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Trabalho Portugues Miguel Torga

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1

Índice
Introdução........................................................................................................................3
1.Vida e Obra – António Gonçalves...............................................................................4
2. Contexto histórico e literário- Rita Santos................................................................6
3. Características do autor explicadas- João Rafael.....................................................8
4. Interpretação de um poema– Ana Rodrigues.........................................................10
5. Movimentos artísticos- Ana Godinho......................................................................12
Conclusões......................................................................................................................15
Webgrafia.......................................................................................................................16

2
Introdução

Este trabalho, no âmbito da disciplina de língua portuguesa, foi proposta pela


professora e coube-nos a tarefa de analisar a vida e a obra de um poeta contemporâneo.
Neste caso, a vida e a obra de Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Rocha, médico
oftalmologista e grande escritor.

O trabalho tem o intuito de dar a conhecer, tanto a nós que o produzimos como a
quem o vier a ler, um pouco mais sobre os temas que Torga aborda e a sua vida. Um
escritor galardoado cuja obra marcou o século XX, mas uma vida repleta, com um
desejo indomável de liberdade e a recusa absoluta em seguir tendências.

Apesar de os contos serem a parte mais famosa da sua vasta obra, por atraírem
admiração pela sua arte, neste projeto concentrar-nos-emos na sua obra poética com a
análise de um poema “Comunhão”. O cunho existencialista e modernista de Miguel
Torga torna-se evidente na sua voluminosa obra poética.

A poesia de Torga valoriza da sabedoria da terra, a simplicidade poética, é


inspirada na natureza, que é vista como o ideal de harmonia e serenidade, capaz de
acalmar a inquietação do ser humano. Em Torga, a poesia ganha o valor de ordenadora
do universo, expressa o sonho humano de elevação e de integração na ordem cósmica
sendo o poeta o veículo de transmissão desse sonho.

Para Miguel Torga, a poesia ajuda a decifrar a realidade, a compreender o


mundo, a revelar os mistérios da vida. A poesia é vista enquanto imagem de
acolhimento materno, numa cumplicidade que só os confidentes detêm.

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1.Vida e Obra – António Gonçalves

Adolfo Correia Rocha nasceu em 12 de agosto de 1907 em São Martinho de


Anta, concelho de Sabrosa, distrito de Vila Real, no seio de uma família de camponeses.
Em 1913 inicia os estudos primários na Escola de S. Martinho de Anta. Em 1917
conclui, com distinção, o exame da instrução primária realizado na escola de Sabrosa. O
professor aconselha o pai a mandar o filho estudar para o liceu. Dadas as dificuldades
económicas da família, o pai dá-lhe duas hipóteses: a ida para um seminário ou viajar
para o Brasil. A mãe, duvidosa da vocação sacerdotal do filho, manda-o para o Porto,
onde ficará a servir na casa de uma família burguesa. Sentindo-se revoltado, acaba por
forçar o seu próprio despedimento e, em 1918, com uma recomendação do padre de S.
Martinho de Anta, Adolfo Rocha vai estudar para o seminário de Lamego, onde apenas
permanece um ano, optando por emigrar para o Brasil conforme o pai lhe tinha
aconselhado. Lá, trabalhou durante cinco anos na fazenda de um tio paterno, a Fazenda
de Santa Cruz, no Estado de Minas Gerais.
Em 1925, regressa a Portugal e o tio decide recompensá-lo pelos cinco anos de
trabalho na fazenda, pagando-lhe os estudos em Coimbra. Instala-se num colégio e em
dois anos apenas completa os primeiros cinco do curso geral dos liceus. Sai do colégio
e, alugando um quarto, passa a frequentar o Liceu José Falcão.
Em 1928 inicia os estudos de medicina na Universidade de Coimbra. Durante
esse período inicia a sua carreira paralela, escritor, publicando o seu primeiro livro,
Ansiedade. Escreverá mais livro quer de prosa quer de poesia antes de concluir a
licenciatura em medicina, especialização em oftalmologia, em 1933. Regressa a S.
Martinho de Anta para aí exercer medicina.
Em 1934, publica a novela A Terceira Voz. É com este livro que adota o nome
literário Miguel Torga.
Em 1935, rende homenagem a Fernando Pessoa, numa nota do Diário, aquando
da morte do poeta: “Vila Nova, 3 de dezembro de 1935 Morreu Fernando Pessoa. Mal
acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a
cabo. Fui chorar com os pinheiros e as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje, que
Portugal viu passar num caixão para a eternidade sem ao menos perguntar quem era.”
(Diário, I, 1941).

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Em 1936, publica O Outro Livro de Job, livro de poesia, que se impõe no meio
literário português, e onde se afirma a imanência humanista da poética torguiana.
Em 1937, viaja pela Europa, regressando em janeiro do ano seguinte. Atravessa
a Espanha franquista, em plena guerra civil, e viaja por França, Itália, Suíça e Bélgica.
A 27 de julho de 1940, Miguel Torga casa, em Coimbra, com Andrée Crabbé,
uma estudante belga, aluna de estudos portugueses. O casal teve uma filha, Clara
Rocha.
A par da sua carreira médica, Miguel Torga foi uma figura impar da literatura
portuguesa. Publicou inúmeras obras:Vindima, o único romance; Sinfonia, poema
dramático, Nihil Sibi, a peça O Paraíso e vários volumes do Diário.
Em 1954, viaja novamente por Espanha, onde visita Trujillo, Guadalupe,
Olivença, Granada, Zamora, e a sua escrita vai dar conta das impressões que esses
lugares lhe suscitam, sobre a questão ibérica.
É vítima da censura e dos abusos de poder da ditadura salazarista, chegando
mesmo a ser preso
Ao longo da vida foi nomeada e ganhou inúmeros prémios, mas o auge foi, em
1960, quando foi uma das duas candidaturas portuguesas ao Prémio Nobel da
Literatura: Miguel Torga e Aquilino Ribeiro. A candidatura de Torga foi apoiada por
Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill, David
Mourão-Ferreira, entre outros escritores e intelectuais da época. Náo foi eleito, porém ,
há uma nova candidatura em 1978, com o apoio de figuras destacadas da cultura
portuguesa, assim como de alguns intelectuais e criadores estrangeiros, entre os quais o
vencedor do Prémio Nobel da Literatura do ano anterior, Vicente Aleixandre.
Em 1989, Miguel Torga recebe o Prémio Camões, passando a ser o primeiro
autor a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa. O prémio é
entregue em Ponta Delgada, no âmbito das comemorações do 10 de Junho, numa
cerimónia presidida pelo Presidente da República, Mário Soares.
Miguel Torga morre a 17 de janeiro de 1995, no Instituto de Oncologia, em
Coimbra, após uma longa luta contra a doença. Foi sepultado numa campa rasa no
cemitério de S. Martinho de Anta, ao lado da qual está plantada uma torga em sua
honra.

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2. Contexto histórico e literário- Rita Santos

Como já foi referido Adolfo Correia Rocha, nasceu a 12 de agosto de 1907,


antes do 25 de abril, uma época em que não existia liberdade de expressão.
As suas escritas são muito centradas na religião devido a ter sido educado
segundo os princípios religiosos, impostos pela época e pela típica família portuguesa
da altura, chegando até a frequentar o seminário, mas acabou por abandonar devido ao
seu carácter e à falta de liberdade para viver a vida.
Adolfo acredita na Natureza, é um apaixonado pela terra e por tudo o que ela dá,
daí o seu pseudónimo “Torga” que significa planta brava da montanha, que deita raízes
fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule
incrivelmente retilíneo. É natural de Vila Real, e vem de uma família humilde, trabalhou
desde muito jovem e, talvez, por isso se reflita na sua escrita, a simplicidade do
discurso.
Enquanto estava no Brasil a trabalhar com o seu tio, este apercebe-se da
inteligência do seu sobrinho e decide propor que regresse a Portugal para terminar os
estudos e entrar na faculdade de medicina em Coimbra. Devido a ser médico o seu
desespero humanista foi apurado: não podendo salvar os seus pacientes, sentia-se
impotente, revoltando-se contra os seres divinos, pois, devido às suas capacidades
humanas não serem suficientes para salvar os seus doentes, era preciso um milagre. Esta
revolta vai refletir-se na sua obra, sua rebeldia contra as injustiças e seu inconformismo
diante dos abusos de poder.
As críticas que fez ao franquismo resultaram na sua prisão em 1940. Após
a Revolução dos Cravos, que derrubou o Estado Novo, em 1974, Torga surge na política
para apoiar a candidatura de Ramalho Eanes à presidência da República (1979).
Era, porém, avesso à agitação e à publicidade e manteve-se distante de movimentos
políticos e literários.
Torga sentia-se triste por não conseguir iluminar a sua poesia. Para ele o ato
poético não podia ser separado de um certo comportamento místico.
Autor prolífico, publicou mais de cinquenta livros, ao longo de seis décadas, e
foi, várias vezes, indicado para o Prémio Nobel da Literatura. Nas suas obras, ele
escrevia com bastantes recursos expressivos, utilizando também o paralelismo, o seu
estilo poético eloquente sóbrio, viril, que aquece de entusiasmo e reconhecido também

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pelo uso de estrofes irregulares e escolha das palavras: inspiração na criação e
inovações báquicas.
As suas principais obras são:
 Pão Ázimo, 1931
 A Terceira Voz, 1934
 A Criação do Mundo, os Dois Primeiros Dias, 1937
 O Terceiro Dia da Criação do Mundo, 1938
 O Quarto Dia da Criação do Mundo, 1939
 Bichos, 1940
 Contos da Montanha, 1941
 O Senhor Ventura, 1943
 Um Reino Maravilhoso, 1941
 Trás-os-Montes, 1941
 Conferência, 1941
 Rua, 1942
 Portugal, 1950
 Pedras Lavradas, 1951
 Novos Contos da Montanha, 1944
 Vindima, 1945

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3. Características do autor explicadas- João Rafael

A poesia de Miguel Torga apresenta três grandes linhas de rumo: um "desespero


humanista", uma problemática religiosa e um sentimento telúrico. A revolta e o
inconformismo são, frequentemente, tradutores desse desespero humanista que resulta
de um desespero religioso mais profundo e que o coloca em permanente conflito entre o
divino e o terreno.
Miguel Torga, muitas vezes, como médico, sofre por se sentir impotente por não
poder salvar o paciente que morre e que procurara junto de si a esperança do milagre. A
esperança e a desesperança surgem como uma expressão de um conflito íntimo que se
desenvolve no interior do poeta. Existe, sobretudo, um grito da sua inocência que
procura força e consciência para entender um certo sentido de destino trágico do ser
limitado que é o homem. A descrença e a revolta contra uma divindade transcendente,
que surge na sua obra, parece refletir a sua angústia do poeta.
É o desespero religioso que define Miguel Torga perante si mesmo e que o leva
a um constante monólogo verdadeiramente inquieto com Deus. A palavra Deus torna-se
mesmo obsessão e o conflito com a divindade transcendente é uma presença constante
na poesia torguiana.
O telurismo de Torga exprime-se constantemente no seu apego à terra, na sua
fidelidade ao povo, na sua consciência de português, de ibérico e no espírito de
comunhão europeia e universal. O poeta procura na terra a sua verdade universal, mas
sente a condição humana com todos os seus limites.
O sentimento telúrico presente na obra torguiana revela bem a ligação entre o
espírito genesíaco e o sentido do sagrado. Mesmo quando afasta Deus, há uma perceção
de um criador que se exprime na terra fecundada.
Para Torga a terra é o lugar concreto e natural do Homem.
As principais características das suas obras são:
 A simplicidade do discurso;
 A variedade de estruturas estróficas;
 A ligação entre as estruturas estróficas e a estruturação das ideias;
 O uso da alegoria;
 O uso da adjetivação;

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 O uso de comparações;
 O uso de metáforas;
 O uso de personificações;
 O uso de antíteses;
 O uso da anáfora;
 A escolha das palavras: inspiração genesíaca e inovações báquicas;
 O estilo poético eloquente sóbrio, viril, que aquece de entusiasmo.

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4. Interpretação de um poema– Ana Rodrigues

Comunhão
Tal como o camponês, que canta a semear
A terra,
Ou como tu, pastor, que cantas a bordar
A serra
De brancura,
Assim eu canto, sem me ouvir cantar,
Livre e à minha altura.
Semear trigo e apascentar ovelhas
É oficiar à vida
Numa missa campal.
Mas como sobra desse ritual
Uma leve e gratuita melodia,
Junto o meu canto de homem natural
Ao grande coro dessa poesia.
de Miguel Torga

O poema Comunhão de Miguel Torga, é constituído por uma estrofe de catorze


versos. Em termos de rima, o poema apresenta 3 tipos: rima cruzada, emparelhada e
interpolada.
Adolfo Correia Rocha conhecido como Miguel Torga, nos seus poemas expõe
um afeto pelos elementos relacionados com a terra e o campo, elementos esses
interligados com a vida campestre. Este apego que o poeta apresenta relaciona-se com a
sua origem duma aldeia transmontana. Dessa forma, em Comunhão são referidos
elementos como semente, seiva, colheita, que, por sua vez, remetem para símbolos
religiosos.
A semente, embora pequena, tem a capacidade de produzir uma grande
quantidade de outros grãos e de originar a uma grande árvore. Muitas vezes, esta
linguagem é utilizada na Bíblia em parábolas para indicar a fecundidade da Fé, da
comunhão entre os fiéis.

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A semente contém em si o que no futuro se vai manifestar, simbolizando todas
as capacidades e possibilidades que existem na abundância de vida.
O eu lírico dá início ao seu cântico fazendo duas comparações “Tal como o
camponês” e “Ou como tu, pastor”. O sujeito poético indica que os cantos destes dois
seres se igualam ao seu canto, ou seja, o canto das palavras que formam a poesia. Mais
ainda, diz que canta de forma “Livre e à minha altura”, um poema que surge do seu
interior “sem me ouvir”, mas que faz parte do “grande coro”. Este grande coro a que o
sujeito poético se refere é a união entre Homem e Terra, entre Poeta e Palavra.
Ao remeter para o ofício de pastor, com um sentido duplo: o pastor de ovelhas e
o das gentes, o sujeito lírico refere a crença que as gentes mais humildes tinham em
Jesus Cristo, pastor da Igreja.
A adversativa que inicia o verso onze, marca uma oposição. indicando que a
“missa campal” não passa “desse ritual” e que apenas restará a recordação daquela
melodia “leve” e “gratuita” da sua poesia. Na sua perspetiva, a poesia exprime um
conjunto de mitos agrários de uma forma pessoal.
O título Comunhão reforça esta ideia de religiosidade, ainda que uma
religiosidade entregue nas mãos de homens simples: camponeses, pastores, …
Há comunhão entre o camponês e a terra que trabalha, há comunhão entre o
pastor e os animais que apascenta e há uma intensa comunhão entre o sujeito poético e a
Natureza, entre o eu lírico e o ambiente pastoril e campestre.

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5. Movimentos artísticos- Ana Godinho

Conforme exposto acima, a obra torguiana apresenta três grandes linhas: um


profundo humanismo, que acompanha uma incerteza religiosa e um sentimentalismo
forte em relação à Terra.
O carácter humanista é fruto da infância e juventude de Miguel Torga, em terras
de Trás-os-Montes, por entre as gentes sofridas e os trabalhadores rurais, cujos dias
eram marcados pelos ciclos da natureza. Com estes homens e mulheres, Miguel Torga
aprendeu a valorizar cada ser humano, enquanto criador e propagador da vida e da
natureza. Não podemos esquecer, e Torga não deixou esquecer, que sem o homem
transmontano, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem
duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho
humano.
Evidentemente, esta faceta do ser humano, no entanto, não se fica pelo Reino
Maravilhoso de Torga. Ele, que viveu noutras localidades de Portugal e lidou com
outras gentes devido à sua profissão de médico, percebeu que essa era uma
característica inerente do ser humano: todos somos criadores e propagadores da vida e
da natureza. Esta característica da obra torguiana tem sido revisitada recentemente por
estudiosos da literatura ecocrítica1, pelos amantes da natureza, nomeadamente por terras
de Alto Douro, de forma a chamar a atenção da população local, e não só, para a
necessidade de proteger a natureza e a agricultura daquela região.
Os homens durienses e as suas obras levam Miguel Torga a revoltar-se contra a
divindade transcendente: para ele, só a humanidade seria digna de louvores. Segundo
ele, nenhum deus deveria ser louvado, pois a sua condição omnisciente facilita-lhe ser
virtuoso, mais ainda, como ser sobrenatural não tem dificuldade para fazer ou melhorar
a natureza. Já, o ser humano que é limitado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à
morte, também cria e impõe-se à natureza agreste. Vejamos o exemplo que Torga utiliza
dos trabalhadores rurais transmontanos que semeiam nos penedos bravios das serras. É

1
“A análise ecocrítica de um texto pretende, de certa forma, dar voz a uma coisa silenciada – a natureza e
o mundo exterior. […] Assim, mais do que a pessoa que o escreve e a sua intenção, o que importa num
estudo ecocrítico é sobretudo o lugar e o contexto da escrita, por onde ele passa. (in
https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/ecocritica)

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essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente “fazer” a natureza, apesar de
todas as limitações do ser humano que, para Torga, fazem do homem, um ser digno de
adoração. Para Torga, a terra é o lugar da realização do ser humano e da sua ligação ao
sagrado. Na terra fértil, a fecundação permite a vida do homem que se reproduz na
busca de novas vidas.
Apesar de toda a sua necessidade de independência literária, relativamente a
movimentos literários, Torga produziu textos que se inseriram num dos movimentos da
época: neorrealismo. Deste modo, as suas viagens por Portugal e pela Europa nos anos
30 e 40, Torga é influenciado pelo movimento modernista que surgia para se opor ao
status quo. Torga acaba por se tornar um exemplo do neorrealismo, uma das várias
fases do movimento Modernista.
O Modernismo em Portugal foi fruto das novas conceções estéticas que
circulavam na Europa no início do século XX. Um movimento estético e cultural
irreverente e contestatário que tentou rompeu com os padrões vigentes, propondo uma
nova linguagem. Também, a pintura ganha uma nova dimensão e pintores como Almada
Negreiros, Santa Rita Pintor ou Amadeo de Souza Cardoso, muitos que tinham estado
ou estavam exilados em Paris, e que importaram aspetos inovadores da arte,
converteram a pintura em algo mais do que mero enriquecimento exterior, ou ilustração,
mas num elemento insubstituível.
A pintura também influencia e interage com a literatura, nomeadamente com a
poesia. Vejamos o caso de Torga que se deslumbra com a pintura de Goya e Picasso,
entretecendo-a com as suas palavras. Aliás, ele via nesta simbiose algo de essencial, por
isso, o seu livro, O Reino Maravilhoso, é ilustrado pela pintora Graças Morais 2, também
uma transmontana.
O Neorrealismo estendeu-se até o final do Estado Novo, na década de 70, e
contou com importantes nomes, entre eles Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro,
Almada Negreiros, Irene Lisboa, entre outros. A terceira fase do Modernismo, o
Neorrealismo surgiu num momento conturbado no contexto histórico-social. A Europa
vivia uma forte crise económica, com vários países sob regimes totalitários e com a
constante tensão provocada pela Segunda Guerra Mundial.

2
Graça Morais é membro da Academia Nacional de Belas-Artes e de diversas associações, confrarias e
fundações culturais. Foi agraciada com o grau Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída
pelo Presidente da República Jorge Sampaio em 1997.

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Os representantes do Neorrealismo, Miguel Torga incluído, não poupavam duras
críticas ao individualismo e ao esteticismo, divulgando, acima de tudo na literatura, o
pensamento marxista e rejeitando veemente o socialismo utópico. Num contexto
particular, correspondendo ao período histórico-político do salazarismo, Miguel Torga
critica fortemente a ditadura fascista que fora implantada em Espanha pelo general
Franco, na sua obra O Quarto Dia e, consequentemente, é preso em 1940.
Neste contexto, Torga constrói uma literatura comprometida com os princípios
do realismo socialista, refletindo sobretudo as condições de vida dos homens e mulheres
que se dedicam ao trabalho de e na terra, propondo uma revalorização do realismo
tradicional e procurando dar voz às camadas sociais mais baixas: trabalhadores rurais, o
parco proletariado que não tinham representação política.
A par do seu neorrealismo, Torga demonstra que a Terra é primordial, para ele
enquanto ser humano. É dela que ele retira a sua energia vital. O seu “lar”, S. Martinho
de Anta, foi sempre o lugar para onde ia recuperar energia, buscar consolo, encontrar
apoio nos momentos mais difíceis. Era o lugar de confidências e de sinceridade
absoluta, e está sempre presente na sua obra, tal como a província de Trás-os-Montes.
Mas não só, pois ele evoca todas as localidades e todos os países por onde passa 3. Na
sua obra, é constantemente invocada a aliança entre o Homem e a Terra: não apenas a
relação entre o homem e o seu país natal, uma pátria ou um lugar. Não! A terra de que
Torga fala e escreve é a Terra-Mãe, a Terra que é de toda a vida humana.

3
Torga menciona o que sentiu aquando da sua visita a África no conto “Vicente”.

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Conclusões

Miguel Torga, o grande escritor e poeta, evitou sempre que possível agitação
publica, mantendo-se longe de movimentos políticos e literários, não dava autógrafos ou
dedicatórias. Nem sequer oferecia livros, pois queria que o leitor fosse livre para
escolher o que queria ler.
Foi essa necessidade de liberdade que se tornou a pedra basilar da obra torguiana
onde o escritor reflete as apreensões, esperanças e angústias de seu tempo, traduz sua
revolta contra as injustiças e os abusos do poder.
Enquanto poeta, Torga vai sempre às suas origens: às terras e gentes do Reino
Maravilhoso, Trás-os.Montes. Embora a sua vida profissional o tenha feito viver longe
da sua terra-natal, era lá que ele se refugiava quando precisava de descansar ou de
acertar as suas ideias. Nem sempre o podia fazer fisicamente, mas “espiritualmente” a
Terra era o seu refúgio e a sua poesia reflete essa relação íntima. Mais ainda, a sua
poesia denuncia as injustiças cometidas contra aqueles homens e mulheres cuja pobreza
silenciava a voz e impedia-os de ter uma vida melhor.
Para Torga, poeta, a Terra é fonte de toda a energia, e quem a trabalha tem essa
energia acumulada, pois é capaz de domar a terra bravia e dela fazer brotar uma
natureza que é bela e produtiva, por exemplo, os socalcos nas margens do Douro de
onde provem as uvas que fazem um bom vinho.
Tal como o agricultor produz bons frutos, também o poeta produz um canto que
ilumina a Alma de quem o ouve ou lê.

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Webgrafia

http://espacomigueltorga.pt/p70-miguel-torga-vida-e-obra-pt, consultado a 23/05/2022

http://www.museudoneorealismo.pt/o-que-e-o-neorrealismo-86, consultado a
05/06/2022
https://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/154788.html, consultado a 05/06/2022
https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/2976356.pdf, consultado a 05/06/2022
https://notapositiva.com/analise-do-poema-comunhao-miguel-torga/#, consultado a
05/06/2022
https://notapositiva.com/miguel-torga/#, consultado a 3/06/2022

https://purl.pt/13860/1/miguel-torga.htm, consultado a 05/06/2022


https://www.ebiografia.com/miguel_torga/, consultado a 26/05/2022

https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$poesia-de-miguel-torga, consultado a
05/06/2022
https://www.portugues.com.br/literatura/modernismo-portugal.html, consultado a
05/06/2022
https://www.researchgate.net/publication/
233668099_Olhares_de_Miguel_Torga_e_de_outros_escritores_portugueses_sobre_a_
pintura_espanhola_Goya_e_Picasso, consultado a 05/06/2022

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