistema empregando quatro
solventes, partindo da glicose, a seletividade em HMF foi de ~50% e a partir da
frutose a seletividade em HMF foi de ~90%. [115]

Roman-Leshkov et al. desenvolveram outro sistema bifásico para


produzir o HMF constituído por DMSO, PVP, frutose (10% em massa) e HCl
(catalisador) na fase aquosa e MIBC modificada com 2-butanol na fase
orgânica para aumentar a partição da solução aquosa reativa e facilitar a
extração do HMF. Com esse sistema reacional, além de dificultar a formação
de reações secundárias, foi possível isolar o HMF da fase orgânica resultando
em 80% de seletividade em HMF e uma conversão de 90%.[72]

39
A Figura 3.18 mostra o sistema reacional bifásico empregado por
Zhang et al. para produção do HMF constituído por THF–C4MI.Cl em que a
função do LI foi solubilizar a frutose e o catalisador utilizado (Ipr-WCl6). Nesse
sistema o HMF foi encontrado em ambas as fases (LI e THF), mas a maior
quantidade de HMF formado foi isolada da fase orgânica (THF). Como
vantagem, nesse processo, o THF pode ser reciclado e reutilizado após a
etapa de extração do HMF. Um rendimento de 65% em HMF foi obtido.[92]

Figura 3.18: Produção do HMF empregando sistema bifásico C4MI.Cl/THF


com simulação da etapa de evaporação do THF (adaptada a partir da
referência[92]).

Além de desenvolver métodos eficientes para a produção do HMF, é de


grande importância desenvolver métodos que reduzam os custos industriais
relacionados ao processo e aos resíduos. Também, é importante desenvolver
processos sustentáveis que não sejam tóxicos e nem poluidores do meio
ambiente. Seguindo essa linha de pensamento, um sistema ideal seria obter de
forma eficiente o HMF e fazer a sua extração do meio reacional utilizando a
água. Com isso, evitaria a utilização de solventes orgânicos e favoreceriam as
40
próximas etapas de transformação do HMF em produtos químicos de grande
importância para a indústria química. Nos próximos capítulos desse trabalho
será relatada uma proposta de método eficiente de produção de HMF com
importante âmbito de aplicação industrial, objeto desse estudo.

41
4. PARTE EXPERIMENTAL

Neste tópico serão descritas as metodologias utilizadas para a


síntese dos líquidos iônicos C4MI.Cl, C8MI.Cl, C10MI.Cl e C12MI.Cl, solúveis em
água, e C10MI.CF3SO3, insolúvel em água, a realização dos experimentos
referentes à conversão de glicose, frutose e sacarose e as análises dos
resultados desses experimentos.

4.1. PROCEDIMENTOS GERAIS

Todos os reagentes e os catalisadores foram obtidos de fontes


comerciais. Na Tabela 4.1 são apresentados dados sobre os reagentes,
catalisadores e solventes utilizados nos procedimentos experimentais.

42
Tabela 4.1: Reagentes, catalisadores e solventes utilizados na
preparação do líquido iônico e do HMF.

Pureza e/ou
Produto Origem
observações
1-metilimidazólio Aldrich ≥ 99%
1-clorobutano Aldrich ≥ 99,5%
1-cloro-octano Aldrich 99%
1-clorodecano Aldrich ≥ 98%
1-clorododecano Aldrich ≥ 97%
Acetate de etila Tedia Brazil Grau HPLC
Ácido trifluorometanesulfônico Aldrich 98%
Hidróxido de sódio Vetec 97%
Diclorometano Tedia Brazil Grau HPLC
Frutose Vetec ≥99%
Glicose Vetec ≥99%
Sacarose União ≥99%
HCl Vetec 37%
AlCl3 Aldrich ≥99%
Argônio Air Liquid ≥99%
HMF Fluka ≥99%

4.2. METODOLOGIA DE REAÇÃO

4.2.1. Síntese dos Líquidos Iônicos Utilizados

4.2.1.1. Síntese do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio

Em um balão de 1 L acoplado a um condensador de refluxo e agitação


magnética colocou-se 1,5 mol de 1-metilimidazol e 2 mol de 1-clorobutano
dissolvidos em 100 mL de acetonitrila, conforme representado na Figura 4.1.
Aqueceu-se o sistema com banho de óleo a 80 ºC durante 48 horas. Depois,
precipitou-se o C4MI.Cl com 300 mL de acetato de etila, sob agitação
magnética. Após a precipitação colocou-se o balão na geladeira durante 12-16
horas para completa precipitação do LI e, posteriormente, retirou-se o
sobrenadante com o auxílio de uma cânula. A secagem do sólido branco foi
realizada sob pressão reduzida por 30 horas para garantir a total retirada dos
solventes. Obteve-se 1,2 mol de C4MI.Cl com 80% de rendimento.[116]

43
Figura 4.1: Síntese do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio.

A análise de RMN de 1H apresentou os seguintes resultados: RMN 1H


(300 MHz, CDCl3): δ/ppm: 0,96 (t, 3H, J = 7,3 Hz), 1,37 (m, 2H), 4,14 (s, 3H),
4,34 (t, 2H, J = 7,4 Hz), 7,51 (s, 1H), 7,67 (s, 1H), 10,69 (s, 1H). Os resultados
experimentais estão de acordo com os encontrados na literatura.[116]

4.2.1.2. Síntese do cloreto de 1-metil-3-octillimidazólio

Em um balão de 50 mL adicionou-se 0,15 mol de 1-metilimidazol e 0,2


mol de 1-cloro-octano, conforme representado na Figura 4.2. Aqueceu-se o
sistema com banho de óleo a 100-120 ºC durante 48 horas sob agitação
magnética. Após o término da reação resfriou-se o balão à temperatura
ambiente e adicionou-se 30 mL de acetato de etila. Esta solução permaneceu
sob agitação magnética durante 5 minutos. Em seguida extraiu-se o acetato de
etila com o auxílio de um funil de separação e o líquido iônico cloreto de 1-
metil-3-octillimidazólio (C8MI.Cl) foi seco sob pressão reduzida. Obteve-se um
0,12 mol de C8MI.Cl com rendimento de 80%.[117]

Figura 4.2: Síntese do cloreto de 1-metil-3-octilimidazólio.

44
A análise de RMN 1H mostrou os seguintes resultados: RMN 1H (300
MHz, CDCl3): δ/ppm: 0,74 (t, 3H, J = 7,3 Hz), 1,10-1,20 (m, 10H), 1,78 (m, 2H),
4,01 (s, 3H), 4,20 (t, 2H, J = 7,1 Hz), 7,41 (s, 1H, H(4)), 7,63 (s, 1H, H(5)),
10,38 (s, 1H). Os resultados experimentais estão de acordo com os
encontrados na literatura.[117]

4.2.1.3. Síntese do cloreto de 1-decil-3-metillimidazólio

Colocou-se em um balão de 250 mL 0,2 mol de 1-metilimidazólio e 0,25


mol de 1-clorodecano. Aqueceu-se a mistura a 100-120 ºC, sob agitação
magnética constante durante 48 horas, conforme representado na Figura 4.3,
formando um produto viscoso alaranjado. Após o término da reação resfriou-se
o balão à temperatura ambiente e adicionou-se 30 mL de acetato de etila. Esta
solução permaneceu sob agitação magnética durante 5 minutos. Em seguida
extraiu-se o acetato de etila com o auxílio de um funil de separação e o líquido
iônico cloreto de 1-decil-3-metillimidazólio (C10MI.Cl) foi seco sob pressão
reduzida. Obteve-se um 0,16 mol de C10MI.Cl com rendimento de 82%.[117]

Figura 4.3: Síntese do cloreto de 1-decil-3-metilimidazólio.

A análise de RMN 1H apresentou os seguintes resultados: RMN 1H (300


MHz, CDCl3): δ/ppm: 0,81 (t, 3H, J = 6,9 Hz), 1,23-1,31 (m, 14H), 1,85 (m, 2H),
4,07 (s, 3H, J = 5,3 Hz), 4,26 (m, 2H), 7,42 (s, 1H, H(4)), 7,63 (s, 1H, H(5)),
10,54 (s, 1H).[117]
13
Analisou-se o líquido iônico C10MI.Cl por RMN C e comparou-se com
13
os resultados de RMN C obtidos do LI C10MI.CF3SO3. Esta análise
13
apresentou os seguintes resultados: RMN C (75 MHz, CDCl3): δ/ppm 137,5
(C2), 123-122 (C3, C4), 49,9 (C5), 36,4 (C1), 30-32 (C6, C12) 29 (C9, C10), 28-

45
29 (C8, C11), 26,1 (C7), 22,5 (C13), 13,9 (C14). Os resultados experimentais
estão de acordo com os encontrados na literatura.[117]

4.2.1.4. Síntese do cloreto de 1-dodecil-3-metillimidazólio

Em um balão de 50 mL colocou-se 0,2 mol de 1-metilimidazólio e 0,25


mol de 1-clorododecano. Aqueceu-se a mistura a 100-120 ºC, sob agitação
magnética constante durante 48 horas, conforme representado na Figura 4.4.
Após o término da reação resfriou-se o balão à temperatura ambiente e
adicionou-se 30 mL de acetato de etila. Esta solução permaneceu sob agitação
magnética durante 5 minutos. Em seguida extraiu-se o acetato de etila com o
auxílio de uma cânula e o líquido iônico cloreto de 1-dodecil-3-metillimidazólio
(C12MI.Cl) foi seco sob pressão reduzida. Obteve-se um 0,17 mol de C12MI.Cl
com rendimento de 85%.[117]

Figura 4.4: Síntese do cloreto de 1-dodecil-3-metilimidazólio.

A análise de RMN 1H mostrou os seguintes resultados: RMN 1H (300


MHz, CDCl3): δ/ppm: 0,83 (t, 3H, J = 6,9 Hz), 1,09-1,24 (m, 18H), 1,83 (m, 2H),
4,09 (s, 3H), 4,27 (m, 2H, J = 7,4 Hz), 7,41 (s, 1H, H(4)), 7,63 (s, 1H, H(5)),
10,58 (s, 1H). Os resultados experimentais estão de acordo com os
encontrados na literatura.[117]

46
4.2.1.5. Síntese do trifluorometasulfonato de 1-decil-3-
metilimidazólio

Primeiramente, foi preparado o LI cloreto de 1-decil-3-metilimidazólio,


C10MI.Cl (seção 4.2.1.3), e na etapa seguinte, sintetizou-se o LI C10MI.CF3SO3
através da troca iônica, como mostrado na Figura 4.5.[ 117,118]

Primeiramente, solubilizou-se em um balão de 250 mL 0,16 mol de


C10MI.Cl em 60 mL de água deionizada e após, adicionou-se 0,2 mol de NaOH
dissolvido em 5 mL de água deionizada. Posteriormente, 0,2 mol de ácido
trifluorometanosulfônico foi adicionado à mistura gota a gota, com o auxílio de
um funil de adição, sob agitação constante e banho de gelo. A mistura
reacional foi agitada por 2 horas a temperatura ambiente, formando um líquido
amarelado e um precipitado de NaCl. Extraiu-se o C10MI.CF3SO3 com
diclorometano e filtrou-se para remover o NaCl. Este LI foi seco sob vácuo,
obtendo-se 0,13 mol do C10MI.CF3SO3 com 81% de rendimento.[118]

Figura 4.5: Esquema reacional para síntese do LI C10MI.CF3SO3.

13
Os resultados obtidos no espectro de RMN C do líquido iônico
13
C10MI.CF3SO3 sintetizado (Figura 5.2) apresentaram: RMN C (75 MHz,
CDCl3): 136,6 (C2), 122-124 (C3, C4), 118 (C15), 50 (C5), 36,2 (C1), 30-32

47
(C6, C12), 29 (C9, C10), 28-29 (C8, C11), 26,1 (C7), 22,5 (C13), 14 (C14).
Neste caso, o que confirma a formação deste líquido iônico é um pico a mais
em 118 ppm que se refere ao C do ânion CF3SO3-, indicando a formação do
C10MI.CF3SO3, conforme resultados da literatura.[117,118]

4.2.2. Síntese do 5-Hidroximetilfurfural

Neste trabalho, utilizou-se em todos os experimentos um frasco do tipo


Schlenk de 50 mL, imerso em banho de silicone em diferentes temperaturas.
Este sistema reacional foi colocado sob atmosfera inerte de argônio, agitação
magnética constante e um banho de silicone previamente regulado numa faixa
de 80 a 140 ºC. A Figura 4.6 mostra a montagem utilizada para os testes de
desidratação.

Para avaliar a influência do tamanho da cadeia carbônica alifática


lateral do cátion nos líquidos iônicos constituídos por imizadol e cloro, C nMI.Cl
(n = 4, 8, 10 e 12), na obtenção do HMF foram realizados testes em que se
colocou 4 g do líquido iônico, 0,4 g açúcar e 10% de ácido clorídrico ou cloreto
de alumínio (razão mássica), aquecido conforme o ponto de fusão do LI, 80-
120 ºC, sendo mantido nesta temperatura durante 2 a 12 minutos. Após o
término da reação separou-se uma amostra de 0,250 g para posterior análise
no HPLC.[91] A representação geral da reação de obtenção do HMF utilizando
como líquido iônico CnMI.Cl (n = 4, 8, 10, 12) é mostrada na Figura 4.7.

48
Figura 4.6: Montagem utilizada para síntese do HMF: (1) controlador de
temperatura, (2) Schlenk, (3) barra de agitação magnética, (4) banho de
silicone, (5) chapa de aquecimento e agitação magnética.

Figura 4.7: Reação geral de desidratação de açúcares utilizando CnMI.Cl.

No sistema catalítico em que se utilizou o líquido iônico hidrofóbico,


colocou-se 4 g de C10MI.CF3SO3, 0,2-0,8 g açúcar solubilizado em 2 mL água
deionizada e como catalisador 0-20% de HCl (m/m) ou AlCl3 (m/m). Aqueceu-
se o sistema com um banho de silicone a uma temperatura que variou de 80-
140 ºC durante um tempo reacional que variou de 30 a 240 minutos. Após o
término da reação separou-se uma amostra de 0,250 g para posterior análise
no HPLC. A representação geral da reação de obtenção do HMF utilizando
com o líquido iônico C10MI.CF3SO3 é mostrada na Figura 4.8.

49
Figura 4.8: Reação geral de desidratação de açúcares utilizando
C10MI.CF3SO3.

A escolha em utilizar este LI e não variar a cadeia alifática nos testes


de desidratação foi devido à sua estabilidade nas temperaturas reacionais
testadas, por ser líquido à temperatura ambiente e ser insolúvel em água. Por
exemplo, o C4MI.CF3SO3 não se mostrou estável nas temperaturas testadas e
o C16MI.CF3SO3 dificultou a dissolução das amostras para posterior análise.

4.2.3. Avaliação da Reutilização do C10MI.CF3SO3

Para avaliar a reutilização do LI foram realizados 4 ciclos de reações


de desidratação da frutose em 60 minutos cada, utilizando o HCl como
catalisador a 110 ºC. Posterior ao término da reação, adicionou-se 10 mL de
H2O, sob agitação constante e temperatura ambiente. Após a decantação do LI
extraiu-se a fase aquosa com o HMF produzido. Repetiu-se esse procedimento
por 4 vezes. Em seguida, secou-se o LI sob vácuo por 6 horas e utilizou-se
novamente. No sistema reacional utilizando o LI reciclado foram adicionados a
solução de frutose e o catalisador HCl.

50
4.3. TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS

A frutose, a glicose, a sacarose, o HMF e os líquidos iônicos


sintetizados nas etapas anteriores foram caracterizados pelas seguintes
técnicas:

4.3.1. Ressonância Magnética Nuclear de 1H

Os líquidos iônicos sintetizados neste trabalho foram caracterizados


por RMN 1H. Os espectros de RMN 1H foram obtidos em um espectrofotômetro
Varian INOVA-300 operado a 300 MHz usando CDCl3 como solvente para os
LIs à base de cloreto de imidazólio e DMSO para o C10MI.CF3SO3. Utilizou-se
tubos de vidro de 5 mm de diâmetro. Através dessa técnica foi possível
determinar as possíveis estruturas dos líquidos iônicos.

4.3.2. Ressonância Magnética Nuclear de 13C

Os líquidos iônicos C10MI.Cl e C10MI.CF3SO3 sintetizados foram


13 13
caracterizados RMN C. Os espectros de RMN C foram obtidos em um
espectrofotômetro Varian INOVA-300 operado a 75 MHz usando CDCl3 como
solvente para C10MI.Cl e DMSO para o C10MI.CF3SO3. Utilizou-se tubos de
vidro de 5 mm de diâmetro. Através dessa técnica foi possível determinar as
possíveis estruturas dos líquidos iônicos.

4.3.3. Medida de pH

Para as medidas de pH dos líquidos iônicos C4MI.Cl, C8MI.Cl,


C10MI.Cl e C12MI.Cl, preparou-se uma solução 1 mol/L de cada LI. Após,
transferiu-se cada solução (aquosa) para um copo de Béquer de 20 mL e
mediu-se o pH de cada solução (a 20 ºC), utilizando um pHmetro Digimed DM-
22.

A partir do valor de pH de cada LI, calculou-se a constante de acidez


Brönsted-Lowry (Ka), considerando-se a seguinte equação química:

51
LI + H2O LI- + H3O+

Então, mediu-se o pH da solução 1 mol/L de cada LI e definiu-se


matematicamente a constante Ka, conforme as equações (1) e (2).

(1)

(2)

As espécies mostradas entre colchetes representam suas respectivas


concentrações molares. Deste modo, o valor de Ka é diretamente proporcional
à concentração das espécies iônicas, indicando que quanto maior for o valor
de Ka, maior será sua ionização e a força ácida do LI em relação à água.[119]

4.3.4. Medida de Condutividade Elétrica

As condutividades elétricas (σ) das soluções, expressas em µS/cm


ou mS/cm, foram medidas usando um condutivímetro Hach sension 7. As
medidas foram realizadas para água de Mili-Q, C10MI.CF3SO3 e para a água de
Mili-Q proveniente da decantação de uma mistura com o C10MI.CF3SO3.

4.3.5. Análise Termogravimétrica

A temperatura de decomposição do LI C10MI.CF3SO3 foi obtida pelo


analisador termogravimétrico TA Instruments Q50, utilizando 12 mg de amostra
colocada num porta amostra de platina e aquecida a 10 ºC/min de 10-900 ºC,
sob fluxo de nitrogênio.

52
4.3.6. Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

As análises foram realizadas em um cromatógrafo Shimadzu LC-20AD


Prominence equipado com um detector de UV-vis SPD-20A, detector de índice
de refração RID-10A e um sistema de propulsão de quatro solventes. Para as
análises do HMF e dos açúcares utilizou-se a coluna de exclusão iônica HPX-
87H (30mm x 7,8mm) obtida pela Bio-rad. O solvente utilizado nestas análises
foi uma solução de H2SO4 com pH=2, modo isocrático e 65 ºC. Os volumes das
injeções foram de 40μL e a taxa de fluxo do eluente foi 0,60mL/min.

Para a quantificação dos açúcares utilizados nas sínteses e do HMF


obtido, desenvolveu-se uma curva de calibração usando soluções de HMF,
glicose, frutose e sacarose em diferentes concentrações (0,3125; 0,625; 1,25;
2,5; 5; 10 e 20 g/L).

Com as curvas de calibração obteve-se as equações da reta, onde o


coeficiente de correlação linear é R2= 0,9998 e a equação da reta é y =
272011x – 14413 para o HMF, R2= 0,9998 e y = 272996x – 14167 para a
glicose, R2= 0,9999 e y = 312060x – 17590 para a frutose e R2= 1 e y =
279534x – 5197,3 para a sacarose. Nestas equações obtidas, o eixo x refere-
se à concentração de HMF ou do açúcar e o eixo y a área obtida nos
cromatogramas.

Essas análises de HPLC permitiram separar e identificar a glicose, a


frutose, a sacarose e o HMF, além de determinar a conversão do açúcar (C), o
rendimento (R) e a seletividade (S) em HMF conforme equações (3), (4) e (5),
sendo [açúcar]i, a concentração de açúcar inicial; [açúcar]f, a concentração de
açúcar final; [HMF]f, a concentração de HMF formado.

Conversão do açúcar (mol%)

[açúcar] i  [açúcar] f
C  100 (3)
[açúcar] i

53
Seletividade do HMF (mol%)

[ HMF ] f
S  100 (4)
[açúcar]i  [açúcar] f

Rendimento do HMF (mol%)

R  CS (5)

A Figura 4.9 apresenta um cromatograma da análise de uma solução


padrão contendo glicose, frutose e HMF.

Figura 4.9: Cromatograma de HPLC típico da glicose, frutose e HMF.

A Figura 4.10 apresenta um cromatograma de HPLC típico da análise


de uma solução padrão de sacarose.

Figura 4.10: Cromatograma de HPLC típico da sacarose.

54
Nesse cromatograma é possível observar que a sacarose sofre
hidrólise ao entrar em contato com a fase móvel utilizada para a análise,
solução de H2SO4, e para se determinar a conversão da sacarose considerou-
se que a soma das áreas dos picos correspondentes à glicose e frutose
corresponde à área da sacarose.

55
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste trabalho estudou-se a reação de conversão dos açúcares


glicose, frutose e sacarose, visando a obtenção de um precursor para a
produção de polímeros, o 5-hidroximetilfurfural (HMF). Para isso, os meios
reacionais investigados foram divididos em dois estudos. O primeiro consistiu
em encontrar novos sistemas que apresentaram maiores rendimentos e
seletividades em HMF e, o segundo propor uma rota tecnológica que possa
apresentar melhorias quanto à facilidade de implementação de um processo
com menos etapas operacionais ou relacionada a um processo ecologicamente
mais amigável ao meio ambiente.

Assim, inicialmente estudou-se a conversão da glicose e frutose


empregando como meio reacional líquidos iônicos à base cloretos de imidazólio
associados a HCl ou AlCl3. Avaliou-se a influência do tamanho da cadeia lateral
orgânica desses líquidos iônicos sobre os rendimentos e seletividades
reacionais.

Na segunda etapa desse trabalho, estudou-se a conversão da glicose,


frutose e sacarose empregando o líquido iônico C10MI.CF3SO3. A escolha
desse líquido iônico deve-se às suas propriedades hidrofóbicas. Na presença
de água, esse LI forma duas fases, ilustrando a sua miscibilidade parcial ou
imiscibilidade. Seu uso visa auxiliar o processo de separação do HMF, pois
após a decantação do meio reacional, o HMF se encontrará numa fase aquosa
separada da fase composta essencialmente do LI, permitindo assim, a
reciclagem do LI. Adicionalmente, o processo de oxidação do HMF poderá ser
realizado diretamente na fase aquosa contendo o HMF (sem ter que efetuar
uma prévia extração do HMF do meio reacional), reduzindo assim os custos
industriais relacionados à utilização de solventes orgânicos empregados nos

56
processo descritos na literatura para extrair o HMF.[92,95,96] Ao LI C10MI.CF3SO3
foram adicionados HCl ou AlCl3 para constituir o sistema reacional.

Para todos os sistemas reacionais, foram avaliados diversos


parâmetros reacionais como temperatura, tempo, quantidade de catalisado e
relação LI/substrato.

5.1. REAÇÃO DE CONVERSÃO DE AÇÚCARES EM HMF

5.1.1. Conversão da Frutose e Glicose Utilizando Líquidos Iônicos à Base


de Cloreto de Imidazólio

5.1.1.1. Influência do LI na síntese do HMF

Com o objetivo de avaliar a influência que o LI apresenta nos


processos de conversão de açúcares, primeiramente realizou-se reações na
ausência de catalisador (sem HCl ou AlCl3), somente na presença do LI. Para
os LIs C4MI.Cl, C8MI.Cl e C10MI.Cl e na ausência de um catalisador ácido, nem
a frutose e nem a glicose sofreram conversão, indicando que estes LIs não
apresentam acidez necessária para iniciar o processo de conversão do açúcar,
sugerindo que esses LIs atuam nessas condições como solvente.

Entretanto, quando a reação foi conduzida com o LI C12MI.Cl na


ausência de catalisador ácido, após 12 minutos de reação, 69% da frutose foi
convertida com 89% de seletividade e rendimento de 61% em HMF. Em
condições similares, a conversão da glicose foi iniciada (8%) sem que o HMF
fosse formado.

Tendo em vista que a força ácida do meio reacional deve ser o fator
preponderante para a conversão dos açúcares, determinou-se a constante de
acidez Brönsted-Lowry (Ka) dos diversos LIs empregados nesse estudo,
conforme mostra a Tabela 5.1.

Este comportamento diferenciado do C12MI.Cl pode estar associado à


sua constante de acidez Brönsted-Lowry (Ka) que é maior do que a dos outros

57
LIs, apresentando característica ácida de um ácido fraco (Ka = 2,092x10-8) no
processo de desidratação, enquanto que os demais LIs apresentam
propriedade ácida de um ácido muito fraco (1,49x10 -18 > Ka < 4,57x10-17) em
relação à água.

Tabela 5.1: Valores de pH e Ka dos LIs (1 mol/L).

pH
Líquido iônico Ka Força ácida
medido

C4MI.Cl 8,9 1,99x10-18 Muito fraco

C8MI.Cl 8,2 4,57x10-17 Muito fraco

C10MI.Cl 8,8 3,02x10-18 Muito fraco

C12MI.Cl 3 8,33x10-7 Fraco

Baseando-se nos valores de pH e Ka apresentados na Tabela 5.1, é


possível dizer que a formação do HMF nos sistemas reacionais em que se
utilizou o C12MI.Cl está relacionada à força ácida deste LI, atuando como
solvente e como catalisador devido à provável ionização de parte das
moléculas deste LI durante o processo de desidratação dos açúcares. A
utilização de LIs como co-catalisador foi estudada por Yang et al. na conversão
da glicose em HMF. Neste trabalho, a isomerização da glicose em frutose foi
realizada utilizando o DMA (solvente) e o AlCl3 (catalisador). Para a etapa de
desidratação da frutose em HMF foi adicionado ao sistema reacional um LI
ácido de Brönsted que exerce uma interação com o AlCl3, facilitando a
formação do HMF com bom rendimento a partir da glicose (~60%).[105]

C4MI.Cl, C8MI.Cl e C10MI.Cl possuem acidez equivalente a um ácido


muito fraco (1,49x10-18 > Ka < 4,57x10-17) em relação à água, ou seja, a grande
maioria das moléculas não se ioniza, sugerindo que estes LIs atuam como
solvente nos sistemas reacionais testados, pois na ausência de catalisador
ácido a reação não ocorreu. A utilização de LIs como solvente na produção do
HMF tem sido muito estudada por diferentes grupos de pesquisa. Qi et al.

58
demonstram que processos em que o C4MI.Cl foi usado como solvente
permitem obter o HMF com altos rendimentos dependendo do catalisador ácido
empregado. Por exemplo, utilizando como catalisador uma resina trocadora de
íons, 98% da frutose foi convertida com um rendimento em HMF de 83% após
10 minutos de reação a 80 ºC.[78]

Todavia, a diferença de acidez encontrada para o C12MI.Cl pode estar


relacionada à sua hidrólise. Em água o LI dissocia-se em C12MI+ e Cl- e, neste
caso, o cátion hidrolisa-se em água. Partindo deste princípio, entende-se que
no processo de hidrólise do LI ocorre a formação da base conjugada
(C12MI.OH) e, consequentemente, o íon H+ é formado. Então, compreende-se
que quanto maior for a cadeia alquila do LI, mais ácido é o cátion, maior é a
tendência em hidrolisar e maior é a acidez devido à formação do íon H+.

Em nosso sistema reacional, entende-se que a maior cadeia carbônica


ligada ao anel imidazólio do LI facilita a hidrólise e o LI mantém-se em excesso
em relação aos demais componentes, favorecendo a sua auto-ionização. Neste
caso, acredita-se que a espécie receptora do H+ do anel imidazólio atua como
catalisador.

Por outro lado, para avaliar o comportamento dos LIs como solvente
efetuou-se experimentos com a mesma quantidade em mol dos LIs C 4MI.Cl e
C12MI.Cl, modificando somente a quantidade dos LIs em mol já que utiliza-se
nos sistemas reacionais 4 g de LI. Os resultados estão reportados na Tabela
5.2.

A partir dos resultados apresentados na Tabela 5.2 verificou-se que o


efeito da adição de LI no processo de desidratação da frutose é atuar como
solvente, pois com o aumento da quantidade de LI no meio reacional,
realizando as reações no mesmo tempo, não houve um aumento no
rendimento em HMF. Esse mesmo comportamento pode ser observado para os
dois catalisadores, o HCl e o AlCl3. Cabe ressaltar que, como todas as
conversões alcançadas nessas condições foram de 100%, esse estudo não é
completamente conclusivo. Para melhor avaliar a influência da quantidade de
LI, teria que encontrar condições de baixa conversão. Pode-se considerar esse
estudo como introdutório.

59
Tabela 5.2: Influência da quantidade de LI na desidratação da frutose.

nº mol Tempo Conv. Sel.HMF Rend.HMF


LI Catalisador
LI (min) (%) (%) (%)

C4MI.Cl 0,014 8 HCl 100 98 98

C4MI.Cl 0,024 8 HCl 100 91 91

C12MI.Cl 0,014 8 HCl 100 89 89

C12MI.Cl 0,024 8 HCl 100 100 100

C4MI.Cl 0,014 8 AlCl3 100 99 99

C4MI.Cl 0,024 8 AlCl3 100 99 99

C12MI.Cl 0,014 8 AlCl3 100 85 85

C12MI.Cl 0,024 8 AlCl3 100 82 82

Condições de síntese: 0,4 g frutose, 0,04g catalisador, 8 minutos, 80 ºC


(C4MI.Cl) ou 120 ºC (C12MI.Cl).

Substituindo a frutose pela glicose foi possível confirmar ainda mais o


efeito solvente do LI, conforme os resultados mostrados na Tabela 5.3. Nestes
experimentos ficou evidente que o aumento da quantidade de LI dificultou o
processo de conversão da glicose, independentemente do LI e do catalisador
utilizado. Esse comportamento pode estar associado ao poder de diluição do
açúcar e do catalisador utilizados no meio reacional, dificultando a interação do
LI com o catalisador para que inicie o processo de conversão para posterior
formação do HMF. Ou, como outra interpretação, podemos entender que, com
o aumento da quantidade de líquido iônico, as interações entre o LI e o
composto ácido são modificadas, o que afeta a reatividade do meio reacional.
Para investigar essa hipótese, precisaríamos estudos espectroscópicos
capazes de identificar essas interações e/ou modificações de interações.

60
Tabela 5.3: Influência da quantidade de LI na conversão da glicose em
HMF.

nº mol Tempo Conv. Sel.HMF Rend.HMF


LI Catalisador
LI (min) (%) (%) (%)

C4MI.Cl 0,014 12 HCl 17 26 5

C4MI.Cl 0,024 12 HCl 0 0 0

C12MI.Cl 0,014 12 HCl 75 45 34

C12MI.Cl 0,024 12 HCl 55 32 18

C4MI.Cl 0,014 12 AlCl3 21 32 7

C4MI.Cl 0,024 12 AlCl3 0 0 0

C12MI.Cl 0,014 12 AlCl3 75 37 28

C12MI.Cl 0,024 12 AlCl3 59 46 27

Condições de síntese: 0,4 g glicose, 0,04g catalisador, 12 minutos, 80 ºC


(C4MI.Cl) ou 120 ºC (C12MI.Cl).

Segundo Zhang et al., os líquidos iônicos são considerados solventes


reguláveis em função das suas estruturas apresentarem diferença de efeito
sobre suas propriedades, pois as interações entre cátion, ânion e carboidrato
desempenham um importante papel no processo reacional. Também,
considera-se que o resultado final esteja associado às condições operacionais
e ao catalisador utilizado.[54]

5.1.1.2. Influência do tamanho da cadeia alifática do cátion


imidazólio dos líquidos iônicos na síntese do HMF

Neste estudo foram usados diferentes líquidos iônicos (LIs) à base de


cloreto de imidazólio de fórmula CnMI.Cl (n = 4, 8, 10 e 12) como solvente na
reação de desidratação da frutose e glicose na presença de HCl ou AlCl3. A
temperatura reacional foi ajustada de acordo com o ponto de fusão dos LIs,

61
conforme descrito na tabela 5.4. Foram determinadas a conversão do açúcar
de partida, o rendimento e a seletividade em HMF.

A partir dos dados reportados na Tabela 5.4, observa-se que ao usar o


HCl (catalisador), independentemente do líquido iônico empregado e da
temperatura reacional, a frutose apresentou uma alta reatividade, pois obteve-
se uma conversão de 100%. Para a glicose essa conversão (<80%) mostrou-se
dependente do comprimento da cadeia carbônica alifática ligada ao anel
imidazólio do LI, pois somente com o LI C12MI.Cl se observou a conversão da
glicose. Este resultado evidencia que quando a glicose é o açúcar de partida, o
que implica que ocorra previamente a sua isomerização, os LIs C nMI.Cl com
cadeia alifática n = 4-10 não foram eficientes para essa reação de
isomerização, o que limita, consequentemente, os rendimentos em HMF
conforme descrito na literatura.[41,55]

Para as condições experimentais relatadas na Tabela 5.4 observa-se


que a frutose foi sempre convertida em HMF com rendimentos superiores a
62%, enquanto a glicose foi convertida em HMF com rendimentos ~30%
somente quando o LI C12MI.Cl foi empregado.

Se compararmos os resultados de seletividade, obtidas após 12


minutos, da reação 4 (LI:C4MI.Cl) com os das reações 12, 20 e 28, conduzidas
respectivamente com C8MI.Cl, C10MI.Cl, C12MI.Cl (Tabela 5.4), observa-se que
os melhores resultados de seletividade em HMF foram obtidos com LI de
cadeia alquila superior a 4. Esse resultado indica que reações conduzidas com
LIs de cadeia superior a 4 permite diminuir a formação de subprodutos.

62
Tabela 5.4: Conversão da frutose e glicose em função do tempo
reacional empregando diferentes líquidos iônicos à base de cloreto de
imidazólio de fórmula CnMI.Cl (n= 4, 8, 10 e 12) catalisada por HCl.

T Conv. Sel.HMF Rend.HMF


Reação Açúcar t (min) LI
(ºC) (%) (%) (%)
1 Frutose 2 C4MI.Cl 80 100 62 62
2 Frutose 4 C4MI.Cl 80 100 92 92
3 Frutose 8 C4MI.Cl 80 100 91 91
4 Frutose 12 C4MI.Cl 80 100 70 70
5 Glicose 2 C4MI.Cl 80 0 0 0
6 Glicose 4 C4MI.Cl 80 0 0 0
7 Glicose 8 C4MI.Cl 80 0 0 0
8 Glicose 12 C4MI.Cl 80 0 0 0
9 Frutose 2 C8MI.Cl 90 100 85 85
10 Frutose 4 C8MI.Cl 90 100 87 87
11 Frutose 8 C8MI.Cl 90 100 91 91
12 Frutose 12 C8MI.Cl 90 100 87 87
13 Glicose 2 C8MI.Cl 90 0 0 0
14 Glicose 4 C8MI.Cl 90 0 0 0
15 Glicose 8 C8MI.Cl 90 0 0 0
16 Glicose 12 C8MI.Cl 90 0 0 0
17 Frutose 2 C10MI.Cl 110 100 65 65
18 Frutose 4 C10MI.Cl 110 100 93 93
19 Frutose 8 C10MI.Cl 110 100 88 88
20 Frutose 12 C10MI.Cl 110 100 88 88
21 Glicose 2 C10MI.Cl 110 0 0 0
22 Glicose 4 C10MI.Cl 110 0 0 0
23 Glicose 8 C10MI.Cl 110 0 0 0
24 Glicose 12 C10MI.Cl 110 0 0 0
25 Frutose 2 C12MI.Cl 120 100 86 86
26 Frutose 4 C12MI.Cl 120 100 92 92
27 Frutose 8 C12MI.Cl 120 100 89 89
28 Frutose 12 C12MI.Cl 120 100 96 96
29 Glicose 2 C12MI.Cl 120 62 21 13
30 Glicose 4 C12MI.Cl 120 61 18 11
31 Glicose 8 C12MI.Cl 120 79 38 30
32 Glicose 12 C12MI.Cl 120 75 45 34
Condições de síntese: 4 g LI, 0,4 g açúcar, 10% (m/m) HCl (2,6 mmol).

A Figura 5.1 foi elaborada a partir dos dados de rendimento em HMF


da Tabela 5.4 relativos à frutose para verificar o efeito do comprimento da

63
cadeia carbônica alifática presente no LI e do tempo de reação na formação do
HMF. Quando o açúcar de partida é a frutose (Figura 5.1 e Tabela 5.4) a
modificação do comprimento da cadeia alifática do LI provocou uma diferença
considerável nos resultados relacionados ao rendimento em HMF apenas para
os experimentos conduzidos durante 12 minutos. Esse comportamento indica
que existe uma influência do tamanho da cadeia carbônica alifática do LI na
formação do HMF que pode ser reduzida ou aumentada com o aumento do
tempo de reação e na presença de HCl. Neste caso, o C12MI.Cl não apresentou
redução no rendimento em HMF com o aumento do tempo reacional, indicando
uma maior estabilidade quando comparado aos demais LIs, dificultando as
reações secundárias. Independentemente do LI utilizado em 2 minutos foi
possível converter 100% da frutose.

Figura 5.1: Efeito dos LIs na desidratação da frutose utilizando HCl em 4


minutos e 12 minutos. As temperaturas reacionais correspondem às
temperaturas de fusão dos LIs empregados.

De modo geral, em relação ao efeito do tamanho da cadeia carbônica


alifática ligada ao anel imidazólio do LI, observa-se que para o sistema
frutose/HCl, após 4 minutos, não houve influência da variação da cadeia
alifática do LI. Porém, para esse mesmo sistema, após 12 minutos, o aumento
da cadeia alifática de 4 para 12 no sistema frutose/HCl reduziu a formação de

64
subprodutos, sendo que o melhor resultado obtido foi para o C12MI.Cl com 96%
em HMF.

Em relação ao efeito do tempo reacional sobre o rendimento em HMF a


partir da desidratação da frutose empregando o sistema C4MI.Cl/HCl, a Figura
5.1 evidencia que o aumento do tempo reacional de 4 para 12 minutos,
provocou a redução do rendimento em HMF de 92% para 70%. Esse resultado
indica que a reação de desidratação foi completada rapidamente e que a
decomposição do HMF ocorre na sequência, provocando a formação de
subprodutos e a diminuição do rendimento em HMF. Para os demais LIs de
cadeia carbônica alifática maiores, esse efeito do tempo reacional não foi
observado, indicando que esses tornam mais difícil as reações de
decomposição do HMF.

No caso particular do uso de C12MI.Cl na desidratação da frutose, a


Figura 5.1 mostra que o rendimento em HMF aumentou de 86% para 96%
quando o tempo passou de 4 para 12 minutos, indicando que a reação
necessita de um tempo reacional maior para levar a um maior rendimento em
HMF.

Quando o açúcar de partida foi a glicose (Tabela 5.4), observa-se a sua


conversão com elevado valor (80%) somente quando C12MI.Cl foi usado, mas a
seletividade e o rendimento correspondentes permanecem baixos (<50%). O
aumento do tempo reacional (Tabela 5.4, reações 29, 30, 31 e 32) permite o
aumento do rendimento em HMF, mas este ainda permanece baixo (34% após
12 minutos). Esses baixos rendimentos relacionados à conversão da glicose
nesse meio reacional indicam que a sua isomerização não ocorreu de forma
eficiente, possivelmente pela alta estabilidade da estrutura do anel.[120]

Os resultados apresentados neste estudo sugerem que,


independentemente do LI utilizado, foi possível obter-se o HMF a partir da
frutose com altos rendimentos em um tempo reacional relativamente pequeno
(4 minutos). Esses resultados corroboram aos descritos na literatura.[41,55]

Um estudo similar foi conduzido substituindo o ácido de Brönsted HCl


pelo ácido de Lewis AlCl3. Os resultados correspondentes encontram-se na
Tabela 5.5. Esses resultados mostram que, com o uso de AlCl3, a frutose

65
continuou sendo mais reativa (conversão de 100%) do que a glicose (<80%).
Os resultados de seletividade e rendimento em HMF reforçam a observação
feita para os sistemas LI/HCl relacionada à dificuldade da glicose isomerizar-se
em frutose.[41,55]

O conjunto desses resultados mostra que a conversão dos açúcares é


dependente da natureza do LI e do tempo reacional. Do mesmo modo que nos
testes realizados com HCl, o C12MI.Cl mostrou-se eficiente quando foi usado
AlCl3 para converter a glicose. Mas, a glicose continuou apresentando baixos
rendimentos em HMF (~30%). Em condições equivalentes, a frutose foi
convertida em HMF com rendimentos superiores a 70%.

A Figura 5.2 reúne os dados do rendimento em HMF da Tabela 5.5


referentes à frutose para avaliar o efeito do comprimento da cadeia carbônica
alifática presente no cátion do LI e do tempo de reação na formação do HMF.

Para a frutose, quando foram utilizados os LIs CnMI.Cl com cadeia


alifática n = 4-10, o aumento do tempo reacional de 8 para 12 minutos não
provocou mudanças no comportamento do sistema reacional LI/AlCl3,
demonstrando que o sistema empregado foi eficiente para desidratar a frutose
e permite evitar a decomposição do HMF formado. Com o aumento da cadeia
carbônica alifática ligada ao anel imidazólio do LI, observa-se que o rendimento
em HMF permaneceu praticamente constante, indicando que a decomposição
do HMF formado foi dificultada.

Entre os LIs testados, o sistema reacional C12MI.Cl/AlCl3 foi o único


para o qual o rendimento em HMF, a partir da frutose, reduziu-se com o
aumento do tempo reacional, favorecendo a formação de subprodutos. Esse
efeito não foi observado para o sistema reacional C12MI.Cl/HCl (Figura 5.1).

Além disso, foi possível converter 100% da frutose em 8 minutos


somente quando o C4MI.Cl/AlCl3 e o C8MI.Cl/AlCl3 foram empregados. Para o
C10MI.Cl/AlCl3 a conversão foi total em 4 minutos e para o C12MI.Cl/AlCl3 em 2
minutos. Ou seja, o aumento da cadeia carbônica alifática do LI reduziu o
tempo para que a conversão da frutose fosse completa.

66
Tabela 5.5: Conversão da frutose e glicose em função do tempo
reacional empregando diferentes líquidos iônicos à base de cloreto de
imidazólio de fórmula CnMI.Cl (n= 4, 8, 10 e 12) catalisada por AlCl3.

T Conv. Sel.HMF Rend.HMF


Reação Açúcar t (min) LI
(ºC) (%) (%) (%)
33 Frutose 2 C4MI.Cl 80 70 100 70
34 Frutose 4 C4MI.Cl 80 80 100 80
35 Frutose 8 C4MI.Cl 80 100 99 99
36 Frutose 12 C4MI.Cl 80 100 97 97
37 Glicose 2 C4MI.Cl 80 0 0 0
38 Glicose 4 C4MI.Cl 80 0 0 0
39 Glicose 8 C4MI.Cl 80 0 0 0
40 Glicose 12 C4MI.Cl 80 0 0 0
41 Frutose 2 C8MI.Cl 90 28 100 28
42 Frutose 4 C8MI.Cl 90 77 100 77
43 Frutose 8 C8MI.Cl 90 100 87 87
44 Frutose 12 C8MI.Cl 90 100 87 87
45 Glicose 2 C8MI.Cl 90 0 0 0
46 Glicose 4 C8MI.Cl 90 0 0 0
47 Glicose 8 C8MI.Cl 90 0 0 0
48 Glicose 12 C8MI.Cl 90 4,3 0 0
49 Frutose 2 C10MI.Cl 110 27 100 27
50 Frutose 4 C10MI.Cl 110 100 68 68
51 Frutose 8 C10MI.Cl 110 100 80 80
52 Frutose 12 C10MI.Cl 110 100 79 79
53 Glicose 2 C10MI.Cl 110 0 0 0
54 Glicose 4 C10MI.Cl 110 0 0 0
55 Glicose 8 C10MI.Cl 110 0 0 0
56 Glicose 12 C10MI.Cl 110 0 0 0
57 Frutose 2 C12MI.Cl 120 100 84 84
58 Frutose 4 C12MI.Cl 120 100 92 92
59 Frutose 8 C12MI.Cl 120 100 85 85
60 Frutose 12 C12MI.Cl 120 100 72 72
61 Glicose 2 C12MI.Cl 120 33 0 0
62 Glicose 4 C12MI.Cl 120 69 0 0
63 Glicose 8 C12MI.Cl 120 79 35 28
64 Glicose 12 C12MI.Cl 120 75 37 28
Condições de síntese: 4 g LI, 0,4 g açúcar, 10% (m/m) AlCl3 (0,306 mmol).

67
Figura 5.2: Efeito dos LIs na desidratação da frutose utilizando AlCl 3 em 8
minutos e 12 minutos. As temperaturas reacionais correspondem às
temperaturas de fusão dos LIs empregados.

Se compararmos os resultados de seletividade da reação 36 (LI:


C4MI.Cl) com os das reação 44, 52 e 60, conduzidas respectivamente com
C8MI.Cl, C10MI.Cl, C12MI.Cl e executadas durante 12 minutos (Tabela 5.5)
observa-se que os melhores resultados de seletividade em HMF foram obtidos
com LI de cadeia alquil inferior a 12, indicando que quanto menor a cadeia do
alquil, melhor é o rendimento obtido nos experimentos conduzidos. A diferença
nos resultados pode estar relacionada à menor acidez do catalisador e,
consequentemente, interação do LI/AlCl3 que dificultou o processo de
desidratação.

Usando a glicose como açúcar de partida (Tabela 5.5), também se


observa a sua conversão com elevado valor (~80%) somente quando C12MI.Cl
foi usado, mas a seletividade e rendimento correspondentes permaneceram
baixos (<40%).

Em relação à utilização da frutose como substrato e LI o C4MI.Cl a 80


ºC, nota-se que após 4 minutos o rendimento foi de 80% (Tabela 5.5, reação
34) e que aumentando o tempo reacional para 12 minutos (Tabela 5.5, reação
36) aumentou ainda mais o rendimento em HMF para 97%. Esses dados
indicam que a reação não foi completa em 4 minutos e que com o aumento do

68
tempo reacional não há decomposição do HMF. Neste mesmo LI, o HMF não
foi formado pela conversão da glicose (Tabela 5.5, reações 37, 38, 39 e 40). O
mesmo ocorreu quando o C8MI.Cl (Tabela 5.5, reações 45, 46, 47 e 48) e o
C10MI.Cl (Tabela 5.5, reações 53, 54, 55 e 56) foram utilizados. Estes
resultados confirmam que quando a glicose foi o açúcar de partida, uma etapa
de isomerização do mesmo é previamente necessária, o que limita os
rendimentos em HMF conforme descrito na literatura.[12,41,55]

Esperava-se que o rendimento do HMF a partir da glicose e com o


AlCl3 fosse superior ao obtido com o HCl, devido à maior capacidade que os
ácidos de Lewis apresentam em isomerizar a glicose em frutose. Porém, em
relação a formação do HMF, o AlCl3 não apresentou o mesmo desempenho do
que o HCl, conforme mostra a Figura 5.3 (b). Este comportamento indica que o
meio reacional empregado (LI) juntamente com o catalisador também
influenciam na formação do HMF. Outra hipótese sugerida por Pagán-Torres et
al. é que esse meio reacional favorece a rota sintética através da desidratação
direta da glicose para HMF, sem passar pela etapa de isomerização,
dificultando a formação do HMF e favorecendo a formação de subprodutos.[121]

A Figura 5.3 confirma que os sistemas catalíticos LI/HCl e LI/AlCl3


estudados catalisaram a desidratação da frutose devido à alta acidez do meio
reacional, conforme proposto no mecanismo da Figura 3.15 (seção 3.3.1.).

Dentre os sistemas reacionais testados, para o LI/HCl, o melhor


resultado foi obtido com a utilização de C12MI.Cl. Para o LI/AlCl3 o melhor
resultado foi obtido com C4MI.Cl quando a frutose foi usada e C12MI.Cl quando
a glicose foi usada. Os resultados foram semelhantes aos estudados por Li et
al. para os quais se obteve o HMF com rendimento >90% em 8 minutos com o
catalisador HCl.[91]

69
Figura 5.3: Efeito dos catalisadores HCl ou AlCl3 na formação do HMF a partir
da (a) desidratação da frutose e (b) conversão da glicose.

Para o trabalho desenvolvido por Zhang et al. que usaram C4MI.Cl,


C6MI.Cl, C8MI.Cl e C10MI.Cl, foi comprovado que estes LIs são considerados
bons solventes para a reação de conversão de carboidratos. Para Zhang et al.
o efeito do comprimento da cadeia carbônica alifática do LI com estes líquidos
sobre a reação foi observado, sendo que a conversão da glicose foi reduzida
de 38,4% para 23,3%, quando o grupo alquil mudou de butil para decil. Esse
efeito observado por Zhang et al. diferencia dos resultados apresentados neste
trabalho, que mostram que se conseguiu converter a glicose e produzir o HMF
somente com o LI de maior grupo alquil, o C12MI.Cl. A diferença entre os
resultados obtidos e os da literatura pode estar relacionada ao emprego de

70
condições reacionais e catalisador diferentes dos utilizados por Zhang et al
(100 ºC, 75 minutos e GeCl4).[54]

O alto rendimento em HMF pela conversão direta da frutose obtido no


meio reacional estudado neste trabalho tem como desvantagem o custo da
matéria-prima, pois o Brasil não está entre os principais produtores. Por outro
lado, a glicose é considerada um dos açúcares de maior abundância produtiva
no Brasil, podendo ser obtida a partir da sacarose, maltose, amido e celulose.
Contudo, como alternativa para reduzir gastos do processo industrial do HMF
ser citada a obtenção da frutose a partir da inulina, polímero da frutose
encontrado em diversas plantas da família asterácea e em espécies nativas do
cerrado brasileiro.[122]

5.1.1.3. Avaliação da reação de isomerização da glicose em frutose

Com base nos resultados experimentais realizados, calculou-se o


poder de isomerização da glicose em frutose para cada sistema estudado,
C12MI.Cl/HCl e C12MI.Cl/AlCl3, considerando que o HMF produzido a partir da
glicose é oriundo da desidratação da frutose. Como tem-se os resultados da
desidratação da frutose (conversão e seletividade) nas mesmas condições
reacionais, pode-se calcular a seletividade em isomerização da glicose em
frutose.

De acordo com a Tabela 5.4, reação 32, para o sistema reacional


C12MI.Cl/HCl, a glicose, após 12 minutos, converteu-se 75% e produziu-se o
HMF com 45% de seletividade e 34% de rendimento. A Figura 5.4 apresenta
esquematicamente um balanço de massa da conversão da glicose em HMF,
identificando a quantidade de glicose isomerizada (formação da frutose).

71
Figura 5.4: Produção do HMF a partir da frutose formada pela isomerização da
glicose utilizando o sistema reacional C12MI.Cl/HCl.

Para uma reação com 100% de rendimento em HMF, 0,4 g de glicose


se isomerizaria em 0,4 g de frutose e através do processo de desidratação
produziria 0,28 g de HMF (proporção molar 1:1). No caso da conversão da
glicose com C12MI.Cl/HCl, após 12 minutos, obteve-se 0,095 g de HMF (Tabela
5.4, reação 32). Considerando que essa massa de HMF foi produzida a partir
da frutose (conversão 100% e seletividade 96% - Tabela 5.4, reação 28)
deduz-se que, pela isomerização da glicose, foi produzida 0,14 g de frutose.
Comparando essa massa de frutose com a massa de glicose inicial, calcula-se
que a seletividade da reação de isomerização é de 47%. Assim, pode-se
deduzir que dos 0,3 g de glicose convertida (conversão 75%), obteve-se 0,14 g
de frutose e 0,16 g de subprodutos. O restante formado foi considerado
subprodutos não identificados.

As mesmas deduções podem ser feitas para os sistemas empregando


C12MI.Cl/AlCl3, mostradas na Figura 5.5. Conforme reação 64 (Tabela 5.5),
75% da glicose com C12MI.Cl/AlCl3, após 12 minutos, converteu-se e produziu
o HMF com 37% de seletividade e 28% de rendimento. Para a frutose em

72
condições reacionais similares (Tabela 5.5, reação 60) a conversão foi total e o
rendimento e seletividade em HMF foram de 72%.

Figura 5.5: Produção do HMF a partir da frutose formada pela isomerização da


glicose utilizando o sistema reacional C12MI.Cl/AlCl3.

A partir dos dados é possível deduzir que partindo da glicose 0,154 g


de frutose foi produzida, correspondendo a uma seletividade para a reação de
isomerização da glicose de 51%. Dos 75% da glicose convertida apenas 37%
formou o HMF (0,078 g). O restante formado foi considerado subprodutos não
identificados (0,176 g).

Através dessa avaliação verifica-se que, em relação à reação de


isomerização da glicose, o ácido Lewis (AlCl3) mostrou-se mais ativo do que o
ácido de Brönsted (HCl), confirmando o que foi descrito por Saravanamurugan
et al. e Tong et al. em diferentes estudos realizados.[39,120] Contudo, é
importante ressaltar que para a etapa de desidratação da frutose em HMF o
HCl apresentou melhor resultado do que AlCl3.

73
5.1.2. Conversão da Frutose, Glicose e Sacarose Utilizando o Líquido
Iônico C10MI.CF3SO3

5.1.2.1. Avaliação da Influência do C10MI.CF3SO3 na formação do


HMF

A principal característica na utilização de LIs como solventes é a


possibilidade de sintetizar um LI específico que proporcione as propriedades
necessárias para uma aplicação desejada. Nesse estudo, a escolha do cátion e
do ânion foi motivada pela obtenção de um LI hidrofóbico a ser usado como
meio reacional para desenvolver um processo de produção do HMF. Se a
cadeia carbônica alifática do LI for formada por menos de seis carbonos, este
composto tende a apresentar miscibilidade com a água, mas acima de seis
carbonos a sua solubilidade em água diminui devido a uma crescente
característica hidrofóbica. Um LI com a cadeia carbônica alifática com mais de
10 carbonos não se mostrou aplicável em nossas condições experimentais
devido à dificuldade em extrair o HMF. Utilizando o C10MI.CF3SO3, em testes
preliminares, além de ser um LI que proporciona um sistema bifásico na
presença de uma fase aquosa, permitiu a produção do HMF.[123]

O LI C10MI.CF3SO3 que é um líquido viscoso e amarelo claro foi


caracterizado através da análise termogravimétrica (TGA) para avaliar a sua
estabilidade térmica e a perda de água (umidade) após ter ficado ao ar durante
um longo período. A Figura 5.6 apresenta o termograma obtido que comprova
que esse composto não é volátil e possui uma estabilidade térmica até ~350
ºC. O platô, extremamente pouco inclinado, registrado entre a temperatura
inicial e 100 ºC permite concluir que o LI continha aproximadamente 5% de
água, quantidade significativa após ter sido exposto ao ar, indicando seu
caráter hidrofóbico.

74
Figura 5.6: Análise termogravimétrica (TGA) do C10MI.CF3SO3.

Por outro lado, para avaliar de forma qualitativa a imiscibilidade do


C10MI.CF3SO3 com a água realizou-se medidas de condutividade elétrica do LI
puro, da água pura e da água colocada em contato com o LI (após a separação
com o LI).

Primeiramente, mediu-se a condutividade elétrica da água Mili-Q (H2O)i


e do C10MI.CF3SO3 puro. Em seguida, misturou-se o LI com a água. Após a
decantação da emulsão, esperou-se o LI decantar para então separar a água
(H2O)f e efetuar a medida de condutividade elétrica. Os resultados estão
apresentados na Tabela 5.6.

75
Tabela 5.6: Medidas de condutividade elétrica de C10MI.CF3SO3, da
água pura (H2O)i e da água após ter sido colocada em contato com o
C10MI.CF3SO3 (H2O)f.

Composto Condutividade elétrica (µS/cm)

C10MI.CF3SO3 325

(H2O)i 3

(H2O)f 2080

Os dados da Tabela 5.6 comprovam a pureza da água empregada para


esse experimento e a mobilidade dos íons do LI quando puro. O valor de
condutividade elétrica da água Mili-Q após a decantação do sistema bifásico
evidencia a presença de um eletrólito, o C10MI.CF3SO3 dissolvido, indicando
que esse LI é parcialmente miscível na água.

Para avaliarmos a importância da utilização do LI no meio reacional,


testou-se os processos de conversão de açúcares em HMF na ausência do
C10MI.CF3SO3, utilizando o HCl ou o AlCl3 como catalisador e solução aquosa
de açúcar (frutose, glicose ou sacarose) 10% em massa. As condições
reacionais foram previamente estudadas.

Baseando-se no cromatograma de HPLC típico mostrado na Figura 5.7


foi possível notar que na ausência deste LI o processo de conversão da frutose
não foi iniciado, tanto na presença de HCl como na presença de AlCl 3. O pico
relacionado à frutose aparece em ~10 minutos e, caso houvesse formado o
HMF apareceria em ~26 minutos.

76
Figura 5.7: Cromatograma de HPLC típico dos sistemas reacionais na
ausência de LI utilizando frutose e catalisador (HCl ou AlCl 3). Condições
reacionais: 0,4 g frutose, 2 mL água; 10% AlCl3 (100 ºC e 240 min) ou HCl
(m/m) em relação à frutose (110 ºC e 60 min).

Para a glicose, conforme mostra a Figura 5.8, o mesmo


comportamento foi observado na ausência do C10MI.CF3SO3 quando o HCl ou
o AlCl3 foi usado, pois o processo de conversão deste açúcar também não foi
iniciado (~10 min).

Figura 5.8: Cromatograma de HPLC típico dos sistemas reacionais na


ausência de LI utilizando glicose e catalisador (HCl ou AlCl 3). Condições
reacionais: 0,4 g glicose, 2 mL água, 140 ºC; 10% AlCl3 (120 min) ou HCl (m/m)
em relação à glicose (60 min).

77
A partir da Figura 5.9 observou-se que, assim como para a frutose e
glicose, a sacarose também não iniciou a conversão para ambos catalisadores
na ausência do LI. Contudo, um ponto a ser destacado é que na presença do
catalisador HCl ou do AlCl3 o meio reacional apresentou acidez suficiente para
que a sacarose fosse completamente hidrolisada em frutose e glicose, o que
facilita o processo de produção do HMF. O processo de hidrólise da sacarose
pode ser observado devido a presença de dois picos no cromatograma, sendo
o primeiro equivalente à frutose e o segundo à glicose.

Figura 5.9: Cromatograma de HPLC dos sistemas reacionais na ausência de


LI utilizando sacarose, HCl e AlCl3. Condições reacionais: 0,4 g sacarose, 2 mL
água, 120 min; 10% AlCl3 (m/m) a 120 ºC; 10% HCl (m/m) a 100 ºC).

Com base nos experimentos realizados, observa-se que a adição do


C10MI.CF3SO3 ao sistema reacional é de grande importância para que o
processo de conversão da frutose, glicose ou sacarose seja iniciado, pois no
teste realizado somente com catalisador e solução aquosa de qualquer açúcar
(sem LI) não apresentou condições necessárias para que a conversão deste
sistema fosse iniciada e, consequentemente, o HMF formado.

78
5.1.2.2. Conversão de Açúcares em HMF Utilizando o Líquido
iônico C10MI.CF3SO3

Neste estudo foram abordados os resultados relacionados à conversão


da frutose, glicose e sacarose utilizando como catalisador o HCl ou o AlCl3. As
variáveis estudadas a fim de verificar a influência na conversão dos açúcares,
seletividade e rendimento em HMF foram:

 Temperatura: 80, 90, 100, 110, 120, 130 e 140 ºC;


 Tempo: 30, 60, 120, 180 e 240 minutos;
 Razão mássica de catalisador/açúcar (g/g): 0; 0,05; 0,1; 0,15 e
0,2;
 Razão mássica de frutose/LI (g/g): 0,05; 0,1; 0,15 e 0,2.

5.1.2.2.1. Influência da temperatura reacional

Estudou-se a influência da temperatura reacional sobre a reatividade e


a seletividade para a frutose, a glicose e a sacarose. Os experimentos foram
conduzidos mantendo a razão mássica açúcar/C10MI.CF3SO3 de 0,1 (mesma
razão mássica utilizada por Li et al.[91]), 10% do catalisador HCl ou AlCl3 (m/m)
em relação ao açúcar em um tempo de reação de 120 minutos. Os respectivos
resultados estão apresentados na Tabela 5.7.

Antal et al.[56] relatam que sistemas que utilizam a frutose em água não
são resistentes a altas temperaturas, favorecendo assim, a formação de
produtos secundários. Rosatella et al.[13] complementa relatando que a
produção do HMF através da desidratação de monossacarídeos por catálise
ácida pode ser considerada um processo complexo que facilita as reações
secundárias. Com base nisso, observa-se que utilizando o AlCl3 com o LI
C10MI.CF3SO3 a 80 ºC a frutose manteve-se mais estável, pois não se
observou a sua conversão. Para temperaturas superiores a 100 ºC, a
conversão da frutose foi total. Adicionalmente, o aumento da conversão da
frutose devido ao aumento da temperatura acompanhou-se de altas
seletividades em HMF (> 60%), atingindo valores de ~70% para temperaturas
reacionais de 100 e 110 ºC. Somente para a reação conduzida a 120 ºC a

79
seletividade em HMF diminuiu para 61% indicando a formação de produtos
secundários.

Tabela 5.7: Influência da temperatura reacional na conversão da


frutose, glicose ou sacarose em HMF catalisada por HCl e AlCl3.

HCl (a) AlCl3 (b)

Temp. % % Sel. % Rend. % % Sel. % Rend.


Açúcar
(ºC) Conv. HMF HMF Conv. HMF HMF

Frutose 80 39 100 39 0 0 0
Frutose 90 83 95 78 48 60 29
Frutose 100 100 83 83 100 73 73
Frutose 110 100 90 90 100 71 71
Frutose 120 100 79 79 100 61 61
Glicose 100 46 0 0 14 0 0
Glicose 110 53 0 0 36 0 0
Glicose 120 66 0 0 71 52 37
Glicose 130 80 19 16 74 49 37
Glicose 140 82 20 16 77 62 47
Sacarose 90 32 70 23 21 0 0
Sacarose 100 63 86 54 66 56 37
Sacarose 110 60 83 50 68 70 48
Sacarose 120 60 84 50 81 69 56
Sacarose 130 70 82 57 90 56 55
Sacarose 140 88 61 53 93 53 49
Condições de síntese: 4 g líquido iônico, 0,4 g açúcar, 2 mL água, 10%
catalisador AlCl3 ou HCl (m/m), t = 120 min. (a) 2,6 mmol; (b) 0,306 mmol.

Os resultados de rendimento em HMF empregando como material de


partida a frutose, a glicose e a sacarose, extraídos da Tabela 5.7 são
representados na Figura 5.10.

80
Figura 5.10: Efeito da temperatura reacional no rendimento em HMF utilizando
como catalisador (a) HCl e (b) AlCl3. Condições reacionais: 4 g LI, 0,4 g açúcar,
2 mL água, 10% catalisador AlCl3 ou HCl (m/m), t = 120 min.

Ao utilizar o HCl verifica-se que a 80 ºC a frutose iniciou o processo de


conversão (39%), produzindo o HMF com 100% de seletividade, mas com
baixo rendimento. Aumentando para 90 ºC a conversão praticamente dobrou
(83%) acompanhada de uma alta seletividade em HMF (95%). Com este
catalisador observa-se que a partir de 100 ºC a conversão da frutose foi total e
que 110 ºC pode ser considerada a temperatura ideal, pois obteve-se o HMF
com 90% de seletividade e rendimento. A 120 ºC a seletividade do HMF
diminuiu para 79% indicando a formação de produtos secundários, conforme
relatou Antal.[56]

81
A partir dos resultados apresentados, observa-se que o rendimento em
HMF obtido pela desidratação da frutose aumentou com o aumento da
temperatura, até uma temperatura máxima de 100 ºC correspondendo a um
rendimento de 90% e em seguida diminuiu com o aumento da temperatura.
Quando o AlCl3 foi usado essa temperatura máxima foi de 100 ºC e
corresponde a um rendimento de 73%. Quando o HCl foi usado, a temperatura
máxima foi de 110 ºC.

É importante ressaltar que a conversão da frutose, o rendimento e


seletividade em HMF dependem da temperatura reacional do sistema catalítico
e que controlando-a é possível obter altos rendimentos. Neste estudo observa-
se que a temperatura em que se conseguiu melhor rendimento em HMF e alta
conversão da frutose foi de 110 ºC quando foi usado o HCl e 100 ºC quando foi
usado o AlCl3, não evidenciando um efeito significativo da reatividade da
frutose em relação aos dois catalisadores.

Para a glicose, verifica-se na Tabela 5.7 que para os dois sistemas


catalíticos a conversão aumentou com o aumento da temperatura atingindo
aproximadamente o valor de 80% para a temperatura de 140 ºC. Contudo, a
seletividade em HMF foi sempre maior em condições comparáveis com AlCl 3
do que com o HCl, sendo que com esse último o seu maior valor foi de 20%
enquanto que com o AlCl3 ela foi de aproximadamente de 60%.

A Figura 5.10 permite igualmente verificar que quando o HCl foi


empregado, apesar de observar a conversão da glicose a partir de 100 ºC, a
formação de HMF iniciou somente na temperatura de 120 ºC. Essa demora em
termos de formação do HMF em relação ao início da conversão foi observada
igualmente quando o AlCl3 foi usado, porém com uma menor amplitude. O fato
do HMF não ser produzido no mesmo momento em que a conversão da glicose
foi iniciada pode ser devido à necessidade da glicose ser isomerizada em
frutose previamente para depois ter a reação de formação de HMF.

A diferença de comportamento observada entre os dois sistemas


catalíticos (HCl e AlCl3) em relação à formação de HMF (diferentes
temperaturas e seletividades) evidencia que o AlCl3 foi mais ativo na reação de
isomerização da glicose do que o HCl, etapa limitante para a formação de
HMF. Essa propriedade do AlCl3 já foi mencionada por Yang et al.[124]
82
No caso em que se usou o HCl, em temperaturas de 100-120 ºC a
glicose converteu e esta aumentou com o aumento da temperatura, mas não
houve a formação do HMF. O maior rendimento obtido foi de 16% e a
seletividade foi de 20% a 140 ºC.

Da mesma forma, Liu et al.[127] estudaram a conversão da glicose no LI


EMI.Cl e verificaram que converter a glicose em HMF é mais difícil do que
converter a frutose em HMF, sendo necessário temperaturas reacionais
superiores para a glicose (100 ºC) do que para a frutose (80 ºC).

O presente estudo confirma o resultado mencionado por Liu et al., pois


se compararmos a temperatura de conversão da glicose para ambos
catalisadores, esta foi de 140 ºC, enquanto que para a frutose foi de 100ºC,
indicando que para o presente sistema, maiores temperaturas foram exigidas
para converter glicose do que para converter frutose.[127]

Em relação à sacarose, nota-se na Figura 5.10 que o rendimento em


HMF obtido pela conversão da sacarose aumentou com o aumento da
temperatura, até uma temperatura máxima. Após esse máximo de temperatura,
observa-se uma pequena redução com o aumento da temperatura.

Quando o AlCl3 foi usado essa temperatura máxima foi de 120 ºC e


correspondeu a um rendimento de 56%. Quando o HCl foi empregado, a
temperatura máxima foi de 100 ºC e correspondeu a um rendimento de 54%.

Wang et al. relatam o efeito da temperatura na desidratação de


sacarose com sistema CrCl3-NH4Br e observaram que a temperatura de reação
ótima foi de 100 ºC, temperatura inferior encontrada para a conversão da
glicose e semelhante a usada com a frutose.[125]

Hua et al. complementam que para a conversão da sacarose não é


recomendada usar uma temperatura mais elevada por favorecer as reações
secundárias que formam subprodutos.[126] Com base nisso, observa-se que
utilizando o AlCl3 com o LI C10MI.CF3SO3 a 90 ºC a sacarose se manteve mais
estável, pois se observa o início da sua conversão (21%). Para temperaturas
superiores a 120 ºC, a conversão da sacarose foi maior que 80%.
Adicionalmente, o aumento da temperatura demonstrou um efeito na conversão
da sacarose com seletividades em HMF com valores intermediários aos obtidos

83
com a frutose e a glicose (> 50%). A seletividade foi de ~70% para
temperaturas reacionais de 110 e 120 ºC. A diminuição da seletividade em
HMF para 56% a partir da temperatura reacional de 130 ºC indica que há
formação de produtos secundários.

Ao usar o HCl verifica-se que a 90 ºC a sacarose iniciou o processo de


conversão (32%) formando o HMF com 23% de rendimento, mas com alta
seletividade (70%). Aumentando para 100 ºC a conversão praticamente dobrou
(63%) acompanhada de uma alta seletividade em HMF (86%).

A partir desse conjunto de resultados relativos ao uso de sacarose é


importante controlar a temperatura reacional no processo de produção do HMF
para dificultar o processo de decomposição do HMF e, assim, permitir alcançar
uma boa seletividade e, consequentemente, um bom rendimento em HMF,
conforme sugerido por Moreau et al.[103]

5.1.2.2.2. Influência do tempo reacional

A influência do tempo reacional na desidratação da frutose é discutida


a partir dos resultados obtidos em termos de conversão, seletividade e
rendimento em HMF. Foi utilizada nesse estudo, a temperatura ótima para
cada catalisador encontrada no estudo da temperatura, descrito anteriormente.
As condições reacionais foram: razão mássica de açúcar/C10MI.CF3SO3 é 0,1,
10% do catalisador (m/m). Para a frutose e com o catalisador HCl a
temperatura reacional foi 110 ºC e para o AlCl3 foi a 100 ºC. Partindo da
glicose, independente do catalisador empregado, a temperatura reacional foi de
140 ºC. Com a sacarose, empregou-se 100 ºC com o HCl e 120 ºC com o
AlCl3. Os tempos reacionais estudados foram: 30, 60, 120, 180 e 240 minutos.
Os resultados correspondentes são apresentados na Tabela 5.8.

De acordo com os resultados experimentais apresentados na Figura


5.11 quando o HCl foi usado, em termos de rendimento em HMF, o maior valor
quando se utilizou a frutose foi de 90% em 60 minutos. Após 60 minutos, o
rendimento em HMF manteve-se constante ou diminuiu levemente (81% para
240 minutos). Os dados de conversão da frutose indicam que a partir de 120
minutos de reação a conversão desse açúcar é completa.

84
Tabela 5.8: Influência do tempo reacional na conversão da frutose,
glicose e sacarose em HMF catalisada por HCl e AlCl3.
HCl (a) AlCl3 (b)

Tempo % % Sel. % Rend. % % Sel. % Rend.


Açúcar
(min) Conv. HMF HMF Conv. HMF HMF

Frutose 30 52 100 52 0 0 0
Frutose 60 100 90 90 39 73 28
Frutose 120 100 90 90 100 69 69
Frutose 180 100 85 85 100 73 73
Frutose 240 100 81 81 100 82 82
Glicose 30 58 18 10 57 58 33
Glicose 60 72 23 16 77 47 36
Glicose 120 82 20 16 77 62 47
Glicose 180 100 14 14 87 38 33
Glicose 240 100 10 10 100 57 57
Sacarose 30 11 17 2 0 0 0
Sacarose 60 47 32 15 29 17 5
Sacarose 120 63 86 54 81 69 56
Sacarose 180 68 78 53 89 65 58
Sacarose 240 69 83 57 92 50 46

Condições reacionais: 4 g líquido iônico, 0,4 g açúcar, 2 mL água, 10%


catalisador AlCl3 ou HCl (m/m). (a) 2,6 mmol, 110 ºC (frutose), 140 ºC (glicose)
e 100 ºC (sacarose); (b) 0,306 mmol, 100 ºC (frutose), 140 ºC (glicose) e 120
ºC (sacarose).

Ao utilizar o AlCl3, observa-se que o rendimento em HMF aumentou


com o aumento do tempo. A conversão da frutose atingiu 100% somente a
partir de 120 minutos sendo que o maior rendimento obtido foi 82% após 240
minutos de reação.

85
Figura 5.11: Efeito do tempo reacional no rendimento em HMF utilizando como
catalisador (a) HCl e (b) AlCl3. Condições reacionais: 4 g LI, 0,4 g açúcar, 2 mL
água, 10% catalisador AlCl3 ou HCl (m/m). HCl: 110 ºC (frutose), 140 ºC
(glicose) e 100 ºC (sacarose); AlCl3: 100 ºC (frutose), 140 ºC (glicose) e 120 ºC
(sacarose).

Se compararmos os resultados dos dois catalisadores, o HCl mostrou-


se mais eficiente na desidratação da frutose do que o AlCl 3, sendo necessário
apenas 60 minutos para obter o HMF com altos rendimentos (90%).
Provavelmente, essa diferença está associada ao caráter ácido do HCl que
facilita a desidratação. Esses resultados estão de acordo aos obtidos por Liu et
al. estudaram a desidratação da frutose utilizando como líquido iônico o cloreto
de 1-etil-3-metilimidazólio (EMI.Cl) com os catalisadores H2SO4 e AlCl3. A

86
conversão da frutose foi completa em um tempo reacional inferior (10 minutos)
utilizando o H2SO4 enquanto que mesmo após 60 minutos a conversão da
frutose não havia iniciado utilizando o AlCl3. Com isso, pode-se observar
comparando os resultados obtidos nesse estudo aos da literatura que a
associação do LI com o catalisador ácido é um parâmetro imprescindível para a
produção da acidez necessária para obter a desidratação da frutose e que as
condições reacionais serão específicas para cada associação LI/catalisador.[127]

Em relação à conversão da glicose, observa-se na Tabela 5.8 que nos


dois sistemas catalíticos esse açúcar foi convertido nas mesmas porcentagens
independentemente do tempo reacional e que os dados de seletividade em
HMF não variaram sensivelmente com o aumento da conversão.
Adicionalmente, observa-se que com o sistema AlCl3, as seletividades em HMF
(~50%) foram maiores que aquelas obtidas com o sistema HCl (20%). É
estabelecido que para obter HMF a partir da glicose, essa deve ser
previamente isomerizada em frutose. Se a conversão da glicose por HCl
formasse frutose, se esperaria maiores seletividades em HMF com esse
catalisador do que com o AlCl3, pois Wang et al.[128] mostraram que ácidos de
Brönsted (HCl) são mais ativos de que ácido de Lewis (AlCl 3) na conversão da
frutose em HMF. Como houve alta conversão da glicose acompanhada de uma
baixa seletividade em HMF, pode-se concluir que o HCl não foi ativo para a
isomerização da glicose em frutose, mas foi responsável pela conversão da
glicose em compostos húmicos o que impede a formação de HMF. [127]

Por outro lado, as seletividades em HMF a partir da glicose foram


maiores para o sistema AlCl3 do que para o sistema HCl. O AlCl3 não foi o
melhor catalisador para converter frutose (proveniente da isomerização) em
HMF, mas esse resultado indica que o AlCl3 foi mais eficiente do que o HCl
para isomerizar a glicose em frutose. Em relação aos rendimentos em HMF
obtidos, vale ressaltar que com o AlCl3 (Tabela 5.8) um rendimento de ~50% foi
alcançado após 240 minutos de reação.

Esses resultados estão de acordo aos estudados por Liu et al. na


conversão da glicose utilizando líquido iônico com os catalisadores H 2SO4 e
AlCl3, em que a conversão da glicose foi ~80% em 100 minutos utilizando o
AlCl3 e ~60% utilizando H2SO4.[127]

87
Os resultados de conversão da sacarose e rendimento em HMF
apresentados na Tabela 5.8 e na Figura 5.11 mostram que a maior seletividade
em HMF aliada ao rendimento foi de 69% e 54%, respectivamente, após 120
minutos quando o HCl foi usado. Após 120 minutos, o rendimento em HMF
manteve-se constante. Os dados de conversão da sacarose indicam que a
partir de 120 minutos de reação a conversão foi entre 60-70% e esse açúcar
não foi totalmente convertido mesmo após 240 minutos.

Ao utilizar o AlCl3, observa-se que o rendimento em HMF aumentou


com o aumento do tempo. A conversão da sacarose também não atingiu 100%
mesmo em 240 minutos. A partir de 120 minutos a conversão foi entre 80-90%,
um pouco maior se comparada ao HCl, sendo que a maior seletividade obtida
foi 56% igual ao rendimento de 56%.

Se compararmos os resultados dos dois catalisadores, o AlCl3 mostrou-


se mais eficiente na conversão da sacarose do que o HCl a partir de 120
minutos, mas não mais seletivo. Esse resultado indica que o HCl é mais ativo
para a formação do HMF de forma seletiva. Provavelmente, essa diferença
está associada ao caráter ácido do HCl que facilita a desidratação da frutose
produzida pela hidrólise da sacarose. Esses resultados estão de acordo aos
estudados por Chun et al.[55] em sistema aquoso utilizando como líquido iônico
o cloreto de 1-metil-3-octilimidazólio (MOI.Cl ou C8MI.Cl) com os catalisadores
CrCl2 e ZnCl2, em que o rendimento foi 45-65% após 120 minutos. Esse
resultado reforça ainda mais que a interação do meio reacional entre o LI e o
catalisador ácido é um parâmetro de grande importância para a produção da
acidez necessária para obter o HMF.

5.1.2.2.3. Influência da quantidade de catalisador

A acidez do meio reacional pode ser ajustada alterando a quantidade


de catalisador adicionado, podendo assim influenciar na conversão dos
açúcares e na formação do HMF.

Os experimentos foram realizados utilizando o AlCl3 e HCl como


catalisador e condições reacionais para quais, com cada sistema obteve-se os
melhores resultados. Nas reações com o AlCl3 utilizou-se a temperatura de 100

88
ºC e o tempo reacional de 240 minutos para a frutose, 140 ºC e 120 minutos
para a glicose, 120 ºC e 120 minutos para a sacarose. Com o HCl foram
conduzidas a 110 ºC e 60 minutos para a frutose, 140 ºC e 60 minutos para a
glicose, 100 ºC e 120 minutos para a sacarose. A razão mássica de
catalisador/açúcar estudada foi de 0,05; 0,1; 0,15 e 0,2. Os resultados
encontrados estão descritos na Tabela 5.9.

Tabela 5.9: Influência da razão mássica de catalisador (HCl ou


AlCl3)/açúcar na produção do HMF.

HCl (a) AlCl3 (b)

mcat./maçúcar % % Sel. % Rend. % % Sel. % Rend.


Açúcar
(g/g) Conv. HMF HMF Conv. HMF HMF

Frutose 0 0 0 0 0 0 0
Frutose 0,05 57 78 45 24 0 0
Frutose 0,1 100 90 90 100 82 82
Frutose 0,15 100 87 87 100 65 65
Frutose 0,2 100 77 77 100 63 63
Glicose 0 0 0 0 0 0 0
Glicose 0,05 75 13 10 44 0 0
Glicose 0,1 72 23 16 77 62 47
Glicose 0,15 78 22 17 83 62 51
Glicose 0,2 85 33 28 100 51 51
Sacarose 0 0 0 0 0 0 0
Sacarose 0,05 0 0 0 34 0 0
Sacarose 0,1 63 86 54 81 69 56
Sacarose 0,15 68 100 68 94 50 47
Sacarose 0,2 68 100 68 93 64 60
Condições reacionais: 4 g líquido iônico, 0,4 g açúcar, 2 mL água. (a) 110 ºC e
60 min (frutose), 140 ºC e 60 min (glicose), 100 ºC e 120 min (sacarose); (b)
100 ºC e 240 min (frutose), 140 ºC e 120 min (glicose), 120 ºC e 120 min
(sacarose).

89
De acordo com os resultados apresentados na Tabela 5.9, o teste
realizado sem catalisador mostra que a presença de um ácido associado ao LI
é imprescindível para que ocorra a conversão dos açúcares testados, tendo em
vista que sem catalisador não se observou a conversão do açúcar. Os
resultados de seletividade em HMF extraídos da Tabela 5.9 são representados
na Figura 5.12.

Figura 5.12: Influência da quantidade de catalisador na seletividade em HMF


utilizando como catalisador (a) HCl e (b) AlCl3. Condições reacionais: 4 g LI,
0,4 g açúcar, 2 mL água. (a) 110 ºC e 60 min (frutose), 140 ºC e 60 min
(glicose), 100 ºC e 120 min (sacarose); (b) 100 ºC e 240 min (frutose), 140 ºC e
120 min (glicose), 120 ºC e 120 min (sacarose).

90
A partir dos resultados apresentados evidenciou-se que o aumento da
proporção de catalisador/frutose (0,15 e 0,2) favoreceu a conversão completa
da frutose, independente do catalisador usado, mas que os rendimentos e
seletividade em HMF diminuíram. Esses resultados indicam que nessas
condições houve formação de subprodutos em quantidade cada vez maior. Os
subprodutos podem ser ácido fórmico, ácido levulínico e compostos húmicos,
conforme relatado por Wang et al. que sugerem que esses compostos se
formam na presença de catalisadores ácidos de Lewis. [128] Nossos
experimentos mostram que tanto o ácido de Lewis (AlCl3) quanto o ácido de
Brönsted (HCl) devem ser responsáveis pela formação de alguns ou de todos
esses subprodutos, o que consequentemente, diminuiu o rendimento em HMF.

Em relação ao rendimento em HMF a partir da frutose, a Tabela 5.9


mostra que o HCl e o AlCl3 apresentam um comportamento parecido, mas com
o HCl como catalisador um rendimento em HMF maior foi obtido (90%) quando
comparado ao melhor rendimento obtido com o AlCl3 (82%). De modo geral,
em tempos iguais de reação os rendimentos obtidos com HCl são sempre
superiores do que os obtidos com AlCl3. Assim, pode-se concluir que o
catalisador HCl apresentou melhor desempenho do que o AlCl 3 para converter
a frutose em HMF.

O HCl além de ser mais ativo em termos de rendimento em HMF do


que o AlCl3, a comparação dos dados de conversão e seletividade em HMF na
Tabela 5.9 mostra que usando a razão de catalisador/frutose 0,05 de HCl, 57%
da frutose foi convertida com um rendimento em HMF de 45%, enquanto com
uma quantidade igual de AlCl3 a conversão da frutose (24%) foi praticamente a
metade daquela obtida com o HCl e sem formação de HMF.

Observa-se que conforme mencionado na literatura, ácidos de


Brönsted apresentaram melhor atividade catalítica na desidratação da frutose
do que os ácidos de Lewis.[128] No caso presente, o excesso de HCl na
presença do LI provavelmente modificou a acidez do meio reacional causando
a diminuição no rendimento do HMF devido à formação de subprodutos.

A partir dos resultados de conversão da glicose e seletividade em HMF,


verifica-se que o aumento da quantidade do catalisador HCl contribuiu para o
aumento da conversão da glicose, o aumento da seletividade e,
91
consequentemente, o rendimento em HMF. No caso do uso de AlCl 3, a
seletividade em HMF passa por um máximo (~60%), sendo que com o aumento
da quantidade de catalisador em relação a glicose de 0,15 para 0,2 observa-se
um leve decréscimo (~50%). Igualmente, observa-se que com a razão de 0,5
de AlCl3 a glicose foi convertida significativamente para (44%), mas o HMF não
foi formado, indicando a formação de subprodutos ou decomposição da
glicose.

Da mesma forma, observa-se que em condições comparáveis, o AlCl3


foi mais seletivo para a formação do HMF a partir da glicose do que o HCl
(confirmado pelos dados de rendimento), levando igualmente a propor que o
HCl foi responsável pela conversão da glicose em grande quantidades de
produtos húmicos em comparação à frutose, o que se reflete nas baixas
seletividades em HMF registradas.

Wang et al. estudaram a conversão da glicose e observaram que a


esse processo ocorre mais facilmente em sistemas com alta acidez, pois as
taxas mais baixas foram encontradas para o sistema reacional com pH 5,5. Os
ácidos de Lewis desempenham um papel fundamental nas reações de
desidratação em meio aquoso. Em nosso estudo pode-se confirmar essa
afirmação, pois o AlCl3 exerceu melhor desempenho catalítico na desidratação
da glicose do que o HCl, conforme o aumento significativo da seletividade em
HMF.[128]

Outra hipótese para explicar o baixo rendimento em HMF nos


processos de conversão da glicose em presença de ácido de Brönsted
(ausência de um catalisador de isomerização) pode estar relacionada ao
caminho direto de desidratação da glicose em HMF que se encaminha na
presença de ácidos minerais, sem que ocorra a etapa de formação da frutose,
conforme descrito na literatura.[102,129] Embora os ácidos de Lewis com metal
halogenado sejam considerados como inativos em água, nossos resultados
relacionados ao AlCl3 estão de acordo com os obtidos por Fringuelli et al. que
demonstraram que AlCl3, TiCl4 e SnCl4 são ativos em sistemas aquosos.[130,131]

Os resultados de conversão da sacarose e rendimento em HMF


mostrados na Tabela 5.9 mostram que o HCl e o AlCl3 apresentaram um
comportamento parecido, mas com o HCl como catalisador um rendimento em
92
HMF maior foi obtido (68%) quando comparado ao melhor rendimento obtido
com o AlCl3 (60%). De modo geral, em tempos iguais de reação as
seletividades obtidas com HCl foram sempre superiores do que as obtidas com
AlCl3.

Além do HCl ser mais ativo em termos de seletividade em HMF do que


o AlCl3, a comparação dos dados de conversão mostra que quando a razão
catalisador/sacarose foi 0,05 para o HCl, a sacarose não foi convertida,
enquanto que com a mesma razão com AlCl3 a conversão da sacarose (34%)
foi iniciada sem a formação de HMF.

Assim, pode-se entender que o HCl foi melhor catalisador do que o


AlCl3. Adicionalmente, os resultados evidenciam que mesmo com o aumento
da proporção de catalisador em relação à sacarose (0,15 e 0,2) não houve
conversão completa da sacarose, independente do catalisador empregado.
Para o AlCl3 a conversão aumentou consideravelmente, de 81 para 93%, mas
esses resultados indicam que nessas condições houve a formação de
subprodutos em função da seletividade e do rendimento não aumentarem.
Conforme citado por Wang et al. os ácidos de Lewis facilitam a formação tais
subprodutos e nossos experimentos demonstram que o ácido de Brönsted
(HCl) dificulta a formação desses subprodutos, permitindo obter o HMF com
alta seletividade (100%) mesmo com o aumento da quantidade de catalisador
em relação ao açúcar.[128] No caso presente, o excesso de HCl na presença do
LI não ocasionou a diminuição no rendimento do HMF.

Em conclusão, observa-se que conforme mencionado na literatura,


ácidos de Brönsted apresentaram melhor atividade catalítica na desidratação
da frutose do que os ácidos de Lewis e, com isso, acredita-se que toda ou
grande parte da frutose proveniente da hidrólise da sacarose foi transformada
em HMF.[128] Outro ponto a ser considerado em relação ao melhor
comportamento catalítico do HCl é que este catalisador apresentou maior
acidez se comparado ao AlCl3, facilitando a etapa de hidrólise da sacarose em
frutose e glicose para então obter o HMF.[59]

A partir dos experimentos realizados nesse trabalho, observa-se que se


obteve o HMF, utilizando como material de partida a sacarose, com
rendimentos superiores para o HCl do que para o AlCl3. Esperava-se que o HCl
93
apresentaria um melhor desempenho na formação do HMF a partir da
sacarose, fato que pode ser confirmado. Os rendimentos obtidos foram
semelhantes aos obtidos por Wang et al., em que utilizaram um outro sistema
reacional constituído por DMA (dimetilacetamida) como solvente e CrCl 3 como
catalisador (rendimento de 66%), sistema que emprega um solvente orgânico e
um catalisador tóxico.[128]

A vantagem em utilizar o método reacional estudado nesse trabalho


associa-se ao emprego de um LI insolúvel em água que favorece a separação
do HMF formado usando água como solvente de extração e, também, ao fato
de utilizar catalisadores considerados menos tóxicos e com menor custo
quando comparado ao CrCl3.

5.1.2.2.4. Influência da quantidade de açúcar

Apresentando como foco deste trabalho a obtenção de HMF a partir da


conversão de açúcares, resolveu-se verificar o efeito da proporção de açúcar
em relação ao LI C10MI.CF3SO3, uma vez que, concentrações mais elevadas
de matéria-prima tornaria o processo industrial mais econômico. Para as
reações com AlCl3, usou-se a temperatura de 100 ºC e um tempo reacional de
240 minutos para a frutose, 140 ºC e 120 minutos para a glicose, 120 ºC e 120
minutos para a sacarose. Com o HCl foram conduzidas a 110 ºC e 60 minutos
para a frutose, 140 ºC e 60 minutos para a glicose, 100 ºC e 120 minutos para
a sacarose. A razão mássica de açúcar/LI testadas foram: 0,05; 0,1; 0,15 e 0,2.
O conjunto de resultados é apresentado na Tabela 5.10.

A Figura 5.13 apresenta os resultados de seletividade em HMF


extraídos da Tabela 5.10 correspondentes ao uso dos dois catalisadores com
diferentes razões mássicas de açúcar no meio reacional. Esses resultados
permitem observar que quando AlCl3 foi empregado utilizando a razão mássica
de 0,05 houve a conversão da frutose de 24% com uma seletividade de 100%,
enquanto para a mesma condição com HCl não se observou a conversão da
frutose.

94
Tabela 5.10: Influência da razão mássica de açúcar/LI na produção de
HMF, empregando HCl e AlCl3 como catalisadores.

HCl (a) AlCl3 (b)

Maçúcar/mLI % % Sel. % Rend. % % Sel. % Rend.


Açúcar
(g/g) Conv. HMF HMF Conv. HMF HMF

Frutose 0,05 0 0 0 24 98 24
Frutose 0,1 100 90 90 100 82 82
Frutose 0,15 83 86 71 100 64 64
Frutose 0,2 84 81 68 84 65 55
Glicose 0,05 51 13 7 42 0 0
Glicose 0,1 85 33 28 77 62 47
Glicose 0,15 38 0 0 100 21 21
Glicose 0,2 50 8 4 100 32 32
Sacarose 0,05 44 100 44 40 0 0
Sacarose 0,1 68 100 68 81 69 56
Sacarose 0,15 75 89 66 91 43 39
Sacarose 0,2 72 82 59 84 57 48

Condições de síntese: 4 g líquido iônico, 2 mL água, AlCl 3 ou HCl (m/m). (a)


110 ºC, 60 min, 10% catalisador (frutose); 140 ºC, 60 min e 20% catalisador
(glicose); 100 ºC, 120 min e 15% catalisador (sacarose). (b) 100 ºC, 240 min,
10% catalisador (frutose); 140 ºC, 120 min e 10% catalisador (glicose); 120 ºC,
120 min e 10% catalisador (sacarose).

Quando o AlCl3 foi utilizado, a medida que a conversão da frutose


aumentou a seletividade em HMF diminuiu indicando a formação crescente de
subprodutos com o aumento da conversão. Um comportamento bem diferente
foi observado quando HCl foi usado, mesmo com altas conversões da frutose,
pois altas seletividades em HMF em torno de 80% foram obtidas. Esse
comportamento traduz um excelente comportamento do meio reacional
empregando HCl, ou seja, mesmo aumentando a proporção de frutose se
obtém boas conversões e seletividades.

95
Figura 5.13: Influência da razão mássica de açúcar/LI seletividade em HMF
utilizando como catalisador (a) HCl (b) AlCl3. Condições reacionais: 4 g LI, 2
mL água; 10% AlCl3 (m/m) a 100 ºC e 240 min; 10% HCl (m/m) a 110 ºC e 60
min.

Os maiores rendimentos em HMF encontrado foram de 82% (AlCl 3) e


90% (HCl) ao utilizar a razão 0,1 de frutose. Esses valores diminuíram para
55% (AlCl3) e 68% (HCl) quando a razão de frutose/LI do meio reacional foi 0,2.

Esse mesmo comportamento relacionado ao aumento da concentração


inicial de frutose foi observado por Qi et al. que observaram a diminuição no
rendimento em HMF em sistemas com concentrações acima de 10% em peso
de frutose (razão 0,1). A diminuição do rendimento em HMF foi atribuído às
reações paralelas que podem ocorrer entre a frutose e o HMF, favorecendo

96
assim, a produção de compostos húmicos.[78]

Baseando-se nos resultados apresentados nota-se que aumentando a


quantidade de glicose, a sua conversão aumentou progressivamente, isso para
ambos catalisadores. No intervalo de 0,1 a 0,2 de glicose/LI os rendimentos em
HMF diminuíram significativamente. Da mesma forma foi para a razão 0,1 de
glicose/LI em que se obteve para os dois sistemas catalíticos a melhor
seletividade em HMF, sendo que o AlCl3 foi o melhor catalisador. Essas
informações levam a propor que com o aumento da concentração da glicose, a
formação de subprodutos foi favorecida. Adicionalmente, o poder maior de
isomerização da glicose em frutose utilizando o AlCl3 foi novamente
evidenciado para esse conjunto de experimentos.

Ramli et al. atribuem o aumento da conversão da glicose aos sítios


ativos disponíveis sob as condições reacionais aplicadas e a diminuição do
rendimento em HMF ao aumento da quantidade de glicose que favorece a
provável formação de subprodutos húmicos no sistema reacional.[102] Segundo
Qi et al. a formação de húmicos pode ocorrer a partir da combinação do açúcar
com o HMF, especialmente em sistemas aquosos.[78]

Os resultados de conversão da sacarose e seletividade em HMF


correspondentes ao uso dos dois catalisadores com diferentes razões
mássicas de sacarose no meio reacional permitiu observar que quando o HCl
foi empregado utilizando a razão mássica de 0,05, houve conversão deste
açúcar de 44% com uma seletividade de 100%, enquanto para a mesma
condição com o AlCl3 houve conversão de 40%, mas o HMF não foi formado.

Nos sistemas em que o AlCl3 foi usado, a medida que a conversão


aumentou, a seletividade em HMF diminuiu, indicando a formação de
subprodutos com o aumento da conversão. Para o HCl o mesmo
comportamento foi observado em relação à conversão da sacarose, mas com a
vantagem que altas seletividades em HMF foram obtidas, acima de 80%. Esse
desempenho demonstra um excelente comportamento do meio reacional, ou
seja, mesmo aumentando a proporção de sacarose é possível obter boas
conversões e seletividades.

O maior rendimento em HMF encontrado foi de 56% (AlCl3) e 68%

97
(HCl) ao utilizar a razão 0,1 de sacarose/LI, mas esses valores se reduzem
para 48% (AlCl3) e 59% (HCl) quando o meio reacional contém a razão 0,2 de
sacarose/LI. Conforme citado para a frutose e glicose, esse comportamento em
relação à redução do rendimento pode ser atribuída às reações paralelas que
podem ocorrer durante o processo, bem como, a produção de compostos
húmicos.[78]

5.1.2.3. Avaliação da Reutilização do C10MI.CF3SO3 na formação do


HMF

Considerando as propriedades específicas dos carboidratos a


reutilização do líquido iônico utilizado neste trabalho foi testada para a frutose e
com o catalisador HCl. Os resultados relacionados à conversão da frutose e
rendimento em HMF foram obtidos pelas análises cromatográficas dos
produtos de 4 ciclos operacionais. Os resultados encontrados são
representados na Figura 5.14. A metodologia e as condições reacionais para
esse estudo estão descritas na seção 4.2.3.

Figura 5.14: Influência da reutilização do LI na conversão da frutose e


rendimento em HMF. Condições reacionais: 4 g LI, 0,4 g frutose, 2 mL de H 2O,
10 % HCl (m/m), 60 min e 110 ºC.

98
Os resultados mostram que com a reutilização do LI a conversão da
frutose se manteve em 100% nos 4 ciclos operacionais. Nos 3 primeiros ciclos
não houve alteração no percentual do rendimento em HMF. No último ciclo o LI
perdeu levemente sua atividade em função da redução do rendimento de ~90%
para 83%.

Li et al. realizaram um estudo de reutilização do líquido iônico ProCl na


síntese do HMF a partir da frutose e observaram que a reciclagem do ProCl
exibiu reatividade praticamente constante no que diz respeito ao rendimento
em HMF (~70%) em cinco ciclos. Nossos resultados estão de acordo aos
descritos na literatura.[86] Comparando os resultados relacionados ao reciclo do
C10MI.CF3SO3 ao sistema estudado por Li et al., nosso sistema apresentou
melhor desempenho em sintetizar o HMF, pois mesmo após 4 ciclos obteve-se
o HMF com rendimento superior a 80%.

O C10MI.CF3SO3, na presença de soluções aquosas, que solubilizam


os açúcares e o HMF, forma um sistema bifásico. Esse, sob agitação, se torna
em uma emulsão e nas interfaces das esferas da emulsão ocorrem as reações
catalíticas que convertem os açúcares em HMF.

Baseando-se nos resultados obtidos com o LI C10MI.CF3SO3, a seguir


está proposto na Figura 5.15 um fluxograma simplificado ilustrando o uso
desse LI e sua reciclagem num processo industrial de produção de HMF a
partir da conversão de açúcares. Ao final da reação e após a parada da
agitação, as duas fases se reformam, permitindo assim, por simples
decantação separar o HMF do líquido iônico. Subsequente à etapa de
separação o LI poderá ser reciclado e o HMF em solução aquosa ser
diretamente submetido às reações como, por exemplo, a oxidação do HMF em
FDCA que é utilizado na produção de polímeros.

99
Figura 5.15: Processo industrial para produção do HMF utilizando
C10MI.CF3SO3.

O processo descrito que emprega o líquido iônico C10MI.CF3SO3


permite desenvolver um processo mais econômico e sustentável, pois
possibilita a reciclagem do LI, para a produção de HMF a partir da biomassa
sem precisar do uso de solventes orgânicos para separar o HMF do meio
reacional.

100
6. CONCLUSÃO

No presente trabalho, avaliou-se a conversão de açúcares para a


produção de HMF empregando diferentes líquidos iônicos (LIs) associados ao
HCl ou AlCl3 (catalisador).

Em relação aos resultados obtidos com os LIs baseados em cloretos


de imidazólio, observou-se que o sistema catalítico empregado, HCl ou AlCl3
com o CnMI.Cl (n = 4, 8, 10 e 12), foi eficiente para produzir o HMF a partir da
frutose com altos rendimentos (>90%).

Ao utilizar a glicose como material de partida, os sistemas reacionais


não se mostraram tão eficientes devido à baixa capacidade em isomerizar
glicose em frutose, o que prejudica a reação de desidratação que leva ao HMF.
Dentre esses LIs, o C12MI.Cl foi o mais eficiente na formação do HMF a partir
da glicose para ambos catalisadores, indicando que os LIs da família imidazólio
com cadeia alifática maior são mais promissores para converter em HMF. Esse
resultado pode ser relacionado aos valores de constante de acidez Brönsted-
Lowry (Ka) medidos para o conjunto de LIs.

Entre os LIs à base de cloreto de imidazólio testados, o C12MI.Cl foi o


que apresentou maior Ka em relação à água (Ka = 8,33.10-7), enquanto os
demais LIs apresentaram Ka entre 1,49.10-18 e 4,57.10-17. O valor de Ka para o
C12MI.Cl pode estar associado ao seu desempenho diferenciado quando
comparado com os demais LIs da mesma família.

Baseando-se nos resultados obtidos, é possível propor que o C12MI.Cl


atua como solvente e co-catalisador no processo de conversão de açúcares em
HMF, pois na ausência de catalisador a reação foi iniciada devido à sua

101
provável força ácida. Já o C4MI.Cl, o C8MI.Cl e o C10MI.Cl provavelmente
atuam somente como solvente no meio reacional, porque na ausência de HCl
ou AlCl3 não houve conversão dos açúcares.

Como inovação tecnológica desse trabalho, foi desenvolvido um


processo de conversão da glicose, da frutose e da sacarose empregando como
meio reacional o LI C10MI.CF3SO3 composto altamente hidrofóbico. Nesse
estudo foi utilizado como catalisador o HCl ou o AlCl3. Também, foram
avaliadas a influência da temperatura do sistema, o tempo reacional, a razão
mássica entre o catalisador e o açúcar e a razão mássica entre o açúcar/LI.

Em relação à atividade catalítica do C10MI.CF3SO3 pode-se notar que


na ausência deste LI, o processo de conversão da frutose, a glicose e sacarose
não foi iniciado e, consequentemente, o HMF não foi formado.

Os catalisadores testados, HCl e AlCl3, mostraram-se eficientes em


hidrolisar a sacarose em frutose e glicose, mesmo na ausência do
C10MI.CF3SO3, devido à força ácida associada a eles.

Pode-se notar que o catalisador que apresentou melhor desempenho


catalítico na conversão da frutose e no rendimento em HMF foi o HCl, obtendo-
se rendimento de 90%. Utilizando-se o catalisador AlCl3 na desidratação da
frutose, o rendimento máximo obtido foi de 82%, indicando que este catalisador
é menos eficiente no processo de desidratação quando comparado ao HCl. As
variáveis que apresentaram melhor desempenho com o HCl foram: razão
mássica entre a frutose/C10MI.CF3SO3 0,1, 10% HCl (m/m), 110 ºC e 60
minutos. Utilizando-se o AlCl3, a razão mássica entre a frutose e o LI foi de 0,1,
10% AlCl3 (m/m), 100 ºC e 240 minutos.

Nas reações de conversão da glicose utilizando o C10MI.CF3SO3 o


catalisador AlCl3 apresentou melhor eficiência no rendimento em HMF e na
conversão deste açúcar devido à facilidade de isomerizar a glicose em frutose.
As variáveis reacionais foram: razão mássica entre a glicose/C10MI.CF3SO3
igual a 0,1, 10% AlCl3 (m/m), 140 ºC e 120 minutos (rend. HMF 47% e sel. HMF
62%). Para o HCl a condição reacional que apresentou melhor desempenho
foi: razão mássica entre a glicose/C10MI.CF3SO3 de 0,1, 20% HCl (m/m), 140
ºC e 60 minutos (rend. HMF 28% e sel. HMF 33%).

102
O rendimento em HMF a partir da sacarose mostrou-se intermediário
ao da frutose e glicose, sendo necessário o mesmo tempo reacional (120
minutos) para os dois sistemas testados nos processos reacionais, o
C10MI.CF3SO3/HCl e o C10MI.CF3SO3/AlCl3. Nos processos de conversão da
sacarose utilizando o C10MI.CF3SO3 o catalisador HCl foi o que apresentou ser
mais eficiente na formação de HMF. Já o AlCl3 mostrou-se mais eficiente na
conversão da sacarose, mas não de forma seletiva, pois o rendimento
relacionado foi inferior ao obtido com HCl. As variáveis reacionais foram: razão
mássica entre a sacarose/C10MI.CF3SO3 de 0,1, 10% AlCl3 (m/m), 120 ºC e 120
minutos (rend. HMF 56% e sel. HMF 69%). Para HCl a condição reacional que
apresentou melhor desempenho foi: razão mássica entre a
sacarose/C10MI.CF3SO3 de 0,1, 15% HCl (m/m), 100 ºC e 120 minutos (rend.
HMF 68% e sel. HMF 100%).

De forma geral, a utilização do LI C10MI.CF3SO3 mostrou-se bastante


promissora na produção do HMF com altos rendimentos e sem o emprego de
solventes orgânicos para que fosse isolado o HMF, evitando a formação de
resíduos orgânicos, reduzindo custos industriais e tornando o processo
ambientalmente sustentável.

Um dos principais fatores que contribuiu para o desenvolvimento desse


processo tecnológico está associado à hidrofobicidade do LI C10MI.CF3SO3,
pois quando esse LI é empregado, um sistema bifásico (LI/fase aquosa) é
formado e o HMF produzido se encontra na fase aquosa, podendo ser
facilmente removido do meio reacional após decantação, evitando assim o uso
de solventes orgânicos. A elevada acidez desse LI também contribuiu para a
obtenção do HMF.

No estudo de reutilização deste LI foram obtidos resultados


satisfatórios, pois a conversão da frutose foi total para todos os 4 ciclos
operacionais. Nos 3 primeiros ciclos praticamente não houve alteração no
rendimento do HMF (~90%). No último ciclo testado o rendimento em HMF
diminuiu levemente (83%), diminuição atribuída ou a erros experimentais ou à
diminuição na atividade catalítica do sistema.

Através dos resultados obtidos, conclui-se que o sistema bifásico


(C10MI.CF3SO3/fase aquosa) associado a um catalisador ácido, por exemplo,
103
HCl ou AlCl3, corresponde a um sistema alternativo a ser aplicado em
processos industriais para, a partir de açúcares oriundos da biomassa, obter o
HMF. Esse sistema é mais econômico quando comparado com os equivalentes
descritos na literatura e é sustentável.

Como sugestões para trabalhos futuros propõe-se avaliar a


hidrofobicidade do LI C10MI.CF3SO3 com maior precisão. Após, realizar o
processo de produção do HMF empregando outros substratos como a inulina,
celulose, amido, maltose, entre outros, empregando outros catalisadores (sais
inorgânicos e ácidos de Lewis).

Para favorecer a aplicação industrial desse processo de produção do


HMF desenvolvido nesse estudo, é de grande importância desenvolver um
processo eficiente de oxidação do HMF de baixo custo para posterior produção
de polímeros.

104
7. REFERÊNCIAS

[1] MOREAU, C.; BELGACEM, M.N.; GANDINI, A.; Recent catalytic advances
in the chemistry of substituted furans from carbohydrates and in the ensuing
polymer. Top. Catal. 2004, 27, 11.
[2] VEREVKIN, S.P.; EMEL’YANENKO, V.N.; STEPURKO, E.N.; RALYS, R.V.;
ZAITSAU, D.H.; Biomass-Derived Platform Chemicals: Thermodynamic Studies
on the Conversion of 5-Hydroxymethylfurfural into Bulk Intermediates. Ind. Eng.
Chem. Res., 2009, 48, 10087.
[3] MEHTA, R.; KUMAR, V.; BHUNIA, H.; UPADHYAY J., S. N.; Synthesis of
Poly(Lactic Acid): A Review. Macromol. Sci., Polym. Rev., 2005, 45, 325.
[4] ARISTIZÁBAL, V.M.; GÓMEZ, A.P.; CARDONA, C.A.A.; Biorefineries based
on coffee cut-stems and sugarcane bagasse: Furan-based compounds and
alkanes as interesting products. Bioresour. Technol., 2015, 196, 480.
[5] ALONSO, D. M.; BOND, J. Q.; DUMESIC, J. A.; Catalytic conversion of
biomass to biofuels. Green Chem., 2010, 12, 1493.
[6] TUERCKE, T.; PANIC, S.; LOEBBECKE, S.; Microreactor Process for the
Optimized Synthesis of 5-Hydroxymethylfurfural: A promising building block
obtained by catalytic dehydration of fructose. Chem. Eng. Technol., 2009,
32(11), 1815.
[7] HOFFMANN, B.; SZKLO, S.A.; SCHAEFFER, R.; An evaluation of the
techno-economic potential of co-firing coal with woody biomass in thermal
power plants in the south of Brazil. Biomass Bioenergy, 2012, 45, 295.
[8] GANDINI, A.; Polymers from Renewable Resources: A Challenge for the
Future of Macromolecular Materials. Macromolecules, 2008, 41(24), 9491.
[9] WOLF, F.F.; FRIEDEMANN, N.; FREY, H.; Poly(lactide)-block-Poly(HEMA)
Block Copolymers: An Orthogonal One-Pot Combination of ROP and ATRP,
Using a Bifunctional Initiator. Macromolecules, 2009, 42, 5622.
[10] PUTTEN, R.J.; WAAL, J.C.; JONG, E.; RASRENDRA, C.B.; HEERES,
H.J.; VRIES, J.G.; Hydroxymethylfurfural, A Versatile Platform chemical Made
from Renewable Resources. Chem. Rev., 2013, 113, 1499.

105
[11] ZHAO, J.; ZHOU, C.; HE, C.; DAI, Y.; JIA, Y.; YANG, Y.; Efficient
dehydration of fructose to 5-hydroxymethylfurfural over sulfonated carbon
sphere solid acid catalysts. Catal. Today, 2016, 264, 123.
[12] TONG, X.; MA. Y.; LI, Y.; Biomass into chemicals: Conversion of sugars to
furan derivatives by catalytic processes. Appl. Catal., A, 2010, 385, 01.
[13] ROSATELLA, A.A.; SIMEONOV, S.P.; FRADE, R.F.M.; AFONSO, C.A.M.;
5-Hydroxymethylfurfural (HMF) as a building block platform: Biological
properties, synthesis and synthetic applications. Green Chem., 2011, 13, 754.
[14] SU, Y.; BROWN, H.M.; HUANG, X.; ZHOU, X-d.; AMONETTE, J.E.; ZANG,
Z.C.; Single-step conversion of cellulose to 5-hydroxymethylfurfural (HMF), a
versatile plataform chemical. Appl. Catal., A, 2009, 361, 117.
[15] MOSNACEK, J.; MATYJASZEWSK, K.; Atom Transfer Radical
Polymerization of Tulipalin A: A Naturally Renewable Monomer.
Macromolecules, 2008, 41, 5509.
[16] COATES, G.W.; HILLMYER, M.A.; A Virtual Issue of Macromolecules:
“Polymers from Renewable Resources”. Macromolecules, 2009, 42, 7987.
[17] TANKSALE, A.; BELTRAMINI, J.N.; LU, G.Q.M.; A review of catalytic
hydrogen production processes from biomass. Renewable Sustainable Energy
Rev., 2010, 14, 166.
[18] Directiva 2003/30/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, disponível
em http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:32003L0030
(acesso em 19/10/2015).
[19] SHIH, C.J.; SMITH, E.A.; Determination of glucose and ethanol after
enzymatic hydrolysis and fermentation of biomass using Raman spectroscopy.
Anal. Chim. Acta, 2009, 653, 200.
[20] SANTOS, M.F.R.F.; BORSCHIVER, S.; COUTO, M.A.P.G.; Iniciativas para
o uso da biomassa lignocelulósica em biorrefinarias: a plataforma sucroquímica
no mundo e no Brasil. Economia e Energia, 2011, 82, 14.
[21] GARLOTTA, D.; A literature review of poly(lactic acid). J. Polym. Environ.,
2001, 9(2), 63.
[22] JIANG, X.; SMITH, M.R.; BAKER, G.L.; Water-Soluble Thermoresponsive
Polylactides. Macromolecules, 2008, 41, 318.
[23] CONN, R.E.; KOLSTAD, J.J.; BORZELLECA, J.F.; DIXLER, D.S.; FILER,

106
L.J.J.; LADU, B.N.J.; PARIZA, M.W.; Safety assessment of polylactide (PLA) for
use as a foodcontact polymer. Food Chem. Toxicol., 1995, 33, 273.
[24] BALAT, M.; KIRTAY, E.; BALAT, H.; Main routes for the thermo-conversion
of biomass into fuels and chemicals. Part 1: Pyrolysis systems. Energy
Convers. Manage., 2009, 50, 3147.
[25] REN, N.; WANG, A.; CAO, G.; XU, J.; GAO, L.; Bioconversion of
lignocellulosic biomass to hydrogen: Potential and challenges. Biotechnol. Adv.,
2009, 27, 1051.
[26] SHEN, D.K.; GU, S.; The mechanism for thermal decomposition of
cellulose and its main products. Bioresour. Technol.,2009, 100, 6496.
[27] SINGH, S.; SIMMONS, B.A.; VOGEL, K.P.; Visualization of biomass
solubilization and cellulose regeneration during ionic liquid pretreatment of
switchgrass. Biotechnol. Bioeng., 2009, 104, 68.
[28] AMARAL, L.; A Química; Edições Loyola: São Paulo, 1995, p.17.
[29] ATKINS, P.; JONES, L.; Princípios de Química; Bookman: Nova Iorque,
1999, p.901.
[30] FERREIRA, V.F.; ROCHA, D.R.; Potencialidades e oportunidades na
química da sacarose e outros açúcares. Quim. Nova, 2009, 32, 623.
[31] CORMA, A.; IBORRA, S.; VELTY, A.; Chemical routes for the
transformation of biomass into chemicals. Chem. Rev., 2007, 107, 2411.
[32] TUNDO, P.; PEROSA, A.; ZECCHINI, F.; Methods and reagents for Green
chemistry: An Introduction. Wiley-Interscience: New Jersey, 2007, p.33.
[33] STRYER, L.; TYMOCZKO, J. L.; BERG, J. M.; Bioquímica. Guanabara
Koogan S. A.: Rio de Janeiro, 2004, p.313.
[34] FERREIRA, V.F.; SILVA, F.C.; Carboidratos como fonte de compostos
para a indústria de química fina. Quim. Nova, 2013, 36, 1514.
[35] CRISCI, A.J.; TUCKER, M.H.; DUMESIC, J.A.; SCOTT, S.L.; Bifunctional
solid catalysts for the selective conversion of fructose to 5-
hydroxymethylfurfural. Top. Catal., 2010, 53, 1185.
[36] ANGYAL, S.J.; The Lobry de Bruyn-Alberda van Ekenstein transformation
and related reactions. Top. Curr. Chem., 2001, 215, 1.

107
[37] ROMAN-LESHKOV, Y.; MOLINER, M.; LABINGER, J.A.; DAVIS, M.E.;
Mechanism of glucose isomerization using a solid lewis acid catalyst in water.
Angew. Chem. Int. Ed., 2010, 49, 8954.
[38] STRAATSMA, J.; VELLENGA, K.; WILT, H.G.J.; JOOSTEN, G.E.H.;
Isomerization of Glucose to Fructose. 2. Optimization of reaction condltions in
the production of high fructose syrup by isomwzation of glucose catalyzed
by a whole cetl immobilized glucose isomerase catalyst. Ind. Eng. Chem.
Process Des. Dev., 1983, 22, 356.
[39] SARAVANAMURUGAN, S.; PANIAGUA, M.; MELERO, J.A.; RIISAGER,
A.; Efficient isomerization of glucose to fructose over zeolites in consecutive
reactions in alcohol and aqueous media. J. Am. Chem. Soc., 2013, 135, 5246.
[40] BARREIROS, R.C.; BOSSOLAN, G.; TRINDADE, C.E.P.; Fructose in
humans: metabolic effects, clinical utilization, and associated inherent errors.
Rev. Nutr., 2005, 18, 377.
[41] FABER, M.O.; Isomerização enzimática de glicose a frutose em biorreator
de leito fixo alimentado continuamente. Dissertação de Mestrado, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 2011.
[42] WANG, T.; NOLTE, M.W.; SHANKS, B.H.; Catalytic dehydration of C6
carbohydrates for the production of hydroxymethylfurfural (HMF) as a versatile
platform chemical. Green Chem., 2014, 16, 548.
[43] HU, L.; ZHAO, G.; HAO, W.; TANG, X.; SUN, Y.; LIN, L.; LIU, S.; Catalytic
conversion of biomass-derived carbohydrates into fuels and chemicals via
furanic aldehydes. RSC Adv., 2012, 2, 11184.
[44] LE COUTEUR, P.; BURRESON, J.; Os botões de Napoleão. Jorge Zahar
Editor: Rio de Janeiro, 2006, p.54.
[45] FERREIRA, V.F.; SILVA, F.C.; PERRONE, C.C.; Sacarose no laboratório
de química orgânica de graduação. Quim. Nova, 2001, 24, 905.
[46] LEWKOWSKI, J.; Synthesis, chemistry and applications of 5-
hydroxymethylfurfural and its derivatives. ARKIVOC (Zurich, Switz.), 2001, (i),
17.
[47] Sigma Aldrich, disponível em
http://www.sigmaaldrich.com/catalog/substance/

108
5hydroxymethylfurfural126116747011?lang=pt&region=BR (acesso em
12/05/2016).
[48] HAYES, D.J.; ROSS, J.; HAYES, M.H.B.; FITZPATRICK, S.; The biofine
process: Production of levulinic acid, furfural and formic acid from lignocellulosic
feedstocks. Biorefinery, disponível em
http://www.carbolea.ul.ie/files/HFHR_Chapter%204_FINAL.pdf (acesso
13/05/2016)
[49] PARTENHEIMER, W.; GRUSHIN, V.V.; Synthesis of 2,5-diformylfuran and
furan-2,5-dicarboxylic acid by catalytic air-oxidation of 5-hydroxymethylfurfural.
unexpectedly selective aerobic oxidation of benzyl alcohol to benzaldehyde with
metal-bromide catalysts Adv. Synth. Catal., 2001, 343, 102.
[50] STAHLBERG, T.; EYJÓLFSDÓTTIR, E.; GORBANEV, Y.Y.; SÁDABA, I.;
RIISAGER, A.; Aerobic oxidation of 5-(hydroxymethyl)furfural in ionic liquids
with solid ruthenium hydroxide catalysts. Catal Lett, 2012, 142, 1089.
[51] SAHA, B.; DUTTA, S.; ABU-OMAR, M.M.; Aerobic oxidation of 5-
hydroxylmethylfurfural with homogeneous and nanoparticulate catalysts. Catal.
Sci. Technol., 2012, 2, 79.
[52] BOISEN, A.; CHRISTENSEN, T.B.; FU, W.; GORBANEV, Y.Y.; HANSEN,
T.S.; JENSEN, J.S.; KLITGAARD, S.K.; PEDERSEN, S.; RIISAGER, A.;
STAHLBERG, T.; WOODLE, J.M.; Process integration for the conversion of
glucose to 2,5-furandicarboxylic acid. Chem. Eng. Res. Des., 2009, 87, 1318.
[53] CRISCI, A.J.; TUCKER, M.H.; DUMESIC, J.A.; SCOTT, S.L.; Bifunctional
Solid Catalysts for the Selective Conversion of Fructose to 5-
Hydroxymethylfurfural Scott. Top Catal, 2010, 53, 1185.
[54] ZHANG, Z.; WANG, Q.; XIE, H.; LIU, W.; ZHAO, Z.K.; Catalytic conversion
of carbohydrates into 5-hydroxymethylfurfural by germanium(iv) chloride in ionic
liquids. ChemSusChem, 2011, 4, 131.
[55] CHUN, J.A.; LEE, J.W.; YI, Y.B.; HONG, S.S.; CHUNG, C.H.; Catalytic
production of hydroxymethylfurfural from sucrose using 1-methyl-3-
octylimidazolium chloride ionic liquid. Korean J. Chem. Eng., 2010, 27, 930.
[56] ANTAL Jr., M.J.; MOK, W.S.L.; RICHARDS, G.N.; Four-carbon model
compounds for the reactions of sugars in water at high temperature. Carbohydr.
Res., 1990, 199, 111.

109
[57] NEWTH, F.H.; The formation of furan compounds from hexoses. Adv.
Carbohydr. Chem., 1951, 6, 83.
[58] JAMES, O.O.; MAITY, S.; USMAN, L.A.; AJANAKU, K.O.; AJANI, O.O.;
SIYANBOLA, T.O.; SAHU, S.; CHAUBEY, R.; Towards the conversion of
carbohydrate biomass feedstocks to biofuels via hydroxylmethylfurfural. Energy
Environ. Sci., 2010, 3, 1833.
[59] VAN PUTTEN, R.-J.; SOETEDJO, J.N.M.; PIDKO, E.A.; VAN DER WAAL,
J.C.; HENSEN, E.J.M.; JONG, E.; HEERES, H.J.; Dehydration of different
ketoses and aldoses to 5-hydroxymethylfurfural. ChemSusChem, 2013, 6,
1681.
[60] STAHLBERG, T.; RODRIGUEZ, S. R.; FRISTRUP, P.; RIISAGER, A.;
Metal-free dehydration of glucose to 5-(hydroxymethyl)furfural in ionic liquids
with boric acid as a promoter. Chem. Eur. J., 2011, 17, 1456.

[61] ZHAO, H.; HOLLADAY, J.E.; BROWN, H.; ZHANG, Z.C.; Metal chlorides in
ionic liquid solvents convert sugars to 5-hydroxymethylfurfural. Science, 2007,
316(5831), 1597.

[62] CARLINI, C.; PATRONO, P.; GALLETTI, A.M.R.; SBRANA, G.;


Heterogeneous catalysts based on vanadyl phosphate for fructose dehydrations
to 5-hydroxymethyl-2-furaldehyde. Appl. Catal. A: Gen., 2004, 275, 111.
[63] HANSEN, T.S.; MIELBY, J.; RIISAGER, A. Synergy of boric acid and
added salts in the catalytic dehydration of hexoses to 5-hydroxymethylfurfural in
water. Green Chem., 2011, 13, 109.
[64] NAKAJIMA, K.; BABA, Y.; NOMA, R.; KITANO, M.; KONDO, J. N.;
HAYASHI, S.; HARA, M.; Nb2O5.nH2O as a heterogeneous catalyst with water-
tolerant Lewis acid Sites. J. Am. Chem. Soc., 2011, 133, 4224.
[65] KITANO, M.; NAKAJIMA, K.; KONDO, J.N.; HAYASHI, S.; HARA, M.;
Protonated titanate nanotubes as solid acid catalyst. J. Am. Chem. Soc., 2010,
132, 6622.
[66] SOUZA, R.L.; YU, H.; RATABOUL, F.; ESSAYEM, N.; 5-
Hydroxymethylfurfural (5-HMF) production from hexoses: limits of
heterogeneous catalysis in hydrothermal conditions and potential of
concentrated aqueous organic acids as reactive solvent system. Challenges,
2012, 3, 212.
110
[67] DUMESIC, J.A.; ROMÁN-LESHKOV, Y.; CHEEDA, J.N.; Catalytic process
for producing furan derivatives in a biphasic reactor (Wisconsin).
US2008/0033188A1, 07 fev. 2008.

[68] GOMES, F.N.D.C.; PEREIRA, L.R.; RIBEIRO, N.F.P.; SOUZA, M.M.V.M.;


Production of 5-hydroxymethylfurfural (HMF) via fructose dehydration: effect of
solvent and salting-out. Braz. J. Chem. Eng., 2015, 32, 119.

[69] CHHEDA, J.N.; DUMESIC, J.A.; An overview of dehydration, aldol-


condensation and hydrogenation processes for production of liquid alkanes
from biomass-derived carbohydrates. Catal. Today, 2007, 123, 59.
[70] MENDONÇA, A.D.M.; SIQUEIRA, P.M.; SOUZA, M.M.V.M.; PEREIRA Jr.,
N.; Optimization of production of 5-hydroxymethylfurfural from glucose in a
water: acetone biphasic system. Braz. J. Chem. Eng., 2015, 32(2), 501.
[71] OKANO, T.; QIAO, K.; BAO, Q.; TOMIDA, D.; HAGIWARA, H.;
YOKOYAMA, C.; Dehydration of fructose to 5-hydroxymethylfurfural (HMF) in
an aqueous acetonitrile biphasic system in the presence of acidic ionic liquids.
Appl. Catal., A, 2013, 451, 01.
[72] ROMÁN-LESHKOV, Y.; CHHEDA, J.N.; DUMESIC, J.A.; Phase modifiers
promote efficient production of hydroxymethylfurfural from fructose. Science,
2006, 312, 1933.
[73] LOURVANIJ, K.; RORRER, G.L. ; Reactions of aqueous glucose solutions
over solid-acidy-zeolite catalyst at 110-160 ºC. Ind. Eng. Chem. Res., 1993, 32,
11.
[74] RAMLI, N.A.S.; AMIN, N.A.S.; Kinetic study of glucose conversion to
levulinic acid over Fe/HY zeolite catalyst. Chem. Eng. J., 2016, 283, 150.
[75] BICKER, M.; HIRTH, J.; VOGEL, H.; Dehydration of fructose to 5-
hydroxymethylfurfural in sub-and supercritical acetone. Green Chem., 2003, 5,
280.
[76] ESMAEILI, N.; ZOHURIAAN-MEHR, M.J.; BOUHENDI, H.; BAGHERI-
MARANDI, G.; HMF synthesis in aqueous and organic media under
ultrasonication, microwave irradiation and conventional heating. Korean J.
Chem. Eng., 2016, 33, 1964.

111
[77] DE, S.; DUTTA, S.; SAHA, B.; Microwave assisted conversion of
carbohydrates and biopolymers to 5-hydroxymethylfurfural with aluminium
chloride catalyst in water. Green Chem., 2011, 13, 2859.
[78] QI, X.; WATANABE, M.; AIDA, T.M.; SMITH JR, R.L.; Catalytic
dehydration of fructose into 5-hydroxymethylfurfural by ion-exchange resin in
mixed-aqueous system by microwave heating. Green Chem., 2008, 10, 799.
[79] HANSEN, T. S.; WOODLEY, J. M.; RIISAGER, A. Efficient microwave-
assisted synthesis of 5-hydroxymethylfurfural from concentrated aqueous
fructose. Carbohydr. Res., 2009, 344, 2568.
[80] ZHANG, Y.; DU, H.; QIAN, X.; CHEN, E.Y.X.; Ionic liquid−water mixtures:
enhanced kw for efficient cellulosic biomass conversion. Energy Fuels, 2010,
24, 2410.
[81] SOUZA, M.O.; Ionic liquids and catalysis. J. Braz. Chem. Soc., 2014, 25,
2140.
[82] LOZINSKAYA, E.I.; SHAPLOV, A.S.; VYGODSKII, Y.S.; Direct
polycondensation in ionic liquids. Eur. Polym. J., 2004, 40, 2065.
[83] ZHANG, Q.; ZHANG, S.; DENG, Y.; Recent advances in ionic liquid
catalysis. Green Chem., 2011, 13, 2619.
[84] HUDDLESTON, J. G.; VISSER, A. E.; REICHERT, W. M.; WILLAUER H.
D.; BROKER, G. A.; ROGERS, R. D.; Characterization and comparison of
hydrophilic and hydrophobic room temperature ionic liquids incorporating the
imidazolium cation. Green Chem., 2001, 3, 156.
[85] JACQUEMIN, J.; HUSSON, P.; PADUA, A.A.H.; MAJER, V.; Density and
viscosity of several pure and water-saturated ionic liquids. Green Chem., 2006,
8, 172.
[86] LI, H.; YANG, S.; Catalytic transformation of fructose and sucrose to HMF
with proline-derived ionic liquids under mild conditions. Int. J. Chem. Eng.,
2014, 2014, 1.
[87] LI, C.; ZHANG, Z.; ZHAO, Z.K.; Direct conversion of glucose and cellulose
to 5-hydroxymethylfurfural in ionic liquid under microwave irradiation.
Tetrahedron Lett., 2009, 50(38), 5403.

112
[88] MARZIALETTI, T., SIEVERS, C., MUSIN, I., OLARTE, M. B. V.,
AGRAWAL, P. K., JONES, C. W. Acid-Catalyzed Conversion of Sugars and
Furfurals in an IonicLiquid Phase. Chem Sus Chem., 2009, 2, 665.
[89] QI, X.; WATANABE, M.; AIDA, T.M.; SMITH JR., R.L.; Efficient process for
conversion of fructose to 5-hydroxymethylfurfural with ionic liquids. Green
Chem., 2009, 11, 1327.
[90] JADHAV, H.; TAARNING, E.; PEDERSEN, C.M.; BOLS, M.; Conversion of
D-glucose into 5-hydroxymethylfurfural (HMF) using zeolite in [Bmim]Cl or
tetrabutylammonium chloride (TBAC)/CrCl2. Tetrahedron Lett., 2012, 53, 983.
[91] LI, C.; ZHAO, Z.K.; WANG, A.; ZHENG, M.; ZHANG, T.; Production of 5-
hydroxymethylfurfural in ionic liquids under high fructose concentration
conditions. Carbohydr. Res., 2010, 345, 1846.
[92] ZHANG, Y.; CHAN, J.Y.G.; Production of hydroxymethylfurfural. US Patent
2009/0313889 A1, 2009.
[93] SUN, X.; LIU, Z.; XUE, Z.; ZHANG, Y.; MU, T.; Extraction of 5-HMF from
the conversion of glucose in ionic liquid [Bmim]Cl by compressed carbon
dioxide. Green Chem., 2015, 17, 2719.
[94] MAMO, W.; CHEBUDE, Y.; MÁRQUEZ-ÁLVAREZ, C.; DÍAZ, I.; SASTRE,
E.; Comparison of glucose conversion to 5-HMF using different modified
mordenites in ionic liquid and biphasic media. Catal. Sci. Technol., 2016, 6,
2766.
[95] LANSALOT-MATRAS, C.; MOREAU, C.; Dehydration of fructose into 5-
hydroxymethylfurfural in the presence of ionic liquids. Catal. Commun., 2003, 4,
517.
[96] D’ANNA, F.; MARULLO, S.; VITALE, P.; RIZZO, C.; LO MEO, P.; NOTO,
R.; Ionic liquid binary mixtures: Promising reaction media for carbohydrate
conversion into 5-hydroxymethylfurfural. Appl. Catal., A, 2014, 482, 287.
[97] QI, X., WATANABE, M., AIDA, T.M., SMITH JR., R.L. Sulfated zirconia as
a solid acid catalyst for the dehydration of fructose to 5-hydroxymethylfurfural.
Catal. Commun., 2009, 10, 1771.
[98] WAGH, K.V.; BADGUJAR, K.C.; PATIL, N.M.; BHANAGE, B.M.; Curr. Org.
Chem., 2016, 20, 736.

113
[99] QU, Y.; LI, L.; WEI, Q.; HUANG, C.; OLESKOWICZ-POPIEL, P.; XU, J.;
One-pot conversion of disacchatide into 5-hydroxymethylfurfural catalyzed by
imidazole ionic liquid. Sci. Rep., 2016, 6, 1-7.
[100] MA, Y.; QING, S.; WANG, L.; ISLAM, N.; GUAN, S.; GAO, Z.; MAMAT,
X.; LI, H.; ELI, W.; WANG, T.; Production of 5-hydroxymethylfurfural from
fructose by a thermo-regulated and recyclable Brönsted acidic ionic liquid
catalyst. RSC Adv., 2015, 5, 47377.
[101] TAO, F.R.; ZHUANG, C.; CUI, Y.Z.; XU, J.; Dehydration of glucose into 5-
hydroxymethylfurfural in SO3H-functionalized ionic liquids. Chin. Chem. Lett.,
2014, 25, 757.
[102] RAMLI, N.A.S.; AMIN, N.A.S.; A new functionalized ionic liquid for efficient
glucose conversion to 5-hydroxymethyl furfural and levulinic acid. J. Mol. Catal.
A: Chem., 2015, 407, 113.
[103] MOREAU, C.; FINIELS, A.; VANOYE, L.; Dehydration of fructose and
sucrose into 5-hydroxymethylfurfural in the presence of 1-H-3-methyl
imidazolium chloride acting both as solvent and catalyst. J. Mol. Catal. A:
Chem., 2006, 253, 165.
[104] QI, X.; WATANABE, M.; AIDAB, T.M.; SMITH, JR. R.L. Efficient one-pot
production of 5-hydroxymethyl furfural from inuline in ionic liquid. Green Chem.,
2010, 12, 1855.
[105] YANG, Y.; LIU, W.; WANG, N.; WANG, H.; LI, W.; SONG, Z.; Effect of
different ionic liquids on 5-Hydroxymethylfurfural preparation from glucose in
DMA over AlCl3: experimental and theoretical study. Chin. J. Chem., 2015, 33,
583.
[106] HORVAT, J.; KLAIC, B.; METELKO, B.; SUNJIC, V.; Mechanism of
levulinic acid formation. Tetrahedron Lett., 1985, 26, 2111.
[107] TSILOMELEKIS, G.; ORELLA, M.J.; LIN, Z.; CHENG, Z.; ZHENG, W.;
NIKOLAKIS, V.; VLACHOS, D.G.; Molecular structure, morphology and growth
mechanisms and rates of 5-hydroxymethylfurfural (HMF) derived humins. Green
Chem., 2016, 18, 1983.
[108] VAN ZANDVOORT, I.; WANG, Y.; RASRENDRA, C.B.; VAN ECK,
E.R.H.; BRUIJNINCX, P.C.A.; HEERES, H.J.; WECKHUYSEN, B.M.;
Formation, molecular structure, and morphology of humins in biomass

114
conversion: influence of feedstock and processing conditions. ChemSusChem,
2013, 6, 1745.
[109] SUMERSKII, I.V.; KRUTOV, S.M.; ZARUBIN, M.Y.; Humin-like
substances formed under the conditions of industrial hydrolysis of wood. Russ.
J. Appl. Chem., 2010, 83, 320.
[110] PATIL, S.K.R.; HELTZEL, J.; LUND, C.R.F.; Comparison of structural
features of humans formed catalytically from glucose, fructose and 5-
hydroxymethylfufuraldehyde. Energy Fuels, 2012, 26, 5281.
[111] PATIL, S.K.R.; LUND, C.R.F.; Formation and growth of humans via aldol
addition and condensation during acid-catalyzed conversion of 5-
hydroxymethylfurfural. Energy Fuels, 2011, 25, 4745.
[112] VAN ZANDVOORT, I.; KOERS, E.J.; WEINGARTH, M.; BRUIJNINCX,
13
P.C.A.; BALDUS, M.; WECKHUYSEN, B.M.; Structural characterization of C-
13
enriched humins and alkali-treated C humins by 2D solid-state NMR. Green
Chem., 2015, 17, 4383.
[113] AMARASEKARA, A.S.; WILLIAMS, L.D.; EBEDE, C.C.; Mechanism of the
dehydration of D-fructose to 5-hidroxymethylfurfural in dimethyl sulfoxide at 150
ºC: an NMR study. Carbohydr. Res., 2008, 343, 3021.

[114] TUERCKE, T.; PANIC, S.; LOEBBECKE, S.; Microreactor for the
optimized synthesis of 5-hydroxymethilfurfural: a promissing building block
obtained from catalytic dehydration of fructose.
Carbohydr. Res., 2009, 32, 1815.

[115] CHHEDA, J.N.; ROMÁNLESHOKOV, Y.; DUMESIC, J.A.; Production of 5-


hydroxymetylfurfural and furfural by dehydration of biomass-derived mono- and
poly-saccharides. Green Chem., 2007, 9, 342.
[116] DUPONT, J.; CONSORTI, C.S.; SUAREZ, P.A.Z.; de SOUZA, R.F.;
preparation of 1-butyl-3-methyl imidazolium-based room temperature ionic
liquids. Org. Synth., 2002, 79, 236.
[117] BRADLEY, A.E.; HARDACRE, C.; HOLBREY, J.D.; JOHNSTON, S.;
MCMATH, S.E.J.; NIEUWENHUYZEN, M.; Small-angle x-ray scattering studies
of liquid crystalline 1-alkyl-3-methylimidazolium salts. Chem. Mater., 2002, 14,
629.

115
[118] GELESKY, M.A.; Preparação e caracterização de nanopartículas de
ródio(0) imobilizadas em líquidos iônicos: novo sistema para hidrogenação de
aromáticos. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, 2004.
[119] ATKINS, P.; JONES, L.; Princípios de Química: questionando a vida
moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Bookman, 2001, p.521.
[120] TONG, X.; LI, M.; YAN, N.; MA,Y.; DYSON, P. J.; LI, Y.;
Defunctionalization of fructose and sucrose: Iron-catalyzed production of 5-
hydroxymethylfurfural from fructose and sucrose. Catal.Today, 2011, 175, 524.
[121] PAGAN-TORRES, Y.J.; WANG, T.; GALLO, J.M.R.; SHANKS, B.H.;
DUMESIC, J.A.; Production of 5-hydroxymethylfurfural from glucose using a
combination of lewis and brønsted acid catalysts in water in a biphasic reactor
with an alkylphenol solvent . ACS Catal., 2012, 2, 930.
[122] PESSONI, R.A.B.; OLMEDO, P.M.O.; CLEMENTE FILHA, A.C.;
FIGUEIREDO-RIBEIRO, R.C.L.; produção de concentrados de frutose por
inulinases de Penicillium janczewskii e atividade sobre o nível de glicose
plasmática em ratos diabéticos. Ciênc. Tecnol. Aliment., 2004, 24, 373.
[123] EARLE, M.J.; SEDDON, K.R.; Ionic liquids. Green solvents for the future.
Pure Appl. Chem., 2000, 72, 1391.
[124] YANG, Y.; HU, C.-W.; ABU-OMAR, M.M.; Conversion of carbohydrates
and lignocellulosic biomass into 5-hydroxymethylfurfural using AlCl3·6H2O
catalyst in a biphasic solvent system. Green Chem., 2012, 14, 509.
[125] WANG, C.; FU, L.; TONG, X.; YANG, Q.; ZHANG, W.; Efficient and
selective conversion of sucrose to 5-hydroxymethylfurfural promoted by
ammonium halides under mild conditions. Carbohydr. Res., 2012, 347, 182.
[126] HUA, L.; SUNA, Y.; LINA, L.; LIU, S.; Catalytic conversion of glucose into
5-hydroxymethylfurfural using double catalysts in ionic liquid. J. Taiwan Inst.
Chem. Eng., 2012, 43, 718.
[127] LIU, W.; HOLLADAY, J.; Catalytic conversion of sugar into
hydroxymethylfurfural in ionic liquids. Catal. Today, 2013, 200, 106.
[128] WANG, T.; GLASPER, J.A.; SHANKS, B. H.; Kinetics of glucose
dehydration catalyzed by homogeneous Lewis acidic metal salts in water. Appl.
Catal., A, 2015, 498, 214.

116
[129] ROBYT, J.F.; Essentials of Carbohydrate Chemistry. New York: Springer,
1998, p. 48.
[130] FRINGUELLI, F.; PIZZO, F.; VACCARO, L.; AlCl3 as an efficient Lewis
acid catalyst in water. Tetrahedron Lett., 2001, 42, 1131.
[131] FRINGUELLI, F.; PIZZO, F.; VACCARO, L.; Lewis-Acid catalyzed organic
reactions in water. The case of AlCl3, TiCl4, and SnCl4 believed to be unusable
in aqueous medium. J. Org. Chem., 2001, 66, 4719.

117
ANEXOS

Anexo 1: Espectro RMN 1H do LI C4MI.Cl

Anexo 2: Espectro RMN 1H do LI C8MI.Cl

118
Anexo 3: Espectro RMN 1H do LI C10MI.Cl

Anexo 4: Espectro RMN 13C do LI C10MI.Cl

119
Anexo 5: Espectro RMN 1H do LI C12MI.Cl

Anexo 6: Espectro RMN 13C do LI C10MI.CF3SO3

120
Anexo 7: Curva de calibração do HMF padrão em HPLC.

Anexo 8: Curva de calibração da glicose padrão em HPLC.

121
Anexo 9: Curva de calibração da frutose padrão em HPLC.

Anexo 10: Curva de calibração da sacarose padrão em HPLC.

122

Você também pode gostar