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Artigo Revista Científica Da UNIMONTES

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REVISTA DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Universidade Estadual de Montes Claros

TIPOS DE EMPREENDEDORES EM SHOPPING CENTERS: UM


ESTUDO COMPARATIVO DE CASOS

TYPES OF ENTREPRENEURS IN SHOPPING CENTERS: A COMPARATIVE


CASE STUDY

Gilmar Chagas
Anderson de Souza Sant’Anna

Fundação Dom Cabral


Programa de Mestrado Profissional em Administração
anderson@fdc.org.br, gilmar.silva@sebraemg.com.br

RESUMO
Este estudo tem como propósito investigar diferentes capitais - econômicos, sociais, culturais
e simbólicos - mobilizados por empreendedores em dois centros de compras da cidade de
Montes Claros (MG): o Quarteirão do Povo e o seu principal Shopping Center. O objetivo é
melhor compreender diferenças e semelhanças entre essas duas modalidades de centros
comerciais no que tange aos empreendimentos e perfis de seus empreendedores. Para tal, foi
conduzida pesquisa qualitativa por meio da realização de trinta entrevistas em profundidade
com empreendedores locais, contemplando as categorias teóricas do estudo, em particular as
noções de Campo, Habitus e Capitais de Boudieu (2008). Quanto aos achados do estudo,
constata-se uma diversidade de tipos de empreendimentos, bem como diferentes níveis de
experiência, de escolaridade, histórias e perfis de gestão dos empreendedores investigados.
Observa-se, também, a predominância de dois tipos de empreendedores: os Tradicionais e os
Modernos. No caso do Quarteirão do Povo, predominando ambos esses tipos, e no Shopping
Center, dominando o Empreendedor Moderno.
Palavras-chave: Empreendedorismo; Tipos de Empreendedores; Teoria da Ação Prática de
Bourdieu.

ABSTRACT
This study aims to investigate different types of capitals like economic, social, cultural and
symbolic mobilized by entrepreneurs in two shopping centers in the city of Montes Claros,
State of Minas Gerais, Brazil: the Quarteirão do Povo and its main Shopping Center. The
purpose of this research is to understand the differences and similarities between these two
purchasing center modalities in relation to their entrepreneur’s ventures and profiles including
of business models. For this, qualitative research was carried out by means of thirty in-depth
interviews with local entrepreneurs, contemplating the theoretical categories of the study, in
particular the notions of Field, Habitus and Capitals de Boudieu (2008). As for the findings of
the study, a diversity of types of entrepreneurship is verified, as well as different levels of
experience, schooling, histories and management profiles of the entrepreneurs investigated.
From the data set we can see the predominance of two types of entrepreneurs as proposed by
Sant'Anna et al. (2011): Traditional Entrepreneurs and Modern Entrepreneurs. In the case of
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the People Street Block there is a predomination of both types of entrepreneurs and in the
there is a domination of the Modern Entrepreneur type.
Keywords: Entrepreneurship; Types of Entrepreneurs; Practical Action Theory, Bourdieu.
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INTRODUÇÃO

Este artigo tem como foco apresentar resultados de pesquisa destinada a investigar a
composição de diferentes capitais - econômicos, sociais, culturais e simbólicos - mobilizados
por empreendedores instalados em shopping centers a céu-aberto e convencional, localizados
na cidade de Montes Claros (MG).
Com ruas estreitas, sem estacionamento, com comércios de todos os tipos, trânsito
intenso, diversidade de públicos e caráter eminentemente “bricoleur” (Baker & Nelson,
2005), a região central da cidade hospeda o Quarteirão do Povo, primeiro centro de compras a
céu aberto de Montes Claros. Já o segundo grupamento de empreendedores investigado
instala-se em bem montada estrutura, com ampla gama de requisitos e atributos favoráveis à
atração de clientes que visam experiências satisfatórias de compra.
De modo geral, os espaços da rua e do mercado têm sido submetidos a distintas lentes
de interpretação. Nesse contexto, as contribuições da sociologia de Pierre Bourdieu
apresentam-se exemplares, em particular ao permitir elementos concretos à leitura de
espacialidades, com seus jogos de competição e colaboração, os quais permitem evidenciar
relações entre diferentes agentes, contribuindo com elementos significativos à produção de
conhecimentos associados a ambientes negociais de diversidade, inovação e mudança
(Sant’Anna, Nelson & Oliveira; 2011; Sant’Anna, Oliveira & Diniz, 2012; Sant’Anna &
Nelson, 2013; Sant’Anna, 2016; Sant’Anna, Diniz & Oliveira, 2016). Isso, na medida em que
a produção da cidade, suas diversas espacialidades e dinâmicas encontram-se intrinsecamente
relacionadas à (re-)produção de discursos, relações e práticas sociais (Sant’Anna, 2016).
Sob tal ótica, o arcabouço teórico de Bourdieu (1994; 2009; 2010) oferece dispositivos
expressivos para a compreensão das arenas em que se inserem tais agentes e dos modos como
cada um mobiliza diferentes capitais tendo em vista a constituição de lugares distintivos em
seus respectivos campos de atuação.
Além das diferenças visíveis, do ponto de vista teórico, nossa proposta consiste em
melhor compreender as características desses atores - suas semelhanças e diferenças - no
processo de produção dos espaços em análise.
Há que se registrar que no Brasil sertanejo, as práticas, os habitus e os capitais
mobilizados adquirem coloridos intensos na “princesinha” do Norte: Montes Claros (MG).
Por suas vias se plasmam diversos modos rústicos de ser do brasileiro, distinguindo-os dos
sertanejos do Nordeste, caboclos da Amazônia, crioulos do litoral, caipiras do Sudeste e do
centro do país, gaúchos das campanhas sulinas, além do ítalo-brasileiros, teuto-brasileiros,
nipo-brasileiros. Esse conjunto de tipos, marcados pelo que têm em comum como brasileiros,
mas também pelas diferenças e adaptações regionais, funcionais ou de miscigenação e
aculturação emprestam fisionomia própria a uma ou outra parcela da população (Ribeiro,
1995).
Nessa seara, seu espaço é multipolarizado, submetido e pressionado por múltiplas
influências e diversidade. Ao exigir a formulação do postulado da conversibilidade das
diferentes espécies de capital, condição da redução do espaço à unidimensionalidade, a
construção de um espaço com duas dimensões permite-nos evidenciar que a taxa de conversão
das diferentes espécies de capital constitui significativo pretexto nas lutas entre as diferentes
frações de “classe”, cujo poder e privilégios estão relacionados com uma ou outra e, em
particular, à luta sobre o princípio de dominação (Bourdieu, 2008).
Para Bourdieu (2008) é essa relação entre as capacidades que se definem os habitus,
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ou seja, a capacidade de produzir obras e práticas classificáveis, assim como a capacidade de


as diferenciar e as apreciar (gosto), constituindo o mundo social representado; ou seja, os
espaços dos estilos de vida (Bourdieu, 2008).
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Disso pode-se derivar que os estilos de vida são produtos sistemáticos do habitus, que
percebidos em suas relações mútuas e segundo seus esquemas tornam-se sistemas de sinais
socialmente qualificados - como “distintos”, “vulgares”, “sofisticados”. Em outros termos, a
dialética das condições e dos habitus é fundamento da “alquimia” que transforma a
distribuição do capital em sistema de diferenças percebidas, de propriedades distintivas, ou
seja, em distribuição de capitais.
Assim sendo, parte-se da premissa que um dado “ecossistema empreendedor” é
forjado por uma rede de agentes, com interesses plurais, operando em diferentes escalas e
mobilizando distintos capitais – econômicos, sociais, culturais e simbólicos –, que se
diferenciam, produzindo vantagens competitivas específicas (Sant’Anna, Nelson & Oliveira,
2011).
Sob tal perspectiva Sant’Anna, Nelson & Oliveira (2011), ao investigarem processo
contemporâneo de reconversão de funções econômicas vivenciado pela cidade histórica de
Tiradentes (MG), a qual se desloca de cidade “esquecida”, após exaustão de ciclo econômico
baseada na mineração aurífera, para configura-se em polo de turismo e da indústria criativa
aponta para uma diversidade de clusters de empreendedores, cada qual buscando o domínio
do campo empreendedor, por meio da mobilização de capitais disponíveis. Para a
categorização dos diferentes tipos de empreendedores emergentes, contribuição fundamental é
aportada pela “Teoria da Ação Social”, proposta por Bourdieu.
Isso posto, ampliar e dar sequência nos estudos desenvolvidos por tais autores,
envolvendo a investigação da dinâmica das relações que se estabelecem na comercialização
de produtos e serviços entre empreendedores em distintas espacialidades - a céu aberto e em
espaços privados - parece relevante. Afinal, como se dão as relações entre os agentes que
compõem esses grupamentos de empreendedores? O que os caracteriza e os distingue?
Disso deriva a pergunta central de investigação que orientou a condução da pesquisa
que subsidiou os resultados deste artigo: De que forma diferentes capitais - econômicos,
sociais, culturais e simbólicos - são mobilizados por empreendedores localizados em shopping
centers a céu-aberto e convencional, tendo por base tipologia desenvolvida por Sant’Anna,
Nelson & Oliveira (2011), com base no arcabouço teórico de Bourdieu (2008)?
Quanto à sua relevância, em nível teórico, o estudo justifica-se ao ampliar a produção
acadêmica nas áreas de empreendedorismo, articulando dois construtos importantes dentro do
campo da gestão “tipos de empreendedores” e “teoria da ação prática de Bourdieu”,
considerando, ainda, o impacto do espaço urbano no fenômeno investigado. Em consonância,
igualmente, ampliar os olhares e contribuições teórico-conceituais-metodológicas que
favoreçam a construção de espacialidades mais aderentes à noção de diversidade.
Já em termos práticos, o estudo se propõe a contribuir com subsídios ao
desenvolvimento de políticas públicas direcionadas ao espaço urbano estrategicamente
ocupado por agentes que visam interesses pessoais, coletivos e de diferentes tipos de capitais.
Outra contribuição é a possibilidade de aportar elementos a programas de desenvolvimento de
empreendedores, tendo em vista os espaços geográficos em que se inserem.

REFERENCIAL TEÓRICO

A Teoria da Ação Prática de Bourdieu

Os estudos desenvolvidos por Bourdieu têm-se mostrado, ao longo do tempo, uma


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importante vertente na área das ciências sociais, influenciando pesquisas nos campos da
sociologia, antropologia, história e dos estudos organizacionais e urbanos em diversos países.
Isto, na medida em que o autor dá uma nova roupagem às relações entre os agentes sociais e a
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sociedade, estabelecendo uma mediação focada no produto das relações entre eles, que se
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descontroem e se reconstroem de forma dinâmica, ativa e mútua (Sant’Anna, 2016;


Sant’Anna; Diniz & Oliveira, 2016).
Um dos principais conceitos propostos por Bourdieu (2004) é a noção de habitus,
compreendida como sistema de disposições adquirido pela experiência e nos processos de
socialização, que variam segundo o lugar e o momento. Trata-se, desse modo, de formas de
agir, fazer, perceber, sentir e pensar interiorizados como resultado das condições de sua
existência.
Nessa direção, Bourdieu (1996, 2010) define habitus como um sistema de disposições
e princípios duráveis, que permanecem no tempo em determinado ambiente e regram os
comportamentos nesses, funcionando, portanto, como estruturas estruturantes, isto é, como
esquemas geradores e organizadores de ações coletivas e individuais. O habitus se define,
assim, como um conjunto de princípios de visão de mundo, gostos e preferências que
orientam a escolha dos indivíduos e ações dos indivíduos em determinado campo. Atores
sociais dotados de habitus distintos tendem, em decorrência, a se comportar de forma
diferente.
Junto ao habitus, o conceito de campo ocupa lugar de destaque na Teoria da Ação
Prática. Como um espaço multidimensional, o campo não deve ser tratado unicamente pela
dimensão econômica, devendo considerar também as lutas simbólicas que ocorrem em seu
interior (Bourdieu, 1994; 2010). Nesse sentido, para Bourdieu, a sociedade deve ser entendida
como um conjunto de campos sociais atravessados por lutas entre grupamentos. Cada campo
é, desse modo, marcado por agentes sociais providos de mesmos habitus, sendo a relação
entre habitus e campo uma relação de condicionamento: o campo estrutura o habitus.
Bourdieu (2010) busca sintetizar a noção de campo como:

[…] um espaço multidimensional de posições tal que qualquer posição atual pode
ser definida em função de um sistema multidimensional de coordenadas cujos
valores correspondem aos valores das diferentes variáveis pertinentes: os agentes
distribuem-se assim nele, na primeira dimensão, segundo o volume global do capital
que possuem e, na segunda dimensão, segundo a composição do seu capital – quer
dizer, segundo o peso relativo das diferentes espécies no conjunto das duas posses
(Bourdieu, 2010, p. 135).

Ou seja, os campos se organizam hierarquicamente a partir de capitais, símbolos de


poder e de dominação. Em outros termos, as diferentes formas de capital permitem estruturar
o espaço social. Desse modo, para compreender como se organiza tal espaço, torna-se
relevante uma análise dos diferentes tipos de capitais mobilizados.
Ademais, o entendimento do conceito de capital é fundamental para a compreensão da
obra de Bourdieu. Este é definido como a principal forma de poder no interior de um campo
sendo, simultaneamente, instrumento e objeto de disputa. Bourdieu pressupõe a existência de
três tipos de capital (econômico, social, cultural e simbólico), superando abordagens
anteriores que reduzem o mundo social à perspectiva econômica, em uma clara referência à
teoria marxista (Sant’Anna, Nelson & Oliveira, 2011).
Além disso, Bourdieu (2010) propõe que as formas de capital podem ser conversíveis
umas nas outras. O capital cultural, por exemplo, pode ser reconhecido socialmente em
determinado campo e, com isso, ser transformado em capital simbólico e vice-versa. Em
linhas gerais, os capitais podem-se ser caracterizados, conforme Quadro 1.
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Quadro 1 - Capitais: Características


CAPITAIS CARACTERÍSTICAS
Recursos associados aos fatores de produção (terra) e aos ativos econômicos,
Capital econômico
como os bens materiais
Desenvolve a manutenção das relações sociais, baseada na obtenção de
Capital social benefícios obtidos por determinado sujeito ou grupo ao estabelecer tais
relações
Conjunto de conhecimentos e qualificações intelectuais transmitidas pela
família e pelas instituições escolares ao longo da vida do sujeito. Esse capital
pode adquirir três formas: o estado incorporado, como uma característica
Capital cultural
durável do corpo (a forma de falar, hábitos familiares); o estado objetivo,
como a posse de bens culturais (obras de arte); o estado institucionalizado,
como títulos acadêmicos
Conjunto de conhecimentos e qualificações intelectuais transmitidas pela
família e pelas instituições escolares ao longo da vida do sujeito. Esse capital
pode adquirir três formas: o estado incorporado, como uma característica
Capital cultural
durável do corpo (a forma de falar, hábitos familiares); o estado objetivo,
como a posse de bens culturais (obras de arte); o estado institucionalizado,
como títulos acadêmicos
Relacionado à acumulação de prestígio e reconhecimento social por um
Capital simbólico indivíduo que preserva sob seu domínio os recursos considerados essenciais
num determinado campo
Fonte: Elaborados autores.

As diferentes espécies de capital - cuja posse define o pertencimento à classe e cuja


distribuição determina a posição nas relações de força constitutivas do campo e, por
conseguinte, das estratégias suscetíveis de serem adotadas nessas lutas - são, ao mesmo
tempo, instrumentos de poder e pretextos de luta pelo poder.
Frente a isso, um conjunto recente de estudos junto a processos contemporâneos de
reconversão de funções econômicas de cidades (Sant’Anna, Nelson & Oliveira; 2011;
Sant’Anna, Oliveira & Diniz, 2012; Sant’Anna & Nelson, 2013; Sant’Anna, 2016), bem
como de requalificação de espaços urbanos (Sant’Anna, Diniz & Oliveira, 2016; Sant’Anna,
Diniz & Oliveira, 2017) tem procurado investigar, a partir da sociologia de Bourdieu, de que
formas distintos agentes se interagem buscando o domínio de seu campo de atuação, por meio
da mobilização de diferentes capitais. Desses estudos, revela-se significativa a construção de
tipologia de empreendedores, desenvolvida a partir dos capitais bourdeusianos, discussão
apresentada na próxima seção.

Tipologia de Empreendedores

Pesquisas recentes, que buscaram articular a Teoria da Ação Prática de Bourdieu e


estudos sobre “tipologia de empreendedores” foram levadas a cabo em cidades brasileiras, tais
como Tiradentes (MG), Paraty (RJ) e Sete Lagoas (MG) (Sant’Anna; Nelson & Oliveira;
2011; Sant’Anna; Oliveira & Diniz, 2012; Sant’Anna & Nelson, 2013; Sant’Anna, 2016;
Sant’Anna; Diniz & Oliveira, 2016; Sant’Anna; Diniz & Oliveira, 2017). Como resultados de
tais estudos, observa-se a emergência de uma tipologia de empreendedores, os quais foram
classificados em Tradicionais, Modernos e Pós-modernos, conforme categorias listadas no
Quadro 2.
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Quadro 2 - Tipologia de Empreendedores segundo habitus e capitais mobilizados.


CATEGORIA SUB-CATEGORIA CAPITAIS DISTINTIVOS
Empreendedores Simplicidade, sabedoria, conhecimento tácito,
Remanescentes naturalidade, emoção, recato, família, conservadorismo.
Empreendedores Empreendedores Erudição, cultura, requinte, sofisticação, nobreza,
Tradicionais Pioneiros refinamento, bom gosto, estilo, beleza, distinção,
elaboração, respeito, justiça, bravura, coragem, dignidade,
postura, atitude, elegância, charme, etiqueta, classe,
discrição, essência, prestígio, reputação.
Empreendedores Curto prazo, lucro imediato, marketing, agressividade,
Negociais competitividade, resultado financeiro, crescimento,
Empreendedores expansão, diversificação, negócios.
Modernos Empreendedores Qualificação, profissionalismo, gestão, cientificidade,
Profissionais qualidade, certificação, competência, modernidade,
responsabilidade social, preservação ambiental, ecologia,
cidadania empresarial, desenvolvimento sustentável,
politicamente correto.
Empreendedores Improvisação, imitação, informalidade, cópia, “jeitinho
Camaleões brasileiro”, senso de oportunidade, aventura, risco,
flexibilidade, adaptabilidade.
Empreendedores Empreendedores Arte, criação, novo, originalidade, subjetividade,
Pós-modernos Vanguardistas sensibilidade, independência, vanguarda, intelectualidade,
autonomia, liberdade, polêmica, visão crítica,
transgressão, desconstrução, provocação, contestação,
sensibilidade, desprendimento.
Fonte: Sant’Anna, Nelson & Oliveira, 2011, p. 397.

Os Empreendedores Tradicionais possuem como principal capital a tradição, porém


podem-se distinguir, pela forma como manifestam tal característica, duas subcategorias: os
Remanescentes e os Pioneiros. Enquanto os primeiros valorizam o nome de família, os bens
de raiz, os Pioneiros dão mais ênfase aos aspetos culturais, à erudição.
Os Empreendedores Tradicionais Remanescentes são, geralmente, pequenos
comerciantes e empreendedores individuais nascidos na região, os quais já possuíam negócios
no local antes do boom econômico propiciado à cidade pelo florescimento da indústria local
do turismo. Geralmente, possuem forte ligação com a cidade, ao mesmo tempo apresentam-se
pouco representativos em termos econômicos. Além disso, o baixo nível de escolaridade
desse grupamento de empreendedores e o pequeno porte de seus negócios dificultam uma
concorrência mais equilibrada com os demais tipos de empreendedores.
Já os Tradicionais Pioneiros são precursores na criação de empreendimentos
direcionados a um público mais sofisticado que aprecia os bens culturais. O principal capital
desse grupo é a sua bagagem cultural e a vinculação de seus negócios a projetos pessoais. Ao
contrário dos Remanescentes, os Empreendedores Pioneiros buscam se diferenciar pelo fato
de terem nascido em grandes centros, inclusive internacionais, ou, apesar de nascidos na
cidade, terem vivenciado experiências em outros contextos socioeconômicos e culturais.
Os Empreendedores Modernos também podem ser visualizados em duas categorias (os
Profissionais e os Negociais), embora se assemelhem no que se refere à valorização da
qualificação formal e de valores que extrapolem o atributo tradição. Os Empreendedores
Modernos Profissionais são, no geral, profissionais liberais ou ex-gestores de grandes
empresas, que deixaram os grandes centros para morar em pequenas cidades, em busca de
melhor qualidade de vida. Como atributos deste grupo merecem destaque os discursos e
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posturas associados a conceitos de responsabilidade social empresarial. Nessa direção, tendem


a demonstrar maior preocupação com as questões que afetam toda a cidade. Por outro lado, os
Empreendedores Negociais, embora também valorizem a qualificação formal, se diferenciam
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pela busca prioritária pelo lucro e, assim, tendem a preocupar-se mais com o desempenho de
seus negócios que com as questões mais coletivas.
Finalmente, os Empreendedores Pós-Modernos se distinguem em dois grupos: os
Vanguardistas e os Camaleões. Os primeiros são donos de ateliers de arte, pintores e outros
artistas, que se caracterizam por atributos como criação, novo, independência, contestação,
desprendimento e por estilos de vida peculiares. Já os Empreendedores Camaleões são,
geralmente, trabalhadores vindos dos grandes centros e cidadãos da cidade que perceberam,
no processo de transformação local, oportunidades de fazerem a vida. Com recursos
financeiros mais escassos, constituem seus negócios na base da improvisação. Boa parte deles
está inserida na economia informal.
Procedida à apresentação dos marcos teóricos do estudo, o próximo tópico apresenta
as escolhas metodológicas delineadas para a pesquisa de campo que subsidiou os resultados
apresentados.

METODOLOGIA

Em termos metodológicos, a investigação que subsidiou os resultados apresentados


neste artigo pode ser caracterizada como um estudo de casos, de natureza qualitativa
(Greenwood, 1973; Eisenhardt, 1989; Yin, 2005).
Segundo Neves (1996) o estudo qualitativo é recomendado para entender, descrever e
explicar fenômenos em maior grau de aprofundamento que uma abordagem unicamente
quantitativa. Já o estudo de casos consiste na análise exaustiva de um ou de poucos objetos
empíricos, sejam eles situações, pessoas, organizações ou comunidades, circunstâncias em
que se encontram e a natureza dos fenômenos que os compõem. É indicado quando o
fenômeno em estudo é complexo, contemporâneo e insere-se num contexto real, como é o
caso da presente pesquisa que investigou “tipos de empreendedores em contextos urbanos”
(Greenwood, 1973; Eisenhardt, 1989).
O estudo de casos, por sua vez, possibilita ao investigador identificar os fatores que
estimulam a ocorrência de um evento, bem como compreender a interação que se estabelece
entre tais variáveis. Assim, se torna possível visualizar o caso pesquisado como uma rede de
inter-relações na complexidade em que ela se apresenta (Greenwood, 1973).
Em termos de coleta de dados, foram conduzidas entrevistas semiestruturadas e em
profundidade junto a empreendedores das unidades de investigação alvo do estudo. O roteiro
de entrevista - previamente testado e validado - foi planejado e organizado a fim de
contemplar as categorias de análise constante do estudo, tendo por base as noções de Campo,
Habitus e Capital - Social, Econômico, Cultural e Simbólico - conforme preconizadas pela
Teoria da Ação Prática de Boudieu (2008).
Quanto ao público-alvo, a pesquisa envolveu entrevistas semiestruturados e em
profundidade com 30 empreendedores, sendo quinze oriundos de lojas no Quarteirão do Povo
e quinze proprietários de lojas localizadas no principal Shopping Center da cidade (Quadro 3).
As entrevistas foram realizadas no período de novembro de 2017 a janeiro de 2018, tendo
sido gravadas e transcritas para posterior análise e tratamento dos dados. Cada entrevista
durou, em média, sessenta e cinco minutos.
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Quadro 3 - Sujeitos de pesquisa.


Entrevistado Natureza do Empreendimento
EP1 Aviamento, Confecções e artigo de armarinho
EP2 Vestuário, acessórios, cosméticos
EP3 Varejo de Calçados
EP4 Varejo de Calçados, acessórios, vestuário
EP5 Relojoaria e Joalheria
EP6 Vestuário e Acessórios
EP7 Vestuário e Acessórios
EP8 Vestuário e Acessórios
EP9 Artigos de Joalheria
EP10 Vestuário e Acessórios
EP11 Varejo de Calçados
EP12 Varejo de Calçados e Acessórios
EP13 Acessórios, vestuário, calçados
EP14 Varejo de artigos de viagem
EP15 Artigos de vestuário e acessórios
EC1 Vestuário e Acessórios
EC2 Atacado e Varejo de informática, escritório e papelaria
EC3 Vestuário e Acessórios
EC4 Cabeleireiro, Manicure e Pedicure
EC5 Vestuário e Acessórios
EC6 Equipamentos de Telefonia e Comunicação
EC7 Atividades de condicionamento físico
EC8 Reparação e Manutenção de equipamentos de comunicação
EC9 Vestuário e Acessórios
EC10 Artigos e Acessórios e Óptica
EC11 Vestuário e Acessórios
EC12 Alimentos
EC13 Varejo de Calçados e confecção
EC14 Atividade Odontológica
Varejo de brinquedos, artigos recreativos, calçados, vestuário
EC15
e acessórios
Fonte: Dados da pesquisa.

Além da realização de entrevistas também se fez uso de análise de documentos e


observação direta - do tipo não participante -, por meio dos quais foi possível melhor
caracterizar os espaços alvo do estudo. Assim como a observação direta - do tipo não
participantes, a análise documental, constituiu possibilidades significativas para maior
inserção do pesquisador no cotidiano dos respondentes, abrindo espaços para a captura de
modos de pensar e agir, estórias e formas de organização que fundamentam as relações
empreendedor-empreendimento-comunidade.
Para o tratamento de dados, utilizou-se o método de análise de conteúdo por categoria
(Bardin, 2014; Richardson, 1985). Nesse procedimento são utilizadas técnicas de
sistematização, interpretação e descrição do conteúdo das informações coletadas. Para
compreender, depurar, analisar, avaliar, aprofundar, extrair e organizar detalhes que são
relevantes ao contexto da pesquisa (Eisenhardt, 1989).
O conjunto dos relatos foi transcrito e tratado de forma mecânica, tendo por base as
categorias teóricas definidas para o estudo (Quadro 4).
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Quadro 4 - Categorias Analíticas


Categorias Dimensões
Localização do Empreendimento
Campo Natureza do Empreendimento
Tamanho do Empreendimento
Histórico do Empreendedor
Histórico do Empreendimento
Habitus Características do Empreendimento
Modelo de Negócios
Modelo de Gestão
Econômico
Social
Capital
Cultural
Simbólico
Fonte: Elaborado pelo autor.

Isto posto, a próxima seção contempla os achados do estudo.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

O Quarteirão do Povo

O Quarteirão do Povo resulta de parceria entre comerciantes da Rua Simeão Ribeiro,


no centro de Montes Claros (MG), no intuito de movimentar a economia local por meio de
projeto de “Shopping a Céu Aberto”, iniciativa que se tornou a popular em várias cidades
do Brasil. Com o apoio de prefeituras e órgãos do governo, como o Sebrae, e associações
comerciais locais, o propósito da iniciativa é beneficiar famílias que, por não
terem emprego ou qualquer outra fonte de renda, estabelecem nele seu comércio de bens e
serviços, na sua maioria, produtos a preços populares (Sebrae, 2018).
Atualmente o projeto conta com a adesão de 17 lojistas dos setores de confecções,
calçados, joalherias, entre outros, tem como foco, em Montes Claros (MG), permitindo aos
comerciantes atrair clientes, ao lhes propiciar maior conforto e opções de compras. Também
visa dinamizar o comércio local, a partir de melhorias na infraestrutura e revitalização do
espaço físico das lojas, da gestão de negócios e do atendimento.

O quarteirão do povo é histórico. A cidade começou aqui no Quarteirão, era uma


área nobre, uma espécie de “Savassi”. As melhores lojas eram aqui. Acredito eu, não
era da minha época. Diria que o QP encolheu, em relação ao que foi e o que é. Uma
função de modismo, os shopping centers fizeram com que houvesse migração de
lojistas e clientes para esses. Vim estudar em 1978 em Montes Claros, e aqui era o
point de encontro geral, local que frequentavam pela proximidade da igreja, do
centro cultural (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).

Os entrevistados apontam que com a chegada dos shopping centers, os comerciantes


da área central perderam vendas. Nesse sentido, salienta ser o shopping a céu aberto uma
estratégia para reconquistar os consumidores: “Lá existem lojas tradicionais que sempre
tiveram uma clientela fidelizada, mas que, ultimamente, migrou para os shopping centers em
busca de maior conforto”.
Pelos relatos obtidos, é possível constatar que o espaço se constitui em “região
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tradicional da cidade”, frequentada por figuras influentes do cenário local e nacional. O Café
Galo, por exemplo, seria o que mais se aproximaria do tipo bricoleur, na medida em que
anônimos de diversas cidades e espacialidades se confundem com políticos, empresários e
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O espaço, de fato, configura ponto de encontro e sociabilidade. Aproveitando-se dos


equipamentos urbanísticos instalados, pessoas de diferentes faixas etárias e classes sociais têm
no local possibilidades, além de compras, de interações sociais.
No mais, constituído basicamente por pequenos negócios, o Quarteirão do Povo reflete
a busca pela junção entre o tradicional e o moderno, uma conciliação entre jeitinho brasileiro
e inovação; entre informalidade e formalidade; entre desigualdade socioeconômica e
competitividade, entre crescimento econômico e sobrevivência.
Por um lado, a evidencia de um comércio a céu-aberto, centrado em modos
tradicionais de venda e crédito, na pessoalidade e nas relações de confiança. Por outro,
sistemas pré-formatados de comercialização e negócios, centrados em tecnologias e
mecanismos de atendimento, publicidade e vendas de última geração. E, para ambos os tipos
envolvidos, o ideário de construção de um ambiente de negócios e de sociabilidade capaz de
integrar as duas pontas, por meio da introdução de tecnologias gerenciais e de
comercialização, organização do espaço e modernização dos estabelecimentos e formas de
sua interação com o público vis-à-vis a (re-) significação dos valores, das tradições e dos
laços sociais tradicionais.
Quanto ao perfil dos empreendedores e capitais mobilizados, o Quarteirão do Povo
compõe-se predominantemente de indivíduos do sexo masculino (73%), com idade média de
(47,8 anos) e com curso superior completo (73%). Em grande parte, já presentes no local há
mais de 20 anos (22,5). Como bem observa Ribeiro (1995), como a em sua maioria os
pequenos negócios no norte de minas veem de origem familiar, predominam a herança e a
figura masculina como representantes do controle dos negócios de família.
Nesse ecossistema, diferentes capitais - econômicos, sociais, culturais e simbólicos -
são mobilizados, tendo por base tipologia desenvolvida e ancorada no arcabouço teórico de
Bourdieu (2008), sendo sob a perspectiva de seus empreendedores, um negócio bem-sucedido
aquele que envolve postura, comportamento, atitudes, ações de seus proprietários. Para tal,
sinalizam para uma mescla de diferentes capitais econômicos (relacionado a bens materiais),
sociais (relações sociais estabelecidas no meio para obter vantagem/benefício), cultural
(conhecimentos acumulados, títulos, família de tradição) e também simbólicos (associados a
prestígio, reputação e status).
Os dados permitem também evidenciar distinções entre o público que frequenta o
Quarteirão do Povo ao longo do tempo. Tais mudanças deixam claras que há espaço para uma
intervenção na área de políticas públicas juntamente com os empresários e entidades de classe
(melhoria da experiência de compra, associação efetiva dos lojistas, campanhas para atração
de negócios, área cultural que possa resgatar a linha do tempo do que foi e o que simbolizou o
Quarteirão do Povo desde a geração passada).
Constata-se, desse modo, significativo papel atribuído ao capital simbólico como fator
de distinção dos empreendedores do Quarteirão vis-à-vis ao Shopping. Curioso observar que
ao mesmo tempo em que se registra a incorporação de formas modernas de franquia, os quais
visam permitir ao comerciante incorporar, mais rapidamente, atributos de “modernidade”, a
dimensão de valores mais típicos aos tradicionais valores associados ao comércio de rua se
mantêm no imaginário dos empreendedores. A tradição, o nome de família, se constituindo
ainda como fatores-chave de proximidade com os clientes e a cidade.
O Quadro 5 salienta habitus que caracterizam o Quarteirão do Povo, bem como os
principais capitais mobilizados Bourdieu (2008), levando em consideração a tradição, história
do local e dos empreendedores e o que tudo isso representa para a cidade de Montes Claros
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observados no quadro abaixo:


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Quadro 5 - Capitais mobilizados no Quarteirão do Povo de acordo com o habitus


Campo Habitus Principais Capitais
Heterogêneo, principalmente por compor empreendedores
com maior experiência de vida, histórias diferentes que
ora permite empresário que montou negócio na raça, sem
recursos e com coragem, ora há casos de transferência de
negócio por herança.
Quarteirão
A união para criação de campanhas publicitárias para que Cultural e Simbólico
do Povo
ser retorno financeiro e obter vantagem competitiva.

Há também a força política dos empreendedores que se


unem quando precisam atingir resultados coletivos, tais
como a associação Quarteirão do Povo para a criação de
um shopping a céu aberto no centro da cidade.
Fonte: Dados da pesquisa.

Os empreendimentos identificados para cada tipo da Tipologia de Bourdieu e


principais capitais mobilizados constam no Quadro 6, e foram divididos e dois grupos:
empreendedores tradicionais e modernos.

Quadro 6 - Tipologia de empreendimentos e de empreendedores segundo os capitais.


Capitais
Tipo de Empreendedor
Distintivos
Tradicional Cultural e Simbólico
Moderno Cultural e Econômico
Fonte: Dados da pesquisa.

Em síntese, à luz dos diferentes tipos de empreendedores identificados por Sant’Anna,


Nelson e Oliveira (2011), registra-se no Quarteirão uma mescla entre Empreendedores
Tradicionais, com significativo apelo a atributos como emoção, família, simplicidade; e os
Empreendedores Modernos, os quais procuram se distinguir por atributos como o
profissionalismo, inovação, competência e capacidade de gestão). Nesse último caso,
aproximando-se dos empreendedores do Shopping ou reproduzindo no Quarteirão negócios
nele instalados.
Interessante, salientar, todavia, a inexistência de Empreendedores Camaleões
(Bricoleurs). Certamente, estratégias direcionadas à requalificação do espaço tenderam a
direcioná-los para outros espaços, senão trabalhado os mais propensos aos padrões de
modernização propostos. Resta, todavia, melhor compreender o destino atribuído aos
ambulantes e comerciantes informais, incluindo os processos adotados para sua exclusão, bem
como os impactos sobre outras espacialidades da região central e mesmo, a construção de
novas espacialidades nas áreas periféricas.
Tais achados revelam-se significativos, em primeiro lugar, ao evidenciar implicações
de processos de revitalização de áreas centrais sobre a gentrificação dos espaços. Em segundo
lugar, os riscos quanto à processos de especulação imobiliária, os quais acabam por expulsar
os pequenos comércios, afetando a diversidade do ecossistema.
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Shopping Center

Inaugurado em 1997, o shopping convencional está localizado na região centro-sul da


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cidade, numa área privilegiada, próximo ao centro, ao lado do maior terminal rodoviário do

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Norte de Minas, hospitais, escolas, postos de combustíveis, Câmara Municipal, bancos,


hotéis, Polícia Militar, Prefeitura, tendo como vizinhos, além da região central, bairros
residenciais bem estruturados, inclusive com três parques com grande área verde.
O acesso é fácil, com avenidas bem sinalizadas e um moderno trevo que recebem
fluxo de trânsito de toda a cidade, e ainda de visitantes de cidades de todo o país. Com um
leque de opções em lazer, cinema, gastronomia em sua praça de alimentação, supermercado,
prestação de serviços, área de eventos e horário que se estende até o final da noite, de segunda
a segunda sempre buscando a comodidade e conforto dos clientes que frequentam.
O Shopping compreende a locação de espaços para seis lojas “âncoras”; quatro “mega-
lojas”, 25 quiosques e oitenta posições de venda satélites. Isso, além de 85 lojas e dois centros
de lazer. O fluxo mensal de transeuntes é da ordem de 510 mil pessoas de uma área de
influência de 2 milhões e setecentas mil pessoas.
Em sua proposta o shopping visa ser um espaço de compras e lazer capaz de oferecer
aos seus frequentadores uma experiência única de conforto, comodidade, luxo, opções em
alimentos, entretenimento, ações de marketing, lojas de diversos setores, estacionamento,
hospedagem, segurança, banheiros limpos, drogarias e, enfim, uma vivência capaz de torná-lo
interessante para o consumo.
Em relação ao perfil e motivação para abertura de negócios no shopping foi observado
também que nem todos os empreendedores estudaram negócios ou tiveram formação na área,
mas enxergaram uma lacuna de mercado ou forma de empreender e realizar o sonho.
Compondo o habitus do empresário.
Observa-se também, a herança familiar, legados, aprendizados e também a
transferência de bens às gerações, bem como a presença do capital econômico, Bourdieu
(2008), e ao mesmo a conversão de enxergar possibilidades, aprendizado, sucesso e
oportunidade.
A forma de pensar, agir, sentir, realizar ou mesmo se frustrar pela condição de “estar
empreendedor”, forjado no relato abaixo, o habitus denota a busca pela superação de desafios
e pelo “sucesso”, marcado, dentre outros aspectos, pelas expectativas de retorno financeiro,
nem sempre dentro do esperado.
De forma coerente, consta-se pelos relatos uma mistura de sentimentos e capitais,
principalmente o social (rede de relacionamento) e o cultural (modernas práticas de gestão,
uso de tecnologia e tendências como fatores que os distinguem e os diferenciam), levando
diversos empreendedores a “filtrarem os clientes que devem frequentar o Shopping”,
priorizando aqueles que visam experiências de consumo que valorem atributos como
comodidade, limpeza, decoração, experiência de consumo e produtos de qualidade superior
com renomadas marcas: “Tem diversificação de lojas. Aqui tem muita rotatividade. É uma
vitrine, mas isso tem um preço muito alto por estar aqui. Sobreviver é difícil. ” (Relato
Entrevista EC9).
Depoimentos apontam também para a influência do histórico familiar e de vida de
diversos dos empreendedores, os valores pessoais e ideias de realização e ascensão
profissionais, típicos das classes médias tradicionais (sabedoria, simplicidade, conhecimento,
estilo de vida, nobreza, justiça, qualificação, profissionalismo, dignidade, requinte, coragem,
bravura, emoção, razão, fortaleza).
Como sintoma, as interações sociais - Capital Social -, no contexto do Shopping são
pequenas, tendentes a superficiais e marcadas por maior competitividade; isto, associado ao
vasto e diversificado cardápio de opções de todos segmentos da economia e também pela
192

pluralidade de públicos.
A partir dos dados coletados, pode-se caracterizar os perfis de empreendedores do
Shopping, conforme a seguir: 67% mulheres; 53% com curso superior completo; média etária
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dos respondentes: 39 anos; tempo de atuação no local: 6,5 anos; principais atributos de valor
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percebidos pelos clientes: qualidade e marcas, comodidade, segurança, estacionamento,


experiência de consumo, opções de produtos e serviços.
Os dados revelam, também, a prevalência de empreendedores com curso superior
completo, de forma similar ao registrado no Quarteirão do Povo. Incluem-se egressos de
programas de MBAs, no Brasil classificados como especializações, porém focados em
negócios, e de programas de especialização, com carga horária mínima de 360 horas. Chama a
atenção a valorização de títulos, e experiências vividas na academia, em particular associadas
à transferência de conhecimentos em Management vis-à-vis à rede de relacionamentos que se
pode obter por esses meios.
Quanto ao sexo, registra-se o oposto do Quarteirão do Povo. No Shopping há a
prevalência de mulheres empreendedoras. Por ter em sua maioria lojas de moda, roupas, joias,
bolsas, sapatos, isso pode explicar a maior atração a esse público. Já quanto à faixa etária,
registra-se, igualmente diferenças comparativamente aos empreendedores do Quarteirão do
Povo. Embora heterogêneo, os empreendedores do Shopping apresentam uma média etária
mais baixa, com maior número de jovens, mais escolarizados e influenciados pelas novas
tecnologias de gestão e espírito de modernização.
O tempo de empreendimento é também um fator a ser considero com atenção. Em sua
maioria, os empreendedores apontam, ao longo de suas entrevistas, para a elevada
rotatividade dos negócios, marcada pelos preços dos alugueis, pelo “modelo engessado” e
dificuldades de mão de obra qualificada, apta aos padrões de atendimento e exigências quanto
aos horários de trabalho.
Em suma, o Quadro 7 apresenta os tipos de capitais mobilizados pelos
empreendedores do Shopping, bem como as suas formas de distinção (Bourdieu, 2008).

Quadro 7 - Síntese dos capitais presentes no Shopping


Campo Habitus Principais Capitais

No espaço do Shopping nota-se a prática de diversos estilos de


vida dos empreendedores em forma de julgar que é certo e o
que é errado em suas visões e percepções de mundo.

Registra-se uma tentativa dos empreendedores do shopping em


retomar o que a figura do mesmo representava há 10 ou 20
Shopping anos, quando era frequentado por um público de classe A.
Econômico, Cultural e Simbólico
Center
Isso fica claro nos relatos da entrevista que hoje o fato de o
mesmo ser referência no norte de minas, a fama, a propaganda,
tudo contribuiu para ser mais “popular” e ter heterogeneidade
de pessoas, gostos e lojas que talvez ao olhar dos
empreendedores pioneiros que ali instalaram empreendimentos,
não foi visto com bons olhos.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Nessa direção, o Quadro 8 contempla uma síntese da tipologia de empreendedores


identificada no Shopping, incluindo atributos e capitais que caracterizam os habitus de cada
um deles.
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Quadro 8 - Tipologia de empreendedores segundo capitais mobilizados.


Capitais
Tipo de Empreendedor
Prevalentes
Tradicional Econômico e Cultural
Moderno Econômico
Pós-Moderno Econômico e Simbólico
Fonte: Elaborado pelos autores

Procedida a análise de dados, a próxima seção apresenta as considerações finais do


artigo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando ao objetivo de investigar os capitais mobilizados por empreendedores com


estabelecimentos localizados em shopping a céu-aberto vis-à-vis shopping center
convencional, tendo por base o arcabouço teórico de Bourdieu (2008), constata-se uma
mistura de atributos associados a capitais sociais, econômicos, culturais e simbólicos em
ambos os ambientes alvo deste estudo.
Igualmente, é possível detectar diferenças quanto a gênero, idade, formação escolar e
tempo de atuação dos empreendedores nas espacialidades investigadas. No Quarteirão do
Povo, 73% dos respondentes possuem curso superior completo, igual percentual é do sexo
masculino e a média de idade é de 47,8, com média de 22,5 anos de atuação no local. Já
dentre os respondentes do Shopping, 53% possuem curso superior completo, 67% são do sexo
feminino, com média de idade de 39 anos, e tempo médio de atuação no espaço de 6,5 anos.
Por meio desse conjunto de dados, tem-se no Quarteirão do Povo a predominância de
empreendedores pesquisados maior tempo de vivência no mercado, o que cabe inferir mais
experiência e tradição. Muito provavelmente como segunda geração de empreendedores, esse
grupo atribui forte importância ao capital cultural, denotado no significado atribuído aos
títulos acadêmicos, ao estudo e ao capital intelectual (Bourdieu, 2008), muito embora, certo
apego a tradições locais, como o forte valor atribuído ao “caráter masculino” na gestão dos
negócios.
Já no Shopping, observa-se a predominância de mulheres empreendedoras, o que,
todavia, pode ser atribuído a certo imaginário do shopping como “espaço para o feminino”,
“planejado”, “controlado” e, portanto, mais seguro que o espaço da rua, mais afim ao
masculino, “ao cabra macho”, ao “boiadeiro sertanejo”; aberto à aventura, à liberdade.
O tempo de atuação em ambas as espacialidades também chama a atenção. A média,
no shopping é baixa, mesmo possuindo 20 anos de existência. Fatores como falta de incentivo
da administração, alta competitividade, alto valor das taxas de condomínio e dos aluguéis,
falta de mão de obra qualificada que atenda aos horários do shopping, contribuem para uma
movimentação de abrir e fechar constante de lojas, a maioria administradas por gerentes com
pequena presença direta dos proprietários.
Em contraponto, o quarteirão do povo, apresenta, em sua maioria, empreendedores
que além de, em muitos casos, serem proprietários de seus imóveis, notabilizam-se por serem
conhecidos da população. Muitos deles já constituem segunda ou terceira geração de
empreendedores locais. Nesse sentido, fazem questão de estar presentes no negócio, atender à
sua clientela. Não são raros os cumprimentos, o tomar um café ali nas redondezas em
conjunto com amigos e clientes, o tratar as pessoas pelo nome; construindo-se – ou
194

sustentando-se – laços sociais fortes, por meio de relações pessoais e vínculos afetivos.
A busca por “modernização”, a garra, a determinação, a jovialidade, o espírito de fazer
acontecer prevalece, no entanto, como características dos empreendedores de ambos os
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espaços. No caso do Quarteirão do Povo, a própria mobilização direcionada à revitalização do


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espaço, visando incorporar traços de dessa “modernidade” denota a similaridade quanto aos
capitais envolvidos. Diferentemente de outras espacialidades da região central, o Quarteirão
do Povo parece buscar - sem, no entanto, eliminar a tradição local - enfatizar o capital
cultural, bem como atributos associados ao simbólico.
O Quadro 9 sintetiza os principais significantes constantes nos relatos dos
respondentes em ambos os espaços investigados.

Quadro 9 - Resumo comparativo entre os espaços pesquisados


Campo Capitais Significantes
Econômico Trabalho, dinheiro, bens materiais, patrimônio acumulado
Quarteirão do Social Amizade, proximidade, presença, rede de contatos, contato
Povo Cultural Valores familiares, poder, título acadêmico, educação, treinamento
Simbólico Nome de família, tradição, jovialidade, renovação, revitalização
Econômico Inovação, investimento, renovação, expansão, estratégia
Shopping Social Mobilidade, superficialidade, consumismo, entretenimento, visibilidade
Center Cultural Marketing, Diploma, Gestão, Modernização
Simbólico Luxo, sofisticação, diferenciação, comodidade, conforto, exclusividade
Fonte: Elaborado pelos autores.

Quanto aos tipos de empreendedores identificados constata-se, a partir da tipologia


desenvolvida por Sant’Anna, Nelson & Oliveira (2011), a predominância, no Quarteirão, de
dois tipos de empreendedores: os Empreendedores Tradicionais e os Empreendedores
Modernos. Não obstante o nome “Quarteirão do Povo” não foi possível identificar
Empreendedores Pós-modernos. A ausência desse último grupamento, em particular dos
“Camaleões” ou “Bricoleurs”, tão comumente presentes nos demais espaços constitutivos da
região central da cidade, deriva muito certamente do processo de revitalização espacial
promovido no Quarteirão.
Como efeitos da “higienização” do espaço, promovida pela remodelação dos edifícios
e das fachadas, da intensificação dos aparatos de segurança pública e privada, registra-se uma
seletividade, tanto no público frequentador do espaço, quanto nos empreendimentos. A
escolha “profissional” dos empreendedores e empreendimentos, as regras, além dos
investimentos requeridos no aparelhamento dos estabelecimentos revelam-se impeditivos a
empreendedores com menores volumes de capitais econômicos, culturais e simbólicos.
Tal estratégia expõe, desse modo, riscos quanto à gentrificação do espaço. Derivada
do termo gentry, que significa "de origem gentil, nobre", essa noção diz respeito às dinâmicas
de enobrecimento e elitização de um espaço urbano, por meio de uma reestruturação que leva
à mudança de sua dinâmica social e econômica.
Como efeito, tal fenômeno pode enfraquecer a vitalidade dos espaços, que segundo
Jacobs (2011), autora de estudos importantes sobre o tema, está associada a quatro condições
espaciais indispensáveis nos distritos e ruas. A primeira sugere que o espaço e o maior
número possível de segmentos que o compõem devem atender a mais de uma função
principal: de preferência, a mais de duas. Elas devem garantir a presença de pessoas que
saiam de casa em horários diferentes e estejam nos lugares por motivos diferentes, mas sejam
capazes de utilizar boa parte da infraestrutura. A segunda condição define que os cruzamentos
entre as vias de circulação sejam curtos, permitindo ao indivíduo maior mobilidade na
movimentação entre diferentes espaços. Uma terceira condição defende que o espaço tenha
uma combinação de edificações com idades e estados de conservação variados, incluindo boa
porcentagem de prédios antigos, para permitir empreendimentos de diferentes portes e status
195

econômico. Essa mistura deve ser compacta. E, finalmente, a espacialidade deve contemplar
uma densidade suficientemente alta de pessoas, sejam quais forem seus propósitos. Isso inclui
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uma alta concentração de pessoas cujo propósito é também morar lá.

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Dos achados decorrem, portanto, questionamentos sobre a sustentação do ecossistema


de negócios no médio e longo prazo. Em outros termos, vem à tona uma questão sobre o
ponto ótimo de “modernização” a ser considerado, para que não destrua competências locais
essenciais, respeitando o comportamento dos consumidores e a diversidade que promove a
vitalidade do espaço.
Cabe registrar, ainda, junto aos empreendedores do Quarteirão, relatos associados a
significantes que denotam a valorização do “moderno” como fator fundamental de
lucratividade e realização comercial. Nesse sentido, o efeito mimético, não raro, evidencia-se
como elemento central de diferenciação. A ideia subjacente é que é imperativo “modernizar”
o centro, incorporando a ele características como aquelas consideradas no âmbito do
Shopping. Segundo eles, seria necessário que o centro da cidade se configurasse como um
“shopping center” a céu-aberto, tomado tal conceito como sinônimo de eficiência,
produtividade e lucratividade.
Curiosamente, no entanto, é na instância do Shopping que se registra os maiores
índices de mortalidade de empreendimentos. No imaginário dos comerciantes do Quarteirão
do Povo, no entanto, prevalece a crença de que necessitam, seguindo o modelo dos Shopping,
adaptarem-se aos novos tempos, aprimorar seus dispositivos de gestão, melhorar as condições
físicas, instalações e equipamentos. O importante, porém, deve ser se “modernizarem” sem
perder as características que distinguem o espaço. Desenvolver competências modernizantes
sem, todavia, alterar sua essência, sem destruir aquelas que lhes são distintivas.
O estudo no Quarteirão do Povo, desse modo, explicita que há disposição dos
empreendedores envolvidos em se “modernizar” em buscar novos conhecimentos e
tecnologias de gestão, em desenvolver espaços que visem a experiência agradável dos clientes
no que tange aos influenciadores de compras: limpeza (coleta seletiva do lixo), segurança,
manutenção da estrutura das ruas e praças, iluminação, problemas de origem social,
derivados, por exemplo, da presença de ambulantes que não pagam impostos, pedintes,
número insuficiente de câmeras de segurança, falta de policiamento. É, interessante salientar,
portanto, os esforços de elevação do nível de profissionalismo em negócios e gestão dos
empreendedores do Quarteirão, bem como a busca pela construção de parcerias com as
entidades representativas do comércio e serviços, na promoção de ações direcionadas à
incorporação da inovação.
Em suma, uma vez mais, desafio central evidenciado será a capacidade dos
empreendedores do Quarteirão de se “modernizar”, sem perder os elementos distintivos do
local e da tradição. Como valorar e se qualificar, com metodologias, tecnologias e
instrumentos de gestão que mantenham um equilíbrio dinâmico entre os componentes do
ecossistema empreendedor que compõem o centro da cidade. Esse parece ser a arte do
processo de construção de uma região diversa, vital e sustentavelmente competitiva.
Nessa direção, aprender que diferentes empreendedores estão inseridos em contextos
sociais, nos quais seus atores têm papéis diferenciados e estão em constante mobilização de
múltiplos capitais não é a única contribuição deste estudo.
Evidencia-se, também, que o empreendedor depende de seu entorno de forma ainda
não explicitada pela literatura. Ademais, o estudo amplia, de alguma forma, os estudos
nacionais que buscam articular a “Teoria da Ação Prática de Bourdieu” e as pesquisas sobre
“tipos de empreendedores”, considerando, ainda, o impacto do espaço urbano no fenômeno
investigado. Como contribuições práticas, o estudo sinaliza para a importância de ações de
desenvolvimento que fomentem a vitalidade dos espaços, por meio de formas de atuação que
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extrapolem a dimensão individual - assim como os “intramuros” dos empreendimentos.


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Recebido para publicação em 5 de junho 2018


Aceito para publicação em 12 de julho de 2018

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