Amigos Da Escola Artes Da Luz
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Amigos Da Escola Artes Da Luz
A ARTE DE TODOS
S U M R I O
1 DESENHO, PINTURA, ESCULTURA, FOTOGRAFIA, CINEMA, VDEO... 2 LUZES, VONTADE, AO! 6 CONHECENDO ARTES VISUAIS: LUZES SOBRE A COMUNIDADE 11 FAZENDO ARTES VISUAIS: MAIS LUZES
Alm daquelas que nos so oferecidas pelo mundo da natureza, h as imagens criadas pelos homens, com os mais diferentes objetivos: convencer, educar, distrair, avisar, esclarecer, embelezar, emocionar, inspirar, mostrar... Vivemos em uma poca sobrecarregada desse tipo de imagens: elas esto por toda a parte, em revistas, jornais, filmes na televiso ou cinema, videoclipes, audiovisuais, logotipos, logomarcas, embalagens, distintivos, smbolos, bandeiras, fotografias, pinturas,
faixas, cartazes, outdoors, luminosos, selos, adesivos, propaganda, cones de computador, sinais de trnsito.
Nosso olhar precisa ser educado, para que a gente no se perca nessa selva de informaes. Crianas e jovens, em especial, devem aprender a olhar o mundo a sua volta de maneira sensvel, consciente, pensante, e tambm selecionando, interpretando e criticando o que vem. Alm de darem significado s imagens produzidas na atualidade, podem aprender com as que foram produzidas pelos homens e mulheres do passado desenhos nas cavernas, pinturas antigas, velhas fotos... e antecipar as imagens do futuro, como nos filmes e histrias de fico cientfica e nos sonhos que sonhamos para a nossa vida, para o Pas, para o planeta... Mas no s isso: crianas e jovens devem ser
estimulados a produzir as prprias imagens e a expressar o que pensam e sentem por meio de imagens, de cores, de formas, de luz... Como? Desenhando, pintando, fotografando, criando propagandas, ilustrando histrias e muito mais. As artes visuais incluem tambm a escultura, a modelagem, a gravura, a histria em quadrinhos, o desenho animado, a ourivesaria, a tapearia, a arquitetura, o cinema, a televiso, entre outras. Embora o presente caderno enfoque, em especial, a pintura, a escultura, a gravura e a fotografia, todas as modalidades podem ser experimentadas na escola e na comunidade, dependendo dos recursos humanos e materiais que se conseguir mobilizar.
Fruir
A palavra fruir quer dizer usufruir, gozar, desfrutar, tirar todo o proveito de algo. Quanto mais conhecemos sobre esse algo, melhor podemos aproveit-lo. Digamos que voc v visitar as lindas cidades mineiras de Ouro Preto e Congonhas do Campo. Se voc no souber nada sobre arte, ainda assim vai se divertir e aprender muito. Mas ir aproveitar ainda mais, se souber, por exemplo, que nessa cidade nasceu, em 1730, um dos maiores arquitetos e escultores brasileiros, Antnio Francisco Lisboa, um mulato, filho de portugus com escrava africana. Voc ir olhar com outros olhos a Igreja de S. Francisco de Assis e as esculturas de Congonhas do Campo. Ir fruir o que est vendo se souber que essas obrasprimas foram produzidas por algum que, aos 40 anos, contraiu uma doena deformante que o obrigava a andar de joelhos, o que lhe rendeu o apelido de Aleijadinho. Sua fruio esttica ser ainda maior se voc souber o que o Barroco uma forma de arte produzida na Europa a partir do sc. XVII. No Brasil teve seu apogeu no sc. XVIII e em Aleijadinho seu maior representante.
A arte nos permite enxergar a vida, fatos e objetos do cotidiano como se os vssemos pela primeira vez; faz pensar e muda nossos pontos de vista. Por meio do encantamento ou estranhamento que nos provoca, a arte instiga a imaginao na busca de outros posicionamentos ante a realidade. Constri novos conhecimentos e estimula a vontade de agir para transformar o mundo. Ao fazer e compreender arte, nos tornarmos mais humanos. Esse processo de humanizao pode estar presente em cada escola, local onde se convive diariamente com a diferena, onde crianas e jovens com diferentes histrias de vida, vindos dos mais diversos ambientes, partilham uma situao semelhante na sua trajetria: a busca pelo conhecimento.
Arte e identidade cultural de um agrupamento humano se confundem. impossvel conhecer o que uma comunidade, o que sentem e pensam as pessoas que a formaram e que nela habitam, sem conhecer a sua arte. Que tal planejar algumas atividades que possibilitem s crianas e aos jovens fazer um levantamento do que existe e produzido na localidade, em artes visuais? Converse com os aprendizes, desperte-lhes a curiosidade e comece com os temas e propostas que mais interessam a eles.
Os membros do grupo podem ser os organizadores, fazendo os convites para a exposio, redigindo um texto para o jornal local ou para o quadro de avisos da escola. Eles podem encarregar-se da disposio das peas em um espao cedido pela escola ou outra instituio da comunidade, colocando as etiquetas em cada obra (com nome do autor e da obra, medidas, tcnica, data de execuo), fazer uma breve biografia e currculo do artista para figurar logo na entrada da exposio, preparar a abertura e, ainda, atuar como curadores e monitores da mostra.
CURADOR
PESSOA QUE ZELA POR UMA EXPOSIO DE ARTE, SELECIONA AS OBRAS DE ACORDO COM ALGUNS CRITRIOS, ORGANIZA E SUPERVISIONA A MONTAGEM DA EXPOSIO.
MONITOR
PESSOA QUE ACOMPANHA OS QUE VISITAM UMA EXPOSIO, OFERECENDO INFORMAES SOBRE AS OBRAS APRESENTADAS E SEUS AUTORES.
ou internacional. No mapa (abaixo) colocamos alguns exemplos. H tantos, tantos outros!1 Depois de terminada a pesquisa sobre a vida e a obra dos artistas mais representativos do estado, vai ser timo organizar uma exposio com reprodues e releituras de suas obras, reportagens em jornais, revistas, selos postais comemorativos, entrevistas
gravadas em fita cassete ou em vdeo com pessoas que os conheceram ou tm um maior conhecimento sobre a sua obra. Convide a comunidade inteira para visitar a exposio! Todos os materiais produzidos permanecero na biblioteca da escola.
Ismael Nery e Alusio Carvo, no Par Antonio Bandeira e Aldemir Martins, no Cear Pedro Amrico, Antnio Dias, na Paraba Luclio de Albuquerque, no Piau Lula Cardoso Ayres, Brennand, Joo Cmara, Vicente do Rego Monteiro, em Pernambuco Fernando Lopes, em Alagoas Antonio Maia e Jenner Augusto, em Sergipe Rubem Valentim e Raimundo de Oliveira, na Bahia Inim de Paula, Lygia Clark, Manuel da Costa Atade, em Minas Gerais Di Cavalcanti, Flvio de Carvalho, no Rio de Janeiro Almeida Jnior, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, em So Paulo Victor Meireles, em Santa Catarina
Humberto Espndola e Wega Nery, em Mato Grosso do Sul Iber Camargo, Glauco Rodrigues e Scliar, no Rio Grande do Sul
1 Estes nomes so apenas sugestes; existem dezenas de outros, to famosos e representativos das artes visuais no Brasil quanto os citados.
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ATIVIDADE 1
LUZES DE FOGO:
Criar os desenhos da sua caverna
Objetivos: Criar um painel coletivo com o grupo; entender as artes visuais enquanto forma de representao de idias e sentimentos; oferecer s crianas e jovens oportunidades de capturar, por meio do desenho, seus sonhos e aspiraes; refletir sobre a importncia da arte enquanto registro de um povo, de uma cultura, de uma poca; trabalhar em um suporte amplo; estudar composio, ocupao do espao, cores etc. Materiais: Tinta guache, pincis, trinchas, papel pardo ou outros que os substituam. Preparao: Primeira etapa: Converse com a turma sobre as primeiras pinturas encontradas no Brasil, chamadas rupestres porque eram pintadas na rocha, em cavernas ou pedras. Se possvel, mostre reprodues coloridas, que voc encontra em livros ou enciclopdias na biblioteca, bem como imagens em vdeo sobre a temtica. Elas datam de mais ou menos 12 mil a 2 mil anos atrs. Apresentam figuras humanas, animais, vegetao, alm de astros celestes, formas geomtricas e grafismos. As cores predominantes eram o vermelho, o preto e o
amarelo, pigmentos obtidos de minerais. Provavelmente, aquelas pintadas no interior das cavernas devem ter sido feitas luz de tochas, de fogo, j que era extremamente escuro em seu interior. Dizem alguns estudiosos que essas pinturas tinham funo mgica ou religiosa; assim, desenhando um animal, nossos primeiros artistas o aprisionavam na parede da caverna ficando mais fcil ca-lo na vida real. Por enquanto, so apenas teorias... As pinturas rupestres brasileiras mais antigas encontram-se nos estados do Piau, Mato Grosso, Par, Gois, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, regies da Amaznia e do rio So Francisco, entre outras. Esses registros so importantssimos, pois contam um pouco sobre os primeiros habitantes de nossa terra: sua organizao social, meios de sobrevivncia, formas de representao etc. Se voc mora em uma regio prxima de onde se encontram pinturas rupestres, seria muito bom organizar uma visita de todo o grupo a esses locais, depois de se aprofundarem mais nas pesquisas sobre esse assunto. Pea s crianas e jovens que descubram mais informaes sobre as teorias de ocupao do continente americano, pesquisando na biblioteca da cidade e da escola, e conversando com professores
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de Histria, Geografia e Cincias. Afinal, de onde viemos? Segunda etapa: Pergunte ao grupo se eles j repararam como hoje nossos muros e paredes, principalmente nas grandes cidades, esto repletos de desenhos, pichaes, grafites... Lance essas perguntas turma e deixe que todos se manifestem: Seriam os muros de hoje as cavernas de nossos ancestrais? Por que ser que, de uma forma ou de outra, parece que sempre o ser humano precisa deixar sua marca por onde passa? Por que pichar muros ilegal?. Execuo: a) Distribua papel pardo aos participantes. Pea-lhes que emendem vrias folhas umas nas outras com fita crepe, pelo avesso. Cole-as nos muros do ptio da escola ou nas paredes da sala de aula. A seguir, diga-lhes que so como os homens das cavernas, que devero deixar ali registrados, por meio do desenho, coisas que gostariam de capturar, sonhos que gostariam de ver realizados ou recados que gostariam de mandar populao da cidade. b) Distribua pincis e tinta guache (ou similar); orienteos na pintura, na composio dos elementos do desenho, na ocupao do espao, na mistura de cores. Se tiver mais algum na comunidade que pinte murais, cartazes,
faixas, convide-o para auxiliar. c) Este trabalho poder tambm ser feito diretamente sobre os muros da escola, se esta estiver necessitando de pintura e se a direo o permitir. Se for este o caso, organize um mutiro de interessados e pea patrocnio aos lojistas da cidade para a compra das tintas. Lembre-os mais uma vez de que pichar ou grafitar muros ilegal!
d) Terminados os painis, discuta com o grupo sobre os temas tratados, a composio, o uso das cores, as dificuldades encontradas, o que mais gostaram, o que quiseram representar. Voc sabia que os Correios lanaram selos com este assunto? Pois pesquise: foi no ano de 1985. A srie chamase Pinturas Rupestres BRAPEX VI.
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ATIVIDADE 2
LUZES RITUAIS:
Criar um painel com grafismos e objetos mgicos, a partir da arte indgena
A um religioso do sculo XVIII, que lhe perguntou por que se pintava, um caduvu2 retrucou: E voc, por que no se pinta? Quer se parecer com os bichos? 3 Objetivos: Produzir um grande painel a partir das observaes e pesquisas realizadas; exercitar regras de composio, uso de cores, ocupao do espao etc.; criar mscaras, colares, adornos que tenham um significado prprio; entender a arte indgena como digna representante do fazer artstico nacional, com produtos plenos de significaes. Materiais: Papel pardo, fita crepe, tinta guache, pincis, trinchas, livros que tragam reprodues das produes indgenas ou objetos por eles confeccionados. Materiais naturais e alternativos: fibras, sementes, gros, cascas de rvores...
2 ndio da regio do Mato Grosso. 3 Arte no Brasil; Abril Cultural, vol.1; p.18.
Preparao: Com figuras conseguidas em livros e revistas, na biblioteca da escola e da cidade e com imagens de vdeos sobre a temtica indgena, familiarize a turma com as produes artsticas dos ndios brasileiros, um fantstico mundo de cores, metforas, mitos, magia e surpresas.
Explique s crianas e aos jovens que, na maioria das vezes, tais objetos tinham funo religiosa, ritual, e momentos certos para serem apresentados, dependendo da tribo que os confeccionava e das intenes do grupo. Assim, h mscaras, pinturas corporais, diademas, cetros, brincos, adornos que s eram utilizados em poca de guerra. Outras produes eram mostradas unicamente em cerimnias nas quais se reverenciavam os deuses, os mortos e os ancestrais da tribo ou, ainda, para pajelanas, rituais de cura, ritos de passagem, comemoraes de caa... Como na maioria das manifestaes artsticas, tambm a arte indgena tem uma inteno. Cada cor, cada forma pensada: representa algo ou algum; nada por acaso!
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indstria txtil, ou para imprimir em uma camiseta em homenagem aos primeiros habitantes do Brasil. Criar mscaras, colares, cermicas, totens. Cada um desses objetos deve ter um sentido mgico por exemplo, a mscara pode servir para atrair a boa sorte no amor, o colar para trazer prosperidade, e assim por diante. Cada forma ou cor utilizada dever obrigatoriamente supor uma inteno, um significado. Sero utilizados, para isso, produtos naturais, como fibras, madeira, argila, sementes etc. Lembre aos participantes que tanto as mscaras quanto a arte plumria, indumentrias, colares, cestos, redes, armas, cermicas, pintura corporal, enfim, toda a produo desses povos vem carregada de significaes. Um cocar indgena traz tanta ou mais informao quanto nossa atual carteira de identidade. Dependendo do desenho do diadema, das cores, posio e tamanho das plumas, um outro ndio identifica, por exemplo, toda a linhagem de seu proprietrio, sua importncia na tribo, funo, filiao, prestgio e transgresso, direitos e deveres... Verifique se em sua regio existem agrupamentos indgenas ou pessoas que conheam bem sua cultura. Convide-os para conversar com seus alunos, principalmente sobre suas produes artsticas. Pea s crianas e jovens que pesquisem sobre o assunto e conversem com o professor de Histria. Execuo: Partindo da observao consciente e atenta dos padres geomtricos utilizados pelos indgenas em cermicas, cestaria, pintura corporal, o grupo deve criar um grande painel com grafismos utilizados em diversas tribos brasileiras. Criar, tambm a partir dos desenhos indgenas, um padro novo para a O grupo far uma exposio dos trabalhos criados. Existem selos postais com o tema Arte Indgena; voc vai encontr-los nos anos de 1980, 1991 e 1997. Pesquise.
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ATIVIDADE 3
LUZES DA F:
Modelar um objeto tridimensional
Objetivos: Criar um objeto tridimensional; explorar volumes, luzes e sombras na escultura; conhecer um pouco da arte barroca no Brasil. Materiais: Argila, pedrasabo, sabonete, estiletes, palitos de sorvete, goivas, estecas (instrumento especial para modelar em argila). Preparao: Mostre ao grupo imagens do Barroco brasileiro (voc as encontra em livros na biblioteca e em vdeos) e situe esse movimento artstico no tempo e no espao. O texto ao lado pode ajudar:
Logo aps o descobrimento do Brasil, nosso pas recebeu muitas ordens religiosas: jesutas, franciscanos, beneditinos, entre outras. Vindos da Espanha e Portugal, trouxeram para c a arte europia da poca, chamada Barroco. Esta manifestao artstica era, inicialmente, exclusivamente religiosa e influenciou muito os artistas e artesos brasileiros que estavam em contato com esses missionrios. Na pintura barroca, a caracterstica maior era o uso do claro-escuro: geralmente o fundo da tela era quase negro e um foco de luz iluminava a cena principal, que geralmente era dramtica. Na escultura, quase que exclusivamente santos, Jesus, Nossa Senhora e muitos, muitos anjos. Estas representaes parecem ter vida: Jesus sofre, a Virgem Maria chora, os olhares dos anjos so ternos, compadecidos. (...) As igrejas barrocas so inteiramente revestidas com esculturas, santos, anjos, guirlandas, colunas retorcidas, grandes molduras talhadas, pinturas e ouro nos tetos e paredes, numa exploso de curvas, sinuosidades, planos cncavos e convexos, cpulas, onde o olhar do observador se maravilha e no encontra um ponto de descanso. (...) Luzes de velas e candeeiros lanam sombras sobre os tecidos e as dores de seus santos; olhares angelicais refletem o ouro das paredes e a glria da ressurreio. Luzes da f! O Barroco, no Brasil, foi mais marcante em Minas Gerais com destaque para a obra do Aleijadinho , na Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Gois e Rio Grande do Sul, na regio das Misses, apresentando caractersticas diferentes em alguns desses locais.
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Pesquise, com seu grupo, um pouco mais sobre o Barroco no Brasil. Se vocs moram perto de alguma regio onde existem museus, igrejas ou outras manifestaes do Barroco, seria muito bom visit-los com a turma. Pea ajuda aos professores de Arte e de Histria. Nos anos de 1986, 87, 88, 90, 92 e 99 saiu uma srie de selos sobre o Patrimnio Histrico e Artstico Brasileiro, mostrando a arquitetura religiosa nacional, as cidades de Ouro Preto e Olinda e ainda, em 1980, um selo em homenagem a Antnio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Execuo: Desafie seu grupo a modelar em argila algo que provoque o olhar, que instigue o observador, por meio das formas criadas, a procurar efeitos de luzes e sombras. O tema no precisa ser religioso, mas diga a eles que criem, a partir do que aprenderam da escultura barroca: provocar o olhar! Voc pode sugerir que criem, por exemplo, um trofu para ser oferecido ao time vencedor do futebol da escola ou da cidade. Nesse caso, a escultura do jogador teria de apresentar movimentos expressivos, ao, mltiplos planos, para conseguir bastante efeito de luz e sombra. Lembre-os de que esculturas so representaes tridimensionais; portanto, apresentam volume e devem ser vistas de todos os seus ngulos.
A escultura dos alunos no precisa ser barroca. O que eles devero fazer um trabalho em trs dimenses, e voc pode, por exemplo, mostrar aos alunos os selos que saram em 1990, com esculturas mais contemporneas, de Alfredo Ceschiatti e Bruno Giorgi algumas delas encontram-se em Braslia. Seria muito rico solicitar a ajuda de algum escultor de sua cidade ou visitar seu ateli, aprendendo todos tambm com seu trabalho. Prontas as esculturas (modelagens) em argila, deixe-as secar. Os alunos, se quiserem, podero pint-las com guache e, depois de seca a pintura, passar um pouco de verniz para artesanato, para fixar melhor a tinta. O ideal seria queim-las (antes da pintura) em fornos apropriados para cermica ou de olaria.
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ATIVIDADE 4
LUZES MGICAS:
Modelar um ser sobrenatural protetor
Objetivos: Criar um trabalho tridimensional; compor com volumes; conhecer um pouco do imaginrio nacional. Material: Argila, estecas, guache, pincis, verniz. Preparao: Converse com a turma sobre o medo que sempre acompanhou o ser humano e suas tentativas de super-lo. O texto ao lado pode ajudar:
Desde que o primeiro homem habitou este planeta, vem tentando desvendar seus mistrios... Tinha medo do raio, do trovo, do vento, de seres reais e imaginrios. Muitas vezes, criou seres fantsticos que o protegiam dos maus espritos, que afastavam as doenas e realizavam desejos... Assim surgiram deuses e deusas, fadas, bruxas, duendes, drages, os mais diversos amuletos e uma infinidade de encantamentos. Mesmo o homem contemporneo, principalmente nas histrias em quadrinhos, povoa nossa imaginao com Super-Homens, Mulher Maravilha, Fantasma, Drcula e Frankenstein...
No Brasil, alguns desses seres fantsticos so conhecidos em todo o territrio nacional, caso, por exemplo, das famosas carrancas do rio So Francisco, que serviam para espantar os maus espritos das guas. Tambm o Negrinho do Pastoreio, no Sul do Brasil, que protege as pessoas e encontra objetos perdidos.
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Execuo: Entregue a cada participante mais ou menos um quilo de argila e pea-lhes que criem um ser fantstico, algo que s exista na imaginao deles: um ser que os proteja, satisfaa seus desejos ou que afaste o mal. Se em sua regio houver algum artista que trabalhe a escultura, em argila ou madeira, convide-o a participar para orientar a turma. Lembre-os, novamente, de que estaro trabalhando com o tridimensional, portanto com volumes algo que vai ser observado de todos os lados. Terminados os trabalhos, deixe-os secar. Se tiverem forno de cermica ou olaria na regio, seria ideal queim-los. Pea que apliquem guache branco sobre toda a estatueta e a seguir pintem com as cores desejadas. Com uma demo de verniz spray para artesanato, a escultura ficar impermeabilizada e com brilho. Organizem juntos uma exposio com todos os protetores da classe. Conversem sobre os medos e desejos comuns a todos e os especficos de cada um.
Converse com a turma e pea que as crianas e jovens contem um pouco sobre as lendas e seres imaginrios dos quais j ouviram falar. Se conhecerem algum contador de causos, ele deve ser convidado: afinal, so histrias de nosso povo, de nossa cultura. A seguir, pergunte-lhes se, por acaso, cada um tivesse o poder de criar um ser sobrenatural que o protegesse, como ele seria? Quais poderes teria? Ele os protegeria do qu? Afastaria quais perigos? Onde o colocariam?
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ATIVIDADE 5
LUZES MLTIPLAS:
Criar xilogravuras
Objetivos: Criar xilogravuras; trabalhar com contraste preto/branco e relevo. Materiais: Placas de madeira macia, argila, goivas, estiletes, rolo para impresso, tinta preta e papel para desenho. Preparao: Provoque o grupo perguntando como possvel tirar mltiplas cpias de um mesmo desenho sem usar xerox ou foto. Converse com os jovens sobre a tcnica da gravura, mais especificamente sobre a xilogravura. Esta tcnica foi e muito utilizada nos estados do Nordeste brasileiro para ilustrar os belssimos textos da literatura de cordel. Em sua grande maioria, so apenas em branco-e-preto. Se possvel, mostre algumas a eles e, se voc mora nessa regio, convide alguns artistas para conversar com seus alunos sobre seu trabalho.
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Neste processo, o artista utiliza uma prancha de madeira e nela vai cavando, registrando o seu desenho. Para tanto, necessrio pensar ao contrrio, pois o desenho, depois de impresso, sair invertido, como num espelho. As partes do desenho que o artista quer que sejam impressas, ele as deixa em relevo na matriz e as que sairo brancas so cavadas e retiradas da madeira com goivas e estiletes. Essa matriz funciona como um carimbo, partes positivas e negativas, luzes e sombras... Execuo: Proponha ao grupo a realizao de xilogravuras. Para tanto, cada participante far um projeto do desenho em papel, antes de pass-lo para a madeira. Pea aos jovens que pintem no desenho, com lpis preto, as partes que sero carimbadas e, portanto, no devero ser retiradas da matriz. Tudo o que ficar em branco desaparecer; portanto, dever ser cavado. Prontas as pranchas, cada um dever, com um rolo
para pintura, passar tinta nanquim ou guache preto sobre a madeira. A seguir, colocaro uma folha de desenho em branco sobre a matriz, antes que a tinta seque, e pressionaro com as mos ou com o fundo de uma colher. O papel deve ser retirado com cuidado e o desenho aparecer impresso. Nova camada de tinta, outro papel, e eles tero quantas cpias quiserem. Ateno: possvel, tambm, para ficar mais fcil, utilizar como matriz uma placa de argila ainda mida ou um pedao de material emborrachado, desses para revestimento de pisos. Nesses casos especficos, fica mais fcil desenhar e cavar para fazer os relevos, pois a madeira exige mais fora e habilidade, trabalho que dever ser feito apenas com os alunos mais velhos. Organizem juntos uma exposio com todos os trabalhos e tambm com os dos artistas da regio, se for o caso.
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ATIVIDADE 6
LUZES DA CIDADE:
Conhecer a arquitetura e o patrimnio histrico do local
Objetivos: Observar e desenhar (ou fotografar) os edifcios mais significativos da cidade ou bairro; perceber detalhes; exercitar um olhar mais atento sobre a arquitetura local; valorizar o patrimnio histrico da regio. Materiais: Papel para desenho, lpis de cor ou tinta guache e pincis. Se possvel, mquina fotogrfica. Preparao: Converse com a turma sobre sua cidade ou seu bairro. Pergunte s crianas e aos jovens quais prdios, casas, edifcios
acham mais bonitos, interessantes, assustadores. Instigue-os a comentar sobre as formas, as cores, os detalhes, fachadas, portas, janelas, elementos arquitetnicos. Lembre o grupo que praas e monumentos pblicos, templos, residncias, palcios ou palacetes tm um grande valor histrico e artstico, pois contam muito sobre o que pensavam, sentiam e como viviam as pessoas que os construram. Algumas cidades no Brasil e no mundo so consideradas Patrimnio Cultural da Humanidade, pela beleza e riqueza de informaes contidas em seus edifcios e monumentos. Ouro Preto, em Minas Gerais, uma delas. Com suas pontes, chafarizes, igrejas barrocas e sobrados, a cidade nos
faz sonhar com o tempo em que se chamava Vila Rica e era habitada por patriotas como Tiradentes. Execuo: Se possvel, identifique as construes que existem no bairro e na cidade que fazem parte do patrimnio histrico local ou nacional. Obtenha, na prefeitura, dados sobre elas. Convide o grupo para uma caminhada pelo bairro ou ruas prximas escola, observando as caractersticas de cada construo. D-lhes como tarefa um passeio mais atento pela cidade, descobrindo novos detalhes, pesquisando inscries como datas que aparecem em algumas residncias, colunas, escadarias, portes, sacadas, parapeitos, frontes, guirlandas,
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enfeites de gesso. Pea que comparem as construes mais antigas com as mais contemporneas. Compartilhe com o grupo o que voc descobriu sobre os edifcios e monumentos que fazem parte do patrimnio histrico local ou nacional. Pea ao grupo para fazer um registro de suas observaes. Voc pode propor vrias possibilidades. Por exemplo, que cada um desenhe a fachada que mais o impressionou, a janela de que mais gostou, um prdio bem recente, arrojado; uma construo que faz parte do patrimnio histrico. A proposta pode ser nica para todo o grupo por exemplo, todos desenharo apenas portas
ou cada um escolher o item que mais lhe agradar. A seguir, organize com os alunos um grande painel s de janelas, ou apresentando apenas fachadas, somente construes histricas, ou, ainda, contemplando todas as opes. Se sua escola ou seus alunos tiverem mquinas fotogrficas, o painel poder ser feito com fotos outra linguagem da luz! Nesse caso, pea orientao ao fotgrafo da cidade sobre como utilizar corretamente a mquina, quais os melhores ngulos, a velocidade, iluminao etc. Finalmente, por que no fazer tambm maquetes dessas construes? Organizem juntos uma exposio com os trabalhos. Convidem os
outros alunos da escola, professores, funcionrios, pais (quem sabe o prefeito, vereadores, autoridades religiosas?) e observem se eles reconhecem os edifcios de sua cidade retratados por vocs. Se quiserem ir mais longe, que tal estabelecer uma correspondncia com escolas de outras localidades, trocando fotos de suas cidades? Esta seria uma forma de conhecer a arquitetura tpica de cada regio, vista por adolescentes. Com certeza, as residncias do Paran e Santa Catarina (j viu seus telhados?) so completamente diferentes daquelas do Par, Maranho (azulejos lindos!), Amazonas (quanta madeira!) ou So Paulo (quanto vidro!). Enfim, cada regio brasileira uma surpresa!
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ATIVIDADE 7
LUZES VIRTUAIS:
Projetar um futuro possvel
Objetivos: Estimular a imaginao; estimular crianas e jovens a construir uma viso do prprio futuro; criar um painel sobre a vida no futuro; conhecer algumas produes artsticas que trataram da fico cientfica. Materiais: Papel para desenho, lpis preto e de cor, guache, pincis. Se possvel, computadores.
Preparao: Converse com sua turma e diga-lhe que agora hora de sonhar, de imaginar mil possibilidades para o futuro. O que gostariam de inventar? O que modificariam naquilo que a est? Como seria a cidade, o carro, o avio, o habitante do ano 3000? Como seria este planeta? Ou outro? Mostre exemplos de temas abordados no cinema, literatura, histria em quadrinhos, que j foram tidos dcadas atrs como fico cientfica e hoje esto todos a, at ultrapassados. Lembre s crianas e jovens que no h limites para a imaginao humana, e, neste caso, a arte
tem um especial privilgio: tudo que ainda no pode vir a ser, por meio das mos do artista. O futuro tem incio agora, no momento em que algum comea a dar-lhe forma, a criar a sua imagem. Faa um levantamento, com a turma, dos filmes, gibis, livros, desenhos animados que j leram ou assistiram e que trazem o futuro para agora. Conversem sobre os temas tratados nessas produes artsticas. Execuo: Sugira s crianas e aos jovens que faam um desenho de sua cidade no ano 5045, por exemplo, ou que projetem mquinas do tempo, computadores avanadssimos, clonagens, enfim, que tragam para o presente um grande sonho que gostariam de ver realizado num futuro prximo ou distante. Organize com a classe um grande painel de projetos para o futuro. Se na sua escola existem computadores disposio dos alunos, converse com algum da cidade que poderia dar-lhes algumas aulas de computao grfica. A questo no incluir a arte na educao. A questo repensar a educao sob a perspectiva da arte. Educao como atividade esttica...
RUBEM ALVES
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
AGUILAR, Nelson (Org.)/Fundao Bienal de So Paulo. Catlogos da Mostra do Redescobrimento. So Paulo: Associao Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000. ARAUJO, Emanoel et al. Escultura brasileira: perfil de uma identidade. So Paulo: Imprensa Oficial, 1997. ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepo visual. So Paulo: Pioneira/USP, 1980. ARTE NO BRASIL. So Paulo: Abril Cultural,1979. 2 v. AYALA, Walmir. Dicionrio de pintores brasileiros. Curitiba: Editora UFPR, 1997. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da Arte. So Paulo: Perspectiva, 1994. BARDI, Pietro Maria. Histria da arte brasileira: pintura, escultura, arquitetura, outras artes. So Paulo: Melhoramentos, 1975. BRASIL. Ministrio da Educao e do Desporto. Parmetros Curriculares Nacionais Arte. Braslia: MEC, 1996. FERRAZ, Maria Helosa Corra de Toledo, FUSARI, Maria Felisminda de Rezende. Arte na educao escolar. So Paulo: Cortez, 1992. GUERRA, M. Terezinha Telles, MARTINS, Mrian Celeste, PICOSQUE, Gisa. Didtica do ensino de Arte: a lngua do mundo poetizar, fruir e conhecer arte. So Paulo: FTD, 1998. MESTRES DA PINTURA. So Paulo: Abril Cultural, 1977.
A ARTE DE TODOS
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