Efesios Comentario Exegetico Trecho
Efesios Comentario Exegetico Trecho
Efesios Comentario Exegetico Trecho
Introdução a Efésios........................................................................................1
Autoria de Efésios.........................................................................................2
Estrutura e gênero literário de Efésios......................................................68
A cidade de Éfeso e o contexto histórico..................................................86
Propósito de Efésios.................................................................................108
Teologia de Efésios..................................................................................118
Texto e comentário
I. O chamado da igreja (1.1—3.21)........................................................127
A. Prólogo (1.1,2)...............................................................................128
Excurso 1: Problema textual em Efésios 1.1.................................141
B. Louvor pelas bênçãos espirituais planejadas por
Deus (1.3-14).................................................................................152
Excurso 2: Perspectivas e estruturas de Efésios 1.3-14.................160
Excurso 3: Em Cristo.....................................................................175
Excurso 4: Eleição..........................................................................190
C. Oração por sabedoria e revelação (1.15-23).................................263
Excurso 5: Um estudo de πλήρωμα.............................................326
D. Nova posição como pessoas (2.1-10)............................................331
E. Nova posição como comunidade (2.11-22)..................................384
Bibliografia....................................................................................................993
Índice de autores..........................................................................................1025
Índice de passagens bíblicas..........................................................................1045
realidade do mundo em favor do qual a igreja cumpre sua missão. Pois como
C. S. Lewis assinalou, com razão, em seu conto O sobrinho do mago, “o que
você ouve e vê depende do lugar em que se coloca”.1 Esse lugar é o mundo em
que estamos, o qual nos pressiona com perguntas que não deixam de instruir
nosso trabalho de interpretação. Assim, não basta expor o que Deus disse
outrora, já que precisamos ouvir vezes sem conta aquilo que o Espírito, por
meio das Escrituras, está dizendo à igreja hoje. Por conseguinte, precisamos
examinar o significado teológico daquilo que lemos e como essa mensagem
pode conquistar o coração das pessoas.
Por fim, a série Comentário Exegético foi elaborada mediante a seleção
de volumes originários de algumas das melhores e mais atualizadas séries de
comentários produzidas em língua inglesa. São obras que se situam em um
ponto intermediário entre comentários mais críticos e acadêmicos — que
incluem, por exemplo, citações não traduzidas do grego, do aramaico ou do
latim — e comentários homiléticos — os quais tentam expor de forma clara
como um texto das Escrituras pode ser transmitido, em forma de ensino ou
pregação, à igreja reunida.
Nossa esperança é que aqueles que estão se preparando para ensinar e
pregar a Palavra de Deus encontrem nestas páginas a orientação de que pre-
cisam. E que aqueles que estão aprendendo a fazer exegese encontrem aqui
um exemplo a ser seguido.
É com imensa satisfação, portanto, que disponibilizamos à igreja brasileira
esta preciosa série de comentários bíblicos.
1
As crônicas de Nárnia (São Paulo: Martins Fontes, 2009), livro 1: O sobrinho do mago.
Este comentário tem uma longa história. Originariamente fazia parte de uma
série que foi descontinuada. Embora mais tarde tenha se tornado parte de uma
nova série de comentários de outra editora, o comentário tornou-se longo
demais e já não era adequado para essa série. Finalmente, a editora Baker
Academic concordou em publicá-lo como um comentário independente, e
sou grato por isso.
É preciso explicar várias coisas. Em primeiro lugar, o estudo das palavras
ganhou grande impulso com as descobertas de papiros que começaram a
ocorrer na última metade do século 19. Embora tenha havido muito debate
sobre o assunto, que às vezes levou a excessos, James Barr fez as advertências
necessárias de que: (1) a etimologia de uma palavra, ainda que apresente uma
história dessa palavra, não expressa seu significado em vários períodos da
história e (2) o significado de uma palavra deve ser extraído também de seu
contexto em vez de ter um único significado em todos os contextos, o que
Barr rotulou de “transferência ilegítima da totalidade”.1 Portanto, o estudo
sincrônico das palavras passou a ter proeminência, mas não se deve esquecer
totalmente do estudo diacrônico delas.2 Outra advertência diz respeito à
primeira parte do século 20, quando houve uma tendência de não ver quase
nenhuma sobreposição no significado de sinônimos, ao passo que em tempos
mais recentes há uma tendência de não ver praticamente nenhuma diferença
entre eles. Acaso não faz mais sentido entender que sinônimos se sobrepõem,
mas não têm significado idêntico? As nuances de sentido podem ser mínimas
e com pouca, ou mesmo nenhuma, relevância em alguns contextos, mas ainda
assim não se deve, em todos e quaisquer casos, ignorar as distinções entre elas.
1
James Barr, The semantics of biblical language (Oxford: Oxford University Press, 1961),
p. 109, 218.
2
Cf. James Barr, “The synchronic, the diachronic and the historical: a triangular rela-
tionship”. In: Johannes C. de Moor, org., Synchronic or diachronic? A debate on method in Old
Testament exegesis, Oudtestamentische Studiën (Leiden: E. J. Brill, 1995), vol. 34, p. 1-14.
3
Edição em português: Variantes textuais do Novo Testamento grego, ampliação, atualização
e simplificação de Roger Omanson (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017).
versões inglesas, não os nomes usados na LXX. Por exemplo, usei 1Samuel
em vez de 1Reinos, e Esdras e Neemias em vez de 2Esdras. Sempre que uso
um sinal de igual (e.g., Mt 12.4 = Mc 2.26 = Lc 6.4), ele se refere a uma
passagem paralela, em geral nos Sinóticos. Na lista de passagens bíblicas, cito
primeiramente as passagens mais relevantes, seguidas de outras passagens na
sequência canônica. Sempre que coloco um ponto de interrogação depois
de uma passagem das Escrituras, tive alguma dúvida sobre seu uso naquele
caso específico.
Em sexto lugar, ao citar outras obras, utilizei as reduções, transliterações
e grafias da obra citada, mesmo quando diferiam da usada neste comentário.
Em sétimo lugar, expresso minha profunda gratidão às seguintes orga-
nizações e pessoas: Dallas Theological Seminary, pelo generoso programa
sabático que me permitiu concentrar tempo no comentário; as bibliotecas
e bibliotecários do Dallas Theological Seminary, nos Estados Unidos, e da
Tyndale House e da Universidade de Cambridge, ambas na Inglaterra; meu
colega Darrell L. Bock, por ler os cinco primeiros capítulos em uma etapa bem
inicial e por suas sugestões; meu filho, David, que leu trechos do comentário e
fez sugestões; e o professor Best, por me enviar cópias de todos os seus artigos
recentes. Desejo ainda expressar meu reconhecimento às seguintes pessoas que
me ajudaram de várias maneiras, a saber, Markus N. A. Bockmuehl, Michael
H. Burer, David J. A. Clines, Dorian G. Coover-Cox, Buist M. Fanning III,
Donald R. Glenn, Trudy Goff, Wayne A. Grudem, Scott Hafemann, George
W. Knight III, William Mounce, Peter T. O’Brien, Stanley E. Porter, Robert
Reymond, Judith Siegel, Moisés Silva, Stephen Spencer, Eduard M. Vandermass,
Daniel B. Wallace e Bruce W. Winter. Finalmente, desejo expressar profunda
gratidão à minha amada esposa, Gini, que leu todo o comentário pelo menos
duas vezes, apresentando sugestões de mudanças estilísticas que tornaram o
texto mais claro.
John Calvin [João Calvino], Sermons on the Epistle to the Ephesians, tradução para o inglês
2
de Arthur Golding em 1577, revisão de 1973 (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1973;
publicado na França em 1562), p. viii.
3
The works of John Knox, compilação e edição de David Laing (Edinburgh: Thomas George
Stevenson, 1864; reimpr., New York: AMS, 1966), vol. 6, p. 639, 643.
4
Samuel Taylor Coleridge, Specimens of the table talk (London, Reino Unido: John Murray,
1858), p. 82.
5
Robinson, p. vii.
6
Dodd, p. 1224-5.
Paulo como apóstolo dos gentios”.7 Em 1974, Markus Barth começou seu
comentário com esta frase: “Efésios está entre as mais importantes cartas que
levam o nome do apóstolo Paulo”.8 Raymond E. Brown declarou em 1997:
“Entre os escritos paulinos, apenas Romanos está à altura de Efésios como
candidata a exercer a maior influência no pensamento e na espiritualidade
cristãos”.9 Em 1999, Peter T. O’Brien declarou: “A Carta aos Efésios é um
dos documentos mais importantes já escritos”.10 Por isso, a carta reflete, na
avaliação de muitos, a síntese do pensamento paulino e tem exercido grande
influência no pensamento cristão.
Nos últimos dois séculos, contudo, tem havido muito debate sobre várias
questões relacionadas a Efésios. Nesta introdução, analisaremos cinco questões:
autoria; estrutura e gênero; cidade e ambiente histórico; propósito; e teologia
de Efésios. Em seguida, uma bibliografia desta introdução será apresentada.
AUTORIA DE EFÉSIOS
Introdução
Um estudo dos comentários sobre Efésios ou uma rápida leitura de introdu-
ções ao NT revela de imediato um grande debate sobre a autoria desse livro.
É necessária uma investigação da questão para entender os vários aspectos
do problema.
F. F. Bruce, “St. Paul in Rome. 4. The Epistle to the Ephesians”, BJRL 49 (Spring 1967):
7
303; reimpresso no cap. 36 de idem, Paul: apostle of the heart set free (Grand Rapids: Eerd-
mans, 1977), p. 424-40 [edição em português: Paulo, o apóstolo da graça, tradução de Hans
Udo Fuchs (São Paulo: Shedd, 2003)]; Bruce, p. 229. O título “a quintessência da teologia
paulina” [expressão original: the quintessence of Paulinism] foi tomado emprestado de
Peake, o primeiro ocupante da Cátedra Rylands da Universidade de Manchester, que usou
esse título para se referir a todas as cartas de Paulo, até mesmo Efésios; veja Arthur S. Peake,
“The quintessence of Paulinism”, BJRL 4 (September-January, 1917-1918): 285-311.
8
Barth, p. 3.
9
Raymond E. Brown, An introduction to the New Testament, The Anchor Bible Reference
Library, organização de David Noel Freedman (New York: Doubleday, 1997), p. 620 [edição
em português: Introdução ao Novo Testamento, tradução de Paulo F. Valério, Coleção Bíblia
e História (São Paulo: Paulinas, 2004)].
10
O’Brien, p. 1.
11
Clement of Rome [Clemente de Roma], Epistola 1 ad Corinthios 46.6, in: PG 1:304
[edições em português: “Clemente Romano”, in: Padres apostólicos, Clemente Romano, Iná-
cio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, O pastor de Hermas, Carta de Barnabé, Papias, Didaqué,
Patrística 1 (São Paulo: Paulus, 1997); “Primeira carta de Clemente”, in: Os pais apostólicos,
tradução de Almiro Pisetta (São Paulo: Mundo Cristão, 2013)]; cf. A Committee of the
Oxford Society of Historical Theology, The New Testament in the apostolic fathers (Oxford:
Clarendon, 1905), p. 53. Para um exame das alusões de Clemente a Efésios, veja Donald
Alfred Hagner, The use of the Old and the New Testaments in Clement of Rome, organização
de W. C. van Unnik et al., NovTSup 34 (Leiden: Brill, 1973), p. 222-6.
12
Clement of Rome [Clemente de Roma], Epistola 1 ad Corinthios 59.3; cf. 36.2, in: PG
1:281.
13
Ibidem, 36.2, in: PG 1:281.
14
Ibidem, 38,1, in: PG 1:284.
15
Ignatius [Inácio], Ad Ephesios 1.1-2, in: PG 5:644 [edições em português: “Inácio de
Antioquia”, in: Padres apostólicos, Clemente Romano, Inácio de Antioquia, Policarpo de Es-
mirna, O pastor de Hermas, Carta de Barnabé, Papias, Didaqué, Patrística 1 (São Paulo: Paulus,
1997); “Aos efésios”, in: Os pais apostólicos, tradução de Almiro Pisetta (São Paulo: Mundo
Cristão, 2013)]. Para uma crítica das referências de Inácio a Efésios, veja Matthias Günther,
Die Frühgeschichte des Christentums in Ephesus, Arbeiten zur Religion und Geschichte des
Urchristentums 1, organização de Gerd Lüdemann (Frankfurt am Main: Peter Lang, 1995),
p. 147-59.
16
Ignatius [Inácio], Ad Polycarpum 6.2, in: PG 5:868 [edição em português: “Inácio de
Antioquia”, in: Padres apostólicos, Clemente Romano, Inácio de Antioquia, Policarpo de Es-
mirna, O pastor de Hermas, Carta de Barnabé, Papias, Didaqué, Patrística 1 (São Paulo: Paulus,
1997); “A Policarpo”, in: Os pais apostólicos, tradução de Almiro Pisetta (São Paulo: Mundo
Cristão, 2013)].
17
Polycarp [Policarpo], Ad Philippenses 12.1, in: PG 5:1020 [edições em português: “Po-
licarpo de Esmirna”, in: Padres apostólicos, Clemente Romano, Inácio de Antioquia, Policarpo
de Esmirna, O pastor de Hermas, Carta de Barnabé, Papias, Didaqué, Patrística 1 (São Paulo:
Paulus, 1997); “Aos filipenses”, in: Os pais apostólicos, tradução de Almiro Pisetta (São Paulo:
Mundo Cristão, 2013)].
18
Ibidem, 1.3, in: PG 5:1017.
19
Ibidem, 4.1, in: PG 5:1017-8.
20
Irenaeus [Ireneu], Adversus haereses 5.2.3, in: PG 7:1126) [edição em português: Contra
as heresias, Patrística 4 (São Paulo: Paulus, 1997)].
21
Ibidem, 5.8.1, in: PG 7:1141.
22
Ibidem, 5.14.3, in: PG 7:1163.
23
Ibidem, 5.24.4, in: PG 7:1188.
24
Clement of Alexandria [Clemente de Alexandria], Stromatum 4.8, in: PG 8:1275-6.
25
Clement of Alexandria [Clemente de Alexandria], Paedagogus 1.5, in: PG 8:269-70 [edição
em português: O pedagogo, tradução de Iara Faria (Campinas: Ecclesiae, 2014)].
26
Tertullian [Tertuliano], Adversus Marcionem 5.17.1, in: PL 2:512; cf. Adolf von Harnack,
Marcion: das Evangelium vom fremden Gott. Eine Monographie zur Geschichte der Grundlegung der
katholischen Kirche, 2. ed., TU 45, organização de Adolf von Harnack; Carl Schmidt (Leipzig:
J. C. Hinrichs’sche Buchhandlung, 1924); John Knox, Marcion and the New Testament: an
essay in the early history of the canon (Chicago: University of Chicago Press, 1942), p. 1-76,
158-67, 172-6; Hans von Campenhausen, The formation of the Christian Bible, tradução para
o inglês de J. A. Baker (Philadelphia/London, Estados Unidos/Reino Unido: Fortress/A. and
C. Black, 1972), p. 147-67; John J. Clabeaux, A lost edition of the letters of Paul. A reassessment
of the text of the Pauline corpus attested by Marcion, Catholic Biblical Quarterly Monograph
Series 21 (Washington: Catholic Biblical Association of America, 1989), p. 26, 94-8, 156.
27
The apostolic fathers, edição e tradução de J. B. Lightfoot, 2. ed. (London, Reino Unido:
Macmillan, 1890; reimpr., Grand Rapids: Baker, 1981), parte I, vol. 2, p. 405-13; Brooke
Foss Westcott, A general survey of the history of the canon of the New Testament, 6. ed. (London,
Reino Unido: Macmillan, 1889; reimpr., Grand Rapids: Baker, 1980), p. 212; John A. T.
Robinson, Redating the New Testament (Philadelphia/London, Estados Unidos/Reino Unido:
Westminster/SCM, 1976), p. 319; E. Ferguson, “Canon Muratori. Date and provenance”,
in: Studia patristica, organização de Elizabeth A. Livingstone (Oxford: Pergamon, 1982),
vol. 17, parte 2, p. 677-83; Bruce M. Metzger, The canon of the New Testament: its origin,
development, and significance (Oxford: Clarendon, 1987), p. 191; F. F. Bruce, The canon of
Scripture (Downers Grove: InterVarsity, 1988), p. 158 [edição em português: O cânon das
Escrituras: como os livros da Bíblia vieram a ser reconhecidos como Escrituras Sagradas?, tradução
de Carlos Osvaldo Pinto (São Paulo: Hagnos, 2011)]; Wilhelm Schneemelcher, org., New
Testament apocrypha, tradução para o inglês e edição de R. McL. Wilson (London: James
Clarke; Louisville: Westminster/John Knox, 1991), vol. 1, p. 27-9, 34, 72 (nota 37).
28
A. C. Sundberg Jr., “Towards a revised history of the New Testament canon”, in: F.
L. Cross, org., Studia evangelica, vol. IV.: Papers presented to the Third International Congress
on New Testament Studies held at Christ Church Oxford, 1965, parte I: The New Testament
Scriptures, TU (Friedrich Zucher et al., orgs.) (Berlin: Akademie-Verlag, 1968), vol. 102,
p. 452-61; A. C. Sundberg Jr., “Canon Muratori: a fourth-century list”, HTR 66 (January
1973): 1-41; Geoffrey Mark Hahneman, The Muratorian Fragment and the development of the
canon, organização de M. F. Wiles et al., OTM (Oxford: Clarendon, 1992), p. 4, 33, 215-8.
29
Tertullian [Tertuliano], De Monogamia 5, in: PL 2:935.
30
Tertullian [Tertuliano], De praescriptionibus 36, in: PL 2:49 [edição em português: Direito
de prescrição contra os hereges, Patrística 9 (Lisboa: Paulistas, 1960)].
31
Tertullian [Tertuliano], Adversus Marcionem 4.5.1, in: PL 2:366.
32
Ibidem, 5.11.12, in: PL 2:500.