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Moraes Bolsonaro

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PETIÇÃO 12.

100 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : SOB SIGILO
ADV.(A/S) : SOB SIGILO
REQDO.(A/S) : SOB SIGILO
REQDO.(A/S) : SOB SIGILO
REQDO.(A/S) : SOB SIGILO
REQDO.(A/S) : SOB SIGILO
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REQDO.(A/S) : SOB SIGILO
ADV.(A/S) : SOB SIGILO

DECISÃO

Trata-se de Pet 12.100/DF, autuada por prevenção ao Inq. 4.784/DF (Pet


10405/DF), com representação subscrita pelo Delegado de Polícia Federal Fábio
Alvarez Shor, pela decretação de prisão preventiva de BERNARDO ROMÃO
CORREA NETO (CPF: 023.670.127-41), RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 73A2-8504-D588-D8AD e senha 857C-231F-D42B-24DA
PET 12100 / DF

(CPF: 079.879.987-02), FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA (CPF: 374.234.568-


02), MARCELO COSTA CAMARA (CPF: 007.443.707-01), de medidas
cautelares diversas da prisão e expedição de mandados de busca e apreensão
pessoal e domiciliar em face de AILTON GONÇALVES MORAES BARROS
(CPF: 769.493.037-34), ALMIR GARNIER SANTOS (CPF: 551.692.017-53),
AMAURI FERES SAAD (CPF: 215.760.038-84), ANDERSON GUSTAVO
TORRES (CPF: 782.914.021 -91), ANGELO MARTINS DENICOLI (CPF:
008.476.877-08), AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA (CPF: 178.246.307-06),
BERNARDO ROMÃO CORREA NETO (CPF: 023.670.127-41), CLEVERSON
NEY MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53), EDER LINDSAY MAGALHÃES
BALBINO (CPF: 050.211.716-82), ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE
OLIVEIRA (CPF: 654.393.767-04), FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA (CPF:
374.234.568-02); GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF: 931.501.640-87),
HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF: 052.840.557-80), JAIR MESSIAS
BOLSONARO ( CPF: 453.178.287-91), JOSE EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA
(CPF: 285.002.138-50), LAÉRCIO VERGÍLIO (CPF: 415.834.347-04), MARCELO
COSTA CAMARA (CPF: 007.443.707-01), MARIO FERNANDES (CPF:
808.839.907-68), PAULO RENATO DE OLIVEIRA FIGUEIREDO FILHO ( CPF:
103.686.187-22), PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA (CPF:
499.130.507-15), RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA (CPF: 079.879.987-02),
RONALD FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF: 052.809.127-19), SERGIO
RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS (CPF: 614.358.562-87), TÉRCIO
ARNAUD TOMAZ (CPF: 015.235.994-05); WALTER SOUZA BRAGA NETTO
(CPF: 500.217.537-68).
A autoridade policial informa que a condução do inquérito policial
2021.0052061 (INQ 4874) objetiva:

“apurar a articulação de pessoas, com tarefas distribuídas


por aderência entre e idealizadores, produtores, difusores e
financiadores, voltada à disseminação de notícias falsas ou
propositalmente apresentadas de forma parcial com o intuito de
influenciar a população em relação a determinado tema
(também incidindo na prática de tipos penais previstos na
legislação), objetivando ao fim, obter vantagens financeiras e/ou
político partidárias aos envolvidos.”
2

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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A PF aponta que a investigação está relacionada com a atuação de


organização criminosa com cinco eixos de atuação:

i) ataques virtuais a opositores;

ii) ataques às instituições (STF, TSE), ao sistema eletrônico


de votação e à higidez do processo eleitoral;

iii) tentativa de Golpe de Estado e de Abolição violenta do


Estado Democrático de Direito;

iv) ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas


sanitárias na pandemia e;

v) uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens,


o qual se subdivide em: v.1) uso de suprimentos de fundos
(cartões corporativos) para pagamento de despesas pessoais e;
v.2) Inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19
nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões
de vacina ; e v.3) Desvio de bens de alto valor patrimonial
entregues por autoridades estrangeiras ao ex-Presidente da
República, JAIR MESSISAS BOLSONARO, ou agentes públicos
a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de
enriquecimento ilícito.

A presente representação da Polícia Federal aborda, especificamente,


fatos relacionados ao eixo de atuação "tentativa de Golpe de Estado e de
Abolição violenta do Estado Democrático de Direito", com operação de
núcleos e cujos desdobramentos se voltavam a disseminar a narrativa de
ocorrência de fraude nas eleições presidenciais, antes mesmo da realização do
pleito, de modo a viabilizar e, eventualmente, legitimar uma intervenção das
Forças Armadas, com abolição violenta do Estado Democrático de Direito, em
dinâmica de verdadeira milícia digital, à semelhança do procedimento já
adotado pelo autointitulado GDO (gabinete do ódio), investigado no INQ
4781.

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A autoridade policial, por fim, representa pelas seguintes medidas


investigativas:

1) decretação de medidas cautelares restritivas de direito


diversas da prisão preventiva, especificamente:

1.1) a proibição de manter contato com os demais


investigados, inclusive através de advogados, quanto a
AILTON GONÇALVES MORAES BARROS (CPF: 769.493.037-
34), ALMIR GARNIER SANTOS (CPF: 551.692.017-53),
AMAURI FERES SAAD (CPF: 215.760.038-84), ANDERSON
GUSTAVO TORRES (CPF: 782.914.021 -91), ANGELO
MARTINS DENICOLI (CPF: 008.476.877-08), AUGUSTO
HELENO RIBEIRO PEREIRA (CPF: 178.246.307-06),
CLEVERSON NEY MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53), EDER
LINDSAY MAGALHÃES BALBINO (CPF: 050.211.716-82),
ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (CPF:
654.393.767-04), GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF:
931.501.640-87), HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF: 052.840.557-80),
JAIR MESSIAS BOLSONARO ( CPF: 453.178.287-91), JOSE
EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA (CPF: 285.002.138-50),
LAÉRCIO VERGÍLIO (CPF: 415.834.347-04), MARIO
FERNANDES (CPF: 808.839.907-68), PAULO RENATO DE
OLIVEIRA FIGUEIREDO FILHO ( CPF: 103.686.187-22),
PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA (CPF: 499.130.507-
15), RONALD FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF:
052.809.127-19), SERGIO RICARDO CAVALIERE DE
MEDEIROS (CPF: 614.358.562-87), TÉRCIO ARNAUD TOMAZ
(CPF: 015.235.994-05), WALTER SOUZA BRAGA NETTO (CPF:
500.217.537-68).

1.2) e de se ausentar do País, com determinação para


entrega de todos os passaportes (nacionais e estrangeiros) no
prazo de 24 (vinte e quatro) horas, quanto a AILTON
GONÇALVES MORAES BARROS (CPF: 769.493.037-34),

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ALMIR GARNIER SANTOS (CPF: 551.692.017-53), AMAURI


FERES SAAD (CPF: 215.760.038-84), ANDERSON GUSTAVO
TORRES (CPF: 782.914.021 -91), ANGELO MARTINS
DENICOLI (CPF: 008.476.877-08), AUGUSTO HELENO
RIBEIRO PEREIRA (CPF: 178.246.307-06), CLEVERSON NEY
MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53), EDER LINDSAY
MAGALHÃES BALBINO (CPF: 050.211.716-82), ESTEVAM
THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (CPF: 654.393.767-04),
GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF: 931.501.640-87),
HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF: 052.840.557-80), JAIR MESSIAS
BOLSONARO ( CPF: 453.178.287-91), JOSE EDUARDO DE
OLIVEIRA E SILVA (CPF: 285.002.138-50), LAÉRCIO
VERGÍLIO (CPF: 415.834.347-04), MARIO FERNANDES (CPF:
808.839.907-68), PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA
(CPF: 499.130.507-15), RONALD FERREIRA DE ARAÚJO
JÚNIOR (CPF: 052.809.127-19), SERGIO RICARDO
CAVALIERE DE MEDEIROS (CPF: 614.358.562-87), TÉRCIO
ARNAUD TOMAZ (CPF: 015.235.994-05), WALTER SOUZA
BRAGA NETTO (CPF: 500.217.537-68).

1.3) suspensão do exercício de função pública quanto a


CLEVERSON NEY MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53),
ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (CPF:
654.393.767-04), GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF:
931.501.640-87), HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF: 052.840.557-80),
MARIO FERNANDES (CPF: 808.839.907-68), RONALD
FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF: 052.809.127-19),
SERGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS (CPF:
614.358.562-87);

2) busca e apreensão e busca pessoal quanto a AILTON


GONÇALVES MORAES BARROS (CPF: 769.493.037-34),
ALMIR GARNIER SANTOS (CPF: 551.692.017-53), AMAURI
FERES SAAD (CPF: 215.760.038-84), ANDERSON GUSTAVO
TORRES (CPF: 782.914.021 -91), ANGELO MARTINS
DENICOLI (CPF: 008.476.877-08), AUGUSTO HELENO
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RIBEIRO PEREIRA (CPF: 178.246.307-06), BERNARDO


ROMÃO CORREA NETO (CPF: 023.670.127-41), CLEVERSON
NEY MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53), EDER LINDSAY
MAGALHÃES BALBINO (CPF: 050.211.716-82), ESTEVAM
THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (CPF: 654.393.767-04),
FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA (CPF: 374.234.568-02);
GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF: 931.501.640-87),
HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF: 052.840.557-80), JOSE
EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA (CPF: 285.002.138-50),
LAÉRCIO VERGÍLIO (CPF: 415.834.347-04), MARCELO
COSTA CAMARA (CPF: 007.443.707-01), MARIO
FERNANDES (CPF: 808.839.907-68), PAULO SÉRGIO
NOGUEIRA DE OLIVEIRA (CPF: 499.130.507-15), RAFAEL
MARTINS DE OLIVEIRA (CPF: 079.879.987-02), RONALD
FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF: 052.809.127-19),
SERGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS (CPF:
614.358.562-87), TÉRCIO ARNAUD TOMAZ (CPF: 015.235.994-
05), WALTER SOUZA BRAGA NETTO (CPF: 500.217.537-68);

3) decretação de prisão preventiva dos investigados


BERNARDO ROMÃO CORREA NETO (CPF: 023.670.127-41),
RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA (CPF: 079.879.987-02),
FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA (CPF: 374.234.568-02),
MARCELO COSTA CAMARA (CPF: 007.443.707-01).

A Procuradoria-Geral da República apresentou parecer encampando


integralmente a representação da autoridade policial.
É o relatório. DECIDO.

I) ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, NÚCLEOS DE ATUAÇÃO E MILÍCIAS


DIGITAIS.

Na presente representação, a Polícia Federal enumera os núcleos de


atuação do grupo criminoso existentes e atuantes para operacionalizar medidas
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para(a ) desacreditar o processo eleitoral, (b) planejamento e execução do


golpe de Estado e (c) abolição do Estado Democrático de Direito; com a
finalidade de manutenção e permanência de seu grupo no poder, e com a
característica de interligação entre eles, uma vez que alguns investigados
atuaram em mais de uma tarefa, colaborando em diversos núcleos de forma
simultânea e coordenada, da seguinte maneira:

“1. Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema


Eleitoral.

Forma de atuação: produção, divulgação e amplificação


de notícias falsas quanto a lisura das eleições presidenciais de
2022 com a finalidade de estimular seguidores a permanecerem
na frente de quarteis e instalações, das Forças Armadas, no
intuito de criar o ambiente propício para o Golpe de Estado,
conforme exposto no tópico "Das Medidas para Desacreditar o
Processo Eleitoral" constante na presente representação.

Integrantes: MAURO CESAR BARBOSA CID,


ANDERSON TORRES, ANGELO MARTINS DENICOLI,
FERNANDO CERIMEDO, EDER LINDSAY MAGALHÃES
BALBINO, HÉLIO FERREIRA LIMA, GUILHERME MARQUES
ALMEIDA, SERGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS e
TÉRCIO ARNAUD TOMAZ.

2. Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao


Golpe de Estado.

Forma de atuação: eleição de alvos para amplificação de


ataques pessoais contra militares em posição de comando que
resistiam às investigadas golpistas. Os ataques eram realizados
a partir da difusão em múltiplos canais e através de
influenciadores em posição de autoridade perante a "audiência"
militar.

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Integrantes: WALTER SOUZA BRAGA NETTO, PAULO


RENATO DE OLIVEIRA FIGUEIREDO FILHO, AILTON
GONÇALVES MORAES BARROS, BERNARDO ROMÃO
CORREA NETO e MAURO CESAR BARBOSA CID.

3. Núcleo Jurídico.

Forma de atuação: assessoramento e elaboração de


minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária
que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado.

Integrantes: FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA,


ANDERSON GUSTAVO TORRES, AMAURI FERES SAAD,
JOSE EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA e MAURO CESAR
BARBOSA CID.

4. Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas.

Forma de atuação: a partir da coordenação e interlocução


com o então Ajudante de Ordens do Presidente JAIR
BOLSONARO, MAURO CESAR CID, atuavam em reuniões de
planejamento e execução de medidas no sentido de manter as
manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a
mobilização, logística e financiamento de militares das forças
especiais em Brasília.

Integrantes: SERGIO RICARDO CAVALIERE DE


MEDEIROS, BERNARDO ROMÃO CORREA NETO, HÉLIO
FERREIRA LIMA, RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, ALEX
DE ARAÚJO RODRIGUES e CLEVERSON NEY
MAGALHÃES.

5. Núcleo de Inteligência Paralela.

Forma de atuação: coleta de dados e informações que


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pudessem auxiliar a tomada de decisões do então Presidente da


República JAIR BOLSONARO na consumação do Golpe de
Estado. Monitoramento do itinerário, deslocamento e
localização do Ministro do Supremo Tribunal Federal
ALEXANDRE DE MORAES e de possíveis outras autoridades
da República com objetivo de captura e detenção quando da
assinatura do decreto de Golpe de Estado.

Integrantes: AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA,


MARCELO COSTA CAMARA e MAURO CESAR BARBOSA
CID.

6. Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e


Apoio a Outros Núcleos.

Forma de atuação: utilizando-se da alta patente militar


que detinham, agiram para influenciar e incitar apoio aos
demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e
medidas a serem adotadas para consumação do Golpe de
Estado.

Integrantes: WALTER SOUZA BRAGA NETTO, ALMIR


GARNIER SANTOS, MARIO FERNANDES, ESTEVAM
THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA, LAÉRCIO VERGÍLIO e
PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA”.

A representação da autoridade policial fundamenta seus pedidos


apontando a ocorrência das seguintes condutas do grupo investigado:

“i) transmissão ao vivo realizada pelo então Presidente


JAIR MESSIAS BOLSONARO, ainda em meados de 2021, com a
finalidade de demonstrar indícios de ocorrência de fraudes e
manipulação de votos em eleições brasileiras, decorrentes de
vulnerabilidade do sistema eleitoral;
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ii) reunião de cúpula do Poder Executivo Federal ocorrida


em julho de 2022 e comandada pelo então Presidente JAIR
MESSIAS BOLSONARO (com a participação de integrantes do
governo e do Deputado Federal Filipe Barros), na qual também
são apresentadas aos integrantes do alto escalão do governo
alegações sabidamente inverídicas quanto à ocorrência de
fraude e de manipulação nas eleições brasileiras assim como
proferidos ataques e insinuações de práticas criminosas
imputadas ao atual Presidente LUIS INÁCIO LULA DA SILVA
e aos Ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal
Superior Eleitoral LUIS ROBERTO BARROSO, EDSON
FACHIN e ALEXANDRE DE MORAES, cabendo destacar a
orientação externada pela liderança daquele encontro no
sentido de que tais informações inverídicas deveriam ser
promovidas e replicadas em cada uma das áreas dos
participantes;
iii) uso de especialistas na área de tecnologia para
obtenção de dados direcionados ao descrédito do sistema
eleitoral brasileiro, que viriam a ser difundidos por
influenciadores de largo alcance nas redes sociais e mídia
tradicional, inclusive no exterior;

iv) manipulação pelo grupo investigado quanto à


divulgação do relatório elaborado pelo Ministério da Defesa
sobre a segurança do sistema eletrônico de votação”.

A Polícia Federal aponta que as investigações demonstraram que o grupo


investigado atuava, inclusive, por meio de ”milícias digitais”, para reverberar e
amplificar:

“por multicanais a ideia de que as eleições presidenciais


foram fraudadas, estimulando seus seguidores a "resistirem" na
frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito

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de criar o ambiente propício para uma intervenção federal


comandada pelas forças militares, sob o pretexto de aturarem
como uma espécie de Poder Moderador. Os ataques ao
processo eletrônico de votação não se iniciaram após o segundo
turno das eleições presidenciais de 2022. Pelo contrário,
conforme exposto no RE 2021.0059778 (INQ STF nº 4781-DF), o
grupo ora investigado, desde o ano de 2019, utilizava o modus
operandi desenvolvido pelo autointitulado GDO ("gabinete do
ódio") para propagar a ideia de vulnerabilidade e fraude no
sistema eletrônico de votação do país.”

A Polícia Federal indica, ainda, que a atuação do grupo foi intensificada


após o segundo turno das eleições presidenciais, utilizando a metodologia
desenvolvida pela milícia digital para reverberar por multicanais a ideia de que
as eleições presidenciais foram fraudadas, estimulando seus seguidores a
"resistirem" na frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito
de criar o ambiente propício para o Golpe de Estado, novamente fazendo
circular estudos e investigações de conteúdo inverídico.
A Polícia Federal sustenta que a representação peticionada pelo Partido
Liberal junto ao Tribunal Superior Eleitoral configuraria o ato último do grupo
para insurgir-se formalmente contra o resultado das eleições presidenciais, na
busca por antecipar fundamento à execução de um golpe de Estado, inclusive
sob a alegação de esgotamento dos meios legais de contestação do resultado,
tudo a fim de reforçar o discurso de atuação ilícita do Poder Judiciário para
impedir a reeleição do então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO.
Paralelamente à tentativa de reversão do resultado das eleições
presidenciais, assinala a autoridade policial que uma segunda linha de atuação
era adotada pelo grupo investigado, com planejamento e execução de atos
tendentes à subversão do Estado Democrático de Direito, por meio de um golpe
Militar, a impedir a posse do Presidente legitimamente eleito, assegurando-se a
manutenção do então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO no poder.
A Polícia Federal aponta, também, diversos relatos no sentido de intensa
pressão para que o então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO incorporasse
medidas mais duras voltadas à reversão do resultado das eleições e do possível

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emprego de técnicas e militares com formação em Forças Especiais (FE) para os


atos direcionados à execução do Golpe de Estado.
Além disso, a representação noticia a realização de reuniões por
integrantes civis do Governo Federal e militares da ativa para encaminhar
orientações aos manifestantes de como agirem, locais de atuação, além de
financiarem e respaldarem suas ações, por meio da Forças Armadas. Os fatos
identificados indicam, ainda, a possível arregimentação de militares com
formação em forças especial para atuarem no cenário de interesse, ou seja, nas
manifestações golpistas.
No sentido do que reporta a autoridade policial, surge outra grave linha
de atuação do grupo investigado contra as Forças Armadas, direcionada a
desacreditar os militares que, defendendo a Constituição e a legalidade,
estavam resistindo às investidas golpistas.
A investigação da Polícia Federal demonstra que o grupo investigado
passou a escolher alvos para inserção em uma máquina de amplificação de
ataques pessoais, com a utilização de suas milícias digitais, utilizando múltiplos
canais e influenciadores em posição de destaque perante sua "audiência" e por
indivíduos com capacidade de penetração no meio militar, que se utilizavam de
vazamento de informações falsas e realização de interpretação fraudulenta de
documentos que tratavam do alinhamentos dos integrantes das Forças
Armadas ao intento golpista.
Da análise da atuação do nominado núcleo jurídico do grupo investigado,
a autoridade policial expõe a existência de documento, em formato de decreto,
que consubstanciava medidas de exceção, com detalhamento de
“considerandos” acerca de suposta interferência no Poder Judiciário no Poder
Executivo, para decretar a prisão de diversas autoridades e a realização de
novas eleições em vista de supostas fraudes no pleito presidencial.
O referido documento teria sido objeto de reuniões convocadas pelo então
Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO, que envolveram tanto integrantes
civis do governo como militares da ativa. Quanto ao ponto, a autoridade
policial destaca a ocorrência de monitoramento de diversas autoridades,
inclusive do relator da presente investigação, no sentido de assegurar o
cumprimento da ordem de prisão, em caso de consumação das providências
golpistas, como salientado pela Polícia Federal.
A Polícia Federal conclui que:
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PET 12100 / DF

“a investigação demonstrou que os investigados, desde o


final do segundo turno das eleições presidenciais, colocaram em
execução um plano para subverter o Estado Democrático de
Direito, com o objetivo de impedir a posse do governo
legitimamente eleito, mantendo o então Presidente JAIR
BOLSONARO no poder (...) a expectativa dos investigados em
obter êxito na referida empreitada criminosa permaneceu
durante o mês de dezembro, adentrando, inclusive, em janeiro
de 2023, já durante o mandato do atual Presidente da
República, principalmente quando se desencadearam os atos
golpistas do dia 08 de janeiro de 2023.”

No mesmo sentido, a conclusão do parecer da PROCURADORIA-GERAL


DA REPÚBLICA:

“Na espécie, teriam sido coordenados ataques pessoais a


militares indecisos sobre a adesão ao plano de golpe de Estado.
A organização de reuniões de planejamento e de execução de
medidas seria intermediada por determinados investigados.
Um grupo de pessoas é apontado corno responsável pelo
constante assessoramento jurídico e pela elaboração de minutas
de decretos, com os fins de consumar um golpe de Estado e de
subverter a ordem democrática.”

A investigação demonstra, também, a existência de um núcleo de


inteligência, formado por assessores próximos ao então Presidente da
República, Jair Messias Bolsonaro, que teria monitorado a agenda, o
deslocamento aéreo e a localização de diversas autoridades, dentre elas o
Ministro Relator do presente inquérito, com o escopo de garantir sua captura e
a detenção nas primeiras horas do início daquele plano, como acentuado pela
Polícia Federal (fls. 145-146, 172-173):

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“No referido contexto, a investigação obteve elementos de


prova que corroboram os fatos apresentados pelo colaborador,
evidenciando a existência do Decreto de Golpe de Estado e
tratativas com militares de alta patente para aderirem a
empreitada criminosa. Avançando além dos dados fornecidos
pelo colaborador, a Polícia Federal identificou que o grupo
investigado acompanhou e monitorou o Ministro ALEXANDRE
DE MORAES para dar cumprimento a uma pretendida ordem
de prisão, caso se consumasse o Golpe de Estado, visando
restringir a atuação do Poder judiciário, por meio do
cerceamento da liberdade do Presidente da Corte Eleitoral e
Ministro do STF.

(...)

Conforme descrito, os elementos informativos colhidos


revelaram que JAIR BOLSONARO recebeu uma minuta de
Decreto apresentado por FILIPE MARTINS e AMAURI FERES
SAAD para executar um Golpe de Estado, detalhando supostas
interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e ao final
decretava a prisão de diversas autoridades, entre as quais os
ministros do Supremo Tribunal Federal, ALEXANDRE DE
MORAES e GILMAR MENDES, além do Presidente do Senado
RODRIGO PACHECO e por fim determinava a realização de
novas eleições. Posteriormente foram realizadas alterações a
pedido do então Presidente permanecendo a determinação de
prisão do Ministro ALEXANDRE DE MORAES e a realização
de novas eleições. Nesse sentido, era relevante para os
investigados monitorarem o Ministro ALEXANDRE DE
MORAES para executarem a pretendida ordem de prisão, em
caso de consumação do Golpe de Estado.

A equipe de investigação comparou os voos realizados


pelo Ministro no período de 14/12/2022 até 31/12/2022, com os
dados de acompanhamento realizados pelos investigados. A
análise dos dados confirmou que o Ministro ALEXANDRE DE

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MORAES foi monitorado pelos investigados, demonstrando


que os atos relacionados a tentativa de Golpe de Estado e
Abolição do Estado Democrático de Direito, estavam em
execução.”

Nesse contexto, está comprovada a materialidade dos tipos penais de


tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito (art. 359-1 do
código penal) e de tentativa de golpe de Estado (art. 359-M do Código Penal),
ambos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro)
anos, do que se extrai o fumus comissi delicti de fato caracterizador da hipótese
do art. 313, I, do CPP”.

II) PRISÃO PREVENTIVA DE BERNARDO ROMÃO CORREA NETO,


RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA,
MARCELO COSTA CAMARA.

A Polícia Federal fundamentou sua representação pela decretação de


prisão preventiva de BERNARDO ROMÃO CORREA NETO, RAFAEL
MARTINS DE OLIVEIRA, FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA, MARCELO
COSTA CAMARA da seguinte maneira:

“O Coronel do Exército BERNARDO ROMÃO CORREIA


NETO, - a época Assistente do Comandante Militar do Sul -
teve participação a tiva na organização de uma reunião no dia
28.11.2022, às 19 horas, na cidade de Brasília com a presença
dos oficiais, com formação em forças especiais, assistentes dos
Generais supostamente aliados na execução do golpe. Os
diálogos encontrados no celular de MAURO CID demonstram
que CORREA NETO intermediou o convite para reunião e
selecionou apenas os militares formados no curso de Forças
Especiais (Kids Pretos), o que demonstra planejamento
minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as

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técnicas militares para consumação do Golpe de Estado. No


mesmo dia, às 20h02min, CORREA NETO envia a MAURO
CID uma minuta intitulada "CARTA AO COMANDANTE DO
EXÉRCITO DE OFICIAIS SUPERIORES DA ATIVA DO
EXÉRCITO BRASILEIRO", documento provavelmente
discutido na referida reunião utilizado como instrumento de
pressão ao então Comandante do Exército General FREIRE
GOMES.

Logo após a reunião, o blogueiro PAULO RENATO DE


OLIVEIRA FIGUEIREDO FILHO divulgou no programa
PINGO NOS IS, às 21 h30, os nomes dos Comandantes
Regionais do Exército que ainda estariam indecisos em aderir
ao plano golpista. Os diálogos com MAURO CID revelaram
também que CORREA NETO sabia hora antes o nome exato
dos Comandantes que seriam expostos pelo blogueiro, o que
demonstra uma ação coordenada dos investigados em expor e
pressionar os militares que não topassem aderir aos planos
golpistas. Após o envio da carta, MAURO CID pede a CORREA
NETO que mande as observações, ao que o mesmo responde:
"Porra irmão. Apaguei essa parada"; "Não combinamos de
apagar? Os diálogos sugerem, portanto, que os investigados
tinham consciência da ilicitude das condutas praticadas e
buscavam suprimir provas que pudessem incriminá-los, em
ação típica de organização criminosa.

Para além dos diálogos citados, a investigação identificou


que CORREA NETO agia como " homem de confiança" de
MAURO CID, executando tarefas fora do Palácio do Alvorada
que o então ajudante de ordens do Presidente da República, por
razão de seu ofício, não conseguiria desempenhar. Ainda no
presente contexto, a posição de interlocutor assumida por
BERNARDO ROMÃO CORREIA NETO, com influência sobre
outros militares e civis investigados poderá - após a deflagração
ostensiva da investigação - acarretar a supressão de elementos
informativos relevantes para o esclarecimento dos fatos,
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impedindo a livre produção de provas, fato que demonstra a


necessidade concreta de acautelar a instrução criminal.

Sob outro aspecto, BERNARDO ROMÃO CORREIA


NETO foi designado para exercer missão no Estados Unidos -
com ônus total para o Comando do Exército - na cidade de
Washington, o.e. até junho de 2025. A permanência do
investigado em solo estrangeiro por pelo menos mais um ano e
meio, somada as circunstâncias da designação da missão, que
somente foi publicada no fim do governo anterior (30.12.2022),
demonstram fortes indícios de que o investigado agiu para se
furtar ao alcance de investigações e consequentemente da
aplicação da lei penal, fatos estes que justificam a decretação da
prisão preventiva.

O major RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, conhecido


como JOE, com formação em forças especiais, foi identificado
pela investigação como interlocutor de MAURO CID na
coordenação de diversas estratégias adotadas pelos
investigados para execução do Golpe de Estado. Na data de
11.11.2022, dias após o fim do 2º turno e com a intensificação
dos acampamentos na cidade de Brasília/DF, RAFAEL
MARTINS solicita ' 'orientações'' a MAURO CID quanto aos
locais para realização das manifestações e se as Forças Armadas
garantiriam a permanência das pessoas no local. O ajudante de
ordens do Presidente JAIR BOLSONARO confirma que os alvos
seriam o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal e
sinaliza que as tropas garantiriam a segurança dos
manifestantes. Logo após, os dois trocam mensagens de
chamamento para as manifestações do feriado de 15. 11 .2022
(Proclamação da República), o que demonstra que os protestos
convocados não se originavam da mobilização popular, mas
sim da arregimentação e do suporte direto do grupo ligado ao
então Presidente JAIR BOLSONARO, como estratégia de
demonstração de ''apoio popular' ' aos intentos criminosos.

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No dia 12.11.2022, o major RAFAEL MARTINS participou


de reunião em Brasília/DF juntamente com MAURO CID e
outros militares investigados para tratar de assuntos
relacionados a estratégia golpista. No endereço do encontro
(112 SUL, bloco 8), localiza-se um edifício residencial utilizado
por vários militares que integravam o governo do então
Presidente JAIR BOLSONARO.

No dia 14.11.2022, RAFAEL MARTINS troca mensagens


com MAURO CID e fala da necessidade de recursos
financeiros. O ajudante de ordens solicita que o mesmo faça
estimativa de custos com Hotel, Alimentação e Material e
pergunta se a quantia de R$ 100.000,00 (cem mil reais) é
suficiente. RAFAEL responde que sim e é orientado por CID a
trazer pessoas do Rio, provavelmente se referindo a cidade do
Rio de Janeiro. No dia 15.11 .2022 (dia das manifestações),
RAFAEL encaminha documento protegido com senha
intitulado "Copa 2022" e informa que está "com as necessidades
iniciais". Justifica o envio do documento no WhatsApp pois a
aplicativo UNI não estaria funcionando e orienta MAURO CID
a apagar posteriormente, com o objetivo de suprimir as provas
dos ilícitos praticados. CID novamente questiona sobre a
estimativa do valor total ao que RAFAEL reitera a quantia de
R$ 100.000,00 (cem mil). O teor dos diálogos acima, em cotejo
com outros elementos de informação ao longo da investigação
revelam fortes indícios de que o major RAFAEL MARTINS DE
OLIVEIRA, atuou diretamente, direcionando os manifestantes
para os alvos de interesse dos investigados, como STF e
Congresso Nacional, além de realizar a coordenação financeira
e operacional para dar suporte aos atos antidemocráticos, com
novos indícios de arregimentação e utilização de integrante das
Forças Especiais (FE) do Exército especializados em atuação em
ambientes hostis, negados ou politicamente sensíveis, para
subverter o Estado Democrático de Direito.

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As ações do Major foram coordenadas com o então chefe


da Ajudância de Ordens da Presidência, MAURO CID, que
arranjou formas de financiar as operações. Considerando a
complexidade e magnitude do nível de organização e
planejamento das condutas desenvolvidas pelo investigado e o
nível de infiltração da organização no âmbito militar, tem-se
que a manutenção da liberdade do Major RAFAEL MARTINS
DE OLIVEIRA, que autuou de forma relevante no núcleo
operacional da organização investigada, coloca em risco a
garantia da ordem pública, uma vez que não há como assegurar
que os atos realizados pelos investigados tenham cessado,
mesmo após a transição governamental. Ademais,
considerando o modus operandi adotado pelo grupo
investigado de apagar ou cifrar documentos que poderiam
revelar a participação de pessoas e as circunstancias dos crimes
praticados, conclui-se que a manutenção de liberdade do
investigado poderá acarretar a supressão de elementos de
prova relevantes até então desconhecidos e que sejam essenciais
para desvendar por completo as circunstâncias de ação do
grupo de forças especiais nos atos golpistas, impedindo a livre
produção de provas, fato que demonstra a necessidade concreta
de acautelar a instrução criminal.

FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA atuou como


Assessor Especial para Assuntos Internacionais da Presidência
da República, tendo os elementos colhidos na presente
investigação indicado como pertencente a ala radical do
governo. Os elementos fornecidos pelo acordo de colaboração
demonstram que FILIPE MARTINS levou ao então Presidente
JAIR BOLSONARO, no mês de novembro de 2022, um
documento que detalhava diversos ''considerandos''
(fundamentos dos atos a serem implementados) quanto a
supostas interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo
e ao final decretava a prisão de diversas autoridades, entre as
quais os ministros do Supremo Tribunal Federal, ALEXANDRE

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DE MORAES e GILMAR MENDES, além do Presidente do


Senado RODRIGO PACHECO. O assessor teria sido
acompanhado do advogado AMAURI FERES SAAD. O então
Presidente JAIR BOLSONARO teria solicitado a FILIPE
MARTINS que fizesse alterações na minuta, tendo o mesmo
retornado alguns dias depois ao Palácio do Alvorada e alterado
o documento conforme solicitado. Após a apresentação da nova
minuta modificada, JAIR BOLSONARO teria concordado com
os termos ajustados e convocado uma reunião com os
Comandantes das Forças Militares para apresentar a minuta e
pressioná-los a aderirem ao Golpe de Estado.

Conforme expostos, os elementos de prova colhidos, por


meio de diligencias investigativas, corroboraram os elementos
trazidos pela colaboração e avançaram em demonstrar que a
atuação de FILIPE MARTINS nos episódios releva que o ex-
assessor exercia posição de proeminência nas tratativas
jurídicas, através da intermediação com pessoas dispostas a
redigir os documentos que atendessem aos interesses do grupo
mais radical. Considerando a sensibilidade da matéria tratada,
a atuação do ex-assessor torna-se ainda mais relevante por ser
tratar de pessoa muito próxima ao então Presidente JAIR
BOLSONARO. Ao longo dos meses de novembro e dezembro
de 2022, após o 2º turno das eleições, os registros de acesso do
Palácio do Alvorada revelaram que FILIPE MARTINS esteve
por diversos dias no local, quase sempre por muitos horas, o
que demonstra que seu contato com o então Presidente no
período foi frequente e relevante para a execução de atos que
visavam o Golpe de Estado, inclusive no dia 07 de dezembro de
2022, quando teria apresentado a minuta juntamente com o
então Presidente JAIR BOLSONARO aos Comandantes do
Exército e da Marinha e ao então Ministro da Defesa. O nome
de FILIPE MARTINS também consta na lista de passageiros que
viajaram a bordo do avião presidencial no dia 30.12.2022 rumo
a Orlando/EUA. Entretanto, não se verificou registros de saída

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do ex-assessor no controle migratório, o que pode indicar que o


mesmo tenha se evadido do país para se furtar de eventuais
responsabilizações penais. Considerando que a localização do
investigado é neste momento incerta, faz-se necessária a
decretação da prisão cautelar como forma de garantir a
aplicação da lei penal e evitar que o investigado
deliberadamente atue para destruir elementos probatórios
capazes de esclarecer as circunstâncias dos fatos investigados.

MARCELO COSTA CAMARA é Coronel do Exército da


reserva, com formação nas Forças Especiais (FE) e atuou como
Assessor Especial da Presidência da República. Era considerado
um dos assessores mais próximos ao então Presidente JAIR
BOLOSNARO e após o término do mandato foi nomeado como
um dos auxiliares residuais, viajando aos Estados Unidos para
acompanhar o ex-presidente. Os elementos de informação
identificados até o momento pela investigação demonstram que
MARCELO CÂMARA era o responsável por um núcleo de
inteligência não oficial do Presidente da República, atuando na
coleta de informações sensíveis e estratégicas para a tomada de
decisão de JAIR BOLSONARO.

No dia 15.12.2022, às 11 h27, MARCELO CÂMARA envia


uma mensagem a MAURO CID: "Trabalhando". Às 16h12,
MAURO CID pergunta: " Algo?". No dia seguinte, CÂMARA
encaminha mensagem com o itinerário de uma pessoa: " Viajou
para São Paulo hoje (15/ 12), retorna na manhã de segunda-feira e
viaja novamente pra SP no mesmo dia. Por enquanto só
retorna a Brasília pra posse do ladrão. Qualquer mudança que saiba
lhe informo". Nos dias 21.12.22 e 24.12.22 MAURO CID
questiona novamente MARCELO CÂMARA ''Por
onde anda a professora?". CÂMARA responde confirmando a
localização em São Paulo e informa: ''volta no dia 31 a noite para
posse''. Questionado por MAURO CID se "Na capital
ou no interior?", CÂMARA responde: "Na residência em SP-
eu não sei onde fica'. A investigação constatou que os
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deslocamentos entre Brasília e São Paulo do MINISTRO


ALEXANDRE DE MORAES são coincidentes com os da pessoa
que estava sendo monitorada e acompanhada pelo grupo.
Assim, o termo "professora" utilizado por MAURO CID e
MARCELO CAMARA seria um codinome para a ação que
tinha o Ministro ALEXANDRE DE MORAES do Supremo
Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) como alvo. A agenda do Ministro em comparação com as
datas em que os diálogos foram realizados guardam
contemporaneidade com as reuniões já descritas que ocorreram
no Palácio da Alvorada com FILIPE MARTINS, AMAURI
SAAD e, posteriormente, com os chefes das Forças Armadas e
com o então Ministro da Defesa. Considerando que a minuta do
decreto que declarava o Golpe de Estado previa a prisão do
ministro ALEXANDRE DE MORAES, o acompanhamento e
monitoramento da autoridade - inclusive durante o Natal
(24/12/2022) - demonstra que o grupo criminoso tinha intenções
reais de consumar a subversão do regime democrático,
procedendo a eventual captura e detenção do Chefe do Poder
Judiciário Eleitoral.

Outro fator relevante é que MARCELO CÂMARA já tinha


pelo menos desde o dia 15.12.2022 o itinerário exato de
deslocamento pelos próximos 15 dias do ministro do
ALEXANDRE DE MORAES, o que demonstra o acesso
privilegiado de informações pelo grupo. As circunstâncias
identificadas evidenciam ações de vigilância e monitoramento
em níveis avançados, o que pode significar a utilização de
equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das
autoridades de controle. As ações identificadas de MARCELO
CÂMARA revelam o uso de uma '' Inteligência paralela ' ' para
municiar os planos do grupo. Nesse sentido, considerando o
atual estado de liberdade do investigado, não há garantias de
que o monitoramento ao ministro ALEXANDRE DE MORAES
tenha realmente cessado, não se descartando a possibilidade,

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inclusive, de outras autoridades do Poder Judiciário estarem


sendo monitoradas, o que põe em risco a garantia da ordem
pública e a segurança das autoridades. Assim, presente os
requisitos legais, faz-se necessário a decretação da custódia
cautelar de MARCELO COSTA CAMARA. Ainda nesse
contexto, a medida cautelar pessoal se mostra necessária para
garantir a eficácia da instrução criminal, evitando sua atuação
na supressão de elementos de prova imprescindíveis para o
esclarecimento dos fatos investigados, especialmente
relacionados ao núcleo de inteligência Paralela.

Nos termos do artigo 312 do Código de Processo Penal, a prisão


preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova de existência do crime e indícios suficientes da autoria.
Da análise do conjunto probatório e dos elementos de informação
apresentados pela autoridade policial, infere-se a intensa comunicação
realizada, por aplicativos de comunicação, entre o então ajudante de ordens da
Presidência MAURO CID e o investigado BERNARDO ROMÃO CORREA
NETO, a indicar indiscutível papel de proeminência deste último nas tratativas
e providências relacionadas ao intento de ruptura institucional.
Nesse sentido, observa-se a atuação do investigado BERNARDO ROMÃO
CORREA NETO nas medidas direcionadas à disseminação de notícias falsas
por integrantes das Forças Armadas em associação com outros membros do
grupo criminoso para desacreditar o processo eleitoral, como se verifica das
mensagens encartadas à fls. 52; à incitação para adoção de medidas radicais (fls.
117-118, 122); à realização de reunião com Assessores de Generais, com
formação em Forças Especiais, a fim de angariar suporte às medidas necessárias
para impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder
Judiciário (fls. 128-134, 139); à realização de reuniões para elaboração do
Decreto de Golpe de Estado (fls. 158, 162-163):

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Mensagens para disseminação de notícias falsas por


integrantes das Forças Armadas em associação com outros
membros do grupo criminoso para desacreditar o processo
eleitoral (fls. 52):

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Mensagens incitando a adoção de medidas radicais (fl.


117-118, 122):

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Mensagens pleiteando a realização de reunião com


Assessores de Generais, com formação em Forças Especiais, a
fim de angariar suporte às medidas necessárias para impedir a
posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder
Judiciário (fl. 128-134, 139):

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Mensagens sobre a realização de reuniões para elaboração


do Decreto de Golpe de Estado (fl. 158, 162-163):

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A representação policial demonstra que BERNARDO ROMÃO CORREA


NETO atuava como homem de confiança de MAURO CID, acompanhando
proximamente o desenrolar das providências que criariam ambiente favorável
ao golpe de Estado, assim como da efetivação das medidas práticas
relacionadas com aqueles propósitos, como se constata da circulação do
documento intitulado “CARTA AO COMANDANTE DO EXÉRCITO DE
OFICIAIS SUPERIORES DA ATIVA DO EXÉRCITO BRASILEIRO”,
elaborada com a finalidade de ser um instrumento de pressão ao então
Comandante do Exército General FREIRE GOMES, dos procedimentos
direcionados a expor e pressionar os militares que não aderissem aos planos
golpistas, da intermediação de convites para reunião de militares formados em
curso de Forças Especiais, para adesão destes a fim de assegurar a consumação
do Golpe de Estado, da participação nas providências voltadas a viabilizar a

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realização de reunião no Palácio de Planalto acerca do Decreto do Golpe de


Estado.
Ressaltem-se, ainda, as considerações da autoridade no sentido de que
BERNARDO ROMÃO CORREA NETO: foi designado para exercer missão no
Estados Unidos - com ônus total para o Comando do Exército - na cidade de
Washington, D.C. até junho de 2025. A permanência do investigado em solo estrangeiro
por pelo menos mais um ano e meio, somada as circunstâncias da designação da missão,
que somente foi publicada no fim do governo anterior (30.12.2022), demonstram fortes
indícios de que o investigado agiu para se furtar ao alcance de investigações e
consequentemente da aplicação da lei penal, fatos estes que justificam a decretação da
prisão preventiva (fl. 232).
A Procuradoria-Geral da República apontou a necessidade da decretação
de prisão de preventiva de BERNARDO ROMÃO CORREA NETO (fls. 516-
525):

“No caso do Coronel do Exército Bernardo Romão Correa


Neto, à época assistente do Comandante Militar do Sul, os
diálogos encontrados no aparelho celular de Mauro César
Barbosa Cid demonstram que o investigado intermediou o
convite para uma reunião, no dia 28.11.2022, às 19h, em
Brasília/DF, ocasião em que selecionou apenas oficiais formados
no curso de forças especiais (kids pretos), providos, pois, de
técnicas militares úteis para a consumação do golpe de Estado,
e assistentes dos generais supostamente aliados.

No mesmo dia, às 20h02min, Bernardo Romão Correa


Neto enviou para Mauro Cid minuta intitulada de "carta ao
comandante do exército de oficiais superiores da ativa do exército
brasileiro", que provavelmente fora discutida na reunião e
utilizada como instrumento de pressão direcionado ao então
Comandante do Exército, General Freire Gomes.

A investigação identificou que Correa Neto agia como


homem de confiança de Mauro Cid, executando tarefas fora do
Palácio da Alvorada que o então Ajudante de Ordens da

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Presidência da República não conseguiria desempenhar, em


virtude de seu ofício.

A partir da deflagração ostensiva da investigação, a


Policia Federal obteve elementos que corroboram a posição de
interlocutor assumida por Correa Neto, com influência sobre
outros militares e civis investigados, que poderá acarretar a
supressão de elementos informativos relevantes para o
esclarecimento dos fatos, impedindo a livre produção de
provas, o que demonstra a necessidade concreta de acautelar a
instrução criminal.

No que concerne ao perigo gerado por seu estado de


liberdade, o representado foi designado para exercer missão
nos Estados Unidos da América (EUA), em Washington, D.C.,
até junho de 2025, com ônus total para o Comando do Exército.
A permanência do investigado em solo estrangeiro por, pelo
menos, mais 1 (um) ano e meio, somada às circunstâncias da
designação da missão, que somente foi publicada no fim do
governo anterior (30.12.2022), indicam que Correa Neto agiu
para se furtar ao alcance das investigações e,
consequentemente, da aplicação da lei penal, mantendo-se
atualmente nesta condição.”

Em relação ao investigado RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, o conjunto


de elementos de informações constante da representação, igualmente, aponta
seu engajamento nas medidas de execução do intento golpista, como se verifica
dos diálogos espelhados às fls. 95-99, 107-110, em que o investigado pede
orientações a MAURO CID sobre os locais para realização de manifestações e o
questiona sobre a garantia das Forças Armadas para que as pessoas
permanecessem nos locais, contexto que indica a existência de arregimentação
do grupo ligado ao então Presidente JAIR BOLSONARO para os atos:

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Mensagens pedindo orientações a MAURO CID acerca


dos locais para realização de manifestações (fls. 95-99):

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Mensagens em que o investigado o questiona sobre a


garantia das Forças Armadas para que as pessoas
permanecessem nos locais e apresenta estimativas para trazer
pessoas para manifestações (fls. 107-110):

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Como bem destacado no parecer da PROCURADORIA-GERAL DA


REPÚBLICA, no sentido da decretação da prisão preventiva de RAFAEL
MARTINS DE OLIVEIRA, pois (fls. 516-525):

“O Major Rafael Martins de Oliveira, conhecido corno


"JOE", com formação em Forças Especiais, foi identificado como
interlocutor de Mauro Cid na coordenação de estratégias
adotadas pelos investigados para a execução do golpe de
Estado e para a obtenção de formas de financiar as operações
do grupo criminoso.

Com subsídio nos diálogos de Mauro Cid, foi elencada


uma cronologia de fatos verificados em novembro de 2022, dias
após o segundo turno das eleições presidenciais e a
intensificação dos acampamentos em Brasília/DF, que
demonstram que Rafael Martins solicitou orientações ao então
Ajudante de Ordens da Presidência da República quanto aos
locais para a realização das manifestações e sobre se as Forças
Armadas garantiriam a permanência e a segurança das pessoas
no local, inclusive, logrando a confirmação de que os alvos
seriam o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

No dia 14.11.022, Rafael Martins contatou Mauro Cid,


solicitando recursos financeiros estimados no montante de
R$ 100.000,00 (cem mil reais), para custos com hotel,
alimentação e material. Em tal oportunidade, Mauro Cid
aproveitou para orientá-lo a trazer pessoas do "Rio".

Segundo a autoridade policial, esses elementos, em


corroboração com outros, revelam indícios de que o Major
Rafael Martins de Oliveira atuou de forma direta no
direcionamento dos manifestantes para os alvos de interesse
dos investigados, além realizar a coordenação financeira e
operacional para dar suporte aos atos antidemocráticos e
arregimentar integrantes das Forças Especiais do Exército, para

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atuar nas manifestações, que, em última análise, não se


originavam da mobilização popular. A complexidade e a
magnitude da estruturação e do planejamento das condutas
desenvolvidas por ele e o nível de infiltração da organização no
âmbito militar demonstram que o investigado atuou de forma
relevante no núcleo operacional de apoio às ações golpistas, de
modo que a manutenção da sua liberdade colocaria em risco a
garantia da ordem pública. Nesse sentido, a representação
ressalta que não há como assegurar que as condutas praticadas
pelo investigado tenham cessado, mesmo após a transição do
governo.

Paralelamente, dado o modus operandi do investigado, que,


não raro, apaga ou cifra documentos que poderiam revelar a
participação de pessoas e as circunstâncias dos crimes
praticados, há indícios concretos do perigo na manutenção da
liberdade de Rafael Martins Oliveira, que justificam a sua
custódia cautelar, para garantir a instrução criminal.”

Observe-se que RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA buscou apurar


estimativas de custos para possível deslocamento de grupo que viria do Rio de
Janeiro para adesão aos atos, evidenciando-se o seu papel na coordenação
financeira e operacional no suporte dos atos antidemocráticos, além de
participar de reunião convocada para tratar de temas relativos às estratégias
golpistas.
O conjunto probatório descrito pela Polícia Federal indica que RAFAEL
MARTINS DE OLIVEIRA autuou de forma relevante no núcleo operacional da
organização investigada, em vista do que, conforme alegado pela autoridade
policial, a sua permanência em liberdade pode ensejar risco à garantia da
ordem pública e a própria investigação criminal, uma vez que não há como
assegurar que os atos realizados pelos investigados tenham cessado.
O investigado FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA, por sua vez, atuava
como Assessor Especial para Assuntos Internacionais da Presidência da
República e, na linha da investigação até então realizada, sempre integrou a ala
mais radical do governo na defesa da efetivação de um golpe de Estado.
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O investigado FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA, segundo a


investigação da Polícia Federal, foi uma das pessoas que apresentou ao então
Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO a minuta de decreto de golpe de
Estado, que viria a ser objeto de uma série de reuniões realizada no Palácio do
Planalto, para debates e ajustes do texto bem como apresentação aos
Comandantes das Forças Militares, mostrando-se irrefutável sua posição de
destaque quanto aos aspectos jurídicos das medidas voltadas à ruptura
institucional.
A PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA salientou a atuação do
investigado em parecer pela decretação de sua prisão preventiva:

“Por sua vez, Filipe Garcia Martins Pereira, então Assessor


Especial para Assuntos Internacionais da Presidência da
República, atuou na ala radical do governo. Conforme os
elementos coligidos, em novembro de 2022, Filipe Martins
entregou ao ex-Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro,
um documento que detalhava "considerandos" a respeito de
supostas interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo
e, ao final, decretava a prisão de diversas autoridades, entre
elas os Ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de
Moraes e Gilmar Mendes, além do Presidente do Senado
Federal, Rodrigo Pacheco.

Na ocasião em que Filipe Martins estava acompanhado do


advogado Amauri Feres Saad, Jair Bolsonaro teria lido e
solicitado que Filipe alterasse as ordens contidas na minuta. O
representado, então, retomou alguns dias depois ao Palácio da
Alvorada, acompanhado do referido jurista, com o documento
alterado, conforme as diretrizes dadas.

A Polícia Federal ressalta que, uma vez atendida a


solicitação e apresentada a nova versão da minuta, o ex-
Presidente teria concordado com os termos ajustados e
convocado os Generais e Comandantes das Forças Armadas,
Almirante Gamier, General Freire Gomes e Brigadeiro Batista
Júnior, para que comparecessem ao Palácio da Alvorada, no
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mesmo dia, a fim de apresentar-lhes a minuta e pressioná-los a


aderir ao golpe de Estado.

Dessa forma, segundo a representação policial, os


elementos angariados com as investigações demonstram que o
ex-Assessor Filipe Martins exercia posição de proeminência nas
tratativas jurídicas para a execução do golpe de Estado, por
meio da intermediação com pessoas dispostas a redigir os
documentos que atendessem aos interesses da ala mais radical.
Os registros de acesso ao Palácio da Alvorada revelaram que
ele esteve no local por diversos dias, ao longo dos meses de
novembro e dezembro de 2022, após o segundo tuno das
eleições presidenciais, quase sempre por muitas horas, o que
reforça os indicativos de que se trata de pessoa muito próxima
ao ex-Presidente da República, além de demonstrar que o
contato entre ambos foi frequente e relevante para a execução
de atos que visavam a consumação do golpe de Estado.

Sob essa perspectiva, Filipe Martins não apenas esteve


presente quando da apresentação da minuta aos Comandantes
do Exército e da Marinha e ao então Ministro da Defesa, Paulo
Sérgio Nogueira de Oliveira, como seu nome figura na lista de
passageiros que viajaram a bordo do avião presidencial, no dia
30.12.2022, para Orlando, nos EUA. Nesse ponto, contudo, a
Polícia Federal frisa que não existem registros de saída do ex-
assessor no controle migratório, o que pode indicar que tenha
se evadido do país para se furtar de eventuais
responsabilizações criminais.

Assim, considerando que a localização do investigado,


neste momento, é incerta, a decretação de sua segregação
cautelar revela-se necessária como forma de garantir a aplicação
da lei penal e evitar que, deliberadamente, atue para destruir
elementos probatórios imprescindíveis para a instrução
criminal.”

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Esse último ponto apontado pela PGR é muito importante, pois a


localização atual de FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA é incerta, uma vez
que constou na lista de passageiros que viajaram a bordo do avião presidencial
no dia 30.12.2022 rumo a Orlando/EUA. Entretanto, não se verificou registro de
saída do ex-assessor no controle migratório, o que pode indicar que ele tenha se
evadido do país para se furtar de eventuais responsabilizações penais, como
também apontado pela Polícia Federal.
Por fim, a representação da Polícia Federal aponta que o investigado
MARCELO COSTA CAMARA, que atuava como Assessor Especial da
Presidência da República, com significativa proximidade ao então Presidente,
também assumiu posição de relevo na dinâmica golpista, por atuar como
responsável pelo núcleo de inteligência paralela que operava na coleta de
informações sensíveis e estratégicas para auxílio na tomada de decisões do
então Presidente da República.
Diálogos mantidos entre MARCELO COSTA CAMARA e MAURO CID,
durante o mês de dezembro de 2022, indicam sua atuação no monitoramento de
várias autoridades, inclusive desse Ministro relator, como se constata das
conversar constantes das fls. 170-174, que serviria, fundamentalmente, a
assegurar que ordem de prisão consignada do decreto golpista pudesse ser
cumprida, contexto que evidencia as intenções reais da organização criminosa
no sentido de consumar a ruptura institucional com decretação de golpe de
Estado e cerceamento à independência do Poder Judiciário:

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Como bem enfatizado pela autoridade policial, está demonstrado o acesso


privilegiado de informações pelo grupo, pois as circunstâncias identificadas
evidenciam ações de vigilância e monitoramento em níveis avançados, o que pode
significar a utilização de equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das
autoridades de controle (fl. 243), numa dinâmica de inteligência paralela para a
qual não há garantia de efetiva interrupção, o que reforça a necessidade de
decretação de prisão preventiva de MARCELO COSTA CAMARA como
também destacado pela PROCURADORIA GERAL DA REPUBLICA:

“Marcelo Costa Câmara é Coronel do Exército da reserva,


com formação nas Forças Especiais, e atuou como Assessor
Especial da Presidência da República. Era considerado um dos
assessores mais próximos do ex-Presidente da República, tendo
sido, após o término do mandato, nomeado corno um de seus
auxiliares residuais, viajando aos EUA para acompanhá-lo.
Pelos elementos até então coligidos, ele era responsável pelo
núcleo de inteligência paralela, coletando informações sensíveis
e estratégicas, com aptidão para auxiliar a tomada de decisões
do ex-Presidente da República.

O cumprimento das medidas cautelares outrora deferidas


identificou inúmeras trocas de mensagens entre Marcelo Costa
Câmara e Mauro Cid, que, sobretudo a partir de 15.12.2022,
demonstram sua forte atuação no monitoramento do itinerário,
do deslocamento e da localização do Ministro do Supremo
Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Intitulado como
"professora", a vida privada e a liberdade de locomoção do
Ministro foram acompanhadas pelo grupo criminoso, ao menos
até seu retomo de São Paulo para Brasília, para presenciar a
cerimônia de posse de Luiz Inácio Lula da Silva como
Presidente da República.

Em razão disso e da contemporaneidade com as reuniões


ocorridas no Palácio da Alvorada, no contexto das quais foi
apresentada a minuta do decreto de golpe de Estado, que
previa a prisão do Ministro do STF, a representação salienta que
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o grupo criminoso tinha intenções reais de consumar a


subversão do regime democrático, capturando e detendo o
então Chefe do Poder Judiciário Eleitoral. As investigações
também demonstram que, pelo menos, desde o dia 15.12.2022,
Marcelo Costa Câmara já possuía o itinerário exato do
deslocamento do Ministro pelos próximos quinze dias.

O acesso privilegiado às informações sensíveis e às


circunstâncias identificadas evidenciam ações de vigilância e
monitoramento em níveis avançados, o que pode significar que,
sobretudo por meio da atuação de Marcelo Costa Câmara, o
grupo criminoso utilizou equipamentos tecnológicos fora do
alcance legal das autoridades de controle oficiais.

Nesse sentido, considerando o atual estado de liberdade


do investigado, não há garantias de que o monitoramento do
Ministro Alexandre de Moraes tenha cessado, nem se descarta a
possibilidade de que outras autoridades do Poder Judiciário
estejam sendo monitoradas, pondo em risco a garantia da
ordem pública e a própria segurança daquelas, pelo que é
necessária a prisão preventiva do representado.”

A decretação de prisão cautelar de BERNARDO ROMÃO CORREA


NETO, RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, FILIPE GARCIA MARTINS
PEREIRA, MARCELO COSTA CAMARA é razoável, proporcional e adequada
até que se garanta a devida colheita probatória, na busca por delimitar todas as
condutas criminosas apontadas pela Polícia Federal e a responsabilidade penal
dos diversos núcleos da organização criminosa.
O essencial em relação à possibilidade de restrição às liberdades
individuais, em especial a liberdade de ir e vir, não é somente a análise de sua
proclamação formal nos textos constitucionais ou nas declarações de direitos,
mas a absoluta necessidade de sua pronta e eficaz consagração no mundo real,
de maneira prática e eficiente, a partir de uma justa e razoável compatibilização
com os demais direitos fundamentais da sociedade, de maneira a permitir a
efetividade da Justiça Penal.

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MAURICE HAURIOU ensinou a importância de compatibilização entre


a Justiça Penal e o direito de liberdade , ressaltando a consagração do direito à
segurança , ao salientar que, em todas as declarações de direitos e em todas as
Constituições revolucionárias, figura a segurança na primeira fila dos direitos
fundamentais , inclusive apontando que os publicistas ingleses colocaram em
primeiro plano a preocupação com a segurança , pois, conclui o Catedrático da
Faculdade de Direito de Toulouse, que, por meio do direito de segurança, se
pretende garantir a liberdade individual contra o arbítrio da justiça penal, ou seja,
contra as jurisdições excepcionais, contra as penas arbitrárias, contra as detenções e
prisões preventivas, contra as arbitrariedades do processo criminal (Derecho Público y
constitucional. 2. ed. Madri: Instituto editorial Réus, 1927. p. 135-136).
Essa necessária compatibilização admite a relativização da liberdade de ir e
vir em hipóteses excepcionais, razoável e proporcionalmente previstas nos
textos normativos, pois a consagração do Estado de Direito não admite a
existência de restrições abusivas ou arbitrárias à liberdade de locomoção, como
historicamente salientado pelo grande magistrado inglês COKE, em seus
comentários à CARTA MAGNA, de 1642, por ordem da Câmara dos Comuns,
nos estratos do Segundo Instituto , ao afirmar: que nenhum homem seja detido ou
preso senão pela lei da terra, isto é, pela lei comum, lei estatutária ou costume da
Inglaterra (capítulo 29). Com a consagração das ideias libertárias francesas do
século XVIII, como lembrado pelo ilustre professor russo de nascimento e
francês por opção, MIRKINE GUETZÉVITCH, essas limitações se tornaram
exclusivamente trabalho das Câmaras legislativas, para se evitar o abuso da força
estatal ( As novas tendências do direito constitucional . Companhia Editora
Nacional, 1933. p. 77 e ss.).
Na presente hipótese, nos termos do artigo 312 do Código de Processo
Penal, é possível a restrição excepcional da liberdade de ir e vir, pois a Polícia
Federal demonstrou a presença dos requisitos necessários e suficientes para a
decretação da prisão preventiva dos quatro investigados como garantia da
ordem pública, por conveniência da instrução criminal e para assegurar a
aplicação da leipenal, comprovando a materialidade e fortes indícios de
autoria dos tipos penais de tentativa de abolição violenta do estado
democrático de direito (CP, art. 359-L), de tentativa de golpe de Estado (CP,
art. 359-M) e de associação criminosa (CP, art. 288), em concurso material de
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delitos (CP, art. 69)e apontando o perigo gerado pelo estado de liberdade dos
imputados.
Assim, estão presentes o fumus commissi delicti e periculum
libertatis, bem como a imprescindível e necessária compatibilização entre
a Justiça Penal e o direito de liberdade para a imediata decretação das prisões
preventivas de BERNARDO ROMÃO CORREA NETO, RAFAEL MARTINS
DE OLIVEIRA, FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA, MARCELO COSTA
CAMARA, conforme posicionamento pacífico dessa SUPREMA CORTE (HC
216003 AgR, Relator: NUNES MARQUES, Segunda Turma, DJe 24/3/2023; HC
224073 AgR, Relator: DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJe 14/3/2023; HC
217163 AgR, Relator: LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe 25/11/2022; HC 217887
AgR, Relator: ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, DJe 24/8/2022;
HC 196907 AgR, Relator: GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe 2/62021).

III) MEDIDAS CAUTELARES RESTRITIVAS DE DIREITO DIVERSAS


DA PRISÃO PREVENTIVA.

A autoridade policial apresentou, também, pedidos de decretação de


medidas cautelares diversas da prisão, notadamente proibição de manter
contato com os demais investigados, inclusive através de advogados; proibição
de se ausentar do país, com determinação para entrega de todos os passaportes
(nacionais e estrangeiros), no prazo de 24 (vinte e quatro) horas; suspensão do
exercício de função pública, aduzindo que:

“Conforme demonstrado ao longo da investigação, a


Organização Criminosa atuou em diversos núcleos e instâncias,
através de pessoas inseridas em cargos estratégicos, que, por
sua vez, utilizaram de prerrogativas institucionais como
pretexto para desencadear ações necessárias à consumação do
Golpe de Estado e auferir vantagem, decorrente da manutenção
do referido grupo político no poder.

As condutas investigadas que visavam subverter o regime


democrático foram realizadas ao longo de várias semanas e se
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acentuaram após as eleições de 2022. Para consecução da


finalidade pretendida, os investigados utilizaram de ações
coordenadas que exigiam prévio alinhamento de narrativas.
Nesse sentido, a cautelar de proibição de manter contato com
os demais investigados é medida que se faz necessária para
resguardar a investigação, evitando-se a combinação de
versões, além de inibir possíveis influências indevidas no
ânimo de testemunhas e de outras pessoas que possam
colaborar com o esclarecimento dos fatos.

Sob outro aspecto, frustrada a consumação do Golpe de


Estado por circunstâncias alheias à vontade dos agentes,
identificou-se que diversos investigados passaram a sair do
país, sob as mais variadas justificativas (férias ou descanso)
como no caso do ex-presidente JAIR BOLSONARO e do ex-
ministro da justiça ANDERSON TORRES. Outros investigados
viajaram para missões no exterior, como é o caso do Coronel do
Exército BERNARDO ROMÃO CORREIA NETO, designado
em 30.12.2022 para missão em Washington, D.C. até junho de
2025. Alguns investigados não mais regressaram ao Brasil
desde então, como é o caso do ex-assessor para assuntos
internacionais FILIPE GARCIA MARTINS, que viajou a bordo
do avião presencial em 30.12.2022 com destino a cidade de
Orlando/EUA sem realizar o procedimento de saída com o
passaporte em território nacional, não havendo até o presente
momento registro de retorno. A burla ao sistema migratório
caracteriza elemento essencial para auferir o dolo do
investigado em se furtar a aplicação da lei penal. No mesmo
sentido, a maioria dos demais investigados, por ostentarem a
condição de agentes públicos do alto escalão governamental,
são detentores de recursos financeiros e prerrogativas
institucionais (passaportes oficiais) que facilitariam eventual
saída do país em caso de condenação criminal. Assim, com a
finalidade de se resguardar a aplicação de lei penal, faz-se
necessária a decretação da cautelar de proibição de se ausentar

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do País, com determinação para entrega de


todos os passaportes (nacionais e estrangeiros) no prazo de 24
(vinte e quatro) horas.

Os elementos probatórios reunidos ao longo da


investigação evidenciaram que os investigados se utilizaram
diretamente dos cargos públicos que exerciam tanto em ações
relacionadas a tentativa de execução do Golpe de Estado,
quanto para eximir possível responsabilidade criminal pelos
atos até então já realizados. É o caso do General ESTEVAM
THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA, atual comandante do
Comando de Operações Terrestres (COTER) do Exército
Brasileiro e responsável pelo emprego do Comando de
Operações Especiais (COpESP). No dia 09.12.2022, ESTEVAM
THEOPHILO se reuniu com o então Presidente JAIR
BOLSONARO no Palácio do Alvorada e, de acordo com os
diálogos encontrados no celular de MAURO CID, teria
consentido com a adesão ao Golpe de Estado desde o que
presidente assinasse a medida. Nesse sentido, além de ser o
responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida
de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já
reunidos apontam que caberiam às Forças Especiais do Exército
(os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão do
Ministro do Supremo Tribunal Federal ALEXANDRE DE
MORAES assim que o decreto presidencial fosse assinado. No
dia 02.01 .2023, já efetuada a transição de governo, MAURO
CID encaminha ao GENERAL THEOPHILO notícia jornalística
com a informação de que poderia ser preso nas primeiras
semanas do ano, recebendo como resposta do General: ''Fique
tranquilo Cid. Vou conversar com o Arruda hoje. Nada lhe
acontecerá. O teor do diálogo aponta que o nome Arruda seria
do então comandante do Exército, General JÚLIO CESAR DE
ARRUDA, exonerado em 21.01.2023 após rumores de leniência
com militares que participaram dos atos golpistas de 08.01.2023
e por se recusar a cancelar a designação de MAURO CID ao

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comando do 1º Batalhão de Ações de Comandos, justamente o


setor do exército que seria encarregado de cumprir semanas
antes a prisão do Ministro ALEXANDRE DE MORAES.

Os elementos indiciários apresentados apontam, portanto,


que os investigados buscaram espécie de "blindagem
institucional" a partir da manutenção de postos que lhe eram
estratégicos, mesmo após o início do novo governo, quais
sejam: o controle da força operacional militar e a garantia de
superiores hierárquicos que supostamente exerceriam o poder
do cargo para afastar medidas de responsabilização criminal
que pudessem advir das condutas praticadas pela organização
criminosa.

É neste sentido que a medida cautelar de suspensão do


exercício da função pública se faz necessária para evitar que os
investigados que ainda estejam no exercício do cargo atuem
deliberadamente para evitar que novos elementos indiciários
sejam descobertos pela investigação ou realizem atos de gestão
capazes de influenciar partícipes ou testemunhas, utilizando-se
para tanto o exercício do poder hierárquico/disciplinar.

Considerando os elementos probatórios apresentados e a


gravidade dos crimes investigados (art.359-L e art.359-M do
Código Penal e art. 2º da Lei 12.850/13), tem-se que as medidas
solicitadas são adequadas as circunstâncias dos fatos e se
amoldam as condições pessoais dos investigados, sendo
necessária a aplicação de forma cumulativa.”

Em sua manifestação, a Procuradoria-Geral da República demonstrou a


necessidade da decretação da medidas cautelares, sustentado que (fls. 511-514,
525):

“A sistematização das condutas pela Polícia Federal partiu


da divisão das tarefas executadas, de forma preponderante,
pelos membros da suposta organização criminosa entre núcleos
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de atuação, que visavam, na prática, a reversão do resultado


das eleições presidenciais de 2022, de modo a impedir a posse
do candidato eleito e, assim, manter o ex-Presidente da
República, Jair Messias Bolsonaro, no poder.

O núcleo de desinformação e ataques ao Sistema Eleitoral,


composto por Mauro César Barbosa Cid, Anderson Torres,
Ângelo Martins Denicoli, Fernando Cerimedo, Éder Lidsay
Magalhães Balbino, Hélio Ferreira Lima, Guilherme Marques
Almeida, Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros e Tércio
Amaud Tomaz, teria atuado, prioritariamente, na produção,
divulgação e amplificação de notícias falsas e de "estudos"
quanto à falta de lisura das eleições presidenciais de 2022, bem
como sobre supostos registros de votos após o horário oficial,
inconsistências no código-fonte, com a finalidade de estimular
seguidores a permanecerem na frente de quartéis e de
instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente
propício para a execução de um golpe de Estado.

Segundo a autoridade policial, Walter Souza Braga Netto,


Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, Ailton Gonçalves
Moraes Barros, Bernardo Romão Correa Neto e Mauro Cesar
Barbosa Cid teriam se concentrado na escolha de alvos, para a
amplificação de ataques pessoais direcionados a militares em
posição de comando, que resistiam às investidas golpistas, em
coordenação de condutas que identificam o núcleo responsável
por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado. Para tanto,
os elementos coligidos apontam que os ataques eram realizados
a partir da difusão em múltiplos canais e por meio de
influenciadores em posição de destaque perante a audiência
militar.

O núcleo jurídico, com foco no assessoramento e na


elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica
e doutrinária que atendesse aos interesses finalísticos golpistas
do grupo investigado, teria sido integrado por Filipe Garcia

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Martins Pereira, Anderson Gustavo Torres, Amauri Feres Saad,


José Eduardo de Oliveira e Silva e Mauro Cesar Barbosa Cid.

Ainda segundo a Polícia Federal, a partir da coordenação


e da interlocução com Mauro Cesar Barbosa Cid, então ajudante
de ordens do ex-Presidente da República, Sérgio Ricardo
Cavaliere de Medeiros, Bernardo Romão Correa Neto, Hélio
Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Alex de Araújo
Rodrigues e Cleverson Ney Magalhães compunham o núcleo
operacional de apoio às ações golpistas, atuando em reuniões
de planejamento e execução de medidas, no sentido de manter
as manifestações em frente aos quartéis, incluídas a
mobilização, a logística e o financiamento de militares das
forças especiais, em Brasília/DF.

A autoridade policial aponta que Augusto Heleno Ribeiro


Pereira, Marcelo Costa Câmara e Mauro César Barbosa Cid
integraram o núcleo de inteligência paralela, responsável pela
coleta de dados e informações que pudessem auxiliar a tomada
de decisões do ex-Presidente da República, Jair Messias
Bolsonaro, na consumação do golpe de Estado. Os membros
teriam monitorado o itinerário, o deslocamento e a localização
do Ministro do Supremo Tribunal Federal e então chefe do
Poder Judiciário Eleitoral, Alexandre de Moraes, e de possíveis
outras autoridades da República, com o objetivo de captura e
detenção, nas primeiras horas que se seguissem à assinatura do
decreto de golpe de Estado. Por sua vez, o núcleo de oficiais de
alta patente com influência e apoio a outros núcleos, composto
por Walter Souza Braga Netto, Almir Garnier Santos, Mario
Fernandes, Estevam Theofilo Gaspar de Oliveira, Laércio
Vergílio e Paulo Nogueira de Oliveira, teria se utilizado da alta
patente militar por eles detida para influenciar e incitar o apoio
aos demais núcleos de atuação, por meio do endosso de ações e
medidas a serem adotadas, para a consumação do golpe de
Estado.

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A autoridade policial sustenta que a delimitação esposada


e a individualização das condutas na representação, em cotejo
com os elementos até então coligidos, não exaurem os fins
perquiridos pelas investigações, que ainda demandam a
realização de medidas cautelares imprescindíveis para a
elucidação dos fatos, em toda a sua complexidade. Por isso, no
bojo dessa representação vinculada à Petição n. 10.405/DF
("Operação Venire"), requer cautelares de busca e apreensão dos
investigados, além de prisão preventiva de alguns.

(…)

Sopesando os pressupostos das cautelares de natureza


pessoal, neste momento, a decretação de medidas alternativas
contra os demais investigados são suficientes para o avanço das
investigações, não havendo indícios concretos de que medida
mais gravosa seja necessária, adequada e proporcional (art. 319
do Código de Processo Penal).

A manifestação é pelo deferimento das medidas


cautelares, nos moldes da representação.”

O conjunto de informações trazido pela autoridade policial demonstra a


atuação de uma organização criminosa que procedia em moldes assemelhados
ao do intitulado Gabinete do Ódio, com atuação em cinco eixos, para adoção de
medidas tendentes a desacreditar o processo eleitoral, ao
planejamento/execução de um Golpe de Estado e Abolição do Estado
Democrático de Direito, tudo na expectativa de assegurar a permanência do
então governo no poder, enquadrada a atuação, quanto ao objeto desta
representação, no eixo denominado "tentativa de Golpe de Estado e de
Abolição violenta do Estado Democrático de Direito".
Embora a atuação da organização tenha se acentuado ao longo do ano de
2022, é certo que, desde 2019, já se anteviam condutas de integrantes do grupo
direcionadas a propagar a ideia de vulnerabilidade e fraude no sistema

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eletrônico de votação do país como apontado na presente investigação e nos


INQ 4781 e INQ 4878.
A representação faz menção a uma transmissão ao vivo (live) realizada
pelo então Presidente JAIR MESSSIAS BOLSONARO em julho de 2021, na qual
estava acompanhado pelo então Ministro da Justiça ANDERSON TORRES e
outras pessoas, como oportunidade para disseminação de desinformação, com a
prática de notícias fraudulentas sobre inexistentes indícios de ocorrência de
fraudes e manipulação de votos nas eleições e vulnerabilidades do sistema
eleitoral brasileiro, aproveitando-se do exame deturpado realizado pelo CEL EB
RR EDUARDO GOMES.
Na sequência, noticia a autoridade policial que, em 5 de julho de 2022, foi
convocada, pelo então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO, reunião da alta
cúpula do Governo Federal, que contou com a presença de ANDERSON
TORRES (então Ministro da Justiça), AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA
(então Chefe do Gabinete de Segurança Institucional), PAULO SÉRGIO
NOGUEIRA DE OLIVEIRA (então Ministro da Defesa), MÁRIO FERNANDES
(então Chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República),
WALTER SOUZA BRAGA NETTO (ex-Ministro Chefe da Casa Civil e futuro
candidato a vice-Presidente da República), todos ora investigados, prestando-se
o ato a reforçar aos presentes a ilícita desinformação contra a Justiça Eleitoral,
apontando o argumento de que as Forças Armadas e os órgãos de inteligência
do Governo Federal detinham ciência das fraudes e ratificavam a narrativa
mentirosa apresentada pelo então Presidente da República JAIR MESSIAS
BOLSONARO.
A reunião, segundo a Polícia Federal, também teve como finalidade cobrar
dos presentes conduta ativa na promoção da ilegal desinformação e ataques à
Justiça Eleitoral: promoção e a difusão, em cada uma de suas respectivas áreas,
desinformações quanto à lisura do sistema de votação, utilizando a estrutura do Estado
brasileiro para fins ilícitos e desgarrados do interesse público. Essa narrativa serviu,
como um dos elementos essenciais, para manter mobilizadas as manifestações em frente
às instalações militares, após a derrota eleitoral e, com isso, dar uma falsa percepção de
apoio popular, pressionando integrantes das Forças Armadas a aderirem ao Golpe de
Estado em andamento (fl. 10).

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As investigações da Polícia Federal trouxeram aos autos excertos da fala


do então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO naquela oportunidade e que
constam de vídeo identificado em computador apreendido na residência de
MAURO CESAR CID, realizada no RAPJ nº 4401196/2023 (fl. 31):

"Hoje me reuni com o pessoal do WhatsApp, e outras também


mídias do Brasil. Conversei com eles. Tem acordo ou não tem com
o TSE? Se tem acordo, que acordo é esse que tá passando por
cima da constituição? Eu vou entrar em campo usando o meu exército,
meus 23 ministros".

No vídeo o então Presidente ainda disse:

"E eu tenho falado com os meus 23 ministros. Nós não podemos


esperar chegar 23, olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos
para o Brasil chegar à situação de hoje em dia? Nós temos que nos
expor. Cada um de nós. Não podemos esperar que outro façam por nós.
Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos acomodar. Eu
não posso fazer nada sem vocês. E vocês também patinam sem o
Executivo. Os poderes são independentes, mas nós dois somos irmãos.
Temos um primo do outro lado da rua que tem que ser respeitado
também. Mas todo mundo que quer ser respeitado tem que respeitar
em primeiro lugar. E nós não abrimos mão disso" .

Segue a representação da Polícia Federal transcrevendo as falas do então


Presidente JAIR BOLSONARO e de outros participantes da reunião, nos
seguintes termos (fls. 32-48):

( ... ) A Câmara deve votar hoje o ... a PEC da Bondade, como é


chamada, né? E não tem como, né, depois dessa PEC da Bondade, a
gente ... a gente não tá pensando nisso, manter 70% dos votos, ok?
Mas a gente vai ter 49% dos votos, vou explicar por que, né? ( ... )

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Prosseguindo no discurso, JAIR BOLSONARO faz, novamente, acusações


falsas e sem nenhum indício, afirmando que o dinheiro do narcotráfico teria
financiado o atual Presidente da República LULA DA SILVA e outros ex-
Presidentes de países da América do Sul:

É ... Nós estamos vendo aqui a ... não é toda a imprensa, uma
outra TV e as mídias sociais sobre a delação do Marcos Valério. A
questão da ... da execução do Celso Daniel. Né? É ... O envolvimento
com o narcotráfico. É ... Temos informações do General Carvajal lá da
Venezuela que tá preso na Espanha. Ele ... já fez a delação premiada
dele lá. É... Por 1 O anos abasteceu com o dinheiro do
narcotráfico Lula da Silva, Cristina Kirchner, Evo Morales.

Né? Essa turma toda que cês conhecem.

(…)

E a gente vê que o Data Folha continua ... é ... mantendo a


posição de 45% e, por vezes, falando que o Lula ganha no primeiro
turno. Eu acho que ele ganha, sim. As pesquisas estão exatamente
certas. De acordo com os números que estão dentro dos
computadores do TSE. Né? E ... Eu tô ... Eu tenho que ter bastante
calma, tranquilidade, e vou entrar em detalhes com vocês
daqui a pouco ( ... )

No transcorrer da fala o JAIR BOLSONARO indaga


os presentes: "( ... ) nós vamos esperar chegar 23, 24, pra se
foder? Depois perguntar: porquê que não tomei providência
lá trás? E não é providência de força não, caralho! Não
é dar tiro. ô PAULO SÉRGIO, vou botar a tropa na rua, tocar fogo
aí, metralhar. Não é isso, porra!".

Em seguida, o então Presidente da República, JAIR BOLSONARO,


assinala, ostensivamente, o objetivo da reunião: coagir os Ministros e todos
os presentes, para que aderissem à ilícita desinformação apresentada.
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Nesse sentido, o então Presidente da República exige que seus Ministros –


em total desvio de finalidade das funções do cargo – deveriam promover e
replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e
notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da
estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse
público (fl. 36).

Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou
falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar ele vai vim
falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu
estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me
ti... demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse
ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70%
dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar <como
que eu ganhei>, o cara tá no lugar errado.

Conforme a representação policial:

Na continuidade de sua fala, o então Presidente explicita


aos presentes que agendou a reunião com embaixadores para,
em suas palavras, "mostrar o que tá acontecendo". JAIR
BOLSONARO reforça a narrativa de fraude eleitoral para eleger
o então pré-candidato LULA, acusando, inclusive, os Ministros
do STF EDSON FACHIN, LUIS ROBERTOBARROSO,
ALEXANDRE DE MORAES, de não serem isentos. Diz:

Porque os cara tão preparando tudo, pô! Pro Lula ganhar


no primeiro turno, na fraude. Vou mostrar como e porquê.
Alguém acredita aqui em FACHIN, BARROSO,
ALEXANDRE DE MORAES? Alguém acredita? Se acreditar
levanta o braço! Acredita que eles são pessoas isentas, tão
preocupado em fazer justiça, seguir a Constituição? De tudo
que são ... Tão vendo acontecer? ( ... )

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A autoridade policial prossegue em sua exposição:

Em outro trecho, JAIR BOLSONARO novamente acusa o


STF de atuar fora dos limites constitucionais e que não teria
como LULA ganhar a eleição no voto, insinuando que sua
vitória nas eleições presidenciais, caso ocorresse, seria em
decorrência de fraude nas urnas eletrônicas.

( ... ) Vou fazer uma reunião quinta-feira com


embaixadores, semana que vem com mais, vou convidar
autoridades do... do judiciário, pra outra reunião, pra mostrar o
que tá acontecendo. ( ... )

Não tem como esse cara ganhar a eleição no voto. Não


tem como ganhar no voto. <ininteligível> também, eu não vou
passar aqui, em 2014 foi aprovado o voto impresso no
Congresso, tá fora do foco, né, fora da ... do radar nosso, nem
lembrava disso, que depois também o nosso Supremo
derrubou. O nosso Supremo aqui é um poder à parte. É um
super Supremo. Eles decidem tudo. Fora ... Muitas vezes fora
das quatro linhas ( ... )

(…)

Reporta ainda a autoridade policial a total adesão e participação do então


Ministro da Justiça, ANDERSON TORRES, na prática de atos antidemocráticos
e golpistas:

Em seguida, a palavra é passada ao então Ministro


da Justiça, ANDERSON TORRES. O Ministro reitera a narrativa
do Presidente JAIR BOLSONARO, ressaltando a necessidade
dos presentes em propagar as informações falsas quanto a
fraudes e vulnerabilidades no sistema eletrônico de votação.
Além disso, ANDERSON TORRES reforça o temor do que
poderia acontecer caso o "PT" ganhasse as eleições, reiterando o
exemplo da Bolívia. De forma enfática diz: "( ... ) E o exemplo da
Bolívia é o grande exemplo pra todos nós. Senhores, todos vão
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se foder! Eu quero deixar bem claro isso. Porque se ... eu não tô


dizendo que ... eu quero que cada um pense no que pode fazer
previamente porque todos vão se foder". Segue o trecho da fala:

Tem muitos aqui que eu não sei nem se tem estrutura pra
ouvir o que a gente tá falando aqui. Com todo o respeito a
todos. Mas eu queria começar por uma frase que o Presidente
colocou aqui, que eu acho muito verdadeira. E o exemplo da
Bolívia é o grande exemplo pra todos nós. Senhores, todos vão
se foder! Eu quero deixar bem claro isso. Porque se ... eu não tô
dizendo que ... eu quero que cada um pense no que pode fazer
previamente porque todos vão se foder.

(…)

Assim como FILIPE BARROS, ANDERSON TORRES


novamente cita o conteúdo falso divulgado na
chamada live presidencial realizada no dia 29 de julho de 2021,
distorcendo, de forma deliberada, informações, termo de
declarações e pericias realizadas pela Polícia Federal com o
objetivo de disseminar narrativas sabidamente não verídicas ou
sem qualquer lastro concreto, com a finalidade de induzir a erro
os demais participantes da reunião quanto à lisura do sistema
de votação brasileiro. O então Ministro da Justiça insinua que a
Polícia Federal já teria feito várias sugestões de
aperfeiçoamento que não teriam sido acatadas pelo TSE, em
seguida conclui "(...) Mas a gente tá aí há
seis anos fazendo. O outro lado joga muito pesado, senhores.
Eu acho que, eu acho que essa consciência todos aqui devem
ter".

(...) a Polícia Federal sempre esteve aqui ... sempre


esteve com um outro viés, e com um outro olhar. Sempre
foi com um viés colaborativo ... olha, cuidado com isso,
cuidado com aquilo. E esses cuidados têm seis, sete anos que
tão … que foi naquela ... naquela live que eu li esses relatórios e
eles iam lá desdizendo um monte de coisa, tá, e quando eu li os
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relatórios, me jogaram pra dentro do inquérito. Por que vai


falar o quê? De um relatório de um Perito Criminal da Polícia
Federal? Que já há seis, sete anos tá dizendo: tem que fazer
isso. Cuidado com aquilo. Olha, aqui tá ruim. O quê que foi
feito? Acataram isso? Fizeram isso? Porque se tivesse feito
tinham ... tinham 'desdizido' na live! Tá bom, o Ministro tá
mentindo aí ó. Tudo que foi falado tá ... tá ... tá aqui no sistema. Isso
tá no sistema? Essas aperfeiçoa ... esses aperfeiçoamentos
foram colocados no sistema? Agora vêm as Forças Armadas
fazem uma série de observações. A PF continua fazendo
observação. É claro que da nossa parte nós não vamos botar a arma
na cabeça dos caras e falar 'coloquem isso '. Mas a gente tá aí há
seis anos fazendo. O outro lado joga muito pesado, senhores.
Eu acho que, eu acho que essa consciência todos aqui devem ter.

Por fim, ANDERSON TORRES faz imputações


graves, relacionando a facção criminosa PRIMEIRO
COMANDO DA CAPITAL (PCC) ao Partido dos Trabalhadores
(PT), afirmando que muita coisa estaria vindo à tona, inclusive
com depoimentos. De forma enfática diz: "Isso não é mentira.
Isso não é mentira.". Por fim, o então Ministro da Justiça afirma
que atuaria de forma mais incisiva, por meio da Polícia Federal.

Mas estamos aí, Presidente, desentranhando a velha


relação do PT com o PCC. A velha relação do PT com o PCC.
Isso tá vindo aí através de depoimentos que estão há muito
guardados aí... isso aí foi feito ó. Tá certo? Isso tudo tá vindo
à tona. Isso não é mentira. Isso não é mentira. Então, muita
coisa ... é ... é ... é ... está vindo à tona aí. Muita coisa que a
população é ... sabe, mas tudo precisa ser
rememorado. Tá certo? Então, essa questão das urnas, essa questão
dos inquéritos, nós montamos um grupo lá … é ... é ... é ... O Diretor
Geral da Polícia Federal montou um grupo de policiais federais. E
agora uma equipe completa. Não só com peritos.
Mas com delegados, com peritos, com agentes pra poder
acompanhar, realmente, o passo a passo das eleições pra poder fazer os
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questionamentos necessários que têm que ser feitos e não só as


observações.

( ... ) A gente vai atuar de uma forma mais incisiva. Já


estamos atuando. Mas eu acho que o mais importante é cada um
entender o momento agora e as colocações
que a gente deve fazer. A gente realmente deve mostrar é ...
a nossa ... a nossa preocupação com tudo isso que tá acontecendo no
Brasil e com o futuro do Brasil.

Após a fala do então Ministro ANDERSON TORRES, o investigado


BRAGA NETTO avisa aos presentes sobre uma notícia de que o Ministro
EDSON FACHIN do STF teria afirmado que a auditoria nas urnas não mudaria
o resultado da eleição, afirmando:

"(...) Senhores, só observar que saiu uma notícia agora


dizendo ... o FACHIN dizendo que auditoria não muda
resultado de eleição. Não sei os senhores já viram isso
". ANDERSON TORRES diz: "Depois que der merda não muda
nada não".

Ainda no referido contexto, a autoridade policial aponta que o então


Presidente JAIR BOLSONARO afirma que Ministros do STF e do TSE estariam
tentando "dar um ar de legalidade, de honestidade e transparência". Em seguida
afirma que teria que tomar uma providência.
A efetiva participação do investigado PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE
OLIVEIRA, igualmente, é bem fundamentada pela Polícia Federal, ao apontar
que:

“A reunião transcorre com a fala do então Ministro


da Defesa, o General PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE
OLIVEIRA. O Ministro deixa evidenciado a preocupação em
relação aos assuntos que estavam sendo tratados na reunião.

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Ele inicia abordando as proposições feitas pelo Ministério da


Defesa ao TSE e que não foram aceitas. Em seguida diz: "( ... )
esses comentários aqui eu peço que fique entre a gente. Eu tô
aqui muito cioso, como falei antes, justamente porque é uma
reunião aberta e que são assuntos bem sensíveis ( ... )".
Prosseguindo em sua fala, PAULO SÉRGIO NOGUEIRA
demonstra sua desconfiança em relação ao Tribunal Superior
Eleitoral. Diz: "Muito bem, o TSE ele tem o sistema e o controle
do Processo Eleitoral. Então, como disse o Presidente, eles
decidem aquilo que possa interessar ou não e não tem instância
superior. E a gente fica meio que de mãos atadas esperando
a boa vontade dele aceitar isso ou aquilo outro". O Ministro da
Defesa faz uma imputação grave ao TSE, afirmando que a
Comissão de Transparência Eleitoral seria "pra inglês
ver", constituindo um "ataque à Democracia". Diz: "Vou falar
aqui muito claro. Senhores! A comissão é pra inglês
ver. Nunca essa comissão sentou numa mesa e
discutiu uma proposta. É retórica, discurso, ataque
à Democracia".

Ainda em sua fala PAULO SÉRGIO NOGUEIRA


demonstra que trata o Tribunal Superior Eleitoral como um
inimigo. Em linguagem militar ele descreve a estratégia: "O que
eu sinto nesse momento é apenas na linha de contato com
o inimigo. Ou seja ... na guerra a gente … linha de contato,
linha de partida. Eu vou romper aqui e iniciar minha operação.
Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa
linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar
nesse sentido pra que a gente não fique sozinhos no processo".

Por fim, o então Ministro da Defesa admite que a atuação


das Forças Armadas para "garantir transparência, segurança,
condições de auditoria" nas eleições tinha a finalidade de
reeleger o então Presidente JAIR BOLSONARO.

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Pra encerrar... senhor Presidente eu estou realizando


reuniões com os Comandantes de Força quase que semanalmente.
Esse cenário, nós estudamos, nós trabalhamos. Nós temos reuniões
pela frente, decisivas pra gente ver o que pode ser feito; que ações
poderão ser tomadas pra que a gente possa ter transparência,
segurança, condições de auditoria e que as eleições se
transcorram da forma como a gente sonha! E o senhor, com
o que a gente vê no dia a dia, tenhamos o êxito de reelegê-lo e
esse é o desejo de todos nós .

O então Presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO, reforça a


atitude golpista do investigado PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA,
conforme detalhado pela Polícia Federal:

“Em seguida, JAIR BOLSONARO ressalta o objetivo


da reunião, afirmando que os órgãos do Governo Federal que
integravam a Comissão Eleitoral deveriam produzir um
documento em conjunto afirmando que a garantir da lisura das
eleições, naquele momento, seria impossível de ser atingida.

"Olhem pra minha cara, por favor. Todo mundo olhou pra
minha cara? Acho que não tem bobo aqui. Pô, mais claro do que tá aí?
Mais claro ... impossível! Eu acredito que essa proposta de cada um da
Comissão de Transparência Eleitoral tem que ... quem responde pela
CGU vai, quem responde pelas Forças Armadas aqui... é botar algo
escrito, tá? Pedir à OAB. Vai dar... a OAB vai dar credibilidade pra
gente, tá? Polícia Federal ... dizer ... que até o presen ... uma nota
conjunta com vocês, com vocês todos ... topam ... que até o
presente momento dadas as condições de ... de ... se definir a
lisura das eleições são simplesmente impossíveis de ser
atingidas. E o pessoal assina embaixo. Além de eu falar com os
embaixadores e pagar a missão pro ... já que o Célio tá coordenando
aqui ... Célio, missão Célio, cê vai ver todos que integram a comissão
de... Comissão de Transparência Eleitoral. Convidar todos pra semana
que vem. Todos. Pra gente fazer uma reunião como o pessoal e eles
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tomar pé do que tá acontecendo"

No final de sua fala, JAIR BOLSONARO faz a seguinte


afirmação:

(... ) Pessoal, perder uma eleição não tem problema


nenhum. Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição
fraudada! Olha o Fachin. Os cara não têm limite. Eu não vou
falar que o Fachin tá levando 30 milhões de dólares. Não vou
falar isso aí. O ... que o Barroso tá levando 30 milhões de
dólares. Não vou falar isso aí. Que o Alexandre de Moraes tá
levando 50 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Não vou
levar pra esse lado. Não tenho prova, pô! Mas algo esquisito
está acontecendo ( ... )

Em outro momento relevante para o contexto da


investigação, o General MÁRIO FERNANDES pede a palavra.

Ele explicita a necessidade de cobrar um prazo para que o


TSE autorize o acompanhamento das eleições pelos três
poderes. Caso não ocorra essa autorização pelo TSE, o General
propões o que ele chama de "uma alternativa se
isso não acontecer nesse prazo". Ele desenvolve seu raciocínio
no sentido de que, se nada fosse feito, já estaria na véspera das
eleições e com isso a "liberdade de ação" do governo seria bem
menor. Em seguida, ressalta a necessidade de uma "segunda
alternativa" e as consequências de uma possível ação pela força.
Em conclusão, afirma a necessidade de a ação acontecer antes
das eleições, dentro do que ele chama de "normalidade". Diz:

Então, tem que ser antes. Tem que acontecer antes. Como
nós queremos. Dentro de um estado de normalidade. Mas é
muito melhor assumir um pequeno risco de conturbar o País
pensando assim, pra que aconteça antes, do que assumir um
risco muito maior da conturbação no 'the day
after', né? Quando a fotografia lá for de quem a fraude
determinar.

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A existência do ilícito Núcleo de inteligência paralela também fica


demonstrada nessa reunião, na fala do investigado AUGUSTO HELENO, como
demonstra a Polícia Federal:

“Por fim, dentro do contexto investigativo, torna-


se relevante contextualizar a fala do General AUGUSTO
HELENO, então Ministro de Estado Chefe do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da República - GSI/PR.
Inicialmente, o General AUGUSTO HELENO afirma que
conversou com o Diretor-Adjunto da ABIN VITOR para
infiltrar agentes nas campanhas eleitorais, mas adverte do risco
de se identificarem os agentes infiltrados. Nesse momento, o
então Presidente JAIR BOLSONARO, possivelmente
verificando o risco em evidenciar os atos praticados por
servidores da ABIN, interrompe a fala do Ministro,
determinando que ele não prossiga em sua observação, e que
posteriormente "conversem em particular" sobre o que a ABIN
estaria fazendo.

(…)

O chefe do GSI/PR prossegue em sua fala e evidencia a


necessidade de os órgãos de Estado vinculados ao Governo
Federal atuarem para assegurar a vitória do então Presidente
JAIR BOLSONARO. Diz: "Não vai ter revisão do VAR.
Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das
eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se
tiver que virar a mesa é antes das eleições". Em seguida, o
então Ministro do GSI afirma de forma categórica que deveriam
agir contra determinadas instituições e pessoas. Diz: "Eu
acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar
a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter
que agir. Agir contra determinadas instituições e contra
determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro".

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A descrição da reunião de 5 de julho de 2022, nitidamente, revela o arranjo


de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se
todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e
amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as
eleições e a Justiça eleitoral, entre outras, inclusive lançadas e reiteradas contra
o então possível candidato Luiz Inácio Lula da Silva, contra o TRIBUNAL
SUPERIOR ELEITORAL, seus Ministros e contra Ministros do SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL.
A potencialização do processo de propagação de desinformação para
gerar descrédito contra o processo eleitoral brasileiro também contou com a
participação de diversos outros investigados, como o Coronel SÉRGIO
RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS, que, em diálogos mantidos com
MAURO CID, em outubro de 2022, tratou sobre identificação de fictícia fraude
no primeiro turno das eleições (fls. 50-51, 59-62):

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A investigação aponta, também, conversas de teor assemelhado que foram


travadas entre BERNARDO ROMÃO CORREA NETO e o Tenente-Coronel
HÉLIO FERREIRA LIMA, com MAURO CID, sempre no intuito de buscar
suporte às notícias fraudulentas e ampla desinformação sobre inexistentes
fraudes no pleito eleitoral para desacreditar as eleições brasileiras (fls. 52-58).
HÉLIO FERREIRA LIMA, inclusive, disponibilizou a MAURO CID
documento escrito em língua inglesa com o título "2022 FIRST ROUND
BRAZILIAN ELECTIONS VULNERABILITY ANALYSIS REPORT” e um
arquivo em formato PDF com o nome fraude nas Urnas 2022, mediante
mensagens que insinuam a existência de dois códigos-fontes das urnas
eletrônicas; tendo inclusive afirmado que havia necessidade de quebra
institucional, diante das respostas do interlocutor (MAURO CID) no sentido de
que não teria logrado êxito na identificação de vulnerabilidades do sistema
eleitoral (fls. 53-58):

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A investigação também indica que as medidas direcionadas à propagação


de desinformação e notícias fraudulentas para gerar descrédito do sistema
eleitoral contaram com a ação coordenada pelo grupo criminoso para amplo
uso de mecanismos de influência digital na profusão de ataques à Justiça
Eleitoral, mediante a utilização de suas milícias digitais.
O episódio envolvendo FERNANDO CERIMEDO, com divulgação em
uma live de notícias fraudulentas sobre uma suposta investigação sobre as
eleições brasileiras e constatação de disparidades entre a distribuição de votos
nas urnas eletrônicas mais novas e mais antigas (que implicariam anomalia
favorável ao candidato de número 13 nas urnas fabricadas antes do ano de
2020) é exemplo de tal estratégia ilícita e antidemocrática.
Nesse sentido, como aponta a autoridade policial, FERNANDO
CERIMEDO utilizou os mesmos argumentos falsos criados por hackers, citados
em conversa mantida entre MAURO CID e SÉRGIO RICARDO CAVALIERE
DE MEDEIROS, como se verifica as fls. 62 da representação.
Ressalte-se, ainda, que, na data de transmissão da citada live, TÉRCIO
ARNAUD TOMAZ encaminhou a MAURO CID um link para direcionamento a
arquivos no Google Drive em que constava a gravação da transmissão ao vivo e
versão editada (resumida) do vídeo, para facilitar a disseminação dessas
notícias fraudulentas e amplificar a ilícita desinformação (fls. 64-65).
O referido material também transitou em conversas mantidas entre
GUILHERME MARQUES ALMEIDA (Tenente-Coronel então lotado no
Comando de Operações Terrestres do Exército - COTER) e MAURO CID, em
que o primeiro chega a afirmar que a fraude estaria comprovada e “acabou para
o Lula!”, bem como se coloca a disposição para encaminhar o material
fraudulento que, segundo afirma, teria sido retirado do ar. O investigado,
ainda, comemora a criação e organização de um site que contemplaria todo o
material fraudulento, hospedado em Portugal, afirmando “nosso time é bom
demais” (fls. 67-69).
Segundo a autoridade policial, a investigação ainda sinalizou a existência
de relação do Major da reserva ÂNGELO MARTINS DENICOLI com
FERNANDO CERIMEDO, no sentido de disseminar desinformação sobre o
processo eleitoral brasileiro (fls. 70-71).

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A Polícia Federal aponta a conversa entre PAULO RENATO DE


OLIVEIRA FIGUEIREDO FILHO e MAURO CID, em que o primeiro solicita o
contato do CERIMEDO, buscado por MAURO CID, com êxito, junto a
ANGELO DENICOLI.
Além disso, publicações na rede social Twitter, realizadas pelo usuário
“Marcelo Oliveira – @Capyvara”, demonstraram, segundo a PF, “que uma pasta
no serviço de nuvem GOOGLE DRIVE, criado por FERNANDO CERIMEDO, teria
sido alimentado com arquivos de autoria do Major ANGELO MARTINS DENICOLI.
Os arquivos estariam relacionados a disseminação de informações falsas sobre as urnas
eletrônicas”, a evidenciar o elo entre o conteúdo abordado na live realizada pelo
argentino e o grupo ora investigado.
Cumpre, ao ensejo, registrar, na linha do que pontua a autoridade policial,
que, “além da relação com o militar, a análise dos dados armazenados na nuvem,
também identificou que alguns arquivos foram modificados pela pessoa de EDER
BALBINO, sócio da empresa Gaioio., que atuou na elaboração do relatório assinado
pelo Instituto voto Legal - IVL, utilizado pelo Partido Liberal para embasar uma
representação perante o Tribunal Superior Eleitoral, pedindo a anulação de votos
registrados em urnas fabricadas anteriormente ao ano de 2020” (fl. 73).
Todo o panorama exposto, segundo a Polícia Federal, aponta a ação
coordenada dos integrantes do grupo criminoso para amplificação das falsas
narrativas que construíram e replicavam acerca do sistema eleitoral brasileiro,
estando ainda devidamente comprovada a relação mantida entre FERNANDO
CERIMEDO e ANGELO MARTINS DENICOLI e EDER BALBINO, na dinâmica
de divisão de tarefas fixada para aquela finalidade.
Especificamente quanto ao investigado EDER BALBINO, cumpre destacar
as informações da autoridade policial no tocante aos serviços técnicos por ele
prestados ao Instituto Voto Legal (IVL) e ao Partido Liberal, tendo sido referido
em entrevista concedida pelo Presidente do Partido, Valdemar Costa Neto,
como o gênio de Uberlândia, que teria descoberto vulnerabilidade em urnas de
modelos mais antigos (fls. 75).
No desdobramento das medidas direcionadas a criar desinformação e
notícias fraudulentas contra o sistema eleitoral brasileiro, a autoridade policial
também aponta a gravíssima manipulação do relatório técnico das Forças
Armadas sobre o Sistema Eletrônico de Votação, coordenada pelo investigado
PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA, então Ministro da Defesa,
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postergando-se a sua divulgação em vista de não terem sido identificadas


vulnerabilidades no sistema eletrônico de votação. A divulgação de que as
Forças Armadas não teriam encontrado nenhuma vulnerabilidade nas urnas
eletrônicas, segundo os investigados, poderia impactar negativamente em seus
propósitos e diminuir a amplificação das notícias fraudulentas disseminadas
pelo grupo criminoso e atrapalhar a manutenção da mobilização em frente aos
quartéis do Exército, consideradas essenciais para o suporte da execução do
golpe de Estado.
A representação protocolada pelo Partido Liberal, no intuito de reverter o
resultado do pleito, que também é objeto de investigação por essa SUPREMA
CORTE, é igualmente trazida pela autoridade policial como medida encadeada
aos intentos golpistas representando o último ato direcionado a contestar
formalmente o resultado das eleições presidenciais.
Nesse sentido, a representação assinala (fls. 83-84):

“A cronologia dos fatos apresentados demonstra que os


investigados utilizaram, de forma coordenada, diversos meios
para disseminar informações falsas sobre o processo eleitoral
brasileiro. Conforme exposto, o material apresentando falsas
vulnerabilidades nas urnas eletrônicas produzidas antes de
2020, foi elaborado pelo grupo, inclusive com o auxílio do que
MAURO CID chamou de "nosso pessoal", se referindo a
especialistas na área de informática (inclusive hackers).
Seguindo a estratégia de difusão por multicanais, os
investigados repassaram o conteúdo para o argentino
FERNANDO CERIMEDO, que disseminou o material falso em
uma live realizada no dia 04/11/2022. O conteúdo da live foi
resumido e propagado por vários integrantes da organização,
inclusive por militares. Em seguida, visando burlar as ordens
judiciais de bloqueio, os investigados disponibilizaram o
conteúdo em servidores localizados fora do país. Identificou-se
ainda que o mesmo conteúdo também estava contido no
documento nominado "bolsonaro min defesa 06.11-
semifinal.docx", endereçado ao General Paulo Sérgio Nogueira

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de Oliveira, então Ministro da Defesa e encaminhado por


MAURO CID ao General BRAGA NETTO, por WhatsApp.

Dentro da estratégia estabelecida pelos investigados, a


última etapa foi a "Representação Eleitoral para Verificação
Extraordinária" apresentada pelo Partido Liberal no dia 22 de
novembro de2022. A representação eleitoral foi indeferida pelo
Presidente do TSE, Ministro ALEXANDRE DE MORAES, por
ser, conforme trecho da decisão, "ostensivamente
atentatório ao Estado Democrático de Direito e realizado de maneiro
inconsequente com a finalidade de incentivar movimentos criminosos
e antidemocráticos que, inclusive, com graves ameaças e violência
vem obstruindo diversos rodovias e vias públicos em
todo o Brasil". No entanto, mesmo os investigados tendo ciência
da chance remota de êxito, a estratégia adotada teve a
finalidade de servir de fundamento para a tentativa de
execução do Golpe de Estado, que estava em curso desde
novembro de 2022.

A contestação formal ao resultado das eleições por um


partido político juntamente com a disseminação da narrativa
falsa por meio de influenciadores digitais e alguns integrantes
da mídia tradicional, com forte penetração em parcela da
população ligada à direita do espectro político manteve o
discurso de uma atuação do Poder Judiciário, especialmente do
STF e do TSE, ilícita, extrapolando os limites constitucionais,
com a finalidade de impedir a reeleição do então Presidente
JAIR BOLSONARO, indicando para seus seguidores o
esgotamento dos instrumentos legais para reversão do
resultado, devendo-se adotar uma outra forma de ação mais
contundente, diante das "arbitrariedades" do Poder judiciário.”

Em paralelo, o planejamento para a efetivação do golpe de Estado e da


Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito rumava para a adoção de
medidas mais incisivas que conduzissem à ruptura institucional almejada.

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Nesse sentido, mensagens trocadas por aplicativos (WhatsApp e Una


ferramenta oficial de comunicação do Exército brasileiro) por MAURO CID com
uma série de interlocutores indicam mudança de posicionamento do então
Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO no que diz respeito ao resultado do
pleito presidencial, evidenciando-se abandonar a aceitação da derrota para
analisar a possibilidade de “virada de jogo”, como defendido por alguns
militares, empresários e integrantes de seu governo.
Dentro desse contexto, a PF aponta a relevância da nota assinada, em
11/11/2022, pelos Comandantes das três forças, o Almirante de Esquadra,
ALMIR GARNIER SANTOS, o General de Exército, MARCO ANTONIO
FREIRE GOMES e o Tenente-Brigadeiro do Ar, CARLOS DE ALMEIDA
BAPTISTA JUNIOR, reputada como importante por MAURO CID, para fins de
manutenção e intensificação das manifestações antidemocráticas, em vista do
suposto respaldo das Forças Armadas ao movimento (fl. 92).
Na sequência, iniciaram-se tratativas para realização de reuniões, que
efetivamente ocorreram, com a presença de integrantes civis do governo e
integrantes das Forças Armadas, para a finalidade de planejar e executar ações
voltadas a direcionar e financiar as manifestações que pregavam um golpe
Militar, com a finalidade de manter o então Presidente da República JAIR
MESSIAS BOLSONARO no poder (fls. 97-98), mesmo após ter perdido as
eleições democraticamente realizadas.
Em um encontro realizado em 12/11/2023 participaram presencialmente
MAURO CID, RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, HÉLIO FERREIRA LIMA e,
possivelmente por videoconferência, WALTER SOUZA BRAGA NETTO e
ANGELO MARTINS DENICOLI, tendo a autoridade policial apontado (fls. 102-
104):

“No dia 12 de novembro de 2022, antes do horário do encontro,


entre 09hs e l3hs, MAURO CID e BRAGA NETTO trocaram
mensagens relativas a uma reunião por videoconferência marcada
com o Senador HEINZE às l Shs, que contaria com a participação do
então Presidente da República JAIR BOLSONARO. BRAGA NETO
pede para MAURO CID ajustar a videoconferência e diz que não vai

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participar pois já saberia qual seria o assunto tratado. Diz: "(...) Só que
tem que acertar essa videoconferência. Pede o Calhares pra ver isso
aí. Eu não vou participar. Deixa ele com o PR, que eu já sei qual é o
assunto (...) ".

(...)

Neste mesmo dia 12/11/2022, alguns minutos após as


mensagens trocadas com BRAGA NETTO, MAURO CID encaminha
para seu outro número de WhatsApp um link de uma reunião do
Google Meet com endereço "https://meet.google.com/rdh-osac-wot":

(...)

Esse mesmo link, que MAURO CID encaminha para si mesmo,


é enviado para o contato "Denicole - 5527999694125", vinculado ao
militar da reserva ANGELO MARTINS DENICOLI, cerca de
quarenta minutos antes. O referido militar, conforme já exposto na
presente representação, integrou o grupo investigado, atuando no
núcleo responsável por disseminar informações falsas sobre o
processo eleitoral brasileiro.”

Houve, inclusive, por parte do grupo criminoso, organização de encontro


específico na tentativa de arregimentar militares com curso de FORÇAS
ESPECIAIS (FE), que, segundo a Polícia Federal, coadunados com os intentos
golpistas, dariam suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse
do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário, e do qual teriam
também participado CLEVERSON NEY MAGALHÃES (Coronel de Infantaria
lotado no COTER), assistente do Comandante do COTER ESTEVAM
THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA, unidade cuja adesão seria fundamental
pois seria a unidade militar que tem, sob sua administração, o maior
contingente de tropas do Exército (fls. 126-131).

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Tudo isso se desenrolava enquanto se avolumavam as aglomerações em


áreas militares, que eram toleradas pelas autoridades castrenses e financiadas
por empresários, como registrado pela autoridade policial (fls. 110-111):

“Neste ponto, faz-se necessário contextualizar os


elementos de prova, já formalizados nos autos, que
demonstraram a anuência de militares com manifestações
antidemocráticas em frente às instalações castrenses e o
financiamento das manifestações antidemocráticas por parte de
empresários.

No dia 16 de novembro de 2022, MAURO CID enviou um


áudio, possivelmente para o General FRIERE GOMES, pelo
aplicativo UNA, em que cita o financiamento das manifestações
em Brasília, por empresários do "Agro".

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Em outra linha de atuação, conforme os elementos


demonstrados, evidencia-se que a participação comissiva por
omissão de alguns integrantes das Forças Armadas em
dispersar manifestações próximas a unidades militares estava
inserida no planejamento traçado pelo grupo investigado de
fomentar esses atos para disseminar a narrativa de que as
eleições presidências de 2022 foram fraudadas e, desta forma,
pressionar integrantes das forças armadas no sentido de
aderirem ao Golpe de Estado no intuito de reverter o resultado
das eleições presidenciais.”

A investigação mostra os diálogos entre alguns militares supostamente


golpistas que sinalizavam a expectativa de que medidas radicais tivessem que
ser adotadas a fim de reverter o resultado do pleito, como se verifica das
conversas espelhadas entre MAURO CID com BERNARDO ROMÃO CORREA
NETO e SÉRGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS, emergindo,
inclusive, a tática de investir contra militares não alinhados às iniciativas de
golpe, também por meio de disseminação de notícias falsas, tudo com o objetivo
de incitar os integrantes do meio militar a se voltarem contra os comandantes
que se posicionam contra o intento criminoso (fls. 115-141).

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PAULO RENATO DE OLIVEIRA FIGUEIREDO, economista e então


integrante de programas de rádio e TV pela emissora Jovem Pan atuou nesse
contexto de propagação de desinformação golpista e antidemocrática (fls.
132/138):

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A Polícia Federal aponta, também, que essa iniciativa era de conhecimento


de MAURO CID e BERNARDO ROMÃO CORREA NETO, a evidenciar que se
tratava de mais uma medida no encadeamento de providência com o fim
último de alcançar a ruptura institucional, como se observa da dinâmica de
diálogos acima retratada.
Entres esses dois investigados circulou a já citada "CARTA AO
COMANDANTE DO EXÉRCITO DE OFICIAIS SUPERIORES DA ATIVA DO
EXÉRCITO BRASILEIRO", que consubstanciaria manifesto de oficiais
superiores com clara ameaça de atuação armada (fls. 137-138), mais uma vez
reiterando-se o propósito que orientava o grupo reversão da ordem jurídico-
constitucional.
Cabe ressaltar que o conteúdo do documento foi disponibilizado a
PAULO RENATO DE OLIVEIRA FIGUEIREDO, na dinâmica de coordenação
de atividades que norteava a atuação do grupo, o qual o publicizou em post no
Twitter de 29/11/2022 e no programa Pânico da emissora Jovem Pan, conforme
imagens acima lançadas.
Em uma linha de atuação paralela da organização criminosa, a PF aponta
que foi apresentada, por FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA e AMAURI
FERES SAAD, ao então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO:

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“a minuta de um Decreto, que detalhava diversos


"considerandos" (fundamentos dos atos a serem
implementados) quanto a supostas interferências do Poder
Judiciário no Poder Executivo e ao final decretava a prisão de
diversas autoridades, dentre as quais os ministros do Supremo
Tribunal Federal, ALEXANDRE DE MORAES e GILMAR
MENDES, além do Presidente do Senado RODRIGO
PACHECO. O Referido documento também decretava a
realização de novas eleições devido a supostas fraudes no
pleito. De acordo com o colaborador, prosseguindo nos atos, o
então Presidente da República teria determinado alguns ajustes
na minuta do Decreto, permanecendo "apenas" a determinação
de prisão do Ministro ALEXANDRE DE MORAES e a
realização de novas eleições presidenciais”.

Em verdade, desde novembro, as investigações demonstram que já


circulavam entre MAURO CID, SÉRGIO RICARDO CAVALIERE DE
MEDEIROS e RONALD FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR documentos
eventualmente relacionados com medidas mais drásticas, como o "Anexo B -
LEVANTAMENTO DE AÇÕES DO TSE EM DESFAVOR DO CANDIDATO
JAIR BOLSONARO" e "Anexo A - LEVANTAMENTO DE AÇÕES DO STF EM
DEFAVOR DO GOVERNO FEDERAL", possível complemento da minuta de
decretação do estado de exceção, para reverter a ordem jurídica do país (fls.
125-126):

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A análise e as discussões sobre o documento mais robusto apresentado


por FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA teriam suscitado a convocação de
uma série de reuniões pelo então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO,
inclusive para tratativas com militares de alta patente sobre a instalação de um
regime de exceção constitucional.

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Da reunião ocorrida no dia 19/11/2022, participaram FILIPE GARCIA


MARTINS PEREIRA e AMAURI FERES SAAD, além do padre JOSÉ
EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA, como indicam os controles de entrada e
saída do Palácio do Planalto (fls. 146). Como apontado pela autoridade policial,
“JOSÉ EDUARDO possui um site com seu nome (www.padrejoseeduardo.com.br) no
qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigados em
inquéritos correlacionados a produção e divulgação de notícias falsas (lnq.4.781 /STF)”.
No encontro realizado no Palácio do Planalto, em 07/12/2022, a
representação da PF indica a participação de FILIPE GARCIA MARTINS
PEREIRA, AMAURI FERES SAAD, PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE
OLIVERA, MAURO CID, ALMIR GARNIER SANTOS E FREIRE GOMES,
conforme controle de entradas e saídas do Palácio do Planalto colacionado à fls.
151 e histórico de ERBs do terminal telefônico utilizado por Amauri Feres Saad.
Mensagens encaminhadas por MAURO CID para o General FREIRE
GOMES sinalizam que o então Presidente JAIR MESSSIAS BOLSONARO
estava redigindo e ajustando o Decreto e já buscando o respaldo do General
ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (há registros de que este
último esteve no Palácio do Planalto em 9/12/2022, fls. 169), tudo a demonstrar
que atos executórios para um golpe de Estado estavam em andamento (fls. 150-
169):

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Ressalte-se que, em janeiro de 2023, após busca e apreensão realizada no


domicílio de ANDERSON GUSTAVO TORRES, a apreensão de uma minuta de
golpe de Estado acarretou intensa comunicação entre parte dos investigados em
tom de preocupação, contexto que ratifica o conhecimento deles sobre a
existência e o conteúdo do documento (fls. 202-213):

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Diálogos mantidos entre MAURO CID e BERNARDO ROMÃO CORREA


NETO apontam que o General ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE
OLIVEIRA teria concordado em executar as medidas que culminariam na
consumação do golpe de Estado, desde que o então Presidente JAIR MESSIAS
BOLSONARO assinasse o decreto que vinha sendo debatido e ajustado, embora
não se contasse com a adesão do General FREIRE GOMES.
Importante salientar, novamente, que, em meio planejamento operacional
que se direcionava à concretização do golpe, um sistema de inteligência
paralela funcionava, inclusive para o fim de monitorar diversas autoridades,
inclusive esse relator, cuja prisão seria decretada, como já abordado em tópico
prévio desta decisão.
A representação ainda se reporta a outros militares que também teriam
encampado o ideal golpista, como se denota de mensagens trocadas entre os
investigados LAÉRCIO VIRGÍLIO (General-de-Brigada reformado) e AILTON
GONÇALVES MORAES BARROS (fls. 176-178), destacando-se que a

“cronologia dos atos a serem praticados, descritos pelo


GENERAL VIRGÍLIO se coaduna com os elementos de provas
colhidos, demonstrando que os investigados estavam
executando atos para consumar um Golpe de Estado no Brasil,
no sentido de manter JAIR BOLSONARO no poder”.

Nesse sentido, a autoridade policia narra que, no planejamento


operacional descrito pelo General VIRGÍLIO, a prisão desse relator seria
executada no dia 18/ 12/ 2022, em sua residência em São Paulo.
Conforme exposto anteriormente, no dia 15/12/2022, MAURO CID e
MARCELO CAMARA trocaram mensagens buscando saber o itinerário e
localização desse relator. Na mensagem reencaminhada por MARCELO
CAMARA, os investigados confirmam que o Ministro viajou para São Paulo no
dia 16/12/2022 e que retornaria para Brasília apenas no dia 19/12/2022 (segunda-
feira), voltando no mesmo dia para São Paulo. Ou seja, o General VIRGÍLIO
sabia que o Ministro estaria em sua residência em São Paulo no dia 18/12/2022,

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para o cumprimento de uma eventual ordem ilegal de prisão, em decorrência


de golpe de Estado (fls. 180-183).

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A autoridade policial, concluindo pelo efetivo andamento de tentativa de


um Golpe de Estado, indica que:

“Conforme descrito no RAPJ nº 1318017 /2023, o referido


áudio foi encaminhado para AILTON GONÇALVES BARROS,
possivelmente pelo General VIRGILIO. Em resposta,
demonstrando sua relação próxima com militares de alta
patente, envolvidos na tentativa de Golpe de Estado, AILTON
BARROS encaminha uma mensagem de áudio criticando o "alto
comando" das Forças Armadas, especialmente o então
Comandante do Exército, General FREIRE GOMES, pelo fato de
estar "está dificultando a vida do PR" ao "se colocar
contra". Nesse sentido, mais uma vez, a investigação identifica
um elemento informativo ratificando que os investigados
tentaram executar um Golpe de Estado, para manter o então
Presidente JAIR BOLSONARO no poder, que não se consumou
por circunstâncias alheias a suas vontades (fls.186-187)”.

Ainda se deve referir que imagens (prints) de conversas do aplicativo


WhatsApp, extraídas do telefone celular de AILTON BARROS, evidenciaram a
participação e adesão do investigado WALTER SOUZA BRAGA NETTO na
tentativa de golpe de Estado, com forte atuação inclusive nas providências
voltadas à incitação contra os membros das Forças Armadas que não estavam
coadunadas aos intentos golpistas, por respeitarem a Constituição Federal (fls.
191-195):

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O investigado WALTER SOUZA BRAGA NETTO, inclusive, chegou a


encaminhar para AILTON GONÇALVES MORAES BARROS mensagem que
teria recebido de um " FE" (Forças Especiais), com a seguinte afirmação:"Meu
amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e
acontecerá e do Gen FREIRE GOMES. Omissão e indecisão não cabem a um
combatente".
Em resposta, AILTON BARROS sugere continuar a pressionar o General
FREIRE GOMES e caso insistisse em não aderir ao golpe de Estado afirmou
"vamos oferecer a cabeça dele aos leões".
O investigado BRAGA NETTO concorda e dá a ordem: "Oferece a cabeça
dele. Cagão".
Ainda no contexto do referido diálogo, o investigado BRAGA NETTO
encaminha uma mensagem de texto, seguida de uma imagem (cortada), que
teria relação com a residência do General FREIRE GOMES. Diz: "Em frente à
residência do general Freire Gomes agora”, como evidenciam imagens acima
colacionadas.
Em relação ao investigado WALTER SOUZA BRAGA NETTO, reitera-se
que a representação da Polícia Federal indica, também, que a sua atuação não se
restringiu em determinar ataques ao General FREIRE GOMES.
Ainda no 15/12/2022, o investigado WALTER SOUZA BRAGA NETTO
enviou mensagem para AILTON GONÇALVES MORAES BARROS,
orientando-o a atacar o Tenente-Brigadeiro BAPTISTA JÚNIOR, a quem
adjetivou de "Traidor da pátria", e elogiar o Almirante-de-Esquadra ALMIR
GARNIER SANTOS.
As referidas mensagens vão ao encontro, conforme aponta a Polícia
Federal, dos fatos descritos pelo colaborador MAURO CID, que confirmou que
o então Comandante da Marinha, o Almirante ALMIR GARNIER, em reunião
com o então Presidente JAIR BOLSONARO, anuiu com o Golpe de Estado,
colocando suas tropas à disposição do Presidente, tudo de acordo com as
imagens acima lançadas (fls. 190-191).
Por fim, a autoridade policial traz elementos indicativos da real
expectativa que permeava o grupo quanto à permanência no poder,
discorrendo ainda sobre a relação entre os todos os cinco eixos de atuação da
organização criminosa que, embora ostentem finalidades específicas, foram
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utilizados como suporte para verdadeira execução de um golpe de Estado no


Brasil.
A PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA, analisando o material
probatório trazido pela representação da Polícia Federal, manifestou-se pelo
DEFERIMENTO de todas as medidas cautelares pleiteadas, apontando que:

“Sopesando os pressupostos das cautelares de natureza


pessoal, neste momento, a decretação de medidas alternativas
contra os demais investigados são suficientes para o avanço das
investigações, não havendo indícios concretos de que medida
mais gravosa seja necessária, adequada e proporcional (art. 319
do Código de Processo Penal). A manifestação é pelo
deferimento das medidas cautelares, nos moldes da
representação.”

III.1) PROIBIÇÃO DE MANTER CONTATO COM OS DEMAIS


INVESTIGADOS, INCLUSIVE ATRAVÉS DE ADVOGADOS.

A medida cautelar de PROIBIÇÃO DE MANTER CONTATO COM OS


DEMAIS INVESTIGADOS, INCLUSIVE ATRAVÉS DE ADVOGADOS é
requerida pela autoridade policial quanto aos seguintes investigados: AILTON
GONÇALVES MORAES BARROS (CPF: 769.493.037-34), ALMIR GARNIER
SANTOS (CPF: 551.692.017-53), AMAURI FERES SAAD (CPF: 215.760.038-84),
ANDERSON GUSTAVO TORRES (CPF: 782.914.021 -91), ANGELO MARTINS
DENICOLI (CPF: 008.476.877-08), AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA
(CPF: 178.246.307-06), CLEVERSON NEY MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53),
EDER LINDSAY MAGALHÃES BALBINO (CPF: 050.211.716-82), ESTEVAM
THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (CPF: 654.393.767-04), GUILHERME
MARQUES ALMEIDA (CPF: 931.501.640-87), HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF:
052.840.557-80), JAIR MESSIAS BOLSONARO ( CPF: 453.178.287-91), JOSE
EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA (CPF: 285.002.138-50), LAÉRCIO
VERGÍLIO (CPF: 415.834.347-04), MARIO FERNANDES (CPF: 808.839.907-68),
PAULO RENATO DE OLIVEIRA FIGUEIREDO FILHO ( CPF: 103.686.187-22),
PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA (CPF: 499.130.507-15), RONALD
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FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF: 052.809.127-19), SERGIO RICARDO


CAVALIERE DE MEDEIROS (CPF: 614.358.562-87), TÉRCIO ARNAUD
TOMAZ (CPF: 015.235.994-05); WALTER SOUZA BRAGA NETTO (CPF:
500.217.537-68).
Nos termos do art. 282 do Código de Processo Penal, as medidas
cautelares previstas deverão ser aplicadas observando-se a necessidade para
aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos
expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais e a adequação
da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do
indiciado ou acusado.
A medida cautelar diversa da prisão disposta no artigo 319, III, do CPP
está justificada no caso, uma vez que, como ressalta a autoridade policial, para
consecução da finalidade pretendida, os investigados utilizaram de ações
coordenadas que exigiam prévio alinhamento de narrativas. Nesse sentido, a
cautelar de proibição de manter contato com os demais investigados é medida
que se faz necessária para resguardar a investigação, evitando-se a combinação
de versões, além de inibir possíveis influências indevidas no ânimo de
testemunhas e de outras pessoas que possam colaborar com o esclarecimento
dos fatos (fls. 231-232).
De fato, a representação policial, devidamente amparada por robustos
elementos de informação, indica o funcionamento de um grupo criminoso que,
de forma coordenada e estruturada, atuava nitidamente para viabilizar e
concretizar a decretação de medidas de ruptura institucional.
A Polícia Federal aponta provas robustas de que os investigados para os
quais a medida cautelar é requerida concorreram para o processo de
planejamento e execução de um golpe de Estado, que não se consumou por
circunstâncias alheias às suas vontades.
A medida cautelar de proibição de manter contato com os demais
investigados, inclusive por meio de seus advogados, é necessária para garantia
da regular colheita de provas durante a investigação, sem que haja interferência
no processo investigativo por parte dos mencionados investigados, como já
determinei em inúmeras investigações semelhantes (Pet 11008/DF, decisão
monocrática de 17/8/2023; AP 1.086, DJe 10/8/2023; AP 1.120, DJe 9/8/2023, AP
1.380, DJe 28/8/2023; AP 1.428, DJe 28/8/2023; e AP 1.505, DJe 9/8/2023).

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III.2) PROIBIÇÃO DE SE AUSENTAR DO PAÍS, COM


DETERMINAÇÃO DE ENTREGA DE TODOS OS PASSAPORTES
(NACIONAIS E ESTRANGEIROS), NO PRAZO DE 24 (VINTE E QUATRO)
HORAS.

A medida de PROIBIÇÃO DE SE AUSENTAR DO PAÍS, COM


DETERMINAÇÃO DE ENTREGA DE TODOS OS PASSAPORTES
(NACIONAIS E ESTRANGEIROS), NO PRAZO DE 24 (VINTE E QUATRO)
HORAS é requerida pela autoridade policial quanto aos seguintes investigados:
AILTON GONÇALVES MORAES BARROS (CPF: 769.493.037-34), ALMIR
GARNIER SANTOS (CPF: 551.692.017-53), AMAURI FERES SAAD (CPF:
215.760.038-84), ANDERSON GUSTAVO TORRES (CPF: 782.914.021 -91),
ANGELO MARTINS DENICOLI (CPF: 008.476.877-08), AUGUSTO HELENO
RIBEIRO PEREIRA (CPF: 178.246.307-06), CLEVERSON NEY MAGALHÃES
(CPF: 524.050.441-53), EDER LINDSAY MAGALHÃES BALBINO (CPF:
050.211.716-82), ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (CPF:
654.393.767-04), GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF: 931.501.640-87),
HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF: 052.840.557-80), JAIR MESSIAS
BOLSONARO ( CPF: 453.178.287-91), JOSE EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA
(CPF: 285.002.138-50), LAÉRCIO VERGÍLIO (CPF: 415.834.347-04), MARIO
FERNANDES (CPF: 808.839.907-68), PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE
OLIVEIRA (CPF: 499.130.507-15), RONALD FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR
(CPF: 052.809.127-19), SERGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS (CPF:
614.358.562-87), TÉRCIO ARNAUD TOMAZ (CPF: 015.235.994-05); WALTER
SOUZA BRAGA NETTO (CPF: 500.217.537-68).
Aqui também se verifica pertinência no pedido da medida cautelar
diversa da prisão, justificada no caso, pois como sustenta a autoridade policial
(fl. 232):

“(…) frustrada a consumação do Golpe de Estado por


circunstâncias alheias a vontade dos agentes, identificou-se que
diversos investigados passaram a sair do país, sob as mais
variadas justificativas (férias ou descanso) como no caso do ex-

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presidente JAIR BOLSONARO e do ex-ministro da justiça


ANDERSON TORRES. Outros investigados viajaram para
missões no exterior, como é o caso do Coronel do Exército
BERNARDO ROMÃO CORREIA NETO, designado em
30.12.2022 para missão em Washington, D.C. até junho de 2025.
Alguns investigados não mais regressaram ao Brasil desde
então, como é o caso do ex-assessor para assuntos
internacionais FILIPE GARCIA MARTINS, que viajou a bordo
do avião presencial em 30.12.2022 com destino a cidade de
Orlando/EUA sem realizar o procedimento de saída com o
passaporte em território nacional, não havendo até o presente
momento registro de retorno. A burla ao sistema migratório
caracteriza elemento essencial para auferir o dolo do
investigado em se furtar a aplicação da lei penal. No mesmo
sentido, a maioria dos demais investigados, por ostentarem a
condição de agentes públicos do alto escalão governamental,
são detentores de recursos financeiros e prerrogativas
institucionais (passaportes oficiais) que facilitariam eventual
saída do país em caso de condenação criminal.”

O desenrolar dos fato já demonstrou a possibilidade de tentativa de


evasão dos investigados, intento que pode ser reforçado a partir da ciência do
aprofundamento das investigações que vêm sendo realizadas, impondo-se a
decretação da medida quanto aos investigados referidos, notadamente para
resguardar a aplicação da lei penal.

III.3) SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO PÚBLICA.

A medida é requerida pela autoridade policial quanto aos seguintes


investigados: CLEVERSON NEY MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53),
ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (CPF: 654.393.767-04),
GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF: 931.501.640-87), HÉLIO FERREIRA
LIMA (CPF: 052.840.557-80), MARIO FERNANDES (CPF: 808.839.907-68),
RONALD FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF: 052.809.127-19), SERGIO
RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS (CPF: 614.358.562-87).
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Quanto ao ponto, a autoridade policial fundamenta no seguinte sentido


(fls. 233-234):

“Os elementos probatórios reunidos ao longo da


investigação evidenciaram que os investigados se utilizaram
diretamente dos cargos públicos que exerciam tanto em ações
relacionadas a tentativa de execução do Golpe de Estado,
quanto para eximir possível responsabilidade criminal pelos
atos até então já realizados. É o caso do General ESTEVAM
THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA, atual comandante do
Comando de Operações Terrestres (COTER) do Exército
Brasileiro e responsável pelo emprego do Comando de
Operações Especiais (COpESP). No dia 09.12.2022, ESTEVAM
THEOPHILO se reuniu com o então Presidente JAIR
BOLSONARO no Palácio do Alvorada e de acordo com os
diálogos encontrados no celular de MAURO CID, teria
consentido com a adesão ao Golpe de Estado desde o que
presidente assinasse a medida. Nesse sentido, além de ser o
responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida
de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já
reunidos apontam que caberiam as Forças Especiais do Exército
(os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão do
Ministro do Supremo Tribunal Federal ALEXANDRE DE
MORAES assim que o decreto presidencial fosse assinado. No
dia 02.01 .2023, já efetuada a transição de governo, MAURO
CID encaminha ao GENERAL THEOPHILO notícia jornalística
com a informação de que poderia ser preso nas primeiras
semanas do ano, recebendo como resposta do General: ''Fique
tranquilo Cid. Vou conversar com o Arruda hoje. Nada lhe
acontecerá. O teor do diálogo aponta que o nome Arruda seria
do então comandante do Exército, General JÚLIO CESAR DE
ARRUDA, exonerado em 21.01.2023 após rumores de leniência
com militares que participaram dos atos golpistas de 08.01.2023
e por se recusar a cancelar a designação de MAURO CID ao
comando do 1º Batalhão de Ações de Comandos, justamente o
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setor do exército que seria encarregado de cumprir semanas


antes a prisão do Ministro ALEXANDRE DE MORAES.

Os elementos indiciários apresentados apontam, portanto,


que os investigados buscaram espécie de " blindagem
institucional" a partir da manutenção de postos que lhe eram
estratégicos, mesmo após o início do novo governo, quais
sejam: o controle da força operacional militar e a garantia de
superiores hierárquicos que supostamente exerceriam o poder
do cargo para afastar medidas de responsabilização criminal
que pudessem advir das condutas praticadas pela organização
criminosa.

É neste sentido que a medida cautelar de suspensão do


exercício da função pública se faz necessária para evitar que os
investigados que ainda estejam no exercício do cargo atuem
deliberadamente para evitar que novos elementos indiciários
sejam descobertos pela investigação ou realizem atos de gestão
capazes de influenciar partícipes ou testemunhas, utilizando-se
para tanto o exercício do poder hierárquico/disciplinar.”

De fato, da análise da dinâmica empregada pelo grupo, observa-se que o


uso das funções/posições de investigados para a consecução do propósito
golpista foi elemento essencial na atuação criminosa. Além disso, o mesmo uso
desvirtuado se verifica na tentativa de se eximirem de eventual
responsabilização.
Assim, é razoável que, para fins de resguardo da própria investigação,
tendo em conta que a manutenção do agente público no respectivo cargo
poderia dificultar a colheita de provas e obstruir a instrução criminal, direta ou
indiretamente, por meio da destruição de provas e de intimidação a outros
servidores públicos, seja determinada a suspensão do exercício da função
pública. Reforça tal necessidade a possibilidade de influência que decorre das
posições de relevo ainda ocupadas por alguns dos investigados.

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O afastamento do exercício das funções do cargo se trata, portanto, de


medida razoável, adequada e proporcional para garantia da ordem pública,
sendo, igualmente, necessária para a investigação criminal, evitando qualquer
possibilidade de continuidade de eventuais práticas criminosas (HC 157.972
AgR/DF, Rel. Min. GILMAR MENDES, Relator(a) p/ Acórdão Min. NUNES
MARQUES, Segunda Turma, julgado em 8/4/2021; HC 191.068 AgR/RJ, Rel.
Min. GILMAR MENDES, Relator(a) p/ Acórdão Min. NUNES MARQUES,
Segunda Turma, julgado em 8/4/2021; HC 169.087/SP, Rel. Min. MARCO
AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 4/5/2020; HC 158.927/GO, Rel. Min.
MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão Min. ALEXANDRE DE MORAES,
Primeira Turma, julgado em 26/3/2019; RHC 191949 AgR/SP, Relator(a):
ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 23/11/2020).

IV) MEDIDA DE BUSCA E APREENSÃO.

A medida de BUSCA E APREENSÃO é requerida pela autoridade policial


quanto aos seguintes investigados: AILTON GONÇALVES MORAES BARROS
(CPF: 769.493.037-34), ALMIR GARNIER SANTOS (CPF: 551.692.017-53),
AMAURI FERES SAAD (CPF: 215.760.038-84), ANDERSON GUSTAVO
TORRES (CPF: 782.914.021 -91), ANGELO MARTINS DENICOLI (CPF:
008.476.877-08), AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA (CPF: 178.246.307-06),
BERNARDO ROMÃO CORREA NETO (CPF: 023.670.127-41), CLEVERSON
NEY MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53), EDER LINDSAY MAGALHÃES
BALBINO (CPF: 050.211.716-82), ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE
OLIVEIRA (CPF: 654.393.767-04), FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA (CPF:
374.234.568-02); GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF: 931.501.640-87),
HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF: 052.840.557-80), JOSE EDUARDO DE
OLIVEIRA E SILVA (CPF: 285.002.138-50), LAÉRCIO VERGÍLIO (CPF:
415.834.347-04), MARCELO COSTA CAMARA (CPF: 007.443.707-01), MARIO
FERNANDES (CPF: 808.839.907-68), PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE
OLIVEIRA (CPF: 499.130.507-15), RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA (CPF:
079.879.987-02), RONALD FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF: 052.809.127-

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19), SERGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS (CPF: 614.358.562-87),


TÉRCIO ARNAUD TOMAZ (CPF: 015.235.994-05); WALTER SOUZA BRAGA
NETTO (CPF: 500.217.537-68).
A inviolabilidade domiciliar constitui uma das mais antigas e importantes
garantias individuais de uma Sociedade civilizada, pois engloba a tutela da
intimidade, da vida privada, da honra, bem como a proteção individual e
familiar do sossego e tranquilidade, inclusive do local onde se exerce a
profissão ou a atividade, desde que constitua ambiente fechado ou de acesso
restrito ao público (HC nº 82.788/RJ, 2ª T, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Esse
fundamental direito, porém, não se reveste de caráter absoluto (RHC 117159, 1ª
T, Rel. Min. LUIZ FUX) e não deve ser transformado em garantia de
impunidade de crimes, que, eventualmente, em seu interior se pratiquem ou
que possibilitem o armazenamento de dados probatórios necessários para a
investigação (RT 74/88, 84/302); podendo ser, excepcionalmente, afastado
durante a persecução penal do Estado, desde que presentes as hipóteses
constitucionais e os requisitos legais (RE 603.616/RO, Repercussão Geral, Pleno,
Rel. Min. GILMAR MENDES; HC 93.050-6/RJ, 2ª T, Rel. Min. CELSO DE
MELLO; HC 97567, 2ª T, Rel. Min. ELLEN GRACIE).
No caso, segundo a autoridade policial (fls. 230-231):

“O objetivo da busca e apreensão domiciliar e pessoal,


como instrumento de meio de obtenção de prova, é obter
informações aptas a fomentar a compreensão do fato em sua
inteireza. Essa elucidação só será possível com o avanço da
apuração e com a realização de ações céleres, adequadas e
proporcionais, direcionadas à busca e apreensão de elementos
informativos hábeis a individualizar a conduta de todos os
investigados, a identificação da possível participação de outras
pessoas que aderiram, de forme livre e consciente, às práticas
criminosas ora investigadas, além de esclarecer os vínculos
subjetivos. Ademais, as medidas cautelares de busca e
apreensão propostas permitirão colher novos elementos
relacionados às situações táticas relacionadas a tentativa pelo
grupo investigado de subversão do regime democrático, por
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meio de um Golpe Militar, restringindo a atuação do poder


judiciário (STF e TSE), com o objetivo de impedir a posse do
governo legitimamente eleito e a manutenção do então
Presidente JAIR BOLSONARO no poder.

Nesse sentido, de acordo com os fatos expostos na


presente representação, não há outra medida investigativa
menos invasiva que proporcione desvendar os detalhes das
atividades ilícitas, delimitar as condutas individuais e
identificar possíveis partícipes, representando a medida
cautelar razoável e proporcional diante da materialidade e
indícios de autoria revelados, tornando-se imprescindível e
urgente o ingresso em local de domínio, além de cumprimento
de busca pessoal (…), para buscar documentos, mídias ou
quaisquer outros elementos informativos que permitam
esclarecer todo o esquema criminoso ora investigado.”

A representação contempla vasto relato de complexa e coordenada


atuação de organização criminosa, direcionada a propósito que inviabilizaria a
manutenção do arranjo político do país, por meio da adoção de medidas que
estipulavam estratégias de subversão da ordem jurídico-constitucional e adoção
de medidas extremas que culminaram na decretação de um Golpe de Estado,
tudo a fim de assegurar a permanência no poder do então Presidente JAIR
MESSIAS BOLSONARO.
A concorrência de todos os investigados em comento, em maior ou menor
medida, para o intento golpista e, consequentemente, criminoso pode ser
inferida a partir dos elementos informativos que guarnecem a representação
policial e foram anteriormente expostos.
A delimitação exata da atuação dos integrantes do grupo pode e deve ser
aperfeiçoada a partir da obtenção de outros elementos de prova que podem
advir justamente da realização da busca. Além disso, do cumprimento da
medida podem emergir informações que indiquem a atuação de outros
indivíduos na dinâmica delituosa, viabilizando-se a investigação e
responsabilização também quanto a tais agentes.

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PET 12100 / DF

Estão presentes os requisitos do art. 240 do Código de Processo Penal,


necessários ao deferimento de ordem judicial de busca e apreensão nos
endereços dos investigados, pois devidamente motivada em fundadas razões
que, alicerçadas em indícios de autoria e materialidade criminosas, sinalizam a
necessidade da medida para colher elementos de prova relacionados à prática
de infrações penais em relação aos investigados.
Nesse sentido, manifestou-se a PROCURADORIA-GERAL DA
REPÚBLICA (fls. 515-525):

“Na espécie, tanto a busca e apreensão domiciliar quanto a


busca pessoal atendem à necessidade, à adequação e à
proporcionalidade em sentido estrito, na medida que a
completa apuração das condutas perpetradas por cada um dos
investigados, a identificação da possível participação de outras
pessoas e o esclarecimento do vínculo subjetivo que as tenham
unido somente serão possíveis com a sua decretação,
inexistindo meios menos onerosos capazes de permitir o avanço
das investigações.

As medidas requeridas encontram-se fundamentadas na


existência de materialidade delitiva e nos indícios de autoria
apontados pela autoridade policial, revelando-se
imprescindível e urgente o ingresso em local de domínio, além
da busca pessoal, contra os investigados elencados na
representação, com a finalidade de se obter documentos, mídias
e quaisquer outros elementos informativos que permitam
esclarecer o esquema criminoso.”

Efetivamente, a solicitação está circunscrita às pessoas físicas vinculadas


aos fatos investigados e os locais da busca serão devidamente levantados,
confirmados e informados pela Polícia Federal, no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas, limitando-se aos endereços pertinentes.

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As medidas de busca e apreensão pessoal e residencial são


imprescindíveis para as investigações, pois necessárias para evitar o
desaparecimento das provas dos supostos crimes e possibilitar o esclarecimento
dos fatos.
Nesse cenário, reitero, tenho por atendidos os pressupostos necessários ao
afastamento da garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio, bem
como em relação a busca pessoal, encontrando-se justificada a ação invasiva na
procura de outras provas das condutas ora postas sob suspeita.

V) DISPOSITIVO

Diante de todo o exposto, com fundamento no art. 312 do Código de


Processo Penal, DECRETO:

(1) A PRISÃO PREVENTIVA de BERNARDO ROMÃO


CORREA NETO (CPF: 023.670.127-41), RAFAEL MARTINS DE
OLIVEIRA (CPF: 079.879.987-02), FILIPE GARCIA MARTINS
PEREIRA (CPF: 374.234.568-02), MARCELO COSTA CAMARA
(CPF: 007.443.707-01);

(2) A BUSCA E APREENSÃO de armas, munições,


computadores, tablets, celulares e outros dispositivos
eletrônicos, bem como de quaisquer outros materiais
relacionados aos fatos aqui descritos, nos endereços fornecidos
pela Polícia Federal, em poder de:

AILTON GONÇALVES MORAES BARROS (CPF:


769.493.037-34), ALMIR GARNIER SANTOS (CPF: 551.692.017-
53), AMAURI FERES SAAD (CPF: 215.760.038-84),
ANDERSON GUSTAVO TORRES (CPF: 782.914.021 -91),
ANGELO MARTINS DENICOLI (CPF: 008.476.877-08),
AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA (CPF: 178.246.307-06),

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BERNARDO ROMÃO CORREA NETO (CPF: 023.670.127-41),


CLEVERSON NEY MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53), EDER
LINDSAY MAGALHÃES BALBINO (CPF: 050.211.716-82),
ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (CPF:
654.393.767-04), FILIPE GARCIA MARTINS PEREIRA (CPF:
374.234.568-02), GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF:
931.501.640-87), HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF: 052.840.557-80),
JOSE EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA (CPF: 285.002.138-
50), LAÉRCIO VERGÍLIO (CPF: 415.834.347-04), MARCELO
COSTA CAMARA (CPF: 007.443.707-01), MARIO
FERNANDES (CPF: 808.839.907-68), PAULO SÉRGIO
NOGUEIRA DE OLIVEIRA (CPF: 499.130.507-15), RAFAEL
MARTINS DE OLIVEIRA (CPF: 079.879.987-02), RONALD
FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF: 052.809.127-19),
SERGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS (CPF:
614.358.562-87), TÉRCIO ARNAUD TOMAZ (CPF: 015.235.994-
05), WALTER SOUZA BRAGA NETTO (CPF: 500.217.537-68).

AUTORIZO, desde logo, a adoção das seguintes


medidas pela autoridade policial:

(2.1) Prosseguir nas medidas de busca e apreensão em


endereços contíguos (para o que deve adotar todas as medidas
necessárias a verificar a existência de eventuais cômodos
secretos ou salas reservadas em quaisquer dos endereços
diligenciados), bem assim determinação para que lhe
franqueiem acesso, cópias ou apreensão dos registros de
controle de ingresso nos endereços relacionados, caso existam;

(2.2) Medidas de busca e apreensão em veículos


automotores eventualmente encontrados no endereço e nos
armários de garagem, quando as circunstâncias fáticas
indicarem que o(a) investigado(a) faz uso de tais veículos, ainda
que não estejam registrados em seu nome;

(2.3) Medidas de busca e apreensão de veículos e outros


bens de elevado valor que vierem a ser encontrados em poder
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dos investigados no momento do cumprimento dos mandados,


bem como valores superiores a R$ 10.000,00 e joias, pedras ou
metais preciosos e itens de luxo encontrados em quantidades
relevantes;

(2.4) Acesso e a análise do conteúdo (dados, arquivos


eletrônicos, mensagens eletrônicas e e-mails) armazenado em
eventuais computadores, servidores, redes, inclusive serviços
digitais de armazenamento em nuvem, ou em dispositivos
eletrônicos de qualquer natureza, por meio de quaisquer
serviços utilizados, incluindo aparelhos de telefonia celular que
forem encontrados, bem assim para a apreensão, se necessário
for, dos dispositivos de bancos de dados, DVDs, CDs ou discos
rígidos;

(2.5) Acesso e a análise do conteúdo dos computadores e


demais dispositivos no local das buscas e de arquivos
eletrônicos apreendidos, mesmo relativo a comunicações
eventualmente registradas, inclusive dados armazenados em
nuvem, registrando-se e preservando-se o código hash dos
arquivos eletrônicos;

(2.6) Arrolamento, a avaliação e a custódia, em ambiente


seguro, do dinheiro em espécie e dos bens de elevado valor
econômico apreendidos.

(3) A BUSCA E APREENSÃO PESSOAL em desfavor dos


representados acima indicados, inclusive, para que, caso não se
encontrem nos locais da realização das buscas, proceda-se à
apreensão de armas, munições, documentos, objetos e
dispositivos eletrônicos de que tenham a posse, bem como a
busca em quartos de hotéis, motéis e outras hospedagens
temporárias onde os investigados tenham se instalado, caso
estejam ausentes de suas residências.

AUTORIZO, desde logo, a adoção das seguintes


medidas pela autoridade policial:

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(3.1) busca pessoal e a apreensão de materiais em veículos


automotores, caso o investigado esteja em deslocamento;

(3.2) realização de busca pessoal em desfavor de quaisquer


pessoas sobre as quais, presentes no recinto no momento do
cumprimento da ordem judicial, recaia suspeita de que estejam
na posse de armas proibidas, objetos ou papéis que interessem
à investigação (art. 240, § 2º, do Código de Processo Penal), bem
como para o uso da força estritamente necessária para romper
eventual obstáculo à execução dos mandados, inclusive o
arrombamento de portas e cofres eventualmente existentes no
endereço, caso o(a) investigado(a) não esteja no local ou se
recuse a abri-los;

(3.3) autorização para o acesso e a análise do conteúdo


(dados, arquivos eletrônicos, mensagens eletrônicas e e-mails)
armazenado em eventuais computadores, servidores, redes,
inclusive serviços digitais de armazenamento em nuvem, ou em
dispositivos eletrônicos de qualquer natureza, por meio de
quaisquer serviços utilizados, incluindo aparelhos de telefonia
celular que forem encontrados, bem assim para a apreensão, se
necessário for, dos dispositivos de bancos de dados, DVDs, CDs
ou discos rígidos;

(3.4) acesso e a análise do conteúdo dos computadores e


demais dispositivos no local das buscas e de arquivos
eletrônicos apreendidos, mesmo relativo a comunicações
eventualmente registradas, inclusive dados armazenados em
nuvem;

(3.5) arrolamento, a avaliação e a custódia, em ambiente


seguro, do dinheiro em espécie e dos bens de elevado valor
econômico apreendidos;

(3.6) intimação expressa de que se trata de medidas


investigativas envolvendo organização criminosa e eventuais
atos que frustrem a sua eficácia, inclusive a demora em

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franquear acesso aos policiais federais aos locais das buscas ou


a resistência às buscas pessoais e veiculares, poderão
caracterizar o crime previsto no art. 2º, § 1 º, da Lei nº
12.850/2013.

Expeçam-se os mandados, dirigidos à Polícia Federal,


nos termos do art. 243 do Código de Processo Penal.

(4) A PROIBIÇÃO DE MANTER CONTATO com os


demais investigados, inclusive através de advogados, quanto a:
AILTON GONÇALVES MORAES BARROS (CPF: 769.493.037-
34), ALMIR GARNIER SANTOS (CPF: 551.692.017-53),
AMAURI FERES SAAD (CPF: 215.760.038-84), ANDERSON
GUSTAVO TORRES (CPF: 782.914.021 -91), ANGELO
MARTINS DENICOLI (CPF: 008.476.877-08), AUGUSTO
HELENO RIBEIRO PEREIRA (CPF: 178.246.307-06),
CLEVERSON NEY MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53), EDER
LINDSAY MAGALHÃES BALBINO (CPF: 050.211.716-82),
ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (CPF:
654.393.767-04), GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF:
931.501.640-87), HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF: 052.840.557-80),
JAIR MESSIAS BOLSONARO ( CPF: 453.178.287-91), JOSE
EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA (CPF: 285.002.138-50),
LAÉRCIO VERGÍLIO (CPF: 415.834.347-04), MARIO
FERNANDES (CPF: 808.839.907-68), PAULO RENATO DE
OLIVEIRA FIGUEIREDO FILHO ( CPF: 103.686.187-22),
PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA (CPF: 499.130.507-
15), RONALD FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF:
052.809.127-19), SERGIO RICARDO CAVALIERE DE
MEDEIROS (CPF: 614.358.562-87), TÉRCIO ARNAUD TOMAZ
(CPF: 015.235.994-05),WALTER SOUZA BRAGA NETTO (CPF:
500.217.537-68).

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(5) PROIBIÇÃO DE SE AUSENTAREM DO PAÍS, com


determinação para entrega de todos os passaportes (nacionais e
estrangeiros) no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, quanto a:
AILTON GONÇALVES MORAES BARROS (CPF: 769.493.037-
34), ALMIR GARNIER SANTOS (CPF: 551.692.017-53),
AMAURI FERES SAAD (CPF: 215.760.038-84), ANDERSON
GUSTAVO TORRES (CPF: 782.914.021 -91), ANGELO
MARTINS DENICOLI (CPF: 008.476.877-08), AUGUSTO
HELENO RIBEIRO PEREIRA (CPF: 178.246.307-06),
CLEVERSON NEY MAGALHÃES (CPF: 524.050.441-53), EDER
LINDSAY MAGALHÃES BALBINO (CPF: 050.211.716-82),
ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA (CPF:
654.393.767-04), GUILHERME MARQUES ALMEIDA (CPF:
931.501.640-87), HÉLIO FERREIRA LIMA (CPF: 052.840.557-80),
JAIR MESSIAS BOLSONARO ( CPF: 453.178.287-91), JOSE
EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA (CPF: 285.002.138-50),
LAÉRCIO VERGÍLIO (CPF: 415.834.347-04), MARIO
FERNANDES (CPF: 808.839.907-68), PAULO SÉRGIO
NOGUEIRA DE OLIVEIRA (CPF: 499.130.507-15), RONALD
FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF: 052.809.127-19),
SERGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS (CPF:
614.358.562-87), TÉRCIO ARNAUD TOMAZ (CPF: 015.235.994-
05), WALTER SOUZA BRAGA NETTO (CPF: 500.217.537-68).

(6) A SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO


PÚBLICA EXERCIDA por CLEVERSON NEY MAGALHÃES
(CPF: 524.050.441-53), ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE
OLIVEIRA (CPF: 654.393.767-04), GUILHERME MARQUES
ALMEIDA (CPF: 931.501.640-87), HÉLIO FERREIRA LIMA
(CPF: 052.840.557-80), MARIO FERNANDES (CPF: 808.839.907-
68), RONALD FERREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR (CPF:
052.809.127-19), SERGIO RICARDO CAVALIERE DE
MEDEIROS (CPF: 614.358.562-87).

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Deverá a autoridade policial: (a) proceder à oitiva dos investigados, tão


logo cumprida a prisão, observadas suas garantias constitucionais e legais; (b)
identificar e proceder à oitiva de outros agentes com os quais os investigados
tenham interagido mediante incitação e/ou cooptação para a prática dos crimes
em apuração; (c) apresentar e gerar, quando da coleta e do armazenamento dos
materiais em ambiente virtual, os códigos de verificação e de autenticação
(código hash ), com vistas à adequada manutenção da cadeia de custódia e à
validade dos vestígios digitais; (d) analisar o material e o conteúdo eletrônico
apreendidos de forma prioritária, apresentando relatório parcial no prazo
máximo de 60 (sessenta) dias.
Expeçam-se os necessários mandados.
Ciência à Procuradoria-Geral da República.
Cumpra-se.
Brasília, 26 de janeiro de 2024.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator
Documento assinado digitalmente

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