Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Outmatched - Kristen Callihan & Samantha Young

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 481

O que acontece quando um boxeador encontra química

com uma geek?


Parker Brown não consegue acreditar que precisa contratar um
namorado falso. Quando ela conseguiu o emprego dos seus
sonhos no ramo da energia renovável, ela pensou que estaria
entrando em um mundo do pensamento progressista. Mas o
chefe prefere promover funcionários que estão “estabelecidos”.
Felizmente, ela encontrou o candidato perfeito, um colega
intelectual em busca de dinheiro rápido. O que Parker ganha é
seu irmão mais velho protetor – Rhys Morgan. O ex-boxeador
alto e musculoso com uma boca suja aparece na mesma hora
que seu chefe, e agora ela está presa com o idiota manipulador.
A responsabilidade pesa muito sobre Rhys. Agora
permanentemente fora do ringue, ele está tentando manter de
pé a academia de seu falecido pai e manter seu irmão mais novo,
Dean, na linha. Para salvar Dean de si mesmo, Rhys toma seu
lugar, pronto para dar a esta garota rica um pedaço da sua
mente. Em vez disso, ele encontra uma oportunidade. Mesmo
que eles dificilmente se suportem, fingir ser o namorado de
Parker é um negócio em que todos saem ganhando. Ela
consegue manter seu emprego, e ele vai encantar o chefe
famoso dela a patrocinar sua academia.
O problema é que eles mal conseguem tirar as mãos um do
outro. E o que começou como um negócio fácil não é mais tão
fácil. Que futuro pode ter um ex-boxeador rude, com medo de
abrir seu coração, e uma nerd polida rica, que renunciou a
relacionamentos reais?
Dizem que os opostos se atraem. Esses opostos estão prestes a
entrar em combustão com o impacto.
Sinopse
Tabela de Conteúdos
Aviso — bwc
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Epílogo
Agradecimentos
Essa presente tradução é de autoria pelo grupo Bookworm’s
Cafe. Nosso grupo não possui fins lucrativos, sendo este um
trabalho voluntário e não remunerado. Traduzimos livros com
o objetivo de acessibilizar a leitura para aqueles que não sabem
ler em inglês.
Para preservar a nossa identidade e manter o funcionamento
dos grupos de tradução, pedimos que:
• Não publique abertamente sobre essa tradução em
quaisquer redes sociais (por exemplo: não responda a
um tweet dizendo que tem esse livro traduzido);
• Não comente com o autor que leu este livro
traduzido;
• Não distribua este livro como se fosse autoria sua;
• Não faça montagens do livro com trechos em
português;
• Se necessário, finja que leu em inglês;
• Não poste – em nenhuma rede social – capturas de
tela ou trechos dessa tradução.
Em caso de descumprimento dessas regras, você será banido
desse grupo.
Caso esse livro tenha seus direitos adquiridos por uma
editora brasileira, iremos exclui-lo do nosso acervo.
Em caso de denúncias, fecharemos o canal
permanentemente.
Aceitamos críticas e sugestões, contanto que estas sejam
feitas de forma construtiva e sem desrespeitar o trabalho da
nossa equipe.
Rhys

Meu pai uma vez me disse que a maioria das pessoas não tem a
intenção de arruinar as próprias vidas; elas simplesmente
fizeram uma série de escolhas estúpidas. Ele estava em sua
cadeira de couro maltrapilha, com os ombros largos curvados
sobre a mesa executiva feita de madeira de jacarandá que tinha
sido o orgulho em seu escritório. A mesma cadeira em que me
afundo agora, de frente para a mesma mesa ampla.
Preguiçosamente, traço um dedo ao longo da borda, a
madeira outrora brilhante agora era opaca e cortada. Quando
eu era criança, parecia estranho para mim que meu pai quisesse
essa mesa ornamentada que era mais adequada para um
escritório de advocacia, como a peça central do escritório de
uma pequena academia de boxe e artes marciais. Quando eu
perguntei a ele sobre isso, ele sorriu daquele jeito tímido dele.
— Lights Out é meu orgulho e alegria, garoto. — Ele
estendeu suas mãos grandes e cheias de cicatrizes sobre a mesa
brilhante. — Aqui é onde eu demonstro isso. Goste ou não, as
aparências importam.
Ações e palavras contavam em igual medida em seu mundo.
Aja de forma decisiva, diga a verdade e faça boas escolhas.
O que ele pensaria das minhas escolhas?
— Nada de bom. — Eu murmuro, então pressiono as
pontas dos dedos nos meus olhos doloridos. No momento, eu
também não estava pensando muito nas escolhas do meu pai.
Meu pai se foi há quatro anos. A dor diminuiu um pouco,
mas o vazio permanece. Era a raiva sutil e quente que sentia por
ele que me assustava. Papai nunca foi perfeito. Eu sabia disso
há muito tempo. Depois que minha mãe morreu, ele caiu em
um buraco criado por si mesmo. Mas essa bagunça caótica que
ele deixou em minhas mãos era outra história e tornava difícil
perdoar e esquecer.
Merda, eu não tinha permissão para esquecer. O banco não
deixaria isso acontecer.
Eu não sabia que minhas finanças e a academia estavam com
tantos problemas até o dia em que encontrei meu pai
debruçado sobre a mesa. O dia em que papai me disse que havia
administrado mal o meu dinheiro – uma mistura tóxica de
maus investimentos e jogos de azar – e que havia hipotecado
novamente a academia para tentar cobrir.
Um mês depois, meu pai estava morto. Um ataque cardíaco,
o estresse e a vergonha do que ele fez o alcançou da pior
maneira. E eu me tornei o novo dono da Lights Out, e de uma
montanha de dívidas.
Minha mandíbula travou com força, a raiva me atingiu
novamente. Eu queria me levantar, ir embora e nunca mais
olhar para trás. Do lado de fora das paredes de vidro do
escritório vinha o som de risadas juvenis. O grupo júnior
praticava capoeira, uma das novidades da academia. As aulas
estavam todas cheias, mas apenas metade dos meninos podia
pagar. E embora fosse meu direito mandá-los embora, eu sabia
que nunca faria isso. Esta academia era a tábua de salvação deles
em um mundo que facilmente drenaria suas alegrias e os
deixariam vazios em suas essências.
— Essa sua expressão é muito desagradável. — Carlos estava
parado ao lado da porta, que eu cometi o erro de deixar aberta.
Um sorriso dividia seu rosto. — Você encontrou uma erupção
cutânea ou algo assim?
— Sim, bem debaixo das minhas bolas — respondi sem
vontade. — Você quer dar uma olhada?
— Vou deixar isso para suas amigas.
Carlos sabia que eu não tinha estado com nenhuma amiga,
como ele nomeou, por um bom tempo. Não me interpretem
mal – as oportunidades estavam lá, eu só não queria aproveitá-
las. Eu não tinha estômago para... Bem, nada ultimamente.
Primeiro com as malditas dívidas do meu pai, depois com Jake
– eu não queria pensar em Jake.
Carlos se afastou da porta e largou a bunda na cadeira em
frente à minha mesa.
— Então — ele perguntou —, por que está com essa cara?
Eu esfreguei a parte de trás do meu pescoço dolorido.
— O de sempre. Dinheiro.
Carlos se inclinou para a frente, apoiando os braços nos
joelhos, seu sorriso fácil já tinha ido embora. A maioria das
pessoas nunca via Carlos sem um sorriso. Entre nós, Carlos era
considerado o feliz, aqueles grandes olhos castanhos de
cachorrinho atraindo mulheres assim como o mel e as abelhas.
Ele desempenhava o papel com facilidade, escondendo um
interior mais sombrio que quase ninguém conhecia. Que ele
confiava em mim o suficiente para mostrar seu verdadeiro eu
de vez em quando era algo que eu nunca iria subestimar.
— Nenhuma mudança? — Ele perguntou.
— Não o bastante. Estou atrasado no pagamento da
hipoteca há alguns meses. O banco está respirando no meu
pescoço.
— E quanto a Kyle Garret?
Seis meses atrás, um cara chamado Kyle Garret me abordou
sobre a compra da academia. Depois de investigá-lo, Carlos e
eu descobrimos que ele era um grande magnata do setor
imobiliário, comprando propriedades em Boston e na Costa
Leste e transformando-as em condomínios e conjuntos
habitacionais sofisticados.
— Não estou tão desesperado. — Ok, eu estava. Mas este
lugar tinha sido tudo para mim enquanto crescia. Estava cheio
de fantasmas do meu passado e, embora alguns deles fossem
dolorosos, outros me mantinham em movimento. Tudo o que
tinha que fazer era andar pela academia e eu me lembrava: o
balcão de sucos no saguão onde mamãe cumprimentava Jake,
Carlos e eu depois da escola com shakes de banana e um grande
sorriso. O studio B, onde Jake e eu demos nossos primeiros
socos e realmente aprendemos porque o boxe era a Doce
Ciência1.
Eu e meu irmão Dean costumávamos nos esconder embaixo
da mesa do papai e brincar de “espiões”. O que significava que
Dean bancaria o espião e eu fazia suas vontades. Isso aconteceu
até o dia em que meus pais entraram no escritório para uma
rapidinha e não sabiam que estávamos lá embaixo. Algumas
lembranças não são bonitas, mas eram minhas e eram tudo o
que me restava. Eu não estava prestes a perder isso também.
Carlos suspirou.
— Sabe, se você voltar a lutar, eu poderia marcar uma luta...
— Não. — Não foi um grito, mas quase pareceu com um
na minha cabeça. Um suor frio surgiu na parte inferior das
minhas costas enquanto eu olhava para Carlos. Ele sabia muito
bem que eu tinha deixado o boxe. De vez.
Sua expressão era empática.
— Olha, cara, eu sei. Mas não acho que Jake iria querer...
— Eu disse não.
Só de pensar em Jake, abria um buraco no meu peito.
Melhores amigos desde o berço, mais próximo de mim do que
meu próprio irmão idiota, nós cuidávamos um do outro.

1
O termo "Doce Ciência", traduzido de forma literal, foi cunhado pelo
escritor esportivo britânico Pierce Egan em 1813, que o usou para descrever
como os lutadores são obrigados a ser científicos em sua abordagem, buscando
criar estratégias de como derrubar seu oponente de forma feroz, tática e
antecipando os movimentos do adversário, sendo até mesmo comparado com o
xadrez algumas vezes.
Ambos lutadores. Ambos destinados à grandeza. Inferno, nós
tínhamos tudo para ser os melhores. Até que um golpe infeliz
na têmpora acabou com sua vida.
Um caroço grande de horror e vergonha deslizou pela minha
garganta. Perdê-lo já foi bastante difícil; saber que meu pai
perdeu um monte de dinheiro porque apostou em Jake e
perdeu, manchou todas as lembranças que eu tinha de ambos e
do boxe.
Jake havia deixado para trás sua esposa Marcy e sua filhinha,
Rose. Inferno, eu cresci com Marcy, e não via ela e Rose há
meses. Toda vez que eu fazia isso, a culpa e a dor me
paralisavam por dias.
— Eu coloquei um ponto final nas lutas — eu disse a Carlos,
embora eu não precisasse. Ele sabia disso.
A vontade de esfregar minha pele tomou conta de mim.
Tomei banho duas horas atrás, mas me sentia sujo, pegajoso
com arrependimento e raiva. A vergonha do meu pai de alguma
forma foi transferida para mim e eu não conseguia me livrar
dela.
Seu sorriso era cansado.
— Sim, eu sei. Mas esta academia é tudo o que tenho
também. Se ela acabar, todos nós perdemos nossa casa.
Eu não conseguia mais ficar sentado aqui. Me levantando,
andei pelo pequeno espaço.
— Precisamos jogar o anzol e atrair mais pessoas. Não, o que
precisamos é de um patrocinador. — E um maldito milagre.
Carlos esfregou o queixo e me observou andar de um lado
para o outro.
— Isso pode funcionar, mas o que seria a isca?
— Porra, como se eu soubesse. — Meu peito cedeu com um
suspiro. — Desconto nos impostos? As alegrias de ajudar os
jovens da cidade?
O humor sombrio iluminou os olhos de Carlos.
— Sua falta de entusiasmo não está exatamente me
convencendo.
— Porque eu não sou bom com essas besteiras. Eu sou um
vendedor ruim pra caramba.
— Isso você é, mano — disse uma voz da porta.
Dean, meu irmão mais novo e especialista em enrolação,
estava parado na porta. Eu honestamente não sabia como
diabos éramos parentes. Em primeiro lugar, em vez de usar
jeans e uma camisa como qualquer outro cara aqui, ele estava
vestido com um terno de três peças que eu sabia que custava
mais do que o aluguel dele – aluguel que eu pagava. Aquele
merdinha.
Em segundo lugar, ele era bonito pra caralho. Desde a escola
primária, as meninas bajulavam seus olhos azuis e cabelos cor
de areia. A porra do Príncipe Encantado. Afastei o pensamento
de que ele se parecia com minha mãe. Eu sentia a falta dela
diariamente.
Isso era o inferno. Eu sentia falta de muitas pessoas.
— O que tem de errado com você? — Dean perguntou,
entrando no meu escritório. Ele parou e me deu um sorriso
largo e falso. — Hoje, quero dizer.
Eu atirei a Carlos um olhar rápido que dizia: não fale uma
maldita palavra. Ele piscou, e eu sabia que ele entendeu. Eu
mantive Dean longe dos problemas dos negócios. Ele tinha
potencial para ser alguém grandioso – se algum dia conseguisse
um emprego.
Carlos se levantou e alongou o pescoço.
— Rhys tem um caso sério de pau broxado.
Dei uma cotovelada em Carlos com força suficiente para
desequilibrá-lo.
— Dê o fora daqui com essa merda. Você quer me dar azar
falando isso ou algo do tipo?
Carlos bufou e olhou para Dean.
— Tem algum conselho para isso, universitário?
— Pensamentos e orações?
— Vocês dois são hilários. — Mas nossa conversa fiada
funcionou. Dean estava distraído.
Assim que Carlos saiu, eu me inclinei contra a borda da
minha mesa e olhei para Dean.
— Por que está de terno? Você vai a uma entrevista?
Por favor, que seja isso. O menino era formado em ciência da
computação pela Universidade de Boston, conseguiu nota
máxima no teste de admissão em faculdades de medicina e tinha
várias ofertas de pós-graduação em todo o país, mas estava se
afundando, trabalhando como garçom e passando seu tempo
livre transando com mulheres.
Ele sorriu como se fosse manhã de Natal.
— Algo parecido.
Esse garoto.
— Ou é uma entrevista, ou não é.
— Ah, eu consegui o emprego. — Seu sorriso não morreu.
— Esta noite é mais como um teste.
Lutadores confiam em seus instintos, e o meu ficou em
alerta.
— Teste? De que porra você está falando, Deanie?
Seu sorriso caiu. Ele odiava quando eu o chamava de
Deanie.
— Que tipo de trabalho trambiqueiro é esse que precisa usar
terno para fazer testes? — Eu pressionei quando ele ficou sério.
— Ou que começa às... seis da tarde?
— Olha, eu estava realmente animado para contar a você
sobre isso porque é incrível para caralho. Mas se você vai me
falar merda...
— Fale. Agora.
— Tudo bem. — Dean pegou seu telefone e veio em minha
direção. — Encontrei este aplicativo muito legal onde você
coloca sua foto, algumas habilidades e encontra pessoas que
estão contratando.
— Isso é bom. — E, no entanto, meus nervos despertaram.
Havia algo suspeito em seu jeito.
— Então eu pensei, que diabos, ninguém está me
contratando para o que eu tenho formação agora. Mas sou
bom em outras coisas.
— Que outras coisas? — Esse maldito garoto. Apenas nove
anos mais novo que eu e eu jurava que ele me envelhecia uma
década a cada maldito ano que eu tinha que lidar com ele.
Ele encolheu os ombros.
— Como encantar mulheres, fazer com que se sintam bem.
Lentamente, eu me levantei ocupando toda a minha
estrutura.
— Fazer as mulheres se sentirem bem.
— Sim — ele disse como se eu fosse estúpido. — Eu sou
ótimo com as mulheres.
— Qual é o trabalho, Dean?
Alheio, ele digitou algo em seu telefone.
— Então, este aplicativo me colocou em contato com a
linda, Parker, que... veja bem... vai me pagar para ser seu
acompanhante. — Seus olhos se iluminaram. — Isso não é
incrível? Eu não posso acreditar. A quantia que ela está disposta
a me pagar é absurda. Dinheiro fácil e tudo que preciso fazer é
algo tão natural para mim. Melhor parte? É um acordo sem
previsão de término.
Todo o sangue na minha cabeça correu para os dedos dos
pés antes de voltar a inundar em uma onda de calor sombrio.
— Você está se prostituindo? É isso que estou ouvindo?
Onde é que eu errei?
— O quê? — Suas sobrancelhas loiras se juntaram. — Não!
Eu sou um acompanhante. Vou levar Parker para sair, vou com
ela a eventos e festas. Coisa assim. Quer dizer, não vou dizer não
se ela me pedir...
— Não. De jeito nenhum, porra. — Um rosnado saiu de
mim e eu cerrei os punhos. — Eu não gastei oitenta mil dólares
na sua educação para você se tornar um garoto de aluguel para
uma garota esnobe e rica...
— Oh, claro, mencione o fato de que você pagou por tudo.
De novo. — Ele olhou para mim com mágoa nos olhos.
— Porque eu paguei! — Passo a mão pelo meu cabelo e
agarro as pontas curtas. Eu seria capaz de arrancá-las neste
momento. — Eu investi cada centavo que me restava nesta
academia e em você. Eu estava feliz em fazer isso.
Entusiasmado. — Era o mínimo que eu podia fazer; Dean
precisava de direção, uma educação, uma saída. — E Deus me
livre se meus esforços forem jogados no vaso sanitário por causa
dos caprichos de alguma fútil e sem cérebro...
— Ei, Parker é muito inteligente. Olha isso. — Ele
empurrou o telefone na minha cara. — Ela foi para o MIT...
Eu bufei.
— Imaginei.
— E a família dela está em dezenas de conselhos de caridade
diferentes.
— O que significa nada para mim. — Peguei o telefone –
era isso ou tê-lo enfiado no meu nariz – e estudei o artigo que
ele tinha aberto. Uma garota docemente bonita, do tamanho
do meu polegar, com grandes olhos castanhos sob sobrancelhas
severamente retas, sorria para mim. Era um sorriso forçado,
nada parecido com os sorrisos radiantes e felizes que o casal
mais velho ao lado dela exibia. O casal era obviamente seus pais,
e todos estavam parados em um gramado com vista para o
oceano, uma enorme mansão estilo Cabo Cod ao fundo.
— Jesus — eu murmurei. — Eles são nova-iorquinos, Dean.
— E? — Ele riu. — O que você tem contra os nova-
iorquinos?
— Os nova-iorquinos ricos são idiotas.
O artigo dizia algo sobre como o Sr. e a Sra. Charles Brown
estavam “passando o verão” em Cabo e arrecadando fundos
para uma campanha de alfabetização infantil. O que era bom,
mas não significava que eles eram boas pessoas.
— Não pensei que você fosse esnobe, irmão.
Enrolei minha mão em torno do telefone.
— Você sabe quantos desses tipos eu conheci quando estava
no circuito? Eles querem retribuir aos pequeninos, querem ser
seus amigos. Na realidade, eles veem pessoas como nós como
carne fresca. Somos divertidos na melhor das hipóteses. E
quando deixamos de entretê-los, somos descartados.
Basta perguntar a todos os supostos amigos que
desapareceram quando Jake morreu e eu larguei o negócio.
— Parker não é assim. Ela é doce. Tímida, na verdade. — O
queixo de Dean levantou. — E se ela quiser me usar como seu
fantoche pessoal em troca de um barco cheio de dinheiro, eu
vou deixar.
— Dean...
— Eu te disse porque pensei... Não importa o que eu pensei.
A questão é que esta é a minha vida e o meu negócio. Eu vou te
devolver o dinheiro do meu jeito.
Finalmente, meu irmãozinho estava desenvolvendo
algumas garras. Eu fui mais um pai para ele do que o nosso pai
por anos. Com essa responsabilidade veio uma certa dose de
dizer a ele o que fazer. Mas eu queria que ele revidasse, tomasse
conta da própria vida. Só não desta forma. Ele era muito
esperto para isso. Era eu quem rolava na lama. Dean precisava
ficar limpo.
Eu conhecia aquele olhar em seu rosto. Ele estava falando
sério. Nada o convenceria do contrário. Apesar de todas as
nossas diferenças, nós éramos parecidos – ambos teimosos até
o âmago.
Ele se virou para ir, mas eu estendi a mão.
— Espera.
Dean endureceu, mas esperou.
Coloquei seu telefone no bolso, o movimento tão casual
que ele não percebeu.
— Se você insiste em fazer isso...
— Eu vou fazer isso.
Meus dentes de trás se encontraram com um clique. Relaxe.
Vá com calma.
— Então você provavelmente deveria conhecer ela com os
dentes limpos.
O olhar de horror de Dean teria sido engraçado se eu não
estivesse tão irritado.
— Tem algo nos meus dentes? — Ele estendeu os braços.
Seus dentes estavam limpos, mas Dean comia
constantemente. A ameaça era bastante real.
— Sim. Você não percebeu. — Inclinei minha cabeça em
direção ao banheiro particular do escritório. — Vá se limpar.
Ele não esperou que lhe dissessem duas vezes, mas correu
para o pequeno banheiro.
Eu o segui, agarrando uma das cadeiras de madeira do lado
da mesa enquanto avançava. Ele estava distraído demais para
perceber.
— Então, onde você vai encontrar essa garota?
— No Yvonne.
— Uma ostentação. — Eu tinha passado por lá uma vez. O
lugar parecia um clube social para quem é muito rico.
Dean riu.
— Não é como se eu fosse pagar.
Revirei os olhos.
— Nós vamos jantar e beber em trinta minutos, então eu
vou ter que me apressar. — No espelho, ele fez uma careta,
inspecionando seus dentes dignos de comercial de pasta de
dentes. — Não estou vendo nada...
Eu não ouvi o resto. Rapidamente, fechei a porta, virei a
maçaneta para baixo e coloquei a cadeira sob ela. Bem na hora
exata. A porta sacudiu ferozmente.
— Rhys! Que caralho? Abra a porra da porta!
É, não será possível. A cadeira aguentaria até que alguém o
soltasse. Eu avisaria Carlos... Em uma hora.
— Rhys! — O grito abafado de Dean me seguiu para fora
do escritório. — Isso não é engraçado. Você está brincando
comigo? — Um baque forte soou. — Seu filho da puta!
Eu era. Mas não senti um pingo de remorso. Dean era bom
demais para isso. Ele podia me odiar o quanto quisesse. Mas eu
deixaria bem claro para essa Parker Brown que ela não iria se
aproximar do meu irmão novamente.
Uma fúria clara correu pelas minhas veias quando subi na
minha moto. Parker Brown. Ela não saberia o que a atingiu.
Parker

Não era a minha primeira vez jantando no Yvonne. No


entanto, seria a primeira vez que eu jantava no Yvonne com o
cara que paguei para fingir ser meu encontro. Meu estômago
revirou quando me sentei no banco luxuoso mais próximo da
entrada. Em frente ao balcão, havia uma parede divisória longa
e baixa de mármore entre a área do bar e o restaurante, onde as
conversas e risadas dos clientes se tornaram burburinho.
Eu era tão baixa que meus pés balançavam no banco do bar,
e chutei impacientemente contra um bar que provavelmente
custava mais do que meu salário anual.
Falando nisso... Olhei nervosamente para o meu relógio.
Dean já deveria estar aqui. Combinamos que ele chegaria dez
minutos antes do meu chefe e do chefe do meu chefe, para que
pudéssemos repassar nosso plano.
Bebendo o coquetel que o barman incomodado havia
colocado na minha frente, tentei reprimir as borboletas na
barriga. Sério, parecia que elas escaparam do meu estômago,
invadiram meus pulmões e agora pretendiam me sufocar.
Passei a mão úmida pela testa.
— Se recomponha, Parker — eu murmurei, provavelmente
parecendo e soando como se estivesse prestes a cometer um
crime.
Mentir para seu chefe era crime?
Não, definitivamente não.
Imoral?
Sim, definitivamente sim.
Mas, na verdade, isso provava o quanto eu amava meu
trabalho e o quão longe estava disposta a ir para conseguir um
contrato permanente com a Horus Renewable Energy,
empresa de energia renovável. Eu entrei na empresa que tinha
somente três anos após obter meu doutorado em “Modelagem
Dinâmica de Investimentos em Capacidade de Geração em
Mercados de Eletricidade com Alta Penetração Eólica”. Diga
isso cinco vezes rápido.
Fiquei extasiada ao encontrar um emprego como analista de
dados em uma empresa que havia desenvolvido um modelo de
despacho de mercado que previa preços futuros de energia e o
impacto da geração de energia renovável na dinâmica do
mercado.
Era tudo que eu sempre quis de um trabalho e estava me
sentindo bem com isso até que Pete, do setor financeiro, me
disse com um sorriso presunçoso que eu só fui contratada para
atender à cota de diversidade e seria provavelmente demitida
após meu contrato de seis meses acabar.
E por quê?
Porque o chefão com todo o dinheiro, o principal
investidor, o Sr. Franklin Fairchild, só estava interessado em
contratar funcionários que tivessem provado terem um
comprometimento com suas vidas pessoais. Era uma besteira
retrô dos anos 50. A menos que um funcionário estivesse em
um relacionamento sério/casado, tenha filho e/ou morando na
casa própria e não alugada, Fairchild os considerava um mau
investimento. Onde estava o compromisso? Se não
pudéssemos nos comprometer em nossas vidas pessoais,
certamente sairíamos da empresa ao primeiro sinal de um
acordo melhor em outro lugar.
Eu também verifiquei com fontes mais confiáveis além do
que Pete que isso era verdade.
Sendo a única analista solteira e sem filhos que divide um
apartamento alugado com uma colega de quarto, eu surtei. A
dita colega de quarto, Zoe, me ofereceu a solução na forma de
um aplicativo. Encontrei Dean no aplicativo, o namorado falso
perfeito. Ele era educado, de Chelsea, pé no chão, charmoso,
bonito, e concordou em fingir ser meu namorado por tempo
indeterminado. Indeterminado.
Sério, com o que eu estava preocupada?
Ninguém jamais descobriria.
— Você. — Uma voz profunda disse ao meu lado. O tom
era acusatório.
Eu virei minha cabeça e pisquei rapidamente contra a visão
na minha frente. Um homem muito alto olhava para mim com
raiva, as narinas dilatadas, como um touro se preparando para
atacar. Meus olhos desceram por seu corpo e voltaram a subir,
pensando que nunca tinha visto um espécime como ele de
perto antes. O cara tinha pelo menos 1,80m, usando um jeans
que tinha visto dias melhores e uma longa camisa térmica que
mostrava uma estrutura musculosa. Muito definida. As
mangas da camisa estavam arregaçadas, exibindo antebraços
com veias grossas. O Yvonne não tinha um código de
vestimenta?
Eu olhei para o que seriam lindos olhos verdes se eles não
estivessem olhando feio para mim. Para mim?
Que merda era essa? Eu não tinha tempo para patifes agora.
— Posso ajudar?
— Parker Brown?
Ai, droga.
— Sim?
Seus olhos se estreitaram.
— Sou Rhys Morgan. Irmão mais velho do Dean. Ele não
vem.
Por um momento, eu só pude olhar. Como esse cara pode
ser o irmão mais velho do Dean? Dean tinha cabelos claros e
olhos azuis, bem-apessoado e bonito de um jeito belo. Esse cara
tinha cabelos escuros bem curtos, os lindos olhos verdes já
mencionados anteriormente, uma barba que precisava ter sido
aparada alguns dias atrás, e com suas feições ásperas e angulosas
e nariz quebrado, definitivamente não era um cara bonito.
Acho que algumas mulheres podem achá-lo atraente, mas ele
era muito grande e rústico para mim.
Eu gostava de caras nerds e fofos.
De qualquer forma, de volta ao meu ponto... Desviei minha
atenção da impressionante definição em seus bíceps.
— Vocês não se parecem em nada.
Suas narinas dilataram novamente.
— Sim, não somos nada parecidos. Eu não deixaria
nenhuma pau no cu riquinha de Massachusetts me prostituir.
Minhas bochechas queimaram enquanto eu olhava em
volta com horror. Alto! Uau, ele falava alto! Pulei do banco e
pressionei minhas mãos em seu peito para empurrá-lo para a
saída, mas parei. Ele tinha peitorais.
— Oh, esses são bem desenvolvidos. — Deixei minhas mãos
caírem como se tivessem sido queimadas.
O suposto irmão de Dean cerrou os dentes em óbvia
exaltação.
— Vamos conversar longe do bar. — Eu o levei até o
corredor entre a entrada e o restaurante, dando um sorriso
tenso de “está tudo bem aqui” para um recepcionista que
passava. Me virando para encarar Rhys, quase bati direto em
seu peito.
Ele pegou meu bíceps e gentilmente me empurrou para
longe dele. Fora do banquinho, eu tinha que inclinar minha
cabeça para trás para encontrar seu olhar e, enquanto ele se
erguia sobre mim, de repente me perguntei se era uma má ideia
me envolver em qualquer tipo de conversa com um homem
furioso que poderia me esmagar como um inseto com suas
grandes patas. No entanto, eu não seria facilmente intimidada.
Ok, claro, esse cara era intimidador, mas eu estudei em um
campo dominado por homens por anos. Agora, eu era a única
mulher na empresa para a qual eu trabalhava. Eu aprendi
rapidamente a não deixar nenhum cara, não importando o
quão inteligente ou fisicamente impressionante ele fosse, ver
que eu estava intimidada.
Ou desconcertada por ele.
Mesmo se eu estivesse.
— Primeiro, eu não sou de Massachusetts. — Eu não sabia
por que isso era importante, mas eu realmente odiei como ele
me chamou, se referindo aos ricos de sangue-azul que não eram
muito legais.
Rhys zombou.
— Você é uma nova-iorquina que tem casas de veraneio. —
Ele pronunciou o veraneio com um forte sotaque de Boston
que eu normalmente achava adorável. Não havia nada adorável
sobre esse cara. — O mesmo cacete de diferença, Sininho.
Ugh. Havia tanto para odiar nessa última frase.
— Por favor, não xingue. — Minha mãe tirou palavrões do
meu vocabulário antes mesmo que eu tivesse a chance de
explorar completamente seu uso. Consequentemente, o
desconforto era uma reação instintiva a palavrões
injustificados. — E zombar da minha altura é extremamente
rude.
— Você sabe o que é extremamente rude? — Ele entrou
direto no meu espaço pessoal, me forçando a esticar o pescoço
para manter contato visual. — Contratar um garoto
desesperado para atender às suas necessidades.
Eu tinha certeza de que todo o meu corpo ficou vermelho
como uma bandeira para um touro. Por um momento, só
consegui gaguejar:
— Is-iss-isso não foi o que eu fiz — gaguejei. — Para
começar, ele não é um garoto. Ele tem vinte e cinco anos. Além
disso, não estou pagando a ele para “atender minhas
necessidades”. Agradecerei se não me insultar assumindo que
preciso pagar por isso. — Ele arrastou seu olhar sobre o meu
corpo e grunhiu. — Vou ignorar o que quer que esse barulho
signifique, já que eu evoluí além do período dos dinossauros.
Voltando ao que estava dizendo: Dean é adulto e eu o contratei
para me acompanhar em encontros e eventos que envolvem
meus colegas de trabalho e meu chefe. Sem entrar em detalhes,
preciso que meus chefes pensem que estou em um
relacionamento sério para que considerem me contratar para
um cargo permanente. O Sr. Fairchild é um pouco antiquado
nesse aspecto. — Pronto. Isso foi muito diplomático. Eu sorri
para mim mesma. Foi a primeira vez que descrevi a situação sem
chamar o Sr. Fairchild de uma praga para os direitos das
mulheres.
Rhys fez uma careta.
— Tire o sorriso do seu rosto, Sininho. Eu não me importo
nenhum pouco sobre o motivo que te fez contratar Dean. Foi
errado para caralho e você sabe disso.
Ansiedade e mágoa se misturaram enquanto eu olhava para
o meu acusador. Contratar Dean foi errado? Eu pensei que
fosse mutuamente benéfico. Em nenhum momento eu senti
que estava tirando vantagem ou o usando, mas seu irmão estava
fazendo parecer que sim. Como se eu fosse uma princesa
privilegiada que achava que podia fazer o que quisesse porque
tinha dinheiro.
Cruzei os braços sobre o peito.
— Eu me recuso a ficar aqui e sentir que fiz algo errado. Se
você está incomodado com as escolhas de seu irmão, o
problema é seu, porque ele teve uma escolha e estava sendo bem
recompensado. Dois mil dólares por semana para ir a alguns
encontros durante o referido mês é mais do que justo. — Era
ridículo. Eu tive que usar o meu fundo fiduciário para isso. Mas
nenhum cara estava disposto a ser meu namorado falso por
tempo indeterminado sem uma excelente compensação.
Não que eu fosse tragicamente pouco atraente ou tivesse
uma personalidade horrível. É que a maioria das pessoas
precisava de uma data de término porque tinha outros
compromissos. Eu não conseguia dar a eles uma data final
ainda.
Balançando nos calcanhares com o valor, Rhys pareceu
momentaneamente mudo.
Bom, porque eu precisava que ele fosse embora!
— Olhe, Sr. Morgan, meus chefes chegarão a qualquer
minuto, então eu realmente gostaria que você fosse embora.
Agora. Agora seria bom. — Eu indiquei a porta atrás de mim.
— Tchauzinho. — Ele não se moveu. — Adiós? — Ele ainda
estava olhando para mim. — Vámonos. Ciao. Au revoir. —
Suspirei pesadamente. — Xô.
Ele fez uma careta.
— Você acabou de me enxotar?
— Só se isso funcionar.
— Querida, você é meio louca. Alguém já te disse isso?
— Olha...
— Parker, aí está você!
Fechei meus olhos com força, desejando que uma porta para
uma outra dimensão se abrisse para que eu pudesse empurrar
Rhys Morgan para as profundezas escuras e esperar que ele
acabasse em um mundo de cobras gigantes.
Meu chefe havia chegado.
Abrindo os olhos, eu me virei, colocando um sorriso
brilhante no rosto quando Jackson Sánchez, meu chefe,
caminhou em minha direção com o Sr. Fairchild de um lado e
a noiva de Jackson, Camille, do outro.
Meu estômago revirou.
Quando Jackson disse que o Sr. Fairchild queria conhecer a
mais nova membro da equipe (essa seria eu), prometi a ele que
levaria meu namorado, sabendo que precisava impressionar
Fairchild. Não só me senti mal por mentir para Jackson, de
quem eu realmente gostava e admirava, como agora estava sem
o tal namorado. Por causa do homem das cavernas ao meu lado.
Um homem das cavernas que possivelmente iria deixar escapar
o que eu tinha feito até agora e arruinar qualquer chance que
eu tivesse de estender meu contrato com a Horus. Na verdade,
provavelmente eu seria demitida.
Onde estava uma dimensão de cobras quando você
precisava de uma?
Os três se aglomeraram ao nosso redor e eu juro que aquelas
borboletas voltaram com fúria, definitivamente com a intenção
de me sufocar até a morte.
Eu estava tão ferrada.
— Sr. Fairchild, esta é a nossa mais nova e impressionante
recruta, Parker Brown. — Jackson sorriu para mim.
Estendi minha mão para o Sr. Fairchild.
Franklin Fairchild era o que chamavam de "dinheiro velho"
de Boston. Ele pegou o que herdou quando jovem e
quadruplicou o valor, investindo sabiamente. Como ele
mesmo admitiu, estava cercado por uma grande equipe de
consultores. Foram esses mesmos consultores que lhe disseram
que a energia renovável era um lugar inteligente para investir.
Ele não era particularmente em prol do movimento, o que
me irritava um pouco, já que ele tinha muito mais influência na
empresa do que eu pensei que um cara como ele teria tempo
para se dedicar.
Fairchild apertou minha mão, um movimento agressivo e
enérgico para cima e para baixo.
— Mulher pequena, cérebro grande, hein? — ele riu.
Oh sim, como se eu nunca tivesse ouvido isso antes. Meu
sorriso era doloroso. Quando Jackson se virou para Rhys, meu
sorriso ficou paralisado de agonia.
— E esse deve ser o namorado. — Jackson não conseguiu
esconder a surpresa em seu rosto. Claro que ele ficou surpreso!
Rhys não era o que alguém esperaria de mim e eu certamente
sabia que não era o tipo de Rhys Morgan. Um cara como ele
provavelmente namorava mulheres com seios enormes e
bundas aperfeiçoadas para desafiar a gravidade por causa de
agachamentos diários.
Minha boca estava se abrindo, a palavra não prestes a sair
com grande veemência quando...
— Sim. — Rhys estendeu a mão para apertar a de Jackson.
— Eu sou o namorado de Parker. Rhys. Como vai?
Acho que meu cérebro estava tendo um problema de
sinalização porque pensei ter acabado de ouvi-lo dizer que era
meu namorado.
Rhys sorriu para mim, o diabo dançando naqueles olhos
cativantes.
Ele disse!
Ele com certeza disse!
O que ele estava fazendo?
Eu ia vomitar. Eu ia vomitar em cima dos mocassins Prada
do Sr. Fairchild.
— Rhys? — O Sr. Fairchild praticamente passou por
Jackson para chegar ao meu carrasco. — Rhys Morgan, minha
nossa.
Espere, o quê?
Eu observei Fairchild apertar a mão de Rhys, sorrindo para
ele como se ele fosse a segunda vinda de Jesus, e então senti o
chão desaparecer embaixo de mim quando ele se virou para
Jackson e disse:
— Você não me disse que Parker estava namorando Rhys
Morgan.
Diante de nossas expressões vazias, Fairchild deu uma
gargalhada.
— Ele é apenas o melhor boxeador peso-pesado que este
país já viu em uma geração. — Ele apertou a mão no ombro de
Rhys. — Você vai se sentar ao meu lado, filho.
O quê?
Enquanto o Sr. Fairchild levava o irmão de Dean para o
restaurante, Rhys olhou por cima do ombro para mim e
piscou.
Realmente piscou.
Ugh, ele era o diabo.
Com todo o meu desejo pela dimensão de cobras, eu
inadvertidamente desejei abrir um portão para outra dimensão
onde um boxeador zangado acabou de mentir para meus chefes
sobre namorar comigo?
Jackson e Camille sorriram.
— Adivinha quem acabou de se tornar a queridinha —
Jackson brincou. Com a minha carranca, ele riu. — Estou
brincando. Mas é sempre bom manter Fairchild interessado
nesses jantares. Isso é bom, Parker.
Não.
Isso era um desastre.
Rhys

O que diabos eu estava fazendo? Embora eu caminhasse com


aparente facilidade ao lado de Fairchild, parecia que eu estava
descendo uma colina em uma carroça desgovernada. Eu não
queria estar aqui. Eu com certeza não queria ser um troféu para
uma garota mimada, embora bonita. No entanto, aqui estava
eu, caminhando por um restaurante que mais parecia uma
biblioteca exclusiva de um clube de cavalheiros.
Os clientes nos observavam passar, mais de um par de olhos
se demorando em meus jeans rasgados e botas de trabalho
gastas. Este era um lugar onde as pessoas usavam ternos e sedas,
não algo áspero e desgrenhado.
O meu lado responsável estava me dizendo para virar e dar o
fora agora, que isso era um desastre em formação. Infelizmente,
eu vivia minha vida ouvindo o lado cabeça-quente que dizia
para deixar rolar. Além disso, havia o bônus de Parker Brown
estar abrindo um buraco com os olhos nas minhas costas a cada
passo que eu dava.
Ela era uma figura com seus protestos ultrajados de
inocência. Que ela de alguma forma conseguiu olhar para mim
com seu nariz fofo empinado, embora o topo de sua cabeça mal
chegasse ao meu ombro, era um verdadeiro talento. A pequena
Srta. Santinha realmente me enxotou. Teria sido adorável se ela
não estivesse tentando comprar os serviços do meu irmão.
Embora eu estivesse rindo com Fairchild, fingindo ouvi-lo
divagar sobre estatísticas de boxe, minha consciência estava
sintonizada com Parker da mesma forma que estaria se
fôssemos oponentes prestes a entrar no ringue. Sim, você levava
o público ao frenesi ao se preparar, mas o que você realmente
estava fazendo era atingir o adversário.
E Parker Brown estava abalada. Juro que a ouvi murmurar
algo sobre dimensão de cobras, seja lá o que isso queira dizer.
Sua ira me divertiu.
Quando vi a foto dela, pensei que ela iria desmoronar tão
rápido quanto uma torrada seca quando eu a repreendesse.
Achei ela meio bonita. Eu estava errado em ambos os casos.
Claro, ela estava nervosa e corou com um belo tom de rosa
profundo, mas ela não cedeu. E sua foto não lhe fizera justiça.
Uma fada com ossos delicados e traços finos, sua pele lisa
como porcelana, brilhando com boa vitalidade, seus olhos
castanhos escuros grandes demais para seu rosto em forma de
coração. Eu não gostava de mulheres como ela. Eu gostava de
uma boa foda suada para aliviar o estresse. Eu teria medo de
quebrar Parker. Inferno, eu provavelmente poderia envolver a
cintura da mulher com as minhas mãos.
Afastei os pensamentos de segurar firme aquela cintura fina
enquanto eu... Não. Não. Não. Disciplina, Morgan. Use a
porra da sua disciplina.
— Rhys Morgan, minha nossa — Fairchild disse pela
décima vez, seu nível de entusiasmo nunca diminuindo. —
Poderia ter me derrubado com uma pena quando vi você
parado ali.
Um soco simples o teria derrubado. Embora ele fosse
bastante alto e parecesse estar razoavelmente em forma, ele
tinha aparentemente uma mandíbula de vidro – um cara durão
na superfície que falava demais e desistiria ao primeiro sinal de
qualquer ameaça física real. Dito isto, ele obviamente pensava
que era o fodão.
Ele caminhava pelo espaço como se fosse o dono. Talvez ele
fosse. O homem exalava riqueza, desde seu terno cinza Savile
Row sob medida até seus mocassins de couro italiano. Em
outra época, eu tive meios de comprar essas coisas e andar por
aí como um pavão. Mas era melhor esquecer aqueles dias.
Infelizmente, eu estava em uma viagem pela estrada da
memória com Fairchild. Ele agarrou meu ombro e deu uma
sacudida e um aperto.
— Por onde você esteve, filho?
Apenas uma pessoa tinha o direito de me chamar de filho, e
ele estava morto. Eu cerrei os dentes e dei de ombros levemente,
soltando seu aperto.
— Por aí.
A bonita recepcionista parou em uma mesa em um canto
isolado. Ela puxou uma cadeira e Fairchild sentou-se
suavemente antes que Parker pudesse. Cheio de classe, esse
cara.
Eu me virei e dei ao meu "encontro" um sorriso com dentes
antes de puxar outra cadeira.
— Amor?
Olhos escuros brilhantes lançavam faíscas de pura raiva na
minha direção quando ela retribuiu meu sorriso – era mais uma
careta, honestamente – e sentou-se no assento oferecido com a
graça fácil de alguém nascida para o dinheiro.
— Obrigada.
O inferno congelaria antes que ela se sentisse realmente
grata.
E daquele jeito, imaginei sua boca lisa, macia e deslizando na
minha... Disciplina, droga! De jeito nenhum eu iria me
permitir ficar atraído pela Srta. Parker Brown, princesa da
Quinta Avenida.
Ela nada mais era do que uma possível solução para meus
problemas atuais. Porque, por mais que eu odiasse concordar
com Dean, alguns milhares de dólares por mês para fingir ser o
namorado dela era um dinheiro fácil e muito necessário. E, em
um momento de introspecção rara, mas brilhante, ocorreu-me
que eu poderia matar dois coelhos com uma cajadada só.
Fairchild era um fã e estava nadando em dinheiro, o que o
tornava um potencial patrocinador da academia. Eu só tinha
que convencê-lo.
Caso contrário, eu consideraria a noite como uma
oportunidade para importunar Parker Brown como vingança
por tentar comprar meu irmão. Então eu estaria fora daqui e
fora de sua vida.
Limpando a garganta e sentei-me na cadeira ao lado dela.
Mas Fairchild fez uma careta com toda a petulância de uma
criança mimada.
— Pensei ter dito que você sentaria ao meu lado, Rhys. Srta.
Brown, troque de lugar.
Parker empalideceu, seus lábios rosados se abrindo e
trabalhando como os de um peixe confuso, e eu já sabia, pelo
fogo que ela cuspiu em mim mais cedo, que ela estava lutando
entre dizer a ele para dar o fora e fazer o que lhe daria maior
segurança no emprego.
Eu estava quase disposto a deixá-la sofrer, mas minha mãe
não me criou assim. Além disso, Fairchild era um idiota. Eu
poderia precisar do dinheiro dele, mas se eu me deitasse como
um tapete para ele andar em cima, ele não teria nenhum
respeito por mim.
Inclinando-me para frente, eu o prendi com um olhar fixo,
embora meu sorriso fosse fácil.
— Posso conversar com você muito bem de onde estou,
Fairchild. Além disso, gosto de ter minha linda namorada perto
de mim.
Passei meu braço sobre os ombros magros de Parker e dei-
lhe um aperto carinhoso. Um gorgolejo escapou dela. Ela
encobriu com um sorriso largo e aflito enquanto se inclinava
para o meu abraço, a imagem de uma namorada amorosa. Mas
embaixo da mesa, um salto pontiagudo pressionava a ponta da
minha bota. Com força.
Quando eu não estremeci ou me afastei, seus olhos
castanhos encontraram os meus.
Eu sorri para ela. Botas com bico de aço, querida. Isso é o que
você ganha por mexer com um trabalhador. Seu olhar de soslaio
prometia retribuição mais tarde. Eu estava ansioso por isso. Até
demais. Ela era divertida de irritar. Mas foi um erro tocá-la; o
perfume rico de rosas e algo sensual flutuou da pele macia e
sedosa. Uma parte distorcida de mim queria se aproximar e
respirar fundo, encher meus pulmões com aquela estranha
mistura de inocência e pecado.
O que diabos eu estava pensando? Inocência e pecado?
Quem diabos falava assim? Deus, essa garota estava mexendo
com a minha mente. Deixei cair meu braço e recostei-me na
cadeira. Jackson ocupou a cadeira oposta.
A garçonete chegou para anotar os pedidos de bebidas – fui
o único que pediu uma cerveja, algo que fez Parker apertar os
lábios. Não era como se eu estivesse bebendo coisas pesadas
como Fairchild, que havia pedido um Macallan 25 puro. Posso
não saber muito, mas sabia que um copo daquilo custaria pelo
menos duzentos dólares aqui. Ela deveria ter ficado feliz por eu
ter ficado com minha cerveja de barril de cinco dólares.
Assim que a garçonete saiu, Franklin retomou o assunto.
— Ainda não consigo acreditar que você desistiu, Morgan.
Oh, eu entendo sobre a perda do seu pai. — Ele acenou com a
mão como se para afastar aquele inconveniente. — Mas você
poderia simplesmente ter feito uma pausa para processar o luto.
A história oficial que contei ao mundo – e a Dean – foi que,
quando meu pai morreu, eu perdi o ânimo e decidi me
concentrar na minha família. A maior parte era verdade, e
parecia ser o melhor motivo para dar, porque eu seria
amaldiçoado se trouxesse Jake para a mistura. Ninguém mais
conseguiria coisas dele às minhas custas.
Agora, Fairchild estava na minha cara, exigindo mais. Eu
sorri com dentes que queriam dar uma mordida.
— Não me arrependo da minha decisão. Eu segui em frente
para coisas melhores.
— Coisas melhores? — Ele zombou. — Nada poderia
superar entrar no ringue e aniquilar seu oponente.
Eu tinha certeza que dar um soco na boca desse cara seria
melhor do que isso. Mas eu dei a ele um encolher de ombros
em resposta e não disse mais nada.
Felizmente, Jackson se tornou o Sr. Boas Maneiras –
provavelmente tentando encobrir minha recusa em me curvar
a vontade de Fairchild – e mudou de assunto.
— Franklin — ele disse — estou tão feliz que você
finalmente conheceu Parker. As sugestões dela para nosso
modelo de previsão fizeram melhorias significativas, o que
despertou o interesse de um grande cliente no mercado
europeu...
Fairchild fez um barulho zombeteiro e acenou com a mão,
interrompendo Jackson.
— Na minha época, você fazia o trabalho com base em seu
instinto, não em um software de computador sofisticado.
Parker recuou daquele golpe verbal. E tive o impulso de
brigar por ela. Mas, como qualquer boa lutadora, ela aguentou
o golpe, depois empurrou os ombros para trás, enrijecendo e
endireitando a coluna.
Seu sorriso era como água fria.
— Eu concordo, Sr. Fairchild. Nada supera o poder de
instintos bem aguçados. — Ela manteve a voz cuidadosamente
modulada, totalmente imperturbável. — O verdadeiro
objetivo do meu trabalho é fornecer informações para apoiar
esse impulso instintivo, tomando vários fatores – demandas de
energia por hora, preços de energia atacadista, mix de geração
— ela acenou com a mão elegante como se dissesse que tudo
isso fosse algo básico — e considerando variáveis como a
proporção de energia gerada a partir de fontes renováveis e
fluxos de energia transfronteiriços para vários mercados
europeus, e condensando essas informações em relatórios e
ferramentas de dados.
Estávamos todos olhando para ela agora, encantados com
sua voz cremosa e confiança gentil. E ela sabia disso.
— Com isso — disse ela —, nossos clientes têm uma visão
mais clara de como proceder em vários caminhos.
Era óbvio que ela poderia continuar, mas ela parou por ali,
descansando as mãos sobre a mesa, e olhou para Fairchild com
aqueles olhos castanhos inocentes.
Eu queria rir ou talvez bater palmas. Esta não era a mulher
irritada com quem eu estava discutindo, ou mesmo a mulher
nervosa que eu tinha visto no bar, batendo o pé em um ritmo
agitado enquanto esperava por Dean. Esta Parker sabia o que
estava falando e não se deixaria ser intimidada.
Infelizmente, Fairchild piscou como se estivesse saindo de
um nevoeiro e deu a ela um olhar brando antes de se virar para
Jackson.
— Bem, ela sabe falar, com certeza.
Jackson parecia querer chutar Fairchild. Parker apenas
parecia ter sido chutada.
O olhar aquoso de Fairchild pousou em mim e um sorriso
iluminou seu rosto envelhecido.
— Qualquer coisa que faça com que o trabalho seja
realizado, hein?
Eu deveria rir para mostrar que concordo? Porra, eu deveria
fascinar esse idiota. Eu teria que andar em uma linha tênue
entre concordar e atacar.
Dei de ombros.
— Nunca subestimei a importância de ter os melhores em
minha equipe.
Fairchild riu e me deu uma piscadela larga.
— Você está sendo modesto. Rhys "Criador de Viúvas"
Morgan não precisa de nada além de um bom golpe duplo para
nocautear seus oponentes.
Criador de Viúvas. Por dentro, recuei, sentindo-me um
pouco enjoado. Quando eu estava no circuito, assumi o título
que a imprensa me deu com orgulho. Era uma marca de
distinção receber um apelido. Então Jake morreu. Jake, que
deixou para trás Marcy e sua filha pequena, Rose. Eu não tinha
sido responsável pela morte de Jake, mas com certeza não
queria ser chamado de Criador de Viúvas agora.
Meus ombros pareciam muito tensos. Os alonguei e tomei
um gole de água.
— Não há nada como um bom nocaute... — Deixe-me
demonstrar. Por favor? — Mas eu não teria as habilidades sem
meus treinadores. — Inclinei-me para Parker até nossos
ombros se tocarem. Uma faísca de calor passou ao longo do
meu braço. Droga. Foco. — E ultimamente, percebi que o amor
de uma boa mulher torna tudo melhor.
Eu ia engasgar com minhas próprias palavras. E se o som
baixinho de Parker fosse uma indicação, ela já estava
engasgando. Mas eu olhei para ela de qualquer maneira, a
própria imagem de um tolo apaixonado.
— Parker é a melhor.
Porra, eu soava como um idiota. Eu queria chutar minha
própria bunda.
Mas eu conhecia caras como Fairchild. Ele me admirava
pelo boxe. Mas parte dele também se odiaria por essa admiração
porque a via como uma fraqueza. Eu tinha que mostrar a ele
um pouco de fraqueza em troca. Uma pequena finta para
enganá-lo, fazê-lo se sentir superior, seguida de uma pequena
indireta para mantê-lo atento. A laia de Fairchild gostava de um
desafio, mas não um que fosse muito difícil.
Era uma dança que eu odiava. Mas eu faria isso pela
academia. Por Dean, mesmo que ele nunca apreciasse. Mas o
mais importante, para pagar a hipoteca da academia e não ter
que recorrer à venda do lugar para alguém que iria demoli-la e
encher de condomínios gentrificados. Além disso, Parker
Brown – apesar da enormidade de seu lindo cérebro – estava
perdendo a cabeça aqui. Ela não precisava do Dean. Ele já teria
estragado tudo irritando Fairchild. Ela precisava de mim.
— Não é mesmo, amor? — Eu perguntei, envolvendo um
braço em volta dela mais uma vez, e cedendo ao desejo de
acariciar seu cabelo. Deus, ela cheirava bem. Eu teria que me
acostumar com isso. E o jeito que tocá-la fazia meu pau
imediatamente se animar.
Para baixo, garoto.
Ela sorriu tão sem graça e falso, eu queria rir. Sua mão desceu
na minha coxa, muito perto do dito pau. Unhas rosa pálidas
afundaram em minha carne, seu aperto forte o suficiente para
sentir mesmo através do meu jeans.
Essa é uma dor que vou sentir mais tarde. Ela realmente era
fofa como uma fadinha raivosa.
— Você é muito gentil, docinho — ela rangeu os dentes.
Docinho? Eu bufei uma risada.
— Vocês dois estão juntos há muito tempo? — Fairchild
perguntou quando a garçonete serviu nossas bebidas.
— Parece uma eternidade — Parker disse levemente.
— Eu admito, estou surpreso em vê-lo aqui — Fairchild
continuou, tomando um gole de seu uísque. — O tempo todo
em que você estava lutando, você sempre tinha uma nova
mulher. — Ele riu. — Lembro-me de uma luta, Morgan
apareceu com três mulheres — disse ele a Jackson. — Uma em
cada braço e uma liderando o caminho para o ringue.
Esse cara de merda.
Eu queria encontrar os olhos de Parker e dar a ela um olhar
compassivo. Não que eu achasse que ela iria gostar disso agora;
a mulher estava tensa como um tambor e quase vibrando de
irritação.
— Eh, bem... Quando você sabe, sabe.
Cumprimentei Parker com minha cerveja antes de tomar
um grande gole. Eu não sabia nada sobre amor romântico. Mas
por uma chance de salvar tudo que eu realmente amava, eu
fingiria. Com isso, inclinei-me para frente, apoiando meus
antebraços na mesa – para grande consternação da Srta.
Santinha.
— Esqueça as mulheres — eu disse a Fairchild. — Você já
ouviu a história sobre quando eu encontrei Donny Douglas
para uma luta clandestina?
Como esperado, os olhos de Fairchild brilharam.
— Não. Quando foi isso?
Caiu como um patinho. Eu me lancei na história, sabendo
que manteria Fairchild entretido, que a cada palavra, ele iria me
querer mais por perto – e Parker também. É, ela precisava de
mim. Ela só não sabia disso ainda. Mas ela iria.
Parker

Estremeci com a fria noite de primavera, meu coração batendo


forte no peito enquanto observava Rhys falar em voz baixa com
o Sr. Fairchild. Jackson e Camille já tinham ido embora.
Finalmente, Fairchild entrou em seu Town Car, e eu estreitei
meu olhar para Rhys enquanto ele andava de volta até mim.
Ele caminhava com a arrogância de um homem que acabara
de vencer uma luta de boxe.
O grande idiota.
— Então, eu acabei de salvar sua pele. — Ele teve a audácia
de sorrir.
A raiva que estava cozinhando lentamente no meu
estômago desde que todos nos sentamos para jantar ameaçava
transbordar. Se eu ficasse aqui mais um segundo, eu iria
eviscerá-lo com o poder da minha mente.
Eu tinha certeza disso.
Não havia como uma pessoa ficar tão brava com alguém sem
que essa energia se manifestasse. Afastei-me abruptamente do
Yvonne e comecei a caminhar para o sul em direção ao
apartamento que dividia com minha melhor amiga Zoe. Eram
trinta minutos a pé, o que deveria me dar algum tempo para
aliviar minha raiva incomum.
— Vou acompanhá-la até em casa e podemos discutir os
termos. — Rhys começou a andar ao meu lado.
A perplexidade ultrapassou a fúria.
— Como é?
Ele encolheu os ombros.
— Você ainda precisa de alguém para fingir ser seu
namorado, certo? E acho que posso dizer com certeza que
Fairchild acha que sou foda.
Sim, Fairchild definitivamente achava que Rhys era incrível.
Claro que sim. Ambos eram neandertais. Eu cerrei os dentes,
frustrada porque minhas pernas curtas nunca poderiam
ultrapassar o boxeador alto ao meu lado. Um boxeador, pelo
amor de Deus!
Não que eu não gostasse de boxe. Qualquer esporte
competitivo demonstrava disciplina, determinação e
habilidade. Todas essas eram boas qualidades.
Não, o boxe não me incomodou.
Isso explicava os músculos e o nariz quebrado.
O que me incomodou foi a amizade bajuladora que se
desenvolveu entre Rhys e Fairchild. Ele não concordou
abertamente com nenhuma das bobagens retrógradas e quase
misóginas que saíram da boca do meu chefe, mas Rhys também
não discordou totalmente.
Durante a maior parte da noite, Jackson, Camille e eu
tivemos que ouvir Rhys entreter Fairchild com histórias de seus
dias de glória como boxeador. Não que as histórias não fossem
um tanto interessantes; apenas abriam a porta para os
comentários de Fairchild. E sua masculinidade tóxica.
O objetivo do jantar era mostrar a Fairchild que eu era uma
adição importante à equipe. Ele só se importou com Rhys.
— Você atrapalhou meu jantar — eu fervi.
— Atrapalhei? — Rhys bufou. — Sempre que Jackson
tocava no assunto de energia renovável, os olhos de Fairchild
ficavam vidrados. Você deveria me agradecer por manter o cara
interessado o suficiente para ficar durante toda a refeição.
— Sim, eu gostei tanto dele te interrogando constantemente
sobre quanto sangue você derramou e com quantas mulheres
você se deitou. É isso que sempre procuro em minhas conversas
durante jantares.
— Ei, não é minha culpa que seu chefe não tenha boas
maneiras. A questão é que mantive o interesse dele. O cara me
ama.
Ugh, infelizmente é verdade.
— Parece que se você quer que esse cara a mantenha por
perto, então a maneira de fazer isso acontecer é me pagar os dois
mil dólares por semana para ser seu namorado falso. Ele me
quer por perto e onde você for, eu vou, certo?
Eu parei de andar, a raiva se misturando com a frustração
porque eu sabia que havia lógica em sua proposta. Ele estava
absolutamente correto. E eu odiava isso.
— Eu não te conheço da Universidade Adam.
O músculo em sua mandíbula ficou marcado.
— E você conhece meu irmão da Adam? Ou a diferença é
que ele tem um diploma e eu sou um idiota sem estudo que
administra uma academia?
Por que ele deliberadamente tentava ver o pior em mim?
— Você é muito preconceituoso.
A expressão de Rhys escureceu.
— Sininho, como você disse, você não me conhece, porra.
— Não xingue. — Cruzei os braços sobre o peito,
recusando-me a ser intimidada por ele, embora minhas pernas
tremessem um pouco com a ideia de concordar com sua
proposta. — Dificilmente vou contratar um cara que me odeia
porque cresci com dinheiro.
Ele exalou pesadamente, sua tensão anterior parecendo se
dissolver.
— Sininho — ele disse, seu tom mais suave —, eu também
não te conheço, porra. Como posso te odiar?
Sininho. Era assim que ele me via? Minúscula, mimada e
mal-humorada? Essa doeu. Franzindo o nariz, comecei a andar
novamente.
— Não me chame de Sininho.
— Nós temos um acordo? — Rhys persistiu enquanto
caminhava ao meu lado novamente.
Eu o cortei com um olhar.
— Por que você quer fazer isso?
E lá estava ele cerrando os dentes novamente.
— Eu preciso do dinheiro — ele soltou.
Como se isso fosse algo para se envergonhar?
Ainda assim, Dean precisava do dinheiro porque estava
desempregado. Por que um ex-boxeador profissional, dono de
uma academia precisava de dinheiro? Eu não ficaria envolvida
em nada nefasto. Eu disse isso a ele.
Ele fez uma careta.
— Não é nada criminoso. Jesus Cristo. Todo o dinheiro que
ganhei no boxe foi para minha família, para a faculdade de
Dean e outras merdas que precisávamos. Agora a academia não
está indo muito bem e o dinheiro extra pode ajudar a injetar
uma nova vida nela.
— Você pagou a faculdade do seu irmão?
Ele grunhiu; tomei isso como uma confirmação.
A raiva dentro de mim diminuiu um pouco. Um cara que
gastou o que ganhou com a educação do irmão mais novo não
podia ser tão ruim assim, não é? Na verdade, era meio fofo.
Eu o considerei.
— Se fizermos isso, precisarei que você seja flexível com sua
agenda. Você deve ser capaz de participar de eventos e jantares
sem aviso prévio. Esse foi o acordo com Dean.
Rhys olhou para mim com aqueles olhos lindos demais e
assentiu.
— Fechado.
Mordi o lábio, hesitando em tornar isso oficial. Dean era tão
tranquilo e charmoso que eu fiquei instantaneamente relaxada
em sua companhia. A ideia de encenar um relacionamento
romântico com ele não me incomodou nem um pouco.
Eu discretamente olhei para seu irmão mais velho enquanto
ele caminhava pela rua ao meu lado, as mãos nos bolsos da calça
jeans, esperando impacientemente pela minha resposta.
Borboletas ganharam vida na minha barriga e o leve tremor em
minhas pernas voltou, enquanto eu imaginava fingir ser a
namorada de Rhys nos próximos meses.
O homem era rude, desagradável, xingava demais e tinha a
capacidade de me irritar, o que era difícil de fazer. O fato de
Fairchild gostar dele também não ajudava.
E, no entanto, foi a última coisa que me persuadiu a dizer
sim.
— Tudo bem, mas eu quero que você assine um contrato.
— Dean teve que assinar um contrato?
— Não. Mas Dean também nunca me emboscou para
ganhar o trabalho.
— Você tentou prostituir meu irmão mais novo. Não vou
me desculpar pelo meu comportamento.
A chama da indignação inflamou em mim mais uma vez.
— Pela centésima vez, não tentei prostituir seu irmão!
Uma gargalhada do outro lado da rua me deixou tensa, e
observei o casal que tinha me ouvido, olhar para nós enquanto
eles riam e se afastaram.
Eu corei e olhei para Rhys como se fosse culpa dele.
O grande idiota sorriu.
— Talvez você devesse aprender a controlar esse
temperamento, Sininho. Isso vai te colocar em apuros qualquer
dia.
Havia a possibilidade de eu matá-lo antes mesmo de
assinarmos um contrato.
— Eu não tentei prostituir Dean — eu disse baixinho. — E
já que estamos no assunto, não é disso que se trata. Você
percebe que não haverá sexo real acontecendo entre nós?
— Não se preocupe, peixinha, você não é meu tipo.
A indignação e o orgulho ferido me fizeram zombar.
— Como se você fosse o meu.
Rhys me lançou um olhar malicioso.
— Sim, acho que nós dois sabemos que não sou seu tipo.
Agora que está resolvido, temos um acordo ou o quê?
Me ocorreu que Rhys era uma espécie de contradição.
— Por que está tudo bem você se “prostituir” e não Dean?
Sua testa franziu.
— Não acabamos de confirmar que isso não é prostituição?
— Não mude de assunto.
— Olhe, meu irmão não foi para a faculdade para jogar
aquele diploma no vaso sanitário ganhando dinheiro fácil
acompanhando você a um evento de vez em quando. Ele
precisa se concentrar em encontrar uma carreira. Eu tenho uma
carreira – administro uma academia. Preciso de dinheiro para
aquela academia. Fazer isso traz esse dinheiro. Fim da história.
Agora, temos um acordo?
— Contrato primeiro.
Ele suspirou, esfregando a mão sobre a barba por fazer.
— Beleza.
Oh, querido senhor no céu, eu ia fazer isso?
— Você está bem? — Ele semicerrou os olhos para mim. —
Você parece um pouco pálida.
— Isso ocorre devido a uma hipotensão causada pela queda
da pressão arterial e também quando você entra em choque,
que é o que tenho certeza que está acontecendo comigo agora.
— Acenei com a mão cansada para ele. — Acordo com o diabo
e tudo mais.
— Alguém já disse que você é meio louca?
— Sim — eu bufei. — Você. Esta noite. Antes de você
sequestrar minha vida.
— Você quer dizer salvar a sua bunda. — Ele piscou para
mim.
— Morgan, não estou colocando nenhuma piscadela no
contrato. Sem piscar, sem me chamar de Sininho e sem xingar.
— Eu parei, não muito longe do meu prédio, e estreitei meu
olhar. — Você recicla?
Rhys olhou para mim como se eu realmente fosse maluca.
— Quem não recicla?
— Oh, você ficaria surpreso. Então isso é um sim?
Ele deu de ombros com impaciência.
— Sim, claro que reciclo.
— Você tem um adesivo escrito “buzine, se quiser” no seu
carro?
Sua testa franziu.
— Não...
Eu suspirei de alívio. Ok, talvez pudéssemos fazer isso.
— Onde fica sua academia? Levarei o contrato neste fim de
semana.
— Chama Lights Out, perto da Fourth em Chelsea.
Geralmente estou livre na hora do almoço.
Eu balancei a cabeça, pensando sobre o nome. Parecia mais
uma boate do que uma academia.
— Tudo bem. Vou passar lá no sábado à tarde. — Eu me
movi para andar ao redor dele.
— Eu ainda vou com você até sua casa.
— Você não precisa fazer isso.
— E, no entanto, aqui estou eu fazendo isso. — Ele me deu
outro sorriso de menino que fez aquelas borboletas vibrarem
novamente. Eu me senti manipulada e não conseguia me
lembrar da última vez que alguém me fez sentir vulnerável,
como se eu tivesse pouco controle sobre a situação.
Nossa. Esse homem foi uma péssima ideia.
Fomos o resto do trajeto até o meu prédio em silêncio,
trocando olhares cautelosos (ok, os meus eram cautelosos; os
dele eram deliberadamente provocadores) enquanto
caminhávamos.
Finalmente, viramos na Avenida Harrison, onde Zoe,
minha colega de quarto na faculdade e melhor amiga, possuía
um apartamento moderno de dois quartos comprado para ela
por seu rico pai ausente. Ela me deixou ficar lá por menos da
metade do aluguel real que o quarto normalmente custaria. Era
ótimo. Eu tenho um lugar legal para morar, no bairro caro de
Back Bay, e o bônus? Não tinha nada a ver com meus pais.
Se eu tivesse conseguido um apartamento que pudesse pagar
com meu salário, estaria morando bem longe da cidade, em um
lugar que meus pais desaprovariam. Isso teria me causado
ansiedade, eles teriam constantemente me atormentado para
usar meu fundo fiduciário para conseguir um lugar melhor, e
minha obstinada recusa em fazê-lo teria causado uma
rachadura entre nós, levando assim a mais ansiedade da minha
parte porque eu odiava decepcionar meus pais tanto quanto eu
odiava depender do dinheiro deles.
Felizmente, Zoe não queria morar sozinha e me implorou
para ficar com o segundo quarto.
Todos saíam ganhando.
— Eu fico aqui. — Parei do lado de fora da recepção
envidraçada. As luzes brilhavam no interior, mostrando os
pisos de mármore e os móveis caros do enorme espaço de
recepção.
Olhei para Rhys. Sua expressão ficou neutra.
— Imaginei — ele murmurou.
Eu fiz uma careta, me perguntando por que ele era tão
preconceituoso contra pessoas com dinheiro. Ele não parecia
assim com Fairchild e ele tinha mais dinheiro do que Deus.
Estremecendo com o pensamento, eu bufei.
— Bem, boa noite, então.
Não houve um sorriso de menino desta vez. Em vez disso,
ele me deu um breve aceno antes de ir embora.
— Ah, sim, ele é um Príncipe Encantado. — Abri a porta da
recepção, me perguntando em que diabos eu tinha me metido.

Rhys

— Vamos acordar, babaca!


O grito mal rompeu a névoa do sono quando o golpe de
água fria me atingiu. Por toda parte. Um suspiro de choque
rasgou minha garganta e eu me levantei, já avançando com um
golpe.
Dean, o filho da puta inteligente que era, fez questão de ficar
fora do alcance do ataque. Ele estava na porta do quarto, com
o balde vazio na mão, sorrindo.
— Dormindo pelado, Rhys? Eu imaginei que você fosse do
tipo que usa cuequinha branca.
Com um rugido, lancei-me para fora da cama. Ele largou o
balde e correu – salvo pelo fato de que eu não estava prestes a
perseguir meu irmão sem roupas. Xingando, limpei meu rosto
e peguei uma calça de moletom. O filho da puta ia receber o
troco.
Meus pés bateram nas tábuas do assoalho. Eu não o ouvi sair
do meu apartamento, então eu sabia que ele estava em algum
lugar. Não tão inteligente quanto eu pensava que ele era.
Ele estava na cozinha, com uma das canecas de café da
mamãe na mão, bebendo como se tivesse todo o tempo do
mundo para viver.
— Idiota — eu rosnei, passando a mão pelo meu cabelo, as
gotas de água se espalhando. — Você acha que segurar a caneca
da mamãe vai me impedir de acabar com você?
Ele encolheu os ombros.
— Eu sei que você não quer arriscar quebrá-la.
— Então é melhor você segurá-la pelo resto da sua curta vida
— eu disse enquanto caminhava até ele tranquilamente.
Quando ele começou a sorrir, eu fui para cima. Um golpe
rápido, mas leve. Dean soltou um grunhido, a caneca
escorregando quando ele tocou o lábio machucado.
Peguei a caneca com a outra mão antes que ele pudesse
piscar e tomei um gole de café muito necessário. Infelizmente,
estava cheio de açúcar. Fazendo uma careta, coloquei-a no
balcão e olhei para o meu irmão fazendo cara feia.
— Idiota — ele murmurou. — Idiota fodidamente rápido.
— Eu ainda peguei leve. Eu estou supondo que aquele
pequeno show... — eu balancei a cabeça em direção ao quarto
—, foi por causa da noite passada?
Um rubor de raiva coloriu suas bochechas.
— Você está certo. Fiquei preso lá por mais de uma hora,
sem contar que perdi meu encontro com Parker, que por sinal
não está atendendo as minhas ligações.
Interessante. Pensar em Parker me fez sorrir. Por razões que
eu não queria refletir.
Dean viu o sorriso e me encarou.
— Você é um cuzão.
— Eu sei. — Dei de ombros. — Mas eu avisei que seu plano
não ia acontecer.
Ele me deu um olhar agradável, do tipo que costumávamos
dar ao tio-avô Morty quando ele fazia imitações de ventríloquo
com a dentadura na mão.
— Não tenho certeza se você percebeu, mas você não é meu
pai de verdade. Ele está morto e eu sou a porra de um adulto.
— Eu sou tão bom quanto ele, e tenho sido por anos. —
Acenando para o afastar, fui pegar meu próprio café. — Eu não
vou falar de novo, Dean. Está acabado. Sua oportunidade de
trabalho terminou.
— Você não sabe de nada. — Ele pressionou as mãos no
balcão, se preparando. — Eu vou explicar para Parker...
— Está acabado. Use aquela educação chique que seu
grande cérebro ganhou e vá conseguir um emprego de verdade.
Faça sua vida acontecer. — Eu arqueei uma sobrancelha. — E
então você pode me pagar os meses de aluguel atrasado.
— Se você se importasse tanto com o aluguel, você teria me
deixado ir no meu encontro. Não, isso é sobre controle. Você
não suporta não controlar tudo ao seu redor.
Ele pode ter razão. Tomei outro gole de café – puro, muito
obrigado.
— Pode ser, mas acredite ou não, é mais sobre eu querer que
o meu irmãozinho tenha mais na vida. Meloso, mas é a verdade.
Dean mexeu os pés, sem encontrar meus olhos.
— Tudo bem. Entendo. — Ele ergueu seu queixo teimoso.
— Mas o que você fez foi uma merda e errado.
— Foi.
Ele balançou a cabeça em desgosto.
— Vou ligar para ela...
— Eu aceitei o trabalho.
As palavras caíram entre nós como uma bomba fedorenta.
As narinas de Dean dilataram enquanto seus olhos se
estreitaram.
— Que trabalho?
Eu tinha certeza que ele sabia, mas eu respondi de qualquer
maneira.
— Vou fingir que sou o namorado de Parker.
O relógio da cozinha tiquetaqueou alto por dez segundos
antes de ele responder.
— Você? Você está me dizendo que foi no meu lugar ontem
à noite?
Era estranho o quanto ele soava como a minha mãe naquele
momento, o jeito que ela costumava ficar quando fazíamos
algo realmente errado, logo antes de ela perder totalmente o
controle.
— Sim. Encontrei com ela e chegamos a um acordo. É um
negócio fechado — eu disse a um Dean silencioso. — Então,
como eu disse, coloque o terno e procure um trabalho para o
qual você foi feito.
Eu me sentia um idiota. Como não me sentiria? Eu era um
idiota. Mas algumas coisas tinham que ser feitas. Você engolia
tudo, afastava a culpa, o arrependimento e seguia em frente. Eu
tenho feito isso toda a minha vida adulta. E minha vida adulta
começou muito antes de eu estar pronto.
— Eu não posso acreditar em você — Dean disse
asperamente. — Porra, você roubou meu trabalho com Parker.
— Ele riu largamente e sem humor. — Seu idiota! Você não
estava preocupado comigo. Você apenas viu uma boa
oportunidade de você mesmo ganhar algum dinheiro. Seu
egoísta, filho da...
— Ei. — Eu apontei para ele em advertência, a culpa me
dominando. Porque ele estava certo. E ele estava errado. —
Não era isso que eu tinha planejado quando fui para lá. Eu ia
falar umas verdades na cara dela.
— E então você percebeu que a cara dela era linda — disse
Dean, balançando a cabeça como se tudo fizesse sentido para
ele agora.
— Não. — Sim. Talvez. — Percebi que ela estava jantando
com Franklin Fairchild.
Ele piscou.
— Quem diabos é esse?
— Um bilionário importante com muito tempo disponível
e poucas maneiras de gastá-lo. Parker trabalha para uma de suas
empresas. — Olhei ao redor do apartamento esparso antes de
prender Dean com um olhar fixo. — Eu não queria te
preocupar, mas corremos o risco de perder a academia...
— Bom! Não é como se eu quisesse que você comprasse este
lugar de qualquer maneira.
— Este lugar — falei entre dentes —, era o sonho do nosso
pai, seu legado para nós.
— Exatamente. O sonho dele. O legado dele. — Dean
levantou um braço. — Nunca foi sobre mim. Você era o
menino de ouro, a estrela. Eu posso ver por que você iria
querer, mas não me inclua nisso.
— Beleza. — Eu coloquei minha caneca para baixo com um
suspiro. — Independentemente disso. Se eu ficar perto de
Parker e, portanto, de Fairchild, posso tentar convencê-lo a
patrocinar a academia.
Dean andava de um lado para o outro, agarrando as pontas
do cabelo.
— Então, ao invés de eu me prostituir, você vai? Estou
entendendo direito? — Ele riu novamente. — Inacreditável pra
caralho.
Ele parou e me encarou.
— Você sabe o que eu não entendo? Por que diabos você
precisa de dinheiro? Você ganhava dinheiro quando lutava
boxe. Para onde diabos foi tudo isso? E não me diga de novo
que foi para a academia e minha educação. Você ganhou muito
mais do que isso.
O que eu deveria dizer a ele? Que grande parte dos meus
primeiros ganhos foi para pagar as contas do câncer da mamãe?
Morávamos no que deveria ser o melhor país do mundo, mas
minha família de classe média faliu rapidamente porque minha
mãe estava morrendo e meu pai, que tinha seu próprio negócio
e não tinha um bom seguro de saúde, não podia pagar as contas
do hospital. Eu fui lá e paguei.
Talvez Dean soubesse disso. Mas ele com certeza não sabia
que meu pai, que tinha sido meu empresário e deveria lidar com
meu dinheiro também, perdeu quase tudo em investimentos de
merda e jogos de azar. Que eu não sabia a extensão do dano até
depois de comprar a academia e pagar as mensalidades de Dean.
Eu mal conseguia digerir isso do jeito que estava. Meu pai
tinha sido meu ídolo. Até que ele não era mais. E, francamente,
eu me sentia um idiota por deixar isso acontecer. Isso é o que
você consegue quando confia em alguém, mesmo naqueles que
você ama. Se você queria sobreviver neste mundo, você não
deixava ninguém entrar totalmente.
— O dinheiro acabou — eu disse em vez disso. — Mas a
academia poderia ter um bom lucro se a atualizássemos.
Precisamos de novos equipamentos, refazer os vestiários...
Caramba, o lugar todo precisa de uma boa pintura. Neste
mercado, não seremos capazes de atrair novos membros se a
Lights Out continuar parecendo um buraco de merda.
Não mencionei a oferta de Garret. Dean me diria para
aceitar e eu não queria ouvir isso. Era a última solução possível.
— Se a academia se tornar lucrativa — acrescento —, você
também ganhará dinheiro.
Porque o lugar era metade de Dean, quer ele quisesse ou
não. Eu garantiria a ele aquela rede de segurança.
Eu esperava que ele zombasse como sempre fazia quando eu
falava da academia. Mas ele assentiu, firme e decidido.
— Tudo bem, então. Você conseguiu o emprego de ser a
diversão da Parker.
— Acredite em mim, não haverá diversão envolvida.
— Por favor. Eu a vi. Ela é gostosa. Como a Audrey
Hepburn, mas mesmo assim é gostosa.
Eu não queria concordar. Não quando eu tinha que
encontrar a mulher todos os dias. Mas Dean estava certo. Ela
era totalmente como Hepburn. Eu apostaria minha melhor
jaqueta de couro que ela tinha um colar de pérolas
perfeitamente posicionada em sua caixa de joias – e que ela
ficava elegante para caralho usando-as.
— Não importa a aparência dela — eu disse a Dean. —
Temos um acordo comercial. Nada mais.
— Nada? — As sobrancelhas loiras de Dean se ergueram. —
Porque eu poderia jurar que havia um indício de que talvez o
acordo levasse a...
Eu levantei a mão para detê-lo. Eu não queria ouvir sobre a
aparente disposição de Parker de realmente namorar Dean. Isso
despertou em mim sentimentos dos quais eu não queria.
— Confie em mim — eu disse. — É tudo negócios.
Ele sorriu largo e conhecedor. Bastardo presunçoso.
— Interessante.
— Que seja. — Peguei minha caneca e despejei os restos frios
de café na pia.
Atrás de mim, Dean riu. Quando me virei, ele ainda estava
sorrindo.
— Então — ele disse expansivamente —, enquanto você é o
animal de estimação castrado de Parker... — Ele simplesmente
adorava esfregar isso. — Eu vou aceitar um bom trabalho de
escritório, assim como você queria.
— Bem, ok, então — eu disse, feliz por ouvi-lo finalmente
falar algo com sentido.
— Pensei que você gostaria disso. — Ele estava muito feliz.
— Então você não vai se opor a tirar suas coisas do escritório.
Porque vou precisar de espaço.
Espera.
— O quê?
Dean olhou para mim como se eu tivesse dois anos.
— Por ser quem tem o grande cérebro matemático, vou
sentar minha bunda e gerenciar as contas da Lights Out.
Quando eu simplesmente o olhei, ele resmungou e balançou
a cabeça levemente.
— Você tem dito que é péssimo em gerenciamento de
contas. Bem, mova-se, mano. Porque sou o novo gerente do
escritório.
Merda. Ele examinaria as contas. Ele descobriria sobre a
segunda hipoteca e como estávamos no vermelho. Ele
descobriria tudo.
— Agora, espere um minuto — eu comecei. Mas ele me
cortou virando as costas para sair.
— Esqueça isso, Rhys — ele disse enquanto caminhava em
direção à porta. — Você conseguiu o que queria com Parker.
Eu vou fazer isso e você não pode me impedir. — Ele fez uma
pausa e sorriu. Mas seus olhos eram frios e raivosos. — Como
você vive me dizendo, eu sou dono de metade da academia. É
hora de começar a cuidar da minha parte.
Ele faria o possível para tornar minha vida um inferno. A
promessa estava bem ali em sua expressão. Ele me deixou ver,
garantiu que eu entendesse. Então a porta bateu e eu soltei uma
gargalhada incrédula. Porra, se eu não estava orgulhoso. A
outra metade de mim estava cheia de pavor porque
eventualmente teríamos algumas conversas difíceis, e eu não era
exatamente bom em me comunicar.
Não importava, no entanto. Eu tinha dormido demais e
estava ficando tarde. Parker viria logo e francamente, eu
precisava me preparar para lidar com ela, deixar ela saber quem
estava no comando aqui.
Continue sonhando, Morgan. Ela vai te pegar pelas bolas
antes que você perceba.
Por que eu estava ansioso por isso?
Parker

Um bônus egoísta de ser “verde” (além do incrível status de


guerreira ecológica) era que isso me mantinha ativa e em forma.
Para frustração dos meus pais, me recusei a aceitar o Mercedes-
Benz Cabriolet que eles haviam me comprado como
recompensa por ter obtido meu doutorado. Talvez se fosse um
Tesla, eu teria sido influenciada, mas, infelizmente, apesar de
eu gritar a palavra "verde" dos telhados desde que eu tinha
quatorze anos, meus pais não conseguiam entender o que isso
significava.
No que dizia respeito, toda jovem adoraria dirigir um
conversível de luxo. Além disso, o Mercedes tinha um botão
“ecológico” de desligar e ligar, então por que não era verde o
suficiente?
Recusei o carro com gratidão e optei por uma bicicleta
híbrida elétrica quando consegui o emprego na Horus. Nas
idas ao escritório, usei a bicicleta na potência máxima, para não
chegar suada e sem fôlego. Hoje, no entanto, enquanto
percorria os dez quilômetros ao norte até Chelsea, reduzi a
potência, o que significa que demorei quarenta minutos para
chegar lá.
A verdade é que eu estava arrastando a viagem, relutante em
entrar na Lights Out. Nos últimos dias, eu menti para Jackson
e meus colegas, e não foi divertido. Jackson havia informado
nossa pequena equipe sobre o jantar com Fairchild e como o
chefão enlouqueceu com Rhys Morgan. Felizmente, apenas
um cara da equipe sabia alguma coisa sobre boxe e reconheceu
o nome de Rhys e, mesmo assim, ele não era um grande fã.
No entanto, todos queriam saber como Rhys e eu nos
conhecemos, um assunto que não surgiu no jantar porque
Fairchild monopolizou a conversa. Preparada para esse tipo de
pergunta inevitável, primeiro pesquisei Rhys no Google e
depois aprendi o máximo que pude sobre sua carreira.
Ele tinha sido um lutador peso-pesado. Um campeão. Pela
minha pesquisa, descobri que havia quatro grandes
organizações profissionais de boxe que realizavam lutas. A
Federação Internacional de Boxe, a Associação Mundial de
Boxe, o Conselho Mundial de Boxe e a Organização Mundial
de Boxe.
Quando Rhys tinha 28 anos, ele se tornou o campeão dos
pesos pesados do CMB. Outro cara foi o campeão peso-pesado
naquele ano para todas as outras três associações, então eu não
tinha certeza de como isso funcionava. Honestamente, eu não
tinha certeza de como nada disso funcionava. No entanto, eu
era inteligente o suficiente para perceber que Rhys Morgan era
um boxeador incrível. Era um mistério para mim por que ele se
aposentou aos trinta e um anos, até que encontrei uma
entrevista que Rhys deu explicando como ele perdeu sua
paixão pelo boxe depois que seu pai morreu.
A comunidade do boxe parecia lamentar a perda de Rhys e
eu entendia o porquê. Tinha um vídeo no YouTube da luta
que lhe rendeu o título. Era brutal, mas fascinante de assistir.
Rhys Morgan tinha o corpo de Hércules, cheio de músculos e
pele brilhante, e ele era rápido. Enquanto eu o observava se
mover pelo ringue, impressionantemente com uma leveza nos
pés, apesar de seu tamanho, senti aquele friozinho na barriga
novamente.
Ele era lindo de uma forma primitiva.
Eu não sabia nada sobre seu esporte e viemos de origens
muito diferentes.
Além disso, Rhys era determinado (o que era uma maneira
educada de dizer que ele era um pouco opressor) e vibrava com
essa energia apaixonada que eu nunca havia experienciado
antes.
Ele pode não ser meu tipo, mas ele era um bom partido.
Muitas mulheres gostariam de estar em sua órbita, e eu tinha
certeza que ele teria opções para escolher.
E eu ia fingir namorar esse cara.
Alguém realmente acreditaria?
A buzina de um carro me tirou das memórias de assistir a
luta de Rhys. Essas imagens estavam repassando em minha
cabeça. No entanto, seria mais seguro durante o ciclismo se eu
me concentrasse em chegar a Lights Out inteira.
Sério, todo esse desastre era uma distração.
Até agora, evitei contar a Jackson sobre como conheci Rhys.
Eu odiava mentir sobre namorar com ele e quanto mais eu
embelezava a enganação, mais culpada eu me sentia. Ser evasiva
era meu amigo agora.
Não havia absolutamente nenhuma maneira de alguém
descobrir sobre Rhys além dos meus colegas de trabalho. Deus,
se meus pais ou minha irmã, Easton, descobrissem, eu morreria.
Tá bom, isso foi melodramático... mas com certeza eu
sentiria que poderia explodir de vergonha se tivesse que mentir
para minha família sobre Rhys. Provavelmente porque eles
queriam tanto que eu conhecesse alguém e me apaixonasse.
Eu tinha trinta anos e era solteira, e meus pais estavam
preocupados porque eu já estava solteira há algum tempo.
Tipo, um tempo. Muito tempo.
Treze anos.
Meu estômago revirou com o número.
Parecia pior do que era. Quero dizer, eu namorei durante
esses treze anos. E fiz muito sexo. Ok, talvez não muito. Mas eu
fiz sexo. Em minha busca para sentir aquela faísca de química
mais uma vez, consegui uma coisinha para mim ao longo dos
anos. Alguns foram ruins. Outros, bons. Tudo foi... só... meh.
Não fazia sentido me estabelecer com alguém com quem eu
não gostava. Prefiro ficar solteira para sempre do que me
contentar com menos do que eu sabia que era possível. E eu
sabia o que era possível porque, por um breve e esplêndido
momento no tempo, eu tive algo especial.
Então eu meio que desisti, especialmente enquanto
trabalhava no meu doutorado. Minha carreira tornou-se todo
o meu foco.
É irônico que um relacionamento fosse a coisa de que eu
precisava para progredir na minha carreira.
Pequeno universo de merda.
Sim, meus pais definitivamente não iriam descobrir sobre
Rhys. Eu não queria criar esperanças. Principalmente, eu só
não queria mentir para eles. Não que não fosse um pouco
tentador, considerando que minha irmã mais nova tinha
acabado de ficar noiva. Minha família não estava me
pressionando, mas eu sentia do mesmo jeito.
Ugh, as pressões sociais eram o equivalente emocional de
um buraco negro. Não importava a recusa obstinada de uma
pessoa a se curvar a elas, cada um de nós era sugado de alguma
forma. Vaia aos buracos negros!
Falando nisso... Diminuí a velocidade até parar do lado de
fora da academia na Fourth. Era um prédio de tijolos vermelhos
no estilo dos anos 70, três andares com janelas de vidro marrom
e telhado plano. Área verde bem cuidada, grama e sebes
cresciam ao longo das bordas. Mas havia algo monótono no
prédio; a sinalização acima da porta estava descascando.
— Aqui vamos nós — murmurei para mim mesma
enquanto descia da bicicleta e a prendia com cadeado na grade
da entrada.
Nas últimas noites, passei meu tempo livre redigindo um
contrato para Rhys assinar. Toda vez que eu achava que tinha
terminado, pensava em algo novo. Esperançosamente, ele
assinaria a coisa sem discussões.
Isso não era totalmente honesto da minha parte. O frio na
barriga demonstrava que havia uma parte de mim que não
queria que Rhys assinasse o contrato. Parte de mim queria que
ele me dissesse que havia mudado de ideia.
Não havia área de recepção, então atravessei o átrio
envidraçado e as portas duplas que levavam ao andar térreo.
Esta era a academia. Considerando que era uma tarde de
sábado, não estava tão cheia quanto deveria. Claro, havia
pessoas ali, malhando, mas todos os aparelhos do lugar
deveriam estar em uso e não estavam. Enquanto eu observava a
pintura descascada nas paredes, alguns equipamentos velhos,
tapetes de exercício gastos e um bebedouro triste de cada lado
do cômodo em vez de um dispensador de bebidas sofisticado,
pude ver por mim mesma porque Rhys precisava do dinheiro.
Não havia TVs para as pessoas assistirem durante os treinos.
Elas estavam presas com a música saindo do sistema de som, a
menos que trouxessem seus próprios fones de ouvido para
abafá-la.
A academia estava em ruínas. Precisava de um
empurrãozinho para entrar no século XXI. A curiosidade ainda
pairava sobre para onde seus ganhos com o boxe haviam
desaparecido, mas não era da minha conta. Tudo o que
importava era que Fairchild gostava de Rhys e Rhys me
manteria no radar do chefe por tempo suficiente para que eu
conseguisse um cargo permanente.
O contrato em minha mão tremeu um pouco enquanto eu
tentava conter meus nervos.
— Posso ajudar?
Eu me virei para a voz masculina e me vi cara a cara com um
homem lindo. O sangue sob minhas bochechas ficou quente
enquanto eu olhava para os olhos escuros como chocolate
emoldurados pelos cílios mais longos que eu já tinha visto em
um cara. Ele tinha uma pele quente e negra e uma cabeça cheia
de cabelos pretos e grossos. Quando ele sorriu, duas covinhas
incríveis apareceram em cada bochecha.
Olhos sedutoranente sonhadores, olha só!
— Você fala?
Corei e ri da minha ação ridícula.
— Sim, sou conhecida por ter esse encanto.
Os olhos do homem dançaram com o riso.
— Bom saber. Eu sou Carlos. Posso ajudar?
Olhei para o contrato na minha mão antes de ser compelida
a olhar nos olhos de Carlos novamente. Sério, eu pensei que
Rhys tinha olhos lindos, mas esse cara poderia ser um grande
concorrente.
— Estou aqui para ver Rhys Morgan. Ele está me esperando.
Carlos sorriu.
— Você é a Parker?
— Sou eu.
Ele estendeu a mão.
— Prazer em conhecê-la. Eu sou um treinador aqui.
A mão de Carlos era calejada e forte. Era muito boa de tocar.
Eu devolvi seu sorriso.
— É um prazer, também.
— Por aqui. — Ele indicou com a cabeça para a esquerda.
Carlos me levou para fora da academia principal para um
pequeno corredor que abrigava um elevador e uma escada. —
Ele está no segundo andar, onde fica a academia de boxe.
Subimos as escadas e segui o treinador até um espaço
semelhante ao andar de baixo, exceto que metade dele era
ocupado por dois ringues de boxe. Havia uma aula sendo
ministrada na parte desobstruída do espaço e, ao passarmos,
reconheci a arte marcial como capoeira. Interessante. Eu me
perguntei se Rhys sabia capoeira. Isso seria uma visão e tanto.
Ao som da voz familiar e estrondosa de Rhys, meus olhos
voaram em sua direção. Ele estava do lado de fora de um dos
ringues de boxe, gritando instruções para dois jovens que
usavam apenas shorts longos e equipamentos de boxe.
Meu olhar desceu pelas costas de Rhys. O meu baixo ventre
tremeu.
Eram apenas nervos.
O cara era intimidador. Tão alto. Muito mais alto que
Carlos, que calculei cerca de um metro e oitenta. Mesmo isso
era alto para mim. Eu só tinha um metro e sessenta. Por isso, eu
coloquei uma cláusula de "Sem Sininho" no contrato para
Rhys.
Grosseiro!
A menos que eu tenha interpretado mal seus motivos para
me chamar assim. A Sininho era leal e adoravelmente mal-
humorada.
Mas isso não vinha ao caso.
Meus olhos relancearam os músculos bem desenvolvidos
revelados pela camiseta de basquete que Rhys usava e a maneira
como seus shorts de corrida seguravam sua bunda firme, cheia
e muito musculosa. Não havia um centímetro de gordura nesse
cara.
— Rhys. Companhia! — Carlos gritou quando nos
aproximamos.
O homem se virou e eu senti a respiração sair do meu corpo
enquanto seu olhar intenso me absorvia. Enquanto ele
observava meus sapatos mocassins de salto baixo, saia plissada
azul claro e camisa preta da Ted Baker com pequenas gravatas
borboleta com joias, uma carranca se aprofundou entre suas
sobrancelhas. Eu não me importava com o que ele pensava da
minha aparência. Eu achava que estava bonita. Isso é tudo o
que importava. Não é como se eu pensasse muito na aparência
dele.
Ok, eu poderia admitir que ele era atraente daquele jeito de
homem das cavernas, abertamente masculino, o tipo macho
alfa que algumas mulheres acham atraente.
Eu não era uma delas.
Eu estava acima deste tipo de necessidade primitiva de poder
e força em meu companheiro.
Pelo menos, eu estava determinada a ser.
Um cara tinha que ser engraçado e atencioso acima de
qualquer outra coisa. Além disso, eu gostava de homens baixos
e fofos. Não intimidante e tão alto que teriam que me levantar
para me beijar.
Uma imagem de Rhys fazendo exatamente isso passou pela
minha mente e eu a expulsei com tanta força que quase disse a
palavra "eca" em voz alta.
Com certeza, Rhys franziu a testa quando paramos na
frente dele.
— Você está bem, Sininho? O boxe ofende sua sensibilidade
frágil?
Eu fiz uma careta para o seu sarcasmo.
— Por que achou isso?
— Porque parece que você acabou de engolir algo
desagradável.
— Não. — Dei de ombros. — Embora você deva saber que,
quando pesquisei este lugar no Google, quase nenhuma
informação apareceu. Você precisa de um site. Ou pelo menos
uma página no Instagram.
Rhys olhou para Carlos.
— O que eu te disse? Ela já está dando conselhos de
negócios.
Carlos sorriu.
— Ela não está errada, está?
Eu sorri para Carlos, e de repente Rhys segurou meu bíceps,
sua expressão feroz.
— Estaremos no escritório.
— Você não precisa me arrastar — resmunguei enquanto
ele me levava pela academia. Ele abriu uma porta para um
corredor estreito, nos apressou por ele e então empurrou outra
porta que dava para um escritório.
Havia uma bela e impressionante escrivaninha de madeira
de jacarandá no centro da sala, completamente em desacordo
com o caos do resto do espaço. Havia prateleiras cheias de
pastas e arquivos espalhados aqui e ali.
O desejo de aconselhá-lo a criar um sistema de
arquivamento adequado era real, mas considerei sua reação ao
meu conselho anterior e substituí as palavras por:
— Bela mesa.
Ele resmungou e se moveu ao meu redor para se sentar nela.
A mesa era ampla. No entanto, de alguma forma, ele a ofuscou.
Meu Deus, eu esqueci o quão grande ele era.
Os olhos de Rhys baixaram para os papéis em minha mão.
— Imagino que esse é o contrato.
— Sim. — Eu o estendi. — Espero que tudo dentro dele seja
aceitável para você.
Sem dizer uma palavra, ou me oferecer um assento, ele
começou a lê-lo. Depois de alguns minutos, pegou uma caneta
atrás de si e riscou o papel.
Irritação floresceu em meu peito. Eu gastei anos com a
papelada!
— O que você está fazendo?
Ele me lançou um olhar exasperado antes de voltar a
escanear o papel.
— Eu já disse que reciclo. Você não precisa colocar uma
cláusula na porra do contrato exigindo que eu faça isso porque
"as pessoas não vão acreditar que estamos namorando".
Tá, talvez isso tenha sido um pouco demais.
Sua caneta traçou outra linha.
— Não vou refrear meu linguajar. "Porra" é uma palavra
bonita. Tem vários significados e pode ser usada em quase
qualquer frase. Você quer que pareça real? — Aqueles olhos
verdes me perfuraram, tornando impossível desviar o olhar. —
Ninguém acreditaria que eu namoraria com a polícia
linguística.
Resmungando baixinho, eu lutei para deixar isso pra lá.
— O que foi isso?
— Nada.
— Se você tem algo a dizer, diga.
Tudo bem!
— Só não acho necessário usar a palavra com P a cada cinco
segundos.
Rhys franziu o lábio superior.
— Palavra com P. Sério? Você tem trinta anos, Parker. Já
passou da hora de você começar a usar as palavras como uma
adulta.
Eu mostrei a ele o dedo do meio.
Um sorriso fez cócegas em seus lábios quando ele olhou de
volta para o contrato.
— Bem, isso ao menos já é alguma coisa.
Mais tempo passou enquanto Rhys lia lentamente. Eu não
sabia se era porque ele lia devagar ou se estava sendo irritante
deliberadamente. Assim que comecei a bater o pé, ele passou a
caneta em outra linha.
— Agora o quê?
— Eu não preciso que você me compre um guarda-roupa.
Tenho ternos sob medida feitos à mão no meu armário, dos
meus dias de boxe. Se você precisa que eu vista um terno, eu
tenho ternos. E não desmaie de choque, mas até tenho um
smoking.
Eu considerei essa cláusula. Eu havia declarado no contrato
que ele precisaria se vestir bem em jantares e eventos. Presumi
que Rhys não teria o tipo de roupa formal exigida.
— Sinto muito por presumir o contrário. Eu não queria
insultá-lo.
Ele ergueu uma sobrancelha ao meu pedido de desculpas,
mas não respondeu além de um murmurado: Sem problemas.
— Jesus Cristo — ele bufou alguns segundos depois,
passando a caneta pelo papel novamente. Sua expressão era
incrédula. — Contanto que eu não esteja sendo um completo
idiota ou um babaca depreciativo com você, acho que você
pode me deixar chamá-la de Sininho. Não é um insulto. E eu
deveria ter um apelido para você. Isso projeta uma aura de
intimidade. — Ele sorri, aquele sorriso perverso de menino
dele.
Ignorando minha resposta física ao seu sorriso, cruzei os
braços sobre o peito.
— Bem, por que você não pode simplesmente me chamar
de amor? Amor é legal. Não do jeito que você está dizendo,
daquele jeito sarcástico e condescendente que me dá vontade
de te socar. Mas se você mudasse de tom, amor definitivamente
funcionaria.
— Amor… — disse ele naquele tom sarcástico,
condescendente e que me deu vontade de socá-lo. — Nunca
tente me socar. Você quebraria sua mãozinha.
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta adequada, ele
continuou:
— Todo o resto parece bom. — Ele se levantou e colocou o
contrato sobre a mesa para assinar. Então ele estendeu a caneta.
— Sua vez.
Ai, meu Deus. Eu realmente ia fazer isso. Eu ia me envolver
em um ardil com Rhys Morgan, fingindo que eu era sua
namorada. Olhando entre nós, minhas dúvidas de que alguém
acreditaria ressurgiram.
— O quê? — ele perguntou.
Eu enruguei o nariz.
— Ninguém vai acreditar nisso.
Durante minhas pesquisas sobre Rhys no Google, encontrei
fotos dele com mulheres. Ele tinha um tipo definido. Cor do
cabelo, cor dos olhos, rosto – tudo mudava com cada nova
mulher, mas o que não mudava eram as pernas longas, quadris
curvilíneos, seios generosos e estilo explicitamente glamoroso.
Elas eram mulheres sensuais.
Eu não era o tipo dele.
— Você diz isso porque eu sou um boxeador rude e baixo e
você é uma princesa da Quinta Avenida? — ele disse com um
sorriso provocador.
— Não. — Eu me contorci, sem saber como dizer isso sem
parecer insegura. Eu não era uma pessoa insegura. — Eu só...
As pessoas estão acostumadas a me ver com homens como seu
irmão. Ele é formado em ciência da computação e
definitivamente faz mais sentido no papel. Você é mais físico e
namora mulheres que são o absoluto oposto de mim.
Se Rhys ouviu a última parte, ele não a levou em
consideração.
— Você acha que eu sou um idiota porque não tenho um
diploma universitário chique? — Ele cruzou os braços sobre o
peito e me deixou em frangalhos com o calor de seu olhar. —
Vou te dizer uma coisa, princesa — ele disse a palavra com tanto
desgosto que eu desejei que Sininho voltasse — algumas das
pessoas mais inteligentes e capazes que já conheci não têm um
diploma universitário chique do MIT.
— Eu não quis dizer isso. Eu só quis dizer... Estou
preocupada que as pessoas não vão comprar a ideia de que você
e eu somos um casal.
— Bem, amor, eu posso vender qualquer coisa. — Ele
atravessou a sala para parar na minha frente, me obrigando a
olhar para cima. Seus olhos arderam tão intensamente que
minha respiração foi embora. Rhys arrastou a parte de trás de
seus dedos pela minha bochecha e pescoço; um arrepio
percorreu minha espinha. Como se ele tivesse sentido isso, seus
olhos dançaram.
Sua voz diminuiu, rouca e sensual:
— Não se preocupe comigo convencendo as pessoas que eu
quero você. — Ele abaixou a cabeça para sussurrar em meu
ouvido: — Eu sempre coloco cento e dez por cento de mim em
qualquer trabalho.
Com a pele queimando, sensações formigando em lugares
que não deveriam estar formigando, eu tropecei para trás de sua
presença avassaladora.
O que diabos foi isso?
Evitando seu olhar, eu assenti.
— Uh-huh. Ok. Bem. Isso é reconfortante de ouvir. —
Passei por ele até a mesa onde estava o contrato e assinei
rapidamente. — Farei cópias e enviarei uma para você para seus
registros e então entrarei em contato quando precisar de você
novamente, o que pode ser em breve porque Jackson disse que
Fairchild está perguntando sobre...
— Sininho, você está divagando. — Rhys me interrompeu.
Ele estava sorrindo. Um sorriso enorme. De auto-satisfação.
Muito, muito satisfeito consigo mesmo por me afetar.
O grande idiota.
— Se você já terminou de se vangloriar, vou precisar do seu
número. — Tirei meu celular da pequena mochila que trouxe
comigo e esperei.
Rhys me deu seu número.
— Ok. Enviei uma mensagem de texto para você, então você
tem meu número agora. Me envie seus dados bancários.
Enviarei o pagamento no final do primeiro mês. — Enfiei meu
celular de volta na mochila junto com o contrato. — Entrarei
em contato.
— Aguardo sua ligação, chefa.
Eu funguei com altivez e me movi para passar por ele.
— Isso é uma melhoria em relação a Sininho.
Assim que sai de seu espaço pessoal, senti um puxão em meu
rabo de cavalo e soltei um pequeno grito quando meu cabelo
caiu sobre meus ombros. Girando ao redor, eu olhei para a
visão do meu elástico pendurado na ponta dos seus dedos.
— Que diabos?
Ele encolheu os ombros.
— Ninguém acreditaria que eu sairia com uma mulher que
usa rabo de cavalo a não ser para malhar. Você tem um cabelo
bonito. — Seu olhar olhou para o referido cabelo. — Por que
esconder?
— Porque — eu disse, pegando o elástico de volta —, eu vim
de bicicleta e preciso ser capaz de ver, não ficar constantemente
empurrando mechas de cabelo sopradas pelo vento para fora
dos meus olhos. Sinto muito se isso interfere nas suas
expectativas de homem das cavernas sobre o que constitui a
beleza feminina, mas se você pode dizer a palavra com P, eu
posso usar meu rabo de cavalo. — Eu me virei, meus passos
furiosos e pesados.
— Você tem muita raiva dentro de você, Sininho — ele
gritou nas minhas costas.
Abri a porta de seu escritório com uma mão e levantei meu
dedo médio com a outra. Sua risada me seguiu por todo o
corredor.
Se conseguíssemos passar por esse ardil comigo indo para a
prisão por agressão em vez de assassinato, eu diria que foi uma
vitória.
O cara realmente me deixava irritada.
E eu nem sabia que conseguia ser assim.
Rhys

SininhoRevoltada: Ei. É a Parker. Parker Brown.


Meu telefone apitou alto. Eu me atrapalhei ao redor da
minha cama, finalmente encontrando a maldita coisa debaixo
de um travesseiro. Esfregando o sono do meu rosto, rolei de
costas e li a mensagem que me tirou de um sono agradável. Eu
sorri. Era tão... Parker. Me acomodando, eu respondi a ela.
RhysAqui: Não precisa me dizer quem você é. Seu número
está salvo no meu telefone. O que você quer?
SininhoRevoltada: Bem, bom dia para você também, Sr.
Feliz.
Meu sorriso se transformou em algo maligno. A garota
sempre iria revidar e fazer valer a pena.
RhysAqui: Sr. Feliz. Embora, para ser honesto, eu não esteja
gozando muito de vida no momento. Quer me ajudar com isso?
SininhoRevoltada: Tentador. De verdade. Mas não.
RhysAqui: Você tem certeza? Porque o Rhys Feliz é muito
mais agradável do que o Rhys Triste Por Ter Que Se Satisfazer.
SininhoRevoltada: Você poderia, por favor, se comportar?
RhysAqui: Não fui eu quem começou com a gozação.
SininhoRevoltada: ARGH!
Uma risada retumbou no meu peito enquanto meus
polegares digitavam uma resposta que eu sabia que iria irritá-la
ainda mais.
RhysAqui: Isso ao menos foi inglês? Honestamente, Srta.
Brown, pensei que você fosse educada.
Ela levou um momento para responder. Eu podia imaginá-
la com o telefone na mão, rangendo os dentes.
SininhoRevoltada: Você está deliberadamente tentando
me irritar, não é?
RhysAqui: Você é rápida. Presumo que sim.
SininhoRevoltada: Sr. Morgan, estou a cerca de dez
segundos de encontrar um namorado falso alternativo. Uma
cabra em uma corda seria um candidato melhor neste momento.
Era fofo que ela pensasse que isso fosse ameaçador.
RhysAqui: Sim, provavelmente. Mas a cabra não tem um
contrato assinado. Eu tenho, Sininho.
SininhoRevoltada: ARGH@!!
RhysAqui: Você fica meio fofa quando fala como um
pirata.
Ela não respondeu. Esfregando meu peito, sentei-me na
cama e tentei novamente.
RhysAqui: Parker? Você está aí?
RhysAqui: Parker?
Inferno. Talvez eu tenha ido longe demais. Ou talvez ela
tenha deixado cair o telefone. Ou o atirado longe. Ela pode ter
jogado o telefone.
RhysAqui: Você realmente vai desistir tão facilmente?
O telefone tocou na minha mão, assustando-me. Parker
Brown. Acho que terminamos com as mensagens de texto.
— Você sentiu falta do som da minha voz, não é? —
perguntei.
O tom dela estava nítido de irritação.
— Meus polegares cansaram. Você poderia, por favor, se
comportar por um momento, Morgan?
— Me comportar mal é muito mais divertido.
— Seja como for, temos negócios a discutir.
Certinha para caralho. Isso não deveria ter me excitado. Mas
aconteceu. O que era lamentável. Com cara feia, me levantei da
cama e caminhei em direção à cozinha. Café era necessário.
Café e uma boa dose de realidade. Flertar com Parker Brown
era uma ideia estúpida.
— Tudo bem — eu disse, enchendo a garrafa. — E aí?
— Fomos convidados para um coquetel esta noite.
— Ah, olhe para nós, já sendo convidados para lugares como
um casal.
Ela soltou um longo suspiro de sofrimento.
— Sinceramente, a velocidade com que eles aceitaram nossa
falácia como realidade também me surpreendeu.
— Eu aposto que sim. — Eu bufei e liguei a cafeteira. —
Apenas atribua isso à magia da minha personalidade vitoriosa.
— Mais como o seu recorde de vitórias — ela murmurou.
— Boa resposta, amor. — Peguei um copo na prateleira. —
E um ataque forte também. Eu não sabia que você era boa
também.
— Tem muita coisa em mim que você não sabe... Espera...
Não sei se isso fez sentido. Deixa para lá. A questão é que você
não me conhece.
Eu sorri com sua divagação. Ela era muito fofa.
Foco, Rhys. Me servi de uma xícara de café e tomei um gole
muito necessário.
— Então, onde é esse trabalho hoje à noite? Algum hotel
chique?
— Não. Será no barco de Fairchild.
— Não vou usar sapatos de barco, Parker. Estou avisando
logo.
— O barco dele é um iate de sessenta metros, Morgan. Não
são necessários sapatos de barco.
Claro. Eu deveria saber. Um calor sufocante invadiu meu
peito e abaixei minha xícara com um tilintar. Quem eu estava
enganando? Eu era um cavalo de corrida sendo puxado para
fora e exposto para que os convidados pudessem dar uma boa
olhada na mercadoria. Era meu trabalho aqui, e esquecer isso
era estúpido.
Parker preencheu nervosamente o silêncio com mais
divagações:
— Não, acho que um belo par de calças e uma camisa de
botão darão certo. Se você quiser, eu ficaria feliz em enviar...
— Eu disse a você que tenho roupas adequadas. — Rolei
meus ombros tensos e olhei para o meu guarda-roupa. O
pensamento de colocá-las fez minha pele apertar. — Não
preocupe a sua linda cabecinha. Não vou envergonhá-la.
— Você está determinado a ficar de mau humor com isso,
não é?
— Digamos apenas que a única mulher com permissão para
escolher minhas roupas era minha mãe, e isso parou quando eu
fiz sete anos.
— Tudo bem. Seguindo em frente, precisamos esclarecer
nossas histórias sobre como nos conhecemos. Eu ia discutir isso
com você no sábado, mas...
Ela parou com um som estrangulado. E me vi sorrindo
novamente.
— Eu te distraí, não foi?
Ela não disse nada. Porque nós dois sabíamos que era
verdade.
— Como nos conhecemos? — ela perguntou. — Não
consigo pensar no que dizer que será crível.
— Porque a ideia de nós dois juntos não faz absolutamente
nenhum sentido? — eu ofereci levemente. Quer dizer, eu
poderia ter me sentido insultado, mas ela estava certa – não
fazíamos sentido.
— Sim. — ela suspirou. — Eu não sou muito boa em atuar.
Ela parecia tão desamparada que quase senti pena dela.
— Minha mãe uma vez me disse que o amor não faz sentido.
— Assim que disse as palavras, estremeci, me sentindo um tolo
sentimental. Eu nunca fui sentimental. Mas eu continuei. —
Apaixonar-se por alguém não é uma questão de lógica. É
química.
Ela ficou quieta por um segundo. Quando ela respondeu,
parecia mais suave do que antes.
— Isso é... Bem, isso é surpreendentemente romântico.
Não siga esse caminho, querida.
— Sim, bem, é uma boa linha de ataque. Vou dizer a eles...
— Esfreguei o pescoço e olhei pela janela suja onde o sol
brilhava nos telhados de alcatrão preto. — Vou dizer a eles que
estava indo encontrar meu irmão para uma bebida.
Ela bufou alto.
Eu reprimi um sorriso.
— Eu estava atrasado e com pressa, então não estava
olhando para onde estava indo. Você estava saindo pela porta.
Eu estava entrando. Nos esbarramos. E lá estava eu, com as
mãos cheias dessa fadinha irada com os olhos castanhos mais
lindos que eu já tinha visto. Como eu poderia resistir? Então,
convidei você para tomar uma bebida comigo para compensar
por quase ter te derrubado. Mas foi apenas uma desculpa
porque eu sabia que seria um tolo se deixasse essa linda garota
sair da minha vida sem pelo menos tentar conhecê-la primeiro.
O silêncio absoluto me encontrou do outro lado da linha.
Estava tão quieto que eu podia ouvir um noticiário matinal
passando ao fundo. Um rubor desconfortável subiu pelo meu
peito. É por isso que não falava muito.
— Parker? Você está aí?
Ela fez um barulho no fundo da garganta, como se estivesse
sufocando.
— Sim. Sim. Estou aqui. Desculpa.
— Então? O que você acha? Isso vai funcionar?
O silêncio me cumprimentou novamente e eu juro que a
ouvi murmurar: "carambolas". Mas então ela respondeu com a
voz estaladiça como lençóis novos:
— Sim. Isso é bom. Perfeitamente adequado.
Perfeitamente adequado? Bem, inferno. Achei que tinha
feito tudo certo. Tinha sido meio piegas, com certeza, mas eu
não conseguia ver ninguém que não acreditasse.
Ela limpou a garganta e avançou.
— A festa começa às sete e meia. Porto de Boston. Podemos
nos encontrar...
— Eu não encontro minhas mulheres nos lugares para
encontros. Eu as busco. Sempre.
— Morgan — ela disse com aspereza —, eu não sou sua
mulher.
Ela não podia ver meu sorriso, mas isso não me impediu.
— Sininho, tenho um contrato que diz o contrário. Melhor
se acostumar com isso. Pego você às sete.
— Cobras de areia — ela rosnou baixinho.
O que quer que isso signifique.
— Ah, e Sininho?
— O quê? — Outro rosnado. Tanta alegria e luz da minha
fadinha irada.
— Prepare-se para contato físico. Porque eu toco na minha
mulher. Sempre.

— Eu sei o que você está tentando fazer.


Fiz uma pausa, minha mão pairando perto das costas de
Parker enquanto ela parava na calçada do lado de fora de seu
apartamento.
— O que eu estou tentando fazer?
Eu honestamente não tinha a menor ideia do que ela estava
pensando. Inferno, eu estava tentando o meu melhor para não
olhar muito de perto para ela. Se eu olhasse, talvez não
conseguisse parar. Parker não estava vestida como os meus
encontros habituais. Ela estava usando um vestido preto frente
única, que começava no pescoço e deslizava por sua forma
esguia até alguns centímetros abaixo dos joelhos. Não era
apertado e não revelava nada além de seus ombros e braços
bronzeados. Era incrivelmente sexy.
Talvez porque não mostrasse tudo. Apenas insinuava. Eu
tinha que usar a minha imaginação. Minha imaginação era
vívida.
Eu me coçava para desfazer o fecho na parte de trás de seu
pescoço longo e gracioso e ver aquele top deslizar até a cintura.
Ela não tinha seios grandes. Eles eram pequenos cupcakes.
Porra, mas eu queria dar uma mordida.
Eu afastei o pensamento e olhei para seus grandes olhos
castanhos. Ela passou maquiagem, uma cor dourada brilhante
que fazia seus olhos ficarem da cor de café forte. Seus lábios de
cor rosa-pétala franziram em aborrecimento.
— Você achou que eu vou desistir de andar nesta
motocicleta estúpida e então você pode bancar o Sr. Superior.
Olhei para minha Harley Fat Boy e depois para o vestido
dela. Aquele vestido de seda chique abraçando seus quadris e
pernas finas. Merda.
— Você pode não acreditar, amor, mas eu realmente não
pensei nisso.
Sua sobrancelha arqueou.
— Ah, eu acredito nisso.
Engraçadinha.
Grunhindo, esfreguei minha mandíbula, que agora estava
lisa e nua. Sim, eu tinha me barbeado para ela. Coloquei uma
calça cinza recém-passada e uma camisa de caxemira cor de
creme. Ambas dos meus dias de circuito. Elas estavam um
pouco largas em mim; Eu perdi cerca de cinco quilos de
músculos desde que parei de treinar. Mas eu as estava usando.
Eu tinha feito isso por ela. Um esforço perdido no erro de
buscá-la com minha Harley.
— Vou chamar um Uber. — Peguei meu telefone, mas sua
mão esguia no meu pulso me deteve. Porque eu senti aquele
toque até minhas bolas seria um mistério para a história.
— Isso não foi um truque? — Ela me olhou como um
pequeno detector de mentiras humano.
— Puta merda, Sininho. Eu não estou tentando te
prejudicar. Estou tirando algo desse acordo também. Eu
simplesmente não pensei. Eu tenho uma moto. É o que eu
dirijo. Mas vou chamar um Uber, tudo bem?
Meu vômito verbal terminou em um silêncio retumbante.
O sol estava se pondo, encolhendo os raios dourados que
realçavam os fios ruivos do seu cabelo. Ela o tinha puxado para
trás em um daqueles penteados extravagantes que ficavam
como uma cobra enrolada na parte de trás da cabeça. Delicados
brincos de pérola pendiam de suas orelhas pequenas. Tudo em
Parker Brown era delicado e bonito.
Uma ilusão. A mulher tinha um interior de ferro.
— Você realmente não deveria xingar tanto — foi tudo o
que ela disse. — Isso mostra falta de imaginação.
— Merda nenhuma.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— Não é uma... bobagem.
Bobagem. Jesus. Esta mulher.
— É sim. — Eu ri de sua carranca. — Xingar é um sinal de
inteligência e aqueles que o fazem com frequência são mais
felizes e saudáveis do que as pobres almas reprimidas que
guardam tudo dentro de si.
— Oh, é uma patifaria.
— Bobagem? Patifaria? Qual é o próximo? Macacos me
mordam?
Um rubor cobriu suas bochechas, e ela rosnou.
Eu ri de novo.
— Pesquise se não acredita em mim.
— Eu vou. — Ela andou até a minha moto. — Nós vamos,
ou devemos ficar aqui falando besteiras a noite toda?
Se eu pudesse escolher, falaríamos besteiras.
— Você realmente vai andar nisso? — Entreguei a ela o
capacete extra que trouxe.
Ela fungou, toda irritação educada, e o colocou. Era
adoravelmente enorme em sua cabeça.
— Meu meio de transporte é uma bicicleta. Acho que
consigo. — E então ela fez algo que eu sabia que tinha como
objetivo me matar. Ela puxou a saia do vestido até as coxas,
expondo pernas realmente espetaculares, e montou na moto.
Olhei para aquelas pernas bonitas e macias, imaginando
minha língua traçando um caminho até a curva de sua coxa, e
meu pau se contraiu. Subi na minha moto antes de ter uma
situação em minhas calças que tornaria a direção
desconfortável.
Não foi fácil, no entanto. Não com as coxas de Parker do
lado de fora das minhas e suas mãos me segurando. Quando
paramos nas docas, eu estava praticamente suando. Foi um
alívio estacionar e obter uma distância necessária da minha
pequena algoz.
Ela me entregou o capacete e alisou o cabelo.
— Tudo bem. — Ela respirou fundo, o que foi ótimo para
seus seios, e então soltou o ar. — Vamos fazer isso.
Nós dois olhamos para o iate enorme e elegante pairando no
final do cais privado. As pessoas já estavam espalhadas em seus
vários conveses, as janelas brilhando ao sol poente. Risos e
conversas se espalhavam pela noite.
Segurei seu cotovelo e a guiei para frente.
— Aja como se você fosse a dona do lugar e você será.
Ela olhou para mim com um sorriso confuso.
— É assim que você faz?
— O que você acha?
— Que você acabou de admitir que fala demais e não é assim
— ela disse levemente, e me fazendo rir.
Mas, apesar da minha arrogância, assim que pisamos no
meio do convés de madeira clara, um suor surgiu na parte
inferior das minhas costas. A multidão estava repleta de idiotas
ricos de dentes brancos e mulheres lindas. Todo mundo tinha
uma bebida na mão e todo mundo estava expondo os dentes
em sorrisos falsos.
O iate em si era impressionante. Elegantes painéis de
madeira polida e móveis de couro branco brilhante, vários
convés, cada um com seu próprio bar completo. Havia uma
plataforma para tomar sol no convés de popa e uma enorme
banheira de hidromassagem no convés do meio, onde mulheres
de biquínis fio dental se divertiam.
Eu estive em iates como este. Pude até apreciar o artesanato
e a beleza da embarcação. Era o elemento humano que entrou
sob minha pele e se arrastou como formigas. Era familiar
demais. Muito parecido com aquele mundo que deixei para
trás. O mundo ao qual nunca pertenci, mas fui puxado para
dentro para fornecer entretenimento.
Rolei os ombros e Parker olhou para mim.
— Você está bem? — ela perguntou em voz baixa.
— É claro. Tudo ótimo, linda.
Eu duvidava que ela acreditasse nas minhas besteiras. O que
quer que ela quisesse dizer foi perdido quando Fairchild veio
ao nosso encontro.
— Morgan! — Ele era cheio de sorrisos e usava um terno de
linho branco com chinelos de veludo roxo. Juro por Deus,
chinelos roxos – com suas iniciais bordadas em fios de ouro. Eu
sufoquei um bufo quando ele pegou minha mão e a apertou.
— Bom te ver.
Ele deu uma olhada em Parker.
— E srta. Brown.
— Parker, senhor. Por favor, me chame de Parker.
— Parker — ele repetiu brandamente. — Muito bem. —
Seu olhar aquoso pousou de volta em mim. — Deixe-me
mostrar o lugar para você, Morgan. Já esteve em um barco?
— Um ou dois. — Segurei o cotovelo de Parker, sentindo a
tensão em seu braço. — Nós adoraríamos um passeio.
Na verdade, eu adoraria jogá-lo ao mar, mas ei, estar em sua
companhia era o que tanto Parker quanto eu precisávamos.
Então, eu lidaria com isso.
Como um rei, Fairchild desfilou pela multidão, batendo nos
ombros, apertando as mãos e me apresentando o tempo todo.
— Rhys Morgan. O Criador de Viúvas. E sua amiga, Parker.
Em algum lugar ao longo do caminho, peguei uma taça de
champanhe da bandeja de um garçom e a entreguei a Parker.
Ela me deu um sorriso tenso, mas agradecido, e deu um gole
saudável.
— Nenhuma para você? — ela perguntou, inclinando-se
para ser ouvida sobre a conversa crescente.
— Não. A coisa me dá uma dor de cabeça do cacete.
Seus lábios franziram novamente, e eu sabia que ela estava
lutando contra o desejo de corrigir meu linguajar. Eu não
ficaria surpreso se ela eventualmente carregasse um pote de
palavrões. Mas Fairchild me ouviu e interrompeu a conversa
com um homem mais velho e barulhento que usava uma
camisa de seda com estampa de palmeiras.
— Deixe-me pegar para você uma bebida de homem de
verdade — disse ele.
Parker murmurou em sua taça enquanto ele nos levava a um
bar.
— O que você quer, Rhys, meu garoto?
— Água gelada, se você tiver — eu disse a bartender.
— Você gostaria de um copo com limão? — ela perguntou.
Esse lugar.
— Vou beber da garrafa.
— Água? — Fairchild fez uma careta. — Viva um pouco,
cara.
Aceitei a garrafa de vidro azul com água gelada que a
bartender me ofereceu.
— Sou responsável por levar Parker para casa em segurança.
E eu não bebo e dirijo.
Coisa errada a se dizer. Sua carranca se voltou para Parker
como se fosse culpa dela eu não estar bebendo uma cerveja com
ele, e ela visivelmente enrijeceu.
— Além disso — acrescentei —, vou dar uma aula amanhã
cedo e gosto de me manter em forma. — Besteira absoluta. Não
a parte da aula, mas uma cerveja não faria mal. Fairchild não
precisava saber disso, no entanto.
Ele se animou.
— Você está dando aulas? Boxe?
— Amanhã é kickboxing, mas, sim, também temos aulas de
boxe. — Tomei um gole da água. Jesus. Realmente tinha um
gosto melhor do que a água normal. — Minha academia,
Lights Out, oferece todos os tipos de aulas. Você deveria passar
por lá. Eu poderia te arranjar um instrutor particular.
E então você pode mostrar sua gratidão tornando-se nosso
patrocinador.
Ele murmurou.
— Talvez eu vá. Mas você não deveria estar dando aulas.
Você deveria estar no ringue. Você consideraria lutar de novo?
Minhas entranhas viraram chumbo e minha garganta se
fechou. Eu não estava mais em um iate chique. Eu estava
sentado na cadeira de plástico rígido que cortava minhas coxas
e dava uma torção nas minhas costas. A mesma cadeira em que
fiquei sentado três dias seguidos, esperando em vão que Jake
acordasse. Sentado lá, enquanto o médico nos dizia que Jake
estava com morte cerebral. Sentado lá, observando enquanto
Marcy decidia desligar os aparelhos, pois Jake não gostaria de
ser deixado em uma cama como aquela.
Foi o dia em que descobri que meu pai havia perdido quase
todas as minhas economias em uma aposta em que Jake
venceria por nocaute no oitavo round. Ele foi nocauteado no
sétimo. Para nunca mais voltar.
A bile queimou minha garganta e engoli convulsivamente.
Eu ia vomitar. Tudo sobre os chinelos roxos e dourados de
Fairchild.
Uma mão fina e macia deslizou em meu aperto frouxo e
apertou.
Parker.
Eu pisquei para ela, confuso, e ela sorriu para mim, toda
brilhante e ensolarada.
— Rhys uma vez me disse que era melhor sair quando ainda
se está por cima — disse ela a Fairchild.
Mentiras. Mas também é verdade.
Lambi meus lábios secos.
— Verdade. Meu tempo no ringue acabou.
Fairchild franziu a testa, mas assentiu com clara relutância.
Uma tensão estranha se estabeleceu sobre nós e eu não
conseguia encontrar uma maneira de cortá-la. Parker, por
outro lado, olhou ao redor do barco e depois voltou-se para
Fairchild.
— Esta é uma bela embarcação, Sr. Fairchild. Estou
enganada ou são painéis solares que você tem ali?
Ele olhou para a área que ela apontou.
— São. Agora, Morgan. Sobre essa suposta aposentadoria.
Eu levantei uma mão.
— Desculpe, Fairchild, mas você pode me indicar a direção
do banheiro? A natureza chama.
Eu mal ouvi suas instruções antes de sair dali, incapaz de
ouvir mais uma palavra sobre eu voltar ao esporte. O banheiro
ficava em um longo corredor, perto da proa. Conectado a uma
cabine, era brilhante e silencioso. Deixei água fria cair sobre
meus pulsos e joguei no meu rosto. Apoiando-me na pia, olhei
para o espelho, mal me reconhecendo.
Linhas de tensão cercavam minha boca e saíam dos cantos
dos meus olhos. Eu tinha trinta e quatro anos, mas parecia
quase cinquenta e quatro, e estava me escondendo em um
banheiro como um covarde.
— Se recomponha, Morgan, porra. — Saindo da pia, abri a
porta e fiquei cara a cara com Parker.
Pela linha comprimida de seus lábios e pela sobrancelha
levantada como a de uma professora, eu sabia que teria que
falar. Eu só não sabia o que diabos ia dizer.

Parker

Assim que Rhys desapareceu para usar o banheiro, o Sr.


Fairchild perdeu todo o interesse por mim. Uma mulher ruiva
com seios impressionantes era claramente muito mais
intrigante. Ele se afastou em direção a ela sem dizer uma
palavra, demonstrando sem sombra de dúvida que eu precisava
de Rhys ao meu lado para ficar no radar do idiota.
Fiquei perplexa com o fato de um homem vestindo um
terno de linho branco e chinelos roxos com as iniciais bordadas
em ouro tinha o destino do meu futuro em suas minúsculas
mãos bilionárias.
Rhys, e suas mãos não tão pequenas, estavam em algum
lugar, enlouquecendo.
Ele poderia ser mais estóico sobre isso do que a maioria das
pessoas, e Fairchild era muito egoísta para ter notado, mas o
assunto da aposentadoria de Rhys parecia ser delicado. Eu
estava preocupada com sua palidez quando ele se afastou.
Lançando sorrisos educados para qualquer um que encontrasse
meu olhar, corri para seguir o rastro do meu falso namorado.
Minha preocupação era desconcertante.
Rhys era um menino crescido. Um que apareceu em uma
Harley para me levar a um evento formal. Não que eu estivesse
reclamando. Quer dizer, eu teria que pesquisar seus níveis de
emissão, mas esteticamente a moto era deliciosa. Parecia sexy.
Muito agradavelmente sexy com minhas coxas pressionadas
contra as coxas duras de Rhys e a máquina ronronando
embaixo de mim enquanto o vento soprava o aroma tentador
da colônia picante de Rhys ao meu redor.
Hum.
Quem saberia?
Eu joguei esse pensamento para longe. Eu não poderia ter
pensamentos sensuais sobre um homem que nunca teria esse
tipo de pensamento sobre mim em troca. E eu não poderia
gostar de um cara que precisava de um pote de palavrões.
Não era ele, lembrei a mim mesma. Era a moto! A moto
deixou tudo quente.
Eu realmente esperava que tivesse baixas emissões.
Ainda assim, segui minha curiosidade até o banheiro que
Fairchild indicou para Rhys e esperei do lado de fora por ele.
Assim que ele abriu a porta, bloqueei seu caminho.
Ele suspirou pouco antes de sua expressão fechar.
Uh-uh.
Respostas eram necessárias.
— Toda a razão pela qual concordei com essa farsa foi
porque Fairchild estava interessado em Rhys, o Criador de
Viúvas.
— Não me chame assim — ele retrucou.
E não retrucou daquele jeito brincalhão e antagônico que
fazíamos. Desta vez ele falou sério.
O que aconteceu aqui?
A simpatia suavizou meu tom.
— Rhys, se há uma razão para você achar difícil falar sobre
seus dias de boxe, talvez não devêssemos fazer isso. Não quero
colocar você nessa posição. Especialmente com alguém como
Fairchild.
Ele levantou o queixo, suas feições tensas.
— Estou bem. Não há nada para ver aqui.
— Eu discordo. — Aperto seu braço e ele fica tenso com o
gesto. Sentindo-me constrangida por tocá-lo quando ele não
solicitou, dou um passo para trás. — Algo está acontecendo
com você. É... sobre o seu pai? Sua aposentadoria te lembra do
porque... Você se lembra dele?
Com um suspiro exasperado, ele sai para o corredor.
— Ele não é a verdadeira razão pela qual eu parei. Uma
pessoa morreu. Não foi em uma das minhas lutas, mas eu
conhecia o cara, e foi um toque de despertar. Nenhum esporte
vale a pena deixar seu irmão mais novo para trás sem nenhuma
família. Minha carreira não terminou do jeito que eu pensei
que terminaria. É isso. Mas — ele invadiu meu espaço pessoal e
senti um formigamento quente entre minhas coxas — eu posso
fazer isso. Não tem como escapar deste contrato, Sininho,
então esqueça isso.
Ele estava mudando de assunto, e eu ia deixar. Havia mais
nessa história, eu sabia, mas também sabia que ainda não tinha
a confiança dele. Estava tudo bem. Eu podia lidar com isso.
Não era como se eu confiasse nele completamente. Ou que
fôssemos compartilhar informações pessoais. Rhys queria
manter tudo profissional – por que eu deveria discutir?
— Eu não estava tentando sair do contrato. Infelizmente, eu
preciso de você. — Eu fiz uma careta. — Assim que você saiu,
Fairchild viu um par de seios do outro lado do iate que gostou
mais.
Rhys bufou e deslizou sua mão na minha.
— Então vamos encontrá-lo e mostrar a ele como está
errado.
Uma centelha de consciência subiu pelo meu braço. Ele
tinha mãos grandes e fortes com calos nas palmas. Eu nunca
tinha namorado um homem com calos nas mãos antes. Eram
surpreendentemente atraentes.
Não que estivéssemos namorando.
Precisando me distrair do que quer que estivesse
acontecendo com meu corpo, deixei escapar:
— Você sabia que super iates são ruins para o meio
ambiente?
Rhys me lançou um olhar divertido.
— Isso é uma surpresa.
— É verdade. No entanto, no ano passado, um super iate
ecológico foi lançado na Holanda chamado Pérola Negra. O
Pérola Negra – sabe, como em Os Piratas do Caribe. Ele tem
essas grandes velas pretas do tipo DynaRig, então usa energia
eólica. Um verdadeiro barco de emissão zero...
— Existe uma razão para você estar divagando, Sininho? —
Rhys perguntou, diversão em sua voz enquanto caminhávamos
para o convés superior.
Era irritante considerar que ele poderia ser perspicaz o
suficiente para saber a diferença entre uma das minhas
divagações e quando eu estava apenas sendo informativa.
— Claro que você consideraria qualquer coisa relacionada à
consciência ambiental como “divagação”.
Ele me girou de repente, forçando-me contra a grade do
convés superior. Colocando as mãos em cada lado, ele inclinou
a cabeça na minha direção. Rhys franziu a testa, enquanto
parecia procurar algo em meu rosto.
— Vamos nos livrar de qualquer ideia idiota que você tenha
sobre mim. Posso não estar marchando pelas ruas com a porra
do meu cartaz do Greenpeace, mas assisto a documentários
sobre a vida selvagem e me importo que nossa merda egoísta
esteja devastando os ecossistemas do planeta. Princesa, eu gosto
mais de animais do que de pessoas, então definitivamente não
gosto do que estamos fazendo com o planeta deles. Você viu o
documentário com as morsas? — Rhys balançou a cabeça, uma
raiva genuína iluminando seus olhos. — Eu sou a porra de um
homem adulto e quase chorei como um bebê vendo aquela
merda.
A sinceridade de Rhys fez meu estômago se contorcer pela
atração. Ele assistia a documentários sobre a vida selvagem? Eu
chorei como um bebê com as morsas e fiquei estranhamente
excitada por ele ser compassivo o suficiente para admitir seus
sentimentos sobre o assunto.
Eu posso ter emitido um gemido.
Suas sobrancelhas se ergueram em direção à linha do cabelo,
e então um sorriso perverso apareceu em seu rosto.
Sim, eu definitivamente soltei um gemido.
Se eu fosse Hermione Granger, poderia fazer o corrimão
atrás de mim desaparecer, mergulhando assim nas águas abaixo.
Um equivalente muito mais eficiente a rezar para que o chão se
abrisse sob meus pés.
Seus olhos dançaram de prazer.
— Acabei de tocar em um ponto sensível para você?
Eu corei vermelho brilhante, e Rhys jogou a cabeça para trás
de tanto rir. O grande idiota. Estreitando os olhos, tentei
empurrar seu braço para longe do corrimão para me libertar,
mas ele passou os braços em volta de mim em vez disso.
— O que você está fazendo? — eu bufei, olhando para seu
rosto sorridente, arrogante e bonito demais. Minhas mãos
estavam apoiadas em seu peito poderoso, as dele estavam
pressionando profundamente a minha espinha, e o
formigamento que eu sentia antes agora estava progredindo
para zonas erógenas fundamentais.
Era desconcertante, para dizer o mínimo.
— Se importar com a vida selvagem te deixa excitada. Bom
saber.
Eu me contorci em seus braços.
— Essa conversa realmente requer um abraço?
Seu aperto afrouxou, suas mãos descendo da minha cintura
até meus quadris.
— Supostamente, nós somos um casal, lembra. Casais se
tocam. Na verdade...
— Morgan! — A voz de Fairchild nos cortou, lembrando-
me de que não estávamos sozinhos.
Rhys se virou para a voz, deixando cair uma mão, mas
deslizando o outro braço em volta da minha cintura. O Sr.
Fairchild cruzou o convés superior com a ruiva alta e
glamourosa de antes. Ela usava um vestido branco que se
ajustava a cada curva suave de seu corpo, que era abundante.
Seus seios enormes estavam apertados contra o decote
drapeado e baixo do vestido, tanto que até eu olhei.
Os meus eram picadas de abelha em comparação.
— Morgan, esta é Adriana Bellington. Ela assistiu a uma de
suas lutas, imediatamente reconheceu você...
— E forcei Fairchild a nos apresentar. — Adriana piscou
para ele. Se fosse possível, acho que até os peitos dela estavam
piscando para Rhys.
Fiquei desconcertada ao me encontrar comparando bens
enquanto a ruiva puxava Rhys para beijar suas bochechas e
esmagar seus enormes seios contra seu peito.
Eu nunca me senti insegura sobre minha imagem, mas
também nunca fingi namorar um cara cujo tipo usual fosse
mulheres voluptuosas. Esse indício de insegurança foi
acompanhado por mais do que uma pitada de aborrecimento.
Ele era meu namorado falso. Quem se importava se ele
preferia melancias aos meus pequenos pêssegos? Ele nunca
chegaria perto deles para que isso fosse um problema.
— Prazer em conhecê-la — Rhys disse a Adriana, voltando
para mim e fazendo um trabalho admirável em desviar o olhar
de sua fachada invejável.
A ruiva lançou um olhar e me dispensou sumariamente,
aproximando-se um pouco mais de Rhys.
— Eu acabei de assumir a posse da Sportbox.
Rhys levantou uma sobrancelha.
— A rede de esportes?
— Essa mesma.
Uma empresária de sucesso, em esportes, e ela era
ridiculamente sexy.
Maravilhoso.
— Estamos fazendo do boxe um foco. É uma pena que você
não esteja mais lutando. Talvez possamos tomar uma bebida
juntos e você pode me contar o que tem feito? — Adriana
acenou com a cabeça em direção ao bar.
— Uma boa ideia — Fairchild concordou. — Talvez você
possa me deixar convencer o homem a sair da aposentadoria.
Adriana sorriu para Rhys de uma maneira que não havia
como interpretar mal o convite.
— Oh, eu sou muito boa em convencer um homem a ver as
coisas do meu jeito.
— Oh, uau — eu murmurei antes que eu pudesse me
impedir.
Sério?
Rhys parecia estar lutando para não rir quando passou o
braço em volta da minha cintura novamente e me puxou para
o seu lado. Um minuto atrás, eu me sentia feminina e frágil em
seus braços e com esses sentimentos vieram sentimentos
inesperados e sensuais. Quem sabia que a masculinidade
avassaladora poderia ser excitante?
Agora, porém, ao lado de Adriana Bellington, eu me sentia
uma garotinha.
Era perturbador que meu encontro falso pudesse provocar
tais sentimentos de dúvida.
Eu não gostei nem um pouco dessa revelação.
Rhys não percebeu meu tumulto interno enquanto
acariciava meu quadril com a mão.
— Na verdade, estou aqui com a minha namorada.
As feições de Adriana se contraíram de surpresa e desagrado.
Sempre seria assim, percebi. Ninguém no círculo anterior
ou atual de Rhys jamais acreditaria que ele namoraria alguém
como eu, e ninguém no meu acreditaria que eu namoraria
alguém como ele.
— Bem, foi bom ver você. — Adriana lançou um olhar para
mim. — E conhecer você. — Ela se virou para Fairchild. —
Falaremos mais tarde sobre o acordo com Hamilton.
Fairchild assentiu e a observou se afastar. Ela era algo para se
observar. Ele se virou para nós.
— Que mulher. — Ele piscou para Rhys. — Você consegue
"entrar" lá.
Meu queixo caiu.
Pode até ter feito um som quando ele bateu no chão.
O aperto de Rhys em mim aumentou.
— Sem querer desrespeitá-lo, senhor, mas não tenho certeza
se esse é o tipo de coisa que eu gosto que você diga na frente da
minha garota.
Fairchild piscou e então olhou para mim como se estivesse
me vendo pela primeira vez.
— Sim. É claro. Eu não quis ofender. Me desculpe. — Meu
chefe me deu o primeiro sorriso genuíno que já recebi dele. —
Muito rude da minha parte.
— Está tudo bem — eu menti porque fui criada para aceitar
um pedido de desculpas quando era dado. E também porque
eu ainda estava tentando impressionar esse homem, mesmo
que isso me fizesse sentir como uma vendida.
— Sim, sim, Jackson ficou muito impressionado com você,
Parker. E se você conseguiu fazer esse homem sossegar — ele
disse, batendo no ombro de Rhys —, então isso é realmente
impressionante.
Felizmente, ele nos disse que voltaria logo e desapareceu
para que eu pudesse me virar para Rhys e rosnar minha
frustração.
Um rosnado real e honesto.
Meu encontro falso riu.
— Não é engraçado — eu sibilei, virando-me para a água. —
Ele é desprezível. De repente, sou digna de sua atenção porque
não sou apenas uma garota que você está levando "para dar uma
volta", mas alguém que você leva a sério. Ele só se importa com
tudo que é masculino, branco, privilegiado e errado neste país.
Rhys se apoiou no parapeito, seu braço roçando o meu.
— Então por que você está tentando impressionar o cara?
Você tem dinheiro para se manter enquanto procura outro
emprego.
Eu olhei para ele, assustada por encontrar seu rosto tão
perto. Sua proximidade me deu a oportunidade de estudar seus
olhos. Havia um anel marrom dourado claro ao redor da íris
interna que eu nunca havia notado antes. O verde pálido vívido
da íris externa nadava para o marrom dourado, tão
surpreendente que você nunca poderia chamá-los de avelã.
Verde musgo, pensei.
Um lindo verde musgo.
E naturalmente cheio de alma também. Uma mulher
poderia cair naqueles olhos se não tomasse cuidado.
Com um suspiro, olhei para a água.
— Porque eu amo meu trabalho. É um trabalho importante
e é tudo pelo que me dediquei. Minha família queria que eu
ingressasse em seu elegante escritório de advocacia em Nova
York e eu recusei porque era isso que eu queria fazer. E eu odeio
desapontar minha família. Isso é o quanto eu quero este
trabalho.
— Então nós o suportamos.
Enruguei meu nariz.
— Ele não parece te incomodar tanto.
Rhys deu de ombros.
— Estamos tentando impressionar o cara. Não vou ser
totalmente rude com ele, mesmo quando ele estiver sendo um
babaca.
Eu dei um pulo com isso.
— Você acha que ele é um b-a-b-a-c-a?
Ele me lançou aquele sorriso de menino enquanto
gesticulava atrás de nós.
— Eu acho que eles são todos babacas – se você pronunciar
as letras todas juntas, Sininho, você chegará lá eventualmente.
Revirei os olhos e decidi ignorar.
— Bom, isso não é justo. Sobre eles serem ba... tatas. Você
não os conhece.
— Vamos ser claros. — Ele se virou para mim. — Eu não os
chamei de batatas. Isso é algo que você coloca na porra de um
hambúrguer. E sei o suficiente sobre essas pessoas para saber
que a maioria delas são idiotas. — Uma pitada de amargura
envolveu suas palavras.
— Se você acha que eles são "minhas pessoas", então você
deve pensar que eu também sou uma batata.
Rhys sorriu.
— Se eu acho que você teria um gosto bom em um
hambúrguer? Sim, eu acho, porra.
Determinada a não rir de sua provocação no caso de
encorajá-lo, eu lutei contra um sorriso e balancei minha cabeça,
como se ele fosse um estudante travesso. Isso apenas pareceu
encantá-lo mais.
— Sinceramente — disse ele, me esbarrando com o braço —
, o que há com essa coisa de sem xingar?
Minha diversão morreu.
— Não é uma coisa. Só não gosto de palavrões.
— Você é uma mulher adulta, negando a si mesma o direito
de um bom "foda-se" de vez em quando. Isso não está certo.
Corei com as imagens sórdidas que de repente encheram
minha cabeça.
— Sininho sem vergonha — ele resmungou, sorrindo — Eu
não estava falando sobre esse tipo de "foda", mas...
— Argh. — Eu pressionei um dedo em seus lábios para
impedi-lo de dizer qualquer coisa que pudesse me fazer querer
socá-lo e me derreter em igual medida. O homem tinha muito
carisma sexual para isso ser justo. — Pare.
Seus lábios se contraíram contra meu dedo, e eu
instantaneamente deixei meu braço cair.
— Se você quer saber, minha mãe odeia palavrões. — Alisei
o vestido com as mãos e me virei de volta para a festa, pensando
em como eventos como esse me deixavam e sempre me deixam
infeliz. Para desgosto de minha mãe. — Ela é uma mulher
complicada. Ela é uma mulher que marchou com mais de cem
mil homens e mulheres em Washington em 1977 em um calor
de 30 graus para exigir uma prorrogação da ratificação da
Emenda de Direitos Iguais. — Eu me sentia extremamente
orgulhosa por ela ter feito isso. — Mas é a mesma mulher que
tem ideias muito específicas sobre homens e mulheres. Ela
acredita em direitos iguais e acredita que uma mulher pode
fazer qualquer coisa que um homem pode fazer, em termos de
carreira. Ela, no entanto, não tem problemas com um homem
xingando, mas acredita que uma mulher fazer isso é
extremamente impróprio para uma dama.
Rhys deu de ombros.
— Mas, de novo, você é uma mulher adulta. Você pode
fazer o que diabos quiser.
Era o que todos diziam em voz alta, mas eu tinha que
acreditar que não era a única que ainda podia ser reduzida à
condição de criança por meus pais. Eu amava minha mãe e meu
pai. Eles me deram muitas oportunidades na vida e me
amavam. Era da minha natureza agradar as pessoas,
especialmente meus pais, então negar a eles qualquer coisa era
difícil. E eu os neguei muito ao longo dos anos.
— Eu os decepcionei — eu admiti. — Meus pais. De
maneiras diferentes. — Eu lancei um olhar para Rhys e o
encontrei me observando, curiosidade em seus olhos. Desviei o
olhar e dei à festa um sorriso alegre. — O mínimo que posso
fazer é manter minha boca limpa para minha mãe. — Eu ri, mas
estava procurando desesperadamente por um garçom com uma
bandeja com dez taças de champanhe das quais eu poderia livrá-
las dele.
— Se isso é verdade, por que eu preciso manter a minha
boca limpa?
Pensando nisso, não tinha resposta. Talvez a aversão dela
tenha se tornado a minha aversão, mas sinceramente, eu estava
me acostumando com os xingamentos de Rhys. Era apenas
quem ele era. E não era como se eu fosse apresentar meu falso
namorado praguejante para minha mãe. Eu não queria que
meus pais soubessem que eu tinha me rebaixado a mentir para
fazer minha carreira acontecer, e eu não queria mentir para eles
e aumentar suas esperanças de que tinha encontrado alguém
que eu estava levando a sério.
— Acho que não — eu concedi enquanto endireitava os
ombros. — Deveríamos encontrar Fairchild e lembrá-lo de que
eu existo.
Rhys decidiu me ajudar, sem insistir no assunto dos meus
pais, o que eu apreciei. Descemos para o convés do meio, onde
Fairchild conversava com um grupo de homens enquanto
mulheres de biquínis fio dental descansavam atrás deles em
uma banheira de hidromassagem.
Era uma cena clichê que pertencia à década de 80. Este iate
era meu pior pesadelo.
— Ah, aí está ele! — Fairchild avistou Rhys. — Homens,
vocês precisam conhecer Morgan. Morgan, venha aqui.
Rhys apertou minha mão com mais força e me conduziu.
O que quer que ele estivesse sentindo antes, Rhys deixou pra
lá enquanto encantava Fairchild e os homens ao seu redor. Eles
perguntaram sobre seus dias como campeão de peso-pesado,
uma existência muito diferente da deles, e Rhys os entreteu.
Meu chefe, Jackson, apareceu com Camille, junto com alguns
colegas e seus sócios. Conversamos um pouco, um leve alívio
em uma festa que me deixou desconfortável, mas logo se
dispersaram na multidão. Exceto Jackson, que ficou com
Fairchild, ouvindo Rhys.
Outras pessoas entraram e saíram da conversa, homens e
mulheres empresários, membros da sociedade de Boston, e
Rhys lidou com todos eles com incrível desenvoltura. Ocorreu-
me que, durante seus dias de boxe profissional, ele ficava
cercado de pessoas ricas. Ele estava acostumado com elas.
Ele era melhor com elas do que eu, e eu cresci neste mundo.
À medida que a noite avançava, eu ansiava em voltar ao meu
apartamento, enrolada na minha cama com o livro de fantasia
que eu estava na metade. Era sobre fadas, guerra, romance e
heroínas incríveis.
Ou eu preferia ter saído com os caras. "Os caras" eram meus
amigos do MIT que não haviam saído de Boston. A cada duas
semanas, nos encontrávamos para participar de uma noite de
quiz e tínhamos muito prazer em aniquilar nossos
concorrentes.
Rhys estava convencendo Fairchild e alguns de seus amigos
a irem à academia para aulas de boxe quando senti uma mão
nas minhas costas. Eu me virei bruscamente e olhei para um
rosto sorridente e familiar.
Stephen Chancer.
Um ex.
Mais ou menos.
Tínhamos ido a três encontros. Eu dormi com ele no
terceiro e depois disse que não ia dar certo. Principalmente
porque, se eu não conseguia parar de pensar nos mercados de
eletricidade com alta penetração de vento durante a penetração
dele, eu sabia que era um fracasso.
No entanto, minha preocupação não era esbarrar em um
homem que eu havia rejeitado. Nós fomos juntados por sua tia,
que conhecia minha mãe. Na maior parte do tempo, eu evitava
me misturar com a sociedade da Costa Leste durante meu
tempo no MIT, para desespero de minha mãe. Stephen foi a
única vez que me deixei entrar nesse mundo e, para ser honesta,
não foi apenas sua falta de diligência no quarto que me fez
desistir. Ele dependia demais do dinheiro dos pais e era meio
esnobe.
Nada disso importava agora.
O que importava era ele contar para a tia que eu estava
namorando o ex-boxeador, Rhys Morgan.
— Stephen, oi. — Lancei um olhar cauteloso para Rhys,
que estava muito ocupado respondendo a qualquer pergunta
que Fairchild tivesse feito para perceber com quem eu estava
falando.
— É tão bom ver você. — Com 1,70m, Stephen não
precisou inclinar muito a cabeça para dar um beijo no canto da
minha boca quando me virei para ele.
Eu fiz uma careta para a intimidade e me afastei um pouco.
Stephen me seguiu. Ele nunca esteve realmente ciente de toda
essa coisa de espaço pessoal.
Ai, caramba.
— Como você tem passado? O que está fazendo aqui? — ele
perguntou.
Vá embora, vá embora, vá embora.
— Estou bem, obrigada. O Sr. Fairchild é o CEO da
empresa em que trabalho. Horus Renewable Energy.
— Isso é ótimo. — Ele levantou sua taça de champanhe para
mim. — Meu pai tem negócios com Fairchild. Ele não pode vir
esta noite, então vim no lugar dele. Minha acompanhante —
ele olhou ao redor do convés — está por aqui em algum lugar.
— Stephen voltou-se para mim, olhando-me
especulativamente. — Você veio sozinha?
— Não, ela está comigo. — Rhys apareceu de repente ao
meu lado, seu braço deslizando em volta das minhas costas para
descansar possessivamente no meu quadril. Senti seus lábios
roçarem minha testa. — Você está bem, amor?
Eu olhei para ele. Sua aparição não era boa. Agora Stephen
descobriria e possivelmente contaria para sua tia, que contaria
para minha mãe e o mundo implodiria. Então, se isso era
verdade, por que me encontrei relaxando contra Rhys e
desejando que ele pegasse minha mão e me levasse para fora da
festa para sua moto sexy?
Eu balancei a cabeça, muda com o pensamento.
— Eu sou Stephen. — O mencionado anteriormente
estendeu a mão para Rhys. — O ex-namorado de Parker. Você
é?
Rhys agarrou a mão de Stephen e deu-lhe um aperto de mão
rude que fez Stephen, que, com certeza, não era meu ex-
namorado, estremecer.
— Eu sou Rhys. Eu sou da Parker.
Sua escolha de palavras foi deliberada, e eu me vi tentando
desesperadamente não sorrir com uma histeria ansiosa.
Stephen levantou uma sobrancelha enquanto olhava entre
nós.
— Você não parece ser daqui?
Eu fiquei tensa com o esnobismo em seu tom.
A mão de Rhys flexionou em meu quadril.
— Engraçado — disse ele, com a voz monótona —, eu
pensei que era meu sotaque que chamavam de bostoniano, não
o seu.
Eu sorri presunçosamente com a resposta.
Stephen torceu o nariz e então me lançou um olhar superior.
— Tudo faz muito sentido agora.
Ugh. Esnobe!
Ao vê-lo ir embora, fiquei mais tensa. E se ele contasse a sua
tia sobre Rhys?
— Ei, você está bem?
Eu me virei para Rhys.
— Ele não é meu ex-namorado — deixo escapar. — Fomos
a três encontros. Três encontros não muito memoráveis.
— Sim. — Rhys franziu a testa para mim e baixou a voz. —
Você odeia isso aqui, Sininho.
Não era uma pergunta.
— E não é de se admirar.
A festa de Fairchild não era um grande exemplo da
sociedade da Costa Leste. Nem todo mundo era tão superior
quanto Stephen ou tão misógino quanto Fairchild. O
bilionário apenas atraía uma má multidão. Ainda assim, eu
nunca tinha me sentido bem neste tipo de evento e claramente
estava aparecendo.
— Acho que é hora de ir. — Rhys me levou em direção a
saída.
— Por quê?
— Porque você está miserável para caralho, e se Fairchild
perceber isso, ele não vai ficar impressionado.
Verdade.
— Argh — eu meio que rosnei baixinho.
Rhys balançou a cabeça, sorrindo.
— Vamos, Sininho Revoltada, precisamos dizer boa noite
ao nosso anfitrião.
Fairchild ficou desapontado ao nos ver partir. Ok, ele ficou
desapontado ao ver Rhys partir. Jackson, por outro lado,
parecia com inveja da nossa partida. E todos os outros... Bem,
quem se importava com qualquer um deles.
— Liberdade — eu disse melodramaticamente na parte
inferior da rampa de embarque.
Meu acompanhante bufou e então me conduziu pelo
estacionamento até onde ele havia estacionado sua Harley.
Realmente era uma moto bonita. Ao entregar meu capacete,
Rhys o segurou por um segundo.
Seu olhar estava procurando algo.
Eu me contorci.
— O quê?
Ele balançou a cabeça ligeiramente.
— Você não é o que eu esperava.
Sinceramente, Rhys também não era o que eu esperava, mas
esses pensamentos eram perigosos.
— O quê? — Puxei o capacete e montei na moto. —
Incrível?
Com um grunhido de diversão, seu olhar passando sobre as
minhas pernas, Rhys subiu na moto.
— Não era esse o adjetivo que eu procurava, não.
— Uuuuu!
Ele olhou por cima do ombro, sua expressão incrédula.
— Você acabou de me vaiar? Primeiro um xô, agora uma
vaia?
— Sua falta de deferência exigia uma vaia.
— Você sabe o que requer uma vaia? Eu esqueci de beijar
você na frente de todos aqueles idiotas.
Eu estremeci com o pensamento.
— Não havia necessidade.
Rhys bufou.
— Você pode não ter notado, mas havia idiotas olhando
para você assim que Fairchild disse a eles que você era minha
mulher.
— Uuuu para isso também. Misoginia no seu mais alto
nível. "Uma mulher só é tão interessante quanto o homem que
sai com ela." Cadê um balde para vomitar quando eu preciso?
— Não vomite perto do meu bebê. — Ele deu um tapinha
em sua moto antes de se virar para olhar para mim novamente.
— Sério. Da próxima vez que estivermos perto dessas pessoas,
você vai ter que me deixar beijar você e fazer isso sem desmaiar,
como se fosse a nossa primeira vez.
Eu torci o nariz diante de tanta arrogância.
— Acho que consigo não desmaiar com um beijo. Mesmo
que seja concedido pelo todo-poderoso Rhys Morgan.
— Ai, Sininho, você está fazendo meu ego inflar. — Ele
pegou o capacete.
— Se inflar ainda mais, vai explodir na sua linda moto.
— Você acha que a minha moto é linda?
— Não posso confirmar isso até pesquisar seus níveis de
emissão.
Senti seu corpo tremer de tanto rir.
— Claro que não pode.
E então ele colocou o capacete, o motor ligou e a moto
ronronou entre minhas pernas enquanto Rhys nos afastava do
iate. A cada segundo, eu me sentia relaxar mais e mais contra
ele, enquanto ele me levava para longe de um mundo no qual
nunca me encaixei.
Parker

Olhando para a minha irmã mais nova do outro lado da mesa


de bistrô, eu sinto como se estivesse esperando alguma outra
coisa dar errado. Ela me perguntaria sobre Rhys porque
certamente Stephen Chancer havia contado a sua tia sobre o
encontro com o boxeador no iate de Fairchild na semana
passada. Sua tia teria imediatamente ligado para minha mãe
para me perguntar sobre o relacionamento e minha mãe
colocaria Easton em cima de mim.
Por que outra razão minha irmãzinha viria passar o fim de
semana em Boston?
Eu estremeci por dentro com a minha própria paranoia.
Easton me visitava frequentemente em Boston, então sua
aparição não era nada suspeita.
Toda aquela mentira estava me deixando louca.
— Você parece tensa. — Easton não levantou os olhos do
cardápio do café da manhã. Estávamos em uma das minhas
cafeterias favoritas que ficava na esquina do meu prédio.
— Não estou tensa. — Eu estava tão tensa.
Minha irmã suspirou e baixou o cardápio.
— Acho que vou comer omelete.
— Hmm — eu concordei distraidamente.
Seus olhos escuros se estreitaram. Não havia como negar
que Easton e eu éramos parentes. Embora houvesse um
intervalo de quatro anos entre nós, éramos muito parecidas.
Tínhamos os mesmos olhos escuros, cabelos escuros, pele oliva
e corpo pequeno. A única diferença era que Easton tinha um
rosto muito mais interessante. Seus olhos eram ligeiramente
mais puxados para cima do que redondos, seu nariz um pouco
mais afilado e cheio de personalidade, sua boca mais larga.
E embora meu estilo preferido fosse "patricinha excêntrica",
Easton quase sempre parecia ter acabado de chegar do
escritório, de uma maneira muito estilosa e cara. Hoje ela usava
uma blusa de seda vermelha, os botões superiores abertos para
revelar um pequeno decote, e estava dentro de uma saia lápis
cinza. Seu cabelo escuro estava penteado em ondas suaves e as
únicas joias que a adornavam eram um par de brincos de
diamante nas orelhas, um clássico relógio Jaeger de aço e o
enorme anel de diamante em seu dedo anelar.
— É por causa disso, não é? — Easton disse, acenando com
a mão esquerda, com o anel que parecia um soco-inglês. —
Mamãe e papai estão pressionando você por causa disso?
Só se você chamasse de pressão os olhares ansiosos que eram
lançados em minha direção, sempre que o noivado de Easton
era mencionado.
— Na verdade, não.
— Na verdade não, que significa que eles não disseram nada,
mas há pausas longas o suficiente e olhares significativos para
fazer você sentir que está os decepcionando?
Meu Deus, minha irmã me conhecia, e a eles, tão bem. Dou
de ombros.
— Estou feliz por você. Eles estão felizes por você. Isso é
tudo que importa.
E era verdade. Easton tropeçou em um unicórnio. Seu
noivo, Oliver Bowen, havia herdado uma riqueza proveniente
dos frutos de um império de grãos de cacau. Ele era um
advogado de defesa dos direitos humanos e esteve envolvido em
muitos empreendimentos filantrópicos; você não poderia odiar
o cara se tentasse.
Não havia nada para odiar.
Ele era um excelente exemplo de que nem todos os socialites
da Costa Leste eram batatas.
Argh, eu não conseguia xingar nem na minha cabeça!
Eu fiz uma careta. Desde quando eu quero xingar? Xingar
era eca e desnecessário. Ou era só minha mãe falando?
Rhys Morgan, maldito seja. Ele estava se infiltrando na
minha cabeça.
— Sim, eu tenho muita sorte — disse Easton, com olhos
sonhadores. Senti uma pontada de inveja quando me lembrei
de como era amar alguém como ela amava Oliver.
— Ele tem muita sorte.
— Sim, eu sei. — Minha irmã me lançou um olhar. — Mas
eu também posso achar que tenho sorte.
— Claro que você pode. Omelete, você disse. — Eu refleti
sobre o menu. — Estou pensando em bagel.
— Você está distraída hoje. Você estava distraída ontem à
noite também.
— O trabalho me consome muito — menti.
A verdade é que eu estava preocupada com meus pais
descobrindo sobre Rhys e, ao mesmo tempo, um pouco
desconcertada por estar ansiosa para mandar uma mensagem
para o homem. Quando ele me deixou em casa depois da festa,
eu disse que entraria em contato quando precisasse dele.
Até agora eu não precisei.
Hmm.
O garçom chegou e minha irmã e eu nos estudamos. Eu
estava esperando o lançamento da bomba de Stephen Chancer,
e ela estava esperando que eu admitisse que havia algo
acontecendo que eu não havia contado a ela.
Meu celular soou uma música que anunciava uma
mensagem.
— Eu preciso ver — eu disse me desculpando enquanto
pegava minha bolsa. — Pode ser do trabalho.
Não era do trabalho.
HarleyGostoso: Sem expediente para mim neste fim de
semana, Sininho?
Eu sorri, ouvindo seu sotaque de Boston na minha cabeça.
ParkerB: Entediado, Morgan?
HarleyGostoso: Eu não fico entediado. Não tem nada,
então?
ParkerB: Não neste fim de semana. Você está livre para
assistir a documentários sobre a vida selvagem. Vou enviar
alguns lenços.
HarleyGostoso: Não precisa. Eu tenho os meus. O que você
está fazendo?
Eu fiz uma careta com a pergunta, mesmo quando meu
estômago vibrou.
ParkerB: Estou passando um tempo com a minha irmã.
Vamos tomar café da manhã.
HarleyGostoso: Bem, se você não estivesse tão decidida em
esconder nosso acordo da sua família, eu poderia ter feito para
vocês duas minha famosa frittata.
Ele cozinha?
Ele pilotava uma moto envenenada (os níveis de emissão
eram terríveis e minha culpa era real pelo fato de não ter
diminuído nem um pouco a atração), assistia a documentários
sobre a vida selvagem e cozinhava.
Ugh, eu deveria ter ficado com Dean. Ele era bem menos
complicado.
ParkerB: Isso é um eufemismo? Ou você acabou de admitir
saber cozinhar?
HarleyGostoso: Acabei de admitir que sei cozinhar PRA
CARALHO. Há uma diferença.
— Ok, para quem você está enviando mensagens que está
fazendo você sorrir assim? — A voz de Easton cortou minha
bolha com Rhys.
Minha cabeça se ergueu. Fiquei mortificada ao perceber que
momentaneamente esqueci que ela estava aqui.
— Hum, meu chefe. — menti. — Ele é um cara engraçado.
— Solteiro? — Easton perguntou, esperançosa.
Eu bufei.
— Não. Mesmo que fosse, você está mesmo me
incentivando a dormir com meu chefe?
— Estou encorajando você a ser feliz.
— E isso requer um homem?
Easton estreitou os olhos.
— Você sabe que não. Mas requer seguir em frente. Já se
passaram treze anos, Parker. Você não acha que está na hora?
— Não é que eu não queira. — Dou de ombros. — No
entanto, eu sei como deveria ser a sensação, e tentei encontrá-la
novamente e falhei. Talvez uma pessoa só ganhe isso uma vez
na vida. Por que desperdiçar toda essa energia namorando
homens que não combinam, quando posso apenas me
concentrar nas coisas que me fazem feliz? Como meu trabalho.
E ajudar minha irmãzinha a planejar o casamento do século.
Agora foi a vez de Easton bufar.
— Me ajudar a planejar um casamento é o equivalente a uma
tortura dentária para você.
— Eu sou sua dama de honra.
— Sim. Você é. Mas eu te amo e não quero torturá-la, então
eu oficialmente te libero de todos os deveres de dama de honra.
Basta aparecer para as provas do vestido e para os eventos do
casamento e ficarei feliz.
— Eu te amo, você sabe disso, certo?
Ela sorriu.
— Eu sou muito fácil de amar.
— Você é. Mas me recuso a renunciar aos meus deveres de
dama de honra. Minha irmãzinha vai se casar e eu quero fazer
parte disso. — Mesmo que minha ideia de despedida de solteira
fosse uma noite de quiz seguida de um delivery de comida e
ficar no meu apartamento com as meninas. De alguma forma,
eu não acho que seria suficiente para Easton. Teria que
envolver uma viagem a algum lugar. Vegas ou Havaí.
E ela iria querer strippers.
Principalmente para mortificar nossa mãe.
— Tudo bem, mas eu quero strippers na minha viagem de
despedida de solteira — disse Easton, apontando o dedo para
mim, sua expressão determinada.
Rindo para mim mesma, eu balancei a cabeça enquanto
olhava para o meu celular.
ParkerB: Você conhece algum stripper masculino?
Não houve resposta imediata.
Enquanto mordia meu bagel, recebi uma mensagem.
HarleyGostoso: Vou ter que cobrar mais caro para isso,
Sininho.
Eu ri, quase engasgando com meu café da manhã.
— Seu chefe deve ser realmente engraçado, hein? — Easton
tinha um brilho de conhecimento em seus olhos.
Ai, Deus, eu não sabia o que era pior. Me preocupar se meus
pais descobririam pela tia de Stephen Chancer que eu estava
"namorando" Rhys Morgan, ou minha irmã pensar que eu
tinha uma queda por Jackson.
Isso é o que acontece quando você mente, pessoal.
Nas palavras de Sir Walter Scott: "Oh, que teia emaranhada
tecemos quando primeiro praticamos para enganar!"
— Você acabou de murmurar Shakespeare baixinho? —
Easton perguntou.
Pobre, Sir Walter Scott.
— Estou pensando no Havaí para a despedida de solteira. —
Tentei distraí-la novamente.
Os olhos dela se iluminaram.
— Ooh, sim. Strippers usando tangas. Mamãe vai morrer.
Balancei a cabeça diante de sua determinação de mortificar
nossa mãe, mas, no fundo, estava com um pouco de ciúme.
Easton não gostava de agradar as pessoas. Ela fazia o que queria,
não importava o quê. Simplesmente acontecia que a maior
parte do que ela queria fazer com sua vida se encaixava nas
ideias de meus pais sobre a mulher de carreira/dama da
sociedade perfeita.
No entanto, Easton não temia decepcionar nossos pais. Ela
não se esforçava para fazê-los felizes acima de sua própria
felicidade e, na verdade, gostava de encontrar pequenas
maneiras (como contratar strippers masculinos) para irritá-los.
A verdade era que eu sabia porque queria tão
desesperadamente agradar as pessoas que amava. Era uma dor
enterrada no fundo e, embora eu desejasse poder deixá-la ir,
viver minha vida como uma mulher adulta que não se
importava com a opinião de seus pais, eu não tinha certeza se
algum dia seria capaz.
— E nós temos que fazer a mamãe usar uma saia havaiana
— Easton continuou.
— Quando o inferno congelar, Easton. Quando o inferno
congelar.
Minha irmã franziu a testa pensativa e depois assentiu.
— Os strippers vão servir.

Rhys

Parker não me mandou mensagem de novo. Isso não deveria


mexer com minhas entranhas, mas mexeu. Ela perguntou se eu
conhecia algum stripper masculino. Sério? Eu gostaria de
pensar que ela estava brincando, mas eu tinha quase certeza que
não estava. O que significava que, em algum lugar, a santinha
Parker Brown estava caçando entretenimento masculino.
Meus dedos se contraíram, batendo em um ritmo frenético
na mesa. Por que ela queria um stripper? O melhor palpite era
uma despedida de solteira. Eu não conseguia imaginar isso, no
entanto. Não conseguia imaginar Parker, com suas saias
bonitinhas e blusinhas com lacinhos soltos, sendo histérica
com outras mulheres, dando gritinhos por causa de um cara
pelado.
Um sorriso surgiu em meus lábios. Ou talvez eu conseguisse.
Seria incrível vê-la desse jeito, totalmente livre dos limites
rígidos aos quais normalmente se mantinha. Sem pensar,
peguei meu telefone e olhei para suas últimas mensagens,
querendo falar com ela de novo.
— Idiota — eu murmurei, jogando o telefone na mesa com
desgosto. Um maldito encontro com a mulher – um maldito
encontro falso – e eu estava agindo como um adolescente.
— Você está no meu lugar.
Da porta, Dean exibia seu sorriso de merda.
— Deanie, você pode estar trabalhando aqui no momento
— eu disse suavemente —, mas este assento aqui é meu.
— Sim, bem, está parado na frente da minha mesa, então...
— Ele acenou com a mão em direção à porta. — Cai fora.
— É engraçado o jeito que você pensa que eu vou te ouvir.
Dean entrou no escritório. O merdinha realmente estava de
terno.
— Não é como se você estivesse trabalhando. Observei você
olhando para o nada nos últimos dez minutos.
O nó no meu estômago apertou mais.
— Você está me observando há dez minutos? Isso é
assustador, maninho.
O canto de sua boca levantou.
— Não, o que é assustador era o sorriso bobo que você tinha
no rosto o tempo todo. Bem, pouco antes de mudar e fazer uma
careta como se estivesse com indigestão.
Porcaria. Eu estava sorrindo? Deus, não. Eu não sabia o que
me horrorizava mais – que eu estava fazendo caretas bobas ou
que Dean tinha me visto. Quando ele continuou rindo
silenciosamente às minhas custas, esfreguei o olho com o dedo
médio.
— Legal. — Dean me olhou como se estivesse tentando ler
minha mente. — O que te deixou com os olhos apaixonados?
Poderia ser uma certa herdeira riquinha?
Essa linha de conversa tinha que terminar. Rápido.
Eu me levantei e estiquei meu pescoço tenso.
— Eu estava pensando em todas as maneiras que eu posso
fazer da sua vida um inferno enquanto você estiver aqui.
Colocando meu telefone no bolso de modo casual, porque
eu não queria verificar se havia mensagens de texto, dei a volta
na mesa e apertei o ombro de Dean.
— Está vendo aquela pilha de papéis na mesa de
conferência?
A mesa em questão ocupava toda a extensão da sala e
acomodava quinze pessoas.
— Pilhas de papel, Rhys. Eu vejo pilhas.
Eu sorri.
— Aquele é o trabalho de contabilidade da Lights Out.
Seus olhos se arregalaram de horror.
— Não está no computador?
Sim, estava. Mas ele não precisava saber disso. Dando de
ombros, soltei seu ombro rígido.
— Acho que o pai gostava de fazer as coisas à moda antiga,
e eu não tive tempo para resolver isso. Acho que depende de
você.
Algumas maldições maduras rasgam o ar enquanto Dean
caminha até a mesa e pega uma pasta para folheá-la.
— Vou ficar aqui a porra do mês todo!
Essa era a ideia. E ele nunca teria a chance de ver a verdadeira
bagunça que papai deixou para trás.
— Então é melhor você começar agora. — Eu fiz um show
de olhar para o meu relógio. — Vou tomar um café. Você quer?
Você provavelmente vai precisar de cafeína.
— Vai se foder, Rhys — ele disse sem muita vontade, já
caído em uma cadeira de conferência e pegando mais arquivos.
— De verdade. Vai se foder. Isso é uma vergonha. E você me
chama de irresponsável. Não é de admirar que a academia esteja
em terreno instável. — Suas sobrancelhas arquearam quando
ele olhou por cima do ombro para mim. — Como você
consegue administrar um negócio dessa maneira?
— Ei, eu nunca disse que era um homem de negócios. — Na
verdade, eu não era ruim nos negócios. Mas era quase
impossível estar no azul quando você começava com uma
montanha de dívidas. E eu quase estremeci com a forma como
meu irmão relativamente inocente teria recebido essa notícia.
Embora eu estivesse deliberadamente brincando com ele,
não pude ignorar a pequena pontada de vergonha por sua
decepção. Ele me admirou por toda a sua vida. Eu tinha sido
seu ídolo. Agora, ele claramente me via como alguém com um
passado e um fodido.
Eu estava começando a pensar que nunca me livraria da
sensação quente e pegajosa de arrependimento e raiva que
cobria minhas entranhas e puxava minha pele. Não deveria
importar o que os outros pensavam de mim. Mas Dean
importava. Eu o amava e o odiava por isso.
Sem dizer outra palavra, eu me virei e saí do escritório, o som
da reclamação de Dean me seguindo pelo corredor.
Carlos me encontrou no saguão.
— Por favor, me diga que Dean trabalhar aqui é uma das
suas piadas.
— É, mas ele parece determinado a tentar. — Olhei para o
escritório. — Quanto tempo ele vai realmente manter isso é
uma incógnita.
— Ele fica facilmente entediado.
— Normalmente. — Fazendo uma careta, fui para a sala de
descanso. Não estava na forma que eu queria; precisávamos de
algo melhor do que máquinas de venda automática amareladas
e duas cafeteiras antigas. Em minha mente, substituí o coador
desajeitado por uma máquina de café expresso com botão de
pressão, montei um novo bar de suco no outro lado da sala e
troquei o piso de ladrilho rachado por madeira larga e lisa.
Fairchild poderia fazer isso acontecer. Com o dinheiro dele,
eu poderia consertar tudo; mais importante, eu poderia
contratar instrutores e treinadores e ter pessoas na porta com
cartões de membros nas mãos. Admirar minha carreira anterior
não era suficiente, no entanto. Eu tinha que descobrir como
vender este lugar para ele. Posso ser um bom empresário, mas
definitivamente não era um bom vendedor.
Eu me servi de uma xícara de café verdadeiramente de merda
e encarei Carlos. Ele digitou o código de uma bebida energética
e se abaixou para pegá-la.
— Você não está preocupado com Dean olhando a
contabilidade? — Carlos torceu a tampa da garrafa e tomou um
longo gole.
— Deixei todas as contas e transações financeiras que a
academia teve desde o início dos tempos na mesa da sala de
conferências e disse a ele que não havia nada no computador.
Carlos engasgou com a bebida.
— Caramba, cara. Isso é maldade.
— Mas necessário. Espero que Dean desista muito antes de
perceber que há buracos na contabilidade.
Rindo, Carlos me seguiu para fora da sala de descanso. Nós
nos dirigimos para a varanda da frente. Infelizmente, a
academia cheirava a chulé – algo que eu não conseguia
descobrir como me livrar – e a varanda era o único lugar onde
poderíamos tomar um pouco de ar fresco e ter certeza de que
Dean não nos ouviria.
A luz do sol me cegou quando saí. Mais um lembrete de
quão escuro e úmido era a maldita academia. Eu olhei para o
meu copo de isopor e joguei tudo na lata de lixo próxima. Eu
não queria a porra de um café. Eu não queria estar aqui de jeito
nenhum.
Não pense nela.
Ela ia realmente contratar um stripper?
— Foda-me.
Carlos levantou uma sobrancelha.
— Desculpe, mano. Há algumas coisas que não estou
disposto a fazer. Você terá que viver com a decepção de que
meu pau extraordinário é inatingível.
Eu bufei.
— Acho que esse sonho terá que morrer. — Eu estava
prestes a fazer uma piada com ele quando uma Land Rover
parou na frente da academia. Uma onda muito necessária de
raiva incandescente atravessou meu sistema. Eu plantei meus
pés e deixei rolar.
Ao meu lado, Carlos se levantou, com as mãos em punho.
— Puñeta.
Um motorista abriu a porta dos fundos e um cara alto e loiro
saiu. Garret.
Ignorando os palavrões em espanhol que fluíam da boca de
Carlos, tentei não olhar feio para o cara. Mas ele era um filho
da puta persistente.
Ele acenou com a cabeça para nós dois quando parou no
final da escada.
— Eu estava pensando se você teria tempo para conversar?
— Se é sobre comprar a academia, acho que não — eu disse.
— Tenho uma nova oferta para você.
Merda. Meu estômago revirou. Parte de mim se perguntava
se rejeitar esse cara tornava minhas escolhas tão fodidas quanto
as do meu pai.
— A academia não está no mercado. Seria apenas uma perda
do seu tempo e do meu.
Garret suspirou e olhou para a rua antes de se virar para
mim.
— Eu sei que você está com problemas com o banco.
Calor subiu pelo meu pescoço, mas mantive minha voz
neutra apesar da minha raiva.
— É mesmo? E como diabos você saberia alguma coisa sobre
as minhas finanças?
Ele encolheu os ombros.
— Eu conheço pessoas.
— Sim, bem, você não me conhece, Garret. Não vou vender
minha academia. — Cruzei os braços sobre o peito e abri as
pernas.
O olhar de Garret pairou sobre mim.
— Eu sei o que é orgulho, Sr. Morgan. Mas se você deixar o
seu de lado por um minuto, perceberá que estou lhe fazendo
um favor.
— Sim, claro.
Seu sorriso era fino, meio divertido, meio irritado.
— Quando o banco tomar este lugar, eles vão leiloá-lo por
um preço baixo.
Como se eu não soubesse. Eu tinha pesadelos com isso. Eles
leiloavam minha academia e depois se viravam, e de repente, eu
estava no palco. Contemplando a morte final do orgulho de
um boxeador destruído. Então, sim, eu sabia sobre orgulho. Às
vezes, era tudo que você tinha.
— Me faz pensar por que você está se importando agora, em
vez de esperar.
Garret deu de ombros.
— Talvez eu seja apenas um cara legal.
— Talvez. — Mas ele não era. Na minha experiência,
ninguém era legal quando se tratava de dinheiro. Não, em
algum lugar na cabeça de Garret, ele temia que eu não fosse
falhar e queria comprar a academia agora. Isso me
impulsionou, e eu o encarei.
Finalmente, ele assentiu.
— Você sabe onde estou, se mudar de ideia.
A tensão foi liberada do meu corpo enquanto ele caminhava
de volta para seu luxuoso SUV.
Os ombros de Carlos caíram, mas seu queixo permaneceu
teimosamente fixo.
— Você está fazendo a coisa certa.
— Estou?
Ele assentiu.
— É o último recurso. Ainda não chegamos lá.
— Tudo o que temos somos nós mesmos. E a promessa das
conexões de Parker Brown.
— É melhor você torcer para que sua namorada falsa tenha
conexões generosas.
Eu não sabia o que faria se Fairchild não mordesse a isca.
Mas eu descobriria quando chegasse lá. A porta da academia se
abriu. Dean franziu a testa para nós.
— Quem era aquele?
— Quem? — Carlos repetiu, olhando em volta. — Não vejo
ninguém.
Dean revirou os olhos.
— O cara na Land Rover. Você sabe, aquele com o
motorista?
Minha mandíbula se apertou.
— Um dos amigos de Parker procurando aulas de boxe.
Carlos murmurou ao meu lado, algo sobre minhas
habilidades em mentir serem mais rápidas do que meus golpes.
Voltei a subir as escadas.
— Você terminou com os arquivos?
Dean ainda estava olhando para a rua muito pensativo.
— Vai se foder, Rhys. — Seus olhos azuis, da cor exata dos
da minha mãe, encontraram os meus. — Eu pensei que você
fosse me trazer um café.
— Eu estava prestes a ir buscar. Você quer vir junto?
Ele ficou me encarando como se não conseguisse descobrir
se eu ainda estava mexendo com ele. Eu não estava. Pela
primeira vez, eu não queria brigar com meu irmão mais novo.
Eu queria lembrar como era quando nos dávamos bem. Eu
queria esquecer essa porra de dia.
— Não — ele disse. — Vou pegar uma Coca-Cola da
máquina.
Ele voltou para dentro e eu tentei não ficar desapontado.
Sem pensar, peguei meu telefone.
RhysAqui: Sininho, sobre esse show de striptease. Vou
precisar de uma cueca fio dental brilhante? Ou você quer o pacote
completo?
Parker não me respondeu. E tentei não ficar desapontado
com isso também.
Parker

Eu ando de um lado para o outro pela sala de estar do


apartamento que divido com Zoe. Minha mente oscila entre
desistir da farsa com Rhys e encontrar um novo emprego.
Fora da minha visão periférica, eu posso ver a cabeça da
minha colega de quarto balançando enquanto me observa.
— Não entendo por que essas são suas únicas opções —
anuncia Zoe.
Paro no meio do caminho e olho incrédula para ela.
— Você não ouviu o que aconteceu?
— Sim. E eu acho que você está fazendo tempestade em
copo d'água. — Ela toma um gole de vinho, aconchega-se no
sofá oposto, casualmente e completamente imune ao meu
olhar. — Querida, você odeia mentir. Odeia tanto, que é uma
surpresa que você não tenha tido urticária. Por causa disso,
você está transformando o que aconteceu hoje em algo que não
é.
Afundando no outro sofá, coloco minha própria taça de
vinho na mesinha de vidro e repenso os acontecimentos.
É quinta-feira, quase uma semana desde que mandei uma
mensagem para Rhys sobre os strippers, e ainda não o vi. Não
houve necessidade. Ou era o que eu achava. Enquanto eu
cuidava da minha vida no trabalho naquele dia, Pete, do setor
financeiro, foi até minha mesa para fazer uma pergunta. No
entanto, nosso escritório era pequeno e aberto. A única pessoa
que tinha paredes fechando seu escritório era Jackson. Todos
os outros... Sem paredes. O que significa que a conversa viaja.
— Então — disse Pete, olhando-me especulativamente em
vez de se afastar após minha resposta à sua pergunta sobre a
prorrogação —, você e o boxeador não estão mais juntos.
Meu coração acelerou desagradavelmente.
— Como é? — Vi cabeças virarem pelo canto do olho.
— Bem, você nunca fala sobre ele, e está sempre aqui, então
claramente não está com ele, e Evan — ele apontou para o
nosso técnico do outro lado da sala — disse que vocês dois não
estavam muito carinhosos um com o outro na festa no iate de
Fairchild.
E depois dizem que mulheres são fofoqueiras.
Eu dei uma olhada em Evan, que corou como uma
beterraba e deslizou para baixo em sua cadeira para se esconder
atrás da mesa.
Voltando minha atenção para Pete, tentei não zombar. Eu
gostava de todos os meus colegas da Horus, exceto Pete. Foi ele
quem ficou muito feliz em me dizer que era duvidoso que
Fairchild permitisse que Jackson me mantivesse depois dos seis
meses do contrato. Havia algo sorrateiro e mesquinho em Pete,
e eu me perguntava se ele estava com ciúmes por nunca ter sido
convidado para nossos eventos com Fairchild.
— Carinhosos? — Tentei soar casual.
— Sem beijos, você mal o tocou. Você saiu da festa mais
cedo e o Rhys sumiu.
— Isso não é verdade.
— Então por que você nunca fala sobre ele? — Pete sentou-
se na ponta da minha mesa.
Eu bufei.
— Você não fala sobre sua vida pessoal. O quê? Mas por ser
mulher, eu devo?
Ele fez uma careta.
— Nos referimos à nossa vida pessoal. Digamos, quando
saímos do escritório em um horário respeitável, sempre
mencionamos que é porque nossos parceiros estão esperando.
Eu olhei ao redor da sala e vi cabeças voltando para seus
computadores.
A ansiedade me encheu.
— Evan disse que Rhys parecia a fim de você, mas não me
surpreende que você não goste dele. Afinal, vocês são de
mundos diferentes.
Sério? Quem era esse cara? E Evan precisava calar a boca. Eu
estreitei meus olhos para Pete, de repente me perguntando se o
problema dele comigo era mais pessoal do que eu imaginava.
Não seria a primeira vez que alguém não gostava de mim
porque eu vinha de uma origem privilegiada e de uma família
conhecida.
Ainda assim, Evan, o fofoqueiro, disse que Rhys parecia
gostar de mim, mas eu não gostava dele? Todo esse tempo eu
estava preocupada que Rhys me decepcionasse e era eu quem
estava estragando tudo.
Um nó apertou meu estômago.
— Só sou muito reservada — respondi. — Rhys e eu ainda
estamos juntos.
— Pete, você não tem outras coisas para fazer? — A voz de
Jackson cortou a sala quando ele saiu de seu escritório em nossa
direção.
Pete pulou da minha mesa.
— Claro, senhor. — Ele me lançou um olhar, como se eu
fosse o motivo de ele ter sido pego sem trabalhar, e correu para
o seu lado da sala que eu agora chamaria de Departamento do
Pete Esquisito.
Jackson contornou as mesas e parou na frente da minha. Ele
sorriu para mim.
— Fico feliz em saber que você e Rhys ainda estão juntos
porque marcamos um torneio de paintball. Todos no
escritório vão levar seus parceiros. Você deveria levar Rhys.
Não tenho dúvidas de que ele tornará as coisas interessantes.
Confusa, perguntei:
— Paintball?
— Um exercício para trabalhar em equipe. Já fiz isso antes e
funciona muito bem para aproximar uma equipe. Mesmo
quando você está em lados opostos. — Ele me deu um sorriso
atrevido. — Um pouco de competição é revigorante e, como
você é nova aqui, gostaria muito de vê-la lá.
— É claro. — Paintball. Minha ideia de inferno. Sim. Mas,
espere! — É ecologicamente correto?
Jackson sorriu.
— As balas e o enchimento são biodegradáveis, sim.
— Ok. — Droga. — Eu estarei lá.
— E Rhys também?
Eu balancei a cabeça.
— Vou perguntar a ele.
Passei o resto do dia me preocupando em vez de me
concentrar no trabalho, e então voltei para casa e encontrei
Zoe, ainda agitada.
Quando contei a ela sobre Pete, percebi que não conseguiria
manter a farsa com Rhys. Eu era uma péssima mentirosa, meus
colegas já não acreditavam em nosso relacionamento, e
realmente não iriam acreditar se nós entrássemos no torneio de
paintball.
Minha outra opção era ceder ao inevitável e começar a
procurar um novo emprego.
Uma dor queimou em meu peito com o pensamento.
— A solução está na sua cara — disse Zoe.
— E qual é?
— Ligue para Rhys, explique a situação e diga a ele que você
precisa marcar um encontro falso, só vocês dois, para que
possam trabalhar na intimidade.
Minhas bochechas coraram com o pensamento.
— O que isso significa exatamente?
Claro, minha melhor amiga sabia sobre meu negócio com
Rhys desde que ela sugeriu o aplicativo onde eu conheci Dean.
Zoe Liu era muito mais extrovertida e aventureira do que eu.
Ela me empurrava para fora da minha zona de conforto e tinha
o hábito de fazer isso com a maioria das pessoas.
Zoe cresceu em Boston com sua mãe, Anna Liu. Anna havia
emigrado de Shenzhen, Guangdong, China, quando tinha
dezoito anos, em busca do sonho americano. Em vez disso, a
vida de Anna aqui só levou à maternidade, à pobreza tão
extrema que ela e Zoe ficaram desabrigadas por um tempo e,
finalmente, a um câncer terminal quando Zoe tinha dezesseis
anos. Era uma longa história, mas foi quando o rico pai
britânico de Zoe voltou à cena. Ela não tinha nenhum
relacionamento com ele, mas concedeu um fundo fiduciário
que permitiu que ela frequentasse a Universidade de Boston.
Zoe agora era assistente de produção de um programa de
entrevistas diário à tarde.
Zoe pegou parte de seu fundo fiduciário quando estava na
faculdade e criou uma instituição de caridade para os
desabrigados chamada Guerreiros da Rua. Nos conhecemos
quando me ofereci para ajudar a arrecadar dinheiro.
Minha melhor amiga era incrível.
E eu sempre ouvia seus conselhos. Mesmo quando isso me
colocava na posição em que eu estava agora.
— Pare de pensar besteira. — Ela sorriu. — Eu não quis
dizer esse tipo de intimidade. A menos que você queira que seja.
Eu pesquisei sobre ele. Eu não te culparia.
— Pare. — Dispensei o comentário dela. Eu não precisava
saber que Zoe achava Rhys gostoso. — O que você quis dizer?
— Eu quis dizer que vocês precisam praticar para se
sentirem confortáveis um com o outro. Tenham um encontro
falso descontraído e tire o primeiro beijo do caminho. Talvez
até um segundo e terceiro beijo. Quando ele se aproximar e
você dele, vai parecer natural.
Eu fiz uma careta.
— Eu pensei que tinha que ser natural. Ele é um cara
meloso, e deixei que ele me abraçasse. — E foi bom.
Zoe franziu a testa.
— Eu nunca soube que você era avessa a afeto físico, então
já lhe ocorreu que o Pete Esquisito está apenas tentando mexer
com sua cabeça?
— Por que ele faria isso? E era Evan quem estava fofocando,
aparentemente.
— Sim, mas talvez o Pete Esquisito tenha distorcido essas
palavras para se adequar ao que ele queria. Este é o cara que te
assustou sobre sua posição na Horus no começo de tudo. —
Sua expressão se suaviza com simpatia. — Não seria a primeira
vez que alguém se ressente de você por apenas respirar só por
causa de quem sua família é.
Suspirei porque ela estava reiterando minhas próprias
suspeitas sobre Pete. Tanto Zoe quanto eu lidamos com noções
preconcebidas na faculdade de pessoas que nos julgavam
primeiro e pensavam que o dinheiro de nossos pais havia
pavimentado o caminho para nosso sucesso.
— Mas eu conheço você, e isso vai deixar sua mente à
vontade para praticar. Ligue para Rhys. Faça isso agora. Conte
a ele sobre o paintball, fale sobre Pete e marque um encontro.
Você está pagando muito dinheiro a ele, Parker. Ele não vai
dizer não.
— Ele mencionou toda a coisa do beijo. — Eu balancei a
cabeça, aceitando a ideia. O alívio me preencheu quando
percebi que ainda havia esperança. — Ele disse que
precisávamos ficar um pouco mais afetuosos um com o outro
para fazer as pessoas acreditarem.
— Aposto que ele disse — Zoe murmurou.
— Como?
— Nada. — Ela sorriu. — Vá ligar para ele.
Borboletas ganharam vida na minha barriga com a ideia de
entrar em contato com Rhys. Parecia que não tínhamos nos
falado há séculos, e eu estava um pouco perturbada com a onda
de antecipação que sentia enquanto me apressava pela sala de
estar e pelo corredor até a privacidade do meu quarto.
Por justiça, e também por falta de preferência, eu peguei o
menor dos quartos. Ainda estava um pouco vazio e sem vida
porque eu não tive tempo de colocar minha marca nele ainda.
Sentando-se na minha cama, aquelas borboletas ficaram
frenéticas. Com o coração disparado, eu digitei o nome de Rhys
no meu celular antes que pudesse me convencer do contrário.
Era uma noite de quinta-feira, percebi. Talvez ele estivesse
em um encontro.
O pensamento causou uma reviravolta desagradável no meu
estômago.
— Eu estava começando a pensar que estava sendo ignorado
— Rhys atendeu sem preâmbulos.
Um sorriso estúpido curvou meus lábios ao som de sua voz
profunda.
— Parece que não sou muito boa nessas coisas de
relacionamento falso.
— Sim, estou vendo.
Feliz por ouvir diversão em sua voz, continuei:
— Preciso de sua ajuda, Morgan.
— Manda.
Expliquei sobre as fofocas de Pete e Evan.
— Porra, esses caras não têm nada melhor para fazer? — ele
bufou.
Eu pensava da mesma forma.
— Aparentemente não.
— Então, do que você precisa, Sininho?
— Você e eu fomos convidados para um torneio de
paintball no próximo fim de semana. Você está disponível?
— Eu me coloco à disposição.
— Excelente. Mas acho que precisamos praticar antes disso.
— Praticar?
— Ir a um encontro falso juntos. Apenas você e eu
praticando... estarmos juntos. Tentar criar essa ilusão de
intimidade. — Senti minhas bochechas queimando, mas me
forcei a continuar. — Talvez compartilhar um beijo para
praticar.
Houve silêncio do outro lado da linha.
— Rhys? — Ai, meu Deus, ele mudou de ideia? Ele sentiu
como se eu estivesse tentando prostituí-lo? — Ou não! —
apressei-me a dizer. — Com o que quer que você se sinta
confortável.
Uma risada estrondosa na linha criou um formigamento em
meu corpo que eu ignorei desesperadamente.
— Querida, eu te disse essa merda no iate de Fairchild.
Quando você vai começar a me ouvir? Eu sou muito
inteligente.
Eu sorri.
— Você é. E eu deveria ter te escutado. Isso significa que
você está disposto a ter um encontro falso comigo?
— Você está livre amanhã à noite?
Meu sorriso se alargou tanto que quase se tornou doloroso.
— Sim.
— Então eu vou buscá-la às sete.
Rhys

— O que vamos fazer? — Os braços de Parker estavam em volta


da minha cintura, suas coxas finas e fortes apertando as minhas.
Era tão bom que fiquei momentaneamente distraído.
Não me impediu de responder. Eu era bom em ser
multitarefa.
— Querida, se você não sabe isso, não tenho como te ajudar.
Ela riu, fazendo com que uma mecha brilhante de cabelo
esvoaçasse, e então cutucou minhas costelas com um dedo
ossudo.
— Pare com isso. E. Me. Conte.
Cada palavra terminava com uma cutucada. Fadinha
violenta. Eu aprovava.
— Nós vamos para a minha casa.
Sua resposta foi perdida para mim quando o sinal ficou
verde e eu segui pela rua. Ela me apertou com mais força, mas
eu sabia que ela gostava de velocidade. Seus dedos faziam um
tipo de massagem no meu abdômen quando eu acelerava,
como se ela pudesse me estimular a ir mais rápido apenas pelo
toque. Eu sabia que ela não sabia que estava fazendo isso;
Parker era muito contida e cuidadosa quando pensava em suas
ações. E era por isso que os pequenos toques me excitavam
ainda mais. Eram vislumbres de quem ela realmente era,
geralmente enterrada lá no fundo.
Um raio de puro calor lambeu a parte de baixo do meu pau.
Droga. Minha mente continuava pensando em sexo, e eu
precisava parar com essa merda. Especialmente porque eu
estava prestes a “praticar” beijá-la.
Praticar. Eu queria rir do absoluto ridículo disso. Beijar era
a última coisa que eu precisava praticar. Fingir ser um
namorado? Eu não tinha ideia de como fazer isso.
Entrei na área de carga coberta na parte de trás do depósito
da academia e estacionei. O cabelo de Parker, antes preso em
um rabo de cavalo liso e arrumado, agora era uma confusão de
fios esvoaçantes quando ela tirou o capacete. Ela não pareceu
notar, mas ficou boquiaberta olhando em torno do espaço frio
e sujo.
— Estamos na academia?
— Eu moro aqui. — Levantando meu queixo, fiz um gesto
em direção à porta dos fundos e me dirigi para lá.
— Você mora na academia? — Ela me seguiu, ainda
olhando ao redor, os olhos castanhos arregalados e brilhantes.
A mulher parecia ter uma curiosidade infinita sobre tudo.
Como seria ver o mundo através dos olhos dela?
Apertando o botão que fecharia a grande porta do
compartimento, balancei minha cabeça e então a levei para os
elevadores.
— Você deveria ver sua expressão, Sininho. Eu não durmo
no sofá e tomo banho no vestiário. Meu apartamento fica no
último andar.
A cor rosa invadiu suas bochechas quando ela se endireitou
e me deu um olhar repressivo.
— Eu não presumi nada... — Ela parou com um bufo, e seus
lábios se curvaram. — Tudo bem, pode ser que eu tenha
pensado.
— Entendi. — Eu quase não me impedi de estender a mão
e mexer em seu rabo de cavalo. Isso a teria irritado. O que havia
nessa garota que me fazia agir como um adolescente
desajeitado?
O elevador abriu direto para o meu apartamento, e eu
estendi minha mão, fazendo um movimento para ela entrar
primeiro. Ela hesitou por um segundo, aquele rubor rosa
permanecendo, então cuidadosamente deu o primeiro passo e
começou a andar lentamente, absorvendo tudo.
Meu apartamento não era um daqueles lugares reformados
caros que era vendido por milhões. Era algo genuíno, janelas de
grade industrial velhas e frias, tijolos expostos e dutos – não
porque um designer decidiu que essas coisas pareciam legais,
mas porque já estavam lá desde o começo. Realmente não
importava para mim; eu adorava de qualquer maneira.
O lugar guardava tudo o que restava da minha vida passada,
as coisas que eu não podia me permitir vender ou me desfazer.
Parte disso era essencial para viver aqui: o fogão a lenha sueco
que peguei durante a turnê que emitia tanto calor que eu não
precisava me preocupar com correntes de ar e frio no inverno;
o sofá de couro cor de manteiga e duas cadeiras em que eu
relaxava quando não estava trabalhando; o conjunto de sala de
jantar da minha mãe e uma dúzia de outras bugigangas dela que
eu guardei.
O olhar de Parker vagou por tudo. Seus pequenos saltos
clicavam no silêncio ecoante. O apartamento era enorme,
ocupando todo o topo do prédio. Eu isolei um quarto, um
banheiro e um espaço de treino pessoal na metade de trás, mas
o espaço principal ainda nos deixava pequenos.
Ela parou e se virou para mim.
— É perfeito.
Eu não deveria dar a mínima se esta mulher gostava da
minha casa. Eu não deveria me importar se alguém gostava.
Mas algo em mim se acalmou com sua declaração. Então, eu
fiquei irritado de novo.
Grunhindo, fui em direção à cozinha. Carlos e eu levamos a
maior parte do verão para montá-lo, mas fizemos o trabalho.
Armários pretos na parte inferior, prateleiras abertas – que são
muito mais baratas – na parte superior. Passamos duas semanas
xingando como demônios tentando descobrir como colocar
uma bancada de concreto adequada, mas descobrimos
eventualmente. Olhei para o final irregular do balcão e engoli
uma risada. Ok, então optamos pelo bloco de açougueiro de
madeira para a ilha central depois de todo o experimento com
o concreto.
— É um lar, de qualquer maneira. Costumava ter um
condomínio perto do porto. — Uma cobertura elegante com
vistas de quilômetros. — Pareceu mais fácil arrumar o
apartamento e morar aqui quando assumi a academia. — Mais
barato. Era mais barato e eu precisava do dinheiro. —
Economizou tempo de deslocamento, com certeza.
Balbuciando como um tolo, parei na minha geladeira e tirei
as compras que fiz para esta noite. Mas um pensamento me
ocorreu e parei para olhar Parker. Ela me seguiu até a cozinha e
estava parada perto da ilha, seus grandes olhos castanhos em
mim.
Ela havia tirado a jaqueta e colocado nas costas de uma
banqueta. Mesmo assim, ela parecia longe de estar relaxada.
— Você está bem com fettuccine carbonara? — Talvez eu
devesse ter escolhido algo... mais leve. Peixe. Frango. Eu não
tinha ideia do que Parker comia.
— Parece delicioso. Posso ajudar? — Ela se aproximou,
claramente muito consciente de cada movimento que fazia.
Nós dois estávamos. Soltando um suspiro, procurei por um
pé de alface manteiga e legumes.
— Sim, claro. Você pode fazer a salada?
— Eu posso.
Bem, isso estava sendo... horrível. Eu tinha um fluxo de
conversação mais fácil com estranhos em elevadores. Deixe
Parker e eu sozinhos, onde ninguém poderia nos interromper,
e nós estávamos rígidos como paus velhos.
Eu sorri com o ridículo da nossa reação, e Parker notou
imediatamente.
Seu nariz enrugou.
— Estamos agindo como estranhos, não estamos?
— Sim.
— Não vamos enganar ninguém, não é? — A preocupação
nublava seus olhos.
— Falhar? — Eu coloquei uma mão sobre meu coração em
falso horror. — Não sei o significado da palavra.
Ela revirou os olhos e pegou os acompanhamentos de alface
e salada.
— Bom. Pelo menos um de nós não conhece. — Antes que
eu pudesse responder, ela olhou ao redor. — Onde estão suas
facas e tábua de cortar?
Peguei o que ela precisava, liguei o fogão e coloquei uma
panela com água no fogo. Parker já estava cortando os tomates.
— Já que você está segurando a faca — eu disse —, estou
avisando agora – estou prestes a tocar em você.
Ela bufou com diversão irônica, mas manteve-se muito
imóvel.
— Provavelmente é uma boa decisão me avisar.
— Ser esfaqueado não está na minha lista de atividades para
esta noite. — Lentamente, como se estivesse me aproximando
de um gato arisco, eu cheguei perto de Parker, parando bem ao
lado dela, e gentilmente coloquei minha mão em suas costas.
Os músculos finos flanqueando sua coluna ficaram tensos e
estremeceram. Ela olhou para a tábua de cortar.
— Por que é muito... mais quando estamos sozinhos?
A pergunta silenciosa foi direto para o meu pau. Eu tive que
soltar outra respiração lenta.
— Porque parece real.
Eu não queria dizer isso.
Seu sorriso se inclinou quando ela olhou para cima e
encontrou meus olhos.
— É mais fácil atuar quando há olhos observando a
performance.
Ela ainda estava se contorcendo contra a palma da minha
mão, como se estivesse lutando contra o desejo de se afastar. Eu
mantive minha mão nela, deixando-a sentir meu calor, o peso
do meu toque.
— Os atores têm ensaios. Isso é o que estamos fazendo.
Com um aceno rápido e eficiente, ela pegou os abacates.
— Você já fez alguma atuação de verdade?
— Eu? — ri da imagem absurda. — Não. Espere, risque isso.
Há definitivamente um elemento de atuação no boxe.
Interpretar para o público antes de uma luta, porcaria
promocional. A merda que você faz para irritar seu oponente.
— Você quer dizer quando vocês ficam cara a cara e dizem
coisas terríveis um para o outro? — Ela parecia entretida.
— Eu continuo esquecendo que você nunca me viu lutar.
— Meu ego estava bem, mas, mesmo sem tentar, ela foi
surpreendentemente boa em reduzi-lo um pouco. — Sim,
amor, é o que eu quis dizer. Mas — acrescentei —, eu odiava
essa besteira. Costumava me fazer rir quando um cara me
encarava e começava a tagarelar. Cale a boca e lute, cara.
Os cantos de seus olhos se enrugaram.
— É exatamente o que penso sempre que vejo um desses
clipes. — Porque Parker odiava besteiras tanto quanto eu. O
que foi uma revelação. Seu sorriso tornou-se malicioso. —
Além disso, eu vi você lutar. Assisti a um vídeo no YouTube.
Surpresa desceu pelo meu centro.
— Você assistiu, hein?
Seu nariz enrugou quando ela fez uma careta de aparente
vergonha por sua confissão.
— Foi... esclarecedor.
— Esclarecedor? — Eu ri, mas por dentro eu estava
começando a me contorcer tanto quanto Parker. O que diabos
isso significava? Ela tinha broxado com isso? Ou ficou
excitada?
A ponta do dedo dela tocou a borda da minha manga onde
encontrava minha pele. Eu senti o toque nas minhas bolas.
— Você foi feroz, implacável. A maneira como você recebia
aqueles golpes e apenas continuava. — Sua respiração engatou.
— Eu não sei como você fazia isso.
Eu poderia explicar, mas ela estava lá toda doce e aberta para
mim, seus olhos mostrando algo que parecia estranhamente
perto de admiração. Eu não sabia o que fazer com isso.
Realmente não importava porque eu estava ficando ciente de
outras coisas: seu cheiro sensual de rosas, o fato de que
estávamos perto o suficiente para que nossos braços nus se
tocassem.
O toque de sua pele quente contra a minha levantou os
pelinhos ao longo dos meus braços. Eu tinha que quebrar esse
domínio que ela tinha sobre mim. Limpei a garganta e adotei
um tom arrogante.
— Como eu disse, é tudo para criar um show.
Com um largo sorriso falso, eu me abaixei e dei-lhe um beijo
rápido na bochecha.
Ela se encolheu, os lábios entreabertos com um suspiro.
Eu me virei para não ficar tentado a beijá-la novamente.
— Tenho que fazer o jantar.
— Você vai fazer coisas assim a noite toda? — ela perguntou
depois de um minuto.
A noite toda. Jesus, ela colocou as imagens erradas na minha
cabeça.
— O quê? Beijar e tocar em você? — Olhei por cima do
ombro para encontrá-la encostada no balcão, a salada pronta,
seus olhos em mim mais uma vez.
— Sim, isso.
Tão formal. Ela estava vestindo jeans escuros justos e uma
blusa sem mangas abotoada até o pescoço. Além de seus braços
nus, nem um centímetro de pele aparecia. Antes de conhecer
Parker, eu não tinha ideia de como isso poderia ser atraente. Me
distraia, me deu vontade de tirar aquela calça jeans e ver...
Eu limpei minha garganta.
— Não é por esse motivo que estamos fazendo isso? Para
que você possa se acostumar com o meu toque.
Um olhar pensativo passou por suas feições delicadas, e ela
fez um aceno curto e preciso antes de se afastar do balcão.
Determinação irradiava de seu pequeno corpo enquanto ela
avançava, e eu tive a ideia insana de recuar, fugir.
Ridículo.
Eu era trinta centímetros mais alto do que ela. Eu era um ex-
boxeador profissional. Eu não tinha nenhum motivo para me
sentir nervoso, porra.
Mas quando ela colocou a palma da mão na parte inferior
do meu abdômen?
Eu quase gritei.
Ela não se afastou, mas me acariciou levemente. Puta merda,
o que ela estava tentando fazer aqui? Me matar?
— Eu preciso me acostumar a tocar você também.
— Uh-huh.
Toque-me mais embaixo, mulher. Eu farei qualquer coisa
que você pedir.
Limpei a garganta novamente, mas não consegui pensar em
uma palavra para dizer. Tirando o chiado da panceta na
frigideira, o ambiente estava totalmente silencioso. Sua mão
quente pressionou um pouco mais forte em meu abdômen, as
pontas de seus dedos arrastando sobre minha camisa. Santa mãe
de Deus, a leve exploração quase me fez dobrar os joelhos.
Intermináveis olhos castanhos olharam para mim.
— Tudo bem?
Estava quente aqui? Eu suguei uma respiração rápida.
— Sim, claro, amor. Por que não estaria?
Lábios rosados se curvaram em um sorriso malicioso.
— Você está corando.
— Eu não estou corando. Eu não fico corado. — Eu dei a
ela um olhar de advertência. — Eu estou cozinhando. Está
quente aqui.
— Hmm... — Ela não desviou do meu olhar. — Você parece
um pouco quente.
Cacete.
Recomponha-se, Morgan.
Voltei para o fogão e a mão dela escorregou.
— Não quero que a panceta queime. — Ou que meu pau
saia da minha calça jeans. — Pegue aquele prato para mim?
Dar a ela algo para fazer a afastou de mim. Ela obedeceu e eu
comecei a preparar o resto do prato de massa. Ela permaneceu
em silêncio enquanto eu terminava.
— Você quer comer do lado de fora? — Eu balancei a cabeça
em direção ao terraço no lado sul do edifício. Durante os meses
quentes, era minha parte favorita do apartamento. Grande o
suficiente para acomodar um longo sofá em forma de L ao ar
livre e uma mesa para vinte pessoas, enchi as bordas com vasos
de árvores e plantas. Carlos me ajudou a construir um
pergolado que agora estava entrelaçado com glicínias. — Está
uma noite agradável e tenho um lugar que podemos acender
uma fogueira.
Parker deu uma olhada e sorriu.
— Oh, sim, por favor.
Eu realmente tinha que parar de ler coisas sexuais em tudo o
que ela dizia. Não era saudável.

— A primeira vez que pisei no ringue, fui nocauteado.


As sobrancelhas escuras de Parker se ergueram.
— Não!
— Caí de bunda. — Nós jantamos, a conversa ficou mais
fácil depois que superamos nosso constrangimento inicial. Não
conversamos sobre nada profundo, mas trocamos informações
que ajudaram: nossos filmes favoritos, comidas, bebidas
preferidas para cada refeição, comidas que não suportamos –
todas as coisas que precisaríamos saber se estivéssemos
namorando por um período de tempo.
Não houve muitas surpresas, além do fato de que o filme
favorito de Parker era O Poderoso Chefão II. Eu esperava algo
mais leve e com uma mensagem de salve o mundo. Mas ela
adorava o drama, as camadas de significado – palavras dela, não
minhas.
Ela ficou igualmente surpresa ao descobrir que meu favorito
era o primeiro filme da franquia, O Poderoso Chefão. Tínhamos
motivos parecidos, mas gostei do original porque foi onde
pudemos ver Michael sucumbir à Família.
Agora estávamos no sofá ao ar livre, a fogueira estalando e
emitindo calor suficiente para nos manter aquecidos.
Parker apoiou a cabeça na mão e sorriu largamente.
— Então, o grande Rhys Morgan foi nocauteado. Quem fez
isso? O atual campeão?
Deus, ela era fofa.
— Não. Foi um treino. Eu era ousado e queria provar isso.
— Eu ri. — Foi meu pai.
Seus lábios se separaram.
— Seu pai deu um soco em você?
— Ele precisou. Ele era meu treinador. — Uma pontada de
perda queimou meu coração. — Além disso, ele estava me
ensinando uma lição. Da próxima vez, mantenha a guarda alta.
Diante de seu silêncio atordoado, dei de ombros.
— Foi uma boa aula. Nunca mais fui nocauteado.
Os fios brilhantes de seu rabo de cavalo esvoaçavam quando
ela balançou a cabeça.
— Os boxeadores são uma raça à parte.
Ela disse isso com admiração. Eu quase podia imaginar que
ela estava olhando para mim com admiração. Mas isso
provavelmente era uma ilusão da minha parte.
— Sim, nós somos. — Eu não pude deixar de chegar mais
perto. Durante toda a noite, estávamos nos tocando. Nada
sexual. Toques leves, simples. Dedos deslizando sobre as mãos,
carícias fugazes ao longo dos antebraços e a pressão rápida de
uma mão em um ombro.
No começo, tínhamos feito isso como a tarefa exigia,
fazendo um esforço concentrado para lembrar. Mas à medida
que o jantar avançava, tornava-se mais fácil, natural. E
enquanto aqueles toques eram completamente inocentes, nada
mais do que você esperaria que um garoto do ensino médio
fizesse, era sexy como o inferno.
Tocar em Parker sabendo que não iria além disso me deixou
tão excitado que agora eu estava ciente do menor movimento
que ela fazia. A mulher inspirava e eu esperava ouvi-la expirar.
A luz do fogo e o brilho das janelas do sótão pintavam sua
pele em dourado e laranja, destacando a doce curva de sua
bochecha, o pequeno beicinho de seu lábio inferior. Eu gostava
dela assim, toda suave e fácil, olhando para mim como se eu
fosse alguém que ela queria conhecer.
Toquei uma mecha de seu cabelo com a ponta do dedo.
— Me conte uma coisa.
— Hum? — Ela ficou lânguida, com a cabeça apoiada na
mão.
— Você realmente quer contratar um stripper ou é apenas
uma fantasia sexual que você precisa de ajuda para realizar? —
Porque eu tinha que saber sobre o que diabos era aquela
mensagem.
Os olhos de Parker se arregalaram, então ela piscou e riu. Eu
adorava o jeito que ela ria – leve e despreocupada, as bochechas
cheias e os cantos dos olhos profundamente enrugados.
— Esqueci totalmente que mandei uma mensagem sobre
isso para você. — Sua mão pousou suavemente na minha coxa.
Eu duvidava que ela estivesse ciente disso. Mas eu estava. Eu
estava ciente pra caralho. Ela sorriu para mim. — Minha irmã
vai se casar e eu estou encarregada da despedida de solteira.
— O que, claro, precisa de strippers. — O pensamento de
Parker e suas amigas da cidade gritando sobre caras tonificados
e cheios de óleo rebolando só de sunga me fez sorrir. Parte de
mim não conseguia imaginá-la se soltando assim, mas eu queria
ver isso acontecer, embora eu preferisse que fosse comigo
primeiro.
Afastei os pensamentos lascivos de Parker observando eu me
despir com firmeza. Mas eu não conseguia parar de olhar para
ela. Sob as luzes, ela era cheia de sombras, curvas e olhos
brilhantes.
— Sinceramente, minha mãe provavelmente morreria de
vergonha se continuássemos com isso. O que é,
reconhecidamente, um incentivo para minha irmã. — Ela riu
de novo, e o som me atingiu bem no peito.
— Você fica linda quando ri. — As palavras saíram roucas e
rápidas. Eu não deveria ter dito isso. Mas ela parou e me
encarou, seus lábios se abrindo como se eu a tivesse agradado, e
eu não consegui me arrepender do que disse.
Tudo desacelerou e o ar ficou mais espesso. Meu corpo
ficou pesado com a necessidade. Ela era linda pra caramba. Eu
queria tocar aquele sorriso, passar minhas mãos por sua pele
dourada.
Seu olhar deslizou para minha boca e meu abdômen inferior
se apertou. Com uma falha na respiração, ela falou:
— Deveríamos nos beijar agora.
Deus, sim. Me beije. Deixe eu te beijar. Vou aprender cada
doce centímetro da sua boca. Beijar você até que parar seja
doloroso.
As palavras quase saíram da minha boca, quando meu
cérebro nublado por sexo finalmente clareou e aquela parte
pequena, sensata e sã de mim pisou no freio forte e rápido.
Beijá-la? Merda. Porra. Eu não podia beijar essa mulher.
Não quando eu estava tão excitado que cairia sobre ela como
um homem faminto.
Confrontada com o meu silêncio, como se eu fosse um
cervo nos faróis, Parker franziu a testa.
— Isso é... Quero dizer, eu pensei que deveríamos... — Eu
não precisava de uma iluminação mais forte para saber que ela
estava corando.
— Ei. — Estendi a mão para segurar seu rosto, mas parei no
meio do caminho, minha mão pairando ali, tornando tudo
pior. Meus dedos se fecharam em um punho e eu a deixei cair
na minha coxa. — Você está certa. Nós deveríamos. Com
certeza. Nos beijar, quero dizer.
Porra. Eu estava suando de novo.
Ela respirou fundo, preparando-se, e seu olhar tornou-se de
aço.
— Vamos acabar logo com isso.
Não era a declaração mais lisonjeira. O que era bom. Isso era
um trabalho. Um trabalho. Repeti o fato enquanto me
aproximava, envolvendo meu braço em volta de seu ombro
para puxá-la contra mim. Mais tarde, eu estaria rindo pra
caramba de mim mesmo. Eu não era esse cara, enlouquecendo
com a perspectiva de um simples beijo. Um falso, ainda por
cima.
Mas Parker estava certa; estar sozinhos tornava tudo maior.
Parker pressionou a mão contra meu peito – para se
preparar ou me segurar, eu não sabia. Minha mente estava
confusa, girando como se eu tivesse levado um golpe sólido no
queixo.
Deus, ela era pequena. Delicada. Frágil. A parte de trás de
sua cabeça se encaixava perfeitamente na palma da minha mão.
Por um segundo, eu não sabia o que fazer. Um movimento
errado e eu a esmagaria. Eu fui treinado para ser um lutador.
Força brutal era minha arma. Não parecia uma vantagem no
momento. Eu me sentia como um idiota trapalhão.
Parker soltou um suspiro suave enquanto seu olhar
procurava meu rosto. Ela estava claramente esperando que eu
desse o primeiro passo.
Eu posso fazer isso. Eu posso fazer isso. Não é nada de mais.
Um beijo. Já fiz isso muitas vezes. Eu posso manter algo neutro.
Nos movemos ao mesmo tempo, Parker levantando o rosto
para o meu enquanto eu abaixava minha cabeça. Nossos lábios
se encontraram no beijo mais suave que já dei. Senti a maciez de
seus lábios, saboreei um sussurro do vinho branco que ela havia
bebido. A doçura do jeito que ela beijava – tão tímida, mas
curiosa – perfurou meu peito e apertou.
Juro que o chão se inclinou.
Mas ela estava recuando, uma ruga de concentração se
formando entre suas sobrancelhas.
— Pronto — ela disse.
Pronto?
Meus lábios latejavam. Olhei para sua boca e queria mais.
Eu queria voltar para lá. Agora.
Através da minha névoa, eu a ouvi falando com aquela voz
eficiente da pequena Srta. Santinha:
— Mais uma coisa riscada da lista.
Pisquei, tentando me concentrar. Foi difícil; sua boca
prendeu toda a minha atenção.
— Como é?
Seus lábios rosa suaves se franziram.
— Isso foi bom o suficiente, não é?
Uma risada caiu no meu peito. Bom o bastante? Nem
chegou perto. Me sacudi para fora da estúpida névoa de luxúria
que invadiu meu cérebro. Ela olhou para mim, parecendo
bastante satisfeita consigo mesma. Ela realmente deveria estar;
ela quase me destruiu com um breve beijo.
Droga. Eu precisava colocar minha cabeça no jogo. Fazer a
minha parte. Eu precisava sentir sua boca novamente. E como
eu precisava.
— Não.
Seu nariz enrugou quando seus olhos se estreitaram.
— Não? Como assim, não? Nós nos beijamos, não foi?
A maneira como ela continuava fazendo perguntas, eu tive
que sorrir. Era como se ela quisesse que eu discutisse. Eu estava
mais do que disposto a fazer isso.
— Isso não foi um beijo, amor.
A cor quente lambeu suas bochechas.
— Foi sim.
— Foi um selinho. Eu mal senti. — Eu a olhei com falsa
suspeita. — É assim que você beija os caras com quem fica?
Porque, se for... — interrompi, balançando a cabeça
tristemente.
Ela grunhiu.
— Os homens que beijei ficaram perfeitamente satisfeitos.
Eu não tinha dúvidas sobre isso. Mas eu não ia deixar isso
transparecer.
— Só vendo para acreditar, Sininho.
Faíscas iluminaram seus olhos – pode ter sido a luz do fogo.
Não importava, ela estava louca agora.
— Seu presunçoso... — Com outro grunhido, ela estendeu
até mim, puxando minha cabeça para baixo.
Virgem Maria, ela realmente foi com tudo, abrindo minha
boca com o impulso de sua língua gananciosa, seus lábios
beliscando e acariciando. Ela veio como se estivesse faminta por
isso. Um calor incandescente rugiu através de mim como um
incêndio.
Com um gemido, eu me solto, beijando-a como eu quero,
inclinando minha cabeça para chegar mais perto, mais fundo.
Lambi sua boca doce, totalmente perdido por ela. Nossos
lábios se separavam e se encontravam repetidamente, cada vez
um pouco mais desesperados, um pouco mais famintos.
As mãos de Parker deslizaram em meu cabelo, agarrando as
mechas com força suficiente para doer. Eu queria com mais
força. Quando ela se arqueou contra mim, pressionando
aqueles seios firmes em meu peito, eu a levantei e a coloquei em
meu colo.
Ela gemeu, choramingando como se fosse chorar
ativamente se não chegasse mais perto. Ela estava me levando à
loucura com a maneira como chupava minha boca, deslizando
sua língua sobre a minha.
Segurando sua cabeça, deixei que ela tivesse o que queria.
Merda, eu daria qualquer coisa a ela agora. Nosso beijo tornou-
se desleixado, contundente. Parker balançou seus quadris
contra meu pau duro, e eu estava choramingando agora.
— Droga, sim — eu ofeguei contra sua boca. — Me dê tudo.
No segundo em que pronunciei as palavras, ela congelou. E
eu sabia que tinha quebrado o feitiço sob o qual ela havia caído.
Porra. Não, não, não. Não pare. Mas ela já estava cambaleando
para trás, os olhos arregalados em choque e horror.
Abri a boca, tentando pensar em algo para fazê-la ficar, mas
ela saiu do meu colo como se estivesse pegando fogo. Quando
ela se afastou alguns metros de mim, simplesmente me olhava,
ofegando levemente.
Tentei não olhar para seus seios tremendo sob a blusa. A
sensação deles pressionados contra mim foi tão boa. O silêncio
parecia uma condenação. O que dizer? Eu não tinha ideia,
porra. Ela me pegou de surpresa.
Parker provou mais uma vez ser a mais estável.
— Eu sinto muito. — Ela lambeu aqueles lábios inchados.
— Eu... uh... nunca fiz isso antes. Fingir. Foi, uh, tudo bem?
Fingir.
Claro. Isso é o que estávamos fazendo. Ela olhava para mim
com um apelo em seus olhos, e eu sabia que ela precisava de
mim para tudo ficar bem. Ela não queria a realidade; ela
precisava da mentira.
Passei a mão na boca, tentando afastar a sensação dela. Jesus,
minha mão estava tremendo.
— Sim. — Eu limpei minha garganta. — Sim, estamos bem.
Parker relaxou de alívio. E eu dei a ela meu sorriso de merda
padrão, deixando-a saber que estávamos de volta ao roteiro.
Mas na minha cabeça, a verdade soou clara como um sino. Nós
estávamos tudo, menos bem.
Parker

— Ok, todos estão felizes com os times? — Jackson perguntou,


olhando entre os dois grupos que ele criou com um aplicativo
de gerador aleatório em seu telefone.
Eu estava ao lado de Rhys e ignorava o sorriso malicioso que
Pete Esquisito me dava. Estávamos em times opostos, e ele
tinha Jackson no dele. E o Evan fofoqueiro. Pete também foi o
único que levou sua própria arma de paintball.
— É mais poderosa do que as armas que eles fornecem aqui
— ele disse quando Evan perguntou sobre isso, estufando o
peito ao fazê-lo.
— Alguém está supercompensando alguma coisa, hein? —
Rhys piscou para mim, e eu quase engasguei tentando abafar
minha risada.
Agora estávamos prontos para jogar. Dez membros da
equipe e seus parceiros compareceram ao paintball. O terreno
ficava a quarenta minutos de carro a oeste de Boston, e dizer
que foi a viagem de quarenta minutos mais estranha era um
eufemismo. Aluguei um carro elétrico para levar eu e Rhys ao
paintball e aquela gracinha era tão silenciosa que só aumentou
o silêncio entre mim e meu namorado falso.
Então, eu divaguei. Eu divaguei todo o caminho para me
distrair da memória da boca de Rhys, de suas mãos em mim e
da deliciosa sensação de seu corpo forte contra o meu.
O beijo em nosso encontro falso tinha saído do controle.
Um eufemismo.
Meus dedos dos pés se curvaram no tênis só com a mera
memória.
Rhys se ofereceu para me dar uma carona para casa depois
que fingimos que nosso beijo não tinha sido explosivo, quente
e basicamente o melhor beijo da minha vida.
A culpa me invadiu.
Pode ter sido épico para mim, mas tinha que me lembrar de
que provavelmente não era novidade para Rhys. Ele
provavelmente teve um milhão de beijos com efeito físico
semelhante. Foi um beijo sexual.
Eu já tive beijos românticos melhores.
Com certeza.
Lutar para lembrar de um específico me fez sentir como
uma idiota.
Meu único recurso era esquecer a noite no incrível
apartamento de Rhys ou morrer de autoflagelação.
— Vamos fazer isso. — Jackson sorriu para nós, cheio de
energia. Sua noiva, Camille, estava ao seu lado, de alguma
forma ainda glamorosa em seu uniforme do exército. Ela e
Jackson levavam a sério vestir-se apropriadamente. Ambos
usavam uma camiseta cáqui clara sob uma camisa camuflada e
calças combinando, e Camille havia amarrado a camisa com um
nó na cintura.
Com exceção de Pete, que não apenas usava camuflagem,
mas também um protetor de peito, o resto de nós vestia roupas
verdes ou cáqui confortáveis para nos ajudar a nos misturar
com a floresta. Quando Rhys e eu chegamos, vestimos nossas
roupas de paintball para não sujar de tinta os bancos do meu
carro alugado ao voltarmos para casa.
Seguindo o conselho do meu colega Stuart, usei camadas.
Apesar do bom tempo, eu usava calças de ioga por baixo de
calças cargo largas e uma camiseta de manga comprida por
baixo de uma camisa de botão.
Rhys saiu do vestiário com uma camisa Henley de mangas
compridas e calças cargo, os músculos de seus bíceps
flexionando a cada movimento. Entre meus colegas, ele parecia
como o Thor cercado por fãs em uma convenção de
quadrinhos.
Nosso time incluía eu, Rhys, meus colegas Stuart, Michael,
Xander e Ben, além de seus respectivos parceiros, David, Freda,
Laura e o amigo de Ben, Nick, porque sua esposa estava grávida
e não podia jogar. Meus colegas e seus parceiros não poderiam
parecer mais felizes por estarem no time de Rhys.
Era difícil não revirar os olhos.
— Walkie-talkies. — Jackson me entregou uma sacola e
guardou outra para si. — Para se comunicar com seu time. E
sua bandeira. — Ben recebeu a bandeira vermelha brilhante de
nosso chefe; Jackson segurava uma amarela brilhante. — O
primeiro time a capturar a bandeira do outro vence. Nós vamos
nos separar. O time amarelo vai para o leste, o time vermelho
para o oeste. Nós escolhemos um líder de time e onde esconder
a bandeira. — Ele sorriu arrogantemente. — Que vença o
melhor time.
— Sim! — Time amarelo gritou, seguindo com zombarias
alegres que meus companheiros responderam. Rhys e eu
ficamos em silêncio, embora ele sorrisse de forma divertida,
ouvindo o que deve ter soado como uma brincadeira inofensiva
em comparação aos insultos que ele trocou com os oponentes
no ringue.
— Vamos — Rhys instruiu nosso time quando o time
amarelo partiu.
Nós o seguimos e saímos pela floresta para o lado oeste do
complexo. A máscara de paintball e a viseira eram um pouco
desconfortáveis e a arma era um objeto estranho em minhas
mãos.
— Eu voto no Rhys como líder do time — Stuart disse
quando paramos. — Alguma objeção?
Xander ri.
— Nenhuma.
Rhys assumiu o papel como se fosse uma conclusão
precipitada.
— Talkies. — Ele pegou a bolsa de mim e entregou um para
cada um. — Todo mundo sabe como usá-los?
Todos nós assentimos.
Meu namorado falso de repente franziu a testa.
— Estes estão em uma frequência diferente do time
amarelo, certo?
Ele estava tão sério e envolvido nisso.
Não era atraente.
Ok, era levemente atraente.
— Sim, Jackson joga limpo — Ben o assegurou.
Rhys deu um aceno como de um militar.
— Ben, Nick, vocês vão esconder nossa bandeira e tomar a
posição mais próxima para protegê-la.
Sim, tudo bem, ele estava mais do que levemente atraente.
— Vocês transmitem a localização por rádio para Xander e
Laura, que assumirão uma posição secundária como a primeira
linha de defesa. — Ele se virou para Michael, Freda, Stuart e
David. — Vocês são nossas equipes ofensivas. O objetivo é
eliminar o máximo possível do time amarelo, enquanto tentam
encontrar aquela bandeira. Parker e eu somos a terceira equipe
ofensiva. Tomaremos o leste, meio e oeste, respectivamente, do
perímetro leste. Se vocês encontrarem a bandeira, mandem um
aviso pelo rádio para as outras duas equipes ajudarem. Parece
bom?
Eu estava aquecida nas minhas camadas de roupas antes,
mas agora eu estava quente.
Como uma mulher organizada e responsável, eu realmente
admirava essa qualidade em um homem.
— Isso vai doer? — Freda franziu a testa, mordendo o lábio
inferior. Ansiedade genuína brilhava em seus olhos, e me
perguntei por que ela concordou em vir se estava com medo de
jogar.
Eu estava participando porque não tinha escolha.
Rhys estudou Freda e então se virou para Laura e Xander.
— Como vocês se sentiriam sendo ofensivo em vez de
defensivo?
— Eu topo. — Laura deu de ombros com um sorriso
arrogante. Ela era alta, com uma figura atlética e uma energia
natural que teria me dito que ela gostava de atividades ao ar livre
se Xander já não gostasse. Seu namorado concordou com a
cabeça.
— Michael e Freda, vocês serão a primeira linha de defesa.
Tudo bem?
Eles assentiram, mas Freda ainda parecia preocupada.
Michael jogou o braço em volta do ombro dela e a abraçou.
— Nós vamos conseguir, linda.
Ela sorriu agradecida e pareceu relaxar.
— Ben, Nick, escondam essa bandeira — Rhys ordenou.
Os caras dispararam e logo eu estava correndo ao lado de
Rhys em alerta máximo.
— Eu tinha que acabar com você no lado ofensivo, Morgan
— eu sussurrei.
Ele me lançou um olhar por cima do ombro.
— Eu posso colocar você e Freda na defesa, se você estiver
com medo, Sininho.
— Eu não estou com medo. — Meus olhos pareciam
enormes por trás da minha viseira enquanto eu procurava pela
floresta. — Mas por curiosidade intelectual... isso dói?
— É como uma ferroada. — Rhys sorriu para mim. — Não
se preocupe, Sininho, eu te protejo.
Foi quando percebi que não estava preocupada. Eu, cem
por cento, acreditava que Rhys poderia chutar o traseiro de
todo mundo e cobrir o meu ao mesmo tempo. Uma imagem
sórdida encheu minha mente de repente e senti minhas
bochechas esquentarem. Querido Deus, nunca deveríamos ter
nos beijado em seu apartamento.
— Eu daria um milhão de dólares para saber o que está por
trás desse rubor, amor.
Fazendo cara feia para seu sorriso arrogante, fiz um gesto
com minha arma de paintball.
— Concentre-se apenas em nos levar à vitória, Morgan, e se
você acabar com toda a sua tinta no Pete Esquisito, não vou
ficar chateada.
Ele balançou a cabeça, diversão curvando os cantos de sua
boca.
— Lembre-me de nunca te irritar.
Corremos de árvore em árvore por muito tempo antes de
Rhys parar. Ele ergueu o punho como fazem no exército. Uma
vibração de excitação encheu minha barriga quando ele se
agachou atrás de um grande tronco e fez sinal para que eu me
escondesse atrás dele.
— Clareira à frente com um bunker — ele sussurrou. — O
lugar mais óbvio para esconder a bandeira porque dá para
protegê-la.
— Jackson não seria tão óbvio.
Rhys assentiu.
— Ainda assim, melhor sermos cautelosos. É um bom lugar
para brincar de atirador.
Nossos walkie-talkies estalaram e a voz cheia de estática de
Ben nos informou onde ele havia escondido a bandeira. Nós
nos embaralhamos para desligá-los, e eu dei a Rhys um olhar
sardônico.
— Encontrei uma desvantagem nos walkie-talkies.
Sorrindo, ele olhou ao redor da árvore, a linha de seus
ombros tensa. Era ridículo o quão quente sua competitividade
estava me deixando. Eu nunca pensei em mim como
competitiva, mas eu realmente queria tirar aquele sorriso
presunçoso do rosto do Pete Esquisito vencendo com Rhys.
Depois de alguns segundos, Rhys olhou por cima do ombro
para mim.
— Existem dois montes feitos por uma pessoa usar como
barreira contra a possível atividade de atiradores do bunker,
mas eles estão em lados opostos da clareira. Faz mais sentido se
cada um de nós ficar com uma barreira, mas se você quiser ficar
comigo, podemos fazer isso.
Eu endireitei os ombros.
— Sou perfeitamente capaz de combater sozinha.
Seus lábios se contraíram.
— Você consegue, Sininho. Eu vou para o oeste. — Ele
gesticulou com dois dedos. — Você vai para o leste. Em três...
Embora minha mente racional soubesse que era um jogo,
meu coração batia forte quando saí de trás da árvore e me
separei de Rhys. Segundos antes de chegar à barreira, um estalo
encheu meus ouvidos e tinta amarela respingou no chão perto
dos meus pés. Com a adrenalina aumentando, me lancei atrás
da barreira e olhei para Rhys através da clareira. Ele estava
agachado como eu atrás do monte do seu lado da clareira.
— Ligue o walkie-talkie! — ele gritou.
Eu me atrapalhei para fazê-lo, ouvindo respingos de tinta
contra a barreira perto da minha cabeça. O ângulo do tiro
sugeria que nossos atacantes não estavam no bunker. Deitando
de barriga no chão, liguei o walkie.
— Rhys, eles não estão no bunker. Câmbio.
— Eu sei. Não vi a casa na árvore atrás do bunker. Filhos da
puta, sorrateiros. Câmbio.
Tentando não rir de como ele estava levando isso a sério,
perguntei:
— E agora?
— Você corre em direção ao bunker enquanto eu te dou
cobertura. Corra para a esquerda, mas não entre. A parede
externa funcionará como um escudo e precisarei que você atire
daquela posição do flanco esquerdo para abrir caminho para eu
chegar ao bunker. Câmbio.
Apesar da minha apreensão, senti uma emoção passar por
mim por ele confiar em mim para fazer isso.
— Entendido. Câmbio.
— Quando eu começar a atirar, você corre. Câmbio.
— Sim, senhor. Câmbio.
— Estou tentando me concentrar aqui, Sininho. Não
transforme isso em algo sexy. Câmbio.
Nossos olhos se encontraram através da clareira e, com sua
piscadela, eu mostrei o dedo do meio para ele, o que só o fez rir.
Quando ele enfiou o walkie-talkie no bolso, fiz o mesmo e
espiei timidamente pela barreira para visualizar minha rota à
esquerda do bunker. Percebendo que seria mais fácil sair do
lado oposto da barreira, eu me arrastei para trás e soltei um
gritinho quando a tinta amarela espirrou perto da minha mão.
Voltando para trás da barreira, agachei-me perto da
extremidade oposta e olhei para Rhys. Eu conseguia apenas vê-
lo e nada mais.
— Agora! — ele gritou, e eu levantei minha cabeça para ver
as bolas de tinta vermelha voarem pelo ar em direção à casa da
árvore atrás do bunker. Estava bem camuflada. A tinta
vermelha respingou nas paredes e houve um movimento súbito
quando as armas desapareceram atrás das janelas.
Eu estava livre para ir.
Erguendo-me com as pernas estranhamente trêmulas,
atravessei a clareira em direção ao bunker enquanto Rhys
atirava mais algumas bolas de tinta para manter nossos
atacantes abatidos.
Assim que me escondi atrás da parede externa do bunker, ele
parou.
Espiei por entre as árvores e vi um lampejo de movimento
enquanto o time amarelo se preparava para atacar novamente.
Sem dar chance a eles, apontei minha arma e atirei.
Para minha alegria, a tinta vermelha respingou perto da
janela.
Isso! Minha mira não era muito ruim.
Xingamentos abafados encheram o ar, e eu ri com prazer
diabólico, tendo muito mais prazer em atirar bola após bola
neles do que jamais pensei que teria. Um toque em meu ombro
me assustou, e eu girei contra a parede do bunker para
encontrar Rhys agachado ao meu lado, sorrindo.
— Você pode parar agora, Carlos Hathcock.
— Me comparar com, indiscutivelmente, o maior atirador
da história é um elogio, Morgan.
Uma sobrancelha se ergueu atrás da sua viseira.
— Você entendeu a referência?
Meu sorriso de resposta foi reconhecidamente um pouco
arrogante.
— Eu tenho um catálogo completo de conhecimento nesta
velha cabecinha... — Rhys me cortou com um dedo contra
meus lábios, e eu fiquei tensa com uma consciência renovada
dele. Ele cheirava a terra e algo picante, seus olhos verdes
hipnotizantes por trás da viseira.
Na verdade, eu estava tão ciente dele que demorei um
segundo para perceber que ele havia me calado por um motivo.
— Eles estão descendo da casa da árvore. Bunker. — Ele
agarrou meu braço e me guiou em direção à pequena abertura.
Dentro do bunker estava quase totalmente escuro, exceto por
poças de luz que entravam por uma janela de cada lado da
porta.
— Tome uma posição.
Segui sua ordem e seus movimentos, indo para a janela mais
distante e espelhando como ele se posicionou com a arma em
punho no canto. Isso significava que ele estava fora de vista,
mas ele tinha um tiro certeiro.
Sentindo a onda de outro pico de adrenalina, meu coração
disparou.
Uma bota apareceu ao redor do bunker, depois uma perna,
depois um torso...
Atirei, a tinta vermelha atingindo Evan por todo seu peito.
— Porra!
Eu sorri maliciosamente. Isso serviria bem por ele falar sobre
minha vida privada para Pete Esquisito. Carma era uma cadela.
Evan se virou e arrancou sua máscara. Ele levantou as mãos
em desespero.
— Eu estou fora.
— Bem, não denuncie minha posição, seu idiota — uma voz
feminina, presumivelmente pertencente a sua esposa
Annabelle, estalou de algum lugar atrás do lado do bunker.
— Essa é uma boa maneira de falar com seu marido.
— Eu disse que deveríamos ter ficado na casa da árvore!
Tão absorta em sua discussão divertida, eu nem notei Rhys
se movendo, muito menos saindo do bunker, até que ele
apareceu de repente ao lado de Evan e disparou sua arma na
direção da voz de Annabelle.
— Jesus! — Annabelle gritou. — Isso dói.
— Agora vocês dois estão fora — disse Rhys, rindo. — Com
vontade de me dizer onde está aquela bandeira?
Evan fez uma careta.
— Só porque estamos fora não significa que não queremos
que nosso time vença.
— Urgh, eu não poderia me importar menos. — Annabelle
apareceu à vista, sem a máscara. — Vou voltar para o clube para
tomar uma cerveja.
Ela mal saiu de vista quando Evan gritou:
— Porra!
Girando minha cabeça para trás para ele e Rhys, observei
Evan agarrar seu joelho.
— Isso é contra as regras. — Evan cerrou os dentes, o rosto
vermelho. — Que diabos foi isso?
Percebendo que Rhys havia atirado nele novamente, eu me
levantei, prestes a chamar sua atenção, quando sua resposta
irritada me parou.
— Isso foi por fofocar como um babaca para o filho da puta
do financeiro sobre eu e minha mulher.
O choque me prendeu no lugar, e embora eu soubesse que
deveria estar irritada com seu jeito machão e o tiro ilegal, não
pude deixar de sentir uma emoção passar por mim. Exceto por
Zoe, eu não conseguia me lembrar da última vez que alguém
me defendeu.
Se possível, meu colega ficou com um tom de vermelho
ainda mais escuro.
— Ok, vou deixar esse tiro passar porque você está certo.
Pete não deveria ter abordado Parker na frente de todos. Ele nos
envergonhou e tirou o que eu disse do contexto. Eu sinto
muito.
— Desculpas aceitas.
Eles compartilharam um aceno cauteloso, e Evan seguiu sua
esposa. Eu me senti péssima por Rhys ter envergonhado meu
colega, mas um lado mais sombrio de mim gostou da versão de
justiça do meu falso namorado.
Saindo do bunker, descobri que não sabia o que dizer
quando nossos olhos se encontraram.
A verdade é que não tive tempo de dizer nada porque uma
bola de tinta amarela passou voando pela minha orelha.
Rhys mergulhou e me jogou no chão, cobrindo-me
enquanto girava e atirava.
— De volta para o bunker! — ele gritou.
Ignorando a dor na minha bunda, eu me arrastei para fora
dele e me lancei para a porta. Quando não o ouvi atrás de mim,
virei-me e olhei para a clareira.
Rhys corria pelo campo, disparando sua arma, escapando de
tiros apontados para ele da floresta perto da casa da árvore. Ele
saltou sobre as barreiras como se seu corpo fosse feito de ar e
estabeleceu sua posição ali.
Arrastando-me para a janela do bunker, posicionei-me
como antes e vi Pete Esquisito e seu amigo Alan espreitando
atrás de duas árvores.
Meu walkie-talkie estalou.
— Eles podem ser uma segunda equipe de defesa. A
bandeira pode estar na porra da casa da árvore. Câmbio.
Antes que eu pudesse responder, a voz de Xander estalou na
linha.
— Qual é a sua posição? Câmbio?
— Cerca de cinco minutos de onde começamos, no extremo
noroeste do perímetro do time amarelo. Estamos em uma
clareira com um bunker e uma casa na árvore. Eliminamos dois
amarelos, mas há mais dois em nosso flanco esquerdo. Venham
por trás deles. Elimine-os. Câmbio.
— Também eliminamos uma equipe. Estamos a caminho
— disse Xander. — Câmbio.
Ainda devem restar três pares de times amarelos. Estávamos
enfrentando um, o que significava que os outros dois
provavelmente estavam em nosso território procurando nossa
bandeira.
— Nossos caras descobriram onde vocês estão escondendo
sua bandeira! — Pete gritou atrás de uma árvore a cerca de
cinquenta metros da posição de Rhys. — Vocês podem desistir.
Meu walkie estalou.
— Aquele é o Pete? Câmbio.
Curvando meu lábio em aborrecimento, eu levantei meu
walkie. Eu expliquei a Rhys antes do beijo em nosso encontro
falso que pensei que talvez Pete tivesse algo contra mim por
causa do meu passado. Rhys achou que Pete soava como um...
bem, ele se referiu a ele como um filho da puta. Ele não estava
errado.
— Aquele é o Pete Esquisito. Câmbio.
Nenhuma resposta veio. Em vez disso, Rhys de repente saiu
de trás da barreira e disparou em direção à posição de Pete como
um velocista olímpico, rugindo um grito profundo e
aterrorizante.
Houve um barulho e xingamentos vindos das árvores, mas a
tática de Rhys para assustar Pete e seu amigo Alan funcionou.
Eu coloquei minha cabeça para fora da janela para ver melhor
e avistei Pete, agora por trás das árvores, boquiaberto para Rhys
em estado de choque, enquanto Alan se atrapalhava com sua
arma. Rhys derrapou até parar, ergueu a arma e atirou
continuamente até Pete e Alan ficarem cobertos de tinta
vermelha.
Pete parecia em estado de choque enquanto Alan
praguejava de dor.
Eu ri tanto que as lágrimas vazaram dos meus olhos.
Rhys levantou sua arma e caminhou casualmente até Pete.
Ele o golpeou com força contra a parte superior do braço,
fazendo com que Pete Esquisito estremecesse.
— Sem ressentimentos, hein?
Meu colega assentiu lentamente.
— Uh... Claro.
Puxei minha arma para trás e corri para fora do bunker no
momento em que Rhys caminhava em minha direção. Ele
sorriu e apontou para a casa da árvore.
— Suba, veja se a bandeira está lá.
Uma pequena parte de mim esperava que a bandeira não
estivesse lá para que eu pudesse assistir Rhys ir atrás do resto do
time amarelo. No entanto, se a bandeira estivesse lá, eu poderia
me consolar sabendo que ele deu uma lição nos dois caras do
meu escritório que me chatearam naquela semana de uma
forma que não afetaria meu relacionamento com eles no
escritório.
Afinal, tudo fazia parte de um exercício de formação de
equipe.
A vertigem tomou conta de mim enquanto subia a escada e
passava pelo buraco no chão. Com certeza, no canto estava a
bandeira do time amarelo.
Eu rastejei para dentro da casa da árvore, agarrei-a e corri de
volta para baixo. Rhys estava me esperando lá embaixo,
sorrindo para mim. Eu pulei do terceiro degrau com um grito
de alegria infantil e ele me pegou com uma gargalhada. Eu
levantei a bandeira em vitória.
— Nós ganhamos!
Nossos olhos se encontraram e, de repente, o ar saiu de meus
pulmões quando a vontade de beijá-lo tornou-se quase
impossível de conter.
— Uh, parece que não somos necessários. — A voz divertida
de Laura nos fez afastar nossas cabeças.
Rhys lentamente me abaixou no chão, e eu evitei seu olhar.
Com um sorriso menos genuíno do que eu dei a ele, virei-me
para Xander, Laura, Stuart e David com a bandeira.
— Rhys chutou os traseiros deles.
Stuart sorriu para o meu namorado falso.
— Isso é uma surpresa.
Rhys deu de ombros enquanto eu tentava dizer a mim
mesma que não achava Rhys jogando paintball sexy como o
inferno.
Parada na clareira onde nosso exercício de paintball havia
começado, sorri ao ver meus colegas cobertos de tinta. As
únicas equipes que permaneceram ilesas foram Rhys e eu,
Jackson e Camille, Xander e Laura, Stuart e David e Ben e
Nick.
Todos os outros foram acertados.
Jackson sorriu para o time vermelho.
— Bom trabalho.
— Tivemos um ótimo líder de time. — Xander deu um
tapinha no ombro de Rhys.
— Sim — Jackson riu —, estamos todos surpresos que o ex-
boxeador profissional tenha acabado com a gente.
Rhys deu de ombros, um leve sorriso curvando seus lábios.
Meus olhos se concentraram em sua boca, enquanto a voz de
Jackson ficava abafada.
— Estamos todos prontos?
— Huh? — Eu perguntei, arrastando meu olhar e
pensamentos de Rhys.
Jackson me deu um olhar compreensivo.
— Eu disse, agora que o exercício de equipe acabou, vamos
apenas jogar.
Meu coração caiu.
— Algo como... sem regras. Apenas...
— Jogar até ficarmos exaustos? Basicamente. Reservamos o
terreno ao ar livre por três horas, e Rhys levou o time vermelho
à vitória em trinta minutos. Podemos muito bem aproveitar o
que pagamos. — Jackson levantou sua arma. — Vocês todos
têm dez segundos para tirar suas calças cáqui feias e ruins daqui
antes que eu cubra suas calças cargo com tinta.
O riso encheu a floresta com sua referência a Esqueceram de
Mim enquanto partíamos em direção à cobertura das árvores.
Desta vez, sabendo que Rhys era o inimigo, fui sozinha.
A dor explodiu em meu ombro e eu gritei, percebendo que
havia sido atingida. Girando, vi Pete mirando em mim com sua
estúpida arma poderosa, um olhar calculado em seus olhos.
Quando ele estava prestes a atirar novamente, tinta vermelha
respingou em sua viseira.
Em seguida, estava sobre ele completamente.
Olhando ao redor, encontrei Rhys, parado atrás de uma
árvore, arma apontada para Pete. Sua cabeça virou para mim e
ele piscou.
Eu sorrio. Grata.
Então, eu atiro nele.
Rhys olhou para o peito em choque aparente, e eu joguei
minha cabeça para trás de tanto rir. Minha risada morreu
quando ele levantou a cabeça, os olhos estreitados em
determinação.
Ai, meu Deus, o que eu fiz?
Com um grito de apreensão, girei e corri por entre as
árvores. Eu meio que esperava sentir a ferroada dos tiros nas
minhas costas, mas em vez disso ouvi passos correndo.
Ai, droga!
Um braço forte me pegou pela cintura, um peso pesado me
impulsionando em direção à árvore mais próxima. No último
segundo, me vi sendo virada e puxada para os braços de Rhys
quando colidimos com o tronco. Ele não perdeu tempo me
empurrando contra a árvore enquanto arrancava sua máscara.
Calor determinado enchia seus lindos olhos verdes quando ele
agarrou a parte inferior da minha máscara e gentilmente a tirou.
— O que...
Minhas palavras se perderam em seu beijo.
Um beijo profundo, minucioso e penetrante que fez meus
dedos dos pés se enrolarem nos tênis e minhas unhas cravarem
em seus ombros. Seu corpo pressionou profundamente no
meu, e eu instintivamente abri minhas pernas para acomodá-
lo. Tudo desapareceu no calor de seu beijo. Observá-lo vencer
– não, Rhys acabou com eles – e me defender foi uma
preliminar inesperada.
Não era um beijo tipicamente romântico. Na verdade, foi
muito parecido com o nosso beijo em seu apartamento –
molhado, faminto, ofegante, necessário, apaixonado, sexy. E eu
nunca quis que parasse.
O grunhido de Rhys retumbou deliciosamente na minha
garganta segundos antes de ele quebrar o beijo com uma careta.
— Porra.
Quando ele olhou por cima do ombro, demorei um
segundo para sair da minha névoa luxuriosa e inchada para
perceber que Jackson, Camille, Laura e Xander nos cercavam.
Eles sorriram, e eu corei como uma beterraba.
— Isto é muito fácil — Jackson bufou, recuando para
levantar sua arma.
Ele, como os outros, estava coberto de tinta.
Rhys recuou.
Convencida de que estava vermelha da ponta dos pés ao
topo da cabeça, evitei o olhar de todos enquanto Rhys se virava
para os outros. Foi quando vi quatro respingos de tinta em suas
costas. Ele tinha levado tiros enquanto estávamos nos beijando,
e eu nem tinha notado.
Meu Deus.
— Você foi atingido. — Eu disse o óbvio em toda a minha
confusão.
Rhys olhou por cima do ombro para mim, os olhos cheios
de riso.
— Valeu a pena, amor.
— Sim, obrigado pelo show — Xander brincou.
Levantei minha arma em advertência e ele riu, mirando em
mim.
Para a surpresa de todos, Rhys parou na minha frente, com
as mãos levantadas em sinal de rendição.
— Que tal deixarmos Parker sair daqui ilesa, hein?
— Tudo bem. — Eu me movi ao redor dele, embora eu
realmente não quisesse levar um tiro de novo. Doeu mais que
uma ferroada. — Eu aguento.
Em resposta, Rhys puxou para baixo o decote da minha
camisa para desnudar meu ombro. Seu polegar varreu a pele.
— Você já está com um hematoma feio onde Pete te
acertou.
Por mais adorável que fosse sua preocupação (e ele parecia
genuinamente preocupado com meu hematoma), cobri sua
mão com a minha e guiei minha camisa de volta para cobrir a
pele.
— Todos os outros foram atingidos.
Rhys franziu a testa.
— Todo mundo não tem um metro e meio e pesa quarenta
quilos.
— Uh, um metro e cinquenta e sete, e cinquenta quilos,
muito obrigada. Além disso, posso cuidar de mim mesma.
— Tudo bem. Deixe-os mirar.
Eu balancei a cabeça, minha feminista interior satisfeita.
No entanto, Rhys cruzou os braços sobre o peito e olhou
para meus colegas.
— Claro que, se fosse eu, não iria querer arriscar minha
mortalidade machucando a namorada de um ex-campeão de
peso pesado. Mas sou só eu.
Gemendo, observei enquanto os outros trocavam olhares
conhecedores, e então meu chefe encerrou o jogo.
Rhys olhou para mim, seu olhar descendo pelo meu corpo
e subindo novamente. Seus olhos permaneceram na minha
boca por um segundo a mais.
— Por quê? — Eu soltei, referindo-me ao segundo beijo
explosivo que ele me deu.
Ele encolheu os ombros.
— Ninguém vai questionar nosso relacionamento agora,
Sininho.
A decepção me encheu quando percebi que o beijo não
tinha sido uma resposta espontânea a eu atirar nele, mas um
movimento calculado. Uma jogada estratégica.
Rhys queria merecer aquele dinheiro que eu estava pagando
a ele, lembrei a mim mesma.
Ali mesmo, decido pelo meu bem-estar, nunca mais deixar a
boca de Rhys Morgan chegar perto da minha.
Deixo o campo apenas com os respingos de tinta amarela de
Pete em meu ombro e um monte de indignação reprimida e
frustração sexual passando pelo meu corpo.
Rhys

Meu punho bateu no saco de pancadas. Soco. Soco. Cruzado.


Soco. Gancho. Cruzado. Soco.
A calma se estabelecia nos meus ossos mesmo quando
sentiam cada impacto. Bater em algo não doía exatamente. Não
mais. Mas eu definitivamente sentia. Treinar com o saco atraia
minha consciência interna. Esclarecia as coisas.
Eu precisava de clareza. Porque eu corria um perigo real de
perder o controle perto de Parker. Muito perturbador. O
controle não era algo que eu perdia. Nunca. Passei minha vida
aprimorando-o.
Eu tinha um excelente controle.
Deus, ela tinha um gosto doce. Parecia cada vez melhor. Sua
boca deveria ser listada como um tesouro nacional.
Incrivelmente perfeita. E quando ela envolveu aquelas coxas
em volta da minha cintura...
Minha luva resvalou na borda do saco de pancadas. O saco
voltou para mim, batendo nas minhas costelas.
— Merda. — Com nojo de mim mesmo, arranquei as luvas
e as joguei de lado.
— Perdendo o jeito? — Dean descansava no outro lado da
sala de treino.
Agarrando minha garrafa de água, tomei um longo gole
antes de responder.
— Entre no ringue comigo por alguns rounds e descubra.
— Eu sou espertinho — ele disse, entrando na sala. — Não
um idiota.
Isso me fez rir. Larguei a garrafa e peguei uma toalha para
enxugar o suor do rosto.
— E aí, irmãozinho? Já está entediado?
— Claro que estou. — Ele encolheu os ombros. — Você
não está? Ou você gosta de frequentar academias vazias nas
sextas-feiras à noite?
Dean pode não ter sido capaz de lutar boxe em nível
profissional, mas era um especialista em golpes verbais.
Mantive meus olhos na fita que comecei a desenrolar dos
dedos, não querendo olhar para a academia abandonada que
deveria estar cheia de membros nesta noite chuvosa. O fato é
que, muitas vezes eu fechava cedo, porque a maioria dos nossos
membros usava a academia durante o dia.
Fracasso não me caia bem, e este lugar fedia a isso. Às vezes,
imaginava que eu também fedia a fracasso, que me perseguia
como uma fumaça, afastando todo mundo.
Bufando, joguei a fita no lixo e flexionei meus dedos. A
autopiedade também não era para mim, e eu Deus me livre de
caísse nessa armadilha.
— Não, eu não gosto disso — eu disse a Dean com
sinceridade. — Mas estou preso aqui. Você, por outro lado, não
está.
Ele abandonou os ternos e agora estava vestindo jeans e uma
camiseta. Obrigado, porra. A visão de Dean em um terno
enquanto estava por aqui me irritava para caralho; ele deveria
estar em um escritório em algum lugar mudando o mundo com
aquele grande cérebro dele. Ele deveria estar com alguém como
Parker, criando algoritmos ou tendo conversas aprofundadas
sobre a teoria do caos.
Como teria sido se Dean tivesse se encontrado com Parker
como ela esperava? Ela teria continuado com a coisa toda de
“apenas negócios”? Ela não gostou de mim à primeira vista. Já
com Dean, ela o recrutou.
Um gosto amargo encheu minha boca e fui até a máquina
de venda automática. Uma bebida esportiva caiu na fenda
aberta no silêncio, e eu sabia que Dean estava me observando,
pensando Deus sabe o quê.
— Por que você mantém este lugar? — ele finalmente
perguntou.
Foi o tom sério, não mais irritado ou tentando me irritar,
que me fez responder com outra verdade.
— É tudo o que tenho.
Doeu dizer. Doía admitir para mim mesmo. Mas eu estava
acostumado com a dor. Eu me virei e o encontrei olhando para
mim com olhos tristes.
— Você tinha tudo. — Uma carranca abriu caminho sobre
sua testa. — Merda, eu estava tão orgulhoso de você. Meu
irmão mais velho, Rhys, arrasando e conquistando vitórias.
Jesus, esse garoto. Ele nunca precisou usar os punhos para
derrubar alguém. Ele só precisava abrir a boca.
— Dean... — Era um apelo, mas ele não pareceu ouvir.
— E para quê? Este lixão?
Meus dentes de trás rangeram juntos.
— Este lixão era o sonho do nosso pai. O sonho da nossa
mãe. Foi responsável por colocar comida na nossa mesa e me
treinar para ser o lutador que você diz que tanto admirou.
Dean assentiu, claramente imperturbável.
— Sim, foi. Mas agora? Rhys, está desmoronando ao seu
redor. Já vi o suficiente da contabilidade para saber que está tão
fundo no buraco que apenas um milagre pode salvá-lo.
Parker era esse milagre. Ou a fada fofa que me deixaria um
passo mais perto disso.
Dean levantou a mão em irritação.
— Então, não me diga que este lugar te faz feliz.
— Não faz — eu retruquei, incapaz de me conter. — Tudo
bem? Não me faz feliz. Agora não. Mas poderia, Dean. — Olhei
ao redor, imaginando como se estivesse em seu auge.
Imaginando melhor do que era. — É algo que vale a pena salvar.
Ele ficou em silêncio e estudou a sala com um olhar
julgador, vendo todas as suas falhas. Eu não sabia se ele se
importava em se lembrar dos velhos tempos, ou se ele via uma
versão diferente da minha. Provavelmente sim. Este lugar tinha
sido a minha segunda casa. Me deu uma sensação de mim que
nada jamais deu. Eu me tornei um lutador aqui. Era parte de
mim. E se não valesse nada, o que eu era?
Dean encontrou meu olhar novamente e o dele ainda estava
preocupado.
— Se você estivesse lutando, traria dinheiro suficiente para
consertar tudo isso. Num piscar de olhos.
— Dean...
— Não fale “Dean” desse jeito. Jesus, você parece a mamãe
quando faz isso.
— Eu pareço a mamãe? De alguma forma, eu duvido disso.
— Bem — ele disse com um leve sorriso —, sua voz está
muito mais baixa e você é feio, mas você tem o mesmo tom
repressivo de falar “Você está ficando fora de controle e eu
preciso colocá-lo de castigo”.
Eu ri de novo, embora meu peito estivesse apertado e
pesado.
Dean balançou a cabeça em desapontamento.
— Eu simplesmente não entendo. Você disse que tirou uma
folga para cuidar de mim. Como se eu não pudesse fazer isso
aos vinte e dois anos.
— Você podia? — Eu contra-ataquei, secamente. —
Porque, pelo que me lembro, você era um maldito desastre, a
caminho de se tornar um bêbado fracassado.
Aborrecimento brilhou em seus olhos, e ele respirou fundo.
— Certo, tudo bem. Foi... legal da sua parte fazer isso.
Eu bufei.
— Grande elogio.
— Mas eu terminei a faculdade e não fico mais bêbado. Essa
merda não vai continuar. Você não pode pairar sobre a minha
vida. A menos que você pretenda se tornar um daqueles pais
pseudo-helicópteros assustadores? O que, devo dizer, você já
está quase chegando lá.
— O caralho que eu sou — eu murmurei. Merda. Eu estava
pairando. Como um pai inquieto.
Ele ignorou isso, felizmente.
— Então, por que não voltar a lutar? Você é bom demais
para isso. — Ele abriu os braços para abranger a academia. —
Você é bom demais para andar pela cidade como um namorado
falso...
— Você queria ser o namorado falso dela. — O pensamento
de Dean com Parker deixava minha pele em carne viva. —
Então está dizendo que tudo bem se fosse você, mas não eu?
— Sim — ele rebateu. — Era. Eu sou o que fode tudo. Eu
não tenho um emprego. Você... — Ele apontou um dedo na
minha direção. — Era um boxeador de classe mundial, um
campeão do caralho. Se eu tivesse esse talento, não estaria
desperdiçando minha vida nesta porcaria de academia.
— Não chame esse lugar de porcaria.
— Não prevarique.
— Usando palavras difíceis com o irmão estúpido?
— Não finja ser estúpido. Você é mais inteligente do que
parece!
Estávamos cara a cara agora, gritando um com o outro cada
vez mais alto.
Dean deu mais um passo para mais perto, me olhando tão
bem quanto qualquer velho oponente teria feito.
— E não tente mudar de assunto, porra. Você vive dizendo
que a morte do pai acabou com você. Mas eu não consigo
acreditar. Fale a verdade de uma vez. Eu sou adulto...
— Todas as evidências dizem o contrário.
— Você claramente não está mais de luto pelo pai — ele
continuou como se eu não tivesse falado. — Então, por que
você não volta para o boxe?
— Não é da porra da sua conta.
— Você está com medo?
Eu zombei de sua provocação.
— Medo? Vai se foder.
Ele não piscou.
— Medo de que você vai ser um lixo? Que você vai colocar
sua bunda pra jogo e alguém vai chutá-la?
— O dia em que tiver medo de alguém chutar minha bunda
será o dia em que vou deitar e morrer.
Ele zombou.
— Você já está morto. Você está apenas andando como um
cadáver animado. Um maldito desperdício.
Eu agarrei seu colarinho e puxei-o para perto. Ele não
resistiu. Minha voz saiu em um rosnado:
— Você não é ninguém para falar, seu merdinha...
— É, é. — A raiva em seus olhos era inevitável. — Me diga
algo novo. Não vai mudar o fato de que você é a porra de um
covarde...
— Cale a boca!
— Não. Diga-me o porquê! Por que, Rhys? — Suas palavras
martelaram em meu crânio, empurram contra meu peito. —
Por que você não volta? Hein? Por quê?
— Porque eu não posso! — Eu gritei, minha voz falhando.
Meu corpo cedeu. — Não posso... Jake. Ele... Eu...
O rosto de Dean tornou-se um borrão, e eu o soltei,
empurrando-o para longe e virando as costas para ele. Com o
peito arfando, tentei respirar, procurando aquele lugar calmo e
morto em que eu vivia agora.
Atrás de mim, Dean soltou um xingamento suave. Quando
ele falou, sua voz era baixa e hesitante:
— É por causa de Jake?
Apoiando minhas mãos nos quadris para esconder o
tremor, eu pisquei para o teto.
— Eu o vi morrer. — Engoli convulsivamente. — Eu sabia
que ia acontecer. No segundo em que ele levou aquele golpe...
Eu sabia que estava acabado. A luz sumiu de seus olhos. E eu
sabia.
Eu ainda podia vê-lo. Náusea subiu pelo meu estômago, e
eu engoli novamente.
Dean apareceu ao meu lado. Eu não tinha ouvido ele se
mover.
— Isso foi horrível da minha parte, te pressionar. Eu... Eu
sinto muito, Rhys.
Eu sabia que ele estava dizendo por Jake também. Um som
de diversão irônica misturado com dor feia me deixou, de
forma aguda e alta:
— Sim, bem, é o que fazemos.
Ele não sorriu, mas se aproximou um pouco mais. Senti o
roçar do braço dele no meu e juro por Deus que queria sair
correndo da sala. Eu estava muito perto de quebrar. Respirei
fundo algumas vezes, recusando-me a me afastar.
— Não posso entrar naquele ringue de novo — eu disse em
voz baixa e tensa.
— Eu entendo — disse ele suavemente.
Eu balancei a cabeça, e nós dois ficamos em silêncio. Depois
de um minuto, Dean se mexeu, limpando a garganta.
— Eu adorava vir aqui. Quando você estava treinando.
Fiquei o mais imóvel que pude, apenas respirando.
Ele continuou falando, hesitante, buscando uma trégua.
— Era ótimo. E você está certo. Pode ser ótimo de novo.
— Estou trabalhando nisso — eu mordi, as palavras me
custando. Falar significava reconhecer que eu estava lá.
Quando eu queria estar em qualquer outro lugar.
— Eu sei que você está. É um bom plano. — Ele olhou para
mim, arrependimento pintado em cada linha do seu rosto. Ele
nunca entenderia verdadeiramente que eu nunca quis que ele
se arrependesse. Eu nunca quis que o arrependimento fosse seu
fardo.
— Eu vou ajudar você, Rhys.
Merda. Merda. Merda. Precisou tudo em mim para segurar
o frágil fio de calma que eu recuperei.
— Tudo bem.
Ele assentiu, parecendo satisfeito.
— Precisa de alguma dica para lidar com Parker?
Uma risada enferrujada se soltou.
— Você acha que eu preciso de ajuda com as mulheres? Que
bonitinho.
Ele revirou os olhos.
— Eu quis dizer mais sobre sair com os amigos nerds dela e
colegas de trabalho.
Um sorriso maligno se espalhou quando me lembrei de
salpicar aqueles fofoqueiros idiotas com balas de tinta. Aquele
idiota presunçoso do Pete realmente gritou. Tão satisfatório.
— Eu já cuidei disso.
— O que você fez? — Dean perguntou com diversão
crescente.
— Nada. — Mostrei a eles o que enfrentariam se mexessem
com a minha garota.
Ela não é sua garota, idiota.
Meu sorriso caiu, e eu dei de ombros.
— Eu ajo como eu mesmo e eles praticamente correm com
medo. Funciona.
— Sim, aposto que sim — disse ele secamente. — Mas e
quando você eventualmente conhecer pessoas que ela
realmente gosta?
Inferno.
— Eu te aviso.
Ele me encarou por um longo momento, então balançou a
cabeça.
— Vamos trabalhar em suas boas maneiras mais tarde.
— Idiota.
Seu sorriso foi rápido e um pouco forçado. Não podia
culpá-lo por isso. O meu também foi. Mas então ele quase me
matou quando estendeu a mão e me deu um meio abraço
rápido, me dando um tapa no ombro enquanto me soltava.
— Você está fedendo — disse ele, disfarçando o momento
estranho. — Vá tomar um banho.
Ele foi embora antes que eu pudesse dizer outra palavra. Eu
fiquei grato como o inferno.
A academia ficou em silêncio, fedendo a suor e mofo. Fechei
os olhos com força e depois me afastei, saindo da sala. Puxando
meu telefone do bolso, olhei para minhas mensagens de texto,
com a mão tremendo. Eu não conseguia parar.
Eu também não conseguia me impedir de enviar mensagens.
RhysAqui: Ei, Sininho. O que você está fazendo?
Segundos depois, meus joelhos fraquejaram de alívio
quando pequenos pontos se formaram na parte inferior da tela
enquanto ela digitava sua resposta.
SininhoRevoltada: Quem é?
Um sorriso surgiu em meus lábios, meu peito já parecia mais
leve.
RhysAqui: Rhys. O grande e poderoso.
SininhoRevoltada: Achei que esse fosse O Mágico de Oz.
Rindo, subi as escadas para o meu apartamento.
RhysAqui: Quase acertou. Você não está mais no Kansas,
garotinha.
SininhoRevoltada: Vou ignorar a parte da garotinha.
Porque cheira a misoginia.
Meus passos ficaram mais leves, mais rápidos, o sorriso se
espalhando sobre mim como uma onda. Eu conseguia respirar
novamente.
RhysAqui: Pensei que você fosse ignorar?
SininhoRevoltada: Enfim... Por que você está mandando
mensagens?
Porque eu preciso de você. Eu preciso do seu atrevimento. Eu
preciso de você...
Tentei afastar o pensamento. Era uma fraqueza que eu não
podia me dar ao luxo de ter. Mas o pensamento permaneceu.
Eu precisava dela.
Merda.
SininhoRevoltada: Rhys? Você está aí? Ou você saiu da
estrada naquela sua moto levemente agradável? Por favor, não
me diga que você está mandando mensagens e dirigindo! Isso é
ilegal, sabe.
Soltando uma risada, respondi.
RhysAqui: Você gosta da minha moto, hein?
Uma pausa, e então ela respondeu.
SininhoRevoltada: Um pouco. Só um pouquinho. E você
não me respondeu.
RhysAqui: Não se preocupe, amor. Estou em casa.
SininhoRevoltada: Amor?
Ela enviou um emoji de revirar os olhos e então: E aí? Você
precisa de algo?
Você. Aqui. Por favor.
Merda, eu tinha que sair disso. Eu não sabia o que dizer.
SininhoRevoltada: Na verdade, que bom que você
mandou mensagem. Eu preciso de você.
Por um segundo, meu estômago revirou. Ela precisa de
mim. Minha frequência cardíaca disparou como se eu tivesse
acabado de lutar dez rounds brutais com um adversário foda.
Ela precisa de mim. Eu estava prestes a sorrir, prestes a enviar
uma mensagem de texto para ela com algo como: Graças a
Deus. Por que demorou tanto?
Outra mensagem apitou.
SininhoRevoltada: Argh. Isso soou errado! Desculpa. Estou
distraída. Preciso de você para outro “encontro”.
Eu era um idiota. Um idiota. Claro que era isso que ela
precisava. O que diabos havia de errado comigo? Eu estava
ficando mole e estúpido por uma garota que nunca encaixaria
no meu mundo. E eu nunca me encaixaria no dela.
Meu polegar bateu na tela com força enquanto eu digitava
minha resposta.
RhysAqui: O que é desta vez? Croquet com a rainha? Assisti
riquinhos remando em seus pequenos barcos de equipe?
Ela demorou um pouco para responder. Tempo suficiente
para eu sentir remorso por fazer um ataque barato.
SininhoRevoltada: Não que eu não ame uma boa corrida
de equipe, mas não. É uma festa no jardim, no sábado. Os
riquinhos estarão presentes. Você pode lidar com isso? Ou os
riquinhos te assustam demais?
Eu tinha que dar isso a Parker; ela era uma competidora
feroz. Ela bloquearia qualquer golpe que eu enviasse em sua
direção e seguia com um excelente contra-ataque.
Então, eu estava sorrindo de novo.
Não, não, não.
Chega de sorrir para as mensagens. São negócios, seu idiota.
Faça sua parte.
RhysAqui: Querida, pelo dinheiro que você está me
pagando, eu posso lidar com qualquer coisa que você jogar no
meu caminho. ;-)
Ela não respondeu com seu atrevimento de sempre, mas
simplesmente me mandou a hora que eu deveria buscá-la.
Totalmente profissional. Exatamente o que eu queria.
Então, por que parecia mais uma derrota?
Eu ainda estava com raiva de mim mesmo quando Dean
apareceu uma hora depois.
— Você quer tomar uma bebida?
Qualquer coisa era melhor do que ficar sentado tentando
não pensar. Eu precisava ser o Rhys novamente. Me divertir
por uma noite maldita.
Parker

A conversa em baixo volume aumentou no pub irlandês


quando o dono do bar, que se apresentou como Bill, anunciou
um intervalo de dez minutos para a cerveja. Eu compartilhei
um olhar confuso com meus amigos. Nunca havíamos ido a
um quiz em que houvesse um intervalo para a cerveja para o
"mestre do quiz".
Também nunca havíamos ido a uma noite de quiz em um
bar em Chelsea, mas meu amigo mais antigo, Ren, era nosso
rastreador de quizzes e nos levava aonde quer que as perguntas
estivessem. Normalmente, eu não me importava onde
acabávamos. Além disso, o prêmio não importava para nós.
Nós simplesmente adorávamos sair, felizes por estar com
outros nerds, e nossas noites de quiz bimestrais nos davam isso.
Hoje, o time vencedor ganhava uma caixa de cerveja e um
vale-presente para o restaurante Yankee Lobster. Não era um
prêmio ruim. Mas eu não poderia me importar menos. O que
me importava era que estávamos em Chelsea. Não apenas
estávamos em Chelsea, mas também em um bar perto da Lights
Out. Eu não tinha contado sobre Rhys porque não podia
contar a verdade e não conseguia mentir para eles.
— Você está quieta esta noite. — Ren me cutucou com o
cotovelo antes de se sentar contra a parede. Ele tomou um gole
da cerveja, seus olhos em mim o tempo todo.
Eu tentei não me contorcer sob seu olhar. Ren e eu nos
conhecemos na orientação da faculdade e somos amigos desde
então. Zoe pensou que eu estava louca por não explorar algo
mais com Ren. Ele tinha sido, e ainda era, um daqueles caras
que tornavam os nerds sexy. Ele era alto, magro, com uma
quantidade surpreendente de músculos rijos por baixo da
camisa, e por trás dos óculos de armação preta estava o rosto de
um modelo.
Sem brincadeira.
Irlandês-americano – cabelo escuro, pele oliva, feições
angulosas e olhos azuis brilhantes – o homem era lindo. Ele
também era desprovido de clichês – uma grande mistura de
atletismo e intelectualismo, um nerd e um atleta, amigo de
extrovertidos e introvertidos. Ren era um jogador de hóquei no
colégio. Ele era o capitão das equipes de matemática e debate.
Um grande nerd. Mas ele também era uma espécie de alfa,
chato, superprotetor, como um irmão mais velho.
— Estou cansada — menti.
Ren estreitou os olhos.
— Você está mentindo.
— Eu não estou mentindo.
— Eu te conheço há doze anos, então sei quando você está
mentindo.
— Jesus, pare, cara — Elijah ordenou com um sorriso
apaziguador. — E daí se ela estiver mentindo? — Ele piscou
para mim. — Parker pode ter seus segredos.
— Desde quando eu tenho segredos? — Assim que as
palavras saíram da minha boca, tive que lutar para não recuar.
Ops. Eu absolutamente tinha um segredo.
— Todos temos segredos. — Ele deu de ombros e se virou
para Navin. — Não é mesmo?
Elijah era colega de quarto de Ren em MIT, mas ele e eu não
nos tornamos bons amigos até o final do segundo ano. Navin
era o parceiro de laboratório de Elijah no primeiro ano e logo se
tornou um elemento permanente no nosso grupo. Ele também
tinha uma queda permanente por Zoe que, infelizmente,
nunca retribuiu seus sentimentos.
Navin fez uma careta para Elijah.
— Você é um idiota.
Feliz por ter os holofotes longe de mim, cruzei os braços
sobre a mesa e me inclinei para Navin.
— Vai, vai, conte mais?
— Não há nada para contar — murmurou Navin.
— Você está entre amigos — brincou Elijah, seus olhos
escuros dançando com diversão. — E se fosse eu, estaria
gritando aos quatro ventos.
Ei, agora eu estava intrigada.
— Gritando o quê?
— Sim, gritando o quê? — Ren sorriu para Navin.
Eu conhecia aquele sorriso.
— Você sabe o que é — eu acusei e me recostei bufando. —
Ah, qual é, não posso ser a única que não sabe.
Navin lançou a Ren um olhar raivoso.
— Você é um idiota também.
Algo me ocorreu.
— Oh, seus pais não estão tentando arranjar outro
casamento, estão? — Os pais de Navin moravam em Mumbai,
ambos advogados de sucesso. O casamento deles também foi
arranjado e, pelo que ouvi de meu amigo ao longo dos anos, eles
tiveram sorte e foram felizes juntos. Por causa disso, sempre
que Navin estava solteiro, eles tentavam convencê-lo a seguir
em frente com um casamento arranjado.
Elijah riu e balançou a cabeça.
— Vai, apenas me diga, então.
Com um suspiro preocupado, Navin deu de ombros.
— Eu conheci alguém.
Por que isso era um segredo?
— Tudo bem...?
Ren bufou.
— É como você está chamando?
Navin curvou o lábio.
— Eu não queria contar para a Parker. Não é para as orelhas
delicadas dela.
Ren sorriu.
— Ela não é virgem, Navin, acho que ela aguenta ouvir que
você está transando com uma mulher mais velha. "Conheci
alguém" — ele bufou novamente — sim, alguém que gosta de
algemar você na cama. Entre outros fetiches e coisas safadas.
Engasguei com um gole da minha cerveja e senti Ren dar um
tapinha nas minhas costas enquanto eu tossia. O conhecimento
dos fetiches do meu amigo não era bem-vindo.
— Ok — eu ofeguei, acenando com a mão entre mim e
Navin. — Eu não precisava saber disso. Eu estava feliz em não
saber.
— Viram? — Navin recostou-se na cadeira, constrangido.
— E muito obrigado por expor minha intimidade em público.
— Parker não é público. — Elijah compartilhou um sorriso
maligno com Ren.
— Vocês dois são maus. — Chutei Elijah por baixo da mesa
e dei um tapa na cabeça de Ren ao mesmo tempo. Seus
xingamentos melhoraram o clima da nossa mesa e colocaram
um sorriso gigante no rosto de Navin.
Antes que eu pudesse dizer outra palavra, um arrepio
inesperado percorreu minha espinha e uma percepção
repentina atraiu meus olhos para a entrada do bar. Minha
respiração ficou presa na garganta quando meu olhar colidiu
com o de Rhys Morgan.
Que droga?
É claro que ele viria ao bar na única noite em que eu estava
lá.
E ele não estava sozinho.
Dean estava junto.
Enquanto Rhys caminhava na minha direção, sua expressão
ilegível, meu coração disparou e minhas palmas ficaram
úmidas. Fazia cinco dias desde o jogo de paintball. Cinco dias
de total falta de foco da minha parte. Não apenas porque
cheguei à desconfortável percepção de que tinha uma queda
enorme pelo cara que estava pagando para namorar comigo
(erro de novata!), mas porque Fairchild nos convidou para uma
festa no jardim amanhã. Jackson, com óbvio desconforto,
deixou claro que meu convite para esta festa dependia de Rhys
me escoltar.
Rhys, é claro, concordou em ir, mas eu não conseguia parar
de pensar no fato de que havia jurado me manter física e
emocionalmente distante desse homem e como seria impossível
manter essa promessa quando tínhamos que continuar
fingindo estar em um relacionamento na frente de todos os
meus colegas.
Quando Rhys parou na nossa mesa, deixei escapar uma
exalação trêmula que sabia que ele não perderia. Seus olhos se
estreitaram em direção à minha boca, antes de me dar o que
poderia ter sido um sorriso terno, se eu pensasse por um
segundo que ele tinha sentimentos ternos por mim.
O que eu sabia que ele não tinha.
Ele era um ator muito bom.
Algo que ele provou quando me beijou daquele jeito no
paintball, apenas para não ficar afetado por isso.
Meus joelhos ainda estavam como geleia quando cheguei
em casa naquela noite.
O grande idiota.
A mensagem que ele me enviou esta noite também estava
fresca em minha mente. Aparentemente, ele sentia a
necessidade de me lembrar que estava sendo pago para me
acompanhar. E me beijar. Enquanto eu estava emocional e
fisicamente confusa com seu talento superior para beijos, ele
estava claramente preocupado que eu pudesse estar tendo uma
ideia errada sobre nosso "relacionamento".
Como se eu precisasse de um lembrete de que estava tão
longe de ser seu tipo quanto uma mulher poderia estar.
Um pouco da minha irritação devia estar bem na minha cara
porque ele sorriu, e estava cheio de malícia.
— Ei, amor. — Ele se abaixou e me beijou nos lábios, rápido,
forte, e se afastou antes que eu pudesse reagir. — Você não me
disse que estaria na minha parte da cidade hoje à noite.
— Uh... Eu não sabia.
— E quem é você? — Ren perguntou de forma hostil,
lembrando-me que não estávamos sozinhos.
E droga.
Eu não queria mentir para meus amigos.
— Rhys Morgan. — Sua expressão ficou em branco quando
ele checou Ren. — Estou namorando Parker. Você é?
As sobrancelhas de Ren se juntaram e ele me lançou um
olhar magoado. Droga de novo.
— Seu namorado?
— Bem... — Minha boca abriu e fechou como um peixe. —
Sabe... Eu ia...
— Não estamos namorando há muito tempo. Falando nisso
— Rhys pôs a mão no ombro de seu irmão — Sininho, este é
meu irmão mais novo, Dean. Dean, esta é a Parker.
Dean me deu um sorriso malicioso. O fato de ter sido sexy
foi mais uma observação da minha parte do que uma reação.
Uau. Estranho, porque Dean Morgan definitivamente era mais
meu tipo. Embora ele e Rhys compartilhassem semelhanças em
seus traços, Dean era loiro e bem-apessoado, enquanto Rhys
era moreno e cheio de masculinidade robusta. Dean estava em
forma, mas era um acadêmico, enquanto Rhys era o melhor
atleta. Dean era bonito; Rhys era...
Rhys era... Só olhar para ele causava uma dor deliciosa entre
minhas pernas, mesmo em meio à minha ansiedade por mentir
para meus amigos.
Como isso era possível? Como esse pesadelo mortificante
pode estar acontecendo comigo?
Rhys Morgan não era meu tipo.
Argh!
E eu definitivamente não era o dele.
Aí que está o problema.
— Prazer em conhecê-la, Parker. Ouvi falar muito de você.
— Dean apertou minha mão, e eu não pude deixar de encará-
lo quando notei o riso em seus olhos. Obviamente, ele
compartilhava o senso de humor distorcido do irmão.
— Prazer em conhecê-lo também — respondi
educadamente. Evitei contato visual direto com meus amigos
enquanto gesticulava para eles. — Elijah, Navin, Ren, este é
meu... namorado, Rhys, e seu irmão, Dean. Rhys é dono de
uma academia de boxe logo ali na esquina. Rhys, estes são meus
amigos da faculdade. Acho que já te contei sobre nossas noites
de quiz.
— Sim, eu me lembro.
Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, Bill, o
dono do bar, voltou ao palco para continuar o quiz.
Rhys se inclinou para mim, seus lábios perto da minha
orelha direita quando a voz de Bill acalmou o bar. A respiração
do meu falso namorado acariciou minha pele, e eu encolhi um
ombro para afugentar o arrepio em resposta.
— Vamos pegar uma cerveja e já voltamos. Você quer
alguma coisa?
Tentando fazer meu sorriso o mais natural possível, o tempo
todo amaldiçoando minha má sorte, balancei a cabeça.
— Estamos bem.
— Um encômio é um discurso ou texto que faz o quê? —
Bill perguntou ao microfone enquanto Rhys e Dean se
afastavam da mesa. Bill ergueu os olhos do cartão em sua mão
em direção ao bar. — Porra, Della, onde diabos você conseguiu
essas malditas perguntas?
As mesas de quizzers gargalharam. Não era a primeira vez
que Bill parava no meio do quiz para perguntar a Della, que
logo descobrimos ser sua esposa, onde ela havia encontrado
perguntas tão aleatórias e difíceis.
— É como uma coisa de admiração, certo? — Elijah disse,
sua voz baixa quando ele se sentou para frente. — Para elogiar
uma pessoa.
— Sim, você está certo. — Navin assentiu. — Escreva.
Ren olhou para eles como se fossem loucos.
— Será que não vamos falar sobre o fato de que Parker está
namorando um ex-campeão de boxe peso-pesado e não nos
contou?
Eu levantei uma sobrancelha.
— Você sabe quem ele é?
Meu amigo me olhou com raiva.
— Sim, eu sei quem ele é. Assim que você disse academia de
boxe, lembrei porque ele é tão familiar. Então, o que está
acontecendo? É por isso que você está quieta?
Minha barriga revirou. Ai, meu Deus, eu não queria mentir
para Ren. Mas se eu dissesse a ele que havia contratado Rhys
para ser meu namorado falso, ele provavelmente daria um soco
em Rhys, presumindo que ele estava tirando proveito de mim
e não se importando que o Criador de Viúvas poderia esmagá-
lo.
— Como você pode imaginar — eu comecei, tentando não
abaixar meus olhos porque ele saberia que eu estava mentindo
se eu o fizesse —, estou um tanto surpresa com essa reviravolta
nos acontecimentos, e tenho tentado entender as coisas e... Eu
honestamente nem sabia que estávamos namorando até que ele
disse agora pouco. — Eu menti na última parte.
— Você quer namorar com ele?
Nossa, não era essa a pergunta do século.
— Sim — eu disse timidamente.
Ren me estudou por um segundo e então assentiu.
— Está bem então. Teria sido legal se você tivesse nos
contado sobre ele.
Elijah bateu na mesa à nossa frente.
— Uh, isso tudo é muito interessante, mas estamos
perdendo as perguntas.
— Bill perguntou — Dean apareceu de repente, sentando-
se ao meu lado com uma cerveja na mão, forçando-me a me
aproximar de Ren — "O que é nanociência?" Fácil. É o estudo
de moléculas e estruturas cujo tamanho varia de um a cem
nanômetros.
Todos os caras olharam para ele; Rhys chamou minha
atenção ao puxar uma cadeira para perto da mesa.
— Meu irmão é muito inteligente — disse ele, sentando-se
com a cadeira ao contrário e bebendo sua cerveja.
— Sabíamos a resposta — disse Navin, seu orgulho nerd
chegando a sua cabeça competitiva.
Dean deu de ombros.
— Seis cérebros pensam melhor que quatro.
— Seis? — Ren lançou a Rhys um olhar incrédulo e,
embora Rhys pudesse ter olhado através do meu amigo como
se suas palavras não significassem nada, a raiva me invadiu.
Eu pisei no pé de Ren debaixo da mesa. Eu ainda estava
usando meus saltos do trabalho, então isso deve ter doído.
— Porra! — Ren soltou. — Que diabos foi isso?
Eu dei a ele meu olhar mais desapontado, e ele teve a graça
de parecer envergonhado. Com uma careta e um suspiro, ele
voltou sua atenção para Bill. Suas próximas perguntas foram
respondidas com facilidade, enquanto Rhys observava com
uma expressão branda que eu não conseguia decifrar. Ele estava
entediado? Irritado? Indiferente. Ele era intrigante e
perturbador.
Por que eu me importava tanto?
— Última pergunta — Bill finalmente disse. — Qual animal
não bebe água?
Todos nos entreolhamos.
— Camelo? — Elijah perguntou.
— Acho que eles podem sobreviver por muito tempo sem
água, mas ainda precisam dela — disse Dean.
— É o rato canguru — disse Rhys, com a voz baixa para que
as equipes próximas não ouvissem.
— Eu nunca ouvi falar disso — disse Navin, carrancudo.
— Provavelmente porque é inventado — Ren bufou.
— Escreva — eu disse.
Ren me cutucou.
— O quê? Não.
Ai, cara, ele estava realmente me irritando.
— Se Rhys diz que é um rato canguru, é um rato canguru.
Escreva.
— Tanto faz — meu amigo murmurou.
Eu praticamente rosnei para ele. Ele sabia que usar as
palavras tanto faz dessa maneira me irritava. Adolescentes
petulantes falavam assim, não adultos. E faziam adultos
parecerem idiotas imaturos.
— Ok, todos estão com as respostas prontas? — Bill
perguntou enquanto se aproximava da nossa mesa. —
Entreguem. Desculpe, elas eram difíceis pra caralho. Acho que
Della deve ter pesquisado no Google um quiz da porra do site
do MIT.
Navin entregou o pedaço de papel e Bill o examinou.
— Ei, parece que vocês podem ganhar. — Ele franziu a testa.
— Como diabos você sabiam que era um rato canguru? Eu
nunca ouvi falar dessa merda.
Um sorriso presunçoso se espalhou pelo meu rosto quando
Ren se virou para mim com um olhar timidamente
apologético. Eu me virei para Rhys, que não estava sorrindo até
que percebeu minha expressão. Seus olhos brilharam com
diversão enquanto ele tomava um gole de cerveja; senti uma
vibração indesejável de atração na minha barriga.
Elijah apontou para Rhys.
— Aparentemente esse cara já ouviu.
— Rhys, nem vi você aí. — Bill sorriu quando deu a volta
na mesa para colocar a mão no ombro de Rhys. — Como está
indo? Faz um tempo que você não aparece.
— Estive ocupado, Bill. Como você e Della estão?
Estudei Rhys enquanto ele falava com Bill, meus olhos
atraídos para a mão apoiada na mesa. Ele tinha mãos grandes,
juntas grandes, dedos longos e surpreendentemente graciosos.
Nunca me ocorreu que um homem pudesse ter mãos atraentes.
Mas as de Rhys eram. Eu imagino que elas devem ter ficado
bem machucadas enquanto lutava profissionalmente, e isso me
fez franzir a testa.
Pensar nele voltando ao ringue era alarmante. Fiquei feliz
por ele não lutar mais. A ideia de ele levar um golpe fez meu
estômago revirar.
Ai.
Eu não deveria me importar se ele lutava ou não.
Mas eu me importava.
Que droga.
— Você e meu irmão parecem estar se dando bem. — A voz
de Dean cortou meus pensamentos.
Saí do meu torpor de Rhys e me virei para seu irmão mais
novo.
— O quê?
Dean sorriu maliciosamente.
— O que você estava olhando?
— Nada. — Corei furiosamente e procurei distraí-lo. —
Você está trabalhando com Rhys na academia agora, certo?
— Sim. O lugar está uma bagunça, mas Rhys está
determinado a consertá-lo.
Algo sobre o tom irônico de Dean me incomodou.
— A dedicação dele à academia é admirável.
— Eu sei disso. — Dean abaixou a cabeça na minha direção.
— Mas meu irmão está tentando salvá-la por causa do que
significou para nosso pai. Não deveria ser um fardo. Ele estaria
melhor se deixasse para lá.
A ideia de que Rhys estava preso na academia por lealdade
aos desejos de seu pai era mais preocupante do que eu gostaria.
A felicidade do meu falso namorado não deveria significar nada
para mim.
— Certamente ele gosta de administrar a academia?
— Ele gosta de treinar boxeadores jovens. E ele dá aulas para
juniores que ajudam a manter as crianças longe de problemas.
— Parece um trabalho digno para mim. — Eu fiz uma careta
para ele. — Por que seria melhor ele se afastar disso?
— Financeiramente, ele estaria melhor.
— Dinheiro não é tudo.
— Diz a mulher que tem dinheiro.
— Justo. — Suspirei. — Mas há coisas mais importantes.
Como se importar com sua comunidade.
Dean me empurrou com o ombro como se fôssemos velhos
amigos.
— Por que diabos você acha que eu vou ficar por aqui?
— Sobre o que vocês estão falando?
A voz de Rhys levantou nossas cabeças e minhas
sobrancelhas quase atingiram a linha do cabelo com sua
expressão sombria.
— A academia. — Dean deu de ombros e então olhou para
Elijah. — Vocês estudaram no MIT com Parker?
E assim começou uma noite que passou de estranha para
ainda mais estranha. As únicas pessoas não afetadas pelos níveis
épicos de desconforto foram Elijah, Navin e Dean.
Eventualmente, Ren superou o fato de que eu mantive Rhys
em segredo e se juntou aos caras na conversa.
Depois que Bill apareceu com nosso prêmio, Dean
conversou facilmente com meus amigos. Às vezes, eles
tentavam envolver Rhys e eu na conversa, mas não tinham
muito sucesso. Eles perguntaram a Rhys um pouco sobre sua
carreira no boxe, mas suas respostas foram curtas e não geraram
mais perguntas. Ele olhava ao redor do bar, a apenas um braço
de distância de mim, mas ele poderia muito bem estar em outro
planeta.
E eu não gostei disso.
Eu não fazia ideia do que o incomodava.
— Então, como vocês dois se conheceram? — Ren de
repente fez um gesto para mim e Rhys. — Porque você não é o
tipo usual dela. E eu vi você na TV com suas "fãs" do lado do
ringue... Ela também não é seu tipo normal. Então, como
aconteceu?
A expressão de Rhys não mudou.
— Não tenho certeza se isso lhe diz respeito.
Ren franziu a testa para isso.
— Parker é minha amiga, então ela me diz respeito.
Olhando entre eles como se estivesse assistindo a uma
partida de tênis, fiquei cada vez mais irritada. Eu abri minha
boca para dizer a eles que a única pessoa que eu devia satisfação
era a mim mesma, mas Rhys abriu a boca primeiro.
— Você acha? Odeio estourar sua bolha, mas os únicos
homens na vida de Parker a quem ela diz respeito são o pai dela
e o cara em sua cama.
— É? Conheço Park há doze anos. — Ren se inclinou para
frente. — Eu tenho mais direito que você. Eu a conheço melhor
do que ninguém. Bem, exceto Theo. — Ele encolheu os
ombros. — E só um alerta, ninguém vai conseguir entrar como
Theo.
Confusão e fúria me enraizaram na cadeira.
— Ren, cara, não foi legal — Navin praticamente rosnou.
— Sim, acho que é hora de levarmos você para casa antes
que Parker decida te bater. — Elijah se afastou da mesa e me
deu um sorriso simpático. — Desculpe, Parker.
Balancei a cabeça, muda de raiva.
— Ah, merda. — Ren esfregou a mão sobre os olhos. —
Porra, merda, me desculpe. — Ele me olhou horrorizado. —
Muitas cervejas e eu sou um amigo de merda. Desculpe, Park.
— Está tudo bem. — Não estava tudo bem.
— Vamos. — Elijah acenou com a cabeça para Ren
enquanto ele se levantava. Ele se virou para Rhys. — Você vai
levar Parker para casa?
A expressão de Rhys permaneceu confusamente em branco.
— É claro.
— Park, eu realmente sinto muito — Ren disse novamente
enquanto se levantava. — Você sabe que às vezes eu digo merda
sem pensar. Eu sou um idiota.
Era verdade que, para um cara muito inteligente, às vezes ele
não tinha um filtro entre o cérebro e a boca.
— Está tudo bem — eu disse, desta vez falando sério.
Ele me deu um sorriso arrependido.
— Conversaremos mais tarde, quando a memória da minha
idiotice tiver desaparecido.
Dessa vez, eu sorri.
— Faremos isso.
Aliviado por eu não estar mais chateada, Ren sorriu.
— Até logo.
— Vou com vocês até lá fora. — Dean se levantou,
carregando a caixa de cerveja que ganhamos enquanto seguia os
garotos para fora do bar.
— Vamos levar você para casa.
Olhando para Rhys, suspirei.
— Você não tem que me levar para casa. Posso pegar um
táxi.
Sua expressão endureceu por algum motivo.
— Eu vou levar você.
Assim que o ar frio da noite me atingiu, senti uma onda de
exaustão tomar conta de mim.
— Bem... isso foi divertido.
— Você sabe que seu amigo Ren está apaixonado por você,
né?
A ideia me fez gargalhar.
Minha reação não deixou Rhys feliz, ou eu estava
interpretando mal a maneira como os músculos de sua
mandíbula marcavam enquanto ele cerrava os dentes.
Revirei os olhos.
— Eu conheço Ren desde o primeiro ano da faculdade.
Somos melhores amigos. Ele tem uma namorada de longa data
que é adorável e inteligente. Confie em mim, ele não está
apaixonado por mim. Ele é mais como um irmão mais velho
superprotetor.
— Sabe, para uma mulher inteligente, você é a porra de uma
sem noção às vezes.
Eu estreitei meus olhos.
— Qual é o seu problema esta noite?
— Quem é Theo? — ele perguntou em vez disso.
Minha respiração falhou.
— Rhys...
— Ren pode ser um idiota, mas ele levantou um bom
ponto. Ele conhece você melhor do que eu, e se realmente
vamos vender isso, você precisa começar a me dizer merdas que
são reais. Como, quem é Theo?
— Ren não é um idiota.
— Parker.
Ouvindo o aviso na voz de Rhys, olhei para ele com
surpresa. Ele não usava esse tom comigo desde antes de
assinarmos nosso contrato.
Querendo mandar Ren para o inferno, deixei escapar um
suspiro trêmulo. Como eu poderia colocar uma distância tão
necessária entre mim e Rhys se eu confidenciasse uma história
emocionalmente profunda?
— Não é relevante.
— Eu acho que é, se o seu amigo está fazendo tanto barulho
sobre isso. Meu palpite... Theo é um filho da puta rico que
mexeu com você. É por isso que você não tem um homem?
Você não confia em caras porque seu primeiro amor deu
errado?
A lembrança de Theo ainda causava uma dor profunda no
meu peito, e a suposição de Rhys deixou um gosto ruim na
minha boca.
— Ele morreu — eu deixei escapar. — Ele foi meu
namorado de infância. Crescemos na mesma cidade,
começamos a namorar quando tínhamos doze anos. Ele foi
meu primeiro tudo. — Eu me virei para ele quando parou ao
meu lado. — Eu o amava de uma maneira que pensei que
conseguiria continuar amando pelo resto da minha vida. Até
que uma noite, quando tínhamos dezessete anos, ele voltou
para casa da festa de um amigo, bêbado, em uma estrada escura
e um carro o atropelou. E eles o deixaram lá para morrer na
beira da estrada. — Lágrimas queimaram em meus olhos, mas
eu lutei contra elas. — Ele era meu melhor amigo... e então ele
simplesmente se foi.
— Jesus, porra... — Rhys de repente me puxou para seus
braços, e eu não parei para pensar antes de descansar minha
cabeça em seu peito e deslizar meus braços em volta de suas
costas. — Sininho, eu sinto muito.
Ficamos um tempo em silêncio, apenas abraçados no meio
da rua, até que senti seus braços ficarem tensos. Sua voz desceu
suavemente até mim.
— Meu melhor amigo também morreu. — As palavras
soaram como se tivessem sido arrancadas dele. — Eu o vi
morrer em uma luta. Jake. Nós crescemos juntos. Ele era como
um irmão para mim. E... não havia nada que eu pudesse fazer.
Em um minuto ele estava vivo... e no seguinte, eu vi a luz sumir
de seus olhos.
Ele estremeceu contra mim e eu cavei meus dedos em suas
omoplatas, desejando poder arrancar a dor dele. Inclinei minha
cabeça para trás e a agonia que vi por trás de todo o charme
arrogante e humor em seus olhos fez meu coração apertar.
— Rhys — eu sussurrei, odiando ver alguém tão grande,
capaz e forte cheio de dor.
— Ele deixou a esposa e filha. Marcy e Rose. A porra do
esporte que eu amava levou embora meu irmão, levou embora
o marido de Marcy, o pai de Rose. — Ele balançou a cabeça,
lutando contra a emoção. — A primeira vez que alguém me
chamou de Criador de Viúvas depois que ele morreu... eu
vomitei.
— Rhys. — Eu o apertei mais forte.
Agora eu sabia. Eu sabia por que ele não podia voltar para
aquele ringue.
— Então, eu entendo até certo ponto. — Ele acariciou
minha bochecha, seus olhos seguindo a trilha que seus dedos
faziam em minha pele. — Eu entendo como é perder seu
melhor amigo. Não poder seguir em frente.
E percebi que sim. Gentilmente me desvencilhei do seu
abraço, peguei sua mão.
— Não acho que não voltar a lutar seja uma incapacidade
de seguir em frente, Rhys. É uma escolha que você fez. Uma
escolha da qual você deveria se orgulhar. — Com a surpresa
abjeta em seu rosto, enrolei minha mão em torno da dele e a
segurei com força. — Não consigo imaginar as expectativas que
as pessoas tinham de você como campeão... Mas posso
imaginar que essas expectativas pesavam muito sobre seus
ombros. Virar as costas para isso, fazer o que era certo para você,
seguir seu instinto... Rhys, isso exige mais coragem do que
calçar aquelas luvas e entrar naquele ringue.
A dor cintilou em suas feições, o músculo em sua mandíbula
flexionando novamente, enquanto ele olhava em meus olhos.
Então, ele baixou o olhar para onde eu segurava sua mão e seu
aperto aumentou. Quando ele finalmente olhou para cima
novamente, havia algo como admiração em sua expressão.
Algo doce.
Algo significativo.
E algo perigoso para minhas emoções.
Quando ele falou, sua voz era áspera, rouca:
— Deixe-me levá-la para casa, amor.
Nossa caminhada até a academia foi silenciosa, mas Rhys
não soltou a minha mão. Quando chegamos à sua garagem, até
sua moto, ele tirou meu cabelo dos meus ombros e
cuidadosamente colocou o capacete em mim. Uma vez que
subi na moto depois que ele montou, ele pegou minhas mãos e
as colocou em volta da sua cintura, então eu estava pressionada
o mais perto dele que podia.
Parte de mim temia chegar à minha casa porque, com a
tensão entre nós, eu meio que esperava que Rhys pedisse para
subir.
E a coisa assustadora?
Eu não tinha certeza se diria não.
No entanto, Rhys não pediu para subir. Ele ficou na moto
quando eu desci. Ele tirou o capacete, esperando
pacientemente enquanto eu tirava o meu. Ele pegou minha
mão e me puxou para ele.
Meu coração pulou na minha garganta, apenas para
mergulhar novamente quando ele colocou um beijo fraterno
na minha testa.
Uau.
— Boa noite, Sininho. Vejo você no sábado, certo?
Tive que limpar a garganta para falar.
— Sábado — eu concordei, recuando.
— Eu não vou embora até que você esteja segura lá dentro,
amor.
Confusa, desapontada, assenti entorpecida e corri para
dentro do prédio. Foi só quando estava dentro do elevador que
desabei contra a parede dele e sussurrei:
— Você está com sérios problemas, Parker Brown.
Rhys

Eu tenho que admitir, havia algo imensamente satisfatório em


entrar pelo portão vigiado da propriedade de algum riquinho
no meu Chevy Chevelle SS 454 1970 vermelho. Minha garota
anunciou sua presença com um grunhido rouco, atraindo um
sorriso de escárnio do segurança de plantão. Minha satisfação
se multiplicou quando entreguei a ele o convite dourado para
esta festa esfarrapada no jardim e ele imediatamente começou a
puxar saco.
— Um manobrista irá encontrá-lo no final do caminho,
senhor. Tenha uma ótima tarde, senhor.
Eu acenei para ele e subi pelo trajeto. Para a grande irritação
de Parker.
— Você está amando isso, não é? — ela murmurou. Ela não
era fã do Chevelle. Bem, não externamente. Eu juro que ela
ficou com um brilho nos olhos mais cedo, quando eu pisei no
acelerador na estrada. Ela cobriu aquele pequeno deslize de
prazer reclamando da quantidade de combustível que
estávamos desperdiçando.
Olhei para ela e sorri.
— Com toda certeza, eu estou. Você viu a cara dele? Parecia
que tinha chupado limão por um canudo.
Ela fungou e então se virou para olhar por cima do ombro
para o caminho sinuoso.
— O que foi agora? — eu perguntei. À frente, o caminho
fez uma curva e uma enorme casa de madeira branca, espalhada
sobre um tapete verde-esmeralda, apareceu. Jesus.
— Eu estava apenas verificando se esse dinossauro de
combustível fóssil estava deixando para trás uma nuvem de
fumaça preta nociva.
Rindo, balancei a cabeça.
— Fofo.
Peguei o Chevelle porque não queria submetê-la a uma hora
de viagem de moto até Manchester-by-the-Sea. Que
agradecimento eu recebi.
Parker cruzou os braços sob os seios empinados e olhou para
frente.
— Estou falando sério. As emissões de efeito estufa que essa
coisa libera é um grande pesadelo.
Uma coisa que eu sabia ser verdade sobre Parker era que ela
começava a falar do seu assunto favorito quando estava
nervosa. Quando Dean era criança, ele costumava recitar
equações pelo mesmo motivo. Assim, eu sabia que a única coisa
a fazer era oferecer uma distração.
— Ei, eu não vi você dando um ataque quando me disse para
jogar fora aquelas bananas marrons na minha casa na outra
noite.
Suas sobrancelhas se ergueram e ela olhou para mim como
se eu tivesse duas cabeças.
— Eu não estou entendendo. De forma alguma.
Te peguei, querida.
Dei de ombros quando virei para uma entrada circular onde
manobristas ajudavam pessoas ricas a sair de seus Astons e Jags.
— Apenas que quase 11% das emissões de gases de efeito
estufa vêm do metano criado pela decomposição de alimentos.
Então, se você vai atacar Ruby, provavelmente deveria dar uma
olhada em toda a comida que você joga fora também.
Sua boca se abriu, mas nada saiu. Eu sorri largamente.
— Acho que você não está tão atualizada sobre questões
ambientais quanto eu pensava.
Parker rosnou.
— Eu sabia disso!
— Uh-huh.
Revirando os olhos, ela se recostou no assento e bufou. Mas
logo seus lábios estavam se contraindo e ela soltou uma
risadinha autodepreciativa.
— Tudo bem. Você me pegou.
Eu não pude deixar de rir também. O céu espreitava por
entre as folhas acima, manchando o carro com a luz do sol. Foi
refletida no rosto sorridente de Parker, e algo em meu peito se
revirou. Eu tive que sugar uma respiração rápida, mas eu ainda
estava me sentindo tonto.
Ela quase quebrou meu coração na outra noite quando me
contou sobre Theo. Eu não tinha ideia de como era amar
alguém daquele jeito, mas eu entendia sobre perda. Sua dor me
perfurou e eu quis nunca mais vê-la chorar.
O mais louco foi que quase chorei quando ela olhou
diretamente para mim e disse que era preciso coragem para
desistir, que eu tinha feito algo certo. Naquele momento,
percebi que alguém me via. Eu me senti compreendido. Eu
nunca tive isso de ninguém. O fato de uma mulher esperta,
pequena mas poderosa como Parker ter visto algo valioso em
mim foi um presente que eu não sabia que precisava até que ela
me deu. Um presente como esse fazia um homem desejar mais.
Era uma linha tênue que eu caminhava agora. A ternura e a
necessidade de protegê-la quase me dominavam toda vez que
eu olhava em sua direção. Mas isso eram negócios. Não
adiantava me apegar. Mesmo assim, era bom estar com ela,
rindo porque a gente podia.
Ainda rindo, parei o carro.
— Você realmente chamou seu carro de Ruby? — ela
perguntou quando um manobrista correu para abrir a porta.
— Sim. — Dei um tapinha no painel preto brilhante. —
Minha garota aqui. O nome dela é Ruby.
Sua resposta foi perdida quando ela saiu do carro.
Entreguei as chaves ao manobrista e segui Parker até a casa.
Mansão era uma palavra melhor. Eu era um cara grande, mas
de pé naquele corredor central com seus tetos altos e pinturas a
óleo douradas, me senti pequeno. Talvez esse fosse o ponto.
Você coloca seus convidados em seus lugares no segundo em
que eles passam pelas portas. Ou talvez os proprietários apenas
gostassem de muita luz e ar, porque, olhando em volta, eu meio
que gostaria de ainda poder pagar por um lugar como este.
Parker parecia em casa pela forma como ela se movia com
facilidade através da multidão dispersa.
— Jackson provavelmente está em algum lugar no gramado.
O gramado em questão era visível através das enormes
portas francesas esculpidas no outro extremo da casa. O azul do
porto piscava para nós ao longe.
— Então, esta é a casa de veraneio do Fairchild? — Eu
perguntei quando saímos. Terraços ajardinados flanqueavam
os dois lados de um amplo pátio de lajes. Um conjunto de
escadas centrais descia para uma piscina saída diretamente de O
Grande Gatsby. Bem, se Gatsby tivesse mulheres usando
biquínis. Fairchild definitivamente gostava de todo o clichê de
modelos de biquíni.
— Uma delas, de qualquer maneira. — Parker não parecia
impressionada. — Eu acredito que esta era dos seus pais que
faleceram – oh, carambolas.
Carambolas?
Meus lábios se contraíram.
— Você pode dizer '”merda”, amor. Sua mãe não vai
aparecer no meio dos arbustos e apontar o dedo para você.
Mas Parker não estava ouvindo. O pânico brilhou em seus
olhos quando ela deu meio passo para longe de mim antes de se
virar para agarrar meu pulso.
— Rápido, por aqui...
— Parker Brown? — uma mulher gritou, como se estivesse
surpresa.
Parker ficou rígida como um cano.
— Macacos me mordam — ela disse baixinho. Ela colou no
rosto um sorriso falso – mais como uma careta – e se moveu
para cumprimentar uma elegante mulher mais velha com
cabelos escuros e lustrosos. Elas fizeram aquele tipo de beijo na
bochecha que algumas mulheres gostam.
— Vida — disse Parker um pouco menos rígida, mas
claramente ainda incomodada. — É bom ver você de novo.
— E você, doce menina. — Vida recuou e deu a Parker um
olhar de aprovação. Ela estava claramente ciente de mim; eu só
não tinha sido reconhecido. — Faz muito tempo.
— Meu novo trabalho tem me mantido ocupada.
— Ah, sim, claro. — A mulher olhou para mim, com
avaliação em seus olhos escuros. — Você está trabalhando para
Franklin.
— Bem, de certa forma, sim — respondeu Parker. — Eu não
sabia que você o conhecia.
Vida riu, seus lábios vermelhos se abrindo para revelar
alguns dentes verdadeiramente brancos.
— E quem não conhece?
As bochechas de Parker ficaram pálidas e seus ombros
magros se curvaram.
— Parece que sim. — Ela deu a Vida outro sorriso de
plástico. — Bem, vou apenas dizer olá para o anfitrião...
— Você não vai me apresentar ao seu amigo? — Só então
Vida olhou na minha direção. Seu olhar deslizou sobre mim
com apreciação lenta.
Eu estava acostumado com aquele olhar. Eu o recebia antes
e depois de cada luta. As mulheres queriam me foder pela
emoção disso, pelo direito de se gabar. Cometi o erro de aceitar
alguns desses avanços, apenas para que algumas de suas amigas
me contatassem depois, tão certas de que eu transaria com elas
também. Afinal, eu não passava de um idiota musculoso e sexy.
Eu deveria ser grato; aprendi o que era me sentir barato e
usado. Aquela sensação familiar se contorceu em meu
estômago. Então me ocorreu que Parker não havia me
apresentado. Eu estava aqui para ser seu troféu, e ela estava se
afastando de mim como se quisesse estar em qualquer lugar,
menos aqui.
Isso com certeza não caiu bem.
Parker me olhou, e vi outro lampejo de relutância.
Vergonha. Arrependimento.
Eu senti vontade de vomitar.
— Sim, claro — ela disse, sua voz fraca através do zumbido
em meus ouvidos. — Este é Rhys.
Só isso. Sem namorado ou acompanhante. Apenas Rhys.
Meus lábios ficaram dormentes enquanto eu ficava parado
lá. Um boi grande e burro.
Vida sorriu para mim, maliciosa pra caralho.
— E Rhys tem um sobrenome?
Ela não dava a mínima para o meu nome. Ela estava cavando
por informações. Todos nós sabíamos disso.
Eu sorri largamente e estendi minha mão.
— Garoto de aluguel. — Meu sorriso cresceu de dentes. —
É mais um título.
Parker engasgou e Vida riu.
— Que maravilha, Parker. — Ela parecia realmente
impressionada.
Parker, por outro lado, estava rosa brilhante. Bom. Dei de
meus ombros, tenso.
— Se você nos der licença, eu preciso de uma cerveja.
Segurei Parker pelo cotovelo e a conduzi o mais gentilmente
que pude. Eu estava irritado, o que significava que eu tinha que
ser extremamente cuidadoso com minha força. Sim, Parker
agiu como se eu fosse um lixo ao lado dela, mas eu não ia
maltratá-la.
— Rhys — ela sibilou, pisando forte ao meu lado. — O que
diabos foi isso?
— Eu poderia te perguntar a mesma coisa — eu respondi.
Vários bares foram montados em vários terraços. Fui ao mais
próximo. — Cerveja. Apenas me dê a garrafa.
Parker fez o possível para abrir um buraco no meu rosto,
enquanto eu pegava a garrafa de cerveja oferecida e tomava um
longo gole.
— Você não queria que aquela mulher soubesse quem eu
era — eu disse. — Por quê?
Mordendo o lábio inferior, ela desviou o olhar.
— Ela é amiga dos meus pais.
As palavras foram um chute nas bolas.
— Ah.
Parker olhou para trás com olhos arregalados e pensativos.
— Só isso?
— O que há para dizer? — Dei de ombros, segurando a
cerveja com força.
— Bem, obviamente, há algo a dizer porque você está
claramente de mau humor.
Deus, para uma mulher inteligente, às vezes ela era cega pra
caralho.
— Tanto faz, princesa. Não é nada.
Seus olhos se estreitaram.
— Muito maduro.
— Tão maduro quanto contratar um namorado falso
porque você não consegue dizer ao seu chefe idiota para ir se
foder com suas besteiras misóginas.
Ela piscou, parando por um instante antes de recomeçar.
— Estou muito zangada com você e realmente quero lhe
dizer onde você pode enfiar esse comentário, mas me sinto
compelida a lhe dar crédito por seu uso de “misóginas”.
Deus, essa garota. Eu gostava dela, droga. Eu não podia me
permitir. Um bom lutador protegia seus pontos fracos.
— Quatro sílabas inteiras nessa palavra também — eu disse
secamente.
Com um bufo, seus olhos se estreitaram e o fogo voltou.
— Fiquei mais impressionada com o uso do que com o
tamanho.
Muito fácil. Virei minha garrafa de cerveja para ela em
saudação.
— Amor, comigo, você terá os dois.
— O que…? — Um rubor disparou em suas bochechas. —
Ah, seu... seu...
Eu me inclinei.
— Vamos, Sininho. Diga... cretino, cuzão... Você sabe que
realmente quer me repreender. Faça com todas as letras.
Eu quase podia ver as palavras flutuando em sua cabeça,
dançando na ponta daquela língua doce. Eu queria chupá-las,
lamber sua boca e provar sua raiva. Jesus, eu estava duro.
Excitado pra caralho, ofegante. Sua boca seria macia como um
travesseiro, sua raiva dura e rápida.
Quando percebi que ela estava ofegante também, meus
braços estremeceram. Cerrei o punho para evitar segurá-la. Mas
doeu me conter.
Um som escapou dela. Não um gemido, mas algo próximo.
Carente. Confuso.
Eu vou fazer ficar melhor, linda.
Eu dei um passo para mais perto. Ela cheirava tão bem. Era
tão bonita.
Mas fomos interrompidos novamente.
— Parker? — Um homem desta vez.
Sério, foda-se essa festa.
Se Parker já havia entrado em pânico antes, ela parecia
completamente horrorizada agora. Ela ficou boquiaberta de
horror quando nos viramos em uníssono para o homem parado
a alguns metros de distância. Cabelo grisalho, óculos de
armação de aço, calça cinza sob medida e camisa de seda cor de
marfim. Ele parecia um nova-iorquino passando o fim de
semana em uma favela.
Parker tinha os olhos dele. Eu não sei por que notei. Mas
notei. E eu sabia exatamente quem ele era. Eles também
compartilhavam o mesmo sorriso.
A voz de Parker saiu em um guincho estrangulado.
— Pai.
Aqui vamos nós...

O pai de Parker sorriu.


— Amendoim.
— Amendoim? — eu sussurrei para Parker, esperando um
olhar ou talvez uma cotovelada no estômago. Ela permaneceu
imóvel como uma pedra.
Seu pai se inclinou e lhe deu um beijo na bochecha.
— Eu não sabia que você estaria aqui.
Parker engoliu em seco de forma audível.
— Eu estava pensando a mesma coisa.
Ele era alguns centímetros mais alto do que ela, mas rijo
onde Parker era delicada.
Ao contrário de Vida, o pai de Parker imediatamente se
concentrou em mim e estendeu a mão para me cumprimentar.
— Charles Brown. Nenhuma relação com o cara careca,
receio.
Charles Brown? Percepção me atingiu, e eu sorri quando
apertei sua mão.
— Acredito que você não usa o apelido Charlie?
Ele riu brevemente.
— Não se eu puder evitar. A infância já foi um inferno para
mim.
Apesar de sua maneira descontraída, o poder fluia de
Charles Brown. Alguns caras achavam que tinham que ser os
maiores ou o cara mais alto da sala para ser o mais forte. Isso era
besteira. A força física raramente importava tanto quanto a
resistência mental e confiança.
Brown era o tipo raro que sabia que não precisava provar
nada a ninguém. Ele estava confortável em sua própria pele. Eu
admirava muito isso. E a maneira como ele colocou um braço
protetor e afetuoso em torno da filha. Não tanto como uma
reivindicação, mas para deixá-la saber que era amada.
— Rhys Morgan — completei quando Parker ficou quieta.
As luzes estavam acesas no Prédio Parker, mas ela claramente
havia deixado sua casa. — Sou amigo da Parker.
Eu não tinha ideia do que ela queria que eu dissesse nessa
situação. Nós mentimos para a família dela?
Parker piscou e então forçou um sorriso.
— Rhys é um ex-boxeador. Fairchild é um fã.
Brown assentiu, seu olhar movendo-se entre mim e sua
filha.
— Também sou fã.
Agora, isso foi uma surpresa.
— Aquela luta com o Davis, quando você o nocauteou no
segundo round? Lendária.
Era estranhamente bom saber que o pai de Parker sabia da
minha carreira e aprovava.
— As pessoas odeiam ou amam essa luta. — Pessoalmente,
eu adorava. Davis tinha uma boca grande e um maxilar de
vidro.
— Acho que depende de como você aposta. — O brilho nos
olhos de Brown me disse que ele não havia perdido dinheiro.
— Geralmente esse é o caso.
Quando nós dois rimos, Parker finalmente encontrou sua
voz.
— Eu não tinha ideia que você conhecia Rhys, pai.
— Por que você saberia? Acho que nunca tivemos uma
discussão que girasse em torno de esportes. — O tom de sua voz
e o olhar que transmitia deixaram claro que ele sabia que Parker
não estava comigo porque era uma fã. E ficou claro que ele
queria saber porque éramos amigos – e quão próximos.
Parker desviou o olhar, mas depois ergueu os olhos para
mim.
— Talvez devêssemos avisar a Fairchild que estamos aqui.
Ele está querendo mostrar o lugar para Rhys — ela explicou a
seu pai.
Quase revirei os olhos. É assim que estávamos jogando? Eu
estava aqui como o crush de Fairchild?
Ela poderia ter se safado disso, mas uma mulher mais velha
e bonita, com cabelo louro-mel e uma mulher mais jovem que
compartilhava uma semelhança surpreendente com Parker se
juntaram a nós. Não demorou muito para adivinhar que eram
a mãe e a irmã de Parker. Juro que ouvi Parker grunhir
baixinho.
— Mãe. Easton. — Ela poderia muito bem estar comendo
pregos.
Easton me observou com olhos ávidos. Ela estava
obviamente feliz por encontrar Parker com um homem a
reboque.
— Bem, olá, Parker — disse ela, sem tirar os olhos de mim.
Como seu pai, a mãe de Parker imediatamente se
concentrou em mim.
— Olá, não acredito que fomos apresentados. Eu sou
Marion Brown.
— Rhys Morgan.
Ela apertou minha mão com um aperto firme e um olhar
fixo.
Não disse mais nada porque, francamente, isso era sobre
Parker. Ela me lançou um olhar que dizia algo próximo a
“Salve-me desse inferno familiar.” Eu senti empatia por ela.
— Morgan! — Fairchild apareceu, todo ansioso.
Uma risada me escapou. Eu não pude evitar. Já tínhamos
um grupo ao nosso redor.
Como de costume, Fairchild ignorou completamente
Parker. Ele me agarrou pelo ombro como se eu fosse seu filho
enquanto se virava para os Browns.
— Eu ouvi mal ou vocês dois estão conhecendo agora o
namorado de Parker?
A palavra caiu como uma bomba, deixando para trás um
silêncio atordoado. Parker parecia tão miserável que não pude
deixar de deslizar minha mão na dela, dando-lhe um aperto
suave e solidário. A ação não foi perdida por Marion Brown.
— Namorado — repetiu Marion. Era difícil dizer se ela
estava chateada ou surpresa.
Não, isso não estava certo. Toda a família de Parker parecia
em estado de choque. A lembrança de Parker chorando por
Theo veio na minha mente, e eu sabia com toda certeza que ela
não tinha levado um homem para eles conhecerem desde então.
Sua mão ficou úmida, mas ela me agarrou um pouco mais
forte.
— Ah, sim... É que... — Ela olhou para um ansioso
Fairchild. — Acabamos de começar a namorar.
Fairchild assentiu com impaciência, sua mão voltando para
meu ombro. Eu realmente odiava quando ele me tocava. Meus
músculos se contraíram, mas eu me segurei. Não que ele tivesse
notado.
— Rhys, por que não deixamos Parker falar as novidades?
Há alguns homens que quero que conheça. Eles estão
realmente interessados em investir no esporte.
A essa altura, imaginei que seria uma bênção sair do
caminho de Parker. Ela parecia a um passo de gritar. Fairchild
acenou para um grupo de homens na multidão. Ele então
agarrou meu braço e puxou como se eu fosse um cachorro na
coleira.
Dinheiro. Eu precisava de patrocinadores para salvar a
academia.
Parker. Eu precisava ceder a esse idiota ou ela estaria em
apuros.
Cerrando os dentes, deixei que ele me levasse para longe.
Esta era realmente uma festa do inferno.
Parker

Houve pouquíssimos momentos na minha vida em que não


fiquei feliz em ver meus pais. Este era um daqueles raros
momentos. Observei Fairchild conduzindo Rhys pelo
gramado em direção a um homem alto e loiro, desejando que
ele tivesse ficado. A sensação reconfortante da sua mão
segurando a minha foi a única coisa que me manteve de pé
quando Fairchild anunciou à minha família que Rhys e eu
estávamos namorando.
Que eu queria ser confortada por Rhys era uma contradição
porque ele era a razão pela qual eu temia os próximos
momentos. Eu teria que mentir para meus pais e minha irmã.
Como esse negócio de namoro falso ficou tão
completamente fora de controle?
E onde estava aquela maldita porta para a dimensão com
cobras de areia para que eu pudesse me jogar?
Risque isso.
Eu estava absolutamente empurrando Franklin Fairchild
por aquela porta se ela alguma vez fizesse uma aparição
milagrosa.
— Eu não sabia que vocês estariam aqui — eu ofeguei, meu
peito apertado de ansiedade. — Ou que vocês conheciam
Franklin Fairchild.
As sobrancelhas de papai se juntaram.
— Todo mundo conhece Fairchild. Sua mãe está em vários
conselhos de caridade com a esposa de Fairchild, Evelyn.
Eu não sabia disso.
Porcaria.
— Oh.
— Nós tomamos café da manhã não faz muito tempo e você
nunca mencionou um namorado — Easton refletiu, seu tom
infeliz. — Especialmente não alguém que se parece daquele
jeito.
— Que jeito?
Ela deu de ombros.
— Como um dos strippers que esperamos contratar no
Havaí.
— Strippers? — meus pais disseram em uníssono, as
sobrancelhas do meu pai levantadas, a boca de minha mãe
aberta em horror.
Ignorando os dois, fiz uma careta para minha irmã.
— Não o objetifique.
Easton sorriu sem arrependimento.
— Eu não estava, minha querida irmã. Eu estava apenas
fazendo a observação de que seu namorado é bastante divertido
de se olhar, e nada do que esperávamos. Então, desembucha.
Com as mãos úmidas e o coração disparado, encontrei os
olhos inquisitivos da minha família, um por um, e me odiei
quando deixei escapar a mentira que Rhys inventou.
— Nós nos esbarramos. Literalmente. Eu me encontrei com
Zoe para uma bebida. Ela teve que sair para trabalhar, mas eu
fiquei para terminar minha bebida. Quando estava saindo,
Rhys estava entrando pela porta e quase me derrubou. Ele
perguntou se poderia me pagar uma bebida para se desculpar
e... — Eu parei com um encolher de ombros miserável.
— Por que você parece estar com dor? — Easton parecia
presa entre a diversão e a preocupação.
— E por que essa é a primeira vez que ouvimos falar desse
menino? — mamãe bufou.
Um bufo nervoso escapou de mim quando minha mãe se
referiu a Rhys como um menino.
— Onde está Oliver? — Evitei a pergunta, perguntando
pelo noivo da minha irmã.
— Viagem de negócios. Decidi vir junto com mamãe e papai
por causa do tédio – e essa não foi a melhor decisão que tomei
em anos?
Minhas bochechas esquentaram e eu olhei feio para ela. Ela
sorriu docemente.
— Mamãe fez uma pergunta.
— Eu de fato fiz uma pergunta — disse mamãe,
aproximando-se para tocar meu braço. — Por que você está
agindo de forma tão estranha sobre o rapaz?
— Devemos nos preocupar? — Papai já parecia
preocupado.
— Queridos pais, deixem ela em paz. — Easton deu de
ombros, quase derramando champanhe de sua taça com o
movimento. — Não é óbvio que ela está estranha porque faz
um tempo, muito tempo, desde que ela teve um namorado?
Isso ainda não responde à pergunta da mamãe — ela me
lembrou.
— Não me lembro de você ter sido tão útil quanto está
sendo neste momento. — Eu dei a ela um sorriso sem dentes.
— Na verdade, você está sendo tão prestativa que talvez eu
tenha que recompensá-la por sua ajuda em um futuro próximo.
Desta vez, seu sorriso era perverso.
— Imagina. Para que serve a família?
Um rosnado nasceu na minha garganta.
— Parker, querida, esse barulho é muito pouco feminino.
— Mamãe balançou a cabeça. — Agora, você estava dizendo...
O chão estava tremendo? Ou eram apenas meus joelhos
trêmulos? Se meus pais descobrissem que eu estava usando meu
fundo fiduciário para pagar um homem para fingir que
namorava comigo, eles ficariam mortificados. Mortificados e
tão, tão decepcionados. O ar começou a ficar um pouco
rarefeito.
— Está quente aqui?
Os lábios de Easton tremeram.
— Do lado de fora, no gramado?
Ah, merda.
Pisquei surpresa, percebendo que havia xingado na minha
cabeça.
Eu não conseguia me lembrar da última vez que xinguei na
minha cabeça.
Esperei que a voz de minha mãe se infiltrasse, para me fazer
sentir culpada por usar palavrões, mas foi substituída pela
imagem dela descobrindo que contratei um acompanhante.
Merda!
Rhys estava certo. Isso era bom. “Carambolas”
simplesmente não aliviava os sentimentos de frustração da
mesma forma que um palavrão fazia. E vamos encarar... Eu
estava na merda.
Merda, merda, merda, merda, merda, merda.
— Merda.
— Parker Brown — mamãe sibilou. — Olha o linguajar.
A essa altura, Easton estava rindo tanto que eu teria jurado
que ela estava bêbada.
Com as bochechas vermelhas, lancei um olhar de desculpas
para minha mãe.
— Desculpa. É só que...
— É só o quê? — Papai avançou para segurar minha
bochecha.
A preocupação em seus olhos escuros me fez me odiar ainda
mais.
— Amendoim, o que está acontecendo aqui?
Olhando nos olhos do meu pai, enrolei minha mão em
torno de seu pulso e dei-lhe um sorriso trêmulo.
— Eu apenas pensei que teria mais tempo para me ajustar a
estar em um relacionamento de novo, antes de apresentar Rhys
a todos vocês. — A mentira tropeçou da minha língua, cada
palavra me deixando cada vez mais enjoada.
Esse sentimento foi agravado pelo alívio que vi no rosto de
meu pai.
— Amendoim, estou feliz em te ver seguindo em frente. Se
você precisar de um pouco mais de espaço, podemos fazer isso.
— É claro. — Mamãe apertou meu braço, dando-me um
pequeno sorriso. — Não sei como podemos lhe dar muito
espaço agora, já que estamos todos na mesma festa, mas
prometo não insistir em um jantar em família com Rhys ainda.
Rhys. — Ela sorriu para meu pai. — Esse é um nome forte, você
não acha?
Papai devolveu o sorriso e então se concentrou em mim
novamente. Ele passou o dedo na minha bochecha antes de me
soltar.
— Tudo o que sei é que ele deve ser algo especial por ter
chamado a atenção da nossa Parker.
Não me surpreendeu que meus pais não se importaram que
Rhys não fosse da sociedade. Eles só se importavam em me ver
feliz de novo.
E era por isso que mentir para eles era tão terrível.
— Parker!
Sentindo-me exausta por minha autoflagelação mental, tive
que sorrir enquanto me virava para Jackson e Camille. Meu
chefe atravessava o gramado com sua noiva, e eles não estavam
sozinhos. Uma mulher mais ou menos da minha altura, um
pouco mais curvilínea, trajando um vestido branco de verão de
corte conservador os acompanhava. Seu cabelo escuro
brilhante estava penteado em um imaculado coque e quando
ela levantou o braço para tomar um gole de champanhe, a luz
do sol brilhou em seu bracelete de diamantes. Seu rosto era
estranhamente atemporal, seja por causa de uma genética
invejável ou pela melhor cirurgia plástica que já vi. Ela podia ter
entre 35 e 50 anos e você não saberia, a menos que perguntasse.
No entanto, como seu rosto também era familiar, eu sabia
que ela tinha quarenta e sete anos.
Ela era Diana Crichton Jones. Bilionária. Seu avô abriu uma
empresa de gestão de ativos em meados da década de 40. Seu pai
então a administrava e, quando ele morreu, Diana tinha vinte e
três anos. As pessoas zombaram quando ela assumiu o cargo de
CEO.
No entanto, Diana provou ser a melhor coisa que já
aconteceu à Crichton Investimento e Pesquisas. Eles agora têm
mais de 2 trilhões de dólares em ativos sob gestão. Além disso,
ela tinha investimentos privados que elevavam sua fortuna
pessoal a um número assombroso.
Eu sabia de tudo isso porque ela era uma mulher muito
impressionante e era difícil não ter ouvido falar dela enquanto
crescia na sociedade.
No entanto, eu nunca a havia conhecido.
Até agora.
Momentaneamente distraída com o desastre que se
desenrolava entre mim e minha família, apertei a mão de Diana
quando Jackson a apresentou e, em seguida, apresentei minha
família a meu chefe, sua noiva e a bilionária um tanto
inspiradora.
Meu pai, com seus instintos astutos de sempre, parecia
sentir que Jackson havia trazido Diana por um motivo. Ele
tocou a parte inferior das costas da minha mãe.
— Por que não pegamos outra bebida?
Mamãe assentiu e deu um pequeno aceno para meu chefe
enquanto permitia que papai a levasse embora.
— Eu... vou com eles. — Easton me lançou outro sorriso
atrevido antes de correr atrás dos meus pais.
Relaxando um pouco por escapar dos olhares atentos, virei-
me para Jackson.
Eu reconheci a luz em seus olhos como entusiasmo. Foi a
mesma luz que eu vi quando ele percebeu o quão significativas
seriam as mudanças que sugeri no modelo de previsão.
— Parker, não sei se você sabe, mas Diana está muito
interessada no futuro da energia renovável, e eu estava dizendo
a ela que você tem sido um trunfo para nossa equipe.
Havia algo enfático em seu tom que eu não entendi muito
bem, mas sorri de qualquer maneira, satisfeita com seu elogio.
— Obrigada, Jackson. — Virei-me para Diana, sentindo-me
um pouco nervosa em sua presença. Ela tinha olhos cinza de
aço que pareciam olhar através de você. — Você está
interessada em energia renovável?
— Muito. Estou interessada em qualquer coisa que seja
importante para o nosso futuro. — Diana deu um passo na
minha direção, inclinando a cabeça ligeiramente enquanto me
inspecionava. — Até agora não encontrei tantas mulheres em
seu campo. Não que não existam. É apenas muito dominado
por homens.
— Engenharia tende a ser. — Dei de ombros como se
dissesse: “O que se pode fazer?”
— Verdade. Eu estava dizendo a Jackson que estou
procurando investir em uma empresa de energia renovável, mas
sou muito cautelosa sobre onde coloco meu dinheiro e minha
própria energia. — Ela me deu um sorriso frio. — Não gosto
de empresas dominadas por homens. Eu gosto de
diversificação. Eu gosto de paixão. Gosto de saber que uma
empresa contrata os melhores porque são os melhores e não
porque têm pau.
Piscando com sua linguagem franca, senti uma bolha de riso
em meus lábios enquanto desejava que Rhys estivesse aqui. Ele
gostaria de sua maneira direta.
Desta vez eu pisquei porque, uau.
Quando Rhys passou a fazer parte das minhas equações?
— Quase ignorei Horus quando vi que não havia mulheres
em sua lista. Mas então você apareceu e não só isso, de acordo
com Jackson aqui, você apareceu de forma impressionante.
Não há outras empresas usando um modelo como o seu. É por
isso que você está ganhando força no exterior.
Eu balancei a cabeça, sabendo de tudo isso, mas me
perguntando onde Diana queria chegar.
— Tenho uma verdadeira paixão pela energia limpa, Parker.
Emocionada ao ouvir isso, meu nervosismo se dissipou e me
peguei conversando com Diana Crichton Jones sobre nosso
modelo, sobre a necessidade urgente que tínhamos como
mundo, não apenas nação, de introduzir a infraestrutura certa
para instituir veículos somente elétricos, sobre corrupção,
sobre a verdadeira eficácia da energia eólica, painéis solares... até
conversamos sobre minha pequena bicicleta híbrida. Ela estava
pensando em comprar uma.
Diana. Crichton. Jones.
Se eu pudesse converter um bilionário de cada vez neste país
para a causa verde, eu poderia salvar o planeta.
Ok, isso foi melodramático, mas era emocionante!
— Você estava certo. — Diana sorriu para Jackson, que eu
quase esqueci que estava lá com Camille. — Parker é tudo o
que você disse que era.
Jackson sorriu.
— Sim, ela é.
Diana ficou séria.
— Estou interessada. Deixe isso comigo.
Meu chefe também ficou sério.
— Excelente. — Ele ergueu o copo para ela.
Ela acenou com a cabeça para ele, depois para Camille, e
então se virou para apertar minha mão.
— Foi um prazer conhecê-la, Parker. Espero que possamos
nos falar novamente em breve.
— Sim. — Eu estava desconfiada sobre o que havia
acontecido entre ela e meu chefe, e essas suspeitas significavam
que eu esperava falar com ela novamente em breve também. —
Eu gostaria disso.
Com isso, ela foi embora, cruzando o gramado para parar ao
lado de um cavalheiro alto e distinto que deslizou o braço em
volta de sua cintura e se inclinou para sussurrar intimamente
em seu ouvido. Eu me virei para Jackson.
— O que foi isso?
Jackson estava sorrindo de orelha a orelha.
— Fiquei feliz por ter contratado você quando fez essas
mudanças no modelo. Agora, eu agradeço pra caralho por ter
te contratado, Parker.
Camille riu ao seu lado enquanto meus olhos se arregalavam
com seu efusivo xingamento.
— Eu não entendo.
— Você entenderá, eu espero. Muito em breve.
Suspeitas se formaram na minha cabeça, um pequeno
vislumbre no fundo da minha consciência que se agarrou à
esperança de que Jackson estivesse trabalhando para substituir
Fairchild. Ele poderia estar apenas tentando trazer um novo
investidor para ficar junto de Fairchild, então não fazia sentido
criar esperanças.
Mas era difícil para uma garota não sonhar.

Jackson e Camille se afastaram, deixando-me especulando


sobre nossa interação com Diana. Procurei Rhys pelo gramado.
Ele não estava mais lá com Fairchild. Felizmente, também não
vi meus pais.
Ou talvez não tão felizmente.
A ansiedade tomou conta de mim com a ideia de que eles
poderiam ter caçado Rhys e o estavam “interrogando”.
Correndo pelo gramado de volta para casa, o alívio me inundou
quando vi Rhys saindo. Eu sabia que ele estava esperando por
mim pela maneira como caminhava deliberadamente na minha
direção.
— Sinto muito — eu disse, um pouco sem fôlego. — Acabei
em uma conversa com Diana Crichton Jones, uma bilionária
apaixonada por energia limpa. Acho que a convenci a comprar
uma bicicleta elétrica híbrida. Você pode acreditar nisso? Diana
Crichton Jones em uma bicicleta elétrica.
Os lábios de Rhys se contraíram enquanto ele estudava meu
rosto.
— Converter as pessoas para a causa verde realmente te
excita, hein?
Dei de ombros, olhando para a festa atrás de mim.
— É mais divertido do que falar sobre babás terríveis,
investimentos e onde pretendo passar as férias de verão. — Eu
me virei para ele. — Para sua informação, pretendo passar as
férias de verão em Boston. E por “férias” quero dizer trabalhar
como 99% do resto da população do mundo precisa fazer.
Ele sorriu.
— Sua família não tira férias de verão?
— Quando éramos crianças, passávamos a temporada em
nossa casa de férias em Cape Cod, mas minha mãe e meu pai só
passavam duas semanas inteiras com Easton e eu. Ambos
trabalhavam. A irmã da minha mãe, tia Debbie, é escritora,
então ela cuidava de nós o resto do tempo. Mamãe e papai
voavam para Cape nos fins de semana e depois voltavam para
Nova York, na segunda-feira. Era muito. Eu não percebia isso
na época, mas eles fizeram o que podiam para estar lá para nós.
— Eles poderiam ter mantido você em Nova York com eles.
— Sim, poderiam. Mas o verão em Nova York pode ser
miserável, e nossa casa de Cape fica bem na praia. Eu adorava
nossos verões lá. Até que conheci Theo e implorei aos meus
pais que me deixassem ficar em Nova York para que eu pudesse
passar o verão com ele. E cederam.
— Falando na sua família, como foi?
Lembrando das mentiras que contei aos meus pais,
empalideci, desviando o olhar.
— Foi.
Houve um silêncio tão pesado de Rhys que atraiu meu olhar
para ele. Um músculo flexionou em sua mandíbula e seus olhos
estavam vazios.
— Eles estão irritados por você estar namorando alguém
como eu.
Por que ele pensaria isso?
Abrindo minha boca para negar, fui interrompida por:
— Rhys! Aí está você.
Fairchild.
Algo sombrio cintilou no rosto de Rhys antes que ele se
virasse para o chefe do meu chefe com um sorriso tenso. Meus
olhos vagaram pela expressão determinada de Fairchild, e
estremeci com a dureza em seu olhar.
Rhys se moveu para perto de mim, deslizando o braço em
volta da minha cintura e me puxando para o seu lado.
— Para onde você foi? — Fairchild parou na nossa frente.
— Em um minuto você estava lá, no outro, puf. — Meu chefe
me lançou um olhar. — Não há dúvidas de quem é a culpa.
Parece que você não consegue tirar as mãos dessa aí, Morgan.
Eu fiquei tensa contra Rhys e o senti apertar meu quadril
em reafirmação.
— O que posso fazer para você? — Rhys soltou, e não havia
como esconder sua impaciência.
Preocupada, eu olhei para ele para avaliar sua expressão, e ele
estava olhando fixamente para Fairchild.
Fairchild estreitou os olhos ao ouvir o tom de Rhys.
— Bem, para começar, podemos terminar nossa conversa.
Agora, estou feliz em dar uma olhada naquela sua academia,
mas ficaria ainda mais feliz em fazer isso se você apenas me
ouvisse.
Sentindo o aperto de Rhys em meu quadril começar a
machucar, minha preocupação aumentou.
— Rhys, o que está acontecendo?
— Ou talvez Parker possa convencê-lo, já que ela parece
estar mantendo suas bolas cativas.
Respirei fundo com o insulto de Fairchild.
Rhys deu um passo à frente agitado.
Eu o puxei para trás, sem entender o que estava acontecendo
aqui.
— Rhys?
— Estou tentando organizar uma luta privada para o seu
namorado, Parker, e isso vai render muito dinheiro para ele. —
Fairchild olhou de mim para Rhys e depois de volta para mim.
— Talvez você possa convencê-lo a não ser tolo e aceitar este
convite.
Com isso, o verme voltou para a festa no jardim, e eu assisti
em um silêncio atordoado antes de me virar para Rhys.
Evitando meu olhar, ele marchou em direção à casa.
Mas o que...
Correndo atrás dele, eu o alcancei no hall de entrada.
— Rhys! — Agarrei seu pulso, fazendo-o parar. Ele olhou
para mim de uma forma que antes eu teria achado intimidante,
mas agora só achava enlouquecedor. — Onde você está indo?
O que está acontecendo?
Ele deu uma olhada em um garçom que passava e então
tirou minha mão de seu pulso. Ele então apertou minha mão
na dele, e eu pude sentir sua raiva enquanto me puxava para
seguí-lo. Nós cortamos um corredor que claramente não era
liberado aos convidados, e Rhys abriu uma porta. Ele me guiou
para entrar primeiro, e eu tropecei para dentro da sala, ouvindo
a porta fechar atrás dele.
Estávamos no que eu só poderia presumir ser uma sala de
TV que dava para a frente da casa. Havia dois degraus curtos
que conduziam a um nível inferior, onde um enorme sofá de
sete lugares estava colocado diretamente na frente de uma tela.
Nas prateleiras ao nosso lado havia um projetor moderno junto
com prateleiras e prateleiras de DVDs.
— Por que estamos aqui? — Eu me virei para encará-lo. —
Fairchild...
— Quer que eu lute. Sim.
— Em troca de ajudar você com a academia?
Ele cruzou os braços sobre o peito, a expressão sombria, mas
distante. Ele não respondeu.
De repente, tudo fez sentido.
— Este era o seu plano? Desde o momento em que
conheceu Fairchild?
— Minha academia está com problemas. Era uma
oportunidade.
Por alguma razão, isso doeu.
— Eu entendo.
— Entende?
Seu semblante, embora ainda nublado, não estava mais
distante. Na verdade, seus olhos verdes estavam queimando de
uma forma que eu reconhecia. Um arrepio percorreu minha
espinha.
Este era do tipo bom.
— Rhys — eu sussurrei —, até onde você está disposto a ir
para salvar a academia do seu pai? — Dei um passo em direção
a ele e coloquei uma mão hesitante em seu peito duro. Seu
coração estava batendo forte. — Não faça isso. Não vale a pena
pelo que vai te custar.
Nossos olhos se encontraram e não se desviaram, um
silêncio pesado caiu entre nós. Minha respiração ficou
superficial quando seus olhos mergulharam para minha boca,
descansando lá enquanto ele dizia:
— E você? E o que você está disposta a fazer para
impressionar Fairchild e as pessoas que puxam o saco dele? Por
que diabos você se importa com o que essas pessoas pensam?
Confusa com a mudança de assunto, dei um passo para trás,
abaixando minha mão, mas Rhys pegou meu pulso e me puxou
contra ele. Soltei um pequeno suspiro, uma mão caindo contra
seu abdômen enquanto ele mantinha a outra presa contra seu
peito.
— Rhys?
— Por quê? — ele rosnou.
Eu não entendia por que eu era o objeto da sua raiva. Não
que ele estivesse transferindo sua frustração com Fairchild para
mim; percebi que Rhys estava visivelmente irritado comigo
desde o momento em que chegamos. O que era mais alarmante,
entretanto, era a corrente de calor sexual que acompanhava
aquele aborrecimento.
Eu não entendia.
Rhys ficava me dizendo que isso era apenas um trabalho
para ele.
No entanto, ele estava olhando para mim agora como se
quisesse me devorar.
— Rhys?
— Por quê?
Meus nervos estavam tensos a essa altura e minha paciência
acabou.
— Eu não me importo com o que essas pessoas pensam!
— Para de falar merda!
Minha cabeça foi para trás em sua veemência.
— Não é merda.
Os olhos de Rhys se arregalaram levemente com meu
xingamento.
Desafiadora, agravada, excitada, confusa, eu tentei me
afastar novamente, mas seu outro braço envolveu minha
cintura, me aprisionando contra ele.
— Me solte.
— Por que você se importa com o que essas pessoas pensam?
— Eu não me importo com o que elas pensam! Eu me
importo com o que meus pais pensam!
Para minha total confusão, os lindos olhos de Rhys
escureceram com fúria. Seu aperto em mim aumentou, me
puxando para ficar na ponta dos pés, e ele inclinou a cabeça
para que nossos narizes quase se tocassem.
— Você tem trinta anos de idade, porra — ele fervia. —
Hora de acordar e começar a viver para si mesma.
— Ah, seu hipócrita...
Sua boca esmagou a minha e ele soltou meu pulso. Eu sabia
que deveria afastá-lo, parar um beijo que não tinha nada a ver
com o nosso fingimento, mas eu não queria. Eu amava o jeito
que ele beijava. Exigente e com fome. Ninguém nunca tinha
me beijado como Rhys. Minha pele estava quente por causa da
nossa animosidade inexplicável, mas agora estava queimando.
Eu agarrei seu corpo, tentando pressionar mais fundo, e Rhys
soltou um pequeno grunhido de frustração que retumbou
sensualmente na minha boca.
De repente, meus pés deixaram o chão, as mãos de Rhys sob
minhas axilas, me levantando enquanto continuava a me beijar.
Instintivamente, percebi que era desconfortável para ele se
curvar até mim, então passei meus braços em volta de seus
ombros, minhas pernas em volta de sua cintura e o senti
tropeçar contra a porta.
Uma de suas mãos deslizou sob meu vestido para segurar
minha bunda, enquanto a outra se encontrava a minha nuca.
Inacreditavelmente, o beijo ficou mais voraz. Tudo
desapareceu naquele momento. Tudo, menos Rhys, e como
meu corpo poderia caber no dele. Eu me encontrei balançando
meus quadris, e Rhys quebrou o beijo para murmurar contra
minha boca:
— Porra — antes de capturá-la novamente.
Eu estava ciente de que nos movemos enquanto nos
beijávamos, e alguns segundos depois, nossos lábios se
desconectaram quando algo macio atingiu minhas costas. Rhys
desceu sobre mim, não me dando chance de reagir ao fato de
que agora estava esparramada no sofá.
Seus quadris caíram entre os meus, e eu engasguei em sua
boca quando o senti empurrar entre minhas pernas. Ai, meu
Deus, ele estava duro. Um raio de calor desceu pela minha
espinha, e minhas coxas se fecharam em torno de seus quadris,
minhas unhas cravando em seus ombros para puxá-lo para mais
perto.
Seus lábios se afastaram da minha boca, sussurrando
calorosamente na minha pele, enquanto ele provava levemente
seu caminho na minha garganta. Sussurrei seu nome,
inclinando meus quadris, precisando sentir mais dele, e tremi
quando sua mão deslizou pela parte interna da minha coxa.
Meus olhos se abriram quando seus lábios seguiram um
caminho no meu peito, enquanto seus dedos deslizavam sob
minha calcinha. Dois dedos grossos de repente empurraram
para dentro de mim, e eu choraminguei e arqueei minhas costas
com seu toque. Seu aperto no meu quadril tornou-se dolorido,
e eu o ouvi murmurar com voz rouca:
— Tão apertada.
A cabeça de Rhys subiu, e eu peguei um lampejo de desejo
puro em seus olhos antes que ele esmagasse sua boca sobre a
minha novamente. Ele bebeu meus gemidos enquanto seus
dedos brincavam e me empurravam para o clímax. Eu nunca
tinha sentido nada parecido. Uma necessidade tão desesperada.
— Oh, Jesus Cristo, desculpa!
Nós congelamos com a voz inesperada, e Rhys levantou a
cabeça para encontrar meu olhar devastado.
Não!
Eu estava tão perto!
O músculo em sua mandíbula flexionou quando ele virou a
cabeça em direção à porta. Relutantemente, segui o exemplo e
vi minha irmã parada ali, os lábios tremendo com risadas, os
olhos desviados de nós.
Ai, meu Deus, alguém me mate agora.
— Uh, seu chefe e Fairchild estão te procurando. Vou dizer
a eles — o riso borbulhava em suas palavras — que você sairá
em alguns minutos.
A porta se fechou atrás dela e com ela um esguicho frio e
duro de realidade.
Eu vi isso no rosto de Rhys.
— Merda. — Ele se afastou de mim em todos os sentidos, e
meu corpo protestou contra o sentimento profundamente
vazio e insatisfeito. — Oh, porra.
Ferida pelo remorso cru em seu rosto quando ele saiu de
cima de mim, eu me esforcei para empurrar a bainha do meu
vestido para baixo. Baixei meu olhar enquanto balançava
minhas pernas para fora do sofá, incapaz de encontrar seus
olhos.
— Isso não deveria ter acontecido. Eu sinto muito. Eu
estava irritado com Fairchild e você estava agindo...
Ele parou quando olhei feio para ele.
— Agindo como o quê? — Eu disse.
Rhys me olhou com raiva.
— Não finja que não sabe como estava agindo.
— Eu não sei como eu estava agindo. Me esclareça. —
Levantei e cruzei os braços sobre o peito, sentindo a queimação
da luxúria insatisfeita aquecer meu temperamento.
— Você sabe como estava agindo. — Ele arrastou seu olhar
para baixo do meu corpo e de volta para cima de uma forma
que eu não gostei. — Mas você certamente esqueceu tudo
quando eu coloquei minhas mãos em você. Porra, amor, você
ficou tão quente, eu só segui o ritmo. Você é desse jeito com os
seus garotos da sociedade, ou o garoto pobre te deixa excitada?
A dor queimou no meu peito, uma dor tão profunda que
tropecei para trás, para longe dele, ignorando quando ele se
encolheu.
— Parker...
Eu levantei uma mão trêmula, olhando para ele com tanta
força que era uma maravilha que sua cabeça não explodiu com
o poder da minha mente raivosa. Na verdade, eu estava tão
furiosa e tão magoada que não conseguia falar. Eu passei por
ele, deslizando minhas mãos pelo meu vestido para alisá-lo,
antes de voltar minha atenção para pentear meu cabelo em
alguma aparência de ordem.
— Sininho...
Eu girei pouco antes de chegar à porta, não me importando
com o remorso que vi estampado em seu rosto.
— Vai se foder, Rhys.
Em vez da surpresa que pensei ver em seu rosto, vi outra
coisa. Um brilho de luz em seus olhos enquanto ele se movia
em direção aos degraus que o levariam até mim.
— Acho que nós dois sabemos que prefiro foder você.
Ignorando a emoção que passou por mim, eu me agarrei ao
que ele disse, ao escárnio em sua voz apenas alguns segundos
atrás.
— Para que você possa me adicionar a todos os emblemas
no seu cinto? Eu não sou um desafio. Eu não sou um oponente.
E eu... — Lágrimas estúpidas queimaram meus olhos que eu
tentei reprimir com determinação.
— Sininho... — Rhys fez menção de se mover em minha
direção.
— Não. — Baixei meu olhar para que ele não pudesse ver o
quanto me machucou. — Acabamos por aqui. Pagarei pelo
mês, mas acabou. — Lágrimas repelidas com sucesso, eu
levantei meu queixo, minha expressão plana. — Nenhum
trabalho vale alguém fazer você se sentir tão mal consigo
mesmo.
Ele fez uma careta.
— Sim, você está certa, não vale. O sujo falando da porra do
mal lavado.
A confusão momentaneamente subjugou minha raiva.
— O que...
— Mas nós temos um acordo, e você não vai sair dele. — Ele
caminhou em minha direção, e eu me preparei. Felizmente, ele
passou por mim para abrir a porta. — Vamos falar com seus
chefes, e tente não agir como se estivesse morrendo de vergonha
de me ter ao seu lado.
O quê?
— Rhys...
Passos soaram no corredor do lado de fora e minha irmã
apareceu.
— Uh, sério, se você não se apressar, Fairchild vai vir
procurar.
Suspirando de frustração, sentindo que estava perdendo
alguma coisa com Rhys, corri atrás da minha irmã e ouvi meu
falso namorado começar a andar atrás de nós.
— Meu cabelo está ok? — Sussurrei para minha irmã.
Ela sorriu para mim.
— Seu cabelo está bom.
Eu estava prestes a suspirar de alívio quando ela continuou:
— Mas sua boca está inchada.
Calor floresceu nas minhas bochechas quando toquei meus
lábios.
— Morgan, Parker, aí estão vocês! — A voz de Fairchild
ecoou pelo hall de entrada. Ele deu a Rhys um sorriso lascivo.
— Aquelas são salas familiares privadas, mas vou deixar para lá,
pois sei que você é um homem com apetite. Eu entendo isso.
Urgh.
Estremeci de repulsa e senti uma mão reconfortante na parte
inferior das minhas costas. Olhando por cima do ombro para
Rhys, eu queria me afastar. No entanto, o olhar infeliz em seu
rosto me parou. O homem era uma contradição. Eu estava
completamente desconcertada por ele.
Não importava o que ele disse, eu tinha que terminar este
negócio. Meus sentimentos... Bem, meus sentimentos agora
estavam envolvidos, e depois do que aconteceu entre nós, eu
sabia que este homem tinha o poder de me machucar.
Profundamente.
Não.
Este jogo tinha que acabar.
— Jackson e eu estávamos conversando e decidi convidar a
equipe Horus e seus parceiros para minha pousada em
Colorado Springs. Eu acho que — seu olhar perspicaz pousou
em Rhys — será uma boa maneira de nos unirmos como um
time. E para garantir que todos os membros da equipe sintam
que são uma engrenagem importante na máquina da Horus
Renewable Energy. Vou considerar qualquer membro da
equipe que não decidir participar deste evento como alguém
que não quer permanecer na Horus.
A mão de Rhys nas minhas costas pressionou mais fundo, e
eu engoli um uivo de frustração. As palavras de Fairchild de
antes voltaram para mim, palavras que eu tinha esquecido
quando as coisas esquentaram com Rhys.
"Talvez você possa convencê-lo a não ser tolo e aceitar este
convite."
Ai, meu Deus. Fairchild estava tão determinado a fazer Rhys
lutar que iria nos forçar a passar o fim de semana no Colorado
para que ele pudesse convencê-lo.
Meus olhos voaram para Jackson, que não parecia satisfeito
com nossa discussão atual.
— Então? — O olhar de Fairchild veio até mim.
Eu o odeio.
Eu nunca odiei ninguém além da pessoa que deixou Theo
na beira da estrada, mas naquele momento eu odiei Franklin
Fairchild.
Meu trabalho era importante o suficiente para levar Rhys a
fazer algo que eu sabia que o prejudicaria emocionalmente?
Mesmo depois da discussão horrível que tínhamos acabado
de ter, eu não conseguia fazer isso.
— Não sei se conseguimos...
— Nós estaremos lá — Rhys me cortou.
Meu olhar voou para o dele, mas ele estava o evitando
cuidadosamente.
— Bom. — Fairchild deu um tapinha no ombro de Rhys.
— Vou passar a Jackson os detalhes.
O idiota se afastou, feliz com suas maquinações perversas, e
assim que ele estava fora do alcance da voz, minha irmã disse:
— Por que sinto que estou perdendo alguma coisa?
Jackson e eu compartilhamos um olhar cansado.
Éramos apenas moscas apanhadas na rede de Fairchild.
Presos por seus caprichos.
Meu chefe voltou sua atenção para Rhys.
— Parece que você causou uma boa impressão em Franklin.
Sim, Jackson sabia exatamente do que se tratava essa viagem
de "união de time".
— Que sorte a minha — Rhys soltou.
Eu estremeci.
— Easton, Jackson, eu preciso falar com Rhys.
Minha irmã me lançou um olhar preocupado, sua diversão
anterior perdida agora que ela havia testemunhado a tensão
com Fairchild. No entanto, como Jackson, ela murmurou sua
concordância e eles nos deixaram sozinhos no hall.
— Você não tem que fazer isso — eu disse. — Meu trabalho
não vale a pena.
O olhar de Rhys se suavizou.
— Você é uma contradição, sabia disso, Sininho?
Uh, o que ele disse antes? O sujo falando do mal lavado.
— Como eu sou a contradição neste cenário?
Ele não respondeu. Sua expressão ficou tensa.
— Eu não deveria ter agido como agi ou dito o que disse.
Estou me desculpando. Não vai acontecer de novo. Agora,
você está me pagando para ajudá-la a manter este emprego,
então vamos para aquela pousada. Fairchild pode me
incomodar o quanto quiser enquanto estivermos lá sobre
entrar naquele ringue. Não significa que eu vou.
— Mas...
— Está tudo bem, ok? — Ele suspirou. Pesadamente. —
Podemos dar o fora daqui?
Sim. Embora eu não estivesse ansiosa para voltar para casa
com Rhys, eu realmente queria ir embora.
— Vamos.
Ele franziu a testa.
— Não vamos nos despedir dos seus pais?
Eu empalideci com o pensamento de ter que mentir
novamente na cara deles.
— Oh, não.
E assim, a expressão de Rhys fechou.
— Certo — ele murmurou, como se tivesse provado algo
ruim.
Confusa, não pude fazer nada além de segui-lo enquanto ele
saía da casa para pegar o carro.
Ele não disse uma palavra para mim durante todo o
caminho de volta para Boston.
Nem uma palavra.
Sua raiva em relação a mim era óbvia.
A razão para isso, nem tanto.
Minha irritação aumentou à medida que nos
aproximávamos da cidade.
E quando saí do carro dele, bati a porta com tanta força que
o carro estremeceu. Eu o ouvi xingando atrás do volante.
Sorrindo com um pequeno tipo de satisfação, corri para o
meu prédio. No entanto, minha satisfação morreu assim que
entrei no elevador e repassei as últimas horas.
As palavras de Easton de antes chegaram aos meus ouvidos.
— Por que eu sinto que estou perdendo alguma coisa? —
eu murmurei.
Rhys

Não havia nada pior do que ficar preso em um avião ao lado de


uma mulher determinada a te tratar com indiferença. Ah, eu
merecia. Não havia nenhuma dúvida. Sim, fiquei desapontado
com o claro horror de Parker por sua família pensar que ela
estava namorando comigo. Mas, em vez de resolver, em troca,
eu fui um idiota – um enorme, enorme idiota. Eu estava com
vergonha de mim mesmo.
O problema era que eu não conseguia realmente dizer o que
queria, não enquanto estava enfiado em um assento que era
cerca de dez vezes menor do que meu corpo e cercado por
dezenas de outros passageiros praticamente em cima de mim.
Eu conhecia Parker bem o suficiente para saber que ela ficaria
mortificada se eu falasse sobre sua vida pessoal na frente de
estranhos.
Então, eu esperei, o tempo todo, altamente consciente de
Parker ao meu lado. Consciente do cheiro dela – de rosas e
baunilha – do jeito que ela fazia aqueles barulhinhos constantes
de descontentamento. Estranhamente, soavam muito
parecidos com os ruídos que ela fazia quando me beijava, e eu
não sabia se isso era bom ou ruim. Independentemente disso, a
memória me deu uma ereção. O que era desconfortável pra
caralho.
Mantivemos um silêncio rígido durante todo o caminho até
Aspen e novamente no SUV alugado. Era enervante. Eu não
precisava falar com as pessoas. Eu não tinha problemas em ser
introspectivo. E, no entanto, aqui estava eu, precisando que
Parker falasse comigo. Eu sentia falta do ânimo dela. Sentia
falta da voz dela.
— Estamos quase chegando — eu disse a ela em uma triste
tentativa de iniciar uma conversa.
Ela murmurou baixinho – um som que poderia significar
qualquer coisa, desde “Sim, nós estamos” a “Vai se foder e
morra, Rhys”.
Contorcendo-me no assento, dirigi por uma estrada
particular que parecia se estender para sempre. Apesar da
tensão dentro do carro, o cenário externo era espetacular.
Montanhas escarpadas e cinza-escuras com picos cobertos de
neve se estendiam em direção a um céu azul claro. Entre os
pinheiros, os álamos perfuravam a paisagem com seus troncos
brancos fantasmagóricos e folhas douradas rendadas. Era tudo
tão lindo que transformava um idiota como eu em poeta. Eu
sorriria com isso, mas ainda havia o problema de Parker me
odiar.
Subimos uma pequena colina e a casa entrou no meu campo
de visão.
— Jesus — eu murmurei baixinho.
Parker se inclinou para frente.
— É bem impressionante.
A primeira frase real que ela pronunciava em pelo menos
três horas. Um absoluto presente. E ela não estava errada.
A pousada de Fairchild era uma mistura de fazenda
rebaixada, moderna de pedra, troncos e telhados pontiagudos.
A casa central se dividia em duas alas principais de cada lado. A
fumaça saía de seis chaminés enquanto a luz do sol refletia nas
amplas janelas panorâmicas. Era lindo.
A inveja nunca fez bem a ninguém. E, no entanto, naquele
momento, a senti como uma lavagem ácida em meu estômago.
Eu odiava que alguém desprezível como Fairchild fosse o dono
deste lugar e pudesse se retirar para cá sempre que quisesse. Se
houvesse alguma justiça no mundo, a casa de Fairchild refletiria
seu interior e estaríamos olhando para uma cela úmida e vazia
em vez dessa grandeza.
Engoli meu ódio amargo e inveja, e coloquei minha cara de
jogo.
O caminho levava direto para uma enorme porta da frente,
onde um jovem vestindo jeans escuros e um suéter estava
esperando. Tivemos que passar por três postos de controle de
segurança antes de chegar ao portão principal da casa, um
quilômetro e meio atrás. Aparentemente, em lugares como
este, os ricos possuíam montanhas inteiras e não
compartilhavam.
O cara trotou e abriu a porta para Parker. Outro manobrista
veio me cumprimentar e pegar minhas chaves. Se eu não
soubesse que essa era uma residência particular, pensaria que
chegamos a um resort. Era grande o suficiente.
— Sr. Morgan, Srta. Brown — disse o Sr. Suéter. — Sou
Andrew, o recepcionista da casa do Sr. e da Sra. Fairchild.
Recepcionista da casa? Quem adivinharia?
— Como os convidados ainda estão chegando. — Ele
sorriu, tenso como um tambor. — Vou acompanhá-los ao seu
quarto e acomodá-los antes das bebidas começarem no terraço
às cinco. Vocês gostariam de um coquetel de cidra quente
enquanto caminhamos?
Um garçom com a mesma combinação de suéter e jeans –
que aparentemente era algum tipo de uniforme bizarro –
apareceu com uma bandeja contendo duas canecas de vidro
fumegantes. Quase ri, mas não queria magoá-los. Jesus, se eu
tivesse que atender Fairchild e seus amigos, eu gostaria de lançar
uma dessas canecas no rosto mais próximo.
Ao meu lado, Parker deu o que eu agora chamava de sorriso
educado para o público. Eu odiava aquele sorriso.
— Se pudéssemos ir para o quarto, seria maravilhoso,
obrigada.
Pelo menos estávamos na mesma página quando se tratava
das bebidas.
— Claro — disse Andrew. — Por aqui.
A casa era tão bonita quanto o esperado. Isto é, se você
ignorasse os gostos de decoração de Fairchild. Entramos em um
grande salão com uma parede de janelas com vista para o vale e
duas enormes lareiras de pedra de cada lado da sala. Duas
armaduras segurando lanças flanqueavam a entrada. Eu me
abstive de revirar os olhos.
Cada parede tinha armas e tapeçarias, e mais armaduras
guardavam os salões, como se estivéssemos em um castelo na
Inglaterra em vez de um resort no Colorado.
Andrew tagarelava sobre o lago, as piscinas internas e
externas aquecidas, caminhadas pela natureza, sala de cinema...
O ignorei e observei Parker. Eu não conseguia evitar. Ela estava
vestindo jeans, e eles abraçavam sua bunda como uma segunda
pele.
Pensamentos espontâneos me invadiram. A boca de Parker
devorando a minha. Parker arqueando as costas, abrindo as
coxas. Parker gemendo meu nome quando deslizei um dedo
dentro dela. Deus, ela era apertada pra caramba. Molhada.
Quente.
Não. Não siga esse caminho. Agora não.
Andrew nos levou para o nosso quarto. No que diz respeito
aos quartos de hóspedes, era o mais bonito em que já estive.
Como o resto da casa, era um quarto de pedra áspera e madeiras
escuras. Ficamos em um quarto de canto com duas paredes de
janelas com painéis e um conjunto de portas que davam para
um amplo terraço de pedra. Uma grande cama de dossel de
ferro dominava o outro lado. Eu mantive meus olhos longe
dela.
Eu sabia que Parker temia ficar ali comigo. Era evidente em
cada linha tensa e infeliz do seu corpo. Ela ficou de lado,
olhando pelas janelas enquanto Andrew explicava como
funcionava a lareira, as cortinas elétricas, onde o frigobar ficava
escondido. Quando ele começou a falar sobre que tipo de
sabonete nosso banheiro tinha, eu o interrompi.
— Acho que entendemos a essência. Estamos bem agora. —
Fiz um gesto em direção à porta em um sinal inconfundível de
“cai fora”.
— Claro — disse ele, endireitando seu suéter – aquele com
folhas de álamo entrelaçadas nos fios. Pobre rapaz.
— Obrigado, cara — eu disse mais calmo. Mas assim que ele
saiu, deixei meus ombros caírem e me encostei na porta para
olhar para Parker. Ela não se moveu de onde estava perto das
janelas.
O remorso cortou minhas entranhas com lâminas afiadas.
— Parker...
— Pelo menos é uma cama king-size. — Ela não olhou para
a cama, no entanto. Ela manteve os olhos longe de todo o
quarto. — Eu estava esperando encontrar um pequeno sofá de
dois lugares, mas acho que não consigo me aconchegar nessas
poltronas. Eu sou pequena, mas não tão pequena assim.
Havia duas cadeiras colocadas perto das portas francesas. Ela
pensou em dormir nelas. Não importava que ela tivesse
vergonha que eu conhecesse sua família; eu me tornei algo
mesquinho e pequeno quando ataquei e fiz ela se sentir dessa
forma. Quanto a mim, eu me sentia com cerca de cinco
centímetros de altura.
— Parker — eu disse novamente, desta vez sentando no
banco ao pé da cama para que pudéssemos ficar cara a cara. —
Eu sinto muito. Tudo bem?
Seu olhar ficou desfocado quando ela assentiu.
— Está bem. Coisas foram ditas...
— Não. — Peguei a mão dela e a achei fria. Inaceitável.
Segurando-a entre as minhas, suavizei minha voz o melhor que
pude. — Eu fui um fil... um idiota. Eu não deveria ter dito
aquelas coisas, fazendo você se sentir barata. Não era verdade e
eu não quis dizer aquilo. Eu fui um c... Foi errado fazer isso.
Os lábios de Parker tremeram com um sorriso.
— Estou imaginando coisas ou você está tentando se abster
de xingar?
— Sim, bem... — Eu esfreguei a parte de trás do meu
pescoço tenso, mas segurei a mão dela com a minha outra mão.
— Parecia uma boa maneira de mostrar minha sinceridade e
respeito pela situação.
Seu sorriso finalmente floresceu, e juro que foi como o sol
saindo de trás das nuvens. Droga. Eu estava em uma bagunça
maldita.
— Logo quando eu finalmente comecei a xingar, você vai e
para.
Era bom sorrir.
— Bem, isso é diferente. — Eu a puxei um pouco mais para
perto. — Você se soltando e xingando é sexy para ca... caramba.
Sua risada brilhou sobre minha pele e tirou um peso do meu
coração.
— Caramba, hein?
— Caramba, sim.
Rindo baixinho, seu olhar colidiu com o meu. Calor
floresceu sob minha pele, e eu puxei uma respiração instável.
Deus, eu queria segurar seus quadris magros, mas curvilíneos,
segurar sua bela bunda e apertá-la.
Não. Eu não poderia fazer isso. Tínhamos uma química
inegável, mas nunca daríamos certo no mundo real. Não
quando ela não conseguia nem me apresentar à sua família sem
parecer que estava prestes a vomitar.
Meu sorriso morreu, enquanto a realidade afundava como
uma pedra em meu estômago. Nós não tínhamos futuro, mas
éramos parceiros, e eu a havia prejudicado de várias maneiras.
— Eu não deveria ter agarrado você como eu fiz. Eu me
arrependo disso acima de tudo.
Uma ruga surgiu entre suas sobrancelhas.
— Deixe eu ver se entendi direito. Você se arrepende... de
ter tornado as coisas físicas comigo?
Isso parecia uma armadilha. Meus instintos gritavam que
era definitivamente uma armadilha.
— Sim?
Seus olhos se estreitaram.
— Isso é uma resposta ou uma pergunta?
Sim, definitivamente uma armadilha. Descansando meus
antebraços nas coxas, tentei pensar em uma maneira de me
explicar sem cavar um buraco mais fundo.
— Sou um cara grande com muita força. Não pedi
permissão, não tratei de você com cuidado. Eu só... tomei.
Ela murmurava baixinho. Eu não tinha ideia do que isso
significava, então continuei, ciente de que provavelmente
estava entrando na armadilha.
— Eu não deveria ter tratado você com força.
Parker se virou e voltou para seu posto perto da janela. A luz
da tarde se inclinava e coloria sua pele de bronze. Eu não
poderia dizer se ela estava chateada, grata, desapontada ou
outra coisa. Ela se desligou completamente.
Eu teria admirado sua cara inexpressiva se não estivesse
sendo usada contra mim. Levantei-me e esfreguei meu pescoço.
— Foi especialmente errado, considerando que somos
apenas... — Eu não conseguia encontrar as palavras, no
entanto. Minha boca se recusava a falar.
Parker olhou para mim, suas sobrancelhas em uma linha
feroz.
— Apenas o quê?
A lembrança de seu rosto pálido quando ela disse a seus pais
que eu era seu namorado passou pela minha mente, e as
palavras saíram de mim.
— Negócios. Somos apenas parceiros de negócios, Parker.
Ela fez um som, não exatamente um bufo, mas próximo,
então inclinou a cabeça para trás para piscar para o teto. Por um
segundo horrível, pensei que ela fosse chorar. Mas então ela riu
com uma amargura que me surpreendeu.
— Você quer ouvir algo engraçado?
Ela parecia tão monótona e distante que eu não tinha certeza
se ela estava perguntando. Eu não consegui responder antes
que ela olhasse para mim novamente, aqueles profundos olhos
castanhos perfurando meu peito.
— Você ter me beijado, eu ter te beijado, o jeito que você me
tocou no sofá, essa foi a minha parte favorita de todo aquele dia
horrível.
O chão se inclinou sob meus pés enquanto o calor subia
pelas minhas costas.
— Parker...
— Eu estou atraída por você — ela continuou, como se eu
não tivesse dito uma palavra, seu tom ficando mais forte. —
Apesar de tudo, me encontro desejando você. Tenho medo de
dormir nessa cama com você porque acho extremamente difícil
manter minhas mãos para mim mesma.
Puta merda. Meus joelhos ficaram fracos, meu pau duro
como uma pedra.
— O que é realmente... péssimo — ela disse, ficando um
pouco selvagem e estridente. — Porque você continua jogando
a verdade na minha cara. Que não passamos de um acordo, um
meio monetário para um fim, para nós dois. E eu me sinto... —
Ela olhou em volta freneticamente como se procurasse a
palavra, e então ela explodiu. — Estúpida. Estúpida pra
caralho!
Deus, ela era corajosa. Magnífica. Minha garota corajosa e
linda.
Eu tinha que abraçá-la. Eu precisava disso. Fiz um
movimento para ir até ela, mas ela ergueu a mão.
— Não. Você não pode me tocar agora. — Era um rosnado
de raiva. — Não quando você deixou claro como me vê. Não
depois de você ter sido um completo cretino.
Ela se deleitava ao xingar, como se ganhasse poder com isso.
Eu amei. Observá-la brigando comigo deveria ter me deixado
com uma sensação de punição, mas me inflamou. Eu era o
sortudo que estava conseguindo vê-la florescer.
Lentamente, eu avancei, levantando minhas mãos em sinal
de rendição. Porque eu estava. Eu estava rendido a ela, porra.
Eu era dela para fazer o que quisesse.
— Eu não vou te tocar — eu prometi quando ela ficou
rígida. — Mas vamos esclarecer algumas coisas. Eu disse aquela
merda estúpida de não sermos nada além de parceiros porque
pensei que era o que eu deveria dizer. Eu estava tentando ser
profissional e me manter sob controle.
Parei na frente dela, deixando-a ver todas as emoções que eu
tanto tentei esconder.
— Mas não há nada de controlado no que sinto por você,
Parker. Eu te quero tanto que dói. — Minhas mãos se fecharam
em punhos para que eu não a segurasse. — Penso na sua boca
mais do que deveria. Tudo sobre você me afeta. Você tem medo
dessa cama? Bem, eu também. Porque estar ao seu lado e não
poder tocá-la é uma tortura absoluta.
Parker engoliu em seco e seus lábios se separaram. Mas ela
franziu as sobrancelhas.
— É por isso que você está me afastando? Porque não faz
sentido; você estava completamente zangado comigo na festa.
Por um segundo, não quis responder. Eu não queria expor
essa insegurança. Mas ainda estava lá como um espinho me
cutucando. E isso nunca iria funcionar se eu não fosse honesto
com ela.
— Tudo bem, certo. Eu estava irritado. — Eu segurei seu
olhar. — Eu sabia o que você pensava de mim quando entrei
nesse acordo. Eu estava bem com isso porque era um trabalho.
Mas imaginei que sua opinião mudaria quando nos
conhecêssemos. A minha mudou. Mas a sua, claramente não.
Parker me olhou boquiaberta como se eu estivesse falando
outra língua. Mas então uma centelha de raiva iluminou seu
olhar.
— Como diabos você chegou a essa conclusão? Porque
devo dizer, Rhys, você está me irritando agora.
Sério? Eu bufei.
— Para com isso. Parecia que você ia vomitar nos seus
mocassins quando seus pais apareceram. Até antes disso.
Droga, você praticamente fugiu da amiga dos seus pais
também. Quando realmente importa ou está na frente de
alguém que você realmente gosta, tem vergonha de ser vista
comigo.
Ela não recuou. Eu daria esse crédito a ela. Suas mãos foram
para os quadris enquanto ela se posicionava.
— Eu não estava com vergonha de você! Eu não poderia me
sentir atraída por alguém que não respeitasse e não gostasse
como pessoa. Eu estava com vergonha de mentir para os meus
pais, seu completo e absoluto cabeça-dura!
Perplexo, dei um passo para trás como se ela tivesse acertado
um soco no meu queixo. Meus ouvidos estavam zumbindo.
— Você... ah... O quê?
Minha resposta brilhante só fez suas narinas dilatarem.
— Não tem nada a dizer agora, hein? — Ela balançou a
cabeça com outro bufo antes de partir para o ataque. — Minha
família significa tudo para mim. Você honestamente acreditou
que era fácil para mim mentir na cara deles?
— Mesmo com aquele breve encontro, percebi que eles
querem o melhor para você. Por que você não conta a verdade?
Você deve saber que eles vão te perdoar. — Eu queria dizer
mais, mas minha cabeça estava rodando. O fato de eu ter
entendido tudo errado, me deixou sem chão.
— Porque... — Ela ergueu os ombros em um gesto
impotente. — Então eu teria que admitir que paguei um
homem para ser meu namorado. E é mortificante demais só de
pensar. Desculpe se isso ofende sua delicada sensibilidade.
Delicada?
Meus lábios se contraíram quando a ternura tomou conta
de mim.
— Parker. — Estendi a mão para ela.
— Não... — ela disse, balançando a cabeça.
— Sim. — Gentilmente eu a puxei para frente e pressionei
suas palmas onde meu coração batia forte e rápido. — Parker,
eu sinto muito. Eu fui um idiota. Um cabeça-dura.
Seu olhar deslizou para o lado e um sorriso apareceu em seus
lábios. Ela não estava se afastando.
— Você esqueceu cuzão — disse ela.
— Você me chamou assim também? — Eu murmurei, o
calor se espalhando para fora, a necessidade por ela
aumentando. — Eu devo ter perdido.
— Na minha cabeça, eu chamei.
Eu sorri, e depois de uma breve fungada magoada, ela
também. Inclinei-me e dei um beijo em sua têmpora.
— Me desculpe por ter sido um cuzão, Sininho. Minha
única desculpa é que estou tão a fim de você que perdi todo o
meu bom senso.
Ela soltou um suspiro e encostou a testa no meu peito.
— Bem, como desculpa, suponho que posso aceitar essa.
Esfreguei a nuca dela com o polegar, aliviando a tensão ali.
— Tem certeza? Porque estou disposto a fazer algum
trabalho físico como recompensa. Oferecer uma massagem nas
costas, talvez.
Ela soltou uma risada e se derreteu em mim.
— Não vou me opor a isso.
Ficamos quietos e nos abraçamos. Eu não tinha ideia de que
seria tão bom simplesmente segurar uma mulher. Então, Parker
se mexeu.
— Eu não esperava por isso — disse ela.
— Nem eu. Você deveria ser uma mulher rica e esnobe de
moral fraca. — Eu ri quando Parker cutucou minha lateral, e
então a aconcheguei mais perto. — Não é uma ambientalista
linda e peculiar com excelente gosto em motocicletas.
— Meu gosto é excelente em tudo — disse ela. — E você
deveria ser um idiota grosseiro que estava atrás do dinheiro.
Além da coisa do dinheiro, ela não estava muito longe de
estar certa. Mas eu não era estúpido o suficiente para
mencionar isso. Em vez disso, acariciei seu cabelo, sentindo seu
cheiro.
— Só porque não planejamos, não significa que o torna
menos real, não é?
— Não, não significa. — Seus braços envolveram minha
cintura e parecia o paraíso.
— Eu não vou aceitar seu dinheiro — eu disse em seu cabelo
sedoso.
— Então ainda bem que nunca cheguei te pagar.
Rindo baixinho, eu me inclinei para trás o suficiente para
ver seu rosto. Ela sorriu para mim, um pouco hesitante, mas
não mais com raiva. Meus dedos traçaram a linha da sua
mandíbula.
— Eu não vou aceitar o dinheiro, mas vou ajudá-la. Ainda
somos parceiros. Mas agora, somos parceiros que gostam um
do outro.
Calor floresceu em seu rosto.
— Tudo bem.
Minha mão deslizou para sua bochecha.
— Você significa algo para mim, Parker. — Porque ela tinha
que entender isso, e eu não sabia como dizer de um jeito
melhor. — Eu quero conhecer você.
Suas pálpebras baixaram quando ela se inclinou para o meu
toque.
— Sabe qual é a coisa mais louca? Neste momento, você já
me conhece melhor do que quase todo mundo.
Inferno. Meu coração deu um baque forte e minha garganta
se fechou.
— Você também — eu murmurei, deslizando a mão em sua
nuca.
Antes, quando eu a beijava, havia uma névoa induzida pela
luxúria ou sob o disfarce de estarmos praticando. Agora era
apenas nós. Sem besteiras. Apenas necessidade.
Meus lábios acariciaram os de Parker, bebendo seu suspiro.
Eu a explorei com golpes lentos, deslizes suaves. Quando seus
lábios se separaram, deslizei minha língua para prová-la. A
sensação da sua boca enviou uma lambida de prazer quente
através de mim.
Abaixando-me ainda mais, eu a peguei e a levantei contra
mim. Parker era pequena e perfeita. Nosso beijo se tornou mais
profundo e mais forte. O senti em todos os lugares, na parte de
trás dos meus joelhos, no meu coração que batia mais rápido.
Seus beijos me deixavam fraco, me faziam querer de uma forma
que era igualmente aterrorizante e emocionante.
Eu cambaleei para trás, minha bunda batendo no banco,
Parker esparramada sobre mim. Ela riu na minha boca. O som
me iluminou. Eu sorri de volta e mordi seu lábio.
— Você é maravilhosa — eu disse, as mãos deslizando em
seu cabelo.
Ela riu disso, um som rouco. Ela também estava explorando,
passando as palmas das mãos pelos meus ombros, descendo
pelos meus braços.
— Você é magnífico. Eu poderia tocá-lo por horas.
— Eu gosto desse plano. — Meus lábios percorreram seu
pescoço. — Porra, eu amo esse plano.
Eu nunca tinha feito isso – rido e provocado enquanto
beijava uma mulher. Isso me atingiu como um soco, que eu
nunca tinha ficado apenas beijando uma mulher. Sempre
íamos direto para o evento principal. Com Parker, eu poderia
beijá-la o dia todo, chupar a curva perfumada do seu pescoço e
ainda assim seria puro êxtase.
Calor tomou conta de mim, e eu encontrei sua boca
novamente. Nosso beijo foi mais dessa vez. Um pouco
frenético. Um pouco selvagem. O mundo derreteu. Havia
apenas ela. E mais. E agora. E ai, porra sim, bem ali.
Era tão bom, tão quente, que quando o som choroso da voz
de um homem no quarto finalmente foi registrado, eu quase
morri de susto. Puxei Parker para o lado, como se pudesse
protegê-la, e olhei em volta com raiva.
Mas estávamos sozinhos.
— Sr. Morgan? — a voz disse novamente. Andrew. — Srta.
Brown?
— Tem um telefone interno — disse Parker, apontando
para o ponto ao lado do frigobar em uma alcova. — Ele está
usando um interfone.
Este maldito lugar.
Minha tensão aliviou um pouco, mas soltei um bufo
irritado.
— É melhor o filho da puta não estar espionando —
murmurei antes de me levantar e, carregando uma Parker que
guinchava comigo, fui até o telefone para apertar o botão de
conversa. — Sim?
— Uh... — Andrew fez uma pausa, inquieto, eu acho, pelo
meu tom. Grande merda. Eu o deixaria muito mais inquieto se
descobrisse que alguém poderia nos ouvir através deste sistema.
— As bebidas estão sendo servidas na sala de estar agora.
Uma convocação, então.
— Obrigado — eu disse. — Tchau, Andrew.
— Oh... ah... Adeus, Sr. Morgan.
Assim que ficou em silêncio, Parker riu, inclinando a cabeça
na cavidade do meu ombro. Eu gostei dela lá.
— Ele me matou de susto — disse ela.
Um sorriso relutante surgiu nos meus lábios.
— Sim, eu também. Achei que ele estava no quarto.
Nós dois rimos, uma liberação de tensão. Mas então Parker
recuou.
— Acho melhor irmos antes que ele apareça pessoalmente.
— Se ele vier até aqui, vou jogá-lo pela janela. — Eu grunhi
e enterrei meu rosto no pescoço dela, beijando
preguiçosamente ao longo da curva suave – porque eu podia.
Porque ela cheirava tão bem e sentí-la era ainda melhor. —
Foda-se. Vamos ficar aqui. Eles podem descobrir o porquê.
Ela estremeceu quando atingi um ponto particularmente
sensível, e fiquei satisfeito ao encontrá-la arqueando para mim.
Mas sua mão deslizou para o meu ombro e parou meu
progresso.
— Você sabe que Fairchild não vai desistir tão facilmente.
Com um suspiro, eu a coloquei no chão e passei a mão pelo
meu cabelo.
— Sim. Porra, eu odeio esse cara.
Parker arrumou seu suéter de caxemira rosa.
— Eu também. Mas é o que é.
— Pensei que eu fosse encantá-lo um pouco, não fazê-lo
correr atrás de mim igual um cachorrinho por causa do boxe.
Uma risada abafada escapou de Parker, e ela sorriu.
— Você deveria ter mais cuidado com esse charme, Morgan.
É muito potente.
Rindo, eu inclinei minha cabeça e a beijei.
— Vou guardar tudo para você de agora em diante. —
Quando ela cantarolou de satisfação, eu me afastei e encontrei
seu olhar. — Eu não sei como, mas um dia, quando você estiver
a salvo de retaliação, vou garantir que ele receba o que merece.
— Especificamente, um chute no traseiro.
Ela sorriu largamente com uma centelha de alegria maligna
que eu amava.
— Apenas certifique-se de que eu esteja lá para
testemunhar.
— Conte com isso, amor. — Eu beijei a ponta do seu nariz,
então estendi minha mão para ela. Ela pegou e algo dentro de
mim se encaixou.
Antes de sairmos do quarto, faço uma pausa. O sistema
telefônico fez um som agradável quando o arranquei da parede
e o quebrei em minha mão. Parker guinchou e riu.
— Rhys!
— Isso precisava ser feito. — Joguei o telefone de lado e
sorri. — Vamos.
Parker

Pela primeira vez, entrar em uma sala com Rhys segurando


minha mão não me fez sentir como uma fraude. Ou que a
qualquer momento alguém pularia, apontaria para nós e
gritaria: Aha! Parem aí, seus charlatães!
Não que alguém realmente falasse assim na vida real.
Ainda assim, apesar de estar presa na casa de Fairchild, eu
caminhava com leveza.
Rhys Morgan e eu agora éramos oficialmente uma coisa real.
Eu não sabia como isso tinha acontecido ou o que
aconteceria entre nós no futuro – eu só sabia que tinha que
explorar isso. Nossa química não poderia ser ignorada.
Sim, eu estava incrivelmente atraída por Rhys, mais do que
jamais me senti atraída por alguém, mas era mais do que isso.
Ele era um homem muito bom. Eu sentia que podia confiar
nele.
Isso era uma grande coisa para mim.
Ele foi o primeiro homem desde Theo que me fez sentir
corajosa o suficiente para me arriscar em algo real. A ideia de
me afastar nem passou pela minha cabeça. Eu provavelmente
deveria estar analisando demais isso e enlouquecendo, mas
felizmente, havia muito para me distrair.
Enquanto caminhávamos para a sala principal da casa do
Franklin Fairchild, a mão de Rhys apertou a minha por reflexo.
Alguns de meus colegas e seus parceiros estavam reunidos, com
bebidas na mão. Fairchild estava em frente à lareira
conversando com Jackson.
A casa dele era... interessante.
Uma enorme pintura renascentista estava pendurada acima
da enorme lareira de tijolos. Ao redor da lareira havia sofás e
cadeiras onde meus colegas se sentavam sob grandes
candelabros circulares de ferro forjado que continham velas
elétricas.
Estes não pareceriam deslocados em um salão de banquetes
medieval.
Uma tapeçaria pendurada na parede oposta; armaduras
estavam em vários cantos. Tudo isso distraía os convidados da
enorme janela panorâmica perpendicular à lareira que
capturava a deslumbrante paisagem coberta de neve.
Duas janelas menores de cada lado faziam um belo trabalho
emoldurando o cenário.
No entanto, aquela visão, aquela visão incrível, se perdeu na
decoração exagerada que dizia que Franklin Fairchild se via
como uma espécie de senhor feudal.
Assim que Rhys e eu cruzamos a soleira da sala, um garçom
se aproximou de nós.
— Bebidas, senhor? Senhora? — Ele apontou para um
pequeno bar escondido no canto mais distante.
— Sininho? — disse Rhys.
— Uh... Vou tomar uma cerveja.
— Faça disso duas.
— Exportada ou importada?
Apertei meus lábios para não rir com a expressão de Rhys.
Ele disfarçou o lampejo de incredulidade e respondeu:
— O que você recomendar.
— Engarrafada ou chope?
Rhys olhou para mim. Dei de ombros. Ele se virou para o
cara.
— Engarrafada está bom.
O garçom assentiu, foi até o bar onde outro garçom esperava
e voltou alguns segundos depois com duas garrafas abertas e
geladas de uma cerveja alemã da qual eu nunca tinha ouvido
falar.
— Jesus. — Rhys tomou um gole e olhou para mim. —
Pronta?
Não era eu quem Fairchild pretendia irritar como o inferno.
— Se eu estou pronta? Você está?
— Morgan, aí está você! — A voz de Fairchild ecoou pela
sala.
Rhys me deu um sorriso tenso.
— Tão pronto quanto poderei ficar.
Apertei sua mão para que ele soubesse que eu ficaria do lado
dele, e nós dois exalamos antes de nos virarmos para Fairchild.
Sorrindo para meus colegas enquanto caminhávamos para
o centro da sala, me perguntei por que apenas eu, Jackson,
Michael, Xander e Evan e nossos respectivos parceiros
tínhamos sido convidados.
Fairchild não havia dito que a presença de todos da empresa
era obrigatória? Não é de admirar que Pete tenha sido
extremamente rude comigo naquela semana. Sempre que nos
cruzávamos, ele fingia que eu não existia.
Um homem encantador.
Quanto a Fairchild... urgh, que mentiroso. Ele não poderia
ter tornado seu real interesse mais óbvio, e ele estava
completamente despreocupado em ser óbvio. Provavelmente,
era por isso que Jackson parecia estar chupando um limão.
Pobre Jackson. Ele amava a Horus Renewable Energy. Deve
ter causado a ele uma frustração sem fim por ter que contar
com o investimento financeiro de alguém como Franklin
Fairchild.
Fairchild estava sorrindo, um brilho diabólico em seus
olhos, o que me deixou desconfiada.
— Morgan, tenho algo para mostrar a todos que acho que
você vai adorar. — Ele se virou para meus colegas. — Peguem
suas bebidas, deixe-as, o que quiserem – há um bar no cinema.
Vamos em frente. — Ele caminhou em direção a Rhys e
deslizou um braço ao redor de seus ombros. — Por aqui, filho.
O meu... bem... O que quer que ele fosse meu agora, olhou
por cima do ombro enquanto Fairchild o conduzia pela sala.
Eu teria me sentido culpada por largar sua mão se Rhys não
tivesse me dado um aceno reconfortante.
Ele era um homem crescido. Ele podia cuidar de si mesmo.
Então, por que eu sentia que estava falhando com ele
quando deveria estar tentando protegê-lo de Fairchild?
— Vamos, Parker — Jackson disse, sua voz gentil. Eu olhei
para cima para ver ele e Camille ao meu lado, expressões gêmeas
de preocupação em seus rostos. — Vai ficar tudo bem.
Eu fiz uma careta.
— Você sabe o que ele está tentando fazer?
Jackson lançou um olhar para Camille antes de se virar para
mim. Ele baixou a voz enquanto o resto dos meus colegas seguia
o chefão para fora da melodramática sala de estar.
— Não tenho certeza exatamente, mas é óbvio que tudo isso
é sobre Rhys.
Assentindo, suspirei.
— Eu sinto muito. Nós dois sentimos. — Eu não deveria ter
me desculpado por Rhys, mas eu o conhecia bem o suficiente
para saber que ele provavelmente estava irritado por Fairchild
ter puxado meus colegas para esse ato ridículo.
— Porque você está se desculpando? — Jackson franziu a
testa, olhando para a porta agora vazia. — Fui eu quem
apresentou vocês dois a ele.
Camille apertou o ombro de Jackson e sussurrou:
— Querido.
Percebendo que minhas observações estavam certas, que
Jackson estava tendo dificuldades com Fairchild, desejei que
houvesse algo que eu pudesse fazer. No entanto, Rhys tinha
que ter prioridade. Uma vez que eu tivesse certeza de que o
tinha fora do alcance de Fairchild para sempre, eu poderia focar
minha concentração para descobrir como ajudar a liberar a
Horus Renewable Energy de um bilionário egomaníaco.
Um dos garçons teve que nos direcionar para o cinema, pois
perdemos o grupo. Quando entramos, não deveria ter ficado
surpresa ao descobrir que era um cinema de verdade. Havia um
bar caro com tampo de mogno com maçanetas de latão e fileiras
de prateleiras de vidro atrás dele, cheias de todas as bebidas
alcoólicas imagináveis. No extremo oposto da sala, havia uma
tela que ocupava toda a parede, com fileiras de cadeiras de
cinema de verdade situadas na frente dela. Um discreto projetor
estava embutido no teto.
Rhys estava no bar com Jackson, e eu decidi que estava
cansada de ser empurrada para o lado por Fairchild enquanto
ele tentava convencer Rhys a lutar. Caminhando em direção a
eles, vi o chefe do meu chefe estreitar os olhos em mim, mas
permaneci implacável.
— Ei — eu disse suavemente para Rhys enquanto me
aninhava ao seu lado e passava um braço em volta da cintura
dele.
Ele me deu um olhar suave antes de deslizar o braço em volta
dos meus ombros para me aproximar ainda mais.
Seu cheiro familiar, de terra e especiarias, me fez desejar
poder simplesmente tirá-lo daquele lugar e levá-lo de volta ao
quarto de hóspedes. Borboletas fizeram cócegas na minha
barriga com a ideia de finalmente estar com ele de todas as
maneiras que tentei (e falhei) me convencer de que não queria.
O calor forte dele pressionado contra mim não estava
ajudando meus pensamentos rebeldes.
Forçando-me a me concentrar na tarefa em mãos, encontrei
o olhar irritado de Fairchild.
— Então... O que vamos assistir?
— É uma surpresa. Venha, Rhys, vamos nos sentar. —
Fairchild lançou-me um olhar desdenhoso. — Por que você
não se senta com os outros, Srta. Brown?
Sentir Rhys tenso ao meu lado alimentou minha
indignação. Contando com anos de prática lidando com
esnobismo injustificável, mantive minha voz agradável.
— Vou sentar com Rhys, mas obrigada. — Antes que
Fairchild pudesse dizer qualquer coisa, eu me afastei, levando
Rhys comigo, e o levei para dois assentos no fundo.
— Sente-se na frente. — Fairchild estava sobre nós.
— Estamos bem aqui. — Rhys nem sequer olhou para ele,
o músculo em sua mandíbula pulsando quando ele pegou
minha mão para segurá-la em seu joelho.
Por um momento, pensei que Fairchild iria discutir porque
ele pairou sobre nós por mais tempo do que o apropriado.
Finalmente, porém, ele se afastou, de volta ao bar.
— Maluco do caralho — Rhys murmurou baixinho.
Eu apertei sua mão.
— O que você acha que é?
— Um palpite. — Ele me lançou um olhar sombrio. —
Estamos prestes a ver uma luta.
A compreensão surgiu e a raiva ondulou através de mim.
— Uma das suas?
— Eu apostaria dinheiro nisso.
Urgh! Aquele homem! Minha pele estava quente de raiva
enquanto me sentei rígida ao lado de Rhys.
— Eu sinto muito.
Senti um puxão e me virei para Rhys quando ele colocou
minha mão contra seu peito.
— Não se desculpe. Estou falando sério.
Vendo a sinceridade em seu rosto, eu balancei a cabeça, mas
isso não significava que minha culpa desapareceu
milagrosamente.
— Senhoras e senhores — Fairchild chamou do fundo da
sala —, alguns de vocês devem saber que estamos na presença
de um dos melhores campeões de boxe de sua geração. Rhys
Morgan.
Olhei por cima do ombro para Fairchild, junto com o resto
dos meus colegas. Rhys continuou olhando para a frente.
Quando Fairchild começou a bater palmas, forçando todo
mundo a se juntar, eu queria que um buraco no chão se abrisse
para que Rhys e eu pudéssemos desaparecer da estranheza do
momento.
— Jesus, porra — Rhys murmurou.
— Eu concordo — eu sussurrei. — Jesus provavelmente está
se perguntando: “Que porra meu Pai estava pensando ao tornar
esse cara um bilionário?” Isso é... se você acredita nessas coisas.
Rhys sorriu para mim, e uma dor prazerosa se espalhou pelo
meu peito ao vê-lo.
— Então, sem mais delongas — Fairchild disse, sua voz
terrível arruinando o momento —, eu consegui imagens da luta
mais memorável de Morgan com Cal Davis. Se acomodem e
divirtam-se.
As luzes se apagaram e a tela acendeu.
Se não fosse pela tensão que emanava de Rhys, eu poderia
me divertir vendo-o lutar. No entanto, saber sobre seu melhor
amigo, entender o medo profundo que Rhys tinha de acabar
com a vida de alguém ou deixar seu irmão sozinho neste
mundo, matou essa diversão.
Em vez disso, tentei tirar a mente de Rhys da luta que
acontecia na tela e do homem atrás de nós, que estava tentando
o que parecia ser uma guerra mental dissimulada para fazer
Rhys fazer o que ele queria.
Inclinei-me para Rhys, minha voz baixa, meus lábios
tocando sua orelha enquanto eu sussurrava:
— Você é injustamente gostoso. — Ele enrijeceu um pouco,
mas não se afastou enquanto eu continuava. — Eu poderia
ignorar isso, a gostosura, quero dizer, se você não fosse tão
engraçado, charmoso, doce, gentil e leal. Isso leva sua gostosura
a níveis inflamáveis. Ah, e a moto. A moto que... — Sua boca
cortou minhas palavras.
Segurei seu rosto em minhas mãos, sentindo os pelos de suas
bochechas com a barba por fazer enquanto ele me beijava forte
e profundamente no escuro do cinema. Os sons da luta se
tornaram um ruído de fundo enquanto eu o beijava em
público.
E eu não me importei.
Enquanto eu o estava distraindo das artimanhas
dissimuladas de Fairchild, permaneci despreocupada com o
que alguém pensaria das minhas ações.
Rhys quebrou o beijo para sussurrar:
— Eu não sou doce, querida, mas porra, você
definitivamente é. O seu gosto também.
As luzes de repente ganharam vida e piscamos contra elas.
Nossos colegas murmuravam ao nosso redor e percebemos que
a luta havia terminado. Eu podia sentir seus olhos em nós, mas
Rhys e eu estávamos absortos um no outro.
Ele passou o polegar sobre meus lábios.
— Obrigado.
Compreendendo, eu sorri.
— Esse tipo de distração não é realmente uma dificuldade.
Rhys riu, pressionou um beijo fofo no meu nariz e se
levantou, levando-me com ele. Olhando ao redor, vi que estava
certa – meus colegas estavam olhando para ele, totalmente
fascinados.
Eles podiam saber que ele era um ex-campeão de boxe peso-
pesado, mas saber e ver eram duas coisas diferentes.
— Ele não é incrível? — Fairchild disse para a sala enquanto
caminhava em nossa direção. — Agora que nosso
entretenimento acabou, meus convidados devem estar com
fome. Minha equipe preparou um bufê de classe mundial na
sala de jantar. Sigam Andrew. — Ele apontou para a saída onde
Andrew, o recepcionista da casa, esperava. — Ele vai mostrar o
caminho.
Rhys e eu nos movemos em direção à porta, mas Fairchild
bloqueou nosso caminho. Ele ergueu a mão para nos segurar e
esperou até que todos tivessem saído da sala antes de abrir a
boca.
— Morgan, você e eu precisamos conversar. — Seus olhos
cortaram para mim e sua expressão endureceu. — Eu preciso
falar com Rhys em particular. Por favor, siga os outros até a sala
de jantar, Srta. Brown.
Eu não queria deixar Rhys. Meu aperto na mão dele
transmitiu isso. Depois de olhar para Fairchild por alguns
segundos, Rhys olhou para mim. Sua expressão suavizou.
— Querida, você deveria ir. Estarei lá em um minuto.
Senti mais do que uma vibração na barriga com o apelido
“querida”. Isso era novo. Aquilo me pegou tão desprevenida
que me vi concordando.
— Ok. Vou guardar um pouco de comida para você.
Ele sorriu, mas não alcançou seus olhos.
— Faça isso.
Deixá-lo lá parecia que eu o estava abandonando, minha
frustração era real quando entrei no corredor. Para minha
surpresa, Jackson estava esperando por mim.
— Ele é um cara grande — disse ele. — Ele pode lidar com
Fairchild.
Grata por sua percepção, dei um sorriso trêmulo para meu
chefe legal e deixei que ele me conduzisse para a sala de jantar.

Franklin Fairchild era um homem viscoso, imprudente e


detestável.
Ele manteve Rhys cativo pelo resto da noite.
Quando percebi que seu plano desde o começo era ficar
sozinho com Rhys e atormentá-lo sem parar, a fúria me encheu.
Eu era uma péssima companhia, sentada entre meus colegas
enquanto eles conversavam sobre trabalho, vida e seus planos
de esquiar no dia seguinte. Eventualmente, todos começaram a
falar sobre a importância de Rhys para Fairchild quando meu
namorado (se é que ele era isso) não reapareceu. Comecei a me
preocupar que algo tivesse acontecido com ele.
Todos se retiraram para dormir, então pedi a um dos
garçons que preparasse um prato para Rhys da seleção de frios;
fui informada de que Rhys já havia comido com o Sr. Fairchild.
Bem, isso era algo. Pelo menos, ele não estava tentando fazê-
lo passar fome até a submissão.
Mais de três horas depois de me separar de Rhys, eu andava
de um lado para o outro em nosso quarto de hóspedes, ficando
mais impaciente a cada segundo. Incapaz de lidar com essa
loucura por mais tempo, atravessei o quarto em direção à porta,
pretendendo revistar a casa em busca de Rhys.
Abrindo a porta do quarto, parei.
Rhys.
Obrigada, Senhor.
Meus ombros caíram de alívio e me afastei para deixá-lo
entrar.
Parecendo esgotado, Rhys entrou no quarto, mas em vez de
passar por mim, ele se virou para mim, seus olhos comoventes
fixos nos meus. Minha respiração engatou quando enrolou as
mãos em volta dos meus bíceps e lentamente me apoiou contra
a porta até que o peso do meu corpo a fechasse. Ele soltou um
braço para nos prender.
Meu coração disparou quando a antecipação da deliciosa
intimidade física me encheu.
Em vez de me arrebatar, no entanto, Rhys segurou meu
rosto com suas mãos grandes, abaixou-se e deu o beijo mais
doce e suave nos meus lábios. Ele exalou um pouco quando me
soltou, sua respiração fazendo cócegas na minha boca, antes de
se endireitar e passar o braço em volta dos meus ombros.
Eu me movi para perto dele, deslizei meus braços ao redor
da sua cintura e descansei minha cabeça em seu peito.
— Você está bem?
Rhys ficou em silêncio por tanto tempo que pensei que ele
não responderia.
Mas então:
— Acho que vou ter que lutar.
Choque me enraizou no lugar, e eu me endureci em seu
aperto.
— Rhys, por favor, me diga que você não concordou em
lutar?
— Ainda não.
Ai! Graças a Deus. Eu saí de seus braços e coloquei minhas
mãos no seu peito. Ele olhou para mim, curiosidade em sua
expressão, e então surpresa quando eu gentilmente o empurrei
para trás.
Ele deixou.
Claro que ele deixou.
Como se eu pudesse mover um homem daquele tamanho
sem que ele deixasse.
Eu o empurrei até a cama.
— Senta.
Um sorriso cansado curvou seus lábios.
— Agora mesmo, chefa.
Como ele poderia achar qualquer coisa divertida agora,
depois de três horas de guerra interrogativa que claramente
funcionou?
Eu o estudei. Tínhamos acabado de decidir explorar o que
havia entre nós, então forçá-lo a confiar em mim era um grande
risco. No entanto, eu sabia que deveria haver mais coisas
acontecendo se ele fosse concordar em lutar, apesar de sua
profunda aversão a isso.
Pelo bem dele, eu tinha que ser corajosa. Eu não podia ser
egoísta só porque tinha medo de que ele se afastasse de mim.
— Tudo bem... Eu não sei o que ele disse a você nas três
longas horas em que o manteve em cativeiro — Rhys ergueu
uma sobrancelha com a minha escolha de palavras, mas
continuei — mas o que está acontecendo? Algo tem que estar
acontecendo além dos problemas financeiros da academia para
que você sequer cogite essa luta. Fairchild te ameaçou?
— Não, mas ficou subentendido que seu contrato se
tornaria permanente se eu lutasse por ele.
Senti minha fúria ferver por dentro.
— Eu posso encontrar outro emprego. Ele não vai
manipular você para participar dessa luta.
Ele pareceu momentaneamente atordoado.
Percebendo o que isso dizia sobre meus sentimentos – que
eu abandonaria um trabalho que amava para salvar Rhys de
Fairchild – eu corei.
Rhys me estudou atentamente, sua expressão esquentando
a cada segundo.
— Isso significa muito para mim, Parker. Mas começamos
isso juntos por causa do quanto seu trabalho significa para você.
Eu não quero ver você perdê-lo por causa disso.
Quando abri minha boca para contestar, ele levantou a mão.
— Tem mais coisa. A luta vale muito dinheiro.
Embora eu estivesse aliviada por Rhys não permanecer no
que eu havia revelado inadvertidamente sobre meus
sentimentos por ele, eu estava preocupada com o que a luta
faria com ele emocionalmente.
— Eu perguntei antes e vou perguntar de novo – a academia
realmente vale o preço que isso vai cobrar de você? Ou tem algo
que não percebi? Rhys... O que estou perdendo?
A expressão de Rhys endureceu e ele desviou o olhar.
— Não é nada, Sininho.
— É sim. É definitivamente alguma coisa. Eu sei que você e
eu somos... novos... mas antes que os beijos e os toques muito
quentes começassem... Bem, Rhys, eu sou sua amiga. Fale
comigo.
Seus lábios se contraíram.
— Toques quentes, hein?
Lutei para não sorrir.
— Não mude de assunto.
Ele me encarou por um longo momento e então suspirou,
profundo e pesado.
— Vou perder a academia se não começar a pagar o banco.
Eu tenho um cara interessado em comprá-la e parece cada vez
mais provável que eu tenha que vendê-la.
Meu estômago revirou. Eu sabia o quanto a academia
significava para ele.
— Rhys...
— Antes do meu pai morrer, ele me disse que a academia
estava com problemas e que os pagamentos estavam atrasados,
e que também administrou mal minhas finanças. Ele apostou...
quase tudo se foi.
Ai, meu Deus. Tudo o que ele tinha. Cada golpe que levou
no ringue... tudo em vão no final.
Eu me senti um pouco fora da órbita e tropecei em direção
à poltrona mais próxima.
— Meu Deus, Rhys.
— Estou escondendo isso do Dean.
Eu fiz uma careta.
— Mas eu pensei que ele estava gerenciando as contas agora?
Ele bufou.
— Eu o enganei, dei a ele uma tonelada de papelada para ele
verificar e mantive as contas reais – as contas digitais. — Rhys
caiu para a frente, descansando a cabeça nas mãos enquanto
olhava para os pés. — Quando comecei a ganhar muito
dinheiro lutando boxe, minha mãe ficou doente com câncer.
Eu não queria que meus pais tivessem essa dívida, então paguei
todas as contas médicas dela.
Meu coração doía.
— Rhys...
— Meu pai alugava o prédio da academia. Eu comprei para
ele. Paguei as mensalidades do Dean. Mas também deixei meu
pai cuidando das minhas finanças e descobri tarde demais que
foi um erro. Ele fez muitos investimentos ruins, apostou... O
que me restou foi para pagar as despesas do funeral do meu pai
quando ele morreu, e paguei uma parte da dívida com o banco
vendendo meu apartamento. Mas agora estamos alguns meses
atrasados na hipoteca...
Os nervos vibraram no meu estômago. Todo esse tempo ele
estava com essa pressão infernal nos ombros. Não é à toa que
agarrou a chance de fazer amizade com alguém tão poderoso
quanto Fairchild.
— Fairchild sabe alguma coisa sobre isso?
— Não que eu saiba, mas eu não duvidaria que ele tivesse
feito uma verificação de antecedentes nas minhas finanças.
— Patife manipulador. Você não pode deixá-lo te
convencer a fazer isso. Sério... Espero que esse homem seja
comido por cobras de areia.
Rhys franziu a testa, mas havia riso em suas palavras.
— Espere um segundo... Foi isso que você murmurou
quando nos conhecemos?
Oh-ou.
— Talvez. Você me abordou assim que meu chefe estava
chegando, então posso ou não ter desejado que uma porta para
outra dimensão se abrisse, na qual você cairia em um mundo de
terríveis cobras de areia.
— Como em Os Fantasmas Se Divertem?
Eu dei a ele um sorriso rápido, espantada que ele pudesse me
divertir quando eu estava com tanta raiva de Fairchild.
— Sim. Mas de volta ao ponto...
Houve um momento de silêncio entre nós enquanto eu
reunia meus pensamentos sobre esta nova informação.
Finalmente, eu disse:
— Você precisa contar ao Dean.
— Não. — Rhys recostou-se na cama, seu semblante rígido.
— De jeito nenhum, porra.
— Eu sei que você tem o protegido há muito tempo... mas,
Rhys, ele merece saber a verdade. Ele é um homem adulto
agora, e esconder isso dele, enganando-o com contabilidade
falsa, não é proteção. É fazê-lo de idiota. — Eu ignorei seu olhar
furioso e continuei. — Seu irmão é muito inteligente. Confie
nele. Tire essa pressão dos ombros. Então talvez vocês dois
possam bolar um plano.
— Eu tenho um plano. Eu vou lutar.
Eu me levantei, a raiva de Fairchild me consumindo.
— Você não vai lutar por aquele homem. — Apontei para a
porta do quarto. — Ele não vai ganhar isso de você, Rhys. Se
você lutar por ele, sabe que isso vai mexer com sua cabeça de
várias maneiras. Por favor... antes de fazer qualquer coisa,
prometa que vai falar com Dean. E eu estou aqui. Posso
ajudar... Você sabe que sou uma solucionadora de problemas.
É mais ou menos o que eu faço.
Quando ele não disse nada, sussurrei:
— Por favor, Rhys. Confie no Dean. Em mim. Não faça
mais isso sozinho.
Algo quente entrou no olhar de Rhys até que seus ombros
caíram. Ele assentiu com a cabeça, sua voz rouca.
— Ok, amor. Vou falar com Dean.
Aquela dor, do tipo prazeroso que eu senti no meu peito
antes, se espalhou por mim novamente. A ternura me
preencheu. Eu me levantei do meu assento e caminhei
lentamente em direção a Rhys na cama.
Aquele carinho em sua expressão se transformou em calor
quando eu me empurrei entre suas pernas para enrolar minhas
mãos em seu pescoço. Ele estendeu a mão para mim, seus dedos
flexionando na minha cintura enquanto ele me puxava para
perto.
— Tive uma noite de merda, Sininho — ele disse, sua voz
baixa. — Você está interessada em torná-la melhor?
Um arrepio percorreu minha espinha quando senti um
puxão familiar de necessidade na minha barriga. Eu escovei
meus polegares em suas bochechas e me inclinei para sussurrar
contra sua boca:
— Estou interessada em torná-la fenomenal.
Ele sorriu, seus olhos dançando. Ele deslizou a mão por
baixo da minha camisa e eu tremi um pouco, minando minha
arrogância verbal.
— Você só sabe falar, amor.
— Você não acha que posso tornar sua noite fenomenal?
Rhys habilmente abriu meu sutiã e meus olhos se
arregalaram. Seu sorriso suavizou para um sorriso sensual.
— Eu estava exausto quando entrei por esta porta. Mas tudo
que você tem que fazer — ele tirou as mãos de dentro da minha
camisa para agarrar a bainha — é pressionar esse seu corpinho
lindo contra o meu — ele puxou a camisa pela minha cabeça e
eu levantei meus braços para ajudar. — e eu estou mais duro...
— Rhys fez uma pausa enquanto me observava abaixar as alças
do meu sutiã. Nervosismo me encheu enquanto eu me
desnudava para ele.
Eu não era voluptuosa.
De jeito nenhum.
Eu me preocupei por cerca de um milissegundo que eu não
era o suficiente. Apenas um milissegundo porque Rhys
literalmente rosnou baixinho enquanto olhava para os meus
seios. Seus olhos se arrastaram de volta para encontrar os meus
enquanto suas mãos deslizavam pela minha lateral.
— A última vez que fiquei tão duro assim, eu era a porra de
um adolescente, então minha noite já está fenomenal, amor.
Engoli em seco quando ele segurou meus seios pequenos em
suas mãos grandes, tremendo contra os deliciosos calos ásperos
em suas palmas, gemendo quando seus polegares pegaram
meus mamilos.
— Rhys.
Segundos depois, eu estava em perigo real de me
transformar numa poça derretida quando Rhys me puxou para
ele para que pudesse envolver sua boca quente em volta do meu
mamilo esquerdo.
Prazer zumbiu direto entre as minhas pernas. Apertei minha
mão atrás de sua cabeça, me contorcendo contra ele enquanto
esbanjava atenção aos meus seios. Inchada, carente, suspirei
enquanto ele trilhava beijos quentes em direção ao meu
pescoço. Inclinei-me para ele, oferecendo minha boca, que ele
tomou com uma voracidade que quebrou meu controle.
— Roupas demais — eu engasguei contra sua boca,
empurrando seus ombros.
Eu o senti rir contra mim, e então soltei um grito de alegria
quando de repente me vi de costas na cama.
Os olhos de Rhys ardiam com um desejo que me abalou
quando ele alcançou o primeiro botão da minha calça jeans.
— Você primeiro — ele exigiu, rouco com impaciência.
Balançando meus quadris, eu o ajudei enquanto ele puxava
meu jeans pelas pernas. Uma vez que os descartou, seus olhos
prenderam os meus enquanto alcançavam minha calcinha.
Minha respiração prendeu quando seus dedos se enrolaram em
torno dela. Sentindo que ele esperava permissão, tentei não
sorrir com a doçura do gesto e assenti. Ele puxou-a lentamente
pelas minhas pernas, com os olhos fixos nos meus, até que eu
estava tão pronta que um gemido me escapou.
Rhys bebeu até se satisfazer enquanto eu me deitava na
cama para ele. Mordi meu lábio, meus mamilos endurecendo
enquanto a antecipação ondulava através de mim.
— Porra — Rhys engasgou. — Porra, Parker, como alguém
pode ser tão linda?
Suas palavras carinhosas causaram uma queimação de
emoção na minha garganta e, de repente, eu não estava mais
preocupada em me comparar com as outras mulheres com
quem Rhys tinha estado.
Isso era muito mais do que isso.
Para nós dois.
Eu simplesmente sabia.
Algo pareceu estalar em Rhys quando ele se despiu muito
mais rápido do que a mim. Eu o observei com admiração,
estudando a luz e a sombra de seu belo corpo. Eu nunca estive
com alguém como ele antes. Eu sempre pensei que ficaria
intimidada porque ele era muito maior... mas estava animada
com a ideia de ser coberta por ele, envolta em toda aquela
dureza lisa. Meu boxeador brutal com seu coração gigantesco e
alma secretamente gentil.
Meus olhos o exploraram, descendo por seu abdômen
definido até...
Ai, meu Deus.
Engoli em seco enquanto o observava rasgar a embalagem
de uma camisinha. Ele a colocou e, ao fazê-lo, fiquei
desconfiada com o seu tamanho.
— Você acha que vai caber? — Eu deixei escapar.
Rhys piscou quando minhas palavras penetraram, e então
ele sorriu com um grunhido enquanto se movia para a cama.
— Nós vamos fazer caber.
— Hum... — Meu olhar estava fixo nele, duro e muito,
muito grande. Não apenas o comprimento, mas a
circunferência... ai, meu Deus. — Rhys, sério... Eu sou muito
pequena e você é muito grande. — Ele rastejou sobre mim e
minhas pernas se abriram automaticamente para acomodá-lo.
— Você não pode encaixar um objeto grande em um pequeno
buraco imóvel – é fisicamente impossível. Isso é um fato
científico.
Rhys de repente baixou o rosto contra o meu pescoço, seu
corpo tremendo de tanto rir.
— Rhys?
Finalmente, ele ergueu a cabeça, diversão misturada com
luxúria em seus lindos olhos. Ele pulsava entre minhas pernas,
seu calor empurrando contra o meu.
— Para começar — ele disse, rindo nos seus lábios —, você
não é imóvel, amor. Na verdade, você está prestes a ficar tão
movida que vai sentir a terra tremer.
Prendi a respiração.
— Bem... se você tem certeza.
Ele se manteve imóvel acima de mim.
— Não é sobre se eu tenho certeza. Você tem certeza?
Eu podia sentir seus músculos tremendo, ver a maneira
como os músculos de sua mandíbula marcavam enquanto ele
se segurava do que queria. Seus olhos estavam escuros de desejo,
mas havia uma luz de afeição, talvez até preocupação ali.
Isso me fez derreter.
— Você está certo, eu não sou imóvel. As coisas se estendem
lá embaixo. Vá em frente.
Agora ele estava tremendo de tanto rir.
— Adoro quando você fala sacanagens para mim.
Minha própria risada foi cortada quando ele se moveu
contra mim, provocando. O desejo me inundou.
— Rhys, agora, por favor... ai! — Eu gritei, agarrando sua
cintura enquanto ele entrava em mim, uma dor de prazer
vibrando através de mim enquanto meu corpo se ajustava à
plenitude avassaladora.
Rhys estava apoiado sobre mim, seu rosto tenso de prazer.
— Porra — ele engasgou. — Você não estava mentindo.
Eu instintivamente flexionei meus quadris, precisando que
ele se movesse.
Ele segurou meu quadril do lado esquerdo, acariciando
minha coxa.
— Espera. — Ele balançou a cabeça, fechando os olhos por
um segundo. — Só preciso de um minuto.
Mas não pude evitar. Inclinei meus quadris novamente,
sentindo-o se mover mais fundo dentro de mim, fazendo com
que uma onda de prazer se apertasse dentro de mim.
Rhys balançou a cabeça, o riso em sua voz.
— Paciência, querida. Eu quero fazer isso devagar e se você
continuar fazendo isso, não vai ser devagar.
Vendo a sinceridade em seus olhos, percebendo que ele
estava tentando ser terno, a emoção me inundou novamente.
Eu envolvi minhas pernas em torno de suas costas, puxando-o
suavemente para mim, nossas respirações ofegantes contra os
lábios um do outro antes de ele me beijar. Também foi lento,
doce. Completamente em desacordo com seu tamanho.
Eu me sentia frágil e cuidada.
Era lindo.
Mas eu também queria algo mais, algo que me fizesse sentir
como se eu fosse mais do que apenas uma mulher pequena e
bonita. Eu queria me sentir sexy, tão sexy que ele não poderia
deixar de me foder de seis maneiras diferentes até domingo.
— Ok — eu concordei sem fôlego. — Mas da próxima vez,
faremos com força e rápido.
Com isso, senti um arrepio em Rhys.
— Ela está tentando me matar — ele murmurou contra
meus lábios.
Talvez. Mas, meu Deus, que jeito de partir.
Rhys

Devagar. Eu deveria ir devagar. Parker Brown estava


esparramada embaixo de mim como um banquete. Uma
fadinha de bolso, delicada e linda. Eu nunca havia tocado uma
pele tão fina, mais suave que cetim, dourada e doce. Eu estava
meio com medo de quebrá-la. Inferno, eu enfiei meu pau em
seu aperto escorregadio, tentando pensar direito por tempo o
suficiente para desacelerar.
Deus, no entanto senti-la era tão bom. Apertada pra
caralho. Tão quente. Ela riu contra a minha boca e moveu seus
quadris em um pequeno círculo enquanto eu estocava. O
prazer desceu pela minha espinha, sobre a minha pele. Eu parei
profundamente dentro dela, meu pau latejando. Meu corpo
tremia com o esforço de ficar parado enquanto Parker se
contorcia embaixo de mim.
— Rhys.
Mordi seu suculento lábio inferior e respirei fundo.
— Você vai se comportar agora? — Eu perguntei, sabendo
que ela gostava quando eu era mandão.
Seus brilhantes olhos castanhos sorriram quando ela
encontrou meu olhar.
— Sim, Rhys.
Ai, inferno. Ela realmente estava tentando me matar.
Minhas narinas dilataram quando puxei para trás e empurrei
com força. Parker suspirou com o impacto, seus pequenos
peitos balançando. Porra. Sim. Eu fiz de novo. Forte e
profundo. Devagar.
Os sons de nossos corpos se encontrando preencheram o
silêncio. Sua respiração tornou-se ofegante, suas pálpebras
baixando enquanto ela me observava fodê-la. Algo estava
assumindo; eu parei de pensar, parei de me preocupar. Nada
mais importava. Nem a academia. Nem meu irmão ou contas.
Nem Fairchild.
Havia apenas isso. Só Parker. Ela me iluminou, me fez ser
algo novo – algo bom. Gemendo, encontrei sua boca e a
devorei. Minhas estocadas se tornaram frenéticas. Sem mais
sutileza, sem mais controle, apenas essa necessidade de
empurrar para dentro dela, chegar o mais perto possível de sua
pele para que talvez ela pudesse me absorver.
Meus pensamentos ficaram confusos, minha respiração
áspera e seca. Eu precisava de mais.
Sua pele estava escorregadia de suor quando agarrei sua coxa
e puxei-a para cima, abrindo-a mais.
— Sim — ela murmurou, arqueando-se, pressionando os
seios contra o meu peito.
Sim. A melhor palavra da língua portuguesa. Sim. E mais. E
porra.
Grunhindo, a tomei com mais força, meus lábios
encontrando a curva perfumada do seu pescoço. Chupei sua
pele, movi meus quadris e a fodi com tudo que tinha.
Parker gritou, seu corpo apertando ao meu redor. Eu podia
senti-la no limite. Sua pele estava corada, seus olhos arregalados
para mim.
— Rhys.
Eu ouvi o apelo. Minha voz era grossa e rouca.
— Do que você precisa, Sininho?
— Esfrega — disse ela, ofegante. — Meu clitóris.
Deus. Eu amava o jeito que ela pensava. Meus quadris
bateram nos dela e parei ali, empurrando contra seu clitóris
inchado. Ela gemeu, fechando os olhos, inclinando a cabeça
para trás.
Era lindo. E eu era o sortudo que conseguia ver isso.
— Se solta. — Empurrei novamente, parando, me
esfregando nela. — Goza para mim, Parker.
Suas mãos agarraram meus ombros. Ela gozou com um
gemido espetacular, seu corpo ordenhando meu pau com tanta
força que vi estrelas. Isso foi o meu fim. Perdi toda a noção do
tempo, de tudo menos de me mover dentro de Parker, de beijar
sua boca macia.
Eu gemi em sua boca quando gozei. Tudo se esvaiu de mim
e, naquele momento, eu não sabia meu próprio nome. Só o
dela.
Eu era dela.
— E esta pequena beleza é uma autêntica espada de samurai
japonesa, pertencente a um oficial japonês da Segunda Guerra
Mundial. — Fairchild levantou a espada do suporte de exibição
e a ergueu. — Observem a lâmina. Feita por Yoshimichi.
Seus convidados tentaram parecer interessados enquanto
Fairchild sorria.
— Segundo a história, quando os EUA ocuparam o Japão
no final da guerra, eles confiscaram a espada e a presentearam a
um oficial como recompensa por seu trabalho em derrotar os
japoneses. Custou-me cerca de trinta mil, mas fiquei feliz em
pagar o preço.
Esse cara de merda.
Encontrei os olhos de Parker. Eu não precisava fazer uma
cara – um olhar e parecia que ela me entendia completamente.
Assim como eu sabia que ela estava lutando para não torcer o
nariz em desdém. Fairchild era ridículo. Ele não só não tinha
consciência social, como também se gabava disso.
Durante todo o jantar miserável com ele, mantive a sanidade
imaginando as várias maneiras de socá-lo no rosto – um
cruzado de direita, um soco vindo de baixo de seu queixo, um
combo duplo. Juvenil, talvez. Mas definitivamente satisfatório.
Um dia, prometi a mim mesmo pela milésima vez, faria com
que ele recebesse o que merecia.
De jeito nenhum, eu iria deixá-lo escapar impune por ser um
idiota total com Parker.
Parker.
Inferno. Comecei a suar, a luxúria crescendo como uma
onda de calor.
Passamos a noite toda na cama. Fodendo. Rindo. Fodendo
de novo. Adormecíamos, então um de nós acordava, alcançava
o outro e começava tudo de novo.
Eu nunca tive uma noite tão perfeita. Eu nunca tinha rido
assim na cama, apenas pela alegria disso. Parker me fazia feliz.
Livre de uma forma que nunca estive. Ela também era uma
pequena, saborosa e gostosa...
— Você está com aquele olhar de novo — ela murmurou ao
meu lado.
Meus dedos se entrelaçaram nos dela, e eu acariciei seus
dedos.
— Que olhar?
Suas pálpebras baixaram recatadamente enquanto seus
lábios se franziam. Eu queria beijar aqueles lábios, lamber sua
boca quente e doce.
— Você sabe.
Sim, eu sabia. Era o olhar de “eu quero te foder tanto que
dói”. Eu tinha certeza que teria aquele olhar o tempo todo
agora. Reprimindo um sorriso, tentei me concentrar em
Fairchild, ainda tagarelando sobre outra peça de armamento.
Não me interpretem mal – eram peças lindas. E se fossem
propriedade de outra pessoa, eu poderia estar mais interessado.
Como não eram, porém, eu só queria sair de lá. Se eu não
pudesse levar Parker para a cama, eu me contentaria com uma
caminhada com ela e um pouco de ar fresco.
Qualquer coisa, desde que estivéssemos sozinhos.
— E esta — disse Fairchild, passando para uma grande caixa
de vidro cheia de areia —, é a minha mais nova adição da
coleção.
Jackson e sua noiva seguiram, obviamente arrastando os pés.
Ele me lançou um olhar rápido e dolorido, e eu simpatizei.
Estávamos todos juntos no inferno. Eu não tinha ideia de que
tipo de arma Fairchild guardaria em areia, mas gentilmente
conduzi Parker até a caixa.
Quando meus olhos finalmente pousaram no objeto em
questão, me vi hesitando.
— Aquilo é... — Parker parou, seu sussurro abafado
contendo uma pitada de risada distorcida.
Olhei para a cobra nua enrolada na caixa e meus lábios se
contraíram.
— É uma cobra de areia.
Fairchild me ouviu e sorriu largamente. Agora que eu disse
que pensaria seriamente sobre a luta, ele se acalmou. Sem mais
vendas insistentes. Sem mais olhares feios para Parker. Fairchild
era o rei de seu castelo e sua vida amorosa. O idiota.
— Tecnicamente, é uma cascavel americana — disse ele. —
Mas não se preocupem. Shani aqui teve seu veneno removido.
Como se essa fosse a minha preocupação. Eu não estava
chegando perto da coisa. Fairchild, por outro lado, parecia
achar uma ótima ideia levantar a tampa da caixa.
Camille fez um barulho de angústia, então riu como se não
fosse essa a intenção, mas ela se apertou contra Jackson.
Fairchild adorou, sorrindo como um idiota enquanto se
tornava poético sobre a majestade de sua cobra.
Parker se aconchegou mais perto de mim e eu passei um
braço em volta dos ombros dela.
— Você acha que se dissermos Beetlejuice três vezes, ele
apareceria e comeria Fairchild? — eu sussurrei em seu ouvido.
Ela me cutucou em resposta, os lábios pressionados em uma
linha apertada para não sorrir.
Fairchild começou a mexer na caixa.
— Tem certeza de que deveria fazer isso? — disse Camila.
Ele riu.
— As moças sempre ficam nervosas perto de cobras. — Sim,
sem brincadeira, cara, eles viram seu ato chegando a um
quilômetro de distância. — Não se preocupe, querida, Shani e
eu somos grandes amigos.
Revirei os olhos e segurei Parker com firmeza. Não que a
cobra me assustasse – muito, mas eu tinha uma apreciação
saudável por predadores, e venenosa ou não, uma cascavel não
era algo que eu brincaria.
Shani, a cobra, estava cochilando na areia, mas Fairchild a
acordou. Sua cabeça em forma de diamante se ergueu e ela
acompanhou o movimento da mão de Fairchild com pequenos
olhos negros que não piscavam.
— Shani adora ratos — explicou Fairchild. —
Especialmente os grandes... ah!
Seu grito nos fez pular. Shani se moveu tão rapidamente que
não houve tempo para reagir. Suas presas afundaram na
gordura da mão de Fairchild, uma, duas vezes. Fairchild gritou
de novo e puxou a mão para trás.
Xingando, eu me atirei para frente e fechei a tampa da caixa
antes que a cobra pudesse sair. Todo o inferno começou
quando Fairchild uivou sobre sua mão e a equipe veio
correndo.
Enquanto Fairchild gemia e caía no chão, segurando a mão
ferida, captei os olhos de Parker. Deus, não era engraçado um
homem ser mordido por uma cobra.
Não era.
Não poderia ser.
Meus lábios se contraíram.
Seus olhos se iluminaram, suas narinas queimando em uma
respiração forte.
Ao nosso redor, as pessoas gritavam e corriam para ajudar
Fairchild. Shani se enrolou na areia. Na areia.
O olhar de Parker segurou o meu. Eu podia ver as palavras
em sua cabeça: mordida por uma cobra de areia.
O riso borbulhou na minha garganta, pressionado com
força contra meus lábios fechados, querendo sair. Um
gorgolejo escapou de Parker, e eu sabia que ela estava prestes a
perder o controle. Levei dois passos para chegar até ela e
envolver meus braços ao seu redor.
— Ela tem medo de cobras — eu disse à sala. Acho que
ninguém ouviu.
Praticamente correndo, escapamos da sala. Nosso riso
segurou por um fio até sairmos, e então se soltou. Parker se
dobrou, com lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto ela
bufava e ria. Eu estava junto com ela, encostado na casa
enquanto engasgava com o meu riso.
— Ai, Deus. — Ela enxugou os olhos. — Eu vou para o
inferno! Mas a cara dele. Você viu o rosto dele quando a cobra
atacou?
— A cobra de areia?
Seus olhos eram dois triângulos de alegria.
— Uma cobra de areia!
— Shani ama ratos — eu entoei, rindo ainda mais.
O olhar de Parker colidiu com o meu, alegria brilhando em
seus olhos.
— Especialmente, os grandes — dissemos em uníssono, e
não nos aguentamos de novo.
Fracamente, eu a puxei em meus braços e a segurei enquanto
nos exaurimos. Parker finalmente suspirou, um som feliz e
esgotado. Seus olhos castanhos estavam brilhantes com
lágrimas de humor e seu cabelo estava bagunçado. Ela era linda.
Minha mão segurou seu rosto macio quando me inclinei e a
beijei.
Ela se derreteu em mim. Perfeita. Um maldito presente no
meio do caos. Eu a beijei e o mundo desapareceu. Beijei-a até
nossos lábios ficarem inchados e meu corpo ficar tenso de
desejo. Parker fez um barulhinho ganancioso no fundo da
garganta e passou os braços em volta do meu pescoço.
— Eu quero você de novo — eu disse dentro de um beijo.
— Então me tenha de novo — ela disse com um pequeno
suspiro vigoroso.
Eu estava tão perdido por essa mulher que era assustador.
Segurando sua bunda, eu a levantei e ela envolveu as pernas
ao meu redor. Quando comecei a levá-la de volta ao quarto, ela
sorriu largamente.
— Você acha que isso significa que o jantar desta noite está
cancelado?
— Não importa. — Dei uma mordida rápida em seu lábio
inferior. — Eu dei cem dólares para Andrew para ter certeza de
que teríamos serviço de quarto.
Seus olhos castanhos se arregalaram.
— E ele concordou?
Eu amei que isso claramente a deixou feliz.
— Acho que sim, já que o jantar vai chegar às sete.
Parker me beijou forte e rápido antes de se inclinar para
mordiscar minha orelha.
— Eu amo o jeito que você pensa, Rhys Morgan.
— Mesmo? Porque tenho pensado muito no que quero
fazer com você quando voltarmos para o quarto. Quer ouvir?
Ela quis. E eu disse. Em detalhes.
Felicidade não era algo a que eu estava acostumado. Eu a
sentia no momento, tão forte que quase parecia um sonho.
Talvez fosse. Nada sobre este lugar ou estar com Parker aqui
parecia real. Afastei o medo de que isso mudasse quando
voltássemos ao mundo real. Nada mudaria. Não podia.
Depois de tudo que passamos, Parker e eu merecíamos nossa
felicidade.
E ainda assim, quando eu finalmente deslizei para dentro
dela novamente e ela fez aquele som de total satisfação, eu ainda
não conseguia me livrar da sensação de que estar com Parker era
algo que poderia se quebrar com um movimento errado.
Parker

Fiquei chocada com o quanto eu não queria me despedir de


Rhys quando ele me deixou no meu apartamento.
Eu me agarrei a ele enquanto me beijava, desejando que nos
levasse de volta para sua casa. Ter passado o fim de semana com
ele tinha me arruinado. Também me surpreendeu. E não
apenas por causa do sexo tremendamente fantástico.
Embora valesse a pena notar que eu estava tendo o melhor
sexo que alguém poderia ter.
Eu nem sabia que sexo poderia ser tão inebriante.
Meu apetite por Rhys Morgan era... inesperado, digamos.
— No entanto, é mais do que apenas sexo — eu disse a Zoe
enquanto estava no balcão da nossa cozinha com uma taça de
vinho na mão.
Eu tinha acabado de contar a ela sobre o fim de semana com
Fairchild. Como Rhys e eu decidimos explorar a verdadeira
química entre nós. Depois, as horríveis maquinações do
bilionário. Como isso levou a uma noite fenomenal de sexo e
risadas. A hilaridade (era errado se divertir, realmente era) de
Fairchild ser literalmente mordido por uma cobra de areia, e
como isso levou a mais sexo excelente. Na verdade, ficamos
enfurnados no nosso quarto a noite toda.
Eu estava bem exausta.
No entanto, era o melhor tipo de exaustão.
Fairchild não apareceu no dia seguinte. Andrew estava lá no
café da manhã para nos acompanhar para fora, e então todos
nós entramos em nossos carros e fomos para o aeroporto. No
avião, dormi com a cabeça no ombro de Rhys, mais contente
do que em qualquer momento de que me lembro.
Zoe estava sentada em um banquinho no balcão à minha
frente, seu queixo apoiado na palma da mão. Sua expressão era
contemplativa.
— Tem certeza que não é só sexo? Porque o sexo que você
acabou de descrever convenceria qualquer mulher de que ela
está emocionalmente envolvida.
Revirei os olhos.
— Acho que posso separar meus sentimentos sexuais dos
emocionais. Mas essa é a questão. Com Rhys, eu não consigo.
O sexo não é apenas fantástico porque o homem é bonito,
atlético e muito, muito generoso. É fantástico porque há uma
conexão entre nós. Eu sinto. Nós fazemos um ao outro rir, e ele
tem essa habilidade maravilhosa de me fazer sentir
completamente segura, mesmo quando estamos juntos é como
se estivéssemos em queda livre. Assustador e excitante... mas eu
confio nele.
Os olhos da minha melhor amiga brilharam.
— Ah, Park. Querida, estou tão feliz por você.
— Não fique toda emotiva comigo, sua boba — eu
provoquei, porque se eu não provocasse, ela me faria chorar.
— Eu sei. Eu só... Por anos você afastou os homens. Alguns
homens muito legais. Homens que queriam ser quem
juntariam os pedaços que se despedaçaram quando você
perdeu Theo.
— Era muito cedo naquela época.
— Era muito cedo por treze anos, até Rhys — ela apontou.
Eu mordi meu lábio, tentando parar meu sorriso bobo, e
falhando.
— Eu quero passar todo o meu tempo com ele, o que é
extremamente fora do comum. Você me conhece. Eu sempre
precisei do meu espaço de possíveis interesses românticos. —
Eu sorri agora. — Eu não quero espaço com Rhys. Espaço é
oficialmente desagradável.
Zoe sorriu.
— Você está caidinha.
Evitando o assunto de quão caída eu poderia estar,
continuei:
— Você e Dean são as únicas pessoas que sabem que nosso
relacionamento começou sendo falso. Estou te pedindo, e
esperando que Dean concorde em manter isso em segredo.
Ninguém precisa saber que não era real desde o começo.
— Concordo. Os meus lábios estão selados. — Zoe inclinou
a cabeça para o lado, pensativa. — Posso perguntar... Rhys sabe
sobre Theo?
— Sim. Eu contei a ele.
— Não é estranho para ele que você não tenha conseguido
superar o amor da sua vida?
Irritação ondulou através de mim, embora eu soubesse que
ela não queria ofender.
— Eu estou superando, estou seguindo em frente. E Theo
foi meu primeiro amor, Zoe, ele sempre será. Mas não sei se ele
foi o amor da minha vida.
Seus olhos se arregalaram.
— Ah, Park. Você está muito a fim dele. Eu deveria estar
preocupada?
Eu corei.
— Não estou dizendo que Rhys é o amor da minha vida.
Ainda não chegamos lá. Só estou dizendo... O que tive com
Theo foi diferente. Foi doce e adorável. Foi o primeiro amor.
Foi o amor entre duas crianças desastradas. — Eu sorri agora,
espantada com a forma como não doía mais tanto. — Acho que
segurei o que tinha com ele por tanto tempo porque estava com
medo de me machucar novamente. Perder algo assim de novo.
Isso, com Rhys... Não é uma escolha seguir em frente, correr
esse risco novamente. — Dei de ombros. — Eu simplesmente
não posso não fazer isso. Eu o quero mais do que tenho medo
de perdê-lo.
Houve um momento de silêncio pesado entre nós, e então
Zoe bebeu o resto de seu vinho e anunciou:
— Preciso comprar um grande presente para aquele
homem, porque nunca vi você tão feliz, e isso me deixa em
êxtase. Eu te amo, Park.
Desta vez, as lágrimas engrossaram minhas palavras.
— Também te amo, Zo.
— Mas apenas dizendo — ela se inclinou sobre o balcão,
seus olhos endurecendo — se ele te machucar de qualquer
maneira, eu cuidarei pessoalmente de sua evisceração física,
financeira e emocional.
Eu ri.
— Bom saber.
— Falando nisso, ele realmente vai lutar?
O pensamento de Rhys lutando contra sua vontade me
deixou mal.
— Espero que não. Ele vai falar com Dean amanhã sobre as
finanças da academia. Ele me pediu para ir lá logo depois. Ele
não disse, mas acho que ele precisa de algum apoio moral.
— Claro que precisa.
— Espero estar certa em confiar que Dean vai ajudar Rhys
com isso.
— Espero que sim, querida.
Eu exalei pesadamente e, em seguida, acenei com a mão
entre nós.
— Chega de falar sobre mim. Quais são as novidades com
você?
— Não muito. — Ela baixou o olhar, uma pequena ruga
entre as sobrancelhas. — Eu concordei em ir a um encontro às
cegas marcado pelo meu produtor, na sexta-feira passada.
— E?
Seus lindos olhos escuros finalmente encontraram os meus.
— Ele pesquisou sobre mim. Tudo o que ele fez foi falar
sobre Richard.
Zoe nunca se referiu a Richard Bancroft como seu pai.
— Em que sentido?
— Ele estava tendo um ataque de fã. — Ela curvou o lábio.
— O cara é fã de dinheiro.
Eu ficava perplexa com o fato de alguém tão gentil,
engraçada e linda de morrer como Zoe Liu ser solteira.
Infelizmente, os homens com quem ela namorou acabaram
sendo intimidados por sua riqueza herdada ou eram muito
óbvios sobre seu interesse em sua riqueza herdada. Houve
alguns que pareciam genuinamente gostar de Zoe, mas depois
destruíram tudo traindo-a ou ficando irritados com as horas
que ela trabalhava no programa de entrevistas.
Sua falta de envolvimento romântico não era por falta de
tentativa, e parte de minha hesitação em namorar nos últimos
anos foi por assistir minha incrível melhor amiga tentar e falhar
repetidamente.
Eu estava exausta por ela.
Mas eu tinha fé que havia alguém ótimo lá fora esperando-
a. Alguém que iria desafiá-la e animá-la do jeito que Rhys fazia
comigo.
— Então ele não merece nem ser mencionado — eu disse,
referindo-me ao seu encontro às cegas.
Ela me deu um sorriso cansado.
— Ei, talvez Rhys tenha um amigo.
Oh, eu tinha visto os caras bonitos que malhavam na
academia de Rhys, e eles cairiam de joelhos para ficar perto de
Zoe Liu. Eu sorri com o pensamento.
— Talvez.
— Ou o irmão dele.
Eu fiz uma careta ao pensar em Dean.
— O júri ainda está decidindo sobre Dean Morgan. Rhys
pode pensar que seu irmão não tem nada a provar, mas eu não
concordo. Rhys fez muito por ele. Só espero que Dean veja isso
e dê um passo à frente. Mas até então, nada de Dean Morgan
para você. Na verdade, talvez nunca. Sinceramente, vai ser
difícil encontrar um cara digno de você.
Zoe riu.
— Ok, então, mãe.
— Ah, por favor. Você ama que eu te admiro como se você
cagasse arco-íris.
Os olhos da minha melhor amiga se arregalaram.
— Você acabou de xingar?
Meus lábios se contraíram.
— Possivelmente.
Ela jogou a cabeça para trás em uma gargalhada.
— Cara, com certeza vou comprar outra Harley para aquele
garoto.

Rhys

— Você dormiu com ela, não foi?


A voz de Dean cortou minha névoa. Ele se inclinou sobre
mim de onde eu estava esparramado no sofá. Um sorriso
estúpido iluminou seu rosto.
— O quê? — Eu me esquivei, depois desisti e balancei a
cabeça com uma risada. — Como diabos você chegou a essa
conclusão?
Dean deu a volta no sofá e desabou na poltrona ao lado.
— Em virtude desse sorriso bobo que você está usando e
pelo fato de eu ter chamado seu nome três vezes e você nem
ligou.
— Merda — um sorriso puxou minha boca. Porque, sim, eu
tinha muito motivo para sorrir.
— Porra — Dean murmurou. — Você com certeza transou.
Idiota.
— Por que eu sou o idiota? — Irmãos. Você pensaria que
Dean ficaria feliz por mim. Eu ficaria feliz por ele se encontrasse
uma boa mulher que abalasse seu mundo. Inferno, eu ficaria
em êxtase; talvez ele se concentrasse no futuro, após isso.
— Porque poderia ter sido eu — disse ele com uma
piscadela.
Eu me levantei com um rosnado. Dean sabiamente se
levantou da cadeira e dançou para longe de mim.
— Foi só uma piada. — Ele ergueu as mãos em aparente
inocência.
— Sério? Bem, conte uma piada melhor porque não estou
rindo.
Seus lábios se contraíram.
— Nem um pouco?
— Ainda não é engraçado, seu merda.
Era perturbador o quanto sua "piada" me incomodou. Eu
não poderia deixar de lado. Se eu não tivesse trancado Dean no
escritório, teria sido ele. Dean teria saído com Parker. Dean,
que era inteligente da mesma forma que Parker era. E embora
eu tenha acabado sendo a melhor escolha para agradar seu
chefe, Dean definitivamente se encaixava melhor com os
verdadeiros amigos dela – com a vida dela.
Uma torção de algo mais profundo do que ciúme me atingiu
no estômago. Se eu não tivesse trancado Dean no banheiro,
Parker teria ficado com Dean? Ela o teria beijado? O convidado
para avançar para a outra base?
Eu não suportava não saber ao certo. Eu queria dizer à
minha insegurança estúpida para calar a boca. Parker gostava
de mim por mim. Isso deveria ser o suficiente. Mas ela se
apaixonar por um cara como Dean – mais leve, mais doce. Não
um grande brutamonte com uma boca suja. Talvez eu fosse
simplesmente o Sr. Bom Por Agora, não o Sr. Cara Certo.
Deus, eu não podia acreditar que realmente pensei isso.
Parecia um artigo da revista Cosmo.
O sorriso pateta de Dean caiu.
— Ei, você sabe que eu não estava falando sério, né? É óbvio
que ela está realmente a fim de você, Rhys.
— Eu não quero ter essa conversa. — Eu olhei para ele. —
Quando ficou óbvio?
Droga, eu parecia carente pra caralho.
Felizmente, meu irmão não apontou o óbvio.
— No bar. Ela não conseguia tirar os olhos de você. Eu sabia
que vocês dois ficariam juntos.
Suspirando, sentei-me no sofá e apertei a ponte do meu
nariz.
— Ela é ótima. Eu gosto dela. Muito. Mas...
— Ela tem escabiose?
Deixei cair minha mão e atirei-lhe um olhar.
— Você ao menos sabe o que isso significa?
— É uma condição que...
— Esqueça que eu perguntei. Ela não tem escabiose. O
primeiro amor dela está morto.
Seus olhos brilharam.
— Deixe-me adivinhar, ela o matou e agora você teme por
sua vida.
Era perverso que eu quisesse rir. Eu o olhei feio em vez disso.
— Você pode parar? Não, Deanie, ele morreu. O
atropleram e fugiram. Ela não namorou ninguém desde então.
Dean ficou pálido e caiu para trás na cadeira.
— Jesus. Isso é... difícil. E muito para você estar à altura,
hein?
— Sem brincadeira. — Eu balancei minha cabeça. — Como
posso competir com alguém que ela obviamente transformou
em um modelo perfeito de amor jovem?
— Bem, quero dizer, sexo bom tem que ajudar. — Ele
estreitou os olhos em mim. — Você abalou o mundo dela,
certo? Deixou-a bem e satisfeita?
— O que você acha que eu sou? Eu não sou idiota. — Eu
meio que amei quando Parker usou essa palavra antes e senti
um sorriso se formando ao pensar nela. — Minha mulher
estava definitivamente satisfeita.
Porque ela era minha mulher. Pelo menos por agora. Eu não
estava prestes a desistir dela para um fantasma. Se Parker
eventualmente ficasse entediada comigo ou quisesse seguir em
frente, não havia nada que eu pudesse fazer a respeito. Mas eu
tinha certeza que iria aproveitar o que tinha com ela agora.
— Você a deixou mancando, então? — Dean perguntou.
Joguei uma almofada do sofá nele.
Rindo, ele o rebateu.
— Foi o que pensei.
— Continue assim e eu vou te dar uma chave de braço. —
Era minha maior ameaça quando éramos mais jovens, e mamãe
surtava se eu pegasse pesado com Dean.
O pensamento da minha mãe era preocupante. Parker disse
que eu estava fazendo de Dean de bobo por mantê-lo no
escuro. Ela estava certa, eu quase me tornei um pai que não saía
de cima e intrometido para meu irmão. Merda, mas eu odiava
falar sobre isso.
Meu estômago embrulhou enquanto eu procurava um jeito
de colocar tudo para fora.
— Eu estive mentindo para você. — Ok, não é a melhor
maneira de começar.
Dean franziu a testa.
— Você não abalou o mundo de Parker? Porque eu tenho
dicas...
Esse garoto.
— Jesus. — Eu bufei uma risada. Eu amava meu irmão de
forma feroz. — Não. Não isso. Dean... Merda. É sobre o pai e a
maneira como ele deixou as coisas.
— Você quer dizer com a academia prestes a ser tomada pelo
banco?
— O quê? — Eu pisquei. — Como...
Seu sorriso era enviesado e mais do que um pouco irritado.
— Sim, eu não sei se você realmente entende isso, mas eu
não sou um idiota total. E seu método de esconder as coisas de
mim é uma merda, mano.
Bem, inferno.
Suspirei novamente.
— Há mais do que apenas isso... — Eu contei a ele toda a
história sórdida, as contas médicas da mamãe, os estúpidos
erros de jogo do papai, como ele tinha feito uma tonelada de
investimentos ruins com meu dinheiro. Terminei com a oferta
de Kyle Garret de comprar a academia e as tentativas de
Fairchild de me empurrar para outra luta.
Ele engoliu em seco várias vezes antes de falar.
— Por que você... Porra, eu sei porque você escondeu isso de
mim. — Ele me olhava como se estivesse mentalmente socando
meu rosto. — É um insulto do caralho, sabe, me tratar como se
eu fosse uma criança.
— Eu sei. — Eu esfreguei meu peito dolorido. — Eu sinto
muito. Eu apenas adquiri o hábito de cuidar de você e não
queria que se preocupasse. — Seu aceno rígido foi sua única
resposta. — Eu não deveria ter feito isso — acrescentei.
— Não, não deveria. Mas você me contou agora, então acho
que já é alguma coisa. — Ele soltou um longo suspiro e
balançou a cabeça como se para limpá-la. — Você largou o boxe
por causa do Jake.
A dor em meu peito aumentou.
— Sim.
Os olhos azuis de Dean, o tom exato dos da nossa mãe,
encontraram os meus. A tristeza e a preocupação repousavam
sobre ele.
— Esse cara vai possuir um pedaço da sua alma se você fizer
isso.
— Sim — eu disse novamente, porque eu sabia disso
também. Era o que mais me irritava.
— Então não faça isso, porra.
— Precisamos desse dinheiro, Dean. Ou eu luto ou vendo a
academia.
— Sempre há maneiras de conseguir dinheiro. Vou arrumar
um emprego. — Ele se inclinou. — Um trabalho de verdade.
Chega de brincadeiras. Vou encontrar algo bom.
Eu dei a ele um sorriso fraco.
— Não será suficiente. Não com o tempo limitado que nos
resta.
Dean se moveu para falar, mas eu levantei a mão.
— Não é mais só o dinheiro. Aquele imbecil colocou na
cabeça que vai me ver lutar. Não se trata apenas de dinheiro
com Fairchild. O filho da puta tem uma incapacidade psicótica
de aceitar um não como resposta. E ele deixou claro que vai
mexer comigo se eu não fizer isso.
Dean ficou de pé e começou a andar.
— Filho da puta. Tem que haver uma maneira de contornar
isso.
Suspirei e observei Dean andar de um lado para o outro.
— Aquele... Aquele...
— Desgraçado? — Eu forneci ironicamente.
Dean sorriu largamente.
— Sim. — Seu sorriso caiu. — Ele está tratando você como
uma maldita exibição de zoológico. Pague um ingresso e veja o
grande Rhys Morgan voltar ao ringue. Puta merda.
Algo faiscou e ondulou em minha mente.
— Espera. Pare.
Dean parou no meio do caminho e me encarou.
— O quê?
Esse algo dançou e continuou rodopiando.
— Uma exibição de zoológico, você disse.
— Sim, uh, o quê? — Ele soltou uma risada. — Não estou
acompanhando.
Levantei-me e continuei de onde ele parou de andar.
— Me deu uma ideia. E se eu fizesse uma luta de exibição?
— Não é isso que Fairchild quer?
— É... Não. Quero dizer, e se nós — eu gesticulei entre nós
— organizarmos uma luta? Uma luta de exibição, para
caridade.
Dean mordeu o lábio enquanto me observava.
— Para caridade? Mas como isso nos ajuda?
— Eu não sei... — Continuei andando. — Pode não
funcionar. Mas se eu organizar uma luta, eu puxo o tapete
daqueles filhos da puta. Se fizermos para caridade, talvez
possamos encontrar um patrocinador para a academia.
Encontrar uma maneira de ajudar não apenas a nós mesmos,
mas também a comunidade.
Lentamente, a expressão de Dean se iluminou.
— Pode funcionar. — Ele caminhou para o outro lado, nós
dois criando um sulco nas tábuas do assoalho. Seu passo ficou
mais rápido enquanto refletia sobre o que eu disse. — Pode
funcionar, Rhys. — Ele parecia animado agora. — Mas não
tenho ideia de como começar algo assim. Você sabe?
Parei ao lado do balcão da cozinha. Na minha mente, eu
ainda podia ver Parker parada ali, bonita como o nascer do sol,
com os olhos brilhando enquanto me observava me preparar
para cozinhar. Eu estava me apaixonando por ela desde o início.
Ela me deu esperança, me fez querer ir mais longe, levantar a
cabeça um pouco mais alto.
Eu não sabia nada sobre organizar uma arrecadação de
fundos, mas tinha quase certeza de que ela sabia. Eu encontrei
os olhos do meu irmão e sorri.
— Precisamos da Parker.
Eu precisava dela. Essa era a verdade. Eu precisava dela em
mais de uma maneira.
Peguei meu telefone e liguei para ela, cheio de satisfação por
poder fazer isso. Merda, eu já sentia falta dela. Eu a queria. Eu
a queria tanto que senti que perdi alguma coisa quando ela se
foi.
Ela atendeu com uma voz ofegante.
— Ei, você.
Um sorriso bobo puxou minha boca enquanto minha
cabeça ficava nebulosa com luxúria.
— Ei, Sininho. O que você está fazendo?
— Pensando em você.
Jesus. Eu estava tão perdido por essa garota.
— Boa resposta. — Eu sorri, então disse a mim mesmo para
me concentrar. — Você pode vir até aqui? Eu preciso de você.
— Então é assim, hein? — Ela parecia atrevida e sexy como
o inferno.
Eu ri.
— É sempre assim quando você está envolvida, linda.
Atrás de mim, Dean fingiu vomitar. E lancei-lhe um olhar
antes de focar em Parker.
— Aham. Eu preciso disso também. Mas Dean está aqui
agora.
— Você disse a ele, não é? — orgulho encheu sua voz.
Orgulho de mim.
— Sim. E começamos a falar sobre a luta. Eu tenho um
plano. Quer me ajudar com isso?
Ela não hesitou.
— Já estou indo.
Porque ela era minha garota. Minha garota por agora. E, por
agora, era o suficiente para mim.
Parker

Zoe era uma péssima mentirosa.


Eu a observei com cautela enquanto subíamos os degraus da
frente da academia de Rhys. Seu olhar escuro e inteligente
observava o prédio, sua carranca se aprofundando enquanto
passávamos pelas portas.
Sob o pretexto de que ela queria participar da reunião entre
Rhys e a gerente do evento, Fiona, para a instituição de caridade
de Zoe, Guerreiros da Rua, ela estava me acompanhando até a
Lights Out.
Considerando que Zoe deu liberdade a Fiona como gerente
de eventos, nós duas sabíamos que Zoe estava realmente
usando isso como desculpa para conhecer Rhys. No entanto,
como Ren e os caras já conheceram meu namorado (sim, eu
estava chamando ele assim na minha cabeça agora), eu não iria
discutir com a minha melhor amiga sobre isso.
Isso não significava que eu não estava muito nervosa para
ver o que ela pensaria de Rhys, e eu não queria que ele sentisse
alguma pressão também. Ele já teve estresse suficiente na vida.
Duas semanas atrás, ele me chamou para sua casa depois da
discussão com seu irmão. Não surpreendentemente, Dean
descobriu sobre o empréstimo quando vasculhou as finanças
da academia. Ao descobrir a extensão da dívida e a quem era
devida, Dean provou ser um bom irmão. Ele imediatamente
começou a pensar em ideias e eles pensaram em uma luta
beneficente.
Eu odiava que isso significava que Rhys ainda teria que
lutar, mas ele parecia contente com a ideia, já que seria em seus
termos. Eles precisavam da minha ajuda, então entrei
completamente no modo de plano de batalha.
Rhys já havia se encontrado com Fiona no Guerreiros da
Rua; esta era a segunda reunião para finalizar os detalhes.
Como não tínhamos muito tempo, chamei Easton para ajudar,
assim como minha mãe. Com o conhecimento da sociedade
tanto da minha irmã quanto da minha mãe, escolhemos uma
data no calendário social que sabíamos que a maioria das
pessoas poderia comparecer. O evento seria realizado na
academia de Rhys. A ideia era dar a academia a exposição
necessária na esperança de conseguir o patrocínio de alguns dos
convidados mais importantes, mas para nossa alegria alguns
amigos dos meus pais, envolvidos em programas de
desenvolvimento comunitário, já haviam visitado a academia
com a minha mãe para oferecer patrocínio.
A luta nem havia ocorrido e já havia muita pressão em Rhys.
Para atrair as pessoas para o evento, Rhys pediu um favor e
conseguiu que o ex-campeão mundial de peso-pesado, Jarrod
“O Trovão” Johnson, lutasse com ele. Jarrod era um pouco
mais velho que Rhys e, embora fossem amigos, nunca lutaram
entre si antes. O que significava que essa luta de exibição era um
grande atrativo para os fãs de esportes na elite. Já havíamos
garantido a venda de ingressos de Diana Crichton Jones – a
bilionária que conheci na festa no jardim do Fairchild – e seu
noivo, bem como Adriana Bellington, dona da Sportsbox.
Ela queria transmitir a luta beneficente em sua emissora, e
estávamos doando o pagamento dos direitos para os Guerreiros
da Rua. A promoção gratuita só nos ajudaria a ganhar mais
patrocínios.
Easton e minha mãe eram as melhores em organizar
recepções, então eu as encarreguei de organizar o bufê para uma
festa pós-luta no segundo andar da academia. Minha mãe
convenceu um fornecedor e organizador de festas a doar seu
tempo e trabalhar conosco como uma redução de impostos,
então também não tivemos que pagar por isso.
Fiona estava encarregada da venda de ingressos, então ela se
encontraria com Rhys hoje para atualizá-lo sobre o quanto
tínhamos progredido. A luta seria em três semanas. Embora
Rhys e eu tenhamos passado algum tempo juntos nos últimos
fins de semana, não o vi tanto quanto gostaria porque ele estava
em modo de treinamento.
— Este lugar é triste — Zoe murmurou enquanto
atravessávamos o átrio envidraçado e as portas duplas para a
academia pública. Havia apenas algumas pessoas trabalhando.
— Uma reforma de redecoração é definitivamente necessária.
— Por isso, a luta de caridade — eu a lembrei. — Por aqui.
Desde que comecei a namorar Rhys de verdade, eu visitei a
academia algumas vezes e sabia como andar por ela. Levei Zoe
para a escada dos fundos que nos levaria diretamente ao
corredor do segundo andar que abrigava o escritório de Rhys.
Ao ouvir minha batida, Rhys gritou:
— Entre.
Sua voz enviou um arrepio pelo meu corpo, e estendi a mão
para abrir a porta.
O grunhido de Zoe interrompeu minha ação.
— O quê? — Eu fiz uma careta.
— Você está loucamente apaixonada — ela sussurrou,
sorrindo.
Meu coração deu um salto com a palavra.
— Retire o que disse.
— Não. — Ela balançou a cabeça, abrindo a porta de Rhys.
— Só falo a verdade.
Tentando esmagar o calor que suas palavras causaram ao
meu rosto, meus olhos dispararam para Rhys, que estava de pé
ao lado de sua mesa com Fiona ao seu lado. Dean e Carlos
também estavam na sala. Meu olhar passou por eles então
voltou para Rhys, cujo rosto se abriu em um largo sorriso.
— Ei, Sininho.
Ignorando as últimas palavras perturbadoras de Zoe,
atravessei a sala com um pequeno sorriso e fiquei na ponta dos
pés enquanto Rhys se inclinava para me beijar. Tudo nele – seu
sorriso, a expressão satisfeita em seus olhos quando olhava para
mim, sua colônia, a sensação dele sob minhas mãos – causava
uma dor de prazer no meu peito. Seu braço se moveu em volta
da minha cintura, puxando-me para o seu lado.
— Ei.
Ele sorriu para mim por um longo momento e então olhou
para cima.
— Você não vai nos apresentar?
Droga.
Olhei para minha melhor amiga e corei com a expressão em
seu rosto.
Dizia claramente: “Você acabou de provar meu ponto de
vista.”
— Certo. Rhys, esta é minha melhor amiga e colega de
quarto, Zoe. Zoe, este é Rhys. Você já conhece Fiona, é claro.
— Eu sorri para a universitária loira que tinha mais energia do
que qualquer pessoa tinha direito. Meu olhar passou dela para
Carlos e Dean, que estavam encarando intensamente a minha
melhor amiga. — Este é Dean, irmão de Rhys, e Carlos, amigo
de Rhys. Ele também trabalha aqui.
— Ei. — Rhys ergueu o queixo para ela. — Prazer em
conhecê-la.
— Sim, você também. Eu ouvi muito sobre você.
— Vou assumir que foram só coisas boas.
— Claro.
Mantive meu olhar em Rhys durante essa troca. Levei um
momento para perceber que estava estudando sua reação a Zoe.
Minha amiga era um mulherão, mas eu não queria que Rhys
notasse.
Claro que ele notaria; ela era linda por dentro e por fora.
Eu tinha orgulho de ser amiga da Zoe.
Eu só queria a atenção de Rhys para mim enquanto
estávamos na fase de lua de mel.
E me irritou que eu pudesse ser tão insegura e possessiva.
A expressão de Rhys era agradável o bastante
cumprimentando minha amiga, mas não havia nenhum indício
de interesse perceptível além disso.
Ao contrário de Dean e Carlos, que se aproximaram ao
mesmo tempo para apertar a mão de Zoe.
Dean olhou para Carlos e o empurrou para fora do
caminho.
— Eu sou o irmão.
Minha amiga pegou a mão estendida de Dean.
— Eu sou a colega de quarto.
— E eu sou Carlos. — Ele pressionou a palma da mão no
peito de Dean e o empurrou para trás como se fosse uma
criança. — Zoe, bonita, é um prazer finalmente conhecê-la.
Obrigado por ajudar meu garoto com este evento.
Com os olhos dançando sob os olhos sedutores de Carlos,
Zoe apertou sua mão.
— Bem, é um benéfico mútuo.
Carlos sorriu, suas covinhas perigosas aparecendo em cada
bochecha.
— Bem, se benefícios mútuos são algo em que você está
interessada, você e eu definitivamente deveríamos conversar
um pouco mais.
Minha amiga riu e puxou a mão de volta.
— Ah, não gosto muito de dividir benefícios com alguém
cujo grupo de companheiros sexuais é provavelmente tão
grande que se qualifica como uma população.
Eu tentei conter minha risada com a expressão perplexa de
Carlos. Claramente, ele estava acostumado com as mulheres
caindo aos seus pés ao primeiro sinal daquelas covinhas.
— Vamos voltar ao que interessa. — Rhys apertou meu
ombro enquanto se virava para Fiona. — Conte a eles sobre a
venda de ingressos.
Fiona sorriu para todos nós.
— Os ingressos esgotaram.
Gritos encheram a sala e logo flertes fracassados saíram pela
janela enquanto discutíamos o que havia sido feito e o que
ainda precisava ser feito para tornar o evento um sucesso.
Cerca de uma hora depois, Fiona partiu e Zoe suspirou
quando a porta se fechou atrás dela.
— Eu também preciso ir. — Ela gesticulou para mim. —
Você vem ou vai ficar?
Eu balancei a cabeça. Eu estava na mesa de frente para Rhys,
que estava sentado na cadeira, seus dedos perseguindo o arrepio
criado enquanto ele acariciava a parte de trás da minha
panturrilha esquerda.
Ela sorriu conscientemente.
— Certo. Vejo você mais tarde, então. — Seu olhar se
moveu entre mim e Rhys. — Além disso, não que isso importe,
mas eu aprovo.
Ouvi Rhys grunhir enquanto sorria para minha melhor
amiga.
Importava para mim o que ela pensava de Rhys. Não o
suficiente para parar de sair com ele, mas ainda assim, fiquei
feliz por ela ver como ele me fazia feliz.
— Vou acompanhá-la — Carlos ofereceu.
— Ah, não pre...
— O prazer é meu. — Ele abriu a porta e gesticulou para que
ela andasse na frente.
Assim que a porta se fechou atrás deles, virei-me para Rhys.
— Você pode querer dizer a ele que não tem chances. Zoe
pode localizar um mulherengo a um quilômetro de distância e
ela não tem interesse neles. — Olhei por cima do ombro para
Dean. — Isso vale para você também.
— Sem problemas. — Dean curvou os lábios em
pensamento. — Ela é linda, mas eu gosto de mulheres com
fobia de compromisso. Uma pena. Eu não me cansaria de olhar
para ela.
— Ela é mais do que um rostinho bonito, sabe.
— Sim, a bunda e as pernas dela também são fantásticas. —
Dean riu da minha careta e se levantou. — Estou brincando,
Parker. Acho melhor deixar os pombinhos em paz. Mas você
— ele apontou para o irmão — tem treinamento esta tarde.
Senti a mão de Rhys deslizar mais para cima na minha perna.
— Vou fazer meu treino, não se preocupe.
Tremendo com a promessa em sua voz, eu não consegui
nem rir da expressão de desgosto de Dean.
— Eu entendo insinuações, cara de merda.
Rhys riu.
— Você vai embora ou o quê?
— Eu tenho merda para fazer, então sim.
— Espero que essa merda tenha algo a ver com encontrar
um emprego decente.
— Ei, quem é a pessoa mais inteligente nesta sala?
— Parker.
Eu ri quando Dean revirou os olhos.
— Eu quis dizer entre nós dois.
Mas Rhys não estava rindo.
— Eu estou falando sério, Dean. Hora de levar a sério.
— Eu já te disse que estou. — Ele saiu antes que Rhys
pudesse dizer outra palavra.
Eu franzi as sobrancelhas.
— Você ainda está preocupado com ele?
— Vou continuar me preocupando com ele até que ele
consiga um bom emprego e comece a se estabelecer. Agora,
podemos parar de falar sobre meu irmãozinho e subir para o
apartamento?
Antes que eu pudesse responder, ele colocou as mãos
debaixo da minha bunda e me levantou, então eu não tive
escolha a não ser me envolver em torno dele como um macaco.
— Essa foi uma pergunta retórica. — Suas pálpebras
baixaram sobre os olhos enquanto ele olhava para a minha
boca. — Se eu não entrar em você nos próximos cinco minutos,
vou enlouquecer.
Eu o teria repreendido por tal melodrama se seu telefone
não tivesse vibrado na mesa.
Ele olhou por cima do meu ombro e fez uma careta.
— O que é? — Eu me virei para dar uma olhada na tela do
telefone dele. — Quem é Coronel Merda?
— Fairchild.
Eu bufei e sorri para ele.
— Interessante.
Rhys não riu.
— É a terceira vez que ele liga desde ontem.
— Ele ouviu sobre a luta — eu deduzi, sentindo um fio de
apreensão correr por mim. — Atenda. Apenas acabe com isso.
O músculo em sua mandíbula flexionou.
— Estou meio que no meio de uma coisa.
— Não vou conseguir me concentrar até sabermos o que ele
tem a dizer.
Rhys suspirou pesadamente e gentilmente me abaixou no
chão. Seu telefone parou de vibrar por um segundo e
imediatamente começou de novo.
— Coronel Merda foi muito gentil — ele murmurou
baixinho enquanto pegava o telefone.
Eu me pressionei ao seu lado, uma palma na parte inferior
das suas costas, a outra em seu abdômen, meu apoio físico era
uma demonstração do meu apoio emocional. Rhys passou o
braço em volta dos meus ombros e atendeu, colocando o
telefone no viva-voz.
— Fairchild.
— Morgan — o Sr. Fairchild respondeu concisamente. —
Você percebe que essa maldita luta de caridade que está
organizando afetou o nível de interesse na minha luta?
— Bem, isso realmente não importa porque eu nunca
concordei com a sua luta.
Houve silêncio. Então:
— Seu filho da puta sorrateiro.
Eu enrijeci ao mesmo tempo que Rhys, um grunhido
crescendo na minha garganta.
Ao ouvir isso, Rhys esfregou meu ombro e balançou a
cabeça para mim.
— Eu não dou a mínima para quem você é, Fairchild.
Ninguém fala assim comigo.
— Ah, você vai se importar, filho, quando eu acabar com
você. Achou que poderia me enganar e sobreviver a isso?
— Você está me ameaçando?
— Não da maneira que você pensa. Existem outras maneiras
de destruir a vida de um homem sem tocar em um único fio de
cabelo. Agora, aqui está o que você vai fazer. Você vai
continuar com essa luta estúpida de caridade, mas ainda vai
lutar por mim.
— Ou o quê?
— Ou começo com aquela cadela que, de acordo com
minha equipe, gosta muito de ser fodida. — Os dedos de Rhys
apertaram meu ombro e sua expressão ficou sombria. — Bem
— Fairchild continuou —, eu vou foder com ela também, só
que de um jeito diferente. Vou começar com aquele trabalho
dela. Não só vou garantir que ela nunca mais trabalhe para a
Horus, como também vou garantir que ela nunca mais trabalhe
em Boston, e vou ainda mais longe e garantir que ela nunca
trabalhe com energia renovável. Cada movimento que ela fizer
para promover sua carreira, eu estarei lá para foder tudo.
Meu coração batia forte no peito, náusea revirando meu
estômago porque eu sabia que Fairchild era capaz de fazer
exatamente isso.
— E se isso não for suficiente para fazer você ver as coisas do
meu jeito, vou passar para o seu irmão. Seria uma pena se
alguém tão inteligente quanto Dean, com um futuro tão
brilhante pela frente, se encontrasse desempregado.
Rhys estremeceu contra mim e eu o segurei com mais força,
como se pudesse conter sua fúria. Ele abriu e fechou a boca.
Vendo sua dificuldade, acariciei sua bochecha, atraindo seu
olhar para o meu.
Eu balancei minha cabeça para ele e murmurei:
— Nós podemos enfrentá-lo.
Seus olhos perguntavam: “Como?”
Pensei em todas as conexões que minha família tinha com
pessoas poderosas na sociedade e, embora me incomodasse
pensar em usar essas conexões, eu faria se nos ajudasse a sair
disso. Fairchild pensava que era intocável, mas por mim, por
Rhys e por Dean, eu faria qualquer coisa para provar que ele
estava errado.
— Vejo que tenho sua atenção — disse Fairchild, soando
presunçoso. — Bom. Entrarei em contato sobre minha luta,
Morgan, então da próxima vez que eu ligar, atenda a porra do
telefone. — Ele desligou.
Os dedos de Rhys se curvaram em torno do celular e vendo
seus dedos ficarem brancos, eu rapidamente peguei o telefone
antes que ele o jogasse do outro lado da sala. Coloquei-o sobre
a mesa e me virei para ele.
— Nós podemos enfrentá-lo. Meus pais têm muitos amigos
poderosos e, embora eu nunca tenha pensado neles dessa
maneira, Charles e Marion Brown não são pessoas com quem
se mexe.
— Eu pensei que a razão pela qual você queria um
relacionamento falso era manter seus problemas longe dos seus
pais?
Eu endureci.
— Bem, eu também não estou feliz com a ideia de ir até eles,
mas não acho que devemos permitir que esse homem nos
destrua. É melhor pedir ajuda às pessoas que se importam
conosco do que deixar o Coronel Merda nos chantagear.
Os olhos de Rhys procuraram os meus pelo que pareceu
uma eternidade. Então exalou lentamente.
— Parker, você veio até mim – bem, tecnicamente, Dean,
mas não vamos pensar nisso – para pedir ajuda. Este trabalho
significa muito para você, você estava disposta a pagar um cara
para fingir namorar com você para mantê-lo. Não posso deixar
você comprometer tudo isso.
Eu deslizei minha mão até seu peito, descansando minha
palma sobre seu coração que batia ferozmente.
— Também não quero comprometê-lo. Isso me assusta.
Muito. Mas a ideia de Fairchild usar você, o que isso fará com
você e Dean, isso também me assusta. Vamos seguir em frente
com a luta de caridade. Não sabemos o que vai resultar dela.
Assim que soubermos que cartas temos, podemos lidar com
Fairchild. Por enquanto, vamos apenas encontrar maneiras de
segurá-lo.
Rhys continuou franzindo a testa.
— Eu não quero que você escolha eu e Dean ao invés do seu
trabalho. Você trabalhou duro por ele. É importante para você.
— Você também é importante para mim, Rhys.
De repente, Rhys passou a mão na minha nuca e me puxou
para um beijo forte. Eu choraminguei de surpresa, e ele
levantou a cabeça brevemente para rosnar:
— Você realmente não tem ideia, não é, Sininho?
Antes que eu pudesse responder, ele me ergueu de volta em
seus braços e me beijou com um desespero de tirar o fôlego. Sua
boca nunca deixou a minha enquanto ele tentava nos levar para
fora da sala. Nós esbarramos em uma parede, ou duas – nossas
risadas e suspiros, seus grunhidos e meus gemidos, encheram o
corredor enquanto ele nos levava para o elevador que dava no
seu apartamento.
Uma vez que as portas se fecharam, ele começou a se esfregar
em mim, me beijando até que eu mal conseguia respirar com a
antecipação. Meu corpo inteiro estava em chamas.
— Você está molhada? — Ele beijou meu pescoço abaixo da
minha orelha.
— Você sabe que sim — eu engasguei, agarrando-o
enquanto ele empurrava contra mim novamente. — Rhys!
— Se você quer que eu te foda, você tem que dizer, Sininho.
Tremendo de desejo, virei a cabeça e sussurrei em seu
ouvido:
— Eu quero que você me foda, Rhys.
Ele estremeceu sob minhas mãos e, assim que as portas se
abriram, Rhys tropeçou para dentro do apartamento e me
colocou no móvel mais próximo – a mesa da sala de jantar.
Seus lindos olhos verdes brilhavam de desejo enquanto ele
deslizava as mãos por baixo do meu vestido para puxar minha
calcinha pelas minhas pernas. Eu me inclinei para trás, minhas
coxas tremendo enquanto eu o observava apressadamente tirar
uma camisinha da carteira, desabotoar sua calça jeans e
empurrá-la junto com a cueca boxer para baixo apenas o
suficiente para se libertar.
Assim que a camisinha foi colocada, Rhys agarrou meus
quadris e me puxou para a beirada da mesa para que eu pudesse
envolver minhas pernas em volta da sua cintura. Sem mais
delongas, ele entrou em mim com um profundo gemido de
satisfação. Segurando seu ombro esquerdo com uma mão e o
tampo da mesa com a outra, eu me preparei contra seus
impulsos vigorosos, ofegante quando a tensão que ele
construiu em mim apenas por nos esfregar no elevador cresceu
até o ponto de ruptura.
Eu adorava quando ele era carinhoso... Mas, meu Deus, eu
adorava quando ele perdia um pouco desse controle e me
tomava como se fosse morrer se não o fizesse.
Já me conhecendo, entendendo o que eu precisava, Rhys
enfiou a mão entre minhas pernas e moveu o polegar sobre meu
clitóris.
A intensa tensão quebrou, meu grito de prazer encheu o
apartamento enquanto Rhys entrava em mim, onda após onda
do meu orgasmo voluptuoso levando-o para mais perto do
dele. Finalmente, ele ficou tenso, seu rosto firme, seus dedos
pressionando minhas coxas. E então seus quadris se mexeram
incontrolavelmente quando seu grito rouco de liberação se
juntou aos ecos do meu.
Ele caiu sobre mim, ainda flexionando lentamente para
dentro e fora de mim enquanto descansava a testa no meu
ombro.
Segurando Rhys contra mim, deslizei meus braços em volta
das suas costas, acariciando-o sobre sua camisa e desejando que
estivéssemos nus. Ele virou a cabeça e cheirou meu pescoço,
fazendo minhas pernas instintivamente apertarem sua cintura.
— Sabe — eu disse, minha voz suave, calma —, há algumas
pessoas que acreditam que um atleta deve se abster de sexo. Que
a frustração aumenta a agressividade e a energia para um jogo
ou uma luta.
Rhys levantou a cabeça, sua expressão relaxada exceto por
seus olhos.
— Aonde você quer chegar com isso, Sininho?
— Só queria confirmar que não estou interferindo no seu
treinamento.
Ele levantou uma sobrancelha.
— Você sabe qual é a minha resposta para isso?
Eu balancei minha cabeça.
Rhys agarrou minha cintura e saiu de mim. Eu
imediatamente o quis de volta.
— Nós vamos nos limpar. Você primeiro, depois eu.
Quando eu sair do banheiro, você estará nua na minha cama
esperando pela minha boca. Então, você vai me dar sua boca
porque eu tenho sonhado com ela encaixada no meu pau desde
que nos conhecemos. E você não vai sair da minha cama até que
nós dois estejamos exaustos de tanto gozar.
O calor renovado disparou direto para o meu núcleo.
— Essa é uma resposta muito, muito boa.
Ele sorriu, e então eu gritei de alegria quando ele me puxou
para fora da mesa e me carregou para o banheiro.
Então passamos o resto da tarde gozando até ficarmos
exaustos.
E foi espetacular.
Até depois, enquanto eu jazia saciada e suada na cama,
minhas pernas entrelaçadas com as dele. Estendi a mão para ele,
acariciando com as costas dos meus dedos seu peito que agora
estava úmido de suor.
— Precisamos bolar um plano de jogo para Fairchild.
O suspiro de Rhys foi de pura exasperação.
— Eu não quero falar sobre ele quando estamos na cama. É
quase o suficiente para me brochar pelo resto do dia.
Suspirei com minha própria frustração.
— Ele é um problema que não vai desaparecer tão cedo.
— Sim, e estou fazendo dele o meu problema. De jeito
nenhum, ele vai foder com você, e isso significa que não quero
que você se preocupe com essa merda. — Rhys se sentou,
jogando as pernas para fora da cama.
— Ele é nosso problema e para onde você está indo?
Ele se levantou, mas então colocou um joelho na cama para
se curvar e pressionar um beijo rápido nos meus lábios.
— Tenho que treinar, Sininho. Você que sabe se quiser
continuar aqui. Tomaria banho com você, mas nós dois
sabemos aonde isso vai levar, então é melhor não.
Uma vibração de nervos ganhou vida na minha barriga
quando ele entrou no banheiro e fechou a porta. Me
incomodava que ele não quisesse falar sobre Fairchild quando
conversávamos sobre outras coisas que eram tão importantes e
pessoais.
E, de repente, me incomodou que, em vez de falar sobre
Fairchild e a luta, ele tivesse usado sexo para liberar sua
frustração. Ok, o sexo obviamente não me incomodou, mas...
Bem, agora eu sentia como se tivesse acabado de ser dispensada.
A parede repentina que ele colocou entre nós era confusa.
Urgh. Era mesmo uma parede?
Eu estava pensando demais nisso?
O chuveiro foi ligado, e quando sentei na cama de Rhys,
esperando para usar o chuveiro depois dele, fiz o que sempre
fazia e passei muito tempo dentro da minha própria cabeça.
Rhys

A vida era estranha. Uma parte dela poderia estar indo muito
bem, enquanto outras partes eram só problemas de merda. Pela
primeira vez em anos, eu me sentia feliz. Era estranho. Ela me
deixava verdadeiramente feliz de uma forma que eu não sabia
como lidar; eu nunca estive assim com uma mulher. Eu passava
pelo meu dia como um idiota apaixonado, sorrindo
continuamente, minhas entranhas revirando e contraindo com
a expectativa de vê-la novamente. Assim que eu colocava
minhas mãos nela, era apenas felicidade. A porra da pura
felicidade.
Parker era divertida. Ela me fazia rir. E ela me deixava com
tesão pra caramba. Eu me tornei um poeta safado. Dean se
divertia com a minha “transformação”.
Eu aceitava suas provocações com bom humor – como
disse, estava feliz demais para me importar.
E então, havia o resto da minha vida. Eu tinha um plano. Eu
seguiria o plano. Mas eu não estava exatamente feliz com isso.
Era muito perto do passado.
Toda vez que eu entrava no ringue para treinar, era atingido
por uma euforia ousada, uma sensação de total certeza e
confiança. E, ao mesmo tempo, me sentia vagamente enjoado.
O cheiro de suor, sangue e o fedor das luvas de boxe traziam
tudo de volta. Eu me lembrava instantaneamente da expressão
de Jake, o vazio em seus olhos, a porra do choque de tudo.
Tive costelas quebradas, nariz quebrado, nós dos dedos
quebrados e tive duas concussões. Dor é vida. O verdadeiro
horror da morte era o vazio dela. Nada iria trazer Jake de volta.
Ele se foi.
Era um refrão enquanto eu pulava corda, indo cada vez mais
rápido.
Ele se foi.
Ele se foi.
— Pode fazer o dobro, Morgan! — O rosnado de Jimmy me
trouxe de volta ao momento. Seu rosto enrugado se contorceu
em um olhar feio. — Você não está aqui para sonhar acordado.
— Farei isso no meu tempo livre, chefe — respondi com um
sorriso. Eu treinei com Jimmy desde que me tornei
profissional. Quando perguntei a ele sobre fazer uma partida
beneficente, o velho ficou com os olhos marejados.
Aparentemente, ele esperou anos para que eu voltasse.
A culpa era uma cadela.
— Se você vai sonhar — disse ele —, então sonhe em mover
essa sua bunda gorda e preguiçosa. Jesus, você não se manteve
em forma?
Jimmy era um cara engraçado pra caralho.
— Aparentemente não, chefe.
Não para seus padrões, de qualquer maneira. Eu pensei que
estava em boa forma. Nada como voltar ao esporte para
lembrar a um homem o quanto ele se iludiu.
— Se você consegue sorrir assim — disse Jimmy —, então
pode cantar enquanto faz isso.
Horror me atingiu. Ai, porra.
— Vamos lá, Jimmy — implorei. Sim, implorei. — Tenha
um coração.
Seus olhos pretos e redondos brilhavam sob as sebes cinzas
de suas sobrancelhas.
— Cante. A. Música.
Porra.
Com um suspiro, eu comecei.
— “Eu sou o próprio modelo de um General moderno, eu
tenho informação vegetal, animal e mineral...”
O bastardo sádico acenou com as mãos como um maldito
maestro enquanto eu pulava corda e cantava a música do
general de Os Piratas de Penzance.
O suor escorria pela minha espinha e minhas pernas
pareciam macarrão. Mas meu peito estava limpo, meu sangue
bombeava forte e minha voz continuava alta.
— “Estou muito bem familiarizado, também, com questões
matemáticas, eu entendo equações, tanto simples quanto
quadráticas...”
Na verdade, eu não tinha ideia de como resolver equações
quadráticas. Talvez eu soubesse no ensino médio. Parker
saberia.
Deus, Parker. Se ela me visse agora, ela iria rir e gargalhar.
Seu lindo rosto se iluminaria de alegria. Aqueles lábios rosados
se curvariam em um sorriso.
Deus, aqueles lábios. Eles, de fato, se encaixaram em volta
do meu pau no outro dia. Ela tinha essa técnica, um pequeno
movimento rápido da língua ao longo da ponta quando ela
tirava meu pau da boca que era alucinante. Eu quase proclamei
minha devoção eterna quando fez isso.
Os pensamentos de Parker me chupando me levaram
através da música e do aquecimento. Mas Jimmy, homem mau
que era, sabia perfeitamente bem que minha mente estava em
outro lugar.
— Você perdeu o foco — ele resmungou depois, quando
estava passando fitas nas minhas mãos. Eu poderia fazer isso
sozinho, mas ele insistiu. — Não vai te servir bem no ringue.
Eu olhei para minhas mãos. Elas estavam mais macias agora,
não tão danificadas.
— Eu sei. Eu não consigo... — Dei de ombros, não
querendo admitir, mas confiando em Jimmy o suficiente para
saber que eu tinha que fazer isso. — Estou tentando. Mas é
difícil.
Ele fez uma pausa e olhou para mim. Pequeno como um
gnomo e igualmente curvado, Jimmy sempre me fez pensar que
ele era metade mágico. Cada cara que ele treinava parecia ser
muito melhor do que os outros. Eu tive muita sorte de tê-lo ao
meu lado.
— Seu coração não está nisso.
— Não como era. Eu perdi alguma coisa quando Jake... —
Eu parei com um aceno de cabeça.
Jimmy terminou de prender minhas mãos.
— Eu vi a luz morrer em seus olhos naquela noite também.
Sabia que tinha acabado para você. — Ele se sentou sobre os
calcanhares e esfregou a barba grisalha no queixo. — Olha,
rapaz, o que você está fazendo é uma coisa boa. E se isso livrar
você do banco e daquele babaca bilionário, melhor ainda.
Eu sabia de tudo isso. Eu contei a Jimmy. Estranhamente,
ainda era bom ouvir. Eu balancei a cabeça e flexionei minhas
mãos, testando a fita. Havia algo reconfortante em estar
usando-as, bom e familiar.
Fechei os dois punhos e me levantei.
Jimmy seguiu. Sua cabeça vinha até a parte de baixo do meu
esterno. Eu me sentia estranhamente protetor com o velho,
como se talvez um dia ele também se fosse, se eu não cuidasse
dele.
— Então seu coração não está nisso — ele disse
sucintamente. — Isso é um problema.
— Eu sei. — Eu simplesmente não sabia o que fazer sobre
isso. A ideia de perder me irritava; eu era muito competitivo
para não fazê-lo. A ideia de perder na frente de Parker era uma
humilhação que eu realmente não conseguia suportar. Eu
queria que ela visse o meu melhor, não uma versão desbotada.
Eu queria que ela visse o que eu poderia fazer.
Jimmy assentiu como se conhecesse meus pensamentos.
— Encontre algo pelo qual lutar, seja sua garota ou sua
academia. Seja o que for, procure e segure, certo?
Algo pelo que lutar. Droga, isso foi o que mexeu comigo.
Eu lutaria por Parker, mas ela era minha. Eu sentia dentro de
mim. Ganhando ou perdendo, ela não usaria isso contra mim.
Claro, seria uma decepção se eu perdesse, mas não a perderia.
Esse conhecimento interno tornou difícil para mim encontrar
a motivação adequada ali.
Lutar pela minha academia? Eu tenho feito isso o tempo
todo. Por que, então, era tão difícil fazer meu sangue ferver
quando se tratava dessa luta? Talvez porque quando eu lutava
no passado, lutava pela alegria, pela emoção da vitória. Isso foi
o suficiente para mim. Agora a alegria era uma pálida cópia do
que costumava ser.
Algo pelo que lutar. Porra, eu precisava descobrir isso.
Revirando o pescoço para aliviar as tensões, consegui dar a
Jimmy o que esperava ser um olhar reconfortante.
— Vou pensar sobre isso.
Ele bufou e murmurou baixinho sobre boxeadores cabeça
dura. Eu sorri.
Jimmy olhou ao redor da academia.
— Onde está o Carlos? — Ele era meu parceiro de treino.
Éramos iguais em potência, mas eu era mais rápido. Carlos, no
entanto, era um filho da puta astuto que tinha um jeito de me
fazer manter a cabeça no jogo ou corria o risco de levar uma
pancada forte no rosto.
— Provavelmente assistindo pornô no escritório — eu disse,
delatando Carlos.
Jimmy murmurou mais palavras bem escolhidas e saiu
pisando duro para buscá-lo. Eu não disse uma palavra; não era
tolo o suficiente para ficar entre Jimmy e uma bronca.
Rindo baixinho, fui até o pequeno saco de pancadas e me
mantive aquecido.
Algo pelo que lutar?
Eu tinha a academia.
Eu tinha Dean.
E... Parker. Eu tinha Parker.
Eu deveria me sentir bem com tudo isso. Em êxtase, até. Mas
ainda havia algo errado, algo em cima de mim. Eu precisava de...
absolvição. Eu precisava tirar todo esse peso de culpa e
ansiedade do meu peito.
Sexo com Parker aliviava muita tensão. Estar com ela me
fazia sentir completo. Mas Parker não podia ajudar com esse
tipo particular de expiação. Eu não podia resolver isso me
perdendo em seus braços.
Eu precisava de outra pessoa para isso. Por um segundo,
pensei em contar a Parker, confessar. Mas eu não podia. Eu
tinha que fazer isso ou nunca seria capaz de lutar bem. Ela
entenderia. Ela entenderia, mesmo que pensasse menos de
mim.
Ela precisava entender. Porque eu não poderia fazer essa luta
de outra maneira.
Parker

Era bom escapar do escritório para almoçar. Faltando apenas


uma semana para a luta beneficente, eu estava preocupada. No
entanto, não preocupada o suficiente para não me preocupar
com o quão quieto Jackson estava ultimamente. Ele passava
muito tempo indo a reuniões que nunca explicava e falando ao
telefone com a porta do escritório fechada.
Além disso, eu ainda tinha que lidar com Pete Esquisito e
sua atitude petulante. Ele não cruzava mais o escritório para
falar comigo quando tinha uma pergunta sobre a folha de
pagamento sobre minhas horas extras. Eu recebia um e-mail. E
sempre que havia uma discussão entre nossos colegas, ele agia
deliberadamente como se eu não existisse.
O homem parecia uma criança de cinco anos.
Naquela manhã ele fez uma pergunta matemática que eu
respondi.
Sua resposta foi continuar olhando pela sala.
— Alguém?
Minha paciência finalmente acabou.
— Acabei de responder à sua pergunta, Pete. — Eu o
encarei. — Estou ficando um pouco cansada da sua atitude em
relação a mim, a única funcionária deste escritório. Se não
parar, vou considerar isso um problema que terei que
denunciar.
A expressão chocada de Pete era quase engraçada.
— Não há necessidade, não tem nenhum problema aqui. —
Ele levantou as mãos em um gesto de rendição e voltou para sua
mesa.
Xander me lançou um olhar orgulhoso, mas a tensão no
escritório ficou terrível depois disso. Decidindo usar as horas
extras que acumulei demorando mais na minha hora do
almoço, saí do escritório com um suspiro de alívio. Saindo do
prédio, tentei ligar para Rhys, mas caiu na caixa postal. Enviei
uma mensagem a ele pouco antes de subir na minha bicicleta.
ParkerB: Vou ter mais tempo no almoço. Você tem tempo
para se juntar a mim?
O treinamento de Rhys só aumentou e as vezes que eu o vi,
passamos a maior parte do tempo na cama. Tanto quanto eu
sabia, não havia notícias de Fairchild ainda e Rhys estava
completamente focado na luta que estava chegando.
Isso significava que não conversamos muito. Ele perguntava
sobre o meu dia, é claro, e parecia interessado no que eu tinha a
dizer, mas sempre que eu retribuia a pergunta, parecia que ele
imediatamente iniciava o sexo.
E eu não tinha absolutamente nenhuma força de vontade de
negar porque o sexo era incrível.
Meu telefone tocou alguns segundos depois quando virei
para Spring Lane na Devonshire Street. Eu parei a bicicleta para
tirar o telefone da minha bolsa.
HarleyGostoso: Desculpe, não posso, Sininho. Estou no meio
de algo. Conversamos depois?
A decepção me encheu, mas eu mandei uma mensagem de
volta.
ParkerB: Claro. Falo com você em breve, bjs.
Eu me virei e decidi que era um dia tão bom, eu iria para
Boston Common Coffee Company para pegar um almoço
para viagem e depois pedalaria até o Parque Common para
comê-lo.
Assim que coloquei a comida na cesta e o bom tempo
melhorou meu humor, desci a área de pedestres da Summer
Street em direção ao Common. Quando olhei para a minha
direita, no entanto, uma cabeça familiar e um par de ombros
chamaram minha atenção e diminuí a velocidade.
Sentado nas mesas do lado de fora do Café Nero estava um
cara de ombros largos e pernas longas, sentado perto de uma
loira linda. Sua cabeça estava inclinada para ela, sua mão em
cima da dela, e ela estava olhando para ele com ternura absoluta
em seu lindo rosto.
Eu diminuí a velocidade até parar, meu coração disparado.
Eu observei quando ele virou a cabeça e peguei seu perfil.
Confusão e dor marcaram meu peito quando a
familiaridade que me fez parar se revelou.
Rhys.
Que estava no meio de “algo”.
Com uma linda loira cujo decote impressionante era visível
em sua blusa apertada. Ela tinha muito cabelo e a maquiagem,
apesar de pesada, foi feita com perfeição. Ela estava bronzeada
e suas longas pernas nuas descansavam contra as de Rhys
debaixo da mesa.
Ela era tudo que eu sempre presumi que Rhys desejaria em
uma mulher.
Sentindo-me enjoada, me sacudi um pouco.
Havia uma explicação. Obviamente.
Tinha que haver.
Mas então ela empurrou sua cadeira para ainda mais perto
dele e envolveu seus braços ao redor dele, sua cabeça
descansando em seu peito.
E ele deu um beijo afetuoso na testa dela, segurando-a como
se já tivesse feito isso um milhão de vezes.
Aquilo foi o fim para mim.
Com o peito apertado, a dor quase ofuscante, dei a volta
com a bicicleta, não querendo que ele me visse, e usei o motor
elétrico para me tirar dali.
Eu nem conseguia me lembrar da volta para o escritório. A
próxima coisa que eu sei é que minhas mãos tremiam enquanto
eu acorrentava minha bicicleta no estacionamento
subterrâneo.
Rhys não trairia. Certo?
E o que eu vi não foi traição.
No entanto, ele não me disse que iria encontrar uma loira
linda para almoçar hoje.
Você contava a sua namorada esse tipo de coisa, certo?
Me sentindo mal, caí contra a parede de concreto frio. Nós
nunca conversamos sobre o estado de nosso relacionamento
desde aquela noite na casa de veraneio de Fairchild.
Obviamente, em algum momento eu comecei a pensar que
éramos mais do que éramos.
Mas isso também não parecia certo.
Até Rhys havia admitido que tínhamos uma conexão.
Ai, Deus.
Talvez ele tenha percebido que a conexão era apenas física,
afinal, a loira era mais seu tipo.
Se isso fosse verdade, eu tinha que acreditar que Rhys seria
franco comigo sobre isso, não é? Esse é o tipo de cara que ele
era.
Ou então, era o que eu pensava.
Meu telefone de repente apitou na minha bolsa. Com os
dedos trêmulos, eu me atrapalhei para encontrá-lo.
HarleyGostoso: Ei, Sininho. Você quer se encontrar hoje à
noite?
Olhei para a mensagem de Rhys, confusa como o inferno.
Ele iria me encontrar para me dizer que estava tudo acabado?
Ou nos encontraríamos e ele não diria uma palavra sobre a loira
linda?
O que quer que estivesse acontecendo conosco, eu não
tinha certeza se estava pronta para enfrentá-lo. Eu mandei uma
mensagem de volta:
ParkerB: Desculpe. Eles precisam que eu fique até tarde no
escritório.
Eu estava investindo emocionalmente neste
relacionamento, mas analisando as últimas semanas, percebi
que estava fazendo isso enquanto Rhys estava me bloqueando
emocionalmente, mesmo que ele não estivesse me afastando
fisicamente.
Eu ia ter meu coração partido.
Eu sabia.
A única maneira de suavizar aquele golpe era colocar alguma
distância entre mim e Rhys Morgan.
Com lágrimas queimando nos olhos, fiquei escondida no
canto do estacionamento até ter certeza de que poderia voltar
ao escritório sem chorar.

Rhys

— Obrigado por me convidar para jantar. Essa lasanha está


deliciosa. Você que fez, Rosie?
— É Rose. — Olhos grandes, exatamente do mesmo tom
castanho-claro dos de Jake, me encararam com um claro aviso.
Eu tive que sorrir. Deus, ela tinha o atrevimento dele também.
— Desculpa, Rose.
Ela deu uma pequena fungada como se relutantemente
aceitasse minha gafe e então inclinou seu pequeno queixo em
reconhecimento. Jake tinha feito aquele exato movimento com
o queixo inúmeras vezes. Por um momento, doeu respirar.
Doeu tanto que meus olhos arderam.
Como uma pessoa podia fazer tanta falta que era doloroso?
Eu não gostava. Não queria essa dor. Ela nunca foi totalmente
embora. Alguns dias ela aliviava, mas então, momentos como
este traziam tudo de volta. Parte de mim queria levantar minha
bunda da cadeira e sair da casa.
Mantive a tal bunda onde estava e comi a maldita lasanha.
— Então — eu perguntei quando consegui falar sem chorar
como um bebê —, você que fez?
O nariz de Rose enrugou.
— Mamãe que fez. Eu não gosto de cozinhar.
Dado que ela tinha cinco anos, tive que admirar sua
franqueza e acenei com o queixo para ela.
Do outro lado da pequena mesa da cozinha, Marcy ria, amor
genuíno e felicidade iluminando seus olhos.
— Ela também não gosta de limpar o quarto ou fazer o dever
de casa. Grande surpresa, hein?
— Ela tem dever de casa? — Eu pisquei em estado de
choque. — Ela só tem cinco anos.
— Eu não sou um bebê — Rose apontou daquele jeito
muito parecido com Jake de “vá se ferrar”. — Crianças grandes
têm dever de casa.
Marcy sorriu, brincando com a haste da taça de vinho.
— Elas têm planilhas para tarefas de matemática e tarefas de
leitura.
Pessoalmente, fiquei feliz por minha turma do jardim de
infância ter se concentrado em Vila Sésamo e quadrinhos. Eu
disse isso a elas e recebi uma carranca de Rose e uma risada de
Marcy.
— Amém a isso — disse Marcy, erguendo a taça.
Juntei a minha a dela e, embora ainda sentisse a dor da
ausência de Jake, havia algo de bom em estar aqui. Elas eram
uma família, essas duas mulheres preciosas. Havia amor nesta
casa que Jake e eu restauramos anos atrás. Contentamento.
Vir aqui tinha sido a coisa certa a fazer; eu fiquei longe por
muito tempo. Eu queria convidar Parker para se juntar a nós,
mas ela estava distante e ocupada quando mandei uma
mensagem.
— O que é essa cara? — A pergunta de Marcy me trouxe de
volta ao presente.
— Eu estava fazendo uma cara? — Estendi a mão para a
tigela de salada. Desde que o treinamento recomeçou, eu estava
com fome o tempo todo. Todo o maldito tempo. Com fome
de comida. Com fome de sexo.
Não. Não pense em sexo à mesa. Péssima ideia, Morgan.
Marcy inclinou a cabeça e me examinou.
— Bem, eu teria chamado de beicinho, mas não achei que
você fosse gostar disso.
Eu ri.
— Não, não teria gostado. — Com um suspiro, me encostei
na cadeira. — Tenho muita coisa na cabeça, só isso. — Olhei
para Rose, então calei minha boca.
Marcy acompanhou a ação.
— Rose — disse ela à filha, que basicamente espetava a
comida com um garfo, mas não comia mais. — Se você
terminou, pode colocar seu prato na pia e ir brincar.
Rose imediatamente pulou, quase derrubando o leite no
processo. Enquanto eu endireitava o copo, ela pegou o prato e
se virou para ir embora, mas parou.
— Quando você terminar de falar com a mamãe, quer jogar
Minecraft comigo?
Carinho se espalhou pelo meu peito.
— Claro. Mas você tem que prometer que vai me proteger
daqueles zumbis idiotas.
Seu nariz enrugou quando ela sorriu.
— Você é esquisito.
— É preciso um para conhecer outro, menina.
Fizemos caretas um para o outro, e então ela saiu correndo,
indo para a sala de estar.
— Deus — eu disse. — Ela é...
— Igual ao Jake? — Marcy respondeu com um tom de
tristeza. Mas seus olhos estavam iluminados com amor. — Eu
sei. Vejo mais isso a cada dia.
Um caroço encheu minha garganta e eu engoli em seco.
Mais cedo, quando encontrei Marcy para tomar um café,
planejei contar tudo a ela, mas descobri que não conseguiria.
As palavras ficaram presas na minha boca, enchendo-a como
algodão. Tudo o que pude fazer foi lembrar sobre Jake e abraçá-
la quando ficou muito difícil para nós dois.
Mas isso? Era outro nível. Eu preferia levar um soco na cara,
francamente. No entanto, aqui estava eu, pronto para
confessar.
— Então — ela perguntou. — E aí?
— Eu conheci alguém. — Ok, então eu não estava pronto
para confessar sobre a luta.
— Você? — As sobrancelhas de Marcy se ergueram.
— Sim, eu. Por que está me olhando assim? — Mas eu sabia.
Marcy, Jake e eu crescemos juntos. Ela era a irmã que eu nunca
tive; Marcy podia me ler como um livro velho.
Ela riu, o som desconfortável, mas esperançoso.
— É só... É você, Rhys. Você nunca se envolveu com uma
mulher. — Ela fez uma pausa e olhou para mim. — Estamos
falando de uma mulher, certo? Você não está brincando
comigo e no fim das contas você realmente quis dizer que
conheceu um bom contador e quer recomendá-lo, certo?
— Jesus, Marcy. — Eu esfreguei meu pescoço apertado com
uma risada. — Você é tão cética que eu me comprometeria com
alguém? E, sim, estou falando de uma mulher.
Ela encolheu os ombros, em seguida, sorriu largamente.
— Então, o poderoso Rhys está comprometido.
Desta vez, quando sorri, também senti esperança.
— Acredito que sim.
— Me conte sobre ela. — Marcy seguiu esse comando com
um beliscão no meu braço que me fez gritar.
— Calma, mulher. — Esfreguei meu braço, mas não
consegui tirar o sorriso do meu rosto. — O que dizer...? — Bati
no queixo, protelando, mas quando Marcy fez menção de me
beliscar de novo, ergui as mãos em sinal de rendição. — Está
bem, está bem. O nome dela é Parker. Ela é... diferente.
— Diferente — repetiu Marcy.
— Ela é peculiar. Fofa. Ela usa esses vestidos formais que a
cobrem do pescoço aos joelhos. — Mas que me excitam como
nada antes; eu guardei essa parte para mim. — Ela é muito
inteligente. Nível Harvard. Tecnicamente, nível MIT. Ela me
dá merda por tudo, mas só recentemente começou a xingar.
Você acredita nisso? A mulher não falava babaca.
Eu ri das memórias de Parker lutando para não xingar
quando estava irritada.
— Ela é ambientalista. Recicla tudo. Odeia meu carro,
embora eu tenha certeza de que ela está fingindo. Mas ela não
consegue esconder seu amor pela minha moto. Ela faz essa coisa
quando ri. Seu nariz enruga e suas bochechas ficam gordas
como as de um esquilo...
Droga, era fofo quando Parker ria abertamente.
Especialmente quando estava na minha cama. Merda, eu sentia
falta dela.
— Ai, meu Deus. — Marcy levou a mão ao peito e ficou
boquiaberta. — Você está apaixonado!
— O quê? — Meu corpo inteiro se contraiu. — Não. Eu...
Nós acabamos de começar. É... Eu me importo com ela, claro,
mas...
— Mas nada — Marcy cortou com alegria. — Olhe para
você. Você está falando sobre o sorriso de esquilo dela e suas
roupas. As roupas dela, Rhys. E não de um jeito machão de “ela
usa roupas sensuais que me deixam quente”.
— Machão? — Eu bufei. — E as roupas dela são sexy.
Marcy abriu os braços como se dissesse que havia encerrado
o caso.
— Os caras não reparam em coisas assim, a menos que
estejam totalmente apaixonados por uma garota.
Eu a nivelei com um longo olhar, mas depois dobrei como
uma torre de cartas.
— Tudo bem. Estou afim dela, sim? Eu realmente gosto
dessa garota. Mas, amor? — Não. Não. Não. O amor era... dor.
Era perda. Seus pais. Seu melhor amigo.
Jesus. O mero pensamento de Dean morrendo fez minha
respiração ficar fina e rápida.
Eu não podia amar Parker. Eu podia aproveitar meu tempo
com ela. Mas amor? Não. Porque um dia eu poderia ser como
Marcy, sentado sozinho à mesa da cozinha, desejando de todo
o coração que Parker estivesse comigo e...
Porra.
Esfreguei meu peito e engoli convulsivamente. Uma mão
macia na minha mão livre me fez virar para encarar Marcy. A
compreensão iluminou seus olhos.
— É bom que você encontrou alguém com quem se
importa, Rhys. — Eu não perdi a ênfase que ela deu na palavra
importar. Ela estava me jogando um osso. Eu o peguei e
balancei a cabeça como se meu coração não estivesse tentando
sair do meu peito.
— Como vocês se conheceram?
Ali. Esse era o meu limite de evasão.
— Isso é engraçado... — Respirei fundo e comecei a contar
toda a história para Marcy. Seus olhos ficavam maiores
conforme eu explicava.
— Você vai perder a academia?
— Ou isso ou eu tenho que vendê-la. Nenhuma das opções
me atrai.
— Mas... Como? Você é tão responsável com tudo.
Eu desviei o olhar. Da outra sala vinham os sopros e ruídos
do videogame de Rose. Eu podia ver uma parte do sofá e suas
perninhas balançando para frente e para trás enquanto ela
jogava. Ela se movia como uma criança que não se importava
com nada no mundo. Mas eu sabia que ela tinha pesadelos de
vez em quando. Ela gritava pelo papai, embora tivesse apenas
dois anos quando ele morreu. Quando Marcy me contou isso,
quase me matou.
Eu esfreguei meu peito novamente.
— Meu pai. Ele... — Eu me forcei a encontrar seu olhar
preocupado. — Você sabe que ele gostava de apostar.
A compreensão surgiu.
— Ai, Deus. Rhys. Foi quando ele apostou no Jake, não foi?
Ela poderia muito bem ter me chutado no peito. Eu vacilei,
o ar saindo de mim.
— Você sabia disso?
Eu me sinto doente. Empurrando meu prato vazio para
longe, descansei meu rosto em minhas mãos e tentei respirar.
Sua voz gentil rompeu a escuridão.
— Seu pai me visitou antes de morrer. Ele confessou o que
tinha feito e se desculpou.
— Porra. — Esfreguei minha mandíbula dolorida e olhei
para cima. — Sinto muito, Marse. Eu não queria que você
lidasse com isso.
— Mas por quê? — Ela parecia genuinamente confusa. —
Não foi seu erro.
— Jake era meu amigo. Meu pai se aproveitou dele. Eu não...
— Soltei um suspiro áspero. — Parece meu erro também.
De repente, Marcy estava ao meu lado, envolvendo seu
braço magro em volta de mim.
— Não, Rhys. Não, não foi.
— Eu deveria ter visto o quão ruim meu pai estava ficando.
— Ele era seu pai — insistiu Marcy. — Você não era
responsável por ele.
Eu agarrei suas mãos e as segurei nas minhas.
— Marcy, você não entende. Jake, ele sabia que o meu pai
tinha apostado nele naquela noite. Ele sabia que meu pai
colocou tudo em cima dele. — Minha visão ficou turva e eu
pisquei com força. — Ele sabia, e acho que isso o distraiu.
Marcy soltou um suspiro e descansou a testa na minha.
— Rhys. Foi um golpe ruim. Poderia ter acontecido com
qualquer um. Por favor — ela sussurrou. — Por favor, por
mim. Não carregue esse peso. Deixe ir.
Depois de tudo que ela passou, eu não podia negar nada a
ela. Mas deixar ir não era fácil. Minha culpa queria permanecer
sentada em meus ombros. Passaram-se anos e o fardo tornou-
se uma besta própria. Marcy me queria livre disso. Dean me
queria livre. Parker me queria livre. Eu podia fazer isso por eles,
por mim.
Fechei os olhos e a senti derreter. A leveza se expandiu no
meu peito e ergueu meus ombros. Apertei a mão de Marcy,
muito grato por ter pessoas como ela na minha vida. Não pela
primeira vez, desejei que Parker estivesse aqui para conhecê-la.
Tinha a sensação de que elas se tornariam amigas rapidamente.
Ficamos sentados assim por um tempo até que ela se afastou
e encontrou meu olhar.
— Se você precisa de dinheiro...
Eu cambaleei para trás.
— Não, absolutamente não.
Sua boca se firmou.
— Ainda tenho um pouco do seguro de vida.
— Não! — Eu me levantei e andei de um lado para o outro,
tentando acalmar minha voz. — Não, Marcy. Agradeço a
oferta, mas nunca aceitarei dinheiro de você. E eu não preciso.
— Quando ela começou a protestar, contei a ela o resto da
história, incluindo a luta e os patrocinadores que surgiram dela.
— É por isso que vim aqui — eu disse. — Para que você
soubesse que eu vou lutar boxe novamente. Para... Eu não sei...
Olhei para os meus pés, de repente me sentindo bobo.
— Para pedir minha permissão? — ela perguntou com um
pequeno sorriso. — Você sabe que não precisa disso.
— Parecia errado, voltar ao ringue sem falar com você. Eu
não tenho mais Jake. Você é como a representante dele ou algo
assim.
Ela riu levemente.
— Você é adorável, Rhys Morgan.
Atirei em sua direção um olhar furioso, mas ela apenas
sorriu mais largamente.
— Você é. Você se importa tanto, com todo o seu coração.
— Marcy me abraçou. Eu fiquei lá, rígido e incapaz de me
mover. Mas ela não parecia se importar. Ela apenas me abraçou
com mais força. — Você dá tudo para proteger as pessoas que
ama. Mas você não tem ideia de como proteger isso, não é? —
Ela pressionou a mão no meu coração acelerado.
Eu só podia olhar para ela e balançar a cabeça
estupidamente.
Marcy examinou meu rosto.
— O que realmente está incomodando você, Rhys?
— Estou com medo. — As palavras saíram de mim sem
permissão. Estremeci, humilhado com a verdade.
— Com medo de quê? — ela perguntou suavemente.
Minha boca continuou cuspindo palavras.
— Medo de ser atingido como Jake, deixar Dean para trás, e
agora Parker... — Mordi meu lábio para me calar e virei minha
cabeça para longe do olhar astuto de Marcy. Boxeadores não
deveriam ter medo. Era um anátema para o esporte.
— Então — ela disse pensativamente —, você veio aqui esta
noite para ver como Rose e eu estávamos indo sem Jake, não é?
Para ver se estávamos sofrendo tanto quanto você temia.
Sangue correu nos meus ouvidos quando eu balancei a
cabeça, ainda incapaz de encará-la.
— Estamos bem, Rhys. Sim, sentimos falta de Jake. Mas a
morte faz parte da vida. — Seus dedos encontraram meu
queixo e gentilmente guiaram meu rosto para cima. Seus olhos
azuis estavam vítreos quando ela olhou para mim. — Acontece
com todos nós em algum momento. Mas se você não deixar
ninguém se aproximar, você nunca vai aproveitar e viver
plenamente.
Eu exalei, golpeado por dentro, mas não conseguia falar.
— O que você quer da vida, Rhys?
— O que Jake tinha. Uma família. Um lar.
Eu queria cuidar da minha academia, ensinar às crianças a
arte do boxe, depois voltar para casa e fazer o jantar para a
garota brilhante com os maiores e mais lindos olhos castanhos
que eu já vi.
A percepção ficou presa na minha garganta e empurrou
meu peito até que eu fiz um som de angústia. Marcy me deu
um aperto solidário.
— Então vá atrás disso, Morgan.

No momento em que saí da casa de Marcy, me sentia tão fino


quanto papel de arroz. Um movimento errado e eu rasgaria.
Normalmente, quando eu ficava assim, eu corria, não
importava a hora ou o clima. Eu corria dos meus problemas,
levava meu corpo ao limite da exaustão e então caía em um sono
profundo, morto para o mundo.
Mas eu não queria isso agora. Eu queria ver Parker.
O problema era que ela não atendia o telefone. Ou
respondia às mensagens.
A dúvida começou a incomodar a boca do meu estômago
dolorido. Ela sempre respondia. Sempre. Minha dúvida se
transformou em medo quando pensei em quem eu vinha
antagonizando ultimamente. Será que aquela porra do
Fairchild realmente a machucaria? Uma sensação gelada cobriu
meu estômago enquanto eu subia na minha moto e dirigia para
o condomínio de Parker.
Estava chovendo muito e eu estava completamente
encharcado quando cheguei lá. Esfreguei a chuva dos olhos
para clarear a visão e me dirigi para as escadas, abandonando o
elevador, precisando correr, precisando chegar até ela o mais
rápido que pudesse. Ninguém atendeu quando bati na porta.
Meu medo se transformou em pavor.
— Parker! — eu gritei. — Você está aí? Abra! — Meus gritos
ecoaram pelo corredor, soando mais do que um pouco
desesperados. — Parker! Não me assuste assim. Preciso saber se
você está bem.
Um movimento soou do outro lado da porta e finalmente –
finalmente – ela abriu a porta. Meu corpo relaxou em alívio, e
eu invadi, puxando-a para perto e abraçando-a com força.
— Jesus, Sininho — eu murmurei. — Você me assustou pra
caralho. Por que você não atendeu o telefone? Ou a porta? —
Ela parecia rígida nos meus braços e percebi que provavelmente
a estava congelando. Dei um passo para trás, mas continuei
segurando seus braços. — Você estava dormindo?
Seus olhos estavam inchados e seu rosto manchado. Mas ela
balançou a cabeça e ficou parada como uma tábua de madeira
olhando para mim como se nunca tivesse me visto antes.
— Eu estava... distraída — ela finalmente disse.
Distraída? A desconfortável pontada de dúvida voltou ao
meu estômago.
— Estou molhando todo o seu chão — eu disse.
A água escorria das pontas do meu cabelo e descia pelo meu
rosto. Mas não larguei Parker. Eu temia que se o fizesse, ela
estaria de alguma forma perdida para mim. Uma ideia ridícula,
mas não consegui me livrar dela. Não com o jeito frio e retraído
com que ela me encarou.
— Por que você está aqui, Rhys? — Sua voz era grossa e
afetada.
— Como assim, por quê? Você é minha garota. — Minha
garganta parecia apertada. Essa noite toda foi estranha, cheia de
muita emoção que eu não queria enfrentar. — Eu precisava ver
você.
Quando ela se afastou, eu a deixei ir, nunca querendo usar
minha força contra ela. Mas minhas mãos flexionaram com a
necessidade de segurá-la novamente.
— É uma noite ruim — ela disse estupidamente.
Como se para pontuar o que disse, um raio brilhou e um
trovão explodiu.
Eu esfreguei a água do meu rosto.
— Eu sei. Mas hoje foi... difícil. — Eu não queria admitir a
fraqueza em mim. Não queria. Mas não consegui me impedir
de expô-la. — Eu preciso de você, Parker.
Essa foi aparentemente a coisa errada a se dizer. Parker
respirou fundo e sua expressão apática voltou ao foco.
— Sexo? É isso que você precisa?
Eu não sabia o que fazer com a resposta dela. Nada sobre
esta noite parecia normal.
— Sim. Não — eu corrigi quando seus olhos se estreitaram.
— Jesus, Sininho. Não sou bom nisso.
— Isso?
— Comunicação — eu disse.
Uma sobrancelha delicada levantou.
— Oh, eu acho que você comunica muito bem o que
precisa.
Seu desdém me atingiu como uma chicotada.
— Não se esta for sua reação, amor. Tive uma noite difícil,
Parker. E tudo que eu queria fazer era chegar até você, estar com
você. Não é só sexo.
Ela ficou imóvel, mas seu lábio inferior tremeu uma vez
antes dela mordê-lo com força.
— Você está certo. Você pode conseguir sexo em qualquer
lugar. Um relacionamento tem que ser mais do que sexo, não
é?
Dei um passo à frente, fechando as mãos para não alcançá-
la.
— Que diabos está acontecendo, Sininho? Você está
obviamente irritada, mas estou perdido quanto ao porquê.
Sua expressão de repente ficou fria e remota novamente.
Lutei contra um arrepio.
— Nosso tempo juntos foi... agradável. Mas acho que
queremos coisas diferentes.
Choque formigou minha pele quando eu fiquei
boquiaberto com ela. Eu já levei um soco no ringue e doeu
menos. Ela estava terminando comigo?
— Agradável? Coisas diferentes?
— Por favor, pare de repetir tudo o que eu digo.
— Eu preciso. — Eu reprimi um grito. — Porque tudo o
que você está dizendo não faz o menor sentido.
Quando seus olhos se estreitaram em advertência, respirei
fundo.
— Você quer explicar por que ontem estávamos bem e agora
você está olhando para mim como se eu fosse um estranho?
Porque eu não entendo. — Estiquei meus braços, implorando.
— Fale comigo, linda. Eu estou bem aqui.
Parker exalou, endireitando os ombros, mas um brilho de
lágrimas em seus olhos a traiu.
— Eu quero algo mais, ok?
Encolhendo-me, dei um passo para trás e esfreguei o rosto
com a mão trêmula. De repente, percebi do que se tratava.
Enquanto eu estava organizando minha cabeça, Parker passou
muito tempo na dela. Eu me senti tonto, o chão abaixo de mim
se inclinando.
— Sim, eu entendi, porra. Eu não sou ele. Nunca serei.
— Você acha que isso é sobre Theo?
Eu não queria odiar o som do nome dele em seus lábios. Mas
eu odiei. Deus me ajude, eu odiei.
— Você está apaixonada por um fantasma. Não posso
competir com isso.
Sua risada era fraca e ela fechou os olhos como se buscasse
paciência. Bem, junte-se à porra do clube, querida.
Quando ela abriu os olhos, eles brilhavam de irritação.
— Isto não é sobre Theo. Sim, eu o amava. Mas ele se foi.
Não estou mais ansiando por ele.
Eu queria sentir alívio. Mas não senti. Havia algo entre nós,
mas eu não sabia o quê.
— Então, que diabos? Você está falando essa merda de que
queremos coisas diferentes, que acabou, então você deveria ter
a coragem de me dizer por quê.
— Você está me chamando de covarde?
— Se a carapuça servir, amor.
Seus dentes se encontraram com um estalo audível.
— Não se atreva a jogar essa carta. Não quando você se
esquiva sempre que as coisas ficam muito emocionais.
A força das suas palavras ultrapassou minhas defesas, e eu
pisquei, minha postura cedendo.
— Você está certa. Isso foi um golpe baixo. Me desculpe,
tudo bem. Mas, merda, Parker, estou perdido aqui.
— Eu vi você com aquela loira hoje — ela disse
abruptamente, seus olhos grandes e redondos com mágoa. —
No almoço. Você estava abraçando ela.
Percepção me atingiu. Porra. Ela teve a ideia errada.
— Você acha que estou te traindo?
— Não. — Ela riu sem graça. — Não quando eu parei um
minuto para pensar sobre isso. Esse não é o seu estilo. Eu não
sou burra. — Ela bateu na têmpora. — Você não trairia. Você
é muito honrado. Mas quando te vi abraçar outra mulher, não
era minha cabeça que me guiava. Era o meu coração. Foi meu
coração que se partiu.
A dor dela me atingiu como uma chicotada, e eu estendi a
mão para ela. Mas ela ergueu a mão, me impedindo.
— Não. Não... Me deixa continuar.
— Tudo bem — eu murmurei, minha garganta fechando.
— Eu só tive um outro relacionamento antes de você...
— Isso já é um a mais do que eu tive — interrompi, incapaz
de me conter.
Parker assentiu.
— Eu entendo isso. Mas até você deve saber que um
relacionamento não pode prosperar apenas com sexo.
Eu me senti preso, incapaz de respirar. Eu estava fazendo
mal a ela e não tinha notado. Eu não tinha ideia do que estava
fazendo. Talvez ela estivesse certa. Talvez eu não fosse para ela.
Mas mesmo enquanto eu pensava nisso, minha mente – meu
maldito coração – se rebelou.
— Não é só sexo — eu repeti entre dentes.
Parker olhou para mim com aqueles olhos que cortam até
os ossos.
— Esse é o ponto, Rhys. Como vou saber se todas as vezes
que tentei falar com você sobre como você está se sentindo nas
últimas semanas, você me distraiu e optou por sexo? Não me
entenda mal, não estou reclamando do sexo – também mal
consigo manter minhas mãos longe de você. — Um sorriso
suave e torto apareceu em seus lábios, mas não alcançou seus
olhos. — Mas não tivemos uma conversa de verdade desde que
deixamos a casa do Fairchild. Éramos mais próximos antes, mas
agora... Você tem uma tendência a se retrair e guardar tudo para
si quando se trata de apoio emocional. E isso... machuca.
Porra.
— Parker...
— Hoje, eu vi você com outra mulher... e doeu muito. Isso
me lembrou como é doloroso quando perde alguém de quem
gosta. — Ela assentiu com a cabeça, lágrimas escorrendo por
suas bochechas bonitas. — Você... Você tem poder sobre mim,
e eu não acho — ela engoliu em seco —, eu não acho que isso
vai funcionar se um de nós gostar mais do que o outro.
Eu não aguentava mais.
— Por que diabos você acha que gosta mais de mim do que
eu de você? Não é verdade. Você também tem poder sobre
mim.
— Rhys, eu não...
Eu a alcancei, passando um braço em volta da sua cintura e
facilmente puxei-a contra mim. Ela engasgou com o
movimento repentino.
— Você está certa; não sou bom em deixar as pessoas se
aproximarem ou me ajudarem. Mas com você, sim. Eu contei
todas as minhas merdas e você me convenceu a falar com Dean.
Pedi para você ajudar a organizar a luta de exibição e você
apareceu... Se fiquei distante desde então, me desculpe. Eu não
fiz por querer. Mas Parker, você é tudo em que penso. Você é a
única coisa puramente boa e clara na minha vida que é só para
mim. Prometo me esforçar mais para falar com você sobre as
coisas em vez de ficar introspectivo, se você prometer parar de
ter conversas inteiras entre nós na sua cabeça.
Ela pressionou a mão no meu coração, certamente capaz de
senti-lo acelerado. Mas ela franziu os lábios com ironia.
— Eu não tenho conversas inteiras entre nós na minha
cabeça.
Meu sorriso era trêmulo, porque, porra, ela me assustou pra
caramba com sua conversa de terminar. Eu a segurei mais perto.
— Sim? Você não acha que seria melhor falar comigo antes
de decidir que você e eu não somos certos um para o outro?
Parker suspirou e descansou a cabeça no meu ombro com
um baque.
— Esta foi a conversa para ver se somos certos um para o
outro, Rhys.
— Ah. — Eu limpei minha garganta. — Como eu disse, não
sou muito bom em conversas como essa. Mas vou tentar,
Parker. Eu juro, vou tentar.
— Eu sei que você vai — ela sussurrou. — Se você me diz
que vai fazer alguma coisa, sempre faz. — Lentamente, ela
passou os braços em volta do meu pescoço e eu fechei os olhos
com força, sem perceber o quanto eu precisava daquele simples
toque também.
Ficamos parados por um minuto, nos acostumando um
com o outro novamente. Eu nunca tive uma discussão com
uma mulher em que o resultado tivesse o potencial de me
arruinar. Aquilo me disse tudo o que eu precisava saber sobre o
quanto eu estava investindo em Parker.
Ela precisava que eu me comunicasse mais. Então, eu me
comunicaria mais. Eu a deixaria entrar completamente. Minha
mão deslizou por suas costas magras, acariciando, acalmando.
— Você não vai nem perguntar quem ela era?
Parker enrijeceu, mas ela soltou um suspiro e encontrou
meus olhos.
— Eu meio que esqueci no calor do momento.
Meus olhos se enrugaram, embora eu ainda me sentisse
machucado e maltratado como se tivesse lutado doze rounds.
— Era Marcy. Foi com ela que você me viu.
Seu corpo sacudiu como se estivesse sendo beliscado e ela
virou a cabeça ligeiramente, as pontas dos dedos cavando no
meu pescoço.
— Marcy?
— Sim, Marcy. A esposa de Jake. Nós crescemos juntos. Ela
é como uma irmã para mim. Eu estive cuidando dela desde que
Jake... — Eu balancei minha cabeça e exalei com força. —
Aquele abraço que você viu? Eu estava tentando confortá-la
porque ela ainda sente falta dele.
O silêncio encheu o ar quebrado apenas pelo estrondo do
trovão. Parker piscou para mim como se estivesse confusa.
Então sua cabeça se inclinou para frente, as mechas sedosas de
seu cabelo caindo em seu rosto.
— Bem, merda. Eu me sinto uma idiota.
Seu xingamento me fez rir. Mas depois fiquei sério.
— Não. Se eu visse você abraçando algum cara, eu teria
perdido o controle.
Parker murmurou, depois pressionou os lábios na curva
sensível do meu pescoço.
— Você não terá que se preocupar com isso acontecendo.
Eu sou o tipo de garota de um homem só.
Graças a Cristo por isso.
— Você é um bom amigo — ela disse, puxando-me.
Beijei sua têmpora e a achei úmida. Meu coração deu um
baque forte.
— Esta noite, jantei com Marcy. Ela me perguntou o que eu
queria da vida. E tudo que eu conseguia pensar era que eu
queria você.
Um soluço saiu dela e ela se derreteu no meu abraço,
agarrando-se com força. Eu pressionei meus lábios em seu
cabelo.
— Eu quero você — eu disse novamente. — Quero estar
com você, voltar para casa para você, ver você sorrir, deixá-la
brava. Parker, eu quero tudo.
Seu corpo magro tremeu e ela se enterrou mais perto.
— Eu quero isso também.
Por um longo momento, simplesmente a abracei e ouvi a
chuva. Mas então ela recuou e pegou minha mão.
— Vem comigo.
Eu segui porque eu não era um tolo. Mas me senti
compelido a fazê-la entender.
— Não temos que fazer nada esta noite. Não quero que
pense que tudo que preciso de você é sexo.
Ela lançou um sorriso por cima do ombro e então me levou
para seu quarto e direto para seu banheiro. Fiquei parado
esperando e em silêncio enquanto ela lentamente tirava as
roupas molhadas do meu corpo. Ninguém na minha vida
adulta jamais cuidou de mim. Eu não tinha percebido que
ansiava por seu cuidado até que ela estava lá, tirando a camisa
pela minha cabeça com uma expressão terna. Meu coração se
contraiu e respirei fundo.
— Senta. — Ela apontou para um banquinho perto da
penteadeira. Quando o fiz, ela secou meu cabelo com uma
toalha, depois jogou-a para o lado e montou em mim. Ela estava
com roupas demais. Eu precisava dela nua, sentir sua pele
sedosa contra a minha.
Sua expressão era séria, enquanto ela segurava minhas
bochechas com suas mãos finas e frias.
— Me perdoa por viver na minha própria cabeça? Não
tenho muita experiência em me sentir assim por alguém e fiquei
com medo.
Eu segurei sua bunda empinada e a puxei para mais perto.
— Você me perdoa por pensar que ainda estava apaixonada
por Theo?
Pronto. Eu podia dizer o nome dele sem hesitar. Na verdade,
eu não conseguia nem odiá-lo. Parker tinha dado a ele seu amor,
o que significava que ele não poderia ter sido tão ruim.
Seu sorriso era trêmulo.
— Ele sempre estará no meu coração. Mas estou meio louca
por outra pessoa agora.
— Sério? — Eu perguntei, abaixando minha cabeça para
acariciar a curva de seu pescoço onde eu sabia que ela era
extremamente sensível. — Ele é digno de você?
— Oh, sim — ela disse com um suspiro de prazer,
arqueando-se ao meu toque. — Ele é o melhor homem que
conheço.
Eu estava traçando beijos ao longo de seu pescoço, mas parei
e levantei minha cabeça. Ela não tinha ideia do que aquelas
palavras fizeram comigo, como elas me despedaçaram e me
recompuseram. Com ela, eu me sentia como algo novo, algo
melhor.
— Estou louco por você, Parker Brown. Você não tem ideia.
Seu sorriso era o sol.
— Talvez eu tenha alguma ideia. — Ela tocou meu queixo.
— Me beija.
Então eu a beijei, colocando tudo no gesto, cada emoção
que eu não conseguia dizer, mas queria que ela sentisse. Lambi
sua boca, deleitando-me com seu gosto. Então me levantei e a
carreguei para a cama para tirar cada peça de roupa dela com
cuidado.
Ela era calor e curvas suaves, carícias ternas e suspiros
ofegantes. Explorei seu corpo como se fosse novo para mim,
sem pressa, beijando cada centímetro. E quando finalmente
entrei em seu calor escorregadio, nós dois paramos e lutamos
para respirar. Eu olhei para aqueles olhos castanhos que eu
queria ver todos os malditos dias da minha vida, e meu peito
deu um nó.
Palavras se formaram nos meus lábios, palavras que eu
nunca disse a ninguém. Mas era demais. Bom demais. Eu
abaixei a cabeça e a beijei profundamente, com fome. Sempre
faminto por ela. E ela gemeu enquanto eu me movia. Minhas
mãos deslizaram em seu cabelo, enquanto eu empurrava lenta
e de forma segura. Ela era absolutamente preciosa para mim,
absolutamente linda.
Pela primeira vez na minha vida, eu estava fazendo amor. E
foi tão perfeito. Eu nunca quis que acabasse. Nunca iria deixá-
la partir.
E quando finalmente encontrei minha voz, só pude dizer
uma coisa:
— Parker.
Rhys

— Rhys. — Os dedos de Parker, se entrelaçaram nos meus,


agarrando com mais força com seu apelo.
O suor escorria pelas minhas costas. Eu me movi dentro dela
com um ritmo constante, lento e profundo e oh, tão bom.
— Você aguenta.
Ela gemeu, virando a cabeça para o lado do travesseiro.
Mechas castanhas brilhantes de cabelo úmido grudavam em
suas bochechas coradas. Seus lábios se separaram enquanto ela
ofegava. Linda. Abaixei minha cabeça e capturei aquela boca
doce, senti seu calor, provei sua necessidade.
Prazer lambeu minha pele, e eu estremeci. Deus, eu não ia
durar. Estávamos nisso há horas, fodendo, beijando e bebendo
um ao outro sob o calor nebuloso do sol da tarde. Mas
boxeadores deveriam ter resistência.
Parker gemeu na minha boca, esticando a cabeça para
prolongar o beijo com uma ganância que me deixou sem
fôlego. Com outro gemido, ela gozou ao redor do meu pau,
seus músculos internos me apertando com tanta força que
minha mente ficou em branco.
— Merda — eu murmurei. Meu controle cuidadoso
quebrou com um impulso, e outro. Eu não conseguia chegar
perto o suficiente. Eu precisava entrar, entrar e entrar. Parker
envolveu suas pernas fortes em volta da minha cintura e me
puxou para mais perto. — Parker.
Seus dedos deslizaram pelo meu cabelo.
— Goze.
Se solte.
Eu não sabia como. Não na vida. Eu nunca soube como.
Mas aqui, com ela, eu podia.
Ela me segurou, me embalou em seus braços, enquanto eu
me derramava nela com um grito impotente. Fraco e ofegante,
deitei-me envolto nela, nossa pele suada grudando. Então eu
gemi e rolei para o meu lado, puxando-a comigo.
Parker descansou a cabeça no meu peito com um suspiro.
Eu a puxei para mais perto, segurando-a, incapaz de soltá-la.
Meu corpo não parava de tremer. Eu deveria estar explodindo
sua mente, balançando seu maldito mundo, mas ela inverteu o
roteiro.
— Você está bem aí, garotão? — ela perguntou suavemente.
Não. Sim.
— Me dê um minuto.
Ela simplesmente me acariciou, aceitando tranquilamente
que eu estava destruído. Inclinei-me em seu toque suave.
Afinal, foi ela quem me destruiu. Nossas respirações se
igualaram e a luz do sol que entrava pelas janelas do
apartamento aquecia nossa pele.
Pressionando meus lábios no alto da cabeça de Parker,
fechei os olhos e comecei a cochilar. Então meu telefone tocou.
Grunhindo, eu o agarrei, com a intenção de desligar a maldita
coisa, mas então vi que era Dean. Ele mandou uma mensagem
também: Me atende, idiota.
Como eu sabia que seu próximo passo seria subir até o
apartamento, cedi.
— Qual é o problema? — Minha voz estava cortada.
— Aquele Garret está aqui.
— Então diga a ele para cair fora.
Ele soltou uma risada.
— Ele não está na academia. Ele está andando lá fora com
um cara.
Esfreguei a mão no rosto e tentei me concentrar.
— Não somos donos da calçada, Dean. — Infelizmente.
— Eu não sei por que me incomodo... — Ele soltou um
longo suspiro de sofrimento. — Eles parecem estar
inspecionando o prédio.
Que porra?
— Eu pensei que você gostaria de saber — disse Dean. —
Mas, por favor, volte a fazer o que quer que esteja fazendo.
Seu tom deixou claro que ele sabia exatamente o que eu
estava fazendo.
Com um grunhido, me afastei de Parker e me sentei.
— Estou descendo.
Dean resmungou algo ininteligível baixinho e desligou.
Jogando o telefone na cama, expliquei a situação para
Parker.
— Eu vou ver o que diabos está acontecendo — eu disse.
Ela se sentou também, puxando os joelhos contra o peito.
— A academia está segura agora. Você tem os
patrocinadores. Por que ele continuaria nisso?
— Algumas pessoas não gostam da palavra não. — Peguei
meu moletom e parei. — Merda, eu tenho que tomar banho.
Seu sorriso era malicioso.
— Isso provavelmente seria uma boa ideia. Não que eu me
importe que você fique com o meu cheiro.
Meu coração deu um aperto estranho e me inclinei para
beijá-la.
— Territorial. Eu gosto disso. — Então me afastei da
tentação que era Parker Brown e tomei o banho mais rápido da
história.
Garret ainda estava lá quando desci as escadas. Ele sorriu
largo e fácil, como se não estivesse examinando minha
propriedade.
— Sr. Morgan. Que bom ver você de novo.
— Gostaria de poder dizer o mesmo, Garret. — Olhei para
o cara ao lado dele que tinha um grande iPad na mão e parecia
estar consultando projetos. — Não parece que você está aqui
para me ver, não é?
Garret deu de ombros.
— Apenas fazendo uma pequena pesquisa.
Pesquisa, o caramba. Isso era um lembrete de que no
segundo em que caísse, ele estaria lá lucrando com meu
fracasso.
Antes de dar um soco, eu era um lutador. Minha inclinação
natural em qualquer situação era agir primeiro, pensar depois.
A maioria das pessoas supunha que o boxe também era isso –
agressão raivosa e golpes duros.
Elas não poderiam estar mais erradas. O boxe me ensinou
uma lição: para vencer era preciso traçar estratégias. Eu me
afastei do esporte e esqueci isso. Estar com Parker – que nunca
me deixava escapar impune – nas últimas semanas me lembrou.
Enfiando as mãos nos bolsos, encostei-me no tijolo
aquecido pelo sol da minha academia.
— Eu tenho pesquisado também, Sr. Garret. Por que você
não entra e podemos conversar.
Sua surpresa era evidente, mas ele a disfarçou com outro
sorriso oleoso.
— Parece bom. — Ele se virou para seu lacaio. — Espere por
mim aqui, Kevin.
Eu não ia brigar com Garret, mas eu não tinha que gostar do
cara, e minha mandíbula estava apertada enquanto eu o
conduzia pelos estúdios onde garotos do ensino médio estavam
fazendo exercícios de resistência antes de entrar no ringue de
luta. Carlos estava gritando encorajamento – se você chama de
encorajamento frases como “parem de arrastar seus pés e
mexam suas bundas preguiçosas”.
— Estamos oferecendo aulas para iniciantes para adultos aos
domingos, se você estiver interessado — eu disse a Garret.
Ele desviou sua atenção das crianças e voltou para mim.
— O que te faz pensar que sou um novato?
— Não é? — Eu diminuí a velocidade em um dos tatames
atualmente desocupado. — Quer tentar então?
Garret me deu um sorriso relutante.
— Não, obrigado. Eu gosto do meu rosto como ele é.
Rindo, fui para o escritório. Parker saiu do elevador ao
mesmo tempo. Cumprimentei-a com um beijo na bochecha.
— Esta é Parker Brown — eu disse a Garret enquanto abria
a porta do meu escritório.
Ele estendeu a mão.
— Kyle Garret. Um prazer.
Parker deu a ele um sorriso educado e apertou sua mão. Mas
ela se absteve de retribuir o sentimento. Eu reprimi um sorriso.
— Vamos ter uma reunião rápida — eu disse a ela. — Quer
se juntar a nós?
Os cantos de seus olhos se enrugaram, enquanto ela
analisava meu rosto. Eu sabia que ela estava se perguntando o
que eu estava fazendo.
— Não sei se teria algo a acrescentar à conversa.
— Fique mesmo assim. — Eu queria que ela ouvisse. Mais
importante, eu a queria como parte da minha vida. Pegando
sua mão, eu nos levei para o escritório. — Você comprou todas
as propriedades neste quarteirão — eu disse a Garret assim que
todos estavam acomodados.
— É de conhecimento público — Garret respondeu com
um encolher de ombros causal.
Murmurando em concordância, eu descansei as mãos no
meu abdômen.
— Farei uma luta para caridade em algumas semanas.
— Foi o que ouvi.
— O evento me garantiu patrocinadores suficientes para
pagar as contas e manter este lugar no verde.
Os olhos de Garret se estreitaram.
— Certo. Mas por quanto tempo?
— Pelo tempo que for preciso. — Inclinei-me para a frente
e coloquei meus antebraços na velha mesa do meu pai. — Eu
não vou vender para você, Garret. Nunca.
Seu queixo assumiu um ângulo obstinado, e eu levantei a
mão para evitar o que quer que ele tivesse a dizer.
— Eu entendo. Minha academia é uma monstruosidade e
bem no meio do seu plano. Você está tentando gentrificar esta
comunidade e ganhar dinheiro. Não há nada que eu possa fazer
sobre isso. Assim como você não pode fazer nada sobre eu ficar
aqui.
Garret grunhiu.
— Qual é o seu ponto, Morgan?
— Você pode ou ficar irritado com isso e ficar à espreita nas
calçadas, ou pode fazer algo construtivo. — Eu segurei seu
olhar. — Você pode patrocinar este lugar.
Ao meu lado, Parker se mexeu, mas ela ficou quieta.
Garret, por outro lado, bufou alto e longo.
— Você tem coragem, eu te dou esse crédito. Por que diabos
eu te ajudaria quando quero que venda?
— Porque vai embelezar este lugar. Você pode usá-lo como
uma tentação para todos os jovens profissionais para os quais
você vende. Uma academia de boxe de classe mundial com
instrutores profissionais bem no coração de sua comunidade
segura, mas “urbana”.
A cadeira sob Garret rangeu quando ele se recostou e juntou
os dedos. Ele me encarou por um momento, então um lento
sorriso se espalhou.
— E suponho que o benefício adicional de você colher
todos esses novos membros seja, o quê?
— Uma relação simbiótica em que ambos ganhamos.
— Eu ganharia muito mais se fosse o dono da academia.
Eu simplesmente o encarei, esperando. Parker permaneceu
em silêncio, mas eu podia senti-la ali, minha magnetita.
Finalmente, Garret sorriu.
— Com certeza, muita coragem. — Ele se levantou, e eu
também, aceitando sua mão estendida para apertar. — Envie
sua proposta para o meu escritório. Vou pedir aos meus
advogados que a examinem.
Ele acenou com a cabeça para Parker.
— Srta. Brown.
Assim que ele se foi, Parker se virou para mim. Seu sorriso
brilhava.
— Seria paternalista se eu dissesse o quanto estou orgulhosa
de você agora?
Durante anos, tudo o que tive foi meu próprio senso de
orgulho. Eu nunca soube como seria bom ser o destinatário
disso.
Abri os braços e ela entrou neles.
— Só não pare de se orgulhar de mim, certo?
Eu podia lidar com qualquer coisa, desde que ela estivesse
ao meu lado.

Parker

Uma das razões pelas quais passei a amar tanto a ciência e a


engenharia foi como as teorias podem ser comprovadas e o
conhecimento pode ser obtido dessa maneira tangível, sem
complicações por emoção ou contradição.
A vida fora da ciência era confusa e definitivamente
contraditória. Depois que Theo morreu, eu não queria nada
além de evitá-la.
No entanto, se formos honestos, também existam
contradições na ciência. Veja a lua, por exemplo. Usando a
datação com chumbo de urânio, os geólogos dataram
fragmentos da lua e determinaram que ela tinha 4,51 bilhões de
anos. Mas se você calcular a taxa com que ela está se afastando
da Terra e depois invertê-la, a Lua estaria sobre a Terra há
apenas 1,55 bilhão de anos. Uma contradição direta com a
cosmologia do Big Bang.
Portanto, havia contradições na vida em todos os lugares.
Mesmo no meu amado mundo acadêmico. Eu só não queria
admitir isso. Eu queria que estivesse a salvo. No entanto, você
não pode se esconder da vida. Ela era confusa, complicada e
emocional, e eu cansei de me esconder atrás de desculpas.
Foi por isso que fui de bicicleta para o trabalho no dia depois
de confrontar Rhys sobre Marcy com uma expressão
sonhadora no rosto, mas uma dor de culpa no peito.
Desde então, Rhys e eu fizemos mais do que apenas sexo
quente. Às vezes, ele fazia amor comigo. Eu sabia disso, deitada
embaixo dele enquanto ele olhava nos meus olhos e se movia
dentro de mim. Era mágico e deslumbrante e roubava meu
fôlego. Então, é claro, toda vez que eu pensava naqueles
momentos, não conseguia evitar meu maldito sorriso bobo.
No entanto, de vez em quando eu também tinha uma
imagem da dor em seu rosto quando eu disse a ele que éramos
de mundos diferentes. Minha culpa era real. Eu não deveria ter
tido uma conversa inteira na minha cabeça sobre nosso
relacionamento sem ele por medo, e passei as últimas semanas
desde aquela noite tentando mostrar a ele que não tinha medo
de me jogar nesse relacionamento.
À medida que o treinamento de Rhys se intensificava, não
havia muito tempo para nos deleitarmos com nossa nova
certeza um do outro essa última semana, mas eu estava lá para
mostrar apoio – como estive quando ele tão habilmente fez sua
proposta ao desenvolvedor Kyle Garret – e para ajudar com
quaisquer detalhes de última hora para o evento beneficente.
Que agora estava sobre nós.
Amanhã era a grande luta, e eu sentia um friozinho na
barriga por causa disso.
Rhys vinha evitando Fairchild nas últimas semanas e, até
agora, o bilionário não havia feito nenhum movimento para
acabar com minha carreira. Ultimamente, houve uma
cobertura sobre ele nos noticiários de que estava sob possível
investigação por sonegação de impostos. Rumores diziam que
havia mais do que apenas isso. A palavra "fraude" estava sendo
comentada. Minha esperança era que Fairchild ficasse muito
preocupado com seus problemas para nos incomodar.
No entanto, eu ainda estava doente de preocupação com
isso e tentei esconder essa preocupação de Rhys. Ele já tinha
coisas suficientes para se preocupar. De alguma forma, ele sabia
de qualquer maneira, garantindo-me de vez em quando que
perder meu emprego era a última coisa que ele permitiria que
acontecesse.
Mas Fairchild usar Rhys e fazê-lo se sentir inútil era a última
coisa que eu permitiria que acontecesse.
Era uma bagunça.
Complicado.
E esperar que aquilo se resolvesse não era divertido.
Minha cabeça estava cheia enquanto eu andava de bicicleta
para o estacionamento subterrâneo sob o escritório naquela
manhã. Estava tão cheia que demorei um segundo para sentir a
pontada de desconforto no pescoço. Prendi minha bicicleta no
suporte e me endireitei, enervada pela sensação de estar sendo
observada.
Virando-me, examinei o espaço. Meu coração se revirou no
peito.
Franklin Fairchild.
Ele estava perto de um sedã preto, um motorista visível
dentro do carro.
Com o coração batendo forte, eu não podia fazer nada além
de esperar enquanto ele caminhava lentamente na minha
direção. O suor se acumulava sob meus braços enquanto eu me
forçava a encontrar seu olhar frio.
Estremeci com o olhar no seu rosto, e eu sabia que ele estava
aqui para fazer mais ameaças.
E rápido assim, fui de ter medo para ficar muito irritada.
Eu estava preocupada com Rhys. Minhas entranhas se
agitaram não apenas com essa preocupação, mas com o fato de
que esse homem segurava minha carreira em suas mãos
minúsculas. Eu estava enjoada e cansada de estar fora do
controle do meu próprio destino.
Eu não precisava ser abordada por esse valentão gigante
apenas para receber mais de sua intimidação.
A ideia do que ele ainda poderia fazer comigo, Dean e Rhys,
não me assustava mais. Isso me enfurecia. Enquanto Fairchild
se aproximava, tirei meu telefone da bolsa e rapidamente abri o
aplicativo que queria.
No momento em que Fairchild parou, minha atenção estava
fora do meu telefone, meu olhar preso ao dele.
— Um pouco tarde para pedir ajuda. — Fairchild sorriu.
Minha espinha endureceu.
— E por que eu precisaria de ajuda, Sr. Fairchild?
Seu sorriso se alargou, mas nunca alcançou seus olhos. Eles
permaneceram inquietantemente sem emoção.
— Talvez porque você perceba a posição frágil em que se
encontra.
Com o estômago revirando, eu empurrei a sensação para
baixo.
— Eu não tenho medo de você.
— Mostrar um pouco de coragem pode ser bom, mas não é
aconselhável.
Com olhos estreitados, fiz meus lábios formarem um sorriso
de escárnio que me deixou orgulhosa.
— Ter as coisas do seu jeito é realmente tão importante?
Quero dizer, parece ridículo o quanto você está se esforçando
por uma luta de boxe.
— Aqui vai uma lição de negócios, Parker: a primeira pessoa
que permitir te superar vai ser o começo da sua queda.
Ai, meu Deus. Este homem era um megalomaníaco com
certeza.
— Você sabe o que eu penso? Acho que você é um misógino
mimado que está a dez segundos de jogar a chupeta para fora
do carrinho porque não conseguiu o que queria. Rhys nunca
cederá à sua chantagem, e você sabe disso.
Fairchild deu um passo mais perto.
— Eu teria muito cuidado com suas palavras.
— Mesmo? Por quê?
Ele me olhou como se sentisse pena de mim.
— Rhys vai lutar para mim e vai me trazer muito dinheiro
fazendo isso.
— E se ele não quiser? — Eu empurrei.
— Então não só vou garantir que ele perca aquela academia
de merda, como vou colocar o irmão dele na lista de rejeição de
todos os setores da Costa Leste. E quanto a você, a preciosa
namoradinha do Rhys, que eu tenho certeza que ele vai se
cansar de foder dentro de um mês, vou começar a rastrear a sua
família. Você pode não se importar com sua carreira, mas se
preocupa com sua família. As finanças dos Browns estão
ligadas a alguns investimentos que estão em meu poder de cagar
tudo. Convença Rhys a lutar, Parker, ou irei atrás da sua família
também.
Suas ameaças, tão casuais, sem perigos, apenas destilando-as
como se estivéssemos discutindo o tempo, me deram náuseas.
Mas, felizmente, lembrei-me de Rhys falando sobre seu tempo
no ringue. Como o boxe era sobre aprender a antecipar o
próximo movimento do oponente. Eu estava perto de
Fairchild, tempo suficiente para saber que o homem estava tão
seguro de sua própria invencibilidade, ele dizia o que diabos
queria, certo de que não haveria consequências. E eu acabei de
usar isso contra ele.
Levantei o telefone que mantive entre nós e cliquei em
parar, salvar e enviei a gravação por e-mail para mim mesma.
— O que você está fazendo? — Seu tom mudou de
superioridade casual para irritado e desconfiado.
Eu apertei o play no meu telefone. Nossa conversa ecoou
pelo estacionamento subterrâneo.
A cor foi drenada do seu rosto, e sua mão surgiu como se
fosse arrancar o telefone da minha mão.
Puxei-o para fora de seu alcance e, apesar do meu medo,
sorri.
— Já enviei a gravação por e-mail para um local seguro. Está
fora das suas mãos.
— Sua putinha. — Ele deu um passo em minha direção. —
Você acha que...
— Algum problema aqui? — Uma voz chamou. Virei-me
para ver Xander saindo do carro com uma caixa branca na mão
que eu sabia estar cheia de rosquinhas. Ele parou ao meu lado e
Fairchild, uma carranca juntando suas sobrancelhas.
Como se tivesse acabado de perceber onde estávamos,
Fairchild recuou e puxou as lapelas.
— Você vai se arrepender disso — ele prometeu, como um
vilão de desenho animado.
— Eu acho que não. Porque se alguma coisa acontece a
alguém de quem eu gosto, vou direto à polícia com esta
gravação. E caso isso não te assuste, levarei a gravação para a
mídia também. Sabe, às vezes o mundo e todas as pessoas
poderosas nele se importam se alguém provou ser indigno de
confiança, desonroso, um chantagista, um misógino e
geralmente um grande bosta. Nesse cenário, a vida ficará um
pouco mais difícil, mesmo para um bosta bilionário. Por outro
lado, às vezes o mundo não se importa, ou não se importam por
muito tempo. Mas não tenho certeza se você está disposto a
arriscar para descobrir como o mundo o trataria. — Eu sorri
docemente. — E, de acordo com o Tribune, você já tem
problemas suficientes para lidar, sem acrescentar uma acusação
de chantagem à mistura.
Sua fúria era palpável.
— E o que você está fazendo não é chantagem?
— Hmm, acho que está tudo na sua perspectiva? De alguma
forma, acho que, já que é você, vou dormir bem.
Lançando-me um último olhar de ódio, Fairchild girou nos
calcanhares e marchou em direção ao carro.
Xander se virou para mim.
— Ok, o que eu acabei de perder?
— Eu finalmente me defendendo. — Foi bom. Mesmo que
minhas entranhas estivessem tremendo de nervoso e eu
estivesse muito perto de vomitar. Diante da carranca de
Xander, soltei uma exalação trêmula. — Você acha que Jackson
vai me demitir?
— Acho que Jackson está mais preocupado com o fato de
que o cara que financia sua empresa está sob investigação. Mas,
ei, que maneira de se defender. Muito impressionante.
Eu tinha acabado de enfrentar Franklin Fairchild.
Puta merda.
Xander viu minha expressão pálida e ergueu a caixa branca
que carregava.
— Rosquinha?
Eu estremeci com o pensamento de comida.
— Vamos subir. Deveríamos contar a Jackson e colocar
outra preocupação em seus ombros.
Para uma garota esperta, às vezes eu ficava distraída demais
com minha vida pessoal para somar dois mais dois.
— Ai, meu Deus, a empresa está com problemas? Com
Fairchild sendo investigado, quero dizer?
— Jackson me pediu para trazer rosquinhas. Ele convocou
uma reunião para o começo do dia. — A preocupação tomou
conta da expressão de Xander. — Acho que estamos prestes a
descobrir a resposta para sua pergunta.
Assim que Xander e eu entramos, Jackson saiu de seu
escritório particular, acenou para meu colega e anunciou para
a equipe:
— Sala de reunião em cinco minutos. Quero todos lá.
Um por um, fomos para a sala de reunião. Era grande o
suficiente para que todos nos sentássemos à mesa. Havia
muitos murmúrios intrigados.
Evan se sentou ao meu lado.
— Você sabe o que está acontecendo? — ele perguntou
baixinho.
Balancei a cabeça, provavelmente parecendo uma pilha de
nervos por causa da minha briga com Fairchild. Eu não
conseguia parar de balançar meu joelho direito e meus dedos
batiam impacientemente contra a mesa.
— Você?
— Não. Deus, espero que não tenha cortes na equipe.
Acabamos de comprar uma casa.
Meu estômago revirou. Cortes na equipe? Talvez os cortes
na equipe fossem o melhor cenário. Se não tivéssemos mais
financiamento, estaríamos ferrados de seis maneiras até
domingo.
Ai, droga.
Eu fiquei tensa no meu assento quando Jackson entrou na
sala com Ben atrás dele. Ben era o chefe de vendas e marketing.
Ele era o rosto da Horus Renewable Energy e estava a par de
tudo o que Jackson sabia.
Eles ficaram na frente da longa mesa de reunião, e Jackson
abriu um sorriso.
— Vejo muitos rostos preocupados. Não se preocupem. Sei
que alguns de vocês estão preocupados com as acusações feitas
contra o Sr. Fairchild no Tribune. Não fiquem. Não é nossa
preocupação. Nesse sentido, tenho boas notícias, mas essas
notícias significam que haverá algumas mudanças dentro da
empresa.
— Mudanças, como perda de empregos? — Evan
perguntou.
Jackson balançou a cabeça.
— O oposto. Não será de imediato, mas estaremos
expandindo, o que significa mais funcionários e um novo
escritório. E a razão é porque não somos mais fortemente
financiados por Franklin Fairchild, o que significa que ele não
está mais no Conselho como CEO da empresa. Ele não está
mais no Conselho, ponto final.
Minha respiração ficou presa na garganta.
O quê?
— O Conselho agora é chefiado por Diana Crichton Jones,
da Crichton Investimentos e Pesquisas. Ela comprou a parte de
Fairchild. — O olhar de Jackson se concentrou em mim. —
Srta. Crichton Jones ficou muito impressionada com nosso
modelo, nossa equipe e nossa diversidade, e ela tem uma
verdadeira paixão por energia renovável.
Alívio passou por mim. A festa no jardim – minha conversa
com Diana, como Jackson parecia satisfeito comigo.
Eu ajudei a garantir seu interesse na Horus.
E ela era... Bem, ela era ainda mais poderosa que Fairchild.
O que significava que eu estava livre dele. E essa
provavelmente foi a razão pela qual ele se aproximou de mim
esta manhã, porque ele sabia que eu estava prestes a descobrir
que não poderia tocar na minha carreira.
Em vez disso, ele ameaçou minha família.
Vilãozinho podre.
Eu poderia viver tranquilamente chantageando o Coronel
Merda.
Afundei na cadeira com alívio absoluto.
— Isso significará mudanças, e ter um Conselho significa
que não somos autônomos aqui. Mas eles querem fazer desta
empresa um sucesso e são tão dedicados quanto nós a tornar o
mundo limpo. Vou mantê-los informados sobre quaisquer
mudanças que eu sinto que precisam ser informados, mas eu só
queria que todos soubessem – acreditem em mim, este é
definitivamente o melhor passo para todos nós.
— Sem mais iates e festas no jardim? — Xander ousou
perguntar.
Houve algumas risadinhas quando Jackson tentou não
sorrir.
— Nada mais obrigatório. — Meu chefe olhou para mim
novamente. — Para qualquer um de vocês.
Um sorriso agradecido floresceu no meu rosto. Jackson
sabia o domínio que Fairchild tinha sobre mim por causa de
Rhys. Ele sabia que Fairchild não tinha interesse em energia
renovável e que ele era um bilionário perigoso, grande e
mimado, e a Horus e sua equipe precisavam se livrar dele.
Deus, eu amava meu chefe.
— Certo, se vocês tiverem alguma dúvida daqui para frente,
não hesitem em perguntar. Vocês sabem onde eu estou. Por
enquanto, todos de volta ao trabalho. Exceto Parker.
Meus colegas me lançaram olhares curiosos, mas deixaram o
escritório sem olhar duas vezes, apanhados na notícia de que
Fairchild havia partido.
Uma vez que a porta se fechou atrás deles, fiquei na sala com
Jackson e Ben.
— Esta é uma boa notícia. — Meu sorriso murchou um
pouco. — Certo?
Jackson sorriu.
— Ainda melhor para você. Eu queria tornar seu contrato
permanente a partir do momento em que você inseriu aquelas
alterações no nosso modelo. No entanto, eu precisava da
aprovação de Fairchild, que, como principal investidor,
condicionou seu investimento à nomeação de CEO da Horus.
Todas as grandes decisões, incluindo contratação de pessoal,
tinham que passar por ele. Normalmente, ele dava sua
aprovação, sem fazer perguntas. Depois que ele conheceu
Rhys, por razões desconhecidas para mim, e não precisamos
entrar nisso, ele adiou minha autoridade para fazer de você um
membro permanente da equipe.
— Isso é ilegal, Jackson.
— É por isso que ele não é mais um problema. Entre ele estar
sob investigação e Diana querendo investir, o Conselho ficou
mais do que feliz em expulsá-lo. E é por isso que você receberá
um novo contrato permanente até o final do dia.
Alívio, emoção e alegria me inundaram, e eu sabia que estava
sorrindo como uma grande nerd.
— É sério?
Ben e Jackson trocaram olhares divertidos e meu chefe
assentiu.
— Sério. Bem-vinda à família Horus, Parker.

Subi correndo as escadas e entrei na academia de Rhys, meu


coração batendo forte com a notícia. Esperei o dia todo e noite
para contar a ele sobre Fairchild, decidindo que queria contar a
ele cara a cara. Seu treinador, Jimmy, um homem mais velho e
rude de quem eu gostava, apesar de sua franqueza, porque ele
claramente se importava com Rhys, foi um empata foda.
Nada de sexo antes da grande luta.
Aparentemente, aqueles artigos que li sobre atletas,
frustração e agressão sexual eram verdadeiros. Ou pelo menos
Jimmy esperava que sim.
Isso significava que eu tinha sido proibida de ir à academia
na noite anterior porque Jimmy disse que Rhys não conseguia
manter as mãos longe de mim. Sem força de vontade.
Eu definitivamente não estava reclamando.
Esse tempo, no entanto, permitiu-me pensar e lembrar que
a remoção de Fairchild da Horus não significava que estávamos
totalmente fora de perigo. Na mesma nota, percebi que
Fairchild não era estúpido o suficiente para recusar uma
aquisição obviamente lucrativa apenas para manter Rhys
amarrado.
Além disso, ele ainda tinha algo contra Rhys. Fairchild
também ameaçou Dean e ele poderia seguir adiante com isso.
Ainda assim, foi uma vitória para nós e não poderia ter vindo
em melhor hora, mesmo antes da grande luta.
Fiquei sem fôlego quando entrei na academia e vi como o
local havia se transformado para a luta. Embora o espaço do
primeiro andar tenha ficado relativamente intacto, a
decoradora de interiores colocou um tapete vermelho e cordas
douradas que levavam à escada do segundo andar. Enormes
vasos de samambaias estavam aqui e ali; ela também pendurou
enormes fotos em preto e branco de lutadores famosos,
incluindo uma bela foto de Rhys quando ele tinha acabado de
ganhar o cinturão do campeonato de peso-pesado.
Olhei ao redor do primeiro andar, observando a equipe de
bufê caminhar até os convidados elegantemente vestidos que
caminhavam com calma pelo tapete para olhar as fotos. Dali,
pude ver Diana Crichton Jones e seu noivo, e tive uma vontade
repentina de correr como uma garotinha pela academia e me
jogar em seus braços em agradecimento.
Felizmente, eu me contive.
— Parker.
Eu me virei, a saia curta do meu vestido verde escuro
esvoaçando em volta das minhas coxas. Carlos estava na minha
frente, parecendo incrivelmente bonito em um terno sob
medida.
— Você está ótimo.
Seus olhos escuros desceram pelo meu corpo e subiram
novamente.
— Você também. Talvez bem demais. Rhys me disse para
levá-la a ele antes da luta, mas ver você nesse vestido, não tenho
certeza se é uma boa ideia.
Olhei para o meu vestido, me perguntando o que havia de
errado com ele. Era da Self-Portrait, um lindo verde floresta
com saia plissada, decote coração, mangas curtas e detalhe de
recorte de renda preta na cintura e na parte superior do peito.
Era recatado, tanto quanto eu podia dizer, exceto por minhas
sandálias pretas de salto plataforma e abertas na frente. Aquelas
eram um pouco sexy.
— Pfft. — Dispensei o comentário de Carlos. — Eu quero
vê-lo.
— Ok. — Ele gentilmente pegou meu cotovelo e eu o ouvi
murmurar: — Dios mio, Jimmy vai me matar.
Pegamos o elevador dos fundos para o segundo andar.
Pareceu levar uma eternidade. Eu me vi batendo o pé.
— Você está nervosa?
Olhei para o melhor amigo de Rhys, uma negação se
formando nos meus lábios. No entanto, não saiu. A verdade era
que eu estava muito além de nervosa por Rhys lutar. Eu não
tinha pregado o olho na noite anterior me preocupando com
isso.
Não só porque eu estava preocupada com algum cara dando
um soco nele, ou vice-versa, mas porque eu ainda estava ansiosa
sobre o que essa luta poderia fazer com ele. Eu sabia agora que
Rhys tinha ido ver Marcy porque precisava de um
encerramento com ela antes que pudesse voltar ao ringue. Sua
permissão, que pela história que ele me contou, ela deu com
graça e compaixão.
Ela parecia uma pessoa adorável e alguém que eu queria
conhecer. Ela era importante para Rhys, e qualquer coisa
importante para ele era importante para mim.
Eu congelei contra as portas do elevador quando se abriram.
Depois de todos esses anos, de todas as fugas, finalmente
encontrei alguém que queria amar. Alguém que eu queria que
me amasse de volta.
Não, queria.
Não... Eu o amava.
O sentimento caiu sobre mim e de repente me senti irritada
comigo mesma por não ter dito isso a ele. Claro, eu disse a ele
que era louca por ele e fiz alusão a isso... mas não disse as
palavras de verdade. Eu o amava. Eu não conseguia dormir por
me preocupar com ele. É por isso que as borboletas pré-
históricas em minha barriga não desapareceram mesmo depois
que recebi notícias do fim de Fairchild na Horus.
Eu amava Rhys.
E ele precisava saber disso. Não amanhã ou no dia seguinte...
mas agora.
— Ei, você está bem? — O rosto de Carlos apareceu na
frente do meu.
Não, eu não estava bem.
Eu estava apaixonada.
As pessoas eram um milhão de coisas quando estavam
apaixonadas, mas “bem” certamente não era uma delas.
Empurrando um sorriso tenso, eu balancei a cabeça.
— Sim.
Carlos não parecia acreditar em mim, mas não me
importunou. Em vez disso, ele me levou para fora do elevador
e pelo corredor até o escritório de Rhys. Ele bateu e abriu a
porta, enfiando apenas a cabeça pelo batente.
— Tenho uma entrega de um pacote fofo pra caralho aqui
fora.
— Que tal você não notar essa merda de agora em diante?
— Eu ouvi Rhys dizer. — Jimmy, nos dê um minuto. Deixe
minha garota entrar.
— Sem gracinhas — ouvi Jimmy alertar pouco antes de a
porta se abrir totalmente para revelar o treinador. Seus olhos
desceram pelo meu corpo, e ele revirou os olhos. — Puta que
pariu. — Ele me cortou um olhar. — Isso vale para você
também. Jesus.
Ele se afastou, levando um Carlos carrancudo com ele.
Quando me virei depois de vê-los partir, encontrei Rhys
sentado na beirada de sua mesa de jacarandá. Ele usava shorts
de boxe longos e botas de boxe em preto e dourado. Seu torso
definido chamou minha atenção por um segundo porque,
bem, era magnífico, até que meus olhos foram atraídos para
suas mãos todas enroladas em fitas.
Meu estômago deu uma cambalhota.
Eu não podia perdê-lo para essa luta. Emocionalmente ou
de outra forma.
— Você vai entrar ou não, Sininho?
Engolindo em seco, eu caminhei para dentro.
O olhar de Rhys desceu pelo meu corpo e suas mãos se
curvaram ao redor da mesa. Quando seus olhos encontraram os
meus, eles estavam cheios de calor.
— Você usou esse vestido só para me torturar?
Alisei a mão nervosamente pela saia plissada.
— É só um vestido.
Ele inclinou a cabeça.
— Você está preocupada com essa luta?
Era um tanto desconcertante o quão perspicaz ele podia ser.
— Eu sei que você vai se sair muito bem.
— Mas você ainda está preocupada. É por isso que você
ainda está parada aí? — Ele se levantou da mesa e eu cruzei a
distância entre nós.
Quando deslizei meus braços em volta de sua cintura e
descansei minha cabeça em seu peito quente e duro, Rhys
passou os braços em volta de mim e beijou o topo da minha
cabeça.
— Eu vou ficar bem, Sininho.
— Eu sei. — Eu o apertei e então levantei minha cabeça de
seu peito. — Tenho boas notícias.
Rhys me deu um sorriso afetuoso.
— Sim, o que é?
Contei a ele sobre meu confronto com Fairchild e sobre o
Conselho o expulsando da Horus.
— Jackson me deu um contrato permanente. Fairchild não
pode afetar meu trabalho. E eu tenho vantagem sobre ele agora.
Acho... Acho que podemos estar livres desse problema em
particular.
Seu sorriso se alargou e desta vez ele me apertou.
— Querida, isso não é uma boa notícia, é uma notícia
fantástica.
Meu próprio sorriso caiu.
— Eu o chantageei.
Sério, Rhys assentiu.
— E eu sei como você provavelmente se sente sobre isso.
Mas eu acho que você é muito corajosa. Obrigado. Não apenas
por mim e Dean, mas por fazer isso por você. Estou muito
orgulhoso.
Prendi a respiração.
— Sério?
Suas mãos deslizaram pelas minhas costas enquanto ele me
estudava.
— Sim, sério.
Olhando para seu rosto bonito demais e aqueles olhos
lindos e calorosos, a emoção brotou dentro de mim com tanta
força que eu não poderia ter parado mesmo se quisesse.
— Eu te amo — eu soltei.
Os olhos de Rhys se arregalaram, suas narinas se dilataram,
seus lábios se abriram e ele...
— Certo, acabou o tempo, pombinhos — Jimmy irrompeu
na sala.
Os braços do meu namorado ficaram tensos ao meu redor
enquanto eu tentava recuar.
— Jimmy...
— Não, está quase na hora e Parker aqui precisa se sentar.
Vamos, querida. — Ele apontou para a porta com a mão.
— Está tudo bem — assegurei a Rhys, embora estivesse
tremendo com a magnitude do que acabara de confessar. —
Uh, bem... quebre a perna. — Eu fiz uma careta e lancei um
olhar preocupado para Jimmy. — Não, isso não está certo. O
que você diz a um boxeador para dar boa sorte antes de uma
luta?
Os lábios do treinador se contraíram.
— Boa sorte. — Ele lançou a Rhys um olhar provocador. —
Eu pensei que você disse que ela era inteligente?
Rhys aparentemente não estava com humor para ser
provocado. Seu olhar terno caiu sobre mim.
— Ela é a porra da pessoa mais inteligente que eu conheço.
Mas, felizmente, ela tem um grande ponto cego quando se trata
de mim.
Sorrindo, balancei a cabeça.
— Não é verdade. Eu vejo você mais claramente do que
qualquer um.
Algo grande cintilou na expressão de Rhys, e foi quando me
vi sendo gentilmente guiada em direção à saída e sumariamente
dispensada por Jimmy.
— Já chega. Eu preciso dele focado, não sendo todo doce
com sua garota.
— Parker — Rhys chamou meu nome.
Jimmy me soltou e eu olhei por cima do ombro para o meu
namorado.
— Você é a primeira pessoa que quero ver depois dessa luta.
Sim?
Assentindo, deixei escapar um suspiro nervoso.
— Sim. Boa sorte. E Rhys?
— Sim, querida?
— Também estou orgulhosa de você. — Assim que as
palavras saíram da minha boca, corri antes que pudesse me
jogar nele e arruinar as palavras, pedindo a ele para não lutar.
Com as pernas trêmulas, corri pelo corredor em direção às
portas que davam para a sala principal do segundo andar.
Assim que entrei no espaço, parei. Dispostas antes do ringue
principal havia fileiras e mais fileiras de cadeiras dobráveis. A
equipe do bufê subia e descia os corredores com canapés e
champanhe, oferecendo-os aos convidados da alta sociedade
que se vestiam com suas melhores roupas.
— Parker, querida. — Uma voz suave de alguma forma
cortou o murmúrio alto e a música tocando no sistema de som.
Meu olhar seguiu a voz familiar – minha mãe. Ela estava nos
assentos da primeira fila onde meu pai, Easton, e seu noivo
Oliver estavam sentados. Ela acenou para mim e eu corri para
sentar ao lado dela depois de parar para beijar o rosto de todos.
Minha mãe pegou minha mão na dela.
— Você está nervosa?
— Eu sou tão óbvia?
Ela deu um tapinha na minha mão.
— Uma mãe sempre sabe.
— Não precisa ficar nervosa, Amendoim. — A cabeça do
meu pai apareceu perto da minha mãe. — Seu cara é um bom
lutador.
— Sim, isso pode ser verdade, Charles, mas uma mulher
apaixonada não particularmente se alegra ao ver outro homem
socar o rosto do seu namorado.
Meu olhar voou para minha mãe com a menção de amor.
— Eu sou tão óbvia? — Eu repeti.
Ela sorriu, seus olhos brilhando com carinho.
— Como eu disse, uma mãe sempre sabe.
Relaxando mais ao seu lado, meus dedos apertando os dela,
pensei em como minha família aceitou facilmente Rhys na
minha vida. Como eles ficaram felizes em me ver seguindo em
frente. Tínhamos nossas diferenças e passei grande parte da
minha vida preocupada por ter falhado com eles, mas eu tinha
uma ótima família.
— Uma boa mãe.
— O que, querida?
— Uma boa mãe sempre sabe. — Dei um suspiro profundo
e trêmulo, decidindo impulsivamente ser honesta. Rhys e eu
tínhamos conversado sobre confessar à minha família como
realmente nos conhecemos – sabíamos que deveríamos, mas
não discutimos quando. Precisando de uma distração da minha
preocupação com Rhys, virei-me na cadeira e disse: — Você
sabia que havia algo entre nós provavelmente antes de nós
mesmo.
Mamãe franziu a testa com meu tom trêmulo e papai se
inclinou para mais perto dela.
— Amendoim?
Apenas diga.
Acabe com isso.
E torça para que eles não a deserdem.
— Meu antigo chefe não ia me dar um contrato permanente
porque ele é horrível e só se interessava por funcionários
casados ou que tivessem demonstrado algum tipo de
compromisso em suas vidas pessoais. Digamos, ter um
relacionamento de longo prazo, uma hipoteca ou filhos.
— Isso é ilegal — minha mãe retrucou, seus olhos brilhando
de indignação.
— Eu sei. Mas era Franklin Fairchild. Ele é um pouco difícil
de dissuadir.
As feições do meu pai ficaram tensas, mas continuei antes
que ele pudesse expressar sua própria raiva.
— Eu contratei Rhys para fingir ser meu namorado. Bem,
tecnicamente, contratei seu irmão mais novo, Dean, mas Rhys
descobriu e foi me confrontar em um jantar com meu chefe e
Fairchild. No entanto, quando ele percebeu que poderia haver
uma oportunidade com Fairchild para patrocinar sua
academia, Rhys e eu concordamos que ele tomaria o lugar de
Dean e fingiria ser meu namorado.
— O quê? — Easton deslizou para frente no seu assento, me
surpreendendo. Eu não tinha percebido que ela estava
ouvindo. — Você fez o quê?
Eu estremeci.
— Eu sei que foi vergonhoso...
— Foi genial — disse Easton, dispensando meu comentário.
— E obviamente você e Rhys estão realmente juntos agora, não
é?
Os olhos dos meus pais se fixaram em mim com expectativa.
— Sim, tornou-se algo muito real entre nós. — Esperei
enquanto meus pais trocavam um olhar que não entendi. —
Bem... Vocês me perdoam por mentir?
— Rhys pegou algum dinheiro de você? — Papai
perguntou.
Eu balancei minha cabeça.
— Não. Eu deveria pagar a ele no final do primeiro mês, mas
já sabíamos que não era mais de mentira.
Quando eles não me deram nada além de silêncio em troca,
eu me contorci na cadeira.
— Bem?
— Bem, o quê? — Mamãe deu de ombros delicadamente.
— Não estou feliz por você ter feito isso, mas também estou
um tanto impressionada com sua ambição e tenacidade. Além
disso, se vocês dois se importam um com o outro, isso é tudo o
que importa.
— É mesmo? — Papai olhou para ela antes de seus olhos
retornarem aos meus. — Se eu descobrir que este homem está
apenas atrás do seu dinheiro, Amendoim, não vou ficar de
braços cruzados.
Meu coração apertou no meu peito. Eu não queria que
papai suspeitasse de Rhys. Sentindo-me na defensiva, fiz uma
careta.
— Assim que você o conhecer, vai perceber que Rhys não é
assim. Ele é o homem mais honrado que já conheci. — Meu
olhar voou para o ringue. — E ele está prestes a deixar algum
estranho bater em seu rosto.
Mamãe de repente apertou minha mão.
— Ele vai ficar bem. Você vai ver.
Eu não sabia se isso significava que mamãe estava de acordo
com nosso relacionamento ou não. Eu sabia que Easton estava
pelo enorme sorriso que ela deu na minha direção. Papai olhou
pensativamente para o ringue, então eu sabia que ele não
aceitaria facilmente a minha revelação. Eu suspeitava que seria
assim.
No entanto, eu esperava que ele não demorasse muito para
perceber que o que Rhys e eu tínhamos era real. Que ele veria
Rhys como o bom homem que era. Que ele me fazia feliz.
Ele vai ficar bem. Você vai ver.
Deus, eu esperava que sim.
E eu esperava poder assistir a luta inteira sem desviar o olhar.
Minha energia nervosa aumentava a cada segundo, meu pé
batendo no chão enquanto esperávamos a luta começar. Tanto
para a confissão agir como uma distração.
Fiquei grata quando Dean, Zoe, Ren, Elijah e Navin
chegaram para se sentar ao meu lado, com suas brincadeiras e
entusiasmo um tanto divertidos.
— Eu gostaria de outro champanhe — minha mãe disse,
chamando minha atenção dos meus amigos. Ela olhou por
cima do ombro, obviamente em busca de um garçom que
estava passando.
Precisando de algo para fazer, ofereci-me para pegar para ela
e caminhei pelo corredor em direção ao fundo da sala, onde vi
a equipe do bufê atendendo os convidados que ainda não
haviam se sentado.
Eu quase terminei de passar pelas cadeiras quando uma loira
familiar de repente surgiu de um assento perto do corredor.
— Parker?
Quase parando, eu olhei para a linda mulher na minha
frente. Mesmo de salto, eu tinha que olhar para cima. Ela devia
ter um metro e oitenta com suas sandálias de salto alto. Ela
usava um vestido vermelho que se agarrava a cada curva incrível
de seu corpo.
Marcy.
A viúva do melhor amigo de Rhys.
Ela sorriu para mim.
— Eu fiz Rhys me mostrar uma foto sua, espero que não se
importe. Uau, você é ainda mais linda na vida real.
Eu?
Esse monumento de mulher me achou linda? Eu corei.
— Uh, obrigada. Você também. Marcy, certo?
Seu sorriso se alargou.
— Sim, sou eu. — Ela gesticulou atrás de mim para o ringue.
— Eu tinha que estar aqui. Eu queria que Rhys soubesse que
eu o apoio totalmente.
Deus, ela era tão legal. Dei um passo na direção dela.
— Ele aprecia isso mais do que você imagina. Mas... — Eu
estava com medo de perguntar caso não fosse da minha conta.
— Mas?
— Você... Você está bem? Em estar aqui?
Seus olhos ficaram um pouco brilhantes quando sua
expressão se suavizou.
— Eu acho que nós dois precisamos fazer isso. Enfrentar
nossos medos, sabe. — Ela encolheu os ombros um pouco
impotente.
Sem pensar, estendi a mão para apertar seu cotovelo.
— Por que você não vem sentar comigo, minha família e
amigos?
Marcy sorriu novamente, seus olhos se movendo pelo meu
rosto como se ela estivesse procurando por algo.
— Você é exatamente como ele descreveu.
— Como...
— Mas estou aqui com alguns amigos. — Ela apontou para
os assentos ao lado dela e só então notei mais duas pessoas, uma
morena e uma ruiva, observando nossa interação. Pelo
estreitamento de seus olhos e seu intenso estudo, elas pareciam
prontas para se levantar e defender Marcy, se necessário. — Elas
me protegem.
Eu balancei a cabeça. Eu podia ver isso.
— Bem, vamos conversar depois da luta? — Agora que nos
conhecemos, eu queria saber mais sobre ela. Assistir a essa luta,
apesar da sua própria dor, dizia muito sobre que tipo de amiga
ela era. Eu já a admirava, e quaisquer inseguranças que eu tinha
pareciam tolas em comparação com o que ela passou ao perder
o pai da sua filha.
— Ah, com certeza. Eu só queria dizer um “oi” rápido
enquanto você estava passando. — Ela me deu um leve aceno e
deslizou graciosamente para trás em seu assento.
Eu ainda estava sorrindo por causa de Marcy quando peguei
duas taças de champanhe de um garçom e corri de volta para o
meu lugar. Mamãe pegou sua taça e bebeu com elegância.
Eu bebi todo o conteúdo da minha e ignorei minha mãe
resmungando baixinho. Pela primeira vez, eu não me
importava em ser elegante. Eu estava muito nervosa para me
importar com qualquer coisa que não fosse Rhys.
Meu coração disparou quando o popular âncora esportivo
de Boston, Mitch Underwood, entrou no ringue em seu
smoking de corte fino. Zoe usou seus contatos no trabalho para
fazer Mitch concordar em apresentar a luta.
Bonito, carismático, justo, mas contundente, Mitch era um
sucesso entre os fãs de esportes masculinos e femininos. Ele
sorriu para nós.
— Boa noite, senhoras e senhores! Sou Mitch Underwood,
e é um grande prazer esta noite dar as boas-vindas a todos vocês
neste evento único. Como vocês sabem, os lucros da luta desta
noite serão doados para a instituição de caridade Guerreiros da
Rua, uma causa digna que visa alimentar, vestir e abrigar
muitas almas desabrigadas que compartilham nossas ruas aqui
em Boston. — Ele fez uma pausa para permitir aplausos.
Assim que as palmas cessaram, ele continuou:
— Sem mais delongas, no canto vermelho! — Sua voz
aumentou quando ele apontou para o lado direito: — Pesando
noventa e cinco quilos, vindo de Nova Orleans, Louisiana, por
favor, deem as boas-vindas ao bicampeão de peso-pesado,
Jarrod “O Trovão” Johnson!
Aplausos encheram o ambiente e meu coração começou a
bater incrivelmente forte enquanto batia palmas e observava
Jarrod Johnson subir no ringue. Ele usava um traje semelhante
ao de Rhys, mas em vermelho e branco.
Rhys me disse que Jarrod não estava na mesma forma agora
que estava aposentado e como isso era uma coisa boa porque
ele teria eliminado Rhys facilmente. Ele era cinco centímetros
mais alto que Rhys e seu peso de luta ideal costumava ser cento
e seis quilos. Não era mais assim, mas olhando para o cara e seu
físico extremamente em forma e pernas longas, não fiquei
tranquila quando ele ergueu as mãos no ar, atraindo mais
aplausos da plateia.
— E no canto preto! — Mitch continuou. Prendi a
respiração quando ele apontou para a esquerda. — Pesando
noventa e sete quilos, criado aqui em Boston, Massachusetts,
por favor, deem as boas-vindas ao campeão de peso-pesado,
Rhys “Criador de Viúvas” Morgan!
Eu estremeci, minha mão flexionando na da minha mãe.
— Está tudo bem, querida. — Ela deu um tapinha na minha
mão.
Mas não estava.
Esquecemos de pedir a Mitch para não usar esse apelido.
Se isso incomodava Rhys, ele não estava demonstrando
quando enganchou uma longa perna sobre as cordas e se
abaixou, apenas para pular na ponta dos pés e rolar os ombros.
Os aplausos foram ainda mais selvagens, a sociedade da Costa
Leste claramente do lado da sua exportação local.
Levantei-me com minha família e torci pelo meu namorado,
lembrando a mim mesma que era uma luta de caridade e era o
que Rhys queria.
Seu olhar caiu sobre mim do ringue, e ele me deu uma
piscadela arrogante.
Para ele, eu sorri mesmo estando muito nervosa, lembrando
a mim mesma que o que quer que acontecesse, Rhys e eu
tínhamos um ao outro. Coloquei minhas mãos em volta da
minha boca e gritei junto com o resto dos meus amigos e
família. Aquele lá em cima era o meu homem.
Assim como a penicilina, o raio-x, o marca-passo e a
supercola, Rhys e eu fomos uma descoberta acidental.
Ao contrário das descobertas mencionadas acima, ninguém
além de Rhys e eu, e aqueles em nosso círculo íntimo, se
importavam muito com a nossa descoberta. No entanto, isso
parecia inconcebível enquanto eu olhava para o homem que eu
amava.
Porque o que encontrei em Rhys Morgan parecia uma
descoberta digna de entrar para a história.
Rhys

Muitas pessoas pensavam que os boxeadores eram bandidos


que só querem bater uns nos outros. Que uma luta de boxe
nada mais era do que duas pessoas trocando golpes. Besteira. O
boxe era uma partida de xadrez, a doce ciência. Você precisava
ter um plano, entender seu oponente, o tempo, o ritmo – tudo.
O boxe não era simplesmente físico; era mental também.
Porque ser atingido? Essa merda doía. Pior? Haveria segundos
após um golpe forte em que o mundo deixaria de existir. Você
esqueceria seu próprio nome, sua mente ficaria em branco. E
nesses segundos cruciais, um boxeador precisava confiar na
memória muscular e no puro instinto animal.
Parker tinha acertado um golpe com sucesso e que alterou a
minha mente quando ela me disse que me amava.
Ela me amava.
Eu, Rhys “Criador de Viúvas” Morgan. Aquela mulher
inteligente, gentil, linda e perfeita me amava. Eu estava
atordoado, meu corpo zumbindo e entorpecido, minha cabeça
girando. Foi a memória muscular que me fez sair do vestiário
em direção ao ringue.
Jimmy estava murmurando palavrões vis e reclamando
sobre mulheres bonitas com um timing de merda. Eu poderia
ter concordado; nunca era bom para um boxeador perder o
foco segundos antes de uma luta. Então, novamente, ela me
amava, porra.
Ao meu redor, assobios soavam, gritos e aplausos. O locutor
estava tagarelando. O ar úmido era espesso no lugar. As pessoas
estavam cantando meu nome como uma oração. Avistei
Johnson. Ele estava bombado, os músculos brilhando e se
contraindo, os olhos afiados com foco. Eu deveria ter sentido a
agitação dos nervos pré-luta, especialmente considerando que
esta era uma partida do meu pseudo-retorno. Em vez disso? Eu
me sentia feliz. Invencível pra caralho.
Eu era amado. Não pelo que eu poderia fazer por alguém,
mas por mim. Mesmo sem saber, eu esperei minha vida inteira
por isso, por ela. Parker. Ela era a razão de eu estar aqui agora.
Foi por causa dela que consegui salvar minha academia, que
meu irmão e eu estávamos em um lugar melhor juntos, que eu
tinha um novo rumo na vida.
Eu senti a mudança dentro de mim. O retorno da alegria.
Era limpa e verdadeira mais uma vez. Eu amava esse esporte,
amava o que meu corpo podia fazer dentro daquelas cordas.
Um sorriso se espalhou pelo meu rosto quando encontrei o
olhar de Johnson. Suas sobrancelhas se juntaram. A ação foi
fugaz, menos de um segundo, mas ele poderia muito bem ter
piscado. Eu sabia que o tinha pego desprevenido e o fiz pensar
sobre o que diabos era o meu sorriso.
Dean me encontrou no meu canto designado.
— Ei. Você está bem? Você está com um olhar estranho.
— Parker me ama. — Sim, eu estava sorrindo de novo.
— Isso responde. — Segurando meu ombro, ele deu um
aperto. — Não que eu possa competir com isso, mas eu queria
que você soubesse, eu também te amo. — Uma sombra passou
por seus olhos e ele piscou. — Estou falando sério, Rhys. Você
é um pé no saco, mas você é um irmão bom pra caralho. Sempre
foi.
A emoção obstruiu minha garganta.
— Merda, Dean. Você está tentando me fazer chorar?
Antes que ele pudesse responder com algo bajulador, puxei-
o para mim e dei-lhe um abraço, depois bati em sua nuca com
minha luva.
— Também te amo, garoto. Ficaremos bem, certo?
Ele se afastou.
— Sou gostoso e solteiro, você tem uma namorada como
Parker para amá-lo e arranjamos patrocinadores suficientes
para salvar a academia. Sim, acho que não estamos indo tão
mal.
Nós rimos antes que ele ficasse sério.
— Eu vi todas as lutas em que você esteve, mano. Mantenha
sua cabeça no lugar e você vencerá. Lembra? — Seus olhos
brilharam. — Pés ágeis e...
— Mãos rápidas — terminei. Era o que dizíamos um ao
outro toda vez que eu entrava no ringue, fosse para treinar ou
uma luta real.
Assim, eu cheguei no lugar certo. Eu estava pronto.
Johnson era um amigo, e nós dois estávamos fazendo isso
para caridade. Isso não significava que ele pegaria leve comigo
ou não queria ganhar tanto quanto eu. Nós nos enfrentamos
com um olhar duro. E então começou. O mundo ao meu redor
desapareceu.
Johnson era um pouco maior do que eu. Ele tendia a um
estilo mais agressivo, falando palavrão, balançando assim que o
sino tocava. Usei isso a meu favor, dançando ao redor dele, não
me envolvendo. Isso o atraiu, o fez pensar que eu estava com
medo. Especialmente desde que eu era conhecido por golpes de
força.
Ele veio, tentando atordoar e confundir com um soco. Eu
desviei de um. Outro, protegendo meu flanco – golpes no
corpo machucam como um filho da puta – e meu rosto. Mas
então, quando ele realmente pensou que eu estava cedendo, eu
o bloqueei e segui com um soco forte, acertando-o na
bochecha.
Ele partiu para a ofensiva novamente, e eu me afastei,
circulando, aproveitando e trabalhando para desorientá-lo
ainda mais. Pés ágeis. Mova-se, atraia-o, canse-o.
Johnson tentou um cruzado de direita. Eu desviei, joguei
uma rajada de socos, dancei para trás. Meu corpo estava
cantarolando agora, um instrumento bem afinado. Eu vi uma
abertura e o surpreendi ao abaixar com um soco direto de
esquerda que acertou seu rosto. Ele balançou para trás, o suor
espirrando em um amplo arco, o cheiro dele se misturando com
o sangue.
Sua testa tinha um corte.
Primeiro sangramento. Os olhos de Johnson se estreitaram
e ele finalmente colocou a cabeça no jogo.
A partir daí, foi um trabalho árduo. Difícil. Doloroso. Eu
ignorei a dor e deixei meu corpo fazer o que foi treinado para
fazer. Este era um jogo mental, e eu continuei jogando.
Em algum momento, Jimmy derramou água no meu rosto
e enxugou o suor dos meus olhos.
— Continue na testa. Você conseguiu que ele te alcançasse,
o que é bom. Ele é mais fraco no canto esquerdo. O acerte lá.
— Sim. — Foi tudo o que pude dizer.
— Ele também é dois segundos mais lento para se recuperar
quando você acerta o lado direito.
Sabia disso. Mas eu apenas pisquei em reconhecimento.
— Vou mudar agora — eu disse a ele.
Jimmy assentiu com um brilho. Tínhamos planejado e
treinado para isso.
Johnson esperava o mesmo padrão de jogo – que eu tentaria
atraí-lo fugindo. O sino tocou desta vez, e eu voei. Pés ágeis.
Mãos rápidas. Eu o ataquei com uma brutalidade que eu estava
armazenando dentro de mim. Socos implacáveis, cruzamentos
e socos vindos de baixo.
Eu era conhecido como o Criador de Viúvas por um
motivo. Dei motivos a ele para se lembrar disso. E quando
Johnson tentou se soltar das cordas, esperando que o impulso
o carregasse, vi a abertura. A maioria das pessoas perderia se
piscasse, eu bati tão rápido. Mas, para mim, o momento foi
devagar.
Meu gancho esquerdo ondulava desde os calcanhares,
firmemente plantados, sobre meu torso, descendo pelo meu
braço. Eu me conectei com a força de um trem de carga.
Johnson caiu como uma árvore derrubada, caindo no tapete.
Nocaute.
A multidão rugiu. Mas eu fiquei lá, peito arfando, corpo
vibrando. Alguns boxeadores adoram a ideia de um nocaute.
Eu costumava gostar. Não havia nada como terminar uma luta
com um golpe perfeito e oportuno. Podia ser uma energia que
levava horas para sumir. Isso foi antes de Jake.
Agora, o sangue subiu à minha garganta quando o treinador
de Johnson e os médicos correram para examiná-lo. O mundo
se inclinou doentiamente.
Levanta. Levanta. Levanta.
Mas ele estava desacordado. Eu sabia. Eu mal conseguia vê-
lo através do grupo de médicos trabalhando, apenas suas pernas
esticadas, botas de boxe apontando uma para a outra.
Alguém agarrou meu braço. Jimmy.
— Ótimo golpe, garoto!
Meus ouvidos estavam zumbindo. Eu não conseguia
respirar.
Levanta. Levanta.
Dean veio para o meu outro lado, sua voz tensa, mas firme.
— Ele vai ficar bem. Foi apenas um golpe forte.
Golpe forte. Na cabeça. Por que eu fiz isso?
As pernas negras de Johnson mudaram em minha mente
para pernas pálidas. Seu short vermelho e branco ficou azul.
Jake deitado ali, morto.
Eu ia passar mal. A multidão se empurrava. Uma câmera
entrou na minha frente.
Levanta.
Mas então outro toque, suave na parte inferior da minha
barriga, um acariciar leve. Eu pisquei e olhei para baixo. Parker
olhava para mim com grandes olhos castanhos.
— Rhys. Está tudo bem.
Estava? Eu não conseguia responder a ela.
Ela se inclinou para o meu lado, indiferente ao suor.
— Apenas respire, amor.
Respirar. Johnson estava respirando?
Mas então... movimento. Johnson se mexeu e juro que
minhas pernas quase cederam. Lentamente, eles o ajudaram a
se sentar. Ele estava atordoado, seus sentidos apagaram por um
momento. Mas ele estava vivo. Minha respiração finalmente
veio, explodindo de mim em um soluço silencioso.
Eu não me importava com a impressão que causava.
Avancei e me agachei. Seu olhar estava desfocado e eu coloquei
um braço em seu ombro para firmá-lo.
— Ei, cara. Você está bem?
Levou um segundo, mas ele respondeu lentamente:
— Bom golpe. Me fodeu.
Uma risada, quebrada e fraca, me deixou.
— Sim. Boa luta.
Seu olhar ainda estava turvo, e eu duvidava que ele se
lembrasse disso. Mas ele bufou:
— Da próxima vez.
Eu sabia o que ele queria dizer. Ele retribuiria o favor na
próxima partida. Mas isso foi o fim para mim. Por mais que eu
amasse o esporte, estava oficialmente terminado.
Eu tinha uma nova vida agora. Pela primeira vez em anos,
mal podia esperar para começar.

— Sei que não devo falar sobre isso — disse Parker no dia
seguinte, enquanto ela se aconchegava ao meu lado na cama. A
luz do sol entrava pelas janelas e tornava sua pele um mel
profundo e brilhante. — Mas ver você lutar foi sexy pra... —
Ela mordeu o lábio inferior rosado.
— Pra caralho? — Eu forneci com um movimento de
sobrancelha.
Suas bochechas se abriram em um sorriso, e ela estendeu a
mão sobre meu abdômen.
— Bem, sim.
Eu ri, mas parei quando uma pontada de dor subiu pela
minha lateral.
— Merda, não me faça rir.
— Pobre bebê — ela murmurou, inclinando-se para beijar
meu peito. Eu estava coberto de hematomas e tinha entrado e
saído de banhos de gelo para aliviar a dor. Mas seus beijos eram
de longe o melhor remédio. Ela me levou para a cama e passou
horas me acariciando e cuidando de mim. Por mais que meu
pau quisesse brincar, eu não estava pronto para isso ainda e
permaneci contente apenas por estar com ela.
Acariciando seu cabelo sedoso, eu me deitei e suspirei
quando ela beijou meu peito e então parou para pressionar um
beijo suave bem em cima do meu coração. Ela se afastou com
um pequeno sorriso satisfeito, como se o simples ato de poder
me tocar fosse tudo o que precisasse. Minha respiração
engatou, calor irradiando para fora de onde ela me beijou.
— Eu te amo. — Minhas palavras roucas pulsaram entre
nós, e os olhos de Parker se arregalaram. Com uma mão trêmula
e maltratada, segurei seu rosto. — Esqueci de te dizer isso.
Eu fiquei afetado pelo nocaute e depois da luta, quando
todos queriam um pedaço de mim. Mas aqui e agora, eu não
conseguia mais me conter. Eu não queria.
Parker lambeu os lábios rapidamente.
— Você não precisa dizer isso só porque eu disse...
Meu polegar tocou seu lábio inferior.
— Eu disse porque eu quis. Com todo o meu coração,
Parker. — Eu a puxei para perto. — Eu te amo. Tanto, que me
assusta. Tanto que me preenche e não me faz pensar em mais
nada. Amar você é como respirar. É impossível não fazer.
Seu sorriso floresceu, e ela se inclinou para o meu toque.
— Eu também te amo.
— Às vezes, eu ainda não consigo acreditar — eu disse
suavemente.
— Por quê?
Dei de ombros.
— Ninguém nunca me amou.
— Então eles nunca conheceram o verdadeiro você.
Esta mulher.
— Eu nunca me preocupei em mostrar a ninguém até você.
Parker cantarolou, seus dedos deslizando sobre minha
mandíbula, evitando os hematomas.
— Talvez você estivesse apenas esperando por mim.
Gostei da ideia e sorri.
— Talvez eu estivesse. — Eu a beijei, um simples encontro
de lábios, então recuei. — Acho que soube no segundo em que
me enxotou no bar.
— Ah! — Seu nariz enrugou com humor. — Você não me
suportava antes.
— Não é verdade. Eu achava que você era gostosa e tinha
uma boca esperta. — Eu beijei a tal boca novamente. — Uma
combinação perfeita. Eu tenho um bom rosto neutro, só isso.
— É um bom rosto. — Sorrindo, ela atacou meu rosto com
beijos. — Eu amo esse rosto. Eu te amo.
Eu nunca me cansaria de ouvir isso. Meus dedos deslizaram
por seu cabelo enquanto eu segurava sua cabeça e olhava em
seus olhos.
— Vai ser tão bom, Parker. Nós dois.
— Eu sei — disse ela, a emoção em seu sorriso combinando
com o que eu sentia correndo por mim. — Porque nós já
somos.
Rhys

— Pare de baixar a guarda. Mantenha os punhos para cima e o


queixo para baixo, Sininho.
Parker parou no centro do tatame e colocou as mãos nos
quadris bufando.
— Se eu fizer isso, não consigo ver além dessas luvas grandes!
Ela me pediu para ensiná-la a boxear, e eu finalmente cedi.
Mas eu sabia que ela me daria trabalho. Eu estava esperando por
isso.
— É porque você fica pressionando as luvas bem no rosto
— eu disse. — O que é uma boa maneira de quebrar esse lindo
narizinho.
— Se você arrebentar meu nariz, Morgan, eu vou arrebentar
suas bolas.
Rindo, eu a levantei e a embalei contra meu peito. Ela era
tão pequena comparada a mim, mas se encaixava
perfeitamente. E embora estivesse me olhando feio, ela também
estava sorrindo quando passou os braços em volta do meu
pescoço.
— Bruto — disse ela.
— Eu sou o bruto? Você é quem está ameaçando minhas
bolas.
Seu nariz enrugou.
— Foi um erro tático da minha parte, concordo. Preciso das
suas partes em boas condições de funcionamento.
Eu abaixei minha cabeça e cheirei seu pescoço.
— Talvez devêssemos fazer uma verificação de
equipamento só para ter certeza.
Ela bufou, mas suas pálpebras baixaram daquela forma que
me disse que ela estaria pronta para mim.
— Eu nunca realmente bati nas suas bolas, Rhys.
— Não vou contar se você não contar. — Minhas mãos
deslizaram para sua bunda empinada, sob seu short, onde sua
pele era quente e sedosa. — Você está molhada para mim,
Parker?
Ela cantarolou, envolvendo as pernas em volta da minha
cintura para se esfregar em mim.
— Foi você quem queria fazer uma verificação do
equipamento, por que não vê por si mesmo?
Rosnando, eu estava pronto para fazer exatamente isso
quando a voz do meu irmão cortou minha névoa cheia de
luxúria como uma serra elétrica.
— Meus olhos — ele disse dramaticamente. — Vocês dois
poderiam demonstrar algum respeito aos jovens por aqui?
Parei, sem colocar Parker no chão, e me virei para encará-lo.
— Estamos no meu apartamento.
Como a academia estava no meio de uma reforma, havia
muita poeira e fumaça de tinta no andar de baixo, então
começamos a malhar na pequena academia do meu
apartamento. Parker passou a maior parte do tempo aqui nos
últimos meses, e eu estava planejando pedir a ela para se mudar.
Um ano atrás, eu poderia ter pensado que morar com uma
mulher era um compromisso muito grande. Agora, eu mal
podia esperar. Eu queria que minhas coisas se misturassem com
as dela, acordar vendo seu rosto todas as manhãs e dar um beijo
nela de boa noite para todo o resto da minha vida.
— Considere este um momento educacional — acrescentou
Parker, agarrando-se a mim como um macaco.
Eu ri.
— Sim, lembre-se sempre de bater antes de entrar.
Dean balançou a cabeça.
— Vocês dois são hilários. Sério.
Eu finalmente desci Parker.
— Existe uma razão para você estar invadindo nossa
privacidade, Dean?
Seus olhos se enrugaram nos cantos, lembrando-me mais
uma vez da nossa mãe.
— Trouxe uma leitura leve para você. — Ele jogou um
exemplar dobrado do Boston Globe na minha direção.
Eu o peguei no ar e o desdobrei. Ao meu lado, Parker
engasgou quando viu a manchete e a foto de Franklin Fairchild.
Um sorriso se espalhou pela minha boca.
— Então, o filho da puta foi indiciado por fraude, hein?
Parker agarrou a ponta solta do papel e leu por cima do meu
braço.
— Não só isso. Dezesseis acusações, incluindo desvio de
fundos, evasão fiscal e lavagem de dinheiro.
— Eu não deveria ficar feliz com a miséria de outra pessoa,
mas... — Eu parei com um encolher de ombros. Porque foda-
se esse cara.
O olhar de Parker estava iluminado com malícia.
— Aposto que ele iria preferir lidar com cobras de areia
agora, hein?
Quando nós dois começamos a rir, Dean franziu a testa.
— Vocês dois são estranhos, sabia? Vocês estão se
transformando em uma mente coletiva.
Meu braço envolveu os ombros magros de Parker e a puxei
para perto.
— Você terá essa sorte, maninho.
Ele fez uma careta como se tivesse chupado um limão.
— Ele está fazendo careta agora — disse Parker, baixinho.
— Mas um dia isso vai acontecer com ele, e estaremos lá para
lembrá-lo.
— Nunca — Dean jurou com a confiança dos ignorantes.
Joguei o papel no chão.
— Por enquanto, por que não saímos para beber e
comemorar? — Sem esperar, me inclinei e coloquei Parker
sobre meu ombro. Ela gritou alto e deu um tapa na minha
bunda.
Mas eu sabia que ela adorava quando eu a carregava –
principalmente porque ela me dizia repetidamente. Eu bati
levemente em sua doce bunda em troca e saí da sala.
Dean seguiu com um suspiro.
— Ok, mas diminuam um pouco quando estivermos em
público. As pessoas não deveriam ser felizes assim.
Era aí que ele estava errado. Estar apaixonado – e estar feliz
pra caralho com isso – era algo que todos nós merecíamos. Eu
só não sabia disso até que eu tive. E agora que eu tinha, eu
nunca queria que acabasse.
Embora publicar um livro não seja um empreendimento
solitário, escrever sempre foi, então tem sido uma experiência
fantástica ter alguém com quem compartilhar o processo.
Como fãs dos livros uma da outra, nós nos vimos discutindo
co-escrever juntas, o que se transformou em entusiasmo pelo
desafio e pela decisão de ir em frente. Esse respeito e admiração
compartilhados pelo trabalho uma da outra e a compreensão
do processo uma da outra fizeram com que escrever
OUTMATCHED fosse uma alegria pura. Esperamos que você
veja isso e sorria ao longo das páginas!
Queremos agradecer à nossa editora Jennifer Sommersby
Young por mergulhar nesta colaboração conosco para ajudar a
garantir que a história de Rhys e Parker esteja o melhor possível.
Nesse sentido, um grande obrigada a Tammy Blackwell e Kati
D por serem leitores beta e por nos fornecer notas inestimáveis.
Além disso, obrigada a Melinda Utendorf por revisar e ajudar a
tornar a história o mais polida possível.
Um agradecimento deve ser dado a Dan Eager, que não
apenas nos permitiu usar seu PhD e carreira como a de Parker,
mas que é um ser humano fantástico e versátil que faz a
diferença no mundo. Obrigada, Dan!
A vida de um escritor não termina com o livro. Nosso
trabalho se expande além da palavra escrita para marketing,
publicidade, design gráfico, gerenciamento de mídia social e
muito mais. A ajuda de quem conhece o ramo vai longe.
Obrigada a todos os blogueiros, instagrammers e amantes de
livros que ajudaram a divulgar nossos livros. Todos vocês são
muito apreciados! Na mesma nota, um enorme obrigada a
Nina Grinstead, da Social Butterfly PR, por concordar em
entrar neste novo empreendimento conosco. Você é fantástica!
Aos nossos familiares e amigos, por sempre nos
incentivarem e nos apoiarem.
Também para Hang Le, por criar uma capa adorável que
amamos. Você é tão talentosa!
Como sempre, obrigada às nossas agentes Lauren Abramo e
Kimberly Brower por se unirem para nos ajudar com esta
colaboração e por possibilitar que leitores de todo o mundo
encontrem nossas palavras. Somos muito gratas a vocês.
E por fim, o maior obrigada de todos, a vocês, nossos
leitores. Obrigada por vir nesta nova aventura conosco. Nós
não poderíamos fazer isso sem você.

Você também pode gostar