Trabalho Portugues Miguel Torga
Trabalho Portugues Miguel Torga
Trabalho Portugues Miguel Torga
Índice
Introdução........................................................................................................................3
1.Vida e Obra – António Gonçalves...............................................................................4
2. Contexto histórico e literário- Rita Santos................................................................6
3. Características do autor explicadas- João Rafael.....................................................8
4. Interpretação de um poema– Ana Rodrigues.........................................................10
5. Movimentos artísticos- Ana Godinho......................................................................12
Conclusões......................................................................................................................15
Webgrafia.......................................................................................................................16
2
Introdução
O trabalho tem o intuito de dar a conhecer, tanto a nós que o produzimos como a
quem o vier a ler, um pouco mais sobre os temas que Torga aborda e a sua vida. Um
escritor galardoado cuja obra marcou o século XX, mas uma vida repleta, com um
desejo indomável de liberdade e a recusa absoluta em seguir tendências.
Apesar de os contos serem a parte mais famosa da sua vasta obra, por atraírem
admiração pela sua arte, neste projeto concentrar-nos-emos na sua obra poética com a
análise de um poema “Comunhão”. O cunho existencialista e modernista de Miguel
Torga torna-se evidente na sua voluminosa obra poética.
3
1.Vida e Obra – António Gonçalves
4
Em 1936, publica O Outro Livro de Job, livro de poesia, que se impõe no meio
literário português, e onde se afirma a imanência humanista da poética torguiana.
Em 1937, viaja pela Europa, regressando em janeiro do ano seguinte. Atravessa
a Espanha franquista, em plena guerra civil, e viaja por França, Itália, Suíça e Bélgica.
A 27 de julho de 1940, Miguel Torga casa, em Coimbra, com Andrée Crabbé,
uma estudante belga, aluna de estudos portugueses. O casal teve uma filha, Clara
Rocha.
A par da sua carreira médica, Miguel Torga foi uma figura impar da literatura
portuguesa. Publicou inúmeras obras:Vindima, o único romance; Sinfonia, poema
dramático, Nihil Sibi, a peça O Paraíso e vários volumes do Diário.
Em 1954, viaja novamente por Espanha, onde visita Trujillo, Guadalupe,
Olivença, Granada, Zamora, e a sua escrita vai dar conta das impressões que esses
lugares lhe suscitam, sobre a questão ibérica.
É vítima da censura e dos abusos de poder da ditadura salazarista, chegando
mesmo a ser preso
Ao longo da vida foi nomeada e ganhou inúmeros prémios, mas o auge foi, em
1960, quando foi uma das duas candidaturas portuguesas ao Prémio Nobel da
Literatura: Miguel Torga e Aquilino Ribeiro. A candidatura de Torga foi apoiada por
Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill, David
Mourão-Ferreira, entre outros escritores e intelectuais da época. Náo foi eleito, porém ,
há uma nova candidatura em 1978, com o apoio de figuras destacadas da cultura
portuguesa, assim como de alguns intelectuais e criadores estrangeiros, entre os quais o
vencedor do Prémio Nobel da Literatura do ano anterior, Vicente Aleixandre.
Em 1989, Miguel Torga recebe o Prémio Camões, passando a ser o primeiro
autor a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa. O prémio é
entregue em Ponta Delgada, no âmbito das comemorações do 10 de Junho, numa
cerimónia presidida pelo Presidente da República, Mário Soares.
Miguel Torga morre a 17 de janeiro de 1995, no Instituto de Oncologia, em
Coimbra, após uma longa luta contra a doença. Foi sepultado numa campa rasa no
cemitério de S. Martinho de Anta, ao lado da qual está plantada uma torga em sua
honra.
5
2. Contexto histórico e literário- Rita Santos
6
pelo uso de estrofes irregulares e escolha das palavras: inspiração na criação e
inovações báquicas.
As suas principais obras são:
Pão Ázimo, 1931
A Terceira Voz, 1934
A Criação do Mundo, os Dois Primeiros Dias, 1937
O Terceiro Dia da Criação do Mundo, 1938
O Quarto Dia da Criação do Mundo, 1939
Bichos, 1940
Contos da Montanha, 1941
O Senhor Ventura, 1943
Um Reino Maravilhoso, 1941
Trás-os-Montes, 1941
Conferência, 1941
Rua, 1942
Portugal, 1950
Pedras Lavradas, 1951
Novos Contos da Montanha, 1944
Vindima, 1945
7
3. Características do autor explicadas- João Rafael
8
O uso de comparações;
O uso de metáforas;
O uso de personificações;
O uso de antíteses;
O uso da anáfora;
A escolha das palavras: inspiração genesíaca e inovações báquicas;
O estilo poético eloquente sóbrio, viril, que aquece de entusiasmo.
9
4. Interpretação de um poema– Ana Rodrigues
Comunhão
Tal como o camponês, que canta a semear
A terra,
Ou como tu, pastor, que cantas a bordar
A serra
De brancura,
Assim eu canto, sem me ouvir cantar,
Livre e à minha altura.
Semear trigo e apascentar ovelhas
É oficiar à vida
Numa missa campal.
Mas como sobra desse ritual
Uma leve e gratuita melodia,
Junto o meu canto de homem natural
Ao grande coro dessa poesia.
de Miguel Torga
10
A semente contém em si o que no futuro se vai manifestar, simbolizando todas
as capacidades e possibilidades que existem na abundância de vida.
O eu lírico dá início ao seu cântico fazendo duas comparações “Tal como o
camponês” e “Ou como tu, pastor”. O sujeito poético indica que os cantos destes dois
seres se igualam ao seu canto, ou seja, o canto das palavras que formam a poesia. Mais
ainda, diz que canta de forma “Livre e à minha altura”, um poema que surge do seu
interior “sem me ouvir”, mas que faz parte do “grande coro”. Este grande coro a que o
sujeito poético se refere é a união entre Homem e Terra, entre Poeta e Palavra.
Ao remeter para o ofício de pastor, com um sentido duplo: o pastor de ovelhas e
o das gentes, o sujeito lírico refere a crença que as gentes mais humildes tinham em
Jesus Cristo, pastor da Igreja.
A adversativa que inicia o verso onze, marca uma oposição. indicando que a
“missa campal” não passa “desse ritual” e que apenas restará a recordação daquela
melodia “leve” e “gratuita” da sua poesia. Na sua perspetiva, a poesia exprime um
conjunto de mitos agrários de uma forma pessoal.
O título Comunhão reforça esta ideia de religiosidade, ainda que uma
religiosidade entregue nas mãos de homens simples: camponeses, pastores, …
Há comunhão entre o camponês e a terra que trabalha, há comunhão entre o
pastor e os animais que apascenta e há uma intensa comunhão entre o sujeito poético e a
Natureza, entre o eu lírico e o ambiente pastoril e campestre.
11
5. Movimentos artísticos- Ana Godinho
1
“A análise ecocrítica de um texto pretende, de certa forma, dar voz a uma coisa silenciada – a natureza e
o mundo exterior. […] Assim, mais do que a pessoa que o escreve e a sua intenção, o que importa num
estudo ecocrítico é sobretudo o lugar e o contexto da escrita, por onde ele passa. (in
https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/ecocritica)
12
essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente “fazer” a natureza, apesar de
todas as limitações do ser humano que, para Torga, fazem do homem, um ser digno de
adoração. Para Torga, a terra é o lugar da realização do ser humano e da sua ligação ao
sagrado. Na terra fértil, a fecundação permite a vida do homem que se reproduz na
busca de novas vidas.
Apesar de toda a sua necessidade de independência literária, relativamente a
movimentos literários, Torga produziu textos que se inseriram num dos movimentos da
época: neorrealismo. Deste modo, as suas viagens por Portugal e pela Europa nos anos
30 e 40, Torga é influenciado pelo movimento modernista que surgia para se opor ao
status quo. Torga acaba por se tornar um exemplo do neorrealismo, uma das várias
fases do movimento Modernista.
O Modernismo em Portugal foi fruto das novas conceções estéticas que
circulavam na Europa no início do século XX. Um movimento estético e cultural
irreverente e contestatário que tentou rompeu com os padrões vigentes, propondo uma
nova linguagem. Também, a pintura ganha uma nova dimensão e pintores como Almada
Negreiros, Santa Rita Pintor ou Amadeo de Souza Cardoso, muitos que tinham estado
ou estavam exilados em Paris, e que importaram aspetos inovadores da arte,
converteram a pintura em algo mais do que mero enriquecimento exterior, ou ilustração,
mas num elemento insubstituível.
A pintura também influencia e interage com a literatura, nomeadamente com a
poesia. Vejamos o caso de Torga que se deslumbra com a pintura de Goya e Picasso,
entretecendo-a com as suas palavras. Aliás, ele via nesta simbiose algo de essencial, por
isso, o seu livro, O Reino Maravilhoso, é ilustrado pela pintora Graças Morais 2, também
uma transmontana.
O Neorrealismo estendeu-se até o final do Estado Novo, na década de 70, e
contou com importantes nomes, entre eles Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro,
Almada Negreiros, Irene Lisboa, entre outros. A terceira fase do Modernismo, o
Neorrealismo surgiu num momento conturbado no contexto histórico-social. A Europa
vivia uma forte crise económica, com vários países sob regimes totalitários e com a
constante tensão provocada pela Segunda Guerra Mundial.
2
Graça Morais é membro da Academia Nacional de Belas-Artes e de diversas associações, confrarias e
fundações culturais. Foi agraciada com o grau Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída
pelo Presidente da República Jorge Sampaio em 1997.
13
Os representantes do Neorrealismo, Miguel Torga incluído, não poupavam duras
críticas ao individualismo e ao esteticismo, divulgando, acima de tudo na literatura, o
pensamento marxista e rejeitando veemente o socialismo utópico. Num contexto
particular, correspondendo ao período histórico-político do salazarismo, Miguel Torga
critica fortemente a ditadura fascista que fora implantada em Espanha pelo general
Franco, na sua obra O Quarto Dia e, consequentemente, é preso em 1940.
Neste contexto, Torga constrói uma literatura comprometida com os princípios
do realismo socialista, refletindo sobretudo as condições de vida dos homens e mulheres
que se dedicam ao trabalho de e na terra, propondo uma revalorização do realismo
tradicional e procurando dar voz às camadas sociais mais baixas: trabalhadores rurais, o
parco proletariado que não tinham representação política.
A par do seu neorrealismo, Torga demonstra que a Terra é primordial, para ele
enquanto ser humano. É dela que ele retira a sua energia vital. O seu “lar”, S. Martinho
de Anta, foi sempre o lugar para onde ia recuperar energia, buscar consolo, encontrar
apoio nos momentos mais difíceis. Era o lugar de confidências e de sinceridade
absoluta, e está sempre presente na sua obra, tal como a província de Trás-os-Montes.
Mas não só, pois ele evoca todas as localidades e todos os países por onde passa 3. Na
sua obra, é constantemente invocada a aliança entre o Homem e a Terra: não apenas a
relação entre o homem e o seu país natal, uma pátria ou um lugar. Não! A terra de que
Torga fala e escreve é a Terra-Mãe, a Terra que é de toda a vida humana.
3
Torga menciona o que sentiu aquando da sua visita a África no conto “Vicente”.
14
Conclusões
Miguel Torga, o grande escritor e poeta, evitou sempre que possível agitação
publica, mantendo-se longe de movimentos políticos e literários, não dava autógrafos ou
dedicatórias. Nem sequer oferecia livros, pois queria que o leitor fosse livre para
escolher o que queria ler.
Foi essa necessidade de liberdade que se tornou a pedra basilar da obra torguiana
onde o escritor reflete as apreensões, esperanças e angústias de seu tempo, traduz sua
revolta contra as injustiças e os abusos do poder.
Enquanto poeta, Torga vai sempre às suas origens: às terras e gentes do Reino
Maravilhoso, Trás-os.Montes. Embora a sua vida profissional o tenha feito viver longe
da sua terra-natal, era lá que ele se refugiava quando precisava de descansar ou de
acertar as suas ideias. Nem sempre o podia fazer fisicamente, mas “espiritualmente” a
Terra era o seu refúgio e a sua poesia reflete essa relação íntima. Mais ainda, a sua
poesia denuncia as injustiças cometidas contra aqueles homens e mulheres cuja pobreza
silenciava a voz e impedia-os de ter uma vida melhor.
Para Torga, poeta, a Terra é fonte de toda a energia, e quem a trabalha tem essa
energia acumulada, pois é capaz de domar a terra bravia e dela fazer brotar uma
natureza que é bela e produtiva, por exemplo, os socalcos nas margens do Douro de
onde provem as uvas que fazem um bom vinho.
Tal como o agricultor produz bons frutos, também o poeta produz um canto que
ilumina a Alma de quem o ouve ou lê.
15
Webgrafia
http://www.museudoneorealismo.pt/o-que-e-o-neorrealismo-86, consultado a
05/06/2022
https://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/154788.html, consultado a 05/06/2022
https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/2976356.pdf, consultado a 05/06/2022
https://notapositiva.com/analise-do-poema-comunhao-miguel-torga/#, consultado a
05/06/2022
https://notapositiva.com/miguel-torga/#, consultado a 3/06/2022
https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$poesia-de-miguel-torga, consultado a
05/06/2022
https://www.portugues.com.br/literatura/modernismo-portugal.html, consultado a
05/06/2022
https://www.researchgate.net/publication/
233668099_Olhares_de_Miguel_Torga_e_de_outros_escritores_portugueses_sobre_a_
pintura_espanhola_Goya_e_Picasso, consultado a 05/06/2022
16