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Tipologia Textual

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Aula 13

TJ-BA - Língua Portuguesa - 2023


(Pós-Edital)

Autor:
Equipe Português Estratégia
Concursos, Felipe Luccas

19 de Maio de 2023

03459645512 - Eulália Paloma da Silva Oliveira


Equipe Português Estratégia Concursos, Felipe Luccas
Aula 13

Índice
1) Noções Iniciais de Tipologia Textual
..............................................................................................................................................................................................3

2) Tipo x Gênero
..............................................................................................................................................................................................4

3) Narração
..............................................................................................................................................................................................7

4) Descrição
..............................................................................................................................................................................................
18

5) Injunção
..............................................................................................................................................................................................
20

6) Dissertação
..............................................................................................................................................................................................
22

7) Funções da Linguagem
..............................................................................................................................................................................................
40

8) Questões Comentadas - Narração - FCC


..............................................................................................................................................................................................
51

9) Questões Comentadas - Dissertação - FCC


..............................................................................................................................................................................................
61

10) Lista de Questões - Narração - FCC


..............................................................................................................................................................................................
72

11) Lista de Questões - Dissertação - FCC


..............................................................................................................................................................................................
73

12) Noções Iniciais de Interpretação de Textos


..............................................................................................................................................................................................
81

13) Linguagem Verbal x Linguagem Não verbal


..............................................................................................................................................................................................
82

14) Linguagem Literária x Linguagem Não literária


..............................................................................................................................................................................................
83

15) Intertextualidade
..............................................................................................................................................................................................
84

16) Interpretação e Compreensão


..............................................................................................................................................................................................
88

17) Julgamento de Assertivas


..............................................................................................................................................................................................
93

18) Questões Comentadas - Compreensão e Interpretação - FCC


..............................................................................................................................................................................................
96

19) Lista de Questões - Compreensão e Interpretação - FCC


..............................................................................................................................................................................................
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Olá, pessoal!
Nesta aula estudaremos um dos tópicos que dão base para compreender melhor a estrutura de textos e suas
diversidades: gêneros textuais!
A tipologia textual se refere fundamentalmente ao tipo de texto e a sua estrutura e apresentação. Diferencia-
se um tipo do outro pela presença de traços linguísticos predominantes. Por exemplo, Narrar é contar uma
história, Descrever é caracterizar estaticamente, Dissertar é expor ideias, seja para defender uma tese, para
demonstrar conhecimento, entre outras finalidades.
Importante esclarecer que não é comum um texto totalmente fiel às características de um tipo textual.
Geralmente os textos trazem elementos narrativos, descritivos ou dissertativos simultaneamente e sua
classificação será baseada na predominância ou na prevalência de uma delas, em coerência com a
==cdafe==

finalidade principal do texto. Ou seja, uma dissertação pode trazer trechos narrativos e descritivos e ainda
assim será classificada como um texto dissertativo, se ficar indicado que o objetivo era expor ideias e
defender uma tese.
Normalmente, em concursos públicos, as bancas examinadoras têm cobrado com mais profundidade o tipo
dissertação e suas subvariantes argumentativa e expositiva.
Grande abraço e ótimos estudos!
Time de Português

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TIPO X GÊNERO
Gênero textual é um conjunto de características comuns de um texto. É um conceito mais
específico que o conceito de “tipo” textual, que se define fundamentalmente pela “finalidade”.
Por exemplo, o “tipo” narração tem vários “gêneros”, como romance, fábula, boletim de
ocorrência, diário, piada, ata, notícia de jornal, conto, crônica. O “tipo” injuntivo/instrucional tem
gêneros como a receita culinária, o manual de instruções, o tutorial.
Vamos esquematizar:

Narração Injunção Descrição


•romance •receita culinária •cardápio
•fábula •manual de instruções •anúncio
•diário •tutorial •panfleto
•piada
•conto
•crônica

A fábula, por exemplo, é um texto narrativo alegórico, de texto curto e linguagem simples, cujos
personagens são animais personificados e refletem as características humanas, como a preguiça,
a previdência, a inveja, a falsidade, a coragem, a bondade. O desfecho da fábula transmite uma
lição de moral ou uma crítica a comportamentos humanos. Vejamos:

A Cigarra e a Formiga
Num dia soalheiro de Verão, a Cigarra cantava feliz. Enquanto isso, uma Formiga
passou por perto. Vinha afadigada, carregando penosamente um grão de milho
que arrastava para o formigueiro. - Por que não ficas aqui a conversar um pouco
comigo, em vez de te afadigares tanto? – Perguntou-lhe a Cigarra. - Preciso de
arrecadar comida para o Inverno – respondeu-lhe a Formiga. – Aconselho-te a
fazeres o mesmo. - Por que me hei-de preocupar com o Inverno? Comida não nos
falta... – respondeu a Cigarra, olhando em redor. A Formiga não respondeu,
continuou o seu trabalho e foi-se embora. Quando o Inverno chegou, a Cigarra
não tinha nada para comer. No entanto, viu que as Formigas tinham muita comida
porque a tinham guardado no Verão. Distribuíam-na diariamente entre si e não
tinham fome como ela. A Cigarra compreendeu que tinha feito mal...

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Moral da história: Não penses só em divertir-te. Trabalha e pensa no futuro.

Um gênero narrativo que tem sido bastante cobrado é a crônica, que se caracteriza por apresentar
reflexões sobre fatos cotidianos, da vida social, do dia a dia, aparentemente banais. Dentro dessa
temática, pode ser humorística, crítica, intimista. Geralmente é narrada em primeira pessoa e
transmite a visão particular do autor. Sua linguagem é direta e geralmente informal, registrando a
fala literal e espontânea dos personagens.
Pode haver presença de lirismo e ironia. Contudo, há crônicas de alguns autores, especialmente
clássicos, em que se verifica registro formal e erudito da língua.
Antes de detalhar cada um dos tipos, vamos relembrar a diferença entre Tipo e Gênero:

Tipo Textual ==cdafe==

Gênero Textual

(Modo de Organização) (textos com características


próprias)

Em suma, os tipos textuais principais são poucos, mas os gêneros são inúmeros e estão sempre
surgindo novos, de modo a abranger as novas “situações comunicativas”.

(PREF. CAMBORIU - SC / PROFESSOR / 2021)


Sobre tipologias textuais, assinale a alternativa correta.
A) Os gêneros textuais são formas de comunicação a serviço das tipologias textuais.
B) As tipologias textuais podem ser classificadas em primárias e secundárias.

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C) As tipologias textuais são ferramentas essenciais a serviço dos gêneros textuais.


D) O site, o blog, o chat, o e-mail são exemplos de tipologias textuais recentes advindas da
presença marcante de um novo suporte tecnológico na comunicação: a Internet.
E) Para a produção de um tipo textual, o autor deve valer-se sempre do nível de linguagem
cuidada, ou seja, culta.
Comentários:
Questão um pouco mais técnica. Vejamos as alternativas:
A) ERRADA. É o contrário: a tipologia é que auxilia os gêneros.
B) ERRADA. Não há essa classificação para tipologia textual.
C) CERTA.
D) ERRADA. O site, o blog, o chat, o e-mail são exemplos de gêneros textuais.
E) ERRADA. O nível de linguagem depende do gênero a ser utilizado. Gabarito letra C.
(PREF. CRISTINÁPOLIS - SE / PROFESSOR / 2020)
Todos os itens a seguir são exemplos de gêneros textuais, EXCETO:
A) Propaganda. B) Notícia. C) Injunção. D) Lista de Compras.
Comentários:
Lembre-se que:
Tipo textual: como o texto é organizado (MODO)
Gênero textual: características dos textos (O QUE).
Assim, ao olhar para as alternativas, temos que "injunção" é um tipo textual (modo de organização
do texto). Portanto, Gabarito letra C.

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NARRAÇÃO
A narração tem a finalidade de contar uma história, isto é, retratar acontecimentos, reais ou
imaginários, sucessivos num lapso temporal, de forma linear ou não linear. É dinâmica, pois traz
uma mudança de estado, uma sequência de fatos, uma relação de antes e depois.
Os elementos da narrativa são narrador, enredo, tempo (quando), lugar/espaço (onde),
personagens (quem) e um encadeamento de eventos (o quê) que se desenvolvem ou se
complicam até um clímax e um posterior desfecho.
Por narrar acontecimentos em sequência no tempo-espaço, o tempo verbal predominante é o
pretérito perfeito, embora também possa ocorrer o pretérito imperfeito ou até o presente,
quando se pretende aproximar os acontecimentos do tempo da narração.
Não há uma estrutura rígida para a construção de um enredo, contudo a narrativa normalmente
parte de um “fato narrativo inicial”, um evento que dá a referência inicial a partir do qual o
enredo vai se desenvolver. Deve haver uma relação de causalidade entre os eventos, uma
integração lógica das ações e acontecimentos, pois o relato de vários eventos desconexos não
constitui um enredo, que deve ter uma unidade lógica.
O enredo da narrativa geralmente vai partir de um estado inicial de harmonia, que será
interrompido por um fato gerador de desarmonia e conflito, que causará a busca por uma
solução. Então, essa busca se desenrolará em várias outras ações e outros conflitos, até um
clímax e um desfecho da história. Basta pensar em qualquer filme ou romance e perceberemos
esse desenvolvimento. A banca não costuma cobrar isso de forma teórica, mas pode perguntar
sobre a motivação dos personagens.

Não há uma sequência rígida: as narrações podem ocorrer de forma muito


simplificada, resumidas ao relato de algumas poucas ações sequenciais.

A característica mais marcante de uma narração é a sequência temporal. A passagem do tempo


narrativo geralmente se explicita por meio de advérbios de tempo, orações temporais, tempos
verbais específicos. Contudo, pode vir implícita:

João deixou uma panela de feijão no fogo e foi à padaria comprar pão. Quando
voltou, antes de entrar em casa, parou para brincar com seu cachorro e então
sentiu um cheiro forte. Ao entrar em casa, percebeu que o feijão queimara.
Desligou o fogo e gritou um palavrão bem alto.

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Observe as marcas temporais: os verbos estão conjugados no pretérito perfeito, indicando ações
perfeitamente concluídas. Os advérbios de tempo “antes”, “depois” e as orações temporais
“quando voltou” e “ao entrar” sinalizam explicitamente a distribuição das ações na linha
cronológica. Em “desligou o fogo E gritou”, o “E” aditivo é uma marca implícita da passagem do
tempo, pois também indica uma ação seguida da outra.
As narrativas podem seguir cronologias irregulares, tempos psicológicos, em que os eventos são
narrados dentro da consciência do narrador e não coincidem com o tempo real. Também podem
ser contadas de trás para frente, em “flashback”.
O ritmo da narrativa também pode variar, podemos ter uma “narrativa direta”, que se desenvolve
rapidamente, com foco em levar o leitor diretamente ao desfecho. Esse é o caso das piadas,
anedotas, tirinhas.
Também podemos ter uma “narrativa indireta”, que se desenvolve de forma mais lenta, com
muitas interrupções e digressões do narrador, com rodeios, devaneios, pausas para descrições e
intercalação de subnarrativas de eventos secundários. Esse é o estilo de narração de grandes
obras, como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis e “Dom Quixote” de
Miguel de Cervantes.
Quanto ao elemento “personagens”, é importante lembrar que são seres humanos ou
humanizados (entidades personificadas, com atitude humana). Podem ser principais e
secundários, de acordo com sua importância na narrativa.
O personagem protagonista é um dos principais e conduz a ação. Sua experiência é o foco da
narrativa, que geralmente se funda na solução de um conflito ou busca do personagem principal.
O personagem antagonista é aquele que se opõe ao objetivo do protagonista. Suas ações geram
obstáculos que ajudam a desenvolver a narrativa em outras ações e outras subtramas. Pessoal,
isso é bem simples, basta pensar nos “heróis” e “vilões” dos filmes e quadrinhos.
Os principais gêneros textuais narrativos são charges, piadas, contos, novelas, crônicas e
romances.

Tipos de narrador
O narrador pode apresentar diversos graus de interferência na história.
Pode ser um narrador personagem, que conta a história em primeira pessoa e faz parte dela. Sua
fala também pode vir registrada como a de um personagem comum, reproduzida literalmente ou
indiretamente, com a pontuação pertinente. A narrativa em primeira pessoa é impregnada pela
opinião e pelas impressões do narrador. Veja o exemplo:

"Não tínhamos dinheiro para passagem de ônibus a próxima cidade, de modo


que meu amigo sugeriu irmos de trem de carga, a condução dos espertos.
Quando anoiteceu, corremos a nos esconder num vagão vazio. Ofegantes,
fechamos a pesada porta e nos estendemos sobre o chão. Estávamos cansados e
famintos."

Pode ser um narrador observador, que narra a história em terceira pessoa, como se a assistisse
de fora, traz o relato de uma testemunha.

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"...Ele andava calmamente, a rua estava escura dificultando sua caminhada, mas
ele parecia não se importar, andava lentamente como se a escuridão não o
assustasse..."

Por fim, pode ser um narrador onisciente, que não só narra a história, mas também tem pleno
conhecimento do pensamento e das emoções dos personagens, bem como sobre o passado e o
futuro dos acontecimentos. Não há segredos para ele, pode desvelar a tendência e a
personalidade dos personagens, mesmo que esses mesmos não saibam. Ele conhece a verdade
da narrativa.

“Ele sofria como um tolo desde a despedida dela. Dizia para si mesmo um
milhão de vezes que ela um dia voltaria. Mas no fundo, o idiota se obrigava a
acreditar nesta imbecil fantasia. Afinal, era a única coisa que o impedia de
estourar os próprios miolos”. ==cdafe==

Tipos de discurso do narrador


O narrador dispõe de 3 tipos de discurso para estruturar sua narrativa e mostrar ao leitor as falas,
as emoções e o pensamentos dos personagens. São eles: o discurso direto, o indireto e o
indireto livre.

Discurso direto
É narrado em primeira pessoa, retratando as exatas palavras dos personagens.
Caracteriza-se pelo uso de verbos dicendi ou declarativos, como dizer, falar, afirmar, ponderar,
retrucar, redarguir, replicar, perguntar, responder, pensar, refletir, indagar e outros que exerçam
essa função. A pontuação se caracteriza pela presença de dois pontos, travessões ou aspas para
isolar as falas, que são claramente alternadas, bem como de sinais gráficos, como interjeições,
interrogações e exclamações, para indicar o sentimento que as permeia.

"- Por que veio tão tarde? perguntou-lhe Sofia, logo que apareceu à porta do
jardim, em Santa Teresa.
- Depois do almoço, que acabou às duas horas, estive arranjando uns papéis.
Mas não é tão tarde assim, continuou Rubião, vendo o relógio; são quatro horas
e meia.
- Sempre é tarde para os amigos, replicou Sofia, em ar de censura."
(Machado de Assis, Quincas Borba, cap. XXXIV)

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Discurso indireto
É narrado em terceira pessoa e o narrador incorpora a fala dos personagens a sua própria fala,
também utilizando os verbos de elocução (dicendi ou declarativos) como dizer, falar, afirmar,
ponderar, retrucar, redarguir, replicar, perguntar, responder, pensar, refletir, indagar.
Trata-se de uma paráfrase, uma reescritura das falas, agindo o narrador como intérprete e
informante do que foi dito. Geralmente traz uma oração subordinada substantiva, com a
conjunção "que".

“A certo ponto da conversação, Glória me disse que desejava muito conhecer


Carlota e perguntou por que não a levei comigo."
“Capitu segredou-me que a escrava desconfiara, e ia talvez contar às outras”

Discurso indireto livre


É um discurso híbrido, haja vista que concilia características dos dois anteriores.
Há absoluta liberdade formal e sintática por parte do narrador, que mistura reproduções literais
das falas com paráfrases, que alterna pensamentos e registro de falas e ações, aproximando a
fala do narrador e do personagem, como se ambos falassem em uníssono.

"Quincas Borba calou-se de exausto, e sentou-se ofegante. Rubião acudiu,


levando-lhe água e pedindo que se deitasse para descansar; mas o enfermo após
alguns minutos, respondeu que não era nada. Perdera o costume de fazer
discursos é o que era."
"Aperto o copo na mão. Quando Lorena sacode a bola de vidro a neve sobe tão
leve. Rodopia flutuante e depois vai caindo no telhado, na cerca e na menininha
de capuz vermelho. Então ela sacode de novo. 'Assim tenho neve o ano inteiro'.
Mas por que neve o ano inteiro? Onde é que tem neve aqui? Acha lindo a neve.
Uma enjoada. Trinco a pedra de gelo nos dentes."

Por ser o discurso mais difícil de ser percebido, vamos sintetizar suas principais características:

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✔ As falas das personagens (feitas na 1ª pessoa) surgem espontaneamente dentro discurso


do narrado (na 3ª pessoa);
✔ Não há marcas que indiquem a separação das falas do narrador e da personagem;

✔ Não é introduzido por verbos de elocução, nem por sinais de pontuação ou conjunções;

✔ Por vezes, é difícil delimitar o início e o fim da voz da personagem, já que está inserida
dentro da voz do narrador;
✔ O discurso do narrador transmite o sentido do discurso da personagem;

✔ O narrador é onisciente de todas as falas, sentimentos, reações e pensamentos da


personagem.

Passagem do discurso direto para o indireto


Essa conversão é cobrada em prova e deve observar algumas mudanças.
Todas essas mudanças são lógicas e decorrentes da própria passagem de uma fala literal para
uma fala recontada. Então, vamos sistematizar essas regras gerais.

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— Fujam agora— ordenou o General.


O general ordenou que fugissem imediatamente (naquele momento).
+3

Pedro: Eu confesso— Quero viver sem pensar tanto em mim mesmo—.


Pedro confessou que queria viver sem pensar tanto em si mesmo.

“Começo a estudar amanhã aqui mesmo nesta bibliblioteca” — Prometeu Maria.


Maria prometeu que começaria a estudar no dia seguinte, ali mesmo naquela
biblioteca.

Quem me chamou ontem? — perguntou Maria.


Maria perguntou quem a chamara no dia anterior.

Observe que a conversão do discurso direto para o indireto está sinalizada principalmente pelo
verbo “declarativo” (verbo dicendi), ou seja, aquele que introduz a fala (disse, declarou, afirmou,
respondeu, retrucou etc), seguido da oração com conjunção integrante "que", "quem".
Então, muitas vezes somente o verbo declarativo é passado para o discurso indireto e os verbos
do restante da fala são mantidos nos tempos originais.
— “Pedro não desistirá” — disse João. (Discurso Direto)
João disse que Pedro não desistiria.
João disse que Pedro não desistirá.

(CREF - 20ª Região / 2019)

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“A prática demonstra isso: um quadro de emoções negativas conduz à depressão e a outros


males”, diz ele.
De acordo com o texto, julgue o item a seguir.
O emprego do sinal de dois pontos à linha 21 justifica‐se por introduzir discurso direto.
Comentários:
De fato, dois pontos podem ser utilizados para iniciar uma fala / discurso direto, mas não é o
caso da questão. No trecho, a pontuação é utilizada para iniciar uma enumeração. Questão
incorreta.
(PREF. NOVO HORIZONTE-SP / 2019 - Adaptada)
“Oi, você poderia me dar indicações de brinquedos para meninas?”, diz uma mãe, num diálogo
hipotético com a atendente de uma grande loja de brinquedos. Do outro lado do balcão, a
atendente não hesita em apontar: “a Baby tem saído bastante”. A mãe: “e para meninos?”; outra
resposta rápida: “temos Lego, dinossauros e super-heróis”.
Acerca da seguinte afirmação sobre reescritas de trechos do texto, com mudança de discurso
direto para indireto, julgue.
Todo o período das linhas 01 e 02 do texto pode ser transcrito corretamente da seguinte forma:
Uma mãe pergunta a uma atendente de uma grande loja de brinquedos se ela poderia dar-lhe
indicações de brinquedos para meninas.
Comentários:
Note que o verbo "poderia", presente na estrutura original, está no Futuro do Pretérito do
Indicativo e, por isso, não sofre alteração. A mesma coisa acontece com "diz", no Presente do
Indicativo: por mais que tenha sido trocado por "pergunta", o tempo verbal é mantido. Questão
correta.

Opinião do autor/narrador
Percebemos que o discurso direto é mais objetivo, pois narra falas literais, exatamente como
proferidas, de modo que o leitor pode julgar por si mesmo a atitude dos personagens. Então, o
discurso direto ajuda a construir “veracidade” e “credibilidade” no que foi dito.
Já no discurso indireto e indireto livre, o narrador divide com o leitor seu próprio ponto de vista,
sua própria leitura dos fatos. Inclusive, ao recontar as falas dos outros, já pode estar inserindo seu
viés na própria escolha das palavras.
Nesse contexto, a opinião do narrador (ou do locutor de um texto argumentativo) pode ser
verificada em algumas pistas, palavras que indicam em algum nível as verdadeiras impressões
sobre o que se fala. Essas expressões que indicam ponto de vista são chamadas de
“modalizadores”:
Ex: Pedro infelizmente não tinha chegado ainda, devia estar no maldito trânsito e
fatalmente perderia o início do evento que lutara para organizar.
No exemplo acima, os advérbios “infelizmente” e “fatalmente” indicam que o locutor considera
negativos o acontecimento de perder o início do evento. Então, tais expressões revelam um viés
“afetivo” e “subjetivo”.

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O advérbio “ainda” indica que há na fala expectativa ou convicção de que ele já deveria ter
chegado. Se o advérbio utilizado fosse “já” (ele já chegou), o sentido seria outro e revelaria a
visão de que ele chegou mais rápido que o esperado.
O verbo “devia” foi usado como um modalizador, para indicar “possibilidade/probabilidade”, de
modo que sabemos que não há certeza absoluta naquela declaração. Se fosse usado outro
verbo, como “poderia”, ou um uma forma verbal mais categórica, como “estava”, os sentidos
seriam outros e a visão do fato pareceria outra.
O adjetivo “maldito” expressa verdadeiro rancor contra o “trânsito”.
O verbo “lutar” também indica que o autor considera o ato de “organizar” o evento uma tarefa
difícil, que exigia esforço e encontrava oposição, enfim, uma luta.
Esses são apenas alguns indícios de opinião do narrador/autor, examinados num pequeno
período. No texto, qualquer estrutura ou classe de palavras (verbos, adjetivos, advérbios,
palavras denotativas, interjeições) pode ser vestígio de uma opinião subjacente.
O que foi dito acima não é exclusivo para “narradores”: vale para a opinião do autor em
dissertações, argumentações, propagandas, artigos, matérias jornalísticas e qualquer gênero
textual.
Cuidado, não é qualquer adjetivo ou advérbio que necessariamente indica um juízo de valor!
Muitas vezes eles têm caráter mais objetivo, embasado em uma situação concreta. É preciso
analisar o contexto e as opções da questão.
Para exemplificar a teoria, vamos às questões?

(PREF. CAPANEMA - PA / 2020 - Adaptada)


Pela emancipação masculina
Uma pequena aglomeração na orla da Barra da Tijuca. Homens, em sua esmagadora maioria. O
carro de som parado, o zunido do microfone enquanto passam o som, a faixa ligeiramente torta.
É a primeira passeata masculinista do Brasil.
João Marcelo é aquele cara ali, vestindo regata. Ele organizou o evento pelo WhatsApp. Tudo
começou por causa de um controle remoto. Sempre que Miriam, sua esposa, botava o pé para
fora de casa, o controle da TV desaparecia. E só quando ela voltava, o mistério era solucionado:
estava na cara dele o tempo todo.
Foi nesse meio-tempo, assistindo ao Rodrigo Hilbert a contragosto, que João Marcelo se deu
conta da violência diária e silenciosa que ele sofria: a dependência do sexo feminino.
Agora, João Marcelo quer que todos os homens sejam livres. E ele não está sozinho. Paulão é
segurança particular e já perdeu dois empregos por causa de seu terno “abarrotado” (sic).
Depois que a Sandra foi embora, ele parece um cosplay de Agostinho Carrara. Vocifera ao
megafone em defesa de meninos inocentes que dependem dos caprichos de uma mãe, às vezes
até de um pai – “porque homem oprime homem também!” – para se alimentar e fazer a própria
higiene pessoal. É um projeto de dominação diabólico que visa domesticar os homens para

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sempre, desde pequenos.


Uma ciclista curiosa interpela os manifestantes. Lidiane quer saber que injustiças são essas que
esses homens alegam estar sofrendo. O tom da moça causa revolta. O feminismo é a pauta da
vez, ninguém fala das mazelas do homem, só se ele for gay. Ela claramente não conhece a
angústia de sair de casa para comprar rúcula e voltar com um ramo de espinafre. Ou de abrir uma
gaveta cheia de meias soltas e não conseguir formar um par. Paulão tira a camisa envergonhado,
exibindo os cravos que se alastram em suas costas.
Indiferente àquele tumulto em prol do empoderamento masculino, Lidiane pedala para longe,
sob algumas vaias.
Os cartazes começam a despontar na pequena multidão, estampando frases de efeito como:
“minha próstata, minhas regras”, “a cada 11 minutos, um homem é obrigado a trocar um pneu
no Brasil” e “paternidade é uma escolha, não uma obrigação”. A passeata segue pacificamente
até ser interrompida por um apelo emocionado do organizador ao microfone: “Alguém viu minha
carteira?”.
(Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/manuelacantuaria/2019/09/pela-emancipacao-masculina.shtml. Acesso em:
10/09/2019. Manuela Cantuária.)
Considere as afirmativas a seguir.
I. A finalidade do texto é narrar uma sequência de ações inusitadas para entreter o leitor.
II. O foco narrativo do texto está na primeira pessoa do discurso e o narrador é o personagem
principal da história.
III. O texto é exemplo do gênero crônica narrativa, que se caracteriza pela flexibilidade de circular
tanto no domínio discursivo jornalístico como também no literário.
IV. O narrador do texto apresenta ao leitor suas impressões e inferências acerca de um
acontecimento real, que serviu apenas de pretexto para expor suas reflexões.
Está correto o que se afirma apenas em
A) I e II. B) I e III. C) II e III. D) II e IV. E) III e IV.
Comentários:
Vejamos os itens:
I. CERTO. O texto narrativo tem esse objetivo.
II. ERRADO. O narrador nesse texto é observador, por isso a narração é em 3ª pessoa.
III. CERTO. Há trechos de narrativa, mas também há aqueles que se aproximam de uma matéria
jornalística, por exemplo: " Uma pequena aglomeração na orla da Barra da Tijuca. Homens, em
sua esmagadora maioria. (...) É a primeira passeata masculinista do Brasil."
IV. ERRADO. O narrado apenas conta os fatos. Argumentação é característica de outro tipo
textual - o argumentativo.
Gabarito: Letra B.
(CREFONO - 9ª Região / 2019)
Vizinho,
Quem fala aqui é o homem do 1.003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que
me mostrou a carta em que o senhor reclamava do barulho em meu apartamento. Recebi,
depois, a sua própria visita pessoal — devia ser meia‐noite — e a sua veemente reclamação

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verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do
prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a lei e a polícia.
Quem trabalha o dia inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903
quando há vozes, passos e músicas no 1.003, ou melhor, é impossível ao 903 dormir quando o
1.003 se agita, pois, como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos
reduzidos a ser dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1.003, me limito a Leste
pelo 1.005, a Oeste pelo 1.001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1.004, ao alto pelo
1.103 e embaixo pelo 903 — que é o senhor.
Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico
fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e
bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da Lua.
Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de
manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será
convidado a se retirar às 21h45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7, pois às 8h15
deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na
sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada: e reconheço que ela só pode ser
tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro
dos limites de seus algarismos. Peço‐lhe desculpas – e prometo silêncio.
Rubem Braga. O verão e as mulheres. 10.ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 21‐23 (com adaptações)
Em relação às ideias do texto, julgue o item.
O texto consiste em uma crônica a respeito de um pequeno acontecimento diário comum nas
grandes cidades.
Comentários:
É isso mesmo! A crônica narra fatos do dia a dia, acontecimentos cotidianos e atuais, de uma
maneira diferente, com intenção crítica ou não. Questão correta.

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DESCRIÇÃO
Descrever é caracterizar, relatar em detalhes características de pessoas, objetos, imagens, cenas,
situações, emoções, sentimentos. A descrição é uma pormenorização estática, uma pausa no
tempo, geralmente uma interrupção da narração, para apresentação de traços dos seres. Para
isso, se utiliza de muitos adjetivos, verbos de ligação que indicam estado e orações e locuções
adjetivas para caracterização.
O tempo mais usual é o pretérito imperfeito, por indicar uma ação continuada ou rotineira: era,
fazia, estava, parecia...
Importante lembrar que os adjetivos podem ter valor objetivo ou relacional, quando são isentos
de opinião e simplesmente expressam um fato: carro preto, homem japonês, doença
==cdafe==

degenerativa. Esses adjetivos geralmente não aceitam gradação (homem mais japonês) e vão
indicar uma descrição objetiva.
Já os adjetivos qualificativos ou subjetivos expressam opinião, não são fatos, essas qualidades
podem ser graduadas e questionadas: homem bonito, carro extravagante, aluno teimoso, lugar
longe, muito longe... Esses adjetivos, por sua vez, caracterizam uma descrição subjetiva,
impregnada pela opinião de quem descreve.
A descrição quase sempre está presente em outros tipos textuais, assim como dificilmente é
encontrada na sua forma pura, de modo que também é comumente permeada por trechos
narrativos ou dissertativos. Nas provas de concurso, o mais comum é a descrição aparecer dentro
de uma narração.
Difere-se fundamentalmente da narração por trazer acontecimentos simultâneos, que ocorrem ao
mesmo tempo, sem progressão temporal e sem relação de anterioridade e posterioridade. As
ações podem descrever uma rotina, ações habituais, sem foco narrativo.
A descrição está para uma foto, assim como a narração está para um filme.
Além disso, a descrição é o tipo textual que predomina em gêneros como manuais, propagandas,
biografias, relatórios, definições e verbetes, tutoriais.
É rara a cobrança de uma descrição pura. Vamos ver um exemplo, retirado da prova do Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas:

“Amanhece na ilha de Heron. Sobre a imensa faixa de areia, que se estende em


curva até desaparecer na bruma da manhã, despeja-se uma lua violácea, que
pouco a pouco se encorpa. Mas é somente quando o sol oblíquo já incide sobre
as areias e a água, sobre a vegetação rasteira e os tufos de algas que brilham nas
pedras com a maré baixa, é só então – nunca antes – que se pode notar o primeiro
movimento na praia.”

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O texto começa pela descrição da ilha de Heron. Um texto descritivo é


caracterizado fundamentalmente por:
a) ações que ocorrem em uma sequência cronológica.
b) reflexões sobre aspectos problemáticos da vida.
c) registro de elementos caracterizadores de uma realidade.
d) citação de informações sobre determinado objeto.
e) conjunto de pensamentos inacabados.
A resposta é a letra C. Observe a descrição estática da paisagem da ilha, a
abundância de adjetivos, a construção de uma imagem. Não há ações em
sequência cronológica, nem reflexões sobre problemas, nem pensamentos
inacabados. Trata-se de uma descrição pura.

Vejamos agora essas características nos textos que vêm sendo cobrados:

(PGE-PE / 2019)
Passávamos férias na fazenda da Jureia, que ficava na região de lindas propriedades cafeeiras.
Íamos de automóvel até Barra do Piraí, onde pegávamos um carro de boi. Lembro-me do aboio
do condutor, a pé, ao lado dos animais, com uma vara: “Xô, Marinheiro! Vâmu, Teimoso!”. Tenho
ótimas recordações de lá e uma foto da qual gosto muito, da minha infância, às gargalhadas,
vestindo um macacão que minha própria mãe costurava, com bastante capricho. Ela fazia um para
cada dia da semana, assim, eu podia me esbaldar e me sujar à vontade, porque sempre teria um
macacão limpo para usar no dia seguinte.
Jô Soares. O livro de Jô: uma autobiografia
desautorizada. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
O texto é essencialmente descritivo, pois detalha lembranças acerca das viagens de férias que a
personagem e sua família faziam com frequência durante a sua infância.
Comentários:
Essencialmente, predominantemente, principalmente o texto é narrativo, pois há clara sucessão
de fatos e objetivo último de contar uma história, narrar uma sequência de ações ao longo do
tempo.
Questão incorreta.

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INJUNÇÃO
O texto injuntivo traz instruções ao leitor para realizar certa tarefa. Ensina, orienta, interpela ou
obriga o leitor a fazer alguma coisa.
Sua principal característica é apresentar verbos no imperativo, em comandos neutros, genéricos e
impessoais, para prescrever alguma ação do leitor. O uso do infinitivo impessoal também é usado
como estratégia de neutralidade, pois omite o agente:
Ex: Passo 1, remover a embalagem. Passo 2, inserir CD de instalação.
Ex: 149 - Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar,
mediante alvará...
Observamos esse tipo textual em gêneros como leis, regulamentos, contratos, manuais de
instrução, receitas de bolo, tutoriais.

(PREF. CORDILHEIRA ALTA - SC / 2019 - adaptada)


3 truques para tirar as manchas mais difíceis
Agora você pode comer aquela macarronada sem se preocupar. Testamos todas as fórmulas
milagrosas para garantir que suas roupas fiquem sempre limpas.
1. Molho de tomate
1 colher de sopa de sabão em pó; 1/2 copo de água; 1 colher de sopa de lustra-móveis; 2 colheres
de sopa de água sanitária.
Modo de fazer
Dilua o sabão em pó na água e misture-o aos outros ingredientes. Aplique a solução sobre a
mancha e deixa-a repousar de 5 a 10 minutos. Use uma escova de dentes para esfregar. Enxágue.
Se não sair, repita o processo.
2. Óleo ou gordura
1 colher de sopa de lustra-móveis; 1/2 colher de sopa de detergente.
Modo de fazer
Aplique a solução e deixe repousar de 5 a 10 minutos. Use uma escova de dentes para esfregar e
enxágue. Se não sair, repita o processo.
3. Vinho
1 colher de sopa de sabão em pó; 1/2 copo de água; 5 colheres de sopa de produto para limpeza
pesada (usado para limpar azulejo e fogão); 5 colheres de sopa de água sanitária.
Modo de fazer
Aplique a solução e deixe repousar de 5 a 10 minutos. A mancha ficará marrom: não se preocupe,

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é normal. Use uma escova de dentes para esfregar e enxágue.


O texto apresenta:
A) Uma história. B) Uma notícia. C) Instruções.
D) Uma poesia. E) Uma propaganda.
Comentários:
O texto claramente é injuntivo / instrucional: é um passo a passo de como tirar manchas difíceis.
Gabarito: Letra C.

==cdafe==

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DISSERTAÇÃO
Agora veremos o assunto mais importante desta aula e talvez deste curso. Digo isso porque a
dissertação é o tipo textual mais cobrado, tanto em tipologia quando nas questões de português
que trazem textos. Conhecer a estruturação desse tipo vai ser vital na interpretação em geral, pois
aprenderemos as estratégias argumentativas que são objeto de questões de compreensão e das
provas discursivas, além de ficarmos familiares com a estruturação correta de um parágrafo e de
um texto.
O texto dissertativo basicamente expõe ideias, razões, teorias, raciocínios, abstrações, por meio
de relações lógicas sequenciadas no texto, dentro de uma estrutura específica (introdução,
desenvolvimento e conclusão), sem necessária progressão temporal. Por ser neutra, atemporal e
clara, marca-se pelo uso dos verbos no presente, porque indicam verdades universais: “a água
ferve a 100 graus”; “a terra gira em torno do sol”.
A dissertação pode ser objetiva, também chamada de expositiva; ou subjetiva, também chamada
de argumentativa ou opinativa. Veremos também que há subtipos para um texto argumentativo e
para um texto expositivo.
Na maioria das provas, a banca espera que o candidato saiba identificar textos dissertativos com
diferentes finalidades.

Texto dissertativo expositivo (puro)


A finalidade essencial de um texto expositivo é trazer conceitos, discutir um assunto de maneira
impessoal e objetiva, ou seja, sem defesa clara de uma opinião. Não há defesa de tese, apenas
exposição clara e atemporal de ideias.
Diz-se que o autor é impessoal e o leitor é universal. O autor explana o que sabe de forma neutra
e permite que o leitor forme sua própria opinião. Pode ocorrer que a opinião do autor transpareça
pelo sentido dos modalizadores (marcas linguísticas de opinião), mas não é seu objetivo primário
criar debate e convencer o leitor.
As questões discursivas de provas de Auditor-Fiscal ou Analista de Tribunais são exemplos desse
tipo de dissertação, em que o candidato-autor apenas expõe o conteúdo pedido no enunciado,
sem opinar. Por isso, algumas bancas chamam esse tipo de “explicativo”.

"Com a pandemia, o planejamento de diversos certames previstos para 2020


acabou sendo prejudicado. Por outro lado, já está sendo observada uma abertura
gradual da economia em alguns Estados, fato que deve se replicar no resto do
Brasil."

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Texto dissertativo expositivo-informativo


É um subtipo do expositivo. Esse texto visa acrescentar informação nova ao leitor, ao contrário do
expositivo puro, que não pressupõe que a informação discutida seja nova para quem lê.
É comum ocorrerem no texto informativo trechos descritivos, como dados, estatísticas; ou
narrativos, como relatos de acontecimentos, mas é a finalidade do texto que deve ser o critério
de identificação do tipo textual. Não é por trazer relato de um crime que um texto com clara
finalidade de trazer informação nova ao leitor (sobre uma ação da polícia, por exemplo) deve ser
classificado como uma narrativa.
Atentem para isso, pois quase todo texto dissertativo traz elementos de outra tipologia.

"Foi encaminhado, em agosto de 2020, ao Congresso Nacional, o Projeto de Lei


Orçamentária Anual (PLOA). A proposta trouxe a previsão de receitas e despesas
da União para 2021, incluindo a criação de vagas.
O anexo V do documento prevê o provimento de 50.946 cargos no Poder
Executivo Federal, os quais estão distribuídos da seguinte maneira (...)"

Texto dissertativo argumentativo


O texto argumentativo, além de discutir e informar, defende uma tese, uma opinião pessoal, tendo
como finalidade principal o convencimento do leitor.
Para persuadi-lo, o autor se utiliza de modalizadores e de operadores argumentativos, construindo
fundamentação para seus argumentos por via de relações lógicas organizadas numa estrutura
argumentativa progressiva.
A linguagem utilizada é clara, impessoal (embora parcial), culta. A primeira pessoa é utilizada para
realçar a inclusão do autor no universo de ideias discutidas e seu alinhamento aos argumentos
utilizados, bem como para envolver o leitor. Também é comum o uso da terceira pessoa, com
verbos no presente do indicativo, como estratégia para sugerir que as informações são fatos. Os
verbos são semanticamente carregados e sugerem ou corroboram a opinião que está sendo
defendida. Esses argumentos são apresentados de forma estruturada, com progressão.

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Algumas provas também cobram o conceito de texto dissertativo argumentativo


polêmico, que seria semelhante à modalidade argumentativa, mas com a diferença
de trazer pelo menos dois pontos de vista e contrabalanceá-los.

A estrutura argumentativa
Como dito, a dissertação argumentativa traz uma progressão lógica de argumentos. Em nível
estrutural, essa progressão toma a forma de introdução, desenvolvimento e conclusão.
Na introdução, o autor apresenta o tema, a ideia principal, sua tese.
No desenvolvimento, o autor traz argumentos de apoio ao convencimento.
Na conclusão, o autor retoma a ideia central, apresentada na introdução, e consolida seu
raciocínio. Nesse parágrafo, geralmente ele oferece soluções para os problemas discutidos, faz
constatações e reitera sua opinião de forma mais incisiva.
Existe grande liberdade na forma com que os autores constroem suas argumentações. Alguns
autores concluem logo no início, depois justificam sua posição, outros trazem sua tese somente
no final. Aprenderemos aqui as principais e mais consagradas técnicas de estruturação e de
argumentação, para que o aluno seja capaz de reproduzi-las em uma redação de sua própria
autoria, bem como reconhecê-las nos textos da prova.
Vejamos em detalhes cada uma dessas partes.

Introdução
A introdução deve conter a tese, ou seja, uma afirmação que deverá ser sustentada no decorrer
dos parágrafos. Se o autor pudesse sintetizar todo seu texto numa sentença, essa seria sua tese.
A opinião do autor aqui aparece de modo brando e será reiterada de modo forte na conclusão.
Também é na introdução que o autor tenta seduzir o leitor, captar seu interesse, atraindo-o para
continuar lendo.
Muito teórico?! Então vamos à prática!

Fórmulas de Introdução
Os textos dissertativos se estruturam de modo lógico para convencer o leitor. A introdução já é
um momento de sugerir a estrutura que uma dissertação argumentativa deve tomar, sua divisão,
sua progressão... etc. Vejamos fórmulas comuns de se construir um parágrafo introdutório.
Divisão: é a enumeração explícita dos aspectos que serão tratados. É fácil e deixa o texto mais

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organizado. Além disso, facilita o uso de elementos de coesão: "em relação ao primeiro item", "já
quanto ao segundo"...
Ex: O problema das chuvas tem recebido bastante destaque na mídia, em grandes debates
sobre quem seria o responsável. Há dois fatores principais nesse contexto: a omissão do
governo e a ação dos cidadãos.
Ao continuar o texto, o 1º Parágrafo do desenvolvimento será: A omissão do governo pode
ser observada em casos como...
E o 2º Parágrafo do desenvolvimento: Já a ação dos cidadãos também influencia nesse
resultado porque...

Ex: No Brasil, a tradição política no tocante à representação gira em torno de três ideias
fundamentais. A primeira é a do mandato livre e independente, isto é, os representantes,
ao serem eleitos, não têm nenhuma obrigação, necessariamente, para com as
reivindicações e os interesses de seus eleitores. O representante deve exercer seu papel
com base no exercício autônomo de sua atividade, na medida em que é ele quem tem a
capacidade de discernimento para deliberar sobre os verdadeiros interesses dos seus
constituintes. A segunda ideia é a de que os representantes devem exprimir interesses
gerais, e não interesses locais ou regionais. Os interesses nacionais seriam os únicos e
legítimos a serem representados. A terceira ideia refere-se ao princípio de que o sistema
democrático representativo deve basear-se no governo da maioria. Praticamente todas as
leis eleitorais que vigoraram no Brasil buscaram a formação de maiorias compactas que
pudessem governar.

Definição: é a apresentação de um conceito.


Ex: Denomina-se política ambiental o conjunto de decisões e ações estratégicas que visam
promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. A política ambiental,
portanto, tem relação direta com todas as demais políticas que promovam o uso dos
recursos. Por isso, embora a responsabilidade pelo seu estabelecimento seja dos órgãos
ambientais, todas as demais áreas de governo têm um papel a cumprir na execução das
políticas ambientais.

Citação: é a reprodução literal ou indireta da fala de alguém cuja opinião seja relevante no
contexto daquela dissertação. Essa técnica também pode ser usada para introduzir logo na
introdução um argumento de autoridade.
Ex: Como afirma Foucault, a verdade jurídica é uma relação construída a partir de um
paradigma de poder social que manipula o instrumental legal, de um poder-saber que
estrutura discursos de dominação. Assim, não basta proteger o cidadão do poder com o
simples contraditório processual e a ampla defesa, abstratamente assegurados na

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Constituição. Deve haver um tratamento crítico e uma posição política sobre o discurso
jurídico, com a possibilidade de revelar possíveis contradições e complexidades das tábuas
de valor que orientam o direito.
Ex: “A violência é tão fascinante, e nossas vidas são tão normais”. O célebre verso de Renato
Russo traz à tona uma discussão atual sobre a segurança pública nas grandes capitais...
Ex: “Disse Alexandre Dumas que Shakespeare, depois de Deus, foi o poeta que mais criou.
Aos 37 anos, já escrevera 21 peças e inventara uma forma de soneto.”

Indagação: é o uso de uma pergunta para captar a curiosidade do leitor ou para sinalizar o tema.
Essa pergunta pode ser respondida na conclusão ou no desenvolvimento, com os argumentos.
Pode também ser só uma tônica para o assunto.
Ex: O problema das chuvas tem merecido bastante destaque na mídia, em grandes debates
sobre quem seria o responsável. A maioria culpa o Governo, por sua omissão. Porém, seriam
alguns hábitos do cidadão comum responsáveis por grande parte desses eventos?
Aqui o autor poderia responder a essa pergunta ou se posicionar de forma diferente,
atribuindo a um terceiro a culpa. A estratégia é seduzir o leitor e fazê-lo se perguntar quem
seria o responsável e procurar a resposta no texto.

Frases nominais: é o uso de uma frase seguida de uma explicação. A frase será o elemento de
curiosidade, a frase seguinte será uma explicação.
Ex: Calamidade pública. Assim se referiu o secretário estadual de saúde ao atual estado dos
hospitais do Rio de Janeiro...
Ex: Ditador, louco e genocida. Após baixar a fumaça das explosões, essas palavras podem
ser lidas em muralhas rachadas da maior capital do mundo árabe...

Alusão histórica/literária: é uma técnica de intertextualidade, comunicando a dissertação a outra


obra. A alusão serve para ressaltar semelhanças ou diferenças entre fenômenos atuais e passados,
servindo como argumento para corroborar uma mudança ou uma estagnação.
Ex: A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, tendo
como objetivo mostrar as novas tendências artísticas que já vigoravam na Europa. Essa nova
forma de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas
formas estéticas europeias mais conservadoras. O idealizador deste evento artístico e
cultural foi o pintor Di Cavalcanti.
Ex: Na tarde do Yom Kipur de 1973, sábado, 6 de outubro, Egito e Síria atacam Israel.
Surpreendido e tendo de lutar em duas frentes, num primeiro momento o país enfrenta
dificuldades, mas menos de três semanas depois, em uma das mais impressionantes
reviravoltas da história militar, seus exércitos estavam a caminho do Cairo e Damasco. Todo

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esse tempo depois, ainda há resquícios desse conflito no dia a dia do povo palestino...
Ex: Machado de Assis, em seu conto a Igreja do Diabo, ironiza as religiões e a eterna
tentação de violar prescrições e fazer o que é proibido. Tal tentação ainda pode ser
observada, em casos como...
Ex: Na mitologia grega, Prometeu é o titã que rouba o fogo dos deuses e é por eles
condenado a um suplício eterno. Preso a uma rocha, uma águia devora-lhe constantemente
o fígado. Trata-se de uma lenda altamente simbólica e aplicável à época atual.

Narração: é trazer uma sequência de ações, ou um relato, que vai servir de insinuação do tema.
Ex: No início do mês, um assaltante matou um jovem em São Paulo com um tiro na cabeça,
mesmo depois de a vítima ter lhe passado o celular. Identificado por câmeras do sistema
de segurança do prédio do rapaz, o criminoso foi localizado pela polícia, mas – apesar de
todos os registros que não deixam dúvidas sobre a autoria do assassinato – não ficará um
dia preso. Menor de idade, foi “apreendido” e levado a um centro de recolhimento. O
máximo de punição a que está sujeito é submeter‐se, por três anos, à aplicação de medidas
“socioeducativas”.
Ex: Para desburocratizar e modernizar a administração pública federal, o Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) assinou acordo de cooperação com o Instituto
Nacional de Tecnologia da Informação (ITI). O objetivo do termo é propor e implementar o
Plano Nacional de Desmaterialização de Processos (PNDProc), que prevê a utilização da
documentação eletrônica em todos os trâmites de processos. O extrato do pacto entre as
entidades foi publicado nesta quarta-feira, 21, no Diário Oficial da União.
Ex: Às 4 horas da manhã, o médico se prepara para a cirurgia que vai salvar a vida de um
menino baleado. Aplica anestesia, mas é interrompido pelo flash de uma explosão. Assim
têm vivido os profissionais que se voluntariaram no programa da cruz vermelha que
trabalham nas regiões de conflito...

Declaração: semelhante à frase nominal, com uma oração desenvolvida. Uma declaração forte no
início do parágrafo introdutório surpreende o leitor e o induz a prosseguir na leitura.
Ex: Jogar games de computador pode fazer bem à saúde dos idosos. Foi o que concluiu
uma pesquisa do laboratório Gains Through Gaming (Ganhos através de jogos, numa
tradução livre), na Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.
Ex: As projeções sobre a economia para os próximos dez anos são alentadoras. Se o Brasil
mantiver razoável ritmo de crescimento nesse período, chegará ao final da próxima década
sem extrema pobreza. Algumas projeções chegam a apontar o país como a primeira das
atuais nações emergentes em condições de romper a barreira do subdesenvolvimento e
ingressar no restrito mundo rico.
Ex: O homem moderno sucumbiu ao consumismo, tem cada vez mais coisas e cada vez

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menos tempo. Agora chegou ao extremo de comprar produtos cuja finalidade é o próprio
desperdício...
Muito bem! Essas são algumas das principais fórmulas de introdução. Elas podem ser mescladas
e adaptadas aos seus argumentos. Observem o exemplo (de prova):

Tem saído nos jornais: chuvas deixam São Paulo no caos. É verdade que os
moradores estão sofrendo além da conta, quer estejam circulando pela cidade
com seus carros ou nos ônibus e metrô, quer estejam em casa ou no trabalho. Três
fatores criam a confusão: semáforos desligados; alagamentos nas ruas; falta de
energia. Então, tudo culpa da chuva, certo? Errado.

Nessa introdução constam uma declaração inicial, uma divisão e uma indagação. Pura habilidade
do autor!
A seguir veremos também algumas estratégias argumentativas, que são fórmulas de parágrafos
de desenvolvimento, mas que, igualmente, podem ser utilizados para iniciar um texto.

Desenvolvimento
No desenvolvimento deve constar a fundamentação da opinião “levantada” na introdução.
A ideia central de um parágrafo de desenvolvimento é chamada de tópico frasal ou pequena tese.
Ele é a síntese do argumento, a ideia mais importante do parágrafo, e geralmente vem no início
(não necessariamente).
É importante destacar que o parágrafo segue uma estrutura análoga ao texto argumentativo como
um todo, ou seja, o parágrafo de desenvolvimento também tem a sua introdução, que geralmente
coincide com o tópico frasal.
O período seguinte deve trazer uma ampliação desse tópico, sustentando-o por meio de
argumentos e contra-argumentos, raciocínios lógicos, exemplos, comparações, narrativas,
citações de autoridades, dados estatísticos ou outra forma de desenvolvimento. Por fim, pode
haver uma conclusão que retoma a ideia-núcleo ou anuncia o tópico frasal do próximo argumento.
A estrutura do parágrafo argumentativo pode ser vista assim:

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Ampliação (exemplo, Conclusão da ideia-núcleo


Tópico Frasal (pequena
estatística, citação, dado, ou anúncio do próximo
tese ou tese do parágrafo)
analogia...) tópico

Cada argumento deve vir separado em um parágrafo, por clareza e por destacar
mais ainda a estrutura dissertativo-argumentativa.
Essa regra é tão importante que as bancas geralmente descontam pontos por
parágrafos que trazem mais de uma ideia.

Para ilustrar essa teoria, vamos focar no segundo parágrafo de desenvolvimento retirado da prova
da CVM:

O potencial das energias propriamente "limpas" e renováveis é enorme,


comparativamente ao que já existe: ventos, marés, correntes marítimas e fluviais,
energia solar. Elas deverão constituir um nó importante na matriz energética
mundial. Entretanto, admite-se que ainda assim continuarão sendo apenas
complementares e não suficientes para substituir o petróleo.
Um dos problemas dessas energias limpas é que o seu potencial não é
regularmente distribuído no mundo entre as nações consumidoras (1). O Saara,
Mogavi e o Nordeste brasileiro são exemplos de ricos potenciais de energia solar,
mas em que isso beneficia os grandes consumidores do norte da Europa? (2) O
Nordeste brasileiro, assim como a região de Bengala e outras regiões tropicais,
tem enorme potencial eólico. Mas não são só eles: a Dinamarca produz 75% da
energia que consome pelos ventos (3). Poucos países podem rivalizar com o Brasil
quanto à energia hidrelétrica. Nenhuma dessas fontes energéticas limpas e
renováveis poderá, por si, constituir-se no sucessor do petróleo em nível mundial
(4).

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Na introdução, o autor deixa clara sua tese: Há potencial de energia limpa. Entretanto, admite-se
que ainda assim continuarão sendo apenas complementares e não suficientes para substituir o
petróleo em nível mundial. Isso tem que ser fundamentado no desenvolvimento.
Já no desenvolvimento, observe o tópico frasal (1), que apresenta a ideia de que o potencial das
energias limpas não é distribuído de forma regular e se sugere que não seria a solução da crise
energética mundial.
No segundo período (2), há ampliação desse tópico, com exemplos de regiões com potencial de
energia solar, mas que não vão beneficiar os grandes consumidores da Europa. Em (3) o autor traz
o exemplo da Dinamarca, na mesma linha. Esses exemplos sustentam a tese de que o potencial
de energia limpa não é distribuído regularmente.
Em (4), o autor conclui seu raciocínio, reforçando que essas fontes não substituirão o petróleo, ou
seja, serão apenas complementos, pois não são uniformemente distribuídas pelos grandes núcleos
consumidores.
Sintetizando a progressão lógica e estrutural desse texto, temos: a) As fontes renováveis são
importantes, b) mas, serão apenas um complemento, pois não estão distribuídas de forma regular
pelo mundo, conforme exemplos, c) portanto, não são capazes de substituir o petróleo. Veja que
a estrutura de um único parágrafo reflete a macroestrutura do texto dissertativo-argumentativo.

(SEPLAG-RECIFE (PE) / 2019 - Adaptada)


Quem não gosta de samba
“Como se dá que ritmos e melodias, embora tão somente sons, se assemelhem a estados da
alma?”, pergunta Aristóteles. Há pessoas que não suportam a música; mas há também uma
venerável linhagem de moralistas que não suporta a ideia do que a música é capaz de suscitar nos
ouvintes. Platão condenou certas escalas e ritmos musicais e propôs que fossem banidos da cidade
ideal. Santo Agostinho confessou-se vulnerável aos “prazeres do ouvido” e se penitenciou por sua
irrefreável propensão ao “pecado da lascívia musical”. Calvino alerta os fiéis contra os perigos do
caos, volúpia e emefinação que ela provoca. Descartes temia que a música pudesse superexcitar
a imaginação.
O que todo esse medo da música – ou de certos tipos de música – sugere? O vigor e o tom dos
ataques traem o melindre. Eles revelam não só aquilo que afirmam – a crença num suposto perigo
moral da música − , mas também o que deixam transparecer. O pavor pressupõe uma viva
percepção da ameaça. Será exagero, portanto, detectar nesses ataques um índice da especial
força da sensualidade justamente naqueles que tanto se empenharam em preveni-la e erradicá-la
nos outros?

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O que mais violentamente repudiamos está em nós mesmos. Por vias oblíquas ou com plena
ciência do fato, nossos respeitáveis moralistas sabiam muito bem do que estavam falando.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2016, p. 23-24)

A frase O vigor e o tom dos ataques traem o melindre contém um argumento semelhante ao que
está na seguinte frase: O que mais violentamente repudiamos está em nós mesmos. (3º parágrafo).
Comentários:
O autor, quando se refere ao “vigor e o tom dos ataques”, fala da intensidade com que os
moralistas por ele citados atacam a música, o que é semelhante a repudiar violentamente.
Da mesma maneira, o “melindre”, ou o sentimento de vergonha é traído pela maneira como
atacam a música, pois, na verdade, estão envergonhados por causa da atração interior pelos
encantos da música, argumento semelhante a “repudiamos está em nós mesmos”. Questão
correta.
(SEFAZ-GO / 2018 - Adaptada)
Os deuses de Delfos
Segundo a mitologia, Zeus teria designado uma medida apropriada e um justo limite para
cada ser: o governo do mundo coincide assim com uma harmonia precisa e mensurável, expressa
nos quatro motes escritos nas paredes do templo de Delfos: “O mais justo é o mais belo”,
“Observa o limite”, “Odeia a hybris (arrogância)”, “Nada em excesso”. Sobre estas regras se funda
o senso comum grego da Beleza, em acordo com uma visão do mundo que interpreta a ordem e
a harmonia como aquilo que impõe um limite ao “bocejante Caos”, de cuja goela saiu, segundo
Hesíodo, o mundo. Esta visão é colocada sob a proteção de Apolo, que, de fato, é representado
entre as Musas no frontão ocidental do templo de Delfos.
Mas no mesmo templo (século IV a.C.), no frontão oriental figura Dioniso, deus do caos e da
desenfreada infração de toda regra. Essa coabitação de duas divindades antitéticas não é casual,
embora só tenha sido tematizada na idade moderna, com Nietzsche. Em geral, ela exprime a
possibilidade, sempre presente e verificando-se periodicamente, da irrupção do caos na beleza
da harmonia. Mais especificamente, expressam-se aqui algumas antíteses significativas que
permanecem sem solução dentro da concepção grega da Beleza, que se mostra bem mais
complexa e problemática do que as simplificações operadas pela tradição clássica.
Uma primeira antítese é aquela entre beleza e percepção sensível. Se de fato a Beleza é
perceptível, mas não completamente, pois nem tudo nela se exprime em formas sensíveis, abre-
se uma perigosa oposição entre Aparência e Beleza: oposição que os artistas tentarão manter
entreaberta, mas que um filósofo como Heráclito abrirá em toda a sua amplidão, afirmando que a
Beleza harmônica do mundo se evidencia como casual desordem. Uma segunda antítese é aquela
entre som e visão, as duas formas perceptivas privilegiadas pela concepção grega (provavelmente
porque, ao contrário do cheiro e do sabor, são recondutíveis a medidas e ordens numéricas):
embora se reconheça à música o privilégio de exprimir a alma, é somente às formas visíveis que

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se aplica a definição de belo (Kalón) como “aquilo que agrada e atrai”. Desordem e música vão,
assim, constituir uma espécie de lado obscuro da Beleza apolínea harmônica e visível e como tais
colocam-se na esfera de ação de Dioniso.
Esta diferença é compreensível se pensarmos que uma estátua devia representar uma “ideia”
(presumindo, portanto, uma pacata contemplação), enquanto a música era entendida como algo
que suscita paixões.
(ECO, Umberto. História da beleza. Trad. Eliana Aguiar. Rio de Janeiro, Record, 2004, p. 55-56)

O autor organiza sua argumentação de modo a expor, no terceiro e no quarto parágrafo, a opinião
de que a beleza apolínea tem sido progressivamente substituída pelo conceito moderno de beleza
dionisíaca.
Comentários:
Perceba que a beleza apolínea não tem sido substituída. O que ocorre é uma problemática, uma
ponderação de antíteses sem solução clara. Questão incorreta.

Operadores argumentativos
Para comprovar sua opinião e sua tese, o autor deverá estabelecer algumas relações de sentido
para relacionar suas ideias e seus raciocínios. Para isso, poderá usar conectivos diversos,
conjunções, advérbios, palavras denotativas.
As conjunções são operadores argumentativos, pois ajudam a construir argumentos e relações
lógicas diversas. Em suma, introduzem ideias e argumentos, estabelecendo entre eles relações de
tempo, concessão, condição, proporcionalidade, comparação, conformidade, causa,
consequência, adição, alternância, conclusão, explicação, oposição.
Advérbios e palavras denotativas também funcionam como operadores argumentativos, pois
estabelecem entre argumentos relações de inclusão, exclusão, retificação, realce, prioridade,
predominância, relevância, esclarecimento.
Não vou aprofundar muito aqui, pois já vimos essas relações todas no estudo das classes
(conjunções, advérbios, preposições, palavras denotativas), mas é bom saber que a banca pode
chamar de “operadores argumentativos ou discursivos” esses termos e os sentidos que
estabelecem na construção do texto.
Dessa forma, podemos dizer que as conjunções aditivas são operadores que “somam
argumentos”, as conjunções adversativas “opõem argumentos”, as alternativas “excluem ou
alternam” argumentos, assim por diante.

Estratégias para desenvolver um parágrafo argumentativo


Assim como vimos fórmulas para desenvolver uma Introdução, veremos agora algumas maneiras
de se desenvolver parágrafos argumentativos.

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Há certa semelhança entre algumas técnicas, na medida em que um dado estatístico pode ser
considerado um exemplo ou um esclarecimento, ou ainda uma explicação pode ser considerada
um detalhamento. De toda forma, entender o exemplo é mais importante do que o nome da
estratégia, pois a banca espera que o candidato identifique que os exemplos, esclarecimentos,
detalhamentos ou dados estatísticos, testemunhos de autoridade foram utilizados para fortalecer
uma tese e qual tese é essa.
Exemplificação: destacar alguns casos dentre um universo de fenômenos, para ratificar uma tese.
Ex: Os investimentos diretos realizados por brasileiros no exterior têm aumentado muito
nos últimos anos. Em 2011, somaram US$202,6 bilhões, com crescimento de 7,4% em
relação ao ano anterior, conforme pesquisa divulgada em abril de 2012 pelo Banco Central.
Tópico frasal: Os investimentos têm aumentado.
Confirmação: Por exemplo, em 2011 cresceram em 7,4%.
==cdafe==

Citação de fato histórico: como visto na técnica de Introdução, consiste em trazer um evento do
passado e relacioná-lo ao presente, geralmente para indicar mudança ou manutenção de
tendências.
Ex: O movimento feminista começou a florescer no Brasil na virada do século 20. Diante da
omissão da Constituinte de 1891 acerca do voto feminino, a baiana Leolinda de Figueiredo
Daltro deu entrada no requerimento de seu alistamento eleitoral. Não obteve sucesso, mas
também não entregou os pontos.
Menciona o evento histórico da omissão da constituinte acerca do voto feminino e indica
mudança nesse cenário. Atualmente as mulheres votam.

Ex: Em 23 de dezembro de 1910, fundou no Rio de Janeiro o Partido Republicano Feminista.


O grupo tinha como principal objetivo mobilizar as mulheres pelo direito de votar. Em
novembro de 1917, uma passeata organizada por Leolinda contou com a participação de
90 mulheres. O que hoje não pararia o trânsito deve ter causado horror em distintos
senhores e madames.
Faz contraste entre o escândalo de uma passeata de 90 mulheres em 1917 e indica que
hoje tal evento não seria capaz de parar o trânsito.

Enumeração ou detalhamento: listar sistematicamente tópicos ou aspectos a serem tratados, ou


subdividir um aspecto amplo em aspectos menores nele incluídos:
Ex: A Igreja Católica denuncia a amoralidade e o materialismo pelo vazio espiritual da
moderna civilização. A decomposição das famílias, a violência, a corrupção, as drogas, a
dissolução dos costumes e a falta de solidariedade com os menos afortunados seriam
sintomas de um mundo sem fé.

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O aspecto “Vazio espiritual” é detalhado em subaspectos: a decomposição das famílias, a


violência, as drogas...

Ex: Diversas são as naturezas dos instrumentos de que dispõe o povo para participar
efetivamente da sociedade em que vive. Políticos, sociais ou jurisdicionais, todos eles
destinam-se à mesma finalidade: submeter o administrador ao controle e à aprovação do
administrado. O sufrágio universal, por exemplo, é um mecanismo de controle de índole
eminentemente política — no Brasil, está previsto no art. 14 da Constituição Federal de
1988, que assegura ainda o voto direto e secreto e de igual valor para todos —, que garante
o direito do cidadão de escolher seus representantes e de ser escolhido pelos seus pares.
Enumera as naturezas dos instrumentos: política, social e jurisdicional. Detalha a natureza
política com um exemplo: o sufrágio.

Contraste e Paralelo: ressalta semelhanças ou diferenças entre elementos.


Ex: Atualmente, há duas Américas Latinas. A primeira conta com um bloco de países —
incluindo Brasil, Argentina e Venezuela — com acesso ao Oceano Atlântico, que confere ao
Estado grande papel na economia. A segunda — composta por países de frente para o
Pacífico, como México, Peru, Chile e Colômbia — adota o livre comércio e o mercado livre.

Dados estatísticos: por serem de natureza objetiva, dão credibilidade ao argumento e são grandes
recursos de convencimento.
Ex: Dados do IBGE revelam que apenas 1,2% dos municípios possuíam plano municipal de
redução de riscos em 2011. Nos municípios maiores, com mais de 500 mil habitantes, que
não ultrapassam quatro dezenas, este percentual superava 50%. De modo inverso, nos
municípios menores, com menos de 20 mil habitantes, em torno de quatro mil, este
percentual era de 3,3%. É uma situação bastante preocupante relacionada aos municípios
de grande porte e drástica nos municípios de pequeno porte.
Tópico frasal: poucos municípios grandes têm plano municipal de redução de riscos e
apenas ínfima porcentagem dos pequenos municípios os possui. Note que o tópico frasal
veio após a estatística, sendo sustentado por ela

Ex: Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ajudam a traçar o perfil do eleitor brasileiro
da última eleição. A inclusão política dos brasileiros vem, a cada eleição, consolidando-se e
os dados são irrefutáveis quanto a isso. A cada cinco pessoas aptas a votar nas eleições de
2010, uma era analfabeta ou nunca havia frequentado uma escola. São, ao todo, 27 milhões
de eleitores nessa situação no cadastro do TSE. Desses, oito milhões se declararam
analfabetos e 19 milhões declararam saber ler e escrever, sem, entretanto, nunca terem
estado em uma sala de aula. No total, havia 135,8 milhões de eleitores no país em 2010.

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Tópico frasal: A inclusão política dos brasileiros vem, a cada eleição. Em seguida as
estatísticas fornecidas fundamentam essa tese.

Explicação ou esclarecimento: consiste em explicitar o sentido de uma palavra ou afirmação.


Ex: Com a popularização dos computadores e o desenvolvimento da microeletrônica, a
palavra informação adquiriu um significado diferente. Até então, o seu sentido estava
restrito à transmissão de dados acerca de alguém ou de algo, geralmente notícias de fatos
que chegavam ao receptor com certa defasagem temporal.
Tópico frasal: o sentido da palavra informação mudou.
Explicação: antes significava transmitir dados acerca de alguém ou de algo, hoje significa
outra coisa.

Testemunho de autoridade: para dar credibilidade a uma tese, traz a opinião respeitada de um
especialista que se alinha ou se opõe a ela. Serve como argumento e como contra-argumento.
Ex: Entusiasta do sistema, o supervisor do Posto Fiscal Virtual, em Porto Alegre define o
processo como seletivo, econômico e inteligente. “Esse é o futuro. No mundo, cada vez
mais, a tecnologia substitui a ação humana, que, por mais atuante que possa ser, tem
limitações de tempo, esforço e capacidade pessoal”, afirma o auditor-fiscal. O
processamento eletrônico, destaca, veio para ficar, e isso está ocorrendo em todo o mundo.
“No Chile, temos a fatura eletrônica, que é muito bem-sucedida. Aqui temos a Nota Fiscal
Eletrônica, um sucesso crescente, que quase todos os Estados do país já adotam. É um
rumo sem volta. Este é o caminho”, garante.
Tópico frasal: o processamento eletrônico é vantajoso e veio para ficar.
A opinião do supervisor do posto fiscal, um auditor-fiscal, permeada por exemplos, reforça
essa tese.

Relação causa-efeito: relaciona um fato a sua causa ou explicação.


Ex: Se a China e a Índia hoje surgem no cenário internacional de modo surpreendente, é
porque sabem articular inovadoramente a cultura ocidental moderna com seus
antiquíssimos modos de pensar e agir, demonstrando que o desenvolvimento não se dá
mais em termos lineares e que o futuro não se desenha desprezando e recalcando o
passado.
Causa: Índia e China sabem articular inovadoramente a cultura ocidental moderna.
Efeito: Surgem no cenário internacional de modo surpreendente.

Ex: Sabemos todos que as bombas atômicas fabricadas até hoje são sujas (aliás, imundas)

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porque, depois que explodem, deixam vagando pela atmosfera o já famoso e temido
estrôncio 90.
Causa: Todas as bombas atômicas deixam vagando na atmosfera o temido estrôncio 90.
Efeito: todas as bombas atômicas são consideradas sujas.

Ex: Se vivemos hoje a era do conhecimento é porque nos alçamos em ombros de gigantes
do passado. A Internet representa um poderoso agente de transformação do nosso modus
vivendi et operandi.
Causa: Nós nos alçamos em ombros de gigantes do passado.
Efeito: vivemos hoje a era do conhecimento.

Conforme mencionado, para dar “validade” e “consistência” aos argumentos, é


preciso fundamentá-los. Caso contrário, são mera “opinião”, “mero registro de
subjetividade”.
Uma forma clássica de se construir um argumento é o “silogismo”, raciocínio
dedutivo que parte duas premissas (maior e menor) para chegar a uma conclusão.
Todos os cariocas são brasileiros. (premissa maior)
João é carioca. (premissa menor)
Logo, João é brasileiro. (conclusão)
Quando um silogismo é válido, a relação entre as premissas é verdadeira,
irrefutável e a conclusão é decorrência necessária, inevitável das premissas. Se uma
das premissas for falsa, vai levar a uma conclusão falsa.
Obs: Raciocínio dedutivo é aquele que parte de uma verdade geral para um caso
particular.
No exemplo acima, partimos de um conceito geral e abstrato (todos os cariocas
são brasileiros) e chegamos a uma verdade particular, concreta (João é brasileiro)
Raciocínio indutivo, por outro lado, é o que parte de premissas particulares para
uma generalização, uma conclusão não necessariamente é verdadeira.
Ex: O leão é mamífero/ O leão é feroz.
O lobo é mamífero/ O lobo é feroz.

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O tigre é mamífero/ O tigre é feroz.


O golfinho é mamífero/
Portanto, o golfinho é feroz.
Obs: No estudo rigoroso do raciocínio lógico, que foge ao nosso escopo e tem
regras muito mais específicas, as premissas podem ser absurdas, ser assumidas
como verdadeiras e gerar conclusões absurdas consideradas válidas. Aqui,
estamos trabalhando com o raciocínio de texto.
Ex: Os homens voam, Maria é um homem. Logo, Maria voa. Para o nosso estudo,
argumento consistente é aquele que tem relação de causalidade com as
premissas, ou seja, decorre de premissas verdadeiras e conclui informação
verdadeira.
Também quero registrar o método de raciocínio chamado “dialético”, que
consiste em 3 premissas. A primeira é a tese, a segunda a antítese e a última, a
síntese.
A tese é o ponto de vista do autor, a opinião que ele pretende defender. A antítese
é o contraposto de sua tese, ou seja, é uma opinião contrária. A síntese é a
retomada da tese, após a desconstrução ou invalidação da antítese, ou seja, uma
conclusão que combina elementos das duas. Vejamos o exemplo:
Ex: A juventude é provavelmente a melhor fase para se dedicar ao trabalho (tese).
No entanto, uma juventude sem diversão pode dar a sensação de que trabalhar
não vale a pena (antítese). Portanto, é preciso aproveitar a juventude para produzir
muito, mas sem abandonar totalmente o lazer (síntese).
Essas estruturas aparecem muito frequentemente nos textos argumentativos e
usamos esse tipo de raciocínio o tempo todo, sem perceber, de forma não tão
sistemática.
As relações de causa e efeito são muito semelhantes a um silogismo
"simplificado", pois uma informação vai levar à conclusão de uma outra.
Então, esteja pronto para reconhecer no texto as premissas, os argumentos e as
conclusões do autor.

Por fim, ressalto que, assim como ocorrem nas fórmulas de introdução, os textos trazem diversos
argumentos desenvolvidos conjugando uma ou mais dessas técnicas, Vejamos um exemplo de
prova:

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Entre 1990 e 2010, mais de 96 milhões de pessoas foram afetadas por desastres
no Brasil, como demonstra o Atlas dos Desastres Naturais do Brasil. Destas, mais
de 6 milhões tiveram de deixar suas moradias, cerca de 480 mil sofreram algum
agravo ou doença e quase 3,5 mil morreram imediatamente após os mesmos.
Desastres como o de Petrópolis, que resultaram em dezenas de óbitos, não
existem em um vácuo. Se por um lado exigem a presença de ameaças naturais,
como chuvas fortes, por outro não se realizam sem condições de vulnerabilidade,
constituídas através dos processos sociais relacionados à dinâmica do
desenvolvimento econômico e da proteção social e ambiental. Isto significa que
os debates em torno do desastre devem ir além das cobranças que ano após ano
ficam restritas à Defesa Civil.

Nesse parágrafo argumentativo, o autor traz dados e depois monta uma divisão: por um lado...por
outro.

(PREF. SÃO JOSÉ DO RIO PRETO / 2019 - adaptada)


Rubem Braga, o cronista
Rubem Braga (1913-1990) foi o maior cronista deste país. Não será favor nenhum dizer que foi
também um dos nossos maiores escritores, conquanto não tenha escrito praticamente nada além
de crônicas. O irônico está em que o gênero da crônica é justamente aquele onde se costuma
celebrar a transitoriedade do tempo, a anedota passageira, o pensamento arisco – nada muito
durável. Mas Braga passou por cima disso e escreveu crônicas que não envelhecem.
Talvez o fato de se dedicar exclusivamente a esse gênero explique um pouco da excelência a que
chegou, mas faltaria muito ainda a ponderar: como é que deu uma forma de vida permanente ao
que devia ser efêmero? Onde foi buscar grandeza para cunhar o que é pequeno? Que altura
poética conseguiu dar a uma prosa que corre limpa e elegante, mas em tom de conversa?
O segredo da potência das crônicas de Rubem Braga terá morrido com ele. Mas elas sobrevivem
por conta do gênio dele, que desperta a cada vez que batemos os olhos numa linha, num
parágrafo, numa página sua. Cada crônica do velho Braga tem a intensidade da vida que nos
surpreende a cada momento.
(Teobaldo Ramires, inédito)

Uma causa provável e seu decorrente efeito encontram-se, nessa ordem, neste aspecto da
atividade do cronista: se dedicar exclusivamente a esse gênero / excelência a que chegou.

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Comentários:
O enunciado pede a causa provável e o seu decorrente efeito da vida do cronista, diante da obra
reproduzida.
A sequência "se dedicar exclusivamente a esse gênero / excelência a que chegou " apresenta
exatamente o significado de causa e efeito: pelo fato de o cronista ter se dedicado exclusivamente
ao gênero da crônica (causa), ele conseguiu alcançar a excelência (efeito). Questão correta.

Finalidade predominante dos Textos


Expositivo/Explicativo/Informativo: Expor informações e conhecimentos
Opinativo/Argumentativo: Convencer, defender uma opinião.
Polêmico: Contrabalancear opiniões.
Instrucional: Normatizar, prescrever, ensinar.

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FUNÇÕES DA LINGUAGEM
A comunicação ocorre na interação de vários elementos integrados: um emissor, uma mensagem,
um receptor para essa mensagem, que tem um tema, um assunto, um contexto, um referente.
Há outros elementos: a mensagem é transmitida por determinado “meio”, um “canal”, e utiliza
um determinado sistema de signos conhecidos pelas partes, chamado “código”.
Então, se eu telefono para minha mãe para falar sobre uma possível visita no Natal, teremos os
seguintes elementos nessa situação comunicativa:
Eu serei o locutor (emissor); mamãe será interlocutora (receptora). A mensagem é um “convite
para a ceia de Natal”. O contexto, o assunto, é o próprio feriado. O canal é o telefone e o código,
a língua portuguesa, que ambos compartilhamos.

No contexto de “adequação” ou “inadequação” de uma variante linguística, temos que ponderar


qual é a finalidade daquela situação comunicativa, que se reflete em diversas “funções da
linguagem”.
A depender do objetivo, a linguagem vai “focar” em algum dos elementos envolvidos na
comunicação. Às vezes, o foco do discurso recai sobre o conteúdo do texto; às vezes, sobre a
forma que esse conteúdo é passado. Pode também recair sobre o assunto em si.
Vejamos a característica principal de cada função da linguagem.

FUNÇÃO EMOTIVA:
O foco recai sobre o próprio “emissor”.
O “eu” é o centro da mensagem, que se apresenta como subjetiva e pessoal. Por esse motivo,
reflete o ânimo e as emoções.
Essa função da linguagem predomina em poemas líricos e em prosa intimista.
Como marcas textuais, temos o uso de interjeições, exclamações, reticências, vocativos, verbos
em primeira pessoa, adjetivos valorativos.

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“Eu não gosto do bom gosto


Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus-tratos
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto (...)”.
(Senhas – Adriana Calcanhotto)

Oh? como és linda, mulher que passas


Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias?
(Vinícius de Moraes)

Sinto que viver é inevitável. Posso na primavera ficar horas sentada fumando, apenas
sendo. Ser às vezes sangra. Mas não há como não sangrar pois é no sangue que sinto a
primavera. Dói. A primavera me dá coisas. Dá do que viver E sinto que um dia na
primavera é que vou morrer de amor pungente e coração enfraquecido.
(Clarice Lispector)

FUNÇÃO FÁTICA:
O foco da mensagem recai sobre o próprio “canal” em que ela é transmitida. Visa a testar,

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estabelecer, manter ou encerrar a comunicação.


Nessa função se encaixam as saudações, os iniciadores de conversa, os marcadores
conversacionais de confirmação: alô? Tá ouvindo? Tudo bem? Como vai? Dá licença? Certo? Ok?
Entendeu? Todos comigo? Hein? Falou... Ok.. Bom dia...
Vejamos as tirinhas:

Note que na tirinha do Cascão e do Cebolinha, o efeito de humor é construído justamente pelo
uso da função fática.

FUNÇÃO APELATIVA OU CONATIVA:


O foco recai sobre o interlocutor, o ouvinte. A finalidade é convencê-lo ou influenciá-lo. Por isso,
é permeada por discurso em segunda pessoa (Tu e Você) e verbos no imperativo.
Por objetivar induzir o ouvinte a fazer algo, esta é a linguagem predominante em sermões e em
propaganda.

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FUNÇÃO REFERENCIAL OU DENOTATIVA:


A ênfase está no referente, isto é, no assunto, no conteúdo, na informação.
A linguagem tende a ser objetiva, expositiva, e por isso costuma fazer uso de recursos
impessoalizadores como a terceira pessoa, tempos verbais afirmativos como o futuro e o presente
do indicativo.
A linguagem é concisa e objetiva, típica dos textos jornalísticos, didáticos, científicos e outros que
tenham como finalidade primária informar ou ensinar.

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Aula 13

FUNÇÃO POÉTICA OU CONOTATIVA:


A ênfase está na própria mensagem, na forma em que é construída e transmitida (de forma criativa,
elaborada, com recursos figurativos), diferentemente da função referencial, que foca no conteúdo
em si.
Essa é a linguagem literária, por isso, encontraremos recursos como figuras de estilo ou linguagem
(linguagem conotativa, figurada), neologismos, construções criativas e deliberadamente
recheadas de polissemia e ambiguidade.

Um texto pode ter indícios de várias funções de linguagem, mas uma será considerada
predominante.
Por exemplo, um texto poético pode também estar permeado pela linguagem emotiva,
com muitas referências ao próprio narrador/eu-lírico e seus sentimentos. Porém, a
função predominante será a poética.

Vejamos alguns exemplos de poesias e anúncios criativos que exploram essa função:

Poética
Rio de Janeiro , 1954
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:

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Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
— Meu tempo é quando.
(Vinícius de Moraes)

“...Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
==cdafe==

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,


Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda...”
(Fernando Pessoa, Poema em linha reta)

FUNÇÃO METALINGUÍSTICA:
O foco está no código utilizado na transmissão da mensagem. O código é usado para explicar o
próprio código, ou seja, a língua explica a língua.
Esta aula é um exemplo, pois uso a linguagem para falar sobre a própria linguagem. Além disso,
encontraremos a metalinguagem em verbetes de dicionários, em resenhas, em manuais de
redação e gramáticas, em filmes que falam de filmes, em atores que interpretam atores, em
poemas que falam sobre a poesia.

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Não faças versos sobre acontecimentos.


Não há criação nem morte perante a poesia...
...
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?
(Carlos Drummond de Andrade- Trecho de “Procura da Poesia”)

De Gramática e de Linguagem
E havia uma gramática que dizia assim:
"Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta".
Eu gosto das cousas. As cousas sim !...
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso.
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre,
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
As cousas vivem metidas com as suas cousas.

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E não exigem nada.


Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? Não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão,
Amigo ou adverso...João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João...
Mas o bom mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...
(Mario Quintana)

A metalinguagem também ocorre em outras formas de expressão que não a prosa e a poesia.
Observe as figuras abaixo:

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Para finalizar e facilitar seu entendimento e memorização, deixo aqui um resumo das funções que
acabamos de estudar:

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(ALAP / 2020 - adaptada)


Entrando na Câmara, verifiquei que a grandiosa representação que eu fazia do legislador, não se
me tinha diminuído com o exame da opaca figura do doutor Castro. Era uma exceção, mas
certamente os outros deviam ser quase semideuses, mais que homens, pois eu queria-os com
força e com faculdades capazes de atender e de pesar tão vários fatos, tão desencontradas
considerações, tantas e tão sutis condições da existência de cada e da de todos. Para tirar regras
seguras para a vida total desse entrechoque de paixões, de desejos, de ideias e de vontades, o
legislador tinha que ter a ciência da terra e a clarividade do céu e sentir bem nítido o alvo incerto
para que marchamos, na bruma do futuro fugidio. Quanta penetração! Quanto amor! Que estudo
e saber não lhe eram exigidos! Era preciso tudo, tudo! A Teologia e a Física, a Alquimia! ... Era
preciso saber tudo e sentir tudo! Era na verdade um vasto e levantado ofício!

Os elementos do texto estão predominantemente concentrados no emissor, explícito nas


impressões e exclamações proferidas pelo narrador.
Comentários:
Logo no início, percebe-se que a função emotiva é a que se destaca no texto uma vez que os
verbos são conjugados em primeira pessoa, ou seja, o foco está em quem fala (emissor). Além
disso, as impressões pessoais do emissor ficam explícitas com o uso de exclamações, que denotam
certa admiração.

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Percebe-se que o emissor fica encantado. Por isso, pode-se dizer que a função do texto é a
emotiva já que o foco está em suas impressões pessoais. Questão correta.
(CAU / 2019 - adaptada)

Considerando a relação entre a linguagem e o propósito principal do texto, é correto afirmar que
nele prevalece a função da linguagem denominada apelativa.
Comentários:
A função apelativa tem como característica uma linguagem persuasiva que tem o intuito de
convencer o leitor. É muito utilizada nas propagandas, publicidades e discursos políticos, com o
objetivo de influenciar o receptor por meio da mensagem transmitida.
Perceba que essa não é a função do texto apresentado. Ao contrário, sua função é a de comunicar
de forma objetiva, sem envolver aspectos emotivos ou subjetivos. Questão incorreta.

O mais importante é sempre praticar muito, ler vários textos, tentar responder aos itens e ler nos
comentários qual foi o raciocínio que fundamentou o gabarito. Vá praticando devagar, textos são
longos e levam tempo, mas não há outra forma de melhorar sua leitura senão ler.
Se necessário, faça suas baterias de questões em partes, para não ficar cansado lendo muitos
textos de uma só vez.
Agora que já vimos toda a teoria, é hora de Praticar!

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QUESTÕES COMENTADAS - NARRAÇÃO - FCC


Recordo ainda... e nada mais me importa…
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de desesperança


Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, ai,


Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!


Sou um pobre menino... acreditai…
Que envelheceu, um dia, de repente!...
(QUINTANA, Mario. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2005)

1. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


No poema, o eu lírico mostra-se, sobretudo,
(A) contraditório.
(B) satírico.
(C) nostálgico.
(D) irônico.
(E) resignado.
Comentários:
O poema começa com uma recordação da infância:
Recordo ainda...
Ao final, temos novamente manifestação de desejo de voltar a essa época:

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Eu quero os meus brinquedos novamente!


Portanto, o sentimento é de nostalgia.
Gabarito letra C.

Em Atenas, um devedor, ao ter sua dívida cobrada pelo credor, primeiro pôs-se a pedir-lhe um
adiamento, alegando estar com dificuldade. Como não o convenceu, trouxe uma porca, a única que possuía,
e, na presença dele, colocou-a à venda. Então chegou um comprador e quis saber se a porca era parideira.
Ele afirmou que ela não apenas paria, mas que ainda o fazia de modo extraordinário: para as festas da deusa
Deméter, paria fêmeas e, para as de Atena, machos. E, como o comprador estivesse assombrado com a
resposta, o credor disse: “Mas não se espante, pois nas festas do deus Dioniso ela também vai lhe parir
cabritos.”
(Esopo. Fábulas completas. Tradução de Maria Celeste Dezotti. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 22)
2. FCC / PREF. SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP / 2021
Na fábula, o credor mostra-se
(A) desconfiado.
(B) ingênuo.
(C) sarcástico.
(D) arrependido.
(E) compassivo.
Comentários:
O credor sabe que o devedor está mentindo; para criticar isso e ao mesmo tempo encorajar a venda, na qual
tinha interesse, ele diz que ela vai parir cabritos, o que é obviamente uma ironia, sarcasmo.
E, como o comprador estivesse assombrado com a resposta, o credor disse: “Mas não se espante, pois
nas festas do deus Dioniso ela também vai lhe parir cabritos.”
Gabarito letra C.

1. João Brandão foi ao Aeroporto Internacional para abraçar um amigo dileto, que viajava com destino
ao Paraguai. Pessoa comum despedindo-se de pessoa comum. Mas acontecem coisas. Alguém, informado
da viagem, pedira ao amigo que levasse uma encomenda a Assunção. A encomenda apareceu na hora,
entregue por um senhor que foi logo dizendo:
– O doutor não precisa se incomodar. Eu providencio o despacho e tudo mais.
O avião estava atrasado duas horas, o que não é muito, em comparação com outros atrasos por aí,
inclusive o da chegada do estado de direito. O senhor da encomenda procurou amenizar a espera:
– O doutor não vai ficar duas horas sentado numa dessas cadeiras aí, vendo os minutos se arrastarem.
Espere um momento, que eu dou um jeitinho.
5. Saiu para confabular mais adiante e voltou com a boa nova:
– Por obséquio, me acompanhe até a sala VIP.
– Não é preciso – objetou o meu amigo. – Posso esperar perfeitamente aqui mesmo.

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Aula 13

– Não senhor. Estará melhor lá em cima.


– Acontece que estou aqui com um amigo.
10. − Ele também vai com o doutor.
Não havia remédio senão subir à sala VIP. Seu amigo, encabulado, e João Brandão mais ainda. Seria
indelicado insistir na recusa. E depois, por que não ir àquela sala?
Subiram pelas escadas rolantes, precedidos de um abridor de caminhos, que com o indicador ia
pedindo passagem para os dois ilustres desconhecidos.
Na sala VIP, enorme e vazia, pois há uma hora na vida em que até os VIP escasseiam, João Brandão e
seu amigo foram convidados por um garçom solícito a beber qualquer coisa, a ler revistas, a pedir o que lhes
aprouvesse.
– Obrigado – respondeu o amigo. – Não desejamos nada. Ou você, João, deseja alguma coisa?
15. – Também não. Obrigado.
O garçom insistia:
– Nem um cafezinho, doutor?
Vá lá, um cafezinho. Sorvendo-o a lentos goles, pareciam sorver o espanto de serem promovidos a
VIP.
– Veja como são as coisas, João. Nós aqui na maciota, em poltronas deleitáveis, contemplando
quadros abstratos, e lá embaixo o povo concreto fazendo fila para conferir as passagens ou esperando em
cadeiras padronizadas a hora do embarque.
20. – É mesmo, sô.
– Entretanto eles pagaram imposto como nós, custearam como nós a construção deste edifício, têm
direitos iguais ao nosso de desfrutar as comodidades deste salão, mas na hora de desfrutá-las só nós dois é
que somos convocados.
– Nem me fale. Estou ficando com remorso.
– Vivemos numa república, João. Você acha isso republicano?
– Eu? Eu acho que estou aqui de intrometido. Você ainda passa, porque está levando alguma coisa a
alguém, e por isso lhe conferiram honras de VIP. Mas eu sou apenas acompanhante de um VIP, e
acompanhante por cento e vinte minutos. E agora que você me disse essas coisas, não aguento mais, vou-
me embora já. Desculpe.
25. – Que é isso, João, estava brincando. Pensando bem, o povão foi homenageado em nossas humildes
pessoas. E, como diz o Milton Carneiro na televisão, a vida é curta, e isto é muito bom!
João Brandão quis assimilar o sentimento do amigo, se é que este sentia realmente a doçura da
situação, mas quando a gente é promovida a VIP e não tem estrutura de VIP (é uma coisa que nasce com o
indivíduo, ou não nasce, e jamais lhe será consubstancial)... A verdade é que os dois continuaram ali sem a
menor convicção de serem VIP.
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014)

3. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022

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A voz do personagem mescla-se à voz do narrador, configurando o chamado discurso indireto livre, no
seguinte trecho:
(A) Seria indelicado insistir na recusa. E depois, por que não ir àquela sala? (11º parágrafo)
(B) Alguém, informado da viagem, pedira ao amigo que levasse uma encomenda a Assunção. (1º parágrafo)
(C) – Não é preciso – objetou o meu amigo. – Posso esperar perfeitamente aqui mesmo. (7º parágrafo)
(D) – Obrigado – respondeu o amigo. – Não desejamos nada. Ou você, João, deseja alguma coisa? (14º
parágrafo)
(E) – Eu? Eu acho que estou aqui de intrometido. (24º parágrafo)
Comentários:
No discurso indireto livre, como a própria questão confessa, a voz do narrador se mistura à do personagem
sem aquela clara limitação que ocorre nos discursos direto ou indireto. A marca é geralmente uma pergunta,
sem indicação da autoria:
Seria indelicado insistir na recusa. E depois, por que não ir àquela sala?
Na B, temos discurso indireto. Nas demais, discurso direto. Gabarito letra A.

4. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022 (Utilize o texto da questão anterior)


O narrador recorre a uma expressão paradoxal no seguinte trecho:
(A) “Saiu para confabular mais adiante” (5º parágrafo).
(B) “há uma hora na vida em que até os VIP escasseiam” (13º parágrafo).
(C) “foram convidados por um garçom solícito a beber qualquer coisa” (13º parágrafo).
(D) “Subiram pelas escadas rolantes” (12º parágrafo).
(E) “ia pedindo passagem para os dois ilustres desconhecidos” (12º parágrafo).
Comentários:
Com "paradoxal", a banca quer dizer contraditório, incoerente, aparentemente incongruente. O termo
"ilustre" dá ideia de alguém famoso, conhecido, destacado; o termo "desconhecido", indica exatamente o
contrário. Ao uni-los na mesma expressão, temos uma aparente contradição, pois um anula o outro.
Gabarito letra E.

5. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022 (Utilize o texto da questão 03)


– Não é preciso – objetou o meu amigo. – Posso esperar perfeitamente aqui mesmo. (7º parágrafo)
Ao ser transposto para o discurso indireto, o trecho acima assume a seguinte redação:
(A) O meu amigo objetou que não era preciso, que podia esperar perfeitamente lá mesmo.
(B) O meu amigo objetou: – Não era preciso. Podia esperar perfeitamente lá mesmo.
(C) O meu amigo objetou que não foi preciso, que poderia esperar perfeitamente lá mesmo.
(D) O meu amigo objetou: – Não preciso. Posso esperar perfeitamente aqui mesmo.

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(E) O meu amigo objetou que não precisaria, que esperaria perfeitamente aqui mesmo.
Comentários:
Na passagem para o discurso indireto, a fala não é literal, há verbo declarativo, como "objetar", seguido de
oração substantiva que o complementa; além disso, o presente vai para o pretérito imperfeito: "é"> "era";
"posso">"podia".
Em B e D, temos discurso direto ainda, pois ainda há reprodução literal, Em C e D, os tempos verbais não
foram adaptados corretamente na conversão.
Gabarito letra A.

Em Atenas, um devedor, ao ter sua dívida cobrada pelo credor, primeiro pôs-se a pedir-lhe um
adiamento, alegando estar com dificuldade. Como não o convenceu, trouxe uma porca, a única que possuía,
e, na presença dele, colocou-a à venda. Então chegou um comprador e quis saber se a porca era parideira.
Ele afirmou que ela não apenas paria, mas que ainda o fazia de modo extraordinário: para as festas da deusa
Deméter, paria fêmeas e, para as de Atena, machos. E, como o comprador estivesse assombrado com a
resposta, o credor disse: “Mas não se espante, pois nas festas do deus Dioniso ela também vai lhe parir
cabritos.”
(Esopo. Fábulas completas. Tradução de Maria Celeste Dezotti. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 22)

6. FCC / PREF. SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP / 2021


A fábula mostra que
(A) os homens suportam com facilidade as desgraças, quando veem que os responsáveis por elas também
estão padecendo.
(B) muitos, interessados no próprio lucro, não hesitam nem mesmo em dar falso testemunho de absurdos.
(C) aqueles que enfrentam os primeiros agressores tornam-se temíveis para os demais.
(D) as desgraças se tornam mais cruéis para quem as sofre, quando partem de quem menos se espera.
(E) os ambiciosos, por desejarem mais bens, deixam escapar até o que têm em mãos.
Comentários:
O texto é uma "fábula", história com uma moral. Geralmente traz personagens que são animais
personificados, mas não é obrigatório, como se vê nesse texto.
Resumindo: o credor queria receber, o que dependia da venda da porca do devedor; por isso, alimentou a
propaganda mentirosa da porca mágica que paria cabritos.
Interessado no próprio lucro, deu falso testemunho...
Gabarito letra B.

7. FCC / PREF. SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP / 2021 (Utilize o texto da questão anterior)
Ao ser transposto para o discurso direto, o trecho Ele afirmou que ela não apenas paria, mas que ainda o
fazia de modo extraordinário assume a seguinte redação:
(A) Ele afirmou: − Ela não apenas pariu, mas ainda o fez de modo extraordinário.

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(B) Ele afirmou que ela não apenas pare, mas ainda o faz de modo extraordinário.
(C) Ele afirmou: − Ela não apenas paria, mas ainda o fazia de modo extraordinário.
(D) Ele afirmou que ela não apenas paria, mas ainda o faria de modo extraordinário.
(E) Ele afirmou: − Ela não apenas pare, mas ainda o faz de modo extraordinário.
Comentários:
Na conversão do direto para o indireto, o verbo passa do presente para o pretérito imperfeito. Aqui, faremos
o caminho contrário: paria (pretérito imperfeito) vira pare (presente) e : fazia (pretérito imperfeito) vira faz
(presente). Assim, eliminamos A, C e D.
No discurso indireto, temos verbo de elocução (dizer, perguntar, confessar, responder...) seguido de oração
substantiva que o complemente: disse que... respondeu que... perguntou se... Então, a B está ainda em
discurso indireto. Estamos convertendo para o direto, por isso eliminamos também a B.
(indireto) Ele afirmou que ela não apenas paria, mas que ainda o fazia de modo extraordinário
(direto) Ele afirmou: − Ela não apenas pare, mas ainda o faz de modo extraordinário.
Gabarito letra E.

Esta coisa é a mais difícil de uma pessoa entender. Insista. Não desanime. Parecerá óbvio. Mas é
extremamente difícil de se saber dela. Pois envolve o tempo.
Nós dividimos o tempo quando ele na realidade não é divisível. Ele é sempre e imutável. Mas nós
precisamos dividi-lo. E para isso criou-se uma coisa monstruosa: o relógio.
Não vou falar sobre relógios. Mas sobre um determinado relógio. O meu jogo é aberto: digo logo o
que tenho a dizer e sem literatura. Este relatório é a antiliteratura da coisa.
O relógio de que falo é eletrônico e tem despertador. A marca é Sveglia, o que quer dizer “acorda”.
Acorda para o que, meu Deus? Para o tempo. Para a hora. Para o instante. Esse relógio não é meu. Mas
apossei-me de sua infernal alma tranquila.
Não é de pulso: é solto portanto. Tem dois centímetros e fica de pé na superfície da mesa. Eu queria
que ele se chamasse Sveglia mesmo. Mas a dona do relógio quer que se chame Horácio. Pouco importa. Pois
o principal é que ele é o tempo.
(LISPECTOR, Clarice. O relatório da coisa. In: Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980, p. 75)

8. FCC / SEFAZ-SC / 2021


A coisa difícil de uma pessoa entender de que fala o narrador em seu relatório se evidencia em:
(A) A marca é Sveglia, o que quer dizer “acorda”.
(B) Pois o principal é que ele é o tempo.
(C) Nós dividimos o tempo quando ele na realidade não é divisível.
(D) Não vou falar sobre relógios.
(E) Mas apossei-me de sua infernal alma tranquila.
Comentários:

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Pessoal, essa questão é muuuito capciosa e a maioria das pessoas errou. Normal... Parece bem lógico pensar
que a coisa que não se entende é o tempo. Aí, o gabarito natural seria a letra C, não é?
Pois bem, vejam por que não poderia ser a letra C:
Esta coisa é a mais difícil de uma pessoa entender. Insista. Não desanime. Parecerá óbvio. Mas é
extremamente difícil de se saber dela. Pois envolve o tempo.
O texto diz: a coisa "envolve o tempo"; então não pode ser o próprio tempo! Está se falando do relógio! Que
é algo muito doido, se você pensar: marca algo que não existe, o tempo! As divisões do tempo, marcos que
são ilusões.
O relógio de que falo é eletrônico e tem despertador. A marca é Sveglia, o que quer dizer “acorda”. Acorda
para o que, meu Deus? Para o tempo.
Por isso, o gabarito não poderia ser o próprio tempo, mas sim o relógio e o despertador, uma coisa difícil de
entender, pois em tese, divide o indivisível, que nem sequer existe.
Para não restar dúvida de que o foco é o relógio:
Pouco importa. Pois o principal é que ele (o relógio) é o tempo.
Gabarito letra A.

9. FCC / PREF. RECIFE / 2022 (Utilize o texto da questão anterior)


Ao ser transposto para o discurso indireto, o trecho − Pode ser isso − concordou seu Adelino assume a
seguinte redação:
(A) Seu Adelino concordou que podia ser aquilo.
(B) Seu Adelino concordou que pudera ser aquilo.
(C) Seu Adelino concordou: − Podia ser isso.
(D) Seu Adelino concordou que poderá ser aquilo.
(E) Seu Adelino concordou: − Poderia ser isso.
Comentários:
Na passagem para o discurso indireto, o verbo no presente deve ser passado para o pretérito imperfeito:
pode->podia.
(A) Seu Adelino concordou que podia ser aquilo.
Nas letras B e D, os verbos não estão no pretérito imperfeito. Em C e E, a frase continua no discurso direto,
com reprodução literal.
Gabarito letra A.

1. Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele
mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia.
Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de uma viúva, senhora de condição
mediana e parcos meios de vida; mas, tão acanhada, que os suspiros do namorado ficavam sem eco.
Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, que é o presente Rubião, fez todo o possível para casá-los.
Piedade resistiu, um pleuris a levou.

TJ-BA - Língua Portuguesa - 2023 (Pós-Edital) 57


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2. Foi esse trechozinho de romance que ligou os dois homens. Saberia Rubião que o nosso Quincas Borba
trazia aquele grãozinho de sandice, que um médico supôs achar-lhe? Seguramente, não; tinha-o por homem
esquisito. É, todavia, certo que o grãozinho não se despegou do cérebro de Quincas Borba, − nem antes, nem
depois da moléstia que lentamente o comeu. Quincas Borba tivera ali alguns parentes, mortos já agora em
1867; o último foi o tio que o deixou por herdeiro de seus bens. Rubião ficou sendo o único amigo do filósofo.
Regia então uma escola de meninos, que fechou para tratar do enfermo. Antes de professor, metera ombros
a algumas empresas, que foram a pique.
3. Durou o cargo de enfermeiro mais de cinco meses, perto de seis. Era real o desvelo de Rubião, paciente,
risonho, múltiplo, ouvindo as ordens do médico, dando os remédios às horas marcadas, saindo a passeio com
o doente, sem esquecer nada, nem o serviço da casa, nem a leitura dos jornais, logo que chegava a mala da
Corte ou a de Ouro Preto.
4. − Tu és bom, Rubião, suspirava Quincas Borba.
5. − Grande façanha! Como se você fosse mau!
==cdafe==

6. A opinião ostensiva do médico era que a doença do Quincas Borba iria saindo devagar. Um dia, o nosso
Rubião, acompanhando o médico até à porta da rua, perguntou-lhe qual era o verdadeiro estado do amigo.
Ouviu que estava perdido, completamente perdido; mas, que o fosse animando. Para que tornar-lhe a morte
mais aflitiva pela certeza...?
7. − Lá isso, não, atalhou Rubião; para ele, morrer é negócio fácil. Nunca leu um livro que ele escreveu, há
anos, não sei que negócio de filosofia...
8. − Não; mas filosofia é uma coisa, e morrer de verdade é outra; adeus.
(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)

10. FCC / PGE-AM / 2022


Implícita à afirmação do médico de que filosofia é uma coisa, e morrer de verdade é outra (8º parágrafo) está
a oposição entre
(A) teoria e prática.
(B) razão e loucura.
(C) brutalidade e delicadeza.
(D) liberdade e submissão.
(E) comprometimento e descaso.
Comentários:
Esta é a essência do comentário: racionalizar a morte teórica, numa filosofia, uma mera "ideia" é fácil;
"morrer" na prática, sofrer a morte real, isso é bem difícil.
Gabarito letra A.

11. FCC / PGE-AM / 2022 (Utilize o texto da questão anterior)


O narrador dirige-se diretamente a seu leitor no seguinte trecho:
(A) − Grande façanha! Como se você fosse mau! (5º parágrafo).

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(B) Rubião ficou sendo o único amigo do filósofo. (2º parágrafo).


(C) Chamava-se Maria da Piedade. (1º parágrafo).
(D) Aqui o tens agora em Barbacena. (1º parágrafo).
(E) − Tu és bom, Rubião, suspirava Quincas Borba. (4º parágrafo).
Comentários:
Observe o pronome de segunda pessoa (o interlocutor) implícito pelo verbo "tens": Aqui (tu, leitor) o tens
agora em Barbacena.
Gabarito letra D.

12. (FCC / COPERGÁS / ADMINISTRADOR / 2016)


A velhinha contrabandista
Todos os dias uma velhinha atravessava a ponte entre dois países, de bicicleta e carregando uma bolsa. E
todos os dias era revistada pelos guardas da fronteira, à procura de contrabando. Os guardas tinham certeza
que a velhinha era contrabandista, mas revistavam a velhinha, revistavam a sua bolsa e nunca encontravam
nada. Todos os dias a mesma coisa: nada. Até que um dia um dos guardas decidiu seguir a velhinha, para
flagrá-la vendendo a muamba, ficar sabendo o que ela contrabandeava e, principalmente, como. E seguiu a
velhinha até o seu próspero comércio de bicicletas e bolsas.
Como todas as fábulas, esta traz uma lição, só nos cabendo descobrir qual. Significa que quem se
concentra no mal aparentemente disfarçado descuida do mal disfarçado de aparente, ou que muita atenção
ao detalhe atrapalha a percepção do todo, ou que o hábito de só pensar o óbvio é a pior forma de distração.

Os dois parágrafos que compõem o texto constituem-se, respectivamente, de uma


a) tese exposta de modo categórico e sua demonstração factual.
b) narrativa de sentido intrigante e sua elucidação aberta em hipóteses.
c) narrativa de propósito moral e sua contestação no confronto com outro fato.
d) fábula de sentido enigmático e a busca inútil de seu esclarecimento.
e) fábula formulada como hipótese e a confirmação cabal de seu sentido.
Comentários:
Pessoal, essa questão causa muita dúvida. Era preciso ir direto no que se tem certeza e não ficar “sonhando”
com as alternativas nebulosas.
O enunciado diz “dois parágrafos, respectivamente”, ou seja, o primeiro parágrafo corresponde à primeira
metade do enunciado. O segundo corresponde à segunda metade.
O primeiro parágrafo, sem dúvidas, é uma narrativa: conta uma história, com enredo, personagens
(“velhinha”; “guardas da fronteira”), sequência cronológica de ações (verbos no pretérito “seguiu”,
“decidiu”); presença de expressões adverbiais de tempo (“todos os dias”; “até que”). A resposta, portanto,
seria a letra c ou a letra b. Se você parar para pensar, a narrativa deixa o leitor curioso para saber o que está
sendo contrabandeado. É “intrigante”. Já melhorou muito, certo?

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O problema da letra C é a segunda metade: não há “sua contestação no confronto com outro fato”. A
narrativa não é “contestada”, é reafirmada. Não há esse “confronto” com outro fato, sequer podemos dizer
que há outro fato. A segunda parte é uma confirmação da moral da fábula: “Como todas as fábulas, esta traz
uma lição”. Confronto haveria se a segunda parte desmentisse ou desafiasse a premissa da primeira parte.
O que ocorre é uma constatação: assim como ocorre na parte 1 (guardas foram enganados pela velhinha
várias vezes), ocorre na parte 2 (outras “fábulas” hipotéticas em que “só pensar o óbvio é a pior forma de
distração”). As duas metades se alinham, não se confrontam.
A “elucidação aberta em hipóteses” se refere ao esclarecimento (“significa que”) da moral da história, do
“erro” dos guardas, dividida (aberta) em alternativas (hipóteses):
1) quem se concentra no mal aparentemente disfarçado descuida do mal disfarçado de aparente,
2) ou que muita atenção ao detalhe atrapalha a percepção do todo,
3) ou que o hábito de só pensar o óbvio é a pior forma de distração.
Dessa forma, o gabarito é a letra B.

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QUESTÕES COMENTADAS - DISSERTAÇÃO - FCC


As calçadas
As calçadas O inglês tem um verbo curioso, to loiter, que quer dizer, mais ou menos, andar devagar
ou a esmo, ficar à toa, zanzar (grande palavra), vagabundear, ou simplesmente não transitar. E nos Estados
Unidos (não sei se na Inglaterra também), loitering é uma contravenção. Você pode ser preso por loitering,
por estar parado em vez de transitando, numa calçada. O que diferencia um abusivo loitering de uma apenas
inocente ausência de movimento ou de direção depende, imagino, da interpretação do guarda, ou também
daquela sutil subjetividade que também define o que é uma “atitude suspeita”.
Mas é difícil pensar em outra coisa que divida mais claramente o mundo anglo-saxão do mundo latino
do que o loitering, que não tem nem tradução exata em língua românica, que eu saiba. Se loitering fosse
contravenção na Itália, onde ficar parado na rua para conversar ou apenas para ver os que transitam
transitarem é uma tradição tão antiga quanto a sesta, metade da população viveria na cadeia. Na Espanha,
toda a população viveria na cadeia.
Talvez a diferença entre a América e a Europa, e a vantagem econômica da América sobre os povos
que zanzam, se explique pelos conceitos diferentes de calçada: um lugar utilitário por onde se ir (e, claro,
voltar) ou um lugar para se estar, de preferência com outros. Os franceses, apesar de latinos, não costumam
usar tanto a calçada como sala, não porque tenham se americanizado para aumentar a produção, mas
porque preferem usá-la como café, e estar com outros sentados. Desperdiça-se tempo, mas ganham-se anos
de vida, parados numa calçada.
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 69-70)

1. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


Considere esta frase:
O que diferencia um abusivo loitering de uma apenas inocente ausência de movimento depende da
interpretação do guarda.
Uma nova, correta e coerente redação dessa frase poderia assim se constituir: A depender da interpretação
do guarda,
(A) se estabelece a distinção entre o abuso do loitering e a mera falta de movimento.
(B) o abusivo loitering e a ingênua falta de movimentação seriam indiferentes.
(C) tanto seria inocente o loitering como abusiva a simples falta de movimentação.
(D) diferenciariam-se tanto uma prática inocente como uma ação abusiva do loitering.
(E) ainda que fosse inocente a ausência de movimento, poderia ser abusivo o loitering.
Comentários:
Aqui, a banca trabalha a reescritura: o que diferencia X de Y (loitering abusivo de ficar parado
inocentemente)> se estabelece a distinção (diferença) entre abuso do loitering e mera falta de movimento.
Vejamos erros nas demais:

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(B) o abusivo loitering e a ingênua falta de movimentação seriam indiferentes.


Não são "indiferentes", fala-se da distinção entre uma atitude e outra.
(C) tanto seria inocente o loitering como abusiva a simples falta de movimentação.
Aqui há sentido de adição, dizendo que o loitering é inocente e a falta de movimentação é abusiva. É o
contrário, a reescritura é incoerente.
(D) diferenciariam-se tanto uma prática inocente como uma ação abusiva do loitering.
Não pode haver ênclise com futuro do pretérito.
(E) ainda que fosse inocente a ausência de movimento, poderia ser abusivo o loitering.
Incoerente de novo: se for ausência inocente de movimento, não seria loitering, por definição.
Gabarito letra A.

[Ritmos da civilização]
Se um camponês espanhol tivesse adormecido no ano 1.000 e despertado quinhentos anos depois, ao
som dos marinheiros de Colombo a bordo das caravelas Nina, Pinta e Santa Maria, o mundo lhe pareceria
bastante familiar. Esse viajante da Idade Média ainda teria se sentido em casa. Mas se um dos marinheiros
de Colombo tivesse caído em letargia similar e despertado ao toque de um iPhone do século XXI, se
encontraria num mundo estranho, para além de sua compreensão. “Estou no Céu?”, ele poderia muito bem
se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
Os últimos quinhentos anos testemunharam um crescimento fenomenal e sem precedentes no
poderio humano. Suponha que um navio de batalha moderno fosse transportado de volta à época de
Colombo. Em questão de segundos, poderia destruir as três caravelas e em seguida afundar as esquadras de
cada uma das grandes potências mundiais. Cinco navios de carga modernos poderiam levar a bordo o
carregamento das frotas mercantes do mundo inteiro. Um computador moderno poderia facilmente
armazenar cada palavra e número de todos os documentos de todas as bibliotecas medievais, com espaço
de sobra. Qualquer grande banco de hoje tem mais dinheiro do que todos os reinos do mundo pré-moderno
reunidos.
Durante a maior parte da sua história, os humanos não sabiam nada sobre 99,99% dos organismos
do planeta – em especial, os micro-organismos. Foi só em 1674 que um olho humano viu um micro-organismo
pela primeira vez, quando Anton van Leeuwenhock deu uma espiada através de seu microscópio caseiro e
ficou impressionado ao ver um mundo inteiro de criaturas minúsculas dando volta em uma gota d’água. Hoje,
projetamos bactérias para produzir medicamentos, fabricar biocombustível e matar parasitas.
Mas o momento mais notável e definidor dos últimos 500 anos ocorreu às 5h29m45s da manhã de 16
de julho de 1945. Naquele segundo exato, cientistas norte-americanos detonaram a primeira bomba atômica
em Alamogordo, Novo México. Daquele ponto em diante, a humanidade teve a capacidade não só de mudar
o curso da história como também de colocar um fim nela. O processo histórico que levou a Alamogordo e à
Lua é conhecido como Revolução Científica. Ao longo dos últimos cinco séculos, os humanos passaram a
acreditar que poderiam aumentar suas capacidades se investissem em pesquisa científica. O que ninguém
poderia imaginar era em que aceleração frenética tudo se daria.
(Adaptado de: HARARI, Yuval Noah. Uma breve história da humanidade. Trad. Janaína Marcoantonio. Porto Alegre: L&PM, 2018,
p. 257-259, passim)

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2. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


A tese central do autor do texto é a de que
(A) a inovação da área tecnológica depende de feitos históricos algo aleatórios, a partir dos quais tudo se
revoluciona.
(B) a marcha da nossa civilização, desde os primórdios, vem ocorrendo numa progressão contínua, em ritmo
tão regular como irrefreável.
(C) nos últimos cinco séculos a humanidade vem experimentando uma cada vez mais rápida sucessão de
conquistas científicas.
(D) desde o início da Idade Média a tecnologia vem propiciando fulminantes avanços, sobretudo no campo
das ciências naturais.
(E) o ritmo dos feitos mais recentes da nossa ciência parece ter sofrido relativa retração, se comparado ao
de períodos anteriores.
Comentários:
Vamos lá, as próprias alternativas denunciam o gabarito. O exemplo do marinheiro serve para indicar que
de 1000 a 1500 não houve tanta evolução do progresso humano quanto de 1500 em diante, nem de perto.
Por isso, o marinheiro estranharia. Isso consta em:
(C) nos últimos cinco séculos a humanidade vem experimentando uma cada vez mais rápida sucessão de
conquistas científicas.
Gabarito letra C.
Vejamos as demais.
(A) Incorreto. Não disse que são aleatórios! Além disso, nem sempre tudo se revoluciona, tanto é assim que
ele menciona período de 500 anos com pouco avanço.
(B) Incorreto. Não é contínua, saltou nos últimos 5 séculos.
(D) Incorreto. Fulminante mesmo só nos últimos séculos.
(E) Incorreto. Retração nada, aceleração nos últimos séculos.

3. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


De acordo com o que se afirma no parágrafo
(A) quarto, o primado da ciência e da tecnologia pode levar a consequências históricas drasticamente
diferentes.
(B) primeiro, nunca houve tanta defasagem entre estágios tecnológicos como a que ocorreu entre um
camponês espanhol e um marinheiro de Colombo.
(C) segundo, as vantagens trazidas pelo advento da computação são de ordem quantitativa, não alterando
os efeitos naturais dos eventos.
(D) terceiro, os homens só vieram a saber da existência de micro-organismos depois que um microscópio
lhes facultou a produção de bactérias.

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(E) quarto, a Revolução Científica teve como marcos históricos iniciais a invenção da bomba atômica e a
tecnologia que levou o homem à Lua.
Comentários:
Na letra A, temos referência ao avanço científico e tecnológico, que revolucionou a história, mas também
gerou uma consequência imprevista: a capacidade de acabar com o mundo inteiro. Vejam:
Mas o momento mais notável e definidor dos últimos 500 anos ocorreu às 5h29m45s da manhã de 16
de julho de 1945. Naquele segundo exato, cientistas norte-americanos detonaram a primeira bomba atômica
em Alamogordo, Novo México. Daquele ponto em diante, a humanidade teve a capacidade não só de mudar
o curso da história como também de colocar um fim nela. O processo histórico que levou a Alamogordo e à
Lua é conhecido como Revolução Científica. Ao longo dos últimos cinco séculos, os humanos passaram a
acreditar que poderiam aumentar suas capacidades se investissem em pesquisa científica. O que ninguém
poderia imaginar era em que aceleração frenética tudo se daria.
Vejamos as demais.
(B) Incorreto. A defasagem é entre os períodos, não entre as pessoas. Seria necessário saber a época do
camponês espanhol apenas para começar uma comparação assim.
(C) Incorreto. Altera sim, a revolução digital mudou o mundo em todos os sentidos.
(D) Incorreto. Viu o micro-organismo em 1674, apenas hoje produz bactérias. São momentos distintos.
(E) Incorreto. Não foi "inicial", isso aconteceu mais para o fim do período, mais recentemente.
Gabarito letra A.

4. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


“Estou no Céu?”, ele poderia muito bem se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
Caso o autor do texto optasse por usar o discurso indireto, o segmento acima deveria apresentar a seguinte
construção: Ele poderia muito bem se perguntar
(A) consigo mesmo: onde estou, este é o Céu ou o Inferno?
(B) se estou no Céu, ou no Inferno, quem sabe?
(C) aonde estaria eu, se no Céu, talvez, ou no Inferno.
(D) onde estaria, se no Céu, ou se no Inferno.
(E) onde haverá de estar: no Céu ou no Inferno?
Comentários:
Pessoal, se o discurso é indireto, não pode estar na primeira pessoa. Assim, eliminamos todas as alternativas
que trazem "eu", A, B e C. Na E, temos sinal de dois-pontos, indicando ainda discurso direto, bem como verbo
no futuro, quando deveria estar no pretérito.
Gabarito letra D.

Ponderação, a mais desmoralizada das virtudes


Precisamos reabilitar a ponderação, nem que seja apenas como subproduto da perplexidade, aquilo

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que faz o marinheiro levar o barco devagar sempre que o nevoeiro é denso. Como ocorre em nosso tempo.
O fogo selvagem que inflamou ao longo da história as turbas linchadoras do “diferente” que é visto
como ameaça − corporificado em bruxas, negros, judeus, homossexuais, loucos, ciganos, gagos − é hoje
condenado por (quase) todo mundo.
No entanto, o mesmo fogo selvagem inflama as turbas linchadoras que se julgam investidas do direito
sagrado de vingar bruxas, negros, judeus, homossexuais, loucos, ciganos, gagos etc. Quem acha que o
primeiro fogo é ruim e o segundo é bom não entendeu nada.
Representa um inegável avanço civilizatório a exposição, nas redes sociais, de comportamentos
opressivos ancestrais que sempre estiveram naturalizados em forma de assédio, desrespeito, piadinhas
torpes e preconceitos variados. Ao mesmo tempo, é um claro retrocesso que o avanço se dê à custa da
supressão do direito de defesa e do infinito potencial de injustiça contido no poder supremo de um juiz sem
rosto.
(Sérgio Rodrigues, Folha de S. Paulo, 16/11/2017)

5. FCC / SEDU-ES / 2022


Uma interpretação adequada da construção integral desse texto deve reconhecer que o
(A) título dele promove a devida desmoralização das virtudes, que o autor acredita só ser possível mediante
o recurso da ponderação.
(B) primeiro parágrafo considera que a perplexidade do nosso tempo histórico pode levar-nos a ponderar e
agir com prudência diante das instabilidades modernas.
(C) segundo parágrafo admite que a selvageria com que são tratados os “diferentes” não sofre qualquer
contestação por parte da opinião pública.
(D) terceiro parágrafo comprova que hoje já não se aceitam violências que possam lembrar, de algum modo,
as que já se praticaram contra certas comunidades.
(E) quarto parágrafo acentua a necessidade de se naturalizar, por via das redes sociais, medidas duramente
repressivas, para que se faça justiça a quem já foi oprimido.
Comentários:
A) Incorreto. Promove a moralização de uma das virtudes mais desmoralizadas: a ponderação.
B) Correto. Isso ele indica com o seguinte trecho:
Precisamos reabilitar a ponderação, nem que seja apenas como subproduto da perplexidade, aquilo
que faz o marinheiro levar o barco devagar sempre que o nevoeiro é denso. Como ocorre em nosso tempo.
Subproduto é um "resultado", então a ponderação teria de vir ainda que fosse como efeito da perplexidade
do nosso tempo.
C) Incorreto. Quase todo mundo condena, "quase" indica que não são todos.
D) Incorreto. Os "perseguidores" e os "vingadores" dividem o mesmo fogo selvagem, é o que o parágrafo
traz.
No entanto, o mesmo fogo selvagem inflama as turbas linchadoras que se julgam investidas do direito
sagrado de vingar bruxas, negros, judeus, homossexuais, loucos, ciganos, gagos etc. Quem acha que o
primeiro fogo é ruim e o segundo é bom não entendeu nada.

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E) Incorreto. Essa alternativa sugere que se deve naturalizar o fogo da vingança, exatamente o contrário do
que o autor defende.
Gabarito letra B.

6. FCC / SEDU-ES / 2022


O sentido da ponderação anunciada no título e considerada ao longo do texto deve ser entendido, de modo
conclusivo, da seguinte forma:
(A) os vícios e os preconceitos de outras épocas precisam ser reparados na justa proporção da violência final
a que agora fazem jus os que foram violentados.
(B) os assédios, o desrespeito e os abusos devem nos fazer refletir sobre a razão de serem naturalizados
justamente por aqueles que mais os sofreram.
(C) é um premente desafio preservar a reflexão comedida como uma resposta civilizada a violências antigas,
que não devem inspirar os lances injustos de uma suposta reparação.
(D) há equilíbrio social, a ser preservado em seus valores básicos, quando se considera como natural a
justificativa da supressão temporária dos chamados direitos individuais.
(E) deve prevalecer sempre a necessidade que têm os setores oprimidos da sociedade de se submeterem ao
poder discriminatório e rigoroso de um juiz anônimo.
Comentários:
A ponderação, segundo o autor, está em desuso. A resposta a atos supostamente praticados contra minorias
chega a ser desproporcional à violência original. Isso também é um problema grave e urgente.
Temos então que a ponderação é um premente desafio preservar a reflexão comedida como uma resposta
civilizada a violências antigas, que não devem inspirar os lances injustos de uma suposta reparação.
Vejamos as demais
A) Incorreto. Essa alternativa defende um "olho por olho, dente por dente"; não é a ideia do autor, que
critica o revanchismo mais inflamado que a própria perseguição das minorias.
B) Incorreto. Os que sofreram não naturalizam o assédio de que foram vítimas.
D) Incorreto. Que absurdo! Não há nada de ser natural justificar supressão de direitos individuais, que aliás
nem foram mencionados no texto.
E) Incorreto. Outro absurdo. Essa alternativa diz que os oprimidos têm necessidade de serem discriminados.
Gabarito letra C.

7. FCC / SEDU-ES / 2022


O autor se vale da frase faz o marinheiro levar o barco devagar sempre que o nevoeiro é denso para figurar,
de modo expressivo, a
(A) necessária e impetuosa reação nossa diante dos que negam a legitimidade dos valores que resolvemos
defender.
(B) súbita perplexidade que por vezes nos impede de reagir quando confrontados com forças que
consideramos superiores às nossas.

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(C) rígida defesa dos nossos valores a cada vez que forem contestados pelas pessoas que escolheram valores
opostos.
(D) conformada aceitação das razões alheias quando se mostrem mais estáveis do que aquelas a que
recorremos para justificar nossos atos.
(E) moderação que deve pautar nossas reações em situações cujos contornos não se apresentem
satisfatoriamente nítidos.
Comentários:
Sejamos objetivos, o examinador quer saber se você entendeu a metáfora do marinheiro. O marinheiro
avança devagar no nevoeiro porque não há clareza do caminho a frente, isso acontece também no nosso
mundo, as situações não são claras; então deveríamos ter mais cautela e equilíbrio (ponderação) ao tratar
de questões complexas.
Isso consta em: moderação que deve pautar nossas reações em situações cujos contornos não se apresentem
satisfatoriamente nítidos.
Gabarito letra E.

8. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO / 2020)


ILUMINAÇÃO − 7:800$000
A Prefeitura foi intrujada quando, em 1920, aqui se firmou um contrato para o fornecimento de luz. Apesar
de ser o negócio referente a claridade, julgo que assinaram aquilo às escuras. É um BLUFF*. Pagamos até a
luz que a lua nos dá.
*BLUFF expressão inglesa que foi aportuguesada como “blefe”: atitude enganadora, em jogo de cartas, que
busca iludir o adversário.
Por se tratar de um fragmento de um relatório administrativo, o texto é predominantemente
A) argumentativo, porque apresenta análises de dados e busca persuadir um interlocutor específico.
B) literário, porque foi escrito por Graciliano Ramos, célebre escritor da Literatura Brasileira.
C) didático, porque é um excelente modelo de como se escrever relatórios de administração pública.
D) informativo, porque traz dados, ações e resultados alcançados em um determinado período.
E) descritivo, porque relata fatos e situações típicas de uma cidade do interior do país.
Comentários:
Como a banca já informou que o texto é um relatório (ou seja, esse é o gênero textual), você deverá saber o
que faz um relatório, ou melhor, para que ele serve. Sabemos que o relatório tem a finalidade de colher
dados e informações.
Neste caso, temos inclusive um tom de ironia e o autor acaba por ser até exagerado. Portanto, Gabarito:
Letra D.

9. (FCC / ISS SÃO LUIZ / AUD. FISCAL DE TRIBUTOS / 2018)

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A vida privada não é uma realidade natural, dada desde a origem dos tempos: é uma realidade histórica.
A história da vida privada é, em primeiro lugar, a história de sua definição: como evoluiu sua distinção na
sociedade francesa do século XX? Como o domínio da vida privada variou em seu conteúdo e abrangência?
A questão é tanto mais importante na medida em que não é certo que seu contorno tenha o mesmo
sentido em todos os meios sociais. Para a burguesia da Belle Époque1, não há nenhuma dúvida: o “muro da
vida privada” separa claramente os domínios. Por trás desse muro protetor, a vida privada e a família
coincidem com bastante exatidão. Esse domínio abrange as fortunas, a saúde, os costumes, a religião: se os
pais que querem casar os filhos consultam o notário ou o pároco para “tomar informações” sobre a família
de um eventual pretendente, é porque a família oculta cuidadosamente ao público o tio fracassado, o irmão
de costumes dissolutos e o montante das rendas. E Jaurès2, respondendo a um deputado socialista que lhe
censurava a comunhão solene da filha: “Meu caro colega, você sem dúvida faz o que quer de sua mulher, eu
não”, marcava com grande precisão a fronteira entre sua existência de político e sua vida privada.
Essa separação era organizada por uma densa teia de prescrições. A baronesa Staffe3, por exemplo, cita:
“Quanto menos relações mantemos com a vizinhança, mais merecemos a estima e consideração dos que nos
cercam”, “não devemos falar de assuntos íntimos com os parentes ou amigos que viajam conosco na
presença de desconhecidos”. O apartamento ou a casa burguesa, aliás, se caracterizam por uma nítida
diferença entre as salas para as visitas e os demais aposentos. O lugar da família propriamente dita não é o
salão: as crianças não entram no aposento quando há visitas e, como explica a baronesa, as fotos de família
ficariam deslocadas nesse recinto. Ademais, as salas de visitas não são abertas a todos. Se toda dama da boa
sociedade tem seu “dia” de receber − em 1907, são 178 em Nevers4 −, a visita à esposa de um figurão supõe
uma apresentação prévia. As salas de recepção estabelecem, portanto, um espaço de transição para a vida
privada propriamente dita.
(Adaptado de: PROST, Antoine. Fronteiras e espaços do privado. In: PROST, Antoine; VINCENT, Gérard (orgs.).
História da vida privada 5: Da Primeira Guerra a nossos dias. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009, p. 14 e 15.)
Obs.:
1 Período de cultura cosmopolita na história da Europa que vai de fins do século XIX até a eclosão da Primeira
Guerra Mundial.
2 Jean Léon Jaurès (1859-1914): político socialista francês.
3 Pseudônimo de Blanche-Augustine-Angèle Soyer (1843-1911), autora francesa, célebre em seu tempo pela
obra Uso do mundo, sobre como saber viver na sociedade moderna.
4 Região da França, ao sul-sudeste
No processo argumentativo,
(A) a consulta dos pais é mencionada porque constitui a causa de as famílias ocultarem cuidadosamente ao
público fatos que poderiam ser considerados socialmente nocivos. (2º parágrafo)
(B) a resposta de Jaurès é citada para, na composição do painel da vida francesa, destacar que, já em fins do
século XIX e começo do XX, havia críticas a políticos que usavam a vida particular para alavancar suas
pretensões de homem público. (2º parágrafo)
(C) a presença do advérbio aliás sinaliza um oportuno acréscimo ao já dito acerca dos domínios da vida
privada, agora demarcados pelo próprio espaço físico da burguesia francesa do século XX. (3º parágrafo)
(D) a menção a família propriamente dita delimita, no contexto do objeto focalizado, a referência a “aqueles
que descendem de um casal”. (3º parágrafo)

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(E) a alusão a notário ou pároco faz parte da caracterização da sociedade da Belle Époque, com o intuito de
demonstrar que a eles cabia, respectivamente, a responsabilidade pelas fortunas e pela vida religiosa das
famílias. (2º parágrafo)
Comentários:
Vejamos:
a) Incorreto. A consulta aos párocos é na verdade a consequência de esconderem os “podres” do público.
Então, para saber os fatos socialmente nocivos que eram ocultados, era necessário então consultar pessoas
que tivessem acesso privilegiado à intimidade da família (vida privada).
b) Incorreto. A resposta foi mencionada para marcar “com grande precisão a fronteira entre sua existência
de político e sua vida privada.”
c) Correto. A expressão “aliás” indica um acréscimo de informação sobre a limitação física entre vida pública
e privada na casa das famílias burguesas.
==cdafe==

d) Incorreto. “Família” delimita toda a família e sua vida privada.


e) Incorreto. A alusão serve para indicar pessoas específicas que tinham, em razão de suas atribuições, acesso
à vida privada das famílias. Gabarito letra C.

10. (FCC / SEFAZ-GO / AUDITOR / 2018)


Os deuses de Delfos
Segundo a mitologia, Zeus teria designado uma medida apropriada e um justo limite para cada ser: o
governo do mundo coincide assim com uma harmonia precisa e mensurável, expressa nos quatro motes
escritos nas paredes do templo de Delfos: “O mais justo é o mais belo”, “Observa o limite”, “Odeia a hybris
(arrogância)”, “Nada em excesso”. Sobre estas regras se funda o senso comum grego da Beleza, em acordo
com uma visão do mundo que interpreta a ordem e a harmonia como aquilo que impõe um limite ao
“bocejante Caos”, de cuja goela saiu, segundo Hesíodo, o mundo. Esta visão é colocada sob a proteção de
Apolo, que, de fato, é representado entre as Musas no frontão ocidental do templo de Delfos.
Mas no mesmo templo (século IV a.C.), no frontão oriental figura Dioniso, deus do caos e da desenfreada
infração de toda regra. Essa coabitação de duas divindades antitéticas não é casual, embora só tenha sido
tematizada na idade moderna, com Nietzsche. Em geral, ela exprime a possibilidade, sempre presente e
verificando-se periodicamente, da irrupção do caos na beleza da harmonia. Mais especificamente,
expressam-se aqui algumas antíteses significativas que permanecem sem solução dentro da concepção grega
da Beleza, que se mostra bem mais complexa e problemática do que as simplificações operadas pela tradição
clássica.
Uma primeira antítese é aquela entre beleza e percepção sensível. Se de fato a Beleza é perceptível, mas
não completamente, pois nem tudo nela se exprime em formas sensíveis, abre-se uma perigosa oposição
entre Aparência e Beleza: oposição que os artistas tentarão manter entreaberta, mas que um filósofo como
Heráclito abrirá em toda a sua amplidão, afirmando que a Beleza harmônica do mundo se evidencia como
casual desordem. Uma segunda antítese é aquela entre som e visão, as duas formas perceptivas privilegiadas
pela concepção grega (provavelmente porque, ao contrário do cheiro e do sabor, são recondutíveis a medidas
e ordens numéricas): embora se reconheça à música o privilégio de exprimir a alma, é somente às formas
visíveis que se aplica a definição de belo (Kalón) como “aquilo que agrada e atrai”. Desordem e música vão,
assim, constituir uma espécie de lado obscuro da Beleza apolínea harmônica e visível e como tais colocam-se
na esfera de ação de Dioniso.

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Esta diferença é compreensível se pensarmos que uma estátua devia representar uma “ideia”
(presumindo, portanto, uma pacata contemplação), enquanto a música era entendida como algo que suscita
paixões.
(ECO, Umberto. História da beleza. Trad. Eliana Aguiar. Rio de Janeiro, Record, 2004, p. 55-56)

O autor organiza sua argumentação de modo a expor, no


(A) quarto parágrafo, uma conclusão que reafirma o argumento expresso anteriormente de que no conceito
grego de beleza as oposições se nulificam.
(B) terceiro e no quarto parágrafo, a opinião de que a beleza apolínea tem sido progressivamente substituída
pelo conceito moderno de beleza dionisíaca.
(C) primeiro parágrafo, uma concepção moderna de beleza que se contrapõe ao senso comum grego ao
abarcar a ideia do caos criativo.
(D) segundo parágrafo, uma visão inconsistente de beleza, ao contrariar os preceitos gregos de equilíbrio,
moderação e harmonia.
(E) terceiro parágrafo, oposições na concepção grega de beleza, as quais se ligam à combinação dos
princípios de ordem e caos.
Comentários:
(A) Incorreta. As oposições não se nulificam, mas sim “coabitam”.
(B) Incorreta. Não substitui, apenas existe uma problemática, uma ponderação de antíteses sem solução
clara.
(C) Incorreta. O primeiro parágrafo traz a concepção grega clássica, não a moderna.
(D) Incorreta. Alternativa bem razoável, causou dúvida em muitos alunos. Contudo, a palavra “inconsistente”
não é adequada, nem é o objetivo do autor mostrar inconsistência, mas sim mostrar antíteses, aspectos
aparentemente contraditórios.
(E) Correta. O ponto central do texto são oposições na concepção grega de beleza, as quais se ligam à
combinação dos princípios de ordem (Apolo) e caos (Dionísio). Gabarito letra E.

11. (FCC / TRT 14ª REGIÃO / 2016)


Era uma vez...
As crianças de hoje parecem nascer já familiarizadas com todas as engenhocas eletrônicas que estarão no
centro de suas vidas. Jogos, internet, e-mails, músicas, textos, fotos, tudo está à disposição à qualquer hora
do dia e da noite, ao alcance dos dedos. Era de se esperar que um velho recurso para se entreter e ensinar
crianças como adultos − contar histórias − estivesse vencido, morto e enterrado. Ledo engano. Não é
incomum que meninos abandonem subitamente sua conexão digital para ouvirem da viva voz de alguém
uma história anunciada pela vetusta entrada do “Era uma vez...".
Nas narrativas orais − talvez o mais antigo e proveitoso deleite da nossa civilização – a presença do
narrador faz toda a diferença. As inflexões da voz, os gestos, os trejeitos faciais, os silêncios estratégicos, o
ritmo das palavras – tudo é vivo, sensível e vibrante. A conexão se estabelece diretamente entre pessoas de
carne e osso, a situação é única e os momentos decorrem em tempo real e bem marcado. O ouvinte sente
que o narrador se interessa por sua escuta, o narrador sabe-se valorizado pela atenção de quem o ouve, a
narrativa os une como num caloroso laço de vozes e de palavras.

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As histórias clássicas ganham novo sabor a cada modo de contar, na arte de cada intérprete. Não é isso,
também, o que se busca num teatro? Nas narrações, as palavras suscitam imagens íntimas em quem as ouve,
e esse ouvinte pode, se quiser, interromper o narrador para esclarecer um detalhe, emitir um juízo ou
simplesmente uma interjeição. Havendo vários ouvintes, forma-se uma roda viva, uma cadeia de atenções
que dá ainda mais corpo à história narrada. Nesses momentos, é como se o fogo das nossas primitivas
cavernas se acendesse, para que em volta dele todos comungássemos o encanto e a magia que está em
contar e ouvir histórias. Na época da informática, a voz milenar dos narradores parece se fazer atual e
eterna.
O recurso da progressão de elementos com o fito de dar força a um argumento é utilizado pelo autor no
interior mesmo do seguinte segmento:
a) As crianças de hoje parecem nascer já familiarizadas com todas as engenhocas eletrônicas que estarão no
centro de suas vidas. (1º parágrafo)
b) A conexão se estabelece diretamente entre pessoas de carne e osso, a situação é única e os momentos
decorrem em tempo real e bem marcado. (2º parágrafo)
c) O ouvinte sente que o narrador se interessa por sua escuta (...). (2º parágrafo)
d) Nas narrações, as palavras suscitam imagens íntimas em quem as ouve (...). (3º parágrafo)
e) Nesses momentos, é como se o fogo das nossas primitivas cavernas se acendesse, para que em volta dele
todos comungássemos o encanto (...). (3º parágrafo)
Comentários:
Essa é uma questão que deve ser resolvida pelo bom senso, não há grandes teorias por trás dela. Sabemos
que a progressão é o “fio condutor de um texto”. O texto “caminha” na sucessão de informação nova com
informação que já foi mencionada no texto, ou seja, vai progredindo nesse movimento novo-velho.
O autor usa uma sequência de argumentos para defender que a arte de contar histórias “à moda antiga”,
oralmente numa roda, ainda tem sua magia nesse mundo de tecnologia.
Observe a progressão: 1) A conexão se estabelece diretamente entre pessoas de carne e osso 2) a situação
é única 3) e os momentos decorrem em tempo real e bem marcado.
Agora observe os elementos argumentativos anteriores que estão sendo retomados:
1) A conexão se estabelece diretamente entre pessoas de carne e osso (presença do narrador faz toda a
diferença) 2) a situação é única (As inflexões da voz, os gestos, os trejeitos faciais, os silêncios estratégicos)
3) e os momentos decorrem em tempo real e bem marcado (ritmo das palavras).
Por fim, para “matar” essa questão mais facilmente, bastava procurar a opção em que há uma progressão
(sequência: a, b e c). A única que traz essa estrutura sequenciada é a letra B.

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LISTA DE QUESTÕES - NARRAÇÃO - FCC


1. (FCC / COPERGÁS / ADMINISTRADOR / 2016)
A velhinha contrabandista
Todos os dias uma velhinha atravessava a ponte entre dois países, de bicicleta e carregando
uma bolsa. E todos os dias era revistada pelos guardas da fronteira, à procura de contrabando.
Os guardas tinham certeza que a velhinha era contrabandista, mas revistavam a velhinha,
revistavam a sua bolsa e nunca encontravam nada. Todos os dias a mesma coisa: nada. Até que
um dia um dos guardas decidiu seguir a velhinha, para flagrá-la vendendo a muamba, ficar
sabendo o que ela contrabandeava e, principalmente, como. E seguiu a velhinha até o seu
próspero comércio de bicicletas e bolsas.
Como todas as fábulas, esta traz uma lição, só nos cabendo descobrir qual. Significa que
==cdafe==

quem se concentra no mal aparentemente disfarçado descuida do mal disfarçado de aparente,


ou que muita atenção ao detalhe atrapalha a percepção do todo, ou que o hábito de só pensar o
óbvio é a pior forma de distração.

Os dois parágrafos que compõem o texto constituem-se, respectivamente, de uma


a) tese exposta de modo categórico e sua demonstração factual.
b) narrativa de sentido intrigante e sua elucidação aberta em hipóteses.
c) narrativa de propósito moral e sua contestação no confronto com outro fato.
d) fábula de sentido enigmático e a busca inútil de seu esclarecimento.
e) fábula formulada como hipótese e a confirmação cabal de seu sentido.

GABARITO
1. LETRA B

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LISTA DE QUESTÕES - DISSETAÇÃO - FCC


As calçadas
As calçadas O inglês tem um verbo curioso, to loiter, que quer dizer, mais ou menos, andar devagar
ou a esmo, ficar à toa, zanzar (grande palavra), vagabundear, ou simplesmente não transitar. E nos Estados
Unidos (não sei se na Inglaterra também), loitering é uma contravenção. Você pode ser preso por loitering,
por estar parado em vez de transitando, numa calçada. O que diferencia um abusivo loitering de uma apenas
inocente ausência de movimento ou de direção depende, imagino, da interpretação do guarda, ou também
daquela sutil subjetividade que também define o que é uma “atitude suspeita”.
Mas é difícil pensar em outra coisa que divida mais claramente o mundo anglo-saxão do mundo latino
do que o loitering, que não tem nem tradução exata em língua românica, que eu saiba. Se loitering fosse
contravenção na Itália, onde ficar parado na rua para conversar ou apenas para ver os que transitam
transitarem é uma tradição tão antiga quanto a sesta, metade da população viveria na cadeia. Na Espanha,
toda a população viveria na cadeia.
Talvez a diferença entre a América e a Europa, e a vantagem econômica da América sobre os povos
que zanzam, se explique pelos conceitos diferentes de calçada: um lugar utilitário por onde se ir (e, claro,
voltar) ou um lugar para se estar, de preferência com outros. Os franceses, apesar de latinos, não costumam
usar tanto a calçada como sala, não porque tenham se americanizado para aumentar a produção, mas
porque preferem usá-la como café, e estar com outros sentados. Desperdiça-se tempo, mas ganham-se anos
de vida, parados numa calçada.
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 69-70)

1. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


Considere esta frase:
O que diferencia um abusivo loitering de uma apenas inocente ausência de movimento depende da
interpretação do guarda.
Uma nova, correta e coerente redação dessa frase poderia assim se constituir: A depender da interpretação
do guarda,
(A) se estabelece a distinção entre o abuso do loitering e a mera falta de movimento.
(B) o abusivo loitering e a ingênua falta de movimentação seriam indiferentes.
(C) tanto seria inocente o loitering como abusiva a simples falta de movimentação.
(D) diferenciariam-se tanto uma prática inocente como uma ação abusiva do loitering.
(E) ainda que fosse inocente a ausência de movimento, poderia ser abusivo o loitering.

[Ritmos da civilização]
Se um camponês espanhol tivesse adormecido no ano 1.000 e despertado quinhentos anos depois, ao
som dos marinheiros de Colombo a bordo das caravelas Nina, Pinta e Santa Maria, o mundo lhe pareceria
bastante familiar. Esse viajante da Idade Média ainda teria se sentido em casa. Mas se um dos marinheiros

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de Colombo tivesse caído em letargia similar e despertado ao toque de um iPhone do século XXI, se
encontraria num mundo estranho, para além de sua compreensão. “Estou no Céu?”, ele poderia muito bem
se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
Os últimos quinhentos anos testemunharam um crescimento fenomenal e sem precedentes no
poderio humano. Suponha que um navio de batalha moderno fosse transportado de volta à época de
Colombo. Em questão de segundos, poderia destruir as três caravelas e em seguida afundar as esquadras de
cada uma das grandes potências mundiais. Cinco navios de carga modernos poderiam levar a bordo o
carregamento das frotas mercantes do mundo inteiro. Um computador moderno poderia facilmente
armazenar cada palavra e número de todos os documentos de todas as bibliotecas medievais, com espaço
de sobra. Qualquer grande banco de hoje tem mais dinheiro do que todos os reinos do mundo pré-moderno
reunidos.
Durante a maior parte da sua história, os humanos não sabiam nada sobre 99,99% dos organismos
do planeta – em especial, os micro-organismos. Foi só em 1674 que um olho humano viu um micro-organismo
pela primeira vez, quando Anton van Leeuwenhock deu uma espiada através de seu microscópio caseiro e
ficou impressionado ao ver um mundo inteiro de criaturas minúsculas dando volta em uma gota d’água. Hoje,
projetamos bactérias para produzir medicamentos, fabricar biocombustível e matar parasitas.
Mas o momento mais notável e definidor dos últimos 500 anos ocorreu às 5h29m45s da manhã de 16
de julho de 1945. Naquele segundo exato, cientistas norte-americanos detonaram a primeira bomba atômica
em Alamogordo, Novo México. Daquele ponto em diante, a humanidade teve a capacidade não só de mudar
o curso da história como também de colocar um fim nela. O processo histórico que levou a Alamogordo e à
Lua é conhecido como Revolução Científica. Ao longo dos últimos cinco séculos, os humanos passaram a
acreditar que poderiam aumentar suas capacidades se investissem em pesquisa científica. O que ninguém
poderia imaginar era em que aceleração frenética tudo se daria.
(Adaptado de: HARARI, Yuval Noah. Uma breve história da humanidade. Trad. Janaína Marcoantonio. Porto Alegre: L&PM, 2018,
p. 257-259, passim)

2. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


A tese central do autor do texto é a de que
(A) a inovação da área tecnológica depende de feitos históricos algo aleatórios, a partir dos quais tudo se
revoluciona.
(B) a marcha da nossa civilização, desde os primórdios, vem ocorrendo numa progressão contínua, em ritmo
tão regular como irrefreável.
(C) nos últimos cinco séculos a humanidade vem experimentando uma cada vez mais rápida sucessão de
conquistas científicas.
(D) desde o início da Idade Média a tecnologia vem propiciando fulminantes avanços, sobretudo no campo
das ciências naturais.
(E) o ritmo dos feitos mais recentes da nossa ciência parece ter sofrido relativa retração, se comparado ao
de períodos anteriores.

3. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022

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De acordo com o que se afirma no parágrafo


(A) quarto, o primado da ciência e da tecnologia pode levar a consequências históricas drasticamente
diferentes.
(B) primeiro, nunca houve tanta defasagem entre estágios tecnológicos como a que ocorreu entre um
camponês espanhol e um marinheiro de Colombo.
(C) segundo, as vantagens trazidas pelo advento da computação são de ordem quantitativa, não alterando
os efeitos naturais dos eventos.
(D) terceiro, os homens só vieram a saber da existência de micro-organismos depois que um microscópio
lhes facultou a produção de bactérias.
(E) quarto, a Revolução Científica teve como marcos históricos iniciais a invenção da bomba atômica e a
tecnologia que levou o homem à Lua.

==cdafe==

4. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


“Estou no Céu?”, ele poderia muito bem se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
Caso o autor do texto optasse por usar o discurso indireto, o segmento acima deveria apresentar a seguinte
construção: Ele poderia muito bem se perguntar
(A) consigo mesmo: onde estou, este é o Céu ou o Inferno?
(B) se estou no Céu, ou no Inferno, quem sabe?
(C) aonde estaria eu, se no Céu, talvez, ou no Inferno.
(D) onde estaria, se no Céu, ou se no Inferno.
(E) onde haverá de estar: no Céu ou no Inferno?

Ponderação, a mais desmoralizada das virtudes


Precisamos reabilitar a ponderação, nem que seja apenas como subproduto da perplexidade, aquilo
que faz o marinheiro levar o barco devagar sempre que o nevoeiro é denso. Como ocorre em nosso tempo.
O fogo selvagem que inflamou ao longo da história as turbas linchadoras do “diferente” que é visto
como ameaça − corporificado em bruxas, negros, judeus, homossexuais, loucos, ciganos, gagos − é hoje
condenado por (quase) todo mundo.
No entanto, o mesmo fogo selvagem inflama as turbas linchadoras que se julgam investidas do direito
sagrado de vingar bruxas, negros, judeus, homossexuais, loucos, ciganos, gagos etc. Quem acha que o
primeiro fogo é ruim e o segundo é bom não entendeu nada.
Representa um inegável avanço civilizatório a exposição, nas redes sociais, de comportamentos
opressivos ancestrais que sempre estiveram naturalizados em forma de assédio, desrespeito, piadinhas
torpes e preconceitos variados. Ao mesmo tempo, é um claro retrocesso que o avanço se dê à custa da
supressão do direito de defesa e do infinito potencial de injustiça contido no poder supremo de um juiz sem
rosto.
(Sérgio Rodrigues, Folha de S. Paulo, 16/11/2017)

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5. FCC / SEDU-ES / 2022


Uma interpretação adequada da construção integral desse texto deve reconhecer que o
(A) título dele promove a devida desmoralização das virtudes, que o autor acredita só ser possível mediante
o recurso da ponderação.
(B) primeiro parágrafo considera que a perplexidade do nosso tempo histórico pode levar-nos a ponderar e
agir com prudência diante das instabilidades modernas.
(C) segundo parágrafo admite que a selvageria com que são tratados os “diferentes” não sofre qualquer
contestação por parte da opinião pública.
(D) terceiro parágrafo comprova que hoje já não se aceitam violências que possam lembrar, de algum modo,
as que já se praticaram contra certas comunidades.
(E) quarto parágrafo acentua a necessidade de se naturalizar, por via das redes sociais, medidas duramente
repressivas, para que se faça justiça a quem já foi oprimido.

6. FCC / SEDU-ES / 2022


O sentido da ponderação anunciada no título e considerada ao longo do texto deve ser entendido, de modo
conclusivo, da seguinte forma:
(A) os vícios e os preconceitos de outras épocas precisam ser reparados na justa proporção da violência final
a que agora fazem jus os que foram violentados.
(B) os assédios, o desrespeito e os abusos devem nos fazer refletir sobre a razão de serem naturalizados
justamente por aqueles que mais os sofreram.
(C) é um premente desafio preservar a reflexão comedida como uma resposta civilizada a violências antigas,
que não devem inspirar os lances injustos de uma suposta reparação.
(D) há equilíbrio social, a ser preservado em seus valores básicos, quando se considera como natural a
justificativa da supressão temporária dos chamados direitos individuais.
(E) deve prevalecer sempre a necessidade que têm os setores oprimidos da sociedade de se submeterem ao
poder discriminatório e rigoroso de um juiz anônimo.

7. FCC / SEDU-ES / 2022


O autor se vale da frase faz o marinheiro levar o barco devagar sempre que o nevoeiro é denso para figurar,
de modo expressivo, a
(A) necessária e impetuosa reação nossa diante dos que negam a legitimidade dos valores que resolvemos
defender.
(B) súbita perplexidade que por vezes nos impede de reagir quando confrontados com forças que
consideramos superiores às nossas.
(C) rígida defesa dos nossos valores a cada vez que forem contestados pelas pessoas que escolheram valores
opostos.
(D) conformada aceitação das razões alheias quando se mostrem mais estáveis do que aquelas a que
recorremos para justificar nossos atos.

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(E) moderação que deve pautar nossas reações em situações cujos contornos não se apresentem
satisfatoriamente nítidos.

8. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO / 2020)


ILUMINAÇÃO − 7:800$000
A Prefeitura foi intrujada quando, em 1920, aqui se firmou um contrato para o fornecimento de luz. Apesar
de ser o negócio referente a claridade, julgo que assinaram aquilo às escuras. É um BLUFF*. Pagamos até a
luz que a lua nos dá.
*BLUFF expressão inglesa que foi aportuguesada como “blefe”: atitude enganadora, em jogo de cartas, que
busca iludir o adversário.
Por se tratar de um fragmento de um relatório administrativo, o texto é predominantemente
A) argumentativo, porque apresenta análises de dados e busca persuadir um interlocutor específico.
B) literário, porque foi escrito por Graciliano Ramos, célebre escritor da Literatura Brasileira.
C) didático, porque é um excelente modelo de como se escrever relatórios de administração pública.
D) informativo, porque traz dados, ações e resultados alcançados em um determinado período.
E) descritivo, porque relata fatos e situações típicas de uma cidade do interior do país.

9. (FCC / ISS SÃO LUIZ / AUD. FISCAL DE TRIBUTOS / 2018)


A vida privada não é uma realidade natural, dada desde a origem dos tempos: é uma realidade histórica.
A história da vida privada é, em primeiro lugar, a história de sua definição: como evoluiu sua distinção na
sociedade francesa do século XX? Como o domínio da vida privada variou em seu conteúdo e abrangência?
A questão é tanto mais importante na medida em que não é certo que seu contorno tenha o mesmo
sentido em todos os meios sociais. Para a burguesia da Belle Époque1, não há nenhuma dúvida: o “muro da
vida privada” separa claramente os domínios. Por trás desse muro protetor, a vida privada e a família
coincidem com bastante exatidão. Esse domínio abrange as fortunas, a saúde, os costumes, a religião: se os
pais que querem casar os filhos consultam o notário ou o pároco para “tomar informações” sobre a família
de um eventual pretendente, é porque a família oculta cuidadosamente ao público o tio fracassado, o irmão
de costumes dissolutos e o montante das rendas. E Jaurès2, respondendo a um deputado socialista que lhe
censurava a comunhão solene da filha: “Meu caro colega, você sem dúvida faz o que quer de sua mulher, eu
não”, marcava com grande precisão a fronteira entre sua existência de político e sua vida privada.
Essa separação era organizada por uma densa teia de prescrições. A baronesa Staffe3, por exemplo, cita:
“Quanto menos relações mantemos com a vizinhança, mais merecemos a estima e consideração dos que nos
cercam”, “não devemos falar de assuntos íntimos com os parentes ou amigos que viajam conosco na
presença de desconhecidos”. O apartamento ou a casa burguesa, aliás, se caracterizam por uma nítida
diferença entre as salas para as visitas e os demais aposentos. O lugar da família propriamente dita não é o
salão: as crianças não entram no aposento quando há visitas e, como explica a baronesa, as fotos de família
ficariam deslocadas nesse recinto. Ademais, as salas de visitas não são abertas a todos. Se toda dama da boa
sociedade tem seu “dia” de receber − em 1907, são 178 em Nevers4 −, a visita à esposa de um figurão supõe
uma apresentação prévia. As salas de recepção estabelecem, portanto, um espaço de transição para a vida
privada propriamente dita.

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(Adaptado de: PROST, Antoine. Fronteiras e espaços do privado. In: PROST, Antoine; VINCENT, Gérard (orgs.).
História da vida privada 5: Da Primeira Guerra a nossos dias. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009, p. 14 e 15.)
Obs.:
1 Período de cultura cosmopolita na história da Europa que vai de fins do século XIX até a eclosão da Primeira
Guerra Mundial.
2 Jean Léon Jaurès (1859-1914): político socialista francês.
3 Pseudônimo de Blanche-Augustine-Angèle Soyer (1843-1911), autora francesa, célebre em seu tempo pela
obra Uso do mundo, sobre como saber viver na sociedade moderna.
4 Região da França, ao sul-sudeste
No processo argumentativo,
(A) a consulta dos pais é mencionada porque constitui a causa de as famílias ocultarem cuidadosamente ao
público fatos que poderiam ser considerados socialmente nocivos. (2º parágrafo)
(B) a resposta de Jaurès é citada para, na composição do painel da vida francesa, destacar que, já em fins do
século XIX e começo do XX, havia críticas a políticos que usavam a vida particular para alavancar suas
pretensões de homem público. (2º parágrafo)
(C) a presença do advérbio aliás sinaliza um oportuno acréscimo ao já dito acerca dos domínios da vida
privada, agora demarcados pelo próprio espaço físico da burguesia francesa do século XX. (3º parágrafo)
(D) a menção a família propriamente dita delimita, no contexto do objeto focalizado, a referência a “aqueles
que descendem de um casal”. (3º parágrafo)
(E) a alusão a notário ou pároco faz parte da caracterização da sociedade da Belle Époque, com o intuito de
demonstrar que a eles cabia, respectivamente, a responsabilidade pelas fortunas e pela vida religiosa das
famílias. (2º parágrafo)

10. (FCC / SEFAZ-GO / AUDITOR / 2018)


Os deuses de Delfos
Segundo a mitologia, Zeus teria designado uma medida apropriada e um justo limite para cada ser: o
governo do mundo coincide assim com uma harmonia precisa e mensurável, expressa nos quatro motes
escritos nas paredes do templo de Delfos: “O mais justo é o mais belo”, “Observa o limite”, “Odeia a hybris
(arrogância)”, “Nada em excesso”. Sobre estas regras se funda o senso comum grego da Beleza, em acordo
com uma visão do mundo que interpreta a ordem e a harmonia como aquilo que impõe um limite ao
“bocejante Caos”, de cuja goela saiu, segundo Hesíodo, o mundo. Esta visão é colocada sob a proteção de
Apolo, que, de fato, é representado entre as Musas no frontão ocidental do templo de Delfos.
Mas no mesmo templo (século IV a.C.), no frontão oriental figura Dioniso, deus do caos e da desenfreada
infração de toda regra. Essa coabitação de duas divindades antitéticas não é casual, embora só tenha sido
tematizada na idade moderna, com Nietzsche. Em geral, ela exprime a possibilidade, sempre presente e
verificando-se periodicamente, da irrupção do caos na beleza da harmonia. Mais especificamente,
expressam-se aqui algumas antíteses significativas que permanecem sem solução dentro da concepção grega
da Beleza, que se mostra bem mais complexa e problemática do que as simplificações operadas pela tradição
clássica.

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Uma primeira antítese é aquela entre beleza e percepção sensível. Se de fato a Beleza é perceptível, mas
não completamente, pois nem tudo nela se exprime em formas sensíveis, abre-se uma perigosa oposição
entre Aparência e Beleza: oposição que os artistas tentarão manter entreaberta, mas que um filósofo como
Heráclito abrirá em toda a sua amplidão, afirmando que a Beleza harmônica do mundo se evidencia como
casual desordem. Uma segunda antítese é aquela entre som e visão, as duas formas perceptivas privilegiadas
pela concepção grega (provavelmente porque, ao contrário do cheiro e do sabor, são recondutíveis a medidas
e ordens numéricas): embora se reconheça à música o privilégio de exprimir a alma, é somente às formas
visíveis que se aplica a definição de belo (Kalón) como “aquilo que agrada e atrai”. Desordem e música vão,
assim, constituir uma espécie de lado obscuro da Beleza apolínea harmônica e visível e como tais colocam-se
na esfera de ação de Dioniso.
Esta diferença é compreensível se pensarmos que uma estátua devia representar uma “ideia”
(presumindo, portanto, uma pacata contemplação), enquanto a música era entendida como algo que suscita
paixões.
(ECO, Umberto. História da beleza. Trad. Eliana Aguiar. Rio de Janeiro, Record, 2004, p. 55-56)
O autor organiza sua argumentação de modo a expor, no
(A) quarto parágrafo, uma conclusão que reafirma o argumento expresso anteriormente de que no conceito
grego de beleza as oposições se nulificam.
(B) terceiro e no quarto parágrafo, a opinião de que a beleza apolínea tem sido progressivamente substituída
pelo conceito moderno de beleza dionisíaca.
(C) primeiro parágrafo, uma concepção moderna de beleza que se contrapõe ao senso comum grego ao
abarcar a ideia do caos criativo.
(D) segundo parágrafo, uma visão inconsistente de beleza, ao contrariar os preceitos gregos de equilíbrio,
moderação e harmonia.
(E) terceiro parágrafo, oposições na concepção grega de beleza, as quais se ligam à combinação dos
princípios de ordem e caos.

11. (FCC / TRT 14ª REGIÃO / 2016)


Era uma vez...
As crianças de hoje parecem nascer já familiarizadas com todas as engenhocas eletrônicas que estarão no
centro de suas vidas. Jogos, internet, e-mails, músicas, textos, fotos, tudo está à disposição à qualquer hora
do dia e da noite, ao alcance dos dedos. Era de se esperar que um velho recurso para se entreter e ensinar
crianças como adultos − contar histórias − estivesse vencido, morto e enterrado. Ledo engano. Não é
incomum que meninos abandonem subitamente sua conexão digital para ouvirem da viva voz de alguém
uma história anunciada pela vetusta entrada do “Era uma vez...".
Nas narrativas orais − talvez o mais antigo e proveitoso deleite da nossa civilização – a presença do
narrador faz toda a diferença. As inflexões da voz, os gestos, os trejeitos faciais, os silêncios estratégicos, o
ritmo das palavras – tudo é vivo, sensível e vibrante. A conexão se estabelece diretamente entre pessoas de
carne e osso, a situação é única e os momentos decorrem em tempo real e bem marcado. O ouvinte sente
que o narrador se interessa por sua escuta, o narrador sabe-se valorizado pela atenção de quem o ouve, a
narrativa os une como num caloroso laço de vozes e de palavras.
As histórias clássicas ganham novo sabor a cada modo de contar, na arte de cada intérprete. Não é isso,
também, o que se busca num teatro? Nas narrações, as palavras suscitam imagens íntimas em quem as ouve,

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e esse ouvinte pode, se quiser, interromper o narrador para esclarecer um detalhe, emitir um juízo ou
simplesmente uma interjeição. Havendo vários ouvintes, forma-se uma roda viva, uma cadeia de atenções
que dá ainda mais corpo à história narrada. Nesses momentos, é como se o fogo das nossas primitivas
cavernas se acendesse, para que em volta dele todos comungássemos o encanto e a magia que está em
contar e ouvir histórias. Na época da informática, a voz milenar dos narradores parece se fazer atual e
eterna.
O recurso da progressão de elementos com o fito de dar força a um argumento é utilizado pelo autor no
interior mesmo do seguinte segmento:
a) As crianças de hoje parecem nascer já familiarizadas com todas as engenhocas eletrônicas que estarão no
centro de suas vidas. (1º parágrafo)
b) A conexão se estabelece diretamente entre pessoas de carne e osso, a situação é única e os momentos
decorrem em tempo real e bem marcado. (2º parágrafo)
c) O ouvinte sente que o narrador se interessa por sua escuta (...). (2º parágrafo)
d) Nas narrações, as palavras suscitam imagens íntimas em quem as ouve (...). (3º parágrafo)
e) Nesses momentos, é como se o fogo das nossas primitivas cavernas se acendesse, para que em volta dele
todos comungássemos o encanto (...). (3º parágrafo)

GABARITO
1. LETRA A 5. LETRA B 9. LETRA C
2. LETRA C 6. LETRA C 10. LETRA E
3. LETRA A 7. LETRA E 11. LETRA B
4. LETRA D 8. LETRA D

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Aula 13

NOÇÕES BÁSICAS DE “TEXTO”


Olá, pessoal!
Nesta aula estudaremos o tópico mais cobrado nos concursos públicos: interpretação de texto!
Sozinho, o tópico “Compreensão e Interpretação de textos” é responsável por 27% a 40% de toda a prova,
ao analisarmos os editais dos últimos dois anos.
Por isso, cara Aluna e caro Aluno, sugiro que se aprofunde neste assunto e resolva muitas questões. Ao longo
da aula traremos formas de interpretar os textos de acordo com o que as bancas geralmente têm cobrado
nas últimas provas.
A Interpretação de Textos é um exercício gradativo. Não é necessário nem recomendável ler todos os textos
de uma vez! Sugiro que você divida essa aula em duas e aproveite melhor a lista de questões!

Uma boa interpretação de textos pressupõe uma série de conhecimentos e habilidades, anteriores ao texto
em si.
O leitor precisa reconhecer:
✓ o contexto (situação/situacionalidade);
✓ a finalidade principal do texto: se é informar, narrar, descrever, e como essa intenção se materializa
(intencionalidade discursiva);
✓ a linguagem: se é literal ou figurada; irônica; se tem um propósito estético, poético, lírico, além da
sua mensagem principal;
✓ informações implícitas, quando há;
✓ referência a informações fora do texto ou a outros textos e se essas referências são parte do
conhecimento de mundo do leitor (para que possa entender aceitar essa mensagem –
aceitabilidade).
Enfim... Há muitos conceitos subjacentes à construção de um texto. A partir de agora, veremos os principais.

Grande abraço e ótimos estudos!


Time de Português

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LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL


O texto verbal é aquele que se materializa em linguagem escrita ou falada. Vejamos um verbete de
dicionário:
Resiliência - substantivo feminino
1. FÍSICA: propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem
sido submetidos a uma deformação elástica.
2. figurado (sentido) figuradamente: capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má
sorte ou às mudanças.
O texto “não verbal” é o que usa outros elementos, que não a fala ou a escrita: imagens, música, gestos,
escultura. Sinais, placas, pinturas, sons, linguagem corporal são todos elementos de linguagem “não verbal”.
==cdafe==

Comparem dois textos de mesma temática, mas escritos com linguagens diferentes:
Linguagem Verbal:
Urbanização é o crescimento das cidades, tanto em população quanto em extensão territorial. É o
processo em que o espaço rural transforma-se em espaço urbano, com a consequente migração
populacional do tipo campo-cidade que, quando ocorre de forma intensa e acelerada, é chamada de
êxodo rural.
Linguagem Não Verbal:

Em prova, é comum a banca trazer textos “mistos”, “híbridos”, com elementos verbais e não verbais, ao
mesmo tempo. Teremos então imagens e palavras. Vejamos:

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LINGUAGEM LITERÁRIA E NÃO LITERÁRIA


A diferença básica entre um texto literário e um não literário é a função.
O texto literário tem uma função estética, tem ênfase no plano da expressão, ou seja, a forma é essencial
ao texto.
Por isso, no texto literário, com função poética, abundam recursos estilísticos, como ritmo, versificação,
estrutura planejada, figuras de som (rimas, aliterações), linguagem figurada, conotativa... Um texto literário
não pode ser resumido, não pode ser alterado sem prejuízo. Se trocarmos uma palavra de lugar, perdemos
o efeito estético de uma rima, por exemplo.
O texto não literário tem foco no plano do conteúdo, na informação, na referência que fornece, por isso
pode ser resumido, reescrito de outras formas, sem prejuízo da mensagem original. Sua finalidade é utilitária
(informar, convencer, explicar, documentar...), por isso preza pela objetividade, não pela forma. Compare:
==cdafe==

Linguagem não literária:


Aos cinquenta anos, inesperadamente, apaixonei-me de novo.
Linguagem literária:
Na curva dos cinquenta derrapei neste amor. (Carlos Drummond de Andrade)

Veja que o segundo fragmento traz uma linguagem figurada (conotativa), por meio da metáfora “derrapar
na curva”. Então, a preocupação estética, lírica, na elaboração da mensagem marca o texto literário.
OBS: A distinção vista acima não impede que textos utilitários (artigos, narrações, propagandas) tenham
também efeitos estilísticos. A linguagem publicitária, por exemplo, abusa de efeitos estéticos em sua criação.

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INTERTEXTUALIDADE
Basicamente, a intertextualidade é comunicação/diálogo entre textos (texto escrito, música, pintura, obra
audiovisual...), isto é, ocorre intertextualidade quando um texto faz referência a outro, de forma implícita
(de forma oculta, de modo que o leitor depende de seu conhecimento de mundo para identificar a
referência) ou explícita (por exemplo, numa citação direta, com identificação da autoria do outro texto
citado).
Vejamos as principais formas de intertextualidade:
Citação: É a reprodução do discurso alheio, normalmente entre aspas e com indicação da autoria.

Epígrafe: Citação curta colocada em uma página no início da obra ou destacada no início de um capítulo.
Normalmente abre uma narrativa com a reprodução de frase célebre que anuncia ou resume a temática do
capítulo/obra que se inicia.

Se um homem tem um talento e não tem capacidade de usá-lo, ele fracassou. Se ele tem
um talento e usa somente a metade deste, ele fracassou parcialmente. Se ele tem um
talento e de certa forma aprende a usá-lo em sua totalidade, ele triunfou gloriosamente e
obteve uma satisfação e um triunfo que poucos homens conhecerão.
Thomas Wolfe

Paródia: é a criação de um texto a partir de outro, com finalidade humorística, irônica.

Rua Nascimento Silva, 107 Rua Nascimento Silva, 107


Você ensinando pra Elizete Eu saio correndo do pivete
As canções de canção do amor demais Tentando alcançar o elevador

Minha janela não passa de um quadrado Minha janela não passa de um quadrado
A gente só vê cimento armado A gente só vê Sérgio Dourado
Onde antes se via o Redentor Onde antes se via o Redentor

É, meu amigo, só resta uma certeza É, meu amigo Só resta uma certeza
É preciso acabar com a natureza É preciso acabar com a natureza

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É melhor lotear o nosso amor É melhor lotear o nosso amor


Original - Carta ao Tom 74 - Paródia “Carta do Tom” –
Toquinho e Vinícius de Morais Chico Buarque

Veja exemplos famosos, com linguagem também não verbal.

==cdafe==

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Algumas reproduções grosseiras de outros trabalhos, usando a mesma linguagem/sintaxe,


envolvendo colagens ou montagens de textos diversos (como uma “colcha de retalhos”),
são chamadas de “pastiche”.
As definições clássicas de pastiche são muito parecidas com a da paródia, mas se considera
que o pastiche, diferente da paródia, não tem finalidade de criticar ou ridicularizar a obra
de origem.

Paráfrase: é a criação de um texto a partir de outro, é uma reescritura de ideias com outras palavras. A
paráfrase não tem finalidade humorística, mas sim reproduz, preserva e confirma a ideologia do texto
original.

Tradução: é a reprodução de um texto de uma língua para outra.

Referência/Alusão: é uma referência a outro texto, mas de forma vaga, indireta, sem indicação. Depende do
conhecimento de mundo do leitor para fazer sentido.
Ex: João ficou feliz por receber aquela promoção, sem saber que era um presente de grego.
Aqui, a expressão “presente de grego” se refere à história da guerra de Troia, em que os Gregos
deram de presente aos troianos um cavalo de madeira, como símbolo de trégua. O cavalo, na
verdade, estava cheio de soldados gregos, que, à noite, massacraram os troianos dormindo e abriram
os portões da cidade para a entrada do exército grego.

Ex: “Profissão Mestre Adverte: dar aulas pode ser prejudicial à saúde”.
Veja que há referência insinuada às propagandas do Ministério da Saúde acerca do cigarro.

Essas definições e exemplos são de difícil diferenciação em muitos casos, então a banca
pode muito bem não diferenciar precisamente os conceitos. O importante é reconhecer
que são todas formas de intertextualidade, de comunicação entre textos.

(SANASA - CAMPINAS (SP) / 2019 - Adaptada)

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Considere o trecho hipotético de uma conversa entre um cidadão-usuário e um atendente da empresa


prestadora de serviços, conforme abaixo.

Atendente: “Por favor, senhor, me explique o que está acontecendo?”


Cidadão-usuário: A fatura da minha conta de água dos cinco últimos meses não passava de R$ 90,00, mas a
desse mês veio R$ 280,00! Eu não sei se tem um vazamento na caixa ou se o relógio de medição quebrou.”
Atendente: “Pelo que o senhor está me relatando, o senhor está com dúvida na sua conta de água e pode ter
um problema com a sua instalação.
Cidadão-usuário: “Sim, é isso mesmo!”

Nesse trecho de conversa, o atendente utilizou de um recurso denominado paródia.


Comentários:
Da análise da conversa, percebemos que o atendente repetiu o que o cliente disse, por meio da utilização
de outras palavras, de modo a tornar a compreensão mais fácil. Tal recurso é a “paráfrase". Lembre-se que
a paródia tem a finalidade humorística, irônica. Questão incorreta.

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INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO
Embora muitos alunos os tratem por sinônimos, interpretar e compreender são ações diferentes. Sem
filosofar muito, para efeito de prova, interpretar é ser capaz de depreender informações do texto, deduzir
baseado em pistas, inferir um subtexto, que não está explícito, mas está pressuposto.
Compreender, por sua vez, seria localizar uma informação explícita no texto e não depende de nenhuma
inferência, porque está clara.
Essa diferença aparece nos enunciados, quando a banca nos informa se uma questão deve ser resolvida por
recorrência (compreensão) ou por inferência (interpretação).
Veremos aqui uma breve distinção teórica e depois partiremos para as questões, porque só aprendemos a
interpretar lendo e interpretando.

Recorrência:
O leitor deve buscar no texto aquela informação, sabendo que a resposta estará escrita
com outras palavras, em forma de paráfrase, ou seja, de uma reescritura. É o tipo mais
comum: a resposta está direta e literal no texto.

Inferência:
O leitor deve fazer deduções a partir do texto. O fundamento da dedução será um
pressuposto, ou seja, uma pista, vestígios que o texto traz. Deduzir além das pistas do texto
é extrapolar. Geralmente questões de inferência trazem o seguinte enunciado:
“depreende-se das ideias do texto”.

Ex: Douglas parou de fumar.


Nessa informação temos um pressuposto, indicado no verbo parar. Só para de fumar quem começou
a fumar. Então podemos inferir, deduzir, depreender dessa frase que Douglas fumava.

Ex: Ainda não lançaram o novo filme do Tarantino.


O advérbio ainda é um pressuposto e traz o sentido implícito de que há expectativa de que o filme já
deveria ter saído.

Ex: Minha primeira esposa desistiu de comprar aquele carro que não polui o ambiente.
Pode se inferir de “primeira esposa” que o interlocutor se casou mais de uma vez, e que a referida
primeira esposa pretendia comprar um determinado carro, tanto que desistiu. A oração restritiva
“que não polui o ambiente” indica que nem todos os carros têm essa característica de não poluir.

Ex: Embora ele tentasse estudar sempre, até nos fins de semana, continuou sendo criticado.

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A conjunção “embora”, por ser concessiva, nos permite inferir que aquela oração é vista como um
possível “obstáculo” ao que vai ser dito a seguir. Entende-se que o estudo constante deveria impedir
a crítica, mas não impede. O verbo “tentasse” já sugere que ele ‘tentava’, mas não conseguia. A
palavra denotativa “até” dá sentido de inclusão, mas com uma camada semântica de concessão.
Podemos depreender que “até nos fins de semana” indica que estudar no fim de semana tem um
valor diferente. A forma “continuou” implica um início anterior: só continua quem começou.

Ex: A população supõe que os senadores se tornarão defensores da nova democracia.


O uso do verbo “supõe” sugere uma crença no que não é verdadeiro. A forma “se tornarão” indica
mudança de estado, o que nos permite deduzir que o estado atual não é esse. Em outras palavras, os
senadores não são defensores da nova democracia. A propósito, o adjetivo ‘nova’ permite presumir
a existência de uma democracia “velha”.

Os subentendidos, ao contrário dos pressupostos, não são decorrências necessárias das pistas, mas são
deduções subjetivas, são informações presumidas e insinuadas.
Imagine os seguintes diálogos entre pessoas no ponto de ônibus:
Ex: — Você tem relógio?
— São 11 horas.
— Obrigado!
Há aqui um subentendido: “quero saber que horas são”, que foi prontamente captado pelo ouvinte.

Ex: —Você tem isqueiro?


—Tenho sim. Por quê?
—!!!
Há neste exemplo um subentendido na pergunta: “gostaria de acender meu cigarro”. Mas o ouvinte
não compreendeu a informação subentendida e respondeu de forma literal à pergunta insinuada.
O pressuposto, embora traga informação implícita, está visivelmente registrado no teor daquelas palavras,
está “marcado linguisticamente”, ao passo que o subentendido é uma insinuação, não marcada
linguisticamente, ou seja, não está propriamente nas palavras, é extralinguístico, está nas entrelinhas.
Por isso, a leitura literal das palavras pode levar a outra interpretação e não à informação subentendida.
Vejamos mais um exemplo de subentendido:

Novamente, a “oferta” de café, subentendida, não foi observada pelo ouvinte, que se ateve ao sentido literal

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registrado nas palavras.


Enfim, pessoal, infelizmente não há uma dica milagrosa para interpretação. Teremos sempre que fazer esse
exercício de buscar informações explícitas e implícitas no texto, baseado em vestígios e pistas, nas
entrelinhas, ou muitas vezes encontrando a reescritura equivalente de uma ideia apresentada.
O que posso oferecer a vocês, é um passo a passo a ser seguido para a resolução das questões que envolvam
Compreensão e Interpretação de texto:

Como se sair melhor nas questões de interpretação e compreensão:

1. Leia o texto todo. Leia outra vez, marcando as ideias centrais de cada parágrafo, que
==cdafe==

frequentemente vêm no seu início.


2. A ideia central na introdução e na conclusão é a tese. No desenvolvimento é o tópico frasal.
3. Questões de recorrência são resolvidas encontrando uma paráfrase. Questões de inferência
exigem uma dedução baseada e pressupostos.

(ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO AMAPÁ / 2020 - Adaptado)


Novas formas de vida?
Uma forma radical de mudar as leis da vida é produzir seres completamente inorgânicos. Os exemplos mais
óbvios são programas de computador e vírus de computador que podem sofrer evolução independente.
O campo da programação genética é hoje um dos mais interessantes no mundo da ciência da computação.
Esta tenta emular os métodos da evolução genética. Muitos programadores sonham em criar um programa
capaz de aprender e evoluir de maneira totalmente independente de seu criador. Nesse caso, o programador
seria um primum mobile, um primeiro motor, mas sua criação estaria livre para evoluir em direções que nem
seu criador nem qualquer outro humano jamais poderiam ter imaginado.
Um protótipo de tal programa já existe – chama-se vírus de computador. Conforme se espalha pela internet,
o vírus se replica milhões e milhões de vezes, o tempo todo sendo perseguido por programas de antivírus
predatórios e competindo com outros vírus por um lugar no ciberespaço. Um dia, quando o vírus se replica,
um erro ocorre – uma mutação computadorizada. Talvez a mutação ocorra porque o engenheiro humano
programou o vírus para, ocasionalmente, cometer erros aleatórios de replicação. Talvez a mutação se deva
a um erro aleatório. Se, por acidente, o vírus modificado for melhor para escapar de programas antivírus sem
perder sua capacidade de invadir outros computadores, vai se espalhar pelo ciberespaço. Com o passar do
tempo, o ciberespaço estará cheio de novos vírus que ninguém produziu e que passam por uma evolução
inorgânica.
Essas são criaturas vivas? Depende do que entendemos por “criaturas vivas”. Mas elas certamente foram
criadas a partir de um novo processo evolutivo, completamente independente das leis e limitações da

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evolução orgânica.

No último parágrafo do texto, sugere-se que o âmbito da biologia e da genética não inclui processos que se
possam reconhecer como propriamente evolutivos.
Comentários:
O autor diz justamente o contrário: "elas certamente foram criadas a partir de um novo processo evolutivo".
Pense assim: se é um "novo processo evolutivo", significa que havia um antigo processo evolutivo que era
considerado. Portanto, não se pode dizer que "o âmbito da biologia e da genética não inclui processos que
se possam reconhecer como propriamente evolutivos". Questão incorreta.
(TCE-RS / 2018)
Considere o seguinte fato: Há verbos que, em decorrência de seu sentido lógico, permitem presumir uma
ideia que não vem expressa de modo explícito nas frases em que se encontram. Essa ideia é parte integrante
do sentido da frase.
Analise, então, as frases que seguem.
I. Ao final, competia ao mais jovem a difícil decisão.
II. A cada ação humanitária, eleva-se a esperança dos imigrantes.
III. Depois de muitas aventuras, bem e mal-sucedidas, retornou à advocacia.
IV. Com os novos dados, os investidores apressaram as negociações.
É correto afirmar que, pelo motivo exposto, há informação implícita em:
a) I, II, III e IV. b) I, II e IV, apenas. c) II, apenas. d) IV, apenas. e) I e III, apenas.
Comentários:
Essa questão é excelente para ilustrar a noção de pressuposto textual. Todas as alternativas são
exemplificam a presença de informações implícitas. Vejamos quais:
I. Ao final, competia ao mais jovem a difícil decisão.
O tempo pretérito competia sugere que “não mais compete”; além disso, se já um “mais jovem”, presume-
se que haja mais de uma pessoa e que seja necessariamente mais velha do que aquele a quem competia a
decisão.
II. A cada ação humanitária, eleva-se a esperança dos imigrantes.
O verbo “elevar-se” traz a informação implícita de que a esperança estava baixa.
III. Depois de muitas aventuras, bem e mal-sucedidas, retornou à advocacia.
Se “retornou” à advocacia, presume-se que fora advogado antes. Só retorna à advocacia quem já esteve na
advocacia.
IV. Com os novos dados, os investidores apressaram as negociações.
“Novos dados” faz presumir que já havia dados antes; também é possível inferir do verbo “apressaram” que
as negociações estavam lentas. Em II e IV, as informações implícitas são realmente muito sutis, mas a questão
é, mesmo assim, muito boa para o estudo deste tópico. Gabarito letra A.

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Questões de recorrência são


Leia o texto todo. Leia outra vez, A ideia central na introdução e
resolvidas encontrando uma
marcando as ideias centrais de na conclusão é a tese. No
paráfrase. Questões de
cada parágrafo, que desenvolvimento é o tópico
inferência exigem uma dedução
frequentemente vêm no seu início. frasal.
baseada e pressupostos.

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JULGAMENTO DE ASSERTIVAS: PRINCIPAIS ERROS


Pessoal, vamos ver agora os principais raciocínios equivocados que fazem o aluno errar na hora da prova.

Extrapolar:
Esse é o erro mais comum. O texto vai até um limite e o examinador oferece uma assertiva que “vai além”
desse limite.
O examinador inventa aspectos que não estão contidos no texto e o candidato, por não ter entendido bem
o texto, preenche essas lacunas com a imaginação, fazendo outras associações, à margem do texto,
estimulado pela assertiva errada. O exemplo mais perigoso é a extrapolação com informação verdadeira,
mas que não está no texto.

Limitar e Restringir:
É o contrário da extrapolação. Geralmente se manifesta na supressão de informação essencial para o texto.
A assertiva reducionista omite parte do que foi dito ou restringe o fato discutido a um universo menor de
possibilidades.

Acrescentar opinião:
Nesse tipo de assertiva errada, o examinador parafraseia parte do texto, mas acrescenta um pouco da sua
própria opinião, opinião esta que não foi externada pelo autor.
A armadilha dessas afirmativas está em embutir uma opinião que não está no texto, mas que está na
consciência coletiva, pelo fato de ser um clichê ou senso comum que o candidato possa compartilhar.

Contradizer o texto.
O texto original diz “A” e o texto parafraseado da assertiva errada diz “Não A” ou “B”.
Para disfarçar essa contradição, a banca usará muitas palavras do texto, fará uma paráfrase muito
semelhante, mas com um vocábulo crucial que fará o sentido ficar inverso ao do texto.

Tangenciar o tema.
O examinador cria uma assertiva que aparentemente se relaciona ao tema, mas fala de outro assunto,
remotamente correlato. No mundo dos fatos, aqueles dois temas podem até ser afins, mas no texto não se
falou do segundo, só do primeiro; então houve fuga ao tema.

Vamos fazer um exercício e localizar esses erros num texto.

Para evitar os erros acima, o leitor deve ser capaz de fazer o “recorte temático”, isto é, uma delimitação do

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tema, um estabelecimento de fronteiras do que está no texto e o que o extrapola.

(ESTRATÉGIA CONCURSOS / QUESTÃO INÉDITA / 2020) As causas do desemprego no mundo


Atualmente o mundo atingiu um nível muito alto de desemprego, fato que só havia acontecido, em
proporções similares, após a crise de 29.
Segundo os órgãos internacionais, existem hoje, aproximadamente, 850 milhões de pessoas
desempregadas, algumas profissões foram superadas outras extintas, o crescimento constante de
tecnologias provoca alterações no mercado de trabalho em todo o mundo.
==cdafe==

Até mesmo em países de terceiro mundo, as fábricas e indústrias estão sofisticadas e modernas. As
empresas são obrigadas a investir maciçamente em tecnologia para garantir rapidez e melhorar a qualidade,
itens necessários em um mercado tão competitivo.
De acordo com os fragmentos abaixo, julgue os itens:
I- Consoante algumas instituições internacionais, um número próximo de 850 milhões de pessoas estão
desempregadas, pois o desenvolvimento das tecnologias de automação modificou profundamente as
relações de trabalho, aumentando a rotatividade nos postos de trabalho.
II- Segundo o autor, o desemprego no Brasil atingiu um nível muito alto, algo que só ocorrera após a
depressão de 1929.
III- Fábricas em países de terceiro mundo, ao contrário do que possa parecer, ostentam plantas modernas,
em que há grandes investimentos em tecnologia, pois esse é um fator necessário para sobreviver num
mercado competitivo, assim como a qualidade da mão de obra.
IV- De acordo com organismos internacionais, há aproximadamente 850 milhões de desempregados, tendo
em vista que algumas profissões foram superadas e extintas, além do fato de que o crescimento constante
de tecnologias provoca manutenção das relações de trabalho no mercado em todo o mundo. Tal nível de
desemprego é sem precedentes na história.
V- Os investimentos em tecnologia são um grande fator para a deterioração dos benefícios trabalhistas,
constitucionalmente garantidos, acentuando a condição de hipossuficiente dos operários das modernas e
sofisticadas fábricas em todo o mundo.
Comentários:
I- No primeiro item, há extrapolação. O texto não menciona nada sobre automação nem sobre rotatividade
de trabalho; embora seja possível fazer essas associações à luz do tema “desemprego” isso foi além do que
estava escrito no texto. Essas informações não estão contidas.
II- Houve redução drástica da abrangência do tema. O autor fala do desemprego em todo o mundo; a
assertiva somente menciona o Brasil, tornando o universo da discussão muito restrito.
III- Esse “ao contrário do que possa parecer” é opinião do examinador levemente embutida no item. O texto
não diz claramente que as fábricas parecem menos modernas. Pelo contrário, diz que até as fábricas em
países de terceiro mundo estão sofisticadas; então poderíamos até entender um sentido concessivo de que

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não é esperado que essas fábricas sejam modernas, mas isso é diferente de dizer que “não parecem”
modernas. também foi acrescentada uma outra opinião: que “a qualidade da mão de obra é tão importante
quanto a tecnologia”. Essas opiniões são compartilhadas por muitas pessoas, então o candidato pode se
identificar e marcar o item como certo. Contudo, não constam no texto escrito.
IV- O item é quase todo igual ao texto original, mas no finalzinho traz uma informação oposta: “o crescimento
constante de tecnologias provoca manutenção das relações de trabalho”. Não há manutenção, há mudanças
constantes, nas palavras do autor, há “alterações”. Também contradiz o texto a parte: “Tal nível de
desemprego é sem precedentes na história”. Isso não é verdade, pois também houve desemprego alto após
a crise de 29, conforme o texto.
V- O tema do texto é o aumento do desemprego. Esta assertiva menciona indiretamente a tecnologia, mas
foca em outro tema: “direitos trabalhistas”. Embora remotamente relacionados, houve fuga ao objeto
principal do texto.
Dessa forma, observamos que, embora todas as alternativas tragam palavras muito semelhantes às do texto,
todos os itens estão errados. Gabarito EEEEE.

Viram, pessoal? É assim que a banca trabalha para enganar você: muda pequenas partes do texto, subtraindo
ou acrescentando informações com o propósito de mudar o sentido da assertiva.

ERROS DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL


Extrapolar o texto lido
Reduzir ou restringir o texto lido

Acrescentar opinião não indicada pelo autor

Contradizer o texto lido

Evadir ou tangenciar o tema

O mais importante é sempre praticar muito, ler vários textos, tentar responder aos itens e ler nos
comentários qual foi o raciocínio que fundamentou o gabarito. Vá praticando devagar, textos são longos e
levam tempo, mas não há outra forma de melhorar sua leitura senão ler.
Se necessário, faça suas baterias de questões em partes, para não ficar cansado lendo muitos textos de uma
só vez.
Agora que já vimos toda a teoria, é hora de Praticar!

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QUESTÕES COMENTADAS - COMPREENSÃO E


INTERPRETAÇÃO - FCC
Quando lhe disse que um vago conhecido nosso tinha morrido, vítima de tumor no cérebro, levou as
mãos à cabeça:
− Minha Santa Efigênia!
Espantei-me que o atingisse a morte de alguém tão distante de nossa convivência, mas logo ele fez
sentir a causa de sua perturbação:
− É o que eu tenho, não há dúvida nenhuma: esta dor de cabeça que não passa! Estou para morrer.
Conheço-o desde menino, e sempre esteve para morrer. Não há doença que passe perto dele e não se
detenha, para convencê-lo em iniludíveis sintomas de que está com os dias contados. Empresta dimensões
de síndromes terríveis à mais ligeira manifestação de azia ou acidez estomacal:
− Até parece que andei comendo fogo. Estou com pirofagia crônica. Esta cólica é que é o diabo, se eu
fosse mulher ainda estava explicado. Histeria gástrica. Úlcera péptica, no duro.
Certa ocasião, durante um mês seguido, tomou injeções diárias de penicilina, por sua conta e risco. A
chamada dose cavalar.
− Não adiantou nada − queixa-se ele. − Para mim o médico que me operou esqueceu alguma coisa
dentro de minha barriga.
Foi operado de apendicite quando ainda criança e até hoje se vangloria:
− Menino, você precisava de ver o meu apêndice: parecia uma salsicha alemã.
No que dependesse dele, já teria passado por todas as operações jamais registradas nos anais da
cirurgia: “Só mesmo entrando na faca para ver o que há comigo”. Os médicos lhe asseguram que não há
nada, ele sai maldizendo a medicina: “Não descobrem o que eu tenho, são uns charlatães, quem entende de
mim sou eu”. O radiologista, seu amigo particular, já lhe proibiu a entrada no consultório: tirou-lhe
radiografia até dos dedos do pé. E ele sempre se apalpando e fazendo caretas: “Meu fígado hoje está que
nem uma esponja, encharcada de bílis. Minha vesícula está dura como um lápis, põe só a mão aqui”.
− É lápis mesmo, aí no seu bolso.
− Do lado de cá, sua besta. Não adianta, ninguém me leva a sério.
[...]
Ultimamente os amigos deram para conspirar, sentenciosos: o que ele precisa é casar. Arranjar uma
mulherzinha dedicada, que cuidasse dele. “Casar, eu?” − e se abre numa gargalhada: “Vocês querem acabar
de liquidar comigo?” Mas sua aversão ao casamento não pode ser tão forte assim, pois consta que de uns
dias para cá está de namoro sério com uma jovem, recém-diplomada na Escola de Enfermagem Ana Néri.
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. Rio de Janeiro: BestBolso, 2012, p. 71-72)

1. FCC / PREF. SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP / 2021


Em relação à medicina, o amigo do cronista mostra-se

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(A) confiante.
(B) indiferente.
(C) cético.
(D) resignado.
(E) esperançoso.
Comentários:
O amigo do cronista é hipocondríaco, distúrbio psicológico que faz a pessoa acreditar que está sempre
doente e a doença está potencialmente em toda a parte.
Quando os médicos provam que não há nada, duvida deles, se mostra então "cético":
Os médicos lhe asseguram que não há nada, ele sai maldizendo a medicina: “Não descobrem o que eu tenho,
são uns charlatães, quem entende de mim sou eu”.
Vale a pena rever o sentido da palavra Ceticismo:
1. Fil Atitude de dúvida sistemática, ou tendência a duvidar; não aceitação de pretensas certezas ou verdades
absolutas.
2. P.ext Incredulidade, descrença, falta de confiança ou de convicção:Mostrou cepti-cismo em relação a tudo.
3. Fil Doutrina filosófica segundo a qual é impossível a consciência adquirir certeza sobre a verdade em geral
ou sobre algum conhecimento específico.
4. Método ou procedimento filosófico dos adeptos do cepticismo (3), esp. a suspensão do julgamento (como
no cepticismo da Antiguidade grega) e a crítica ao conhecimento metafísico, dogmático ou religioso (como
no cepticismo moderno).
Gabarito letra C.

O dono do pequeno restaurante é amável, sem derrame, e a fregueses mais antigos oferece, antes do
menu, o jornal do dia “facilitado”, isto é, com traços vermelhos cercando as notícias importantes. Vez por
outra, indaga se a comida está boa, oferece cigarrinho, queixa-se do resfriado crônico e pergunta pelo nosso,
se o temos; se não temos, por aquele regime começado em janeiro, e de que desistimos. Também pelos filmes
de espionagem, que mexem com ele na alma.
Espetar a despesa não tem problema, em dia de barra pesada. Chega a descontar o cheque a ser
recebido no mês que vem (“Falta só uma semana, seu Adelino”).
Além dessas delícias raras, seu Adelino faculta ao cliente dar palpites ao cozinheiro e beneficiar-se
com o filé mais fresquinho, o palmito de primeira, a batata feita na hora, especialmente para os eleitos.
Enfim, autêntico papo-firme.
Uma noite dessas, o movimento era pequeno, seu Adelino veio sentar-se ao lado da antiga freguesa.
Era hora do jantar dele, também. O garçom estendeu-lhe o menu e esperou. Seu Adelino, calado, olhava para
a lista inexpressiva dos pratos do dia. A inspiração não vinha. O garçom já tinha ido e voltado duas vezes, e
nada. A freguesa resolveu colaborar:
− Que tal um fígado acebolado?
− Acabou, madame − atalhou o garçom.

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− Deixe ver… Assada com coradas, está bem?


− Não, não tenho vontade disso − e seu Adelino sacudiu a cabeça.
− Bem, estou vendo aqui umas costeletas de porco com feijão-branco, farofa e arroz…
− Não é mau, mas acontece que ainda ontem comi uma carnezita de porco, e há dois dias que me
servem feijão ao almoço − ponderou.
A freguesa de boa vontade virou-se para o garçom:
− Aqui no menu não tem, mas quem sabe se há um bacalhau a qualquer coisa? − pois seu Adelino
(refletiu ela) é português, e como todo lusíada que se preza, há de achar isso a pedida.
Da cozinha veio a informação:
− Tem bacalhau à Gomes de Sá. Quer?
− Pode ser isso − concordou seu Adelino, sem entusiasmo.
Ao cabo de dez minutos, veio o garçom brandindo o Gomes de Sá. A freguesa olhou o prato, invejando-
o, e, para estimular o apetite de seu Adelino:
− Está uma beleza!
− Não acho muito não − retorquiu, inapetente.
O prato foi servido, o azeite adicionado, e seu Adelino traçou o bacalhau, depois de lhe ser desejado
bom apetite. Em silêncio. Vendo que ele não se manifestava, sua leal conviva interpelou-o:
− Como é, está bom?
Com um risinho meio de banda, fez a crítica:
− Bom nada, madame. Isso não é bacalhau à Gomes de Sá nem aqui nem em Macau. É bacalhau com
batatas. E vou lhe dizer: está mais para sem gosto do que com ele. A batata me sabe a insossa, e o bacalhau
salgado em demasia, ai!
A cliente se lembrou, com saudade vera, daquele maravilhoso Gomes de Sá que se come em casa de
d. Concessa. E foi detalhando:
− Lá em casa é que se prepara um legal, sabe? Muito tomate, pimentão, azeite de verdade, para fazer
um molho pra lá de bom, e ainda acrescentam um ovo…
Seu Adelino emergiu da apatia, comoveu-se, os olhos brilhando, desta vez em sorriso aberto:
− Isso mesmo! Ovo cozido e ralado, azeitonas portuguesas, daquelas… Um santo, santíssimo prato!
Mas, encarando o concreto:
− Essa gente aqui não tem a ciência, não tem a ciência!
− Espera aí, seu Adelino, vamos ver no jornal se tem um bom filme de espionagem para o senhor se
consolar. Não tinha, infelizmente.
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. 70 histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 110-111)

2. FCC / PREF. RECIFE / 2022


Na crônica, a freguesa é caracterizada como
(A) irônica.

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(B) introspectiva.
(C) solícita.
(D) volúvel.
(E) impertinente.
Comentários:
"Solícita" é a pessoa prestimosa, atenciosa, que não poupa esforços para ajudar, servir, ser útil. Assim é
descrita a freguesa, que em diversos momentos tenta ser gentil com Seu Adelino:
O garçom estendeu-lhe o menu e esperou. Seu Adelino, calado, olhava para a lista inexpressiva dos
pratos do dia. A inspiração não vinha. O garçom já tinha ido e voltado duas vezes, e nada. A freguesa resolveu
colaborar:
A freguesa de boa vontade virou-se para o garçom:
− Espera aí, seu Adelino, vamos ver no jornal se tem um bom filme de espionagem para o senhor se
consolar. Não tinha, infelizmente.
Gabarito letra C.

1. “Cobrador usa intimidação como estratégia. Empresas de cobrança usam técnicas abusivas, como tornar
pública a dívida.” (Cotidiano, 10.09.2001)
2. Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um
cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: “Aqui mora uma devedora inadimplente.”
3. − Você não pode fazer isso comigo − protestou ela.
4. − Claro que posso − replicou ele. − Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu
sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
5. − Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...
6. − Já sei − ironizou ele. − Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios
ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou
fazendo.
7. − Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...
8. − Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia
de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro
recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
9. Neste momento começou a chuviscar.
10. − Você vai se molhar − advertiu ela. − Vai acabar ficando doente.
11. Ele riu, amargo:
12. − E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
13. − Posso lhe dar um guarda-chuva...
14. − Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
15. Ela agora estava irritada:

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16. − Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
17. − Sou seu marido − retrucou ele − e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você,
devedora. Eu a avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas
não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que
eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
18. Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava
andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.
(Adaptado de: SCLIAR, Moacyr. O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2002)

3. FCC / PGE-AM / 2022


Em relação aos apelos da mulher, Aristides mostra-se
(A) desconfiado.
(B) envergonhado.
(C) inflexível.
(D) reticente.
(E) compassivo.
Comentários:
Questão direta de vocabulário contextualizado. Basicamente, o homem não cede às argumentações da
mulher, seu comportamento é "inflexível". Vejamos as demais:
(A) desconfiado: aquele que suspeita, desconfia
(B) envergonhado: aquele que tem vergonha.
(D) reticente: aquele que hesita, silencia.
(E) compassivo: aquele que tem compaixão.
Gabarito letra C.

As calçadas
As calçadas O inglês tem um verbo curioso, to loiter, que quer dizer, mais ou menos, andar devagar
ou a esmo, ficar à toa, zanzar (grande palavra), vagabundear, ou simplesmente não transitar. E nos Estados
Unidos (não sei se na Inglaterra também), loitering é uma contravenção. Você pode ser preso por loitering,
por estar parado em vez de transitando, numa calçada. O que diferencia um abusivo loitering de uma apenas
inocente ausência de movimento ou de direção depende, imagino, da interpretação do guarda, ou também
daquela sutil subjetividade que também define o que é uma “atitude suspeita”.
Mas é difícil pensar em outra coisa que divida mais claramente o mundo anglo-saxão do mundo latino
do que o loitering, que não tem nem tradução exata em língua românica, que eu saiba. Se loitering fosse
contravenção na Itália, onde ficar parado na rua para conversar ou apenas para ver os que transitam
transitarem é uma tradição tão antiga quanto a sesta, metade da população viveria na cadeia. Na Espanha,
toda a população viveria na cadeia.
Talvez a diferença entre a América e a Europa, e a vantagem econômica da América sobre os povos

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que zanzam, se explique pelos conceitos diferentes de calçada: um lugar utilitário por onde se ir (e, claro,
voltar) ou um lugar para se estar, de preferência com outros. Os franceses, apesar de latinos, não costumam
usar tanto a calçada como sala, não porque tenham se americanizado para aumentar a produção, mas
porque preferem usá-la como café, e estar com outros sentados. Desperdiça-se tempo, mas ganham-se anos
de vida, parados numa calçada.
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 69-70)

4. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


Nessa crônica carregada de humor, Luis Fernando Verissimo vale-se de certas marcas atribuídas a certas
culturas, quando acredita, por exemplo, que
(A) a prática do loitering acabou por reduzir o prazer que os franceses já tiveram em conversar nas calçadas
dos cafés.
(B) o loitering é um comportamento típico dos povos anglo-saxões, que assim se diferenciariam dos povos
latinos.
(C) uma sanção muito rigorosa da prática do loitering resultaria em pena de reclusão para parte bastante
significativa da população italiana.
(D) a vantagem econômica dos povos latinos sobre os europeus deriva do fato de que aqueles pouco
desenvolvem o hábito do loitering.
(E) a classificação do loitering como contravenção impediu que os espanhóis desenvolvessem o mesmo
hábito dos italianos.
Comentários:
Se loitering fosse contravenção na Itália, onde ficar parado na rua para conversar ou apenas para ver os que
transitam transitarem é uma tradição tão antiga quanto a sesta, metade da população viveria na cadeia.
Com o trecho acima, o autor mostra que é típico da cultura italiana ficar na calçada "parados, vendo o
movimento". Por isso diz que, se fosse crime "loitering" na Itália, metade da população seria presa.
Vejamos as demais:
(A) Incorreto. A prática do loitering justamente mostra o prazer que os franceses ainda têm em conversar
nas calçadas dos cafés. Em suma, os franceses ficam pelas calçadas, nos seus tradicionais cafés.
(B) Incorreto. O loitering não é um comportamento típico dos povos anglo-saxões, que o punem como
transgressão.
(D) Incorreto. Latinos desenvolvem sim o hábito do loitering, a exemplo dos italianos e franceses.
(E) Incorreto. Os espanhóis praticam ainda mais que os italianos o "loitering":
Na Espanha, toda a população viveria na cadeia.
Gabarito letra C.

5. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022 (Utilize o texto da questão anterior)


Em relação ao sentido do verbo inglês to loiter e de sua forma loitering, o cronista considera que essas
expressões
(A) junto aos povos latinos designam um modo de se desperdiçar o tempo.

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(B) não encontram tradução sequer aproximativa para o português ou outra língua românica.
(C) têm significação inteiramente subjetiva, dependendo tão somente de quem as usa.
(D) têm um significado que varia de país para país, o que impede seu reconhecimento.
(E) referem-se a uma prática social de peso e valor diversos em diferentes países.
Comentários:
To loiter e Loitering referem-se a uma prática social de peso e valor diversos em diferentes países, como ele
prova ao mencionar que é crime nos Estados Unidos e hábito tradicional na Itália e na Espanha.
Vejamos o problema das demais.
(A) junto aos povos latinos designam um modo de se desperdiçar o tempo.
Incorreto. Não é desperdício, na última linha temos que os franceses "ganham anos de vida".
(B) não encontram tradução sequer aproximativa para o português ou outra língua românica.
Incorreto. Há diversas traduções aproximadas no primeiro parágrafo. Por exemplo, vagabundear.
(C) têm significação inteiramente subjetiva, dependendo tão somente de quem as usa.
Incorreto. O que é subjetivo é distinguir entre loitering abusivo e ficar parado inocentemente.
(D) têm um significado que varia de país para país, o que impede seu reconhecimento.
Incorreto. O significado é o mesmo, o que varia de país para país é a avaliação da atitude.
Gabarito letra E.

6. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022 (Utilize o texto da questão 04)


No terceiro parágrafo, ao definir uma calçada como um lugar utilitário, o cronista está considerando
(A) o modo pelo qual os latinos impuseram aos franceses uma valorização das calçadas.
(B) uma possível razão da vantagem econômica dos americanos sobre os povos que zanzam.
(C) o motivo pelo qual os espanhóis passaram a defender a razão de seu hábito preferido.
(D) uma espécie de atitude suspeita que marcaria o comportamento dos italianos.
(E) a prática do loitering tal como é adotada hoje em dia pela maioria dos franceses.
Comentários:
Voltemos ao trecho objeto da questão:
Talvez a diferença entre a América e a Europa, e a vantagem econômica da América sobre os povos que
zanzam, se explique pelos conceitos diferentes de calçada: um lugar utilitário por onde se ir (e, claro, voltar)
ou um lugar para se estar, de preferência com outros.
A questão é literal, quando menciona o "caráter utilitário", está especulando (talvez) sobre a vantagem
econômica da América.
Gabarito letra B.

[Ritmos da civilização]

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Se um camponês espanhol tivesse adormecido no ano 1.000 e despertado quinhentos anos depois, ao
som dos marinheiros de Colombo a bordo das caravelas Nina, Pinta e Santa Maria, o mundo lhe pareceria
bastante familiar. Esse viajante da Idade Média ainda teria se sentido em casa. Mas se um dos marinheiros
de Colombo tivesse caído em letargia similar e despertado ao toque de um iPhone do século XXI, se
encontraria num mundo estranho, para além de sua compreensão. “Estou no Céu?”, ele poderia muito bem
se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
Os últimos quinhentos anos testemunharam um crescimento fenomenal e sem precedentes no
poderio humano. Suponha que um navio de batalha moderno fosse transportado de volta à época de
Colombo. Em questão de segundos, poderia destruir as três caravelas e em seguida afundar as esquadras de
cada uma das grandes potências mundiais. Cinco navios de carga modernos poderiam levar a bordo o
carregamento das frotas mercantes do mundo inteiro. Um computador moderno poderia facilmente
armazenar cada palavra e número de todos os documentos de todas as bibliotecas medievais, com espaço
de sobra. Qualquer grande banco de hoje tem mais dinheiro do que todos os reinos do mundo pré-moderno
reunidos.
Durante a maior parte da sua história, os humanos não sabiam nada sobre 99,99% dos organismos
do planeta – em especial, os micro-organismos. Foi só em 1674 que um olho humano viu um micro-organismo
pela primeira vez, quando Anton van Leeuwenhock deu uma espiada através de seu microscópio caseiro e
ficou impressionado ao ver um mundo inteiro de criaturas minúsculas dando volta em uma gota d’água. Hoje,
projetamos bactérias para produzir medicamentos, fabricar biocombustível e matar parasitas.
Mas o momento mais notável e definidor dos últimos 500 anos ocorreu às 5h29m45s da manhã de 16
de julho de 1945. Naquele segundo exato, cientistas norte-americanos detonaram a primeira bomba atômica
em Alamogordo, Novo México. Daquele ponto em diante, a humanidade teve a capacidade não só de mudar
o curso da história como também de colocar um fim nela. O processo histórico que levou a Alamogordo e à
Lua é conhecido como Revolução Científica. Ao longo dos últimos cinco séculos, os humanos passaram a
acreditar que poderiam aumentar suas capacidades se investissem em pesquisa científica. O que ninguém
poderia imaginar era em que aceleração frenética tudo se daria.
(Adaptado de: HARARI, Yuval Noah. Uma breve história da humanidade. Trad. Janaína Marcoantonio. Porto Alegre: L&PM, 2018,
p. 257-259, passim)

7. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


As experiências de vida de um marinheiro, ao tempo de Colombo,
(A) faziam-no desfrutar de condições profissionais mais vantajosas do que aquelas em que vivem os marujos
modernos.
(B) amadureciam-no rapidamente graças ao ritmo frenético das conquistas tecnológicas daquela época.
(C) tornavam-no apto a antecipar os avanços inevitáveis da civilização, sobretudo no campo da tecnologia
náutica.
(D) não o faziam sequer suspeitar do que lhe seria apresentado, caso se visse transportado para o nosso
século.
(E) de pouco lhe valeriam, se postas diante da irracionalidade que passou a comprometer a ciência do século
XXI.
Comentários:
Se um camponês espanhol tivesse adormecido no ano 1.000 e despertado quinhentos anos depois, ao
som dos marinheiros de Colombo a bordo das caravelas Nina, Pinta e Santa Maria, o mundo lhe pareceria

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bastante familiar. Esse viajante da Idade Média ainda teria se sentido em casa. Mas se um dos marinheiros
de Colombo tivesse caído em letargia similar e despertado ao toque de um iPhone do século XXI, se
encontraria num mundo estranho, para além de sua compreensão. “Estou no Céu?”, ele poderia muito bem
se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
A ideia é a de que um marinheiro não estranharia tanto o mundo se acordasse em 1500, mas a
revolução frenética dos últimos séculos o faria se sentir num mundo totalmente inimaginável. Em outras
palavras, ao tempo de Colombo, o marinheiro ou qualquer outra pessoa, aliás, jamais poderia prever todos
os avanços da humanidade testemunhados no nosso século.
Vejamos erros nas demais:
(A) Incorreto. Não há nada no texto referindo que ele teria condições mais ou menos vantajosas. Diga-se de
passagem, quem leu esse livro "Sapiens" sabe que uma tese sugerida pelo autor é a de que não se pode
afirmar que o homem hoje viva mais feliz do que os homens de outras idades da história.
(B) Incorreto. O ritmo das conquistas tecnológicas daquela época não era frenético.
(C) Incorreto. Ele nunca conseguiria antecipar, isso está expresso no texto.
(E) Incorreto. Não se mencionada nada de "irracionalidade", isso é opinião subjetiva adicionada pelo
elaborador.
Gabarito letra D.

8. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022 (Utilize o texto da questão anterior)


Da leitura do segundo parágrafo depreende-se que o crescimento fenomenal e sem precedentes no poderio
humano manifestou- se sobretudo considerando-se
(A) a socialização de bens de consumo e de serviços públicos.
(B) o aspecto quantitativo das alterações ambientais.
(C) a capacidade de produzir e sintetizar operações mais complexas.
(D) o rigor ético que passou a orientar a nossa ciência.
(E) a facilidade de improvisarmos diante dos obstáculos e desafios.
Comentários:
Pessoal, a questão examina o segundo parágrafo, então é nele que vamos achar diretamente e literalmente
a resposta:
Os últimos quinhentos anos testemunharam um crescimento fenomenal e sem precedentes no
poderio humano. Suponha que um navio de batalha moderno fosse transportado de volta à época de
Colombo. Em questão de segundos, poderia destruir as três caravelas e em seguida afundar as esquadras
de cada uma das grandes potências mundiais. Cinco navios de carga modernos poderiam levar a bordo o
carregamento das frotas mercantes do mundo inteiro. Um computador moderno poderia facilmente
armazenar cada palavra e número de todos os documentos de todas as bibliotecas medievais, com espaço
de sobra. Qualquer grande banco de hoje tem mais dinheiro do que todos os reinos do mundo pré-moderno
reunidos.
Hoje é mais fácil realizar tarefas complexas: construir frota, armazenar dados, riquezas.
Gabarito letra C.

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O colégio de Tia Gracinha


Tia Gracinha, cujo nome ficou no grupo escolar Graça Guardia, de Cachoeiro do Itapemirim, era irmã
de minha avó paterna, mas tão mais moça que a tratava de mãe. Tenho do colégio de Tia Gracinha uma
recordação em que não sei o que é lembrança mesmo e lembrança de conversa que ouvi menino.
Lembro-me, sobretudo, do pomar e do jardim do colégio, e imagino ver moças de roupas antigas,
cuidando das plantas. O colégio era um internato de moças. Elas não aprendiam datilografia nem taquigrafia,
pois o tempo era de pouca máquina e nenhuma pressa. Moças não trabalhavam fora. As famílias de
Cachoeiro e de muitas outras cidades do Espírito Santo mandavam suas adolescentes para ali; muitas eram
filhas de fazendeiros. Recebiam instrução geral, uma espécie de curso primário reforçado, o mais eram
prendas domésticas. Trabalhos caseiros e graças especiais: bordados, jardinagem, francês, piano...
A carreira de toda moça era casar, e no colégio de Tia Gracinha elas aprendiam boas maneiras.
Levavam depois, para as casas de seus pais e seus maridos, uma porção de noções úteis de higiene e de
trabalhos domésticos, e muitas finuras que lhes davam certa superioridade sobre os homens de seu tempo.
Pequenas etiquetas que elas iam impondo suavemente, e transmitiam às filhas.
Tudo isto será risível aos olhos das moças de hoje; mas a verdade é que o colégio de Tia Gracinha dava
às moças de então a educação de que elas precisavam para viver sua vida. Não apenas o essencial, mas muito
mais do que, sendo supérfluo e superior ao ambiente, era por isto mesmo, de certo modo, funcional – pois a
função do colégio era uma certa elevação espiritual do meio a que servia. Tia Gracinha era o que bem se
podia chamar uma educadora.
(Abril, 1979)
(Adaptado de: BRAGA, Rubem. Recado de primavera. Rio de Janeiro: Record, 1984, p. 52-53)

9. FCC / SEDU-ES / 2022


Ao se lembrar do colégio de Tia Gracinha, o cronista ressalta a
(A) excelência do ensino nesse estabelecimento, cujas propostas básicas já prefiguravam uma nova filosofia
pedagógica.
(B) adequação existente entre as práticas pedagógicas dessa escola e as expectativas conservadoras quanto
ao papel social das mulheres.
(C) ênfase que era dada, no currículo escolar, às disciplinas que exigiam das estudantes uma visada crítica
dos valores da tradição.
(D) importância apenas relativa que tinha aquele tipo de educação para o desempenho prático das futuras
mães e esposas.
(E) permanência entre nós dos valores de uma educação que ajuda a distinguir as diferentes funções sociais
dos gêneros.
Comentários:
O texto nos revela que naquele momento histórico, a vocação das moças era casar. Para isso, precisavam
aprender certos conhecimentos funcionais para a tal papel social, o de esposa.
Isso está bem literal no texto:
O colégio era um internato de moças. Elas não aprendiam datilografia nem taquigrafia, pois o tempo
era de pouca máquina e nenhuma pressa. Moças não trabalhavam fora. As famílias de Cachoeiro e de muitas

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outras cidades do Espírito Santo mandavam suas adolescentes para ali; muitas eram filhas de fazendeiros.
Recebiam instrução geral, uma espécie de curso primário reforçado, o mais eram prendas domésticas.
Trabalhos caseiros e graças especiais: bordados, jardinagem, francês, piano...
A carreira de toda moça era casar, e no colégio de Tia Gracinha elas aprendiam boas maneiras. Levavam
depois, para as casas de seus pais e seus maridos
Vejamos as demais:
A) Incorreto. O foco não era na excelência de ensino e pedagogia, mas sim nas habilidades voltadas para o
casamento.
C) Incorreto. Não havia visada crítica, as moças abraçavam a expectativa de exercer o papel de esposas.
D) Incorreto. A importância não era relativa, era crucial.
E) Incorreto. O autor não fala nada sobre a permanência desses valores hoje. Ainda que seja verdade, talvez,
no mundo real, não está no texto. Inclusive ele diz que "tudo isso seria risível os olhos das meninas de hoje".
Gabarito letra B.

10. FCC / SEDU-ES / 2022 (Utilize o texto da questão anterior)


No segundo parágrafo, entende-se que um internato de moças como o de Tia Gracinha
(A) era uma forma de compensar o conservadorismo masculino com o atendimento das inclinações
vocacionais legitimamente femininas.
(B) existia para poupá-las da tentação de se ocupar em atividades reservadas aos homens, como as exigidas
pelas máquinas e pela velocidade moderna.
(C) funcionava como uma forma de democratização, reservando-se algum espaço para as adolescentes de
famílias economicamente mais frágeis.
(D) privilegiava, no que dizia respeito às mulheres, um encaminhamento funcional considerado digno das
filhas das classes dominantes.
(E) atendia a exigências que partiam das mulheres mesmas, dispostas a tornarem exclusivo um aprendizado
que só a elas dizia respeito.
Comentários:
O internato privilegiava, no que dizia respeito às mulheres, um encaminhamento funcional considerado
digno das filhas das classes dominantes. Eram filhas de fazendeiros e outras classes dominantes.
Onde está isso no texto?
As famílias de Cachoeiro e de muitas outras cidades do Espírito Santo mandavam suas adolescentes para ali;
muitas eram filhas de fazendeiros. Recebiam instrução geral, uma espécie de curso primário reforçado, o
mais eram prendas domésticas. Trabalhos caseiros e graças especiais: bordados, jardinagem, francês,
piano...
Vejamos as demais.
(A) Incorreto. Não era uma forma de compensar o conservadorismo masculino; muito pelo contrário:
resumia a vocação feminina ao casamento.
(B) Incorreto. Essa alternativa declara que existem atividades reservadas aos homens, por definição. Isso

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não é verdade, embora o texto faça reconhecer que as mulheres eram vistas essencialmente esposas em
potencial. Não se menciona também "tentação" das moças.
(C) Incorreto. Não funcionava como uma forma de democratização, pois havia uma divisão patriarcal
marcada. Além disso, as moças eram de classes dominantes.
(E) Incorreto. As exigências partiam da sociedade e das famílias.
Gabarito letra D.

11. FCC / SEDU-ES / 2022 (Utilize o texto da questão 09)


A possibilidade de uma contestação dos princípios pedagógicos norteadores do colégio de Tia Gracinha e dos
valores de época referidos no texto está enunciada no segmento
(A) Tudo isso será risível aos olhos das moças de hoje.
(B) não sei o que é lembrança mesmo e lembrança de conversa que ouvi de menino.
(C) muitas finuras que lhes davam certa superioridade sobre os homens de seu tempo.
(D) a função do colégio era uma certa elevação espiritual do meio a que servia.
(E) Pequenas etiquetas que elas iam impondo suavemente, e transmitiam às filhas.
Comentários:
Contestação aqui tem sentido de oposição. O único trecho que mostra essa possibilidade é: Tudo isso será
risível aos olhos das moças de hoje.
Será risível, ridículo, inaceitável às moças de hoje, justamente porque não aceitariam tal realidade, haveria
oposição a essas ideias.
Gabarito letra A.

12. (FCC / ALAP / AUXILIAR LEGISLATIVO / 2020)


Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,


Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,


Tão simples, tão certa, tão fácil:

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− Em que espelho ficou perdida


a minha face?
(Cecília Meirelles)
Considere as afirmações abaixo.
I. No poema, verifica-se um processo de mudança, decorrente da passagem do tempo.
II. O elemento sublinhado em Que nem se mostra (2ª estrofe) refere-se a “coração”.
III. Sem prejuízo para o sentido, o segmento sublinhado no verso Eu não dei por esta mudança (3ª estrofe)
pode ser substituído por “ainda não assimilei”.
IV. A repetição do termo “assim” em Assim calmo, assim triste, assim magro (1ª estrofe) prediz uma
consequência, expressa no verso seguinte.
Está correto o que consta APENAS em
(A) II e III.
(B) I, II e IV.
(C) I e III.
(D) I e II.
(E) III e IV.
Comentários:
I Correto. Percebemos essa passagem do tempo pelos verbos no pretérito: tinha, dei...
II Correto. Eu não tinha este coração Que nem se mostra. O pronome “que” retoma o antecedente coração.
III Incorreto. O sentido é “não percebi”. Assimilar é absorver, entender.
IV Incorreto. O sentido é de modo. Gabarito letra D.

13. (FCC / ALAP / AUXILIAR LEGISLATIVO / 2020)


1 Que tipo de capitalismo desejamos? Em termos gerais, temos três modelos entre os quais escolher.
2 O primeiro é o “capitalismo de acionistas”, que propõe que o objetivo de uma empresa deve ser a
maximização dos lucros. O segundo é o “capitalismo de Estado”, que confia ao governo a tarefa de
estabelecer a direção da economia e ganhou proeminência em países emergentes, entre os quais se destaca
a China. E há o capitalismo de “stakeholders” (partes interessadas), que posiciona as empresas privadas como
curadoras dos interesses da sociedade e representa a melhor resposta aos atuais desafios ambientais.
3 O capitalismo de acionistas, o modelo hoje dominante, ganhou terreno nos EUA, na década de 1970,
e expandiu sua influência nas décadas seguintes. Sua ascensão não deixa de ter méritos. Durante seu período
de maior êxito, milhões prosperaram, à medida que empresas abriam mercados e criavam empregos em
busca do lucro.
4 Mas essa não é toda a história. Os defensores do capitalismo de acionistas negligenciam o fato de
que uma empresa de capital aberto não é apenas uma entidade que busca lucros, mas também um
organismo social.

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5 Muitos perceberam que essa forma de capitalismo já não é sustentável. Um provável motivo é o efeito
“Greta Thunberg”. A jovem ativista sueca nos recorda que a adesão ao atual sistema econômico representa
uma traição às futuras gerações, por sua falta de sustentabilidade ambiental. Outro motivo (correlato) é que
muitos jovens já não querem trabalhar para empresas cujos valores se limitem à maximização do lucro. Por
fim, executivos e investidores começaram a reconhecer que seu sucesso em longo prazo está intimamente
ligado ao de seus clientes, empregados e fornecedores.
6 Manifestando-se favoravelmente ao estabelecimento do capitalismo de stakeholders como novo
modelo dominante, está sendo lançando um novo Manifesto de Davos, que diz que as empresas devem
mostrar tolerância zero à corrupção e sustentar os direitos humanos em toda a extensão de suas cadeias
mundiais de suprimento.
7 Mas, para defender os princípios do capitalismo de stakeholders, as empresas precisarão de novos
indicadores. De início, um novo indicador de “criação de valor compartilhado” deveria incluir metas
ecológicas e sociais como complemento aos indicadores financeiros.
8 Ademais, as grandes empresas deveriam compreender que elas são partes interessadas em nosso
futuro comum. Elas deveriam trabalhar com outras partes interessadas a fim de melhorar a situação do
mundo em que operam. Na verdade, esse deveria ser seu propósito definitivo.
9 Os líderes empresariais têm neste momento uma grande oportunidade. Ao dar significado concreto
ao capitalismo de stakeholders, podem ir além de suas obrigações legais e cumprir seu dever para com a
sociedade. Se eles desejam deixar sua marca no planeta, não existe outra alternativa.
(Adaptado de: SCHWAB, Klaus. Tradução: Paulo Migliacci. Disponível em: www1.folha.uol.com.br)
Para enfrentar os desafios da atualidade, o autor defende um sistema econômico
(A) que coadune os propósitos da sociedade com os das empresas, de modo que estas venham a
implementar ações sustentáveis, visando à satisfação, a um só tempo, dos interesses corporativos e sociais.
(B) cujo principal objetivo seja o de promover retorno financeiro a empresas e investidores, os quais, em
contrapartida, fomentariam ações de cuidado com o meio ambiente, na medida em que estas fossem
proporcionalmente incentivadas pelo Estado.
(C) já testado em países emergentes, como a China, que vem proporcionando níveis altos de
desenvolvimento econômico, bem como a prosperidade sem precedentes da população.
(D) em que a gestão da economia caiba primordialmente ao Estado, o qual poderia, assim, ter controle sobre
a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva.
(E) em que se criem empregos por meio da expansão do mercado consumidor e da maximização dos
benefícios financeiros aos acionistas de uma corporação.
Comentários:
O autor defende como solução atual o capitalismo de stakeholders, no qual as empresas deverão não só
atingir lucro, mas, ao mesmo tempo, respeitar direitos humanos, produzir de forma sustentável e criar
valores compartilhados com a sociedade:
Esse entendimento está parafraseado em: sistema econômico que coadune os propósitos da sociedade com
os das empresas, de modo que estas venham a implementar ações sustentáveis, visando à satisfação, a um
só tempo, dos interesses corporativos e sociais. Gabarito letra A.
Vejam no texto como essas informações estão diluídas nos últimos parágrafos:

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executivos e investidores começaram a reconhecer que seu sucesso em longo prazo está intimamente ligado
ao de seus clientes, empregados e fornecedores.
6 Manifestando-se favoravelmente ao estabelecimento do capitalismo de stakeholders como novo
modelo dominante, está sendo lançando um novo Manifesto de Davos, que diz que as empresas devem
mostrar tolerância zero à corrupção e sustentar os direitos humanos em toda a extensão de suas cadeias
mundiais de suprimento.
7 Mas, para defender os princípios do capitalismo de stakeholders, as empresas precisarão de novos
indicadores. De início, um novo indicador de “criação de valor compartilhado” deveria incluir metas
ecológicas e sociais como complemento aos indicadores financeiros.
8 Ademais, as grandes empresas deveriam compreender que elas são partes interessadas em nosso
futuro comum. Elas deveriam trabalhar com outras partes interessadas a fim de melhorar a situação do
mundo em que operam.
9 Os líderes empresariais têm neste momento uma grande oportunidade. Ao dar significado concreto
ao capitalismo de stakeholders, podem ir além de suas obrigações legais e cumprir seu dever para com a
sociedade.
Vejamos o problema das demais.
Vejamos:
b) Incorreto. Não basta retorno financeiro, é preciso conjugar os interesses atuais e futuros da sociedade.
c) Incorreto. Não se falou prosperidade sem precedentes para a população. A China consagrou o capitalismo
de acionistas, e o autor defende o de stakeholders.
d) Incorreto. Este seria o capitalismo de Estado, e o autor defende como solução atual o capitalismo de
stakeholders.
e) Incorreto. Novamente, aqui há referência ao capitalismo de acionistas, e o autor defende o de
stakeholders. Gabarito letra A.

14. (FCC / ALAP / AUXILIAR LEGISLATIVO / 2020) Utilize o texto da questão anterior.
No 5º parágrafo, o autor
(A) refuta a atitude de jovens de países desenvolvidos que optam pelo desemprego como forma de protesto
contra o sistema capitalista vigente.
(B) censura a atitude de gestores que se furtam a considerar os interesses financeiros dos investidores ao
estabelecer as diretrizes da cadeia produtiva da empresa.
(C) atribui à atitude da militante sueca Greta Thunberg a razão de muitos terem reconhecido que o
capitalismo de acionistas peca pela falta de sustentabilidade ambiental.
(D) exalta a iniciativa de empresários cujas gestões se baseiam no fomento aos valores da corporação,
almejando, ao mesmo tempo, a superação dos lucros dos acionistas.
(E) considera que o boicote por parte de jovens como Greta Thunberg a empresas pouco sustentáveis, ainda
que louvável, freia o crescimento econômico e gera desemprego.
Comentários:
Vejamos novamente o parágrafo:

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Muitos perceberam que essa forma de capitalismo [o de acionistas] já não é sustentável. Um provável motivo
é o efeito “Greta Thunberg”. A jovem ativista sueca nos recorda que a adesão ao atual sistema econômico
representa uma traição às futuras gerações, por sua falta de sustentabilidade ambiental. Outro motivo
(correlato) é que muitos jovens já não querem trabalhar para empresas cujos valores se limitem à
maximização do lucro. Por fim, executivos e investidores começaram a reconhecer que seu sucesso em longo
prazo está intimamente ligado ao de seus clientes, empregados e fornecedores.
(A) refuta a atitude de jovens de países desenvolvidos que optam pelo desemprego como forma de protesto
contra o sistema capitalista vigente.
Incorreto. Não se falou em desemprego voluntário como forma de protesto.
(B) censura a atitude de gestores que se furtam a considerar os interesses financeiros dos investidores ao
estabelecer as diretrizes da cadeia produtiva da empresa.
Incorreto. A crítica é contra não levarem em conta os interesses atuais e futuros da população.
(C) atribui à atitude da militante sueca Greta Thunberg a razão de muitos terem reconhecido que o
capitalismo de acionistas peca pela falta de sustentabilidade ambiental.
Exato. Se há um efeito “Greta Thunberg”, podemos concluir que ela é a causa. Vejam: Um provável motivo é
o efeito “Greta Thunberg”. A jovem ativista sueca nos recorda que a adesão ao atual sistema econômico
representa uma traição às futuras gerações, por sua falta de sustentabilidade ambiental.
(D) exalta a iniciativa de empresários cujas gestões se baseiam no fomento aos valores da corporação,
almejando, ao mesmo tempo, a superação dos lucros dos acionistas.
Incorreto. Não exalta superação de lucros, mas sim aponta a falta de sustentabilidade do modelo atual.
(E) considera que o boicote por parte de jovens como Greta Thunberg a empresas pouco sustentáveis, ainda
que louvável, freia o crescimento econômico e gera desemprego.
Incorreto. Não declara em momento algum que nenhum boicote freia crescimento algum. Gabarito letra C.

15. (FCC / ALAP / ANALISTA LEGISLATIVO / 2020)


Distribuição justa
A justiça de um resultado distributivo das riquezas depende das dotações iniciais dos participantes e da lisura
do processo do qual ele decorre. Do ponto de vista coletivo, a questão crucial é: a desigualdade observada
reflete essencialmente os talentos, esforços e valores diferenciados dos indivíduos, ou, ao contrário, ela
resulta de um jogo viciado na origem e no processo, de uma profunda falta de equidade nas condições iniciais
de vida, da privação de direitos elementares ou da discriminação racial, sexual, de gênero ou religiosa?
A condição da família em que uma criança tiver a sorte ou o infortúnio de nascer, um risco comum, a todos,
passa a exercer um papel mais decisivo na definição de seu futuro do que qualquer outra coisa ou escolha
que possa fazer no ciclo da vida. A falta de um mínimo de equidade nas condições iniciais e na capacitação
para a vida tolhe a margem de escolha, vicia o jogo distributivo e envenena os valores da convivência. A
igualdade de oportunidades está na origem da emancipação das pessoas. Crianças e jovens precisam ter a
oportunidade de desenvolver seus talentos de modo a ampliar seu leque de escolhas possíveis na vida prática
e eleger seus projetos, apostas e sonhos de realização.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 106)

No contexto do primeiro parágrafo, as expressões dotações iniciais de participantes e lisura do processo


constituem

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(A) as causas ocultas da distribuição de riquezas que acaba por não fazer justiça às habilidades próprias dos
indivíduos.
(B) as metas mais justas a serem alcançadas por um conveniente processo distributivo das limitadas riquezas
disponíveis.
(C) os fatores diretamente condicionantes da possibilidade de haver justiça no processo distributivo das
riquezas.
(D) as razões de ser de todo processo de distribuição de riquezas que premie o talento inato dos mais
competentes.
(E) um objetivo idealista cuja aparência de justiça se apaga quando competidores aproveitam mal
oportunidades iguais.
Comentários:
A lógica proposta no texto, em síntese, é a seguinte:
Se os recursos iniciais do "jogo" não são distribuídos com igualdade, o processo já começa com defeito, pois
quem foi privado desses recursos terá sua escolha tolhida e não estará nas mesmas condições de ter seu
mérito recompensado. Dito de outra forma, se todo mundo começasse uma corrida com um mesmo carro,
poder-se-ia presumir que o vencedor seria o de maior habilidade. Se alguns começam com carros inferiores,
esta lógica fica prejudicada.
Assim, as dotações iniciais de participantes e lisura do processo (os recursos distribuídos no início do jogo/o
carro dado no início da corrida) são uma condição para que haja justiça no processo distributivos da riqueza.
Se todos não partem do mesmo ponto, com os mesmos recursos, não há como distribuir com justiça as
riquezas.
Gabarito letra C.
Vejamos os problemas das demais:
A) Não são "causas", são requisitos para um processo justo de distribuição.
B) Não são metas, são condições. Ademais, não se falou nada de recursos limitados.
D) Bem confusa. Não são "razões" nem se falou nada de talento "inato".
E) Não há oportunidades iguais, por isso a distribuição injusta prejudica o processo.

16. (FCC / ALAP / ANALISTA LEGISLATIVO / 2020) Utilize o texto da questão anterior.
Em síntese, depreende-se da leitura do segundo parágrafo que
(A) as escolhas nas quais se faz justiça aos talentos das crianças e dos jovens tornam-se possíveis com a
equidade das condições iniciais.
(B) a condição familiar de origem não tem peso determinante no desenvolvimento das qualidades pessoais
de uma criança.
(C) as aspirações e os sonhos das crianças e dos jovens só se formularão quando tiverem alcançado alguma
possibilidade de realização.
(D) a dotação injusta de talentos individuais faz com que não haja equidade ao final do processo de
distribuição das riquezas.

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(E) a capacitação natural para a vida leva a tornar vicioso o jogo distributivo das riquezas disponíveis em cada
ocasião.
Comentários:
Novamente a lógica: condições iniciais iguais permitem fazer justiça aos méritos individuais.
A condição da família em que uma criança tiver a sorte ou o infortúnio de nascer, um risco comum, a todos,
passa a exercer um papel mais decisivo na definição de seu futuro do que qualquer outra coisa ou escolha
que possa fazer no ciclo da vida. A falta de um mínimo de equidade nas condições iniciais e na capacitação
para a vida tolhe a margem de escolha, vicia o jogo distributivo e envenena os valores da convivência. A
igualdade de oportunidades está na origem da emancipação das pessoas. Crianças e jovens precisam ter a
oportunidade de desenvolver seus talentos de modo a ampliar seu leque de escolhas possíveis na vida prática
e eleger seus projetos, apostas e sonhos de realização.
Gabarito letra A.
Vejamos o problema das demais:
B) Incorreto. A condição tem peso determinante sim, pois tolhe as escolhas.
C) Incorreto. As crianças têm sonhos independentemente das condições iniciais, o que ocorre é que suas
escolhas para perseguir seus sonhos são tolhidas pela falta de recursos.
D) Incorreto. A dotação injusta não é de talentos, mas de recursos iniciais justos, para que o talento então
possa ser o motivo determinante para conseguir ou não riqueza.
E) Incorreto. Não é a capacitação natural que torna o jogo vicioso, mas sim a falta de recursos iguais que
nivelem a competição e a convivência.

17. (FCC / ALAP / ANALISTA LEGISLATIVO / 2020) Utilize o texto da questão 4.


Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em:
(A) de modo a ampliar seu leque (2º parágrafo) = por conta da aberta indisponibilidade.
(B) dotações iniciais dos participantes (1º parágrafo) = licitações originais dos concorrentes.
(C) jogo viciado na origem e no processo (1º parágrafo) = processo fraudulento do acaso.
(D) falta de um mínimo de equidade (2º parágrafo) = carência de discriminação equivalente.
(E) envenena os valores da convivência (2º parágrafo) = corrompe a qualidade do convívio.
Comentários:
Vejamos:
A) "de modo a" indica finalidade e "leque" sugere ideia de opções disponíveis, não "indisponibilidade"
B) "licitação" é um procedimento legal de competição; "dotações iniciais" são os recursos oferecidos no
começo do jogo.
C) "do acaso" muda completamente o sentido; não é por acaso, existe uma causa para o jogo ser viciado.
D) a expressão original indica "injustiça"; "carência de discriminação equivalente" indica ausência de uma
discriminação igual. Não faz sentido algum. Gabarito letra E.

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18. (FCC / ALAP / ANALISTA LEGISLATIVO / 2020)


O século XX, Era dos Extremos
O século XX deixou um legado inegável de questões e impasses. Para o grande historiador Eric Hobsbawm,
neste livro Era dos Extremos − o breve século XX − 1914-1991, esse século foi breve e extremado: sua história
e suas possibilidades edificaram-se sobre catástrofes, incertezas e crises, decompondo o que fora construído
no longo século XIX.
Hobsbawm divide a história do século XX em três “eras”. A primeira, “da catástrofe”, é marcada pelas duas
grandes guerras, pelas ondas de revolução global em que o sistema político e econômico da URSS surgia
como alternativa histórica para o capitalismo e pela virulência da crise econômica de 1929. Também nesse
período os fascismos e o descrédito das democracias liberais surgem como proposta mundial.
A segunda “era” são os anos dourados das décadas de 1950 e 1960 que, em sua paz congelada, viram a
viabilização e a estabilização do capitalismo, responsável pela promoção de uma extraordinária expansão
econômica e profundas transformações sociais.
Por fim, entre 1970 e 1991, dá-se o “desmoronamento” final, em que caem por terra os sistemas institucionais
que previnem e limitam o barbarismo contemporâneo, dando lugar à brutalização da política e à
irresponsabilidade teórica da ortodoxia econômica, abrindo as portas para um futuro incerto.
(Adaptado da “orelha”, sem indicação autoral, do livro de Eric Hobsbawm acima referido, editado em São Paulo pela Companhia
das Letras, em 1995)

Ao constituir uma visão geral do século XX, que considera breve e extremado, o historiador Eric Hobsbawm
(A) salienta a importância que alcançaram as décadas de 1950 e 1960, nas quais se efetivou o descrédito das
democracias liberais.
(B) salienta a importância que tiveram as metas o século XIX para a consecução dos objetivos alcançados no
século seguinte.
(C) leva em conta, como critério fundamental para essa divisão a emancipação política desfrutada pelas
classes trabalhadoras de diferentes países.
(D) faz reconhecer uma desconstrução geral e radical das expectativas e dos ideais gerados no decorrer do
longo século XIX.
(E) aponta como único saldo positivo a oportuna emergência do moderno liberalismo econômico, já ao final
da década de 1920.
Comentários:
O texto mostra em sua literalidade que o século XX não cumpriu suas promessas e suas possibilidades não
se realizaram:
o breve século XX − 1914-1991, esse século foi breve e extremado: sua história e suas possibilidades
edificaram-se sobre catástrofes, incertezas e crises, decompondo o que fora construído no longo século XIX.
Portanto, o autor faz reconhecer uma desconstrução geral e radical das expectativas e dos ideais gerados no
decorrer do longo século XIX
Vejamos o problema das demais:
(A) Incorreto. Nas décadas de 1950 e 1960, houve uma paz congelada e uma consolidação do capitalismo. O
descrédito das democracias liberais ocorreu na "primeira era".

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(B) Incorreto. Não houve essa consecução dos objetivos alcançados no século seguinte. As metas não foram
atingidas.
(C) Incorreto. Não se falou em emancipação política desfrutada pelas classes trabalhadoras de diferentes
países.
(E) Incorreto. A consolidação do capitalismo, que não foi expressamente apontada como positiva, ocorreu
em outro momento:
A segunda “era” são os anos dourados das décadas de 1950 e 1960 que, em sua paz congelada, viram a
viabilização e a estabilização do capitalismo, responsável pela promoção de uma extraordinária expansão
econômica e profundas transformações sociais.
Gabarito letra D.

19. (FCC / ALAP / ANALISTA LEGISLATIVO / 2020) Utilize o texto da questão anterior.
Estabelecem entre si uma relação de causa e efeito, nessa ordem, os seguintes segmentos:
(A) caem por terra os sistemas institucionais / barbárie da política (4º parágrafo).
(B) deixou um legado inegável / decompondo o que fora construído (1º parágrafo).
(C) alternativa histórica para o capitalismo / virulência da crise econômica (2º parágrafo).
(D) ondas de revolução global / a história do século XX em três “eras” (2º parágrafo).
(E) a segunda era são os anos dourados / paz congelada (3º parágrafo).
Comentários:
Os sistemas institucionais são a base da política, sem essas instituições sólidas, não há nada que previna o
barbarismo.
Por fim, entre 1970 e 1991, dá-se o “desmoronamento” final, em que caem por terra os sistemas institucionais
que previnem e limitam o barbarismo contemporâneo, dando lugar à brutalização da política e à
irresponsabilidade teórica da ortodoxia econômica, abrindo as portas para um futuro incerto.
Em suma: a barbárie da política DECORRE da queda dos sistemas institucionais; há barbárie PORQUE as
instituições que a previnem caíram.
Esta é a única relação causa-efeito entre as opções. Gabarito letra A.

20. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO / 2020)


1. “Máquinas similares às hoje existentes serão construídas a custos mais baixos, mas com velocidades
mais rápidas de processamento.” Assim, em um artigo de 1965, o empreendedor Gordon Moore, hoje com
90 anos de idade, apresentou sua célebre ideia. Pela “Lei de Moore”, a cada dois anos, em média, o
desempenho dos chips de computador dobra, sem que aumentem os custos de fabricação. A máxima,
irretocável, à exceção de pequenos detalhes, funcionou tal qual intuíra Moore. É uma regra que pode,
contudo, estar com os dias contados.
2. Vive-se, hoje, uma revolução tecnológica afeita a deixar no passado o raciocínio da duplicação de
capacidade de cálculos à base de silício: é a computação quântica. Ela poderá nos levar a distâncias
inimagináveis: tarefas que o computador mais poderoso do planeta demoraria 10.000 anos para completar
seriam feitas em minutos.

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3. A computação quântica, até o início desta década, não passava de teoria. Nos últimos anos, começou
a ser testada, com sucesso parcial, até conseguir tração que parece se encaminhar para uma nova história.
Um documento da NASA, vazado recentemente, mostra que uma empresa, ao criar o primeiro computador
quântico funcional da história, pode estar próxima de romper com o paradigma imposto pela Lei de Moore.
4. A revelação foi resultado de uma distração. Algum funcionário da NASA, também envolvido com o
projeto, acidentalmente publicou no site da agência espacial um estudo que mostra o feito, realizado por
meio de uma máquina, ainda sob sigilo. O arquivo, já programado para ser divulgado oficialmente,
permaneceu poucos segundos no ar, mas foi flagrado pelo jornal Financial Times.
5. O avanço ainda se restringe a âmbitos estritamente técnicos, sem utilidade cotidiana, mas já é
apelidado de “o Santo Graal da computação”. Isso porque o feito, se comprovado, atingiu o que se conhece
como “supremacia quântica”. A nomenclatura indica um momento da civilização em que os computadores
talvez sejam tão (ou mais) competentes quanto os seres humanos.
6. O cientista da computação Scott Aaronson disse, em entrevista: “Isso não causará mudança imediata
na vida das pessoas. Mas só por enquanto, pois se trata do início de um caminho que levará a transformações
radicais em diversas áreas”. Vale lembrar que o computador que usamos hoje também começou com um
passo singelo, em 1843, quando a matemática inglesa Ada Lovelace (1815-1852) publicou um diagrama
numérico que veio a ser considerado o primeiro algoritmo computacional.
(Adaptado de: Revista Veja, edição de 09/10/2019, p. 79)
Considere as afirmações abaixo.
I. No primeiro parágrafo, a menção à Lei de Moore refere-se ao caráter premonitório do artigo publicado por
Gordon Moore em 1965, que, salvo poucos pormenores, mostrou-se futuramente correto.
II. Como estratégia argumentativa, o autor descreve a chamada “Lei de Moore” logo no início do texto para
embasar a ideia de que até mesmo uma máquina de computação quântica a comprova.
III. Ao longo do texto, o autor condena a atitude do funcionário da NASA que vazou, ainda que de modo
acidental, informações confidenciais a respeito de avanços tecnológicos.
IV. Publicado sem a devida permissão, um artigo de jornal antecipou ao público as características de um
supercomputador, apelidado de “o Santo Graal da computação”, a ser brevemente lançado, cujas
funcionalidades trarão mudanças significativas à vida cotidiana do cidadão comum.
Está correto o que consta APENAS de:
(A) II e III.
(B) III e IV.
(C) IV.
(D) I.
(E) I, III e IV.
Comentários:
Vejamos:
I - Correto. O texto declara expressamente que a previsão de Moore se concretizou, salvo por "pequenos
detalhes".
“Máquinas similares às hoje existentes serão construídas a custos mais baixos, mas com velocidades mais
rápidas de processamento.” Assim, em um artigo de 1965, o empreendedor Gordon Moore, hoje com 90 anos

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de idade, apresentou sua célebre ideia. Pela “Lei de Moore”, a cada dois anos, em média, o desempenho dos
chips de computador dobra, sem que aumentem os custos de fabricação. A máxima, irretocável, à exceção
de pequenos detalhes, funcionou tal qual intuíra Moore. É uma regra que pode, contudo, estar com os dias
contados.
II - Incorreto. A máquina de computação quântica não "comprova" a Lei de Moore, mas sim a excepciona.
III- Incorreto. Não há condenação alguma, apenas diz de forma neutra que a divulgação ocorreu por acidente,
sem julgar.
IV- Incorreto. Por ora, o computador não vai afetar a vida cotidiana das pessoas:
“Isso não causará mudança imediata na vida das pessoas.
O avanço ainda se restringe a âmbitos estritamente técnicos, sem utilidade cotidiana
Gabarito letra D.

21. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO / 2020)


[O motor da preguiça]
Acho que a verdadeira força motriz do desenvolvimento humano, a razão da superioridade e do sucesso do
Homem, foi a preguiça. A técnica é fruto da preguiça. O que são o estilingue, a flecha e a lança senão maneiras
de não precisar ir lá e esgoelar a caça ou um semelhante com as mãos, arriscando-se a levar a pior e perder
a viagem? O que estaria pensando o inventor da roda senão no eventual desenvolvimento da charrete, que,
atrelada a um animal menos preguiçoso do que ele, o levaria a toda parte sem que ele precisasse correr ou
caminhar?
Toda a história das telecomunicações, desde os tambores tribais e seus códigos primitivos até os sinais da TV
e a internet, se deve ao desejo humano de enviar a mensagem em vez de ir entregá-la pessoalmente. A fome
de riqueza e poder do Homem não passa da vontade de poder mandar os outros fazerem o que ele tem
preguiça de fazer, seja de trazer os seus chinelos ou construir suas pirâmides.
A química moderna é filha da alquimia, que era a tentativa de ter o ouro sem ter que procurá-lo, ou trabalhar
para merecê-lo. A física e a filosofia são produtos da contemplação, que é um subproduto da indolência e
uma alternativa para a sesta, A grande arte também se deve à preguiça. Não por acaso, o que é considerada
a maior realização da melhor época da arte ocidental, o teto da Capela Sistina, foi feita pelo Michelangelo
deitado. Marcel Proust escreveu Em busca do tempo perdido deitado. Vá lá, recostado. As duas maiores
invenções contemporâneas, depois do antibiótico e do microchip, que são a escada rolante e o manobrista,
devem sua existência à preguiça. E nem vamos falar no controle remoto.
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 54-55)

No segundo parágrafo, a fome de riqueza e poder do Homem é dada como justificativa para a
(A) obtenção de meios que lhe permitam dominar seus semelhantes, obrigando-os às mais variadas tarefas.
(B) improvisação permanente de técnicas ineficazes, pelas quais o poderio almejado se transforma em duro
fracasso.
(C) criação de obras de arte de valor inestimável, como as produzidas pela genialidade de Michelangelo e de
Proust.
(D) contemplação filosófica, que leva os homens a erguerem seu pensamento para as mais altas ideias.
(E) substituição do talento pessoal pelo esforço de chegar a alguma invenção de grande repercussão política.

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Comentários:
Essa questão é direta e literal:
A fome de riqueza e poder do Homem não passa da vontade de poder mandar os outros fazerem o que ele
tem preguiça de fazer, seja de trazer os seus chinelos ou construir suas pirâmides.
Trazer chinelos ou construir pirâmides são tarefas variadas que o homem, segundo a lógica do texto, não
queria fazer por si próprio —por preguiça— e então era necessário ter poder para "delegar" tais tarefas a
alguém com menos poder.
Sobre as demais alternativas, são evidentemente descartáveis, pois não trazem o motivo pedido no
enunciado: delegar as tarefas. Gabarito letra A.

22. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO / 2020) Utilize o texto da questão anterior.
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em:
(A) uma alternativa para a sesta (3º parágrafo) = uma alternância de repouso.
(B) um subproduto da indolência (3º parágrafo) = um efeito secundário da preguiça.
(C) verdadeira força motriz do desenvolvimento (1º parágrafo) = real intenção do progresso.
(D) arriscando-se a levar a pior (1º parágrafo) = expondo-se aos imprevistos.
(E) são produtos da contemplação (3º parágrafo) = tornam-se produtivamente visíveis.
Comentários:
Questão direta de vocabulário: era necessário saber que "indolência" é sinônimo de preguiça, ociosidade.
Gabarito letra B.
Vejamos o problema das demais:
A) alternativa tem sentido opção; alternância tem sentido de variação, oscilação.
C) força motriz tem sentido de "aquilo que impulsiona a máquina/processo", não é sinônimo de intenção
(propósito)
D) levar a pior— se dar mal— não é sinônimo de ter um imprevisto; nem sempre levar a pior é imprevisível
e imprevisto nem sempre significa que se leva a pior.
E) ser e tornar-se não são sinônimos; produto é um substantivo e produtivamente é um advérbio; enfim, a
reescritura não faz qualquer sentido.

23. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO 2 / 2020)


Novas formas de vida?
Uma forma radical de mudar as leis da vida é produzir seres completamente inorgânicos. Os exemplos mais
óbvios são programas de computador e vírus de computador que podem sofrer evolução independente.
O campo da programação genética é hoje um dos mais interessantes no mundo da ciência da computação.
Esta tenta emular os métodos da evolução genética. Muitos programadores sonham em criar um programa
capaz de aprender e evoluir de maneira totalmente independente de seu criador. Nesse caso, o programador

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seria um primum mobile, um primeiro motor, mas sua criação estaria livre para evoluir em direções que nem
seu criador nem qualquer outro humano jamais poderiam ter imaginado.
Um protótipo de tal programa já existe – chama-se vírus de computador. Conforme se espalha pela internet,
o vírus se replica milhões e milhões de vezes, o tempo todo sendo perseguido por programas de antivírus
predatórios e competindo com outros vírus por um lugar no ciberespaço. Um dia, quando o vírus se replica,
um erro ocorre – uma mutação computadorizada. Talvez a mutação ocorra porque o engenheiro humano
programou o vírus para, ocasionalmente, cometer erros aleatórios de replicação. Talvez a mutação se deva
a um erro aleatório. Se, por acidente, o vírus modificado for melhor para escapar de programas antivírus sem
perder sua capacidade de invadir outros computadores, vai se espalhar pelo ciberespaço. Com o passar do
tempo, o ciberespaço estará cheio de novos vírus que ninguém produziu e que passam por uma evolução
inorgânica.
Essas são criaturas vivas? Depende do que entendemos por “criaturas vivas”. Mas elas certamente foram
criadas a partir de um novo processo evolutivo, completamente independente das leis e limitações da
evolução orgânica.
(Adaptado de HARARI, Yuval Noah. Sapiens, Uma breve história da humanidade.Trad. Janaína Marcoantonio. Porto Alegre: L&PM, 38. ed,,2018,
p. 419-420).

A forma radical de mudar as leis da vida, investigada ao longo do texto, está na possibilidade de o homem
(A) alargar de tal modo nossa compreensão do que seja a vida que passe a aceitar como vivas as propriedades
dos minerais.
(B) combater tão completamente a ação dos vírus existentes que passe a dominá-los e a utilizá-los como
contravenenos.
(C) ver desenvolver-se, para além de sua aplicação científica, uma evolução inorgânica que ocorra com plena
autonomia.
(D) alcançar sua meta mais ousada, representada pelo controle do ciberespaço e de todas as formas que
nele se encontram.
(E) dominar tão completamente as leis da genética que possa um dia vir a interferir sobre a longevidade e a
qualidade do viver.
Comentários:
A possibilidade está na própria frase: criar seres totalmente inorgânicos que evoluam independentemente.
Uma forma radical de mudar as leis da vida é produzir seres completamente inorgânicos
O exemplo dado no texto é o vírus. Gabarito letra C.
Vejamos:
a) Incorreto. Não é considerar vivo um mineral. É a possibilidade de criar seres totalmente inorgânicos que
evoluam independentemente.
b) Incorreto. Não é combater vírus, o vírus é apenas o exemplo de ser que é inorgânico e evolui sozinho.
d) Incorreto. Os vírus é que disputam o ciberespaço, não é homem que busca fazer isso com intuito de mudar
as leis da vida.
e) Incorreto. Não é a qualidade do viver, a possibilidade de mudar as leis da vida está em criar seres que
evoluam de forma independente. Gabarito letra C.

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24. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO 2 / 2020) Utilize o texto da questão anterior.
No último parágrafo do texto, sugere-se que
(A) a evolução orgânica de formas computadorizadas concorre para que os vírus se propaguem livremente.
(B) a evolução inorgânica está na dependência de que se passe a dominar inteiramente as leis da genética.
(C) o conceito mesmo de “vida” está entre os poucos fundamentos da ciência que não admite ser contestado.
(D) o âmbito da biologia e da genética não inclui processos que se possam reconhecer como propriamente
evolutivos.
(E) a ocorrência de uma evolução inorgânica pode condicionar uma nova compreensão do que seja uma
criatura viva.
Comentários:
Último parágrafo:
Essas são criaturas vivas? Depende do que entendemos por “criaturas vivas”. Mas elas certamente foram
criadas a partir de um novo processo evolutivo, completamente independente das leis e limitações da
evolução orgânica.
A pergunta é se podemos considerar o "vírus" como "vivo". Essa pergunta não é conclusiva, depende do que
se considera "vivo". Então, a existência do vírus e sua forma de evoluir traz um questionamento sobre o que
seria de fato uma criatura "viva". Isso foi parafraseado em: a ocorrência de uma evolução inorgânica pode
condicionar uma nova compreensão do que seja uma criatura viva.
As demais alternativas trazem informações aleatórias que não se encontram no último parágrafo nem no
texto como um todo. Gabarito letra E.

25. (FCC / SEPLAG RECIFE / ASS. DE GESTÃO PÚBLICA / 2019)


Mais da metade dos seres humanos hoje vivem em cidades, e esse número deve aumentar para 70% até
2050. Em termos econômicos, os resultados da urbanização foram notáveis. As cidades representam 80% do
Produto Interno Bruto (PIB) global. Nos Estados Unidos, o corredor Boston-Nova York-Washington gera mais
de 30% do PIB do país.
Mas o sucesso tem sempre um custo – e as cidades não são exceção, segundo análise do Fórum Econômico
Mundial. Padrões insustentáveis de consumo, degradação ambiental e desigualdade persistente são alguns
dos problemas das cidades modernas. Recentemente, entraram na equação as consequências da
transformação digital. Há quem fale sobre uma futura desurbanização. Mas os especialistas consultados pelo
Fórum descartam essa possibilidade. Preferem discorrer sobre como as cidades vão se adaptar à era da
digitalização e como vão moldar a economia mundial.
A digitalização promete melhorar a vida das pessoas nas cidades. Em cidades inteligentes como Tallinn, na
Estônia, os cidadãos podem votar nas eleições nacionais e envolver-se com o governo local via plataformas
digitais, que permitem a assinatura de contratos e o pagamento de impostos, por exemplo. Programas
similares em Cingapura e Amsterdã tentam criar uma espécie de “governo 4.0”.
Além disso, a tecnologia vai permitir uma melhora na governança. Plataformas digitais possibilitam acesso,
abertura e transparência às operações de governos locais e provavelmente irão mudar a forma como os
governos interagem com as pessoas.

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(Adaptado de: “5 previsões para a cidade do futuro, segundo o Fórum Econômico Mundial”. Disponível em:
https://epocanegocios.globo.com)
Na apresentação de previsões quanto ao futuro das cidades, o autor
(A) cita dados que mostram o aumento da urbanização como fruto da transformação digital.
(B) contrasta aspectos positivos e negativos da digitalização no exercício da cidadania.
(C) aponta os problemas decorrentes do emprego da digitalização na economia mundial.
(D) apresenta opiniões divergentes no que respeita à sustentabilidade nos meios urbanos.
(E) recorre à opinião de especialistas e menciona cidades que usam recursos digitais atualmente.
Comentários:
(A) Incorreta. Não foi dito que o aumento da urbanização é fruto da transformação digital.
(B) Incorreta. Não fala de aspectos negativos da digitalização no exercício da cidadania, fala de aspectos
negativos da urbanização (degradação ambiental, desigualdade)
(C) Incorreta. Não aponta os problemas decorrentes do emprego da digitalização na economia mundial,
apenas menciona aspectos negativos da urbanização.
(D) Incorreta. Não fala de sustentabilidade, mas sim de efeitos positivos da digitalização.
(E) Correta. Recorre à opinião de especialistas (analistas do Fórum Econômico Mundial) e menciona cidades
que usam recursos digitais atualmente (Tallin, Cingapura, Amsterdã). Gabarito letra E.

26. (FCC / SEPLAG RECIFE / ASS. DE GESTÃO PÚBLICA / 2019)


Desde 2016, registra-se queda na cobertura vacinal de crianças menores de dois anos. Segundo o Ministério
da Saúde, entre janeiro e agosto, nenhuma das nove principais vacinas bateu a meta estabelecida — imunizar
95% do público-alvo. O percentual alcançado oscila entre 50% e 70%.
As autoridades atribuem o desleixo a duas causas. Uma: notícias falsas alarmantes espalhadas pelas redes
sociais. Segundo elas, vacinas seriam responsáveis pelo autismo e outras enfermidades. A outra: a população
apagou da memória as imagens de pessoas acometidas por coqueluche, catapora, sarampo. Confirmar-se-
ia, então, o dito de que o que os olhos não veem o coração não sente.
Trata-se de comportamento irresponsável que tem consequências. De um lado, ao impedir que o infante
indefeso fique protegido contra determinada doença, os pais lhe comprometem a saúde (e até a vida). De
outro, contribuem para que a enfermidade continue a se propagar pela população. Em bom português:
apunhalam o individual e o coletivo. Põem a perder décadas de esforço governamental de proteger os
brasileiros de doenças evitáveis.
O Brasil, vale lembrar, é citado como modelo pela Organização Mundial de Saúde. As campanhas de
vacinação exigiram esforço hercúleo. Para cobrir o território nacional e cumprir o calendário, enfrentaram
selvas, secas, tempestades. Tiveram êxito. Deixaram relegada para as páginas da história a revolta da vacina,
protagonizada pela população do Rio de Janeiro que, no início do século passado, se rebelou contra a
mobilização de Oswaldo Cruz para reduzir as mazelas do Rio de Janeiro. O médico quis resolver a tragédia da
varíola com a Lei da Vacina Obrigatória.
Tal fato seria inaceitável hoje. A sociedade evoluiu e se educou. O calendário de vacinação tornou-se rotina.
Graças ao salto civilizatório, o país conseguiu erradicar males que antes assombravam a infância. O
retrocesso devolverá o Brasil ao século 19. Há que reverter o processo. Acerta, pois, o Ministério da Saúde ao

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deflagrar nova campanha de adesão para evitar a marcha rumo à barbárie. O reforço na equipe de agentes
de imunização deve merecer atenção especial.
(Adaptado de: “Vacina: avanço civilizatório”. Diário de Pernambuco. Editorial. Disponível em: www.diariodeper-
nambuco.com.br)
O texto expressa um ponto de vista condizente com o que se afirma em:
(A) A população brasileira é irresponsável ao não aderir às campanhas de vacinação promovidas pelo
Ministério da Saúde.
(B) Falta investimento público em campanhas de vacinação que sejam de fato eficazes para o controle de
doenças letais.
(C) Doenças já erradicadas voltaram a assolar a população porque os brasileiros não foram orientados a
vacinar seus filhos.
(D) As campanhas de vacinação do Ministério da Saúde foram mal planejadas e, por isso, não chegaram a
alcançar sucesso.
(E) O pouco conhecimento da população brasileira acerca das campanhas de vacinação acarretou surtos de
doenças evitáveis.
Comentários:
O texto expressamente diz que uma das causas é a omissão da população e que essa omissão é uma
irresponsabilidade:
As autoridades atribuem o desleixo a duas causas. Uma: notícias falsas alarmantes espalhadas pelas redes
sociais. Segundo elas, vacinas seriam responsáveis pelo autismo e outras enfermidades. A outra: a população
apagou da memória as imagens de pessoas acometidas por coqueluche, catapora, sarampo (esqueceu do
perigo e não vai se vacinar). Confirmar-se-ia, então, o dito de que o que os olhos não veem o coração não
sente.
Trata-se de comportamento irresponsável que tem consequências. Gabarito letra A.

27. (FCC / SEPLAG RECIFE / ASS. DE GESTÃO PÚBLICA / 2019) Utilize o texto da questão anterior.
Com a alusão ao provérbio o que os olhos não veem o coração não sente, reforça-se a ideia de que
(A) a população já se esqueceu dos riscos de algumas doenças visadas pelas atuais campanhas de vacinação,
como coqueluche, catapora e sarampo.
(B) as campanhas de vacinação têm priorizado inadvertidamente doenças que já não implicam risco de
contágio à maior parte da população.
(C) as campanhas de conscientização do Ministério da Saúde não devem subestimar o conhecimento que o
público adquire por meio do estudo formal.
(D) as notícias falsas espalhadas pelas redes sociais são eficazes porque recorrem a registros audiovisuais
que apelam a um envolvimento afetivo.
(E) a imunização carece do estabelecimento de metas realistas, embora informar a população acerca dos
riscos das doenças seja uma estratégia válida.
Comentários:

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Essa questão é praticamente a mesma da anterior. Uma das causas é a omissão da população em se vacinar,
esta omissão é causada pelo esquecimento dos efeitos das doenças que são objetos da campanha. Como
não veem muito os efeitos, esquecem a causa e não vão se vacinar.
Gabarito letra A.

28. (FCC / SEFAZ-BA / AUDITOR FISCAL / 2019)


Uma mudança ocorrida no último meio século foi o aparecimento do museu que constitui, por si só, uma
grande atração cultural, independentemente do conteúdo a ser exibido em seu interior. Esses edifícios
espetaculares e em geral arrojados vêm sendo construídos por arquitetos de estima universal e se destinam
a criar grandes polos globais de atração cultural em centros em tudo o mais periféricos e pouco atrativos. O
que acontece dentro desses museus é irrelevante ou secundário. Um exemplo disso ocorreu na cidade de
Bilbao. Em tudo o mais praticamente inexpressiva, nos anos 1990 ela transformou-se num polo turístico
global graças ao Museu Guggenheim, do arquiteto Frank Gehry. A arte visual contemporânea, desde o
esgotamento do modernismo nos anos 1950, considera adequados e agradáveis para exposições esses
espaços que exageram a própria importância e são funcionalmente incertos. Não obstante, coleções de
grande significado para a humanidade, expostas, por exemplo, no Museu do Prado, ainda não precisam
recorrer a ambientes de acrobacia arquitetônica.
(Adaptado de: HOBSBAWM, Eric. Tempos fraturados: Cultura e sociedade no século XX. São Paulo: Companhia das
Letras, 2013, edição digital)
Considere as afirmativas abaixo a respeito do texto.
I. O autor aponta para o surgimento de museus cujo acervo é menos relevante para o visitante do que a
grandeza arquitetônica de seu edifício e questiona a eficácia de tais ambientes para a exibição de obras de
arte.
II. Infere-se do texto que o Museu Guggenheim é responsável por transformar a cidade de Bilbao,
anteriormente desprovida de atributos culturais, em um polo turístico.
III. Para o autor, as obras apresentadas no Museu do Prado ganham maior destaque devido ao fato de este
museu não constituir um exemplo do que classifica como “ambiente de acrobacia arquitetônica”.
Está correto o que se afirma APENAS em
(A) I e II.
(B) II e III.
(C) I e III.
(D) II.
(E) I.
Comentários:
O item III está incorreto porque as obras do museu do Prado não recebem "maior destaque"; pelo contrário,
são coleções de grande significado para a humanidade e não recebem esse destaque turístico que o autor
critica, nem são expostas em museus grandiosos como os mencionados.
O item I está correto e fundamentado em: Esses edifícios espetaculares e em geral arrojados vêm sendo
construídos por arquitetos de estima universal e se destinam a criar grandes polos globais de atração cultural

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em centros em tudo o mais periféricos e pouco atrativos. O que acontece dentro desses museus é irrelevante
ou secundário.
O gabarito oficial foi letra A (I e III), embora eu entenda que a banca pecou no item II: não foi dito
expressamente que Bilbao era “desprovida” de atributos culturais. O texto diz “praticamente inexpressiva”,
o que não é exatamente “desprovida”, pois “desprovida” tem ideia extremamente totalizante. Mesmo assim,
a banca entendeu como certa a afirmação. Faz parte, é normal vir em prova alguma questão discutível, é
preciso ser flexível e buscar a melhor resposta.

29. (FCC / SEFAZ-BA / AUDITOR FISCAL / 2019)


A ciência moderna e a economia de mercado figuram entre as mais notáveis realizações humanas. A
Revolução Científica do século XVII e a Revolução Industrial do século XVIII foram apenas o prelúdio do que
viria em seguida − a revolução permanente dos últimos três séculos. Ciência e mercado são apostas na
liberdade: liberdade balizada por padrões impessoais de argumentação e validação de teorias no primeiro
caso; e por regras que fixam os marcos dentro dos quais a busca do ganho econômico por parte das pessoas
é livre, no segundo. Por mais brilhantes, entretanto, que sejam suas inegáveis conquistas, é preciso ter uma
visão clara do que podemos esperar que façam por nós: a ciência jamais aplacará a nossa fome de sentido,
e o mercado nada nos diz sobre a ética − como usar a nossa liberdade e o que fazer de nossas vidas.
O sistema de mercado − baseado na propriedade privada, nas trocas voluntárias e na formação de preços
por meio de um processo competitivo reconhecidamente imperfeito − define um conjunto de regras de
convivência na vida prática. A regra de ouro do mercado estabelece que a recompensa material dos seus
participantes corresponderá ao valor monetário que os demais estiverem dispostos a atribuir ao resultado de
suas atividades: a remuneração de cada um, portanto, não depende da intensidade dos seus desejos de
consumo, do civismo de suas ações, do seu mérito moral ou estético. Dependerá tão somente da disposição
dos consumidores em pagar, com parte do ganho do seu próprio trabalho, para ter acesso aos bens e serviços
que o outro oferece. Mas o mercado não decide, em nome dos que nele atuam, os resultados finais da
interação. Assim como a gramática não determina o teor das mensagens, mas apenas as regras das trocas
verbais, também o mercado não estabelece de antemão o que será feito e escolhido pelos que dele
participam.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, edição digital)
Infere-se corretamente do texto:
(A) Apesar de se autorregular, o mercado oferece recompensas materiais desiguais aos participantes do
sistema, atreladas, proporcionalmente, à dedicação do indivíduo àquilo que é do interesse da coletividade.
(B) Ao estabelecer uma comparação entre as conquistas capazes de melhorar as condições da vida humana
nos últimos séculos, o autor conclui que os benefícios da economia de mercado são inferiores aos alcançados
pela Revolução Industrial do século XVIII.
(C) Como ciência e mercado estão interligados, a primeira sofre restrições em sua liberdade de ação, uma
vez que só se validam teorias que atendam aos interesses do mercado, o qual, por sua vez, visa ao lucro
mesmo em detrimento do desenvolvimento científico.
(D) As conquistas alcançadas pelo sistema de mercado, no qual se estabelecem os preços de um produto por
meio de um processo competitivo, são limitadas, na medida em que as relações de troca não estão atreladas
a escolhas éticas nem nos ensinam de que modo usar nossa liberdade.

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(E) Uma vez que se trata de um sistema meritocrático, o sistema de mercado beneficia os indivíduos mais
dedicados e munidos de maior motivação pessoal, cujo grande desejo de consumo faz com que procurem
superar suas dificuldades.
Comentários:
Literal dos trechos: “o mercado nada nos diz sobre a ética—como usar a nossa liberdade e o que fazer de
nossas vidas”
“o mercado não estabelece de antemão o que será feito e escolhido pelos que dele participam” Gabarito
letra D.

30. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019)


A chave do tamanho
O antes de nascer e o depois de morrer: duas eternidades no espaço infinito circunscrevem o nosso breve
espasmo de vida. A imensidão do universo visível com suas centenas de bilhões de estrelas costuma provocar
um misto de assombro, reverência e opressão nas pessoas. “O silêncio eterno desses espaços infinitos me
abate de terror”, afligia-se o pensador francês Pascal. Mas será esse necessariamente o caso?
O filósofo e economista inglês Frank Ramsey responde à questão com lucidez e bom humor: “Discordo de
alguns amigos que atribuem grande importância ao tamanho físico do universo. Não me sinto absolutamente
humilde diante da vastidão do espaço. As estrelas podem ser grandes, mas não pensam nem amam –
qualidades que impressionam bem mais do que o tamanho. Não acho vantajoso pesar quase cento e vinte
quilos”.
Com o tempo não é diferente. E se vivêssemos, cada um de nós, não apenas um punhado de décadas, mas
centenas de milhares ou milhões de anos? O valor da vida e o enigma da existência renderiam, por conta
disso, os seus segredos? E se nos fosse concedida a imortalidade, isso teria o dom de aplacar de uma vez por
todas o nosso desamparo cósmico e as nossas inquietações? Não creio. Mas o enfado, para muitos, seria
difícil de suportar.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 35)
Ao longo do texto, o autor sustenta a ideia de que a infinitude
(A) do universo acalenta nossa confiança na infinitude da espécie humana.
(B) dos espaços cósmicos refreia o nosso anseio de imortalidade.
(C) do tempo universal impede-nos de usufruir o tempo de nossa finitude.
(D) dos espaços ou do tempo não garante a vantagem de uma suposta imortalidade.
(E) das coisas nunca representou alguma restrição à nossa sensação de liberdade.
Comentários:
Nossa resposta está no terceiro parágrafo. O autor afirma não crer que a eternidade teria o dom de aplacar
de uma vez por todas o nosso desamparo e nossas inquietações.
Com o tempo não é diferente. E se vivêssemos, cada um de nós, não apenas um punhado de décadas, mas
centenas de milhares ou milhões de anos? O valor da vida e o enigma da existência renderiam, por conta
disso, os seus segredos? E se nos fosse concedida a imortalidade, isso teria o dom de aplacar de uma vez por
todas o nosso desamparo cósmico e as nossas inquietações?

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Não creio. Mas o enfado, para muitos, seria difícil de suportar. Gabarito letra D.

31. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019) Utilize o texto da questão anterior.


As ideias de Pascal e as de Frank Ramsey referidas no texto
(A) convergem para o ponto comum de fazer temer a enormidade dos enigmas que nos cercam.
(B) divergem frontalmente quanto às percepções que têm diante da vastidão ou infinitude do universo.
(C) divergem quanto à infinitude do universo, mas convergem quanto ao temor que sentimos diante da
morte.
(D) são complementares, uma vez que a convicção de um pensador dá força à convicção do outro.
(E) são de todo independentes, pois não tratam de qualquer tema que estabeleça contato entre elas.
Comentários: ==cdafe==

Pascal sentia “terror”; “Ramsey” não se impressionava com a imensidão do universo. Então, ambos
discordavam frontalmente.
Não me sinto absolutamente humilde diante da vastidão do espaço. Gabarito letra B.

32. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019)


Imigrações no Rio Grande do Sul
Em 1740 chegou à região do atual Rio Grande do Sul o primeiro grupo organizado de povoadores.
Portugueses oriundos da ilha dos Açores, contavam com o apoio oficial do governo, que pretendia que se
instalassem na vasta área onde anteriormente estavam situadas as Missões.
A partir da década de vinte do século XIX, o governo brasileiro resolveu estimular a vinda de imigrantes
europeus, para formar uma camada social de homens livres que tivessem habilitação profissional e pudessem
oferecer ao país os produtos que até então tinham que ser importados, ou que eram produzidos em escala
mínima. Os primeiros imigrantes que chegaram foram os alemães, em 1824. Eles foram assentados em
glebas de terra situadas nas proximidades da capital gaúcha. E, em pouco tempo, começaram a mudar o
perfil da economia do atual estado.
Primeiramente, introduziram o artesanato em uma escala que, até então, nunca fora praticada. Depois,
estabeleceram laços comerciais com seus países de origem, que terminaram por beneficiar o Rio Grande. Pela
primeira vez havia, no país, uma região em que predominavam os homens livres, que viviam de seu trabalho,
e não da exploração do trabalho alheio.
As levas de imigrantes se sucederam, e aos poucos transformaram o perfil do Rio Grande. Trouxeram a
agricultura de pequena propriedade e o artesanato. Através dessas atividades, consolidaram um mercado
interno e desenvolveram a camada média da população. E, embora o poder político ainda fosse detido pelos
grandes senhores das estâncias e charqueadas, o poder econômico dos imigrantes foi, aos poucos, se
consolidando.
(Adaptado de: projetoriograndetche.weebly.com/imigraccedilatildeo-no-rs.html)
Os primeiros imigrantes alemães a se estabelecerem no Rio Grande do Sul
(A) constituíram uma alternativa ao trabalho escravo, alterando, com o tempo, a fisionomia econômica do
estado.

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(B) promoveram a ocupação, com apoio governamental, de uma ampla região destinada ao estabelecimento
das Missões.
(C) foram assentados em glebas onde já com eficácia se cultivavam produtos que concorriam com os
importados.
(D) alteraram a qualidade e a quantidade dos produtos artesanais locais, o que se infletiu na economia da
região.
(E) representaram o ingresso no mercado de trabalhadores qualificados que modernizaram a produção
industrial.
Comentários:
Vejamos a resposta e sua fundamentação no texto:
constituíram uma alternativa ao trabalho escravo, alterando, com o tempo, a fisionomia econômica do
estado.
Onde está isso?
Pela primeira vez havia, no país, uma região em que predominavam os homens livres, que viviam de seu
trabalho, e não da exploração do trabalho alheio.
As levas de imigrantes se sucederam, e aos poucos transformaram o perfil do Rio Grande. Trouxeram a
agricultura de pequena propriedade e o artesanato. Através dessas atividades, consolidaram um mercado
interno e desenvolveram a camada média da população. Gabarito letra A.

33. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019) Utilize o texto da questão anterior.


Com a sucessão de levas de imigrantes, verificaram-se as seguintes consequências no Rio Grande do Sul:
(A) interdição do trabalho escravo e consolidação das classes dominantes.
(B) diversificação do artesanato e valorização do folclore nacional.
(C) consolidação das estâncias tradicionais e minimização das charqueadas.
(D) fortalecimento da economia interna e promoção econômica da classe média.
(E) alternância no comando político e expansão das propriedades rurais.
Comentários:
Questão direta e literal. Vejamos:
(D) fortalecimento da economia interna e promoção econômica da classe média. Gabarito letra D.
Veja o texto:
…consolidaram um mercado interno e desenvolveram a camada média da população.

34. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019) Utilize o texto da questão 21.


O último parágrafo do texto enfatiza
(A) a progressiva e positiva transformação socioeconômica que as levas de imigrantes trouxeram ao estado
rio-grandense.

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(B) o impulso rapidamente imposto ao ritmo até então tímido da produção nas pequenas propriedades
gaúchas.
(C) a pressão das camadas emergentes dos trabalhadores sobre a gestão política dos proprietários
tradicionais.
(D) a substituição dos modos de produção local pelas técnicas artesanais há muito consagradas em outras
terras.
(E) a importância da imigração alemã no deslocamento da economia rural para a do mercado financeiro.
Comentários:
O que diz o último parágrafo? Vejamos:
As levas de imigrantes se sucederam, e aos poucos transformaram o perfil do Rio Grande. Trouxeram a
agricultura de pequena propriedade e o artesanato. Através dessas atividades, consolidaram um mercado
interno e desenvolveram a camada média da população. E, embora o poder político ainda fosse detido pelos
grandes senhores das estâncias e charqueadas, o poder econômico dos imigrantes foi, aos poucos, se
consolidando.
O parágrafo foca na transformação do perfil social e econômico do Rio Grande do Sul, que foi desenvolvendo
um mercado interno com agricultura e artesanato e foi consolidando uma classe média. Gabarito letra A.

35. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019)


[Retratos fiéis]
Não sei por que motivo há de a gente desenhar tão objetivamente as coisas: o galho daquela árvore
exatamente na sua inclinação de quarenta e três graus, o casaco daquele homem justamente com as
ruguinhas que no momento apresenta, e o próprio retratado com todos seus pés-de-galinha minuciosamente
contadinhos... Para isso já existe há muito tempo a fotografia, com a qual jamais poderemos competir em
matéria de objetividade.
Se, para contrabalançar minhas lacunas, me houvesse Deus concedido o invejável dom da pintura, eu seria
um pintor lírico (o adjetivo não é bem apropriado, mas vai esse mesmo enquanto não ocorrer outro). Quero
dizer, o modelo serviria tão só do ponto de partida. O restante eu transfiguraria em conformidade com meu
desejo de fantasia e poder de imaginação.
(Adaptado de: QUINTANA, Mário. Na volta da esquina. Porto Alegre: Globo, 1979, p. 88)
No primeiro parágrafo, o autor do texto exprime sua convicção de que a
(A) pintura, sendo mais criativa que a fotografia, desfruta de melhores condições para ser de fato uma arte.
(B) fotografia, ainda que seja uma técnica capaz de objetividade, não distingue os detalhes que uma pintura
pode realçar.
(C) fotografia, em sua propriedade de retratar tudo objetivamente, alcança mais precisão do que qualquer
pintura.
(D) pintura, em seu afã de retratar tudo objetivamente, acaba por relevar detalhes que a própria fotografia
não exprime.
(E) pintura, quando descarta sua obsessão em retratar tudo com o máximo de detalhes, aproxima-se mais
da arte da fotografia.

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Comentários:
Questão direta. A pintura é feita pelo ser humano, a fotografia pela máquina. O autor deixa claro que não é
possível a pintura concorrer com a precisão objetiva da máquina:
Para isso já existe há muito tempo a fotografia, com a qual jamais poderemos competir em matéria de
objetividade. Gabarito letra C.

36. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019)


Demonstra-se boa compreensão de um segmento do texto no seguinte caso:
(A) Se, para contrabalançar minhas lacunas, me houvesse Deus concedido o (...) dom = caso Deus tivesse
compensado minhas falhas agraciando-me com o talento
(B) o próprio retratado com todos seus pés-de-galinha minuciosamente contadinhos = o fotógrafo mesmo,
que não poupa detalhes, perde-se ao contar minúcias
(C) com a qual jamais poderemos competir em matéria de objetividade = com cuja materialidade nem
mesmo sendo objetivos havemos de tratar
(D) Não sei por que motivo há de a gente desenhar tão objetivamente as coisas = Não vejo razão para
renunciarmos à objetividade quando desenhamos
(E) O restante eu transfiguraria em conformidade com meu desejo de fantasia = O que sobrasse eu
dispensaria para poder fazer jus ao meu critério de artista
Comentários:
Contrabalançar lacunas tem sentido de “compensar uma falta”, equilibrar uma ausência. Como “tivesse” e
“houvesse” são verbos auxiliares equivalentes na formação do pretérito mais-que-perfeito, a letra A traz
uma perfeita equivalência.
b) essa passagem fala do pintor, não do fotógrafo.
c) matéria (assunto) é diferente de materialidade (característica do que é concreto).
d) as redações têm sentido contrário: renunciar à objetividade é justamente não desenhar objetivamente.
e) transfigurar é transformar, diferente de dispensar (abrir mão) Gabarito letra A.

37. (FCC / TRT 24ª REGIÃO / TÉCNICO JUDICIÁRIO / 2017)


Aspectos Culturais de Mato Grosso do Sul
A cultura de Mato Grosso do Sul é o conjunto de manifestações artístico-culturais desenvolvidas pela
população sul-mato-grossense muito influenciada pela cultura paraguaia. Essa cultura estadual retrata,
também, uma mistura de várias outras contribuições das muitas migrações ocorridas em seu território.
O artesanato, uma das mais ricas expressões culturais de um povo, no Mato Grosso do Sul, evidencia crenças,
hábitos, tradições e demais referências culturais do Estado. É produzido com matérias primas da própria
região e manifesta a criatividade e a identidade do povo sul-mato-grossense por meio de trabalhos em
madeira, cerâmica, fibras, osso, chifre, sementes, etc.
As peças em geral trazem à tona temas referentes ao Pantanal e às populações indígenas, são feitas nas
cores da paisagem regional e, além da fauna e da flora, podem retratar tipos humanos e costumes da região.

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Depreende-se corretamente do texto que a cultura de Mato Grosso do Sul é


a) formada principalmente pela influência da cultura de vários povos migrantes e também pela influência
secundária da cultura paraguaia.
b) formada não apenas pela influência da cultura paraguaia, mas também pela influência da cultura dos
povos que migraram para essa região.
c) muito influenciada pela cultura paraguaia, mas também o é pela cultura de povos de outros países sul-
americanos.
d) fortemente influenciada pela cultura de nações sul-americanas, mas o é também pela cultura de povos de
outras regiões do Brasil.
e) reflexo de uma forte influência da cultura paraguaia, e a cultura de outras regiões não a influenciou de
forma relevante.
Comentários:
No primeiro parágrafo temos:
Primeiro lugar: A cultura de Mato Grosso do Sul é o conjunto de manifestações artístico-culturais
desenvolvidas pela população sul-mato-grossense muito influenciada pela cultura paraguaia
Segundo lugar: Essa cultura estadual retrata, também, uma mistura de várias outras contribuições das muitas
migrações ocorridas em seu território.
Portanto, a influência paraguaia é primária, maior do que a das outras migrações.
a) Incorreta. Houve inversão, a influência paraguaia é primária.
b) Correta. Houve influência paraguaia e também de outras culturas.
c) Incorreta. Houve extrapolação, pois em nenhum momento se falou de nações sul-americanas, apenas de
falou de “outras contribuições das muitas migrações ocorridas”.
d) Incorreta. Em nenhum momento se falou especificamente de nações sul-americanas nem de outras
regiões do Brasil.
e) Incorreta. Aqui há contradição total. O texto diz exatamente o contrário: outras culturas, além da
paraguaia, também influenciaram a formação cultural do Mato Grosso do Sul. Gabarito letra B.

38. (FCC / TRT 24ª REGIÃO / TÉCNICO JUDICIÁRIO / 2017)


Instituições financeiras reconhecem que é cada vez mais difícil detectar se uma transação é fraudulenta ou
verdadeira
Os bancos e as empresas que efetuam pagamentos têm dificuldades de controlar as fraudes financeiras on-
line no atual cenário tecnológico conectado e complexo. Mais de um terço (38%) das organizações reconhece
que é cada vez mais difícil detectar se uma transação é fraudulenta ou verdadeira, revela pesquisa realizada
por instituições renomadas.
O estudo revela que o índice de fraudes on-line acompanha o aumento do número de transações on-line, e
50% das organizações de serviços financeiros pesquisadas acreditam que há um crescimento das fraudes
financeiras eletrônicas. Esse avanço, juntamente com o crescimento massivo dos pagamentos eletrônicos
combinado aos novos avanços tecnológicos e às mudanças nas demandas corporativas, tem forçado, nos
últimos anos, muitas delas a melhorar a eficiência de seus processos de negócios.

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De acordo com os resultados, cerca de metade das organizações que atuam no campo de pagamentos
eletrônicos usa soluções não especializadas que, segundo as estatísticas, não são confiáveis contra fraude e
apresentam uma grande porcentagem de falsos positivos. O uso incorreto dos sistemas de segurança
também pode acarretar o bloqueio de transações. Também vale notar que o desvio de pagamentos pode
causar perda de clientes e, em última instância, uma redução nos lucros.
Conclui-se que a fraude não é o único obstáculo a ser superado: as instituições financeiras precisam também
reduzir o número de alarmes falsos em seus sistemas a fim de fornecer o melhor atendimento possível ao
cliente.
Infere-se corretamente do texto que
a) está cada vez mais fácil, no atual cenário tecnológico, verificar se uma transação on-line é falsa ou
verdadeira.
b) bem mais da metade das organizações atuantes no campo de pagamentos eletrônicos usa soluções não
especializadas.
c) as instituições financeiras precisam acabar não só com as fraudes no sistema on-line, mas também com
os alarmes falsos.
d) o único obstáculo a ser superado ainda pelas instituições financeiras, no atual cenário tecnológico, são os
alarmes falsos
e) o uso de sistemas de segurança especializados pode provocar o bloqueio de transações, mas sem perda
da clientela.
Comentários:
O enunciado diz “infere-se”. Então, temos que estar prontos para procurar uma informação sugerida pelo
texto, mas que não esteja absolutamente clara e literal. Contudo, muitas vezes as questões de inferência são
literais.
a) Incorreta. Ocorre justamente o contrário:
Mais de um terço (38%) das organizações reconhece que é cada vez mais difícil detectar se uma transação é
fraudulenta ou verdadeira
b) Incorreta. A expressão original é “cerca de metade”, o que é bem diferente de “bem mais da metade”.
c) Correta. Isso está bem visível no texto, conforme inferimos da expressão “não é o único”:
Conclui-se que a fraude não é o único obstáculo a ser superado: as instituições financeiras precisam também
reduzir o número de alarmes falsos em seus sistemas a fim de fornecer o melhor atendimento possível ao
cliente.
d) Incorreta. Há dois obstáculos: fraudes e alarmes falsos.
e) Incorreta. Outra contradição evidente no texto:
O uso incorreto dos sistemas de segurança também pode acarretar o bloqueio de transações. Também vale
notar que o desvio de pagamentos pode causar perda de clientes e, em última instância, uma redução nos
lucros. Gabarito letra C.

39. (FCC / TRT 6ª REGIÃO / ANALISTA JUDICIÁRIO / 2018)


A arte requer “explicação”?

TJ-BA - Língua Portuguesa - 2023 (Pós-Edital) 131


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Aqui e ali, quem frequenta bienais, salões de arte ou exposições de artes plásticas encontrará de repente
não um quadro, uma escultura ou algum objeto de significação histórica, mas uma instalação – nome que se
dá, segundo o dicionário Houaiss, a “alguma obra de arte que consiste em construção ou empilhamento de
materiais, permanente ou temporário, em que o espectador pode participar, manipulando-a, ou, sendo, às
vezes, de tamanho tão grande, que o espectador pode nela entrar”. Trata-se, em outras palavras, de
materiais organizados num espaço físico de modo a constituírem uma obra de arte.
Ocorre, porém, com grande parte das instalações, um fenômeno curioso: com muita frequência o criador
é convidado a explicar – e o faz com linguagem muito sofisticada – o sentido profundo que pretendeu dar
àquele conjunto de materiais, àquela instalação que ele concebeu. Para o público, restará a impressão final
de que os materiais eram, em si mesmos, insuficientes para significarem alguma coisa: precisavam da
explicação de quem os utilizou.
As verdadeiras obras de arte se impõem por si mesmas, independentemente de qualquer explicação
prévia ou justificativa final. O grande músico, o grande escritor, o grande cineasta não precisam interpor-se
entre a sonata, o romance ou o filme para explicar seu sentido junto ao público. Certamente haverá
oportunidade para todos refletirmos sobre o sentido dinâmico de uma obra artística que atingiu o nosso
interesse e provocou o nosso prazer; mas nada será mais forte do que a mobilização emocional e intelectual
que a obra já despertou em nós, no primeiro contato.
(Aristeu Valverde, inédito)
A pergunta que constitui o título do texto encontra sua resposta, conforme se posiciona o autor, no seguinte
segmento:
(A) materiais organizados num espaço físico de modo a constituírem uma obra de arte (1º parágrafo).
(B) os materiais eram, em si mesmos, insuficientes para significarem alguma coisa (2º parágrafo).
(C) O grande músico, o grande escritor, o grande cineasta não precisam interpor-se entre a sonata, o romance
ou o filme (3º parágrafo).
(D) oportunidade para todos refletirmos sobre o sentido dinâmico de uma obra artística (3º parágrafo).
(E) atingiu o nosso interesse e provocou o nosso prazer (3º parágrafo).
Comentários:
No último parágrafo o autor afirma categoricamente que a arte não precisa ser explicada:
O grande músico, o grande escritor, o grande cineasta não precisam interpor-se entre a sonata, o romance
ou o filme...
Então, “interpor-se” é colocar-se no meio. O músico não precisa se colocar entre ele mesmo e a obra, não
deve haver intermediários “explicando” a obra, fazendo uma “ponte” entre ela e o público. As obras devem
bastar por si mesmas, causando sua impressão diretamente. Gabarito letra C.

40. (FCC / TRT 6ª REGIÃO / ANALISTA JUDICIÁRIO / 2018) Utilize o texto da questão anterior.
Da posição assumida pelo autor do texto em relação às instalações e às obras de arte em geral, deduz-se sua
convicção de que as obras de arte
(A) não favorecem debates ou reflexões, em vista da autossuficiência do sentido que exprimem de modo
direto.

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(B) devem ser esclarecidas por aquele que lhes emprestou determinado sentido, ao criá-las com função
estética.
(C) desvendam-se por si mesmas, a menos que seu autor seja capaz de nos mostrar que seu sentido explica-
se conforme sua intenção.
(D) valem-se de uma força já presente em sua linguagem, o que não impede que venhamos a refletir e
ponderar sobre elas.
(E) dispensam qualquer explicação quando não se propõem a ser grandiosas, preferindo tirar partido de sua
simplicidade.
Comentários:
Novamente, a resposta está no parágrafo final:
As verdadeiras obras de arte se impõem por si mesmas (valem-se de uma força já presente em sua
linguagem), independentemente de qualquer explicação prévia ou justificativa final. O grande músico, o
grande escritor, o grande cineasta não precisam interpor-se entre a sonata, o romance ou o filme para
explicar seu sentido junto ao público. Certamente haverá oportunidade para todos refletirmos sobre o sentido
dinâmico de uma obra artística que atingiu o nosso interesse e provocou o nosso prazer (o que não impede
que venhamos a refletir e ponderar sobre elas.); mas nada será mais forte do que a mobilização emocional e
intelectual que a obra já despertou em nós, no primeiro contato.
Gabarito letra D.
(A) Incorreto. Favorecem debates ou reflexões sim.
(B) Incorreto. Não devem ser esclarecidas, devem bastar por si mesmas.
(C) Incorreto. Desvendam-se por si mesmas, sem essa ressalva de “a menos que seu autor seja capaz de nos
mostrar que seu sentido explica-se conforme sua intenção.”
(E) Incorreto. Dispensam qualquer explicação sempre, sem essa restrição de somente “quando não se
propõem a ser grandiosas, preferindo tirar partido de sua simplicidade.”

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LISTA DE QUESTÕES - COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO -


FCC
Quando lhe disse que um vago conhecido nosso tinha morrido, vítima de tumor no cérebro, levou as
mãos à cabeça:
− Minha Santa Efigênia!
Espantei-me que o atingisse a morte de alguém tão distante de nossa convivência, mas logo ele fez
sentir a causa de sua perturbação:
− É o que eu tenho, não há dúvida nenhuma: esta dor de cabeça que não passa! Estou para morrer.
Conheço-o desde menino, e sempre esteve para morrer. Não há doença que passe perto dele e não se
detenha, para convencê-lo em iniludíveis sintomas de que está com os dias contados. Empresta dimensões
de síndromes terríveis à mais ligeira manifestação de azia ou acidez estomacal:
− Até parece que andei comendo fogo. Estou com pirofagia crônica. Esta cólica é que é o diabo, se eu
fosse mulher ainda estava explicado. Histeria gástrica. Úlcera péptica, no duro.
Certa ocasião, durante um mês seguido, tomou injeções diárias de penicilina, por sua conta e risco. A
chamada dose cavalar.
− Não adiantou nada − queixa-se ele. − Para mim o médico que me operou esqueceu alguma coisa
dentro de minha barriga.
Foi operado de apendicite quando ainda criança e até hoje se vangloria:
− Menino, você precisava de ver o meu apêndice: parecia uma salsicha alemã.
No que dependesse dele, já teria passado por todas as operações jamais registradas nos anais da
cirurgia: “Só mesmo entrando na faca para ver o que há comigo”. Os médicos lhe asseguram que não há
nada, ele sai maldizendo a medicina: “Não descobrem o que eu tenho, são uns charlatães, quem entende de
mim sou eu”. O radiologista, seu amigo particular, já lhe proibiu a entrada no consultório: tirou-lhe
radiografia até dos dedos do pé. E ele sempre se apalpando e fazendo caretas: “Meu fígado hoje está que
nem uma esponja, encharcada de bílis. Minha vesícula está dura como um lápis, põe só a mão aqui”.
− É lápis mesmo, aí no seu bolso.
− Do lado de cá, sua besta. Não adianta, ninguém me leva a sério.
[...]
Ultimamente os amigos deram para conspirar, sentenciosos: o que ele precisa é casar. Arranjar uma
mulherzinha dedicada, que cuidasse dele. “Casar, eu?” − e se abre numa gargalhada: “Vocês querem acabar
de liquidar comigo?” Mas sua aversão ao casamento não pode ser tão forte assim, pois consta que de uns
dias para cá está de namoro sério com uma jovem, recém-diplomada na Escola de Enfermagem Ana Néri.
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. Rio de Janeiro: BestBolso, 2012, p. 71-72)

1. FCC / PREF. SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP / 2021


Em relação à medicina, o amigo do cronista mostra-se

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(A) confiante.
(B) indiferente.
(C) cético.
(D) resignado.
(E) esperançoso.

O dono do pequeno restaurante é amável, sem derrame, e a fregueses mais antigos oferece, antes do
menu, o jornal do dia “facilitado”, isto é, com traços vermelhos cercando as notícias importantes. Vez por
outra, indaga se a comida está boa, oferece cigarrinho, queixa-se do resfriado crônico e pergunta pelo nosso,
se o temos; se não temos, por aquele regime começado em janeiro, e de que desistimos. Também pelos filmes
de espionagem, que mexem com ele na alma.
Espetar a despesa não tem problema, em dia de barra pesada. Chega a descontar o cheque a ser
recebido no mês que vem (“Falta só uma semana, seu Adelino”).
Além dessas delícias raras, seu Adelino faculta ao cliente dar palpites ao cozinheiro e beneficiar-se
com o filé mais fresquinho, o palmito de primeira, a batata feita na hora, especialmente para os eleitos.
Enfim, autêntico papo-firme.
Uma noite dessas, o movimento era pequeno, seu Adelino veio sentar-se ao lado da antiga freguesa.
Era hora do jantar dele, também. O garçom estendeu-lhe o menu e esperou. Seu Adelino, calado, olhava para
a lista inexpressiva dos pratos do dia. A inspiração não vinha. O garçom já tinha ido e voltado duas vezes, e
nada. A freguesa resolveu colaborar:
− Que tal um fígado acebolado?
− Acabou, madame − atalhou o garçom.
− Deixe ver… Assada com coradas, está bem?
− Não, não tenho vontade disso − e seu Adelino sacudiu a cabeça.
− Bem, estou vendo aqui umas costeletas de porco com feijão-branco, farofa e arroz…
− Não é mau, mas acontece que ainda ontem comi uma carnezita de porco, e há dois dias que me
servem feijão ao almoço − ponderou.
A freguesa de boa vontade virou-se para o garçom:
− Aqui no menu não tem, mas quem sabe se há um bacalhau a qualquer coisa? − pois seu Adelino
(refletiu ela) é português, e como todo lusíada que se preza, há de achar isso a pedida.
Da cozinha veio a informação:
− Tem bacalhau à Gomes de Sá. Quer?
− Pode ser isso − concordou seu Adelino, sem entusiasmo.
Ao cabo de dez minutos, veio o garçom brandindo o Gomes de Sá. A freguesa olhou o prato, invejando-
o, e, para estimular o apetite de seu Adelino:
− Está uma beleza!
− Não acho muito não − retorquiu, inapetente.

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O prato foi servido, o azeite adicionado, e seu Adelino traçou o bacalhau, depois de lhe ser desejado
bom apetite. Em silêncio. Vendo que ele não se manifestava, sua leal conviva interpelou-o:
− Como é, está bom?
Com um risinho meio de banda, fez a crítica:
− Bom nada, madame. Isso não é bacalhau à Gomes de Sá nem aqui nem em Macau. É bacalhau com
batatas. E vou lhe dizer: está mais para sem gosto do que com ele. A batata me sabe a insossa, e o bacalhau
salgado em demasia, ai!
A cliente se lembrou, com saudade vera, daquele maravilhoso Gomes de Sá que se come em casa de
d. Concessa. E foi detalhando:
− Lá em casa é que se prepara um legal, sabe? Muito tomate, pimentão, azeite de verdade, para fazer
um molho pra lá de bom, e ainda acrescentam um ovo…
Seu Adelino emergiu da apatia, comoveu-se, os olhos brilhando, desta vez em sorriso aberto:
− Isso mesmo! Ovo cozido e ralado, azeitonas portuguesas, daquelas… Um santo, santíssimo prato!
Mas, encarando o concreto:
− Essa gente aqui não tem a ciência, não tem a ciência!
− Espera aí, seu Adelino, vamos ver no jornal se tem um bom filme de espionagem para o senhor se
consolar. Não tinha, infelizmente.
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. 70 histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 110-111)

2. FCC / PREF. RECIFE / 2022


Na crônica, a freguesa é caracterizada como
(A) irônica.
(B) introspectiva.
(C) solícita.
(D) volúvel.
(E) impertinente.

1. “Cobrador usa intimidação como estratégia. Empresas de cobrança usam técnicas abusivas, como tornar
pública a dívida.” (Cotidiano, 10.09.2001)
2. Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um
cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: “Aqui mora uma devedora inadimplente.”
3. − Você não pode fazer isso comigo − protestou ela.
4. − Claro que posso − replicou ele. − Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu
sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
5. − Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...
6. − Já sei − ironizou ele. − Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios
ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou

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fazendo.
7. − Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...
8. − Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia
de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro
recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
9. Neste momento começou a chuviscar.
10. − Você vai se molhar − advertiu ela. − Vai acabar ficando doente.
11. Ele riu, amargo:
12. − E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
13. − Posso lhe dar um guarda-chuva...
14. − Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
==cdafe==

15. Ela agora estava irritada:


16. − Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
17. − Sou seu marido − retrucou ele − e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você,
devedora. Eu a avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas
não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que
eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
18. Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava
andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.
(Adaptado de: SCLIAR, Moacyr. O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2002)

3. FCC / PGE-AM / 2022


Em relação aos apelos da mulher, Aristides mostra-se
(A) desconfiado.
(B) envergonhado.
(C) inflexível.
(D) reticente.
(E) compassivo.

As calçadas
As calçadas O inglês tem um verbo curioso, to loiter, que quer dizer, mais ou menos, andar devagar
ou a esmo, ficar à toa, zanzar (grande palavra), vagabundear, ou simplesmente não transitar. E nos Estados
Unidos (não sei se na Inglaterra também), loitering é uma contravenção. Você pode ser preso por loitering,
por estar parado em vez de transitando, numa calçada. O que diferencia um abusivo loitering de uma apenas
inocente ausência de movimento ou de direção depende, imagino, da interpretação do guarda, ou também
daquela sutil subjetividade que também define o que é uma “atitude suspeita”.
Mas é difícil pensar em outra coisa que divida mais claramente o mundo anglo-saxão do mundo latino

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do que o loitering, que não tem nem tradução exata em língua românica, que eu saiba. Se loitering fosse
contravenção na Itália, onde ficar parado na rua para conversar ou apenas para ver os que transitam
transitarem é uma tradição tão antiga quanto a sesta, metade da população viveria na cadeia. Na Espanha,
toda a população viveria na cadeia.
Talvez a diferença entre a América e a Europa, e a vantagem econômica da América sobre os povos
que zanzam, se explique pelos conceitos diferentes de calçada: um lugar utilitário por onde se ir (e, claro,
voltar) ou um lugar para se estar, de preferência com outros. Os franceses, apesar de latinos, não costumam
usar tanto a calçada como sala, não porque tenham se americanizado para aumentar a produção, mas
porque preferem usá-la como café, e estar com outros sentados. Desperdiça-se tempo, mas ganham-se anos
de vida, parados numa calçada.
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 69-70)
4. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022
Nessa crônica carregada de humor, Luis Fernando Verissimo vale-se de certas marcas atribuídas a certas
culturas, quando acredita, por exemplo, que
(A) a prática do loitering acabou por reduzir o prazer que os franceses já tiveram em conversar nas calçadas
dos cafés.
(B) o loitering é um comportamento típico dos povos anglo-saxões, que assim se diferenciariam dos povos
latinos.
(C) uma sanção muito rigorosa da prática do loitering resultaria em pena de reclusão para parte bastante
significativa da população italiana.
(D) a vantagem econômica dos povos latinos sobre os europeus deriva do fato de que aqueles pouco
desenvolvem o hábito do loitering.
(E) a classificação do loitering como contravenção impediu que os espanhóis desenvolvessem o mesmo
hábito dos italianos.

5. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022 (Utilize o texto da questão anterior)


Em relação ao sentido do verbo inglês to loiter e de sua forma loitering, o cronista considera que essas
expressões
(A) junto aos povos latinos designam um modo de se desperdiçar o tempo.
(B) não encontram tradução sequer aproximativa para o português ou outra língua românica.
(C) têm significação inteiramente subjetiva, dependendo tão somente de quem as usa.
(D) têm um significado que varia de país para país, o que impede seu reconhecimento.
(E) referem-se a uma prática social de peso e valor diversos em diferentes países.

6. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022 (Utilize o texto da questão 04)


No terceiro parágrafo, ao definir uma calçada como um lugar utilitário, o cronista está considerando
(A) o modo pelo qual os latinos impuseram aos franceses uma valorização das calçadas.
(B) uma possível razão da vantagem econômica dos americanos sobre os povos que zanzam.

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(C) o motivo pelo qual os espanhóis passaram a defender a razão de seu hábito preferido.
(D) uma espécie de atitude suspeita que marcaria o comportamento dos italianos.
(E) a prática do loitering tal como é adotada hoje em dia pela maioria dos franceses.

[Ritmos da civilização]
Se um camponês espanhol tivesse adormecido no ano 1.000 e despertado quinhentos anos depois, ao
som dos marinheiros de Colombo a bordo das caravelas Nina, Pinta e Santa Maria, o mundo lhe pareceria
bastante familiar. Esse viajante da Idade Média ainda teria se sentido em casa. Mas se um dos marinheiros
de Colombo tivesse caído em letargia similar e despertado ao toque de um iPhone do século XXI, se
encontraria num mundo estranho, para além de sua compreensão. “Estou no Céu?”, ele poderia muito bem
se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
Os últimos quinhentos anos testemunharam um crescimento fenomenal e sem precedentes no
poderio humano. Suponha que um navio de batalha moderno fosse transportado de volta à época de
Colombo. Em questão de segundos, poderia destruir as três caravelas e em seguida afundar as esquadras de
cada uma das grandes potências mundiais. Cinco navios de carga modernos poderiam levar a bordo o
carregamento das frotas mercantes do mundo inteiro. Um computador moderno poderia facilmente
armazenar cada palavra e número de todos os documentos de todas as bibliotecas medievais, com espaço
de sobra. Qualquer grande banco de hoje tem mais dinheiro do que todos os reinos do mundo pré-moderno
reunidos.
Durante a maior parte da sua história, os humanos não sabiam nada sobre 99,99% dos organismos
do planeta – em especial, os micro-organismos. Foi só em 1674 que um olho humano viu um micro-organismo
pela primeira vez, quando Anton van Leeuwenhock deu uma espiada através de seu microscópio caseiro e
ficou impressionado ao ver um mundo inteiro de criaturas minúsculas dando volta em uma gota d’água. Hoje,
projetamos bactérias para produzir medicamentos, fabricar biocombustível e matar parasitas.
Mas o momento mais notável e definidor dos últimos 500 anos ocorreu às 5h29m45s da manhã de 16
de julho de 1945. Naquele segundo exato, cientistas norte-americanos detonaram a primeira bomba atômica
em Alamogordo, Novo México. Daquele ponto em diante, a humanidade teve a capacidade não só de mudar
o curso da história como também de colocar um fim nela. O processo histórico que levou a Alamogordo e à
Lua é conhecido como Revolução Científica. Ao longo dos últimos cinco séculos, os humanos passaram a
acreditar que poderiam aumentar suas capacidades se investissem em pesquisa científica. O que ninguém
poderia imaginar era em que aceleração frenética tudo se daria.
(Adaptado de: HARARI, Yuval Noah. Uma breve história da humanidade. Trad. Janaína Marcoantonio. Porto Alegre: L&PM, 2018,
p. 257-259, passim)

7. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022


As experiências de vida de um marinheiro, ao tempo de Colombo,
(A) faziam-no desfrutar de condições profissionais mais vantajosas do que aquelas em que vivem os marujos
modernos.
(B) amadureciam-no rapidamente graças ao ritmo frenético das conquistas tecnológicas daquela época.
(C) tornavam-no apto a antecipar os avanços inevitáveis da civilização, sobretudo no campo da tecnologia
náutica.
(D) não o faziam sequer suspeitar do que lhe seria apresentado, caso se visse transportado para o nosso

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século.
(E) de pouco lhe valeriam, se postas diante da irracionalidade que passou a comprometer a ciência do século
XXI.

8. FCC / TRT 4ª REGIÃO / 2022 (Utilize o texto da questão anterior)


Da leitura do segundo parágrafo depreende-se que o crescimento fenomenal e sem precedentes no poderio
humano manifestou- se sobretudo considerando-se
(A) a socialização de bens de consumo e de serviços públicos.
(B) o aspecto quantitativo das alterações ambientais.
(C) a capacidade de produzir e sintetizar operações mais complexas.
(D) o rigor ético que passou a orientar a nossa ciência.
(E) a facilidade de improvisarmos diante dos obstáculos e desafios.

O colégio de Tia Gracinha


Tia Gracinha, cujo nome ficou no grupo escolar Graça Guardia, de Cachoeiro do Itapemirim, era irmã
de minha avó paterna, mas tão mais moça que a tratava de mãe. Tenho do colégio de Tia Gracinha uma
recordação em que não sei o que é lembrança mesmo e lembrança de conversa que ouvi menino.
Lembro-me, sobretudo, do pomar e do jardim do colégio, e imagino ver moças de roupas antigas,
cuidando das plantas. O colégio era um internato de moças. Elas não aprendiam datilografia nem taquigrafia,
pois o tempo era de pouca máquina e nenhuma pressa. Moças não trabalhavam fora. As famílias de
Cachoeiro e de muitas outras cidades do Espírito Santo mandavam suas adolescentes para ali; muitas eram
filhas de fazendeiros. Recebiam instrução geral, uma espécie de curso primário reforçado, o mais eram
prendas domésticas. Trabalhos caseiros e graças especiais: bordados, jardinagem, francês, piano...
A carreira de toda moça era casar, e no colégio de Tia Gracinha elas aprendiam boas maneiras.
Levavam depois, para as casas de seus pais e seus maridos, uma porção de noções úteis de higiene e de
trabalhos domésticos, e muitas finuras que lhes davam certa superioridade sobre os homens de seu tempo.
Pequenas etiquetas que elas iam impondo suavemente, e transmitiam às filhas.
Tudo isto será risível aos olhos das moças de hoje; mas a verdade é que o colégio de Tia Gracinha dava
às moças de então a educação de que elas precisavam para viver sua vida. Não apenas o essencial, mas muito
mais do que, sendo supérfluo e superior ao ambiente, era por isto mesmo, de certo modo, funcional – pois a
função do colégio era uma certa elevação espiritual do meio a que servia. Tia Gracinha era o que bem se
podia chamar uma educadora.
(Abril, 1979)
(Adaptado de: BRAGA, Rubem. Recado de primavera. Rio de Janeiro: Record, 1984, p. 52-53)

9. FCC / SEDU-ES / 2022


Ao se lembrar do colégio de Tia Gracinha, o cronista ressalta a
(A) excelência do ensino nesse estabelecimento, cujas propostas básicas já prefiguravam uma nova filosofia
pedagógica.

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(B) adequação existente entre as práticas pedagógicas dessa escola e as expectativas conservadoras quanto
ao papel social das mulheres.
(C) ênfase que era dada, no currículo escolar, às disciplinas que exigiam das estudantes uma visada crítica
dos valores da tradição.
(D) importância apenas relativa que tinha aquele tipo de educação para o desempenho prático das futuras
mães e esposas.
(E) permanência entre nós dos valores de uma educação que ajuda a distinguir as diferentes funções sociais
dos gêneros.

10. FCC / SEDU-ES / 2022 (Utilize o texto da questão anterior)


No segundo parágrafo, entende-se que um internato de moças como o de Tia Gracinha
(A) era uma forma de compensar o conservadorismo masculino com o atendimento das inclinações
vocacionais legitimamente femininas.
(B) existia para poupá-las da tentação de se ocupar em atividades reservadas aos homens, como as exigidas
pelas máquinas e pela velocidade moderna.
(C) funcionava como uma forma de democratização, reservando-se algum espaço para as adolescentes de
famílias economicamente mais frágeis.
(D) privilegiava, no que dizia respeito às mulheres, um encaminhamento funcional considerado digno das
filhas das classes dominantes.
(E) atendia a exigências que partiam das mulheres mesmas, dispostas a tornarem exclusivo um aprendizado
que só a elas dizia respeito.

11. FCC / SEDU-ES / 2022 (Utilize o texto da questão 09)


A possibilidade de uma contestação dos princípios pedagógicos norteadores do colégio de Tia Gracinha e dos
valores de época referidos no texto está enunciada no segmento
(A) Tudo isso será risível aos olhos das moças de hoje.
(B) não sei o que é lembrança mesmo e lembrança de conversa que ouvi de menino.
(C) muitas finuras que lhes davam certa superioridade sobre os homens de seu tempo.
(D) a função do colégio era uma certa elevação espiritual do meio a que servia.
(E) Pequenas etiquetas que elas iam impondo suavemente, e transmitiam às filhas.

12. (FCC / ALAP / AUXILIAR LEGISLATIVO / 2020)


Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

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Eu não tinha estas mãos sem força,


Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,


Tão simples, tão certa, tão fácil:
− Em que espelho ficou perdida
a minha face?
(Cecília Meirelles)
Considere as afirmações abaixo.
I. No poema, verifica-se um processo de mudança, decorrente da passagem do tempo.
II. O elemento sublinhado em Que nem se mostra (2ª estrofe) refere-se a “coração”.
III. Sem prejuízo para o sentido, o segmento sublinhado no verso Eu não dei por esta mudança (3ª estrofe)
pode ser substituído por “ainda não assimilei”.
IV. A repetição do termo “assim” em Assim calmo, assim triste, assim magro (1ª estrofe) prediz uma
consequência, expressa no verso seguinte.
Está correto o que consta APENAS em
(A) II e III.
(B) I, II e IV.
(C) I e III.
(D) I e II.
(E) III e IV.

13. (FCC / ALAP / AUXILIAR LEGISLATIVO / 2020)


1 Que tipo de capitalismo desejamos? Em termos gerais, temos três modelos entre os quais escolher.
2 O primeiro é o “capitalismo de acionistas”, que propõe que o objetivo de uma empresa deve ser a
maximização dos lucros. O segundo é o “capitalismo de Estado”, que confia ao governo a tarefa de
estabelecer a direção da economia e ganhou proeminência em países emergentes, entre os quais se destaca
a China. E há o capitalismo de “stakeholders” (partes interessadas), que posiciona as empresas privadas como
curadoras dos interesses da sociedade e representa a melhor resposta aos atuais desafios ambientais.
3 O capitalismo de acionistas, o modelo hoje dominante, ganhou terreno nos EUA, na década de 1970,
e expandiu sua influência nas décadas seguintes. Sua ascensão não deixa de ter méritos. Durante seu período
de maior êxito, milhões prosperaram, à medida que empresas abriam mercados e criavam empregos em
busca do lucro.

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4 Mas essa não é toda a história. Os defensores do capitalismo de acionistas negligenciam o fato de
que uma empresa de capital aberto não é apenas uma entidade que busca lucros, mas também um
organismo social.
5 Muitos perceberam que essa forma de capitalismo já não é sustentável. Um provável motivo é o efeito
“Greta Thunberg”. A jovem ativista sueca nos recorda que a adesão ao atual sistema econômico representa
uma traição às futuras gerações, por sua falta de sustentabilidade ambiental. Outro motivo (correlato) é que
muitos jovens já não querem trabalhar para empresas cujos valores se limitem à maximização do lucro. Por
fim, executivos e investidores começaram a reconhecer que seu sucesso em longo prazo está intimamente
ligado ao de seus clientes, empregados e fornecedores.
6 Manifestando-se favoravelmente ao estabelecimento do capitalismo de stakeholders como novo
modelo dominante, está sendo lançando um novo Manifesto de Davos, que diz que as empresas devem
mostrar tolerância zero à corrupção e sustentar os direitos humanos em toda a extensão de suas cadeias
mundiais de suprimento.
7 Mas, para defender os princípios do capitalismo de stakeholders, as empresas precisarão de novos
indicadores. De início, um novo indicador de “criação de valor compartilhado” deveria incluir metas
ecológicas e sociais como complemento aos indicadores financeiros.
8 Ademais, as grandes empresas deveriam compreender que elas são partes interessadas em nosso
futuro comum. Elas deveriam trabalhar com outras partes interessadas a fim de melhorar a situação do
mundo em que operam. Na verdade, esse deveria ser seu propósito definitivo.
9 Os líderes empresariais têm neste momento uma grande oportunidade. Ao dar significado concreto
ao capitalismo de stakeholders, podem ir além de suas obrigações legais e cumprir seu dever para com a
sociedade. Se eles desejam deixar sua marca no planeta, não existe outra alternativa.
(Adaptado de: SCHWAB, Klaus. Tradução: Paulo Migliacci. Disponível em: www1.folha.uol.com.br)
Para enfrentar os desafios da atualidade, o autor defende um sistema econômico
(A) que coadune os propósitos da sociedade com os das empresas, de modo que estas venham a
implementar ações sustentáveis, visando à satisfação, a um só tempo, dos interesses corporativos e sociais.
(B) cujo principal objetivo seja o de promover retorno financeiro a empresas e investidores, os quais, em
contrapartida, fomentariam ações de cuidado com o meio ambiente, na medida em que estas fossem
proporcionalmente incentivadas pelo Estado.
(C) já testado em países emergentes, como a China, que vem proporcionando níveis altos de
desenvolvimento econômico, bem como a prosperidade sem precedentes da população.
(D) em que a gestão da economia caiba primordialmente ao Estado, o qual poderia, assim, ter controle sobre
a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva.
(E) em que se criem empregos por meio da expansão do mercado consumidor e da maximização dos
benefícios financeiros aos acionistas de uma corporação.

14. (FCC / ALAP / AUXILIAR LEGISLATIVO / 2020) Utilize o texto da questão anterior.
No 5º parágrafo, o autor
(A) refuta a atitude de jovens de países desenvolvidos que optam pelo desemprego como forma de protesto
contra o sistema capitalista vigente.

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(B) censura a atitude de gestores que se furtam a considerar os interesses financeiros dos investidores ao
estabelecer as diretrizes da cadeia produtiva da empresa.
(C) atribui à atitude da militante sueca Greta Thunberg a razão de muitos terem reconhecido que o
capitalismo de acionistas peca pela falta de sustentabilidade ambiental.
(D) exalta a iniciativa de empresários cujas gestões se baseiam no fomento aos valores da corporação,
almejando, ao mesmo tempo, a superação dos lucros dos acionistas.
(E) considera que o boicote por parte de jovens como Greta Thunberg a empresas pouco sustentáveis, ainda
que louvável, freia o crescimento econômico e gera desemprego.

15. (FCC / ALAP / ANALISTA LEGISLATIVO / 2020)


Distribuição justa
A justiça de um resultado distributivo das riquezas depende das dotações iniciais dos participantes e da lisura
do processo do qual ele decorre. Do ponto de vista coletivo, a questão crucial é: a desigualdade observada
reflete essencialmente os talentos, esforços e valores diferenciados dos indivíduos, ou, ao contrário, ela
resulta de um jogo viciado na origem e no processo, de uma profunda falta de equidade nas condições iniciais
de vida, da privação de direitos elementares ou da discriminação racial, sexual, de gênero ou religiosa?
A condição da família em que uma criança tiver a sorte ou o infortúnio de nascer, um risco comum, a todos,
passa a exercer um papel mais decisivo na definição de seu futuro do que qualquer outra coisa ou escolha
que possa fazer no ciclo da vida. A falta de um mínimo de equidade nas condições iniciais e na capacitação
para a vida tolhe a margem de escolha, vicia o jogo distributivo e envenena os valores da convivência. A
igualdade de oportunidades está na origem da emancipação das pessoas. Crianças e jovens precisam ter a
oportunidade de desenvolver seus talentos de modo a ampliar seu leque de escolhas possíveis na vida prática
e eleger seus projetos, apostas e sonhos de realização.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 106)

No contexto do primeiro parágrafo, as expressões dotações iniciais de participantes e lisura do processo


constituem
(A) as causas ocultas da distribuição de riquezas que acaba por não fazer justiça às habilidades próprias dos
indivíduos.
(B) as metas mais justas a serem alcançadas por um conveniente processo distributivo das limitadas riquezas
disponíveis.
(C) os fatores diretamente condicionantes da possibilidade de haver justiça no processo distributivo das
riquezas.
(D) as razões de ser de todo processo de distribuição de riquezas que premie o talento inato dos mais
competentes.
(E) um objetivo idealista cuja aparência de justiça se apaga quando competidores aproveitam mal
oportunidades iguais.

16. (FCC / ALAP / ANALISTA LEGISLATIVO / 2020) Utilize o texto da questão anterior.
Em síntese, depreende-se da leitura do segundo parágrafo que

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(A) as escolhas nas quais se faz justiça aos talentos das crianças e dos jovens tornam-se possíveis com a
equidade das condições iniciais.
(B) a condição familiar de origem não tem peso determinante no desenvolvimento das qualidades pessoais
de uma criança.
(C) as aspirações e os sonhos das crianças e dos jovens só se formularão quando tiverem alcançado alguma
possibilidade de realização.
(D) a dotação injusta de talentos individuais faz com que não haja equidade ao final do processo de
distribuição das riquezas.
(E) a capacitação natural para a vida leva a tornar vicioso o jogo distributivo das riquezas disponíveis em cada
ocasião.

17. (FCC / ALAP / ANALISTA LEGISLATIVO / 2020) Utilize o texto da questão 15.
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em:
(A) de modo a ampliar seu leque (2º parágrafo) = por conta da aberta indisponibilidade.
(B) dotações iniciais dos participantes (1º parágrafo) = licitações originais dos concorrentes.
(C) jogo viciado na origem e no processo (1º parágrafo) = processo fraudulento do acaso.
(D) falta de um mínimo de equidade (2º parágrafo) = carência de discriminação equivalente.
(E) envenena os valores da convivência (2º parágrafo) = corrompe a qualidade do convívio.

18. (FCC / ALAP / ANALISTA LEGISLATIVO / 2020)


O século XX, Era dos Extremos
O século XX deixou um legado inegável de questões e impasses. Para o grande historiador Eric Hobsbawm,
neste livro Era dos Extremos − o breve século XX − 1914-1991, esse século foi breve e extremado: sua história
e suas possibilidades edificaram-se sobre catástrofes, incertezas e crises, decompondo o que fora construído
no longo século XIX.
Hobsbawm divide a história do século XX em três “eras”. A primeira, “da catástrofe”, é marcada pelas duas
grandes guerras, pelas ondas de revolução global em que o sistema político e econômico da URSS surgia
como alternativa histórica para o capitalismo e pela virulência da crise econômica de 1929. Também nesse
período os fascismos e o descrédito das democracias liberais surgem como proposta mundial.
A segunda “era” são os anos dourados das décadas de 1950 e 1960 que, em sua paz congelada, viram a
viabilização e a estabilização do capitalismo, responsável pela promoção de uma extraordinária expansão
econômica e profundas transformações sociais.
Por fim, entre 1970 e 1991, dá-se o “desmoronamento” final, em que caem por terra os sistemas institucionais
que previnem e limitam o barbarismo contemporâneo, dando lugar à brutalização da política e à
irresponsabilidade teórica da ortodoxia econômica, abrindo as portas para um futuro incerto.
(Adaptado da “orelha”, sem indicação autoral, do livro de Eric Hobsbawm acima referido, editado em São Paulo pela Companhia
das Letras, em 1995)

Ao constituir uma visão geral do século XX, que considera breve e extremado, o historiador Eric Hobsbawm

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(A) salienta a importância que alcançaram as décadas de 1950 e 1960, nas quais se efetivou o descrédito das
democracias liberais.
(B) salienta a importância que tiveram as metas o século XIX para a consecução dos objetivos alcançados no
século seguinte.
(C) leva em conta, como critério fundamental para essa divisão a emancipação política desfrutada pelas
classes trabalhadoras de diferentes países.
(D) faz reconhecer uma desconstrução geral e radical das expectativas e dos ideais gerados no decorrer do
longo século XIX.
(E) aponta como único saldo positivo a oportuna emergência do moderno liberalismo econômico, já ao final
da década de 1920.

19. (FCC / ALAP / ANALISTA LEGISLATIVO / 2020) Utilize o texto da questão anterior.
Estabelecem entre si uma relação de causa e efeito, nessa ordem, os seguintes segmentos:
(A) caem por terra os sistemas institucionais / barbárie da política (4º parágrafo).
(B) deixou um legado inegável / decompondo o que fora construído (1º parágrafo).
(C) alternativa histórica para o capitalismo / virulência da crise econômica (2º parágrafo).
(D) ondas de revolução global / a história do século XX em três “eras” (2º parágrafo).
(E) a segunda era são os anos dourados / paz congelada (3º parágrafo).

20. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO / 2020)


1. “Máquinas similares às hoje existentes serão construídas a custos mais baixos, mas com velocidades
mais rápidas de processamento.” Assim, em um artigo de 1965, o empreendedor Gordon Moore, hoje com
90 anos de idade, apresentou sua célebre ideia. Pela “Lei de Moore”, a cada dois anos, em média, o
desempenho dos chips de computador dobra, sem que aumentem os custos de fabricação. A máxima,
irretocável, à exceção de pequenos detalhes, funcionou tal qual intuíra Moore. É uma regra que pode,
contudo, estar com os dias contados.
2. Vive-se, hoje, uma revolução tecnológica afeita a deixar no passado o raciocínio da duplicação de
capacidade de cálculos à base de silício: é a computação quântica. Ela poderá nos levar a distâncias
inimagináveis: tarefas que o computador mais poderoso do planeta demoraria 10.000 anos para completar
seriam feitas em minutos.
3. A computação quântica, até o início desta década, não passava de teoria. Nos últimos anos, começou
a ser testada, com sucesso parcial, até conseguir tração que parece se encaminhar para uma nova história.
Um documento da NASA, vazado recentemente, mostra que uma empresa, ao criar o primeiro computador
quântico funcional da história, pode estar próxima de romper com o paradigma imposto pela Lei de Moore.
4. A revelação foi resultado de uma distração. Algum funcionário da NASA, também envolvido com o
projeto, acidentalmente publicou no site da agência espacial um estudo que mostra o feito, realizado por
meio de uma máquina, ainda sob sigilo. O arquivo, já programado para ser divulgado oficialmente,
permaneceu poucos segundos no ar, mas foi flagrado pelo jornal Financial Times.
5. O avanço ainda se restringe a âmbitos estritamente técnicos, sem utilidade cotidiana, mas já é
apelidado de “o Santo Graal da computação”. Isso porque o feito, se comprovado, atingiu o que se conhece

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como “supremacia quântica”. A nomenclatura indica um momento da civilização em que os computadores


talvez sejam tão (ou mais) competentes quanto os seres humanos.
6. O cientista da computação Scott Aaronson disse, em entrevista: “Isso não causará mudança imediata
na vida das pessoas. Mas só por enquanto, pois se trata do início de um caminho que levará a transformações
radicais em diversas áreas”. Vale lembrar que o computador que usamos hoje também começou com um
passo singelo, em 1843, quando a matemática inglesa Ada Lovelace (1815-1852) publicou um diagrama
numérico que veio a ser considerado o primeiro algoritmo computacional.
(Adaptado de: Revista Veja, edição de 09/10/2019, p. 79)
Considere as afirmações abaixo.
I. No primeiro parágrafo, a menção à Lei de Moore refere-se ao caráter premonitório do artigo publicado por
Gordon Moore em 1965, que, salvo poucos pormenores, mostrou-se futuramente correto.
II. Como estratégia argumentativa, o autor descreve a chamada “Lei de Moore” logo no início do texto para
embasar a ideia de que até mesmo uma máquina de computação quântica a comprova.
III. Ao longo do texto, o autor condena a atitude do funcionário da NASA que vazou, ainda que de modo
acidental, informações confidenciais a respeito de avanços tecnológicos.
IV. Publicado sem a devida permissão, um artigo de jornal antecipou ao público as características de um
supercomputador, apelidado de “o Santo Graal da computação”, a ser brevemente lançado, cujas
funcionalidades trarão mudanças significativas à vida cotidiana do cidadão comum.
Está correto o que consta APENAS de:
(A) II e III.
(B) III e IV.
(C) IV.
(D) I.
(E) I, III e IV.

21. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO / 2020)


[O motor da preguiça]
Acho que a verdadeira força motriz do desenvolvimento humano, a razão da superioridade e do sucesso do
Homem, foi a preguiça. A técnica é fruto da preguiça. O que são o estilingue, a flecha e a lança senão maneiras
de não precisar ir lá e esgoelar a caça ou um semelhante com as mãos, arriscando-se a levar a pior e perder
a viagem? O que estaria pensando o inventor da roda senão no eventual desenvolvimento da charrete, que,
atrelada a um animal menos preguiçoso do que ele, o levaria a toda parte sem que ele precisasse correr ou
caminhar?
Toda a história das telecomunicações, desde os tambores tribais e seus códigos primitivos até os sinais da TV
e a internet, se deve ao desejo humano de enviar a mensagem em vez de ir entregá-la pessoalmente. A fome
de riqueza e poder do Homem não passa da vontade de poder mandar os outros fazerem o que ele tem
preguiça de fazer, seja de trazer os seus chinelos ou construir suas pirâmides.
A química moderna é filha da alquimia, que era a tentativa de ter o ouro sem ter que procurá-lo, ou trabalhar
para merecê-lo. A física e a filosofia são produtos da contemplação, que é um subproduto da indolência e
uma alternativa para a sesta, A grande arte também se deve à preguiça. Não por acaso, o que é considerada

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a maior realização da melhor época da arte ocidental, o teto da Capela Sistina, foi feita pelo Michelangelo
deitado. Marcel Proust escreveu Em busca do tempo perdido deitado. Vá lá, recostado. As duas maiores
invenções contemporâneas, depois do antibiótico e do microchip, que são a escada rolante e o manobrista,
devem sua existência à preguiça. E nem vamos falar no controle remoto.
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 54-55)

No segundo parágrafo, a fome de riqueza e poder do Homem é dada como justificativa para a
(A) obtenção de meios que lhe permitam dominar seus semelhantes, obrigando-os às mais variadas tarefas.
(B) improvisação permanente de técnicas ineficazes, pelas quais o poderio almejado se transforma em duro
fracasso.
(C) criação de obras de arte de valor inestimável, como as produzidas pela genialidade de Michelangelo e de
Proust.
(D) contemplação filosófica, que leva os homens a erguerem seu pensamento para as mais altas ideias.
(E) substituição do talento pessoal pelo esforço de chegar a alguma invenção de grande repercussão política.

22. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO / 2020) Utilize o texto da questão anterior.
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em:
(A) uma alternativa para a sesta (3º parágrafo) = uma alternância de repouso.
(B) um subproduto da indolência (3º parágrafo) = um efeito secundário da preguiça.
(C) verdadeira força motriz do desenvolvimento (1º parágrafo) = real intenção do progresso.
(D) arriscando-se a levar a pior (1º parágrafo) = expondo-se aos imprevistos.
(E) são produtos da contemplação (3º parágrafo) = tornam-se produtivamente visíveis.

23. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO 2 / 2020)


Novas formas de vida?
Uma forma radical de mudar as leis da vida é produzir seres completamente inorgânicos. Os exemplos mais
óbvios são programas de computador e vírus de computador que podem sofrer evolução independente.
O campo da programação genética é hoje um dos mais interessantes no mundo da ciência da computação.
Esta tenta emular os métodos da evolução genética. Muitos programadores sonham em criar um programa
capaz de aprender e evoluir de maneira totalmente independente de seu criador. Nesse caso, o programador
seria um primum mobile, um primeiro motor, mas sua criação estaria livre para evoluir em direções que nem
seu criador nem qualquer outro humano jamais poderiam ter imaginado.
Um protótipo de tal programa já existe – chama-se vírus de computador. Conforme se espalha pela internet,
o vírus se replica milhões e milhões de vezes, o tempo todo sendo perseguido por programas de antivírus
predatórios e competindo com outros vírus por um lugar no ciberespaço. Um dia, quando o vírus se replica,
um erro ocorre – uma mutação computadorizada. Talvez a mutação ocorra porque o engenheiro humano
programou o vírus para, ocasionalmente, cometer erros aleatórios de replicação. Talvez a mutação se deva
a um erro aleatório. Se, por acidente, o vírus modificado for melhor para escapar de programas antivírus sem
perder sua capacidade de invadir outros computadores, vai se espalhar pelo ciberespaço. Com o passar do

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tempo, o ciberespaço estará cheio de novos vírus que ninguém produziu e que passam por uma evolução
inorgânica.
Essas são criaturas vivas? Depende do que entendemos por “criaturas vivas”. Mas elas certamente foram
criadas a partir de um novo processo evolutivo, completamente independente das leis e limitações da
evolução orgânica.
(Adaptado de HARARI, Yuval Noah. Sapiens, Uma breve história da humanidade.Trad. Janaína Marcoantonio. Porto Alegre: L&PM, 38. ed,,2018,
p. 419-420).

A forma radical de mudar as leis da vida, investigada ao longo do texto, está na possibilidade de o homem
(A) alargar de tal modo nossa compreensão do que seja a vida que passe a aceitar como vivas as propriedades
dos minerais.
(B) combater tão completamente a ação dos vírus existentes que passe a dominá-los e a utilizá-los como
contravenenos.
(C) ver desenvolver-se, para além de sua aplicação científica, uma evolução inorgânica que ocorra com plena
autonomia.
(D) alcançar sua meta mais ousada, representada pelo controle do ciberespaço e de todas as formas que
nele se encontram.
(E) dominar tão completamente as leis da genética que possa um dia vir a interferir sobre a longevidade e a
qualidade do viver.

24. (FCC / ALAP / ASS. LEGISLATIVO 2 / 2020) Utilize o texto da questão anterior.
No último parágrafo do texto, sugere-se que
(A) a evolução orgânica de formas computadorizadas concorre para que os vírus se propaguem livremente.
(B) a evolução inorgânica está na dependência de que se passe a dominar inteiramente as leis da genética.
(C) o conceito mesmo de “vida” está entre os poucos fundamentos da ciência que não admite ser contestado.
(D) o âmbito da biologia e da genética não inclui processos que se possam reconhecer como propriamente
evolutivos.
(E) a ocorrência de uma evolução inorgânica pode condicionar uma nova compreensão do que seja uma
criatura viva.

25. (FCC / SEPLAG RECIFE / ASS. DE GESTÃO PÚBLICA / 2019)


Mais da metade dos seres humanos hoje vivem em cidades, e esse número deve aumentar para 70% até
2050. Em termos econômicos, os resultados da urbanização foram notáveis. As cidades representam 80% do
Produto Interno Bruto (PIB) global. Nos Estados Unidos, o corredor Boston-Nova York-Washington gera mais
de 30% do PIB do país.
Mas o sucesso tem sempre um custo – e as cidades não são exceção, segundo análise do Fórum Econômico
Mundial. Padrões insustentáveis de consumo, degradação ambiental e desigualdade persistente são alguns
dos problemas das cidades modernas. Recentemente, entraram na equação as consequências da
transformação digital. Há quem fale sobre uma futura desurbanização. Mas os especialistas consultados pelo
Fórum descartam essa possibilidade. Preferem discorrer sobre como as cidades vão se adaptar à era da
digitalização e como vão moldar a economia mundial.

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A digitalização promete melhorar a vida das pessoas nas cidades. Em cidades inteligentes como Tallinn, na
Estônia, os cidadãos podem votar nas eleições nacionais e envolver-se com o governo local via plataformas
digitais, que permitem a assinatura de contratos e o pagamento de impostos, por exemplo. Programas
similares em Cingapura e Amsterdã tentam criar uma espécie de “governo 4.0”.
Além disso, a tecnologia vai permitir uma melhora na governança. Plataformas digitais possibilitam acesso,
abertura e transparência às operações de governos locais e provavelmente irão mudar a forma como os
governos interagem com as pessoas.
(Adaptado de: “5 previsões para a cidade do futuro, segundo o Fórum Econômico Mundial”. Disponível em:
https://epocanegocios.globo.com)

Na apresentação de previsões quanto ao futuro das cidades, o autor


(A) cita dados que mostram o aumento da urbanização como fruto da transformação digital.
(B) contrasta aspectos positivos e negativos da digitalização no exercício da cidadania.
(C) aponta os problemas decorrentes do emprego da digitalização na economia mundial.
(D) apresenta opiniões divergentes no que respeita à sustentabilidade nos meios urbanos.
(E) recorre à opinião de especialistas e menciona cidades que usam recursos digitais atualmente.

26. (FCC / SEPLAG RECIFE / ASS. DE GESTÃO PÚBLICA / 2019)


Desde 2016, registra-se queda na cobertura vacinal de crianças menores de dois anos. Segundo o Ministério
da Saúde, entre janeiro e agosto, nenhuma das nove principais vacinas bateu a meta estabelecida — imunizar
95% do público-alvo. O percentual alcançado oscila entre 50% e 70%.
As autoridades atribuem o desleixo a duas causas. Uma: notícias falsas alarmantes espalhadas pelas redes
sociais. Segundo elas, vacinas seriam responsáveis pelo autismo e outras enfermidades. A outra: a população
apagou da memória as imagens de pessoas acometidas por coqueluche, catapora, sarampo. Confirmar-se-
ia, então, o dito de que o que os olhos não veem o coração não sente.
Trata-se de comportamento irresponsável que tem consequências. De um lado, ao impedir que o infante
indefeso fique protegido contra determinada doença, os pais lhe comprometem a saúde (e até a vida). De
outro, contribuem para que a enfermidade continue a se propagar pela população. Em bom português:
apunhalam o individual e o coletivo. Põem a perder décadas de esforço governamental de proteger os
brasileiros de doenças evitáveis.
O Brasil, vale lembrar, é citado como modelo pela Organização Mundial de Saúde. As campanhas de
vacinação exigiram esforço hercúleo. Para cobrir o território nacional e cumprir o calendário, enfrentaram
selvas, secas, tempestades. Tiveram êxito. Deixaram relegada para as páginas da história a revolta da vacina,
protagonizada pela população do Rio de Janeiro que, no início do século passado, se rebelou contra a
mobilização de Oswaldo Cruz para reduzir as mazelas do Rio de Janeiro. O médico quis resolver a tragédia da
varíola com a Lei da Vacina Obrigatória.
Tal fato seria inaceitável hoje. A sociedade evoluiu e se educou. O calendário de vacinação tornou-se rotina.
Graças ao salto civilizatório, o país conseguiu erradicar males que antes assombravam a infância. O
retrocesso devolverá o Brasil ao século 19. Há que reverter o processo. Acerta, pois, o Ministério da Saúde ao
deflagrar nova campanha de adesão para evitar a marcha rumo à barbárie. O reforço na equipe de agentes
de imunização deve merecer atenção especial.

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(Adaptado de: “Vacina: avanço civilizatório”. Diário de Pernambuco. Editorial. Disponível em: www.diariodeper-
nambuco.com.br)
O texto expressa um ponto de vista condizente com o que se afirma em:
(A) A população brasileira é irresponsável ao não aderir às campanhas de vacinação promovidas pelo
Ministério da Saúde.
(B) Falta investimento público em campanhas de vacinação que sejam de fato eficazes para o controle de
doenças letais.
(C) Doenças já erradicadas voltaram a assolar a população porque os brasileiros não foram orientados a
vacinar seus filhos.
(D) As campanhas de vacinação do Ministério da Saúde foram mal planejadas e, por isso, não chegaram a
alcançar sucesso.
(E) O pouco conhecimento da população brasileira acerca das campanhas de vacinação acarretou surtos de
doenças evitáveis.

27. (FCC / SEPLAG RECIFE / ASS. DE GESTÃO PÚBLICA / 2019) Utilize o texto da questão anterior.
Com a alusão ao provérbio o que os olhos não veem o coração não sente, reforça-se a ideia de que
(A) a população já se esqueceu dos riscos de algumas doenças visadas pelas atuais campanhas de vacinação,
como coqueluche, catapora e sarampo.
(B) as campanhas de vacinação têm priorizado inadvertidamente doenças que já não implicam risco de
contágio à maior parte da população.
(C) as campanhas de conscientização do Ministério da Saúde não devem subestimar o conhecimento que o
público adquire por meio do estudo formal.
(D) as notícias falsas espalhadas pelas redes sociais são eficazes porque recorrem a registros audiovisuais
que apelam a um envolvimento afetivo.
(E) a imunização carece do estabelecimento de metas realistas, embora informar a população acerca dos
riscos das doenças seja uma estratégia válida.

28. (FCC / SEFAZ-BA / AUDITOR FISCAL / 2019)


Uma mudança ocorrida no último meio século foi o aparecimento do museu que constitui, por si só, uma
grande atração cultural, independentemente do conteúdo a ser exibido em seu interior. Esses edifícios
espetaculares e em geral arrojados vêm sendo construídos por arquitetos de estima universal e se destinam
a criar grandes polos globais de atração cultural em centros em tudo o mais periféricos e pouco atrativos. O
que acontece dentro desses museus é irrelevante ou secundário. Um exemplo disso ocorreu na cidade de
Bilbao. Em tudo o mais praticamente inexpressiva, nos anos 1990 ela transformou-se num polo turístico
global graças ao Museu Guggenheim, do arquiteto Frank Gehry. A arte visual contemporânea, desde o
esgotamento do modernismo nos anos 1950, considera adequados e agradáveis para exposições esses
espaços que exageram a própria importância e são funcionalmente incertos. Não obstante, coleções de
grande significado para a humanidade, expostas, por exemplo, no Museu do Prado, ainda não precisam
recorrer a ambientes de acrobacia arquitetônica.

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(Adaptado de: HOBSBAWM, Eric. Tempos fraturados: Cultura e sociedade no século XX. São Paulo: Companhia das
Letras, 2013, edição digital)
Considere as afirmativas abaixo a respeito do texto.
I. O autor aponta para o surgimento de museus cujo acervo é menos relevante para o visitante do que a
grandeza arquitetônica de seu edifício e questiona a eficácia de tais ambientes para a exibição de obras de
arte.
II. Infere-se do texto que o Museu Guggenheim é responsável por transformar a cidade de Bilbao,
anteriormente desprovida de atributos culturais, em um polo turístico.
III. Para o autor, as obras apresentadas no Museu do Prado ganham maior destaque devido ao fato de este
museu não constituir um exemplo do que classifica como “ambiente de acrobacia arquitetônica”.
Está correto o que se afirma APENAS em
(A) I e II.
(B) II e III.
(C) I e III.
(D) II.
(E) I.

29. (FCC / SEFAZ-BA / AUDITOR FISCAL / 2019)


A ciência moderna e a economia de mercado figuram entre as mais notáveis realizações humanas. A
Revolução Científica do século XVII e a Revolução Industrial do século XVIII foram apenas o prelúdio do que
viria em seguida − a revolução permanente dos últimos três séculos. Ciência e mercado são apostas na
liberdade: liberdade balizada por padrões impessoais de argumentação e validação de teorias no primeiro
caso; e por regras que fixam os marcos dentro dos quais a busca do ganho econômico por parte das pessoas
é livre, no segundo. Por mais brilhantes, entretanto, que sejam suas inegáveis conquistas, é preciso ter uma
visão clara do que podemos esperar que façam por nós: a ciência jamais aplacará a nossa fome de sentido,
e o mercado nada nos diz sobre a ética − como usar a nossa liberdade e o que fazer de nossas vidas.
O sistema de mercado − baseado na propriedade privada, nas trocas voluntárias e na formação de preços
por meio de um processo competitivo reconhecidamente imperfeito − define um conjunto de regras de
convivência na vida prática. A regra de ouro do mercado estabelece que a recompensa material dos seus
participantes corresponderá ao valor monetário que os demais estiverem dispostos a atribuir ao resultado de
suas atividades: a remuneração de cada um, portanto, não depende da intensidade dos seus desejos de
consumo, do civismo de suas ações, do seu mérito moral ou estético. Dependerá tão somente da disposição
dos consumidores em pagar, com parte do ganho do seu próprio trabalho, para ter acesso aos bens e serviços
que o outro oferece. Mas o mercado não decide, em nome dos que nele atuam, os resultados finais da
interação. Assim como a gramática não determina o teor das mensagens, mas apenas as regras das trocas
verbais, também o mercado não estabelece de antemão o que será feito e escolhido pelos que dele
participam.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, edição digital)
Infere-se corretamente do texto:

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(A) Apesar de se autorregular, o mercado oferece recompensas materiais desiguais aos participantes do
sistema, atreladas, proporcionalmente, à dedicação do indivíduo àquilo que é do interesse da coletividade.
(B) Ao estabelecer uma comparação entre as conquistas capazes de melhorar as condições da vida humana
nos últimos séculos, o autor conclui que os benefícios da economia de mercado são inferiores aos alcançados
pela Revolução Industrial do século XVIII.
(C) Como ciência e mercado estão interligados, a primeira sofre restrições em sua liberdade de ação, uma
vez que só se validam teorias que atendam aos interesses do mercado, o qual, por sua vez, visa ao lucro
mesmo em detrimento do desenvolvimento científico.
(D) As conquistas alcançadas pelo sistema de mercado, no qual se estabelecem os preços de um produto por
meio de um processo competitivo, são limitadas, na medida em que as relações de troca não estão atreladas
a escolhas éticas nem nos ensinam de que modo usar nossa liberdade.
(E) Uma vez que se trata de um sistema meritocrático, o sistema de mercado beneficia os indivíduos mais
dedicados e munidos de maior motivação pessoal, cujo grande desejo de consumo faz com que procurem
superar suas dificuldades.

30. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019)


A chave do tamanho
O antes de nascer e o depois de morrer: duas eternidades no espaço infinito circunscrevem o nosso breve
espasmo de vida. A imensidão do universo visível com suas centenas de bilhões de estrelas costuma provocar
um misto de assombro, reverência e opressão nas pessoas. “O silêncio eterno desses espaços infinitos me
abate de terror”, afligia-se o pensador francês Pascal. Mas será esse necessariamente o caso?
O filósofo e economista inglês Frank Ramsey responde à questão com lucidez e bom humor: “Discordo de
alguns amigos que atribuem grande importância ao tamanho físico do universo. Não me sinto absolutamente
humilde diante da vastidão do espaço. As estrelas podem ser grandes, mas não pensam nem amam –
qualidades que impressionam bem mais do que o tamanho. Não acho vantajoso pesar quase cento e vinte
quilos”.
Com o tempo não é diferente. E se vivêssemos, cada um de nós, não apenas um punhado de décadas, mas
centenas de milhares ou milhões de anos? O valor da vida e o enigma da existência renderiam, por conta
disso, os seus segredos? E se nos fosse concedida a imortalidade, isso teria o dom de aplacar de uma vez por
todas o nosso desamparo cósmico e as nossas inquietações? Não creio. Mas o enfado, para muitos, seria
difícil de suportar.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 35)
Ao longo do texto, o autor sustenta a ideia de que a infinitude
(A) do universo acalenta nossa confiança na infinitude da espécie humana.
(B) dos espaços cósmicos refreia o nosso anseio de imortalidade.
(C) do tempo universal impede-nos de usufruir o tempo de nossa finitude.
(D) dos espaços ou do tempo não garante a vantagem de uma suposta imortalidade.
(E) das coisas nunca representou alguma restrição à nossa sensação de liberdade.

31. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019) Utilize o texto da questão anterior.

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As ideias de Pascal e as de Frank Ramsey referidas no texto


(A) convergem para o ponto comum de fazer temer a enormidade dos enigmas que nos cercam.
(B) divergem frontalmente quanto às percepções que têm diante da vastidão ou infinitude do universo.
(C) divergem quanto à infinitude do universo, mas convergem quanto ao temor que sentimos diante da
morte.
(D) são complementares, uma vez que a convicção de um pensador dá força à convicção do outro.
(E) são de todo independentes, pois não tratam de qualquer tema que estabeleça contato entre elas.
32. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019)
Imigrações no Rio Grande do Sul
Em 1740 chegou à região do atual Rio Grande do Sul o primeiro grupo organizado de povoadores.
Portugueses oriundos da ilha dos Açores, contavam com o apoio oficial do governo, que pretendia que se
instalassem na vasta área onde anteriormente estavam situadas as Missões.
A partir da década de vinte do século XIX, o governo brasileiro resolveu estimular a vinda de imigrantes
europeus, para formar uma camada social de homens livres que tivessem habilitação profissional e pudessem
oferecer ao país os produtos que até então tinham que ser importados, ou que eram produzidos em escala
mínima. Os primeiros imigrantes que chegaram foram os alemães, em 1824. Eles foram assentados em
glebas de terra situadas nas proximidades da capital gaúcha. E, em pouco tempo, começaram a mudar o
perfil da economia do atual estado.
Primeiramente, introduziram o artesanato em uma escala que, até então, nunca fora praticada. Depois,
estabeleceram laços comerciais com seus países de origem, que terminaram por beneficiar o Rio Grande. Pela
primeira vez havia, no país, uma região em que predominavam os homens livres, que viviam de seu trabalho,
e não da exploração do trabalho alheio.
As levas de imigrantes se sucederam, e aos poucos transformaram o perfil do Rio Grande. Trouxeram a
agricultura de pequena propriedade e o artesanato. Através dessas atividades, consolidaram um mercado
interno e desenvolveram a camada média da população. E, embora o poder político ainda fosse detido pelos
grandes senhores das estâncias e charqueadas, o poder econômico dos imigrantes foi, aos poucos, se
consolidando.
(Adaptado de: projetoriograndetche.weebly.com/imigraccedilatildeo-no-rs.html)
Os primeiros imigrantes alemães a se estabelecerem no Rio Grande do Sul
(A) constituíram uma alternativa ao trabalho escravo, alterando, com o tempo, a fisionomia econômica do
estado.
(B) promoveram a ocupação, com apoio governamental, de uma ampla região destinada ao estabelecimento
das Missões.
(C) foram assentados em glebas onde já com eficácia se cultivavam produtos que concorriam com os
importados.
(D) alteraram a qualidade e a quantidade dos produtos artesanais locais, o que se infletiu na economia da
região.
(E) representaram o ingresso no mercado de trabalhadores qualificados que modernizaram a produção
industrial.

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33. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019) Utilize o texto da questão anterior.


Com a sucessão de levas de imigrantes, verificaram-se as seguintes consequências no Rio Grande do Sul:
(A) interdição do trabalho escravo e consolidação das classes dominantes.
(B) diversificação do artesanato e valorização do folclore nacional.
(C) consolidação das estâncias tradicionais e minimização das charqueadas.
(D) fortalecimento da economia interna e promoção econômica da classe média.
(E) alternância no comando político e expansão das propriedades rurais.

34. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019) Utilize o texto da questão 32.


O último parágrafo do texto enfatiza
(A) a progressiva e positiva transformação socioeconômica que as levas de imigrantes trouxeram ao estado
rio-grandense.
(B) o impulso rapidamente imposto ao ritmo até então tímido da produção nas pequenas propriedades
gaúchas.
(C) a pressão das camadas emergentes dos trabalhadores sobre a gestão política dos proprietários
tradicionais.
(D) a substituição dos modos de produção local pelas técnicas artesanais há muito consagradas em outras
terras.
(E) a importância da imigração alemã no deslocamento da economia rural para a do mercado financeiro.

35. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019)


[Retratos fiéis]
Não sei por que motivo há de a gente desenhar tão objetivamente as coisas: o galho daquela árvore
exatamente na sua inclinação de quarenta e três graus, o casaco daquele homem justamente com as
ruguinhas que no momento apresenta, e o próprio retratado com todos seus pés-de-galinha minuciosamente
contadinhos... Para isso já existe há muito tempo a fotografia, com a qual jamais poderemos competir em
matéria de objetividade.
Se, para contrabalançar minhas lacunas, me houvesse Deus concedido o invejável dom da pintura, eu seria
um pintor lírico (o adjetivo não é bem apropriado, mas vai esse mesmo enquanto não ocorrer outro). Quero
dizer, o modelo serviria tão só do ponto de partida. O restante eu transfiguraria em conformidade com meu
desejo de fantasia e poder de imaginação.
(Adaptado de: QUINTANA, Mário. Na volta da esquina. Porto Alegre: Globo, 1979, p. 88)
No primeiro parágrafo, o autor do texto exprime sua convicção de que a
(A) pintura, sendo mais criativa que a fotografia, desfruta de melhores condições para ser de fato uma arte.
(B) fotografia, ainda que seja uma técnica capaz de objetividade, não distingue os detalhes que uma pintura
pode realçar.
(C) fotografia, em sua propriedade de retratar tudo objetivamente, alcança mais precisão do que qualquer
pintura.

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(D) pintura, em seu afã de retratar tudo objetivamente, acaba por relevar detalhes que a própria fotografia
não exprime.
(E) pintura, quando descarta sua obsessão em retratar tudo com o máximo de detalhes, aproxima-se mais
da arte da fotografia.

36. (FCC / BANRISUL / ESCRITURÁRIO / 2019)


Demonstra-se boa compreensão de um segmento do texto no seguinte caso:
(A) Se, para contrabalançar minhas lacunas, me houvesse Deus concedido o (...) dom = caso Deus tivesse
compensado minhas falhas agraciando-me com o talento
(B) o próprio retratado com todos seus pés-de-galinha minuciosamente contadinhos = o fotógrafo mesmo,
que não poupa detalhes, perde-se ao contar minúcias
(C) com a qual jamais poderemos competir em matéria de objetividade = com cuja materialidade nem
mesmo sendo objetivos havemos de tratar
(D) Não sei por que motivo há de a gente desenhar tão objetivamente as coisas = Não vejo razão para
renunciarmos à objetividade quando desenhamos
(E) O restante eu transfiguraria em conformidade com meu desejo de fantasia = O que sobrasse eu
dispensaria para poder fazer jus ao meu critério de artista

37. (FCC / TRT 24ª REGIÃO / TÉCNICO JUDICIÁRIO / 2017)


Aspectos Culturais de Mato Grosso do Sul
A cultura de Mato Grosso do Sul é o conjunto de manifestações artístico-culturais desenvolvidas pela
população sul-mato-grossense muito influenciada pela cultura paraguaia. Essa cultura estadual retrata,
também, uma mistura de várias outras contribuições das muitas migrações ocorridas em seu território.
O artesanato, uma das mais ricas expressões culturais de um povo, no Mato Grosso do Sul, evidencia crenças,
hábitos, tradições e demais referências culturais do Estado. É produzido com matérias primas da própria
região e manifesta a criatividade e a identidade do povo sul-mato-grossense por meio de trabalhos em
madeira, cerâmica, fibras, osso, chifre, sementes, etc.
As peças em geral trazem à tona temas referentes ao Pantanal e às populações indígenas, são feitas nas
cores da paisagem regional e, além da fauna e da flora, podem retratar tipos humanos e costumes da região.
Depreende-se corretamente do texto que a cultura de Mato Grosso do Sul é
a) formada principalmente pela influência da cultura de vários povos migrantes e também pela influência
secundária da cultura paraguaia.
b) formada não apenas pela influência da cultura paraguaia, mas também pela influência da cultura dos
povos que migraram para essa região.
c) muito influenciada pela cultura paraguaia, mas também o é pela cultura de povos de outros países sul-
americanos.
d) fortemente influenciada pela cultura de nações sul-americanas, mas o é também pela cultura de povos de
outras regiões do Brasil.

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e) reflexo de uma forte influência da cultura paraguaia, e a cultura de outras regiões não a influenciou de
forma relevante.

38. (FCC / TRT 24ª REGIÃO / TÉCNICO JUDICIÁRIO / 2017)


Instituições financeiras reconhecem que é cada vez mais difícil detectar se uma transação é fraudulenta ou
verdadeira
Os bancos e as empresas que efetuam pagamentos têm dificuldades de controlar as fraudes financeiras on-
line no atual cenário tecnológico conectado e complexo. Mais de um terço (38%) das organizações reconhece
que é cada vez mais difícil detectar se uma transação é fraudulenta ou verdadeira, revela pesquisa realizada
por instituições renomadas.
O estudo revela que o índice de fraudes on-line acompanha o aumento do número de transações on-line, e
50% das organizações de serviços financeiros pesquisadas acreditam que há um crescimento das fraudes
financeiras eletrônicas. Esse avanço, juntamente com o crescimento massivo dos pagamentos eletrônicos
combinado aos novos avanços tecnológicos e às mudanças nas demandas corporativas, tem forçado, nos
últimos anos, muitas delas a melhorar a eficiência de seus processos de negócios.
De acordo com os resultados, cerca de metade das organizações que atuam no campo de pagamentos
eletrônicos usa soluções não especializadas que, segundo as estatísticas, não são confiáveis contra fraude e
apresentam uma grande porcentagem de falsos positivos. O uso incorreto dos sistemas de segurança
também pode acarretar o bloqueio de transações. Também vale notar que o desvio de pagamentos pode
causar perda de clientes e, em última instância, uma redução nos lucros.
Conclui-se que a fraude não é o único obstáculo a ser superado: as instituições financeiras precisam também
reduzir o número de alarmes falsos em seus sistemas a fim de fornecer o melhor atendimento possível ao
cliente.
Infere-se corretamente do texto que
a) está cada vez mais fácil, no atual cenário tecnológico, verificar se uma transação on-line é falsa ou
verdadeira.
b) bem mais da metade das organizações atuantes no campo de pagamentos eletrônicos usa soluções não
especializadas.
c) as instituições financeiras precisam acabar não só com as fraudes no sistema on-line, mas também com
os alarmes falsos.
d) o único obstáculo a ser superado ainda pelas instituições financeiras, no atual cenário tecnológico, são os
alarmes falsos
e) o uso de sistemas de segurança especializados pode provocar o bloqueio de transações, mas sem perda
da clientela.

39. (FCC / TRT 6ª REGIÃO / ANALISTA JUDICIÁRIO / 2018)


A arte requer “explicação”?
Aqui e ali, quem frequenta bienais, salões de arte ou exposições de artes plásticas encontrará de repente
não um quadro, uma escultura ou algum objeto de significação histórica, mas uma instalação – nome que se
dá, segundo o dicionário Houaiss, a “alguma obra de arte que consiste em construção ou empilhamento de

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materiais, permanente ou temporário, em que o espectador pode participar, manipulando-a, ou, sendo, às
vezes, de tamanho tão grande, que o espectador pode nela entrar”. Trata-se, em outras palavras, de
materiais organizados num espaço físico de modo a constituírem uma obra de arte.
Ocorre, porém, com grande parte das instalações, um fenômeno curioso: com muita frequência o criador
é convidado a explicar – e o faz com linguagem muito sofisticada – o sentido profundo que pretendeu dar
àquele conjunto de materiais, àquela instalação que ele concebeu. Para o público, restará a impressão final
de que os materiais eram, em si mesmos, insuficientes para significarem alguma coisa: precisavam da
explicação de quem os utilizou.
As verdadeiras obras de arte se impõem por si mesmas, independentemente de qualquer explicação
prévia ou justificativa final. O grande músico, o grande escritor, o grande cineasta não precisam interpor-se
entre a sonata, o romance ou o filme para explicar seu sentido junto ao público. Certamente haverá
oportunidade para todos refletirmos sobre o sentido dinâmico de uma obra artística que atingiu o nosso
interesse e provocou o nosso prazer; mas nada será mais forte do que a mobilização emocional e intelectual
que a obra já despertou em nós, no primeiro contato.
(Aristeu Valverde, inédito)
A pergunta que constitui o título do texto encontra sua resposta, conforme se posiciona o autor, no seguinte
segmento:
(A) materiais organizados num espaço físico de modo a constituírem uma obra de arte (1º parágrafo).
(B) os materiais eram, em si mesmos, insuficientes para significarem alguma coisa (2º parágrafo).
(C) O grande músico, o grande escritor, o grande cineasta não precisam interpor-se entre a sonata, o romance
ou o filme (3º parágrafo).
(D) oportunidade para todos refletirmos sobre o sentido dinâmico de uma obra artística (3º parágrafo).
(E) atingiu o nosso interesse e provocou o nosso prazer (3º parágrafo).

40. (FCC / TRT 6ª REGIÃO / ANALISTA JUDICIÁRIO / 2018) Utilize o texto da questão anterior.
Da posição assumida pelo autor do texto em relação às instalações e às obras de arte em geral, deduz-se sua
convicção de que as obras de arte
(A) não favorecem debates ou reflexões, em vista da autossuficiência do sentido que exprimem de modo
direto.
(B) devem ser esclarecidas por aquele que lhes emprestou determinado sentido, ao criá-las com função
estética.
(C) desvendam-se por si mesmas, a menos que seu autor seja capaz de nos mostrar que seu sentido explica-
se conforme sua intenção.
(D) valem-se de uma força já presente em sua linguagem, o que não impede que venhamos a refletir e
ponderar sobre elas.
(E) dispensam qualquer explicação quando não se propõem a ser grandiosas, preferindo tirar partido de sua
simplicidade.

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GABARITO
1. LETRA C 15. LETRA C 29. LETRA D
2. LETRA C 16. LETRA A 30. LETRA D
3. LETRA C 17. LETRA E 31. LETRA B
4. LETRA C 18. LETRA D 32. LETRA A
5. LETRA E 19. c LETRA A 33. LETRA D
6. LETRA B 20. LETRA D 34. LETRA A
7. LETRA D 21. LETRA A 35. LETRA C
8. LETRA C 22. LETRA B 36. LETRA A
9. LETRA B 23. LETRA C 37. LETRA B
10. LETRA D 24. LETRA E 38. LETRA C
11. LETRA A 25. LETRA E 39. LETRA C
12. LETRA D 26. LETRA A 40. LETRA D
13. LETRA A 27. LETRA A
14. LETRA C 28. LETRA A

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