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RESUMO
A higiene bucal adequada está diretamente relacionada à remoção do biofilme. Por
meio desta remoção, é possível a prevenção a lesões de cárie e doenças periodontais,
que são respectivamente as duas patologias que mais acometem a cavidade bucal.
Existem diversos modelos de escovas dentais no mercado, com variações de cabo,
Ellen Greenfield1
cabeça, quantidade e formato de cerdas e até mesmo escovas especiais para casos
e pontos mais específicos, com o objetivo de remoção do biofilme e prevenção Analúcia Ferreira Marangoni2
dos desagravos bucais. Além das escovas dentais manuais, existem as elétricas e
ultrassônicas, que também possuem variações em suas apresentações. A tecnologia 1
DDS Graduação em Odontologia, Universida-
das escovas ultrassônicas pode trazer benefícios e auxiliar na remoção do biofilme;
de de Mogi das Cruzes (UMC)
no entanto, o conhecimento a respeito de sua efetividade ainda é limitado. Assim,
foi realizada uma revisão de literatura para realizar a avaliação comparativa entre
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DDS Graduação em Odontologia, Universida-
escovas manuais e ultrassônicas para remoção do biofilme, utilizando as bases de de de Uberaba (UNIUBE); MsCMestrado em
dados Pubmed, Scielo, Google Acadêmico e Portal Capes, selecionados entre os anos Ciências da Reabilitação, Universidade Nove
1964 a 2019, utilizando as palavras-chave: Higiene Bucal, Biofilmes, Placa Dentária de Julho (UNINOVE); PhD Doutoranda em
e Adolescente. Pode-se observar que a literatura mostra resultados divergentes
Engenharia Biomédica, Universidade de Mogi
em relação à superioridade de escovas elétricas e oscilantes em relação à escova
convencional. A maior parte das referências utilizadas neste estudo mostrou que das Cruzes (UMC). Professora da disciplina
escovas dentais elétricas e sônicas/ultrassônicas, possuem superioridade na eficácia de Odontopediatria e Clinica Odontológica
de remoção do biofilme dental; no entanto, os estudos a respeito da tecnologia sônica/ Infantil (UMC). Coordenadora do curso de es-
ultrassônica ainda são escassos, sendo assim necessárias novas pesquisas a respeito pecialização em Odontopediatria da Associação
para que se obtenham resultados mais seguros e precisos.
Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD).
Palavras-chave: Higiene Bucal, Biofilmes, Placa Dentária, Adolescente.
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Avaliação comparativa entre escovas dentais manuais e ultrassônicas para remoção do biofilme
I N T R O D U ÇÃO
Sabe-se que a importância de uma higiene bucal adequada está diretamente rela-
cionada à remoção do biofilme dental. Por meio desta remoção, é possível a prevenção a
lesões de cárie e doença periodontal, que são respectivamente as duas doenças que mais
acometem a cavidade bucal. (AXELSSON et al, 1991)1
Berenie et al2 relataram que a realização da higiene bucal por duas, três ou mais
vezes ao dia, é suficiente para o controle do biofilme. No entanto, Bellini et al 3 (1981)
afirmaram que a qualidade na realização da higiene bucal é mais importante do que a
frequência desta.
Uma vez que se tem conhecimento sobre estes problemas, busca-se por técnicas de
escovação que mais se adequem a cada caso e paciente. Da mesma forma, deve-se buscar,
também, pela melhor escova dental para cada indivíduo, levando em conta tamanho da
parte ativa, tipo de cerdas e técnica a ser preconizada de acordo com a idade, coordenação
e interesse do indivíduo.
Apesar da importância da efetividade da remoção do biofilme por meio da escovação
mecânica, a literatura não é unânime em apontar qual o melhor tipo de escova e que possa
trazer melhores benefícios. Existem diversos modelos de escovas dentais no mercado, com
variações de cabo, cabeça, quantidade e formato de cerdas e até mesmo escovas especiais
para casos e pontos mais específicos, como as escovas interdentais, unitufo e bitufo. As esco-
vas apresentam quatro componentes básicos: cabo, haste ou intermediário, cabeça e cerdas.
Segundo a Associação Dentária Americana (ADA), a escova ideal deve apresentar
certas características, tais como: tufos de cerdas com o mesmo comprimento, cabeça e haste
situada no mesmo eixo, leveza e facilidade de limpeza, impermeabilidade à umidade, cabe-
ça pequena, baixo custo, durabilidade e eficiência no controle da placa. (ZAZE et al, 2016)4
Além das escovas dentais manuais, existem as escovas elétricas e ultrassônicas, que
também possuem variações em suas apresentações. Segundo RE et al5 (2015), a tecnologia
das escovas ultrassônicas pode trazer benefícios e auxiliar na remoção do biofilme; no en-
tanto, o conhecimento a respeito de sua efetividade, segundo estes autores, ainda é limitado.
Bizhang et al6 (2017) realizaram um estudo com o objetivo de avaliar a suscetibi-
lidade da dentina à abrasão da escovação, utilizando quatro diferentes escovas dentais
(oscilante rotativa, sonora e dois tipos de escovas dentais manuais) com as mesmas forças
de escovação. Amostras de dentina, de 72 terceiros molares retidos, foram selecionadas.
Metade da superfície das amostras de dentina foi coberta com uma fita adesiva, criando
uma área protegida e uma área livremente exposta no mesmo espécime. A escovação foi
realizada em uma máquina de escovação automática feita sob medida. A força de escovação
foi ajustada para 2N e um creme dental clareador foi utilizado. O período de avaliação foi
estipulado ao longo de um tempo calculado para simular um comportamento de escova-
ção de duas vezes ao dia, por oito anos e seis meses. Os autores concluíram que, usando
a mesma força de escovação e um creme dental altamente abrasivo, as escovas de dentes
manuais são significativamente menos abrasivas em comparação a escovas elétricas para
uma simulação de 8,5 anos.
Em contrapartida, Kurtz et al7 (2016), ao realizarem um ensaio clínico randomizado
para comparar a eficácia de remoção de placa de uma escova de dentes elétrica rotativa
oscilante a uma escova de dentes manual por múltiplos examinadores, verificaram que
ambas forneceram uma redução significativa na placa. Entretanto, diferenças significativas
de tratamento foram observadas para os quatro examinadores envolvidos na pesquisa, em
favor da escova em rotação oscilante (p <0,001), razão pela qual puderam concluir que a
escova de dentes elétrica removeu significativamente mais placa após uma única escovação
do que a escova de dentes manual padrão.
Corrobora com o estudo acima, a pesquisa realizada por Goh e Lim8 (2017). Para
responder à questão de saber se a escova elétrica é mais eficaz do que a convencional,
este artigo revisou vários aspectos das escovas de dentes elétricas em termos de eficácia,
segurança, aceitabilidade e considerações especiais para certos grupos de pacientes. A
revisão da literatura foi realizada no PubMed e por este levantamento foi verificado que
as escovas elétricas são tão eficazes quanto as escovas manuais na remoção da placa e
inflamação gengival. Dentre as elétricas, há evidências que sugerem que as do tipo rotação-
-oscilação podem ser mais eficazes do que as convencionais. Concluíram, portanto, que
as escovas elétricas são tão eficazes quanto as convencionais para a remoção do biofilme.
Afirmam, entretanto, que mais estudos sobre a segurança e aceitabilidade destas escovas
são necessários.
Yaacob et al 9 (2014), ao realizarem uma revisão da Cochrane concluíram que as
escovas elétricas reduziram a placa e a gengivite mais do que a escovação manual a curto
e a longo prazo. Em adição, Vettore et al10 (2012) estudaram a associação entre compor-
tamentos relacionados à saúde e escovação dentária, onde foram constatadas variações
conforme as condições econômicas, enquanto Toassi et al11 (2002) avaliaram a eficácia de
estratégias motivacionais para remoção do biofilme dental, mostrando que apresentam
bons resultados na redução da placa bacteriana.
Ainda, Ganss et al 12 (2018) fizeram um estudo para verificar se os pacientes que
utilizavam escovas manuais ou elétricas mudavam sua técnica, tempo ou forma de
higienização. A pesquisa foi realizada por meio de análise de vídeos, nos quais foram
comparados o tempo e a técnica utilizada. Concluíram que os padrões de movimento
intra-individual foram semelhantes tanto com escova elétrica quanto manual, e a maioria
dos indivíduos persistiu em seus padrões de movimento habituais, independentemente
do tipo de escova de dentes.
Com o objetivo de determinar a eficácia da remoção da placa e a avaliação da mo-
tivação comparando uma escova de dentes elétrica manual versus uma escova interativa
em pacientes ortodônticos, Erbe et al13 selecionaram sessenta adolescentes com aparelhos
ortodônticos fixos que foram randomizados em um ensaio clínico paralelo controlado,
randomizado, examinador-cego e divididos em dois grupos: o primeiro utilizando escova
manual e o segundo, escova interativa com tecnologia Bluetooth. Os indivíduos foram
orientados a escovar os dentes sem supervisão. A escova de dentes elétrica interativa
forneceu significativamente (p<0,001) maior redução de placa em comparação com à con-
vencional em 2 e 6 semanas e a motivação relatada pelo indivíduo foi significativamente
aumentada no grupo da escova elétrica interativa.
Pode-se observar que a literatura mostra resultados divergentes em relação à supe-
rioridade de escovas elétricas e oscilantes em relação à escova convencional. Desta maneira,
o objetivo deste estudo foi realizar uma revisão bibliográfica sobre a eficácia da higiene
bucal das escovas manuais e ultrassônicas, a fim de se obter mais informações sobre o tipo
de escova que fornece o melhor desempenho em relação à remoção mecânica do biofilme.
M AT E R I A L E M ÉT O D O S
Este trabalho foi uma revisão de literatura para realizar a avaliação comparativa
entre escovas manuais e ultrassônicas para remoção do biofilme, utilizando as bases de
dados Pubmed, Scielo, Google Acadêmico e Portal Capes, selecionados entre os anos 1964
a 2019, utilizando as palavras-chave: Higiene Bucal, Biofilmes, Placa Dentária, Adolescente.
D I S C U S S ÃO
bacteriana e a gengivite mais do que escovas convencionais a curto e a longo prazo, apesar
de considerarem os resultados ainda um pouco incertos. Corrobora o estudo de GANSS et
al12 (2018), no qual desenvolveram um trabalho de observação dos padrões de movimentos
de escovação também utilizando os dois tipos de escovas, e no qual a elétrica também
apresentou superioridade em sua eficácia.
ERBE et al13 (2019) e ZIMMER et al14 (2002), estudaram sobre a eficácia clínica de
escovas ultrassônicas e convencionais, concluindo que as ultrassônicas também possuem
superioridade na remoção da placa bacteriana. Em contrapartida, CARVALHO et al15 (2018),
compararam por meio de um ensaio clínico a eficácia de escovas manuais e sônicas no
controle da placa e afirmaram que ambas apresentaram resultados semelhantes.
Ainda, KLUKOWSKA et al16 (2013), também desenvolveram uma comparação clínica
entre uma escova elétrica com rotação oscilante e uma escova sônica na redução da placa
e da gengivite e verificaram que a escova oscilatória produziu resultados superiores tanto
na remoção da placa quanto da gengivite em comparação à escova sônica. Já RE et al5,
confirmaram suas hipóteses de que a escova com tecnologia sônica teria maior eficácia na
redução do biofilme dental em relação as escovas manuais em estudo realizado em 2015.
VASQUEZ et al17 (2018) optaram por avaliar a capacidade de remoção do biofilme
por meio de avaliação clínica e compararam uma escova elétrica com rotação oscilante à
manual na redução de gengivite e placa dental, também apresentando os melhores resul-
tados com a escova elétrica.
Ainda comparando escovas elétricas, manuais e ultrassônicas, COSTA 18 (2007),
realizou estudo clínico, microbiológico e in vitro, com objetivo de avaliar os efeitos das
escovas sobre parâmetros clínicos periodontais e microbiológicos. O estudo não demons-
trou superioridade evidente de uma escova ultrassônica quando comparada a uma elétrica
e uma manual.
Desta maneira, pode-se concluir que são necessários mais estudos para poder ser
confirmada a superioridade das escovas elétricas/ultrassônicas em relação à escova con-
vencional. Além disso, a técnica de escovação utilizada pelo paciente também deve ser
considerada.
C O N C L U S ÃO
A maior parte das referências utilizadas neste estudo mostrou que escovas dentais
elétricas e sônicas/ultrassônicas, possuem superioridade na eficácia de remoção do biofil-
me dental. No entanto, os estudos a respeito da tecnologia sônica/ultrassônica ainda não
são em grande número, sendo assim necessárias novas pesquisas a respeito para que se
obtenham resultados mais seguros e precisos.
R E F E R ÊN C I A S
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