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As Cartas Falsas

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As cartas falsas (baseado em fatos reais)

A carta insultuosa aos brios dos militares


foi a chama chegada ao estopim...
é a nova Questão Militar, que desenrolará seu processo
recidivamente até a crise final em outubro de 1930.
Hélio Silva. 1922: Sangue na Areia de Copacabana

A bem da verdade
A narrativa que se segue foi elaborada a partir do que ficou conhecido na historiografia
brasileira como o episódio das “cartas falsas”. Se há alguma estória na história, é coisa
mínima e de somenos para as consequências nacionais que se seguiram ao dia 09 de outubro
de 1921. Esta foi a data em que foram publicadas, no Correio da Manhã, as missivas
responsáveis por lançar as forças armadas, em definitivo, na luta desabrida e revolucionária
pela derrubada do regime republicano instaurado em 15 de novembro de 1889.1

Era pra ser um lindo carnaval...


Os irmãos Jacinto e Cândido Guimarães viajaram, de Minas Gerais para o Rio de
Janeiro, no dia 08 de fevereiro de 1919, encarregados de comprar artigos de carnaval para
embelezar o desfile do Club dos “Planetas”. Seguiram de trem, carregando vultosa quantia em
dinheiro, fruto de contribuições as mais diversas, dos comerciantes e bons cidadãos da cidade
juiz-forana.
Todos empolgados com o retorno do Club, há alguns anos afastado das festividades ao
rei Momo. A diretoria e os sócios dos “Planetas” já estavam em atividade desde o início
daquele ano para levantar o dinheiro necessário à saída do préstito em março. Da soma de
1:000$000 (um conto de réis – algo em torno de R$120.000,00), cerca de 700$000 (setecentos
mil réis) foram entregues aos dois irmãos. O problema era que, já estavam a 20 de fevereiro e
nenhuma notícia. Alguns membros da diretoria dos “Planetas” vão até a residência dos
rapazes, sendo informados da viajem – sem data para retornarem. Uma das irmãs Guimarães
acrescentou: “viajaram com malas suficientes para meses de estadia no Rio” e que até aquele
momento, “não tinham dado notícias”.

Grande calafrio percorreu a espinha do presidente dos “Planetas”. Tinham-no


alertado da imprudência: “entregar dinheiro aos Guimarães? – sempre enroscados na lei!”.
Fizeram contatos com as lojas nas quais os artigos iriam ser comprados. Nenhum alfinete
vendido aos mineiros. Foram ter com a polícia, não teve jeito. A queixa deveria ser
encaminhada à polícia de Belo Horizonte, responsável por investigações interestaduais.
Foram ter com o primeiro delegado auxiliar, dr. Vieira Braga, que já conhecia bem
os acusados. Tinham sido presos em 1915, por estelionato e falsificação de documentos.
Havia, também, recente queixa envolvendo a compra de um terreno em Barbacena, na qual
apareciam protestados os irmãos Guimarães e mais um tal Borzetti. Relatou a vítima desse
golpe que os compradores utilizaram notas falsas na aquisição da terra. O dr. Vieira Braga
consultou os arquivos e chegou até a denúncia perpetrada pelo procurador dr. Senna Valle,
da comarca de Juiz de Fora, em agosto de 1917, contra uma quadrilha de falsificadores de

1
Para um versão completa dos fatos, escrita nos parâmetros acadêmicos, a partir de fontes primárias e
bibliografia especializada, o leitor ou a leitora podem acessar o link: https://alexandre-j-rosa.medium.com/as-
cartas-falsas-do-correio-da-manh%C3%A3-1c5cf935c648
cédulas, composta, entre outros, pelo já citado Fellippe Borzetti, sua irmã Maria Borzetti e
o senhor Jacinto Guimarães. Esse inquérito ainda corria em aberto.
Diante da queixa realizada pelos dirigentes dos “Planetas” e das informações dos
inquéritos precedentes, o dr. Braga organizou uma diligência que foi bater à porta de
Fellippe Borzetti. Este, estupefato com a presença da polícia, acabou metendo os pés pelas
mãos e entregou todo o plano forjado pelos meliantes. Os irmãos Guimarães viajaram ao
Rio de Janeiro com algumas malas cheias de dinheiro falsificado, mais um bom volume em
dinheiro “de verdade”, que ele, Borzetti, declarou não saber a procedência. O plano era
misturar dinheiro verdadeiro ao falso “pra limpar” em apostas no Derby Clube do Rio de
Janeiro.
No dia 10 de março de 1919, os agentes mineiros desembarcaram no Rio de
Janeiro, dando início às investigações. Com toda a letra fornecida pelo Borzetti, não foi
difícil deter os irmãos. A 19 de março embarcaram com os meliantes presos de volta para
Minas Gerais. Foram dias de agrura para os irmãos Guimarães. Durante dois meses, na
cidade mineira de Palmira, Jacinto Guimarães ficou trancado em uma prisão infecta, de
onde sofreu toda sorte de ameaças e torturas, inclusive fome e sede. Foi ali injuriado,
insultado e, em certa noite, segundo disse, se não tivesse oposto séria resistência e energia,
iriam conduzi-lo para o mato e torturá-lo até confessar o crime que, segundo ele, não
praticara.
Por intermédio de um habeas corpus, Jacinto Guimarães foi posto em liberdade,
ficando à disposição da justiça até o fim das investigações, que lhe foram favoráveis após o
julgamento ocorrido em setembro daquele ano. O irmão, no entanto, não teve o mesmo
destino e amargurou quase um ano de xadrez. Jacinto sustentou que sua prisão fora produto
de intriga do referido criminoso Borzetti e da cumplicidade e perversidade da polícia
mineira.
Devolveu uma pequena parte do dinheiro ao Club dos “Planetas”, nem vinte por
cento do total a ele entregue. Disse ter sofrido muito naquele período de tranca. A família
chegou a passar fome, segundo disse, além de humilhações, ameaças e prejuízos, quer de
ordem moral, quer material. Quando foi posto em liberdade só tinha uma única ideia na
cabeça: a vingança contra as autoridades policiais de Belo Horizonte, em especial o dr.
Braga, o delegado militar Mello Franco e, principalmente do próprio chefe o governo de
Minas Gerais, o Exmo. Sr. Dr. Artur Bernardes.

No Derby Clube
Em suas incursões ao Derby Clube, Jacinto Guimarães travou relações com o
distinto senhor Oldemar Lacerda, cujo irmão, João Maria Lacerda, era funcionário do
Ministério da Agricultura. Oldemar frequentava a alta sociedade carioca e privava com
pessoas importantes do meio político. Arquitetava planos para a consecução de um projeto
empresarial de grande monta – uma empresa de pescas com barcos a vapor. Isso por quê,
desde o final de 1919, o governo havia iniciado o projeto de “nacionalização da pesca”,
que teve como grande artífice o capitão de fragata Frederico Villar, comandante do
cruzador José Bonifácio. A Missão do cruzador José Bonifácio, sob custódia da Marinha
de Guerra, percorreu toda a costa litorânea do Brasil entre 1919 e 1923, organizou as
“colônias de pescadores” e abriu espaço para novos empreendimentos comerciais no setor
da “indústria da pesca”.2
2
Uma análise detalhada da Missão do cruzador José Bonifácio pode ser encontrada na pesquisa: Do norte ao
sul: a missão do cruzador “José Bonifácio” e a incorporação do pescador a um projeto de nação (1900-
1930), de Giovanni Roberto Filho. Disponível no link:
https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/26305/1/Nortesulmiss%c3%a3o_BentesFilho_2018.pdf
Oldemar já havia recebido informações privilegiadas acerca da “nacionalização”,
compartilhando-as, inclusive, com os irmãos Guimarães. Os mineiros foram convidados a
entrar como sócios da parada, muito em virtude daquela dinheirama toda que ostentavam
no Derby. A prisão dos Guimarães arrefeceu um pouco os planos para a concretização da
empresa. Oldemar tentou por outras vias, contraiu alguns empréstimos, fez uma viajem à
Inglaterra para sondar alguns navios que compraria para a frota. Em setembro de 1920
conseguiu, com muito empenho do irmão, uma audiência com o então ministro da
Marinha, o sr. Raul Soares.
Pretendia, com o aval do ministro, uma entrada triunfal na “indústria da pesca”, e
nada melhor do que uma ajudinha de um prócer da República. Sabia que um dos objetivos
da Missão do cruzador José Bonifácio era a construção de uma marinha mercante,
principalmente a da pesca, entrelaçada com a Marinha de Guerra, no sentido de ajudar no
patrulhamento das costas brasileiras. Deu essa cartada ao ministro, talvez um tanto
abusada, e Raul Soares respondeu com uma tremenda negativa aos propósitos do pobre
Oldemar. Coitado, não conseguiu segurar o pranto ao contar para o irmão a debacle de sua
audiência com o ministro. João Maria ainda tentou alguma coisa junto ao Ministro da
Agricultura, o sr. Idelfonso Simões Lopes, mas a coisa não foi para frente. Endividado,
frustrado, cheio de rancor no coração, Oldemar Lacerda só pensava em uma coisa: se
vingar daquele canalha do Raul Soares.

Mais um carnaval...
Jacinto Guimarães e Oldemar Lacerda passaram juntos, no Rio de Janeiro, o
carnaval de 1921. Embora programadas somente para o início de março, as comemorações
ao rei Momo se iniciaram logo no início do ano. Isso por quê a gripe espanhola havia
finalmente desaparecido e os festejos foram de tal monta que, até hoje, aquele foi
considerado o maior carnaval de nossa história, conforme demonstrou o escritor Ruy
Castro.3 Os dois companheiros se esbaldaram pelas ruas da metrópole, vararam
madrugadas no Clube dos Democráticos e foram dos primeiros foliões a participar do
desfile do Cordão do Bola Preta, fundado justamente naquele ano.
Entre uma ressaca e outra, pensavam num jeito de reavivar o projeto da empresa
pesqueira. Raul Soares não estava mais no ministério da Marinha, que passou a ser
ocupado por outro civil, o sr. Veiga Miranda. Podiam tentar uma reaproximação. O irmão
de Oldemar, porém, advertia que as coisas não estavam muito boas no governo,
principalmente nos ministérios militares. Havia enorme insatisfação com o Epitácio. Seria
melhor esperar mais um pouco, “quem sabe o Hermes não emplaca outra presidência”,
disse João Maria Lacerda. Os olhos de Oldemar faiscaram com essa premonição do irmão.
Numa conversa com Jacinto, disse que a coisa estaria certa se o Hermes e os militares
voltassem, “pra darem um jeito naquele demônio do Epitácio, e de quebra escorraçar o
Rolinha, que anda colocando as asinhas de fora”.
As coisas não estavam fáceis para presidente Epitácio Pessoa, o primeiro, naquela
República, a nomear civis para os ministérios militares. A nomeação de Pandiá Calógeras
para o Ministério da Guerra e de Raul Soares, para a Marinha, causou enorme rebuliço na
caserna. Além das nomeações, uma série de conflitos marcou as relações entre governo e
militares naquele momento de grande agitação popular. Enquanto a folia se irradiava pelas
ruas do Rio de Janeiro, as agitações nos quartéis se tornavam cada vez mais intensas. O
governo agia com mão de ferro ante os conspiradores. Foi o “período das transferências”,

3
Ruy Castro. Carnaval da Guerra e da Gripe (Metrópole à Beira Mar – Prólogo). São Paulo. Companhia das
Letras: 2019.
em que muitos oficiais eram mandados para postos os mais distantes do país, na tentativa
conter um pouco as maquinações insurgentes dos militares.

Do banquete do marechal ao Correio da Manhã...


Em novembro de 1920 havia desembarcado no Rio de Janeiro o marechal Hermes
da Fonseca, após um período de cinco anos na Europa. Sua chegada foi saudada como a
volta do messias. As agitações militares foram, em grande parte, canalizadas para ele, que
tinha presidido o país entre 1910 e 1914. As homenagens prestadas ao ex-presidente dão a
medida de como aquela figura era aguardada. Depois do tradicional banquete de recepção,
outra grande manifestação para Hermes da Fonseca, com forte presença popular, ocorreu
no dia 12 de maio de 1921, em ocasião de seu aniversário, comemorado no Teatro São
Pedro.
No dia 2 de junho, o marechal Hermes organizou um banquete em retribuição às
manifestações recebidas. Esse encontro acirrou ainda mais as tensões entre os militares e o
presidente da República, pois contou diretamente com as classes armadas da nação.
Aproximadamente 600 convidados — cerca de 300 militares de alta patente — estiveram
presentes ao evento, organizado pelo comitê pró-Hermes (formado por generais,
marechais, almirantes e políticos de oposição, sobretudo o deputado Mauricio de Lacerda).
O bródio aconteceu no imponente Palace Hotel e serviu também para o anúncio da
candidatura do marechal para as próximas eleições presidenciais. Muitos discursos
inflamados foram dirigidos contra a classe política. O mais exaltado deles, proferido pelo
capitão-de-fragata Alencastro Graça, resultou na prisão do militar, por ordem direta do
presidente da República. A candidatura Hermes da Fonseca ganhava cada vez mais solidez
nos meios militares e no seio das populações urbanas, inclusive em certa parcela da classe
operária, muito próxima a Mauricio de Lacerda, um entusiasta da candidatura militar.
Estiveram presentes ao banquete ninguém menos do que Oldemar Lacerda e Jacinto
Guimarães. Oldemar havia entrado de cabeça na campanha Hermes da Fonseca.
Frequentava as reuniões do Comitê da candidatura e tentava a todo custo se aproximar dos
cabeças da organização. Logo depois que Jacinto retornou ao Rio, livre das garras da
justiça mineira, narrou ao colega as agruras que havia enfrentado na cidade de Palmira, os
pormenores daquela prisão infecta, as necessidades e humilhações que passou, a penúria da
família e, principalmente, sua sede de vingança.
Oldemar, por sua vez, também contou as poucas e boas que sofreu no fatídico
encontro com o ministro da Marinha, o sr. Raul Soares, o sentimento de humilhação que o
tomou de assalto, a frustração em ver o grandioso projeto da empresa pesqueira ruindo e,
também, a vontade infrene de se vingar daquele politiqueiro de Minas Gerais. No dia
seguinte ao grande banquete do Palace Hotel, os dois caminhavam pelo Passeio Público,
quando, de súbito, Oldemar teve uma ideia que o congelou por alguns segundo. E, ali
mesmo, parado, olhou para o companheiro e disse – Jacinto, você é um exímio calígrafo,
não? Ao confirmar tal habilidade, o mineiro recebeu outra interrogativa – Você percebeu
que nós temos inimigos em comum? Jacinto não entendia onde o amigo queria chegar: –
inimigos em comum?
– Sim. O cretino do Artur Bernardes e o miserável Raul Soares.
– O que há de comum entre os dois?
Jacinto era um rapaz obstinado para fazer dinheiro, mas simplório em conjecturas
mais amplas, pouco atento ao entorno, principalmente ao mundo político. Estavam
atravessando a maior crise institucional daquela República. As grandes oligarquias – São
Paulo e Minas – queriam emplacar o sr. Artur Bernardes na presidência, no que sofriam
grande resistência das oligarquias intermediárias – Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
Pernambuco e Bahia.
No meio desse impasse todo, os militares já haviam deixado os quartéis e formado
postos avançados na lida política, principalmente com o entusiasmo declarado ao marechal
Hermes. Estavam revivendo quase que uma segunda “Questão Militar”. O melhor dos
mundos, diziam os “da oposição”, seria uma chapa Nilo Peçanha–Hermes da Fonseca, pra
fazer frente a fórmula Artur Bernardes–Urbano dos Santos, chapa das oligarquias, da
continuidade do café-com-leite...
Oldemar parecia em êxtase. Esfregava as mãos, mirava o mar infinito. – É isso,
meu caro Jacinto!
– Isso, o quê?
– Vamos deitar mãos à obra...
Oldemar conhecia muita gente influente no Rio. Devotado à ‘campanha pró-
Hermes’ voltou a se relacionar com o sr. Eduardo da Fonseca Hermes, filho de João
Severiano da Fonseca Hermes, que era irmão de Hermes da Fonseca. Eduardo e Oldemar
já se conheciam de outros carnavais. Combinaram, certo dia, um encontro na famosa
sorveteria Alvear, para tratar de assuntos pertinentes à sucessão presidencial. Oldemar foi
direto ao assunto:
– Então, o nosso marechal tem que ir mesmo ao Catete de qualquer maneira. Nós
precisamos agir conjuntamente e você pode prestar o maior dos auxílios.
– Em se tratando de ajudar ao meu tio Hermes, presto qualquer auxílio. O que devo
fazer?
– Eu sei que o seu pai tem uma carta escrita por Artur Bernardes e endereçada ao
João Luiz Alves, tratando de coisas da política de Minas. Preciso que você pegue essa carta
e me empreste por algumas horas.
– E por que você não pede direto a meu pai?
– Seu pai não acha viável a candidatura Hermes e é muito bernardista; ele não me
dará a carta. Você é quem deve arranjar. Que diabo! Isto não te compromete. Eu restituirei
a carta que você me trouxer. O caboclo velho vai para o governo e você não seja trouxa!
Depois de muto relutar, Eduardo surrupiou a carta do escritório e levou-a para
Oldemar:
– Aqui está.
– Muito bem! Está salva a República! O seu tio vai ser o ditador!
Foi daí direto para a casa do Jacinto Guimarães, encarregando-o de “iniciar os
treinamentos”. Dois dias depois devolveu a carta para Eduardo Fonseca Hermes, que, por
sua vez, restituiu o documento a seu ligar de origem. Nas semanas seguintes, Oldemar
procurou o advogado Pedro Burlamaqui, com quem mantinha relações as mais diversas.
Programaram uma viajem rápida a Belo Horizonte, com o objetivo de adquirir um papel
timbrado do governo de Minas Gerais. Numa visita às oficinas da Imprensa Oficial,
Burlamaqui conseguiu algumas folhas timbradas e entregou-as a Oldemar, quando
regressaram, em trens separados, ao Rio de Janeiro.
No início de outubro de 1921, Oldemar Lacerda procurou o sr. João Severiano
Fonseca Hermes dizendo ser portador de “algumas cartas” comprometedoras ao sr. Artur
Bernardes, documentos gravíssimos, ao ponto de inviabilizar a candidatura do governador
de Minas à presidência. O sr. Fonseca Hermes, que já havia sido deputado federal por dois
mandatos, achou a história muito estranha e quis saber das origens de tais cartas. Oldemar
não conseguiu convencê-lo, se mostrou contraditório, incerto, a história não fechava bem.
Fonseca Hermes se irritou com o fato de Oldemar não ter as cartas em mãos, pois que dali
poderiam consultar um cartório para cotejar as assinaturas.
Fracassada essa primeira investida, Oldemar dirigiu-se, numa tarde de sábado, ao
Derby Clube. Lá encontrou o senador Irineu Machado, um dos mais aguerridos defensores
da candidatura Hermes da Fonseca. Confabularam um bom tempo no saguão do Derby.
Não sabemos a história que Oldemar contou; o certo é que o senador lhe garantiu que tinha
endereço certo par enviar os documentos – o Correio da Manhã.
Antes de entregar as cartas à publicação, Irineu Machado procurou o sr. Serpa
Pinto, antigo funcionário da Caixa Econômica Federal, de quem esperou o veredito sobre a
autenticidade dos papéis: sim... eram verdadeiras, disse o sr. Serpa, a letra é sim do
‘presidente’ de Minas, e a assinatura também.
Eram por volta de duas horas da tarde do dia 08 de outubro de 1921 quando a o
telefone da redação do Correio da Manhã vibrou com insistência. O diretor do jornal,
Edmundo Bittencourt, passava alguns dias de folga numa estação de águas em Lindóia, no
interior de São Paulo. Em seu lugar, respondia o jornalista Mário Rodrigues. Do outro lado
da linha, o senador Irineu Machado informava “Mário, escute. Uma pessoa que se
encontra aqui ao meu lado, possui importantes documentos, que interessam muito à
política. Essa pessoa, que vai embarcar amanhã para a Europa, pretendia dá-los ao
Edmundo. Mas à vista da ausência do Edmundo, confiá-los-á a um redator do Correio.
Venha aqui, em casa, buscá-los, com toda a urgência”.4
Mario Rodrigues tomou um taxi e em pouco tempo chegava à casa do senador. Lá
encontrou também um sujeito meio baixote, atarracado, que atendia pelo nome Oldemar
Lacerda. Esse, sacou de uma pasta os ‘documentos’ e entregou ao repórter. Como saber se
essas cartas são verdadeiras? Irineu Machado tinha em sua posse uma carta de Artur
Bernardes endereçada ao deputado Ribeiro Junqueira, entregou-a a Mario Rodrigues para
que ele próprio fizesse a conferência: São idênticas as letras... Além desta, o senador
narrou os detalhes do encontro com o perito Serpa Pinto, a garantia dada pelo velho
funcionário da Caixa Econômica, mais do que acostumado a exames dessa natureza. Na
manhã do dia 09 de outubro estourou a bomba, enquanto Oldemar Lacerda singrava o
oceano, a bordo do Massília, rumo à Europa.

Babilônia em chamas
A candidatura Hermes da Fonseca não tinha decolado. Em seu lugar, surgiu o nome
de Nilo Peçanha que, junto ao senador baiano J.J. Seabra, formaram a chapa da Reação
Republicana, nome que congregou as dissidências estaduais que se opuseram à candidatura
Artur Bernardes – Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco. Em agosto de
1921 o nome do marechal Hermes da Fonseca quase não aparecia nos jornais e a campanha
da Reação Republicana começou a ganhar as ruas. Com o apoio dos militares, de parte do
operariado e dos setores oligárquicos descontentes com o domínio das oligarquias mineira
e paulista, os dissidentes estavam prontos para a realização de uma grande campanha
presidencial, “com uma presença popular jamais vista naquela República”.5

4
Hélio Silva. 1922: Sangue na areia de Copacabana. Porto Alegre. L&PM: 2004, p. 43.
5
Anita Leocádia Prestes. Os militares e a Reação Republicana. Petrópolis. Vozes: 1993, p. 57.
Foi uma campanha à americana, como diziam alguns observadores da época. Em
praticamente todos os estados foram criados comitês; a adesão da população urbana das
grandes cidades crescia vertiginosamente; os militares tomaram parte na organização dos
comitês e atividades políticas e eleitorais. Comícios, eventos e publicações na imprensa
tomaram cada vez mais um sentido cívico-militar. O périplo da Reação Republicana se
estendeu por todo o país. A caravana e os comícios de Nilo Peçanha pelas capitais do
Norte e Nordeste eram repercutidos na imprensa como grandes feitos épicos.
Foi nesse clima que surgiu, nas folhas do Correio da Manhã, uma notícia que
abalaria aquele processo de sucessão presidencial. Sob o título “Ultraje ao Exército” e um
artigo de fundo dos mais diabólicos, as coisas mudaram de patamar naquela disputa
eleitoral. Dizia o artigo que: “Um acaso pôs-nos ao corrente dos fatos, que é, nem mais
nem menos, a perda de cartas comprometedoras, escritas pelo sr. Artur Bernardes ao
senador Raul Soares. Publicamos hoje uma delas, que nos veio ter às mãos, para a
evidenciação do que é esse politiqueiro inferior, que a má sorte de Minas elevou à mais
alta expressão do seu governo. Mais do que isso: esta carta, enviada por ele ao sr. Raul, é
uma indignidade e uma afronta atirada ao Exército, representado nos seus oficiais, até os
mais graduados, chamados de venais e capazes de serem comprados”.6
Eis o conteúdo da carta:

Belo Horizonte, 3–6–1921


Amigo Raul Soares
Saudações afetuosas.
Estou informado do ridículo e acintoso banquete dado pelo Hermes, esse sargentão sem
compostura, aos seus apaniguados, e de tudo que nessa orgia se passou. Espero que use
com toda energia, de acordo com as minhas últimas instruções, pois, sessa canalha
precisa de uma reprimenda para entrar na disciplina. Veja se o Epitácio mostra agora a
sua apregoada energia, punindo severamente esses ousados, prendendo os que saíram da
disciplina e removendo para bem longe esses generais anarquizadores. Se o Epitácio com
medo não atender, use de diplomacia que depois do meu reconhecimento ajustaremos
contas. A situação não admite contemporizações, os que forem venais, que é quase a
totalidade, compre-os com todos os seus bordados e galões.
Abraços do Artur Bernardes.

Um detalhe importante — a data. A suposta carta havia sido escrita exatamente um


dia após o banquete oferecido por Hermes da Fonseca às classes armadas, evento que
resultou na prisão do capitão-de-fragata Alencastro Graça. Nos dias seguintes, os jornais
do país repercutiam as “cartas ultrajantes” escritas por Artur Bernardes. Da imprensa, o
burburinho passou para a agitação política, nas ruas e no Congresso, e principalmente entre
as forças armadas. No dia 10, o Correio da Manhã voltava à carga, em editorial de meia
página, clamando contra o perigo, caso “esse homem amoral, e agora provavelmente
cretino, vier a obter a presidência da República”.7
O marechal Hermes, que se encontrava em Petrópolis, assim que ficou sabendo da
notícia, emitiu um telegrama convocando quantos oficiais fosse possível, para uma reunião
extraordinária no Clube Militar, onde tratariam do assunto. Os dias foram de amplos
debates em torno da veracidade ou não das cartas. No Congresso, deputados bernardistas,

6
Ultraje ao Exército. Correio da Manhã, 09 de outubro de 1921, p. 2.
7
A carta. Correio da Manhã, 10 de outubro de 1921, p. 2.
nilistas e alguns que se diziam representar a honra dos militares faziam seus comícios
empunhado um exemplar jornal.
A primeira manifestação oficial do Clube Militar foi a de se declarar pela falsidade
das cartas, posicionamento endossado inclusive pelo marechal Hermes da Fonseca. Isso
por quê andavam circulando os nomes de dois possíveis falsários – Jacinto Guimarães e
Oldemar Lacerda – que, junto com as veementes contestações de Artur Bernardes, fez o
caso entrar em litígio; havia começado “a luta que iria abalar o país.”8
No meio desse alvoroço desembarcou no Rio de Janeiro o sr. Artur Bernardes, no
dia 15 de outubro, para participar do tradicional banquete de apresentação da plataforma de
governo. Por mais que os ânimos estivessem exaltados, ninguém poderia imaginar as
proporções que o evento iria tomar. Uma multidão já estava plantada na avenida Rio
Branco à espera da comitiva que, ao passar, recebeu uma estrondosa vaia. Por toda a
extensão da avenida, o povo – civis e militares – entoava a marchinha “Ai, seu Mé”, que
satirizava o político mineiro utilizando seus apelidos, ‘Rolinha’ e ‘seu’ Mé, transformando
aquela tarde de sábado num misto de guerra civil e carnaval.9
Houve um quebra-quebra geral, vários coretos destroçados e incendiados, retratos
de Artur Bernardes arrancados das vitrines das lojas e queimados. Estava coroada a obra
do Correio da Manhã. No dia seguinte, o jornal dava uma capa inteira aos acontecimentos,
com clichês do tipo “O Rio de Janeiro recebeu ontem, como ele merecia, o candidato
da famigerada convenção do ‘mé’….”. Ou então: “Rolinha viu que a população
carioca, representando a opinião pública nacional, não se submete à vontade dos
politiqueiros”.
Era a consagração das “cartas”. O ponto máximo onde nenhum outro jornal havia
chegado naquela República. A campanha difamatória contra o candidato de Minas ganhou
um novo contorno depois das campanhas do Correio. Logo após a trágica passagem de
Artur Bernardes pelo Rio, que só conseguiu ler sua plataforma de governo amparado por
um forte esquema de segurança, desembarcaram na capital do país os políticos da Reação
Republicana, consagrados pelas campanhas no Norte e Nordeste.
A sucessão de Epitácio Pessoa, a essa altura, já havia se transformado na mais
grave crise política da República. Cada vez mais, nas manifestações de apoio a Nilo
Peçanha, vai ficando caracterizada uma junção entre militares e civis. As tensões se voltam
todas para a questão da autenticidade daqueles documentos estampados no Correio da
Manhã. Das divisões internas do Clube Militar venceu a frente que apostava no
tensionamento da questão. Formou-se uma comissão para um novo exame pericial nas
cartas.
Na Câmara, o deputado Bueno Brandão, líder da bancada mineira, fazia a defesa de
Artur Bernardes e atacava o Correio da Manhã; no Senado, fazia o mesmo o sr. Paulo de
Frontin. O deputado Otávio Rocha tomara as dores do Exército e insistia na questão da
“ofensa à honra e aos brios militares”. O clima era de tensão e expectativa pela conclusão
dos trabalhos da comissão; “O Exército e o povo se dividiam em duas facções irredutíveis,
que admitiam ou negavam a falsidade.”10
Contrariando todas as evidências que apontavam pela falsidade das cartas, no dia
28 de dezembro, o Clube Militar se reunia em assembleia extraordinária, presidida pelo
marechal Hermes da Fonseca, para decretar a veracidade dos documentos e entregar o

8
Nelson Werneck Sodré. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro. MAUAD: 1999, p. 358.
9
A canção pode ser ouvida a partir do link: https://www.youtube.com/watch?v=4UiP5U1Tr6c&t=2s
10
Hélio Silva. 1922: Sangue na areia de Copacabana. Porto Alegre. L&PM: 2004, p. 49.
caso para o julgamento da Nação! Mais do que isso não podia fazer. No entanto, foi o
bastante para incendiar a campanha da Reação Republicana. Nos meses subsequentes, até
a data das eleições, que ocorreriam a 01 de março de 1922, o clima na capital da República
e em boa parte das capitais do país era de uma guerra civil em estado latente.
Mesmo assim, como não podia deixar de ser, a chapa da situação saiu vencedora
nas eleições: Artur Bernardes obtém 1.575.735 votos e Nilo Peçanha 708.247. Mas os
resultados oficiais não contentaram a oposição, proclamando Nilo Peçanha o vício dos
resultados e pedindo a verificação dos votos por um Tribunal de Honra. O não
reconhecimento dos resultados por parte de Nilo Peçanha ganhou apoio do Clube Militar e
do governo do Rio Grande do Sul, além de praticamente a totalidade dos que se
empolgaram com a Reação Republicana. Essa manobra ateou mais gasolina na fogueira. A
baixa oficialidade, que a história viria a consagrar sob o nome de “tenentes”, assumiu de
vez a vanguarda conspiratória. Com a mobilização de uma tríplice bandeira – moralização
dos costumes políticos, voto secreto e fim das fraudes eleitorais – os “tenentes” cada vez
mais se preparavam para uma ação de força contra a ‘camarilha politiqueira’.
O país estava à beira de uma ruptura institucional quando, em maio de 1922, o
doutor César de Magalhães, médico-cirurgião, eminente e bem relacionado com os
próceres do Partido Republicano Mineiro, decidiu agir por conta própria. Com afinco,
dedicação e esforço, iria descobrir a trama miserável das cartas falsas atribuídas a Artur
Bernardes. Conseguiu entrar em contato com Jacinto Guimarães, prometendo-lhe a quantia
de cinquenta mil réis a fim de facilitar ao rapaz o embarque para fora do Brasil, caso ele
quisesse reduzir a escrito sua confissão e produzir perante testemunhos a prova material de
sua autoria na falsificação das aludidas cartas.
Jacinto aceitou a oferta do médico. O intuído de Cesar de Guimarães, segundo ele
mesmo conta, não era o de publicar os documentos obtidos naquele dia. A ideia era
produzir um documento que seria exclusivamente utilizado nas altas cúpulas políticas e
militares, com vistas a evitar uma grande tragédia nacional. De posse da confissão, o
doutor Cesar de Magalhães não cumpriu parte do acordo e enviou notas à imprensa,
noticiando os trâmites daquele encontro e oferecendo as declarações de Jacinto Guimarães
Uma vez conseguida a confissão de Jacinto Guimarães, era hora de fazer o mesmo em
relação a Oldemar Lacerda. O doutor Cesar de Magalhães realizou as mesmas diligências
que já haviam sido exitosas. E no dia 31 de maio de 1922 era lavrada a confissão do
arquiteto intelectual das “cartas falsas”, da qual podemos ler um trecho:
Diante dessa situação aflitiva para a Pátria e a República criada pelo
caso das cartas, foi que deliberei falar toda a verdade sobre ele, como faço nesse
momento, comprovando também que quando resolvi a confecção das aludidas
cartas, só tive o intuito político, que era elevar à presidência da República o meu
eminente amigo Marechal Hermes, destruindo a candidatura Arthur Bernardes
com essas cartas, dando origem com a divulgação das mesmas há um forte
movimento das classes armadas que seria orientado em favor da candidatura
desse meu ilustre amigo.

Início do fim
No dia 07 de junho de 1922, o sr. Artur Bernardes foi reconhecido pelo Congresso
Nacional como presidente eleito da República. O Tribunal de Honra conclamado pelos
dissidentes, para resolver o impasse das eleições através de uma nova apuração das atas
eleitorais, foi negado pelo Supremo Tribunal Federal. Tudo indicava não haver saídas
“dentro da legalidade” para impedir a posse de Artur Bernardes.
Acompanhando atentamente o desenrolas das coisas é fácil de perceber que mesmo
antes do período das “confissões”, a questão da autenticidade ou falsidade das cartas
injuriosas ao Exército havia perdido a centralidade no debate. O que dava o tom nas ruas
eram as agitações nos quartéis, a apreensão pública e o sentimento de que algo muito grave
iria em breve acontecer.
Em 15 de novembro de 1922 Artur Bernardes tomava posse na presidência de
República, com o país conflagrado e em estado de sítio, decretado por Epitácio Pessoa, em
decorrência dos acontecimentos de julho, sobretudo o levante o Forte de Copacabana, que
tinha como justificativa a defesa da “honra” e dos “brios” militares, duramente ofendidos
pelos politiqueiros de sempre. O sítio foi estendido até o final daquele ano, para que
nenhuma outra surpresa viesse atrapalhar a o início da nova presidência.
Terminava a turbulência de mais uma sucessão presidencial, ao mesmo tempo em
que começava uma nova fase política na curta história da Primeira República. O
esfacelamento daquele regime oligárquico se deu em razão de suas próprias estruturas. A
forma política que havia estabilizado precariamente aquela época de profundas
transformações entrou em franca contradição com seu conteúdo social e econômico. As
crises sucessórias eram a expressão da própria crise daquele regime como um todo. A
turbulenta sucessão de Epitácio Pessoa foi mais um capítulo que denunciava a fraqueza do
regime, cuja manifestação mais evidente era o funcionamento do processo eleitoral a da
precariedade da escolha dos representantes pelo voto popular. No entanto, não deixa de ser
sintomático o fato de uma fake News, como dizemos hoje em dia, ter servido de catalizador
para colocar em movimento toda aquela engrenagem autofágica e o parto a fórceps do
Brasil moderno. Como bem sintetizou Hélio Silva:
Eram verdadeiras? Eram falsas? durante quarenta anos, o Brasil inteiro fórmula
essas perguntas. Todas as provas periciais foram exercitadas. Homens como Rui Barbosa
deram o seu parecer. Nem agora, quando a morte poderia ter libertado os derradeiros
compromissos, abrindo, paradoxalmente, as bocas que ela costumava cerrar, será
possível uma opinião de consenso unânime. Foram estas frágeis folhas de papel,
inflamáveis, fáceis de amarrotar e destruir, que desencadearam a tempestade a que não
pode resistir a República sonhada por Saldanha Marinho.11

P.S.: Após as confissões, Jacinto Guimarães mudou-se para a Bahia, passando a viver
numa linda fazenda perto da cidade de Valência, que diziam ser de apaniguados do senhor
J. J. Seabra. Em março de 1924, chegou aos jornais do Rio de Janeiro a notícia que falecera
inesperada e misteriosamente por conta de um mal súbito. Quanto a Oldemar Lacerda...
bom, deixemos uma notícia do Diário da Noite, do dia 28 de junho de 1934:
Petrópolis, 28 (do correspondente do Diário da Noite) – Oldemar Lacerda, o conhecido
falsário, que aí no Rio fez época, acaba de ser julgado pelo tribunal popular, desta cidade.
Sentando-se, mais uma vez, no banco dos réus, o célebre falsário esteve cercado de deferência
singular da parte dos soldados que o escoltavam, até que, por protesto do promotor, se
estabeleceu o que a praxe determina. Oldemar Lacerda foi submetido a julgamento, acusado
de falsificação de uma escritura de arrendamento do edifício Stadt Munchem, na Praça
Tiradentes, aí no Rio. O acusado foi absolvido por falta de provas.12

11
Hélio Silva. 1922: Sangue na areia de Copacabana. Porto Alegre. L&PM: 2004, p. 36.
12
Oldemar Lacerda mais uma vez no banco dos réus. Diário da Noite, 28 de junho de 1934. Disponível no
link: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=221961_01&pesq=%22Oldemar%20Lacerda
%22&pasta=ano%20193&hf=memoria.bn.br&pagfis=18419

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