Congresso CONPEDI IV
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CONPEDI BRASÍLIA – DF
FILOSOFIA DO DIREITO
Diretoria – CONPEDI
Presidente - Prof. Dr. Raymundo Juliano Feitosa – UNICAP
Vice-presidente Sul - Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet – PUC - RS
Vice-presidente Sudeste - Prof. Dr. João Marcelo de Lima Assafim – UCAM
Vice-presidente Nordeste - Profa. Dra. Maria dos Remédios Fontes Silva – UFRN
Vice-presidente Norte/Centro - Profa. Dra. Julia Maurmann Ximenes – IDP
Secretário Executivo - Prof. Dr. Orides Mezzaroba – UFSC
Secretário Adjunto - Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto – Mackenzie
Conselho Fiscal:
Prof. Msc. Caio Augusto Souza Lara – ESDH
Prof. Dr. José Querino Tavares Neto – UFG/PUC PR
Profa. Dra. Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini Sanches – UNINOVE
Prof. Dr. Lucas Gonçalves da Silva – UFS (suplente)
Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas – UFG (suplente)
Secretarias:
Relações Institucionais – Ministro José Barroso Filho – IDP
Prof. Dr. Liton Lanes Pilau Sobrinho – UPF
Educação Jurídica – Prof. Dr. Horácio Wanderlei Rodrigues – IMED/ABEDi
Eventos – Prof. Dr. Antônio Carlos Diniz Murta – FUMEC
Prof. Dr. Jose Luiz Quadros de Magalhaes – UFMG
Profa. Dra. Monica Herman Salem Caggiano – USP
Prof. Dr. Valter Moura do Carmo – UNIMAR
Profa. Dra. Viviane Coêlho de Séllos Knoerr – UNICURITIBA
Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC
F488
Filosofia do direito [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI
Coordenadores: Alexandre Bernardino Costa; Leonardo Rabelo de Matos Silva; Rosângela Lunardelli
Cavallazzi - Florianópolis: CONPEDI, 2017.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-5505-454-9
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: Desigualdade e Desenvolvimento: O papel do Direito nas Políticas Públicas
1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Nacionais. 2. Pensamento jurídico. 3. Justiça Social.
XXVI EncontroNacional do CONPEDI (26. : 2017 : Brasília, DF).
CDU: 34
________________________________________________________________________________________________
Apresentação
Nessa publicação veiculam-se valorosas contribuições teóricas das mais relevantes inserções
na realidade brasileira, e no campo teórico, com a reflexão trazida pelos pesquisadores,
mestres, doutores e estudantes de todo Brasil, na abordagem da Filosofia do Direito.
A Coordenação fez uma avaliação absolutamente positiva dos trabalhos, cuja relevância das
atividades desenvolvidas no âmbito do GT está cristalizada no qualificado debate com
abordagem interdisciplinar e sobre as múltiplas questões. As metas estabelecidas pelos
pesquisadores, já consolidada nos vários Encontros e Congresso do CONPEDI, no sentido
proporcionar um locus de debate acadêmico, e de ampliar a difusão do conhecimento foram ,
sem dúvida, alcançadas. O encontro interinstitucional transcorreu de forma ampla
viabilizando também futuros diálogos. Os coordenadores agradecem a oportunidade da
produtiva reunião acadêmica ressaltando a imprescindível e valiosa contribuição teórica de
todos os pesquisadores participantes.
Prof. Dr. Leonardo Rabelo, de Matos Silva - Universidade Veiga de Almeida – UVA/RJ
Resumo
No presente estudo, está delineada a compreensão dos marcos teóricos da filosofia do direito
e de suas respectivas influências nas decisões judiciais, bem como a tentativa de elucidar o
atual momento da teoria da decisão no Novo Código de Processo Civil Brasileiro de 2015.
Nesse sentido, tenta-se compreender uma confluência entre segurança jurídica e o grau de
interpretação atribuída aos juízes a depender dos marcos teórico filosófico e jurídico.
Abstract/Resumen/Résumé
The present study is outlined in the understanding of the theoretical frameworks of the
philosophy of law and their respective influences on judicial decisions, as well as in the
attempt to elucidate the current moment of decision theory in the New Code of Brazilian
Civil Procedure of 2015. In this sense, We try to understand a confluence between legal
certainty and the degree of interpretation attributed to the judges to depend on the theoretical
philosophical legal framework.
223
Introdução
Interessa observar que é possível extrair o sentido da dicotomia acima apresentada pela
forma como o sujeito conhece o direito, ou seja, se imanente ao indivíduo tem-se o direito;
natural, ao passo que se o conhecimento advém do exterior, caracteriza-se o direito positivo.
Não se pode inferir que o direito sempre foi produzido pelo Estado. Igualmente,
equivocada é a afirmação de que o direito positivo sempre foi superior ao natural eis que, na
Idade Média, este figurou como protagonista das relações sociais:
224
A sociedade medieval era caracterizada por uma massificação de agrupamentos sociais
e cada qual com seu respectivo ordenamento jurídico próprio. O terceiro indicado para resolver
eventual conflito no período medieval poderia invocar quaisquer fontes eis que todas estavam
no mesmo nível hierárquico. Não havia, ainda, uma forte ingerência estatal para a produção de
normas.
A partir das crescentes crises na sociedade medieval, motivadas por guerras entre
senhores feudais e guerras de religião que afetavam a Europa, em um estado quase permanente
de anarquia, seria necessário monopolizar a criação jurídica de normas para um ente superior
dotado de coercibilidade pois somente assim os indivíduos seriam reciprocamente respeitados.
Nesse sentido, Norberto Bobbio explicita o pensamento de Thomas Hobbes como defensor da
formação de um Estado forte a partir da incorporação ou supressão dos demais ordenamentos
jurídicos. (BOBBIO, 2006, p.37)
225
triunfo da concepção liberal de estado, do iluminismo e da teoria da separação dos poderes, a
fim de afastar os arbítrios dos juízes e do monarca, e, ao mesmo tempo, garantir os direitos
imanentes ao homem, principalmente à propriedade tão valorizada pela burguesia.
Nessa seara, a segurança jurídica somente seria possível com a supremacia do legislativo
ante as decisões judiciais, de modo que estas apenas fariam um silogismo da lei, ou melhor,a
aplicação literal da lei sem margem à interpretação pelo juiz. (BOBBIO, 2006, p.40)
Com a redação definitiva do Código de Napoleão, um dos artigos que mais causou
polêmica interpretativa foi o artigo 4º, a saber:
226
Das características elencadas, aquela que mais justifica o sentido hermético que se deve
atribuir ao artigo 4º do Código de Napoleão é a interpretação oriunda da intenção do
legislador. Tal interpretação busca a vontade do legislador (concepção subjetiva da
vontade da lei), no ato de elaboração da lei para assim entender a finalidade desta. Tem-
se, portanto, uma interpretação mais conservadora, eis que prevalece o momento da elaboração
da lei e, não, sua correspondência à realidade enfrentada, afastando-se, desse modo, o caráter
evolutivo da interpretação da lei.
A partir das considerações acima,torna-se possível apreender o real alcance do artigo 4º
previsto no Código de Napoleão, expurgando-se, desde já, a livre convicção do juiz para
compor o conflito, com base na heterointegração do ordenamento jurídico, isto é, recorrendo-
se ao sistema moral ou ao direito natural. O dispositivo, em comento, deve ser solucionado pela
autointegração do ordenamento jurídico, porquanto o próprio sistema já seria suficiente, eis que
dotado de mecanismos para compor o conflito, não necessitando o juiz de recorrer à equidade.
(BOBBIO, 2006, p.74)
Norberto Bobbio conclui, portanto, que o artigo 4º conteria a previsibilidade de todas as
situações da vida e de suas respectivas soluções dentro do ordenamento jurídico, à luz da
intenção do legislador:
Os redatores do Código de Napoleão quiseram eliminar este inconveniente, ditando
o art.4º, que impunha ao juiz decidir em cada caso, e o art.9º, que indicava os critérios
com base nos quais decidir no silêncio, ou, de qualquer maneira, na incerteza da lei.
Eliminando o segundo artigo, o primeiro- considerado isoladamente e prescindindo
dos motivos históricos que o havia sugerido- é compreendido pelos primeiros
interpretes do Código de modo completamente diverso; isto é, é interpretado assim,
no sentido de que se deveria sempre deduzir da própria lei a norma para resolver
quaisquer controvérsias. Tal artigo, de fato, tem sido um dos argumentos mais
frequentemente citados pelos juspositivistas, para demonstrar que, do ponto de vista
do legislador, a lei compreende a disciplina de todos os casos(isto é, para demonstrar
assim chamada completitude da lei)
É nesse modo de entender o art.4º que se fundou a escola dos interpretes do Código
Civil, conhecida como “ escola da exegese” (école de l’ exegese); esta foi acusada
de fetichismo da lei, porque considerava o Código de Napoleão como se tivesse
sepultado todo o direito precedente e contivessem em si as normas para todos os
possíveis casos futuros, e pretendia fundar a resolução de quaisquer questões na
intenção do legislador. (BOBBIO, 2006, p.77)
227
Quando Norberto Bobbio afirma, na passagem acima, que“ os redatores do Código de
Napoleão quiseram eliminar este inconveniente” (BOBBIO, 2006, p.77) quer esclarecer a
necessidade de não politizar as decisões judiciais. O povo já estava exaurido pelos
comportamentos arbitrários da Magistratura e do Rei, sendo, neste sentido, a escola da exegese
um movimento filosófico reacionário.
Todavia, parece que os argumentos trazidos pela exegese- embora bem-intencionados-
não foram suficientes para enfrentar os problemas surgidos ao longo do século XX, em especial
com a emergência de que o próprio ordenamento jurídico, validado em si mesmo, acabou por
fundamentar a barbárie das guerras mundiais. No ulterior tópico deve-se explorar como as
decisões judiciais foram influenciadas pelo positivismo jurídico até a metade do século XX.
4. O Positivismo Jurídico
Pois bem, o positivista jurídico assume uma atitude científica frente ao direito já que,
como dizia Austin, ele estuda o direito tal qual é, não tal qual deveria ser. O
positivismo jurídico representa, portanto, o estudo do direito como fato, não como
valor: na definição do direito deve ser excluída toda qualificação que seja fundada
num juízo de valor e que comporte a distinção do próprio direito em bom e mau, justo
e injusto. O direito, objeto da ciência jurídica, é aquele que efetivamente se manifesta
na realidade histórico-social; o juspositivista estuda tal direito real sem se perguntar
se além deste existe também um direito ideal( como aquele natural), sem examinar
se o primeiro corresponde ou não ao segundo e, sobretudo, sem fazer depender a
validade do direito real da sua correspondência com o direito ideal; o romanista, por
exemplo, considerará direito romano tudo o que a sociedade romana considerava
como tal, sem fazer intervir um juízo de valor que distinga entre direito “justo” ou
“verdadeiro” e direito “injusto” ou “ aparente”. Assim a escravidão será considerada
um instituto jurídico como qualquer outro, mesmo que dela se possa dar uma
valoração negativa. (BOBBIO, 2006, p.136)
228
Ora, a partir da passagem acima, pode-se concluir- ainda que de forma prematura- que
o contraponto ao direito positivista é a filosofia jusnaturalista. Esta define que a norma para ser
válida deveria passar pelo campo da justeza, com base no direito ideal. Assim, enquanto o
positivismo é qualificado pelo ser, o jusnaturalismo assume uma posição valorativa do dever-
ser.
Nesse sentido, o positivismo se apresenta como definição ontológica do direito, ou seja,
reduz-se o conhecimento empírico do direito sem lhe atribuir crítica. Já uma definição mais
deontológica não se resume à recepção automática dos fatos pelo ordenamento jurídico. Tem-
se, aqui, uma concepção mais valorativa, pertinente à filosofia do direito, como se pode ilustrar
com o racionalista Imannuel Kant, acerca da necessidade de se valorar o ordenamento jurídico
à luz da liberdade individual. (BOBBIO, 2006, p.140)
Deve-se ressaltar que assim como no jusnaturalismo há, também, no positivismo
jurídico diversas concepções de direito, não é diferente no positivismo jurídico. Mas, para fins
de delimitação do tema, o presente estudo limita-se a buscar as características mais homogêneas
dentre as correntes do positivismo jurídico, para tentar compreender como são as possibilidades
de interpretação das decisões judiciais no contexto do positivismo jurídico.
Quando o positivismo jurídico aborda que o ordenamento jurídico deve ter unidade, é
preciso esclarecer o sentido de tal concepção. Diferentemente do jusnaturalismo, que trata da
temática sob o ponto de vista do conteúdo das normas para que sejam válidas, o positivismo
jurídico se preocupa com a primazia da forma, de modo que a norma seja válida apenas
enquanto estiver de acordo com o modo pelo qual foi elaborada e posta. Ou seja, enquanto a
obrigatoriedade da norma na visão juspositivista poderia ser contestada em relação ao órgão do
qual foi emanada, o jusnaturalismo contestaria o conteúdo da norma, a partir de premissas tais
como: a busca da felicidade, a liberdade do homem, a busca da conservação da sociedade, etc.
229
Para Hans Kelsen- um dos maiores expoentes do positivismo jurídico- haveria uma
norma suposta que resolveria o eventual problema da unidade do ordenamento jurídico,
porquanto obrigaria os cidadãos a cumprirem as normas na ordem jurídica. Percebe-se que
Kelsen não quer que o fundamento de validade do ordenamento jurídico dependa de um fato
social, por isso atribuiu à norma fundamental a força vinculante para que o próprio sistema
jurídico seja autossuficiente. (BOBBIO, 2006, p.201)
Mas, e se todos esses critérios não forem possíveis para compor o conflito? Para tanto,
socorre-se o positivismo jurídico do critério da norma permissiva em desfavor da proibitiva, já
que que o estado normal é a liberdade do indivíduo e a exceção seria a proibição. Em outros
termos, tudo o que a lei não proíbe, é permitido ao cidadão fazer. (BOBBIO, 2006, p.206-207)
Nesse sentido, o juiz tem ao seu dispor meios de interpretação textual e o meio de
natureza extratextual integrativa, sendo este atribuído à analogia. Para os primeiros, elencam-
230
se os meios léxico, teleológico, sistemático e histórico, sempre todos tendo como base a vontade
do legislador para dirimir conflitos. Norberto Bobbio explicita a impossibilidade de lacunas do
ponto de vista do positivismo jurídico, no seguinte trecho:
Os juristas falam de lacunas da lei também num outro sentido, para indicar normas
jurídicas nas quais se verifica um desajuste entre a letra e o espírito da lei(a mens
legis), ou, em outros termos, entre a vontade expressa e a presumida do legislador,
no sentido de que a formulação da norma não abrange todos os casos em que o
legislador pretendia disciplinar( lex minus dixit quam voluit). O positivismo admite
a existência desses casos, mas observa que não representam lacunas, visto que as
normas podem se completar a partir do interior do sistema (auto-integração do
direito) mediante recurso à analogia e aos princípios gerais do direito, recurso que
não é um ato criativo, mas puramente interpretativo e, mais exatamente, integrativo
do direito. (BOBBIO, 2006, p.210)
231
julgamentos. O resgate do prestígio da atividade jurisdicional, pois, não tardaria a acontecer. O
juiz revela o sentido da lei ao caso concreto, não sendo somente mero aplicador:
Nesse sentido, percebe-se uma diferença entre texto legal e norma, que deve ser
compreendida a fim de avançar sobre a resposta que o pós-positivismo deu para a problemática
da inflação de legislações, decorrente do movimento positivista.
Normas e textos são termos diferentes e que merecem cautela quanto a sua definição,
não sendo totalmente interdependentes. Textos legais são o suporte físico que podem resultar
em normas, isto é, aqueles são objetos da interpretação; e a norma, a consequência de tal
processo. Pode-se ter textos (ou denominados também de dispositivos) sem que haja norma e o
contrário também é possível, ou seja, norma sem dispositivo correspondente. Têm-se, ainda,
também possibilidades em que o julgador pode extrair, de um dispositivo, diferentes normas,
bem como, a partir de um conjunto de dispositivos, poder- se construir apenas uma norma.
(ÀVILA, 2012, p.33-34)
O pós-positivismo não inovou, apenas, na diferenciação entre texto e norma, mas
também na reflexão de que esta é composta por princípios e regras. É preciso, assim, pelo menos
brevemente, explanar sobre as concepções de princípio e regra.
Para melhor compreensão dos conceitos de regra e princípios, podem ser extraídos
critérios que permitem, ao menos, diferi-los para fins didáticos. Em resumo, as regras são
aplicadas pelo julgador, ou não, quando suas premissas são preenchidas no plano fático. Em se
tratando de regras, quando se tem antinomias, o critério tudo ou nada é disposto ao jurista, a
afim de afastar a invalidade da norma incompatível com o ordenamento jurídico:
Assim, enquanto as regras são aplicadas e havendo antinomias, há invalidade de uma
delas, a solução entre princípios está na ponderação, isto é, na dimensão que cada qual deve
assumir diante do caso concreto. Não há , pois, a “ extirpação” do princípio do ordenamento
jurídico. Pode-se encontrar tal entendimento em razão de os princípios apresentarem uma
concepção de otimização do sistema jurídico de modo que são vetores para aclarar ao julgador
a eventual regra a ser aplicada. (ÁVILA, 2012, p.42-43)
A mudança na concepção no que tange à elaboração de leis foi fruto das demandas sociais e da
sociedade que clama por decisões mais ajustadas à realidade social. Não se pode compreender
232
todas as situações com previsões legislativas específicas e submeter o papel do judiciário a uma
função meramente declaratória.
Diante desse cenário, essencialmente com o advento do pós-positivismo, o paradigma
do juiz como mero executor da lei resta superado, e agora, o protagonista é o juiz enquanto
sujeito dotado de capacidade criativa.
Para tanto, vários instrumentos foram editados com a finalidade de tentar harmonizar a
lei com as necessidades sociais, e o juiz como o elemento essencial na construção da própria
sociedade. Assim, para fins de delimitação do trabalhado, serão abordados dois instrumentos
legislativos, quais sejam: conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais.
Cláusula Geral é aplicada tanto ao direito substancial quanto ao direito processual, podendo ser
compreendida como uma indeterminação legislativa, porquanto o antecedente do texto
legislativo é vago, bem como seu respectivo efeito jurídico, ou seja, o consequente:
Cláusula geral é uma espécie de texto normativo, cujo antecedente (hipótese fática)
é composto por termos vagos e o consequente (efeito jurídico) é indeterminado. Há,
portanto, uma indeterminação legislativa em ambos os extremos da estrutura lógica
normativa. Há várias concepções sobre cláusulas gerais. Optamos por essa para fins
didáticos, além de a considerarmos a mais adequada, mas não se ignora a existência
de outras
A técnica das “ cláusulas gerais” contrapõe-se à técnica casuística. Não há sistema
jurídico exclusivamente estruturado em cláusulas gerais (que causariam uma
sensação perene de insegurança a todos) ou em regras casuísticas (que tornariam o
sistema sobremaneira rígido e fechado, nada adequado à complexidade da vida
contemporânea). Uma das principais características dos sistemas jurídicos
contemporâneos é exatamente a harmonização de enunciados normativos de ambas
as espécies. (JR, 2015,p.51)
233
O devido processo legal é o principal exemplo de cláusula geral processual. O CPC
brasileiro contém outros vários exemplos de cláusulas gerais: a) cláusula geral de
promoção pelo Estado da autocomposição(art.3§1); b) cláusula geral da boa-fé
processual( art.5º); c) cláusula geral de cooperação ( art.6º); d) cláusula geral de
negociação sobre o processo( art.190); e) poder geral de cautela( art.301); f) cláusulas
gerais executivas( art. 297, caput e 536 §1); g) cláusula geral do abuso do direito pelo
exequente( art.805); h) cláusula geral de adequação do processo e da decisão em
jurisdição voluntária( art.723, par.ùn) (JR, 2015,p.53)
Resta, por ora, aclarar a técnica legislativa de conceito jurídico indeterminado. Este
apenas difere da cláusula geral, já que esta não prevê uma consequência jurídica predeterminada
no enunciado, ao passo que os conceitos jurídicos indeterminados estabelecem o efeito jurídico,
mas não a hipótese sobre a qual recairá. Pode-se esclarecer, também, que a cláusula geral é mais
abstrata por não conter os elementos da hipótese e da consequência jurídica da mesma e, dessa
forma, o juiz terá mais discricionariedade para a concreção no caso concreto, ao mesmo tempo
em que terá maior responsabilidade de fundamentação.
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O Supremo tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso
extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão
geral, nos termos deste artigo
No que tange à esfera substancial cível, o termo “boa-fé” é requisito para que o
possuidor adquira a propriedade imóvel mediante usucapião, ou seja, preenchido o conceito
legal o possuidor terá como consequência a aquisição originária da propriedade de acordo com
o caput do artigo 1.242 do Código Civil Brasileiro de 2002:
Sabe-se que o processo de interpretação para a formação da decisão judicial não mais
pode ser concebido como um silogismo clássico, visto que a sociedade tem se tornado cada vez
mais complexa, necessitando, assim, de respostas mais adequadas as suas demandas. Mas qual
é o alcance das decisões criativas, no que se refere à estabilidade das relações sociais? Ademais,
como legitimar tais decisões judiciais, uma vez que o Poder Judiciário não é composto por
representantes eleitos pelo cidadão?
A estabilidade das relações sociais pode ser traduzida como o princípio da segurança
jurídica que tem como núcleo a manutenção do Estado Democrático de Direito a partir da
observância dos critérios da proporcionalidade e da razoabilidade por todos os poderes de um
Estado.
No ordenamento jurídico brasileiro, pode-se encontrar a segurança jurídica, no
preâmbulo da Constituição como fundamento da República Federativa do Brasil, bem como no
caput do artigo 5º que a consagra como direito fundamental do indivíduo.
Diante do raciocínio acima exposto, os órgãos jurisdicionais devem observar as
disposições normativas, a fim de conferir estabilidade às relações jurídicas. Mas como atribuir
segurança jurídica às decisões judiciais, diante de um contexto envolvendo juiz criativo e da
existência de cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados?
Vários foram os instrumentos jurídicos positivados no ordenamento jurídico, em
especial pelo Novo Código de Processo Civil de 2015, para suprir a instabilidade das decisões
judicias e, por fim, uniformizá-las, quais sejam: as súmulas vinculantes; julgamentos de
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recursos repetitivos; incidentes de resolução de demandas repetitivas; embargos infringentes
como técnica de julgamento; etc.
Porém, de nada adiantam os institutos acima mencionados, bem como as decisões
proferidas em sede de 1º grau de jurisdição se não houver a fundamentação. Esta é um dos
elementos da decisão. Todavia, não é abrangida pela coisa julgada, exceto em casos especiais
como no do controle concentrado de constitucionalidade, em sendo a fundamentação estrita à
parte do dispositivo. Talvez por isso, esta, ao longo dos anos, tenha sido preterida no
ordenamento jurídico brasileiro e não compreendida como elemento essencial da decisão.
É a partir da fundamentação das decisões judiciais que se revela a efetividade do Estado
Democrático de Direito, visto que todos os indivíduos podem controlar o conteúdo da decisão,
sendo um canal de comunicação para aferir a eficácia social das leis. Isto é, o Poder legislativo
edita as leis e o Poder Judiciário atesta a aceitação dessas mesmas leis, à medida que as
demandas sociais emergem e são levadas a este.
O Novo Código de Processo Civil Brasileiro de 2015 encampou várias doutrinas e
jurisprudências acerca da fundamentação- também prevista no inciso IX do art.93 da
Constituição Federal de 1988- reforçando a necessidade de uma fundamentação mais analítica
a par de harmonizar o indivíduo ao seu direito fundamental da inafastabilidade da função
jurisdicional e para legitimar a atuação criativa do juiz.
O artigo 489, §1 do NCPC elenca, de forma exemplificativa, o que não se considera
fundamentação, tendo como consequência jurídica a nulidade da decisão eis que viola o direito
fundamental à motivação das decisões judiciais, segundo o art. 93, IX, CF/88.
Os incisos I, II e III do§ 1 do artigo 489 do NCPC dão um norte ao julgador e conferem
legitimidade a sua atuação criativa desde que revele os alcances do conceito jurídico
indeterminado, bem como da cláusula geral. Isto é, não é mais considerada fundamentada a
decisão que simplesmente venha a parafrasear o enunciado do texto legal sem correlação e sem
explicitar o motivo de incidência no caso concreto.
Todavia, o que se pode melhor revelar da possível coexistência entre a segurança
jurídica e a atividade criativa do juiz está nos incisos II e III do §1 do artigo 489 do NCPC, a
respectivamente transcritos, a seguir, para melhor compreensão:
236
III- invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
Os dois incisos acima interagem pois ao juiz incumbe reforçar a sua fundamentação, de
modo a propiciar clareza aos destinatários do processo e à sociedade que pautará seus
comportamentos futuros de acordo com os enunciados esclarecidos pelo Poder Judiciário,
formando-se, paulatinamente, precedentes a serem seguidos pelos magistrados, sendo certo que
estes poderão não seguir aqueles, mas terão que fundamentar a superação do entendimento
considerado majoritário, conforme estabelece o inciso VI do §1 do artigo 489 do NCPC:
Considerações Finais:
237
Num primeiro momento, o jusnaturalismo racionalista com vistas a delimitar o poder
arbitrário do governante, resolveu separar as funções executiva, jurisdicional e legislativa,
tendo como principal contexto histórico a Revolução Francesa de 1789.
Outrossim, diante também da desconfiança que atribuíam ao juiz, este restou restrito aos
exatos limites da lei, realizando apenas uma função declaratória da mesma, sendo esta
característica reforçada pela era das codificações e pela escola da exegese.
Continuando na seara da supremacia da lei, o positivismo jurídico quis aproximar o
direito das ciências naturais, visto que concebia o direito sob um ponto de vista avalorativo,
desprovido de quaisquer influências de outros conhecimentos tal como a ética. Para o
juspositivismo a validade era simplesmente fundada na forma da lei. O papel do juiz, portanto,
era limitado à aplicação da lei, sem argumentos axiológicos.
Todavia, com o tempo, o positivismo tornou-se anacrônico, uma vez que não estava
atendendo, de forma adequada às demandas sociais, pois estava arraigado às características do
formalismo científico. Este foi o principal motivo para uma nova concepção do direito já que a
validade da norma deveria ser revista por seu conteúdo e, não somente, por sua forma.
O pós-positivismo, tendo como marco histórico o término da Segunda Guerra Mundial,
reaproximou o Direito e a Ética, atribuindo força normativa aos princípios e colocou, como
epicentro dos ordenamentos jurídicos ocidentais, a dignidade da pessoa humana. À medida que
o pós-positivismo foi ganhando força, o papel do juiz foi sendo reformulado para uma função
mais criativa ante diversos fenômenos, quais sejam: a complexidade das relações sociais; a
inflação legislativa que impulsionou uma postura mais ativa do juiz para a interpretação de leis
editadas; a criação de enunciados vagos como conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas
gerais etc. Resta, portanto, a seguinte indagação: a segurança jurídica ficará prejudicada,
principalmente no ordenamento jurídico brasileiro, ante uma função jurisdicional mais criativa?
O Novo Código de Processo Civil Brasileiro de 2015 parece apontar que o caminho para
a harmonia entre a segurança jurídica e a decisão criativa do juiz está na observância cirúrgica
da fundamentação. É, a partir desta que se pode observar os parâmetros que o julgador utilizou
para decidir os conflitos, necessitando sempre do processo de concreção para a legitimidade
das decisões judiciais.
A fundamentação é a pedra de toque do Estado Democrático de Direito e é necessária
para a atuação legítima do Poder Judiciário, eis que o controle das decisões judiciais se torna
possível mediante a motivação, revelando se o poder judiciário está extrapolando uma das
funções típicas do Poder Legislativo, qual seja: a criação de enunciados primários, isto é, a
função preponderante de regular as relações sociais.
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Faz-se necessário que o tempo amadureça a necessidade de que os magistrados realizem
uma fundamentação mais analítica. Entretanto, o tempo poderia ser abreviado, se os juízes
compreendessem a fundamentação de suas decisões integralmente como o direito fundamental
à segurança jurídica dos jurisdicionados.
Referências
ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos.
13 ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos
fundamentais e a construção do novo modelo. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
_______. Locke e o direito natural. Trad. Sérgio Bath. – Brasília: UnB, 1997.
FACHIN, Luiz Edson. Direito civil: sentidos, transformações e fim. Rio de Janeiro: Renovar,
2015.
JR, Fredie Didier. Curso de direito processual civil: Introdução ao Direito Processual Civil,
Parte Geral e Processo de Conhecimento. 17 ed. Salvador: Juspodvm, 2015.
_______. Curso de direito processual civil: Teoria da Prova, Direito Probatório, Decisão,
Precedente, Coisa Julgada e Tutela Provisória. 10 ed. Salvador: Juspodvm, 2015.
SILVA, Ana de Lourdes Coutinho. Estudo da Motivação das Decisões Judiciais: uma
reavaliação do momento jurisprudencial do Direito. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo, 2010.
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